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CULTURA E ARTE: A UTILIZAÇÃO DA IMAGEM NO PROCESSO EDUCACIONAL.
MARIANE CECILIA DA SILVA (G-UEL)
O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a utilização da
imagem no processo educacional, tendo como recurso base, a cultura e a
arte, ou seja, a cultura como meio de divulgação dessa arte.
Entende-se por cultura no contexto da análise apresentada nessa
pesquisa, como uma das formas de aprendizagem e ensinamento, pois ela
deve ser vista como um sistema de conhecimentos, sentidos e
significados, capaz de resgatar para as escolas no processo educacional,
toda riqueza, experiência de diferentes formas de compreender e
interpretar o real e a vida, despertando o interesse dos alunos por um
objeto de estudo, a arte. Como bem lembra (GABRIEL, 2005, p.76-77).
“Difícil saber quem somos se não aprendemos na escola o valor cultural e artístico de nossa formação que reuniu, e continua reunindo, vários jeitos, conhecimentos e modos de fazer; e que esta mistura de gentes pode ser nosso grande potencial, potencial criativo que cria formas de comunicações e arte, formas de cultura.”
A arte, de certa forma, está presente em nosso processo cultural,
tendo uma enorme importância no trabalho educativo, pois ela acaba
estimulando à inteligência, à percepção, à imaginação, à observação, o
raciocínio e a formação de gosto.
A verdadeira concretização da obra de arte se faz no contato com
as pessoas. O sociólogo e pesquisador de arte (CANCLINI, 1980, p.34)
afirma que tanto o processo de produção como o de recepção devem ser
levados em conta, pois dessa forma pode-se entender a inserção da obra
de arte num determinado meio social.
Para o autor, a formação cultural dos espectadores depende da
formação social. Sendo assim, a arte tem o papel fundamental de
contribuir para a preparação do indivíduo, para que os mesmos percebam
melhor o mundo em que vivem, saibam compreendê-lo e nele possam
atuar.
Ao refletir sobre a arte (FUSARI e FERRAZ, 1993, p.20) nos diz
que é possível atingir-se um conhecimento mais amplo e aprofundado da
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arte, incorporando ações como: ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar,
descobrir, exprimir, fazer, a partir dos elementos da natureza e da cultura,
analisando-os, refletindo, formando, transformando-os. É com essa
abrangência que a arte deve ser apropriada por todos os estudantes.
Dessa forma, foram escolhidas como objetos de ensino 03
imagens de obras distintas, inclusive pintadas em diferentes épocas, na
década de 30, 40 e 50, por um grande pintor brasileiro, Cândido
Portinari¹, e ambas apresentam temas que fazem parte da nossa cultura:
Noite de São João (1939); Casamento na Roça (1940); Pulando
Carniça (1957).
Portinari, ilustra bem em suas pinturas um estilo de recriar a
realidade, potencializando uma maneira particular de ler o mundo ou
mesmo dando corpo a uma outra verdade, é o que levou o pintor
espanhol Pablo Picasso a afirmar: “A arte é uma mentira que revela a
verdade”.
O conceito de imagem aqui mencionado pode ser definida como
uma forma de leitura que se desenvolve ao momento que o observador
entra em contato com a obra de arte, permitindo-lhe uma série de
informações e significados. No entanto, pode-se trabalhar com imagens
que podem ser detectadas facilmente pelos alunos. Louis Marin (2001,
p.117) um autor que tem se preocupado com as questões ligadas à leitura
das imagens, ressalta a importância do título que, segundo ele, nomeia a
obra, anunciando uma narrativa e antecipando sua leitura.
Outras formas de identificação de uma obra de arte consideradas
importantes, pois implica a familiarização do observador com
determinada obra é propor aos alunos a trabalharem com o título, autoria,
dimensões, acervo e origem. Dois elementos recorrentes que podem ser
usados para o desenvolvimento da leitura de imagens é o tema e a
configuração.
O tema remete a idéia de que o trabalho criativo do artista refere-
se diretamente no título. E a configuração nada mais é que a tradução do
tema numa composição visual que pode nos remeter a experiências,
seres, paisagens, coisas e acontecimentos.
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Porém, outros elementos compositivos contribuem na leitura das
imagens, tais como: o fundo ou cenário, o movimento das figuras, a
iluminação e a linguagem gestual e corporal com a qual se expressam os
personagens, (COSTA, 2005, p.64) afirma portanto, que ler uma imagem
é identificar um tema e perceber como ele se traduz, através de signos
visuais, numa narrativa.
A análise de uma imagem pode ser realizada de várias formas,
tais como: visual, auditiva, sensorial e táctil. Nesse caso utilizaremos da
análise visual para refletirmos sobre as imagens escolhidas.
Noite de São João (1939), de Cândido Portinari. É uma pintura a
guache e grafite/cartão; tem as medidas: 35,5 x 34 cm; está assinada no
canto inferior direito “Portinari”; não possui a data na obra e faz parte de
uma coleção particular; Local: São Paulo-SP. A presente obra traz como
temas: Cultura brasileira: Festas Populares: Festa de São João; Tipos
Populares na obra: Baiana; Figura humana: Grupo de Mulheres;
Diversos: Elementos Recorrentes: Baú e Pilão.
Casamento na Roça (1940), de Cândido Portinari. É uma pintura
a óleo/tela; tem as seguintes medidas: 100 x 80 cm; está assinada no
canto inferior esquerdo “PORTINARI 1940”; faz parte de uma coleção
particular; Local: São Paulo-SP. A obra se refere aos seguintes temas:
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Social: Tipos Étnicos: Negro; Cultura Brasileira: Casamento na Roça;
Figura Humana: Constituída por um casal; Diversos: Elementos
Recorrentes: Baú.
Pulando Carniça (1957), de Cândido Portinari. É uma pintura a
óleo/madeira; tem as medidas: 53,5 x 64,5cm; está assinada e datada na
medida inferior à direita “PORTINARI 57”; faz parte de uma coleção
particular; Local: Rio de Janeiro - RJ. Observações: Atestado de
Autenticidade do Projeto n° 765. A obra traz como temas: Cultura
Brasileira: Jogos Infantis: Brincadeiras: Pulando Carniça; Natureza:
Paisagem: Campo; Figura Humana: Grupo de Crianças: Meninos.
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Por meio, dessas imagens apresentadas, podemos explorar vários
elementos significativos para o desenvolvimento das atividades em sala
de aula, como: analisar os elementos concretos da obra, ou seja, explorar
temas e cores predominantes; trabalhar com a contextualização histórica,
implicando o aluno a pesquisar sobre a vida e obra do artista e por
último, fazer um levantamento sobre a contextualização sociocultural das
obras para que os mesmos possam relacionar as imagens com
acontecimentos marcados no meio social em que vivem. A partir daí,
começar trabalhar com os alunos as finalidades e objetivos desse artista
ao produzir determinada obra, ou seja, qual a leitura ou a mensagem que
a referida obra nos remete? Estimulando assim, o processo mental e
criativo de cada aluno.
NOTAS DE RODAPÉ
1. Cândido Portinari (1903-1962) – Nasceu em Brodósqui, São Paulo, em dezembro de
1903, e faleceu em fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro. Foi um dos homens mais
importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a
esperança do povo brasileiro. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A
terra e o povo brasileiros – camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os
animais e as paisagens.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANCLINI, Néstor Garcia. A socialização da Arte-Teoria e Prática na América Latina. São Paulo, Cultrix, 1980. COSTA, Cristina. Educação, Imagem e Mídias. (Coleção aprender e ensinar com textos; v.12/ coord. geral Adilson Citelli, Ligia Chiappini). São Paulo: Cortez, 2005. FUSARI, Maria F. de Resende e, FERRAZ, Maria H. C. de Toledo. Arte na Educação Escolar. (Coleção magistério 2° grau. Série formação geral). São Paulo, Cortez, 1993. GABRIEL, Eleonora. Linguagens Artísticas da Cultura Popular. In: SILVA, René Marc da Costa (org). Cultura Popular e Educação. Salto para o Futuro. Brasília: TV Escola/SEED/MEC, 2008. MARIN, Louis. Ler um quadro: uma carta de Poussin em 1639. In: CHARTIER, Roger (org). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. SILVA, René Marc da Costa. Cultura Popular, Linguagens Artísticas e Educação. In: SILVA, René Marc da Costa (org). Cultura Popular e Educação. Salto para o Futuro. Brasília: TV Escola/SEED/MEC, 2008. PORTINARI, Acervo Projeto. “disponível em” < http://www.portinari.org.br > “acesso em” 27/03/2011. NICOLA, José. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 2007.
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