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rr III SEMANA DE PESQUISA E EXTENSÃO DA UEG UnU. MORRINHOS - 25 a 27 de outubro de 2011 DESVENDANDO AS PRÁTICAS AVALIATIVAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA NAS TURMAS DO ANO DO ENSINO MÉDIO EM ESCOLAS ESTADUAIS NA CIDADE DE CALDAS NOVAS CJANNA VIEIRA LOPES (UEG) 1 ([email protected]) MARIA FRANCISCA DA CUNHA (UEG) 2 ([email protected]) RESUMO Este trabalho teve como objetivo verificar como se desenvolvem os processos avaliativos em Matemática nas turmas do primeiro ano do Ensino Médio em quatro escolas estaduais de Caldas Novas. A coleta dos dados foi realizada por meio da aplicação de questionários a 87 alunos e 4 professores licenciados em Matemática, e de entrevista semi-estruturada apenas aos professores. Dessa maneira, com base nas respostas obtidas, foram feitos os levantamentos das categorias, assim distribuídas: Instrumentos com os quais os alunos são mais frequentemente avaliados; Melhoria na aprendizagem com a utilização de outros instrumentos de avaliação além da prova; Atitudes do professor após uma avaliação; Sentimento ao avaliar e Competência em avaliar; O professor que avalia bem é aquele que... ; e o Estado emocional dos alunos na aplicação da avaliação. Tais categorias nos ajudaram a compreender como as práticas avaliativas eram desempenhadas pelos professores e como eram vistas pelos seus respectivos alunos. Averiguamos o que os teóricos enfatizam sobre a avaliação, contrapondo teoria e prática.. Atualmente, não cabe mais realizar avaliações com o objetivo de mensurar, pois a universalização do acesso à escola trouxe a diversidade populacional para dentro da mesma. Deve-se, portanto, encontrar formas de avaliar nossos alunos que se desenvolveram em diferentes contextos culturais, com diversos tipos de acesso à informação e com níveis variados de desenvolvimento. Acreditamos que esta investigação poderá contribuir no campo de pesquisas educacionais devido à importância de se ter uma avaliação que seja formativa, providenciando os meios necessários à continuidade dos seus estudos. Palavras-chave: Avaliação. Ensino e Aprendizagem. Educação Matemática. 1 PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG 2 PBIC/UEG - Orientadora.

Desvendando as práticas avaliativas dos professores de matemática nas turmas do 1o ano do ensino médio em escolas estaduais na cidade de Caldas Novas

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DESVENDANDO AS PRÁTICAS AVALIATIVAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA NAS TURMAS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO EM ESCOLAS ESTADUAIS NA CIDADE DE CALDAS NOVAS

CJANNA VIEIRA LOPES (UEG)1

([email protected])

MARIA FRANCISCA DA CUNHA (UEG)2

([email protected])

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo verificar como se desenvolvem os processos avaliativos em Matemática

nas turmas do primeiro ano do Ensino Médio em quatro escolas estaduais de Caldas Novas. A coleta dos

dados foi realizada por meio da aplicação de questionários a 87 alunos e 4 professores licenciados em

Matemática, e de entrevista semi-estruturada apenas aos professores. Dessa maneira, com base nas

respostas obtidas, foram feitos os levantamentos das categorias, assim distribuídas: Instrumentos com os

quais os alunos são mais frequentemente avaliados; Melhoria na aprendizagem com a utilização de outros

instrumentos de avaliação além da prova; Atitudes do professor após uma avaliação; Sentimento ao avaliar e

Competência em avaliar; O professor que avalia bem é aquele que... ; e o Estado emocional dos alunos na

aplicação da avaliação. Tais categorias nos ajudaram a compreender como as práticas avaliativas eram

desempenhadas pelos professores e como eram vistas pelos seus respectivos alunos. Averiguamos o que os

teóricos enfatizam sobre a avaliação, contrapondo teoria e prática.. Atualmente, não cabe mais realizar

avaliações com o objetivo de mensurar, pois a universalização do acesso à escola trouxe a diversidade

populacional para dentro da mesma. Deve-se, portanto, encontrar formas de avaliar nossos alunos que se

desenvolveram em diferentes contextos culturais, com diversos tipos de acesso à informação e com níveis

variados de desenvolvimento. Acreditamos que esta investigação poderá contribuir no campo de

pesquisas educacionais devido à importância de se ter uma avaliação que seja formativa, providenciando

os meios necessários à continuidade dos seus estudos.

Palavras-chave: Avaliação. Ensino e Aprendizagem. Educação Matemática.

1 PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG

2 PBIC/UEG - Orientadora.

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INTRODUÇÃO

Sabemos que a avaliação das aprendizagens continua sendo um assunto polêmico nas

escolas e em outras instituições educacionais. Um dos principais motivos dessa polêmica

é a persistência histórica das formas de avaliação que, com raras exceções, permanecem

muito semelhantes às praticadas nos séculos passados, que consistiam numa avaliação

chamada “tradicional”. Esta se caracteriza por uma série limitada de perguntas e é

condicionada pelo tempo de duração da aula que se concede ao aluno para respondê-las.

Neste caso, a finalidade da avaliação era apenas para mensurar. Sabe-se que avaliar para

mensurar não é a mais adequada finalidade da avaliação, mas ela ainda é usada para tal

pelos professores que seguem a linha de ensino tradicional. Segundo Vasconcelos (1995),

um professor tradicional é aquele que privilegia o conteúdo, apenas transmitindo o

conhecimento e seu aluno deve assimilar o que é lhe transmitido. Esse professor avalia

com finalidade de mensurar, com intenção de quantificar o conhecimento, embora se

saiba que o saber é imensurável por ser abstrato e fruto de crescimento e experiências

individuais.

Atualmente, não cabe mais realizar avaliações com esse objetivo, pois a universalização

do acesso à escola trouxe a diversidade populacional para dentro da mesma. Deve-se,

portanto, encontrar formas de avaliar esses nossos alunos que se desenvolveram em

diferentes contextos culturais, com diversos tipos de acesso à informação e com níveis

variados de desenvolvimento. Assim, a avaliação da aprendizagem passa a ter novas

características. Segundo Méndez (2002, p. 25), “A avaliação é um processo natural, que

nos permite ter consciência do que fazemos, da qualidade do que fazemos e das

consequências que acarretam nossas ações”. Segundo Moretto (2007, p. 10), “Avaliar a

aprendizagem está profundamente relacionada com o processo de ensino e, portanto,

deve ser conduzido como mais um momento em que o aluno aprende”. E como nos

aponta Villas Boas (2008), estudiosos brasileiros tem defendido a substituição do

paradigma tradicional da avaliação baseada em aprovação/reprovação pelo paradigma

que busca a avaliação mediadora, emancipatória, dialógica, integradora, democrática,

participativa, cidadã: "todas essas designações fazem parte do que se entende como

avaliação formativa", afirma a pesquisadora. Por isso é tão importante que, antes de

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avaliar, o professor se pergunte: A serviço de que e a serviço de quem está sua avaliação?

A avaliação feita é de fato para efetivar o processo ensino e aprendizagem? Tentando

responder a essas perguntas, alguns teóricos explicitam para que serve a avaliação.

Dessa forma a problematização da pesquisa caracteriza-se por saber que a maioria dos

professores reprovam grande parte de seus alunos e continuam utilizando um único tipo

de instrumento avaliativo, apesar de saberem que a avaliação pode assumir diversas

formas e ser aplicada com variadas técnicas. O aluno é um ser social em contínuo

desenvolvimento, repleto de inteligências que podem ser múltiplas e avaliá-los apenas

com um instrumento é insuficiente.

Sendo assim, tal pesquisa se justifica, pois é importante saber se os professores utilizam

vários instrumentos de avaliação e se isso melhora a aprendizagem e o índice de

aprovação. Outro aspecto relevante é que embora esses professores saibam que avaliar

não é classificar, na prática os dois conceitos surgem inevitável e incomodamente

associados. Assim, é também importante saber se os professores, que tem clara a

distinção entre avaliar e classificar, efetivam melhor o processo ensino aprendizagem

com suas avaliações.

As questões a seguir nortearam o caminho da pesquisa e serviram de aporte para os

questionários: Que tipos de avaliações são elaboradas pelo professor? Quantas

avaliações são realizadas por bimestre? É possível mudar a prática de avaliação em sala

de aula, mesmo quando a escola ainda está centrada em práticas mensuráveis de

avaliação? Qual a diferença entre avaliar e classificar? O professor acha que a avaliação

faz parte do processo de ensino aprendizagem ou a considera fora do processo? Por quê?

Após uma avaliação escrita, o professor percebe que a grande maioria dos alunos saiu

mal, qual seria a postura diante desse problema? Qual a diferença entre exame e

avaliação? O que importa? Notas altas ou “alta qualidade de aprendizagem”? Por que

avaliar? O que se pretende avaliar nos alunos do 1º ano do ensino médio na disciplina de

Matemática? A que se atribui notas baixas nas provas de matemática? O que angústia o

professor ao avaliar seus alunos? Você se considera competente no ato de avaliar os

alunos? Como o aluno se sente frente ao processo de avaliação? Como é um professor

que avalia bem?

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Para responder estas questões, foi necessário conhecer o processo avaliativo desses

professores, os resultados de sua aplicação, e o que os alunos pensam sobre os métodos

de avaliação aos quais são submetidos. Para tanto, elegemos como objetivos da pesquisa.

Atualmente, não cabe mais realizar avaliações com o objetivo de mensurar, pois a

universalização do acesso à escola trouxe a diversidade populacional para dentro da

mesma. Deve-se, portanto, encontrar formas de avaliar nossos alunos que se

desenvolveram em diferentes contextos culturais, com diversos tipos de acesso à

informação e com níveis variados de desenvolvimento.

Acreditamos que esta investigação poderá contribuir no campo de pesquisas

educacionais devido à importância de se ter uma avaliação que seja formativa,

providenciando os meios necessários à continuidade dos seus estudos. No campo

teórico, a pesquisa poderá contribuir para professores que se interessam em conhecer o

assunto mais profundamente. Servindo como referência para futuras pesquisas.

GERAL

Analisar o processo de avaliação dos professores de matemática, nas turmas do primeiro

ano do ensino médio, das escolas estaduais, na cidade de Caldas Novas.

ESPECÍFICOS

1) Levantar dados sobre a prática avaliativa dos professores;

2) Detectar a percepção que os alunos têm diante das avaliações a que são submetidos;

3) Identificar os métodos mais utilizados nas práticas avaliativas na disciplina de

Matemática;

4) Perceber se a utilização de instrumentos variados de avaliação contribuem para a

aprendizagem e o aumento do índice de aprovação.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Definido o objetivo e o problema da pesquisa, torna-se necessário estabelecer quais as

abordagens e os procedimentos metodológicos utilizados. Optamos por uma abordagem

qualitativa e quantitativa a partir dos dados levantados na pesquisa de campo. Fizemos

opção por estas abordagens, por acreditar que elas nos permitiram analisar com maior

profundidade as práticas avaliativas dos professores de matemática e as respostas

obtidas no questionário aplicado aos alunos do primeiro ano do ensino médio nas

escolas estaduais

Na pesquisa de campo como afirma Barros e Lehfeld (2000, p.75) “o investigador na

pesquisa de campo assume o papel de observador e explorador, coletando diretamente

os dados no local (campo) em que se deram ou surgiram os fenômenos”. A pesquisa foi

executada no período de um semestre escolar, de agosto de 2010 a dezembro de 2010,

com professores licenciados que ministram aulas de Matemática na primeira série do

ensino médio e com seus alunos em quatro Colégios estaduais no município de Caldas

Novas. Apenas uma turma em cada Colégio foi selecionada para participar da pesquisa.

Assim distribuídas: Colégio S; Colégio D; Colégio C e Colégio N.

Iniciamos o trabalho com a pesquisa bibliográfica, para conhecermos os variados tipos

de avaliação em Educação Matemática, sob a ótica dos estudiosos do assunto.

Participaram da pesquisa, quatro professores de Matemática, licenciados, e atuantes em

turmas do primeiro ano do ensino médio dessas escolas, dois do sexo feminino e dois do

sexo masculino. Para a amostra dos alunos foram selecionados, aleatoriamente, 87

alunos, independentemente da faixa etária.

Para a construção do material empírico, foram aplicados questionários tanto aos

professores quanto aos alunos. As escolas participantes favoreceram a coleta de dados,

por intermédio dos preenchimentos de questionários por parte dos alunos regularmente

matriculados e dos professores regentes das turmas escolhidas.

Para a análise dos dados seguimos os seguintes passos: a) ordenação dos dados; b)

classificação dos dados; e c) análise final. Essa é uma proposta de interpretação

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qualitativa de dados, que aparece na obra de Minayo (1994), a qual consideramos

bastante adequada e, por isso a utilizamos nossa pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dessa maneira, com base nas respostas obtidas, foram feitos os levantamentos das

categorias, assim distribuídas:

1) INSTRUMENTOS COM OS QUAIS OS ALUNOS SÃO MAIS FREQUENTEMENTE

AVALIADOS

Embora o objetivo dessa pesquisa não fosse fazer uma confrontação entre o que dizem os

professores e os alunos, foi inevitável comparar os resultados nesta categoria.

A Figura1 ilustra os instrumentos pelos quais os alunos são mais frequentemente

avaliados.

Figura 1 – Instrumentos utilizados para avaliação – Opinião dos alunos

Instrumentos utilizados para a avaliação

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Colégio C Colégio S Colégio D Colégio N

Prova dissertativa

Participaçãoe em sala

Auto-avaliação

Seminário

Trabalho em grupo

Prova com consulta

Portifólio

Ficha de acompanhamento

Prova objetiva

Prova oral

Prova em dupla

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No caso do Colégio C, o professor afirma que utiliza, com mais frequência,

respectivamente, as seguintes modalidades: Participação dos alunos em sala; Prova

dissertativa; Auto-avaliação; Trabalho em grupo e Prova em dupla.

Não percebemos discordâncias entre o que o professor afirma e o indicado pelos alunos

somente em relação à participação dos alunos em sala e prova dissertativa.

No Colégio S, o professor afirma que utiliza, com mais frequência a observação da

participação dos alunos em sala. Faz uso também da prova dissertativa, o trabalho em

grupo, a prova com consulta e a prova em dupla. Neste Colégio, percebemos

discordâncias entre o que o professor afirma e o indicado pelos alunos em relação à

“prova dissertativa”. Como percebemos na Figura 1, os alunos do colégio S afirmam que

a prova dissertativa é mais utilizada do que o acompanhamento em sala. Nos demais

itens há concordância entre o que o professor afirma realizar e o que os alunos dizem

acontecer durante a avaliação a que são submetidos, principalmente no que diz respeito

ao trabalho em grupo e prova com consulta.

No Colégio D, o professor afirma que utiliza com mais frequência a observação da

participação em sala e seus alunos confirmam a utilização deste instrumento. Inclusive

se destaca como o único colégio a utilizar esse instrumento com maior frequência em

relação aos demais que utilizam a prova dissertativa. Outros instrumentos utilizados em

destaque pelo professor e corroborados por seus alunos como podemos ver na Figura 1,

são: a prova dissertativa, a prova com consulta e a prova objetiva.

No Colégio N, o professor afirma que utiliza com mais frequência quatro formas de

avaliação, indicando utilizá-las sempre em seu questionário: Prova dissertativa;

Observação da participação em sala; Trabalho em grupo e Portifólio.

Analisando a Figura 1, verificamos que os alunos discordam no que afirma o professor

em relação ao portifólio. Talvez isso aconteça por não conhecerem o aspecto cientifico

do que seja o portifólio. Acreditamos que os alunos considerem que o trabalho em dupla

realizado em sala possa a ser considerado item do portifólio, já que os alunos afirmam

que isso acontece e o professor diz utilizar poucas vezes desse instrumento.

De forma geral pudemos ver que em todos os Colégios, como esperávamos, a prova

dissertativa é o instrumento mais utilizado como forma de avaliação. Porém,

destacamos que a participação do aluno está, cada vez mais, sendo considerada como

avaliação sob as formas de observação da participação, trabalhos em grupo, fichas de

acompanhamento do desempenho global, provas em duplas e provas com consulta.

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2) UTILIZAÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO, ALÉM DA PROVA

ESCRITA

No questionário para perguntas abertas, perguntamos aos professores se ao utilizar

outros instrumentos de avaliação, além da prova escrita, ele nota melhoria no processo

ensino e aprendizagem dos alunos. As respostas foram às seguintes:

Professor do colégio S: “Sim, mas a aprendizagem não absorve ainda a grande maioria”. ()

Professor do colégio D: “As vezes”. ()

Professor do colégio N: “Muitas vezes”. ()

Professor do colégio C: “Não”. ()

Os professores foram unânimes em admitir que de fato utilizar outros instrumentos,

além da prova escrita, melhora o processo ensino e aprendizagem. Apenas o professor

do colégio C acredita que não, talvez se justifique pelo fato dele explicitar que a maioria

de seus alunos estão desinteressados para a aprendizagem.

Ao analisarmos os questionários dos alunos e dos professores, verificamos que outros

instrumentos avaliativos vêm, realmente, sendo utilizados. No entanto, a prova escrita

ainda é a forma mais frequente.

3) ATITUDES DO PROFESSOR APÓS UMA AVALIAÇÃO

No questionário do professor havia uma pergunta sobre o que ele costuma fazer após a

correção das provas e na entrevista perguntamos o que ele faria se a maioria dos alunos

saísse mal nas avaliações escritas.

Verificamos, por meio do questionário, que os professores dos Colégios N, D e S revêem

o conteúdo e agrupam os alunos, conforme os resultados, para revisão ou

aprofundamento de alguns tópicos. No Colégio D, o professor analisa com a turma as

possíveis deficiências na elaboração da prova e a partir daí elabora uma nova estratégia

de avaliação. Além disso, os professores dos Colégios S e C, baseados nos resultados de

suas avaliações, revêem as suas ações pedagógicas e didáticas em sala. Promovem assim

uma auto-avaliação dos trabalhos desenvolvidos.

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O professor do Colégio C foi o único que afirmou que procura ver o desempenho de seus

alunos em outras disciplinas para ver se os resultados foram satisfatórios ou não.

Os professores quando questionados a que se atribui notas baixas nas provas de

matemática? Responderam:

Professor do colégio C: “Deficiência em matemática básica, falta de interpretação e rotina de estudo extra-

classe por parte dos alunos”. ().

Professor do colégio D: “Falta de interesse dos alunos”. ().

Professor do colégio N: “Falta de empenho dos alunos e algumas vezes do professor”. ().

Professor do colégio S: “Aos pré-requisitos que os alunos não trazem para absorver novos conteúdos”. ().

Analisando essas respostas, podemos afirmar que se houver um resultado insatisfatório

na avaliação o problema deve ser detectado para que haja possíveis mudanças,

mostrando a preocupação não somente com o resultado da avaliação, mas com todo o

processo de aprendizagem. Concordamos com Méndez (2002) quando afirma:

Se fizermos da avaliação um exercício contínuo, não há razão para o fracasso,

pois sempre chegaremos a tempo para agir e intervir inteligentemente no

momento oportuno, quando o sujeito necessita de nossa orientação e de nossa

ajuda para evitar que qualquer falha detectada torne-se definitiva. (MÉNDEZ,

2002, p.17)

Dessa forma, se os alunos não têm pré-requisitos ou não chegaram ao ensino médio com

a bagagem correta para absorver novos conteúdos cabe ao professor elaborar

diversificadas atividades para preencher essas lacunas, favorecendo assim a

aprendizagem dos conteúdos da série.

4) SENTIMENTO AO AVALIAR E COMPETÊNCIA EM AVALIAR

Sobre como se sentem ao avaliar os alunos, os professores afirmaram:

Professor do colégio S: “Sinto-me às vezes despreparado porque nem sempre o retorno é bom”. ().

Professor do colégio N: “Tranquilo porque procuro ser justo”. ().

Professor do colégio C: “Frustração, desânimo, impotência pelas deficiências que alunos trazem”. ().

Professor do colégio D: “Desestimulada pela falta de compromisso dos alunos”. ().

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Ao questionamento se os professores se consideram competente no ato de avaliar, todos

responderam que sim. Alguns se sentem inseguro, utilizam diversas metodologias para

ensinar e avaliam continuamente seus alunos, oferecendo variados instrumentos para

avaliação. Outro professor disse que se sente competente, pois utiliza os aspectos da

avaliação (qualitativos).

Para Perrenoud (2000), “Competência é a capacidade do sujeito mobilizar recursos

(cognitivos) visando abordar uma situação complexa”. Segundo essa visão, entendemos

que um professor é competente ao avaliar a aprendizagem (situação complexa), quando

avalia as variadas competências dos alunos por meio de variados instrumentos (mobiliza

recursos cognitivos). Ainda para Moretto (2007, p. 29), um professor competente ao

avaliar é aquele que: percebe que o momento da prova pode ser um momento de estudo

e aprendizagem e nunca transformar esta oportunidade em vinganças ou cobranças;

sabe elaborar questões que estejam de acordo com os objetivos do pacto didático, nunca

se utilizando de “pegadinhas” para confundir e derrubar o aluno; sabe derrubar as

barreiras culturais mantidas através dos tempos em torno das provas; utiliza linguagem

clara e objetiva nos comandos de questões e tarefas; consegue criar um ambiente

tranqüilo e favorável ao controle das emoções, evitando que os alunos sejam

prejudicados por elas, não importando o tipo de avaliação.

Com isso, observa-se que essa competência está relacionada, também, à qualidade dos

instrumentos avaliativos. Perguntamos aos alunos se eles achavam as provas tecnicamente

bem elaboradas e adequadas à matéria dada. Dos 87 alunos pesquisados, 71% responderam

positivamente. Pelo menos na visão dos alunos o professor atinge essa competência.

5) O PROFESSOR QUE AVALIA BEM É AQUELE QUE...

Hoje em dia, discute-se muito sobre a avaliação na tentativa de encontrar sua melhor

definição. Para verificar o que significa avaliar bem, na concepção de alunos e

professores, elaboramos uma questão iniciada pela frase dessa categoria para que a

completassem.

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Para os professores, quem avalia bem é aquele que:

Professor do Colégio N: “Acompanha diariamente o rendimento do seu aluno”. ()

Professor do Colégio D: “Avalia continuamente”. ()

Professor do Colégio C: “Sabe observar o potencial do aluno e seu interesse”. ()

Professor do Colégio S: “Verifica se o seu aluno absorveu o conteúdo e assimilou bem o que lhe foi

ensinado.” ()

Para os alunos, as respostas foram variadas. Podemos agrupar as respostas dos alunos de

forma sucinta na Figura 2:

Figura 2 – Concepções dos alunos sobre avaliar bem

Destacamos, as de maior frequência, aquelas que relacionaram o professor que avalia

bem àquele que: explica bem; tem paciência e sabe respeitar os alunos; entende a forma

de resposta de cada aluno; dá revisão de conteúdo; olha o rendimento do aluno em sala;

faz provas bem elaboradas; observa o esforço do aluno para aprender; valoriza o

raciocínio dos alunos e não só apenas os cálculos; sabe ensinar, escuta o aluno,

ajudando-o nas dificuldades; se esforça e preocupa-se com o desenvolvimento global do

aluno; pergunta se o aluno está aprendendo e repete a explicação se for preciso; se

interessa pelo real aprendizado do aluno se seu real desempenho independentemente da

Concepções dos alunos sobre avaliar bem

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15 148

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10

20

30

40

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Concepções

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esp

osta

s..

Considerar as dif iculdades do aluno

Fazer acompanhamento

Interessar-se pelo aprendizado

Utilizar outros instrumentos

Ter equilíbrio ao avaliar

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nota tira na avaliação; explica, ensina, compreende e entende que o aluno não nasceu

sabendo por isso está na escola.

É interessante observar que as opiniões sobre o que é “avaliar bem” não destoam

daquelas de quem estuda o assunto.

Por exemplo, Luckesi afirma que “avaliar significa diagnosticar e intervir, o que quer

dizer praticar a investigação sobre o que está acontecendo, tendo em vista proceder

intervenções adequadas, sempre para a melhoria dos resultados.” (LUCKESI, 2005, p.8).

Freire entende a “avaliação como um processo em que o papel atribuído ao professor, na

relação com seu aluno, signifique a responsabilidade de provocá-lo e apoiá-lo para que

ele mesmo vença suas dificuldades.” (FREIRE 1996, p. 134).

Contrastando as afirmações dos autores citados anteriormente, verificamos que nem

todos os professores têm claro que a avaliação é um instrumento diagnóstico que

melhora o processo ensino e aprendizagem, e que a avaliação faz parte do processo de

ensino. Vemos que a maioria concorda que a avaliação é um processo contínuo, porém

não o praticam.

6) ESTADO EMOCIONAL DOS ALUNOS NA APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO

Uma das relações entre avaliar e ensinar é o fato do professor ter que administrar emoções

ao ensinar e criar ambiente favorável ao controle dessas emoções ao avaliar. Essa relação

foi o motivo do levantamento dessa categoria.

Os alunos responderam se ficavam tranquilos, preocupados, nervosos ou péssimos

durante as avaliações a que eram submetidos.

Nos Colégios C, N, S e S aqueles que dizem estudar independentemente de ter avaliação

sentem-se, na média, em condições emocionais melhores que aqueles que não estudam.

Isso nos garante afirmar que se sentir preparado para a avaliação traz segurança e

tranqüilidade para se fazer avaliação.

Porém, um fato nos parece contraditório, pois os alunos ao serem questionados se

estudam apenas para fazer prova, cerca de 70% dos mesmos disseram que não. Ao serem

questionados se estudam regularmente, independentemente de ter avaliação, a maioria

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também respondeu que não, cerca de 71%. Ou seja, os alunos que não estudam apenas

para prova deveriam responder que estudam independentemente de ter avaliação.

O estado emocional tranquilo dos alunos nos parece condizente com o que Moretto

(2007) nos definiu nas características de um professor competente ao avaliar: “consegue

criar um ambiente tranquilo e favorável ao controle das emoções, evitando que os

alunos sejam prejudicados por elas, não importando o tipo de avaliação”. Em nossa

avaliação, por meio dos questionários dos professores e alunos, consideramos que os

professores realmente propiciam esse ambiente tranquilo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as análises realizadas pudemos ver que em todos os Colégios, como esperávamos,

a prova dissertativa é o instrumento mais utilizado como forma de avaliação. Porém,

destacamos que a participação do aluno está, cada vez mais, sendo considerada como

avaliação sob as formas de observação da participação, trabalhos em grupo, fichas de

acompanhamento do desempenho global, provas em duplas e provas com consulta.

Traçamos um perfil de mais ou menos três tipos de professores avaliadores: aqueles que

se preocupam de fato com o processo que permeia a avaliação, fazendo revisão do

conteúdo quando seus alunos saem mal nas avaliações escritas; aqueles que se

preocupam com o aluno, importando-se com o seu desempenho e aprendizado; e

aqueles que se preocupam em mudar a estratégia de avaliação. Essas diferenças ficam

claras ao lermos a respostas dos professores a esta pergunta do questionário: Após uma

avaliação escrita, o professor percebe que a grande maioria dos alunos saiu mal, qual

seria a postura diante desse problema? Vale ressaltar que os professores que mais se

preocupam com a avaliação e que adotam instrumentos variados para tal são aqueles

que possuem menor carga horária de aulas e turmas menores. Isso mostra que o

interesse dos professores em avaliar bem, segundo as variadas teorias educacionais,

existe, mas que a operacionalização depende de dedicação do professor, o que fica

difícil com sua alta carga horária e turmas numerosas.

Dessa forma, defendemos toda a avaliação que ajude o aluno a aprender e a se

desenvolver, que participe da regulamentação das aprendizagens e do desenvolvimento

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no sentido de um projeto educativo. Uma avaliação que seja formativa, pois tem como

objetivo identificar e conhecer o que o aluno já aprendeu e o que ele ainda não aprendeu,

a fim de que se providenciem os meios necessários à continuidade dos seus estudos.

Sendo assim, acreditamos que a avaliação deva estar a serviço da aprendizagem.

E mais, acreditamos assim como Luckesi (2005, p. 39), “que a avaliação da aprendizagem,

por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva; diversa dos exames, que

são classificatórios, seletivos, excludentes”. Avaliar, então, um educando implica em

nosso entendimento, antes de qualquer coisa, conhecê-lo como ele é, com suas

limitações, dificuldades e capacidades, para então, a partir daí, decidir o que fazer.

Finalizando, observamos que os professores, apesar das barreiras encontradas, possuem

uma enorme força de vontade, no sentido que fazem do magistério uma opção, pois as

dificuldades são muitas. E, se mesmo assim, continuam neste oficio é porque possuem

sensibilidade e consciência crítica. Gadotti (2003) em seu livro Boniteza de um Sonho,

afirma que não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Na

verdade, consideramos esses colegas como educadores, pois pelo que percebemos,

fazem fluir o saber, tentando construir um sentido para a vida de seus alunos

adolescentes, com o intuito de buscarem juntos um mundo mais justo, mais produtivo e

mais humano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, A.J.P.; LEHFELD, N.A.S. Projeto de Pesquisa: propostas metodológicas. 16.

ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho. Ensinar e aprender com sentido. Novo

Hamburgo, RS: Ed. Feevale, 2003.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo, Cortez,

2005.

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MÉNDEZ, Juan Manuel Álvarez. Avaliar para conhecer, examinar para excluir.

Artmed. Brasil, 2002.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). et al. Pesquisa Social: teoria, método e

criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

MORETTO, Pedro Vasco. Prova – um momento privilegiado de estudo – não um

acerto de contas. Rido de Janeiro: DP&A, 2007.

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre.

Artmed, 2000.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Concepção Dialética-Libertadora do Processo

de Avaliação Escolar. São Paulo: Libertad, 1994.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Virando a escola do avesso por meio da

avaliação. Campinas, São Paulo: Papirus, 2008.