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Programa de Pós-Graduação Mestrado em Radioproteção e Dosimetria Instituto de Radioproteção e Dosimetria Comissão Nacional de Energia Nuclear André Luis de Carvalho Ribeiro DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO PARA REGISTRO E AVALIAÇÃO DE INCIDENTES EM RADIOTERAPIA Rio de Janeiro - RJ 2018

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Programa de Pós-Graduação

Mestrado em Radioproteção e Dosimetria

Instituto de Radioproteção e Dosimetria

Comissão Nacional de Energia Nuclear

André Luis de Carvalho Ribeiro

DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO PARA REGISTRO E AVALIAÇÃO DE INCIDENTES EM

RADIOTERAPIA

Rio de Janeiro - RJ 2018

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ANDRÉ LUIS DE CARVALHO RIBEIRO

DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO PARA REGISTRO E AVALIAÇÃO DE

INCIDENTES EM RADIOTERAPIA

Dissertação aprovada para obtenção do grau de

mestre pelo Programa de Pós-Graduação em

Radioproteção e Dosimetria do Instituto de

Radioproteção e Dosimetria – IRD/CNEN na área de

Física Médica.

Orientador:

Dr. Eduardo de Paiva

Coorientadora:

Dra. Flavia Cristina da Silva Teixeira

Rio de Janeiro

2018

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T

610.153

R484d

Ribeiro, André Luis de Carvalho

Desenvolvimento de um modelo para registro e avaliação de

incidentes em radioterapia / André Luis de Carvalho Ribeiro. Rio de

Janeiro: IRD, 2018.

XI, 80 f.: il.; tab.; 29,7 cm.

Orientador: Dr. Eduardo de Paiva

Coorientadora: Dra. Flavia Cristina da Silva Teixeira

Dissertação (Mestrado) - Instituto de Radioproteção e Dosimetria,

Rio de Janeiro, 2018.

Referências bibliográficas: f. 70-76

1. Física Médica 2. Radioterapia 3. Acidentes 4. Proteção do

Paciente 5. Gestão de qualidade I. Título

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i

À minha mãe, Dinalva de Carvalho Ribeiro, que me apoiou

integralmente e foi muito importante para que eu pudesse

me dedicar ao desenvolvimento deste trabalho.

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ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar a oportunidade de estar

convivendo com profissionais de enorme conhecimento teórico e técnico, que são

referências no Brasil e em todo o mundo.

Ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Radioproteção e Dosimetria -

IRD/CNEN, pelos conhecimentos técnico-científicos ministrados e todo suporte dado

ao longo do período de desenvolvimento deste trabalho.

Aos físicos médicos Helio Augusto Salmon Jr, Guilherme Rodrigues Bittencourt

e Thiago Bernardino da Silveira pelo apoio dado durante a aplicação deste trabalho.

Aos pesquisadores do IRD, Lídia Vasconcellos de Sá, Luiz Antônio Ribeiro da

Rosa e Nilseia Aparecida Barbosa, componentes da minha banca, pelas contribuições

em cada uma de suas respectivas especialidades, que tiveram importância ímpar para a

melhoria deste trabalho.

Aos amigos e colegas de trabalho, por todo apoio durante a primeira fase dessa

jornada.

À minha mãe Dinalva de Carvalho Ribeiro, minha prima Sueli Mesquita de

Carvalho e em especial a minha saudosa tia Rita Mesquita de Carvalho, que sempre me

apoiaram durante toda minha vida acadêmica, me ajudando de forma incondicional para

que eu pudesse dar continuidade ao meu crescimento intelectual e pessoal, tornando-se

as figuras principais nos bastidores de cada conquista e de cada passo que demos juntos.

Agradeço especialmente aos meus orientadores, Eduardo de Paiva e Flavia

Cristina da Silva Teixeira, pelos ensinamentos, incentivos, por toda a dedicação, carinho

e atenção dada durante toda esta jornada, sendo além de motivadores, os principais

colaboradores para o desenvolvimento deste trabalho.

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iii

"A persistência é o menor caminho do êxito."

(Charles Chaplin)

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iv

RESUMO

A radioterapia vem apresentando constantes aprimoramentos no decorrer dos

anos para se tornar cada vez mais eficaz, contribuindo, assim, para aumentar as chances

de cura dos pacientes. Neste sentido, a aprendizagem com incidentes ganhou grande

destaque durante sucessivas abordagens sobre a segurança do paciente, resultando na

criação de ferramentas voltadas para essa finalidade em alguns países. No Brasil, ainda

existem poucos estudos realizados sobre essa abordagem na radioterapia e, diante do

crescimento da oncologia no país e do aumento constante das estimativas do INCA,

biênio após biênio, foi enxergada a necessidade da criação de um sistema de registro e

aprendizagem com incidentes, a fim de promover melhorias no atendimento, eficácia no

tratamento e proporcionar aprimoramento dos profissionais, o que já contribuiria

diretamente para a diminuição dos incidentes. O objetivo geral deste trabalho foi o

desenvolvimento de uma ferramenta para registro e análise de incidentes que seja

voltada para a realidade do país e aplicá-la em instituições do Rio de Janeiro que

oferecem o serviço de radioterapia com o intuito de que, após sua aplicação teste, ser

possível comprovar sua importância na implementação da política de gestão da

qualidade e de cultura de segurança. Foram realizadas etapas que envolvem a análise

dos mapas de processo no tratamento para o enriquecimento do sistema (chamado de

Sistema Padronizado de Incidentes em Radioterapia - SPIRad). Durante a aplicação, foi

possível observar que as instituições selecionadas possuem alguns fatores em comum

que foram úteis para uma breve análise. Os usuários também aproveitaram registros

anteriores em livros de ocorrência para fazer testes no sistema, o que foi fundamental

para a realização de updates. Após a conclusão do desenvolvimento do SPIRad e

também de sua aplicação, a princípio, foi possível afirmar de acordo com a abordagem

do questionário eletrônico e análise dos resultados obtidos, que o SPIRad poderá ser de

grande utilidade no aprimoramento de protocolos de tratamento, assim como auxiliará

na política de gestão de qualidade e na cultura de segurança do paciente. Para que possa

ter um bom aproveitamento, é necessário que haja a participação e a prática em reportar

os incidentes, e compartilhar as experiências obtidas seja constante e abraçada por todo

o corpo profissional envolvido com o tratamento.

Palavras-chave: Radioterapia, acidentes, proteção do paciente, gestão de qualidade.

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v

ABSTRACT

Radiation therapy has been constantly improving over the years to become more

effective, thus contributing to increase the chances of healing patients. In this sense,

learning with incidents gained prominence during successive approaches on patient

safety, resulting in the creation of tools aimed for this purpose in some countries. In

Brazil, there are still few studies about this approach in radiotherapy and, given the

growth of oncology in the country and the constant increase of INCA estimates, after

biennium, the need to create a recording and learning system with incidents. In order to

promote improvements in care, efficacy in treatment and to provide professional

improvement, which would already contribute directly to the reduction of incidents. The

general objective of this work was the development of a tool for recording and

analyzing incidents that is geared to the reality of the country and applying it to

institutions in Rio de Janeiro that offer the radiotherapy service with the intention that,

after its application test, it is possible to prove its importance in the implementation of

quality management policy and safety culture. Stages were carried out involving the

analysis of the process maps in the treatment for the enrichment of the system (called

the Standardized System of Incidents in Radiotherapy - SPIRad). During the

application, it was possible to observe that the selected institutions have some factors in

common that were useful for a brief analysis. Users also took advantage of previous

logs in trial books to run system tests, which was critical for performing updates. After

the development of SPIRad and its application, it was possible to affirm, according to

the electronic questionnaire and analysis of the results obtained, that SPIRad could be of

great use in the improvement of treatment protocols, as well as will assist in the quality

management policy and patient safety culture. In order to be successful, it is necessary

to have participation and practice in reporting the incidents, and sharing the experiences

obtained is constant and embraced by the entire professional body involved with the

treatment.

Keywords: Radiotherapy, accidents, patient protection, quality management.

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vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Esquerda: plano de tratamento para 3DCRT (margem PTV de 2 cm).

Direito: plano de tratamento para IMRT de ângulo fixo (margem PTV de

5-7 mm). ..................................................................................................... 8

Figura 2 Lote de paleta de cores de isodose para IMRT (esquerda) e VMAT

(direita) com a exibição mínima de isodose ajustada para 5 Gy mostrando

o volume de tecido que recebe mais de 5 Gy ............................................. 9

Figura 3 Esquema simplificado de todas as etapas do processo de tratamento em

radioterapia. ............................................................................................. 10

Figura 4 Máscara termoplástica de imobilização num paciente para tratamentos de

cabeça e pescoço. ..................................................................................... 11

Figura 5 Tomógrafo utilizado para aquisição das imagens para planejamento em

RT ........................................................................................................... 11

Figura 6 (A) Ilustração esquemática dos limites dos volumes definidos pelo

Relatório 29 da ICRU: volume do alvo, volume do tratamento e volume

irradiado; (B) limites dos volumes definidos pelo Relatório 50 da ICRU:

GTV, CTV, PTV, volume tratado e volume irradiado; e (C) limites dos

volumes definidos pelo Relatório 62 da ICRU: GTV, CTV, volume de

alvo interno (ITC), PTV, volume tratado e volume irradiado ................. 13

Figura 7 Representação esquemática do modelo do queijo suíço, mostrando como

as defesas e barreiras podem ser penetradas por um perigo ocasionando

danos ........................................................................................................ 15

Figura 8 Campos de preenchimento para o resumo de incidentes no ROSIS ........ 21

Figura 9 Campos de preenchimento para o resumo de incidentes no ROSIS ........ 21

Figura 10 Campos de preenchimento para classificação do processo no ROSIS .... 22

Figura 11 Linha temporal do RO-ILS desde o relatório da IOM até sua

funcionalidade total (adaptado para o português pelo autor) ................ 23

Figura 12 Formulário inicial para submissão de um novo incidente no SAFRON .. 25

Figura 13 Lista de possíveis fatores resultantes do incidente a ser registrado ......... 25

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Figura 14 Tabela com barreiras de segurança a serem preenchidas no SAFRON ... 26

Figura 15 Primeiro modelo do formulário proposto para o sistema em papel ......... 30

Figura 16 Primeiro formulário equivalente ao resumo de incidentes do SPIRad .... 31

Figura 17 Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad com

os campos específicos ao tipo de tratamento utilizado ............................ 32

Figura 18 Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad com

campos referentes a técnicas de tratamento utilizadas e detalhamento de

equipamentos ........................................................................................... 33

Figura 19 Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad com

campos referentes as métricas de gravidade baseadas na terminologia do

Toward Safer Radiotherapy e American Consensus. .............................. 33

Figura 20 Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad

referentes aos campos dissertativos sobre o incidente ............................. 34

Figura 21 Terceiro formulário equivalente ao formulário de resposta do SPIRad .. 35

Figura 22 Últimos campos do formulário de resposta do SPIRad ........................... 35

Figura 23 Campos do formulário específico para near-misses do SPIRad .............. 36

Figura 24 Campos referentes a informações do tratamento no formulário para near-

misses do SPIRad ..................................................................................... 37

Figura 25 Campos dissertativos do formulário para near-misses do SPIRad .......... 37

Figura 26 Últimos campos do formulário para near-misses do SPIRad .................. 38

Figura 27 Grade de classificação descrita no Toward Safer Radiotherapy (adaptada

pelo autor) ................................................................................................ 39

Figura 28 Mapa de processos para tratamento de feixe externo (adaptado do

American consensus) com identificação dos pontos aonde foram

detectados os incidentes nas Instituições I e II ........................................ 47

Figura 29 Análise estatística referente aos fatores que contribuíram para a

ocorrência do incidente/near-miss nas Instituições I e II ......................... 48

Figura 30 Mapa de processos para tratamento de feixe externo (adaptado do

American consensus) com identificação dos pontos onde atuam algumas

barreiras de segurança nas duas Instituições ............................................ 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Definições de incidentes e taxas de registro de algumas publicações na

área da radioterapia .................................................................................... 6

Tabela 2 Fatores críticos de sucesso para a implementação de um Sistema de

Aprendizagem de Incidentes em Radioterapia de acordo com citações em

publicações na área .................................................................................. 27

Tabela 3 Algumas definições que constam na publicação do American Consensus

(adaptada pelo autor)................................................................................ 40

Tabela 4 Escala de gravidade dosimétrica de acordo com a publicação do

American Consensus (adaptado pelo autor). ............................................ 41

Tabela 5 Escala de gravidade médica de acordo com a publicação do American

Consensus (Adaptado pelo autor). ........................................................... 41

Tabela 6 Composição das equipes de radioterapia das Instituições I e II............... 42

Tabela 7 Relação dos fatores críticos de sucesso para a implementação do SPIRad

identificados nas Instituições I e II. ......................................................... 43

Tabela 8 Distribuição de frequência das barreiras de segurança relatadas nos

registros coletados. ................................................................................... 52

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ABREVIATURAS E SIGLAS

AAPM Americam Association of Physicists in Medicine

AMSP Aliança Mundial para a Segurança do Paciente

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ASTRO American Society for Radiation Oncology

BATD Braquiterapia de alta taxa de dose

BBTD Braquiterapia de baixa taxa de dose

BMTD Braquiterapia de média taxa de dose

CAST Commercial Aviation Safety Team

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

CTV Clinical Target Volume

ESTRO European Society for Radiotherapy & Oncology

EUA Estados Unidos da América

GTV Gross Tumor Volume

HDR High dose rate

IAEA International Atomic Energy Agency

ICRP International Commission on Radiological Protection

ICRU International Commission on Radiation Units and Measurements

IGRT Radioterapia Guiada por Imagem

IMRT Intensity Modulated Radiation Terapy

INCA Instituto Nacional de Câncer

IOM Institute of Medicine

IRD Instituto de Radioproteção e Dosimetria

LDR Low dose rate

MDR Medium dose rate

OAR Organ At Risk

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x

OMS Organização Mundial de Saúde

PET Tomografia por Emissão de Pósitron

PNSP Programa Nacional de Segurança do Paciente

PRV Planning Organ at Risk

PTV Planning Target Volume

RM Ressonância Magnética

ROSIS Radiation Oncology Safety Information System

ROSEIS Radiation Oncology Safety Education Information System

RO-ILS Radiation Oncology Incident Learning System

SAFRON Safety in Radiation Oncology

SGQ Sistema de Gestão da Qualidade

SPECT Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único

SPIRad Sistema Padronizado de Incidentes em Radioterapia

SUS Sistema Único de Saúde

TC Tomografia Computadorizada

VMAT Arcoterapia Volumétrica Modulada

WGPE Workgroup on the Prevention of Errors

3DCRT Radioterapia Conformacional 3D

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xi

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.1 Definição do Problema ..................................................................................... 3

1.2 Objetivo ............................................................................................................ 4

1.3 Objetivos Específicos ........................................................................................ 4

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ..................................................................... 5

2.1 Qualidade e segurança na radioterapia.............................................................. 5

2.2 Radioterapia ...................................................................................................... 7

2.3 Processos e etapas do tratamento ...................................................................... 9

2.4 Aprendizagem com incidentes ........................................................................ 14

2.5 Ferramentas de registro e aprendizagem com incidentes pelo mundo............ 18

2.6 Desafios na implementação da aprendizagem com incidentes ....................... 26

3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 29

3.1 Desenvolvimento da ferramenta digital .......................................................... 29

3.2 Escalas métricas de gravidade ........................................................................ 38

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................ 42

4.1 Métodos de aplicação do SPIRad ................................................................... 42

4.2 Avaliação dos resultados ................................................................................. 43

5. CONCLUSÕES ............................................................................................. 54

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 56

ANEXO I – Formulário digital do SPIRad .................................................... 63

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1. INTRODUÇÃO

A radioterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza radiação ionizante, tem

evoluído constantemente com o passar do tempo e, juntamente com outras modalidades

terapêuticas, desempenha papel importante no tratamento de 40% dos pacientes que se

curam do câncer, sendo que pelo menos 52% dos pacientes oncológicos realizam a

radioterapia em algum estágio do seu tratamento [1, 2].

As estimativas de novos casos de câncer no Brasil crescem a cada ano;

informações sobre a ocorrência de câncer e seu desfecho são requisitos essenciais para

programas nacionais e regionais para controle da doença [3]. De acordo com as

estimativas mundiais do projeto GLOBOCAN 2012, da Agência Internacional para

Pesquisa em Câncer, vinculada a Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorreram

14,1 milhões de casos novos de câncer e 8,2 milhões de óbitos em 2012. Em 2030 são

estimados 27 milhões de casos de câncer, sendo a maior ocorrência desse número

expressivo de casos em países de baixa e média renda [4, 5].

No Brasil, segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA)[6],

estima-se a ocorrência de 600 mil novos casos de câncer (para cada ano) para o biênio

2018/2019, tornando-se incontestável o fato de que o câncer é um problema de saúde

pública e, sendo assim, seu controle e prevenção devem ser priorizados. Porém, mesmo

com avanços tecnológicos na radioterapia, muito ainda precisa ser feito para garantir o

sucesso no tratamento. Em destaque estão os aspectos relativos à segurança, devido à

característica multidisciplinar das várias etapas do processo de tratamento radioterápico

e, ainda, da complexidade dos equipamentos envolvidos [7, 8].

Desde a década de 90, foi desenvolvida uma maior consciência dos riscos no

tratamento em radioterapia, especialmente os riscos que podem ser minimizados ou

evitados [9]. Segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde, a radioterapia é

conhecida por ser uma das áreas mais seguras da medicina moderna, mas para alguns,

este tratamento pode trazer danos, provocar uma tragédia pessoal e até mesmo levar a

óbito alguns pacientes [10]. Então, ao longo dos últimos anos, foram tomadas iniciativas

com o intuito de melhorar a segurança do paciente através de várias sessões e

conferências em reuniões dedicadas a este tema [11, 12].

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2

Após muitas abordagens para debater melhorias na segurança do paciente e na

qualidade do tratamento, foi reconhecido que a aprendizagem com os incidentes tem um

papel fundamental neste tema, dando início a um estudo em junho de 2010 pela

American Association of Physicists in Medicine (AAPM) para promover o

desenvolvimento e a utilização de sistemas de aprendizagem com incidentes em

radioterapia. A aprendizagem com incidentes refere-se a todo ciclo de feedbacks de

relatos e, em seguida, análise e desenvolvimento de intervenções para evitar que o

mesmo volte a acontecer. Um sistema de disciplina específica é importante para a

radioterapia devido à complexidade dos processos envolvidos e à necessidade de

orientar o usuário na coleta de informações importantes [13].

Em indústrias de alta confiabilidade, tais como aviação e usinas nucleares, a

prática da aprendizagem com incidentes é uma das principais abordagens utilizadas para

a melhoria da qualidade e segurança. Por exemplo, a abordagem da Equipe de

Segurança da Aviação Comercial (CAST) ao realizar investigações sistemáticas de

acidentes aéreos e near-misses (quase erros) reduziu em 73% o risco de acidentes em 10

anos [13, 14].

Em acidentes ocorridos em radioterapia, os efeitos colaterais são usualmente

menores, transientes e de maior frequência, enquanto que as complicações mais severas

e de longo prazo são esperadas em menor frequência. Os acidentes resultando em doses

absorvidas abaixo das prescritas podem pôr em risco a probabilidade do controle

tumoral. Esses acidentes são difíceis de serem descobertos e podem ser detectados após

um longo período e, por isso mesmo, envolvendo grande número de pacientes. Já no

caso de superexposições, nota-se rápida modificação celular, muitas vezes levando à

necrose do tecido [7].

Para evitar esses erros de tratamento que resultam em doses não desejadas, são

recomendados por organizações nacionais e internacionais programas de garantia da

qualidade específicos. Neste sentido, é importante discutir os incidentes e acidentes já

ocorridos, afim de procurar aprender lições para evitá-los. As lições podem ser

observadas, o tanto quanto possível, dos incidentes e acidentes, seguindo padrões

internacionais de segurança básica [15, 16].

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1.1. Definição do Problema

Atualmente, a legislação nacional vigente que estabelece requisitos de segurança

e proteção radiológica em radioterapia são descritos pela norma NN-6.10 da CNEN

[17]. A seção VI, art. 26, determina que todo serviço de radioterapia deve estabelecer

ações de resposta a incidentes (ou eventos adversos), de modo que “o titular, o

responsável técnico e o especialista em física médica de radioterapia devem investigar

imediatamente qualquer tratamento ou fração de tratamento terapêutico administrado a

um paciente que seja diferente do planejado”, sendo ainda necessário “(i) conduzir a

investigação para determinar a dose recebida e sua distribuição no paciente, (ii) aplicar

as medidas corretivas sob sua responsabilidade, (iii) indicar as ações para prevenir sua

reincidência, (iv) submeter à CNEN, logo após a investigação, um relatório que

esclareça as causas do acidente, bem como as providências tomadas, e (v) informar por

escrito ao paciente e ao médico solicitante sobre o ocorrido”.

Entretanto, no Brasil existem poucos estudos realizados sobre esse tipo de

abordagem na radioterapia e, diante do crescimento da oncologia no país, do aumento

constante no número de casos de câncer nas estimativas de biênio após biênio e do

tratamento dos tumores sólidos na radioterapia, foi enxergada a necessidade da criação

de um sistema de registro e aprendizagem sobre incidentes, a fim de promover

melhorias no atendimento, eficácia no tratamento e proporcionar também o

aprimoramento dos profissionais, o que já contribuiria diretamente para a diminuição

dos incidentes. Portanto, entende-se que a formulação de um sistema de coleta de dados,

que se encaixe na realidade e características dos serviços de radioterapia do país, poderá

apontar as principais questões que, muitas vezes passam despercebidas e, somadas a

fatores diversos, podem causar incidentes [18].

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram escolhidas duas instituições no

estado do Rio de Janeiro que oferecem serviços de radioterapia de alta complexidade

devido à ampla variedade de técnicas de tratamento, ao número de equipamentos de

terapia e à existência de uma equipe multidisciplinar. Além da exigência legal para se

estabelecer uma metodologia sistemática de investigação de eventos adversos que

atingem os pacientes, os serviços estavam se preparando para abordar essa prática, uma

vez que o tema tem sido questionado frequentemente em palestras e workshops

específicos para a área com a participação de representantes de instituições espalhadas

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4

pelo Brasil. Sendo assim, o ambiente estava propício para a implementação de

ferramentas focadas na segurança do paciente e de profissionais.

1.2. Objetivo

O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver uma ferramenta de registro e

avaliação de incidentes em radioterapia que seja voltada para a realidade do país. Em

seguida, aplicá-la em instituições que oferecem serviço de radioterapia no Rio de

Janeiro com o intuito de, após a sua aplicação teste, comprovar que a ferramenta terá

sua importância e, desta forma, contribuir na política de gestão de qualidade e cultura de

segurança nos serviços de radioterapia.

1.3. Objetivos específicos

I. Revisar a terminologia, classificação e métodos utilizados no registro de

incidentes ocorridos em radioterapia, de modo que haja compreensão

aprofundada do tema que resulte em uniformização de todo o sistema de

classificação;

II. Mediante a análise de dados obtidos durante visitas in loco em duas instituições

que oferecem o serviço de radioterapia no estado do Rio de Janeiro, desenvolver

um sistema de registro que funcionará por meio de INTRANET, permitindo

assim, a interação entre as instituições participantes do projeto;

III. Durante a aplicação, através de análise de mapas de processo e feedback dos

participantes, realizar updates na ferramenta com o intuito de simplificar os

campos ou até mesmo enriquecer a mesma.

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5

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Qualidade e segurança na radioterapia

A qualidade na área da saúde é definida como a obtenção dos maiores

benefícios, com os menores riscos ao paciente e ao menor custo, tendo como foco os

três fatores que são estrutura, processo e resultado [19, 20]. Um sistema de qualidade

em um serviço de saúde deve considerar as seguintes dimensões: segurança, efetividade,

atenção voltada ao paciente, acessibilidade e/ou oportunidade, equidade e eficiência [9].

Sendo assim, a segurança do paciente é considerada como uma dimensão da qualidade

que é definida como a redução do risco de danos desnecessários associados a assistência

em saúde até um mínimo aceitável [21].

As taxas de erro em radioterapia foram estimadas em diversas publicações e não

há consenso nas definições e tipos de incidentes que são registrados, o que torna difícil

a comparação [13]. As taxas de erro em geral são apresentadas em ocorrências médias

por unidade de tempo, paciente ou sessão de tratamento. Uma revisão da taxa de erros

(incluindo near-misses) publicada por diversos autores foi apresentada por Nyflot et. al

e mostraram que os valores variaram entre 0,01-1,0 registros de erros por paciente [22].

Utilizando dados de uma investigação realizada em Nova Iorque (EUA), Ford e

Terezakis estimaram que a taxa de má administração de tratamentos de radioterapia é de

0,2% por paciente (o que equivale a 1 evento para cada 600 sessões de tratamento

entregues) e que o risco na radioterapia em relação ao risco na aviação é 1000 vezes

maior [23].

As taxas de registro (por paciente, curso e sessão de tratamento) conforme

descrito em algumas publicações na área da radioterapia são exibidas na Tabela 1 de

acordo com Radicchi [24]. Acredita-se na prática que esses eventos são bem maiores do

que são revelados nas estatísticas públicas, já que os métodos de estimativas das taxas

de ocorrências destes eventos sejam muito questionados [13].

As atividades de controle e garantia da qualidade em radioterapia são focadas

em aspectos técnicos de desempenho dos equipamentos envolvidos no tratamento, e

erros causados por falhas de equipamentos e softwares são bem documentados, onde

muitos pacientes em geral são afetados [7, 25-27]. Entretanto, uma nova abordagem tem

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6

sido adotada na melhoria da gestão de qualidade em radioterapia com foco voltado para

o desempenho, não apenas de equipamentos, mas também de processos e pessoas.

Sendo assim, a qualidade em radioterapia tem um novo paradigma que é a aplicação

sistemática de ferramentas que visam melhorar o controle de processos, produzir

resultados mais consistentes e reduzir assim, o risco de erros, tanto no paciente quanto

no profissional [28].

Tabela 1: Definições de incidentes e taxas de registro de algumas publicações na área

da radioterapia [24].

Taxa de registro

Referência Definição do incidente Período de

avaliação

Número de

incidentes

Por

paciente

Por ciclo de

tratamento

Por

sessão

entregue

Yeung et al.

(2005) [29]

Um evento, ou uma série de

eventos, que levaram, ou teriam levado se não detectados, a um erro

de dose em um paciente.

11/1992 a

12/2002

624 - 4,66% 0,26%

Arnold et al.

(2010) [30]

Um evento não planejado (incluindo erros operacionais, falhas

de equipamentos, eventos iniciais,

precursores de acidentes, quase-erros e outros eventos não-

desejáveis) ou ato não autorizado

(malicioso ou não) que possuem

consequências, ou potenciais

consequências, que não são

negligenciáveis do ponto de vista de proteção ou segurança.

05/2004 a

05/2007

688 - 17,53% 1,0%

Bissonnette e

Medlam

(2010) [31]

Desvio do tratamento prescrito

devido a uma das seguintes

variações: (1) 0,5cm do campo; (2) ≥5% da dose prescrita; (3) falha no

uso de acessórios.

2001 a

2007

1063 - 1,99% -

Cunningham

et al. (2010)

[32]

Muitos incidentes surgem durante o

pré-tratamento, porém só são

detectados após o tratamento, resultando numa média de 22% das

frações descritas entregues

incorretamente.

01/2003 a

08/2008

1074 0,72% - -

Mutic et al.

(2010) [33]

Uma mudança indesejada ou

inesperada do comportamento

normal de um sistema que causa, ou tem potencial para causar, um efeito

adverso a pessoas ou equipamentos.

08/2007 a

09/2009

2736 60,0% - -

Clark et al.

(2013) [34]

Uma mudança indesejada ou

inesperada do comportamento normal de um sistema que causa, ou

tem potencial para causar, um efeito

adverso a pessoas ou equipamentos.

2007 a

2011

2506 - 12,53% 0,72%

Terezakis et

al. (2013)

[35]

Um erro é uma falha de uma ação

planejada a ser completada

conforme pretendida ou uso incorreto de um plano para alcançar

um determinado objetivo.

01/2007 a

12/2010

4407 25,62% - -

Rahn et al.

(2014) [36]

Incidentes de tratamento não precisos foram definidos como

tratamento do paciente que desviou

da prescrição da radioterapia.

09/2010 a

12/2012

108 3,65% - 0,18%

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7

Exatamente 100 incidentes “não intencionais”, graves, coletados pela IAEA,

foram analisados por Boadu e Rehani e os mesmos chegaram à conclusão de que erros

humanos, ou outras formas de erros de processo, foram a causa de mais de 70% desses

incidentes [37]. Após compilar diversas publicações com registros de incidentes em

radioterapia, Dunscombe, Evan e Williamson demonstraram que muitos erros são

causados, ao menos em parte, por falhas que não são identificadas por programas de

controle e garantia de qualidade focados apenas no desempenho de equipamentos [38].

2.2. Radioterapia

A radioterapia é uma forma de atuação terapêutica que tem como principal

propósito a erradicação de células tumorais, empregando feixes de radiações ionizantes

em doses pré-calculadas num determinado tempo a um volume de tecido que engloba o

tumor, com o menor dano possível as células sadias que se encontram próximas. Sua

história teve início em 1895 com a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad

Röentgen e com a descoberta do elemento Rádio pelo casal Pierre e Marie Curie em

1898 [39].

O primeiro tratamento com radiação ocorreu em 29 de janeiro de 1896 e, em

1899, aconteceu o primeiro caso de sucesso na cura do câncer: um epitelioma de

células basais [39]. Ao longo do século XX esse método apresentou constante evolução,

articulando-se inicialmente com diversas áreas da medicina, tecnologia e da física e,

progressivamente, com a patologia, a biologia, a genética, a imaginologia, a computação

e a robótica. A radioterapia, juntamente com a cirurgia, se tornou uma das modalidades

terapêuticas mais utilizadas e com maior sucesso no tratamento contra o câncer e vem

sendo aprimorada cada vez mais com intuito de melhorar sua eficácia e aumentar as

chances de cura dos pacientes. É um método complexo, constituído de várias etapas,

entre as quais pode-se citar: planejamento, exames de imagem, determinação da dose,

identificação dos órgãos de risco e a entrega da dose [32].

Existem duas formas de administração do tratamento de radioterapia que variam

conforme o local onde se encontra a fonte de radiação, podendo a mesma ser interna ou

externa ao corpo do paciente a ser tratado. Na primeira, a fonte (constituída de uma

fonte radioativa selada) é normalmente posicionada no seio ou vizinhança do tumor.

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8

Este processo é denominado braquiterapia e pode ser classificado em braquiterapia de

alta taxa de dose (BATD ou High Dose Rate - HDR) cuja taxa de dose no tratamento é

superior ao valor de 0,2 Gy/min ou 12 Gy/h, braquiterapia de média taxa de dose

(BMTD ou Medium Dose Rate - MDR) cujo valor está entre 2 e 12 Gy/h, e

braquiterapia de baixa taxa de dose (BBTD ou Low Dose Rate - LDR) cujo valor é de

0,4 a 2 Gy/h [40, 41]. Na segunda forma a fonte está localizada externamente ao

paciente e é denominada radioterapia por feixe externo ou teleterapia. No caso de

tratamentos com uso de aceleradores lineares e/ou irradiadores de 60Co, a fonte de

radiação pode girar em torno do paciente e incidir em vários ângulos. Encontram-se

disponíveis atualmente, técnicas diferentes como Radioterapia Conformacional 3D (3D-

CRT), Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT), Radioterapia Guiada por

Imagem (IGRT) e Arcoterapia Volumétrica Modulada (VMAT).

A Radioterapia Conformacional 3D (3D-CRT) utiliza feixes uniformes de

radiação. Já a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) permite irradiar volumes

irregulares sem que seja aumentada a dose nos órgãos de risco, através da modulação de

intensidade do feixe de radiação (Figura 1). A técnica de IMRT é aplicada em diversas

patologias oncológicas que exijam distribuições de dose complexas, com criação de

concavidades para proteção de estruturas críticas adjacentes [42].

Figura 1: Esquerda: plano de tratamento para 3DCRT (margem PTV de 2 cm). Direito:

plano de tratamento para IMRT de ângulo fixo (margem PTV de 5-7 mm)[43].

A Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT) surgiu da necessidade de localizar

de forma mais precisa o tumor ou os órgãos internos acometidos pela doença, no

momento do tratamento, de modo que ocorra melhor correlação com as imagens de

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9

referência. Esta técnica tem como objetivo garantir, com a maior precisão possível, que

o tumor estará dentro do campo de irradiação em todos os dias do tratamento, uma vez

que estes podem mudar de posição entre os tratamentos, ou ainda em um mesmo

tratamento. Isso pode ocorrer devido aos movimentos respiratórios, ao preenchimento

ou esvaziamento de alguns órgãos, ou mesmo por pequenas alterações de

posicionamento de um dia para o outro [44]. A Arcoterapia Volumétrica Modulada

(VMAT), também conhecida como RapidArc, melhora a eficácia na conformação da

dose em torno do volume alvo, poupando significativamente órgãos normais adjacentes

em um tratamento extremamente rápido (Figura 2). A redução do tempo significa

proporcionar mais conforto aos pacientes e reduzir a possibilidade de quaisquer

movimentos durante a sessão de tratamento [45].

Figura 2: Lote de paleta de cores de isodose para IMRT (esquerda) e VMAT (direita)

com a exibição mínima de isodose ajustada para 5 Gy mostrando o volume de tecido que recebe

mais de 5 Gy [46].

2.3. Processo e etapas do tratamento

A radioterapia reúne uma série de etapas no seu processo, conforme exibido na

Figura 3, todas bem delineadas e concretas, sendo a exatidão e correta execução de cada

uma destas etapas que vai determinar o sucesso do tratamento.

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10

Figura 3: Esquema simplificado de todas as etapas do processo de tratamento em

radioterapia [47].

O pré-tratamento consiste na etapa em que o paciente é diagnosticado com

câncer, o médico faz uma observação clínica detalhada de todo seu quadro clínico com

intuito de averiguar o estadiamento em que a sua patologia se encontra, informações

histológicas etc.

A etapa seguinte é a preparação para o tratamento, uma vez que é necessária a

total imobilização da região que será tratada. É importante perceber que esta

imobilização visa permitir a reprodutibilidade no posicionamento do paciente ao longo

de todas as sessões. O tratamento poderá ser prescrito em várias frações e isto pode ter

uma duração temporal variável, onde a reprodutibilidade de posicionamento é

fundamental. Para que isto aconteça, existem vários acessórios padronizados, como a

máscara termoplástica (Figura 4), que vão garantir que o paciente se mantenha

minimamente confortável e que haja um reposicionamento reprodutivo ao longo do seu

tratamento. São ainda realizadas marcações no paciente através de marcadores

posicionados na pele ou no acessório de imobilização, e imagens de TC em um

tomógrafo especificamente adaptado para realizar imagens para planejamento,

conforme exibido na Figura 5.

Pré-Tratamento• Diagnostico analítico e por imagem do

paciente

• Avaliação do histórico clínico

Preparação do tratamento

• Máscara de imobilização

• TC de planejamento

• Delineação de volumes de interesse

• Prescrição de dose

Planejamento

• Definição das frações de dose

• Otimização do plano de tratamento

• Aceitação do plano

Simulação do tratamento

• Posicionamento

• Imobilização

Administração do tratamento

• Verificação do posicionamento

• Controle de Qualidade

• Administração do tratamento (em doses fracionadas)

Follow-up

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11

Figura 4: Máscara termoplástica de imobilização em um paciente para tratamento de

cabeça e pescoço [48].

Figura 5: Tomógrafo utilizado para aquisição das imagens para planejamento em

radioterapia [49].

Todos os volumes e estruturas de interesse são desenhados nas imagens obtidas

pela TC de planejamento e, por vezes, são utilizadas imagens por outras modalidades

como, por exemplo, Ressonância Magnética (RM), Tomografia por Emissão de Pósitron

(PET) e Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único (SPECT). Essas

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12

modalidades de imagem podem ser utilizadas individualmente ou combinadas de forma

a se obter a melhor localização do tumor no paciente [50].

O volume do tumor completamente visível e identificado é chamado de GTV

(do inglês Gross Tumor Volume). O GTV, em conjunto com áreas periféricas passíveis

de conter células malignas, é denominado volume clínico do alvo, conhecido por CTV

(do inglês Clinical Target Volume). O CTV que contém as margens que incluem as

variações geométricas e incertezas relativas ao posicionamento e margens de erro nos

alinhamentos dos feixes e dos equipamentos designa-se por volume de planejamento do

alvo, conhecido por PTV (do inglês Planning Target Volume) [50, 51].

Os órgãos de risco (OAR, Organ at Risk) são estruturas correspondentes aos

órgãos saudáveis que se encontram na periferia do volume-alvo e que têm determinada

dose de tolerância, que vai, muitas vezes, condicionar o volume a ser irradiado, e a dose

terapêutica. Estas estruturas podem ser divididas em órgãos tipo série ou paralelo. Um

órgão tipo série identifica-se como um órgão que perderá toda sua função vital caso seja

ultrapassado o limite de dose definido para a estrutura em questão. Já nos órgãos tipo

paralelo isso poderá não acontecer e este poderá conservar sua função, mesmo sendo

excedida a dose de tolerância, pois a perda de função é dependente do volume irradiado

(por exemplo, o pulmão). O OAR acrescido das margens periféricas correspondentes a

incertezas de posicionamento corresponde ao volume de planejamento para os órgãos de

risco, conhecido por PORV (do inglês Planning Organ at Risk Volume) [50, 52].

A primeira abordagem da Comissão Internacional de Unidades e Medidas de

Radiação (ICRU) em 1978 com o Relatório 29 definiu o volume alvo como o volume

que contém os tecidos que devem ser irradiados por uma dose absorvida específica, de

acordo com um padrão de dose no tempo. Também definiu outros dois volumes, o

volume de tratamento e o volume irradiado, ambos baseados na distribuição de dose,

conforme exibido na Figura 6A [53, 54].

No ano de 1993, as recomendações do Relatório 29 foram substituídas pelo

Relatório 50, que se adequou à aplicação da 3DCRT e separou o volume alvo em três

limites distintos: (1) tumor visível representado pela sigla GTV; (2) uma região para

explicar as incertezas no espalhamento microscópico do tumor representado pela sigla

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13

CTV; e (3) uma região para explicar incertezas geométricas representada pela sigla

PTV, conforme exibido na Figura 6B [53, 55].

Com o passar do tempo, as técnicas em radioterapia foram evoluindo (por

exemplo, a 3DCRT evoluiu para IMRT) e houve avanço nos procedimentos de imagem,

além da Tomografia Computadorizada (TC) passou-se a utilizar a Ressonância

Magnética (RM), Tomografia por Emissão de Pósitron (PET) e outras. Sendo assim, a

ICRU, em 1999, publicou o Relatório 62 que complementa o Relatório 50, onde

formulou com mais precisão algumas das definições e conceitos como a inclusão do

volume interno do alvo, representado pela sigla ITV que consiste no CTV com as

margens e variações de acordo com o formato, conforme exibido na Figura 6C [53, 56].

Figura 6: (A) Ilustração esquemática dos limites dos volumes definidos pelo Relatório

29 da ICRU: volume do alvo, volume do tratamento e volume irradiado; (B) limites dos

volumes definidos pelo Relatório 50 da ICRU: GTV, CTV, PTV, volume tratado e volume

irradiado; e (C) limites dos volumes definidos pelo Relatório 62 da ICRU: GTV, CTV, volume

de alvo interno (ITC), PTV, volume tratado e volume irradiado [52].

A etapa seguinte no workflow do tratamento consiste no planejamento e

administração do mesmo, através da definição dos valores de dose máxima absorvida

que pode irradiar determinado órgão de forma a preservá-lo, bem como dose mínima

absorvida a ser dada aos volumes alvo de forma a garantir o controle tumoral. Devido à

complexidade deste processo, é necessária a otimização da distribuição de dose para que

a mesma respeite todos os parâmetros requeridos. Quando o físico médico consegue a

distribuição de dose ou plano otimizado, este é mostrado ao médico e, caso o

planejamento seja aprovado, o tratamento estará pronto para ser administrado ao

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14

paciente, depois do plano ser exportado para o sistema de registo e verificação de

tratamentos. Caso contrário, uma nova otimização terá de ser feita até que os objetivos

se concretizem [47].

É no tratamento que se inicia o processo terapêutico, aqui o paciente é irradiado

e existe rigor para que tudo o que foi planejado seja corretamente aplicado. É

fundamental que todos os posicionamentos planejados e simulados sejam exatamente

reproduzidos em todas as frações de tratamento e o controle de qualidade a seguir tem

que ser igualmente exigente. É recomendado que a incerteza total de um tratamento

nunca ultrapasse os +/- 5%, isto é, o desvio entre a dose planejada e a dose administrada

nunca deve exceder este intervalo [57].

O follow up ou protocolo de seguimento do paciente consiste em todas as

análises e resultados retirados que vão possibilitar a avaliação do controle tumoral ou

mesmo efeitos secundários que possam ter surgido. Ao longo do período de seguimento,

o paciente é submetido a várias consultas (de número variável conforme a patologia e o

protocolo) e exames clínicos e imagiológicos, que permitem obter dados objetivos sobre

sua evolução.

2.4. Aprendizagem com incidentes

A prática do registro e análise de incidentes teve início na década de 50 em áreas

como a aeronáutica, onde o menor erro pode resultar em grandes consequências, e desde

cedo percebeu-se que a melhor forma de aprendizagem é com os erros e a melhor forma

de evitá-los é descobrir suas causas. O modelo do “queijo suíço” criado por James

Reason é muito útil na compreensão da ocorrência de falhas e erros; o autor utiliza a

metáfora de que as várias fatias de queijo são posicionadas como se fossem camadas

que representam as barreiras à ocorrência de erros, conforme exibido na Figura 7 [58].

Um erro que raramente está isolado pode ultrapassar diversas camadas de proteção,

resultando numa propagação de erro maior, então, seguindo o raciocínio do modelo, a

intenção é tentar diminuir os ‘buracos” no queijo que representam os erros latentes, ao

mesmo tempo que tentar criar camadas de proteção para impedir o alinhamento dessas

falhas e, ao mesmo tempo, a propagação do mesmo [58, 59].

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15

Figura 7: Representação esquemática do modelo do queijo suíço, mostrando como as

defesas e barreiras podem ser penetradas por um perigo ocasionando danos [58].

Entretanto, na área da saúde, estudos científicos que relatam evidencias de erros

médicos começaram a surgir no começo da década de 90, e desde então, a melhoria

tanto da segurança do paciente como da qualidade da assistência à saúde tem recebido

atenção especial em todo o mundo [60, 61].

Após a publicação do relatório “To Err is Human: Building a Safer Health

System” do Institute of Medicine (IOM) sobre os erros relacionados com a assistência à

saúde nos Estados Unidos da América (EUA), a segurança surgiu com mais ênfase na

área da saúde. Neste setor existem diversos fatores que fazem com que todo ambiente

seja propicio à ocorrência de erros e falhas. Foram identificados, de uma forma bastante

clara, os custos da ocorrência de incidentes e acidentes em saúde (44.000 a 98.000

mortes por ano em hospitais dos EUA e um custo total de US$17 a 29 bilhões/ano,

devido a erros médicos que seriam evitáveis). Esses dados levaram a um apelo à

mudança no sistema, bem como a maior preocupação nesta área para tentativa de

envolvimento de todos os que são parte integrante deste sistema. Após a publicação do

IOM, houve aumento estatisticamente significativo em publicações relacionadas a esse

tema [9, 62].

A Organização Mundial de Saúde, desde então, passou a tratar com alta

prioridade a qualidade e segurança nos serviços de saúde, refletindo na agenda política

dos países membros desde 2000. Mais adiante, em outubro de 2004, ocorreu o

lançamento formal pela OMS da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente

(AMSP) criando um programa de segurança do paciente cujos objetivos são coordenar,

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16

disseminar e acelerar melhorias em âmbito global. Essa foi a primeira reunião entre

chefes de agências, formadores de políticas de saúde, representantes de pacientes e a

OMS para minimizar os eventos adversos e consequências sociais de cuidados a saúde

não seguros [61].

Já no Brasil, foi instituído pelo Ministério da Saúde em 2013 o Programa

Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) em consonância com os objetivos da AMSP

[63]. Em 2009, o Sistema de Investigação em Vigilância Sanitária (VIGIPÓS) já havia

sido implantado como parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) para o

monitoramento, análise e investigação dos eventos adversos e queixas técnicas

relacionadas aos serviços e produtos sob vigilância sanitária na fase de pós

comercialização/pós uso [64].

Um ano após o relatório da IOM, que alarmou para os problemas de erros na

assistência da saúde em 1999, foi lançado pela Agência Internacional de Energia

Atômica (IAEA) uma publicação descrevendo alguns acidentes ocorridos na

radioterapia, o “Safety Report Series n.º 17: Lessons Learned from Accidental

Exposures in Radiotherapy”. Porém, diferente do relatório da IOM, esse não teve um

impacto expressivo, não prejudicando a confiança no tratamento com esta modalidade

[38, 65].

Em 2010, foi publicado na revista “New York Times” o artigo “The Radiation

Bloom: Radiation Offers New Cures and Ways To Do Harms” que descreve um

incidente em um tratamento com radioterapia ocorrido no hospital em Nova Iorque em

2005; tal erro resultou no óbito do paciente em 2007 [66]. Como resposta a este evento,

foi organizada uma conferência nos EUA chamada “Safety in Radiation Therapy: A

Call to Action” em que centenas de especialistas na área estiveram presentes e fizeram

um total de 20 recomendações para melhoria da segurança no tratamento em

radioterapia [12].

Em 1987 no Brasil, mais exatamente na cidade de Goiânia-GO, o abandono de

um equipamento de tratamento contendo uma fonte radioativa de 137Cs em um serviço

de radioterapia desativado, resultou na morte de 4 pessoas por danos ligados ao efeito

da radiação, e a contaminação de diversas partes da cidade resultou em um dos maiores

acidentes radiológicos da história. Esse acidente foi o primeiro teste do papel da IAEA

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17

em ajudar na coordenação das ações de assistência em eventos radiológicos e, além

disso, levou a modificações e aumento da regulamentação em serviços de radioterapia

[67].

Em fevereiro de 2012, também no Brasil, um erro de entrega de dose de radiação

resultou na morte de uma criança em tratamento de radioterapia [68]. A Comissão

Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que é o órgão regulador para instalações

radioativas no país, constitui uma comissão técnica de estudos para avaliar o acidente.

Dois anos após esse incidente, em fevereiro de 2014, uma conferência composta de

profissionais das principais associações de classes de físicos e médicos na área da

radioterapia foi organizada para discutir as mudanças necessárias nas regulações

vigentes [24].

Enfim, como consequência desses incidentes ocorridos em radioterapia, tanto

internacional como nacional, as políticas de segurança na área vêm sendo revisadas e o

tema tem sido amplamente discutido em congressos e publicações na área. Da análise

do processo de tratamento em radioterapia é possível compreender a grande

complexidade e a sucessão de rigorosas etapas que vigoram no mesmo. As interações

nesta área são de extrema complexidade e as variáveis que atuam são diversas,

compreendendo de fatores humanos a fatores técnicos [13].

No ano de 2000, a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP)

publicou um relatório (ICRP 86) em que foram abordados temas como o potencial para

exposições acidentais no futuro, cujas recomendações são baseadas em uma análise

retrospectiva de exposições acidentais em radioterapia com equipamentos passados e

atuais [7]. Esse mesmo relatório foi enfatizado em uma atualização publicada em 2009

(ICRP 112)[25]. Dentre os fatores relatados que possivelmente causarão alterações,

nesse quadro no futuro, são citados [47]:

• O aumento de acidentes relacionados ao treinamento inadequado da

equipe mediante a expansão mundial da radioterapia;

• A percepção errada de que o equipamento moderno é mais seguro e, por

esse motivo, exigirá menos ciclos de garantia de qualidade;

• A possibilidade de ocorrer acidentes devido a manutenção inadequada do

equipamento (acelerador);

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18

• Acidentes relacionados ao aumento do número de sistemas controlados

por computadores;

• A produção de novos tipos de exposições acidentais graças às novas

tecnologias de terapia de dose elevada, como nos colimadores multi-leafs

e IMRT.

A ICRP 86 destaca também que, as exposições acidentais mais severas,

ocorreram em departamentos de radioterapia em que um programa de garantia de

qualidade não estava em vigor ou não foi totalmente implementado e/ou monitorado.

Dentre as fraquezas identificadas por exposições acidentais constam:

• Educação e treinamento insuficientes, incluindo má compreensão da

física do equipamento de tratamento e TPS;

• Ausência de procedimentos adequados de aceitação e comissionamento

do equipamento;

• Incompreensão de instruções para usuários;

• Dependência de instruções comunicadas verbalmente;

• Omissão de algumas das verificações de controle de qualidade;

• Alteração de um procedimento sem validação;

• Retomada dos tratamentos após um grande reparo sem notificar a pessoa

responsável pela verificação da dosimetria;

• Má notificação de reações físicas incomuns e acompanhamento do

paciente.

Assim, gradativamente, a segurança do paciente e dos profissionais envolvidos

começa a fazer parte da política de saúde de vários países.

2.5. Ferramentas de registro e aprendizagem com incidentes pelo mundo.

Para o desenvolvimento deste trabalho, primeiramente foi necessário realizar

uma pesquisa bibliográfica referente ao que existe em relação a sistemas de registro e

aprendizagem com incidentes pelo mundo. Algumas das ferramentas pesquisadas e

citadas abaixo serviram como base para o desenvolvimento do sistema, que será

descrito no Capítulo 3.

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Uma das primeiras ferramentas voltadas para o registro de incidentes é o

Radiation Oncology Safety Information System (ROSIS) que é uma plataforma online

associada ao tratamento com radioterapia, criada em 2001 com o apoio da European

Society for Radiotherapy & Oncology (ESTRO). Essa obteve sucesso em estabelecer

um sistema internacional e voluntário de registro de incidentes, um site de apoio ao

mesmo e uma fonte de formação anual sobre segurança com os pacientes de

radioterapia. O ROSIS surgiu de forma tão pertinente que organizações ligadas ao

tratamento com radioterapia no mundo aos poucos começaram a demonstrar maior

importância a todas as questões ligadas a segurança dos pacientes, avaliando melhor os

danos causados por incidentes. Após realizar um login, o usuário poderá registrar,

visualizar e pesquisar incidentes. O formulário para preenchimento de dados referentes

a determinado evento é constituído de uma sequência de campos organizados mediante

tudo aquilo que foi pensado para a classificação de incidentes, conforme exibido nas

Figuras 8, 9 e 10. Foi a partir do lançamento do ROSIS que o potencial existente num

sistema de registro de incidentes que busque detectar, monitorizar e reduzir a ocorrência

dos mesmos teve seu reconhecimento [47].

Este é apenas um dos exemplos de como a sociedade e os próprios profissionais

da saúde adquirem aos poucos uma noção da importância desta problemática. Cada vez

mais, é possível ver que há atenção focada nos erros, agora que seus impactos são

valorizados de forma mais relevante. Programas de estratégias para redução de erros

começam a receber financiamento em alguns países, e as publicações sobre os efeitos e

os custos destes erros começam a mostrar como a prevenção dos mesmos se torna um

investimento a longo prazo. Assim, há um incentivo cada vez maior para que se

desenvolva uma cultura voltada para a segurança. Aos poucos começa-se a perceber que

uma cultura de segurança nasce de um ambiente cultural bem informado e com quatro

grandes pilares [69]:

1. Uma cultura de registro – todo o grupo envolvido deve notificar e

procurar entender os erros que cometeu. Estes registos devem ser

valorizados por todos os membros da equipe para que todo o feedback

seja analisado e sejam tomadas ações preventivas;

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20

2. Uma cultura justa – a confiança entre todos os membros da equipa de

trabalho é fundamental. As experiências devem ser partilhadas, sejam

positivas ou negativas, sem que haja julgamento pessoal;

3. Uma cultura flexível – o respeito pelas capacidades e conhecimentos de

cada um dos membros não deve nunca deixar de estar presente;

4. Uma cultura de aprendizagem - é fundamental que haja vontade de retirar

conclusões corretas de cada relatório, além de vontade e capacidade de

implementar reformas corretivas, quando necessário.

Entretanto, apesar da importância reconhecida, ainda existia a dúvida se alguém

iria voluntariamente efetuar registros de todos os incidentes para um sistema

internacional. Devido a isso, o ROSIS buscou recorrer ao apoio de pessoas diretamente

ligadas a esta temática e a relatórios previamente recebidos sobre incidentes já ocorridos

anteriormente. Aos poucos, mediante evolução no raciocínio referente ao assunto,

vários países começaram a exigir que fossem inseridos, em seus respectivos hospitais,

este tipo de sistema de informação. O ROSIS recentemente sofreu modificação

alterando seu domínio para Radiation Oncology Safety Education Information System

(ROSEIS). Além disso, houve também alteração na sua proposta; hoje, o atual ROSEIS

existe apenas na Europa, chancelado pela European Society for Radiotherapy &

Oncology (ESTRO), e seus registros não estão mais disponíveis ao público em geral

[47, 70].

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21

Figura 8: Formulário para o resumo de incidentes no ROSIS [71].

Figura 9: Formulário para a severidade e detecção no ROSIS [71].

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22

Figura 10: Formulário para a classificação do processo no ROSIS [71].

O Radiation Oncology Incident Learning System (RO-ILS) é uma ferramenta

que foi criada após a parceria da American Society for Radiation Oncology (ASTRO)

com a AAPM. A sua estrutura é amplamente baseada em um relatório da AAPM, que

descreve recomendações e estrutura de dados para Sistemas de Aprendizagem com

Incidentes em Radioterapia e teve início em uma reunião de segurança chamada “Call

to Action” da ASTRO/AAPM em 2010 em Miami [13, 72].

O RO-ILS concede a oportunidade de compartilhamento de conhecimentos por

parte de todas as instituições ligadas a radioterapia e serve de referência para

instituições que fazem registro de incidentes de forma independente. Após contrato

assinado com a Clarity Group Inc (uma organização federal qualificada na segurança do

paciente) e o desenvolvimento de um web portal, o sistema foi lançado de forma online

em junho de 2014 e facilitou o registro de incidentes, que visam a segurança dos

pacientes, servindo como sistema nacional de aprendizagem na área, de forma a

conscientizar a todos do risco das práticas de radioterapia. A Figura 11 exibe a linha do

tempo deste programa, desde a publicação do IOM até seu funcionamento online [47,

72].

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23

Figura 11: Linha temporal do RO-ILS desde o relatório da IOM até sua

funcionalidade total (adaptado para o português pelo autor) [72].

O RO-ILS é, em grande parte, consistente com outros sistemas como o Safety in

Radiation Oncology (SAFRON), a sua estrutura é adaptada de forma que qualquer

profissional que faça parte da equipe de tratamento com radioterapia possa utiliza-la.

Para utilizar essa plataforma não é necessário ser membro da ASTRO, apenas possuir

um ID para login e fazer download do guia de participação. Através do RO-ILS, os

participantes podem localizar e analisar incidentes internos, simultaneamente contribuir

com a base de dados nacional e receber resumos dos registros da própria instituição

incluindo dados agregados em eventos ocorridos no país. Essa ferramenta é orientada

para médicos e físicos pelo American Board of Radiobiology (ABR) ao reunir critérios

para melhora da qualidade de forma a cumprir os requisitos da ABR Maintenance of

Certification Program [73].

O SAFRON, sistema iniciado em dezembro de 2012 e desenvolvido pela IAEA,

consiste num sistema de aprendizagem internacional que permite que todos os centros

envolvidos no projeto participem dele, compartilhando e recebendo informações sobre

incidentes ocorridos e registrados. Após reunir todos os registros, bem como as

possíveis causas e ações corretivas, permite que cada departamento de radioterapia

possa desenvolver um sistema de segurança de forma a prevenir ou reduzir a

probabilidade de que os incidentes relatados voltem a ocorrer [74].

Dentre os recursos do SAFRON pode-se citar:

2000

Relatório inicial do

IOM: Redução do

dano ao paciente,

uma necessidade

crítica.

2005

Segurança do

paciente e melhoria

da qualidade em

2005.

2011

Estabeleciment

o do RO-ILS

pela ASTRO e

AAPM

2013

Teste beta

do RO-ILS

2014

RO-ILS totalmente

operacional

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24

• Uma maneira simples de enviar informações sobre erros e near-misses

que ocorrem em instalações de radioterapia;

• Recursos de código aberto para revisão de relatórios de incidentes;

• Aprendizagem sobre eventos e near-misses em um esforço para educar e

melhorar a segurança em radioterapia;

• Localização de documentos relacionados e links de artigos e relatórios

revisados por especialistas relacionados à segurança;

• Capacidade de realizar análises estatísticas sobre os eventos relatados

tanto para os contribuintes quanto para os espectadores.

Para ser um usuário do SAFRON, é necessário fazer um registro para login no

website NUCLEUS da IAEA. Após realizada essa etapa, e estando conectado à

plataforma, a mesma apresenta as opções que oferece, dentre elas a pesquisa de

incidentes registrados no site mediante determinados filtros de pesquisa, submissão de

registro de novo incidente, pesquisa de documentos ou links segundo assuntos de

interesse e visualização dos detalhes relativos à inscrição efetuada. A Figura 12 mostra

o aspecto inicial para submissão de um novo registro de incidentes em radioterapia com

campos referentes a detecção do evento (data, modalidade, fase do processo, nº de

frações etc.)

Além desse formulário, existe campos referentes a fatores que possam ter causado

o incidente, conforme exibido na Figura 13. Existe também uma tabela com barreiras de

segurança típicas de um tratamento em radioterapia para que o usuário identifique quais

delas falharam na detecção do incidente, quais as que poderiam ter detectado, mas não o

fizeram, e quais as que detectaram. Essa tabela é exibida na Figura 14.

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25

Figura 12: Formulário para submissão de um novo incidente no SAFRON [74].

Figura 13: Lista de possíveis fatores resultantes do incidente a ser registrado [74].

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26

Figura 14: Barreiras de segurança a serem preenchidas no SAFRON [74].

2.6. Desafios na implementação da aprendizagem com incidentes.

A implementação de uma ferramenta voltada para registro de incidentes

representa um desafio considerável, pois necessita de alguns recursos adicionais como

pessoas, processos, tempo e um fator principal como mudança cultural e de mentalidade

dos envolvidos. Para garantir maior eficiência na utilização dessa ferramenta é

necessário bastante esclarecimento e motivação aos profissionais envolvidos, de modo a

remover os obstáculos que impedem ou dificultam essa participação, além de tornar o

fluxo de atividades, principalmente análises e aprendizados, tão eficientes quanto

possíveis [13].

Uma estrutura para a implementação dos padrões do sistema de gestão da

qualidade ISO 9000 é descrito por Kim, Kumar e Kumar a partir da análise de dois

aspectos chave, motivadores e fatores críticos de sucesso. Para identificar os fatores

críticos de sucesso, duas abordagens foram analisadas [75]:

• A primeira assume que a identificação de barreiras de implementação

auxilia a organização a superar essas dificuldades, que tendem a ser

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27

relacionadas a aspectos organizacionais, tecnológicos, econômicos e

humanos, sendo o último o fator mais relevante;

• A segunda considera que o gerenciamento de fatores de sucesso é vital

para o impacto positivo na implementação.

Exatamente dez fatores compõem os fatores críticos de sucesso: treinamento,

liderança, recursos organizacionais, envolvimento de todos, abordagem baseada no

cliente, cultura orientada para qualidade, abordagem centrada no processo, comunicação

e trabalho em equipe, customização dos requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade

(SGQ) ISO 9000 e auditorias da qualidade. A Tabela 2, desenvolvida por Radicchi,

exibe o levantamento de fatores críticos de sucesso para implementação de um sistema

de registro de incidentes na área da saúde, mais especificamente em radioterapia, de

acordo com pesquisa bibliográfica [24, 75].

Tabela 2: Fatores críticos de sucesso para implementação de um Sistema de

Aprendizagem de Incidentes em Radioterapia, de acordo com citações em diversas publicações

na área [24].

Fatores críticos de sucesso

SU

TL

IEF

et

al.

, 2

01

[38

]

MU

TIC

et

al.

, 2

01

0 [

33

]

CL

AR

K e

t a

l.,

20

13

[3

4]

BIS

SO

NN

ET

TE

; M

ED

LA

M,

20

10

[3

1]

FO

RD

et

al.

, 2

01

2 [

13

]

GA

IN,

20

04

[7

6]

MA

HA

JA

N,

20

10

[7

7]

LA

WT

ON

; P

AR

KE

R,

20

02

[7

8]

PF

EIF

FE

R;

MA

NS

ER

; W

EH

NE

R,

2010

[79]

AN

DE

RS

ON

et

al.

, 2

01

3 [

80

]

CO

OK

E;

DU

NS

CO

MB

E;

LE

E,

2007

[81

]

CO

HE

N,

20

00

[8

2]

YA

NG

et

al.

, 2

01

4 [

83]

FO

RD

et

al.

, 2

01

2b

[8

4]

AR

NO

LD

et

al.

, 2

01

0 [

30

]

WA

PS

, 2

00

5 [

85]

Fre

qu

ênci

a d

e ci

taçõ

es (

%)

Comunicação aos profissionais sobre os

resultados das análises. x x x x x x x x 50%

Registros devem ser rápidos e facilmente

acessíveis para os autores realizarem. x x x x x x x 44%

Estabelecimento de uma cultura justa (punitiva

apenas quando houver negligência, imprudência

ou imperícia).

x x x x x x x 44%

Ênfase de que objetivo do sistema de registro é

melhoria da qualidade e segurança dos processos. x x x x x x 38%

Não haver consequências negativas para os

autores dos registros. x x x x x x 38%

Incluir análise de near-misses (eventos que não

atingem o paciente). x x x x x 38%

Necessidade de definições claras dos termos e

delimitações do escopo do sistema, adequados à realidade do serviço.

x x x x x x 38%

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Tabela 2 (continuação): Fatores críticos de sucesso para implementação de um

Sistema de Aprendizagem de Incidentes em Radioterapia, de acordo com citações em diversas

publicações na área [24].

ermitir registros anônimos (garantir

confidencialidade). x x x x x 31%

Tornar o processo de aprendizagem com incidentes eficiente (resposta rápida e eficaz).

x x x x x 31%

Comprometimento institucional (principalmente da alta direção).

x x x x x 31%

Necessidade de recursos (pessoas, tempo, instrumentos) adequados para análise de

incidentes.

x x x x 25%

Registros voluntários (não obrigatórios). x x x x 25%

Aspectos legais (impedimento legais de registro). x x x x 25%

Implantação de ações de melhoria de forma que os participantes sintam as mudanças em sua

rotina de trabalho.

x x x x 25%

Todos os membros do serviço devem estar engajados, mas coordenado por um comitê

multidisciplinar devidamente treinado e

engajado.

x x 13%

Método de avaliação da mudança implementada. x x 13%

Registros incompletos ou não informativos. x x 13%

Política e procedimentos para registro

(confidencialidade, separação da origem x

análise de incidentes, comprometimento da

empresa com segurança e independência dos

gestores).

x x 13%

Reportar deve fazer parte da rotina de trabalho dos profissionais.

x x 13%

Percepção do erro pelo profissional (característica do incidente).

x x 13%

Treinamento do comitê multidisciplinar para investigação.

x x 13%

Premiação para autores de registros. x 6%

Teste piloto, validação com casos exemplos. x 6%

Treinamento dos usuários para uso da

ferramenta. x 6%

Integração ou comunicação com sistema de

registro geral do hospital. x 6%

Relutância em registrar comportamento que pode

ter consequência negativa ao paciente e delatar um colega.

x 6%

Dificuldade em interromper a rotina de trabalho

para registrar incidentes. x 6%

Medo de prejudicar imagem da organização. x 6%

Independência de qualquer autoridade com poder

de punir autor do registro. x 6%

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29

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Desenvolvimento da ferramenta digital

Mediante estudos anteriores foi possível iniciar o desenvolvimento da

ferramenta de registro e análise de incidentes voltado para as características associadas

aos serviços de radioterapia no Brasil. A mesma se encontra em formato de papel,

conforme exibido na Figura 15, e a proposta é a de conversão para formato digital para

que através de uma rede privada que assenta sobre a suíte de protocolos da internet

(INTRANET), as clínicas que a utilizarem possam compartilhar informações

importantes sobre eventos ocorridos entre elas. A ferramenta foi batizada de Sistema

Padronizado de Incidentes em Radioterapia (SPIRad) e o modelo inicial desenvolvido é

composto pelos seguintes tópicos:

1. Unidade

1.1 Data

2. O incidente ocorreu em que etapa?

2.1 Calibração e testes

2.2 Planejamento

2.3 Tratamento

3. Efeitos resultantes do segmento

3.1 Danos ao paciente

3.2 Danos ao profissional

3.3 Sem danos

4. Existem protocolos de atuação?

4.1 Sim

4.2 Não

4.3 Em caso de SIM relatar

5. Sugestões para o aperfeiçoamento

O esboço exibido a seguir está propenso a sofrer alterações, para enfim, se tornar

uma ferramenta digital. Além disso, os campos também sofreram alterações devido a

uma melhor análise dos processos e também pesquisas baseadas em outras ferramentas

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que já são utilizadas a bastante tempo fora do país. Ferramentas como o ROSIS servirão

de base para o enriquecimento do SPIRad antes de ser convertido para o formato digital.

Figura 15: Primeiro modelo do formulário proposto para o sistema em papel.

Para a conversão da ferramenta foi necessário a utilização de recursos como

HTML + CSS3 e PHP para torná-lo uma página digital e o MySQL para a

implementação do banco de dados. O sistema foi dividido em 3 formulários

sequenciais:

1. Resumo do incidente

2. Análise do incidente

3. Formulário de resposta

O primeiro formulário, conforme exibido na Figura 16, é equivalente ao resumo

do incidente e possui algumas informações pertinentes para contextualizar a ocorrência

de forma generalizada. Constam, assim, no resumo do incidente as seguintes

informações:

• Data e hora do incidente;

• Data do relatório e da descoberta;

• Tipo de incidente (incidente real ou “near-miss”);

• Pessoa afetada (pacientes, profissionais ou outros);

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• Número de frações entregues incorretamente;

• Nome e n.º do registro médico do paciente;

• Modalidade de tratamento;

• Nome e função do profissional que reporta;

Figura 16: Primeiro formulário equivalente ao resumo de incidentes do SPIRad.

O segundo formulário, conforme exibido nas Figuras 17 a 20, refere se à análise

do incidente, nesse formulário será realizada uma análise minuciosa de todo processo de

tratamento. Constam, assim, nesse formulário de análise as seguintes informações:

• Localização e perfil do estabelecimento (n.º de LINAC’s, pacientes/dia,

físicos médicos/turno etc);

• Idade e gênero do paciente no momento do incidente;

• Notificação ao paciente e ao Médico oncologista responsável pelo

paciente;

• Doença a ser tratada, estadiamento da doença e local anatômico de

tratamento pretendido;

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• Intenção de tratamento, dose absorvida prescrita total e por fração (em

Gy);

• Técnica de tratamento utilizada e fase do tratamento no momento;

• Tipo de imagem utilizada para localização da área a ser tratada;

• Função da pessoa que inicialmente descobriu o incidente;

• Fabricante e modelo da unidade de tratamento e do TPS;

• Fabricante e modelo de dispositivos auxiliares (acessórios);

• Número de pacientes tratados e funcionários presentes (físicos, radio

terapeutas, médicos oncologistas) no dia do incidente na unidade;

• Tipo de erro e métricas de gravidade;

• Evento relatável para os órgãos responsáveis (CNEN/ANVISA);

• Gravidade médica, tipo de avaliação da gravidade e período de avaliação;

• Descrição do incidente fornecido pela pessoa que avalia o incidente;

• Ponto de fluxo de trabalho em que o incidente se originou;

• Arquivos esclarecedores (imagens, documentos anexos etc);

• Causas e fatores contribuintes no trabalho no incidente

Figura 17: Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad

com os campos específicos ao tipo de tratamento utilizado.

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Figura 18: Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad

com campos referentes a técnicas de tratamento e detalhamento de equipamentos.

Figura 19: Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad

com campos referentes às métricas de gravidade baseadas na terminologia do Toward

Safer Radiotherapy e American Consensus [13, 86].

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Figura 20: Segundo formulário equivalente a análise de incidentes do SPIRad

referentes aos campos dissertativos sobre o incidente.

O terceiro formulário, conforme exibido nas Figuras 21 e 22, é o formulário de

resposta em que o avaliador relata as medidas tomadas sobre o incidente, pode ser

preenchido pelo mesmo usuário responsável pelo formulário de resumo e análise.

Constam nesse formulário as seguintes informações:

• Escalas de ação clínica, que vão de A até D de acordo com a gravidade

do incidente sendo “A” a mais baixa e “D” a mais alta de acordo com o

American Consensus [13];

• Tipo de intervenção tomada (campo de texto);

• Barreiras de segurança (campo de texto);

• Ação corretiva e ação preventiva (campo de texto);

• Ações de aprendizagem (campo de texto).

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Figura 21: Terceiro formulário equivalente ao formulário de resposta do

SPIRad.

Figura 22: Últimos campos do formulário de resposta do SPIRad.

No formulário referente ao resumo do incidente, ao selecionar no campo “Tipo

de Incidente” a opção “near-miss”, os 3 formulários se resumem a apenas 1 formulário

com campos específicos à opção selecionada, conforme Figuras 23 a 26. Os campos

referentes ao formulário são:

• Data e hora do incidente;

• Data do relatório e da descoberta;

• Modalidade de tratamento;

• Nome e função do profissional que reporta o evento;

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36

• Localização da unidade;

• Notificação ao Radioterapeuta responsável pelo paciente;

• Local anatômico previsto para o tratamento;

• Fase do tratamento e técnica utilizada;

• Tipo de imagem utilizada para localização da área a ser tratada;

• Função da pessoa que inicialmente descobriu o evento;

• Especificações técnicas sobre unidade de tratamento, sistema de

planejamento e sistema de registro e verificação;

• Tipo de erro;

• Descrição detalhada do evento (campo de texto);

• Ponto do fluxo do trabalho em que o evento se originou (campo de

texto);

• Listagem de todas as causas e fatores contribuintes no trabalho no evento

(campo de texto);

• Ação preventiva tomada para que o mesmo evento não volte a se repetir

(campo de texto);

• Arquivos esclarecedores (imagens, documentos em anexo etc).

Figura 23: Campos do formulário específico para near-misses do SPIRad.

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37

Figura 24: Campos referentes a informações do tratamento no formulário para

near-misses do SPIRad.

Figura 25: Campos dissertativos do formulário para near-misses do SPIRad.

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38

Figura 26: Últimos campos do formulário para near-misses do SPIRad.

3.2. Escalas métricas de gravidade.

Para as escalas métricas de gravidade, foi adotada a terminologia do American

Consensus em conjunto com o Toward Safer Radiotherapy [13, 86].

O Toward Safer Radiotherapy é uma publicação feita em abril de 2008 por

instituições do Reino Unido com recomendações que visam estabelecer um sistema

uniforme, estável e específico para registro de incidentes e near-misses em radioterapia.

Essa publicação tem como objetivo uma grade de classificação de erros em radioterapia

(conforme exibido na Figura 26) além de uma codificação uniforme e fornecimento de

orientações para todo profissional envolvido no tratamento radioterápico e responsáveis

por gestão de risco [86].

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39

Figura 27: Grade de classificação descrita no Toward Safer Radiotherapy

(adaptada pelo autor) [86].

O American consensus é uma publicação cujo nome é “Consensus

recomendations for incidente learning system data base structures” resultada de uma

iniciativa em 2010 do Work Group on the Prevention of Errors (WGPE) que tem como

objetivo o fornecimento de recomendações consensuais de natureza técnica para

elaboração de relatórios para registros de incidentes em radioterapia. Este documento

destaca como referência o termo “incidente”, que pode ser um erro ou um evento

adverso, como algo passível de interesse para a metodologia, mesmo que as

consequências clinicas sejam menores [13].

Na publicação é possível encontrar a definição para alguns termos já vistos em

publicações referentes a essa temática e de comum dificuldade de interpretação, alguns

destes termos são citados na Tabela 3.

Erros em

Radioterapia

Não

Incidente

Radiológico?

Potencial Incidente

Radiológico? Não

Nv. 5 (Outras não

conformidades)

Sim Nv. 4 (Near Miss)

Sim Reportável?

Não

Incidente

Radiológico

corrigível?

Não

Sim

Nv. 3 (Incidente

menor)

Clinicamente

significativo? Não

Sim Nv. 2 (Incidente

não reportável)

Nv. 1 (Incidente

reportável) Sim

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40

Tabela 3: Algumas definições que constam na publicação do American

Consensus. (adaptada pelo autor) [13].

Termos Definição

Evento adverso (Adverse event) Incidente que ocorre durante o processo de prestação de

cuidados de saúde e resulta em resultados clínicos de

qualidade inferior. Inclui lesões não intencionais ou

complicações que levam à incapacidade, morte ou

internamento prolongado do doente.

Causa (Causes) Situação, condição, ação ou omissão que leva a um

incidente.

Erro (Error) Falha ao completar uma ação planejada segundo o

previsto ou uso de um plano incorreto para atingir um

determinado objetivo.

Incidente (Incident) Uma alteração indesejada ou inesperada de um

comportamento do sistema que tem o potencial de

causar um efeito adverso para pessoas ou

equipamentos.

Erro (Mistake) Implementação de um plano improvável para atingir o

resultado pretendido, mesmo se executado

corretamente. Julgamento errado, ação errada ou

desatenção.

Quase falha (Near miss) Um evento ou situação que poderia ter resultado em um

acidente, lesão ou doença, mas não resultou, por acaso

ou pela intervenção oportuna.

Risco (Risk) A probabilidade estimada de um evento com alguma

severidade ocorrer.

Barreira de segurança (Safety barrier) Etapa do processo, cuja função principal é evitar que

um erro ou engano ocorra ou se propague através do

fluxo de trabalho em radioterapia.

Severidade (Severity) A medida em que uma determinada ação provoca

danos.

As escalas métricas de gravidade adaptadas desta publicação para o trabalho

foram deliberadamente separadas em escalas de gravidade dosimétrica e gravidade

médica, já que para um sistema de registro de incidentes é necessário distinguir as

falhas que tenham consequências dosimétricas graves nas menores consequências

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41

médicas, daquelas que possuem pequenos erros dosimétricos mas consequências

médicas mais graves [13]. Na Tabela 4 constam os níveis de escala dosimétrica e na

Tabela 5 os níveis de gravidade médica, ambos presentes na publicação do American

Consensus que foram implementados no SPIRad.

Tabela 4: Escala de gravidade dosimétrica de acordo com a publicação do

American Consensus (Adaptado pelo autor) [13].

Nível Desvio de dose por curso

9/10 100% de desvio de dose em relação ao prescrito para qualquer estrutura.

7/8 >25% a 100% de desvio de dose em relação ao prescrito para qualquer estrutura.

5/6 >10% a 25% de desvio de dose em relação ao prescrito para qualquer estrutura.

3/4 >5% a 10% de desvio de dose em relação ao prescrito para qualquer estrutura.

1/2 <5% de desvio de dose em relação ao prescrito para qualquer estrutura.

0 Não aplicável.

Tabela 5: Escala de gravidade médica de acordo com a publicação do American

Consensus (Adaptado pelo autor) [13].

Nível Consequências (reais ou previstas)

10 Morte prematura

8/9 Risco de vida – intervenção essencial

7 Deficiência grave e permanente (ou grau 3/4 de toxicidade permanente)

5/6 Deficiência menor permanente (ou grau 1/ 2 de toxicidade permanente).

3/4 Efeitos secundários temporários – necessário tratamento ou hospitalização.

2 Efeitos secundários temporários – intervenção indicada.

1 Efeitos secundários temporários – intervenção não indicada.

0 Nenhum dano causado.

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42

4. RESULTADOS

Após realizadas as etapas referentes ao desenvolvimento do SPIRad conforme

mencionado no Capítulo 3, foi iniciada a etapa de aplicação da ferramenta, os métodos

de aplicação assim como os resultados obtidos encontram-se descritos neste Capítulo.

4.1. Métodos de aplicação do SPIRad.

Foram selecionadas duas instalações que oferecem o serviço de radioterapia no

estado do Rio de Janeiro e denominadas neste trabalho como Instituição I e II, a

Instituição I corresponde a um grande hospital público do Estado do Rio que atende

uma demanda de 300 pacientes por dia distribuídos em 3 turnos, e sua equipe de

radioterapia é composta por 16 radio oncologistas, 4 físicos médicos por turno, 15

técnicos de radioterapia por turno e 4 enfermeiros(as) por turno, além de operarem com

5 aceleradores lineares e possuírem 1 HDR. A Instituição II corresponde a uma clínica

também situada no Estado do Rio de Janeiro e de natureza privada que atende uma

demanda de 75 pacientes por dia distribuídos em 4 turnos, e sua equipe de radioterapia é

composta de 4 radio oncologistas, 2 físicos médicos por turno, 2 técnicos de

radioterapia por turno, 1 enfermeiro (a) por turno, operam com 1 acelerador linear e não

possuem HDR. Todas essas informações estão agrupadas na Tabela 6.

Tabela 6: Composição das equipes de radioterapia das Instituições I e II.

Centros de

Radioterapia

Radio

Oncologistas

Físicos

Médicos por

Turno

Técnicos de

Radioterapia por

Turno

Enfermeiros

por Turno

Pacientes

por dia

N.º de

LINACs

e/ou

Co60

N.º de

HDR

Instituição I 16 4 15 4 300 5 1

Instituição II 4 2 2 1 75 1 0

Mediante reuniões com os representantes de cada instituição, foi possível

combinar como seria realizada a aplicação do SPIRad. Devido à grande demanda de

tempo para a implementação do banco de dados do sistema nas duas instituições e pelo

pouco tempo disponível para a coleta de resultados, optou-se por realizar a aplicação

teste de forma offline e os registros convertidos para o formato PDF ou até mesmo

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43

impressos. Em ambas as instituições, a aplicação teste do SPIRad durou

aproximadamente 5 meses e, durante esse período, tanto na Instituição I quanto na II os

registros foram realizados por físicos médicos responsáveis pelas equipes que se

dispuseram a colaborar com a pesquisa.

4.2.Avaliação dos resultados.

Após a aplicação teste, foi possível detectar algumas características das

Instituições I e II de acordo com os fatores críticos de sucesso para a implementação de

um sistema de aprendizagem com incidentes, citados no Capítulo 2, e aqui exibidas na

Tabela 7.

Tabela 7: Relação dos fatores críticos de sucesso para a implementação do

SPIRad identificados nas Instituições I e II.

Fatores críticos de sucesso para implementação do SPIRad Instituição I Instituição II

Necessidade de recursos (pessoas, tempo, instrumentos) adequados para

análise de incidentes.

X X

Dificuldade em interromper a rotina de trabalho para registrar incidentes. X X

Treinamento dos usuários para uso da ferramenta. X X

Teste piloto, validação com casos exemplos. X X

Registros devem ser rápidos e facilmente acessíveis para os autores. X X

Necessidade de definições claras dos termos e delimitações do escopo do

sistema, adequados à realidade do serviço.

X X

Incluir análise de near-misses (eventos que não atingem o paciente). X X

Registros voluntários (não obrigatórios). X X

Não haver consequências negativas para os autores dos registros. X X

Registros anônimos (garantir confidencialidade). X -

Ênfase de que objetivo do sistema de registro é melhoria da qualidade e

segurança dos processos.

X X

Registros incompletos X -

Percepção do erro pelo profissional (característica do incidente). X X

Comprometimento institucional (principalmente da alta direção). - X

Integração ou comunicação com sistema de registro geral do hospital. - X

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44

Analisando as instituições durante a aplicação teste do SPIRad foi possível traçar

um perfil tendo em conta os fatores críticos citados no parágrafo anterior, à respeito das

instituições e da ferramenta de registro de incidentes empregada neste trabalho. A

análise permitiu fazer as seguintes afirmações para cada fator crítico:

Necessidade de recursos: A grande demanda de serviço nas duas instituições,

tendo como consequência pouco tempo disponível para que os colaboradores pudessem

alimentar o sistema com registros, associado ao pouco tempo disponível para aplicação

teste do SPIRad resultou na coleta de poucos registros para avaliação; Hábito de

registro: Pelo mesmo motivo mencionado no tópico anterior, os colaboradores tiveram

dificuldade em interromper a rotina para poder alimentar o sistema com registros,

principalmente na Instituição I; Treinamento dos usuários e teste piloto: Após

apresentar o sistema e orientar sobre os campos e preenchimento em ambas as

Instituições, os colaboradores utilizaram o SPIRad para “migrar” do livro de ocorrências

para o sistema alguns registros realizados anteriormente com intuito de se familiarizar

com os campos presentes no formulário, o que possibilitou também tirar dúvidas

existentes; Facilidade de registro, definições e escopo: A partir do teste piloto, foi

possível mediante feedbacks dos colaboradores realizar updates necessários em alguns

campos que, até o momento, estavam gerando dúvidas por parte de alguns integrantes

de ambas as equipes colaboradoras, além de tornar a ferramenta mais prática para o

preenchimento, adequando-a com a realidade das Instituições; Inclusão de near-

misses: A maior parte dos registros coletados para análise foram referentes a near-

misses, ou seja, eventos que não atingiram o paciente, tanto que durante os feedbacks

dos colaboradores, foi solicitado um formulário específico apenas para este tipo de

incidente; Registros voluntários e não punitivo: Pelo fato de ter sido uma aplicação

teste, os colaboradores poderiam registrar anonimamente e não haveria identificação em

caso de não preenchimento de incidentes reais e near-misses, até mesmo para os autores

dos registros; Anonimização dos dados: Ao analisar as causas dos eventos, o fator

"erros humanos" foi predominante em quase todos os registros coletados, tantos

incidentes reais quanto near-misses. Entretanto, na Instituição I os colaboradores

optaram pela anonimização dos dados do paciente e até mesmo de quem reportou e

detectou o evento, ao contrário dos colaboradores da Instituição II; Foco na melhoria

do sistema e qualidade do registro: Os colaboradores de ambas as Instituições

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45

enfatizaram que o objetivo do sistema é a melhoria da qualidade e da segurança nos

processos, porém os colaboradores da Instituição II buscaram priorizar todos os campos

adicionando registros completos e informativos; ao contrário dos colaboradores da

Instituição I que devido à grande demanda de trabalho e falta de tempo para a prática do

registro deixaram alguns campos em branco, preenchendo somente o essencial sem

detalhamento; Percepção do erro: Todos os registros foram realizados por físicos

médicos de ambas as equipes das Instituições I e II, porém, em boa parte dos registros,

os técnicos de radioterapia foram responsáveis por detectar o incidente, o que mostra a

percepção do erro por parte de outros integrantes da equipe; Apoio organizacional: Na

Instituição II, após reunião com físicos e superiores, obteve-se o apoio da alta direção

para que pudesse ser possível utilizar as instalações para realizar a aplicação teste do

SPIRad; entretanto, na Instituição I ocorreu apenas uma reunião com o chefe do setor de

física médica para que fosse possível utilizar a instalação, isso se deve provavelmente

ao fato de a Instituição I ser de natureza pública; Integração com o sistema de registro

geral do hospital/Instituição: Os colaboradores da Instituição II aproveitaram a

aplicação teste para oficializar os registros relatados, tanto que como a aplicação teste

foi offline, imprimiram os eventos registrados e anexaram ao livro de ocorrências e

surgiu a proposta de, após esse trabalho, poder implementar o banco de dados do

SPIRad na Instituição e em suas filiais.

Ao avaliar o tópico referente às métricas de gravidade nos registros coletados,

foram coletadas as seguintes informações referentes aos incidentes registrados:

• Todos os incidentes reais tiveram escala de gravidade dosimétrica de 1/2

(desvio absoluto de dose da prescrição total abaixo de 5%);

• Todos os incidentes reais tiveram escala de gravidade médica de 0 (sem

danos);

• Todos os incidentes reais tiveram a gravidade avaliada em menos de 24 h

após o incidente;

• A escala de ação clínica em todos os registros de incidentes reais foi de

“A” na relação de A até D, ou seja, tiveram uma escala baixa.

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46

Os incidentes registrados no SPIRad durante toda a aplicação foram aqueles que

tiveram impacto, ou potencial de impactar a saúde física de pacientes assim como danos

a equipamentos devido à má utilização ou descuido que pudessem, de alguma forma,

impactar a saúde física dos pacientes. Na maioria dos sistemas descritos na literatura, o

grupo de profissionais que mais geram registros de incidentes são técnicos de

radioterapia, dosimetristas e físicos médicos, sendo que a participação de médicos é

quase inexistente [22, 36, 87, 88]. Entretanto, conforme descrito anteriormente nos

fatores críticos detectados na aplicação do SPIRad, devido aos motivos citados, poucos

resultados foram coletados, totalizando 10 registros (4 da Instituição I e 6 da Instituição

II), gerando uma baixa estatística.

Todos os registros obtidos nas Instituições I e II foram preenchidos por físicos

médicos, pois os mesmos optaram por ficarem responsáveis por essa função de

alimentar o SPIRad com informações. Ao fazer o levantamento dos registros, observou-

se que 70% dos incidentes registrados foram detectados por técnicos de radioterapia e

30% dos incidentes registrados foram detectados por físicos médicos. Em relação a

descoberta dos incidentes e near-misses, foi feita uma análise dos campos 24 e 25 do

segundo formulário do SPIRad que são respectivamente referentes a “Análise do

incidente” e “Onde se originou” em conjunto com o campo 5 do primeiro formulário

onde consta o campo “Tipo de incidente”. Utilizando como base o American consensus

[13], foi elaborado para as duas Instituições um mapa de processo de tratamento para

radioterapia de feixe externo. Após o levantamento dos dados sobre a origem dos

eventos, tanto incidentes quanto near-misses, conforme exibido na Figura 28, foi

possível identificar a etapa do processo onde foram detectados os eventos em ambas as

Instituições. Sendo assim, pode-se afirmar que:

• 70% dos incidentes registrados foram detectados por técnicos de

radioterapia na sala de comando durante o tratamento, sendo que 35%

foram identificados como incidentes reais e 35% como near-misses;

• 30% dos incidentes registrados foram detectados por físicos médicos no

planejamento do tratamento, sendo todos near-misses;

• Todos os incidentes registrados foram referentes a tratamento por feixe

externo, durante a aplicação teste não foi registrado nenhum incidente

referente a braquiterapia.

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Figura 28: Mapa de processos para tratamento de feixe externo (adaptado do

American consensus) com identificação dos pontos onde foram detectados os incidentes

nas Instituições I e II.

Existem vários fatores que podem contribuir para um incidente e um near-miss.

Em atenção aos campos referentes às causas e fatores que contribuíram para a

ocorrência do incidente nas duas Instituições, através da Figura 29, verifica-se que:

Avaliação do

paciente

Imagens para

planejamento

Planejamento de

tratamento

Revisão e

verificação para

pré-tratamento

Entrega de

tratamento

Gestão da

qualidade no

tratamento

Conclusão pós

tratamento

x N frações

30% dos incidentes

detectados por Físicos

médicos sendo todos

near-misses.

Gestão da

qualidade de

equipamentos e

software

70% dos incidentes

detectados por

Técnicos de

Radioterapia sendo

35% incidentes reais e

35% near-misses.

Mapa de processo de tratamento de radioterapia

com feixe externo das Instituições I e II.

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48

• 60% dos fatores contribuintes encontrados nos registros estão

relacionados a erros humanos, o que equivale a 6 registros dos 10

analisados;

• 30% dos fatores estão relacionados a falhas em procedimentos, o que

equivale a 3 registros dos 10 analisados;

• Apenas 10% dos fatores estão relacionados a problemas técnicos em

equipamentos, o que equivale a apenas 1 registro dos 10 analisados.

Figura 29: Análise estatística referente aos fatores que contribuíram para a

ocorrência do incidente/near-miss nas Instituições I e II.

Ao fazer o levantamento dos tipos de erros, foi feita uma análise dos registros

coletados. Dentre os tipos de erros relatados, os mais encontrados foram:

Paciente errado: 2 incidentes apresentaram esse tipo de erro na etapa de entrega

do tratamento, resultando em incidentes reais que foram sinalizados por técnicos de

radioterapia durante o processo; Prescrição de dose: 2 incidentes apresentaram esse

tipo de erro na etapa de revisão e verificação para pré tratamento, ambos sinalizados por

físicos médicos e caracterizados como near-misses; Erro de delineamento: 1 incidente

apresentou esse tipo de erro na etapa de revisão e verificação para pré tratamento, foi

sinalizado por um físico médico e classificado como um near-miss; Abertura de plano

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Erros humanos Falhas em procedimentos Problemas técnicos

60%

30%

10%

FATO R E S Q U E C O N T R I B UÍ R AM PA R A A

O C O R R Ê N CI A D O I N C I D E N TE/ NEA R - MISS

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49

de tratamento errado/antigo de paciente: 2 incidentes apresentaram esse tipo de erro

na etapa de entrega do tratamento, foram sinalizados por técnicos de radioterapia e

resultaram em 1 incidente real e 1 near-miss; Erro de conferência dos planos de

tratamento do paciente: 3 incidentes apresentaram esse tipo de erro na etapa de

entrega do tratamento, foram sinalizados por técnicos de radioterapia e foram

classificados como 1 sendo incidente real e 2 near-misses.

As barreiras de segurança são importantes pontos críticos de controle no mapa

de processo do tratamento de radioterapia, ou seja, são medidas que em quaisquer

etapas do processo possuem como principal função evitar que erros ocorram durante o

processo e é fundamental que seja percebido de até que ponto estas são ou não eficazes

para que seja possível analisar a informação [13].

As barreiras de segurança estabelecidas nos registros de ambas as Instituições

foram analisadas relativamente à capacidade de sucesso/falha na detecção de incidentes

e near-misses. É possível verificar que existem barreiras bastante eficientes na detecção

de incidentes; entretanto, é importante destacar que as barreiras que não detectaram um

incidente não são necessariamente falhas, elas apenas não contribuíram para a detecção

por não se relacionarem diretamente com o incidente, podendo ser consideradas

barreiras fracas para o incidente relatado.

A Figura 30 exibe o mesmo mapa de processo de tratamento de feixe externo

elaborado para as Instituições I e II apresentado anteriormente, mas com a identificação

dos pontos onde atuam as barreiras de segurança.

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50

Figura 30: Mapa de processos para tratamento de feixe externo (adaptado do

American consensus) com identificação dos pontos onde atuam algumas barreiras de

segurança nas duas Instituições.

Verificação inicial do físico.

Revisão de imagens do portal.

Revisão de imagens de localização (incluindo CBCT).

Verificação semanal do gráfico pelo físico.

Verificação do ID do paciente.

Verificação do gráfico final.

Avaliação clínica pós

tratamento

Teste de aceitação

Revisão independente de

comissionamento

Gerenciamento de qualidade

em andamento

Manutenção preventiva (PM)

Postar reparo / verificação de

alterações.

Avaliação do

paciente

Imagens para

planejamento

Planejamento

de tratamento

Revisão e

verificação para

pré-tratamento

Entrega de

tratamento

Gestão da

qualidade no

tratamento

Conclusão pós

tratamento

x N frações

Verificação do ID do paciente.

Avaliação clínica do paciente

Revisão por pares de decisão de

tratamento.

Gestão da

qualidade de

equipamentos e

software

Verificação do ID do paciente.

Sistema de registro e

verificação.

Verificação dos dados na folha

de tratamento.

Verificação guiada por imagem.

Verificação do físico médico

antes do tratamento.

Dosimetria in vivo.

Monitoração de tratamento.

Mapa de processo de tratamento de radioterapia com feixe

externo com barreiras de segurança nas 2 Instituições.

Verificação do ID

do paciente.

Avaliação preliminar do plano de

tratamento pelo físico médico.

Avaliação preliminar do plano de

tratamento pelo médico.

Revisão de plano pelo físico médico

Cálculo de dose independente

Verificação de parâmetros na unidade de

tratamento

Medição do plano específico do paciente

pré-tratamento (por exemplo, IMRT QA)

Verificação / aprovação do físico médico

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51

Um exemplo concreto para a definição de sucesso/falha é quando ocorre um erro

na colocação de um bolus num paciente para auxiliar na superficialização da dose

absorvida no tratamento [89], este erro poderá facilmente passar pela barreira

“Verificação da ID do paciente” sem que a mesma o detecte. No entanto esta barreira

não deixou de ser eficiente, apenas não estava relacionada diretamente com o

procedimento. Assim como este exemplo, existem outros nos quais a análise será focada

na eficiência das barreiras que detectaram os eventos ocorridos.

Para realizar o levantamento estatístico das barreiras de segurança exibido na

Tabela 8, utilizou-se o cálculo de frequência relativa (𝑝´𝑖) que é determinado pela

equação abaixo [90]:

𝑝′𝑖 =𝑓𝑖

𝑛 (1)

onde:

𝑓𝑖 = frequência do i-ésimo valor observado, no caso o nº de vezes que

determinada barreira de segurança foi notificada nos registros;

𝑛 = número total de valores observados referentes as barreiras de segurança.

Ao analisar as barreiras relatadas nos registros coletados, detectou-se que as

barreiras de segurança “Monitorização do tratamento” e “Verificação dos dados na

folha de tratamento” foram as mais eficientes na detecção dos incidentes registrados

sendo um incidente real ou near-miss. Logo após essas duas tem-se a barreira

denominada “Verificação de ID do Paciente”, que é uma barreira de segurança

redundante, estando presente em praticamente todas as etapas do mapa de processo de

tratamento. As duas últimas barreiras não detectaram erros, isso provavelmente se deve

ao fato de estas não terem sido necessárias já que as barreiras que antecedem as mesmas

foram eficazes na detecção do incidente.

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52

Tabela 8: Distribuição de frequência das barreiras de segurança relatadas nos

registros coletados.

Barreiras de segurança Frequência (𝑓𝑖) Frequência relativa (𝑝´𝑖)

Verificação de ID do paciente 3 0,13

Revisão de planejamento pelo físico 2 0,09

Cálculo independente de dose 2 0,09

Sistema de registro e verificação 2 0,09

Verificação dos dados na folha de planejamento 4 0,17

Verificação guiada por imagem 2 0,09

Dosimetria in vivo 2 0,09

Monitorização do tratamento 4 0,17

Verificação do gráfico semanal pelo físico 1 0,04

Avaliação clínica pós tratamento 1 0,04

Revisão independente de comissionamento 0 0,00

Gerenciamento de qualidade em andamento 0 0,00

Total (𝑛) 23 1,00

Por fim, ao levantar os dados referentes aos campos do formulário que focam em

ações corretivas, preventivas e de aprendizagem, todos os 10 registros apresentaram

soluções referentes aos incidentes registrados. Os incidentes que apresentaram como

erro “paciente errado” buscou como ação corretiva o reforço das ações de identificação

do paciente e melhoria na organização da agenda de tratamento, tendo como ação

preventiva o aprimoramento na exigência de foto do paciente no sistema de

gerenciamento, e como ação de aprendizagem a melhoria da comunicação de defesa em

profundidade. Os incidentes que apresentaram como erro “prescrição errada” e “erro de

delineamento” tiveram apenas como ação preventiva respectivamente o aprimoramento

do uso de prescrição eletrônica pelos médicos no sistema de gerenciamento e a

utilização de conjuntos de estrutura para delineamento padronizado e implantação de

dupla verificação médica. Os incidentes que apresentaram como erro “abertura de plano

errado/antigo do paciente” foram aqueles que tiveram como fatores problemas técnicos

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53

e tiveram como ação preventiva a inserção de forma manual do tratamento no sistema

de gerenciamento e finalização de todos os cursos de tratamento após o termino do

plano de tratamento de modo a não o deixar mais disponível para ser aberto

erroneamente na sala de comando. Por fim, os incidentes que apresentaram como erro

“conferência dos planos de tratamento” tiveram como ação corretiva o agendamento de

uma nova aplicação ao final do curso de tratamento do paciente para finalizar de forma

completa o tratamento e como ação preventiva a necessidade da presença do físico

médico também nas mudanças de fase do tratamento.

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54

5. CONCLUSÃO

Após concluído o projeto pode-se dizer que seus objetivos foram cumpridos. Em

primeiro lugar, foi realizado o estudo e revisão da terminologia, assim como a

classificação e métodos utilizados no registro de incidentes em radioterapia. Através

deste estudo, de uma revisão e de uma harmonização de todos os conceitos, foi possível

estabelecer critérios de estruturação para uma plataforma de registro de incidentes nas

Instituições colaboradoras.

O sistema de aprendizagem com incidentes é uma importante ferramenta

utilizada na gestão de risco em vários setores produtivos. Conforme consta na literatura,

a aplicação desta metodologia tem sido recomendada por especialistas na área da saúde

e destaca-se na radioterapia, conforme exigido por instituições reguladoras. Entretanto,

a aplicação desta metodologia é desafiadora e este processo de implementação e

desafios associados são discutidos detalhadamente em poucas publicações da área.

Após a conclusão do ambiente digital do SPIRad e também de sua aplicação

teste, a princípio, é possível afirmar que o SPIRad poderá ser de grande utilidade no

aprimoramento de protocolos de tratamento, uma vez que será possível além de

reportar, também analisar os eventos para obtenção de informações que impactam no

tratamento, possibilitando empregar medidas para diminuir os riscos.

O SPIRad permite um registro sequencial de incidentes e near-misses em

radioterapia, dividido em categorias e processos ao longo do tratamento, e pelo fato de

ser uma ferramenta institucional, ao contrário das outras ferramentas conhecidas na

literatura de natureza pública, ela foi se adaptando a realidade das Instituições que

oferecem serviço de radioterapia. Mediante alguns feedbacks dos usuários, foi possível

observar que a praticidade da ferramenta foi uma das características mais mencionadas e

tal qualidade é comprovada nos registros, visto que não houve erros de preenchimento,

independentemente da aplicação teste ter sido realizada de forma offline.

Pelo fato de ser uma ferramenta voluntária e, por isso mesmo, ser uma

ferramenta institucional de característica instrutiva e não punitiva, o SPIRad auxiliará na

política de gestão de qualidade e na cultura de segurança do paciente. Entretanto, para

que possa ter um bom aproveitamento, é necessário que haja a participação e a prática

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55

em reportar os eventos e compartilhar as experiencias obtidas seja constante e abraçada

por todo o corpo profissional envolvido com o tratamento, já que a radioterapia é

interdisciplinar e para se obter sucesso é necessária a participação de todos.

Uma vez obtido sucesso na sua aplicação e cumprido seus objetivos, existe

espaço para trabalhos futuros voltando os objetivos para a ampliação dessa base de

dados, realizando enfim a aplicação da ferramenta na forma proposta através da

INTRANET em demais Instituições que possuam filiais para poder condensar melhor os

resultados, possibilitando assim, se possível, um projeto similar ao do ROSEIS e/ou

RO-ILS, uma vez que se encontra já realizada a otimização dos campos de

preenchimento sequenciais no registro de incidentes. Desta forma, será possível criar

uma conscientização para a segurança do paciente e de todos os profissionais

envolvidos no processo de tratamento em radioterapia, seguindo os padrões

internacionais e acompanhando toda a evolução internacional que tem surgido na área

da radioterapia.

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56

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ANEXO I

Formulário digital do SPIRad

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