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DA ILUSÃO DE MOVIMENTO À COMPOSIÇÃO DE ANIMAÇÕES: STOP MOTION NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES Tatiana Ferreira dos Santos 1 Mônica Andrade Modesto 2 Maria Inêz Oliveira Araújo 3 GT5 Educação, Comunicação e Tecnologias. RESUMO O presente artigo objetiva explicitar as experiências com a utilização da técnica de animação audiovisual Stop Motion como potencial ferramenta para desenvolver a sensibilização para a questão ambiental. A pesquisa foi desenvolvida com vinte alunos de pedagogia, que, além de utilizarem a técnica, puderam conhecer o software Windows Movie Maker e as possibilidades da inserção das TIC no cotidiano escolar. Assim, na quarta versão da oficina, os alunos de pedagogia construíram curtas-metragens com a temática referente aos conteúdos abordados na disciplina Educação e Ética Ambiental. Desse modo, através da análise dos questionários aplicados junto aos alunos, constatou-se que a oficina do stop motion proporcionou a construção colaborativa de conhecimento, reflexão crítica diante da questão ambiental, fomentando a criatividade e incentivando a utilização de ferramentas da tecnologia da informação. PALAVRAS-CHAVE: Stop Motion; Educação Ambiental; TIC. ABSTRACT This article aims to explain the experiences with the use of audiovisual Stop Motion animation technique as a potential increase awareness of environmental issues. The research was conducted with twenty students of pedagogy that, they used a technique, have to know Windows Movie Maker software and the possibilities of integrating ICT in everyday school life. Thus, in the fourth version of the workshop, the pedagogy students built short films with themes related to issues treated in Environmental Education and Ethics discipline. Thus, through the analysis of questionnaires given to the students, it was found that the workshop of stop motion provided the collaborative construction of knowledge, critical reflection on the environmental issue, fostering creativity and encouraging the use of information technology tools. KEYWORDS: Stop Motion; Environmental Education; TIC. 1 Graduada em Serviço Social (UNIT); Mestranda em Educação (PPGED/UFS); Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEASE). E-mail: [email protected] 2 Pedagoga; Discente do Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Sergipe; Professora do quadro permanente da Secretaria da Educação do Estado de Sergipe; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEASE); E-mail: [email protected] 3 Professora no DED/UFS, professora e vice-coordenadora no PPEGD/UFS. Doutora em Educação USP e Pós-doutora em Educação pela Universidade do Porto.

DA ILUSÃO DE MOVIMENTO À COMPOSIÇÃO DE ANIMAÇÕES: …

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DA ILUSÃO DE MOVIMENTO À COMPOSIÇÃO DE

ANIMAÇÕES: STOP MOTION NA FORMAÇÃO INICIAL DE

PROFESSORES

Tatiana Ferreira dos Santos1

Mônica Andrade Modesto2

Maria Inêz Oliveira Araújo3

GT5 – Educação, Comunicação e Tecnologias.

RESUMO

O presente artigo objetiva explicitar as experiências com a utilização da técnica de animação

audiovisual Stop Motion como potencial ferramenta para desenvolver a sensibilização para a

questão ambiental. A pesquisa foi desenvolvida com vinte alunos de pedagogia, que, além de

utilizarem a técnica, puderam conhecer o software Windows Movie Maker e as possibilidades

da inserção das TIC no cotidiano escolar. Assim, na quarta versão da oficina, os alunos de

pedagogia construíram curtas-metragens com a temática referente aos conteúdos abordados na

disciplina Educação e Ética Ambiental. Desse modo, através da análise dos questionários

aplicados junto aos alunos, constatou-se que a oficina do stop motion proporcionou a construção

colaborativa de conhecimento, reflexão crítica diante da questão ambiental, fomentando a

criatividade e incentivando a utilização de ferramentas da tecnologia da informação.

PALAVRAS-CHAVE: Stop Motion; Educação Ambiental; TIC.

ABSTRACT

This article aims to explain the experiences with the use of audiovisual Stop Motion animation

technique as a potential increase awareness of environmental issues. The research was conducted

with twenty students of pedagogy that, they used a technique, have to know Windows Movie

Maker software and the possibilities of integrating ICT in everyday school life. Thus, in the fourth

version of the workshop, the pedagogy students built short films with themes related to issues

treated in Environmental Education and Ethics discipline. Thus, through the analysis of

questionnaires given to the students, it was found that the workshop of stop motion provided the

collaborative construction of knowledge, critical reflection on the environmental issue, fostering

creativity and encouraging the use of information technology tools.

KEYWORDS: Stop Motion; Environmental Education; TIC.

1 Graduada em Serviço Social (UNIT); Mestranda em Educação (PPGED/UFS); Membro do Grupo de

Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEASE). E-mail: [email protected] 2 Pedagoga; Discente do Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da

Universidade Federal de Sergipe; Professora do quadro permanente da Secretaria da Educação do Estado

de Sergipe; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEASE); E-mail:

[email protected] 3 Professora no DED/UFS, professora e vice-coordenadora no PPEGD/UFS. Doutora em Educação USP e

Pós-doutora em Educação pela Universidade do Porto.

1- INTRODUÇÃO

Com o advento das tecnologias da informação no desenvolvimento da sociedade,

esta, atribui as TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação), nas diversas áreas

do conhecimento, como mecanismo facilitador no desenvolvimento de funções que hoje

sem elas demandariam muito mais tempo. As gerações, cada uma vivenciando

tecnologias diferentes e por vezes mais avançadas, desafiam e superam umas às outras,

ou as reinventam. Para Santaella (2003), “A dinâmica da cultura midiática4 se revela

assim como uma dinâmica de aceleração do tráfego, das trocas e das misturas entre as

múltiplas formas, estratos, tempos e espaços da cultura.” (SANTAELLA 2003, p.59).

De acordo com Santaella (2003) através da cultura midiática há a articulação entre

as demais culturas nos mais distintos níveis e identidades. “[...] a cultura midiática é

responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novos

hábitos no consumo de cultura.” (Santaella 2003, p. 59). Para a autora, através da cultura

midiática é possível compreender as contradições do atual desenho social que caracteriza

a cultura pós-moderna. Nesse sentido, a autora considera o cerne da revolução midiática

o computador, onde é possível a conversão de quaisquer informações em uma mesma

linguagem universal. Contudo, o computador é item substancial ao funcionamento dos

arranjos sociais contemporâneos, uma vez que compõe o entremear entre distintas

culturas, linguagens e informações.

Assim como a evolução tecnológica ultrapassa novas atualizações, a técnica do

stop motion incorporou-se ao desenvolvimento da cultura midiática e atualmente compõe

um dos mecanismos chave para a produção de curtas e longas-metragens, envolvendo

distintas culturas, transportando informações através de linguagens universais onde a

ilusão de movimento dá lugar à materialização de conteúdo, caracterizando o stop motion

como forte aliado na facilitação do processo educacional.

O presente artigo nortear-se-á em uma técnica que historicamente advém de

truques de mágica e atualmente está presente em animações consagradas, em produções

audiovisuais, nas redes sociais, no cinema e na Educação. O stop motion, que na tradução

4 Para Santaella (2003) a cultura midiática evidencia a grande transformação social perante a “explosão dos

meios de reprodução técnico-industriais jornal, foto, cinema, seguida da onipresença dos meios eletrônicos

de difusão rádio e televisão” (Santaella 2003, p. 52).

denota movimento parado, apresenta em sua essência a simplicidade e a facilidade de

utiliza-la para quaisquer fins.

Neste caso, a finalidade adotada para o desenvolvimento deste artigo, partiu das

experiências de oficinas de utilização da técnica como fomento para discussão de

conteúdos da disciplina Educação e Ética Ambiental do curso de Pedagogia da

Universidade Tiradentes, ministrada pela Prof.ª Maria Inêz Oliveira Araújo. A oficina

também ganhou espaço em um evento de Educação Ambiental, a qual estiveram presentes

professores e estudantes interessados em discutir a temática ambiental.

O cerne deste trabalho, condiz com a afirmativa de que o stop motion, nas suas

mais variadas facetas, também está presente na Educação e vem facilitando na construção

de produções audiovisuais e consequentemente estimulando e disseminando ideias,

conteúdos, arte, cultura, criatividade e, sobretudo, na formação de opiniões nas mais

variadas plataformas de comunicação e compartilhamento de informação como o

facebook, youtube, instagran, blogger dentre outras redes sociais.

Além disso, foi possível evidenciar através do desenvolvimento da oficina em

duas turmas de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, que a técnica em conjunto

com a utilização do moviemaker e das TIC, resultou em produções audiovisuais em que

culminou na construção colaborativa de conhecimento, criatividade e autonomia dos

alunos envolvidos, além da utilização destas tecnologias, como computador, máquina

fotográfica e celular, das quais possibilitaram a aproximação entre o uso das TIC em sala

de aula e o seu papel transformador no processo ensino-aprendizagem.

A opção metodológica tem como orientação a pesquisa-intervenção, ao tempo em

que se constitui em uma avaliação do potencial do Stop Motion como ferramenta que

auxilia na construção do conhecimento e de valores dos participantes. Gabre, (2012)

concorda com Moreira (2008) quando destaca dois princípios que norteiam a pesquisa

intervenção: a) a primeira diz respeito à consideração das realidades sociais e cotidianas;

no caso desta pesquisa, o foco em educação ambiental, trata diretamente do contexto

socioambiental no qual os participantes estão envolvidos, pois busca, mediante a

aplicação da ferramenta, a contemplação, a reflexão e a tomada de consciência sobre

objetos socioambientais no meio ao qual ele pertence. b) A segunda, tem um viés

metodológico, pois visa o compromisso ético e político da produção de práticas

inovadoras.

Os questionários foram distribuídos aos vinte alunos, ao final da exibição das

produções. O questionário é composto por três questões abertas e uma questão fechada,

sendo que o último item desta questão, é aberta. Foram elencadas questões referentes à

participação na oficina e sobre a relevância da técnica para se trabalhar a questão

ambiental.

Além dos questionários aplicados com os alunos, apresentar-se-á sob análise desta

pesquisa, os relatórios dos trinta e dois alunos sobre a experiência da oficina em sala de

aula a fim de reforçar a afirmativa de que a técnica auxilia no processo educacional

conjecturando no fomento de ideias, estas, amplamente discutidas e debatidas entre os

alunos no processo de confecção dos curtas-metragens através da utilização do stop

motion juntamente com u uso das TIC.

2- DA ILUSÃO DE MOVIMENTO: STOP MOTION

É possível imaginar que a sequência de desenhos em várias folhas de papel resulta

na ilusão de movimento. Esta ação que provoca o movimento de um desenho

estaticamente inanimado desencadeia também numa sucessão de ideias das quais derivam

na evolução da técnica. Essencialmente, o stop motion é uma sequência de imagens que

juntas, quadro a quadro, dão a ilusão de movimento.

Para Bossler (2010), a técnica consiste na tiragem de diversas fotografias e depois

reproduzi-las em sequência criando a ilusão de movimento [...] (BOSSLER, 2010, p.4).

Mas a técnica não se limita às fotografias. É possível utiliza-la a partir de filmagens por

segundos, ou até mesmo através de desenhos em um bloquinho de papel.

De acordo com Morris (2008), segundo a visão de Sartre, a ilusão de ótica consiste

“em uma ocasião pragmática para fazer a distinção aparência/realidade”. (Morris 208, p.

62). Neste sentido, Moletta (2014) afirma que o efeito de movimento causado pela ilusão

de ótica, acontece quando: “imagens sequenciais mudam mais de 12 vezes por segundo,

nosso cérebro não percebe a mudança e passamos a ver as imagens num movimento

contínuo.” (MOLETTA 2014, cap.1).

Portanto, o stop motion surgiu pela primeira vez através de truques de “mágica”.

Entre a ilusão da aparência e da realidade, foi em 1986, que o mágico e cineasta francês

“Georges Mélies passa a utilizar a técnica como uma nova tecnologia de imagens em

movimento, desenvolvendo primeiras técnicas de efeitos especiais.” (CAMPACCI 2011,

p.188).

Georges Mélies inaugurou os efeitos especiais em filmes e foi através da técnica

recém saída dos truques de mágica que Mélies incorpora o stop motion ao cinema

consagrando um dos principais adventos da animação cinematográfica. Um dos basilares

filmes produzido por Mélies utilizando o stop motion foi “Viagem a Lua” (1902). Através

deste filme, o cineasta destacou-se na produção cinematográfica tornando-se um dos

principais nomes da história do stop motion.

Com o passar dos anos, a técnica foi aperfeiçoada e utilizada de diferentes modos.

Há autores que a distinguem de outras técnicas, Pixilation, por exemplo, é a técnica de

tiragem de fotografias muito similar ao stop motion, o que a difere é que o objeto a ser

movido e fotografado são pessoas e não bonecos, desenhos ou objetos estáticos.

(MOLETTA 2014, cap.1).

Shaw (2012) entende que a animação através do stop motion independe de mídia,

seja um desenho no papel, massinha de modelar, ou na manipulação de caixas de fósforo,

até as animações desenvolvidas em computador. Para a autora, a técnica permite o

aperfeiçoamento e a flexibilidade, possibilitando que cada profissional crie técnicas

distintas para produzir a animação.

Para utilização da técnica nas oficinas, foi necessário o cumprimento de etapas

substanciais para a produção de animações. Apesar da flexibilidade e diversidade de

meios na execução da técnica, escolhemos o método de Bossler (2010) para aperfeiçoar

à realidade das turmas de pedagogia. Nele, a autora expõe apenas quatro etapas para se

alcançar a produção de uma animação simples.

O primeiro passo é a escolha da história. A autora sugere iniciar com histórias

breves, pois para desenvolver uma pequena animação, com duração de segundos, são

necessárias no mínimo 60 fotos. Para a autora, esse processo criativo da história é

chamado de roteiro.

No segundo passo, Bossler (2010) enfatiza a construção dos cenários e a

modelagem dos personagens. A autora lança a importância da resistência dos bonecos,

pois eles necessitam de resistência ao ponto em que sofrerão pequenas alterações nos

movimentos. Nessa etapa, a autora frisa a importância da máquina fotográfica permanecer

em um local fixo, para que somente o objeto ou cenário ganhe movimento. Se possível, é

interessante que a máquina seja fixada em um tripé adequado ou um suporte que fixe o

aparelho em um ponto só, sem que haja movimentação da câmera, caso contrário, a

produção não causará ilusão de ótica deixando a animação sob efeito indesejado.

No terceiro passo, Bossler (2010) destaca a tiragem de fotos, que incide em

fotografar a imagem, modificar o personagem manualmente e fotografar novamente. A

autora assegura que nessa etapa do procedimento o personagem pode andar, bater palmas,

dançar ou o que se puder idealizar. Contudo, a autora ressalta a necessidade de se

preocupar com a formação de sombras, sendo necessária a verificação das fotos para

averiguação de possíveis erros.

No quarto e último passo, Bossler (2010) enfatiza sobre a necessidade de transferir

as fotos registradas para o computador e, a partir daí, deve-se construir o filme utilizando

programas de edição de vídeo, a exemplo do movie maker5.

3- Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação:

Está claro até aqui o significado do stop motion, história, algumas curiosidades e

o passo à passo de como compor uma animação simples utilizando a técnica. Neste

capítulo relacionaremos o uso da técnica juntamente com as TIC, na facilitação e no

entremear de conteúdo, possibilitando a formação de opiniões no processo ensino-

aprendizagem.

As possibilidades das tecnologias na atualidade são grandiosas. Ao tempo em que

há a imposição de grandiosidades tecnológicas pelo sistema econômico mundial, a

sociedade contemporânea vive uma enxurrada de lançamentos diários de novos

computadores, celulares, tablets e outros dispositivos que ainda não são comuns à

população, como o google glass6, ou a impressora que imprime objetos, mas que já

existem modelos recentemente lançados e que já estão defasados. Nessa perspectiva, é

praticamente impossível manter-se integrado com as novas tecnologias, pois são

fabricadas no intuito de se tornarem obsoletas. O que é novo hoje, amanhã não é mais,

5 De acordo com a Microsoft (2013), o movie maker é um software de edição de vídeo e áudio que permite adicionar fotos e cenas da câmera ou computador para o software rapidamente. 6 “O Google Glass é um acessório em forma de óculos que possibilita a interação dos usuários com

diversos conteúdos em realidade aumentada.” (TECMUNDO 2015)

uma vez que já foi ultrapassada por outro produto que apresentam funções similares ao

anterior, contudo, dispõe de uma ferramenta que não existia no outro modelo. O

hibridismo, por exemplo, a tecnologia de telecomunicações não está mais restrito ao

telefone, mas sim ao tablete smartfone que está incorporada à uma câmera fotográfica,

filmadora, som, GPS, e tantas outras funções em um único aparelho.

Sobre a era do hibridismo Santaella (2003) define como “mídias digitais com suas

formas de multimídia interativa que estão sendo celebradas por sua capacidade de gerar

sentidos voláteis e polissêmicos que envolvem participação ativa do usuário”

(SANTAELLA 2003, p.146).

No que concerne ao uso das TIC na Educação, para Almeida, é necessário que as

TIC estejam presentes no currículo no intuito de fortalecer a sua utilização juntamente

com os conteúdos didáticos no processo ensino-aprendizagem:

O uso das TIC no desenvolvimento do currículo pode fortalecer a

concepção de currículo centrado em conteúdos prescritos associados ao

ensino por meio de métodos instrucionais baseados na distribuição de

materiais didáticos digitalizados, no reforço da lógica disciplinar e na

avaliação somativa. Por outro lado, as TIC potencializam a

comunicação multidirecional, a representação do conhecimento por

meio de distintas linguagens e o desenvolvimento de produções em

colaboração com pessoas situadas em distintos tempos e lugares,

evidenciando possibilidades de superação da abordagem alicerçada em

princípios da organização, racionalização e divisão do trabalho.

(ALMEIDA, 2010, p. 01)

Diante de tantas atualizações e enxurradas tecnológicas, como manter o professor

atualizado e integrado ao aluno que na maioria das vezes está mais familiarizado à essas

aparelhagens híbridas do que o professor. Nesse sentido, é necessária formação frente à

esse cenário de atualização permanente juntamente à inserção das TIC no currículo.

Contudo, é evidente a diversidade de desafios enfrentados pelos professores diante da

estrutura escolar, sejam físicos, materiais, falta de verbas ou recursos humanos, mas, o

que discutimos aqui não é incorporar mais uma tarefa ou desafio, mas sugerir a

possibilidade de integrar no processo ensino-aprendizagem o uso das TIC, principalmente

as ferramentas que promovem a animação, com foco no stop motion, considerando o

universo em que o aluno se encontra atualmente, interligando os conteúdos em sala ao

universo cultural onde o aluno está inserido, convidando-o à interagir em um processo de

mútuo aprendizado.

Nesse sentido, em todo o processo de construção de uma animação é necessário o

uso de tecnologias da informação, seja, computador, filmadora ou máquina fotográfica,

preferencialmente, que os computadores e celulares tenham acesso à internet para

fomento de pesquisas. Com base nos dados estatísticos do Censo Escolar de 2013

realizado pelo INEP, 80,6% das escolas disponibilizam laboratório de informática; 82,3%

das escolas tem acesso à internet. Segundo a pesquisa TIC Educação 2012 a maior parte

dos computadores instalados em diversos locais das escolas públicas tem acesso à

Internet, representados por 94% dos computadores instalados no laboratório e em 93%

dos computadores localizados na sala do coordenador ou do diretor. Isso comprova o

baixo uso dos computadores pelos alunos, pois, os equipamentos estão concentrados e

restritos, em sua grande maioria, aos coordenadores e diretores das escolas.

Nesse sentido, a mídia das mídias – o computador (Santaella 2003), segundo os

dados das pesquisas supracitadas, em sua grande parte, está restrito ao uso da gestão

escolar, da qual impossibilita a aproximação dos recursos possíveis ao uso do

computador, aos professores e consequentemente aos alunos.

No entanto, a proposta para o uso do stop motion atrelado ao uso das TIC podem

ultrapassar as barreiras e obstáculos do cotidiano da vida escolar. É possível o uso de

aparelhos celulares com máquinas fotográficas, aproveitando a era do hibridismo. Na

ausência de um tripé é possível fixar o celular em uma cadeira, já o cenário, é possível

monta-lo com duas folhas de papel, uma na vertical e outra na horizontal (figura 1). Os

personagens podem ser montados com massinha, folhas de papel ou qualquer material

disponível. Sendo assim, os desafios podem se tornar pequenos comparados à criatividade

e a imaginação dos alunos e dos professores.

Figura 1 – Alunos do curso de Pedagogia construindo animação audiovisual.

Fonte: Arquivo pessoal.

Com relação às potencialidades do uso das TIC no processo ensino-aprendizagem,

já existem diversas pesquisas que asseguram o seu uso na Educação. Segundo a pesquisa

TIC Educação 2012, (49%) das escolas públicas declaram participar do Programa

Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), enquanto 16% das instituições públicas

de ensino afirmaram integrar o Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE).

A respeito da percepção sobre a integração das TIC ao projeto

pedagógico, 71% dos coordenadores pedagógicos concordam que as

escolas públicas em que trabalham já integraram o uso do computador

e da Internet às práticas de ensino-aprendizagem, sendo que 88%

concordam que o uso das TIC é considerado relevante na escola. (TIC

Educação 2012, p.163)

Nesse sentido, ainda há um longo caminho a percorrer. Apesar das políticas

públicas para o incentivo ao uso das TIC nas escolas públicas, existem variáveis que

barram os avanços tecnológicos adentrarem os muros das escolas, contudo, é perceptível

os avanços alcançados pelo universo escolar em modernizar e integralizar a escola ao

universo tecnológico digital.

4- RELATOS DOS ALUNOS DE PEDAGOGIA SOBRE A UTILIZAÇÃO DO

STOP MOTION NA CONSTRUÇÃO DE ANIMAÇÕES

Neste capítulo serão apresentados os relatos dos alunos de Pedagogia sobre o uso

do stop motion na construção de animações na disciplina Educação e Ética Ambiental do

curso de Pedagogia diurno, ministrada pela prof.ª Maria Inêz Oliveira Araújo, na

Universidade Federal de Sergipe.

Os relatos foram resultados de relatórios solicitados aos trinta e dois alunos como

medida de avaliação da atividade perante à disciplina, da qual a discente Tatiana Ferreira

dos Santos realizou estágio docente sob orientação da prof.ª Maria Inêz Oliveira Araújo.

Na oportunidade, foram desenvolvidos algumas oficinas, dentre elas, a oficina stop

motion.

Foram aplicados, também, vinte questionários em uma turma de Pedagogia do

curso noturno, sobre o uso da técnica no construto de animações audiovisuais com os

temas apresentados e discutidos em aula na disciplina Educação e Ética Ambiental.

O objetivo da oficina na disciplina foi desenvolver curtas-metragens referentes ao

conteúdo apreendido nas visitações ao Parque Nacional Serra de Itabaiana e Projeto de

Educação Ambiental “Cheirinho de Mato”. As etapas da oficina perpassaram pela

apresentação inicial e conceitual sobre a utilização da técnica, criação do roteiro, história

e personagens, montagem dos cenários, fotografias, edição no computador através do

Windows Movie Maker, finalização e apresentação dos vídeos.

Na primeira experiência com a turma do curso diurno, os alunos se dividiram em

seis grupos e cada grupo definiu um tema e roteiro para a produção utilizando o stop

motion.

No primeiro grupo, os alunos se basearam nas informações explicitadas pelo guia

do Parque Nacional Serra de Itabaiana, onde foi explicado a importância de manter a

trilha livre de folhas e galhos. Na oportunidade, o guia informou sobre a existência de

“micro-habitantes” que possivelmente habitariam as folhagens e galhos que ficariam na

trilha, por isso a importância de retira-las, tanto para a segurança dos visitantes, bem como

dos animais. “E foi com base nessa resposta que realizamos o nosso trabalho “stop

motion”, na qual apresentamos as diferenças das folhagens, solo, árvore de grande,

médio porte e pequeno porte e o cuidado com os animais” (Grupo 1).

Já o grupo 2 trabalhou a preservação “ [...] porque nos chamou a atenção a

necessidade da preservação devido a poluição que encontramos na serra de Itabaiana.

Por mais que houvesse lixeira observamos muito lixo no chão. Pensando nesse ocorrido,

o grupo resolveu através do trabalho do stop motion retratar esses fatos.” (Grupo 2).

Referente ao terceiro grupo o Projeto de Educação Ambiental “Cheirinho de

Mato” foi trabalhado sob a perspectiva ética e consciente desenvolvidas no projeto.

“Nosso grupo ficou maravilhado com a técnica, principalmente com o resultado. [...]

Nosso stop motion conta a história de uma aluna e uma professora cuidando dos animais

e os alimentando e cuidando da horta. Muito boa esta atividade!” (Grupo 3).

No grupo 4, os alunos escolheram como personagem principal a cobra coral

encontrada na trilha do Parque Nacional Serra de Itabaiana. “Fizemos um vídeo

mostrando uma situação em que uma cobra é impedida de percorrer seu trajeto devido

aos riscos, assim ressaltamos que não devemos poluir o ambiente dos animais. Na outra

cena, um homem da preferência para que a cobra continue seu trajeto.” (Grupo 4).

Já o grupo 5 definiu como tema central “devemos cuidar da natureza para que ela

cuide da gente”. Na história, os personagens que compõem uma família cuidam de um

jardim com ervas medicinais e plantas diversas. No entanto, o enredo ganha suspense

quando um filho da família joga lixo no jardim, o tempo passa e a jovem criança começa

a sentir dores de barriga e pede cuidados à mãe. Logo, a matriarca retira erva cidreira do

jardim e ensina ao filho a importância de manter o respeito com a natureza.

No sexto e último grupo, o tema central foi a valorização da vida animal. Na

animação o grupo retrata a visita ao Projeto de Educação Ambiental “Cheirinho de Mato”

e ao Parque Nacional Serra de Itabaiana. “O vídeo revela a construção da vida na

natureza” (Grupo 6).

De acordo com a avaliação dos alunos da turma de Pedagogia diurna, foi possível

visualizar os pontos positivos e negativos da utilização da técnica para se trabalhar os

conteúdos da disciplina, em especial as visitas realizadas. Dentre os relatos, grande parte

avaliou como positiva a utilização da técnica para fixação do conteúdo e formação de

opinião.

“[...] o stop motion é uma atividade que eu não conhecia de perto e através da

matéria pude conhecer, e gostei muito, e os grupos conseguiram transmitir o que queria

saber sobre o cheirinho de mato e a serra de Itabaiana.” (A 1)

“[...] concluí que é um recurso bastante interativo, que exige um trabalho em

equipe, lúdico pois também força a criatividade” (A 2)

Todos os alunos presentes ainda não tinham utilizado a técnica na construção de

animações, grande parte das avaliações é representada pelo entusiasmo em poder

experimentar a técnica em sala de aula e inserir conteúdos para discussão de temas

pertinentes.

“O stop motion é um recurso muito eficiente com as questões ambientais que

podemos trabalhar e apresentar e faz com que possamos pensar se nós como cidadãos

críticos, estamos de fato, fazendo a nossa parte. O vídeo é interessante para ensinar e

produzir outros vídeos com os alunos.” (A 3)

“O trabalho utilizando o stop motion foi muito interessante e nos possibilitou

conhecer o que é e como funciona tal técnica, e que com ela dá pra fazer trabalhos

fantásticos. [...] Tal possibilidade além de ser bem interessante, foi muito importante

para mim e tenho certeza que para meus colegas também. Pois eles conseguiram passar

suas experiências para todos nós, além de ter acontecido alguns probleminhas com

alguns grupos.” (A 4)

Dentre os grupos que conseguiram êxito ao construir e finalizar a animação,

houveram grupos que não alcançaram a finalidade da oficina. Foi relatado sobre a

dificuldade no manejo do programa “movie maker”, principalmente na conclusão do

vídeo. No momento das apresentações alguns grupos não souberam salvar os vídeos

resultando na não exibição dos mesmos. No total, este fato ocorreu com dois dos seis

grupos formados.

“Uma atividade muito interessante, que envolveu a todos. Uma estratégia de

tornar as discussões sobre a aula mais dinâmica, pois o conhecimento adquirido ao longo

do curso foram expostos através da atividade” (A 5)

“A ferramenta despertou em nós, alunos, uma integração verdadeira, de forma a

construir os conhecimentos tendo como base a criação de pequenos vídeos feitos de

forma amadora com massa de modelar. A oficina objetivou despertar o senso crítico,

leitura, interpretação textual e contextual. Desenvolver no indivíduo interesse pelas

novas tecnologias de forma a integrá-las no processo ensino-aprendizagem. (A 6)

Outro ponto bastante identificado nos relatos e avaliações foi a possibilidade de

aproximação dos alunos com as novas tecnologias. Foi relatado que a técnica permite que

os alunos tenham maior aproximação e interação com as TIC, ocasionando no maior

interesse pela atividade proposta na aula.

Com relação aos questionários aplicados com a turma de Pedagogia do período

noturno. Quando perguntado se gostou de participar da oficina de stop motion, todos

afirmaram que sim. Na justificativa do questionamento 38% afirmaram que aprenderam

algo novo, 29% destacaram que a ferramenta fomenta a criatividade e 33% responderam

que a oficina proporcionou interação e cooperação entre os colegas.

Ao questionar sobre a dinâmica do stop motion traz relevância para trabalhar sobre

as questões ambientais, todos afirmaram que sim. Na justificativa, 19% afirmaram que a

criação do cenário e histórias foi relevante, 19% elencaram que a técnica proporcionou

conscientização e reflexão acerca das questões ambientais, 14% destacaram que

dependendo do tema, roteiro e ideia a dinâmica traz diversas contribuições. Já 33% alunos

afirmaram que a técnica é uma forma de discutir as questões ambientais, apenas 5% aluno

destacou o momento de interação que a oficina proporciona entre os envolvidos e 10%

informaram que a técnica é capaz de relacionar os conteúdos trabalhados em aula.

Em relação ao que os alunos mais acharam interessante no stop motion, 26%

afirmaram que a técnica é importante, já 57% alunos destacaram que o processo de

produção do vídeo e o resultado final (o vídeo pronto) foi bastante interessante, apenas

4% afirmou que achou interessante os materiais utilizados e 13% destacaram que toda a

oficina foi de grande relevância.

No que se refere aos itens que trouxeram maiores dificuldades no processo da

oficina, 30% alunos afirmaram que a montagem do cenário foi difícil, 15% destacaram

que fotografar foi complexo, 35% informaram que apresentou maior dificuldade na

montagem do vídeo, 10% responderam que o processo de maior dificuldade foi de criar

a história, já no item outros, 10% responderam que não tiveram nenhuma dificuldade.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

As possibilidades de uma animação são infinitas, ainda mais quando esta é

construída em grupo de forma colaborativa e utilizando uma técnica simples como o stop

motion. Com as experiências das duas turmas do curso de Pedagogia foi possível

compreender os benefícios da técnica e apreender, através das avaliações dos alunos, o

que é necessário melhorar e aprimorar no desenvolvimento da oficina.

Contudo, é necessário ressaltar, que a utilização das TIC no processo de

construção da animação se fez presente em todos os momentos. Nesse sentido, foi

possibilitado aos futuros pedagogos mis uma ferramenta potencial para a construção

colaborativa de uma animação que auxilia, em todo o processo de confecção, na fixação

de conteúdos e consequentemente na formação de opiniões.

Ficou claro nos relatos os diversos pontos de vista apreendidos em duas visitações.

Cada grupo apresentou pontos de vista diferentes e pôde compartilhá-las de forma

dinâmica aos colegas. Nesse processo de ensino-aprendizagem a técnica esteve como

ferramenta potencial que pode auxiliar como metodologia pedagógica em sala de aula.

Neste sentido, apreende-se que foi possível através do uso da técnica juntamente com as

TIC a aproximação dos alunos com os conteúdos apresentados tornando-os atores de suas

próprias produções dando-lhes a autonomia de livre construção e utilização da

criatividade para explicitar a aprendizagem apreendida nas experiências em sala de aula.

6- REFERÊNCIAS

BOSSLER, Ana Paula. Territórios de Interlocução: caderno 02 Animação. Organização

de Silvania Sousa do Nascimento, Greciene Lopes dos Santos. Belo Horizonte:

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