Upload
dinhthu
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Ministério do Meio Ambiente - MMA
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PLANO DE MANEJO DO PARQUE NACIONAL DOS
CAMPOS AMAZÔNICOS AM / RO / MT
Relatório Intertemático Consolidado – Plano de Manejo
do Parque Nacional dos Campos Amazônicos
Responsável Técnico: Maurício Silva
CREA/SC: 075071-0
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
2. MÉTODO ................................................................................................................... 5
3. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-BIÓTICA ...................................................................... 9
4. ANÁLISE INTERTEMÁTICA .....................................................................................14
4.1 Caracterização dos Setores ...................................................................................14
4.2 Avaliação dos Setores ...........................................................................................16
5. PROBLEMAS IDENTIFICADOS ...............................................................................19
5.1 Desmatamento/Ocupação .....................................................................................19
5.2 Estradas Clandestinas ...........................................................................................20
5.3 Queimadas ............................................................................................................21
5.4 Hidrelétricas ...........................................................................................................27
5.5 Pesca Predatória ...................................................................................................29
5.6 Caça Clandestina ...................................................................................................30
5.6 Mineração ..............................................................................................................32
6. MATRIZ DE RELACIONAMENTO PROBLEMAS/SETORES .....................................35
7. POTENCIAIS PARA PROTEÇÃO ..............................................................................38
7.1 Ambientes diferenciados .........................................................................................38
7.2 Espécies importantes para conservação .................................................................38
8. RECOMENDAÇÕES DE MANEJO ............................................................................40
8.1 Linhas de Pesquisa .................................................................................................40
8.2 Operacional ............................................................................................................41
8.3 Estratégica ..............................................................................................................42
8.4 Zona de amortecimento e entorno ..........................................................................43
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................46
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Mapa de Distribuição das Unidades Amostrais Avaliadas Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos
Figura 02: Validação e Conferência de Áreas Queimadas de Cerrado Identificadas Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos
Figura 03: Sobreposição e Quantificação das Áreas Queimadas de Cerrado Identificadas Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos e Mapeadas usando o Sensoriamento Remoto
Figura 04: Mapa de Freqüência de Incêndios na Área de Cerrado
Figura 05: Lago da UHE Samuel (a) – durante o período de cheia (b) – durante o período de seca
Figura 06: Imagem do satélite Landsat apresentando desmatamento em APP na área de mineração da Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto
Figura 07: Mapa apresentando os setores segundo a amostragem da AER
Figura 08: Mapa apresentando as principais pressões na UC e entorno
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Nomenclatura de Identificação Adotada para os Locais Estudados Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA CAMPOS AMAZÔNICOS
Tabela 02: Locais estudados durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA CAMPOS AMAZÔNICOS e os respectivos conceitos apresentados por cada tema para cada ponto
Tabela 03: Média dos resultados por setor considerando a média por setor classificado pela equipe de Ictiofauna
Tabela 04: Relacionamento entre os problemas e os setores amostrados durante a Avaliação Ecológica Rápida relacionando os problemas e os setores apresentando o grau de intensidade que os problemas impactam sobre os setores
LISTA DE FOTOS
Foto 01: Visão aérea das sinúsias apresentadas pelo Cerrado na área da unidade
Foto 02: Fogão improvisado para preparar carne de caça. Trilha do Igarapé Preto
Foto 03: Impacto da Mineração no interior da Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
4
1. Introdução
O presente relatório busca apresentar de maneira consolidada os resultados
do Diagnóstico Ambiental com vistas de subsidiar a elaboração do Plano de Manejo do
Parque Nacional dos Campos Amazônicos.
Além da apresentação dos resultados dos relatórios técnicos temáticos
divididos em Meio Físico, Qualidade da Água, Vegetação e Fauna subdividida em
Avifauna, Herpetofauna, Mastofauna e Ictiofauna, o presente relatório busca analisar
de maneira integrada os resultados a partir das unidades amostrais, setores e da
Unidade de Conservação (UC) como um todo, muitas vezes estrapolando a análise
para o entorno e região da UC.
Como forma de organizar e desenvolver os temas abordados pelas equipes
temáticas buscou-se apresentar inicialmente uma caracterização dos ambientes
físicos e bióticos da Unidade seguido de uma análise intertemática e da apresentação
dos problemas identificados na UC e seu entorno. Analisando estes resultados optou-
se pela construção de uma matriz relacionando os problemas com os setores da UC
como forma de ilustrar e pontualizar onde ocorrem tais problemas e com que
intensidade foram observados pelas equipes do Diagnóstico Ambiental. Por fim
buscou-se apresentar os potenciais para conservação tanto de ambientes como de
espécies que estão presentes na Unidade e servem como justificativa para sua efetiva
implantação, bem como, a apresentação das recomendações das equipes quanto ao
manejo futuro do Parque Nacional dos Campos Amazônicos.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
5
2. Método
O diagnóstico ambiental foi desenvolvido baseado na metodologia da Avaliação
Ecológica Rápida - AER, adaptada por Sobrevilla & Bath (1992) para o Programa de
Ciências para a América Latina e atualizada por Sayre et alii (2000), para a The Nature
Conservancy. Essa metodologia é desenvolvida para o cumprimento de objetivos bem
específicos como o de elaborar um diagnóstico ambiental para a instrução ao plano de
manejo de uma Unidade de Conservação.
Algumas adaptações locais foram implementadas nesta metodologia focando
aprimorar uma prévia leitura dos setores que foram discutidos nas reuniões prévias e
três reuniões técnicas de consolidação dos resultados realizadas durante a campanha
de campo.
Este método foi desenvolvido com o objetivo de se identificar eficientemente
áreas prioritárias para a conservação. A metodologia da AER inclui dados de
diferentes fontes e escalas como mapas, imagens de satélite e trabalhos de campo.
Desta forma, a AER realiza amostragem nos Sítios de Estudo em diferentes escalas,
em diferentes níveis de informação e integrando várias áreas de estudo (temas).
Sendo assim, as AER propõem equipes multidisciplinares para a realização dos
trabalhos e análises interdisciplinares para a interpretação de resultados. Geralmente
os resultados das AER são apresentados na forma de mapas e tabelas por estes
possibilitarem a visão espacial do trabalho em diferentes escalas, validados pela
checagem em várias etapas de verificação em campo.
Como objetivo geral teve-se produzir uma caracterização ambiental dos
ecossistemas existentes no Parque Nacional dos Campos Amazônicos e entorno.
Buscou-se ressaltar a existência de espécies animais e vegetais ameaçadas de
extinção. Esse procedimento embasou uma definição dos tipos ambientais existentes
na região estudada. Antecipando as atividades de campo foi realizado sobrevôo de
reconhecimento da área no dia 27 de maio de 2008, com o intuito de orientar as
atividades de campo e apresentar uma visão prévia da região de estudo aos
pesquisadores.
A campanha de campo foi realizada entre os dias 10 de novembro e 30 de
novembro de 2008 (início do período da cheia), quando foram amostrados 53 pontos
de observação denominados de Unidade Amostral (UA) em 5 sítios, com
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
6
complementação através de observações oportunísticas sempre que um aspecto
relevante fosse detectado.
Para a definição dos sítios e pontos de observação, além de se procurar obter
uma amostragem em cada bacia hidrográfica, foram analisadas imagens orbitais
geradas por sensores remotos e mapas. Através dessa técnica foram escolhidos os
pontos de observação. Esses pontos estão dispostos no mapa 01 e tabela 01.
Os resultados de campo, bem como a forma como foram organizadas as
atividades e a caracterização inicial dos setores de amostragem estão explicitados no
relatório das atividades de campo denominado como “PRODUTO 2” desenvolvido por
Cecília Alarsa, coordenadora do levantamento em campo.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
7
Figura 1. Mapa de Distribuição das Unidades Amostrais Avaliadas Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos
Fonte: GALLO DE OLIVEIRA, 2008
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
8
Tabela 1. Nomenclatura de Identificação Adotada para os Locais
Estudados Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos
Setor Nº UA Trilha Nome Trilha Identificação
I - Pousada Roosevelt
1 A Trilha da Pousada I-A1 2 A I-A2 3 B Trilha do Ouro I-A3 4 C Trilha do Ronca I-A4 5 D Trilha do Igarapé Preto I-A5 6 D I-A6 7 E Trilha EPE - margem direita I-A7 8 F Trilha EPE - margem esquerda I-A8 9 G Trilha do Barreiro I-A9
10 G I-A10 50 PI Base do Morcego PI-50 51 PI Antiga colocação de seringueiro PI-51 52 PI Base do Madeirinha PI-52
II - Fazenda Marcos
11 I Trilha da Lagoa II-I11 12 J
Trilha do Cerrado II-J12
13 J II-J13 14 J II-J14 15 H Trilha da Fazenda II-H15 16 K
Trilha do Areial II-K16
17 K II-K17 18 K II-K18
III - Ramal do Pito Aceso
19 L Trilha do Ramal dos Baianos III-L19 20 L III-L20 21 M Trilha da Serrinha III-M21 22 M III-M22 23 N Trilha do Pito Aceso III-N23
IV - Estrada do Estanho
24 O Trilha do Tio Guedes
IV-O24 25 O IV-O25 26 O IV-O26 27 P
Trilha dos Veados
IV-P27 28 P IV-P28 29 P IV-P29 30 P IV-P30 31 P IV-P31 53 Q
Trilha da Lagoa IV-P53
32 Q IV-Q32 33 Q IV-Q33 34 R
Trilha do Encontro dos Rios
IV-R34 35 R IV-R35 36 R IV-R36 37 R IV-R37 38 S
Trilha do Igarapé Taboca IV-S38
39 S IV-S39 40 S IV-S40
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
9
Setor Nº UA Trilha Nome Trilha Identificação
V - Tabajara
41 T Trilha do Cutia
V-T41 42 T V-T42 43 T V-T43 44 U Trilha do PMFS V-U44 45 U V-U45 46 V Trilha do Alagamento V-U46 47 V V-V47 48 X Trilha do Igarapé Preto V-X48 49 X V-X49
Para a efetiva implantação das Unidades Amostrais em campo, foi definido
pela coordenação do Plano de Manejo que a equipe de vegetação, juntamente com
um representante da coordenação do Plano de Manejo, percorreria as trilhas antes
das outras equipes e faria a demarcação das Unidades Amostrais. Essa equipe
técnica selecionou trechos com ambientes antropizados e em bom estádio de
conservação, trechos de transição com o objetivo de identificar, na medida do
possível, os efeitos da antropização sobre o meio; e a associação com a variação dos
ambientes, ou seja, a transição entre as formações florestais, os cerrados e campos.
As outras equipes, percorreram a seguir essas Unidades Amostrais, realizando
observações e levantamentos.
Consideradas as UAs, cada grupo temático desenvolveu os relatórios
considerando os mesmos pontos amostrais. Desta forma, os resultados alcançados
permitem uma maior integração dos temas de forma a integrar as análises. Com a
utilização das mesmas UAs pode-se identificar quais os temas que estão sofrendo
intervenções positivas ou negativas advindas, muitas vezes, de uma mesma fonte,
permitindo a integração dos esforços para proteção, ou seja, pode-se identificar que
uma atividade de garimpo, por exemplo, além de alterar as condições físico-químicas
dos corpos d´água podem estar exercendo uma pressão de caça na região. Vale
ressaltar que os resultados de cada UA foram avaliados por cada grupo temático
estabelecendo um conceito que, após consolidação final, foi ajustado para cada UA.
Como resultado deste método tem-se a matriz integrada da situação ecológica
dos sítios servindo como indicador de preservação para o Parque, bem como,
identificação das causas de degradação e integração nas ações de proteção. Vale
ressaltar que dada as características diferenciadas de amostragem das equipes de
Ictiofauna e Qualidade da água, estas foram consideradas apenas para os setores em
que atuaram, não tendo assim um conceito para as mesmas UAs dos demais temas.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
10
3. Caracterização Físico-biótica (baseado nos relatórios temáticos do meio físico e meio biótico)
Não há como tratar do Parque Nacional dos Campos Amazônicos sem fazer
menção à Amazônia e ao seu processo evolutivo. A Grande cobertura florestal que
torna a Amazônia conhecida pelo mundo nem sempre esteve presente de maneira
dominante nesta porção setentrional da América do Sul.
Há cerca de 60 milhões de anos a América do Sul e a África estavam unidas,
quando se iniciou o processo de abertura do grande oceano Atlântico entre esses
continentes por meio da separação decorrente da deriva continental. Diferentemente
da África que sempre manteve contato com os continentes europeu e asiático, a
América do Sul manteve-se mais isolada, como uma ilha, iniciando um grande
processo de evolução que a difere das demais regiões equatoriais do mundo.
(MIRANDA, 2007).
Muito da fauna e flora presentes na região amazônica era compartilhada com a
África, porém, há 60 milhões de anos antes do presente a Amazônia apresentava-se
muito diferentemente de hoje. O principal canal fluvial desta região nem mesmo
desaguava no Atlântico, mas sim, no golfo de Guayaquil no Equador. Com o
soerguimento dos Andes toda a bacia Amazônica passou por um processo de
inversão dos sentidos dos seus canais fluviais. À medida que o continente deslocava-
se para Oeste, a placa tectônica passou a inclinar-se em direção ao proto-atlântico
fazendo com que a região se tornasse num grande pântano.
Neste período, cerca de 50 milhões de anos a. p., predominava na região um
grande mar interior, o Mar Pebas, que por cerca de 10 milhões de anos recebeu os
tributários de toda a porção norte e oeste da Amazônia. Com a evolução dos Andes
permanecendo, este grande mar interior foi sendo drenado em direção ao Atlântico
descaracterizando esta grande formação de deposição marinha que dominava boa
parte da Amazônia de hoje (MIRANDA, 2007).
Da antiga Savana à Floresta Equatorial esta região passou por transformações
em ambientes pantanosos, marinhos, estuarinos, de onde decorrem boa parte das
reservas de petróleo e gás, culminando na grande floresta pluvial do mundo e por
conseqüência a maior bacia de água doce do mundo.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
11
Esta formação sedimentar marinha de cerca de 50 milhões de anos apresenta-
se hoje como um dos substratos geológicos da região do PARNA Campos
Amazônicos, denominado como formação Palmeiral. Desta formação decorrem solos
extremamente arenosos e com pouca disponibilidade de nutrientes, não permitindo
assim que houvesse grande evolução da cobertura florestal onde ocorrem esses
solos. Estes afloramentos perfazem o maior enclave de vegetação herbácio-arbustiva
da calha direita do rio Amazonas na Amazônia Ocidental, neste caso caracterizada
com formações variadas de cerrado em diferentes estágios de sucessão e formações
de campinaranas características dessa região.
Estas formações comumente denominadas de campos são importantes
resquícios das paisagens que predominavam na Amazônia quando ainda estava unida
à África e de tão importantes ilustram o próprio nome do Parque. Além de formações
de campos o Parque ainda procura proteger grandes áreas de florestal equatorial,
mais precisamente formações de floresta ombrófila aberta e floresta ombrófila densa.
Assim o Parque se propõe a preservar e desenvolver cientificamente, além de
proporcionar o turismo ecológico, duas importantes fito-fisionomias que ilustram muito
bem o desenvolvimento e evolução da Amazônia.
Além das formações florestais o PARNA Campos Amazônicos apresenta-se
como importante região de recarga do lençol freático e das águas subterrâneas nesta
região. Estes pontos de afloramento da formação sedimentar Palmeiral que serve de
substrato para a região dos campos e campinaranas, apresentam uma drenagem
pouco eficiente permitindo uma alta absorção das águas precipitadas recarregando
este importante aqüífero confinado na formação Palmeiral (DELLA JUSTINA, 2009).
Esta região de recarga apresenta-se como grande mantedora do nível freático
e fluvial, visto que a região é caracterizada climaticamente por duas estações bem
definidas, uma chuvosa (novembro a março) e outra seca (maio a setembro). Durante
a estação seca a perenização dos canais principais se dão principalmente por afluxo
do lençol freático, visto que as médias de precipitação para a região nos meses de
junho e julho não passam de 5 mm de chuvas por mês, ou seja, praticamente não
chove na região nestes meses apresentando déficit hídrico entre junho e outubro.
(DELLA JUSTINA, 2009)
O PARNA Campos Amazônicos tem dentro de seus limites importantes
nascentes formadoras do rio Manicoré e muitas nascentes tributárias de outros
importantes rios da região como o Roosevelt, Guaribas, Madeirinha, Branco e
Machado. Como parte integrante da bacia hidrográfica do Rio Madeira contribui com
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
12
inúmeros canais cuja qualidade das águas apresentam-se como ótimas, exceto o
Igarapé Preto que apresentou alterações advindas de atividades humanas na região.
(GOMES e PUPP, 2009).
Associada a esta hidrografia, apresenta uma ictiofauna característica da região
amazônica com espécies de alto valor comercial nos canais principais. A região
apresenta-se como de alto valor para piscosidade, evidenciada pela presença de
pousadas temáticas para esta atividade nos rios Machado e Roosevelt. Durante o
levantamento ictiofaunístico foram coletados 980 exemplares pertencentes a 188
espécies de peixes. Foram identificadas 165 espécies, ficando 23 táxons em processo
de identificação por especialistas em ictiologia. Os táxons identificados estão
distribuídos em 96 gêneros, 31 famílias e 8 ordens (GODOI, ARROLHO DA SILVA E
ROSA, 2009).
Verifica-se a presença de espécies com valor comercial de peixes ornamentais
que, segundo informações dos populares, não são aproveitadas economicamente
como lambaris, taboatás, acarás e cascudos. Apesar de nenhuma das espécies
coletadas estarem classificadas como ameaçadas de extinção, algumas espécies,
principalmente as de grande porte, encontram-se como potencialmente ameaçadas,
haja vista que relatos dos populares verificam que o porte dos peixes capturados tem
diminuído muito (GODOI, ARROLHO DA SILVA E ROSA, 2009).
Há cerca de 2,5 milhões de anos, a América do Norte e do Sul permaneciam
separadas. A partir de então, com a formação do Istmo do Panamá a América do Sul e
do Norte passaram a apresentar um “grande intercâmbio faunístico” antes limitado à
aves e morcegos. Juntamente com os animais vieram espécies da flora forçando
novas adaptações e competições na América do Sul e na Amazônia, mas o maior
impacto parece ter sido o da fauna com a extinção de boa parte da fauna de grande
porte, principalmente caracterizado pela competição de marsupiais carnívoros com os
recém-chegados e mais eficientes felinos (MIRANDA, 2007).
Como resultado deste intercâmbio, na região do Parque Nacional dos Campos
Amazônicos, pôde-se observar durante os 20 dias com atividades amostrais de
campo, 91 espécies, sendo 51 espécies de anfíbios e 40 de répteis. A maior parte da
herpetofauna registrada correspondeu a espécies amazônicas, sendo algumas com
ampla distribuição na Amazônia como também foram registradas diversas espécies
características de áreas abertas preservadas, características de Cerrado.
(BERNARDE e MACHADO, 2009)
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
13
Várias espécies registradas de anuros, lagartos e serpentes são de caráter
estenóico, ou seja, não suportam alto grau de perturbação ou alteração ambiental,
algumas ocorrendo apenas dentro de florestas, outras somente dentro de campo e
savana natural e isso denota a importância do PARNA Campos Amazônicos, na
manutenção dessas populações. Ainda vale ressaltar uma atenção especial aos
crocodilianos e quelônios que são espécies cinegéticas e, por isso, afetadas por
pressões antrópicas. (BERNARDE e MACHADO, 2009)
A observação e levantamento indireto permitiu uma primeira identificação de 44
espécies de mamíferos de médio e grande porte, uma representatividade alta para a
região amazônica considerando que os estudos indicam a presença de cerca de 311
espécies de mamíferos para toda a região. Em relação a mastofauna observa-se no
PARNA Campos Amazônicos 09 espécies consideradas como especiais sendo: 02
primatas Chiropotes albinasus, Ateles chamek; 02 felinos Panthera onca, Puma
concolor; 01 Canídeo Atelocynus microtis (entrevista), 03 Mustelídeos Pteronura
brasiliensis, Lontra longicaudis, Mustela sp. (segundo entrevista) e 01 Cervídeo
Ozotocerus berzoarticus. (ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009).
A presença de animais considerados como topo de cadeia, bem como, o
próprio comportamento dos mamíferos avistados na região dos campos indicam uma
situação de baixa pressão de caça no interior do parque demonstrando uma situação
de integridade dos ecossistemas da região alta, porém, conforme visitas e entrevistas
na região do entorno vê-se um crescente aumento na pressão sobre os grandes
felinos devido a predação de animais domésticos, por caça em algumas comunidades
do entorno, e a diminuição de habitats devido ao avanço do desmatamento,
decorrendo no baixo quantitativo de espécies identificadas no entorno. (ABADE,
D´AMICO e DE PAULA, 2009)
Já em relação à avifauna o Parque apresenta uma condição ímpar por abrigar
duas fitofisionomias bem distintas que acabam por apresentar uma maior abundância
no número de espécies de aves por estas estarem associadas geralmente a uma
única fitofisionomia. Corroborando a este fato tem-se também a condição de refúgio
ecológico exercido pela fitofisionomia do campo/campinarana que mantém estoques
avifaunísticos isolados de outras porções dessas formações características de outro
bioma brasileiro, o Cerrado. Esta condição de possível especiação atribui à avifauna
da região dos Campos uma situação especial para proteção e necessário
aprofundamento do conhecimento científico desta comunidade faunística. (CANDIDO
JR. e DAL´MASO)
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
14
Além da condição especial das espécies da região de Campo o Parque
apresenta espécies de grande interesse para a conservação nas áreas de Floresta
Ombrófila, sendo algumas ameaçadas de extinção como o Gavião-Real Harpia
harpyja e o Mutum-Cavalo Pauxi tuberosa. (CANDIDO JR. e DAL´MASO)
A condição de ecótono na transição floresta-cerrado dá ao Parque Nacional
dos Campos Amazônicos uma condição especial de importância na conservação de
todo um conjunto de elementos físicos e biológicos que registram uma parte
importante da história da Amazônia.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
15
4. Análise Intertemática
4.1 Caracterização dos setores (baseado em BERNARDE e MACHADO, 2009)
O Setor I (Pousada do Rio Roosevelt) trata-se de áreas com predominância de
floresta amazônica (Floresta Ombrófila) e uma fauna caracteristicamente associada a
essa formação. As atividades humanas nesse setor (especialmente o ecoturismo)
geram impactos significativos sobre toda a fauna, especialmente a aquática, se não
forem respeitadas as áreas preservadas nesse local, não sendo realizadas mais
derrubadas de floresta. Essa área é interessante por abrigar uma fauna típica de
florestas e numa bacia hidrográfica relativamente pouco estudada em sua composição
faunística, onde pode-se encontrar ainda espécies não descritas pela ciência. A pesca
é explorada pelas pousadas ao longo do Rio Roosevelt como atrativo turístico e,
quando executadas orientadas pelos responsáveis pelas pousadas, de maneira geral,
têm sido de menor impacto, porém, ainda ocorrem incursões de grupos não
conduzidos pelas equipes das pousadas que, geralmente, agem de maneira predatória
na região.
Ainda no setor I temos os reflexos das atividades de mineração executadas no
interior da Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto, cujos resíduos acabam
carreados pelo Igarapé Preto que deságua no Rio Madeirinha e conseqüentemente no
Rio Roosevelt que corta no sentido Sul-Norte a porção mais oriental do Parque.
Já no Setor II (Fazenda Marcos) encontramos uma situação inversa do ponto
de vista ambiental e paisagístico. Temos extensas áreas de florestas que foram
transformadas em pastagens para gado e também áreas de queimadas. Aqui, trata-se
de uma situação onde as áreas de florestas se encontram com as de áreas abertas
naturais (campinaranas). A relevância dessa área destaca-se que esses enclaves
abrigam espécies associadas e restritas a essas formações abertas e podem também
conter formas desconhecidas. Devido a isso, as atividades antrópicas nesse setor
(incluindo na zona de amortecimento) devem ser controladas e monitoradas. Vale
ressaltar que este setor também apresentou áreas bem preservadas na margem
direita do Rio Roosevelt.
Muita pressão antrópica caracteriza o setor III (Ramal do Pito Aceso) devido as
estradas abertas que facilitam o acesso as áreas do Parque e de seu entorno,
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
16
especialmente pela população humana concentrada na Vila de Santo Antônio do
Matupi nas margens da Transamazônica. Em relação às formações vegetais,
encontramos áreas de florestas e de cerrado, entretanto, com grande influência de
atividades humanas como desmatamento, retirada de madeira e queimadas. Temos
situações de florestas em diferentes estágios de regeneração após derrubada e
encontramos um contraste de espécies florestais e também de algumas oportunistas
de áreas abertas. Devido à grande atividade antrópica nesse setor, é necessário uma
atenção especial para impedir o desmatamento, corte de madeira ilegal e queimadas.
Pode-se dizer que o “coração” do Parque localiza-se no Setor IV (Estrada do
Estanho), pois ali se concentram as formações vegetais de cerrado bem
representadas, recobrindo grandes áreas e que dão nome a essa unidade de
conservação. A importância desse setor é a ocorrência dos campos em plena floresta
amazônica, separando por muito tempo formas típicas de áreas abertas de outras
áreas com a mesma característica, o que sugere-se que podem ter ocorrido vários
casos de especiação nesse isolamento. Encontramos aqui uma fauna associada
apenas ao cerrado, numa situação ímpar dentro Parque, espécies que só ocorrem
neste enclave. Destaca-se aqui que, apesar dessa importância e urgência para a
conservação desse setor, o mesmo encontra-se com impactos como a retirada de
vegetação natural resultante do antropismo de fazendas próximas e a de uma estrada
ilegal (Estrada do Estanho), além disso, a fragmentação do Parque pela exclusão da
faixa de 5 quilômetros de cada lado dessa estrada,dividindo seu território em três
blocos e isolando geneticamente populações animais e vegetais, pode comprometer a
efetividade da área protegida a longo prazo. Essa situação precisa ser urgentemente
avaliada e estudada para a ampliação da área do Parque para que o mesmo não seja
dessa forma fragmentado, evitando assim suas inerentes conseqüências genéticas e
eco-evolutivas.
No Setor V (Tabajara) encontramos um predomínio de áreas de floresta
ombrófila e a fauna associada a essa formação. Salienta-se aqui que trata-se de uma
área inserida em outra bacia (Rio Machado) e novamente encontramos uma situação
de pressão de atividades antrópicas devido ao setor madeireiro que é uma das
principais atividades e fonte de renda das populações dessa região. De uma forma
geral, essas áreas de florestas envolvendo áreas de campo (cerrado, savana, etc) é
de extrema importância para a vitalidade dessas formações abertas naturais. As
florestas funcionam como um tampão impedindo ou dificultando o acesso de espécies
eurióicas que se aproveitam de áreas desmatadas e podem invadir áreas abertas
nativas, prejudicando assim o equilíbrio dessas. Cabe ressaltar que esta região pode
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
17
vir a sofrer alterações em seu ambiente resultantes de instalação de aproveitamento
hidrelétrico, uma vez que está em processo de licenciamento no IBAMA o
Aproveitamento Hidrelétrico Tabajara, com potência prevista de 350 MW e que afeta
diretamente o PARNA Campos Amazônicos, inundando cerca de 1.500 há de sua
área, da forma como está proposta atualmente.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
18
4.2 Avaliação dos setores
Tabela 2. Locais estudados durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos e os respectivos conceitos apresentados por cada tema para cada ponto.
Setor Nº UA Trilha Nome Trilha Identificação Meio
Físico Vegetação Fauna Consolidado
Média Herpeto Avi Masto
I - Pousada Roosevelt
1 A Trilha da Pousada I-A1 4 3 4 3 3 3
2 A I-A2 4 3 3 3 3 3
3 B Trilha do Ouro I-A3 4 4 4 5 4
4 C Trilha do Ronca I-A4 3 3 4 4 5 3
5 D Trilha do Igarapé Preto I-A5 3 3 4 4 5 3
6 D I-A6 4 4 4 5 4
7 E Trilha EPE - margem direita I-A7 4 4 4 4 5 4
8 F Trilha EPE - margem esquerda I-A8 2 5 4 5 4
9 G Trilha do Barreiro I-A9 2 5 3 5 4
10 G I-A10 2 4 5 4
50 PI Base do Morcego PI-50 2 4 5 4
51 PI Antiga colocação de seringueiro PI-51 2 4 3
52 PI Base do Madeirinha PI-52 2 4 3
II - Fazenda Marcos
11 I Trilha da Lagoa II-I11 4 4 3 3 4
12 J Trilha do Cerrado
II-J12 4 4 5 4 3 4
13 J II-J13 5 5 5 4 3 5
14 J II-J14 5 5 5 4 3 5
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
19
15 H Trilha da Fazenda II-H15 2 2 1 3 1 2
16 K Trilha do Areial
II-K16 3 3 4 4 2 3
17 K II-K17 3 3 5 4 2 3
18 K II-K18 4 4 5 4 2 4
III - Ramal do Pito Aceso
19 L Trilha do Ramal dos Baianos III-L19 4 4 4 3 2 4
20 L III-L20 4 4 4 3 2 4
21 M Trilha da Serrinha III-M21 2 3 1 3 1 2
22 M III-M22 2 3 1 3 1 2
23 N Trilha do Pito Aceso III-N23 2 3 2 3 2 2
IV - Estrada do Estanho
24 O Trilha do Tio Guedes
IV-O24 3 3 5 2 3
25 O IV-O25 4 3 3 5 3 4
26 O IV-O26 3 2 3 5 2 3
27 P
Trilha dos Veados
IV-P27 3 4 3 5 5 4
28 P IV-P28 3 5 4 5 5 4
29 P IV-P29 3 4 3 5 5 4
30 P IV-P30 4 4 4 5 5 4
31 P IV-P31 3 3 4 5 5 4
53 Q Trilha da Lagoa
IV-P53 3 3 5 3 3
32 Q IV-Q32 3 3 5 3 3
33 Q IV-Q33 3 3 5 4 4
34 R Trilha do Encontro dos Rios
IV-R34 3 3 3 4 2 3
35 R IV-R35 4 4 3 4 3 4
36 R IV-R36 4 4 2 4 1 3
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
20
37 R IV-R37 3 3 2 3
38 S Trilha do Igarapé Taboca
IV-S38 3 4 4 4 3 4
39 S IV-S39 3 3 4 4 3 3
40 S IV-S40 3 3 4 4 3 3
V - Tabajara
41 T Trilha do Cutia
V-T41 4 5 4 3 4 4
42 T V-T42 4 5 4 3 4 4
43 V-T43 4 5 4 3 4
44 U Trilha do PMFS V-U44 5 5 4 3 5 5
45 U V-U45 4 4 3 3 4 4
46 V Trilha do Alagamento V-U46 4 4 4 5 4
47 V V-V47 4 5 4 5 5
48 X Trilha do Igarapé Preto V-X48 4 4 5 4 5 4
49 X V-X49 4 5 5 4 5 5
Conceitos: 1 – Péssimo, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 - Muito Bom, 5 - Excelente
Tabela 3. Média dos resultados por setor considerando a média por setor classificado pela equipe de Ictiofauna
Setor Conceito I - Pousada Roosevelt 4
II - Fazenda Marcos 3 III - Ramal do Pito Aceso 3 IV - Estrada do Estanho 3
V - Tabajara 4
Conceitos: 1 – Péssimo, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 - Muito Bom, 5 - Excelente
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
21
5. PROBLEMAS IDENTIFICADOS
Uma grande gama de problemas foi identificada, com mais intensidade no
entorno do que propriamente no interior da Unidade de Conservação. Estes problemas
dificilmente ocorrem de maneira separada, geralmente estão agrupados ou ocorrendo
em conjunto como, por exemplo, a mineração e o garimpo que trazem consigo o
desmatamento, a retirada de madeira, a abertura de estradas e acessos, a introdução
de espécies exóticas, poluição dos rios e igarapés, alterações nos fluxos dos canais
com barramentos e caça e pesca predatória.
Como forma de melhor organizar estas atividades relatadas como problemas a
serem enfrentados na gestão do Parque Nacional dos Campos Amazônicos segue um
compêndio dos problemas encontrados e descritos nos relatórios temáticos da
Avaliação Ecológica Rápida e das discussões das oficinas.
5.1 Desmatamento/Ocupação
A principal conseqüência do desmatamento apontado pela equipe técnica do
Diagnóstico Ambiental é a fragmentação dos habitats. O desmatamento é muito mais
acentuado no entorno da Unidade, muitas vezes chegando ao seu limite. Os setores
III, IV e V são os mais atingidos pela expansão dos núcleos de povoamento na BR 230
(Transamazônica), a Vila de Santo Antônio do Matupi, na margem do rio Machado, a
Vila de Tabajara, adjacências de Machadinho D´Oeste e propriedades rurais ao longo
da estrada clandestina que liga a Vila de Três Fronteiras no norte do Mato Grosso à
BR 230 (estrada do estanho).
Os últimos desmatamentos identificados no interior do Parque ocorreram na
porção pertencente ao estado de Rondônia. Segundo dados do Programa de
Monitoramento de Áreas Especiais (ProAE) do Sistema de Proteção da Amazônia
(SIPAM) a Unidade apresenta um desmatamento total acumulado até 2008 de
6.548,70 hectares, sendo que entre 2007 e 2008 ocorreram 101,39 hectares todos na
porção rondoniense do Parque. Essa porção é afetada pelas tentativas constantes de
invasão e estabelecimento de fazendas pela Associação de Produtores Rurais do
Oeste de Machadinho – APROMAR.
Além da fragmentação o desmatamento ocorre associado a outras alterações
impactantes para o ecossistema local e regional por ocorrer associado a queimadas e
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
22
introdução de espécies da flora e fauna exóticas à região. Foi relatada a predação por
espécies nativas (onça-parda e onça-pintada) de gado bovino e eqüino nestas regiões
de ocupação mais recente.
Os desmatamentos estão geralmente associados com a ocupação de terras
como forma de garantir o assentamento das famílias vindas de outras regiões, porém,
nem sempre associada à uma produção de subsistência. A ausência desse tipo
deprodução acaba tornando a condição de ocupação mais predatória por buscar um
uso mais intenso dos recursos ambientais por meio da caça e pesca predatória,
exploração ilegal de madeira e conseqüente conversão de áreas florestadas em pasto
para criação de gado que tem se tornado quase que uma unanimidade nas frentes de
ocupação na Amazônia Brasileira.
As comunidades que vivem no entorno, apesar de organizadas muitas vezes
em Associações de Produtores Rurais não recebem assistência técnica no trato das
atividades rurais, ficando muitas vezes a mercê de atividades ilegais como a extração
de madeira, apesar da área apresentar aproveitamentos orientados por manejo
sustentável aprovados pelas respectivas Secretarias de Meio Ambiente Estaduais.
A fragmentação dos habitas por conta do desmatamento acaba isolando
algumas espécies da fauna associadas à floresta ombrófila e/ou ampliando o contato
de espécies de áreas abertas com as exóticas introduzidas. A fragmentação, no caso
das aves, acaba por permitir que espécies externas à região possam acessar a região
dos campos, também caracterizada como área aberta, ou seja, não florestal. Essa
conexão pode acarretar uma competição desfavorável ás espécies dos campos
tornando importante o controle do desmatamento, principalmente na porção sul do
parque visto o grande corredor de desmatamento aberto no estado de Rondônia nas
últimas quatro décadas.
Já no caso dos mamíferos, principalmente os de grande porte, a proximidade
das propriedades tende a aumentar o contato dessas espécies com os habitantes
tornado-se uma ameaça tanto em condições de predação como de aumento da caça.
5.2 Estradas Clandestinas
As estradas abertas para garantir o acesso às áreas ocupadas no entorno do
Parque geralmente ocorrem de maneira espontânea, fomentadas principalmente pela
atividade madeireira na região. Como não seguem os trâmites legais para abertura
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
23
acabam causando impactos significativos na região por desconsiderar a hidrografia e
dimensionar erroneamente os bueiros, quando presentes, causando o impedimento de
canais, além da própria passagem de veículos alterando até mesmo áreas de
nascentes.
Uma estrada importante para a região e causadora de grandes impactos é a
popularmente conhecida como Estrada do Estanho. Uma rodovia interestadual,
portanto de responsabilidade do Departamento Nacional e Infra-Estrutura (DNIT), mas
que segundo o órgão é desconhecida, de acordo com consulta oficial realizada pela
equipe da Unidade junto ao DNIT. Como desconhecida pode ser tratada como
clandestina uma vez que sua implantação não passou por Estudo de Viabilidade que
garanta obras de contenção ou correção. Trata-se de uma estrada que corta toda uma
região de nascentes por ter sido traçada sobre o divisor de águas da região. Esta
região é caracterizada por um solo extremamente arenoso que exposto ao fluxo de
veículos torna-se, em alguns trechos, um grande areal como constatado em campo.
Essa condição arenosa faz com que o percurso original freqüentemente seja
modificado adentrando sobre as formações ripárias às margens das nascentes, ou
seja, sobre as Áreas de Proteção Permanente, além de danificar outras áreas de
cerrado e campinaranas.
Por cortar uma área de abundante fauna terrestre é constante a presença de
animais atropelados pela ausência de passagens adequadas e pela imprudência dos
condutores. Além dos atropelamentos a presença dessa rodovia favorece à ocupação
de áreas às suas margens, bem como, a possibilidade de incêndios acidentais.
A garantia de acesso nesta região e a ligação da porção nordeste de Rondônia
com os povoados ao longo da Transamazônica aponta para uma ampliação dos
assentamentos humanos e todas as suas conseqüências anteriormente apresentadas,
bem como, o favorecimento de atividades ilegais como o garimpo em Unidades de
Conservação e retirada ilegal de madeira.
Além da Estrada do Estanho verificam-se muitos acessos no entorno em
direção aos limites do parque utilizados para penetração das ocupações e retirada de
madeira com significativos impactos para o interior da Unidade de Conservação.
Esses acessos ocorrem principalmente na região do Pito Aceso (Setor II) e na porção
mais ao sul do Parque (Setor V).
5.3 Queimadas
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
24
As queimadas estão mais associadas às ações antrópicas na região,
principalmente ligadas à renovação de pastagens e abertura/limpeza de novas áreas
desmatadas. Pode-se dizer que o processo mais comum nos assentamentos humanos
na região segue uma seqüência de eventos com a extração seletivas das espécies
madeireiras de maior valor, derrubadas gerais com posterior corte raso e finaliza-se
com as queimadas para limpeza e renovação das pastagens para criação de gado.
Muitas dessas queimadas acabam fugindo do controle pelo mau
dimensionamento dos aceiros ou por serem executadas em condições de tempo
desfavoráveis, tornando-se uma ameaça principalmente à região dos campos, que
durante a estação seca fica muito favorável aos incêndios até mesmo pelo transporte
de brasas pelo vento advindas do entorno.
Uma explanação da ação do fogo foi apresentada por GALLO-DE-OLIVEIRA,
2009 e reproduzido a seguir:
A ação do fogo pode ser vista como mais um agente ecológico transformador
da paisagem. Desconhecendo a origem deste fogo, sendo natural ou antrópica,
vestigios de incêndios foram encontrados em todas as trilhas analisadas no Setor IV-
Estrada do Estanho, sendo as trilhas O, P, Q, R e S, respectivamente. Marcadas pelas
sub-formações do Cerrado, sendo elas, Cerradão, Campo Cerrado e Parque de
Cerrado.
Com estas evidencias constatadas, a aplicação de recursos e técnicas de
sensoriamento remoto se fez necessária para a melhor compreenção desta relação
fogo – vegetação.
Inicialmente, visualizando uma imagem do satélite CBERS 2, disponível em
http://www.dgi.inpe.br/CDSR/, de data compatível, juntamente com as informações de
focos de calor, disponíveis em http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/, foi
possivel validar as informações colhidas durante o trabalho na unidade, identificando a
resposta espectral característica para as áreas queimadas de Cerrado, conforme
figura abaixo:
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
25
Figura 2. Validação e Conferência de Áreas Queimadas de Cerrado Identificadas Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos
Pensando então no entendimento desta dinâmica, buscou-se imagens de
satelite de datas passadas, disponíveis também em http://www.dgi.inpe.br/CDSR. Do
catálogo foram selecionadas apenas a imagens que evidenciavam grande áreas
queimadas, cronologicamente distribuidas nos anos de 1973, 1975, 1979, 1980, 1988,
1991, 1997, 2005, 2006, 2007 e 2008.
Para todos este anos foram mapeados os polígonos com resposta espectral
reconhecida como áreas queimadas, sendo possivel quantificar, para cada ano, a área
queimada, gerando o mapa apresentado na figura seguinte:
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
26
Figura 3. Sobreposição e Quantificação das Áreas Queimadas de Cerrado Identificadas
Durante o Diagnóstico Ambiental do Plano de Manejo do PARNA Campos Amazônicos e Mapeadas usando o Sensoriamento Remoto
Observando a figura acima é possivel fazer uma observação clara:
praticamente toda a área ocupada pelo Cerrado sofreu com a ação do fogo em algum
ano; e o gráfico mostra um aumento considerável em quantidade de área queimada
para as datas mais recentes, talvez influenciado pela dinâmica da ação antrópica na
região. Entretanto, não é possivel visualizar a contribuição de cada ano nesta análise.
Para buscar esta resposta, cada ano com poligonos prenchidos em preto, recebeu
uma porcentagem de transparencia de 91%, que se refere a distribuição da
porcentagem total visibilidade (100% visível ou aproximada 99%) para cada um dos 11
anos mapeados, tendo cada ano contribuindo com 9% de visibilidade, foi possivel a
elaboração do mapa de frequencia de incêndios, mostrado na figura abaixo:
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
27
Figura 4. Mapa de Freqüência de Incêndios na Área de Cerrado
Agora, analisando as informações visuais trazidas por este mapa, é possivel
outra valiosa observação: identificação de áreas núcleos, onde provavelemente os
incendios se iniciam, se propagando com maior efeito sobre os interflúvios, queimando
vastos trechos. Cruzando este mapa com as informações de campo, é possivel
constatar que para as áreas onde os incêndios são mais frequentes ocorre a sub-
formação Parque de Cerrado, e já o Cerradão ocorre onde a ação do fogo é mais
branda, principalmente próximo ao leito de drenagem do terreno, caracterizando
florestas-de-galeria bem definidas. Portanto, é coerente afirmar que o fogo exerce
importante papel ecológico na modificação das fitofisomonias das áreas de Cerrado da
unidade, sendo as sub-formações Campo Cerrado e Parque de Cerrado fases da
sucessão ecológica natural da formação Cerrado. Gerando o mosaico vegetacional
registrado na seguinte foto aérea.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
28
Foto 1. Visão aérea das sinúsias apresentadas pelo Cerrado na área da unidade. Foto:
Ayslaner Gallo, 2009.
Não é possivel afirmar com clareza se a ação do fogo sobre estas áreas de
Cerrado é benéfica ou maléfica para sua conservação. Aparentemente esta ação é
necessária para a manutenção da paisagem, e consequentemente, de seus elementos
ecológicos. Hora isolando áreas, criando ilhas de vegetação florestada em meio as
formações herbáceas, propiciando a diferenciação genética das espécies envolvidas,
e hora conectando ambientes semelhantes, estimulando o fluxo gênico entre estas
comunidades. Por outro, o mal hábito antrópico de usar o fogo indiscriminadamente
pode alterar esta dinâmica de forma irremediável. A relação Fogo - Cerrado é muito
estudada para as regiões centrais do Brasil por diversos pesquisadores (Coutinho,
1977; Ottmar et alli, 2001). A mortalidade das espécies botânicas pela ação do fogo é
diferenciada na área de Cerrado, e também nas áreas de Campinarana, talvez
induzida pelo grau de flamabilidade, recorrência do fogo e de fatores históricos do uso
da terra (Miranda et alii, 1996). Martins et alii (2006) afirmam que para a região de
Humaitá os solos sob vegetação de campo e sob floresta possuem atributos químicos
semelhantes e mineralógicos idênticos. A ocorrência de solos com maior profundidade
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
29
efetiva, com melhor drenagem e maior volume de armazenamento de água, em
associação à maior inclinação do horizonte plíntico no sentido do igarapé, aumentando
o fluxo de água nesta direção, favorece o aparecimento da vegetação de floresta,
enquanto que condições opostas a estas favorecem o aparecimento da vegetação de
campo. Entretanto toda a diferenciação ambiental registrada para a região do PARNA
Campos Amazônicos aumenta a relevância deste tema. (GALLO-DE-OLIVEIRA, 2009)
5.4 Hidrelétricas
A construção de hidrelétricas na Amazônia tem se mostrado como uma nova
alternativa aos recorrentes aumentos na demanda e no esgotamento dos
aproveitamentos hidrelétricos do restante do país. Movimentos populares contrários à
implantação de barragens tem se fortalecido principalmente no centro-sul do país, o
que tem feito com que as grandes construtoras busquem novos nichos procurando
obter o menor número de impedimentos possíveis para a implantação de tais
empreendimentos.
Nessa busca de novas áreas, regiões pouco habitadas como a de Tabajara são
vistas como uma forma de ampliar ou até mesmo implantar o desenvolvimento local e
regional, além dos investimentos tem-se ainda o discurso da geração de empregos,
renda e das compensações ambientais, mas como medir impactos sobre áreas pouco
conhecidas de empreendimentos novos que têm sido implantados sob uma nova ótica
de construção e sobre um ecossistema totalmente diferente dos até então explorados
por essa atividade?
As experiências com hidrelétricas na Amazônia geraram os casos mais
absurdos, foi assim em Balbina e Tucuruí com seus imensos lagos e geração pouco
eficiente. Apesar dos imensos impactos gerados por seus lagos gigantescos as
cidades correspondentes Manaus e Belém ainda dependem de uma matriz energética
de queima de combustíveis fósseis.
Experiência também mal sucedida foi a da Usina Hidrelétrica de Samuel no Rio
Jamari, região esta bem próxima de Tabajara. Nesta usina além de problemas com a
construção, erros de engenharia e impactos não previstos fizeram com que houvesse
transbordamento de bacias hidrográficas, corrigidas com a construção de imensos
diques de represamento, alteração no regime hídrico além do previsto e mudanças na
disponibilidade hídrica do lençol freático. Além disso o potencial de geração, quando
em operação, passou a ser bem menor do que foi previsto decorrente da sazonalidade
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
30
climática e do comportamento hídrico diferenciado após a construção da usina. Como
resultado ficou uma área inundada que no período de seca torna-se uma grande área
aberta (conforme figura 05) pelo esvaziamento do lago alterando significativamente os
ecossistemas do entorno não adaptados a essa alterações no seu regime hídrico.
Figura 05 – Lago da UHE Samuel (a) – durante o período de cheia (b) – durante o período de seca
Uma alteração como esta na porção sul do Parque poderia colocar em contato
uma fauna diferenciada o com a grande região de campos até então isolada pela
floresta ombrófila presente nesta região. Esse contato pode levar grupos de aves,
répteis e peixes a migrarem para estas regiões de campos e passarem a competir
neste novo ecossistema.
Muitas espécies de peixes de água doce migram, algumas delas de forma
espetacular. A Piramutaba, no rio Amazonas, por exemplo, migra durante cerca de 5
meses da foz até a região da fronteira entre o Brasil e Peru numa distância de pouco
mais de 3.000 km para desovar. As migrações dos peixes podem ser bastante
complexas. A mais simples consiste no deslocamento dos adultos entre dois sítios
principais: o de alimentação e de reprodução. Algumas espécies apresentam
migrações mais complexas por incluírem um terceiro sítio: o de refúgio. A migração é
denominada reprodutiva quando ocorre em direção ao sítio de reprodução. A migração
alimentar ou trófica é aquela que ocorre em direção ao sítio de alimentação. A direção
da migração, se para jusante (descendente) ou para montante (ascendente), depende
das condições locais. A migração reprodutiva, por exemplo, pode tanto ser
descendente quanto ascendente. (GODOI, ARROLHO DA SILVA E ROSA, 2009).
a b
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
31
Na Amazônia, as pessoas estão mais familiarizadas com a piracema, que é a
migração reprodutiva ascendente. Os peixes de piracema são muito importantes para
a nossa cultura e economia, pois a grande maioria dos peixes de valor para pesca é
de piracema como o surubim, o dourado, a curimba, o pacu, o jaú, a piramutaba, a
piraíba, a pirarara entre vários outros. Apesar de toda essa importância, a migração
dos peixes brasileiros de piracema é muito pouco conhecida. (GODOI, ARROLHO DA
SILVA E ROSA, 2009).
A construção de barragens ao longo dos rios Machado e Roosevelt é um grave
problema para os peixes migradores, o barramento constitui-se num obstáculo que
impede o livre deslocamento dos peixes entre os diversos sítios que eles utilizam
durante a vida, bem como modificam os diferentes ambientes (igarapés, nascentes,
pequenas lagoas, cachoeiras e corredeiras) propícios para a ocorrência de ictiofauna
específica destes habitats. Regiões de alta diversidade como as Cachoeiras do 27, 2
de Novembro, Cachoeiras do Roosevelt, Igarapé Preto, devem receber atenção
especial quando se trata da implantação de usinas hidrelétricas. (GODOI, ARROLHO
DA SILVA E ROSA, 2009).
Três áreas do PARNA Campos Amazônicos estão sendo alvos de projetos e
estudos para implantação de hidrelétricas, e todas afetariam diretamente a Unidade de
Conservação caso instaladas. A que está em processo mais adiantado é o AHE
Tabajara, no rio Machado, cachoeira São Vicente, próxima a vila de Tabajara, que
está em fase de licenciamento, e as outras duas propostas situam-se no rio Roosevelt,
cachoeiras do Inferninho e da Galinha, que fazem parte dos estudos de inventário
hidroelétrico da bacia do rio Aripuanã, em realização pela Empresa de Pesquisas
Energéticas – EPE.
5.5 Pesca predatória (Retirado de GODOI, ARROLHO DA SILVA E ROSA, 2009).
Um dos grandes atrativos dos rios Roosevelt e Machado, principalmente nos
seus trechos encachoeirados, é a pesca. Esta atividade é relatada desde a própria
visita do Presidente Norte-Americano Roosevelt ao Rio da Dúvida posteriormente
rebatizando o rio com o seu nome pela Comissão Rondon.
As informações obtidas com as entrevistas apontam que, não existem na área
do parque e entorno quaisquer trabalhos específicos com os pescadores profissionais
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
32
ou amadores, apenas as propagandas feitas pelas pousadas para a pesca esportiva.
Durante o trajeto de um ponto de coleta a outro (Rio Roosevelt ao Rio Manicoré –
Setor II, Rio Machado – Setor V) foi impressionante o número de redes de espera,
espinhéis, anzóis de galho encontrados. Os pescadores transitam livremente no rio e
pescam em locais que naturalmente pela legislação seriam proibidos (entrada de
igarapés, corredeiras e cachoeiras), colocam malhadeiras deixando o rio como um
crochê e também espinheis e anzóis de galho em locais considerados “berço de
reprodução”. Segundo informações de pescadores e piloteiros não existe uma
organização nas colônias de pescadores tanto no Mato Grosso como em Rondônia e
Amazonas.
No rio Roosevelt (setores I e II) foi coletada uma grande quantidade de
piranhas, e não foram coletados ou observados peixes de maior porte como jaú,
pirarara, piraíba, indicando que houve sobrepesca destas espécies, mesmo que nas
pousadas da região são registrados através de fotos uma grande diversidade de
peixes.
São incipientes as pesquisas sobre a prática da pesca desportiva no Brasil,
existem relatos sobre esta atividade em sistemas de pesque-pague, mas na natureza
não se sabe ao certo quais as conseqüências da pesca esportiva para a ictiofauna de
um determinado ambiente. Desta forma, vale ressaltar que toda atividade ligada à
pesca (amadora, turística, profissional ou com fim a retirada de espécies ornamentais)
deve ser realizada de forma planejada, pois do contrário pode levar a exaustão dos
estoques pesqueiros e até mesmo a extinção de algumas espécies. Assim, os locais
próximos as nascentes, bem como os finais de corredeiras e cachoeiras devem ser
preservados das atividades pesqueiras, por serem frágeis em sua composição
faunística e possíveis berçários para várias espécies. Portanto as corredeiras,
cachoeiras, entradas de igarapés, lagoas e nascentes devem ser alvo prioritário para
fiscalização e aplicação das leis de pesca já existentes.
O compartilhamento de limites entre o Parque e duas Terras Indígenas faz com
que haja necessidade de uma aproximação junto a essas comunidades para a
identificação de potenciais atividades de pesca, bem como, a identificação dos locais
utilizados para pesca e os métodos utilizados para a atividade.
Acredita-se que com o Uso Público da Unidade essas questões possam ser
mais bem abordadas e alternativas mais próximas das realidades do turismo
sustentável para que estes estoques voltem a apresentar a exuberância evidenciada
nos relatos e nos memoriais fotográficos das pousadas possam ser desenvolvidas.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
33
5.6 Caça clandestina
O maior problema com a caça é que ela é direcionada para algumas espécies
somente, exercendo uma pressão muito alta sobre algumas espécies e de grau baixo
para outras. No caso específico da avifauna, as aves cinegéticas (mutuns, jacus e
inhambus, principalmente) são as mais rapidamente e intensamente caçadas,
provocando rapidamente o declínio das populações e sua subseqüente extinção.
(CANDIDO JR. e DAL´MASO)
Naturalmente, as espécies com maior chance de serem prejudicadas por essa
pressão são as espécies de interesse cinegético (jacus, mutuns, inhambus, patos,
etc.). Como as estradas são importante meio de entrada de caçadores clandestinos, é
possível que a estrada do estanho, no setor IV seja um dos principais pontos a serem
monitorados. (CANDIDO JR. e DAL´MASO)
O aumento da presença humana dentro da área do Parque, assim como o
aumento do fluxo de pessoas e de atividades em seu entorno estão associadas à
exploração de recursos alimentares de forma ilegal, podendo causar a extinção local
das espécies mais exploradas. Vestígios de caça foram encontrados em diversas
trilhas, assim como indícios da utilização da área para acampamento, pesca e estudo
de áreas de garimpo. (ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009)
Na Trilha do Igarapé Preto foi visualizado um fogão improvisado (Figura 04) às
margens do rio Madeirinha, com penas de mutum espalhadas e carvão queimado. Na
mesma área resquícios de rede de pesca foram vistos, sendo a atividade praticada
durante a época de cheia. Essa área está próxima à terra indígena e relatos de caça
de primatas foram feitos por barqueiros que habitam a área há bastante tempo.
(ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009)
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
34
Foram encontrados acampamentos e cartuchos de espingarda, possivelmente
utilizados para caça. Essas áreas possuem uma população grande de ungulados, que
são os preferidos pelos caçadores. Durante as reuniões do diagnóstico
socioeconômico da Unidade, os indígenas das duas Terras Indígenas apontaram
como espécies mais caçadas por eles, a paca, a cutia, alguns primatas e os veados
"da floresta". Segundo eles, não há caça dos veados dos campos porque a carne
destes apresenta gosto ruim. (ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009)
Vários estudos realizados na Amazônia têm demonstrado que mesmo a caça
de subsistência causa o declínio populacional de algumas espécies, principalmente as
mais sensíveis, como Tayassu pecari, Pecari tajacu e Tapirus terrestris (Bodmer et al.,
1997; Carrillo & Cuarón, 2000; Cullen et al., 2000). Como o uso da fauna pelos índios
é uma atividade relativamente fácil de ser acompanhada, essa atividade deve ser
monitorada e se necessário, re-orientada para evitar a depreciação dos recursos nas
Terras Indígenas vizinhas e consequentemente, no PARNA Campos Amazônicos.
(ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009)
A ocorrência de predação de animais domésticos por carnívoros é um fator que
normalmente expõe esses animais à caça de retaliação, principalmente grandes
felinos. No Setor III foi registrado o relato de dois casos de predação recentes onde
uma onça-parda e uma onça-pintada teriam atacado fazendas e abatido cavalo e
Foto 02: Fogão improvisado para preparar carne de caça. Trilha do Igarapé Preto.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
35
novilhos. No Setor IV outro caso de predação de bezerros por onça-parda culminou na
caça e morte da onça. A falta de manejo adequado por parte dos criadores e a
habituação dos animais silvestres em caçar presas fáceis leva a um conflito de
proporções críticas para as espécies silvestres, normalmente culminando na sua morte
por receio de novos ataques e perdas econômicas. Com o aumento de fazendas no
entorno da unidade, conflitos tendem a acontecer, incorrendo em maior perseguição
aos grandes predadores. (ABADE, D´AMICO e DE PAULA, 2009)
Um barqueiro afirmou que um proprietário de terras próximo ao Setor I teria
caçado três antas, 11 veados e alguns porcos-do-mato, para venda na localidade de
Panelas. Esse é um número extremamente alto e reflete o grau de defaunação a que
as áreas do PARNA Campos Amazônicos podem estar expostas. Medidas de
fiscalização mais efetivas e restritivas devem ser adotadas. (ABADE, D´AMICO e DE
PAULA, 2009)
5.7 Mineração
A atividade de Mineração e Garimpagem está intimamente ligada a todos os
problemas acima citados, uma vez que abrem acessos, geram desmatamentos, os
acampamentos acabam sendo abastecidos com a caça e pesca, além dos resíduos
despejados nos rios e igarapés.
Uma das principais pressões antrópicas que qualquer corpo d’água pode sofrer
é a atividade garimpeira. Esta reflete substancialmente nos recursos hídricos
(qualidade e quantidade da água) e conseqüentemente em toda a fauna associada.
Sem contar na degradação humana da população envolvida nesta atividade. Verificou-
se toda a modificação da paisagem vegetal e da fisionomia do curso d’água nos
pontos 3, 4 e 26 (Igarapé Preto e Igarapé Gavião). Várias foram as vezes que durante
as coletas a equipe de ictiofauna escutou por moradores locais “aqui tem ouro”.
(GODOI, ARROLHO DA SILVA E ROSA, 2009)
O principal ponto de exploração desta atividade está localizado no interior da
Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto (Foto 02). Apesar da mineração estar
regimentada por uma legislação própria que exige a recomposição após o processo de
exploração, pode-se observar que a atual situação da área e o problemas trazidos
pela construção de acessos, migração de população e resíduos ultrapassam em muita
a recomposição da área.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
36
Foto 03 – Impacto da Mineração no interior da Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto (Foto: Maurício Silva, 2008)
Foram encontradas alterações advindas da busca de minerais ao longo de
diversos canais na região do Parque e constantes vistorias na busca de equipes de
pesquisa de minerais e pedras preciosas tornam-se necessárias como forma de
antecipar e coibir tais atividades visto que a região apresenta potenciais para minerais
de minério e pedras preciosas.
Em relação a fauna de répteis e anfíbios a mineração e o garimpo além de
impactar através da retirada completa da cobertura vegetal original, o que elimina as
condições micro-climáticas (abrigos, alimento, sítios de reprodução, dentre outros)
necessárias para a manutenção das espécies de anfíbios e répteis locais, impacta de
maneira maior através dos resíduos. Em atividades de mineração, diversas
substâncias tóxicas são utilizadas e os efeitos das mesmas sobre a fauna não é
somente local, pois pelo escoamento hídrico os efeitos se tornam alóctones.
(BERNARDE e MACHADO, 2009)
Por fim, a atividade mineradora quando abandonada abre espaço para a
atividade garimpeira, esta tão prejudicial quanto a anterior por ser executadas por
equipes menores, de maneira mais impactante em relação aos resíduos e
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
37
desmatamentos de matas ciliares, mas principalmente, pela dificuldade de fiscalização
e punição dada a facilidade e mobilidade dessas equipes nas áreas de exploração.
Figura 06 – Imagem do satélite Landsat apresentando desmatamento em APP na área de mineração da Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto
2008
2009
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
38
6. MATRIZ DE RELACIONAMENTO PROBLEMAS/SETORES
Desmatamento Queimada Estradas Clandestinas Pesca Caça Mineração/Garimpo Setor I BAIXA BAIXA BAIXA ALTA BAIXA BAIXA Setor II MÉDIA ALTA MÉDIA ALTA ALTA BAIXA Setor III ALTA ALTA ALTA BAIXA ALTA ALTA Setor IV ALTA ALTA ALTA BAIXA ALTA ALTA Setor V ALTA MÉDIA BAIXA ALTA ALTA BAIXA
Tabela 04 – Relacionamento entre os problemas e os setores amostrados durante a Avaliação Ecológica Rápida relacionando os problemas e os setores apresentando o grau de intensidade que os problemas impactam sobre os setores.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
39
Figura 07 – Mapa apresentando os setores segundo a amostragem da AER
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
40
Figura 08 – Mapa apresentando as principais pressões na UC e entorno.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
41
7. Potenciais para proteção
Como o Parque Nacional dos Campos Amazônicos apresenta uma condição de
ecótono entre as duas principais fitofisionomias (Campo e Floresta) dispõe de um alto
potencial de proteção, tanto de espécies associadas a estas fitofisionomias como
ambientes específicos com grande valor ecológico para todo o ecossistema regional.
A seguir apresenta-se um compêndio destes ambientes e espécies que
ocorrem no Parque e necessitam de uma atenção especial quanto a sua proteção,
bem como, a geração de conhecimento sobre sua estrutura e função.
7.1
- Campinarana nos setores II, III e IV;
- O grande Enclave de Cerrado na sua totalidade, em parte interna ao Parque, em parte na zona de amortecimento do Parque;
- Solos arenosos fonte de recarga do lençol freático;
- Nascentes dos rios Branco, Machadinho e Igarapé Borrachudo (Manicoré), Marmelos
Ambientes diferenciados
7.2
Considerando os relatórios temáticos seguem abaixo um resumo com as
espécies importantes para a conservação por serem consideradas ameaçadas de
extinção, por tratar-se de uma espécie rara e/ou endêmica ou por estar submetida a
uma condição de pressão na região do Parque.
Espécies importantes para conservação
- Vegetação
Chelyocarpus cf. chuco palmeira até então não apresentando ocorrência nesta
parte da Amazônia Ocidental.
- Ictiofauna
Phractocephalus hemioliopterus (pirarara), Brachyplatystoma filamentosum
(piraíba) Potamotrygon (raias) e Electrophorus electricus (peixe-elétrico).
- Avifauna
Harpia harpyja (gavião-real) e o Pauxi tuberosa (mutum-cavalo).
[P1] Comentário: Tem uma lista de sp importantes no relatório, além dessa tem sp ainda não descritas, complementar
[P2] Comentário: Tem uma tabela no relatório com as espécies importantes, completar ou inserir a tabela
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
42
- Mastofauna
Edentata:
Priodontes maximus (tatu-canastra) e Mymercophaga tridactyla (tamanduá-
bandeira).
Primates:
Chiropotes albinasus (cuxiú-preto), Ateles chamek (macaco-aranha), Lagothrix
cana (macaco-barrigudo) e Mico manicorensis (sagüi-de-manicoré).
Carnivora:
Atelocynus microtis (cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas), Speothos venaticus
(cachorro-do-mato-vinagre), Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno), Leopardus
pardalis (jaguatirica), Puma concolor (onça-parda, suçuarana, puma), Panthera onca
(onça-pintada), Mustela sp. (doninha, cachorrinho-do-rio), Lontra longicaudis (lontra) e
Pteronura brasiliensis (ariranha).
- Herpetofauna
Rhinella gr. granulosa, Dendropsophus sp., Scinax fuscomarginatus,
Leptodactylus labyrinthicus, Hoplocercus spinosus, Oxyrhopus rhombifer, Philodryas
sp., Pseudoboa nigra e Bothrops matogrossensis.
De maneira geral vale ressaltar também os crocodilianos e quelônios.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
43
8. Recomendações de Manejo
Como recomendações de manejo foram identificados, dentro dos relatórios
temáticos e das reuniões com os pesquisadores, os elementos mais relevantes e
atividades que estão apresentados como proposta para o manejo do Parque. Estes
elementos estão organizados segundo os seguintes tópicos: linhas de pesquisa,
operacional, estratégica e zona de amortecimento.
8.1 Linhas de pesquisa
Meio Físico
Monitorar o avanço das áreas com arenização e com erosões no PARNA
Campos Amazônicos e Zona de Amortecimento (ZA);
Realizar estudos do meio físico na bacia do rio Guariba e na área da Apromar;
Monitorar o avanço dos Garimpos e a qualidade de água advinda destes.
Monitorar o avanço do desmatamento na ZA.
Vegetação
Conhecimento aprofundado da flora da unidade
Estimular e agregar conhecimento técnico-científico sobre os ambientes e seus
elementos.
Obter dados e informações sobre a regeneração natural e espontânea, visando
a recuperação das áreas alteradas na região da unidade.
Ictiofauna
Desenvolver estudos ligados a dieta, biologia reprodutiva, distribuição e
taxonomia das espécies, mapeamento genético, visando identificar os aspectos
ecológicos ligados a ictiofauna, principalmente de espécies migratórias e de interesse
comercial.
Herpetofauna
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
44
Conhecer as espécies de anfíbios e répteis escamados (lagartos e serpentes) e
sua corologia nos limites de abrangência do PARNA Campos Amazônicos.
Conhecer as espécies de quelônios e crocodilianos e sua corologia nos limites
de abrangência do PARNA Campos Amazônicos. Levantar dados sobre o
comportamento reprodutivo das espécies, tais como: local e época de desova.
Conhecer a herpetofauna e os diferentes aspectos da distribuição ecológica
(nicho ecológico) das mesmas nos limites de abrangência do PARNA Campos
Amazônicos. Levantar dados sobre a distribuição espaço-temporal e hábitos
alimentares, além de registros de interações intra e interespecíficas.
Conhecer a dinâmica populacional do lagarto Ameiva ameiva nos ambientes de
área aberta naturais e antrópicos dentro e nos limites de abrangência do PARNA
Campos Amazônicos. Levantar dados sobre a distribuição espaço-temporal e hábitos
alimentares, além de registros de interações intra e interespecíficas.
Realizar pesquisas biológicas (principalmente de natureza genética)
principalmente com as aves listadas no relatório temático.
Avifauna
8.2 Operacional
[P3] Comentário: Ele indica as pesquisas para as espécies especiais, e a necessidade de estudos genéticos com as sp de cerrado,importante aparecer aqui
Vegetação
Elaboração e criação do Sistema de Informações Geográficas (SIG) da
unidade;
Realizar treinamento dos funcionários da unidade para o uso de técnicas de
SIG (Sistema de Informações Geográfica) e Sensoriamento Remoto;
Realizar treinamento dos funcionários da unidade em técnicas de direção off
road, incluindo noções básicas de mecânica.
Instituir e capacitar grupos locais para atender as futuras demandas
relacionadas às atividades ecoturísticas da unidade.
Identificar, avaliar e caracterizar áreas florestais onde o Arvorismo pode ser
empregado como uma atividade ecoturística e até mesmo para a educação ambiental.
Livrar a unidade das espécies vegetais exóticas, principalmente as mais
agressivas e de menor relação trófica.
Instituir um grupo local de brigadistas remunerados, capacitados e atuantes.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
45
Ictiofauna
Realizar avaliações periódicas sobre a qualidade da água do Parque e entorno,
relacionando os parâmetros físico-químicos, metais pesados, poluentes advindos de
culturas agrícolas, pecuária e resíduos urbanos, bem como seus impactos na fauna
aquática.
Deve-se intensificar a fiscalização, regulamentando a pesca em todas as
modalidades, nos rios Roosevelt, Branco, Madeirinha e Machado, e proibir esta
atividade principalmente em locais de cachoeiras, corredeiras, entradas de igarapés e
lagoas, de acordo com legislação federal vigente.
Também deve ser criado um banco de dados com informações de focos de
incêndios e áreas mais suscetíveis ao fogo, levantando informações sobre os últimos
dez anos, isso facilita a prevenção e o planejamento de ações em áreas estratégicas
de ocupação humana.
Herpetofauna
Coibir a prática de desmatamentos e da retirada de madeira através do
processo de fiscalização.
Recuperar áreas do PARNA Campos Amazônicos que sofreram fortes
influências antrópicas e conseqüente destruição de habitats
Avifauna
Uma das mais importantes recomendações relativas à avifauna diz respeito à
atividade de observação de aves ou “birdwatching”, como é conhecida
internacionalmente. O “birdwatching” é considerado um tipo de ecoturismo bastante
estimulado em Unidades de Conservação pelo relativo baixo impacto, pequeno
investimento necessário e possibilidade de ser gerido pela população local (Goodwin
1996, King; Stewart 1996, Isaacs 2000). Além disso, o turista de “birdwatching” é
normalmente mais educado, possui poder aquisitivo maior e é mais preocupado com a
conservação do ambiente. Vale ressaltar a recomendação de normatização quanto ao
uso de “playback”, ou seja, a reprodução de cantos de pássaros como forma de
atração que pode acarretar problemas ambientais caso seja utilizada de maneira
inadequada ou em excesso.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
46
8.3 Estratégica
Vegetação
Garantir a conservação das espécies Mauritiella sp1 e Syagrus sp1,
possívelmente espécies novas para a ciência, registradas unicamente para os
ambientes de Campinarana da região da Trilha do Areial (Setor II - Fazenda do
Marcos) e na Trilha do Ronca (Setor I – Pousada Roosevelt) respectivamente.
Ictiofauna
Realizar levantamentos sobre as práticas e áreas ligadas a pesca esportiva e
amadora na região do PARNA Campos Amazônicos e entorno.
Herpetofauna
A conscientização das comunidades funciona como fator chave da mudança de
comportamentos perante a natureza, onde se preserva aquilo que se respeita e ama.
Levantar informações sobre os poluentes presentes na água dos rios Machado
e Roosevelt para saber do potencial risco de contaminação e conseqüentemente
efeitos sobre a fauna e a flora locais.
Fazer com que o PARNA Campos Amazônicos seja um contínuo ambiental,
garantindo os processos bio-ecológicos dentro e até fora dos seus limites.
8.4 Zona de Amortecimento e entorno
Avifauna
Estudos a respeito do impacto real causado pela implantação de hidrelétricas e
da capacidade de carga de alguns ambientes mais frágeis (como exemplificado item
6.2) devem ser priorizados
Meio Físico
Considerar os divisores de sub-bacias para a Zona de amortecimento dentro de limites
possíveis e administráveis.
Vegetação
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
47
Desenvolver, junto à comunidade do entorno da UC, um guia prático com as
espécies vegetais nativas da região do PARNA Campos Amazônicos utilizadas no
cotidiano das populações do entorno.
Ponderar com elevada atenção os Planos de Manejo Florestal, localizados no
entorno da unidade.
Ictiofauna
Sugere-se a implantação de Centros de Estudos e Interpretação em pontos
estratégicos como a Comunidade Tabajara, Fazenda do Marcos, Pousadas,
aproveitando as estruturas já existentes. Estes Centros de Estudos podem concentrar
todos os dados referentes às pesquisas realizadas, bem como monitorar as atividades
desenvolvidas na região.
Na estrada do Estanho é necessário que o parque seja ampliado até as suas
margens e que o acesso a esta estrada seja monitorado, visando coibir o
desenvolvimento de atividades (garimpo, pecuária, agricultura, caça e pesca) que
possam prejudicar a integridade dos ambientes. Sugere-se também a ampliação de
áreas de nascentes (Igarapé Jatuarana, Rio Branco, Rio Manicoré, e limites até o rio
Guariba, entre outras), visando a conservação ou até recuperação destas importantes
áreas de manutenção dos sistemas hídricos.
Herpetofauna
As atividades de manejo florestal (PMFs) devem receber atenção especial no
que tange a sua liberação próximo às áreas de nascentes e em áreas próximas aos
ambientes de Cerrado e de Campinarana, pois poderiam (os PMFs) servir como
carreadores e ou corredores para espécies exóticas e oportunistas que poderiam, por
ali, adentrar às áreas abertas do PARNA Campos Amazônicos e competir com as
espécies locais.
O componente Avifauna tem como sugestão de envolvimento com as
comunidades do entorno o desenvolvimento do ecoturismo em suas várias vertentes,
com destaque aqui para a observação de aves na natureza (“birdwatching”). Embora
Avifauna
Monitoramento de pousadas e moradias, atividades de ecoturismo, caça
clandestina, atividades agrícolas e pecuárias na zona de amortecimento e efeitos do
garimpo.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
48
bons guias de campo para acompanhamento de ecoturistas de birdwatching não
sejam facilmente treinados, seus esforços são sempre recompensadores, porque esse
tipo de ecoturismo gera boa renda. Para o PARNA Campos Amazônicos, o ecoturismo
é uma atividade que preserva o meio ambiente e produz educação ambiental na
comunidade humana lindeira.
Pelo observado pela equipe de avifauna, as áreas com características
semelhantes às observadas na trilha P, onde observou-se a presença de espécies
arborícolas e de áreas abertas num espaço muito próximo com ocorrência de espécies
nunca antes observadas para esta área de ocorrência, devem ser consideradas
intangíveis no zoneamento da unidade. Muito cuidado deve ser tomado, do mesmo
modo, com áreas semelhantes ao observado na trilha K onde ocorrem espácies
apenas de área aberta.
Sugere-se a implantação e manutenção de dois centros de visitantes: um nas
proximidades do rio Roosevelt, buscando orientar o público das pousadas existentes,
e outro centro de visitantes na região da chamada “estrada do estanho”, por conta da
facilidade de acesso e das pressões existentes na região. Nesta região pode também
ser definida uma área para a administração do parque.
Com relação a áreas estratégicas e de expansão, é recomendável que o
parque seja ampliado para oeste, de modo a envolver toda a grande mancha de
vegetação natural não florestal que existe no sul do estado do Amazonas. Essa
expansão não só será mais condizente com o nome e objetivos deste parque nacional,
como também permitiria uma maior eficiência na proteção daquelas formações e biota
associada. Com isto em mente, fica o questionamento de qual teria sido a motivação
original para o desenho do parque como ele é hoje, uma vez que ele protege áreas a
leste que não são os campos amazônicos, enquanto boa parte desses campos
encontra-se a oeste sem a proteção de uma UC. Em que pese toda a burocracia e os
entraves legais para se realizar mudanças de tamanho vulto, seus gestores deveriam
considerar um redesenho da unidade.
A via de rodagem conhecida informalmente como “estrada do Estanho” merece
também uma cuidadosa análise, e que se considere incisivamente e necessidade de
incorporação de toda a área coberta por esta via (e também a faixa de exclusão hoje
existente nas proximidades do PARNA Campos Amazônicos) na área do parque. Essa
estrada significa hoje uma importante via de escoamento de minério clandestino e
possivelmente outras atividades ilícitas. Além disso, o fato dessa estrada existir
fraciona o parque em porções isoladas e de mais difícil manejo. Em termos de
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
49
biodiversidade, essa estrada (e sua zona de exclusão) funciona como elemento
isolador de populações naturais e constitui uma via de acesso para caçadores
clandestinos, fogo acidental ou provocado, doenças e espécies exóticas. Todas essas
ameaças não são contrabalançadas por nenhuma vantagem que advenha da
presença da estrada e, portanto, esta equipe recomenda enfaticamente sua interdição
e incorporação desta área ao PARNA Campos Amazônicos.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABADE, Leandro A. dos S.; D´AMICO, Ana Rafaela; DE PAULA, Rogério C. 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Mastofauna. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
BERNARDE, Paulo S.; MACHADO, Reginaldo A. 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Herpetofauna. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
CANDIDO JR, José Flávio; DAL´MASO, Aline. 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Avifauna. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
DELLA JUSTINA, Eloisa; 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Meio Físico. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
GALLO-DE-OLIVEIRA, Ayslaner V., 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Vegetação. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
GODOI, Divina S. de; ARROLHO DA SILVA, Solange A.; ROSA, Rosalvo D. 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Ictiofauna. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
GOMES, Beatriz M.; PUPP, Erica C. 2009. Avaliação Ecológica Rápida para o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Estado do Amazonas - Relatório Técnico Final do Componente Qualidade da Água. ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Relatório Técnico Não Publicado).
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. Quando o Amazonas corria para o Pacífico: Uma história desconhecida da Amazônia. 2 ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2007. 253 pp.
Plano de Manejo do Parque Nacional dos Campos Amazônicos Relatório Final Consolidado
50
SOBREVILLA, C. & BARTH, P. 1992. Evaluación ecológica rápida. Un manual para usuarios de América Latina y Caribe. Edición Preliminar. Arlington, EUA. The Nature Conservancy, 231p.
SAYRE, R.; ROCA, E.; SEDAGHATKISH, G.; YOUNG, B.; KEEL, S.; ROCA, R. & SHEPPARD, S. 2000. Nature in focus : rapid ecological assessment. Washington, D. C., EUA: The Nature Conservancy. 182 p.