Dhâranâ Online Nº 1

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    EDITORIAL

    Revista Online quadrimestral da Sociedade Brasileira de Eubiose - Ano I – Nº 1 –fevereiro a maio de 2012

     Acompanhando o notório processo de evolução dosmeios de comunicação, nossa instituição não poderia,

     jamais, car à margem da história. O avassaladorprogresso tecnológico atual exige que a comunicação sejaimediata, precisa e pontual, portanto, a Revista DhâranâOnline surge como fruto desse processo, não abrindo mãoda Tradição de quase nove décadas de história, porém

    adequando-se à modernidade dos dias atuais.O lançamento da Revista Dhâranâ Online  não

    suprime a publicação da edição impressa. Ambas serãodirecionadas para um público externo, utilizando-sede uma linguagem moderna, não mística, com umaformatação que busca o padrão das revistas culturais ecientícas.

    O primeiro número da Revista Dhâranâ – órgão ocialde divulgação da SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose –circulou em agosto de 1925, um ano depois da fundação dainstituição, então, de mesmo nome. Na apresentação de

    sua primeira edição são denidos os principais objetivosda publicação que perduram até hoje:

      (...) “Dhâranâ” já divulgou o seu manifesto ao povo brasileiro, denindo a sua razão de ser como umaSociedade Mental e Espiritualista, de onde surgem deveres,cujo programa, irá sendo desenvolvido de acordo e à medidaque ele for sendo revelado pelos seus Augustos e Veneráveis Dirigentes.

    “Dhâranâ” apareceu, portanto, como uma obra prática, destinada a cumprir os altos ensinamentos de todasas Religiões que pregam o Amor, a Luz e a Paz.

    “Dhâranâ” veio para conciliar os dogmas cientícos comos aspectos religiosos esparsos pelo mundo, estabelecendo aharmonia do coração e da mente, pelo diapasão espiritualdo sol sustenido, misteriosa vibração que competiu ao Brasil, na orquestra mística do concerto universal.

    “Dhâranâ” surgiu, em suma, para congregar econstruir  , para aspirar e vivicar, para proteger e segurar aVida e o Caráter, a Sabedoria Profana e a Sagrada, únicostesouros eternos que recebemos como precioso legado dasmãos da Providência.

    “Dhâranâ” deseja estimular nos homens adormecidos,a força poderosa do Pensamento, por demonstrações

     práticas, reduzindo os célebres milagres às simples proporções de fenômenos naturais, satisfazendo assim àCiência, sem escandalizar a Religião. (...)

     

    Eis que, 87 anos depois, Dhâranâ Online mantém osmesmos compromissos e amplia seus objetivos, abrindoespaço editorial para que os discípulos e, também,quaisquer outras pessoas anadas com os ensinamentosdos fundadores de  Dhâranâ – Sociedade Mental e Espiritualista, que depois tornou-se Sociedade Teosóca Brasileira e, desde 1969, Sociedade Brasileira de Eubiose,

    possam produzir novos saberes.Partindo da hipótese de que os diferentes discursos

    humanos – das ciências, das tecnologias, das artes, daslosoas, das místicas, das religiões, enm, uma variadagama da produção cultural, não esgota nem diz tudosobre o real, Dhâranâ Online abre a seus colaboradores,a partir destes diferentes conhecimentos, a possibilidadede um mais além, que possa ajudar, além da interpretaçãodo mundo objetivo, a antecipar o futuro grandioso dahumanidade já revelado em vários textos consideradossagrados.

    Em outras palavras, Dhâranâ Online será mais uminstrumento engajado no trabalho essencial de humanizaro sagrado e sacralizar o humano.

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    SUMÁRIO

    3DHÂRÂNÂ

    Henrique José de SouzaGrande é o erro daqueles que confundem , o

     Espírito ou Inteligência (Nous) com a Alma(Psyké). Não menos os que confundem a Alma como corpo (Soma). Da união do Espírito com a Alma

    nasce a Razão; da união da Alma com o Corpo

    nasce a Paixão.

    5CONEXÕES NUM MUNDO EM (R)

    EVOLUÇÃO

    Marcelo Wolf  Esta pintura é um belo exemplo do conceito de

    espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que éexternalizado pela mente humana, e que se traduz

    no mundo concreto através de quatro grandes frentes principais: Filosoa, Artes, Ciência e

     Religião. E são elas que, como anunciadores ouarchotes do Fogo Divino, iluminam o caminho

    dos homens e propiciam a criação das miríades de possibilidades no mundo material.

    10 A CULTURA, O SUBLIME E A EU-

    BIOSE 

    Laudelino Santos Neto Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime, cultura e eubiose é reetir sobre ascondições individual, grupal e institucional

    do estar-no-mundo para em seguida se inserirconscientemente no Pramantha e ter condições

    melhores e maiores de ser-no-mundo.

    20EUBIOSE: CONSCIÊNCIA DA NA-TUREZA E NATUREZA DA CONS-

    CIÊNCIA

     Alberto Vieira da SilvaOs chacras em número de sete, como os astros

    ou planetas, como o espectro solar etc., não sãomais do que “as forças sutis da natureza”. Para

    conhecê-los e manejá-los é preciso ser um Adepto. –

     Prof. Henrique José de Souza.

    15 A LENDA DO FAROL: OS SETESABERES DE UM EDUCADOR

    Dirceu Moreira“Jamais haveria evolução se o Verbo se

    manifestasse proferindo sempre as mesmas palavras”. Professor Henrique José de Souza.

    O educador como porta voz do conhecimentodeverá estar atento para não cair na mesmice, pois, o mesmo conteúdo de hoje, talvez tenha

    que ser dado de forma diferente noutra ocasião. Podemos chamar a isso de educação continuada e

    inovadora.

    18 A LIDERANÇA NO TERCEIRO MI-

    LÊNIO

    Silvio Piantino

    “Reconstruir é o brado que nos compete! Sim,reconstruir o homem, o pensamento, a moral, oscostumes; reconstruir o lar, a escola, o caráter,

     para que o cérebro se transmute ao lado docoração. Só assim a humanidade se tornará

    digna do estado de consciência exigido pela NovaCivilização”. JHS 

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    Grande é o erro daqueles que confundem , o Espíritoou Inteligência ( Nous) com a Alma ( Psyké ). Não menosos que confundem a Alma com o corpo (Soma). Daunião do Espírito com a Alma nasce a Razão; da uniãoda Alma com o Corpo nasce a Paixão.

    Desses três elementos, a Terra deu o corpo; a Lua,a alma, e o Sol, o Espírito. Por isso que, todo Homem

     justo, consciente de todas essas verdades, é, ao mesmo

    tempo, durante a sua vida física, um habitante da Terra,da Lua e do Sol". – Plutarco (De Ísis e Osíris).

     YOGA, dizem os clássicos do Ocultismo, "é umalosoa ou sistema que tem por m dar àquele quea pratica, o poder de se abster de comer e de respirardurante considerável tempo, e processo, ainda, de setornar insensível a todas a impressões exteriores".

    Para nós, aquele que pratica Yoga visando taispoderes é apenas um Faquir e não um Yogi.

    Tal maneira de denir o termo Yoga tem provocadotantas perturbações entre os pretendentes à Vereda

    da Iniciação, como o próprio termo “Deus”, atravésde lutas religiosas entre os que se extasiam diante dedenições, que não podem, de modo algum, expressar,com precisão e clareza, tudo quanto pertence ao mundosubjetivo. Ademais, no que diz respeito à Yoga, logose manifesta o desejo egoísta de sobrepujar os demais,de ser enm, um homem completamente diferentedos outros, sem falar nos perigos que de tal práticaprocedem, quase sempre em detrimento do próximo.

    Nesse caso, Magia Negra e não Magia Branca ou Aquela que praticam os Seres Superiores, como Guias

    ou Instrutores dessa pobre Humanidade acorrentadanas férreas cadeias da Ignorância, qual Prometeu‘amarguradamente infeliz”, como diria Junqueiro, nasua mítica montanha, que é o Cáucaso, que tanto valepelo “cárcere carnal” ou “pote de argila” bíblico.

    Yoga, querendo dizer “união”, nada mais é do quea adoção deste ou daquele sistema por parte de quem,de fato, só tenha a preocupação de se UNIR, ao seuEu ou Consciência Imortal, na razão do que diz Paulo,em Efesus, III, 16,117: "Todo ser bom pode falar aoCristo em seu Homem Interno": Cristo ou Consciência

    Universal, tanto vale.  Das inúmeras espécies de Yoga que se

    conhecem, sobressaem as que se conjugam com os três

    DHÂRANÂ

    Henrique José de Souza(Fundador da atual Sociedade Brasileira de Eubiose)

    corpos de que o homem se compõe, aparte opiniões atéhoje divulgadas, por serem completamente errôneas.Referimo-nos a Hatha-Yoga, “como ciência do bemestar físico”, desde que tal corpo é o sustentáculo daalma e do espírito. "Mens sana in corpore sano". Aseguir, Gnana-Yoga e não Raja, como querem outros,porquanto o mesmo termo Gnana ou Jnana, tem porétimo Jim ou Jina, que de ser um habitante do Astral,ipso-fato, relaciona-se com a Alma ou Psiké . Donde otermo: poderes psíquicos. O mesmo termo Espiritismo,usualmente empregado, é errôneo por suas práticasenvolverem única e exclusivamente o mundo astral.Nesse caso, ANIMISMO OU PSIQUISMO. Finalmente, Raja-Yoga (União real, régia ciência etc.) ou do Mental,como sede do Espírito desde que acima dele se achamas consciências Búdica e Átmica que, a bem dizer,são Portas abertas ao Tabernáculo Divino. No corpohumano, a hipóse tem que ver com a Alma, enquanto aepíse ("sobrenatural") com o Espírito.

    Por tudo isso, dizer-se que “tal união com o Todo

    (pela prática da verdadeira Yoga) é feita por trêscaminhos”, que a mesma Vedanta denomina de: Karmaou ação para o físico; Bhakti ou “devoção” (a mística daFraternidade Humana, como o maior de todos os Ideais)e Jnana ou do conhecimento, visão espiritual, sabedoria,Gnose etc.

    Todo e qualquer processo de livrar o Ego das ilusõesdo mundo terreno com o m de uni-lo à ConsciênciaUniversal, é uma YOGA.

    Na de Patanjali, como a mais importante de todasexistem oito graus ou estados:

    1. YAMA: restrição, controle de si mesmo;

    2.  NI-YAMA: observações religiosas, ou antes,alicerçamento do caráter;

    3. ASANA: posição especial para a meditação,embora que esteja incluída nos bailados iniciáticos,tanto do velho Egito como da índia e posteriormente,na Grécia (“mistérios eleusinos” etc.) e hoje, de modovelado, na arte coreográca, em geral. Tais “asanas” ouposições, sempre debaixo de um certo ritmo, traduziam,muitas vezes, toda a história de um deus do Panteon do

    País, quando não, mensagens desses mesmos deusesao Templo onde eram praticados semelhantes rituais.Haja vista, os bailados exigidos no começo de nossa

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    Obra, todos eles expressando mensagens e divulgações deremoto passado, em referência aos fundadores da mesmaObra;

    4.  PRANAYAMA: retenção do hálito para controlede todas as funções orgânicas (a mesma medicina atual

     já aconselha essa prática nas crises “simpaticotônicas”etc. em relação com o lado solar, do mesmo modo que as

    vagotônicas, com o lunar. E a prova é que as duas narinasestão classicadas nas antigas escrituras orientais, como: Ida ou lunar (a esquerda) e Píngala ou solar (a direita).Quando a respiração ui por ambas as narinas, recebe onome de Sushumna (respiração andrógina, dizemos nósou equilibrante etc.). Este é o momento mais apropriadopara semelhante YOGA, principalmente se levada a efeitoem PADMASANA ( Padma, loto e Asana, posição. Nessecaso, "posição do loto”, ou seja: de pernas cruzadas,como se vê nas imagens do Buda etc.)

    5. PRATY AHARA: o poder de afastar o mental dassensações físicas;

    6.  DHÂRANÂ: “a intensa e perfeita concentração damente em determinado objeto interno, com abstraçãocompleta do mundo dos sentidos”. Em síntese: o sumocontrole do pensamento;

    7.  DHYANA: Meditação, contemplação abstrataou afastamento do mundo dos sentidos, melhor dito,estado de "isolamento completo". Constituí uma das"seis Paramitas” budistas. E a prova é que, em um dosmantrans (hinos) do começo de nossa Obra – o mesmoque nos foi enviado do Oriente – guram estas palavras:

    "Dhyâna, tuas portas de oiro nos livram da deusa Mayá(“ilusão dos sentidos”);

    8. SAMADHI  (ou Samyâma): estado de meditaçãoobtido pela concentração, no qual o Adepto se tornaconsciente de seu Mental Superior, o que tanto vale, porse tornar Um com o Todo, a Consciência Universal etc.

     A mesma “posição do Buda” não signica outra coisa.Por isso, traz os olhos cerrados (visão para dentro ouespiritual), orelhas enormes, que muitos criticam semsaber que é apenas um símbolo; na razão daquele quealém de CLARIVIDENTE é CLARIAUDIENTE. Aspernas cruzadas ou na posição já apontada como dePadmasana, sendo as mãos unidas e os dedos curvos,formando a última letra do alfabeto sânscrito, ou Aqueleque alcançou o Fim de sua evolução terrena: o Nirvana

    etc. E quanto ao ponto ou sinal que traz na fronte (“olhode Shiva", como se chama na Índia, “ureus mágico”,no Egito, como prova a “serpente que se vê na fronte dofaraós”), em relação à mesma visão espiritual. E assimpor diante.

    Por todas essas razões e outras mais ainda, a

    nossa Escola Iniciática ter sido fundada com nome" DHÂRANÂ", e seu órgão ocial o conservar até hojecomo uma homenagem àquela época.

     DHÂRAN serviu, pois, de “sumo controledo Pensamento”, para que, Dhyâna abrisse suas"Portas de Oiro" a Samadhi, além do mais, através dedesconcertantes fenômenos psíquicos, que o vulgodenomina erroneamente de “milagres”. E logo chegandoo domínio do Mental (Dhyâna ligada a Samadhi, ouantes. Budhi e Atmã, como 6º e 7º princípios teosócos,para a formação da Tríade Superior), a própria Lei lhe

    exigir o de SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA*,além de excelso e signicativo lema, que é: SPESMESSIS IN SEMINE, ou “a esperança da colheita estána SEMENTE”. E isso porque, todos quantos forematraídos para as suas leiras, desde já representam osarautos dessa civilização de elite que fará seu surto nestaparte do Globo, e para a qual foi a mesma S. T. B. criada.

     Assim, o mesmo leitor; ao manusear as iniciáticaspáginas de seu órgão ocial, embora que não o saiba,pratica um rápido estado de " Dhâranâ", por ter deabandonar o “mundo dos sentidos”, sob pena de não

    poder compreender o que, por “baixo da letra que mata”,refulge, como um Novo Sol, a iluminar-lhe a Consciência,o “Espírito que vivica”.

    Vitam impendere Vero! 

    Dhâranâ nº 119 a 122 – Janeiro a Dezembro de 1944 –Ano XIX

    * (Hoje Sociedade Brasileira de Eubiose)

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    Na parte alta da cidade de Praga, na RepúblicaTcheca, há um mosteiro muito aprazível, um dos pontosturísticos da cidade. O Monastério de Strahov abriga umasala de grande magnitude, chamada “Salão Filosóco”,uma espécie de biblioteca, com um grande acervo sobre opensamento humano. Mas o que chama a atenção dos quevisitam essa sala é um afresco que toma todo o seu teto,criado pelo pintor vienense Franz Anton Maulbertsch,entre os anos de 1776 e 1778. O nome dessa obra é “AEvolução Espiritual da Humanidade”. Nela vemos uma

    clara junção entre ciência, losoa e religião. A DivinaProvidência, colocada no centro do afresco, está cercadapor representações de vícios e virtudes. Motivos do AntigoTestamento, como os Dez Mandamentos de Moisés ea Arca da Aliança, fazem frente ao desenvolvimento dacivilização grega, desde seu período mítico até os lósofos

    Sócrates, Diógenes e Demócrito, passando por Alexandre“o Grande”. A evolução da ciência está representadapor Esculápio, Pitágoras e Sócrates na prisão. Tudotranscorre até o desenvolvimento do Cristianismo.

    Essa pintura é um belo exemplo do conceitode espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que éexternalizado pela mente humana, e que se traduz nomundo concreto através de quatro grandes frentesprincipais: Filosoa, Artes, Ciência e Religião. E são elasque, como anunciadores ou archotes do Fogo Divino,iluminam o caminho dos homens e propiciam a criaçãode miríades de possibilidades no mundo material e suas

    innitas ramicações, como a política, o comércio,o entretenimento, etc., tendo como objetivo último oaprimoramento, a evolução do ser humano. O espiritualexpressa uma tendência arquetípica, manifestada no

    CONEXÕES NUM MUNDO EM (R)EVOLUÇÃOMarcelo José Wolf 

    mundo concreto, paulatinamente, no dia a dia.

     Ao longo dos séculos, a civilização ocidental, semo perceber, passou a dissociar o espiritual do material,criando uma polaridade entre ambos, que, na verdade,não existe. Nesse ponto, as culturas ditas “primitivas”e, também, os povos antigos tratam essas duas facetasde uma forma bem mais natural, sem apresentar

    essa dissociação. Mas pior que isso foi a redução daespiritualidade em religião, fenômeno, que, na maioriadas vezes, não exprime adequadamente sua verdadeirafunção, descrita na acepção do termo: re-ligar ou tornar aligar o homem à sua essência imortal.

    No ano de 2011, vimos muita coisa acontecer nonosso planeta, algumas inéditas, outras seguindo umprocesso que vem se desenrolando nos últimos anos. Amais notável e surpreendente é a Primavera Árabe. Oinegável é que estamos passando por transformaçõessociais, culturais, econômicas e políticas, que estãoredesenhando a face do mundo, do poder e da vida dos

    seres humanos. E, se tomarmos como corolário o fato deque o espiritual nunca está dissociado do material, e queeste é uma expressão concreta das tendências imanadasdo primeiro, ca a pergunta: por quais caminhos ahumanidade está trilhando sua marcha? Espiritualmente,há uma tendência a ser seguida em sua evolução?Podemos antever os seus caminhos futuros?

    CONSTATAÇÃO NO MUNDO

     Apontamos aqui alguns fatos signicativos que vêmocorrendo no mundo e que estão redesenhando o cenárioda vida humana em nosso planeta. Através desses fatos,vamos tentando deixar mais claro um pano de fundo,um leitmotiv, ou um padrão, em vigência nesse terceiromilênio. Após esses exemplos concretos, vamos proporuma ideia para tentar responder à questão sobre qual atendência espiritual de nossos dias.

     A partir de 1989, avançamos em passos degigante para o que conhecemos como Globalização:países perdem suas fronteiras econômicas, culturais,monetárias, para fazerem parte de grandes blocos.

    Ninguém mais vive isoladamente; nenhuma nação vivesozinha. Todos realizam intercâmbios econômicos,culturais, políticos, etc.

     INTRODUÇÃO

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     A popularização da Internet, também, foi umadas grandes propulsoras dessa globalização. A Internetconecta a todos. Promoveu uma grande revolução naforma de produzir conhecimento, de comprar, de seconhecer pessoas, de obter-se informação, de organizarmovimentos e de formar opiniões. Graças a ela, asdistâncias encurtaram, e o mundo tornou-se uma aldeia

    global.Com a popularização da Internet, o termo

    “ciber” passou a ter relevância na vida das pessoas.Tudo que é ciber mudou nossa forma de atuar nomundo: Cibercultura, ciberespaço, ciberterrorismo,ciberativismo, etc. Um dos lósofos e escritoresmais inuentes nessa área é Pierre Levy, com muitaspublicações sobre o assunto, mostrando a importânciadesse novo paradigma nos dias presentes e vindouros.

    Nas redes sociais da Internet, a exemplo doFacebook, há uma comunicação entre pessoas do mundo

    todo. E, muitas vezes, elas se organizam para criar gruposespecícos ou reivindicar melhorias e mudanças emdeterminados setores da vida coletiva. Possibilitaramque opiniões individuais tivessem um peso considerávelna formação da opinião global, contribuindo com acriação do que chamamos de uma consciência coletiva.O coletivo passa a ter uma grande importância frente aoindividual.

    Essa consciência coletiva tem seus efeitos nomundo. Estamos assistindo a uma onda de manifestaçõese protestos no Oriente Médio e no Norte da África,denominada Primavera Árabe, contra os regimes

    autoritários que lá imperam e que são calcados narepressão e na censura. Impulsionadas pelas redessociais, essas manifestações clamam por uma maiorliberdade política, intelectual e, até mesmo, econômica.

    Cada vez mais caminhamos para o m dosgovernos autoritários onde poucos ditam as regras a serseguidas por todos. As regras passam a ser elaboradascoletivamente, de uma forma mais democrática.

    O Capitalismo vive uma grande crise, e vemosvários protestos em Wall Street, na Europa e em todo omundo, formando uma campanha contra a desigualdade

    econômica e a concentração de riquezas nas mãos depouquíssimos. Centenas de pessoas acampam no parqueZuccotti, perto do centro nanceiro de Nova York,demonstrando o descontentamento com os rumos da

    economia e com empréstimos milionários a grandesempresas, em detrimento da população em geral.

    Outras formas de ganho de capital estão nascendo.Muitas tentativas de cooperação e trabalho coletivo despontam no mundo. A mais popular é a produçãode software livre. Um bom exemplo disso é o sistemaoperacional Linux; outro, a enciclopédia Wikipédia, na

    qual há uma produção conjunta do saber.Hoje em dia, o conhecimento, como acúmulo de

    informação, não é mais um privilégio nem o diferencial deninguém. Para isso existe o Google! Com poucos cliquesna Internet, você pode descobrir o signicado de quasetudo. Como usar essas informações e produzir algo quesupra uma demanda, ou como fazer a diferença frente auma situação passou a ser o foco principal da questão.Para isso é preciso saber como encontrar a informaçãocorreta e elaborá-la corretamente. E isso requer uma

     versatilidade mental e uma boa dose de intuição.

    Diante da socialização do conhecimento promovidapela Internet, um aspecto passou a ser essencial para obom desempenho de tarefas: a criatividade. Qualquerprossional, para desenvolver-se (e muitas vezes, apenas,para manter-se no mercado de trabalho), precisa muitomais do que fazer bem feito o que lhe compete. Precisaresponder, instantaneamente, às mais diversas demandase situações inesperadas que podem ocorrer. E, para isso,mais do que conhecimento, é necessário se ter “jogode cintura”, no dito popular, ou, em outras palavras,criatividade e outras formas de inteligência, como aemocional.

    Pouco se falava em sustentabilidade epreocupação com o meio ambiente há algumasdécadas. Hoje, esse tema entrou em todas as pautas davida humana, desde política e econômica até cultural ecomportamental. O homem passa a olhar de uma formadiferente para a natureza, o planeta e seus recursosnaturais.

    Com o aumento das demandas em nossas vidas, ohomem passou a ter uma maior preocupação com sua

     vida interior . Vemos uma busca crescente por terapias

    alternativas, autoconhecimento, psicologia, autoajuda,espiritualidade, meditação, etc. Basta darmos umaolhada na sessão de livros mais vendidos ou vericar aprocura por palestras de autoajuda. Isso é um reexo de

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    que o homem está, cada vez mais, tentando aprimorar suaqualidade de vida. A agitação da vida moderna o empurrapara buscar, dentro de si mesmo, um caminho maissatisfatório com seus anseios e desejos íntimos.

    Em consequência dessa maior busca interior,passamos a viver uma espécie de “neorrenascimento” noqual, novamente, o homem ocupa o centro do universo,dessa vez não culturalmente, mas sim espiritualmente.Enquanto alguns movimentos religiosos crescem eganham importância, muitas pessoas estão abandonandoas práticas religiosas institucionalizadas e tradicionais,devido a não mais preencherem seus anseios íntimosde satisfação e signicação da vida. Cada vez há menosespaço para guias ou gurus espirituais, que mostrem “o”caminho a ser seguido. As pessoas percebem que cadaum precisa construir e descobrir seu próprio e individualcaminho interior.

    PROPOSIÇÃO DE UMA TESE 

    Diante dos fatos a que vimos assistindo e de quevimos participando no mundo, voltemos à questãooriginal e mote deste artigo: qual a tendência espirituala ser vivida pela humanidade nesse terceiro milênio?Lançamos aqui uma hipótese que, longe de ser umaverdade absoluta, tenta, apenas, ser o pontapé inicialpara reexões individuais por parte de todos que estãolendo este texto. Ela é a união de conceitos, propostospelas mais diversas correntes losócas e espirituais,com a vericação do que lemos diariamente nos jornais edo que vivemos no nosso dia a dia. A hipótese é a de quevivemos numa época em que, cada vez mais, caminhamospara a Conectividade entre tudo e todos, resultando na  divinização do humano.

     Antes de franzirem o sobrolho e acharem queo autor vive numa redoma de vidro frente a todos osproblemas, barbáries e injustiças, vistas no mundo, trêsressalvas são necessárias:

    Tendência espiritual é aquilo que inspira a1.humanidade, que a direciona e que vai se tornandoreal gradativamente, muitas vezes de formaimperceptível, e não o que já está realizado,conquistado e pleno. A própria palavra já o diz:

    tendência;Todo processo de evolução é gradativo, longo, feito2.passo a passo, na maioria das vezes sem rupturasdrásticas e radicais, e, sempre, passando por

    melhorias e ajustes. Não nasce pronto, perfeito eimutável, vai se aperfeiçoando ao longo do caminho;

    Num projeto, a ideia está perfeita. Quando passa3.para a execução real, ele, sempre, apresentaimperfeições, pois isso é inerente à polaridade da vidae é, praticamente, impossível termos a perfeição nomundo manifestado.

    Mas o que se entende por conectividade paraa divinização do humano? O ser humano tem, cadavez mais, a possibilidade de estabelecer conexões (ourelações) de todos os tipos. Num mundo globalizadoe digital, é difícil se viver sozinho ou isolado. Essasconexões promovem a troca, a partilha, o intercâmbiode diversas formas, nas quais um lado não apenas deixaalgo de si para outro, mas também o transforma umpouco. Essa é a base de todo relacionamento afetivo,de amizades, de comércio, de partilhas. Água paradaapodrece, diz o dito popular. Num caldeamento racial, atroca de material genético é indispensável para a melhoria

    da espécie. Toda troca implica uma transformação.Essas conexões promovem em cada indivíduo

    um aprimoramento e um crescimento, auxiliando naprincipal conexão em termos individuais: a ligação entreo ego inferior e mortal e sua individualidade imortal,conhecido nas tradições como o despertar espiritual, avivenciação plena do arquétipo do “Self”, da psicologiaanalítica, a paz interior de você estar conectado comvocê mesmo, com sua verdadeira essência. Essa ideia éantiqüíssima, e todo culto, verdadeiramente, religiosotem essa proposta em seu âmago. E o homem, cada vezmais, busca o Divino dentro de si mesmo, não mais em

    templos, profetas ou tradutores do saber divino. Busca,em si mesmo, aquilo que o ligará com algo superiore transcendental. Fazendo isso, está despertando,internamente, todo o potencial divino que possui, erealizando o milagre da humanização do divino, para que,através da vivência do divino no humano, possa ocorrer adivinização do humano.

    Muitos lósofos apontam essa como uma dasmetas do homem. Ludwig Feuerbach, em 1843, noseu “Princípios da Filosoa do Futuro”, escreveu que“a tarefa dos tempos modernos foi a realização e a

    humanização de Deus - a transformação e a resolução dateologia na antropologia”. Marcel Gauchet, com sua ideiade “individualização do crer”, propôs que “a crença dizrespeito a um ato de adesão estritamente pessoal, fora da

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    existência comunitária, ou mesmo contra ela”. SegundoLuc Ferry, a humanização do divino se dá com a laicidade,iniciada na Europa com o Iluminismo, reforçada com oPositivismo e consagrada com a revolução tecnológicae cientíca. Disso decorre uma divinização do humano,ligada ao nascimento da família e do amor modernos,responsáveis pela solidicação de laços sociaisfundamentais para a emancipação do homem, não maisgovernado pela tradição ou por obrigações, mas, sim,pelo sentimento e pela anidade.

    Novamente, frisamos ser essa uma tendência para aqual caminhamos, não a situação vigente atual!

    E A NOSSA TAREFA INDIVIDUALNESSE PROJETO? 

    Diante de várias tendências coletivas que operamno mundo, ca a pergunta: e o homem individualmente?Como se processam essas tendências no homemindividual? O homem é o ponto focal onde se concentram,hoje, as esperanças de evolução do plano arquetipal doEterno, da Divindade. A evolução global da humanidadedepende da evolução individual de cada homem. Elepassa a ser peça chave na evolução do cosmos, pois éum pontíce, um construtor de pontes, aquele que liga opassado animal ao futuro divino.

    O primeiro passo dessa grande jornada é atransformação do homem, para que possa conectar-

    se ao seu ser mais íntimo, ao seu Deus Interior, aoarquétipo do “Self”, segundo a terminologia junguiana.

     A realização da Eucaristia, ou a união do Eu nito como Cristo Interno, é o passo primordial para a elevação dahumanidade. O homem passa a ser o verdadeiro Temploda “religião” do futuro, pois, em seu íntimo, localiza-seo “Sanctum Sanctorum”, onde vibra a chama viva daConsciência Humana ou seu Princípio Crístico ou Atmã.

     Através do autoconhecimento, vamos descortinaro caminho que nos levará à nossa verdadeiraessência. Então, passaremos a viver nossa verdadeiraindividualidade, nossa verdadeira vida, nossos maisreais anseios e propósitos, em sintonia com a nossaMônada, Tríade Superior ou o Espírito no homem. Nessemomento, estaremos conectados com o sentido da vida, oque, junto com a alegria, é inerente a essa nova forma de

    vida. E, consequentemente, passamos a ser um dínamoirradiador de espiritualidade, amor e sabedoria para aface da Terra.

    Um pré-requisito para isso é a conexão das mentes,a concreta, lógica e racional, com a abstrata, criativa eintuitiva. Esse padrão tem como maior exemplo o cérebrohumano. Este faz, naturalmente, uma sinergia entre seu

    lado esquerdo (racional, analítico) e o direito (sintético,intuitivo, criativo). Hoje, a humanidade, ainda, tem umbaixo uso de todo o potencial cerebral, principalmente, deseu hemisfério direito.

    Quanto mais esse supramental, ou Mentalcompleto, bafejado pela plena intuição, desenvolve-se,mais o coração passa a agir, despertando as chamas doamor verdadeiro, o Amor Universal. Quando o homemvence as provas evolucionais e atinge um patamar maisalto de consciência, passa a agir com o coração emsintonia com a mente, num perfeito equilíbrio entreambos.

    Estamos adentrando a tão propalada “Era de Aquário”. A humanidade inicia uma nova era astrológica.Muito foi dito, muito foi especulado e, também, muitofoi iludido a respeito dessa fase, como se todos osproblemas sumissem num passe de mágica, e um mundoperfeito surgisse para os homens. Será uma nova etapade experiências, com seus prós e contras, acertos eerros. Mas será uma Era marcada pela fraternidadeuniversal através da união dos povos, da superação dasdiferenças, da convivência fraterna. Daremos mais umpasso rumo à visão uraniana de mundo, sintetizada noideal da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade,Fraternidade. A bondade e o conhecimento passam a ser averdadeira religião, com a união entre ciência e tradição,formando uma terceira via, hoje, já aventada por algunspensadores do mundo e denominada de “Metaciência”(Basarab Nicolescu) e de “Metarrealismo” (JeanGuitton).

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     Assim, conectado com sua essência interior,o homem, também, conecta-se com a Terra e com anatureza; passa a se integrar de forma holística ao meioque o cerca. Esse sentimento de união com o Tododesperta o verdadeiro sentido de Humanidade, pois aí,efetivamente, ele se sente encaixado e fazendo partede uma família global, de um todo maior, que tem umafunção denida dentro de um todo maior ainda, do qualele faz parte. E, como consequência natural disso, brotaem si a Compaixão e o Amor Universal. Seus atos nãosão mais individuais, mas pautados dentro dos atos dahierarquia. Não por obrigação, mas pelo sentimento deamor, que une todos os seus membros, como uma grandefamília cósmica.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 

    Procurou-se, neste texto, fazer reexões sobreindícios, caminhos e horizontes, que mostrem aconectividade como um apanágio em nossas vidas,e como ela nos conduz para um patamar superior,divinizando o homem. Sem dúvida alguma, o homemcaminha, cada vez mais, para aquilo que chamamos

    de “a Era das Conexões”, onde as partes se conectampara formar algo muito maior que a simples soma delas.Como última reexão, cabe, aqui, lembrar o sentidodo termo conexão. Segundo o dicionário Houaiss,conectividade signica a capacidade ou possibilidade deoperar em um ambiente de rede. Conectivo é o que uneuma coisa à outra, e conectar é unir, ligar. Quando nosconectamos a algo, não perdemos nossa identidade paranos tornar outra coisa, mas sim passamos a comungar

    com algo maior, como um computador, que mantémsuas características e amplia-as ao se conectar numarede. Expandimos nossas capacidades e, graças a isso,podemos fazer muito mais coisas. Passamos a “operarem rede”, ou a sermos parte de algo maior. Como nosdisse Pierre Weil, “o homem passa a ser o elo entreo invisível (abstrato) e o visível (órgãos sensoriais)”.Passamos a ser muito mais do que simples homens,tornamo-nos algo maior, mais completo e mais sublime:tornamo-nos partes da grande família humana na Terra.

    REFERÊNCIAS

    FEUERBACH, Ludwig.1. Princípios da Filosoa do Futuro.

    Lusosoa Press, 2008.FERRY, Luc; GAUCHET,2. Marcel. Depois da Religião. Difel(Brasil), 2008.

    FERRY, Luc.3. O Homem Deus. Difel (Brasil), 2007.

    LÉVY, Pierre.4. Filosoa world: o mercado, o ciberespaço,a consciência. Instuto Piaget, 2000.

    WEIL, Pierre.5. Rumo à nova transdisciplinaridade.Summus Editora, 1993.

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     A articulação dos conceitos de sublime, cultura eeubiose é importante para entendermos o trabalho daSBE – Sociedade Brasileira de Eubiose e, por analogiae extensão, de outras instituições iniciáticas. Asabordagens que expressaremos neste texto, visam a nostirar de uma região de conforto contemplativo, algumasvezes, provocado não por uma beatitude pós-sabedoria,mas sim, por um encadeamento de platitudes, quepodem transformar o processo iniciático num manual deautoajuda politicamente correto.

    Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime,cultura e eubiose é reetir sobre as condições individual,grupal e institucional do estar-no-mundo, para emseguida, inserir- se, conscientemente, no Pramantha e tercondições melhores e maiores de ser-no-mundo. Não éuma jornada fácil e confortável. Signica nos livrarmos,paulatinamente, de identicações maiávicas que, apesarde essenciais para a constituição da nossa anterior e atual

    subjetividade, devem ser deixadas para trás.

     Ao mesmo tempo, temos que inventar novas enelas focar, num trabalho de facilitação da travessiapara o Quinto Sistema de Evolução. Paradoxalmente,o ingrediente mais difícil de introduzir nesse laboralquímico é a alegria. O sofrimento desnecessário, ainda,é um forte estruturante de nossas existências.

     A Etimologia do Termo Cultura

    No Ocidente, o termo “cultura” origina-se do latim“culturae” , que quer dizer cultivar, cuidar, e está ligado,inicialmente, ao trabalho agrícola. Mas, com o passardo tempo, amplia seu signicado, abrangendo, então, osentido de dois vocábulos gregos: o primeiro é Geórgia,que quer dizer a cultura do campo, as lides, relativasà agricultura. O outro é mathemata, signicandoconhecimentos adquiridos, o acervo de saber de umindivíduo, de uma sociedade.

    Na Idade Média, há uma mudança na utilizaçãodas palavras. “Colere” vai, paulatinamente, caindo emdesuso, e dois novos vocábulos começam a aparecer, numreexo das mudanças sociais, que surgem para expressara ideia de “cultura – humanitas” e “civitas”, pondo em

    A CULTURA, O SUBLIME E A EUBIOSE

    Pensar a SBE a parr da arculação entre sublime, cultura e eubiose é reer sobre as condições

    individual, grupal e instucional do estar-no-mundo para, em seguida, inserir-se, conscientemente,

    no Pramantha e ter condições melhores e maiores de ser-no-mundo.

    cena a noção do homem educado, culto, inserido numaordem racional e politicamente construída.

    Na Inglaterra, berço das transformações sociais,políticas, econômicas e religiosas, que marcam o mda Idade Média e o início da Idade Moderna, começa asurgir, no início do século XVIII, o termo “cultivation”para expressar as noções de cultura, então, vista comoum desenvolvimento subjetivo e harmonioso do espíritohumano e, também, das suas diversas faculdades.

    No mesmo século XVIII, aparece, na Alemanha, apalavra “kultur”, no sentido de renamento espiritual,enobrecimento de toda uma sociedade, e, praticamente,todos os outros signicados, hoje, atribuídos à “cultura” ,

    em sua extensão social e coletiva.

    Existe, ainda, outro valor semântico de cultura,voltado ao cultuar dos Deuses, rememorar os eventose fatos importantes da vida, das gerações, dosantepassados. É uma espécie de atualização dos mitos nomomento presente, fazendo, com isso, uma espécie derenovação dos compromissos do cotidiano, do presentecom um passado muitas vezes idealizado.

    Laudelino Santos Neto

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     A Concepção Clássicade Cultura

     A concepção clássica de cultura,abarcando visões da antropologia,economia, política, sociologia, quecomeça a partir do século XVIII com

    o termo kultur , na Alemanha, de umaforma ou de outra, ainda, permanecemajoritária nos tempos atuais. É a quese organiza a partir de uma estruturabinária em que cultura se opõe ànatureza, ou, se preferirem, cultura xnatureza.

    Por esse raciocínio, em determinado momento de suaevolução, o antropóide se desvia, entra em conito com anatureza em geral e com a sua especíca. Torna-se, então,um “inadaptado”. Karl Marx usa, para tal, a expressão

    alemã “mängel wesen” . Literalmente, o primeiro termosignica “falta”, e o segundo, “ente”, “existência”. Querdizer que, em determinado momento da evolução dohomem, ele se torna um ser, um ente, em que falta algumacoisa, por isso mesmo, não conformado, inteiramente, ànatureza.

    Por lhe faltar uma conexão completa com a natureza,ao contrário de outros mamíferos e animais em geral, ohomem é, então, capaz de se produzir separadamenteda natureza, quer dizer, produzir-se como um ser. Comisso, também, é capaz de produzir seu próprio mundo,dissociado da natureza, de todo o resto. Isso temprofundas implicações, porque produzir-se a si próprio eseu próprio mundo signica, outrossim, a capacidade deapropriar-se do mundo bem como, de si mesmo.

    Talvez, nessa falta, nessa ausência, esteja o primeiropasso da criação da Hierarquia Jiva... e da caminhadapara o Quinto Sistema de Evolução...

    E como é próprio do Humano a caminho doDivino, surgem as primeiras contradições, os primeirosparadoxos. Um deles é que a cultura, sempre, buscaa universalidade, mas carrega, no seu interior, adiversidade, a especicidade. Ao deixar o determinismoanimal da natureza, o homem “em falta” cria osfenômenos culturais e passa, ao mesmo tempo, a tecersua própria história.

     A ConcepçãoContemporânea de Cultura

     A concepção contemporâneade cultura – entendam-se

    contemporâneos, os últimos 50 anos– aproxima-se muito do conceito decivilização. Os dois praticamente se

    misturam, e é impossível pensar umsem o outro. Pode-se, então, conceber

    a cultura/civilização como umcomplexo de conhecimentos, crenças,

    artes, moral, hábitos, costumes ecapacidades, adquiridos pelos homens

    como membros de uma sociedade. Para citar, apenas,um dos intelectuais contemporâneos, que pensaram

    de forma inovadora a cultura, sublinho o antropólogofrancês Claude Lévi-Strauss, um dos fundadores do

    estruturalismo, que vê a cultura como um sistema de

    signos. Para ele, toda cultura pode ser considerada umconjunto de sistemas simbólicos, em que se situam, comomais importantes, a linguagem, as relações econômicas,

    a arte, a ciência, as relações matrimoniais – em torno dasquais se organizam os parentescos – e a religião.

    É importante salientar que o fundador daantropologia cultural, Claude Lévi-Strauss, concebeusuas teorias após estudar a cultura dos índios bororos,quando de uma estada no Brasil, nos anos 30, época emque foi professor da recém-inaugurada Faculdade deLetras e Artes, embrião da futura USP – Universidade deSão Paulo.

    Como um pequeno exercício para compreendermosmelhor o trabalho dos atuais Dianis Planetários e suarepercussão na Face da Terra, trocaremos a palavracultura pelo termo Pramantha. Com isso, veremos quea concepção estruturalista de Lévi-Strauss vale paraos dois, possibilitando-nos armar que, no interior doPramantha, os sistemas simbólicos se organizam emrede, sem qualquer hegemonia de uma Linha em relaçãoà Outra. Devemos, então, respeito e veneração a todaselas, inclusive para aqueles aspectos que se apresentamcom linguagens materialistas e ateias.

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     A DesconstruçãoPós-Moderna

    Mas nem tudo são ores na épocacontemporânea. O “destruens etconstruens”  permanece como umalei universal. As nalidades místicas,religiosas ou cívicas das manifestaçõesculturais, praticamente, desvaneceram-se, principalmente das obras de arte.

    Foram substituídas por uma espéciede esteticismo puro, que se basta a simesmo, e pela chamada comunicaçãode massa, cada vez mais estruturadacomo espetáculo. O historiador inglês Arnold Toymbee,usa pela primeira vez, a expressão pós-moderno paraindicar essa nova vaga de desconstrução dos cânonesestabelecidos.

    Os valores da Renascença e do Iluminismo do séculoXVIII, tais como o predomínio da razão, a liberdadepolítica, os progressos cientícos e tecnológicos, o

    desenvolvimento social e a ampliação da igualdadeforam postos em questão. O pós-moderno coloca asmanifestações culturais como obras do acaso e daindeterminação (inuência da física quântica), dairracionalidade e do relativismo. E a grande contradiçãodesse pós-modernismo é que foi construída umasociedade, ao mesmo tempo, de massa e individualista.

    Outros encaram pontos positivos na sociedadepós-moderna, que ao invés de abolir o racionalismo eo humanismo, revisitam-nos com novos instrumentosteóricos e práticos. Isso ocorre, hoje, principalmente,na arquitetura e na indústria da moda. Ao mesmotempo, já se fala numa nova “episteme”  (conjunto deconhecimentos de determinado momento histórico)ocidental se organizando, em que o princípio deautoridade centralizadora é substituído por uma mesclade indeterminação, pluralismo, ecletismo, aleatoriedade,paródia e ceticismo em face das antigas criaçõesespirituais e dos comportamentos tradicionais de grupo.Nesse cadinho de transformações surge, entre outras,uma nova classe dirigente, o gestor ou “decisor”, osnovos executivos de empresas, os altos funcionários deórgãos governamentais e, também, das organizações não-

    governamentais, das universidades, etc.

     A Sublimação comoProcesso Fundador daCultura

     A sublimação é uma palavraque Freud foi buscar na química,

    na antiga alquimia, e, talvez, até noconceito de sublime, de Aristóteles,

    para explicar o processo em que apulsão de vida, sexual, é desviada e

    transformada em produtos culturais– tanto artísticos como cientícos

    e tecnológicos. A questão dasublimação é tão importante, que,

    sem ela, não poderia existir o que se conhece hoje comocivilização.

    Sublime é aquilo que é elevado, grandioso, queestá acima de tudo e de todos. Na Grécia Antiga,principalmente em Aristóteles, o sublime é o tipo deconhecimento que ultrapassa a razão humana, a lógica,e só é percebido por uma espécie de elevação espiritual,divina. Como decorrência dessa linha de pensamento, os

    alquimistas chamavam de sublimação a transformaçãodo chumbo em ouro. Em química, até hoje, sublimação éa transformação do estado sólido, diretamente, em estadogasoso.

    Um aspecto curioso do processo sublimatórioé que ele opera com duas grandes inovações. Naprimeira, consegue desviar a energia da pulsão do seudestino natural para a criação de novos fatos culturais ecientícos, de toda e qualquer monta. Na segunda, furao bloqueio dos universos da cultura, de tudo que estáaceito e consolidado, e imprime a marca individual do

    criador. Sendo muito singular, a criação carrega em sium “quantum” de desao e revolta contra o estabelecido,numa espécie de anarquia visionária.

    Em sentido contrário, uma situação extrema deimpério absoluto de conceitos universais, não há espaçopara as manifestações individuais, consequentemente, éimpossível haver sublimação. Por isso mesmo, a maneiramais rápida de se cair na barbárie é impor, de formaditatorial, modos de pensar e agir. Todo ditador está aserviço da pulsão de morte.

     A sublimação, também, pode ser entendida como

    a aplicação, a transferência, o deslocamento da energiapara outro campo, para outro local, em que são possíveisrealizações socialmente mais úteis, mais valiosas. Com

    Sublime é aquilo que é elevado,

    grandioso, que está acima de tudo e

    de todos.

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    isso, a sublimação tem tudoa ver com as forças ligadas àvida, à evolução e age, também,como um inibidor das forçasde destruição, que começam,sempre, com um discursovoltado à extinção da diferença,do individual, que a pretexto davolta à paz e à harmonia, leva-

    nos ao silêncio terrível do m davida, do inorgânico.

    Sublimação, Alegriae Prazer 

     Além de contribuir parao melhor entendimento dosprocessos criativos, atravésdo conceito de sublimação,

    resgatado por Freud da química, a psicanálise foi maisalém em apontar sua origem, muito diferente do existenteem termos de senso comum. O nascimento da culturae da civilização teve um custo para o antropóide. Ele setornou menos animal e mais humano com o sacrifício darealização de parte dos seus instintos.

    Mas ao contrário do que pensam muitas pessoas,sublimação não tem nada a ver com recalcamento erepressão. Estas são essenciais para o viver em sociedade,para as organizações humanas funcionarem. Podemosdizer que se relacionam com o princípio de realidade, com

    as condicionantes e determinantes da estruturação doego, da personalidade. Mas a conformação à sociedade,à socialização, para a qual o sujeito paga o preço daalienação da sua singularidade, não gera o objeto oriundoda sublimação, o novo, o inusitado, o sinalizador doQuinto Sistema de Evolução.

     As questões ligadas à cultura e à civilização,como tudo que é complexo, têm suas contradições eambiguidades. Uma dessas é a repressão ser origemda cultura e, ao mesmo tempo, seu desenvolvimentodepender de seu oposto, a sublimação. Sublimação é algo

    mais além, e sua origem está no chamado princípio deprazer, na alegria de criar, de transformar o mundo pelaconcepção de um novo objeto, ou conceito nunca antespensado.

    Sublimar não é reprimir, não é recalcar.

    Vive, em ledo engano, quem reprime suas

    energias, que podem se transformar em

    objetos singulares, arscos, ciencos,

    tecnológicos, imaginando que se está

    sublimando e, com isso, chegando mais

     perto do divino. Sublimar é a grande saída

    humana para a explosão de vida de origem

    universal.

    Sublimar não é reprimir,não é recalcar. Vive, em

    ledo engano, quem reprimesuas energias, que podemse transformar em objetos

    singulares, artísticos,cientícos, tecnológicos,

    imaginando que se estásublimando e, com isso,

    chegando mais perto do divino.Sublimar é a grande saída

    humana para a explosão devida de origem universal.

    Em Carta-Revelação de 1ºde agosto de 1951, JHS cita umlivro que se encontra na Secção

    7, códice 17, da Biblioteca deDuat, intitulado Sublimatum

    – Le Coeur et La Croix, escritopelo Jesuíta e grande pensador

    Rosa-Cruz – e, também, Adepto - Louis Lerov, que seapresentou sob o pseudônimo de Giuliano Benca. Essaobra é de grande transcendência mística e revela os mais

    profundos aspectos espirituais da sublimação.

     A Eubiose como Método deTransmissão/Invenção

    Nascida na transição do Quarto para o QuintoSistema de Evolução, a Eubiose deve ser vista e operada

    através de vários vetores. Escolhemos, para esse trabalho,os relativos à transmissão do conhecimento e da invençãode uma nova cultura, de uma nova civilização, comoestratégia para antecipar 3005.

     A primeira questão que se nos apresenta é: transmitiro que? Uma das respostas possíveis está na própriahistória da Sociedade Brasileira de Eubiose. Transmitir aTradição Iniciática das Idades. Mas, no contexto do séculoXXI, com todos os avanços do conhecimento humano,propiciados pela presença dos Dhianis Planetários,devemos ultrapassar o método e o conteúdo puramente

    teosóco.Como fazer? Essa é a próxima questão que se

    apresenta. A cultura contemporânea nos dá indicadores

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    seguros. Devemos revisitar os conhecimentos seculares efecundá-los com as novas descobertas e, num movimentodialético, também, sermos fecundados por aquilo que elespossuem de essenciais.

    Isso implica dar nova vida ao sagrado, trazê-lo aonosso cotidiano para uma transformação recíproca.Pressupõe não uma simples adoração de textos sagrados,mas uma interpretação hermenêutica do passado à luz dosaber atual. Ou seja, temos que conhecer, sistematizar e

    organizar tanto o passado como o presente.Mas, até o momento, nesse item, estamos tratando

    de informação, conhecimento, administração de dados.Ou seja, como as redes de transmissão se organizam nointerior da sociedade e, também, em nossas estruturascognitivas. Mas o processo iniciático, apesar de não poderprescindir do conhecimento, é algo mais profundo. Elevisa, em última análise, à utilização de uma linguagemeubiótica bem contemporânea, a inserção consciente dodiscípulo no Pramantha, a transformar o atual estado deconsciência humana em andrógina, profética, integrada

    com os construtores do Quinto Sistema de Evolução. A SBE, no século XXI, deverá, então, levar em conta

    as novas questões relativas à transmissão e, também,repensar o processo de iniciação, que não pode ser maisfocado numa volta à Idade de Ouro idealizada, mas sim,na contribuição humana para a construção do QuintoSistema de Evolução.

     A nossa proposta é estender o presente em direçãoao futuro e ao passado. Deste último já abordamosalguns aspectos, como a revisitação do antigo com asferramentas contemporâneas para aprimorar o processo

    de transmissão do conhecimento.

    Para o futuro, para 3005, para o Quinto Sistema deEvolução, é impossível a revisitação. Mas o processo,estruturalmente, pode ser o mesmo. A partir do passadotransformado e do presente eubiótico trabalhado,podemos imaginar, inventar o futuro. E essa invenção,necessariamente, terá, como primeiro ponto de partida,criar ambiências para que a sublimação aconteça emsua plenitude, numa vertente psicodinâmica, comodenominavam os professores Sebastião Vieira Vidal eMargarida Estrela, saudosos orientadores dos jovens daSBE na segunda metade do século passado. O segundo

    é trabalhar os conteúdos revelados pelo seu fundador,Henrique José de Souza, e transformá-los, dentre outrascoisas, em matrizes operacionais de ação.

    Essa invenção cotidiana se transformará, então,num novo processo iniciático, que se estrutura numcompartilhamento de novos estados de consciência,surgidos não da mera sacralização de discursos passados,mas de experiências, de trabalhos concretos. E aquiaparece mais uma contradição, mais uma ambiguidade:a consciência abstrata é construída a partir do trabalhoconcreto, que passa a ter valor iniciático, se coadunado

    com a inserção consciente no Pramantha.

    Mas o processo iniciáco, apesar de não

     poder prescindir do conhecimento, é algo

    mais profundo. Ele visa, em úlma análise, à

    ulização de uma linguagem eubióca bem

    contemporânea, a inserção consciente do

    discípulo no Pramantha, a transformar o atual

    estado de consciência humana em andrógina,

     proféca, integrada com os construtores do

    Quinto Sistema de Evolução.

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     A busca pelo conhecimento, sempre, foi e será a únicaforma de o ser humano sair da prisão do apedeutismo,que tanto o torna dependente e manipulado por aquelesque, possuindo tal conhecimento, esquecem-seda Lei que os rege. Tal Lei não permite, jamais,que esse conhecimento seja segregado de muitosem detrimento de uma minoria. O preço dissoserá inexoravelmente caro, pois se constituiem crime de lesa-humanidade, ofendendo aopróprio Criador que o disponibiliza a todos,indistintamente, a m de que não aconteça o que

    disse o grande baiano Rui Barbosa: “ Há tantosburros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, co pensando que a burrice é umaciência”. Para que isso não aconteça, esperamosque se profetizem as palavras de outro baiano, Castro

     Alves: “Oh! Bendito aquele que semeia livros... |livros àmão cheia... | E manda o povo pensar! | O livro caindon’alma | É germe - que faz a palma, | É chuva - que faz omar ”. Eu complemento dizendo que livros são os faróisdo conhecimento iluminando as mentes e os corações doshomens como bênção divina.

    Para falar desse mal apedêutico, que acometeuma grande parcela de pessoas inscientes nahumanidade, contarei o fato através de umalenda criada, especialmente, para este caso.

    Certa vez, no interior do sertão baiano, viviaum desses ermitões habitando no alto de umapequena montanha; todas as noites, punha-se aobservar e contar estrelas.

    Ele ouvira dizer, pela boca de um sábio, quevivia não muito distante dali, que as estrelaspoderiam lhe revelar grandes segredos da vida e

    “enrique-SER” seus conhecimentos.Seguindo as palavras daquele mestre, ele grudou seu

    olhar no céu todas as noites e, somente, depois de muitotempo de perseverança, subindo e descendo a montanha

    durante anos seguidos, deu-se a primeira revelação de umconhecimento.

    Foi um momento mágico, pois, de uma pequeninaestrela perdida na imensidão do cosmo, lançou-se um facho de luz que, como um farol, iluminoue projetou algumas palavras escritas na pedra àsua frente, onde ele pôde ler: “esta é a pedra doconhecimento, ligado à arte de transformar o maisinsano e vil metal em ouro, utilizada pelos antigosalquimistas” .

    Tome muito cuidado, porque nada dissoacontecerá sem a sua transformação interior,anal, todos esses conhecimentos, somente, serão

    sabedoria depois de tê-los colocados em prática,caso contrário, não passarão de um livro cujas páginasforam arrancadas.

    Passaram-se muitas luas para que o ermitão pudessevivenciar e iniciar sua jornada interior; como peregrino,vagou por muitos caminhos.

    De retorno ao alto da montanha, contemplou,novamente, o céu, sendo que a segunda estrela

    escolhida, também, exigiu dele muito tempo de reexão,mas, quando se distraiu com todas aquelaspossibilidades de miríades de estrelas, o fato serepetiu.

    O farol ilumina, novamente, a pedra na qualcostumava sentar-se. Então, pôde ler: “esta é asegunda pedra, que traz o conhecimento sobretodas as artes, que inspiraram os grandes seresa iluminarem esse planeta através da música, pintura, canto, dança (artes em geral). Sejacauteloso para não deturpar sua essência, principalmente, se o caminho da primeira estrela

    não tiver sido percorrido com êxito, para conduzi-la àsua autotransformação. Assim, a magia da arte voltar-se-á contra você. Nunca é demais avisar o que os grandes

    A LENDA DO FAROLOs Sete Saberes de um

    Educador

    “Jamais haveria evolução se o Verbo se manifestasse proferindo, sempre, as mesmas palavras.” (Professor Henrique José de Souza.)

    O educador, como porta-voz do conhecimento, deverá estar atento para não cair na mesmice, pois omesmo conteúdo de hoje, talvez, tenha que ser dado de forma diferente em outra ocasião. Podemos

    chamar a isso de educação connuada e inovadora.

    Dirceu Moreira

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     Mestres, sempre, recomendaram: olhos e ouvidosalerta, porque a lei de polaridade espreita portodos os lados, e tudo tem seu oposto. Todo serhumano leva, em si, imanente, a tendência e a força para transformar-se em algo superior; jamais se esqueça dessa lei de evolução, paraque não desqualique as pessoas. A quemencontrar pelo caminho cumprimente-o dizendo

     NAMASTÊ: O Deus que habita em mim, saúdao Deus que habita em você. Eis aí a síntese dosrelacionamentos”.

    Conta-se que, tempos depois, o ermitãoproduziu muitas obras de artes e, só depois de umtanto de luas, retornou ao seu lugar de origem.

    No seu terceiro encontro, no alto damontanha, chovia muito, mas ali ele permaneceue, só no terceiro dia consecutivo, deu-se aprojeção do farol de luz trazendo-lhe outra tônicado conhecimento:

    “ Preste atenção, esta é sua terceira revelação: para que as duas anteriores sejam vivenciadas por você, será preciso que atue no mundo de formaética, estética e politicamente correta”.

    Nessa altura dos acontecimentos, o ermitãocomeçou a perceber que, a cada passo, as coisascariam mais difíceis, porém, também,sabia que, para “enrique-Ser”, erapreciso ter a riqueza não só do ouro, mastambém do saber SER.

    O tempo passou depressa, e a quartarevelação lhe veio de súbito quandodescia da montanha. E, quando menosesperava, observou novamente umclarão. Voltou, então, a sentar na pedra, eassim foi registrado: “existe uma lei da sublime mecânicaceleste que se projeta em todas as coisas; o homema denomina de ciências exatas. Ela tem inspirado,nos seres humanos, grandes possibilidades dedescobertas e força impulsionadora da tônica do progresso tecnológico. Antes que possa retornarao seu refúgio, como nosso tempo é curto, peço

    que nada tente fazer sem antes compreender oque lhe ensinará a 5ª estrela, que vem trazendo odom acumulado ao longo de gerações, contido naliteratura, através de livros dos mais diferentes

    conhecimentos, registrados pelo tempo afora. Procure ler muito para que possa cumprir o quelhe trouxe a 4ª estrela, e tudo que produzir o façacom ética e com estética da sublime arte do bemviver, assim, estará transformando a si mesmo,alquimicamente”.

    Foram tantas as luas que se passaram, quenem mesmo o relógio do Sol poderia registrar

    o desaparecimento do ermitão e, muito menos,o que ele fez em sua caminhada pelo mundo.Num lindo dia, daqueles em que o verde cobriatodo o semiárido baiano, o alto da montanhaestava, ainda, mais lindo para recebê-lo. Aocair da noite, pôde vislumbrar que havia cincoestrelas cintilantes, que se destacavam no céu.

     Ali sentado, recebeu sua sexta revelação, e umaestrela projetou, novamente, aquele farol de luz

    esplendoroso, possibilitando-lhe que, naqueleinstante, pudesse ler a seguinte mensagem: “sou

    a essência que lhe trago o dom de aprender a pensar, com isso, poderá, novamente, “re-ligar-se” ao Criador, não a confundindo com a religiãocomum: Eu sou a losoa e a teogonia, teosoaque dá ao homem as possibilidades de acessar suaconsciência superior, conhecer o céu e a terra e seusmistérios (cosmogênese e antropogênese). Comisso, poderá mergulhar para dentro de si e tornar-

    se mais criativo. Junto comigo, trago umadas minhas irmãs, a 7ª estrela, que lherevelará a arte da cura por um ramo doconhecimento, ainda, pouco praticado

     pelos homens – a medicina teúrgica(palavra de origem grega, que signicaObra, Magia Divina)”.

    O ermitão cou, completamente, emêxtase, no entanto percebeu que todo seu aprendizado

    não fazia sentido algum isoladamente. Suavisão, ainda, era fragmentada com um montede disciplinas, que não se conectavam, nãointeragiam umas com as outras. Novamente, apresença de “Cronos”, o deus do tempo, fez umúnico dia da vida do ermitão ser uma eternidade e

    o atormenta tanto, que ele retornou à montanhae pos-se a pedir, incessantemente, que as estrelaslhe dessem a chave do conhecimento secreto, pararesolver tal enigma.

    Maquiavel 

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    Neste dia, de tanto suplicar (e a súplica de umsertanejo sábio tem o poder de uma medicina teúrgica),fez jus a seu pedido, caso semelhante ao que aconteceraa Esculápio de Epidauro, que renasceu das cinzas, ou,mesmo, ao estalo de Vieira (padre Antônio Vieira).

    Eis a revelação provinda da 8ª estrela: “eu sou o podersintetizador, unicador e integrador de todas as revelaçõesque você recebeu das sete estrelas, minhas projeções. Paraque possa “enrique-SER”, ou seja, aplicar o conhecimentorecebido, deverá vivenciar a metáfora: um por todos e todos por um, não a luta pelo poder, mas a luta pelo dever . Daqui pra frente, a jornada é sua, e lembre-se sempre: a quemmuito for dado, muito lhe será cobrado”.

    Conta-se que, depois de muito tempo, o ermitãocasou-se e teve oito lhos, e os batizou com o nomedos sete ramos do conhecimento da Árvore da

     Vida, que lhe fora revelado. Tornou-se um grandepensador e, hoje, caminha pelo mundo, ensinando seumétodo de aprendizagem denominado de “o farol doconhecimento”, divulgando que todos os saberes são

    analógicos.Embora de conteúdos diferentes, encontramos,

    nesses saberes, semelhanças, inclusive, contendo o bem,o bom e o belo, para serem integrados de forma eclética e,sincreticamente, aplicados no dia a dia de cada um. Semdúvida alguma, trata-se de uma visão sistêmica, integrale holística, na qual as múltiplas disciplinas, quaisquerque sejam, interagem de forma multidisciplinar, intere transdisciplinar. O farol do conhecimento é móvele, como tal, gira 360 graus, iluminando a escuridãoprovocada pelo apedeutismo, que tanto atrasa o

    desenvolvimento do ser humano. A educação é o faroldo conhecimento, cujo potencial vai além do farol de Alexandria. A educação não tem fronteira, é a fonte detoda Criação, e os limites, a ela impostos, são produtosda ganância dos homens, para dominar os povos. Esseconhecimento é incorruptível e volta, sempre, ao seio doshomens, como fez Prometeu ao nos entregar as chamasdesse fogo (Este prometeu e cumpriu). A educação é ofarol do conhecimento; os educadores, suas cores e luzes;e as sete estrelas são suas múltiplas disciplinas. Cadaescola possui um farol do conhecimento, réplica perfeitadaquele contido nas estrelas. Todas as escolas possuem

    a mesma essência, e nenhum educador pode arrogar odireito de dizer que a sua, ou seu método, é melhor doque o outro, e, sim, compartilhar suas experiências equalicar o que os outros estão fazendo. Assim como

    o ermitão era conhecido como Glorioso, o mesmosignicado para o nome Euclídes, assim, também, todosos educadores são gloriosos, e suas ferramentas são osdiversos ramos do conhecimento, verdadeiras Cunhas, capazes de erguer, remover e transformar os maiorespesos da ignorância do ser humano.

    Educação, família e sociedade é uma tríade perfeitaà medida que cada uma delas cumpra seu verdadeiropapel. Que a família o faça através do amor, a escolapela inteligência e a sociedade pelo trabalho. Amor semsabedoria cria protecionismo sem os devidos limites.São Mestres e pais bonzinhos, não justos. A inteligênciasem amor torna o homem distante e frio em seusrelacionamentos, mas, também, amor e sabedoria sem otrabalho (ação) não gera, absolutamente, nada; é comoum livro fechado e trancado numa biblioteca. Escola,família e sociedade constituem o palco da vida onde sedesenrolam os saberes, sintetizados pelas revelações dasestrelas; em suas interrelações, é que se dá a harmoniatão desejada de todos os educadores, para que a educação

    não seja mais o bode expiatório de toda sociedade,porque nosso país é como disse Jorge Amado: “Eu soumuito otimista, muito. O Brasil é um país com uma forçaenorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós nãosomos um paísinho, nós somos um continente, com um povoextraordinário”.

     Antonio Conselheiro disse, por volta de 1900: “Háde chover uma grande chuva de estrelas e aí será o mdo mundo”. Primeira tradução: é o m, a morte pelatransformação do ser humano, através das estrelas doconhecimento, citado na lenda, tendo à frente a educação

    como farol a iluminar o grande espetáculo da criaçãoDivina, mas, também, pode ser o aviso, há tempos,anunciado pelos grandes sábios. Ou mudamos pelo amor,ou pela dor, mas mudamos.

    Essa lenda é uma homenagem a todos os educadoresbaianos e a todos os educadores brasileiros, que, comdignidade, fazem da educação seu principal baluarte.“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, disse Euclídesda Cunha. Os educadores, além de fortes, são, também,persistentes e sábios, para que possam transformarpequenas estrelas em grandes Sóis. Há uma condição“sine qua non”, para que tudo isso possa acontecer, que

    se encerra na frase do Prof. Henrique José de Souza: “Ohomem não é sábio porque sabe, ele é sábio porque ama. Em essência, esse amor é pleno de sabedoria”.

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    A LIDERANÇA NO TERCEIRO MILÊNIO

    “Reconstruir é o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os costumes;reconstruir o lar, a escola, o caráter, para que o cérebro se transmute ao lado do coração. Só assim a

    humanidade se tornará digna do estado de consciência exigido pela nova civilização.” 

    (Professor Henrique José de Souza.)

    É imperioso que esse brado da reconstrução encontreeco na mente e no coração de cada membro da SociedadeBrasileira de Eubiose e de cada cidadão do mundo, sintonizadocom os ditames da Era de “Aquarius” . Urge que cada umdesses assuma a liderança de uma parcela da humanidade, deforma a satisfazer as exigências transformacionais do novoCiclo.

    Entendemos, no entanto, que essa liderança deva semostrar hábil e eciente, encontrando-se, necessariamente,embasada em técnicas e conceitos testados e validadosatravés dos tempos. Percebemos, ainda, que a reconstrução

    do homem, do pensamento, da moral, dos costumes, dolar, da escola, e do caráter passa, necessariamente, pelaestreita vereda da signicação, do autogerenciamento e doautoconhecimento.

     Assim, iniciamos uma série de artigos que apontam comoobjetivo abordagens e tendências históricas da liderança,fomentando o relacionamento de Liderança com Signicação,

     Autogerenciamento e Autoconhecimento, de modo a setornarem cenários inseparáveis. Nesse trajeto, reforçaremosa conceituação de liderança como um estado dinâmico nodomínio espaço-tempo.

    Tomando como ponto de partida a abordagem dos traços,

    dos estilos e dos contextos, ultrapassaremos os conjuntossituacionais e o enfoque servil até aportarmos na tão almejadaLiderança Transformacional. Compartilharemos, entreoutras, as ideias e propostas de Bernard Bass, Joseph Host,Maslow, Holander Fieder, até alcançarmos James C. Hunter,que deniu Liderança como a “habilidade de inuenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando ao bemcomum, inspirando conança por meio da força do caráter ”. E,assim, preparamos o caminho para Viktor Frankl, que colocouliderança como um “ Relacionamento de estímulo mútuoque eleva os seguidores à condição de líderes de si mesmos”.Intentamos, com todo esse desenvolvimento, alcançar o marcosem retorno, onde, unicamente, o irrestrito autoconhecimento

    pode nos permitir continuar e alcançar a verdadeira liderança,que tem como base o encontro pleno consigo mesmo.

    INTRODUÇÃO

     A procura da liderança é constante e viva em todos ossetores da sociedade. No entanto, a incapacidade de preenchera riqueza de atributos e comportamentos, desejados àquelesque se propõem à posição de líderes, resulta na falta deliderança capaz e ecaz, nos governos, nas indústrias, nasempresas, nas religiões, nos esportes, na educação, bem comonas demais formas de organização humana.

     A liderança tornou-se quase uma obsessão. Os livros seamontoam nas prateleiras das livrarias e, a cada mês, maise mais títulos são acrescentados. Hoje, 02 de dezembro de

    2011, digitando “leadership”, no Google, em 26 segundos,fomos brindados com, aproximadamente, 123 milhões dereferências!!!

    Bernard Bass e Ralph Stogdill (1990) catalogaram 7.000estudos sobre liderança. Penner (2001) pressupõe que essenúmero já deveria ter ultrapassado a casa dos 12.000 estudos.E estamos aqui falando de trabalhos que introduzem oupropõem algo de novo nesse assunto, ou seja, não são, apenas,coletâneas ou releituras do já realizado.

    É fato que o evento da liderança existe desde o início dostempos. O homem é um ser, essencialmente, social. Assim,desde o alvorecer das civilizações, sempre, buscou formatos

    organizacionais, que visassem a ns especícos, fossemgrupais ou individuais. Sabemos que toda ação demandaesforços e, também, que maior probabilidade de êxito teríamosse lográssemos construir e manter estruturas grupais coesas e,uniformemente, direcionadas.

    Em qualquer grupo, formal ou informal, cada indivíduodesempenha um papel particular e uma função conjunta. Emqualquer aliança, sempre, aorará, alguém cujo desempenho eposição são essenciais ao êxito do grupo como um todo. Está,assim, caracterizada a liderança como um elemento naturale espontâneo da função de inuenciar outros para se atingirobjetivos comuns.

    Toda literatura, sempre, orbita na gura dos heróis,personagens de caracteres especiais, que conduzem outros ametas especícas. Seres que atuam como espelho, caminho emeio, para valores oportunos na situação em apreço. Ou, emoutras palavras, líderes.

    Silvio Pianno

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    Uma pesquisa literária remontando à Grécia antiga,representada por “A República” de Platão, pela “Odisseia”e pela “Ilíada” de Homero, ou ao extremo Oriente, com suaepopéia MahaBharata, passando pelos livros do AntigoTestamento e de todas as outras religiões, irrefutavelmente,comprova essa armação. O que dizer de seres mitológicoscomo Ulisses, Arjuna, Krisnha, Rama, Abraão, Zoroastro,Tupã e outros mais? A história humana está, também, repletadesses personagens. Quem nunca se inspirou em Gandhi,Júlio César, Aknaton, Marco Polo, Joana d´Arc, Alexandre, oGrande, Dalai Lama ou Churchill?

     Apesar de tão vasto manancial teórico, poucos assuntossão tão controversos quanto este, não havendo, até agora, ummodelo de liderança universalmente aceito, independente daépoca, posição geográca ou situação avaliada. Cada novaabordagem critica aspectos e reforça partes das anteriores. Écomo se cada proponente acrescentasse uma pedra ao edifícioconceitual da liderança, contribuindo, assim, com seu quinhãopara a conclusão do todo.

    Fiedler, assim, expressou-se sobre esse tema: “Um estilode liderança não é, em si mesmo, melhor ou pior do que outro,nem, tampouco, existe um tipo de comportamento em liderançaapropriado para todas as condições. Dessa forma, quase todomundo poderia ser capaz de ter sucesso como líder em algumassituações e quase todo mundo está apto a falhar em outras”(FIEDLER, 1967, p.115).

    Bernard Bass (1990) arma, textualmente, que “ Existemquase tantas denições de liderança quantas pessoas quetentaram denir o conceito”. Já Joseph Rost (1993) vai aindamais longe, armando, com um senso de humor ímpar,que “Os eruditos não sabem o que eles estão estudando, e os praticantes não sabem o que eles estão fazendo”.

    Sabemos que tudo, na vida, evolui, o mesmo,necessariamente, devendo se aplicar à liderança. Acreditamosque, nesse terceiro milênio, deveríamos alcançar patamaresrelacionais mais elevados, objetivando um processotransformacional de si e do outro. Acreditamos que não nossustenta mais o mero atendimento de metas e objetivos. Aonal do processo há de existir, com igual ênfase, evolução eengrandecimento humano.

    Somos, assim, atraídos pela questão: Qual o caminho a sertrilhado pelo líder no processo transformacional de si mesmo ede sua equipe?

     Aqui chegamos ao objetivo geral deste trabalho, como

    sendo a identicação de uma postura de Liderança, que primepela transformação holística, grupal e individual, baseada notripé: Signicação, Autogerenciamento e Autoconhecimento.

    Como objetivos especícos, poderíamos detalhar osseguintes tópicos:

    Conceituar e caracterizar a liderança;I.

     Apresentar modelos básicos utilizados através dosII.tempos, reforçando a sua linha evolucional;

    Diferenciar Líder e Gestor;III.

    Conceituar liderança como um estado dinâmico noIV.domínio espaço/tempo;

    Demonstrar a importância da signicação na V.motivação individual;

    Demonstrar a importância do autogerenciamento no VI.convívio das pessoas;

    Demonstrar a importância do autoconhecimento, VII.como identicação das limitações e potencialidades, tanto de sicomo dos outros.

    Cremos se explicar a escolha desse tema no diferencialque uma liderança adequada, sempre, apresentou em todos os

    aspectos da vida humana, tanto no âmbito prossional comono pessoal.

     Acreditamos, assim, que todo esforço, no sentido de lançarmais um pouco de luz em tão complexo como relevante tema,seria mais que plenamente justicável.

    De forma a atingirmos nosso intento, valemo-nos da Metodologia Bibliográca, Exploratória, baseando-nos em pesquisas em sites de instituições e organizaçõesespecializadas nesse assunto. Os artigos e publicações foramselecionados com base em autores renomados e consideradoscomo autoridades nesse assunto. Entre tais: Bernard Bass,

    Joseph Host, Maslow, Holander Fieder, Yukl, James C. Huntere Victor Frankl.

    REFERÊNCIAS

    BASS, Bernard M. Bass, Ruth Bass. The Bass handbookof leadership: theory, research, and managerial applications,1990.

    FIEDLER, F. (1967). A theory of leadership effectiveness.New York: McGraw-Hill

    PENNER, David S. Revisão Literária Sobre Liderança.2001. Disponível em . Acesso em 25 de agosto de2010.

    ROST, Joseph C. Leadership for the Twenty-First Century,1993.

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     As grandes transformações: sinais eindícios 

     A interação entre o ser humano e a Natureza vemde tempos imemoriais. A partir do momento em que oshomens romperam o elo original, que os ligava às forçasnaturais e às demais criaturas, destacando-se destas atravésdo intelecto, essa mesma interação passou a gerar umaimportante produção artística, literária, losóca, religiosae, mais recentemente, cientíca. Através da diversidadehumana, essa relação adquiriu, ao longo dos tempos e dascivilizações, aspectos muito diversos, que ora proporcionaramuma harmonia e proximidade, ora geraram alheamentoe até desarmonia, como é o caso de nossa civilização,essencialmente, urbana e industrial, completamentedivorciada da “Máquina do Mundo”, na cosmovisãorenascentista de Luís de Camões em Os Lusíadas. Assim fala adeusa Tétis a Vasco da Gama no alto de uma montanha da Ilhados Amores, para onde havia sido conduzido para contemplara harmonia universal:

    "Vês aqui a grande Máquina do Mundo,etérea e elemental, que fabricada

    assim foi do Saber, alto e profundo,

    que é sem princípio e meta limitada.Quem cerca em derredor este rotundo

     globo e sua superfície tão limada,é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,

    que a tanto o engenho humano não se estende".1

    Com efeito, segundo diversos estudos realizados

    nos últimos anos por comissões de especialistas criadaspela ONU, governos e entidades privadas para análisedas questões ambientais – onde a par das biológicas seencontram, também, as climáticas – o resgate de uma relaçãoequilibrada, harmoniosa, de toda atividade humana com aNatureza ou meio ambiente já não é opção: é uma necessidadee uma obrigação de todos, de modo a evitar ou, pelo menos,minimizar catástrofes ambientais e, inevitavelmente, sociais.Já a caminho da tão esperada Conferência Mundial das NaçõesUnidas Rio+20 (Junho 2012), todos os estudos realizadosdesde a conferência original revelam, de modo conclusivo, osdanos da ação humana sobre o meio ambiente perpetradosnas últimas décadas, numa escala que está se aproximando,perigosamente, do limite irreversível dos chamados serviçosnaturais.

    Será que nossa civilização, essencialmente, urbanase encontra tão afastada assim, da Natureza e de umarelação harmônica entre o ser humano e o meio ambiente?

    EUBIOSE: Consciência da Natureza eNatureza da Consciência“Os chacras em número de sete, como os astros ou planetas, como o espectro solar, etc.,

    não são mais do que “as forças sutis da natureza”. Para conhecê-los e manejá-los é preciso ser um Adepto.” 

    (Prof. Henrique José de Souza.)

    – questionarão alguns. O próprio termo “civilização” –originado do latino “civile”  (conjunto organizado de indivíduosou “cives”  vivendo sob leis comuns), agrupados normalmenteem uma “urbs”  (cidade) – fala, claramente, sobre essaperspectiva herdada da Antiguidade, que o Cristianismo, noOcidente, perpetuou até hoje: o centro conceitual do mundohumano não é a Natureza com o Homem dentro dela; pelo

    contrário situa-se num polo oposto dela, fora dela, um “Deusex machina”, mais com perl de imperador tirano, sentadonum trono urbano e isolado da realidade humana e natural porelevadas muralhas. Não é sem razão que Fernando Pessoa, emum de seus ensaios, sob o raro heterônimo “António Mora”,escreveu: “A Igreja Católica não deriva, não descende do Império Romano. A Igreja Católica é o Império Romano.”  2 

    Por outro lado, mesmo abstraindo as emissões nocivasde origem urbana e industrial e o acúmulo de lixo nos lugaresmais inesperados, existe algo que denuncia, desde logo, esseafastamento: o fato de se considerar, com toda a naturalidade,o ser humano por um lado, e a Natureza por outro, nãoserá revelador sobre o grau de fragmentação conceitual das

    sociedades ocidentais, em relação ao grande todo natural que,de algum modo, as envolve?

    Essa característica cultural, que, com toda anaturalidade, aliena o ser humano do meio ambiente paracentrar-se no confortável mundo urbano, encontra-sepresente diariamente, inconsciente e sutilmente em nossasatitudes. E ela determina as causas próximas e remotas doviés predatório de uma sociedade cunhada por um conceito de“desenvolvimento”, que devasta orestas inteiras, contaminaou aniquila ecossistemas, condena à extinção espécies naturaise injeta, diariamente, no ambiente, milhares de toneladas deprodutos sólidos, líquidos e gasosos, que a biologia naturalnão consegue degradar em tempo útil. Como é evidente,

    semelhante paradigma, também, não poupa o ser humano queo alimenta. E, entre competição feroz, envolvendo pessoase empresas, corrupção e degradantes falhas de caráter,tal mentalidade surge como uma das principais causas dodesequilíbrio psicossomático dos indivíduos e do conjunto de

     Alberto Vieira da Silva

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    perturbações, doenças eanomalias, que explodem nos consultórios clínicos de todasas especialidades. Já em “A neurastenia nas grandes cidades”,capítulo de uma coletânea de textos3, editada em 1949 pela,então, Sociedade Teosóca Brasileira, Henrique José de Souza,sob o heterônimo Laurentus, denunciava as patologias físicas

    e psíquicas das grandes cidades, apresentando como causas, justamente, o afastamento da Natureza e o desconhecimentode suas leis.

    Porém, nas cinzas desse divórcio secular entreas sociedades urbanas e a Natureza global, agudizado,particularmente, desde o nal do século dezoito – quandofoi iniciada a era industrial – parece existir uma esperança.Um pouco por todo lado no mundo, e, particularmente, noseio das próprias sociedades industriais, começa a estar emalta, nos dias de hoje, na aldeia global, todo um conjuntode preocupações e práticas mais ou menos ambientais enaturalistas, o que parece ser sinal de uma busca individuale coletiva por uma harmonia perdida. Ou, talvez, nunca

    encontrada desde os míticos tempos do paraíso terrenal – o paradiso, paradesha ou país supremo, etimologia sugeridapor René Guénon, em 1927 (“Le Roi du Monde”), consistentecom o avéstico pairi-daeza, como lugar murado, reservado,etc. Paraíso donde foram, simbolicamente, “expulsos” Adão eEva para adquirirem a sagacidade e a inteligência da Serpente(conquista da Mente no plano do concretismo). E para ondeserão reconduzidos, como Humanidade, já pela Inteligênciasuperior ou abstrata, búdica, ou a mesma “consciênciaimortal”, com a vitória sobre o materialismo ligado ao corpo eaos sentidos. Portanto, sobre a própria Morte, libertando-se dokármico ciclo dos nascimentos e mortes.

    Preservação ambiental, proteção a espécies em extinção,

    denúncia de maus tratos a animais domésticos e das brutaislinhas de produção de animais para abate; alimentaçãosaudável e balanceada, higiene do pensamento, vida ao arlivre; gestão ambiental das empresas, tecnologias “verdes”,engenharia ambiental, consumo de materiais naturais e novoshábitos de vida ou de pensamento; o sucesso mundial deautores como Fritjof Capra (O Tao da Física, Ponto de Mutação e A Teia da Vida, entre outros), de palestrantes como Al Gore,ou de lmes premiados como Uma Verdade Inconveniente(2006) deste último; o Avatar, de John Cameron (2009),com sua mensagem fortemente ecológica e naturalista; aforte comunicação e sensibilidade das animações de HayaoMiyazaki ou de Isao Takahata; o tempo crescente dedicadoa programas ambientais nos canais televisivos – entre

    muitíssimos mais são, apenas, alguns exemplos de todauma mudança cultural que está imprimindo sua inuênciaem adultos, jovens e crianças, e que alguns pesquisadores eeducadores, à falta de políticas públicas de educação nessesentido, já começam a transportar, inclusive, para as salas de

    aula e atividades extracurriculares.

     Apesar das tendências e transformações em curso,numa época que muitos já identicam com o renovador Ciclode Aquário, semelhante paraíso terrenal  não surge da noitepara o dia. Ainda existe um longo caminho a percorrer para

    o surgimento de cidades e de sociedades, ambientalmente,sustentáveis e, sobretudo, harmônicas, nas quais a maior partede seus habitantes seja ajustada emocionalmente e viva dentrode padrões éticos, consciente de sua integração harmoniosacom a totalidade da Natureza: a Natureza global ou integral,que possui sua parte visível e outra sutil, invisível aos olhosgrosseiros. O que, hoje, ainda, não é possível porque o serhumano vive sobretudo para o corpo e as explosivas emoçõesligadas a ele, certamente, fará parte de etapas evolucionais damônada.

    Semelhante movimento de rearmonização com aNatureza global – induzido parcialmente, mas, também,signicativamente, pelas preocupações ambientais –não signica, bem-entendido, um retorno às matas e aodesconforto de uma vida dura, primitiva e perigosa. Signica,na visão eubiótica, a conquista de um equilíbrio justo eperfeito entre ambientes naturais e ambientes que reitamo melhor da própria natureza humana, ou antes, de suaverdadeira identidade, que, segundo a Eubiose, é divinaem sua origem e em seu destino nal, o que pressupõe umarevisão conceitual de toda a nossa civilização e a inserção dereformas importantes em muitas práticas sociais, começandopela reforma das mentalidades – como encontramos,frequentemente, em Edgar Morin, por exemplo, em Os SeteSaberes para a Educação do Futuro  4 – ou, na perspectivada Eubiose, pelo interior do próprio ser humano, comopreconizou o Prof. Henrique José de Souza:

    O homem moderno, que criou para si tantosinstrumentos de conforto, não poderia mais volver ao seio das orestas como os seus ancestrais, vivendo primitivamente.Seria um retrocesso, e a EUBIOSE não preconiza retrocessos.O homem moderno criou uma literatura, possui teatros,cinemas, rádios, geladeiras, fogões elétricos, aviões, máquinasde lavar e passar roupa, telefone, automóveis,etc. Ser-lhe-iaimpossível prescindir de tudo isso. A nalidade da EUBIOSE étornar o homem feliz, integrando-o, harmoniosamente, nessacivilização, com um novo caráter impresso em sua mentalidade:viver procurando a felicidade alheia. É uma armação que, à primeira vista, parece um tanto utópica, considerando a posiçãoatual do homem em meio das suas próprias contradições

    internas e externas, que caracterizam o nosso ciclo e que sãoos frutos da nossa formação didática errônea, da perda daTradição, portanto, do meio social distorcido e, porque nãodizer, pervertido, em que vivemos. 5

    “A neurastenia nas grandes

    cidades”, capítulo de uma

    coletânea de textos3 ,

    editada em 1949 pela,

    então, Sociedade Teosóca

    Brasileira, Henrique José

    de Souza, sob o heterônimo

    Laurentus, denunciava

    as patologias sicas e

     psíquicas das grandescidades, apresentando

    como causas, justamente, o

    afastamento da Natureza e

    o desconhecimento de suas

    leis.

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    Consciência da Natureza e naturezada consciência

    Será que o ser humano constitui, efetivamente, umapartição completamente distinta da Natureza em geral,a ponto de se considerar uma criatura exógena a ela? Noentender de Edgar Morin, sistematiza