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APOSTILA
Fundao Educacional So Carlos
So Carlos
2010
Esta apostila tem como misso democratizar o acesso, despertando interesse e fornecendo informaes bsicas da linguagem e do
fazer audiovisual. Todas as imagens foram retiradas da internet e aqui so usadas somente para ilustrar e facilitar o aprendizado.
Colaboraes podem ser feitas por meio do e-mail [email protected] com crticas, correes ou sugestes.
Coordenao Diego M. Doimo
Pesquisa e Texto Ester Maral Fer
Colaborao Ana Luiza Pereira
Elzemann Neves
Monica Palazzo
Reviso de Texto Meiry Ane Agnese
Diagramao Diagrama Editorial
FUNDAO EDUCACIONAL SO CARLOS
Elisete Pedrazzani
Diretora Presidente
PREFEITURA MUNICIPAL DE SO CARLOS
Oswaldo B. Duarte Filho
Prefeito
PROGRAMA OLHAR BRASIL
Secretaria do Audiovisual Ministrio da Cultura Governo Ferderal
Uso no-comercial
Alguns direitos reservados
proibida a venda
Sempre que encontrar esse smbolo a, voc pode acessar o site do NPD So Carlos para ver um trecho da obra.
Sumrio
Captulo 1 CONHECER AUDIOVISUAL . . . . . . 5
Mas, afinal, o que audiovisual? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1 .1 PRIMRDIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5Como comea tudo isso? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
O cinema nas cavernas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
A projeo da luz e a construo de imagens luminosas . . . . . . . . . . . 6
Os brinquedos pticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
O princpio da imagem fotogrfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Experincia de Muybridge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
O cinema de Thomas Edison . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Os irmos Lumire e o cinematgrafo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1 .2 CONSTRUINDO A LINGUAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13O cinema mgico de Georges Mlis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
O primeiro enquadramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
As primeiras organizaes da linguagem cinematogrfica . . . . . . . . . .16
O olhar subjetivo e o plano do detalhe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
Os filmes de perseguio e a contiguidade espacial . . . . . . . . . . . . . .17
Porter e o primeiro plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
D . W . Griffith e os fundamentos da linguagem cinematogrfica . . . . . .18
Enquadramentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Angulaes de cmera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
Movimentos de cmera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
Outras ideias, outros filmes: o cinema e as vanguardas artsticas . . . . .25
Outras ideias, outros filmes: o cinema sovitico . . . . . . . . . . . . . . . .26
Outras ideias, outros filmes: o nascimento do cinema documental . . . .28
O cinema era mudo, mas no silencioso! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
1 .3 EVOLUO TECNOLGICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30O som sincrnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30
O audiovisual eletrnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
A televiso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
De quem? Para quem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Captulo 2 FAZER AUDIOVISUAL . . . . . . . . . . .37
2 .1 QUEM FAZ O QU? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37A diviso da equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
2 .2 ETAPAS E MECANISMOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .462 .3 EQUIPAMENTOS, TCNICAS E OUTROS CONHECIMENTOS . . . . .49A cmera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Microfones . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Captulo 3 APRENDER AUDIOVISUAL . . . . . .54
3 .1 NOVAS MDIAS, NOVOS MUNDOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .543 .2 PROCESSOS EDUCATIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .553 .3 O FUTURO DO AUDIOVISUAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56
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INTRODUO
Ol!
Esta a apostila do Ncleo de Produo Digital So Carlos-SP. Por
meio dela, pretendemos fornecer uma introduo ao universo da lin-
guagem e da prtica audiovisual. Para isso, dividimos a apostila em
trs partes: a primeira refere-se construo da linguagem audiovisual
ao longo de todo o sculo XX e ao desenvolvimento de seus principais
conceitos os enquadramentos, a montagem, etc.; a segunda parte
mais mo na massa e focada nos processos prticos de realizao
audiovisual o roteiro, a produo, a filmagem, a edio, enfim, os pro-
cessos, as etapas e os profissionais envolvidos para se fazer um filme; a
terceira parte traz uma breve reflexo sobre a revoluo das imagens e
dos sons, como hoje so to presentes em nossa sociedade atual.
importante reforar que esta apostila uma introduo aos prin-
cipais conceitos audiovisuais e no pretende, de forma nenhuma, dar
conta de todas as informaes. O objetivo que, a partir dela, voc
consiga ter uma viso geral e que busque conhecer mais, dentro de sua
rea de interesse. Alis, esta uma postura que todo bom profissional
de audiovisual deve ter: sempre buscar aprender mais.
O NPD So Carlos tem como misso democratizar o acesso ao au-
diovisual com aes de formao nas diferentes reas da produo
audiovisual. uma iniciativa da FESC - Fundao Educacional So
Carlos, Prefeitura Municipal de So Carlos, integrante do Programa
Olhar Brasil, da Secretaria do Audiovisual, Ministrio da Cultura, Go-
verno Federal.
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RIO
Captulo 1 CONHECER AUDIOVISUAL
Mas, afinal, o que audiovisual?
A palavra audiovisual formada pela juno de outras duas palavras: udio
e visual, ou seja, som e imagem. Podemos dizer que a palavra audiovisual , na
realidade, um grande guarda-chuva, pois abrange toda a obra que produzida
com a inteno de criar a impresso de movimento, utilizando imagem e som.
No importa como voc captura, exibe ou transmite essas imagens e esses sons,
seja pelo cinema, pelo vdeo, pela tev, seja pela Internet, seja filme de fico,
seja documentrio, desenho animado, videoclipe, novela; tudo audiovisual.
1.1 PRIMRDIOS
Como comea tudo isso?
Ao acordar, voc toma um caf e liga a tev. No intervalo do trabalho
ou da aula, chora de rir com um vdeo que febre na Internet. No final de
semana, algum grava, com o celular ou uma cmera fotogrfica, um vdeo
de sua turma no passeio, na balada, em casa.
Na rua, na escola, em casa, no nibus, no computador, no celular; as
telas esto em todos os lugares. Vivemos em um mundo audiovisual.
Apesar de s agora os avanos tecnolgicos recentes terem permitido
essa invaso audiovisual, o ser humano busca, h milhares de anos, repre-
sentar seu mundo e se expressar por meio de imagens e sons. O sonho de
projetar em uma parede ou em uma tela imagens luminosas e animadas
quase to antigo quanto o sonho de voar.
O cinema nas cavernas
Foi nas paredes das cavernas que as primeiras histrias com imagens
foram criadas. O ambiente era escuro tal como uma sala de cinema. O ho-
mem pr-histrico retratava seu mundo, pintando cenas de seu cotidiano nas
paredes, como, por exemplo, a caa ao animal que lhe servia de alimento. Tais
desenhos eram construdos por cores e linhas diversas, sobrepostas, em relevo.
medida que os olhos passavam diante dos desenhos iluminados pelas
tremulantes tochas de fogo, os seres ali desenhados pareciam se movimentar,
graas ao jogo de luz e sombra. Ou seja, os homens que viveram na pr-
histria tinham as ferramentas dos pintores, mas j viam e pensavam como
cineastas.
Desenhos nas cavernas pr-histricas.
Durante centenas de anos, o desenho e a pintura recriaram o mundo que
era visto e imaginado pelos humanos. Porm, a representao do movimento
ainda era um sonho. Para torn-lo possvel, foram precisos ainda alguns
sculos de experimentos e invenes.
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A projeo da luz e a construo de imagens luminosas
Experimente fazer esta experincia: entre em um quarto totalmente es-
curo, em um dia de sol forte. Faa um pequeno furo em uma cortina e olhe
para a parede oposta. O que voc v? Mgica! L, em cores e movimento,
podemos ver o mundo que est fora do quarto de cabea para baixo! Essa
mgica explicada por uma simples lei do mundo fsico: a luz viaja em
linha reta, e, quando alguns dos raios refletidos de uma paisagem iluminada
atravessam um pequeno buraco, feito em um material fino, esses raios no
se dispersam, mas cruzam o quarto escuro e formam uma imagem de cabea
para baixo sobre uma superfcie plana e paralela ao buraco de entrada da luz.
Este quarto escuro , na realidade, uma cmera obscura, nome dado
pelo pintor e inventor Leonardo Da Vinci, em 1490, que j conhecia essa
experincia e a demonstrara em seus cadernos.
O princpio da cmera obscura em gravura do sculo XVII.
Porm, a primeira meno a esse tipo de dispositivo j havia sido feita
muitos sculos antes, pelo filsofo chins Mo-Ti (sculo V a.C.), o qual cha-
mou essa tal sala escura de sala do tesouro bloqueado.
Com a possibilidade de recortar um pedao do mundo que vemos e
guard-lo em uma caixa, a cmera obscura logo foi posta em prtica. Du-
rante a Idade Mdia e o Renascimento, ela foi utilizada como instrumento
de observao dos eclipses pelos astrnomos. J no sculo XVII, muitos
pintores utilizaram-na j aprimorada com lentes e um espelho como uma
ferramenta de auxlio para pintar. O pintor holands Johannes Wermeer, por
exemplo, buscava construir pinturas cada vez mais prximas da realidade, o
que hoje entendemos como uma imagem fotogrfica.
Por meio de um espelho colocado no fundo da cmera obscura e uma placa de vidro no
tampo superior, era possvel desenhar, tendo uma referncia da imagem real.
A Leiteira, pintura de Johannes Vermeer.
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A projeo de luz no reproduzia somente imagens reais como as captu-
radas pela cmera obscura , mas tambm imagens criadas pela imaginao.
Em pases orientais como China, Taiwan e Indonsia, os teatros de sombras
j eram realizados desde o sculo II a.C. para contar histrias e entreter a
populao. Usando marionetes articulados e com uma fonte de luz colocada
atrs dos manipuladores, as sombras dos bonecos eram projetadas em uma
tela de linho retangular semelhante do cinema.
Teatro de sombras se apropriava das caractersticas fsicas da luz como a trajetria em linha
reta e a opacidade e transparncia dos objetos.
A sombra no possui corpo, somente visual, uma imagem. Ela possui
forma, e podemos medi-la, pois a vemos se mover. Contudo, ela no pode
ser tocada, pois se esfuma com uma simples mudana de luz. No Oriente,
essas caractersticas foram associadas ideia de alma, do mundo espiritual.
a imagem mais palpvel do mundo do abstrato. Por sua possibilidade de
insinuar sem deixar ver, de deformar a realidade, as sombras foram utilizadas
para contar histrias com uma forte carga fantstica.
O teatro de sombras chins chegou Europa por volta de 1760, como
resultado da moda oriental que varria o continente. Sua chegada se deu
justamente quando se desenvolvia ali outra maneira de contar histrias com
a luz: a lanterna mgica.
O princpio da lanterna mgica consiste basicamente no conceito inver-
so ao da cmera escura. Em vez de projetar imagens do ambiente externo
dentro de um quarto, o dispositivo da lanterna mgica consiste em uma
caixa que projeta, usando luz, imagens pintadas sobre uma placa de vidro
em uma tela.
Lanterna mgica.
Tanto o teatro de sombras como a lanterna mgica foram utilizados
em um tipo de espetculo luminoso que virou febre na Europa do final do
sculo XVIII, chamado Fantasmagoria. Esses espetculos eram formas mais
elaboradas de entretenimento visual: invocavam o sobrenatural, projetando
imagens de espritos dos mortos em misteriosos ambientes de encenao.
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A Fantasmagoria a tatarav do cinema de terror.
A grande diferena entre as primeiras exibies da lanterna mgica e os
espetculos de Fantasmagoria que nesta o equipamento de projeo ficava
escondido, de forma que no fosse visto pelos espectadores. Alm disso, as
imagens no eram mais projetadas sobre as telas de pano tradicionais, mas
sobre uma cortina de fumaa, criando um efeito mais realista, tridimensional.
Os brinquedos pticos
No incio do sculo XIX, muitas invenes e experimentos foram reali-
zados. Eram invenes que exploravam as possibilidades da luz e da viso
humana, criando imagens animadas. Eram os chamados brinquedos pticos.
A ptica um ramo da fsica que estuda a luz e a maneira como ela
se comporta em relao aos objetos. O estudo da ptica envolve no
s o conhecimento da luz como tambm o conhecimento de nosso
sistema de viso, com as caractersticas do olho e sua conexo com
o crebro humano.
A iluso do movimento o resultado de um processo que acontece em
nosso olho (movimento fsico) e tambm em nossa mente (movimento ps-
quico). Na parte fsica da viso humana, temos o fenmeno da persistncia
retiniana.
A persistncia retiniana a iluso que acontece quando a imagem que
o olho v persiste na retina por uma frao de segundo aps sua percepo.
Isso significa que o olho humano demora um tempo para esquecer a ima-
gem que acabou de ver. Por isso, se dispusermos duas imagens diferentes
intercalando-se rapidamente, vamos perceber somente uma imagem, como
se as duas tivessem se fundido.
Para demonstrar esse fenmeno facilmente, o fsico
ingls John Ayron criou o taumatrpio, em 1827.
O taumatrpio foi o primeiro brinquedo ptico de
uma srie que viria a ser inventada; todos utilizando o
princpio da persistncia retiniana.
O fsico belga Joseph-Antoine Plateau foi quem me-
diu o tempo da persistncia retiniana. Ele percebeu que,
para criar a iluso de movimento, era necessrio que uma srie de imagens
fixas fosse vista rapidamente, em uma velocidade de pelo menos dez imagens
por segundo.
Para verificar isso, Plateau inventou, em 1832, o fenacistoscpio, um
aparelho formado por um disco, com vrias figuras desenhadas em posies
Taumatrpio.
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diferentes. Ao girar o disco, as figuras adqui-
riam movimento.
Outros aparelhos foram sendo criados,
como por exemplo, o Zootrpio, tambm cha-
mado de roda da vida, criado em torno de 1834
pelo relojoeiro ingls William Horner. Trata-se
de um tambor giratrio com frestas em toda a
sua circunferncia. Em seu interior, montam-se sequncias de imagens pro-
duzidas em tiras de papel, de modo que cada imagem fique posicionada do
lado oposto a uma fresta. Ao girar o tambor, olhando atravs das aberturas,
assiste-se ao movimento.
O princpio da imagem fotogrfica
Desde a criao da cmera escura, o grande desejo dos inventores era
guardar, registrar as imagens que eram projetadas pelo dispositivo. E, para
que isso acontecesse, muitas experincias foram feitas.
J no sculo XVI, os cientistas conheciam a caracterstica da prata de
escurecer na presena de luz. Desde ento, a maioria das experincias reali-
zadas com o intuito de registrar imagens utilizou sais e compostos de prata
como base.
Porm, a primeira imagem feita com uma cmera obscura no utilizou
a prata, mas sim uma substncia chamada betume branco da Judeia. Em
1826, o francs Joseph Nipce colocou uma placa de estanho coberta com
betume branco da Judeia dentro da cmera obscura e deixou durante dez
horas na janela de seu quarto. O betume tem a propriedade de endurecer,
quando atingido pela luz. Nas partes onde o Sol no atingiu a imagem, o
betume foi retirado com uma soluo de essncia de alfazema. Esse processo
foi batizado por Nipce de heliografia, ou seja, gravura feita com a luz solar.
Fotografia tirada por Nipce, em 1826.
Por intermdio dos irmos Chevalier, famosos pticos de Paris, Nipce
entrou em contato com Louis Daguerre, outro inventor que tambm pro-
curava obter imagens por meio de processos qumicos. Nipce e Daguerre
trocaram correspondncia sobre seus trabalhos, chegando at a firmar uma
sociedade com o propsito de aperfeioar a heliografia, porm Daguerre
percebeu as limitaes do betume da Judeia e decidiu prosseguir sozinho
nas pesquisas, usando sais de prata.
Daguerre expunha, na cmera obscura, placas de cobre recobertas com
prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de
iodeto de prata sensvel luz. At que um dia ele descobriu, totalmente
por acaso, que uma placa levemente sensibilizada pela luz, ou seja, ainda
invisvel, podia revelar-se com o vapor de mercrio. Dessa forma, Daguerre
conseguiu reduzir o tempo de exposio de horas para minutos.
Aps a revelao, Daguerre fixou a imagem com uma mistura de gua
e sal de cozinha, para dissolver os sais de prata no revelados, formando
as reas escuras da imagem. Esse processo foi batizado com o nome de
daguerreotipia.
Fenacistoscpio.
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Daguerretipo foi o nome dado ao
equipamento que fazia daguerreotipias.
Tinha o corpo de uma cmera obscura,
acrescida de uma lente convergente
(objetiva). No fundo da cmera, havia
uma fenda, onde era inserida a placa
sensvel. Se observarmos as cmeras
fotogrficas de hoje em dia, podemos
ver que os elementos principais conti-
nuam os mesmos: o corpo da cmera
obscura, a lente e o suporte sensvel
(o negativo na fotografia analgica ou
o sensor digital, na fotografia digital).
Mesmo com o sucesso da daguerreotipia, o processo ainda tinha proble-
mas. Ainda no era possvel obter cpias a partir da imagem criada. Cada
fotografia era nica. Alm disso, o custo do processo era alto, pois envolvia
o uso de muita prata. Esses desafios motivaram, durante as prximas dca-
das, a descoberta de novos processos mais econmicos e manuseveis, como
o papel fotogrfico e o negativo.
Em 1941, o ingls William Fox Talbot desenvolveu um sistema para a
reproduo infindvel de uma imagem fotogrfica usando uma chapa
exposta o negativo. No incio, o negativo era feito a partir de papel,
depois, com vidro, at chegarmos ao negativo feito de acetato de
celulose, como o da foto.
Experincia de Muybridge
A fotografia rapidamente se espalhou pelo mundo. Havia um encanta-
mento pela imagem, que seria a prova da realidade. Hoje sabemos que
a imagem fotogrfica nem sempre corresponde realidade, pois pode ser
construda, graas s trucagens e montagens. Mas a fotografia foi e, em
alguns casos, ainda considerada uma prova fiel da verdade dos fatos.
Com isso, novas ideias, novas perguntas e novos desafios passaram a
ocupar a mente dos cientistas e curiosos que se encantavam com os recursos
da imagem fotogrfica. Uma dessas questes era sobre a composio do
movimento. Esse estudo j vinha sendo desenvolvido pelos ilustradores dos
brinquedos pticos, pois, para criarem a iluso do movimento, eles obser-
vavam atentamente as aes, para depois decomp-las em vrias imagens
estticas.
Com a fotografia, podia-se verificar na realidade como o movimento
acontecia; afinal, muito mais fcil estudar um movimento decomposto em
uma srie de fotografias do que tentar fazer a olho nu e em tempo real.
E foi exatamente isso que Eadweard Muybridge fez, em 1872. Ele foto-
grafou o galope de um cavalo, com o objetivo de mostrar que este, em um
determinado momento da ao, retirava as quatro patas do cho (tratava-
se de uma aposta, e as fotos seriam
a comprovao). Para fazer isso, ele
criou um sistema composto por vinte e
quatro cmeras enfileiradas, que eram
acionadas por fios devidamente estica-
dos no local onde o cavalo correria.
medida que o cavalo passava, ele toca-
va nos fios e acionava sucessivamente
as cmeras, capturando posies-chave
O daguerretipo.
Negativo fotogrfico.
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do movimento do galope.
Esse experimento foi to bem-sucedido que no s provou que o cavalo,
em determinado momento do galope, retirava as quatro patas do cho como
desenvolveu os mecanismos que levariam ao nascimento do cinema, vinte
anos depois.
A experincia de Muybridge.
O cinema de Thomas Edison
Thomas Edison, o famoso inventor responsvel por tecnologias como
a lmpada eltrica, foi quem primeiro avanou a partir da experincia de
Muybridge. Edson j havia inventado o fongrafo, o primeiro gravador de
som, e buscava completar sua inveno, aliando a imagem ao som. Podemos
dizer, de certa forma, que Edison j buscava um cinema sonoro.
Aps ter observado a experincia de Muybridge, Edison desenvolveu uma
cmera para registrar o movimento, que ele chamou de kinetgrafo. Com ela,
realizou diversos filmes curtssimos, de poucos segundos, em seu estdio
Black Maria, nos EUA, entre 1891 e 1895.
Imagem do primeiro experimento de filme sonoro.
Edison combinou o kinetgrafo com o fongrafo.
Para que as pessoas vissem seus filmes, Edison desenvolveu o kinetos-
cpio (nome formado a partir das palavras gregas kineto, que significa movi-
mento, e scopos, que significa olhar). O kinetoscpio era uma caixa fechada,
dentro da qual um pequeno filme rodava. Para visualiz-lo, era necessrio
colocar uma moeda, e somente uma nica pessoa de cada vez podia ver o
filme.
O kinetoscpio chegou a ser muito popular entre 1893 e 1895. Em diver-
sas cidades dos Estados Unidos e mesmo da Europa, foram abertos sales de
kinetoscpios, onde centenas de pessoas faziam filas para se deslumbrarem
com as imagens que se mexiam.
Sempre que encontrar esse smbolo a, voc pode acessar o site do NPD So Carlos para ver um trecho da obra.
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Kinetoscpio.
A estrutura do kinetoscpio, que permitia um olhar atravs de um visor
individual, estimulava o prazer do olhar sem ser visto, um olhar pelo buraco
da fechadura. Por isso, o visor do kinetoscpio funcionava, em muitas ima-
gens, como um visor de ampliao, permitindo uma viso mais aproximada
do objeto. Por exemplo, no filme Sandown (1894) a, v-se o halterofilista enquadrado dos quadris para cima.
Em May Irwin Kiss (1896) a, v-se um casal bem prximo, com um
enquadramento do busto para cima.
Porm, essa cmera aproxima-
da dos personagens praticamente
desapareceu nos primeiros anos do
cinema. Ela s retornaria aos filmes
alguns anos depois, j como um ele-
mento da linguagem cinematogrfica
em desenvolvimento.
Sequncia de quadros de O espirro.
Os irmos Lumire e o cinematgrafo
Foi no dia 28 de dezembro de 1895, em Paris, que Louis e Auguste Lu-
mire realizaram a primeira sesso pblica de cinema. Em uma sala escura,
foram projetados dois pequenos filmes: A Sada dos Operrios das Fbricas
Lumire a e A Chegada do Trem na Estao a. Dessa forma, apresen-taram ao mundo o que eles chamaram de cinematgrafo: uma espcie de
ancestral da filmadora e do projetor, movido manivela e que utilizava
negativos perfurados para registrar o movimento.
Sandown (1894).
May Irwin Kiss (1896).
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O cinematgrafo, ao contrrio do kinetoscpio de Edison, tornava pos-
svel a projeo das imagens em movimento para um pblico, e no mais
para uma nica pessoa. Apesar de a iluso da imagem em movimento j
ser conhecida, a proposta de exibio era radicalmente diferente: ao ser
projetado em uma tela, dentro de uma sala escura, o cinematgrafo buscava
uma experincia parecida com a da lanterna mgica. A sensao de sonho,
de iluso que a lanterna mgica produzia era conseguida ento no mais
com imagens pintadas, mas com imagens fotogrficas, tiradas a partir da
realidade.
Cinematgrafo.
Apesar do sucesso do equipamento, os irmos Lumire no acreditavam
que ele teria muito futuro, principalmente no ramo dos espetculos. Para
eles, o cinematgrafo serviria para pesquisas sobre o movimento, e logo
as pessoas perderiam o interesse nele. Mas eles no poderiam estar mais
enganados!
O cinematgrafo em ao. O nome do aparelho passou a identificar a nova arte que surgia:
o cinema.
1.2 CONSTRUINDO A LINGUAGEM
Com a inveno do cinematgrafo, nascia o cinema, mas no como ns
o conhecemos hoje, com histrias contadas a partir de roteiros elaborados
ou com uma linguagem cinematogrfica complexa. Ainda no! No comeo,
o cinema escrevia antes de saber como escrever, isso quer dizer, o cinema
estava nascendo como linguagem.
Os primeiros filmes produzidos e exibidos foram chamados de vistas
ou atualidades: cenas do cotidiano, captadas ao ar livre, por uma cmera
imvel. Nenhuma histria era contada. O espanto e o fascnio da iluso pro-
duzida pela imagem em movimento projetada era o suficiente para motivar
realizadores e espectadores.
Muitos desses primeiros filmes foram realizados pelos prprios irmos
Lumire. J em 1896, eles formaram dezenas de equipes de fotgrafos ci-
nematogrficos e os enviaram para vrios pases, com o objetivo de trazer
novas imagens, alm de exibirem as que levavam de Paris. Os caadores
de imagens, como eram chamados, colocavam suas cmeras fixas em de-
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terminado lugar e registravam o que estava frente: gndolas de Veneza,
coroao de imperadores, cenas militares, torres e edifcios famosos, nunca
antes vistos por uma populao urbana ainda no acostumada a viajar.
Os chamados filmes de viagem (travelogues) eram sempre exibidos
junto com a explicao de um palestrante, normalmente um explorador, que
trazia informaes e curiosidades sobre lugares longnquos e desconhecidos
do grande pblico.
O cinema mgico de Georges Mlis
Alm das vistas e dos filmes de viagem, o cinema nessa poca foi
bastante influenciado por um universo de imagens provenientes das artes
de espetculos populares o circo, o carnaval e a mgica. Nos vaudevilles
(espetculos que aconteciam em pequenos teatros, cafs-concerto e feiras
de variedades), o cinema era exibido em filmes de curtssima durao de
no mximo cinco minutos , projetados nos intervalos de apresentaes de
mgicas ao vivo e nmeros de circo.
Nesse espao, o cinema se tornou tambm um espetculo. E um dos
primeiros e maiores criadores desse cinema-espetculo foi Georges Mlis,
um mgico e inventor francs, que desenvolveu como ningum os truques
cinematogrficos que levavam a plateia a lugares fantsticos, provocando
risos e surpresas.
Diz a lenda que Mlis estava filmando uma cena cotidiana na rua,
quando, de repente, a cmera parou de funcionar e voltou em seguida. No
instante em que a cmera no filmou, os objetos que estavam na frente da
cmera mudaram de lugar, e, ao ver as imagens projetadas, Mlis percebeu
o efeito de corte-ao, ou stop-action, em ingls.
Esse efeito especial foi amplamente utilizado em muitos de seus mais
de quinhentos filmes. Por meio desse efeito, Mlis fazia pessoas e objetos
aparecerem e desaparecem, diante da plateia, como se pode ver, por exem-
plo, no filme O Diabo Preto, de 1905 a.
Fotograma de Le Diable Noir (1905).
Outros efeitos tambm foram desenvolvidos por Mlis, como a fuso
(passagem gradativa de uma imagem outra) e a dupla exposio (duas
imagens diferentes em um mesmo fotograma em superposio).
Veja exemplos de um efeito de fuso no filme O Rei da Maquiagem (1904) a e do efeito de dupla exposio no O Melmano (1903) a.
O Rei da Maquiagem e O Melmano.
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O filme Viagem Lua (1903), de Mlis, considerado a primeira fico cientfica do cinema.
O primeiro enquadramento
Podemos perceber que, mesmo com todos os efeitos especiais criados por
Mlis, seus filmes mantinham uma mesma estrutura, encontrada em outros
filmes desse perodo. A cmera era sempre fixa, imvel; seu ponto de vista era
frontal, estava mesma distncia da cena, podendo enxerg-la por inteiro (o
que hoje chamamos de plano geral). A ao acontecia toda dentro do espao
do plano, o que, para nossos olhares modernos, acaba gerando certa confuso.
Um exemplo dessa confuso est na primeira cena do filme Tom Tom,
the Pipers Son, de 1905 a. Nessa cena, vemos uma feira cheia de gente vendedores, malabaristas, msicos, crianas , tudo no mesmo quadro fixo.
O que mais interessa para a histria o roubo de um porco e a perseguio
que se inicia fica quase perdido, no quadro to cheio de elementos.
Cena inicial de Tom Tom, the Pipers Son (1905).
Para ns, que estamos acostumados com a linguagem cinematogrfica
consolidada por mais de um sculo de histria, esses filmes nos passam uma
impresso teatral, tanto pela mise-en-scne como pelo enquadramento.
como se estivssemos sentados no meio da plateia, vendo a cena se desen-
rolar diante de nossos olhos, com os atores entrando e saindo do palco pelas
laterais ou pelo fundo do cenrio.
Mise-en-scne uma expresso francesa usada para descrever os
aspectos estilsticos da produo audiovisual. Essencialmente, sig-
nifica colocar em cena, e isso vale para tudo aquilo que aparece
diante da cmera cenrios, objetos, atores, figurinos e iluminao.
O termo, principalmente, usado para se referir ao posicionamento
e movimentao de atores na ao a ser filmada.
Alm do enquadramento, muitos desses filmes eram compostos por uma
srie de quadros independentes, que correspondiam, por sua vez, mais ou
menos aos atos do teatro, separados uns dos outros por cartelas, em que
se lia o ttulo do quadro seguinte. Apesar de tantas semelhanas com o
espetculo teatral, no podemos afirmar que esses filmes eram um teatro
filmado, pois neles no existiam dilogos, elemento essencial no teatro
daquela poca.
importante lembrar tambm que nesse perodo o cinema ainda era
exibido em meio a um monte de outras atraes, como shows de mgica,
performances de circo, etc., e nunca era a atrao principal. Por isso, o ob-
jetivo central do filme no era contar uma histria; era muito mais entreter
como espetculo de iluso. Contudo, pouco a pouco, tornar-se-ia cada vez
mais um espao para contar histrias!
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As primeiras organizaes da linguagem cinematogrfica
A linguagem cinematogrfica comea de fato a progredir quando os
cineastas estabelecem que o objetivo do cinema passa a ser, sim, contar
histrias. E, para isso, o cinema deveria se desenvolver.
Essa nova atitude com relao ao filme acontece por conta de um obje-
tivo claro: para ser bem-sucedido comercialmente, o cinema deveria buscar
um pblico mais endinheirado que o pblico dos vaudevilles, formado basica-
mente por operrios. Porm, esse novo pblico, composto pela classe mdia
e pela burguesia, via o cinema como algo vulgar, degenerado, imprprio para
pessoas respeitveis. Portanto, era preciso construir uma nova imagem
para o cinema. Para atrair o pblico de elite, ele deveria ser considerado uma
das artes elevadas.
Por isso, os realizadores da poca decidiram associar o cinema s nar-
rativas da literatura; no s pela forma linear de contar uma histria, mas
tambm pelo contedo, pelos temas, personagens e histrias que eram
apresentados no universo dos livros. Logo, a linguagem que se desenvolveu
a partir desse perodo estava diretamente ligada aos gneros literrios j
conhecidos do grande pblico o romance, o pico, a aventura e maneira
como eles se organizavam.
claro que isso no aconteceu da noite para o dia, afinal de contas, a
inveno de uma linguagem no algo simples. Foram necessrias muitas
tentativas para que, pouco a pouco, as bases dessa linguagem fossem esta-
belecidas.
Linguagem qualquer sistema de signos utilizado para a comu-
nicao. Toda a linguagem tem como base o uso de determinados
cdigos, que servem de pontos de contato entre aquela pessoa que
fala (emissor) e a que escuta (receptor). Por exemplo, para nos co-
municarmos aqui no Brasil, temos os cdigos da Lngua Portuguesa,
e assim por diante.
Os passos fundamentais para a elaborao da linguagem cinematogrfica
foram: a criao de estruturas narrativas e a organizao de uma relao com
o espao fora do quadro.
O olhar subjetivo e o plano do detalhe
No cinema, um dos primeiros cdigos estabelecidos foi em relao ao
olhar. J em 1900, pudemos observar, no filme Como Pode Ser Visto atravs
do Telescpio, de George A. Smith a, um exemplo da construo de um novo sentido, por meio da insero de um enquadramento mais prximo do
personagem.
Dois planos consecutivos do filme As Seen Through a Telescope: o plano
objetivo seguido do plano subjetivo.
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Na figura vemos um homem segurando uma grande luneta. No fundo do
quadro, surge um casal andando, carregando ao lado uma bicicleta. Corta-se
a imagem, e, em seguida, vemos o tornozelo da mulher, enquadrado em uma
mscara circular, que imita o visor da luneta. A ideia aqui trabalhada pela
juno das imagens do olhar para a coisa olhada, ou seja, ns vemos
aquilo que o personagem v.
Veja no site do NPD a outros filmes desse mesmo perodo que traba-lham com essa relao do olhar subjetivo: Grandmas Reading Glass (1900) e
The Gay Shoe Clerk (1903).
Esse simples encadeamento de planos proporciona uma mudana em
nosso ponto de vista. No vemos mais como espectadores de uma plateia
de teatro. Com o recorte do plano super aproximado do tornozelo da mulher,
passamos a enxergar com os olhos do personagem (viso subjetiva).
Mas, afinal, o que um plano? O plano considerado a menor uni-
dade flmica e um dos conceitos mais bsicos da linguagem cine-
matogrfica. Podemos defini-lo como o intervalo entre dois cortes.
Atualmente, existem diversos estilos de planos, classificados de
acordo com o tipo de enquadramento, angulao, movimento, etc.
Ao cortar o filme em diferentes tipos de planos, os cineastas descobrem
uma caracterstica singular do cinema: a montagem (ou edio).
O plano super aproximado do tornozelo da mulher conhecido atualmen-
te como plano detalhe e utilizado no s para criar essa relao de uma
viso subjetiva, mas tambm para orientar o olhar do espectador naquilo
que precisa ser visto por ele, para que a narrativa faa sentido.
Os filmes de perseguio e a contiguidade espacial
No incio do cinema, os filmes concentravam toda a ao em um nico
quadro (plano) fixo. Esse tipo de estrutura acabava gerando um problema
para as aes que precisavam se desenrolar ao longo de vrios espaos,
como, por exemplo, as perseguies.
A nica alternativa encontrada at ento para esse desafio fora simples-
mente fazer os personagens correrem em crculos, dentro do mesmo quadro
fixo, como fez, por exemplo, George Mlis, na cena final do filme O Albergue
do Bom Descanso (1903) a. Porm, essas solues aos poucos foram sendo desacreditadas. Toda vez
que algum saa ou entrava em quadro, tinha-se a ideia de que existia um
espao vizinho quele do espao da cena, um lugar que no era mostrado,
mas imaginado. Ao mesmo tempo, a ao que a cmera mostrava no quadro
fixo comeava a ser percebida tambm como um pedao no tempo, implican-
do um antes e um depois da ao mostrada.
Por isso, os chamados filmes de perseguio foram um passo importante
para que a ao sasse dos limites do quadro. Vejamos, por exemplo, o filme
A Corrida dos Policiais (1907), do americano Edwin S. Porter a. O primeiro plano do filme comea com a entrada em quadro de um cachorro que carrega
uma corda de salsichas. O cachorro sai do quadro, e, em seguida, no mesmo
local, entram os policiais que perseguem o cachorro fujo.
O que segue at o fim do filme a continuao da ao de um quadro
para outro. Cada novo quadro que aparece no filme mostra a entrada e a
sada do cachorro, sempre seguido por um grupo cada vez maior de policiais,
os quais entram e saem de quadro, atrs do co.
O deslocamento fsico de perseguidores e perseguido fez com que os
quadros (planos) fossem encadeados, ligados um depois do outro, mostrando
as etapas sucessivas e contnuas da ao de perseguio.
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Dessa forma, esse gnero de filme introduziu dois conceitos importantes
para a construo da narrativa linear: a sucesso dos eventos no tempo e a
ligao da ao no espao.
Porter e o primeiro plano
O cineasta Edwin S. Porter foi responsvel, ainda, por um filme muito
importante para o desenvolvimento da linguagem cinematogrfica: O Grande
Assalto ao Trem (1903). Porter havia rodado o filme inteiro em planos gerais
e s depois se deu conta de que os protagonistas praticamente no eram
identificados pelo espectador, o que tornava difcil distinguir os bandidos
do peloto do xerife.
Protagonista o personagem principal de uma narrativa, sendo a
trama desenvolvida sempre a partir de suas aes. O protagonista
sempre tem um antagonista, que quem (ou o qu) se ope aos
seus desejos, gerando, assim, o conflito. Nem sempre o protagonis-
ta o heri. No caso especfico do filme de E. Porter, o protagonista
o bandido, o vilo.
Para solucionar esse problema, ele retratou um dos bandidos em um
enquadramento bastante prximo, para que a audincia pudesse reconhec-
lo. Esse seria um dos exemplos mais remotos de primeiro plano na estrutura
narrativa.
Como no sabia onde inserir o retrato do bandido dentro da histria,
Porter colocou essa imagem em um rolo separado, para que o projecionista a
exibisse no comeo ou no fim do filme, conforme sua escolha.
O primeiro plano do bandido no primeiro faroeste da histria do cinema.
Na realidade, a ideia de se fazer um primeiro plano aconteceu porque os
realizadores sentiam a necessidade de reduzir a distncia entre a cmera e
os protagonistas. Porm, o fato de no saber onde colocar o plano revelava
uma dificuldade em fazer essa aproximao da cmera dentro da diegese,
pois o efeito quebrava totalmente a construo da cena pensada at ento.
Diegese um conceito que se refere dimenso ficcional de uma
narrativa. A diegese a realidade prpria da narrativa (mundo fic-
cional, vida fictcia), parte da realidade externa de quem l (o
chamado mundo real ou vida real). O tempo e o espao diegticos
so, assim, o tempo e o espao que existem dentro da trama, com suas
particularidades, seus limites e as coerncias determinadas pelo autor.
D . W . Griffith e os fundamentos da linguagem cinematogrfica
Aos poucos, o cinema ia se transformando. Ao observarmos seu aspecto
comercial, entre 1907 e 1915, o cinema j se tornava uma atividade inde-
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pendente das atraes dos vaudevilles, graas aos nickelodeons (do ingls
nickel, que significa moeda, e do grego odeon, que significa teatro). Nessas
pequenas salas, o cinema era a nica atrao, e, a preo de alguns centavos,
podia-se assistir a uma sesso de filmes.
Quanto ao aspecto da linguagem, esse foi um perodo de crescente
construo narrativa. Com o objetivo de contar histrias emocionalmente
envolventes, o cinema foi se fragmentando cada vez mais em pedaos
(planos), que, sozinhos, j no davam conta de resumir o sentido da histria.
Esse sentido s seria compreendido por meio da inter-relao entre esses
diversos fragmentos. Foi nesse perodo que o norte-americano David Wark
Griffith, com base nas experincias de linguagem anteriormente realizadas,
estabeleceu os fundamentos da linguagem cinematogrfica.
O verdadeiro mrito de D. W. Griffith no foi inventar os elementos da
linguagem cinematogrfica, mas, sim, sistematizar, em produes de grande
sucesso, todas as inovaes que estavam dispersas em diversos filmes.
Griffith reuniu e aperfeioou as primeiras descobertas da linguagem cinema-
togrfica, e suas tcnicas influenciaram os filmes produzidos a partir de ento.
Sua obra mais importante foi o filme O Nascimento de uma Nao, de
1915. Com uma hora e trinta minutos de durao, o longa-metragem con-
siderado o precursor da chamada narrativa clssica, que seria desenvolvida
por diversos cineastas dali por diante.
O Nascimento de uma Nao (1915).
Apesar de ser um filme extremamente importante para a histria do
cinema, O Nascimento de uma Nao glorifica a escravatura e justifica a se-
gregao racial, o que gerou muita controvrsia em torno da histria. Nesse
fotograma, a personagem Flora corre em direo ao abismo, para evitar que
o negro Gus a toque.
A narrativa clssica a estrutura cinematogrfica que se preocupada
em contar uma histria da forma mais envolvente, linear e transpa-
rente possvel. fundamentada no pacto ficcional firmado entre o
espectador e o filme, no qual este se compromete a narrar a histria
sem quebras, e aquele se compromete a acreditar, pelo menos du-
rante a durao do filme, que tudo aquilo que est na tela verdade.
Uma das marcas registradas de Griffith foi o desenvolvimento do po-
tencial emotivo da montagem paralela. Nessa tcnica, em vez de as aes
acontecerem em uma sequncia linear no tempo e prximas no espao, o
montador (ou editor) alterna dois espaos diferentes, que vo se suceden-
do, um depois do outro, sugerindo aes paralelas, acontecendo de forma
simultnea.
Um exemplo tpico da montagem paralela aquele em que os bandi-
dos amarram a mocinha no trilho, enquanto o heri, em outro lugar, corre
enlouquecidamente para salv-la, antes que o trem chegue. No final, os
dois personagens se encontram, e a mocinha salva no ltimo momento,
segundos antes da chegada do trem.
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Montagem paralela em Enock Arden (1919), de D. W. Griffith.
Griffith desenvolveu de forma intensa as relaes da montagem para-
lela em centenas de filmes. Com a interrupo das aes, ele instituiu no
cinema a tcnica do suspense emotivo. Alm disso, o corte da montagem
paralela permitiu superar a ideia de que uma cena no podia ser cortada
antes que toda a ao terminasse ou enquanto todos os protagonistas
no sassem do campo. Dessa forma, Griffith aprendeu a dar ritmo ao,
abreviando a durao dos planos progressivamente, medida que o fim se
aproximava.
Para contar uma histria, Griffith utilizava todos os enquadramentos e
movimentos de cmeras possveis. Em seus filmes, levou para o cinema a
soluo do plano americano, que permitia focalizar o conjunto da cena, mas
j tomando o ator com maior proximidade, de modo a destacar seu rosto, as
expresses mais ntimas e os gestos menores.
Plano americano em O Lrio Quebrado (1919), de D. W. Griffith.
A cmera passa a integrar-se ao e torna-se capaz de acompanhar os
atores em movimento. Em seguida, passa a focalizar a ao ora de perto, ora
de longe, conforme a necessidade dramtica do momento. Griffith desenvol-
veu o travelling (do ingls travel, que significa viajar) para filmar uma cena
em movimento, acoplando a cmera na dianteira de um automvel.
Os novos mtodos de decupagem propostos por Griffith a variao de
planos para criar impacto (do plano geral ao close-up), o travelling, a mon-
tagem paralela e as variaes de ritmo ressaltavam uma profunda emoo
na histria, com enfoque nas atuaes emotivas, com risos, lgrimas, tudo
feito de modo a preservar a feio das emoes e transform-las em filme.
Todos esses fatores, quando ordenados pela montagem, ajudaram a fundar os
princpios do envolvimento da narrativa clssica.
Decupagem (do francs dcoupage) significa o ato de recortar ou
cortar dando forma. No cinema, a decupagem a diviso de uma cena
em planos e a previso de como esses planos vo se ligar uns aos
outros por meio de cortes. Esse processo comea na preparao da
filmagem e s termina na montagem, quando temos o filme pronto e
a decupagem definitiva.
A partir de Griffith, os enquadramentos, as angulaes e os movimentos
de cmera foram estabelecidos, sendo desenvolvidos durante as dcadas
seguintes por inmeros filmes e realizadores.
Veremos agora alguns dos enquadramentos, das angulaes e dos movi-
mentos de cmera utilizados atualmente para decupar um filme.
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Enquadramentos
Grande plano geral (GPG)Plano com ngulo de viso muito aberto, que descreve o cenrio. difcil
perceber a ao ou identificar os personagens.
Blade Runner (1982) direo de Ridley Scott
Plano geral (PG)Apresenta um ngulo de viso menor que o GPG, valorizando um pouco mais os
personagens em cena, porm o cenrio ainda ocupa a maior parte do quadro
Tempos Modernos (1936) direo de Charles Chaplin
Plano conjunto (PC)Apresenta os personagens no cenrio. possvel reconhecer os atores, que
aparecem de corpo inteiro, e distinguir a ao completamente.
Linha de Passe (2007), direo de Walter Salles.
Plano americano (PA)Enquadra os personagens do joelho para cima.
O Poderoso Chefo (1972), direo de Francis Ford Coppola.
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Plano mdio (PM)Enquadra o personagem da cintura para cima.
Cidade de Deus (2002), direo de Fernando Meirelles.
Primeiro plano (PP) ou close-up o enquadramento que corta o personagem na altura do busto, havendo
pequena quantidade de detalhes no quadro.
Volver (2006), direo de Pedro Almodvar.
Primeirssimo primeiro plano (PPP) ou super close-up o enquadramento em que o rosto ou parte dele ocupa toda a tela.
Laranja Mecnica (1971), direo de Stanley Kubrick.
Plano detalhe (PD) o enquadramento que destaca detalhes do rosto ou do corpo do ator ou
tambm de objetos.
O Senhor dos Anis (2001), direo de Peter Jackson.
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Angulaes de cmera
Plonge ngulo no qual a cmera e a lente se colocam acima do objeto ou da pessoa,
focalizando de cima para baixo. O nome plonge deriva do francs plonge
(mergulho), pois como se a cmera se colocasse em uma posio de mer-
gulho, olhando para baixo, a partir de um lugar mais alto. Essa angulao
tende a ter um efeito de diminuio da pessoa filmada, de rebaixamento.
Contudo, isso no uma regra absoluta!
Cidado Kane (1941), direo de Orson Wells.
Contra-plonge
Um Homem Srio (2009), direo de Joel e Ethan Coen.
ngulo no qual a cmera se coloca abaixo do objeto ou da pessoa, focali-
zando de baixo para cima. Essa angulao tende a dar uma impresso de
superioridade, exaltao, triunfo, aumentando a imagem do objeto ou da
pessoa. Mas, de novo, no s essa a ideia que pode ser associada a esse
tipo de enquadramento.
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Movimentos de cmera
Maquinistas em ao para fazer um travelling lateral usando uma dolly e trilhos
Travelling Em traduo literal, viajando.
Movimento em que a cmera anda sobre um caminho.
Pode ser horizontal, vertical, in ou out.
PanormicoMovimento no qual a cmera gira em um eixo pa-
ralelo ao plano do filme. Pode ser horizontal da
direita para a esquerda ou da esquerda para a direita;
ou vertical (tambm conhecido como Tilt) de cima
para baixo ou de baixo para cima.
Alm dos enquadramentos, das angulaes e dos movimentos de cmera, a
narrativa clssica estabeleceu as regras de continuidade e/ou ligao entre
dois planos, tambm conhecida como raccord.
Raccord de movimentoAcontece quando um movimento mantm a continuidade entre um plano e
outro. Por exemplo, temos um raccord de movimento quando, em um plano,
um jogador de futebol chuta uma bola e, no plano seguinte, vemos a bola
cruzar o quadro na mesma direo e com velocidade semelhante quela com
que saiu do plano anterior.
Raccord de olharAcontece quando a direo do olhar mantida entre um plano e outro. Por
exemplo, em um plano, temos uma pessoa olhando em um determinado sen-
tido, e, no prximo plano, outro personagem olhando em sentido contrrio.
Pela continuidade, conclumos que eles esto se olhando.
Campo e contracampo, no filme Antes do Amanhecer (1995), com direo de Richard Linklater.
Na filmagem de uma sequncia de campo e contracampo, a cmera nun-
ca dever ser posicionada em volta dos personagens para alm de cento
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Na Frana e na Alema-
nha, muitos cineastas foram
influenciados por outras ma-
nifestaes artsticas, alm
do prprio cinema:
A pintura expressio-
nista alem e as tcnicas
de teatro clssico do perodo so influncias claras, em filmes como O Gabi-
nete do Doutor Caligari (1919), de Robert Wiene a.
O Expressionismo foi um movimento cultural que pensava a obra de
arte como reflexo direto do mundo interior do artista. Os expressio-
nistas defendiam uma arte mais pessoal e intuitiva, em que predo-
minasse a viso interior do artista a expresso em detrimento
da plasmao da realidade a impresso.
As ideias psicanalticas esto presentes em A ltima Gargalhada
(1924), de F. W. Murnau,
juntamente com a fora
do movimento de cmera
defendida por Griffith. Na
primeira cena do filme, o
cinegrafista amarrou a
cmera no peito e fez uma
tomada andando de bici-
cleta pelo hotel a.
e oitenta graus da posio de ambos os planos. Essa a chamada regra
dos cento e oitenta graus, amplamente utilizada no cinema para manter a
coerncia na disposio dos personagens na tela.
Dessa forma, um personagem que se coloque em um canto, olhando para
o lado esquerdo, e o outro olhando para o lado direito iro ser representados
na tela como se estivessem um de frente para o outro (como na imagem
anterior).
A figura ao lado mostra do alto uma cena
com dois personagens conversando. Para se
criar o plano e o contraplano da conversa, a
cmera dever estar posicionada sempre em
uma das metades do crculo: ou na metade
inferior ou na superior.
importante lembrar que essas so regras
da narrativa clssica. A partir dos anos 1960,
com o surgimento do cinema moderno, muitos diretores quebraram vrias
dessas regras, com o intuito de gerar narrativas nas quais certa desorienta-
o do espectador era desejada.
Outras ideias, outros filmes: o cinema e as vanguardas artsticas
Como vimos at agora, a linguagem cinematogrfica foi sendo criada por
diversos cineastas, que, pouco a pouco, transformaram a maneira de fazer e
ver filmes, privilegiando o ato de contar uma histria. Griffith havia sido muito
bem-sucedido. Porm, outros artistas, a partir de seus princpios, avanaram
nas experincias sobre a montagem. Esses cineastas pensavam o cinema no
s como um meio narrativo, mas tambm como uma eficiente maneira de
comunicar ideias, interpret-las e delas retirar concluses intelectuais.
PersonagemA
PersonagemB
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A Psicanlise um campo da Psicologia, desenvolvido por Sigmund
Freud, que prope a compresso e anlise do homem, entendido
como sujeito do inconsciente.
Na comunidade artstica de Paris, o Surrealismo era o destaque. Os
artistas espanhis Salvador Dali e Lus Buuel rejeitavam o filme narrativo
clssico e a forma de montagem de Griffith. Ao realizarem Um Co Andaluz
(1929) a, eles estavam particularmente interessados em fazer um filme que destrusse o sentido. E foi o que eles fizeram.
O Co Andaluz, direo de Luiz Buuel.
O Surrealismo foi um movimento artstico que enfatizava o papel
do inconsciente na atividade criativa. Os surrealistas rejeitavam
a chamada ditadura da razo e os valores burgueses. Humor,
sonhos e a contralgica eram recursos utilizados para libertar o
homem de sua existncia utilitria.
Outras ideias, outros filmes: o cinema sovitico
Ainda no mesmo perodo do cinema mudo, os cineastas soviticos, imbu-
dos pelo esprito revolucionrio do socialismo, desenvolveram teorias para
a montagem cinematogrfica, ampliando a maneira como os filmes eram
pensados, produzidos e assistidos.
Pudovkin e Kuleshov foram dois cineastas soviticos que defendiam
a ideia de que o plano como o tijolo da construo flmica, e que o
material filmado, ao ser ordenado, pode gerar qualquer resultado desejado.
Com base nessa ideia, Kuleshov realizou uma experincia: usou o mesmo
plano de um ator e o justaps com trs diferentes planos um prato de
sopa sobre a mesa, um plano de um caixo com uma mulher morta e outro
com uma criana brincando com um brinquedo. Ao exibir a experincia, a
plateia interpretou as trs sequncias como a de um homem com fome, um
marido triste e um adulto alegre. No entanto, o close-up do ator era sempre
o mesmo, sem a mnima mudana de expresso.
Essa experincia ficou conhecida como Efeito Kuleshov e comprovou,
de fato, o poder de sugesto que a montagem podia exercer sobre o espec-
tador.
Alguns anos depois, o cineasta Eisenstein reuniu a criao com a teoria
cinematogrfica. Alm de realizador, Eisenstein escreveu bastante sobre suas
ideias e as ensinou a toda uma gerao de diretores.
Com conhecimentos de teatro e desenho, ele experimentou teorizar
sobre a montagem como um choque de imagens e ideias, a chamada mon-
tagem de atraes. Apesar de se inspirar em Griffith, Eisenstein repudiava
a narrativa clssica.
Seu filme O Encouraado Potenkin (1925) a considerado um dos mais importantes filmes da histria do cinema. Nele, podemos encontrar a famosa
sequncia da escadaria de Odessa, na qual ele aplica uma de suas teorias
sobre a montagem.
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O Encouraado Potemkin, direo de Sergei M. Eisenstein.
Eisenstein classificava os tipos de montagem em cinco categorias: m-
trica (durao de cada um dos planos), rtmica (continuidade visual entre os
planos), tonal (caracterstica emocional da cena), atonal (conjugao das
montagens mtrica, rtmica e tonal manipulando o tempo do plano) e inte-
lectual (insero de ideias em uma sequncia de grande carga emocional).
A ideia de montagem intelectual foi desenvolvida a partir de um estudo
que Eisenstein realizou sobre os ideogramas japoneses, os quais so lidos e
interpretados conforme a relao existente entre (pelo menos) dois concei-
tos-smbolo independentes um do outro, gerando um terceiro conceito.
Da mesma maneira, Eisenstein utilizava duas imagens justapostas para
gerar, na mente do espectador, uma terceira ideia, que, na maioria das vezes,
seria de difcil visualizao ou representao em uma nica imagem.
J o cineasta Dziga Vertov defendia, com veemncia, que apenas a ver-
dade documentada poderia ser honesta o bastante para levar verdadeira
revoluo.
No filme Um Homem com uma Cmera (1929) a, Vertov filma de maneira criativa o cotidiano das cidades russas, construindo uma intensa
experincia cinematogrfica. Pela transmisso dos fenmenos visuais, Vertov
cria o verdadeiro filme-linguagem, a escrita absoluta no filme, sem utilizar
interttulos, sem um roteiro tradicional e sem atores e cenrios. Dessa forma,
ele cria a completa separao do cinema em relao ao teatro e literatura.
Um homem com a cmera (1929), direo de Dziga Vertov.
O filme Um Homem com uma Cmera considerado um filme documen-
trio, que, mais do que uma reproduo da realidade, apresenta-nos uma
representao de uma viso de mundo.
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Outras ideias, outros filmes: o nascimento do cinema documental
O que documentrio? Essa no uma pergunta simples de responder.
Documentrio um conceito indeterminado, porque nem todos os filmes
classificados como documentrio se parecem entre si. tambm um conceito
amplo, porque a linguagem cinematogrfica est sempre em desenvolvimen-
to.
Literalmente, o termo documentrio se refere ideia de documento, ou
seja, um tipo de filme que possui um carter de documento. Existe uma
tradio no documentrio que est profundamente enraizada em sua capaci-
dade de transmitir uma impresso de realidade. Mas isso no quer dizer que
o documentrio seja a realidade.
Para nos passar essa ideia de autenticidade, os realizadores de documen-
trios utilizam a mesma engenhosidade e inventividade que os cineastas de
fico utilizam para atrair nossa ateno aos mundos prprios das histrias
inventadas; ou seja, o documentrio pode recriar situaes, desconstruir
relatos, utilizar a montagem de modo a valorizar a emoo da narrativa, mas
sempre uma representao.
Um exemplo interessante o filme Nanook do Norte (1922) a, do diretor-explorador Robert Flaherty.
Na poca em que foi lanado, o filme foi com-
parado aos filmes de viagem, pois retratava a dif-
cil vida dos esquims do norte do Canad. Porm,
nos filmes de viagens tradicionais, o explorador
era a figura central. Nanook do Norte se diferen-
ciou desses filmes, pois se concentrava na vida de
um esquim e sua famlia, ou seja, tinha outro enfoque, mais pessoal. Dessa
forma, ao tirar o cineasta da narrativa, Na-
nook do Norte se aproximou da forma como
a fico cinematogrfica clssica trabalhava
o narrador: de maneira invisvel.
Alm disso, o diretor Robert Flaherty
editou o filme a partir de uma perspectiva
dramtica, colocando os personagens pro-
tagonistas Nanook e sua famlia em
antagonismo com o ambiente hostil. Dessa
forma, podemos dizer que Nanook do Norte
inaugura uma nova forma de contar histrias,
com um tratamento criativo da realidade.
Ao longo dos anos, a linguagem do documentrio foi se desenvolvendo,
sempre de acordo com os avanos da tecnologia audiovisual e com o momen-
to histrico no qual o filme estava inserido. Desta forma, no existe apenas
uma, mas muitas e distintas formas de se realizar um documentrio.
O cinema era mudo, mas no silencioso!
Toda essa evoluo de linguagem que abordamos at agora aconteceu
durante o perodo do cinema mudo, ou seja, nos primeiros trinta anos de
cinema.
Porm, mesmo os filmes sendo silenciosos, as projees costumavam ser
bastante sonoras. No incio, quando a linguagem cinematogrfica ainda es-
tava engatinhando, muitos filmes eram acompanhados pela figura do expli-
cador um sujeito que ficava ao lado da tela durante toda a projeo, para
explicar o que acontecia no filme. De p, com um longo basto, o homem
apontava os personagens na tela e explicava o que eles estavam fazendo.
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VOLTAR AO SUM
RIO
claro que, depois de alguns anos, sua presena no era mais necessria, pois
a linguagem j estava estabelecida e era conhecida por todos.
Mas a forma sonora que mais acompanhou o cinema em seu perodo
mudo no foi a narrao direta, e sim a msica! Fosse por meio de uma
orquestra ou por um simples piano, a trilha sonora musical fazia parte desse
perodo, como j pudemos observar nos vrios exemplos de filmes indicados
no site do NPD (se no viu, corre l para ver e ouvir!) a.A msica, de incio, era utilizada para cobrir o barulho do projetor.
Mas logo se percebeu que ela no s preenchia o vazio da imagem como
dava profundidade ao filme, principalmente na questo do ritmo e do tom.
Com o desenvolvimento da linguagem cinematogrfica, vrios realizadores
passaram a pensar a msica como mais um elemento do filme, junto com os
enquadramentos, a montagem, etc.
Griffith, por exemplo, comps a trilha original em conjunto com J. C.
Briel para o filme O Nascimento de uma Nao. No filme, determinados temas
musicais so recorrentes a certa situao ou certo personagem (leitmotiv).
Portanto, a partitura que foi distribuda para acompanhar a exibio foi
pensada em funo do filme.
Leitmotiv uma palavra alem que significa motivo condutor ou
de ligao. Na trilha sonora cinematogrfica, temos um leitmotiv
quando um tema de melodia ou at mesmo o som de um instru-
mento diretamente associado a um personagem, uma situao ou
um sentimento.
O acompanhamento sonoro era realizado de acordo com a disponibi-
lidade da sala de exibio: desde um pianista, em uma pequena sala, at
uma orquestra, com setor de efeitos sonoros, em salas maiores. Onde no
houvesse um msico de acompanhamento, o filme era exibido em silncio.
A prtica de acompanhamento sonoro no era exclusiva do cinema:
muito antes, os teatros de melodrama j realizavam apresentaes com a
execuo de msica e efeitos sonoros cuidadosos. Algumas salas de cinema
possuam um fosso na frente da tela, onde ficavam os msicos, da mesma
maneira que era de costume no teatro.
No entanto, no era s o acompanhamento que podia carregar informa-
es sonoras. Os filmes silenciosos j deveriam carregar todo o seu sentido
na forma de imagem, para que fosse uma obra completa, independentemente
do som que a acompanharia no momento de sua exibio. Para isso, fazia-
se valer de recursos como o uso de pantomima, interttulos (cartelas que
intercalavam planos com pequenos textos explicativos, podendo ser uma
narrao ou fala dos personagens), planos de indicao sonora (por exemplo,
um close-up de um sino tocando ou cachorro latindo), alm de outros recur-
sos de montagem para sugerir ritmo, emoo e outras sensaes sonoras. O
pblico poderia, assim, ouvir o filme, mesmo que no houvesse a presena
fsica do som.
Pantomima um teatro gestual que faz o menor uso possvel de
palavras e o maior uso de gestos; a arte de narrar com o corpo;
uma modalidade cnica que se diferencia da expresso corporal e
da dana; basicamente, a arte objetiva da mmica; um excelente
artifcio para comediantes, cmicos, palhaos, atores, bailarinos,
enfim, os intrpretes.
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1.3 EVOLUO TECNOLGICA
O som sincrnico
Vimos que, j em 1893, o kinetoscpio de Thomas Edison conseguia
juntar a imagem em movimento com o som sincronizado, porm, de forma
muito rudimentar e precria. Para que o som pudesse se unir imagem de
fato, foram necessrias novas descobertas e muitos aprimoramentos. Dessa
forma, durante o cinema mudo, enquanto a imagem predominava no desen-
volvimento da linguagem cinematogrfica, o som era desenvolvido enquanto
tecnologia.
Em 1926, a Warner Bros., na poca, um estdio com srios problemas fi-
nanceiros, apostou em um processo que juntava imagem e som, o vitaphone.
Nesse sistema, o som e a imagem ficavam em suportes separados e
somente no momento da projeo eles entravam em sincronia. O sistema era
composto por um projetor normal conectado a um toca-discos, um amplifi-
cador e um conjunto de alto-falantes.
O sistema vitaphone.
Apesar de um grande salto tecnolgico (o sucesso dos filmes falados
foi imediato), o vitaphone possua muitos problemas. Os principais eram com
relao edio do som que no era possvel e a sincronizao entre o
projetor e o toca-discos, que estava longe de ser a ideal.
O Cantor de Jazz (1927) a, considerado o primeiro filme sonoro do perodo, produzido com o sistema vitaphone.
Por conta de todos esses problemas, o sistema de som com suporte
em disco seria substitudo pelo sistema de som com suporte no prprio
filme. Vrios sistemas de cinema sonoro foram criados, como o movietone e o
phonofilm, at que o photophone aprimorou o processo, com a inscrio do
som no filme por meio de um sistema de rea varivel.
O negativo cinematogrfico com banda sonora.
31
VOLTAR AO SUM
RIO
Com o advento do som, os roteiros dos filmes tinham de ser modificados,
j que os dilogos precisavam ser escritos tal qual apareceriam na tela, e os
atores deveriam interpret-los com uma boa dico. Nos EUA, os filmes de
gngster dos anos 1930 se aproveitaram plenamente do advento do som, e
os dilogos passaram a ser escritos por dramaturgos da Broadway.
O som era uma tecnologia nova que enriquecia o cinema, mas obrigava a
mudanas na produo e na linguagem. O equipamento pesado atrapalhava a
mobilidade da cmera e, de certa forma, fez com que, nos primeiros anos de
cinema sonoro, a linguagem cinematogrfica regredisse. A montagem que
era o fundamento do filme mudo, pois, por meio dela criava-se o sentido
continuou a ser um aspecto importante, mas agora havia mais elemento na
composio flmica: os dilogos; e estes tinham um lugar privilegiado no
filme.
No toa que muitos filmes desse perodo os chamados filmes fala-
dos (ou talkies, em ingls) mais parecem um teatro filmado, em que a
palavra tem a maior importncia.
No entanto, importante dizer que o som no se estabeleceu to fa-
cilmente no cinema. Houve muita discusso, pois, para alguns, se o cinema
era a arte das imagens em movimento, acrescentar-lhe o som era roubar sua
natureza e sua alma.
Charles Chaplin definiu abertamente sua posio: Podem afirmar que
detesto os talkies. Vieram estragar a mais antiga arte do mundo a arte da
pantomima; aniquilam a grande beleza do silncio.
Porm, ao longo das dcadas seguintes, o cinema reconstruiu sua lin-
guagem, no s recuperando aos poucos sua identidade visual, mas criando
tambm novas formas de utilizao do som. Comeavam a surgir os verda-
deiros filmes sonoros.
Alfred Hitchcock e Fritz Lang so alguns dos diretores pioneiros que pas-
saram a trabalhar os elementos da trilha sonora (dilogos, msica e rudos),
aliados montagem, aproveitando e explorando o leque de possibilidades
narrativas que se abria.
Acreditamos que a melhor maneira de aprender sobre a linguagem
audiovisual vendo e revendo filmes! Por isso, damos aqui algumas
dicas para que voc aumente seu conhecimento sobre a primeira
linguagem do audiovisual: o cinema. O ideal que, alm de assistir
o filme, voc procure por crticas e outras informaes sobre ele.
Para isso, disponibilizamos, ao final da apostila, uma bibliografia
de livros sobre cinema, onde voc pode encontrar algumas refern-
cias para seu estudo.
O audiovisual eletrnico
A partir da dcada de 1950, deu-se incio a uma nova maneira de se pro-
duzir o audiovisual: no mais por meio da imagem fotogrfica em movimento,
mas da imagem eletrnica.
A televiso
Os primeiros experimentos com a imagem eletrnica datam de 1923 e
eram uma combinao dos conhecimentos pticos e das recentes descober-
tas na rea da eletrnica. O objetivo desses experimentos era transmitir e
disponibilizar uma imagem remota, ou seja, uma imagem que estaria longe
da viso do observador; por isso o nome televiso (do grego tele, que signi-
fica distante, e do latim visione, que significa viso; ou seja, viso distante).
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Desde que foi inaugurada no Brasil, em 1950, a televiso no parou de
crescer, a ponto de firmar-se, hoje, como o meio de comunicao de maior
influncia nos costumes e na opinio pblica. Na televiso, a linguagem
audiovisual se popularizou ainda mais, chegando diretamente a todos os
espaos: casas, bares, escolas, hospitais, etc.; e, hoje em dia, at ao compu-
tador! quase impossvel fugir da imagem televisiva!
De quem? Para quem?
Desde seu comeo, a tev no Brasil foi entendida como um campo de ati-
vidade comercial, sendo explorada por grandes grupos miditicos, graas s
concesses dadas pelo Governo. Por isso, a televiso tem sido alvo constante
de crticas e vista por muitos estudiosos como alienante, emburrecedora
ou um elemento de manipulao das massas.
De fato, a questo das concesses televisivas uma questo crtica para
a produo audiovisual no Brasil e precisa ser tratada com seriedade.
No incio, a tev era somente ao vivo. Essa caracterstica mostrava-se
como um ponto de ligao com o rdio meio de comunicao de maior
alcance at ento no pas. Tanto que, assim que foi inaugurada, a televiso
importou vrios profissionais que trabalhavam no rdio, como diretores, ro-
teiristas, atores, atrizes, cantores e cantoras; enfim, muita gente saiu do
rdio para fazer televiso no Brasil.
Isso fez com que a linguagem audiovisual televisiva se aproximasse mais
do rdio do que do cinema; tanto que, durante muito tempo, a televiso era
encarada como rdio com imagens. E, at hoje, tem-se o costume de ligar a
tev somente para ouvi-la, enquanto se faz outra coisa.
Com o desenvolvimento da gravao em videotapes, foi possvel aprimo-
rar a produo para a tev.
Entre os gneros mais tradicionais da tev, esto:
Novela Um dos mais populares programas no Brasil e tambm na Amrica
Latina, a telenovela filha da radionovela (muito popular nas dcadas de
1940 e 1950) e do folhetim literrio do sculo XIX. As novelas so narrativas
fragmentadas em captulos dirios, cujas tramas rocambolescas chegam a
durar meses. Normalmente, contam com um grande nmero de atores, atrizes
e figurantes, divididos em ncleos dramticos.
Sries Os seriados j eram produzidos no incio da histria do cinema, mas
foi na televiso que encontraram um espao privilegiado para se desenvol-
verem. Os primeiros seriados exibidos na tev brasileira eram importados
dos EUA e, por isso, eram chamados de enlatados. At hoje, os EUA so os
maiores produtores e exportadores de seriados, mas podemos encontrar na
televiso brasileira importantes produes seriadas tambm.
Telejornalismo O universo do jornalismo e da produo de notcias e infor-
maes, que j tinha se ampliado com o desenvolvimento da rdio, ganhou
mais visibilidade com a chegada da tev. A produo de imagens, reporta-
gens, telejornais e documentrios informativos uma forte caracterstica do
audiovisual televisivo.
Programas de auditrio Tambm herana da programao radiofnica, o
programa de auditrio se constitui como um tpico exemplo do espetculo
televisivo. Manifesta-se nos mais variados formatos, como games-shows,
shows de calouros, talk-shows, programas de debates, etc.
FILMES MUDOS
A Idade do Ouro ( LAge dOr) (1930)
Direo: Luis Buuel e Salvador Dal
Chantagem e Confisso (Inglaterra, 1929)
Direo: Alfred Hitchcock
O Garoto (EUA, 1921)
Direo: Charles Chaplin Metrpolis (Alemanha, 1927)
Direo: Fritz Lang
Limite (Brasil, 1930)
Direo: Mrio Peixoto Tempos Modernos (EUA, 1936)
Direo: Charles Chaplin
Cidado Kane (EUA, 1941)
Direo: Orson Welles
Ladres de Bicicleta (Itlia, 1948)
Direo: Vittorio De Sica
Rio, 40 Graus (Brasil, 1955)
Direo: Nelson Pereira dos Santos
Nosferatu (Alemanha, 1922)
Direo: F. W. Murnau
A Paixo de Joana DArc (Frana, 1928)
Direo: Carl Theodor Dreyer
Ganga Bruta (Brasil, 1933)
Direo: Humberto Mauro
Roma Cidade Aberta (Itlia, 1945)
Direo: Roberto Rosselini
O Cangaceiro (Brasil, 1953)
Direo: Lima Barreto
Acossado (Frana, 1959)
Direo: Jean-Luc Godard
A Me (URSS, 1926)
Direo: Vsevolod Pudovkin
M, O Vampiro de Dusseldorf (1931)
Direo: Fritz Lang
No Tempo das Diligncias (EUA, 1939)
Direo: John Ford
Os Incompreendidos (1959)
Direo: Franois Truffaut
Berlin Sinfonia de uma Metrpole (Alemanha, 1926)
Direo: Walter Ruttmann
Branca de Neve e os Sete Anes (EUA, 1937)
Direo: Walt Disney
Hiroshima, Mon Amour (Frana, 1959)
Direo: Alain Resnais
1940
Psicose (EUA, 1960)
Direo: Alfred Hitchcock
E o Vento Levou (EUA, 1939)
Direo: Victor Fleming
Casablanca (EUA, 1942)
Direo: Michael Curtiz
O Mgico de Oz (EUA, 1939)
Direo: Victor Fleming
Candinho (Brasil, 1954)
Direo: Abilio Pereira de Almeida
Tico-Tico no Fub (Brasil, 1952)
Direo: Adolfo Celi
Sinfonia Amaznica (Brasil, 1952)
Direo: Anelio Latini
O Cantor de Jazz (EUA, 1927)
Direo: Alan Crosland
King Kong (EUA, 1933)
Direo: James Ashmore Creelman,
Ruth Rose, Merian C. Cooper
1920 1930 1940 1950 1960
O Falco Malts (EUA, 1941)
Direo: John Huston
Roma, Cidade Aberta (Itlia, 1945)
Direo: Roberto Rossellini
Festim Diablico (EUA, 1948)
Direo: Alfred Hitchcock
O Encouraado Potemkin (URSS, 1925)
Direo: Sergei M. Eisenstein
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FILMES MUDOS
A Idade do Ouro ( LAge dOr) (1930)
Direo: Luis Buuel e Salvador Dal
Chantagem e Confisso (Inglaterra, 1929)
Direo: Alfred Hitchcock
O Garoto (EUA, 1921)
Direo: Charles Chaplin Metrpolis (Alemanha, 1927)
Direo: Fritz Lang
Limite (Brasil, 1930)
Direo: Mrio Peixoto Tempos Modernos (EUA, 1936)
Direo: Charles Chaplin
Cidado Kane (EUA, 1941)
Direo: Orson Welles
Ladres de Bicicleta (Itlia, 1948)
Direo: Vittorio De Sica
Rio, 40 Graus (Brasil, 1955)
Direo: Nelson Pereira dos Santos
Nosferatu (Alemanha, 1922)
Direo: F. W. Murnau
A Paixo de Joana DArc (Frana, 1928)
Direo: Carl Theodor Dreyer
Ganga Bruta (Brasil, 1933)
Direo: Humberto Mauro
Roma Cidade Aberta (Itlia, 1945)
Direo: Roberto Rosselini
O Cangaceiro (Brasil, 1953)
Direo: Lima Barreto
Acossado (Frana, 1959)
Direo: Jean-Luc Godard
A Me (URSS, 1926)
Direo: Vsevolod Pudovkin
M, O Vampiro de Dusseldorf (1931)
Direo: Fritz Lang
No Tempo das Diligncias (EUA, 1939)
Direo: John Ford
Os Incompreendidos (1959)
Direo: Franois Truffaut
Berlin Sinfonia de uma Metrpole (Alemanha, 1926)
Direo: Walter Ruttmann
Branca de Neve e os Sete Anes (EUA, 1937)
Direo: Walt Disney
Hiroshima, Mon Amour (Frana, 1959)
Direo: Alain Resnais
1940
Psicose (EUA, 1960)
Direo: Alfred Hitchcock
E o Vento Levou (EUA, 1939)
Direo: Victor Fleming
Casablanca (EUA, 1942)
Direo: Michael Curtiz
O Mgico de Oz (EUA, 1939)
Direo: Victor Fleming
Candinho (Brasil, 1954)
Direo: Abilio Pereira de Almeida
Tico-Tico no Fub (Brasil, 1952)
Direo: Adolfo Celi
Sinfonia Amaznica (Brasil, 1952)
Direo: Anelio Latini
O Cantor de Jazz (EUA, 1927)
Direo: Alan Crosland
King Kong (EUA, 1933)
Direo: James Ashmore Creelman,
Ruth Rose, Merian C. Cooper
1920 1930 1940 1950 1960
O Falco Malts (EUA, 1941)
Direo: John Huston
Roma, Cidade Aberta (Itlia, 1945)
Direo: Roberto Rossellini
Festim Diablico (EUA, 1948)
Direo: Alfred Hitchcock
O Encouraado Potemkin (URSS, 1925)
Direo: Sergei M. Eisenstein
Underground (Frana/Yugoslavia,Alemanha, 1995)
Direo: Emir Kusturica
Blade Runner (EUA, 1982)
Direo: Ridley Scott
A Liberdade Azul (Frana, 1993)
Direo: Krzysztof Kielowski
Deus e o Diabo na Terra do Sol (Brasil, 1964)
Direo: Glauber Rocha
So Paulo S.A. (Brasil, 1965)
Direo: Lus Srgio Person
Terra em Transe (Brasil, 1967)
Direo: Glauber Rocha
Macunama (Brasil, 1969)
Direo: Joaquim Pedro de Andrade
Iracema, uma Transa Amaznica (Brasil, 1974)
Direo: Jorge Bodansky
Festa de Famlia (1998)
Direo: Thomas Vinterberg
Vidas Secas (Brasil, 1963)
Direo: Nelson Pereira dos Santos
Laranja Mecnica (Inglaterra, 1971)
Direo: Stanley Kubrick
Cabra Marcado pra Morrer (Brasil, 1984)
Direo: Eduardo Coutinho
Sonhos (Japo, 1990)
Direo: Akira Kurosawa
Os Idiotas (1998)
Direo: Lars Von Trier
O Pagador de Promessas (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
O Bandido da Luz Vermelha (Brasil, 1968)
Direo: Rogrio Sganzerla
Apocalipse Now (EUA, 1979)
Direo: Francis Ford Coppola
Era uma Vez na Amrica (EUA/Itlia, 1983)
Direo: Srgio Leone
Ilha das Flores (Brasil, 1989)
Direo: Jorge Furtado
Cidade de Deus (Brasil, 2002)
Direo: Fernando Meirelles
Titanic (EUA, 1997)
Direo: James Camerom
Toy Story (EUA, 1995)
Direo: John Lasseter
A Princesa e o Rob (Brasil, 1983)
Direo: Mauricio de Sousa
Os Saltimbancos Trapalhes (Brasil, 1981)
Direo: J.B. TankoCarlota Joaquina Princesa do Brasil (Brasil, 1995)
Direo: Carla Camurati
Tron (EUA, 1982)
Direo: Steven Lisberger
Terra Estrangeira (Brasil, 1996)
Direo: Walter Salles e Daniela Thomas
Central do Brasil (Brasil, 1998)
Direo: Walter Salles
E.T. O Extra-Terrestre (EUA, 1982)
Direo: Steven Spielberg
Alma Corsria (Brasil, 1993)
Direo: Carlos Reinchenbach
2001: Uma Odisseia no Espao (EUA/Inglaterra, 1968)
Direo: Stanley Kubrick
Star Wars: Guerra nas Estrelas (EUA, 1977)
Direo: George Lucas
Easy Rider (EUA, 1969)
Direo: Dennis Hopper
Tubaro (EUA, 1975)
Direo: Steven Spielberg
Dona Flor e seus Dois Maridos (Brasil, 1976)
Direo: Bruno Barreto
A Velha a Fiar (Brasil, 1964)
Direo: Humberto Mauro
Bye Bye Brasil (Brasil, 1979)
Direo: Carlos Diegues
O Pagador de Promessa (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
Fellini 8 (Itlia/Frana, 1963)
Direo: Federico Fellini
A Dama da Lotao (Brasil, 1978)
Direo: Neville de Almeida
1960 1970 1980 1980 1990 2000
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VOLTAR AO SUM
RIOUnderground (Frana/Yugoslavia,Alemanha, 1995)
Direo: Emir Kusturica
Blade Runner (EUA, 1982)
Direo: Ridley Scott
A Liberdade Azul (Frana, 1993)
Direo: Krzysztof Kielowski
Deus e o Diabo na Terra do Sol (Brasil, 1964)
Direo: Glauber Rocha
So Paulo S.A. (Brasil, 1965)
Direo: Lus Srgio Person
Terra em Transe (Brasil, 1967)
Direo: Glauber Rocha
Macunama (Brasil, 1969)
Direo: Joaquim Pedro de Andrade
Iracema, uma Transa Amaznica (Brasil, 1974)
Direo: Jorge Bodansky
Festa de Famlia (1998)
Direo: Thomas Vinterberg
Vidas Secas (Brasil, 1963)
Direo: Nelson Pereira dos Santos
Laranja Mecnica (Inglaterra, 1971)
Direo: Stanley Kubrick
Cabra Marcado pra Morrer (Brasil, 1984)
Direo: Eduardo Coutinho
Sonhos (Japo, 1990)
Direo: Akira Kurosawa
Os Idiotas (1998)
Direo: Lars Von Trier
O Pagador de Promessas (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
O Bandido da Luz Vermelha (Brasil, 1968)
Direo: Rogrio Sganzerla
Apocalipse Now (EUA, 1979)
Direo: Francis Ford Coppola
Era uma Vez na Amrica (EUA/Itlia, 1983)
Direo: Srgio Leone
Ilha das Flores (Brasil, 1989)
Direo: Jorge Furtado
Cidade de Deus (Brasil, 2002)
Direo: Fernando Meirelles
Titanic (EUA, 1997)
Direo: James Camerom
Toy Story (EUA, 1995)
Direo: John Lasseter
A Princesa e o Rob (Brasil, 1983)
Direo: Mauricio de Sousa
Os Saltimbancos Trapalhes (Brasil, 1981)
Direo: J.B. TankoCarlota Joaquina Princesa do Brasil (Brasil, 1995)
Direo: Carla Camurati
Tron (EUA, 1982)
Direo: Steven Lisberger
Terra Estrangeira (Brasil, 1996)
Direo: Walter Salles e Daniela Thomas
Central do Brasil (Brasil, 1998)
Direo: Walter Salles
E.T. O Extra-Terrestre (EUA, 1982)
Direo: Steven Spielberg
Alma Corsria (Brasil, 1993)
Direo: Carlos Reinchenbach
2001: Uma Odisseia no Espao (EUA/Inglaterra, 1968)
Direo: Stanley Kubrick
Star Wars: Guerra nas Estrelas (EUA, 1977)
Direo: George Lucas
Easy Rider (EUA, 1969)
Direo: Dennis Hopper
Tubaro (EUA, 1975)
Direo: Steven Spielberg
Dona Flor e seus Dois Maridos (Brasil, 1976)
Direo: Bruno Barreto
A Velha a Fiar (Brasil, 1964)
Direo: Humberto Mauro
Bye Bye Brasil (Brasil, 1979)
Direo: Carlos Diegues
O Pagador de Promessa (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
Fellini 8 (Itlia/Frana, 1963)
Direo: Federico Fellini
A Dama da Lotao (Brasil, 1978)
Direo: Neville de Almeida
1960 1970 1980 1980 1990 2000
Underground (Frana/Yugoslavia,Alemanha, 1995)
Direo: Emir Kusturica
Blade Runner (EUA, 1982)
Direo: Ridley Scott
A Liberdade Azul (Frana, 1993)
Direo: Krzysztof Kielowski
Deus e o Diabo na Terra do Sol (Brasil, 1964)
Direo: Glauber Rocha
So Paulo S.A. (Brasil, 1965)
Direo: Lus Srgio Person
Terra em Transe (Brasil, 1967)
Direo: Glauber Rocha
Macunama (Brasil, 1969)
Direo: Joaquim Pedro de Andrade
Iracema, uma Transa Amaznica (Brasil, 1974)
Direo: Jorge Bodansky
Festa de Famlia (1998)
Direo: Thomas Vinterberg
Vidas Secas (Brasil, 1963)
Direo: Nelson Pereira dos Santos
Laranja Mecnica (Inglaterra, 1971)
Direo: Stanley Kubrick
Cabra Marcado pra Morrer (Brasil, 1984)
Direo: Eduardo Coutinho
Sonhos (Japo, 1990)
Direo: Akira Kurosawa
Os Idiotas (1998)
Direo: Lars Von Trier
O Pagador de Promessas (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
O Bandido da Luz Vermelha (Brasil, 1968)
Direo: Rogrio Sganzerla
Apocalipse Now (EUA, 1979)
Direo: Francis Ford Coppola
Era uma Vez na Amrica (EUA/Itlia, 1983)
Direo: Srgio Leone
Ilha das Flores (Brasil, 1989)
Direo: Jorge Furtado
Cidade de Deus (Brasil, 2002)
Direo: Fernando Meirelles
Titanic (EUA, 1997)
Direo: James Camerom
Toy Story (EUA, 1995)
Direo: John Lasseter
A Princesa e o Rob (Brasil, 1983)
Direo: Mauricio de Sousa
Os Saltimbancos Trapalhes (Brasil, 1981)
Direo: J.B. TankoCarlota Joaquina Princesa do Brasil (Brasil, 1995)
Direo: Carla Camurati
Tron (EUA, 1982)
Direo: Steven Lisberger
Terra Estrangeira (Brasil, 1996)
Direo: Walter Salles e Daniela Thomas
Central do Brasil (Brasil, 1998)
Direo: Walter Salles
E.T. O Extra-Terrestre (EUA, 1982)
Direo: Steven Spielberg
Alma Corsria (Brasil, 1993)
Direo: Carlos Reinchenbach
2001: Uma Odisseia no Espao (EUA/Inglaterra, 1968)
Direo: Stanley Kubrick
Star Wars: Guerra nas Estrelas (EUA, 1977)
Direo: George Lucas
Easy Rider (EUA, 1969)
Direo: Dennis Hopper
Tubaro (EUA, 1975)
Direo: Steven Spielberg
Dona Flor e seus Dois Maridos (Brasil, 1976)
Direo: Bruno Barreto
A Velha a Fiar (Brasil, 1964)
Direo: Humberto Mauro
Bye Bye Brasil (Brasil, 1979)
Direo: Carlos Diegues
O Pagador de Promessa (Brasil, 1962)
Direo: Anselmo Duarte
Fellini 8 (Itlia/Frana, 1963)
Direo: Federico Fellini
A Dama da Lotao (Brasil, 1978)
Direo: Neville de Almeida
1960 1970 1980 1980 1990 2000
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RIO
Captulo 2 FAZER AUDIOVISUAL
2.1 QUEM FAZ O QU?
O audiovisual , antes de tudo, uma atividade coletiva. Hoje em dia,
graas miniaturizao e ao barateamento dos equipamentos, a atividade
audiovisual ficou mais acessvel (o que no necessariamente significa mais
fcil).
Podemos dizer que, em alguns casos, possvel produzir uma obra au-