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CONTINGÊNCIA, INCERTEZA E PRUDÊNCIA: CAMINHOS DA RETÓRICA E DA ARGUMENTAÇÃO Organização de Rui Alexandre Grácio & Moisés Olímpio-Ferreira Textos de: Wayne Brockriede Chaïm Perelman H. W. Johnstone Jr. Christian Plantin Ruth Amossy Marc Angenot Jean Goodwin Christian Kock Michel Meyer Loïc Nicolas Moisés Olímpio-Ferreira Rui Alexandre Grácio

CONTINGÊNCIA, INCERTEZA E PRUDÊNCIA: CAMINHOS DA ... · Contingência, incerteza e prudência: caminhos da retórica e da argumentação ... os fundamentos das teses não são absolutos,

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CONTINGÊNCIA, INCERTEZA EPRUDÊNCIA: CAMINHOS DARETÓRICA E DA ARGUMENTAÇÃO

Organização de

Rui Alexandre Grácio & Moisés Olímpio-Ferreira

Textos de:

Wayne BrockriedeChaïm PerelmanH. W. Johnstone Jr.Christian PlantinRuth AmossyMarc AngenotJean GoodwinChristian KockMichel MeyerLoïc NicolasMoisés Olímpio-FerreiraRui Alexandre Grácio

Organização de

Rui Alexandre Grácio & Moisés Olímpio-Ferreira

Contingência, incerteza eprudência: caminhos da

retórica e da argumentação

Ficha técnica

Título: Contingência, incerteza e prudência: caminhos da retórica e da argumentação

Organização: Rui Alexandre Grácio & Moisés Olímpio-Ferreira

CoediçãoELAD - Estudos de Linguagem, Argumentação e Discurso

Comissão EditorialEduardo Lopes PirisIsabel Cristina Michelan de Azevedo Kelly Cristina de OliveiraMaria Manuel BaptistaPaulo Roberto Gonçalves Segundo

Capa: Grácio Editor

Coordenação editorial: Mafalda Lalanda

Design gráfico: Grácio Editor

1ª edição: maio de 2018

ISBN: 978-989-99960-6-9

© Grácio EditorTravessa da Vila União, 16, 7.º drt3030-217 COIMBRATelef.: 239 084 370e-mail: [email protected]ítio: www.ruigracio.com

Reservados todos os direitos

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RETÓRICA, O LADO OPOSTO CORRELATODA DIALÉTICA...

Moisés Olímpio-Ferreira1

1 Moisés Olímpio-Ferreira é Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP);

atualmente, é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP).

Como coeditor da Revista EID&A, tem promovido a divulgação de relevantes pesquisas

em torno do discurso e da argumentação. É pesquisador do ELAD (Estudos de

Linguagem, Argumentação e Discurso) e do GERAR (Grupo de Estudos de Retórica e

Argumentação). Atua nos campos da Retórica, Argumentação, Análise do Discurso, Teoria

e Análise Linguística.

SUMÁRIO: Neste trabalho, propomos uma reflexão a respeito da Retórica-Dialética,enquanto lados opostos correlatos. De início, apresentamos as diferenças queconstituem as abordagens demonstrativas e argumentativas, e suasconsequências responsáveis pelo declínio da Retórica ao longo do tempo. Emseguida, interessa-nos a discussão feita pela Teoria da Problematologia emsua tarefa de definir essas duas artes e as implicações disso decorrrentes:pelo viés da resposta, a Retórica é entendida como instrumento deconvencimento fundamentado na premissa de que a questão se encontraresolvida; pela perspectiva da Argumentação, parte-se do viés dafactualidade problemática posta em evidência, mostrando o porquê de umaresposta. Consideramos também relevante a retomada dos grandes lugaresdo responder retórico, isto é, das três dimensões retóricas indissociáveis:êthos, páthos e lógos, observando as suas interrelações no processoargumentativo. Para isso, apoiamo-nos, sobretudo, em Aristóteles, Perelman& Olbrechts-Tyteca, Rui Grácio e Michel Meyer, entre outros.

Palavras-chave: Retórica. Dialética. Nova Retórica. Chaïm Perelman. Teoriada Problematicidade. Michel Meyer. Dimensões constitutivas da Retórica:êthos, páthos, lógos.

1 Trataremos a Retórica e a Dialética/Argumentação, sob a perspectiva aristotélica, de modointegrado, sem que isso signifique que possam ser entendidas, de modo natural e unitário,como disciplinas idênticas. Falaremos, portanto, de Retórica/Argumentação.

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2 Doravante, faremos menção do Traité de l’Argumentation apenas como T.A.

Outrora lançada ao plano dos sofismas, ao campo dos interessespessoais, a arte da persuasão passou a representar discursosvazios e técnicas imorais de convencimento. Isso se deu porque

tanto a Retórica quanto a Dialética/Argumentação1 não se manifestampor demonstração lógico-dedutiva, por métodos rigorosos de co-nhecimento, por proposições evidentes, pelo exame dos meios de provaincontestáveis, como ocorre no modo analítico de pensar. Pelo contrário,como afirma o Traité de l’Argumentation2:

Aquele que exige de uma argumentação que ela forneça provascoercitivas, provas demonstrativas, e não se contenta com menospara aderir a uma tese, desconhece, tanto quanto o fanático, ocaráter próprio do processo argumentativo (PERELMAN; OL-BRECHTS-TYTECA, 2008, p. 82 – tradução nossa).

Demonstrar é realizar dedução desprovida de ambiguidade, éfornecer evidência impessoal indisputável, em nada submetida àopinião, independentemente de qualquer contexto em que estejainserida. Prima-se pela necessidade e pela evidência, em que osmétodos empregados são os das ciências exatas e naturais, os da LógicaFormal, em que tanto a demonstração de uma fórmula matemáticaquanto a realização de uma reação química não deri vam dos conteúdosvalorativos ou dos padrões culturais daqueles que as observam.

De modo diferente, argumentar é transitar no campo doprovável, das opiniões, sem a preocupação quanto à certeza do cálculo;é visar à adesão dos espíritos por meio do que é verossímil, plausível,razoável e irrefragavelmente contestável. O processo persuasivo leva

em conta as diversas opções, perspectivas evalores; depende do contexto em que sesitua; é pessoal, já que é preciso conquistara aceitação do auditório; a sua lógica é ados juízos de valor, relativa não aoverdadeiro, mas ao preferível.

Foi, de fato, essa convivência com amultiplicidade de julga mentos, com as con-

clusões possíveis ou prováveis, a responsável por duras críticas e des-prezo. De um lado, arrogando-se o discurso verdadeiro de últimainstância pautado na unicidade platônica, a Filosofia monista,

Foi, de fato, essa convivênciacom a multiplicidade de julga -mentos, com as conclusõespossíveis ou prováveis, aresponsável por duras críticase desprezo.

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apaixonada pelas ultimidades, rejeitou defini tivamente tudo o quedifere da Verdade universal e necessária, reprovou tudo em que não hátotal ausência de divergências, repudiou o que diverge da «perenidadeontológica de uma verdade que cintila sob o céu da eternidade e que,ela sim, é a referência e o critério a partir do qual tudo o mais pode serajuizado» (GRÁCIO, 1998, p. 29). Por outro lado, o RacionalismoCientífico contribuiu para essa desnecessidade, já que apenas a LógicaAnalítica, com as suas demonstrações, poderia portar o conhecimentoe explicar os fenômenos. Como os relati vis mos, as pluralidades, as con-flitua lidades não podem ser portadoras da autossuficiência daVerdade, foram excluídas todas as possibilidades circunstanciais etransitórias do entendimento. Em razão do abismo estabelecido entrea esfera da ciência e a da opinião (esta última considerada como falsapelo cartesianismo), a dimensão retórica chegou a ser reduzida aológos enquanto belas fórmulas literárias, figuras de linguagem para aconstrução de imagens discursivas ornamentais, restando, portanto,apenas a sua faceta epidíctica3. A seu tempo, grande parte doCristianismo institucionalizado também teve a sua parcela de con-tribuição nesse processo, pois se a Verdade está total e absoluta menterevelada, todas as demais discussões que envolvem os valoressubjetivados e as opiniões são estéreis, ou mesmo diabólicas.Entretanto, todos os textos fundantes do apóstolo Paulo, por exemplo,estão fortemente argumentados e não estão isentos de imprecisões,de posições e valores pessoais: as técnicas discursivas empregadas porele em suas epístolas, como os argumentos quase-lógicos (aincompatibilidade, o ridículo, a identidade, a regra da justiça, a reci-procidade, a transitividade, a comparação, o sacrifício), os argumentosbaseados na estrutura do real (o pragmático, os fins/meios, odesperdício, a direção, a coexistência de pessoas/atos e de grupo/mem-bros, a autoridade, a ligação simbólica) e os argumentos extraídos das

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3 Isso não implica, porém, que não haja argumentação na ornamentação, como muitas vezes selê aqui e ali. O problema que sucitamos é a redução da Retórica ao gênero epidíctico,incorretamente definido apenas por seu lado estilisticamente aparatoso. De fato, a Nova Retóricaperelmaniana reabilita esse gênero, pondo-o ao lado do deliberativo e do judiciário. Na literaturapaulina, por exemplo, o gênero epidíctico assume seu valor retórico; a adesão reforçada por meioda revelação de apreço aos valores comuns (em 1Tessalonicenses) procura dar vigor à disposiçãopara agir, facilitando a formação de um estado de espírito promissor para a superação das metasjá atingidas. O éthos, com os seus argumentos afetivos e racionais, ativa as paixões paraencorajar o fortalecimento da aderência ao estado de coisas já alcançado e para estimular apassagem para uma nova etapa, mais intensa no percurso da experiência da fé.

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4 Aristóteles discorda veementemente dessa ideia: «...pois também aquela {a Dialética} nãoforma silogismos a partir das {premissas} que encontra ao acaso..., mas, de um lado, ela {osforma} a partir das que requerem raciocínio e, por outro lado, a Retórica, a partir das que jáestão acostumadas a serem deliberadas» (Retórica, I, 1, 1356b – tradução nossa).

ligações que fundam a estrutura do real (o exemplo, a ilustração, omodelo e a analogia) não são recursos inapelavelmente eficazes,destituídos de natureza não-constringente. São apenas técnicas quefornecem possibilidades responsivas, sempre carentes de justifi cação.Toda a sua capacidade discursiva não lhe garantiu pleno êxito em seusobjetivos, pois, se de um lado não é possível determinar de antemãoquais estratégias serão eficazes, por outro lado, os fundamentos dasteses não são absolutos, nem conclusivos, não pertencem àracionalidade de matriz lógico-matemática ou positiva, não são regidospela validade formal; pelo contrário, são verdades relativas,

plausíveis, situadas no tempo e no espaço,passíveis de transformações, sujeitas àsconjunturas e instabilidades contextuais ehistóricas de toda natureza. É somente naesteira da filosofia platônica que asupremacia do único, imutável, irrefutável,incompatibiliza a valorização do complexo,do mutável, do refutável, do opaco, docontingente.

A falta de escrúpulos e a frequente acusação de ausência deatividade racional4 passaram a ser tomadas como características desua natureza, de maneira que, mesmo após as tentativas deAristóteles (e de Cícero e de Quintiliano) de recolocá-la em seu lugare dar-lhe o seu devido valor, a Retórica/Argumentação prostrou-sesob o poder das forças coibentes das filosofias monistas, dopositivismo, dos absolutismos e dogmatismos de todas as espécies,que a reduziram à trivialidade da retórica das figuras, como se fossepossível a existência de discursos à margem de crítica, isentos danecessidade de acordos que lhes sustentem o status de respostaválida. Como se vê, é no vigor de pressupostos que rejeitam omovimento crítico do pensamento, adeptos irrestritamente deprincípios cuja validade se pauta na unidade, na imutabilidade, navalidade universal e atemporal, na necessidade intrínseca da razão(distante de todo diálogo real e daqueles que o estimulam com assuas intenções), ou mesmo em ordinária convicção (sem compati -

É somente na esteira dafilosofia platônica que asupremacia do único,imutável, irrefutável,incompatibiliza a valorizaçãodo complexo, do mutável, dorefutável, do opaco, docontingente.

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bilidade necessária com a reflexão racional) em fonte de saberes defundamentos dogmáticos em certezas absolutas incomprováveis, oque naturalmente favorece o elitismo e a ausência de liberdade decontestação, que a Retórica/Argumentação, ainda que portadora dospoderes da linguagem para o tratamento das múltiplas possi -bilidades circunstanciais, das assimetrias, das pluralidades, dasposições e valores, é percebida como supérflua e nociva:

É talvez tempo de nos distanciarmos da ideia de que o saberpõe fim ao controverso e de esperar encontrar nele a justeza dopensamento. Um saber não controverso é, frequentemente, umsaber dogmático. Tende a gerar intolerância e a institucionalizara mediocridade. Sob uma aparência salvífica, tende a esmagaros contra-poderes e a amordaçar o fulgor do pensamento in-terrogativo na irrequietude da sua liberdade. É talvez tempode nos libertarmos da ideia de que o controverso é sinónimo deescuridão e deixar de associar o múltiplo e o conflituoso às ideiasde confusão, de impasse, de falta de discernimento ou deausência de conhecimento... (GRÁCIO, 1998, p. 9)

Não foi sem razão, portanto, que, a partir desses postulados,a Retórica tenha carregado, durante um longo período, o estigmade prática perigosamente manipuladora, perniciosa, agindo naignorância do auditório à busca do consentimento de pontos de vistainfestos, naturalizando, com isso, a

desvalorização do múltiplo e do controverso, o desinteresse peladimensão prática e situada da vida, a secundarização dos pro-blemas da escolha ligados à premência da ação, ou seja, emsíntese, o desdém pela contingência e pelo regime de ins-tabilidade que lhe é característico (GRÁCIO, 1998, p. 29).

Na prática social, porém, é pelaRetórica/Argumentação que se chega àescolha entre possíveis, em convivênciaespontânea com sentido múltiplo, comas leituras discordantes, com os con-flitos interpretativos, com as convicções pessoais, com a variedadecotidiana, com os condicionamentos de tempo e espaço regidos pelacontingência. No mundo sociológico, o que caracteriza as decisões éa adesão a uma verdade possível, é a aceitação da opinião que

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Na prática social, porém, é pelaRetórica/Argumentação que sechega à escolha entrepossíveis

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estiver mais bem fundada, pois, de fato, «...a fria racionalidade nãoé suficiente para persuadir; o emotivo, o impreciso, o vago, oambíguo, o especulativo e o metafórico frequentemente persuademmais do que boas razões apoiadas nos fatos e na estatística»(ANGENOT, 2011, p. 57 – tradução nossa).

Entre a extremidade de se considerar a demonstração comomarca distintiva da Razão e a de se sustentar a arbitrariedade detudo o que não seja necessário, há o espaço intermediário que foitomado como objeto de estudo da Nova Retórica: o campo daatividade racional em que se exerce a razoabilidade. Se a proposta dePerelman é uma concepção de razão diferente da de Descartes, comcaracterísticas do raciocínio prático em que pesam os juízos de valor,isso não significa que se defenda a identificação do não-necessáriocom o irracional. A violência da irracionalidade, do fanatismo ou doceticismo não é a resposta para os casos em que há desacordosquanto aos juízos. Para Perelman, há uma terceira via: a do razoável.De fato, mesmo quando se contempla a dimensão pragmática, não seestá desprovido de lógica, pois há uma lógica do preferível, aceitável,razoável.

Retórica e Dialética recebem, deAristóteles, definições que aproxi mamas duas disciplinas: são partes de umamesma peça, correlatas, em coordenaçãosimétrica, opostas e complementares,que ele nomeia ἀντίστροφος (Retórica,I, 1, 1354a): «A Retórica é o lado opostocorrelato à Dialética» (tradu ção nossa).Embora não sendo a mesma arte, tanto

uma quanto a outra estão intrinse camente relacionadas em razãodos seus objetivos quanto ao auditório. Além disso, sem que aRetórica seja uma espécie de Dialética, ou que a Dialética seja umaespécie de Retórica, ambas estão associadas pela natureza não-espe -cífica dos gêneros em que elas ocorrem (Retórica, I, 1, 1355b). Aoaproximá-las dessa maneira, Aristóteles estabelece uma relaçãoestreita entre as duas artes: a Retórica possui tanto a sua formaparticular de pensar com regras específicas quanto uma relaçãoavizinhada com a Argumentação. Em razão disso, elashabitualmente têm sido, ao longo da história, apresentadas unidas,

Retórica e Dialética recebem,de Aristóteles, definições queaproximam as duasdisciplinas: são partes de umamesma peça, correlatas, emcoordenação simétrica,opostas e complementares

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sem distinções claras, pois se o propósito central é alcançar econquistar o auditório, conduzindo-o à crença e à ação, oargumentativo é retórico e vice-versa5, sem invalidar as ressalvasnecessárias:

Ao designar a sua teoria da argumentação como uma «novaretórica», Perelman optou por uma identificação entreargumentação e retórica. Como estratégia e como ponto departida essa opção é aceitável. Contudo, um aprofundamentoe continuação do seu pensamento exigiria que se procedesse auma distinção entre argumentação e retórica, distinção cujocritério seria o seguinte: identificar o termo «argumentação»com o termo «retórica» sempre que se trate de discurso, escritoou falado. Dessa forma, sempre que se escreve ou fala,também se argumenta e se faz retórica. Distinguirargumentação e retórica quando a ação comunicativa exercidasobre nós não depende exclusivamente do discurso: desta forma,há uma retórica das imagens... há uma retórica da moda... háuma retórica da violência... (GRÁCIO, 1993, p. 11).

Antístrophos: como entender isso?

Michel Meyer, em sua Teoria da Pro-blematicidade, funda a linguagem no parpergunta/resposta. Como falar ou escreversuscita questões que exigem respostas, ainterrogatividade, segundo ele, é o traçomais característico do homem ao articular a razão e a paixão no usoda linguagem, que o auditório compreende e que o orador se apro-pria para agir, articulando os pressupostos e o dito, estabelecendorelações entre o dito e o implícito etc. A questão surge, então, comoparte constitutiva e subjacente à linguagem (ou a uma linguagem)que, por sua racionalidade e emotividade retóricas, negocia as dis -tân cias e diferenças, apresenta soluções possíveis. Assim, exclui-se,aqui, toda possibilidade de se considerar as perguntas apenas como

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5 Após demonstrar historicamente o empalidecimento do modelo retórico, a eliminação de suaspartes, a sua decadência face os absolutismos, a sua transformação em mera linguagemestilizada e ornamental, Meyer (2007, p. 33) afirma: «Hoje em dia, não se pode maisprivilegiar a argumentação em desfavor da retórica, ou o contrário, e é realmente necessáriounificar a disciplina».

Michel Meyer, em sua Teoriada Problematicidade, fundaa linguagem no parpergunta/resposta

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perguntas, pois a interrogatividade do discurso participa danegociação argumentativa que opera nas pactuações que lidam comos diferendos e as controvérsias.

Como é pela linguagem que se chama a atenção para o pro-blema, não poucas vezes a própria resposta pode provocar umaquestão. Quando algo é dito sem que uma questão tenha sido postapelo auditório, isso faz com que um problema seja motivado no seuespírito, traduz uma diferença entre os interlocutores, é um convitepara refletir (Por que isso foi dito? É relevante essa afirmação? Háalguma dúvida quanto a isso?), de modo que, apesar da força do queé dito, uma outra resposta, em princípio, pode impor-se.

A problematicidade, como é possível perceber, a que se refere oautor belga não se limita às frases declarativas ou interrogativas.Situada em um momento anterior à linguagem e por esta manifestada,

a diferença problematológica (diferença per-gunta-resposta) decorre do fato de que cadaafirmação feita em relação ao objeto é res -posta a questões que não foram necessa ria -mente formuladas. E assim, quanto maiorfor a produção de respostas (alternativas de

solução), maior será o grau de interrogatividade que atravessará oconjunto das atividades intelectuais.

Pela perspectiva de que uma questão é componente integrantee subjacente aos discursos, Meyer defende a presença da Retórica naprópria linguagem cotidiana, pois considera que sempre somos umapergunta para o outro:

Não falaríamos com os outros se tudo fosse claro entre nós, sepudéssemos resolver tudo sozinhos ou se os outros pudessemler instantaneamente nos nossos espíritos e decifrassemaquilo que nos coloca problemas e, em seguida, descobrissemos nossos desejos e satisfizessem as nossas exigências. Emúltima análise, as questões que suscitamos através dos nossosactos, actos de palavra neste caso, reflectem as diferenças quenos separam uns dos outros, mas também a vontade de as abolir,ou pelo menos de as fazer reconhecer, nem que sejaminimizando-as (MEYER, 1998, p. 83),

de modo que a negociação para redução da distância entre o eu e otu (se há argumentação, parte-se de uma diferença), que se dá por

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cada afirmação feita emrelação ao objeto é respostaa questões que não foramnecessariamenteformuladas.

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6 Quanto ao uso que fizemos de palavras gregas, mantivemos, em todas, a acentuação original:êthos, lógos, páthos, dóxa, tópoi, héxeis, phrónimos etc.

meio da linguagem racional e/ou emotiva, tem lugar até mesmo emum simples cumprimento, que procura amenizar os aspectosagressivos que podem decorrer do contato discursivo e/ou físico(MEYER, 1998, p. 94; 2007, p. 30).

Segundo a Problematologia, há duas modalidades essenciais –que permitem responder às múltiplas questões a partir do par per-gunta-resposta, essencial do pensamento humano – para pôr emação a diferenciação problematológica. A primeira delas é explicitarsomente a resposta, deixando a questão implícita. A segunda, porsua vez, é mostrar a questão, é começar por ela para torná-la claraou para conseguir cooperação do auditório em sua solução. É poressa concepção que Meyer diferencia as artes Retórica eDialética/Argumentação, e como entende que uma é antístrophosda outra.

Pelo viés da resposta, a Retórica – arte pela qual o orador e oauditório negociam a diferença, a distância, a discordância, aopinião contestante, a voz discordante, em intensidades diversas,para oporem-se, aproximarem-se, ou reunirem-se a propósito deuma questão – é instrumento de convencimento pelo qual a questão(o problema), revestida de forma e de estilo, sob o efeito de seudesaparecimento, é apresentada como já resolvida (mesmo que, narealidade, ela ainda não tenha sido), do que advém o papelimportante, na Retórica, da forma e do bem-falar. O êthos6, o páthose o lógos aparecem como as suas dimensões constitutivasindissociáveis, «como fontes de respostas que podem ser argumentosou espaços para argumentar» (MEYER, 2007, p. 30), que não devemsofrer exclusão, isolamento, ou hierarquização.

A Retórica trata da problematicidade própria da condiçãohumana, com suas tendências e preferências. Entre as contingênciasdas opiniões, da livre expressão dascrenças e das oposições entre os homens, éela que surge para afirmar as diferenças,para emergir o consenso, ou para produzira convivia bilidade, isto é, a capacidadehumana de favorecer trocas recíprocas, de saber lidar com asdiferenças em cada caso.

A Retórica trata daproblematicidade própria dacondição humana, com suastendências e preferências.

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É assim que as suas partes se integram à busca de oferecer amelhor resposta:

• a invenção [inventio] que – pela investigação das razõesverdadeiras ou verossímeis – se ocupa de encontrar osargumentos (respostas em que se acentua aquilo que trazsolução ou em que se reduz o que produziria um problema)para a questão posta, de descobrir as provas necessáriaspara a realização dos propósitos do orador, os elementosfavoráveis para conquistar a adesão;

• a disposição [dispositio] que – apoiando-se em fatos ou emverossimilhanças, em evidências ou em paixões e opiniões –busca organizar as ideias, ordenar a descoberta do que é per-tinente, expor a resposta à questão posta e, para isso, irá: a)captar a atenção e produzir o interesse do auditório pelaquestão; ganhar a sua simpatia, a sua benevolência (e, porisso, faz a apresentação do tema, da proposição [propositio]e a divisão das partes em rubricas distintas que totalizam odiscurso [partitio]), preparando-o para a narração e a com-provação: o exórdio [exordium]; b) expor os fatos queresolvem a questão e que mostram que a respostaapresentada é a mais plausível, a fim de conduzir o auditóriopara a causa defendida: a narração [narratio]; c) expor tantoas provas que salientam a resposta e lhe dão confirmação[confirmatio] quanto as que foram inventadas pararefutação da oposição, que rejeitam as objeções do adversário[refutatio]: a argumentação [argumentatio]; d) deixarevidente, pelo resumo e recapitulação do que foi desen -volvido [enumeratio] e pelo uso do apelo afetivo, seja deindignação [indignatio], seja de piedade [conquestio], que asolução apresentada é adequada ao problema: o epílogo/ aperoração [peroratio];

• a elocução [elocutio] que ajusta as palavras e as ideias aomaterial inventado, a fim de comunicar, na resposta, asrazões e os argumentos adaptados na forma e no estilo, paraque agradem e seduzam;

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• a ação [actio ou pronuntiatio], que harmoniza os elementossuprassegmentais (a voz: o timbre, o ritmo, a modulação, aduração, o volume, a pausa, a entonação etc.), cinésicos (osgestos, as mímicas, os acenos, o movimento dos olhos, aexpressão facial, o movimento do corpo etc., que servemcomo processos corporais que formam um código decomunicação extralinguístico) e proxêmicos (as variações depostura, distância e contato no espaço interpessoal) com oassunto e a linguagem;

• a memória [memoria], que, após tê-la guardado no espíritodo orador, apresenta a resposta (razões aduzidas a favor desua tese) ao auditório como a mais razoável entre duas oumúltiplas outras.

Em conjunto, defende-se uma tese,uma resposta plausível. A expectativa doorador é anular o problema e invalidarqualquer reação contrária do auditório àsolução trazida. A frase «pouco fermento amassa inteira fermenta»(r1) – (Gálatas 5.9)pode ser retórica, ou não, dependendo deseu contexto de uso. Se (r1) responder a«quanto fermento deve haver para levedar a massa?»(q1), emcontexto de produção de pães, por exemplo, nela nada haverá deretórico, pois não atende à lei fundamental da Retórica: apesar de(r1), a questão deverá ainda continuar a existir para que sejaretórica, o discurso que liga o orador ao auditório deve ainda serportador de outra questão. No exemplo, não há para (q1) senão (r1),o que esvazia a problemática em benefício da resposta, que Meyerchama de direta externa; não se ofereceu argumento ou conclusãosobre qualquer pergunta, de modo que a literalidade marca o pontofinal do problema:

Uma resposta literal dissolve-se como resposta e então sóimportará o conteúdo proposicional, dado que já não seconfigura como questão. E esta última, uma vez resolvida,desaparece de cena para deixar lugar apenas à referencialidadedo seu conteúdo proposicional (MEYER, 1998, p. 102).

Em conjunto, defende-seuma tese, uma respostaplausível. A expectativa doorador é anular o problema einvalidar qualquer reaçãocontrária do auditório àsolução trazida.

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7 Meyer (2007, p. 68) afirma: «A retórica começa quando se assimila r1 a r2, pois só poderia sê-lo figurativamente, o que permite prescindir de especificar a ligação real que une r1 a r2».

Mas se de (r1) pudermos inferir (q2), teremos para o par (q1/r1)uma nova relação (q2/r2). Se alguém disser (r1) querendo significaro erro judaizante tem penetração prejudicial(r2), como se depreendede Gálatas 5: 6-10, estará atribuindo um sentido figurado a (r1), poiscomo neste caso (q1) não está em questão, inferir-se-á (q2). Desseexercício de relações, extrai-se, segundo Meyer, a lei básica daRetórica: r1 ---> q1.q2, portanto r2. Assim, tendo em vista que de r2

infere-se q2, r1 remeterá a q2 e a r2. Pela equivalência retórica, isto é, pelo viés da resposta, tendo

em vista que (q1) implica (q2), fato que infere e remete para (r2)[portanto: q1.q2 –--> r2], (r2) será retoricamente equivalente a (r1) e,por isso, se poderá afirmar que, por identidade figurativa7, «poucofermento a massa inteira fermenta» quer dizer o erro judaizante tempenetração prejudicial, ou seja, que r2 = r1 em figura retórica. O queocorre é uma equivalência problematológica entre r1 e r2, de maneiraque o literal e o figurado estão articulados como «momentos dadiferença problematológica» (MEYER, 1998, p. 104), em que

a figura faz as vezes de resposta. Ela serve de ponto final,quando, na realidade, exprime um enigma (...). Dou umaresposta que não é uma resposta, mas que tem a aparência de,e isso permite parar por aí. A figura parece ser uma resposta,para dispensar o fato de ter de produzi-la. É por isso quepodemos afirmar que uma figura é uma resposta figurada quetraduz uma questão cuja preocupação de encontrar o que aresolve é deixada ao auditório, mas como estamos diante de umaasserção, uma resposta, com frequência não vamos maislonge (MEYER, 2007, p. 64-5).

Para diferenciar a Retórica daArgu mentação/Dialética, o segundo pro -ce dimento se dá pelo viés da questão.Quando uma resposta dada não obtémsucesso em seus objetivos, está-se diante

da problematicidade a ser encarada. Para Meyer, a Retórica podeser diferenciada da Argumentação, porque esta parte do viés dafactualidade problemática que explicita, mostrando o porquê deuma resposta: «o raciocínio argumentativo consiste... em proferir os

Para diferenciar a Retórica daArgumentação/Dialética, osegundo procedimento se dápelo viés da questão

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termos que levam a novos juízos dos quais eles são os argumentos»(MEYER, 2007, p. 69). Assim, pela equivalência ou leituraargumentativa, já que r2 ---> q2

.q1, pode-se concluir que r1--->r2.Como se reconhece, essa forma de raciocínio argumentativo é

imperfeita em razão de sua estrutura entimemática (como tambémo raciocínio retórico o é, em razão da ilusão do esvaziamento daquestão). Não só lhe falta uma das premissas, como também, emalguns casos, a conclusão pode ficar somente sugerida. Como nãose trata de demonstração inquestionável e como não há um bloqueioa priori – próprio do raciocínio lógico que exclui a alternativa eanula as questões ao antecipá-las por meio das premissas quetornam a conclusão incontestável – queimpeça a existência de outra resposta paraa questão – ou a de múltiplas outras, entreas quais será preciso escolher8 –, oauditório sempre poderá contra-argu -mentar, sempre poderá opor-se ao dito,pois na Argumentação a problematicidadeé incontornável, de modo que o lógos, quedeveria erradicar o problema, poderáapenas traduzi-lo.

A sua eficácia, porém, encontra-se no fato de que, não sendoexplicitada a premissa mais questionável, a natural fragilidade doraciocínio não fica aparente. No exemplo de Meyer, «esse homembebeu, seu rosto está todo vermelho», está oculta a proposição «todohomem de rosto vermelho é um bêbado», proposição essa preservadada fácil contestação que, pela intrínseca interrogatividade dalinguagem, pode surgir a qualquer momento.

Desse modo,

se olharmos bem, não há senão apenas duas formas de proceder:seja anulando as questões pela apresentação da resposta – ou,talvez, postulando tê-la dado – com a elegância de um estilo bemelaborado, seja lidando com elas diretamente, enfrentando-as depeito aberto, como no tribunal, em que é preciso expor o pró e ocontra, de acordo com os procedimentos bem estabelecidos, istoé, equitativos. (MEYER, 2009, p. 2 – tradução nossa)

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8 O T.A. (p. 431) insiste quanto ao cuidado que o orador deve ter no processo persuasivo.Embora ele possa aconselhar, repreender, dirigir, «é preciso que o auditório tenha a impressãode decidir com plena liberdade» – tradução nossa).

o auditório sempre poderácontra-argumentar, semprepoderá opor-se ao dito, poisna Argumentação aproblematicidade éincontornável, de modo queo lógos, que deveriaerradicar o problema,poderá apenas traduzi-lo.

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Algumas considerações sobre os grandes lugares doresponder retórico

Aristóteles afirmava que, quanto à origem das provas, há trêsfontes:

...a respeito das provas, já foi falado não só a partir dequantas {são} – porque são a partir de três coisas –, mas tambémquais são essas coisas e por que razão {são} somente tais coisas,pois, ou por estarem eles tomados por paixão em relação aalguma coisa, os que julgam, ou por captarem algumasqualidades dos que falam, ou, por ter sido demonstrado con-clusivamente, todos são persuadidos – (Retórica, III, 1, 1403b– tradução nossa).

Essas três dimensões – o éêthos, o páthos e o lógos – são asfontes de provas persuasivas. Para Aristóteles, algumas estãoassentadas no caráter do orador; outras, no modo emocional como oouvinte reage ao discurso; e outras, na demonstração – ou no queverossimilhantemente demonstra – do próprio discurso. Assim, a

exposição das diferenças e das identi -dades9 se dá «pelo caráter do falantequando o discurso é de tal maneira ditoque faça confiável aquele que fala»; peladisposição dos ouvintes «quando à paixãoeles forem levados sob o efeito do dis -

curso, pois não de modo semelhante atribuímos os juízos quandosentimos tristeza e alegria, ou amor e ódio»; e pelo discurso, em quea verdade e o que parece ser verdade (o verossímil) são elaboradosde acordo com a circunstância, conforme cada caso particular.(Retórica I, 2, 1356a – tradução nossa). Servir-se dessas fontessignifica «tomar daquilo que se pode fazer silogismos, teorizar arespeito dos caracteres e das virtudes e, terceiro, das paixões: o quecada uma das paixões é, e de que qualidade, do que vem a ser, ecomo» (Retórica, I, 1, 1355a – tradução nossa).

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9 Embora geralmente se busque o acordo, o ajuste, o contrato, a Retórica também pode per-petuar as diferenças quando, por exemplo, forem negociadas por símbolos que as reafirmem,como as vestimentas específicas de determinadas esferas sociais (militar, religiosa, judicialetc.), ou mesmo agravadas quando pelo uso retórico do insulto se estabelece uma distâncianão-negociável. Assim, «a distância pode ser reduzida, aumentada ou mantida consoante ocaso» (MEYER, 1998, p. 27).

Essas três dimensões – oêthos, o páthos e o lógos –são as fontes de provaspersuasivas.

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Meyer, ao longo de sua pesquisa, mostra que o desequilíbrioentre essas partes produz a indefinição do conceito de Retórica, gerao esfacelamento de sua unidade. Se centrada apenas na arte do bemdizer, a Retórica fica restrita à imagem e à intenção do orador; secentrada na emoção, objetiva sobretudo as manobras de influência:a retórica-manipulação; se centrada na exposição de argumentos,visa à persuasão por meio da visão lógico-argumentativa-lin guís -tica. Qualquer uma dessas condições produzirá concepções unilate -rais da Retórica, pois cada uma das abordagens focaliza, de modoindependente, uma das três dimensões. Se firmada na autoridade,no prestígio, na héxis, na legitimidade e, também, na eloquência enas intenções do orador, teremos o páthos e o lógos em condiçãosecundária; se nas funções e reações do auditório, teremos ainterferência direta na postura do orador que, sem apelo à razão,se preocupará apenas com os efeitos manipuladores esperados; sena alta capacidade de influência das proposições veiculadas, quedevem ser aptas a agradar, comover e persuadir por suaracionalidade discursiva nos processos de decisão, indepen -dentemente dos valores apresentados e dos efeitos de adesão daíoriundos, teremos o desequilíbrio das presenças do orador e doauditório.

Para a Problematologia, o êthos é a dimensão retórica capazde responder por meio do lógos às questões sobre as quais o serhumano negocia aproximações e distanciamentos, é aquele emquem o páthos – fonte de questões – poderá reconhecer-se e comquem poderá identificar-se para, então, dispor-se a ouvi-lo e segui-lo.Ele é mais do que o orador em si, que procura obter confiança deseu público pelo que é e pelo que representa: é «um princípio e umargumento de autoridade» no qual e pelo qual a audiência buscarespostas, é «o ponto final do questionamento» (MEYER, 2007, p.35) encarnado no orador. Mesmo sendo apenas um ponto de vistasobre a questão, ele põe fim, com base na credibilidade calcada nasua autoridade, às interrogaçõespoten cialmente infinitas das respostassuge ridas. Considerado como processoin te ra tivo de influência, o êthos evita apermanente recolocação em questãodos discursos alheios.

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Considerado como processointerativo de influência, o êthosevita a permanente recolocaçãoem questão dos discursosalheios.

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Enquanto prova que se apresenta por meio das escolhas deexpressão, possui dupla dimensão: moral e estratégica (EGGS,1999). A primeira, compreende as virtudes, definidas como umadisposição para encontrar a justa medida em relação a um homemsensato (phrónimos); mas é necessário, ainda, como já afirmavaAristóteles, respeitar os lugares (tópoi) e os saberes comuns, demodo que o êthos deve mostrar-se apropriado às idades e aos statussociais, adaptando-se ao auditório segundo as suas opiniões (dóxai),paixões (páthe), posturas (héxeis) e hábitos (éthe).

Para produzir os efeitos esperados,o orador não só desencadeia um processoracional que incita reações, não só mani -festa qualidades próprias, por imagem,que o auditório é convocado a ativa menteinferir pelo raciocínio e a acolher comoresposta digna de confiança às suasquestões, mas também recorre a mano-bras de influência em que as emoçõesproduzidas o aproximam do auditório. É,porém, o recurso à sim patização «nosentido forte de sentir com» (AMOSSY,2008, p. 113 – tradução nossa) que o fazultrapassar tanto a capacidade do usohábil dos elementos racionais para aformulação de valores neles fundadosquanto a mera capaci dade de impres sio -

nar pelo manejo das emoções e paixões. De fato, o êthos é aquele comquem o auditório se identifica, compartilha o «sentimento de per-tencimento que une os membros de um mesmo grupo e que faz comque os alocutários possam se sentir imediatamente em consonânciacom o locutor...» (AMOSSY, 2008, p. 119 – tradução nossa). Porcomparticipar do mesmo universo de esperança, fé, crenças, valores,regras, hábitos etc., o auditório reconhece o êthos de pertencimento,o que instala, espontaneamente, um processo de reciprocidade quePerelman e Olbrechts-Tyteca (T.A., p. 18) denominam «comunhãoefetiva dos espíritos», que se presta à produção das condições préviaspara qualquer situação interativa, pois é necessário que o auditórioperceba que o orador é um dos seus:

Para produzir os efeitosesperados, o orador não sódesencadeia um processoracional que incita reações,não só manifesta qualidadespróprias, por imagem, que oauditório é convocado aativamente inferir peloraciocínio e a acolher comoresposta digna de confiança àssuas questões, mas tambémrecorre a manobras deinfluência em que as emoçõesproduzidas o aproximam doauditório.

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Para fazer aderir o auditório a uma tese, não é suficiente oaspecto moral (as virtudes) e o aspecto procedural (a apropriaçãode qualidades para a função, para o objetivo)... É preciso tambémque o auditório possa reconhecê-lo como um ser com quemcompartilha modos de ver e de sentir. A simpatia espontânea– a impressão de que se compartilha com o locutor um mundofamiliar de crenças e de afetos que o torna próximo – favoreceo ouvir (AMOSSY, 2008, p. 119 – tradução nossa).

É possível perceber, diante disso, o importante papel dialéticodo êthos; com efeito, a aceitação de sua verdade, apesar de todo oesforço, está sujeita ao crivo de uma multiplicidade de julgamentose é dependente de conclusões possíveis ou prováveis. Como asimpressões do real são muito variáveis e as suas interpretações sãomúltiplas, é natural que haja instabilidade e incerteza na açãoargumentativa. Sobrepujar, portanto, as objeções e suscitar emoçõesempáticas é o desafio de todo argumentador que jamais está livre dedificuldades para fazer o seu auditório perceber e conceber as suasopiniões como sendo as dele.

O segundo lugar do responder retórico é o páthos. Ele não sófaz surgir as questões às quais o êthos deve responder mas tambémparticipa ativamente da ação éthica, pois as paixões que vêm à tonasão o resultado do cruzamento dos diversos interesses que oauditório ativamente possui com as respostas que recebe. As suasdiversas possíveis reações são respostas ao que o orador apresentoucomo resposta:

O auditório responde às questões levantadas ou tratadas pelolocutor; o auditório pode (1) aderir, (2) recusar essas respostas,(3) completá-las ou (4) modificá-las, (5) permanecer silencioso,o que pode ir na direção (6) de aprovação ou (7) de reprovação,mas o silêncio pode significar somente (8) o desinteresse pelaquestão tratada. Essas oito possibilidades de interação, deresposta do auditório, referem-se tanto à questão abordadaquanto à resposta proposta: ele pode se desinteressar por umaquestão ou não, e se essa questão retém o auditório porque elaresponde a suas próprias preocupações, ele pode ainda aprovarou desaprovar, explicitamente ou não, o modo como o oradorresponde (MEYER, 2007, p. 39)10.

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10 Ver também Meyer, 1998, p. 93.

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Por sua vez, pode-se entender o páthos como um «julgamentosobre aquilo que está em questão» (op. cit., p. 37). Ora, ao se valoraro que é questionável, seja pela manifestação favorável (positiva),seja pela recusa (negativa), a paixão realiza a anulação da pro-blematicidade, mesmo que isso ocorra apenas por efeito:

A paixão é retórica por enterrar as questões nas respostas quefazem crer que elas estão resolvidas. É por isso que lidar comas paixões é sempre útil, retoricamente falando, ao passo quea argumentação, que põe explicitamente as questões sobre amesa, faz mais apelo à razão do que à paixão (op. cit., p. 38).

No que tange à persuasão, portanto, saber provocar as paixõesdesejadas é dominar uma forte ferramenta de mobilização, seja paraa adesão do auditório a uma tese (eliminando o problema quesepara), seja para a sua repulsão (reforçando a diferença). Quanto

maior for a paixão produzida, mais aquestão terá sido respondida. Estandosob a influência de um discurso fundadona paixão, o espírito do auditório estará

sensível ao convencimento, e é nesse estado que é propícia aprodução da crença de que o dito pode/deve ser aceito. Uma eficienteargumentação que vise à ação (não necessariamente imediata, mas,ao menos, eventual) deverá não só atingir a razão do ouvinte mastambém excitar as suas paixões, para que a adesão seja intensa,total, suficientemente dotada de capacidade para superar tanto oimobilismo que a dóxa possa ter instalado, quanto os agentes con-trários à intenção de quem fala.

Ora, tendo em vista que a adesão, se obtida, é passível degraus de intensidade, cabe, na argumentação, o jogo que oraconsidera os elementos da razão, ora os da vontade. Perelman eOlbrechts-Tyteca concebem a argumentação como atuação discur -siva sobre os espíritos dos ouvintes e, por isso, são contrários aqualquer distinção que apresente a ação sobre o entendimento comopessoal e intemporal, e a ação sobre a vontade como irracional. Paraeles, essa divisão

funda-se em um erro e leva a um impasse. O erro é concebero homem como constituído de faculdades completamente

Quanto maior for a paixãoproduzida, mais a questãoterá sido respondida.

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separadas. O impasse é tirar da ação fundada na escolhaqualquer justificação racional e, com isso, tornar absurdo oexercício da liberdade humana (T.A., p. 62 – tradução nossa).

Por sua vez, o auditório, ao receber o êthos que emana doorador (que procura dar respostas aproximando-se dos valorespositivos em comum e distanciando-se dos seus contrários), avaliase a sua dóxa está ou não em questão. A adesão que abole adistância é produto da identidade entre as partes, de maneira queo páthos efetivo (real) acolhe aquilo com o que se identifica no êthosimanente (que o auditório imagina ser o orador) e recusa o seu con-trário. Assim, «é preciso: que a resposta (1) agrade ao auditório e (2)identifique-se a seus valores e/ou maximize a distância em relaçãoaos que ele recusa» (MEYER, 2007, p. 53).

Tanto quanto o êthos, o páthos é também construído por meiode imagem. Assim como há um êthos imanente e um efetivo, hátambém um páthos imanente e um efetivo11 (MEYER, 2007, p. 52).Os imanentes referem-se àquilo que cada um projeta de si, de modoque, reciprocamente, orador e auditório compartilham imagens quenão são necessariamente correspondentes ao que é efetivo, ou seja,ao mesmo tempo em que o êthos efetivo projeta uma imagem de sia partir daquela que cognitiva e emocionalmente formou do seuauditório – e nesse sentido o páthos é imagem especular do orador,o seu duplo (op. cit., p. 52), o seu complemento (op. cit., p. 55), poiso orador é quem o concebe segundo o seu prévio conhecimento –, eletambém é – respeitadas as possíveis imperfeições, os disparates, asincongruências dos processos de emanação (êthos visado12) e de per-cepção (êthos produzido) dessas imagens – projeção do própriopáthos, na medida em que o auditório projeta de si (proposital -mente, ou não) uma imagem a partir da qual o orador se constróidiscursivamente, e assim, tanto o êthos imanente para o auditório

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11 «Nada prova que o projetivo de cada um concide com o auditório ou o orador reais. Para sechegar a isso, é preciso um ajuste, uma tomada de consciência da diferença, e osprotagonistas da relação retórica nem sempre o conseguem, mesmo que por vezes finjam»(MEYER, 2007, p. 55).

12 Maingueneau (2008, p. 16) chama a atenção para os éthe visado e produzido. Diante dosmuitos problemas que envolvem o processo da produção da imagem éthica, o éthos imanentevisado pode distanciar-se sensivelmente do produzido. Essa diferença se dá no intervaloentre a produção e a recepção.

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quanto o páthos imanente que nasce no espírito do orador advêmdo jogo interativo dessas forças. Enquanto, por um lado, o êthosimanente, tendo sido forjado por efetivo, apresenta-se como soluçãopara as inquietações do auditório, por outro lado, o páthos efetivo,como coprodutor do êthos imanente, se posiciona como avaliador daresposta de acordo com os seus valores. Para tanto, o T.A. (p. 25-6)recomenda que a construção da imagem do auditório (presumido,portanto) não seja inadequada à experiência.

Embora orador e auditório possam estar naturalmentemarcados pelas contradições, incoerências e equívocos que osaproximam ou que os rechaçam, que os reencontram ou que osrepelem, os estereótipos disseminados como forma preestabelecidade percepção do, relação com e inserção no mundo, sem dúvidaalguma, influenciam positiva ou negativamente a construção dasrepresentações um do outro; as imagens coletivas preexistentesarmazenadas e cristalizadas culturalmente na memória sócio-discursiva interferem na interpretação e impõem inferências. Dessemodo, cabe a quem argumenta conhecer os valores dominantes dasociedade a que se dirige, as suas convicções culturais indiscutíveise indiscutidas, as imagens sociais que circulam como modelos, osestereótipos, as tradições e a história bem como as consequênciassociais e econômicas das posições existentes. A sociabilização comos espíritos, que é útil para estabelecer e manter o contato, alerta oorador quanto às possíveis mudanças na qualidade do auditório, quedele exige, por conseguinte, ajustes contínuos, pois até uma crença

já estabelecida é passível de declínio, oude intensificação.

Assim, como a adesão a uma tesenão se dá pela coerção da evidência, elapermanecerá na condição de variável ins-tabilidade, sujeita à natural possibilidadeda controvérsia. Os efeitos do esforçoargumentativo são destinados a incitá-la

ou a aumentá-la e, concomitantemente, no sentido inverso, adiminuir ou, se possível, a extinguir a força de algum valor contrário,desen cadeando um fazer ou uma disposição para isso, cuja manifes -tação espera-se ocorrer em tempo apropriado.

Assim, como a adesão a umatese não se dá pela coerção daevidência, ela permanecerána condição de variávelinstabilidade, sujeita ànatural possibilidade dacontrovérsia.

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O lógos, terceira dimensão retórica, «se presta à mescla dosdois pontos de vista» – (MEYER, 2007, p. 52); ele é a expressão tantoda questão (páthos) quanto da resposta (êthos); deve ele procurarpreservar a diferença entre cada uma das partes para que a questãonão seja duplicada. Em «a noite avançou, o dia é chegado» (r1) -(Romanos 13.2 – tradução nossa), querendo expressar ao auditório:o mal perdeu a sua força(passou) e foi vencido pelo bem(r2), aquestão(q1) – que suscitaria uma resposta literal – não seria aquelaque deu origem a r2, de maneira que a diferença entre q e r ficapreservada. Mas, então, como a pode ser b? Literalmente isso éimpossível. Mas se x (que é a) é y (que é b), dizer a é dizer b, ou seja,a é b nessa perspectiva. Se dizer a proposição x («a noite avançou, odia é chegado») é dizer y (o mal perdeu a sua força (passou), foivencido pelo bem), a é b retoricamente falando (pelo sentido figuradoque, amalgamando x e y, apaga a diferença entre a e b).

Na afirmação: «a partir das obras da lei não será justificadacarne alguma à vista dele [de Deus], pois por meio da leiconhecimento do erro{vem a ser}» – Romanos 3.20 – tradução nossa),teremos um círculo vicioso se nela supusermos resolvida a questãosobre o porquê a partir das obras da lei ninguém será justificado.Simplesmente dizer que isso ocorre porque por meio da lei vem oconhecimento do erro é dar uma resposta que nada resolve, pois aproblematicidade continua e a questão se duplica: Por que oconhecimento do erro vem a ser pela lei? Nessas condições, há anecessidade de outras explicações que permitam considerar aasserção como aceitável. Falando a quem é conhecedor da leijudaica13, o escritor tem como certo – como se vê no contexto –, apartir do conhecimento compartilhado com seu auditório, que elalançou todos os homens na condição de sujeitos sob juízo, em estadode condenação, de modo que a resposta: «pois por meio da lei

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13 É aceito que o auditório da igreja cristã romana era misto. Embora composto por gentios, aforte presença judaica é indubitável. Disso resultou, da parte de Paulo, a necessária seleção,classificação e organização dos dados, a fim de que essas duas frentes importantes pudessemse sentir incluídas no discurso que ouviriam pela leitura da epístola; ora de modo paralelo,ora de modo integrado, os temas tratados levam em conta as condições do gentio e do judeupré-Cristo e pós-Cristo. Sem descuidar dos pontos em comum, seja quanto ao estado antesda experiência religiosa cristã, seja na nova condição «em Cristo», nem daqueles pontos quelhes diferenciam (a Lei judaica, a circuncisão, os privilégios do judeu etc.), Paulo escreve àcomunidade romana e apresenta-lhe o evangelho que anuncia no mundo gentio.

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14 «Uma proposição é portanto uma resposta que remete a questões que não são mais colocadas,mas que, se a necessidade se apresentar, poderão ressurgir, sem alterar o sentido daresposta, já que contribuíram para especificar em que ela é resposta» (MEYER, 2007, p. 44).

conhecimento do erro {vem a ser}» pertence ao conjunto das crençasjá admitidas o que, portanto, evita que a questão supostamenteresolvida não seja a mesma para a qual se deve ainda dar umaresposta.

É ao orador, portanto, que cabeconhecer o quanto o seu auditório sabe apropósito daquilo que ele trata em seudiscurso, a fim de evitar que a interro -gação se estenda. Quanto maior for adúvida ou a ignorância a respeito do queo outro sabe, mais informações haverãode ser dadas. Essa mutualidade de sabe -

res é o contexto em que se encontra a posição relativa do orador e doauditório nas trocas que fazem discursivamente, embora, na práticasocial, tenhamos «de lidar mais com crenças ou com hipóteses doque com verdadeiros saberes. Isso não impede que, graças aosadquiridos prévios e partilhados, os protagonistas interpretemaquilo de que é questão no outro...» (MEYER, 1998, p. 89).

Quando se elimina a questão, a frase apresenta apenas aquiloa que ela faz referência. E ao fazer isso, «toda menção de resposta ede questão desaparece forçosamente, em benefício daquilo que estáem questão na resposta» (op. cit., p. 44). É o caso da proposição14 (ouasserção, declaração, juízo), na medida em que é uma resposta auma questão que não mais está em jogo; ela não faz alusão àquestão que lhe deu origem, mas somente àquilo sobre o que aquestão se refere, isto é, não a diz (fica implícita), mas a resolve. Aodizer: «eu sou o menor dos apóstolos» (1Coríntios 15.9), Pauloelimina a questão, enunciando referencialmente apenas quem eleé, de modo que a sua afirmação concentra-se no que a questãopoderia se referir e dela restou apenas aquilo que está em questão.Para compreender o sentido dessa resposta é preciso saber ao queela responde, mesmo que das questões (quem é Paulo? O que é serapóstolo? O que essa função eclesiástica lhe atribui? O que é sermenor entre os apóstolos?) apenas tenham restado os termosutilizados. Buscando ser considerado membro do grupo e que o

É ao orador, portanto, quecabe conhecer o quanto o seuauditório sabe a propósitodaquilo que ele trata em seudiscurso, a fim de evitar que ainterrogação se estenda.

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prestígio deste lhe seja estendido, o orador, como estratégia retóricapara diminuir a distância que poderia instaurar-se (ou que estavainstaurada) e produzir afinidade, serve-se do cleuasmo, figura deargumento que, segundo Reboul (2004, p. 135): «consiste no desgaboque o orador faz de si mesmo para angariar confiança e simpatia doauditório». Meyer reconhece que a negociação da distância nãosurge apenas pela valorização do orador mas também por sua«eventual desvalorização para fazer passar melhor uma tese pró-pria» (1998, p. 129), o que vai ao encontro da linha de Perelman eOlbrechts-Tyteca, que inserem essa figura entre as técnicas deatenuação, responsáveis pela produção de uma «impressão favorávelde ponderação, de sinceridade, e concorrem para demover a ideiade que a argumentação é um procedimento, um artifício» (T.A., p.618 – tradução nossa).

O T.A., ao tratar das modalidades na expressão do pensa -mento, afirma que na negação há uma explícita referência a outracoisa; de fato, «a negação é uma reação a uma afirmação real ouvirtual de outrem» (p. 208 – tradução nossa). Uma proposiçãonegativa, que sempre subentende uma questão (não se diz «não» ,se não houver uma questão subjacente), pode, quando conduzir a r2,destruir a si mesma como resposta: «A respeito das virgens (jovens),ordenança do Senhor não tenho» (1Coríntios 7.25a – tradução nossa),o que significa: eu nada tenho a dizer da parte de Cristo quanto àsjovens solteiras. Ora, a menos que exista outra resposta diferenteque se imponha, por que suscitá-la? Não é exatamente isso queacontece quando Paulo acrescenta: «opinião, porém, eu dou, comoestando sob a ação do Senhor na condição piedosa {de} ser confiável»(1Coríntios 7.25b – tradução nossa)? Essa opinião, como se percebe,não é puramente pessoal, mas está inserida no estado piedoso (overbo ἠλεηµένος está no particípio perfectum15, que indica ação con-cluída, em condição de estado, completa) estabelecido nada menosdo que pelo Senhor (agente da passiva – ὑ ό com genitivo), o que avaloriza e a põe entre as demais ordenanças autorizadas por suafunção apostólica. Dessa maneira, «esse processo, longe de ser

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15 O aspecto perfectum é o traço verbal que indica o término da ação, o seu encerramento, etambém o resultado presente do ato completado, de onde pode se ter a sua ideia de estado,de intransitividade (cf. MURACHCO, 2003).

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16 «O que é resposta para o locutor torna-se questão para o auditório; mas é um questão quenão põe em causa a resposta, inquietando-se antes com aquilo que está realmente emquestão» (MEYER, 1998, p.112).

inconsciente, é decidamente intencional [...]; ao suscitar a questãoatravés de uma resposta negativa, não estará a implicar que era per-tinente colocá-la, que podia de ter dúvidas...?» (MEYER, 1998, p. 82).

Quando a resposta não é crível, ou é surpreendente (sejaporque o dito não é verossímil ou é absurdo, seja porque nãocorresponde ao conhecimento de mundo, seja porque as ações dequem diz não comprovam a resposta etc), pode surgir uma pergunta(que é resposta à resposta) explicitamente negativa que questionaa resposta de uma outra questão anterior, explícita ou implícita.Esse recurso põe em relevo o saber, o já pressupostamente conhecidoe, daí, destaca a violação que foi realizada do que é correto, a trans-gressão dos valores até então reconhecidos: «não sabeis que poucofermento toda a massa fermenta?»

Por meio de interrogações explicitamente negativas, mas comteor afirmativo, objeta-se as respostas da audiência com um tom, aomesmo tempo, de surpresa e de crítica. Como se em um diálogo (queefetivamente não se realizou) q1 tivesse sido respondida por r1

(negando o conhecimento) que, por sua vez, fez surgir uma novaquestão, que em si mesma é tanto uma resposta para a que fora«dada» quanto uma pergunta que antecipa na enunciação a afirmaçãopositiva da audiência. Não estamos diante de um efeito retórico?

Se considerarmos que a frase interrogativa é questão explícitae também resposta (uma reação do orador), temos r2 implicada e,retoricamente, r1 = r2. Argumentar, diz Meyer (1998, p. 101), é«suscitar uma questão por intermédio de outra», de maneira quecolocar a resposta em exame é buscar aquilo que está em questão,

aquilo que está em causa no dito. Assim,a intenção não é apenas alcançar um sim,banal afirmação para a questão posta noenunciado, mas, de fato, a aderência àtese presente na enunciação.

Assim, da resposta rápida da figura– espaço problematológico para o auditório,haja vista que deverá encontrar a soluçãoem outro sentido16 responsável pela criação

Argumentar, diz Meyer(1998, p. 101), é «suscitaruma questão por intermédiode outra», de maneira quecolocar a resposta em exame ébuscar aquilo que está emquestão, aquilo que está emcausa no dito.

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dos níveis de identidade ou de diferença – que visa a reforçaridentidades fracas e/ou a reduzir diferenças fortes, àquela baseada nosilogismo retórico (entimema) que ataca direta e argumentativamentea questão, «passando pelo estágio intermediário da resposta literalmas todavia discutível» (MEYER, 1998, p. 72), «o lógos é tudo aquiloque está em questão» (MEYER, 2007, p. 45).

Considerações finais

De acordo com Perelman, é impossível um fato (e também umaverdade em sistemas complexos) ser estabelecido sem qualquerinterferência ativa do auditório. Se, por um lado, são os juízos devalor (que não receberam valor cognitivo entre os positivistas) que,na possibilidade responsiva, compõem os saberes e definem asrespostas na base da avaliação dos fatos – o que dá origem àsopiniões e às preferências pessoais –, por outro lado, são também osjuízos de ordem pessoal (mesmo que se pretenda dar-lhes o status dejuízos de fato, objetivos, isentos de toda apreciação pessoal) queapresentam os fatos. Perelman (2009, p. 54) esclarece, com pro-priedade:

Uma afirmação e uma apresentação que, à primeira vista,parecem objetivas e imparciais, manifestam o seu caráter,voluntária ou involuntariamente tendencioso, quando sãoconfrontadas com outros testemunhos de sentido oposto. Opluralismo aprimora o sentido crítico. É graças à intervençãosempre renovada dos outros que melhor se pode distinguir, aténova ordem, o subjetivo do objetivo. (tradução nossa)

A questão que se impõe, portanto, é:em que medida um dado verificável podeser comunicado purgado da subjetividadedaquele que o percebe e que lhe dásignificação, tendo em vista que o estatutode fato é atribuído à construção do quepensamos ser coincidente com a realidade?Considerando, ainda, que esse estatuto ésustentado por acordo validado, até que ponto um juízo de realidadepermanece intocável? Perelman (1987, p. 242) alerta:

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questão que se impõe,portanto, é: em que medidaum dado verificável pode sercomunicado purgado dasubjetividade daquele que opercebe e que lhe dásignificação

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O senso comum admite a existência de valores universais, taiscomo o verdadeiro, o bem, o belo e o justo, mas é precisoassinalar que esses valores não são objecto de um acordo geralsenão na medida em que ficarem indeterminados: a partir domomento em que se tente precisá-los, as divergências a seurespeito irrompem irremediavelmente.

Com efeito, a radicalização naoposi ção entre valor e fato torna-se insus -tentável quando reconhecemos que nadafoge à interpretação. Como afirma Grácio(1998, p. 49):

(...) é possível contestar a distinção radical entre juízos de factoe juízos de valor, e subscrever as seguintes ideias: – afactualidade não é dissociável de uma leitura ou interpretação;– toda a leitura humana da realidade é já uma forma de a in-terpretar (seja ela científica ou não); – não há leituras neutrasnem interpretações exclusivas; – os factos não são algo que sedescobre e que corresponde ao mundo real, por oposiçãoàquilo que seria fabricado e construído pela intervenção damente humana; – os factos não podem ser dissociados da suaapresentação, ou seja, do reconhecimento de que aquilo de quese está a apresentar goza do estatuto de facto.

Desse modo, se por um lado há objetos de acordo que incidemsobre o preferível (formados por objetos que indicam uma preferência:valores e hierarquias, e pelos que indicam o que é preferível: lugares dopreferível), e desses reconhecemos, sem oposição, as constantes(re)avaliações por que passam, por outro lado, há os que incidem sobreo real (fatos, verdades e presunções, dos quais advêm os juízos derealidade) que, na perspectiva da argumentação, não se eximem dessamesma condição reavaliativa, pois sempre se deverá indagar o que sepensa sobre eles, se (ainda) são aceitos, se são suficientemente comparti-lhados, antes de serem considerados comuns a todos e como dadosestáveis sem necessidade de receber reforço na adesão. O certo é quenenhum desses objetos tem o seu estatuto definitivamente assegurado,pois a qualquer momento todos podem ser confrontados com outros fatose verdades aos quais não se acredita ser possível renunciar.

Na realidade, somente uma operação injustificada de isola -mento dos dados dentro de um conjunto muito mais complexo

Com efeito, a radicalização naoposição entre valor e fatotorna-se insustentávelquando reconhecemos quenada foge à interpretação.

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poderia transformar as soluções apresentadas ao assentimento emverdades inabaláveis, estáticas, inegociáveis, cujas convicçõesjamais colidiriam com outras crenças. Mesmo que existam fatos everdades em que todos deveriam crer, porque se acredita que sejamuniversalmente partilhados, essa validade absoluta não passa deuma pretensão particular, pois o desenvolvimento dos dados estásempre sujeito, querendo ou não, tanto às instáveis representaçõesque o orador faz de seus auditórios particulares quanto aos juízos devalor que estes emitem da coexistência humana em contexto, cujainteratividade discursiva é sempre circunscrita por elementospragmáticos.

Pergunta-se: esse caráter contingencial do discurso nãoimplica, então, indefensibilidade? Pelo contrário, «as respostasdadas a assuntos em questão são indisso ciáveis de valoraçõespessoais mas nem por isso arbitrárias,injustificáveis, indefensá veis ou não suscep -tíveis de reforço perante quem delasdiscorda» (GRÁCIO, 2010, p. 15). Mesmo nomundo do verossímil, em que todo argu -mento é intrinsecamente discutível, todos osobjetos de acordo concernentes ao preferível, cuja impossi bilidadede experiência e de verificação não permite o acordo universal,podem ser aceitos por escolha justificada, pela razoabi lidade quetêm as opções apresentadas. Por sua vez, quando nos fiamos nosjuízos de fato (idealmente objetivos) estamos também diante danecessidade da constituição de acordos, pois nada foge ao esforçointerpretativo, à apreciação pessoal, conduzindo-nos, necessa ria -mente, à argumentação.

Conclui-se, então, que é insustentável desvincular a Retóricae a Argumentação do processo de estabelecimento e de manutençãodo estatuto dos juízos (de valor e de fato). Como já dizia Perelmane Olbrechts-Tyteca:

Não contamos com nenhum critério que nos permita, em todasas circunstâncias e independentemente da atitude dos ouvintes,afirmar que alguma coisa é um fato. Contudo, nós podemos reco-nhecer que existem certas condições que favorecem esseacordo, que permitem facilmente defender o fato contra adesconfiança ou a má vontade de um adversário: esse será esse

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Pergunta-se: esse carátercontingencial do discursonão implica, então,indefensibilidade?

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o caso, notadamente, quando se dispõe de um acordo a respeitodas condições de verificação; no entanto, assim que tivermosde efetivamente fazer intervir esse acordo, nós estamos em plenaargumentação (T.A., p. 90-1 – tradução nossa).

Essa afirmação atinge diretamente o conceito de auditóriouniversal. Se a ele se impõem objetos de acordo idealmente sem con-trovérsias e sem a influência da pessoa, aos quais se infligem fatose verdades absolutos acima de todas as contingências, isso só serápossível existir quando houver uma convenção dessa mesmadimensão, de modo que ainda se está dependente das negociações,da eliminação das diferenças por consenso, da inteira aceitação daspremissas apresentadas por meio de ajustes pactuados. Reconhece-se,nessas condições, que a sua existência é apenas uma construçãomental daquele que lhe dirige a palavra, tendo em vista adificuldade (e mesmo a impossibilidade) de se estabelecer o incon-troverso atemporal e ilimitado geograficamente. Na prática, é pelaRetórica e Argumentação que se chega à escolha entre possíveis,pois nessas artes tema tizam-se os problemas, mantendo-se a

possibilidade da pluralidade, da pro-blematicidade imposta pela naturalcontingência, pois não há a última ins-tância em que se encontre a palavrafinal, mesmo quando o êthos se propõe adá-la. O que há é a possibilidade doestabe lecimento de um acordo a res -peito de uma tese, baseado na melhoropção que, por sua vez, se manteráapenas enquanto outros modos de vernão sejam integrados e ponham emquestão as bases em que se funda. É,portanto, o campo da atividade racionalem que se exerce a razoabilidade:

(...) se é inegável que a lógica formal constitui uma disciplinaseparada que se presta, como as matemáticas, a operações eao cálculo, é também inegável que nós raciocinamos, mesmoquando não calculamos, durante uma deliberação íntima ouuma discussão pública, apresentando argumentos a favor ou

Na prática, é pela Retórica eArgumentação que se chega àescolha entre possíveis, poisnessas artes tematizam-se osproblemas, mantendo-se apossibilidade da pluralidade,da problematicidade impostapela natural contingência, poisnão há a última instância emque se encontre a palavra final,mesmo quando o éthos sepropõe a dá-la.

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contra uma tese, criticando ou refutando uma crítica. Em todosesses casos, não se demonstra, como em matemática, mas seargumenta (PERELMAN, 2009, p. 20 – tradução nossa).

Nesse contexto, as técnicas argumentativas das atividadesdiscursivas fornecem possibilidades responsivas às questões postasem causa, sempre carentes de justificação; o sucesso retórico não serestringe à habilidade do orador, já que é dependente dassignificações múltiplas que os auditórios, capazes de reagir e deinteragir, dão à realidade, às cadeias de relações por elesconfiguradas, às leituras que fazem dos juízos, às percepções e inter-pretações dos dados. Para se fazer prevalecer um ponto de vista nãomais se poderá negligenciar a sua condição de não-Verdade, nemtampouco depreciar o poder da deliberação, da discussão, do con-fronto de ideias. Caso contrário, ou se resignará o ponto de vista àsua condição opinativa, ou se fará uso da violência, em quaisquer desuas modalidades, para impô-lo.

Assim, na medida em que o público se torna parte essencial doprocesso – cujas diligências buscam modificar convicções edisposições por adesão voluntária – é-lhe concedida a livrepossibilidade de resistência: argumentar é, portanto, discursarmesmo sobre o que não é evidente sob indícios de possível insucesso.

Finalmente, é preciso esclarecer que, mais do que um mero ins-trumento de persuasão, mais do que uma simples concepção emtermos de uso, a Retórica/Argumentação recebe, na Nova Retórica eem seus adequados desenvolvimentos, o caráter daquilo que éinerente à linguagem, daquilo que sempre está em ato, que Grácio(1998, p. 106) denomina interactividade comunicativa. Nesse sentido,a argumentação não pode ser reduzida atécnicas de persuasão, a algo meramenteinstrumental e funcio nal. Sua redução aum conjunto sistemático de regras para aconduta do argumentador razoável,aplicáveis a qualquer assunto ou a situa -ções, não abrange as questões mais com-plexas e as competências sociais que lhe estão associadas:situa cionais, relacionais, organizacionais, contextuais, pessoais epráticas (GRÁCIO, 2010, p. 13). A sua conversão em estratégiasregradas não dá conta dos fatores, quase sempre não antecipáveis,

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a argumentação não pode serreduzida a técnicas depersuasão, a algo meramenteinstrumental e funcional.

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que envolvem o ambiente prático e concreto em que se realiza, comtodas as variabilidades disso decorrentes. É contra essa correntenormativista que Grácio (2016) volta veemente a sua crítica,defendendo que a «fuga do assunto», por exemplo, definida, comfrequência, por sentidos pejorativos, não pode mais ser entendida apartir de critérios puramente racionais de valência instrumental daargumentação, que estabelecem normas e condutas rígidas, quedeixam pouco (ou nenhum) espaço para escolhas dos argumentadorese, portanto, reduzem a argumentação a formas proposicionais e aquestões de raciocínio, o que é francamente incompatível com a visãoda razoabilidade prática, complexa e multidimensional, que exigeajustes e reajustes quanto aos assuntos em questão e aos seusprocedimentos.

Certas linhas teóricas que se situam distantes da pers-pectivação, do confronto, da problematicidade, das respostaspráticas e participativas possíveis, das hipóteses a serem testadas,apenas buscam o ajustamento justificativo, ou seja, a soluçãonormativa e absoluta pelo estudo, análise e avaliação dosraciocínios, ao que Grácio (2013) se posiciona no contrapé, pois seinsere no perspectivismo, que valoriza o problema, a oposição, amultilateralidade, a tematização que, em conjunto, definem a foca -lização adequada à situação argumentativa, que sempre está sócio-historicamente situada.

A ênfase não está, portanto, posta em mecanismos. Não sedefende uma visão instrumental, cujo objetivo é a manipulaçãounilateral. De fato, não são as técnicas retórico-argumentativas que

devem ser postas em evidência, mas sima questão do quanto se pode provocar ouaumentar a adesão por meio delas. Emvez de técnicas, a Nova Retóricaenfatiza o assentimento do outro, ouseja, concordância, adesão, em umprocesso argumentativo cooperativo emque o outro é verdadeiramente levado

em conta em sua dóxa, em seu ponto de vista, em sua visão de mundo,favorecendo a negociação da coexistência humana em suas múltiplasdiferenças.

De fato, não são as técnicasretórico-argumentativas quedevem ser postas em evidência,mas sim a questão do quanto sepode provocar ou aumentar aadesão por meio delas.

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