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FACULDADE PITÁGORAS DISCIPLINA: INFORMÁTICA E SOCIEDADE Prof. Ms. Carlos José Giudice dos Santos [email protected] www.oficinadapesquisa.com.br

DISCIPLINA: INFORMÁTICA E SOCIEDADE Prof. Ms. Carlos ...oficinadapesquisa.com.br/APOSTILAS/INTROINFO/AP.5.TRANSFORMACAO.pdf · Diversas teorias sobre as economias avançadas apontam

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FACULDADE PITÁGORAS

DISCIPLINA: INFORMÁTICA E SOCIEDADE

Prof. Ms. Carlos José Giudice dos Santos

[email protected]

www.oficinadapesquisa.com.br

A TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO

O capítulo 4 do livro de Castells intitula-se “A transformação do trabalho e do mercado de trabalho: trabalhadores ativos na rede, desempregados e trabalhadores de jornada flexível”.

A questão central deste capítulo é debater o impacto específico das novas tecnologias da informação sobre o processo de trabalho e sobre o mercado de trabalho, com o objetivo de tentar entender os temores reinantes sobre uma sociedade sem empregos.

A evolução histórica da estrutura ocupacional e do emprego nos países capitalistas avançados: o G7, 1920 - 2005

Sub-tópico: O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional

A teoria clássica do pós-industrialismo pode ser caracterizada por três fatores:

1. A fonte de produtividade e crescimento reside na geração de conhecimento.

2. A atividade econômica está mudando da produção de bens para a produção de serviços.

3. A nova economia está aumentando a importância de profissões com grande conteúdo de informações e conhecimentos em suas atividades.

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (1)

Primeiro fator: A fonte de produtividade e crescimento reside na geração de conhecimento.

Teorias econômicas criadas na primeira metade do século XX afirmam que o conhecimento e a informação parecem ser as fontes principais de produtividade e crescimento nas sociedades avançadas. Entretanto, a economia do final do século XX possui muitas diferenças em relação à economia logo após a Segunda Guerra Mundial, quando o capitalismo vivia o auge da era industrial.

Castells afirma que não devemos distinguir entre um economia industrial e pós-industrial, mas entre duas formas de produção industrial, rural e de serviços baseadas em conhecimentos. Em outras palavras, mudar a ênfase do pós-industrialismo para o informacionalismo.

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (2)

Segundo fator: A atividade econômica está mudando da produção de bens para a produção de serviços.

Diversas teorias sobre as economias avançadas apontam para o fim da indústria e a migração da atividade econômica para o setor de serviços. Entretanto, Castells mostra que os indicadores econômicos não apontam isto. Dados da OIT mostramm que o nível global de empregos na indústria atingiu seu ponto mais alto em 1989. Isto se deve aos países em desenvolvimento?

Outro problema é a definição de serviço. Nas estatísticas de emprego, tudo o que não é agricultura, mineração, construção, serviço público e indústria é taxado como setor de serviços. Assim, produção de softwares, vídeos, projetos de microeletrônica e biotecnologia são “serviços”. Cabe aqui um questionamento: onde se aplica este conhecimento?

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (3)

Terceiro fator: A nova economia está aumentando a importância de profissões ricas em informação.

Diversas teorias afirmam que este é o cerne da nova estrutura ocupacional. Entretanto, Castells nos mostra que há crescimento de profissões em serviços mais simples e não qualificados. Isto significa que as sociedades informacionais apresentam uma polarização de dois extremos (profissões com alta carga de conhecimento e informação – profissões que não exigem qualificação) em detrimento da camada intermediária.

Cabem aqui alguns questionamentos: 1. Qual é o futuro das profissões?; 2. Como será a nova estrutura ocupacional?

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (4)

Castells analisa quatro categorias de serviços nas economias avançadas. Vamos analisar cada categoria:

1) Serviços relacionados à produção: são aqueles considerados como estratégicos para a nova empresa, pelo fato de proverem informação e suporte para o aumento da produtividade e eficiência das empresas. No auge do período industrial (1920-1970) e no período pós-industrial (1970-1990) é possível observar o crescimento do emprego destas atividades em todos os países do G7, exceto no Japão e Alemanha de 1970 a 1990. A explicação plausível para essa aparente incoerência é a absorção destes serviços pelas indústrias japonesas e alemãs, principalmente quando se considera a competitividade e produtividade das empresas desses dois países. Representam de 7% a 14% do total de empregos dos países do G7.

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (5)

2) Serviços sociais: são aqueles que caracterizam a nova sociedade, ou seja, a taxa de empregos neste setor cresceu principalmente após 1960, e na era pós-industrial, manteve uma taxa de crescimento alto na Alemanha, Japão e Inglaterra, crescendo pouco nos outros países do G7. O fator importante aqui é que as altas taxas de crescimento de empregos neste setor, característico das economias avançadas, depende muito mais da relação entre o Estado e a sociedade do que do estágio de desenvolvimento da economia.

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (6)

3) Serviços de distribuição: são aqueles que combinam transportes (atividades relacionadas ao comércio no atacado e varejo) e comunicação (atividades supostamente ligadas ao setor de serviços em sociedades menos industrializadas). Nas economias avançadas, o número de empregos no setor de distribuição é quase o dobro do número de empregos no setor produtivo. A pesquisa de Castellsnão consegue precisar com exatidão o percentual dos empregos relacionados exclusivamente com o setor de serviços, mas deixa claro o percentual expressivo de empregos neste setor (sempre próximo dos 10%) nas sociedades avançadas ao longo destes 70 anos.

O pós-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional (7)

4) Serviços pessoais: são aqueles considerados como típicos da sociedade do lazer, estando geralmente relacionados com empregos em bares, restaurantes e similares. O nível de empregos neste setor estáaumentando, especialmente nos últimos 20 anos, sendo praticamente o dobro da quantidade de empregos no setor rural. A principal observação é que os empregos neste setor não estão desaparecendo nas sociedades avançadas.

Empregos por setorPara analisar os dados de emprego por setor é necessário detalhar quais são estes setores:

Extrativismo: Agricultura e Mineração

Indústria de Transformação: Construção, Indústria (Alimentos, Têxtil, Metalúrgica, Máquinas e Equipamentos, Química, Outras)

Serviços de Distribuição: Transportes, Comunicação, Atacado, Varejo

Serviços relacionados à produção: Bancos, Seguros, Imóveis, Engenharia, Contabilidade, Serviços empresariais diversos, Assessoria jurídica, Outros)

Serviços Sociais: Hospitais, Escolas, Serviços Religiosos, ONGs, Correios, Serviços Públicos, Outros

Serviços Pessoais: Serviços domésticos, Serviços de hotelaria, Bares –Restaurantes e Similares, Lavanderia, Consertos (em geral), Lavanderia, Barbearia e Salões de Beleza, Entretenimento, Outros.

Empregos por setor – Média do G7

39%

26%

11%

6%

31%

35%

39%

30%

15%

17%

20%

22%

2%3%

5%

10%

6%

10%

16%

21%

7%8%9%

12%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Extrativismo Indústria

deTransformação

Serviços de

Distribuição

Serviços

relacionados à

Produção

Serviços Sociais Serviços Pessoais

Evolução do emprego por setor - Média do G7 - 1920 - 1950 - 1970 - 1990

1920 1950 1970 1990

Algumas conclusões parciais

As principais conclusões que podemos tirar até agora, de acordo com Castells são:

• Declínio generalizado de postos de trabalho no setor extrativista nosdois períodos (industrial: 1920-1970) e no pós-industrial (1970 – 1990).

• Declínio gradual do emprego no setor industrial no período pós-industrial.

• Expansão dos empregos no setor de serviços em todos os níveis, mas especialmente nos serviços relacionados à produção (em termos percentuais) e nos serviços sociais (em termos de volume).

• Não há o desaparecimento de nenhuma categoria de serviço desde 1920, com exceção do serviço doméstico. Em contrapartida, aparecem inúmeras categorias novas de serviços.

• Japão e Alemanha aparecem como os países de vanguarda em termos de desenvolvimento econômico e estabilidade social, apresentando um sistema de conexão mais eficiente entre indústria e serviços que outros países do G7 no mesmo período.

A nova estrutura ocupacional (1)

• Uma das teorias importantes sobre o pós-industrialismoafirma que as pessoas estão geralmente envolvidas em mais de uma atividade e ocupando novos cargos na estrutura ocupacional.

• Aumentou a importância de empregos nos cargos de administradores, técnicos e profissionais especializados (profissões características de sociedades informacionais).

• Diminuiu a importância de empregos de operadores, artífices, vendedores e funcionários administrativos.

• Começa a crescer a importância de empregos para mão-de-obra não qualificada, em contraponto ao crescimento de emprego dos profissionais especializados.

A nova estrutura ocupacional (2)

• Há diferenças marcantes entre as estruturas ocupacionais de sociedades consideradas informacionais.

• O caminho para o informacionalismo nos EUA acontece pela simples substituição das profissões antigas pelas novas.

• Em oposição a este modelo de informacionalismo, no Japão aumenta o número de pessoas em novas profissões que são necessárias, enquanto que algumas das profissões antigas não desaparecem, mas tem seu conteúdo redefinido, até que são gradualmente substituídas quando se transformam em obstáculos ao aumento da produtividade (especialmente na agricultura).

A nova estrutura ocupacional (3)• Os outros países do G7 combinam características destes dois modelos, ou seja, mais perto dos EUA em termos de profissionais especializados, e mais perto do Japão quando se trata do declínio mais lento de empregos como o de artífice e operadores.

• As pesquisas apontam claramente para uma tendência comum para o aumento do peso relativo das profissões características de sociedades informacionais (técnicos, administradores e profissionais especializados).

• As pesquisas também mostram que a afirmação da existência de uma polarização da estrutura ocupacional (o aumento de emprego em profissões informacionais e em profissões de baixa qualificação) não pode ser aceita como uma verdade absoluta.

A nova estrutura ocupacional (4)• Na visão de Castells, embora existam sinais da polarização social e econômica nas sociedades avançadas, elas não acontecem por causa de trajetórias divergentes na estrutura ocupacional.

• Em geral, existe a migração para cargos diferentes de profissões semelhantes entre setores e empresas, ou seja, as sociedades informacionais são desiguais (isto é um fato), mas esta desigualdade acontece mais por causa das discriminações que acontecem dentro da força de trabalho do que pela valorização da estrutura ocupacional.

• A maior parte da força de trabalho das sociedades avançadas é assalariada, mas isto não significa a extinção ao trabalho autônomo, uma vez que as novas tecnologias possibilitam a abertura de novos nichos de mercado.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (1)

• Castells faz projeções a partir do estudo de duas sociedades informacionais que possuem diferenças fundamentais: os EUA e o Japão.

• As previsões para os EUA (realizadas em períodos de 13 anos) confirmam o declínio do emprego rural (-0,4% ao ano) e do emprego industrial (-0,2% ao ano).

• Apesar deste declínio, a produção industrial continuaria a crescer a uma taxa de 2,3% ao ano, o que mostra a importância da produtividade em favor da indústria e a manutenção de um crescimento econômico sustentado.

• Apesar do declínio do nível de emprego rural, há uma previsão de crescimento do número de profissões relacionadas à agricultura.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (2)

• O setor que crescerá mais nos EUA é o de serviços, especialmente os serviços de saúde e os chamados serviços empresariais.

• Entre os serviços empresariais está o processamento de dados, mas a categoria que mais cresceu dentro deste setor foi a de fornecimento de pessoal (serviços temporários e terceirização de serviços).

• Os serviços de assessoria jurídica, os serviços arquitetônicos e de engenharia, e os serviços educacionais (escolas particulares) demonstram boa possibilidade de crescimento nos próximos anos.

• Os serviços relacionados com finanças, seguro e imóveis não estão incluídos no setor de serviços empresariais.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (3)

• Em resumo, teremos o seguinte cenário para os EUA:

1. O emprego rural será eliminado pouco a pouco.

2. O emprego industrial continuará a declinar em ritmo lento, com transferência de alguns postos de trabalho deste setor para o de serviços voltados para a indústria.

3. Os setores de serviços relacionados à produção, saúde e educação, líderes de crescimento em termos percentuais, passarão a ser mais importantes também em termo de volume de emprego.

4. O setor varejista e de serviços pessoais serão responsáveis pelo aumento de empregos de pouca qualificação.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (4)

• As previsões relacionadas com emprego no Japão também apontam para um lento declínio do setor industrial.

• O declínio da atividade industrial do Japão acontece em ritmo mais lento que os EUA por causa da criação de novos setores dentro da indústria japonesa.

• O setor que mais crescerá no Japão é o de serviços, especialmente aqueles relacionados com o uso intensivo da informática, o que sugere que o crescimento dos serviços empresariais estão voltados para serviços voltados para as indústrias e a produção.

• O setor rural sofrerá o maior declínio tanto em termos percentuais como em termos absolutos.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (5)

• As projeções mostram que no Japão haverá um crescimento pequeno de empregos no setor de saúde, e que não haverá crescimento no setor educacional.

• Os dados estatísticos apontam para um crescimento da profissionalização dos trabalhadores de nível médio, e um declínio na categoria de artífices e operadores, embora este grupo represente mais de 25% da força de trabalho.

• A expansão do emprego no setor de serviços sociais ébem menos acentuada no Japão do que nos EUA.

• Assim, apesar da diversidade cultural, histórica e institucional das sociedades avançadas, as seguintes conclusões podem ser generalizadas, até certo ponto, para todas elas:

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (6)

Conclusões:

1. Eliminação gradual do emprego rural.

2. Declínio estável do emprego industrial.

3. Aumento dos serviços relacionados à produção (especialmente aqueles ligados à produtividade industrial) e dos serviços sociais (na área de saúde principalmente).

4. Crescente diversificação das atividades no setor de serviços como fontes de emprego.

5. Elevação do nível de emprego para administradores, profissionais especailizados e técnicos.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (7)

Conclusões:

6. A formação de um proletariado de escritório, composto por funcionários administrativos e de vendas.

7. Relativa estabilidade do emprego no setor de comércio varejista.

8. Crescimento simultâneo dos níveis superior e inferior da estrutura ocupacional.

9. Valorização da estrutura ocupacional ao longo do tempo nas camadas superiores, com uma crescente participação de profissões que requerem alto nível de especialização em detrimento do crescimento de profissões das categorias inferiores.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (8)

Castells resume a discussão anterior propondo dois modelos informacionais:

1. O modelo de economia de serviços, representado pelos EUA, Reino Unido e Canadá. Tem como principal característica a rápida eliminação do emprego industrial após 1970, paralela ao crescimento do informacionalismo. O emprego rural está praticamente eliminado e a diversificação de atividades no setor de serviços passa a ser um importante elemento de análise da estrutura social. Este modelo dá mais destaque à administração do capital do que aos serviços relacionados à produção. Háuma expansão do setor de serviços sociais, especialmente na área de assistência médica, e em grau menor, na área educacional. Há ainda forte demanda por administradores.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXI (8)

2. O modelo de produção industrial, representado pelo Japão e, em certo grau, a Alemanha. Neste modelo, também há declínio da atividade industrial (em menor grau que o modelo anterior), mas também há um reforço de atividades que privilegiam a produtividade industrial, inclusive relacionadas com finanças. O nível de emprego em serviços sociais no Japão é baixo quando comparado com outras economias avançadas.

Os outros países do G7 figuram em uma posição intermediária entre estes dois modelos.

Existe uma força de trabalho global?

Segundo Castells, não é certo afirmar que os países avançados seriam economias de serviços e as menos avançadas se especializariam na agricultura e na indústria. As estruturas de emprego nos países refletem diferentes formas de articulação à economia global e não apenas o grau de avanço na escala informacional.

O capital flui com liberdade nas redes financeiras globais, mas o trabalho é ainda muito limitado por questões institucionais, culturais, entre outras. Contudo há uma tendência para a interdependência da força do trabalho em escala global devido às migrações proporcionadas por multinacionais e suas coligadas, e também pelos impactos do comércio internacional sobre o emprego. Não existe um mercado de trabalho global unificado, mas há uma interdependência global da força de trabalho na economia informacional.

O processo de trabalho no paradigma informacional (1)

Na visão de Castells, o novo paradigma informacional de trabalho e mão-de-obra é um modelo confuso, tecido pela interação histórica entre transformação tecnológica, política das relações industriais e ação social conflituosa.

O processo de trabalho informacional édeterminado pelas características do processo produtivo informacional, que pode ser resumido assim:

O processo de trabalho no paradigma informacional (2)

1. O valor agregado é gerado pela inovação tanto de processos, quanto de produtos.

2. A inovação em si depende de duas condições: potencial de pesquisa e capacidade de especificação, ou seja, novos conhecimentos precisam ser descobertos e aplicados em um determinado contexto organizacional.

3. A execução de tarefas é mais eficiente quando adapta instruções de nível mais alto e aplica em uma tarefa específica, gerando feedback para o sistema.

O processo de trabalho no paradigma informacional (3)

4. A maior parte das atividades ocorre nas organizações. As características mais importantes do processo serão: capacidade de gerar tomada de decisão estratégica flexível e capacidade de conseguir integração organizacional entre todos os elementos do processo produtivo.

5. A tecnologia da informação torna-se ingrediente decisivo porque:

• determina uma enorme capacidade de inovação;

• possibilita a correção de erros e de feedbacks durante a execução;

• fornece a infra-estrutura para flexibilidade e adaptabilidade.

O processo de trabalho no paradigma informacional (4)

A nova divisão do trabalho que caracteriza o paradigma informacional emergente pode ser dividida em três dimensões:

• Primeira dimensão – Realização de valor: refere-se às tarefas reais executadas em determinado processo de trabalho.

• Segunda dimensão – Cultivo de relações: diz respeito àrelação entre uma determinada organização e seu ambiente, inclusive outras organizações.

• Terceira dimensão – Tomada de decisão: considera a relação entre administradores e funcionários em determinada organização ou rede.

O processo de trabalho no paradigma informacional (5)

A nova tecnologia da informação está redefinindo os processos de trabalho, o emprego e a estrutura ocupacional. Um número substancial de empregos estão melhorando de nível em relação à qualificação nos setores mais dinâmicos, enquanto que muitos empregos estão sendo eliminados gradualmente pela automação da indústria e serviços (geralmente em trabalhos não especializados).

O trabalho, o emprego e as profissões estão em um processo de transformação, e o próprio conceito de trabalho poderá passar por mudanças definitivas.

Os efeitos da tecnologia da informação sobre o mercado de trabalho (1)

Castells afirma que, como tendência geral, não existe uma relação sistemática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo.

Empregos estão sendo extintos e novos empregos estão sendo criados, mas a relação quantitativa entre perdas e ganhos varia entre empresas, indústrias, setores, regiões e países em função da competitividade, estratégias empresariais, políticas governamentais, ambientes institucionais e posição relativa na economia global.

Os efeitos da tecnologia da informação sobre o mercado de trabalho (2)

Castells conclui então que não há uma relação estrutural sistemática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo. A tecnologia da informação em si não causa desemprego, mas, os tipos de emprego mudam em quantidade, qualidade e na natureza do trabalho executado.

“Por fim, a flexibilidade dos processos e dos mercados de trabalho, induzida pela empresa em rede e propiciada pelas tecnologias da informação, afeta profundamente as relações de produção herdadas do industrialismo, introduzindo um novo modelo de trabalho flexível e um novo tipo de trabalhador: o trabalhador de jornada flexível” (CASTELLS, 1999, p.285)

O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível (1)

Carnoy (apud CASTELLS) diferencia quatro elementos de transformação do trabalho “normal” para o trabalho “flexível”:

1. Jornada de trabalho: trabalho flexível significa que não está restrito ao modelo tradicional de expediente de 40 horas semanais.

2. Estabilidade no emprego: o trabalho flexível é regido por tarefas e não inclui compromisso com permanência futura no emprego.

3. Localização: muitos funcionários ainda trabalham na próprio empresa, mas é cada vez maior o contingente de funcionários que trabalham fora da empresa, em casa, em trânsito ou em outros locais designados por sua empresa.

O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível (2)

4. Contrato social entre patrão e empregado: o contrato tradicional baseia-se em compromisso do patrão com direitos bem definidos dos trabalhadores (níveis padronizados de salários, treinamento, benefícios sociais e plano de carreira), enquanto que do lado do patrão, ele espera principalmente lealdade do funcionário e boa disposição para fazer horas extras em caso de necessidade – sem remuneração, no caso de cargos gerenciais, e com remuneração no caso de trabalhadores da produção.

De acordo com Castells, o modelo tradicional de emprego está em declínio no mundo inteiro.

O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível (3)

Castells observa que a reestruturação de empresas e organizações está introduzindo uma transformação fundamental: a individualização do trabalho no processo de trabalho, que é o reverso da tendência histórica de assalariação do trabalho e socialização da produção. As novas tecnologias da informação possibilitam a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede, independentemente do espaço.

Trabalho temporário, o de meio-expediente e os autônomos são as categorias que mais crescem. Isto éválido tanto para trabalhadores qualificados quanto para os não-qualificados. Quase 1/3 da força de trabalho global hoje se enquadra nesta categoria.

O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível (4)

Concluindo, Castells demonstrou que o modelo predominante de trabalho na nova economia é formado por três tipos de força de trabalho:

• Uma força de trabalho permanente formada por administradores que atuam com base na informação;

• Uma força de trabalho formada por “analistas simbólicos” (profissionais altamente qualificados) e;

• Uma força de trabalho disponível, que pode ser automatizada e/ou contratada/demitida/enviada para o exterior, dependendo da demanda do mercado e dos custos do trabalho.

(1) A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital-trabalho

Apesar da difusão da tecnologia da informação não causar desemprego de forma direta, o processo de transição para uma sociedade informacional e uma economia global é caracterizado pela deterioração generalizada das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores.

Essa deterioração assume diferentes formas nos diferentes contextos: aumento do desemprego estrutural na Europa; queda nos salários reais nos Estados Unidos; subemprego no Japão; “informalização”da mão-de-obra urbana nos países em desenvolvimento; e crescente marginalização da força de trabalho rural nas economias subdesenvolvidas.

(2) A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital-trabalho

Na visão de Castells, essas tendências não se originam da lógica estrutural do paradigma informacional, mas são o resultado da reestruturação das relações capital-trabalho.

As empresas têm atuado sobre os custos de mão-de-obra, como forma de preservar resultados. Isto acontece com a ajuda das ferramentas das tecnologias da informação e facilitada pela nova forma organizacional, a empresa em rede. Embora a estrutura ocupacional tenha atingido melhor nível, a força de trabalho não está à altura das novas tarefas, seja devido à baixa qualidade do ensino, seja por causa da inadequação do sistema de fornecimento de novas qualificações.

(3) A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital-trabalho

O aumento extraordinário de flexibilidade e adaptabilidade contrapôs a rigidez do trabalho à mobilidade do capital. A produtividade foi aumentada, mas os trabalhadores perderam proteção institucional e ficaram cada vez mais dependentes das condições individuais de negociação, em um mercado de trabalho em mudança constante. “As sociedades estavam/estão ficando dualizadas., com uma grande camada superior e também uma grande camada inferior, portanto encolhendo no meio, em ritmo e proporção que dependem da posição de cada país na divisão do trabalho e de seu clima político. Mas, lá no fundo da estrutura social incipiente, o trabalho informacional desencadeou um processo mais fundamental: a desagregação do trabalho, introduzindo a sociedade em rede” (p.299).