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design industrial e diversidade cultural: sintonia essencial
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PARTE 2 O DESIGN NOS SETORES
AUTOMOBILSTICO, MOVELEIRO E DE ELETRODOMSTICOS DO BRASIL
Todos os direitos reservados - Copyright Maristela Mitsuko Ono 2004
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FIGURA 1FIGURA 2FIGURA 3FIGURA 4FIGURA 5FIGURA 6FIGURA 7FIGURA 8FIGURA 9FIGURA 10FIGURA
11FIGURA 12FIGURA 13FIGURA 14FIGURA 15FIGURA 16FIGURA 17FIGURA 18FIGURA 19FIGURA 20FIGURA 21FIGURA 22FIGURA 23FIGURA 24FIGURA 25FIGURA 26FIGURA 27FIGURA 28FIGURA 29FIGURA 30FIGURA 31FIGURA 32FIGURA 33FIGURA 34FIGURA 35
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A segunda parte desta pesquisa traz a contextualizao do design nos setores automobilstico, moveleiro e de eletrodomsticos do Brasil.
O Captulo 5 apresenta a contextualizao histrica dos referidos setores no Brasil; o Captulo 6, as empresas pesquisadas e a situao da atividade de design nas mesmas; e o Captulo 7, o perfil dos entrevistados.
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Contextualizao histrica dos setores automobilstico, moveleiro e de eletrodomsticos do Brasil
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5 CONTEXTUALIZAO HISTRICA DOS SETORES AUTOMOBILSTICO, MOVELEIRO E DE ELETRODOMSTICOS DO BRASIL
Este captulo da pesquisa apresenta a contextualizao histrica dos setores industriais automobilstico, moveleiro e de eletrodomsticos no Brasil, com o objetivo de melhor fundamentar a discusso acerca da relao entre a diversidade cultural e o design industrial.
Esses trs setores tm percorrido trajetrias distintas entre si, alinhavadas, porm, pelas teias do desenvolvimento cultural, social, econmico e poltico do Brasil e outros pases do mundo, que, de algum modo, tm participado e influenciado a sua histria.
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CONTEXTUALIZAO HISTRICA DO SETOR AUTOMOBILSTICO DO BRASIL
O automvel tem afetado profundamente no somente o desenvolvimento econmico e as transformaes dos meios produtivos, mas tambm os modos de vida da sociedade, o meio ambiente e a configurao da arquitetura e dos espaos urbanos. Trata-se de um elemento emblemtico, que tem influenciado direta e indiretamente as atividades, as relaes e os referenciais culturais dos indivduos e grupos sociais.
O setor automobilstico tem assumido um papel de destaque no processo de desenvolvimento econmico do Brasil, como demonstra a trajetria histrica do pas.
Smbolo da poltica de industrializao do Brasil nos anos de 1950, o setor automobilstico atingiu mais de 10% de participao no PIB industrial na dcada de 1970, chegando a 14,5% em 1975. Nos anos de 1980, quando a economia do pas passou por uma recesso, a sua participao caiu para 8,1%, em 1981, mas recuperou-se, e, nos anos de 1990, a sua participao mdia foi de 11,2%, com um faturamento lquido de mais de 20 bilhes de dlares americanos em 2000 (ANFAVEA, 2002).
No Brasil, estima-se em torno de 8,6 habitantes por autoveculo, proporo que, embora ainda distante daquelas dos pases centrais, tais como Estados Unidos (com cerca de 1,3% habitantes por autoveculo), por exemplo, evidencia a relevncia do setor industrial automotivo no pas, que possui mais de 211 milhes de habitantes, e onde mais de 96% do transporte de passageiros e mais de 60% do transporte de cargas rodovirio.
O crescimento das vendas de autoveculos, que representam mais de 90% da indstria automotiva, tem sido bastante expressivo. Em 1957, foram vendidas 30.977 unidades de autoveculos; em 1969, 349.493 unidades; em 1979, 1.014.925 unidades; em 1989, 761.625 unidades; em 1999, 1.078.215 unidades (em 1997, foram vendidas 1.640.243 unidades); e, em 2001, 1.422.998 unidades.
Nas vendas internas de autoveculos nacionais, o segmento de automveis tem participao de cerca de 83%, o de comerciais leves (camionetas de uso misto, utilitrios e camionetas de carga) de 11%, e o de comerciais pesados (caminhes e nibus) de 6%.
No Brasil, os automveis tm figurado em primeiro lugar, em termos de participao nas vendas de bens industrializados. Em 1999, a participao nas vendas totais foi de 4,2%, incluindo-se modelos 1.000 e 3.000 cilindradas (IBGE, 1999).
Atualmente, das dez maiores empresas estrangeiras atuantes no Brasil, trs so do setor automobilstico, inclusive a maior delas, em termos de receita lquida anual: a Volkswagen.
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Em 2000, a produo mundial de autoveculos ultrapassou 58 milhes de unidades, sendo que a participao do Brasil foi de 2,9% do total, posicionando-se em dcimo segundo lugar entre os maiores produtores de veculos. Em 1999, a frota mundial atingiu em torno de 715.858 mil unidades, sendo que a participao do Brasil foi de cerca de 2,6%, posicionando-se em nono lugar entre os pases do mundo (ver Tabela 1).119
TABELA 1 - ESTIMATIVA DA PRODUO E FROTA MUNDIAL DE AUTOVECULOS PAS PRODUO (mil unidades) (ano: 2000) FROTA (mil unidades) (ano: 1999)
Estados Unidos 12.800 209.509
Japo 10.144 71.723
Alemanha 5.527 45.793
Frana 3.348 33.089
Coria do Sul 3.115 11.164
Espanha 3.033 20.636
Canad 2.964 25.645
China 2.069 13.190 (dado referente ao ano de 1981)
Mxico 1.935 14.850
Reino Unido 1.814 30.931
Itlia 1.738 35.485
Brasil 1.691 18.685 FONTE: Elaborado por Maristela M. Ono, a partir de dados de: ANFAVEA. Anurio Estatstico da Indstria
Automobilstica Brasileira = Statistical Yearbook of the Brazilian Automotive Industry - 2002, fev. 2002 Na Amrica do Sul, o Brasil tem se destacado como o maior mercado e produtor da indstria
automobilstica, representando mais de 76% da produo (ver Tabela 2).
119 A receita lquida da Volkswagen foi de R$10.200.000 mil, no ano de 2001, sendo superior a da maior empresa nacional, a
Petrleo Ipiranga, cuja receita, neste mesmo ano, foi de R$8,939.267 mil (GAZETA MERCANTIL, jun. 2002).
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TABELA 2 - DADOS DA INDSTRIA AUTOMOBILSTICA NA AMRICA DO SUL (ANO: 2000) PAS PRODUO
(unidades) VENDAS INTERNAS (unidades)
FROTA (mil unidades)
HABITANTES POR AUTOVECULO
Argentina 339.632 306.946 6.607 5,5
Brasil 1.691.240 1.489.481 19.310 8,6
Chile 19.216 108.755 2.036 7,4
Colmbia 49.883 38.798 43.091 23,4
Uruguai 14.944 17.755 625 5,3
Venezuela 126.249 145.306 2.439 9,7 FONTE: Elaborado por Maristela M. Ono, a partir de dados da ANFAVEA, 2002, op. cit. O primeiro automvel a circular no Brasil foi um Peugeot (com motor Daimler, de patente
alem), trazido da Frana por Henrique Santos Dumont (irmo de Alberto Santos Dumont), em 1891 (ANFAVEA, 1994).
Em 1904, foram importados os primeiros veculos da Ford. A pr-indstria120 automobilstica inseriu-se no Brasil a partir de 1907, com a Indstria de Carros
e Automveis Luiz Grassi, empresa nacional que iniciou suas atividades com a montagem de automveis Fiat. Em 1929, comeou a fabricar carrocerias de caminho para a Ford e a General Motors, e posteriormente passou a produzir tambm carrocerias de nibus (SILVA, 1991).
Em 1920, Henry Ford afirmou, em Os Princpios da Prosperidade, em um trecho em que refere ao Brasil, o seguinte:
Um pas s se desenvolve com a criao de meios de transporte e, embora em grande parte do Brasil s se possa utilizar o automvel durante seis meses - uma vez que, nos demais meses do ano, os caminhos se acham em to ms condies que nenhum carro consegue percorr-los - o automvel est destinado a fazer do Brasil uma grande nao (FORD, 1920 apud GATTS, 1981, p. 39). Apesar dessa idia e de sua inteno terem sido um tanto quanto parciais, pretensiosas e
questionveis, o fato que, a partir da dcada de 1920, promoveu-se intensivamente o transporte rodovirio no pas, atravs de aes polticas e propaganda - cujo lema, durante o governo de Washington Lus Pereira de Souza, por exemplo, foi: "governar construir estradas". Estas, por sua vez, exigiram a importao de veculos, mquinas, equipamentos, combustvel e, inclusive, de
120 Considera ainda aqui como "pr-indstria", e no como "indstria", na medida em que somente se fazia a montagem de
veculos, a partir de componentes importados, no sistema CKD.
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lubrificantes, para a sua implantao, contribuindo para aprofundar o processo de dependncia econmica e tecnolgica do Brasil, em relao a outros pases. (GATTS, 1981, p. 29)
A Ford, a General Motors e a International Harvester, empresas norte-americanas, foram as
primeiras montadoras multinacionais que se instalaram no pas, aps o final da Primeira Guerra Mundial, limitando-se, ao longo de mais de 20 anos, importao de veculos no sistema CKD, ou seja, de produtos que vinham completamente desmontados para serem montados nas respectivas unidades fabris. Esta abordagem seguia a estratgia de maximizao de ganhos de escala do modelo Fordista de produo em massa e o direcionamento expansionista das empresas norte-americanas no mundo.
A Ford Motor Company instalou-se no Brasil em 1919 (ver Figura 36). O primeiro automvel da Ford, montado no Brasil, foi o Modelo T. Anteriormente, o Modelo A da Ford j vinha sendo importado, desde 1904, e, em 1931, o mesmo passou a ser fabricado no pas, sendo depois substitudo pelo Ford V8.
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FIGURA 36 - PRIMEIRA FBRICA MONTADORA DA FORD DO BRASIL (SO PAULO/SP, 1921) ___________________________________________________________________________________________ Em 1925, instalou-se no Brasil a General Motors, denominada, inicialmente, de "Companhia
Geral de Motores S.A.", e que, posteriormente, mudou sua razo social para General Motors of Brazil S.A. (GMB). Iniciou a produo de veculos em 1927121, e, em 1932, lanou o primeiro nibus com carroceria fabricada no pas (ver Figura 37). Durante a Segunda Guerra Mundial, produziu veculos e material blico.
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121 Em 1927, a General Motors ultrapassou a Ford em vendas, nos Estados Unidos.
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FIGURA 37 - PRIMEIRO AUTOMVEL CHEVROLET MONTADO NO BRASIL (SO PAULO / SP, 1928) E
PRIMEIRO NIBUS COM CARROCERIA FABRICADA NO BRASIL, DA GENERAL MOTORS (SO PAULO / SP, 1932)
___________________________________________________________________________________________ Em 1926, instalou-se, no Brasil, a International Harvester Mquinas S.A., tambm de origem
norte-americana, como a Ford e a General Motors, iniciando suas atividades montando caminhes importados.
O governo de Getlio Vargas, iniciado em 1930, continuou a investir na estrutura rodoviria. O incio desta dcada foi marcado pela crise econmica que eclodiu em 1929, e as importaes despencaram no Brasil (de 58 mil veculos importados no ano de 1929, houve uma queda para menos de 2 mil).
Na dcada de 1930, alm do Ford V8 norte-americano, a Ford trouxe ao Brasil veculos produzidos na Europa, tais como: o Modelo Y e o Ford Anglia, da Inglaterra; e o Ford Eifel, da Alemanha. Vieram tambm os norte-americanos Mercury, que inicialmente foi importado e depois passou a ser fabricado no Brasil, e o Lincoln, automvel de luxo importado sob encomenda.
Em 1934, iniciou-se a importao de caminhes e automveis da Volvo. Somente durante a Segunda Mundial, foram impostas restries s importaes pelo governo
brasileiro, que adotou uma poltica de substituio de importaes, incluindo as de veculos e peas. E a reduo drstica da importao destes motivou empresas nacionais a comearem a produzir autopeas de montagem e reposio.
Na dcada de 1940, duas empresas de capital nacional iniciaram suas atividades como montadoras de veculos no Brasil: a Vemag (1945), e a Fbrica Nacional de Motores (FNM)122 (1940), sendo esta ltima uma empresa estatal.
122 Ao final de 1949, a FNM lanou os caminhes FNM-R-80. Apesar da fabricao dos mesmos ser nacional, a maioria das
peas ainda eram importadas. E, em 1951, a FNM assinou convnio com a Alfa Romeo para a produo de caminhes (GATTS, 1981).
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A FNM, que iniciou a fabricao de motores para avies e, por problemas tcnicos, logo se limitou a revis-los. Comeou, posteriormente, a fabricar caminhes licenciados da empresa italiana Isotta Fraschini, a qual acabou falindo, sendo substituda pela Alfa Romeu.
A partir de meados de 1941, a empresa Sabrico tornou-se representante da Chrysler, comercializando veculos da marca Dodge, importados dos Estados Unidos pela Brasmotor123, e, posteriormente, montados por esta atravs do sistema CKD (ver Figura 38).
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FIGURA 38 - INSTALAES DA FBRICA DA BRASMOTOR, COM AUTOMVEIS E CAMINHES DODGE
(SO PAULO/SP, DCADA DE 1940) ___________________________________________________________________________________________ Durante a segunda guerra mundial, em vista do racionamento de petrleo e conseqente falta
de gasolina como combustvel para os veculos, surgiu, como uma soluo alternativa no Brasil, um carro movido a gasognio, sistema que havia sido desenvolvido por dois engenheiros brasileiros, Francisco de Assis Figueiredo e Joo Hazek, em 1926. Tal sistema, no entanto, ficava exposto nos carros, em sua parte frontal ou posterior, comprometendo a sua aerodinmica, segurana e aparncia.
Logo aps o final da guerra, o governo brasileiro adotou uma poltica de liberalizao de importaes de veculos e peas. Porm, ao final dos anos de 1940 e incio da dcada de 1950, lanou novas medidas de proteo indstria nacional de bens de consumo durveis, incluindo-se a de
autopeas, limitando quantitativamente a importao das mesmas. Em 1946, foi institudo, pelo governo brasileiro, um plano nacional de viao que priorizou as
rodovias como vias de transporte de superfcie, e foi criado o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).
123 O Diretor Geral da Companhia Distribuidora Geral Brasmotor, fundada em 1945, em So Paulo, era, na ocasio, John P.
Schmieder, representante da Chrysler.
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A expanso da malha rodoviria e o incio das operaes da Companhia Nacional de Volta Redonda (1946 - ), que impulsionou a indstria mecnico-metalrgica no Brasil, foram fatores que promoveram o crescimento da frota de veculos no Brasil e a implantao da indstria automobilstica
(alm de outras paralelas) no pas. A dcada de 1950 foi marcada por uma grande expanso rodoviria, com a produo em larga
escala de automveis e caminhes. A Sabrico foi a primeira revendedora da Volkswagen no Brasil, tendo importado e
comercializando os primeiros automveis Volkswagen Sedan 1200 (Fusca) (ver Figura 39). ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 39 - LANAMENTO DO PRIMEIRO VOLKSWAGEN SEDAN 1200, IMPORTADO DA ALEMANHA E
COMERCIALIZADO PELA CONCESSIONRIA SABRICO (SO PAULO/SP, 1950) ___________________________________________________________________________________________ Em 1950, a Volkswagen comeou a montar o Volkswagen Sedan (Fusca), pelo sistema CKD,
a partir de componentes importados da Alemanha. Em 1951, durante o segundo governo de Getlio Vargas, foi criada a Comisso de
Desenvolvimento Industrial (CDI), que foi designada para desenvolver um estudo para implantar a indstria automobilstica no Brasil. A CDI124 coordenava, dentre outras subcomisses, a de Fabricao de Jipes, Tratores, Caminhes e Automveis, e, em 1952, conseguiu a aprovao do Presidente da Repblica para a implantao gradativa da indstria automobilstica no Brasil.
Ainda em 1951, a Mercedes Benz assumiu o compromisso de fabricar veculos comerciais no pas.
124 A Comisso de Desenvolvimento Industrial era ento presidida pelo Comandante Lcio Martins Meira.
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Em 1953, proibiu-se a importao de automveis j montados125, no intuito de promover a incorporao de componentes nacionais aos veculos, e, em 1954, determinou-se a incorporao de um conjunto de peas nacionais aos veculos importados.
Essas medidas protecionistas estimularam o crescimento da indstria nacional de autopeas, cuja participao, em meados da dcada de 1950, atingiu uma media de 30%.
Na dcada de 1950, acentuaram-se os esforos expansionistas das empresas tanto norte-americanas, quanto europias, levando instalao e ampliao de suas subsidirias no exterior.
Com a foco e penetrao das empresas norte-americanas na Europa, as montadoras europias passaram a direcionar seus investimentos nos mercados emergentes, sobretudo na Amrica
Latina.
No Brasil, foram implantadas subsidirias europias da Volkswagen (1953) (ver Figura 40) e Mercedes-Benz (1953), para a montagem de caminhes importados, e da Willys-Overland (1952), para a montagem de jipes.
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 40 - PRIMEIRA SEDE DA VOLKSWAGEN DO BRASIL (SO PAULO/SP, 1953) ___________________________________________________________________________________________
As empresas de origem europia, ainda no perodo anterior ao Plano de Metas Setoriais do governo de Juscelino Kubitschek, atingiram um nvel de participao superior ao das empresas norte-americanas no pas.
125 A Instruo no 70 da Superintendncia da Moeda e do Crdito (SUMOC), de outubro de 1953, estabeleceu normas para o
licenciamento de importaes, visando promover o desenvolvimento industrial com base em uma poltica de substituio de importaes. (VIGEVANI; VEIGA, 1997)
A importao somente voltou a ser reaberta na dcada de 1990, durante o governo de Fernando Collor de Mello.
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Em 1954, a Petrobrs iniciou suas atividades no Brasil, promovendo atitudes nacionalistas, a exemplo do lema O petrleo nosso (ANFAVEA, 1994).
Em 1956, durante o governo de Juscelino Kubitschek, adotou-se uma poltica de promoo da industrializao nacional pelo modelo de substituio de importaes. A partir do chamado Plano de Metas Setoriais, instauraram-se medidas cambiais e tarifrias, voltadas promoo da instalao, expanso e diversificao da indstria nacional, com especial enfoque no setor automobilstico, que figurava entre as indstrias de maiores efeitos multiplicadores.
Impulsionou-se, assim, decisivamente, a implantao da indstria automobilstica no Brasil. Criou-se, por decreto, nesse mesmo ano, o Grupo Executivo da Indstria Automobilstica (GEIA), "com poderes para examinar, aprovar e rejeitar os projetos industriais apresentados ao Governo e, bem assim, propor, ao Presidente da Repblica, Planos Nacionais Automobilsticos, relativos industrializao de cada tipo de veculo" (Do decreto no 39.568, de 16 de junho de 1956, citado por GATTS, 1981, op. cit., p. 199). Participavam deste grupo representantes da General Motors, Ford, Mercedes e Vemag, sendo esta ltima a nica empresa 100% nacional, dentre aquelas que pretendiam fabricar veculos no pas.
Alm do GEIA, instituram-se, em 1956, os Planos Nacionais da Indstria Automobilstica, referentes a caminhes, jipes, camionetas, caminhes leves e furges, cuja fabricao foi inicialmente estimulada126, e foi criada a Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores (ANFAVEA).
A Vemag127 - que havia se estabelecido com o objetivo inicial de montar e distribuir automveis e caminhes Studebakers, e que, posteriormente, passou a montar caminhes Kenworth, mquinas agrcolas Massey-Ferguson e Harris, e caminhes Scania-Vabis - produziu, em 1956, o primeiro veculo de fabricao nacional e aprovado pelo GEIA, a perua "DKW" (ver Figura 41), sob licena da Auto-Union alem. O DKW Vemag comeou a ser fabricado com um ndice de nacionalizao de peas de 60%.
126 Em 1957, foram vendidos 30.977 autoveculos, dos quais 18.063 eram caminhes e 8.306 eram jipes. 127 A Vemag denominava-se, originalmente, "Distribuidora de Automveis Studebaker". Em 1955, passou a chamar-se Vemag
S.A. - Veculos e Mquinas Agrcolas.
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FIGURA 41 - DETALHE DE PAINEL INTERNO E EXTERIOR DA PERUA DKW (1956) ___________________________________________________________________________________________ Alm deste modelo, a Vemag produziu o Sedan DKW Belcar, o Jipe Candango (derivado do
Munga128 alemo), o automvel de luxo DKW Fissore (modelo encomendado empresa italiana de mesmo nome, fabricante de carrocerias), e as peruas Vemaguet, Pracinha e Caiara.
Em 1956, foi aprovado pelo GEIA a fabricao da camioneta Volkswagen Kombi e, em 1957, do Volkswagen Sed 1200, que foram lanados, respectivamente, em 1957 e 1959 (ver Figura 42).
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 42 - PRIMEIRO VOLKSWAGEN KOMBI FABRICADO NO BRASIL COM NDICE DE
NACIONALIZAO DE PEAS (1957) E VOLKSWAGEN SED 1200 (1959) ___________________________________________________________________________________________ O ndice de nacionalizao de peas da Kombi era de 50%, em 1957, e o do Volkswagen Sed
1200, popularmente conhecido como "Fusca", era de 54%, em 1959, atingindo, em 1961, 95%.
128 Este nome uma abreviao do alemo Mehrzweck Universal Gelndewagen mit Allrandantrieb, que significa: veculo de
campo universal para uso mltiplo com trao em todas as rodas.
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A Mercedes Benz do Brasil S.A., que vinha se dedicando importao e comercializao de veculos produzidos pela matriz alem Daimler-Benz AG, iniciou, em 1956, a fabricao do primeiro caminho com ndice de nacionalizao de peas no Brasil, o L-312, conhecido como "Torpedo", com motor produzido pela empresa Sofunge129 (ver Figura 43).
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 43 - PRIMEIRA LINHA DE MONTAGEM DA MERCEDES BENZ DO BRASIL (1956) E CENA DE USO DO CAMINHO L-312 NO BRASIL (DCADA DE 1950)
___________________________________________________________________________________________ Este foi um marco importante na histria da indstria brasileira, ressaltado pelo ento
presidente Juscelino Kubitschek, que, a exemplo de seu discurso, proferido na ocasio da inaugurao da fbrica da Mercedes-Benz do Brasil S.A., quando afirmou O Brasil acordou!130, expressou a grande importncia dada pelo governo ao setor industrial automobilstico, no mbito do desenvolvimento da economia brasileira.
Neste mesmo ano, o GEIA aprovou o plano de nacionalizao para a fabricao de caminhes Chevrolet, pela General Motors do Brasil ver Figura 44).
Em 1957, a Ford lanou o F-600, primeiro caminho da empresa com ndice de nacionalizao (de 40%) e primeiro caminho com motor a gasolina do Brasil. Lanou tambm a picape F-100 (ver Figura 45).
129 Em 1955, a Sofunge fabricou o primeiro bloco para motor veicular fundido na Amrica Latina. Este motor destinou-se
Mercedes-Benz do Brasil S.A. 130 Disponvel em: . Acesso em: 01 abr. 2003.
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FIGURA 44 - CAMINHES CHEVROLET G7 100 DO EXRCITO BRASILEIRO (DCADA DE 1950) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 45 - FORD F-600 E FORD F-100 (1957) ___________________________________________________________________________________________ Ainda em 1957, estabeleceu-se a Scania Vabis do Brasil S.A. - Motores Diesel, com a
participao da AB - Scania Vabis e da Vemag (que montava e distribua caminhes Scania-Vabis no Brasil desde 1950). No incio, produzia somente motores, ficando a produo de veculos ao encargo da Vemag. E, a partir de 1960, quando a empresa transformou-se em Scania Vabis do Brasil S.A. - Veculos e Motores, passou a fabricar seus veculos (ver Figura 46).
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FIGURA 46 - SCANIA-VABIS DO BRASIL S.A. (DCADA DE 1960) ___________________________________________________________________________________________
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Em 1958, a Ford iniciou a fabricao do primeiro motor V8 brasileiro. Neste mesmo ano, com aprovao do GEIA, a International Harvester Mquinas S/A passou a
fabricar o caminho N-184, mas, em 1967, encerrou suas atividades, transferindo suas instalaes para a Chrysler do Brasil.
E a Mercedes-Benz do Brasil S.A. fabricou o primeiro nibus "monobloco" (de fabricao integral) no Brasil, denominado O-321 H (ver Figura 47), lanado em 1960.
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FIGURA 47 - NIBUS MERCEDEZ-BENS O-321 H E ANNCIO DE SEU LANAMENTO COMO PRIMEIRO
NIBUS DE FABRICAO INTEGRAL - MONOBLOCO - NO BRASIL (1960) ___________________________________________________________________________________________ Em 1959, a Toyota do Brasil S.A., fundada no Brasil em 1958, lanou no pas o Jipe Toyota
Bandeirantes (originalmente denominado de Toyota Land Cruiser), produzido, inicialmente, com um ndice de nacionalizao de 60% (ver Figura 48).
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FIGURA 48 - TOYOTA BANDEIRANTES (1959) ___________________________________________________________________________________________
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A Toyota, empresa japonesa que contribuiu decisivamente para a notvel mudana de paradigma que se deu no sistema produtivo na segunda metade do sculo XX e atualmente a terceira maior montadora do mundo, tem tido uma participao relativamente tmida no setor automobilstico do Brasil. Durante aproximadamente 40 anos, limitou-se produo do utilitrio Toyota Bandeirantes no pas. Passou a ampliar a sua participao no mercado brasileiro mais recentemente, com a comercializao do automvel Corolla.
Ao final dos anos de 1950, as fbricas da Volkswagen, Toyota e Ford fabricavam automveis e comerciais leves, e as da Mercedes Benz e Scania caminhes e nibus. A General Motors produzia comerciais leves, caminhes e nibus, e a Ford fabricava tambm caminhes. Neste perodo e durante as prximas dcadas, as montadoras concentraram-se, com alto grau de verticalizao, no Estado de So Paulo, na regio do ABCD131.
Em 1958, foi constituda a Simca do Brasil, a partir de uma associao entre a Cia. Siderrgica Nacional (CSN), um grupo de bancos do Estado de Minas Gerais, o Banco Francs e Brasileiro, e a SIMCA francesa. Esta ltima possua participao minoritria e, segundo Gatts (1981, p. 224), "concedia licena para a fabricao de seus modelos de carros de passageiros e toda a assistncia tcnica para a sua produo, de acordo com os planos aprovados pelo GEIA".
Em 1959, a Simca do Brasil lanou o automvel Simca Chambord, que era idntico ao francs Simca Vedette Chambord (ver Figura 49), e, posteriormente, lanou a primeira perua de luxo no pas, a Simca Jangada (denominada de Simca Marly, na Frana) (ver Figura 50), alm de outros modelos, todos de origem francesa. A empresa atuou durante um tempo relativamente curto no Brasil, sendo, em 1967, incorporada pela Chrysler, a qual manteve, durante algum tempo, a fabricao dos Simca Esplanada e Regente, mas os substituiu, em 1969, pelo norte-americano Dodge Dart.
A Willys Overland do Brasil foi fundada em 1952, a partir de uma associao entre brasileiros e o grupo norte-americano Kaiser, com participao acionria majoritria dos primeiros (70%). Iniciou suas atividades importando o Jeep da Kaiser, lanado em 1954, atingindo um ndice de nacionalizao de 80% em 1957 (ver Figura 51).
131 A regio do ABCD abrange as seguintes cidades: Santo Andr, So Bernardo do Campo, So Caetano e Diamantina.
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FIGURA 49 - SIMCA CHAMBORD (BRASIL, 1959), SIMCA VEDETTE CHAMBORD (FRANA, 1959) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 50 - SIMCA JANGADA (1962) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 51 - JEEP WILLYS (DCADA DE 1950) E GORDINI (1962) ___________________________________________________________________________________________ Os projetos da Willys Overland eram desenvolvidos pelo designer norte-americano Brook
Stevens, que passou a vir ao Brasil uma vez por ano, a partir de 1959, para acompanhar os projetos que comearam a ser desenvolvidos no pas (PIANCASTELLI, 2002).
A Willys Overland do Brasil foi a primeira empresa automobilstica a constituir uma rea de
design no pas, denominada, na poca, de Departamento de Estilo". Entretanto, a falta de profissionais com formao especfica em design levou a empresa contratao de pessoal de outras reas
relacionadas ao desenvolvimento de produtos, tais como de modelos, ferramentaria, etc., e
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contratao de vrios projetistas italianos, espanhis e norte-americanos. Mais tarde, passou-se a
contratar pessoas da rea de design, sobretudo dos Estados Unidos, conforme lembra Mrcio Lima Piancastelli (2001), que trabalhou como designer da empresa na poca.
Tais fatos, alm da produo de vrios veculos estrangeiros sob licena, evidenciam a forte insero e influncia do design estrangeiro no Brasil, na implantao do setor automobilstico no pas.
A Willys Overland do Brasil produziu, tambm, veculos sob licena da empresa francesa Renault. Em 1959, lanou os Renault Dauphine, e, na dcada de 1960, o Gordini (ver Figura 51) e o Renault 1.093132. Veculos "estrangeiros" como estes - no desenvolvidos para atender as necessidades especficas das realidades locais - apresentavam, com freqncia, problemas, tais como aqueles relacionados suspenso inadequada s condies das ruas e estradas brasileiras, que exigiam uma resistncia estrutural maior dos veculos. O Renault Dauphine e o Gordini, por exemplo, deixaram de ser fabricados no Brasil ainda na dcada de 1960, em parte por este motivo.
A Rural Willys foi chamada, no incio, de Perua Jeep. De origem norte-americana, comeou a ser fabricada no Brasil em 1956, importada e montada no sistema CKD (ver Figura 52). Em 1959, passou a ser fabricada com um ndice de nacionalizao de 50%, e, em 1960, atingiu um ndice de 100%, passando a ser denominada de Rural Jeep, e, mais tarde, simplesmente Rural. No incio da dcada de 1960, a Willys Overland do Brasil modificou a sua carroaria, a sua frente (seguindo a linha do Aero Willys 2600), o seu interior, as lanternas traseiras, as cores, os pra-brisas, o vidro traseiro, a suspenso, e, inclusive, a sua estrutura, que foi reforada para suportar as condies peculiares das rodovias do pas, alm de outros aspectos, que se diferenciaram do modelo norte-americano (ver Figura 53).
Com a aquisio da Willys Overland do Brasil pela Ford, a Rural passou a se denominar Ford Rural, que continuou a ser fabricada at 1977.
132 O Renault 1.093 evoluiu, posteriormente, para o Corcel, da Ford.
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FIGURA 52 - PERUA JEEP DA WILLYS OVERLAND E DETALHES, MOSTRANDO O PAINEL DE COMANDOS
E A LANTERNA TRASEIRA (1956-59) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 53 - RURAL WILLYS, DESENHO DA SUSPENSO INDEPENDENTE E DETALHES, MOSTRANDO O
PAINEL DE COMANDOS E A LANTERNA TRASEIRA (DCADA DE 1960) ___________________________________________________________________________________________
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Alm dos modelos j citados, a Willys Overland do Brasil produziu tambm o Aero Willys, a Pick-up Jeep, o Saci, o Interlagos e o Itamaraty, lanados na dcada de 1960.
Em 1960, o Aero Willys comeou a ser fabricado no Brasil, com um ndice de nacionalizao de peas de 40%, e, at 1962, manteve basicamente o mesmo design do automvel norte-americano Aero Angle, com pequenas alteraes (em cores, painel, calotas, rodas, frisos laterais, por exemplo) (ver Figura 54).
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FIGURA 54 - AERO WILLYS (1960 E 1962) ___________________________________________________________________________________________ Em 1961, a Willys Overland lanou o primeiro automvel esportivo de srie no Brasil, o
Interlagos, com mecnica do Dauphine e baseado no projeto francs do Renault Alpine. E, em 1962, apresentou, no Salo do Automvel, o prottipo do conversvel Saci (ver Figura 55).
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FIGURA 55 - INTERLAGOS (1961) E SACI (1962), DA WILLYS OVERLAND DO BRASIL ___________________________________________________________________________________________ Em 1963, o Aero Willys atingiu um ndice de nacionalizao de peas de 100% no Brasil, e, a
partir de estudos anteriormente realizados pela equipe norte-americana de Brook Stevens, sofreu
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modificaes significativas, internas e externas, desenvolvidas pela equipe da Willys Overland do
Brasil, sob a coordenao do Engenheiro Roberto Arajo. Uma das caractersticas do novo modelo foi o uso, no painel interno, da madeira de Jacarand do Brasil, que lhe conferiu uma certa diferenciao local (ver Figura 56).
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FIGURA 56 - MODELO TRIDIMENSIONAL DO AERO WILLYS 2600 (DCADA DE 1960) ____________________________________________________________________________ Em 1966, lanou-se uma verso redesenhada e mais sofisticada do Aero Willys, denominada
de Itamaraty, e outro modelo ainda mais luxuoso, o Itamaraty Executivo, que foi desenvolvido em parceria com a Karmann-Ghia (ver Figura 57).
No Brasil, o Itamaraty foi o primeiro carro de passeio a oferecer o equipamento de ar condicionado como opcional.
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FIGURA 57 - ITAMARATY E ITAMARATY EXECUTIVO (DCADA DE 1960) ___________________________________________________________________________________________ Em 1966, a Willys Overland do Brasil j somava uma variedade significativa de modelos, e, em
1967, detinha a maior linha de produtos no pas, com sete carros de passeio e dezenove verses de
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utilitrios (ver Figura 58). Em 1968, foi adquirida pela Ford Motors do Brasil, que passou a se chamar Ford-Willys at 1970.
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FIGURA 58 - LINHA DE VECULOS DA WILLYS OVERLAND DO BRASIL (1966) E LINHA DE VECULOS DA
WILLYS OVERLAND DO BRASIL (1967) NOTA: NO SE ENCONTRAM NESTA FOTO TODOS OS MODELOS DA EMPRESA, MAS APENAS
EXEMPLOS REPRESENTATIVOS ___________________________________________________________________________________________ A Volkswagen, diferentemente da Ford e General Motors - que inicialmente atuaram de forma
mais restrita no Brasil, concentrando-se, at meados da dcada de 1960, na produo em veculos utilitrios - aproveitou-se das condies oferecidas e produziu automveis de passageiros para o mercado brasileiro, em um contexto de pouqussima concorrncia, onde o Volkswagen Sed 1200 ("Fusca") foi o mais vendido desde 1962 at o final dos anos de 1970, consolidando-se como um marco notvel na histria do setor automobilstico do pas.
Em meados da dcada de 1960, criou-se, na Vemag, o Departamento de Estilo, com o apoio do Gerente de Fabricao de ento, Antonio de Pdua Prado Santos (apud ROCHA, 2002), "que defendeu que o melhor seria criar um setor especfico de Design" e de Ari Antonio da Rocha, estagirio na empresa. Rocha (2002) afirma que, a partir disso, foram desenvolvidas, por exemplo, novas cores, buscando-se a racionalizao de processos e a reduo do desperdcio no uso dos materiais; o banco da frente foi substitudo por dois lugares; e adotou-se um novo sistema de estofamento (com crina moldada e espuma) e um projeto que previa a inverso do sentido da abertura da porta, que abria no sentido contrrio, buscando-se, assim, uma melhor adequao ergonmica dos veculos 133
133 Rocha (2002) afirma que "a Vemag, nessa poca, fabricava um carro que tinha duas cores ("saia e blusa", como era
chamado na poca). A capota era pintada de uma cor (comumente branca), o corpo do carro de outra, alm do que o painel recebia uma terceira pintura, em preto fosco corrugado (para reduzir reflexos). O estofamento era muito duro, com molas, e sua cobertura era com um
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Tais aspectos evidenciam o interesse e o trabalho de designers brasileiros, voltados melhoria qualitativa de veculos produzidos no pas.
A FNM, por sua vez, comeou a diversificar mais a sua produo, incluindo a produo de tratores Fiat e o automvel de passeio "FNM 2000 - modelo JK" (ver Figura 59), licenciado pela Alfa Romeu.
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FIGURA 59 - EXTERIOR E DETALHES INTERNOS DO AUTOMVEL FNM 2000 JK (1960) ___________________________________________________________________________________________ Anncios publicitrios da poca promoviam a associao dos automveis com o status social e
a valorizao do veculo "moderno" e "internacional", como no caso do FNM 2000 JK (ver Figura 60). Beleza... nas linhas modernas com um toque de sbria distino... nos mnimos detalhes de acabamento... nas seis cores diferentes e de diversas tonalidades de estofamento. Elegncia de um carro de classe requintada, de classe internacional. A elegncia do interior... do painel de instrumentos... do assento dianteiro reclinvel. Realmente o FNM-2000, modelo JK um carro a parte, uma jia na mecnica e na apresentao - o mximo que v. pode desejar quando pensa em um automvel. Afinal, o FNM-2000, modelo JK um Alfa Romeu, lder mundial na fabricao de carros de classe.134
plstico liso, formando gomos no sentido do deslizamento. Era um banco nico, e, ento, quando se fazia a curva, o corpo ou deslizava e parava no meio do carro, ou ia contra a porta".
134 Texto de anncio publicitrio do automvel FNM-2000 JK, pela Fbrica Nacional de Motores S.A., 1960. [sem grifo no original]
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FIGURA 60 - ANNCIO PUBLICITRIO DO FNM 2000 JK (1960) ___________________________________________________________________________________________ O plano setorial voltado indstria automobilstica imps fortes restries s importaes,
obrigando as montadoras estrangeiras a atingirem, at o ms de julho de 1960, a produo de veculos com, no mnimo, 90% de peas nacionais, no caso de caminhes, e 95%, no caso de jipes (GATTS, 1981, p. 202).
Apesar do estmulo indstria de autopeas, a Vemag e a FNM no conseguiram atingir um volume de produo suficiente para suprir a demanda do mercado interno e foi incapaz de reduzir
significativamente a taxa de importaes de veculos.135 A idealizao da indstria automobilstica nacional esbarrou no relativo baixo nvel de
desenvolvimento tecnolgico do parque industrial brasileiro, cuja produo havia se limitado, at ento, produo de acessrios, baterias e velas de ignio, no abrangendo componentes mais complexos, tais como motores e peas estampadas, por exemplo.
135 Havia tambm, nesse perodo, carncia de indstrias brasileiras dedicadas exclusivamente fabricao de peas e
acessrios automobilsticos. Na dcada de 1950, havia, por exemplo, indstrias do setor automobilstico fabricando eletrodomsticos - como era o caso a General Motors, que produzia geladeiras Frigidaire - e indstrias provenientes do setor de eletrodomsticos fabricando acessrios para automveis - como era do caso da Walita Autopeas S.A. (pertencente ao grupo da Eletroindstria Walita S.A.), que fabricava motores de arranque, dnamos e motores para limpadores de pra-brisas, idnticos aos da empresa norte-americana Electric Auto-Lite Company, sob licena desta ltima.
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As limitaes da indstria nacional e as facilidades proporcionadas pelo governo s empresas
multinacionais e aos capitais estrangeiros em geral atraram vrios empreendimentos, com especial
destaque na indstria automobilstica.136 Em tal contexto, apesar da maioria das indstrias estrangeiras terem se adaptado s diretrizes
do programa econmico brasileiro, a supremacia, em termos de controle e propriedade das indstrias,
continuou nas mos das mesmas. Das onze empresas que iniciaram a fabricao de veculos no Brasil, somente trs eram controladas por capital nacional (Willys-Overland137, Vemag138 e FNM - Fbrica Nacional de Motores139). Das demais, seis eram estrangeiras (Ford, General Motors, International Harvester, Scania Vabis, Volkswagen e Toyota) e duas (Mercedes Benz e Simca) eram joint-ventures (GATTAS, 1981).
Vrias iniciativas de empreendimentos nacionais no se sustentaram por muito tempo, como foi o caso da Indstria Brasileira de Automveis Presidente (IBAP), criada em 1963 pelo empresrio Nelson Fernandes, com o objetivo de desenvolver um carro nacional, materializado, em 1967, no modelo Democrata. Deste, foram produzidas somente cinco unidades.
Como uma sociedade annima, cujo principal acionista era o governo, a FNM enfrentou srios problemas financeiros, administrativos e polticos140, e acabou sendo incorporada, em 1966, pela
empresa italiana Alfa Romeu, a qual, por sua vez, foi incorporada pela Fiat, tambm italiana, em 1976. Endividada e tambm prejudicada pela poltica governamental, que autorizara o uso de carros
de duas portas como txi, o que fez com que perdesse um importante mercado, a Vemag acabou se associando, em 1966, Volkswagen, que detinha o capital acionrio majoritrio e no deu continuidade
aos seus veculos. Em 1964, a General Motors do Brasil lanou o utilitrio Chevrolet Veraneio C-1416, e, em 1968,
lanou seu primeiro automvel de passeio no Brasil: o Chevrolet Opala 2500 (ver Figura 61), um veculo hbrido, com mecnica de origem da norte-americana Chevrolet e monobloco europeu da Opel
136 As polticas de industrializao adotadas pelo governo de Kubitschek foram acompanhadas por uma crescente penetrao
de capital estrangeiro. Silva observa que "empresas multinacionais que entraram em negcios de produo de veculos receberam emprstimos a longo prazo, com baixas taxas de juros, concesses de remessa de lucros e permisses para importar maquinaria e componentes" (1991, p. 79).
137 30% do capital da Willys Overland era estrangeiro, do grupo norte-americano Kaiser, e 70% restantes eram de brasileiros. 138 A Vemag foi criada em 1945, com capital 100% brasileiro. A partir de 1953, passou a ter participao acionria da
Volkswagen. 139 Empresa estatal brasileira, estabelecida em 1940, transformou-se em sociedade annima em 1948, mantendo-se o governo
com 99% de suas aes. 140 Por deciso governamental, no estava autorizada, por exemplo, a reajustar os preos de seus veculos de acordo com a
variao da inflao. (GATTAS, 1981, p. 220)
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(empresa de origem alem, adquirida pela General Motors em 1929), que permaneceu no mercado brasileiro at 1992.
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FIGURA 61 - CHEVROLET OPALA (1968) ___________________________________________________________________________________________ Em 1967, a Ford lanou o Galaxie 500 (ver Figura 62), um automvel direcionado classe
social de alto poder aquisitivo, praticamente igual ao Galaxie norte-americano, exceto no tipo de motor, que sofreu algumas alteraes. De grande porte e alto consumo de combustvel, deixou de ser produzido no Brasil aps 16 anos, com o advento da crise do petrleo.
O Galaxie LTD foi o primeiro veculo, no Brasil, com opo de transmisso automtica. ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 62 - FORD GALAXIE 500 (1967) ___________________________________________________________________________________________ Em 1968, a Volkswagen lanou o modelo 1600 (ver Figura 63), primeiro veculo quatro portas
fabricado pela empresa no Brasil. O mesmo, no entanto, no obteve o sucesso comercial esperado, em grande parte devido rejeio que o pblico consumidor brasileiro costumava ter, naquela poca, verso quatro portas para automvel de passeio. Trata-se de mais um exemplo que salienta a importncia do desenvolvimento de pesquisas de mercado e de produtos mais adequados aos
mercados locais.
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FIGURA 63 - VOLKSWAGEN 1600 (1968) ___________________________________________________________________________________________ Em 1969, a Volkswagen iniciou a produo da perua Variant, montada sobre a plataforma do
Sed 1600. Neste mesmo ano, a Chrysler do Brasil lanou o automvel Dodge Dart (ver Figura 64), cujo
design era de origem norte-americana. Similar aos Ford Galaxie, possua grandes dimenses e era pouco econmico em consumo de combustvel (mdia de consumo: 4 a 5 km/l).
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FIGURA 64 - DODGE DART (1970) ___________________________________________________________________________________________ Vrios outros modelos da linha norte-americana do Dodge foram lanados posteriormente, tais
como os Dart Sedan e Coup, os Charger LS, R/T e SE, o Magnum e o Le Baron, dentre outros, seguindo a linha de automveis de grande porte.
A indstria automobilstica organizou-se no mundo em oligoplios internacionalizados. Ao final da dcada de 1950, a produo mundial de veculos era amplamente dominada pela General Motors, Ford, Chrysler e Volkswagen, responsveis por cerca de 78% do total. E, ao final da dcada de 1960, as norte-americanas Ford, General Motors e Chrysler, as europias Volkswagen, Fiat e Renault, e as japonesas Toyota e Nissan detinham cerca de 85% da produo mundial (SILVA, 1991, p. 57).
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No Brasil, ao final de 1962, o posicionamento das indstrias, em termos de participao no mercado automobilstico brasileiro era o seguinte: 48% para a Volkswagen (com o "Fusca" e a Kombi); 26% para a Willys Overland (com o Gordini e o Daulphine); 16% para a Vemag (com os DKW); 9% para a Simca; e 1% para a FNM.
Cabe ressaltar a importncia de iniciativas de design automobilstico que emergiram no Brasil, como o caso do veculo urbano Aruanda (ver Figura 65), desenvolvido na dcada de 1960, pelo Arquiteto Ari Antonio da Rocha.
O Aruanda apresentou um conceito de veculo compacto e essencial, buscando uma alternativa de soluo para o agravamento do problema de trfego de veculos, presente, sobretudo, nas grandes cidades, em uma poca em que automveis de grandes dimenses transitavam pelas ruas e constituam-se referncias culturais para o pblico, apesar de serem pouco econmicos e prticos. A comparao dimensional do Aruanda, em relao a um Cadillac, por exemplo, evidencia essa mudana de paradigma.
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FIGURA 65 - ARUANDA E COMPARAO DE TAMANHO COM UM CADILLAC (1965) ___________________________________________________________________________________________ O Aruanda teve seu prottipo construdo pela Carrozzeria Fissore (Savigliano - Itlia), a convite
de seu proprietrio, Mario Fissore, e foi apresentado, em 1965, no 47o Salone Internazionale dell' Automobile de Turim, onde recebeu o Prmio de veculo mais inovador desta mostra, sendo divulgado em vrias publicaes nacionais e internacionais. Recebeu tambm o Prmio Lcio Meira de Design Automobilstico, em 1964, e causou impacto junto ao pblico em geral. Na realidade, "foi fora do seu tempo e no poderia ser um produto, porque aconteceu antes da hora em que o mercado estaria apto a absorv-lo", afirma Rocha (2002). Este argumenta que, em virtude disto, acabou no sendo bem compreendido e aproveitado na poca em que foi desenvolvido e apresentado.
Entretanto, segundo Rocha (2002), uma conhecida empresa italiana fez um carro para um grupo da Inglaterra, em 1967, "que era cpia do Aruanda". Este ato de plgio no pde ser contestado
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judicialmente, porque "o governo brasileiro no permitiu", alegando que "no tinham tratados de patentes" e que, assim, no se poderia entrar com um processo. Na realidade, Rocha j havia requerido patente do Aruanda no Brasil, mas este havia desaparecido, "extraviado" (2002).
De acordo com o mesmo, houve, posteriormente, "um intenso contato para construir o Aruanda na FNM", idia que obteve um forte apoio da presidncia desta empresa. No entanto, no havia interesse por parte de outras montadoras j instaladas no Brasil, e, alm disto, no houve apoio por parte do GEIA, que no aprovou o projeto do Aruanda para a sua construo. Esclarece, em relao a isso, que:
De fato, ele [- o Aruanda -] custaria a metade do menor preo e as pessoas certamente iriam preferir compr-lo em lugar de um carro usado. Como o que segurava as vendas era o mercado de usados, a Associao de Fabricantes (ANFAVEA) no emitiria um parecer favorvel (ROCHA, 2002). O ento presidente da ANFAVEA, Oscar Augusto de Camargo, assim lhe justificou, em uma
certa ocasio, o motivo do parecer contrrio da associao ao projeto do Aruanda: Um veculo como esse pode provocar o colapso das cidades, por causa do fenmeno da motorizao de massa, que o pas no est preparado para enfrentar. Por isso, o parecer da ANFAVEA contrrio (apud ROCHA, 2002).
Na verdade, "sempre houve uma justificativa meio etrea, encobrindo o problema real, econmico, que praticamente est na base de todas as questes", e mesmo empresas j estruturadas, tais como a Fiat e a Peugeot, foram impedidas de instalar-se no Brasil, neste perodo, porque "havia uma barreira para a entrada de novas empresas, e as que aqui j estavam se consideravam felizes com o domnio de mercado", conforme sustenta Rocha (2002).
Outro exemplo a ser destacado o projeto do veculo Itapuan (ver Figura 66), da autoria de Mrcio Lima Piancastelli, que recebeu o segundo141 Prmio Lcio Meira de Design Automobilstico, de 1963, e atravs do qual ganhou um estgio na empresa Ghia, em Turim, Itlia.
Retornando ao Brasil, Piancastelli trabalhou na Willys Overland e, a partir de 1967, na Volkswagen, onde, juntamente com outros designers da empresa, desempenhou um papel relevante para o desenvolvimento do design industrial no Brasil.
141 O primeiro prmio coube ao Projeto Cida, do uruguaio Carlos Henrique Luciardi.
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FIGURA 66- ILUSTRAES DO PROJETO DO AUTOMVEL ITAPUAN (1963) ___________________________________________________________________________________________ Conforme lembra Piancastelli (2002), ex-coordenador da rea de design da Volkswagen do
Brasil, na poca do primeiro presidente da Volkswagen do Brasil, Schultz Wenck, o desenvolvimento de design de veculos era um tabu na subsidiria local, e os estudos que ocasionalmente surgiam tinham
que ser feitos s escondidas, pois eram proibidos pela diretoria. No era permitido sequer utilizar cores nos desenhos, para no chamar a ateno.
Houve um episdio em um designer quase foi demitido da empresa, por conta de um estudo colorido desenvolvido pelo mesmo e que foi descoberto por um dos diretores que atuavam na poca. Acrescenta que, em 1968, no dia da vinda do novo presidente, Rudolph Leiding, os designers expuseram um desenho colorido na parede, que lhe foi apresentado e bastante apreciado pelo mesmo. Tanto que "o caminho mudou" para os designers brasileiros na empresa, relata Piancastelli (2002).
No perodo de 1968 a 1974, houve um crescimento acelerado da economia brasileira (conhecido como "milagre econmico"), o qual se refletiu tambm na indstria automotiva, que teve um crescimento expressivo142, sobretudo no segmento de automveis de passeio.
Em vista das polticas de crdito do governo, houve um aumento da demanda por automveis de passageiros e uma maior variedade de tipos ofertados, direcionados crescente segmentao de mercado e com vistas a estimular a troca de veculos pelos consumidores.
Entretanto, se, por outro lado, o desenvolvimento de automveis de passageiros foi privilegiado, os de transporte coletivo (tais como nibus, caminhes e trens) foram deixados em segundo plano, prejudicando a maioria da populao, sem condies ou com grandes dificuldades de acesso ao consumo de automveis143.
142 O PIB do Brasil cresceu em mdia 11,2% ao ano, e a indstria automotiva cresceu 22%. (SILVA, 1991, p. 82) 143 No incio da dcada de 1970, 80% dos automveis possudos no Brasil pertenciam classe de maior poder aquisitivo, que
representava cerca de 20% da populao. (SILVA, 1991, p. 86)
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A diversificao de produtos foi estimulada, no somente pela competio de mercado, mas
tambm pela poltica de remessa de lucros baseada no cdigo de importao de tecnologia, adotada
preferencialmente pelas multinacionais do setor automobilstico. Isto era feito atravs da introduo de
pequenas modificaes nos veculos, realizadas pelas prprias subsidirias locais, pelas matrizes ou
outras subsidirias estrangeiras, mediante pagamento de prestao de "servios tcnicos" referentes a
projetos, cujos custos, na realidade, j estavam pagos, uma vez que os modelos originais dos mesmos
j estavam sendo comercializados em pases desenvolvidos havia bastante tempo, conforme esclarece Silva (1991, p. 87).
Veculos como o Volkswagen 1600 e a Variant vieram da Alemanha, e foram feitas adaptaes,
para mudar a frente e alguns detalhes de interior, no Brasil, com o objetivo principal de "dar uma cara
para a famlia de carros", os quais "estavam perdendo a identidade", segundo Piancastelli (2002). A partir da Variant, foi desenvolvido o Volkswagen TL, cujo projeto original tambm veio da Alemanha. A parte frontal do TL foi modificada no Brasil, onde o carro foi lanado em 1970.
A experincia do desenvolvimento do TL no Brasil salienta as implicaes das desigualdades econmicas e da defasagem tecnolgica do pas, em relao Alemanha, nas solues dos produtos. Piancastelli (2002) menciona, por exemplo, que a frente do TL baseou-se na do Audi, mas no pode ser colocado um farol inteiro, como o deste ltimo, e sim dois j existentes, porque no houve condies de se fazer um farol novo no Brasil, "por ser muito caro e de difcil fabricao na poca".
Dois marcos importantes na histria do desenvolvimento do design industrial no Brasil foram
estabelecidos com os automveis Volkswagen SP2 e Braslia, cujo design foi totalmente desenvolvido no Brasil, no incio da dcada de 1970, pela equipe composta por Jos Vicente Novita Martins, George Yamashita Oba e Mrcio Lima Piancastelli, sob a coordenao deste ltimo (ver Figura 67).
O Volkswagen SP2 foi desenvolvido a partir da plataforma da Variant e lanado em 1972. Seu conceito partiu do ento presidente da Volkswagen do Brasil, Rudolph Leiding, o qual, segundo Piancastelli (2002), "queria um carro esportivo e disse que gostava muito do carro do Bertone, o Couvair Testudo, que tinha um motor traseiro como a Variant"
De acordo com Piancastelli (2002), o presidente da Volkswagen do Brasil lhes disse: "Eu gostaria de ter um Fusca mais moderno e mais amplo". Isto porque, segundo o mesmo, "o Fusca era muito fechado e, em seu interior, as pessoas se sentiam muito oclusas". O presidente expressou-se ainda da seguinte forma: "Eu quero um veculo meio quadrado, ao contrrio do Fusca, e que tenha uma rea envidraada muito grande; que a pessoa se sinta em uma sala de visitas".
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A partir desta solicitao, Marcio Lima Piancastelli e Jos Vicente Martins, designers da Volkswagen do Brasil, comearam a desenvolver os estudos da Braslia, inicialmente a partir da plataforma do Fusca, e, posteriormente, adotando a plataforma do Karmann-Ghia, que possibilitou ganhar mais espao na lateral do veculo (ver Figura 68).
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FIGURA 67 - AUTOMVEIS VOLKSWAGEN SP2 (1972) E BRASLIA (1973) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 68 - ESTUDOS DO VOLKSWAGEN BRASLIA, DESENVOLVIDOS A PARTIR DA PLATAFORMA DO
SEDAN 1200 (FUSCA) E DO KARMANN-GHIA (1970) ___________________________________________________________________________________________
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De acordo com Gerson Barone (2001), Gerente de Design da Volkswagen do Brasil, a Braslia foi desenvolvida com base em uma filosofia "de um carro barato, simples, de baixa manuteno,
econmico e com identidade", buscando-se adequ-lo famlia brasileira.
O Volkswagen Braslia, lanado em 1973, foi o automvel mais vendido no Brasil na dcada de
1970 e ultrapassou as vendas144 do Sedan 1200 (Fusca), tendo sido tambm exportado para outros pases. Este fato contribuiu sobremaneira para destacar a atuao de Rudolph Leiding - de quem partiu a viso estratgica e a solicitao do desenvolvimento tanto da Braslia, quanto do SP2 - e elev-lo posio de presidente mundial da Volkswagen.
A experincia de desenvolvimento deste veculo foi decisiva no curso das atividades de design
da Volkswagen do Brasil, mas no foi suficiente para emancipar completa e definitivamente o
desenvolvimento do design local.
Vrios estudos no concretizados de veculos foram desenvolvidos pela equipe de designers da Volkswagen do Brasil. O projeto de um txi, chamado Brucut (ver Figura 69), por exemplo, conquistou o 2o lugar do Prmio Lcio Meira de Design Automobilstico de 1966, e dois projetos, Batrack e Acampo, receberam menes honrosas no Prmio Lcio Meira de Design Automobilstico de 1972.145
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FIGURA 69 - ILUSTRAO DO PROJETO BRUCUT (1966) FONTE: DO ARQUIVO DE MRCIO LIMA PIANCASTELLI ___________________________________________________________________________________________
144 Foram vendidas 1.064.416 unidades do Volkswagen Braslia de 1973 a 1981. (VOLKSWAGEN. Catlogo da Volkswagen
Amrica do Sul. So Bernardo do Campo, nov. 1999) 145 O projeto do txi Brucut foi desenvolvido pela equipe composta por: Adolfo Carmona, Jos Maria Ramis e Mrcio Lima
Piancastelli. Os projetos Batrack e Acampo foram desenvolvidos pela equipe composta por: Camilo Vicente Machado, George Yamashita Oba, Jos Vicente Martins e Mrcio Lima Piancastelli (PIANCASTELLI, 2002).
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Exemplos como os citados salientam o potencial criativo e de desenvolvimento da indstria
nacional, que tem sido mal aproveitado no Brasil, e a necessidade de se promover o desenvolvimento e
a integrao do design local junto ao setor produtivo e sociedade, e a necessidade de um maior
interesse e apoio governamental146 para o desenvolvimento e implementao de projetos nacionais no
mbito industrial. Alm disso, salientam a necessidade de uma maior interao do Design com outras
reas como o Marketing e a Economia, por exemplo.
Os automveis esportivos Puma e Miura so tambm exemplos de iniciativas de produo de veculos nacionais. Em 1964, foi desenvolvido, por Genaro Rino Malzoni, um dos primeiros automveis esportivos no Brasil: o Malzoni GT (ver Figura 70), que possua chassi e mecnica DKW-Vemag e carroceria de fibra-de-vidro. Em 1966, a empresa Sociedade de Automoveis Luminari, fundada por Malzoni e outros trs scios, foi renomeada como Puma Veculos e Motores, que, mais tarde, passou a Puma Industria de Veculos S.A. A partir de 1968, os Puma passaram a utilizar a mecnica da Volkswagen e foram redesenhados. O Malzoni GT evoluiu para o Puma GT (ver Figura 70), redesenhado por Ansio Campos, piloto brasileiro de competies. Em 1970, o Puma GT 1500 foi apresentado em um salo de automveis internacional, e o Puma GTE, desenvolvido por Rino Malzoni. Em 1971, a empresa Puma j exportava automveis. Em 1974, a Puma lanou o GTB, e, em 1977, lanou-se o Miura (ver Figura 70), que possua mecnica Volkswagen e foi produzido pela empresa Aldo Auto Capas. Em 1984, a Puma interrompeu a sua produo, retomada posteriormente, em 1989, pela empresa Alfa Metais. E, finalmente, em 1991, os Miura deixaram de ser fabricados.
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FIGURA 70 - MALZONI GT (1964), PUMA GT (1969) E MIURA (1977) ___________________________________________________________________________________________ Cabe lembrar tambm outras experincias de design realizadas na dcada de 1960 no Brasil,
tais como a da empresa brasileira Brasinca S.A., que, em 1964, lanou o automvel Uirapuru 146 Cabe lembrar os casos do Japo e da Alemanha, que reestruturaram seu parque industrial aps a Segunda Guerra Mundial
graas, em grande parte, ao apoio do Estado, inclusive atravs de financiamentos, Outro exemplo o da Chrysler, que sobreviveu crise que sofreu, ao final da dcada de 1970, principalmente em vista da ajuda que recebeu do governo norte-americano.
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(denominado inicialmente Brasinca 4200 GT), desenvolvido por Rigoberto Soler Gisbert, bem como do veculo de competio DKW Carcar, desenvolvido por Ansio Campos, Rino Malzoni, Jorge Lettry e Norman Casari para a empresa DKW Vemag, em 1966, dentre outras.
Em 1969, a Ford lanou um automvel de pequeno porte, o Corcel (ver Figura 71), desenvolvido no Brasil, a partir de um modelo da Renault, inicialmente em uma verso com quatro portas e com um ndice de nacionalizao de peas de 97,24%.
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FIGURA 71 - FORD CORCEL SEDAN 4 PORTAS (1969) E ILUSTRAO (ILUSTRADOR: BRITO BRASIL,
1968) FONTES: FOTOS DO ARQUIVO DA FORD MOTOR COMPANY BRASIL LTDA: ___________________________________________________________________________________________ Na dcada de 1970, a Ford lanou o Corcel Belina, uma nova linha de caminhes da srie F e
F/FT, o Maverick, o Corcel II, a Belina II e a Pick-up F-1000 Diesel. Na dcada de 1970, a Ford lanou o Corcel Belina (ver Figura 72), uma nova linha de
caminhes da srie F e F/FT, o Maverick, o Corcel II, a Belina II e a Pick-up F-1000 Diesel. ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 72 - FORD CORCEL BELINA (1970) ___________________________________________________________________________________________
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Basicamente igual ao modelo norte-americano de 1970147, o Ford Maverick, lanado no Brasil em 1973, enquadrou-se no segmento de veculos de mdio porte, posicionando-se entre os Ford Galaxie (de grande porte) e Corcel (de pequeno porte) (ver Figura 73).
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FIGURA 73 - FORD MAVERICK (1973) ___________________________________________________________________________________________ O Maverick teve uma vida relativamente curta no Brasil (deixou de ser produzido em 1979,
cerca de cinco anos aps o seu lanamento) e ilustra o problema da falta de uma melhor adequao de modelos de veculos estrangeiros fabricados e comercializados no Brasil. As primeiras verses do Maverick apresentavam problemas tais como: tendncia ao travamento das rodas traseiras na frenagem; radiador subdimensionado para o clima tropical; alto consumo de combustvel; peso excessivo (cerca de 100 kg mais pesado que o Chevrolet Opala); espao traseiro apertado na verso de duas portas; verso quatro portas mal aceita no Brasil na poca.
Desenvolvido a partir da plataforma do Corcel, o Corcel II, lanado em 1978, atingiu recordes de venda e foi o maior sucesso comercial da Ford no Brasil (ver Figura 74).
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FIGURA 74 - FORD CORCEL II (1978-1979) ___________________________________________________________________________________________
147 O Maverick foi desenvolvido nos Estados Unidos a partir de meados da dcada de 1960, visando combater a concorrncia
europia e japonesa que se fortalecia nos Estados Unidos. Apesar de pequeno para os padres norte-americanos, era grande e pouco competitivo, comparativamente aos modelos compactos, de mecnica simples e econmicos, dos concorrentes europeus e japoneses.
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A partir de meados da dcada de 1970, a indstria automobilstica passou a sofrer grandes transformaes, acirradas pela crise do petrleo de 1973 e pelas inovaes nos modos gesto da produo, que conduziram a indstria automobilstica japonesa ao surpreendente desempenho no mercado internacional, inclusive norte-americano. Atravs da produo de veculos altamente competitivos, em termos de qualidade, preo e consumo de combustvel, o Japo atingiu a posio de lder mundial na produo de autoveculos, desbancando, pela primeira vez na histria, os Estados Unidos.
Diante da emergncia dos novos cenrios competitivos e das transformaes do mercado, as indstrias automobilsticas buscaram inovar em tecnologia e modelos de gesto organizacional e mercadolgica.
Em 1973, a General Motors do Brasil lanou seu primeiro carro pequeno no Brasil: o Chevette, uma verso renomeada do Kadett C, desenvolvido pela Opel, subsidiria alem da General Motors Corporation, e produzido em vrios pases do mundo (ver Figura 75).
O Chevette foi relativamente bem aceito no Brasil, chegando a liderar as vendas do segmento de automveis pequenos, em 1983, e sendo produzido durante 20 anos, at 1993.
Foi pioneiro na eliminao do quebra-vento no Brasil. Entretanto, por solicitao dos consumidores brasileiros, a General Motors o reincorporou no modelo de 1983, retirando-o, porm, neste mesmo ano, do Monza quatro portas.
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FIGURA 75 - OPEL KADETT E CHEVETTE (1973) ___________________________________________________________________________________________
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Em 1973, a Chrysler lanou o Dodge 1800, um automvel de pequeno porte, derivado do modelo ingls Hillman Avenger.
A Chrysler teve que fazer um investimento considervel para o desenvolvimento e fabricao do Dodge 1800, e, no modelo de 1974 (ver Figura 76) e em outros que o sucederam (ex.: Dodge Le Baron e Dodge Polara), buscou solucionar alguns dos problemas apresentados na verso anterior. No entanto, apesar de apresentar certas vantagens de preo e aparncia visual, em relao a modelos concorrentes, o mesmo continuou pouco econmico, em termos de consumo de combustvel, assim como os demais veculos produzidos pela empresa no Brasil.
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FIGURA 76 - DODGE 1800 SE (1974) ___________________________________________________________________________________________ Em 1979, foi lanado o primeiro carro do segmento mdio/pequeno com transmisso
automtica no Brasil: o Dodge Polara. A situao da Chrysler Corporation do Brasil agravou-se com a crise do petrleo, o que
contribuiu para que, no incio da dcada de 1980, a mesma fosse adquirida pela Volkswagen, que logo interrompeu a produo dos veculos Dodge.
Em 1974, a Gurgel desenvolveu o Itaipu (ver Figura 77), primeiro carro eltrico nacional. No se conseguiu, no entanto, viabiliz-lo no mercado.
Neste mesmo ano, a Volkswagen lanou o Passat, que inovou tecnologicamente, em relao aos modelos anteriores da empresa, trazendo, por exemplo, motor refrigerado a gua, enquanto que o do Fusca e da Braslia eram refrigerados a ar (ver Figura 78).
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FIGURA 77 - GURGEL ITAIPU (1974) ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 78 - VOLKSWAGEN PASSAT (1974) ___________________________________________________________________________________________
Em 1975, refletindo os efeitos da crise do petrleo e com o objetivo de criar uma fonte
alternativa de combustvel, o governo federal brasileiro instituiu um programa agrcola e industrial denominado Programa Nacional do lcool (PROLCOOL)148, que visava substituir a gasolina pelo lcool.
Em 1979, iniciou-se a produo de automveis movidos a lcool no Brasil, os quais, em 1985, atingiram o patamar de 96% das vendas deste segmento no pas. Esta condio, no entanto, no conseguiu se sustentar por muito tempo, e as vendas caram, sobretudo a partir de 1990, quando houve a retirada dos subsdios federais produo do lcool, e os veculos a lcool atingiram somente 0,1% do total de vendas em 1997 e 1998, com um pequeno aumento nos anos seguintes, chegando a 4% em 2002 (ANFAVEA, 2003).
148 Atravs do Decreto n.o 76.593, de 11 de novembro de 1975.
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Em 1976, o governo brasileiro instituiu uma lei que restringia fortemente as importaes, o que, por um lado, contribuiu muito para a acomodao das empresas atuantes no pas e para frear o desenvolvimento tecnolgico dos veculos produzidos pelas multinacionais que aqui atuavam, em relao aos modelos que comercializavam em seus pases de origem e em outros, onde a concorrncia exigia um maior investimento em desenvolvimento e melhoria da qualidade dos produtos. Por outro lado, o fato das multinacionais terem, em geral, adotado estratgias de menor risco, restringindo seus investimentos e concentrando-se nos segmentos de automveis de passeio e utilitrios mais simples, acabou deixando lacunas no mercado, e algumas empresas brasileiras puderam atuar em determinados nichos como o de automveis esportivos e utilitrios de usos mais especficos, em um contexto de mercado fechado. Este foi o caso, por exemplo, das empresas Santa Matilde (1975149-1997), Puma (1964-1987), Gurgel (1969-1995) e Engesa (1984-1993), dentre outras.
Em 1973, a empresa italiana Fiat entrou no mercado brasileiro, instalando, em 1976, uma fbrica na cidade de Betim, Estado de Minas Gerais, e competindo no segmento de carros pequenos, inicialmente com o modelo 147 (ver Figura 79).
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 79 - FIAT 147 (1976) ___________________________________________________________________________________________ A Volvo, empresa de origem sueca, que se instalou no Brasil, em 1934, e que importava
caminhes e automveis, criou a Volvo do Brasil Motores e Veculos, em 1977, na cidade de Curitiba, Estado do Paran. Em 1979, comeou a produzir chassis de nibus (modelo B58), e, em 1980, a fabricar caminhes.
Na dcada de 1980, atuavam no Brasil mais de dez empresas no setor automobilstico, e, com exceo de algumas empresas nacionais de pequeno porte (Agrale, Gurgel, Puma, dentre outras), todas as demais eram subsidirias de corporaes multinacionais de origem alem (Volkswagen e
149 A Santa Matilde j existia anteriormente, mas somente passou a atuar no setor automobilstico a partir de 1975.
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Mercedes Benz), norte-americana (General Motors, Ford e Chrysler), italiana (Fiat), sueca (Scania e Volvo) e japonesa (Toyota).
Cabe lembrar experincias importantes de desenvolvimento de veculos por empresas brasileiras na dcada de 1980, tais como, por exemplo: da Engesa Engenheiros Associados S.A., cuja equipe interna desenvolveu o Jipe Engesa, no incio da dcada de 1980; da CIA Industrial Santa Matilde, que, em 1982, lanou o automvel Santa Matilde, desenvolvido por Ana Ldia P. D. da Fonseca, e produzido artesanalmente com motor Chevrolet; da Dacon, que, em 1982, lanou o automvel Dacon 828 (ver Figura 80), tambm denominado de mini Dacon, desenvolvido por Ansio Campos e Paulo Goulart, e produzido com suspenso e conjunto mecnico da Volkswagen; da Gurgel Motores S.A., que, em 1988, lanou o Gurgel BR-800, automvel 100% brasileiro, desenvolvido por Joo Augusto Conrado do Amaral Gurgel; dentre outras.
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 80 - DACON 828 (1982) ___________________________________________________________________________________________ Das subsidirias de multinacionais que fabricavam automveis no Brasil, a Volkswagen, que
deteve mais da metade da participao no mercado antes de 1980, passou a perder parte do mesmo para outras companhias, com destaque para a General Motors, que aumentou expressivamente a sua participao, chegando a cerca de 25% em 1985. A Fiat, que teve a menor participao o mercado at meados de 1980, passou a obter um crescimento significativo a partir de ento, superando, em 1987, a Ford, que estava na terceira posio.
Alguns dos efeitos provocados pela crise econmica de 1981 foram: a intensificao das exportaes e o maior envolvimento das empresas automobilsticas com o mercado internacional. Houve investimentos em novos modelos, como, por exemplo: Volkswagen Gol (1980), Chevrolet Monza (1982), da General Motors, Ford Escort (1983) e Fiat Uno (1984); no redesign de modelos antigos; na ampliao das famlias de produtos; e na inovao dos processos produtivos, o que contribuiu para
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melhorar a competitividade dos produtos no exterior, sobretudo no mercado latino-americano (ver Figura 81).
O Fiat Uno, lanado no Brasil em 1984, dois anos aps seu lanamento na Europa, foi
desenvolvido pelo escritrio de design italiano Italdesign, de Giorgio Giugiaro. ___________________________________________________________________________________________
FIGURA 81 - VOLKSWAGEN GOL (1980); CHEVROLET MONZA (1982), FORD ESCORT(1983) E FIAT UNO
(1984) ___________________________________________________________________________________________ O Volkswagen Gol foi desenvolvido em conjunto pelas equipes alem e brasileira, na
Alemanha, em 1976, e lanado no Brasil em 1980. Em seguida, foi desenvolvida a famlia Gol, que incluiu o Voyage, tambm desenvolvido em conjunto com os alemes, e a Parati e a Saveiro, estas ltimas totalmente desenvolvidas no Brasil (ver Figura 82).
O exemplo do desenvolvimento do Gol, onde acabou prevalecendo, na forma da parte traseira, a proposta desenvolvida pelos alemes, apesar de ser menos espaosa que a soluo proposta pelos designers brasileiros, evidencia a forte influncia da questo poltica150 na relao entre matrizes e subsidirias de corporaes multinacionais, em decises referentes ao desenvolvimento de produtos.
O Gol foi o automvel mais vendido no Brasil, durante as dcadas de 1980, 1990 e, no incio do sculo XXI, ainda tem se destacado entre os automveis mais vendidos no pas.151
150 "Na verdade, foi tudo uma questo poltica", afirma Piancastelli (2002). 151 O Volkswagen Gol foi o automvel mais vendido no ano de 2003, perfazendo um total de 161.647 unidades (o Chevrolet Corsa, segundo
colocado, totalizou 105.317 unidades vendidas). (ANFAVEA, 2003)
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FIGURA 82 - FAMLIA VOLKSWAGEN: GOL, VOYAGE, SAVEIRO E PARATI (DCADA DE 1980) ___________________________________________________________________________________________ Em 1980, foi criada a Volkswagen Caminhes, que, em 1981, comeou a fabricar caminhes
de 11 e 13 toneladas. Em 1984, foi lanado o Monza quatro portas, que contribuiu para romper com o preconceito
que se costumava ter no Brasil, em relao aos automveis de quatro portas para passeio (os modelos de quatro portas eram geralmente associados ao uso para txis). Ele foi o carro mais vendido no pas entre 1984 e 1986 (ver Figura 83).
___________________________________________________________________________________________
FIGURA 83 - CHEVROLET MONZA CLASSIC SEDAN 4 PORTAS (1983) ___________________________________________________________________________________________ Refletindo uma certa melhoria qualitativa dos veculos produzidos no Brasil e contribuindo para
compensar a queda das vendas no mercado interno, as exportaes de veculos cresceram significativamente no pas, a partir de 1978. A Volkswagen, por exemplo, que j iniciara a exportao de motores para os Estados Unidos, alm de caixas de cmbio, em 1982, comeou a exportar
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