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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL CONTENÇÃO QUÍMICA E PERFIL FARMACOCINÉTICO DA DEXTROCETAMINA, ISOLADA OU EM ASSOCIAÇÃO AO MIDAZOLAM EM JACARÉ-TINGA Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) (CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE) Líria Queiroz Luz Hirano Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Duque Moreno GOIÂNIA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

CONTENÇÃO QUÍMICA E PERFIL FARMACOCINÉTICO DA

DEXTROCETAMINA, ISOLADA OU EM ASSOCIAÇÃO AO

MIDAZOLAM EM JACARÉ-TINGA Caiman crocodilus LINNAEUS

(1758) (CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE)

Líria Queiroz Luz Hirano

Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Duque Moreno

GOIÂNIA

2015

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LÍRIA QUEIROZ LUZ HIRANO

CONTENÇÃO QUÍMICA E PERFIL FARMACOCINÉTICO

DA DEXTROCETAMINA, ISOLADA OU EM ASSOCIAÇÃO AO

MIDAZOLAM EM JACARÉ-TINGA Caiman crocodilus LINNAEUS

(1758) (CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE)

Tese apresentada para obtenção do título de

Doutor em Ciência Animal junto à Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade

Federal de Goiás

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Prof. Dr. Juan Carlos Duque Moreno – EVZ/UFG

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. André Luiz Quagliatto Santos – FAMEV/UFU

Profa. Dra. Eliana Martins Lima – FF/UFG

GOIÂNIA

2015

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Dedico a presente Tese a todos os animais que

contribuíram para a execução desse trabalho

e a todos os outros exemplares da espécie

que serão beneficiados futuramente

com o conhecimento adquirido.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus por ter me dado sabedoria para tomar as decisões

certas, por ter me dado força para transpor as dificuldades, por ter me dado paciência para o

que não dependia dos meus esforços e por ter colocado pessoas que se tornaram verdadeiros

Anjos no meu caminho, me ajudando de todas as formas para que esse sonho fosse realizado.

À minha família. Aos meus pais, Jorge Hirano e Lucineide Maria Queiroz Luz

Hirano, que são tudo na minha vida, pelo amor, pelo incentivo em todas minhas escolhas,

pelo amparo nos momentos difíceis e por serem sempre tão presentes. Ao meu irmão Bruno

Queiroz Luz Hirano por ser meu amigo, companheiro e por me ajudar em tudo aquilo que

preciso. À Layla por fazer meus dias mais felizes e me lembrar que a alegria está nas coisas

mais simples da vida. Também agradeço aos meus avós, tios e primos por me ajudarem no

que preciso, pela atenção e o carinho que sempre tiveram comigo.

Ao programa de Pós-graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e

Zootecnia, juntamente ao Hospital Veterinário da UFG (Universidade Federal de Goiás) e à

Universidade Federal de Goiás, representados pelos professores, técnicos e equipe

administrativa, quero agradecer pela oportunidade e pelos conhecimentos adquiridos durante

o Doutorado.

Agradeço ao meu Orientador Prof. Dr. Juan Carlos Duque Moreno pela confiança,

pela experiência que me proporcionou na rotina de anestesiologia, que com certeza mudaram

os conceitos que eu tinha sobre a área, e por acompanhar com interesse todas as atividades

importantes da pós-graduação. Aproveito aqui para agradecer e parabenizar à toda equipe de

anestesiologia da UFG com a qual tive oportunidade de conviver. Foi muito enriquecedor

trabalhar com pessoas competentes e profissionais tão interessados e dedicados.

À minha co-orientadora Profa. Dra. Eliana Martins Lima por desde o início ter

aceitado participar da minha tese, com paciência e disponibilidade em sanar todas as dúvidas.

Ao seu orientando Danillo Fabrini Maciel Costa Veloso pela execução da parte

farmacocinética e por ter sido um dos Anjos que conheci nessa jornada, sempre me ajudando

com prontidão e boa vontade.

Agradeço ao meu amigo e co-orientador Prof. Dr. André Luiz Quagliatto Santos

por ter me acompanhado desde o início da minha vida acadêmica, ter estimulado a minha

iniciação científica e ter me dado todo apoio durante a realização da minha tese. Espero algum

dia poder retribuir todo o suporte que tenho no LAPAS – UFU (Laboratório de Ensino e

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Pesquisa em Animais Silvestres – Universidade Federal de Uberlândia), que sempre levarei

com muito carinho.

À toda equipe do LAPAS-UFU: técnicos, residentes, pós-graduandos, graduandos

e estagiários que me ajudaram nos procedimentos que envolveram os jacarés, seja no manejo,

medicação ou na parte prática do trabalho. Em especial agradeço aos que me ajudaram na

sedação dos animais, com certeza a realização dessa parte da pesquisa só poderia ter sido feita

com a ajuda de vocês: Rafael Ferraz (outro dos meus Anjos), Stéfani Siqueira e Liliane

Rangel. Quero agradecer a amizade, o carinho, a confiança e, principalmente, o empenho de

vocês, foi muito mais fácil trabalhar com uma equipe capacitada.

Ao Laboratório Clínico Veterinário do Hospital Veterinário da UFU pelas análises

bioquímicas dos crocodilianos. Em especial ao Pablo Gomes Noleto (outro Anjo) que com

muita paciência se dispôs a realizar os exames dos animais e a me ajudar a interpretar os

resultados.

Ao Laboratório Cristália – Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda pela doação da

dextrocetamina, do midazolam e dos padrões secundários para a determinação da técnica

farmacocinética. Em especial agradeço à analista Lívia Souza que com muita atenção

acompanhou o andamento da tese.

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico),

pela bolsa de Doutorado e pela taxa de bancada que financiaram a tese. Agradeço à FUNAPE

(Fundação de Apoio à Pesquisa - UFG), principalmente ao Diretor Executivo Dr. Cláudio

Rodrigues Leles que se prontificou em me ajudar a conseguir a liberação da Autorização

Especial para o Uso de Produtos Controlados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária) para o recebimento dos fármacos.

Aos meus amigos pela paciência em ouvir minhas preocupações, pelo

companheirismo e pela motivação para que eu nunca desistisse mesmo diante das

dificuldades. Em especial quero agradecer a Carolina Osava que tantas vezes se

disponibilizou em ir até Goiânia pra me fazer companhia nas viagens, à Marília Cristina Sola

e Ana Carolina Vasques Villela, por toda a ajuda, pela amizade e por sempre me acolherem

tão bem quando precisei.

Quero agradecer também aos outros amigos que conviveram comigo em Goiânia:

Mara Lina, Paula Lina e Leana Crispim. Apesar das dificuldades de adaptação à nova cidade,

sempre foi muito divertido e gostoso conviver com vocês, eu realmente me sentia em família.

Às companheiras de viagem que se tornaram verdadeiras amigas: Micaela Guidotti, Jussara de

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Souza Carneiro, Suzana Akemi. Em especial agradeço à Liliane Benatti pela ajuda e pela

amizade no tempo em que moramos juntas.

Para finalizar, quero fazer um agradecimento especial aos jacarés que

participaram deste projeto e que foram imprescindíveis para a realização desta tese. Fica o

compromisso de sempre trabalhar visando o bem-estar dos animais da fauna silvestre

brasileira e de passar todo o conhecimento para que outros profissionais da área também

possam exercer a Medicina de Animais Silvestres de forma mais consciente.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................... 01

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 01

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 02

2.1. Ordem Crocodylia ................................................................................................. 02

2.2. Aspectos anatômicos e fisiológicos importantes na anestesia de crocodilianos ........ 02

2.3. Anestesia em crocodilianos ................................................................................... 05

2.3.1. Emprego dos agentes anestésicos......................................................................... 05

2.3.2. Exames pré-anestésicos ...................................................................................... 05

2.3.3. Jejum .................................................................................................................. 06

2.3.4. Vias de administração de fármacos ..................................................................... 06

2.3.5. Monitoração anestésica ....................................................................................... 07

2.3.6. Protocolos anestésicos e sedativos injetáveis utilizados em crocodilianos ........... 09

2.4. Características gerais da cetamina .......................................................................... 13

2.5. Características gerais do midazolam ....................................................................... 15

2.6. Princípios básicos da farmacocinética .................................................................... 15

3. JUSTIFICATIVAS .................................................................................................. 17

4. OBJETIVOS ............................................................................................................. 18

4.1. Objetivo geral ........................................................................................................ 18

4.2. Objetivos específicos .............................................................................................. 18

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 18

CAPÍTULO 2 - Sedação DE Caiman crocodilus LINNAEUS (1758)

(CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE) COM

DEXTROCETAMINA ISOLADA OU ASSOCIADA AO

MIDAZOLAM ........................................................................... 26

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 26

2. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 27

2.1. Animais ................................................................................................................. 27

2.2. Protocolos anestésicos ........................................................................................... 28

2.3. Monitoração anestésica ......................................................................................... 30

2.4. Análise estatística .................................................................................................. 32

3. RESULTADOS ........................................................................................................ 32

4. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 34

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5. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 44

CAPÍTULO 3 - FARMACOCINÉTICA DA DEXTROCETAMINA ISOLADA

OU ASSOCIADA AO MIDAZOLAM ADMINISTRADAS

PELAS VIAS INTRAVENOSA OU INTRACELOMÁTICA EM

Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) (CROCODYLIA:

ALLIGATORIDAE) ....................................................................... 48

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 49

2. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 50

2.1. Anestesia dos crocodilianos ................................................................................... 51

2.2. Farmacocinética .................................................................................................... 52

2.3. Análise estatística .................................................................................................. 54

3. RESULTADOS ........................................................................................................ 54

3.1. Farmacocinética da dextrocetamina ....................................................................... 54

3.2. Farmacocinética do midazolam ............................................................................. 57

4. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 58

5. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 62

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 68

4.1 particularidades dos efeitos versus farmacocinética da dextrocetamina ................... 68

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 3

FIGURA 1 - Médias da concentração plasmática (µg/mL) vs tempo (minutos), de 10

mg/kg de dextrocetamina isolada, aplicada no seio occipital (DO) e por

via intracelomática (DI), ou em associação com 0,5 mg/kg de

midazolam, administrados nos seios venosos occipital (DMO) e caudal

(DMC) ou por via intracelomática (DMI), em exemplares de Caiman

crocodilus. (n = número de exemplares) ................................................ 55

FIGURA 2 - Médias da concentração (µg/mL) vs tempo (minutos), de 0,5 mg/kg de

midazolam associado a 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicado nos seios

venosos occipital (DMO) e caudal (DMC), ou por via intracelomática

(DMI) no plasma de Caiman crocodilus. (n = número de exemplares) . .. 57

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2

TABELA 1 - Classificação, em escores, dos parâmetros de reação postural de

endireitamento, relaxamento de cauda e membros e relaxamento de

cabeça para monitoração de Caiman crocodilus anestesiados com

dextrocetamina isolada ou associada ao midazolam ............................. 31

TABELA 2 - Média e desvio padrão da frequência cardíaca de Caiman crocodilus

anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a

0,5 mg/kg de midazolam ....................................................................... 35

TABELA 3 - Média e desvio padrão da frequência respiratória de Caiman crocodilus

anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a

0,5 mg/kg de midazolam ....................................................................... 35

TABELA 4 - Média e desvio padrão da temperatura corporal (ºC) de Caiman

crocodilus anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou

associada a 0,5 mg/kg de midazolam ..................................................... 36

TABELA 5 – Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo, em

minutos, dos estágios sedativos de exemplares de Caiman crocodilus

anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a

0,5 mg/kg de midazolam ....................................................................... 37

CAPÍTULO 3

TABELA 1 - Parâmetros farmacocinéticos De 10 mg/kg de dextrocetamina, injetada

no seio venoso occipital (DO) e por via intracelomática (DI), ou em

associação a 0.5 mg/kg de midazolam, no seio venoso occipital

(DMO), no seio venoso caudal (DMC) ou por via intracelomática

(DMI), em exemplares de Caiman crocodilus ........................................ 56

TABELA 2 - Parâmetros farmacocinéticos do midazolam em Caiman crocodilus, na

dose de 0,5 mg/kg, aplicado concomitantemente com 10 mg/kg de

dextrocetamina no seio venoso occipital (DMO), seio venoso caudal

(DMC) ou por via intracelomática (DMI) .............................................. 58

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACN acetonitrila grau cromatográfico

ALT alanina aminotransferase

ANOVA Análise de Variância

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ASC área sob a curva de concentração plasmática vs tempo

AST aspartato aminotransferase

bpm batimentos por minuto

CEUA Comitê de Ética na Utilização de Animais

Cl taxa de depuração total ou clearance

CLAE cromatografia líquida de alta eficiência

Cmax concentração plasmática máxima

CYP450 citocromo P450

DI dextrocetamina isolada aplicada por via intracelomática

DMI dextrocetamina associada ao midazolam com aplicação por via

intracelomática

DMC dextrocetamina associada ao midazolam com aplicação no seio venoso

caudal

DMO dextrocetamina associada ao midazolam com aplicação no seio venoso

occipital

DO dextrocetamina aplicada no seio venoso occipital

EDTA ácido etilenodiamino tetracético

gama GT gama glutamil transferase

IC intracelomática

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IM intramuscular

IV intravenosa

K constante de eliminação

Ka velocidade de absorção

Kd velocidade de distribuição

LAPAS Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres

LLE extração líquido-líquido

mpm movimentos por minuto

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MTBE metil terc-butil-éter

NaOH hidróxido de sódio

PI padrão interno

SBH Sociedade Brasileira de Herpetologia

t0 tempo zero

t1/2 meia-vida de eliminação

TA temperatura ambiente

TC temperatura corporal

tmax tempo para atingir Cmax

UFU Universidade Federal de Uberlândia

Vd volume aparente de distribuição

VS versus

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RESUMO

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos sedativos, alterações dos parâmetros

fisiológicos e o perfil farmacocinético da dextrocetamina, isolada ou em associação ao

midazolam, administrada pelas vias intravenosa (cranial ou caudal) ou intracelomática, em

exemplares de Caiman crocodilus. Foram utilizados oito exemplares jovens de jacaré-tinga,

anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicada no seio venoso occipital (grupo DO)

ou por via intracelomática (grupo DI). Adicionalmente, avaliou-se a mesma dose do

dissociativo associado a 0,5 mg/kg de midazolam, ambos aplicados pelas mesmas vias dos

grupos anteriores (grupo DMO e grupo DMI, respectivamente) ou pelo seio venoso caudal

(grupo DMC). Antes da aplicação dos fármacos e durante o período de avaliação foram

avaliados a frequência cardíaca (FC), traçado eletrocardiográfico, frequência respiratória (ƒ),

temperatura corporal (TC), reação postural de endireitamento, relaxamento de cauda,

membros e cabeça, reflexos palpebral e corneal e resposta ao estímulo nociceptivo.

Avaliaram-se os estágios de sedação leve, de início e fim de sedação profunda e recuperação.

Além disso, 24 horas antes da aplicação dos fármacos e nos tempos 15, 30, 60, 120, 240, 480,

720, 1440 e 2880 minutos após a injeção dos fármacos, foi colhido 1 mL de sangue para o

delineamento do perfil farmacocinético da dextrocetamina isolada ou associada ao midazolam

por meio da técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) acoplada a

espetometria de massas. Em nenhum animal se observou ausência de resposta ao estímulo

nociceptivo, entretanto, os efeitos do grupo DMO se mostraram satisfatórios para sedação

profunda. Somente no grupo DI não foi observada alteração da FC, os demais grupos

apresentaram diminuição significativa desse parâmetro. A ƒ se manteve constante em todos os

grupos e a TC aumentou significantemente apenas no grupo DMC. A partir da análise

farmacocinética conseguiu-se determinar os valores de concentração máxima, área sob a

curva da concentração plasmática vs tempo, tempo para atingir a concentração máxima, meia-

vida, constante e taxa de depuração, com presença de diferenças entre os grupos de acordo

com a via e os fármacos administrados. Concluiu-se que os protocolos não podem ser

utilizados em procedimentos cirúrgicos, entretanto, a associação de dextrocetamina e

midazolam no seio venoso occipital pode ser empregada para a sedação profunda e a via

intracelomática pode ser utilizada para aplicação de dextrocetamina isolada na contenção

química de Caiman crocodilus. Adicionalmente, a técnica de CLAE permitiu a quantificação

dos níveis plasmáticos da dextrocetamina e do midazolam na espécie estudada.

Palavras-chave: Anestésico dissociativo, benzodiazepínico, crocodilianos, cromatografia

líquida, répteis.

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ABSTRACT

CHEMICAL RESTRAINT AND PHARMACOKINETIC PROFILE OF DEXTRO-

KETAMINE, ALONE OR ASSOCIATED WITH MIDAZOLAM IN

SPECTACLED CAIMAN Caiman crocodilus Linnaeus (1758) (CROCODYLIA :

ALLIGATORIDAE)

The purpose of this study was to evaluate the sedative effects, changes in physiological

parameters and pharmacokinetic profile of dextro-ketamine alone or in association with

midazolam, administered intravenously (cranially or caudally) or by intracoelomic route in

Caiman crocodilus. Eight young specimens of spectacled caiman were anesthetized with 10

mg/kg of dextro-ketamine injected through the occipital venous sinus (DO group) or through

intracoelomic injection (DI group). In addition, the same dose of dextro-ketamine was

associated with 0.5 mg/kg of midazolam and administrated via the same routes (DMI or DMO

groups, respectively), or within the caudal venous sinus (DMC group). Prior to drug

administration (t0) and during the period of evaluation, heart rate (HR), electrocardiogram,

respiratory rate (RR), body temperature (T), righting reflex, muscular relaxation of tail, limbs

and head, palpebral and corneal reflexes and response to nociceptive stimuli were evaluated.

Light sedation, beginning and end of deep sedation and recovery times were registered.

Moreover, 24 hours before the injection of anesthetics and 15, 30, 60, 120, 240, 480, 720,

1440 e 2880 minutes after injection, 1 mL of blood was collected to delineate the

pharmacokinetic profile of dextro-ketamine isolated or associated with midazolam by high

performance liquid chromatography (HPLC) coupled to mass spectrometry. No animal had a

negative response to nociceptive stimuli; however, the effects of DMO group were

satisfactory for deep sedation. Only DI group did not presented HR alteration; in the other

groups there was a significant decrease of this parameter. RR remained constant in all groups

and T increased significantly only in DMC group. Pharmacokinetic analysis allowed

determining the values of maximum concentration, area under the curve of plasma

concentration-time, time to reach the maximum plasma drug levels, half-life, constant of

elimination and clearance rate, and showed different values among groups in accordance with

the route and administered drugs. We concluded the protocols cannot be used in surgical

procedures. However, dextro-ketamine associated with midazolam injected in occipital

venous sinus can be used for anesthesia induction and intracoelomic route can be used for

application of dextro-ketamine alone for chemical restraint of Caiman crocodilus. Moreover,

HPLC technique was effective in quantifying plasma levels of dextro-ketamine and

midazolam of the species studied.

Key words: Dissociative anesthetic, benzodiazepine, crocodilians, high performance liquid

chromatography, reptiles.

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1

2

1. INTRODUÇÃO 3

A aproximação do homem às espécies da ordem Crocodylia, seja no âmbito 4

científico ou conservacionista, fez com que se intensificasse a busca pelo conhecimento 5

clínico e cirúrgico para aprimorar o atendimento a esses pacientes. Em conjuntura com tal 6

fato, observou-se ampliação no interesse pela pesquisa de protocolos anestésicos adequados 7

para intervenções cirúrgicas e contenção química desses répteis. 8

O uso de agentes anestésicos em crocodilianos é indicado em diversas ocasiões na 9

rotina clínica veterinária, uma vez que, mesmo os pequenos exemplares apresentam grande 10

potencial de risco ao profissional, sobretudo em decorrência da força de sua mordida1. 11

Adicionalmente, os protocolos devem preconizar o bem-estar e a segurança dos animais, uma 12

vez que os répteis possuem mecanismos de nocicepção semelhante aos dos mamíferos2. 13

Em contrapartida ao aumento no número de estudos sobre agentes e doses 14

anestésicas para répteis, os profissionais ainda enfrentam dificuldades em relação à variação 15

da intensidade e da duração dos efeitos entre indivíduos da mesma espécie3-5

. Portanto, é de 16

extrema importância continuar a busca por protocolos ideais, principalmente que englobem 17

propostas inovadoras, como a aplicação de fármacos que ainda foram pouco explorados 18

nesses animais e o uso de vias de administração pouco empregadas. 19

Além de protocolos anestésicos com doses, vias e agentes novos, o emprego de 20

técnicas que possibilitem o melhor entendimento do metabolismo dos fármacos no organismo 21

dos répteis é de grande valia para a anestesiologia veterinária, uma vez que particularidades 22

básicas desses animais, como a importância do sistema porta-renal, ainda não estão 23

totalmente elucidadas. Nesse contexto, a farmacocinética constitui uma ferramenta 24

interessante para auxiliar na determinação de características sobre a absorção, distribuição, 25

biotransformação e excreção dos diversos princípios ativos no organismo desses animais6-8

. 26

Atualmente, estudos farmacocinéticos são desenvolvidos com o objetivo de 27

melhor elucidar o comportamento de substâncias nos organismos. Dentre os métodos mais 28

empregados, a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) proporciona sensibilidade e 29

especificidade adequadas para a avaliação de diversos fármacos8. Essa técnica foi utilizada em 30

trabalhos com antibióticos em crocodilianos, mas ainda não foi usada na avaliação de 31

anestésicos nesse grupo6,7

. 32

A cetamina é um dos anestésicos mais utilizados na medicina veterinária e seu 33

isômero óptico, dextrocetamina, possui potência anestésica superior quando comparado à 34

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2

forma racêmica9,10

. Em mamíferos, os efeitos indesejáveis do emprego isolado desse agente 35

dissociativo incluem alterações nos sistemas nervoso central, cardiovascular e 36

musculoesquelético e sua associação ao midazolam potencializa a ação anestésica e reduz os 37

efeitos adversos causados pelo uso isolado do dissociativo11

. 38

39

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 40

41

2.1. Ordem Crocodylia 42

A Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH) atualmente considera a existência 43

de 744 espécies de répteis no território nacional e dessas, apenas seis englobam animais da 44

ordem Crocodylia (Gmelin, 1807)12

. No entanto, há divergências em relação à classificação 45

das espécies do gênero Caiman, mais especificamente em relação ao jacaré-tinga e ao jacaré-46

do-pantanal13

. No presente estudo foi adotada a nomenclatura citada pela listagem nacional da 47

SBH, juntamente com pesquisadores da área, a qual considera esses dois grupos como 48

exemplares das espécies Caiman crocodilus e Caiman yacare12,14-17

. Entretanto, em outros 49

trabalhos científicos, o jacaré-tinga e o jacaré-do-pantanal são citados como as duas 50

subespécies respectivas Caiman crocodilus crocodilus e Caiman crocodilus yacare18,19

. 51

Na avaliação do risco de extinção publicada pelo Instituto Chico Mendes de 52

Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Caiman crocodilus é uma espécie definida como 53

“menos preocupante” e sua ocorrência no território brasileiro foi registrada em uma área 54

maior do que cinco milhões de quilômetros quadrados. A ampla distribuição se deve 55

principalmente à capacidade de adaptação da espécie, mas a caça indiscriminada para 56

exportação da carne se constitui em uma ameaça para a população17

. 57

Semelhante ao que se observou nas demais espécies de répteis, o conhecimento 58

sobre a clínica e cirurgia de crocodilianos evoluiu ao longo dos anos devido à crescente 59

demanda dos centros de pesquisa, instituições conservacionistas, criatórios comerciais e 60

zoológicos20

. Dentre os principais motivos para atendimento veterinário desse grupo estão os 61

casos de trauma que, nos exemplares de cativeiro, são geralmente causados por presas vivas 62

ou brigas com outros animais do recinto. Sobre os exemplares de vida livre, os relatos mais 63

comumente vistos envolvem mordidas de cães e acidentes com veículos automotores21

. 64

65

2.2. Aspectos anatômicos e fisiológicos importantes na anestesia de crocodilianos 66

Os crocodilianos possuem dois arcos aórticos, assim como os demais répteis, mas 67

são os únicos exemplares da classe Reptilia que apresentam o coração totalmente dividido em 68

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3

quatro cavidades22

. O arco aórtico esquerdo, que parte do ventrículo direito, origina a artéria 69

celíaca, a qual irriga órgãos do sistema digestório. O arco aórtico direito emerge do ventrículo 70

esquerdo e segue como aorta dorsal23

. 71

Os arcos aórticos dos crocodilianos se comunicam em dois locais. Primeiramente, 72

por meio de um forame localizado na base do coração, denominado forame de Panizza e, 73

depois, a partir de uma pequena veia que forma uma anastomose entre os dois arcos22

. Apesar 74

dessas comunicações, a quantidade de mistura arteriovenosa é considerada pequena e parece 75

influenciar a fisiologia desses répteis apenas em situações particulares, como, por exemplo, 76

durante a apneia por submersão24

. 77

A respiração pode alterar o fluxo sanguíneo e a frequência cardíaca (FC), 78

principalmente durante a apneia voluntária, quando há aumento da resistência pulmonar, 79

redução do fluxo sanguíneo para os pulmões e diminuição da FC. Esse último evento 80

ocasiona elevação na resistência periférica que redireciona o sangue para órgãos vitais, como 81

o cérebro, de modo que 95% do volume sanguíneo seja desviado da direita para a esquerda 82

para assegurar a circulação sanguínea sistêmica até que os movimentos respiratórios 83

retornem24

. 84

A apneia voluntária é realizada principalmente pelos répteis aquáticos, como os 85

crocodilianos, que conseguem permanecer submersos na água por até seis horas. Tal 86

capacidade de suprimir trocas gasosas por períodos prolongados é possível pelo fato desses 87

animais realizarem metabolismo anaeróbico e possuírem um sistema de tamponamento eficaz 88

para o ácido lático e íons de hidrogênio25,26

. 89

Assim como os testudíneos e as aves, os crocodilianos possuem aneis traqueais 90

completos, mas apresentam uma pecularidade no sistema respiratório, com a presença de uma 91

dobra da epiglote, denominada prega gular, que recobre a glote desses répteis e previne a 92

entrada de água nos pulmões. Por tais características, durante a intubação orotraqueal de 93

crocodilianos, é necessário realizar o deslocamento caudal da prega gular para que se consiga 94

visualizar a entrada da traquéia e deve-se preconizar o emprego de sondas sem o balonete ou, 95

quando presente, que esse não seja inflado para evitar lesões traqueiais27,28

. 96

Diferentemente da nomenclatura utilizada para mamíferos, os termos intratorácico 97

e intra-abdominal juntos, se equivalem a intracelomático em crocodilianos. Isso ocorre pelo 98

fato desses animais apresentarem um diafragma muscular arcaico, denominado 99

pseudodiafragma, que separa apenas parcialmente a cavidade torácica da abdominal e se 100

desloca durante a entrada e a saída de ar28

. 101

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Devido à ausência do diafragma, deve-se evitar a infusão de grande volume de 102

substâncias na cavidade intracelomática para não promover a compressão dos pulmões29

. A 103

entrada e saída de ar do organismo de répteis são realizadas principalmente pelos músculos 104

intercostais e se trata de um processo ativo, o que permite a respiração desses animais mesmo 105

quando a cavidade celomática encontra-se aberta27

.

106

Na superfície corporal dos crocodilianos há um tecido córneo que reveste as 107

placas ósseas e forma escamas, as quais são unidas entre si por tecido conjuntivo. A presença 108

dessas estruturas rígidas dificulta a administração de fármacos injetáveis e impossibilita o 109

emprego de algumas técnicas de avaliação física comuns em mamíferos, como a palpação de 110

pulso arterial periférico ou auscultação cardíaca por meio do estetoscópio convencional25

. 111

Os crocodilianos possuem pequenos órgãos intrategumentares pigmentados com 112

melanina que se distribuem por todas as escamas da cabeça em representantes do gênero 113

Caiman. Essas estruturas são denominadas de receptores de pressão em cúpula devido a sua 114

função sensorial mecânica, térmica e de pH, sendo mais densas nas escamas que se localizam 115

próximas aos dentes30

. 116

Para facilitar a manipulação dos crocodilianos, assim como de outros grupos de 117

répteis, como os da ordem Sauria, os dois globos oculares desses animais podem ser 118

pressionados moderadamente para que ocorra o reflexo vagal. Tal procedimento estimula o 119

sistema nervoso autônomo parassimpático, o que provoca diminuição da frequência cardíaca, 120

da pressão arterial e da frequência respiratória por até 2 min depois de cessado o estímulo ou 121

até que ocorra estimulação auditiva ou visual28

. 122

Nos crocodilianos, assim como nas serpentes e nos testudíneos, não existe 123

maturidade óssea, ou seja, os ossos continuam se desenvolvendo durante toda a vida. A taxa 124

de crescimento nesses animais é variável e depende mais de fatores externos, como 125

disponibilidade de alimentos, temperatura e umidade, do que da própria longevidade31

. 126

Do mesmo modo como ocorre nos anfíbios e nas aves, os répteis possuem o 127

sistema porta-renal que drena sangue da cauda, dos membros pélvicos e da região pélvica, 128

direcionando-o para os rins. Sua principal função é assegurar a perfusão tubular renal em 129

sitações em que há redução do volume glomerular por mecanismos de conservação de água. 130

Assim, fármacos administrados na parte caudal do corpo desses animais, quando atingem o 131

complexo porta-renal, podem percorrer os capilares que circundam os túbulos dos néfrons e 132

seguir pela veia cava posterior em direção ao coração ou serem diretamente excretados pela 133

urina. Pelo risco da eliminação de substâncias sem que essas alcancem a circulação sistêmica 134

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é contraindicada a administração de fármacos com excreção tubular renal na região caudal do 135

corpo desses animais32

. 136

Conforme os demais representantes da classe Reptilia, os crocodilianos são 137

animais ectotérmicos, o que faz com que seu metabolismo e temperatura corporal variem de 138

acordo com a temperatura ambiente. Por esse fato, é indicado que todos os procedimentos 139

realizados nesses pacientes ocorram em ambientes com a temperatura ótima pela espécie, na 140

qual seu metabolismo é considerado eficiente1. 141

Para a maioria dos crocodilianos, a temperatura ótima oscila entre 25 e 37 º19,33

. 142

Em ambientes com temperaturas abaixo desse intervalo esses répteis podem apresentar 143

redução do apetite, da digestão, da taxa de crescimento e imunossupressão25

. 144

145

2.3. Anestesia em crocodilianos 146

147

2.3.1. Emprego dos agentes anestésicos 148

A contenção física de crocodilianos deve ser o mais breve possível para evitar 149

contusões e traumas34

. O emprego de agentes anestésicos nesses pacientes se mostra favorável 150

durante o transporte, avaliação física mais detalhada, intubação orotraqueal, coleta de 151

amostras ou mesmo durante tratamento clínico35

. 152

Durante muito tempo a avaliação e controle da dor foram negligenciados em 153

répteis, mas atualmente, assume-se que os répteis são capazes de sentir dor e que devem ser 154

tratados sempre que necessário34

. Isso se deve pelo fato de que a resposta a estímulos 155

nociceptivos e a identificação de estruturas de condução e modulação da nocicepção em 156

répteis, anteriormente descritas em mamíferos, dão suporte à necessidade do uso de métodos 157

de analgesia nestas espécies2. 158

159

2.3.2. Exames pré-anestésicos 160

Previamente à avaliação física propriamente dita, é importante observar a 161

condição e conformação corporal, função neurológica, deambulação, grau de atividade, 162

frequência respiratória e comportamento do paciente34

. Para avaliar o escore corporal de 163

crocodilianos deve-se observar a largura do pescoço e a região da fossa supratemporal, que 164

quando afundada indica subnutrição23

. O grau de hidratação é examinado a partir da 165

observação dos olhos, da pele e do comportamento, uma vez que répteis desidratados 166

apresentam olhos fundos, dobras de pele ressecadas, anorexia e depressão34

. 167

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Dentre os exames laboratoriais para a avaliação da higidez de crocodilianos 168

destaca-se quantificar o ácido úrico para avaliar atividade renal, a aspartato aminotransferase 169

(AST) para lesão tecidual, o hematócrito, concentração de cálcio e proteínas totais do 170

sangue28

. Na maioria das espécies de répteis, a concentração de ácido úrico para animais 171

hígidos se situa entre 1,13 a 5,08 mg/dL e valores acima de 16,46 mg/dL sugerem a formação 172

de cristais de urato, que levam ao surgimento da gota úrica29

. 173

O volume sanguíneo em répteis constitui de 5 a 8% do peso corporal e, desse 174

montante, podem ser colhidos 10% em animais saudáveis, o que corresponde de 0,5 a 0,8 175

mL/100 g de peso vivo36

. Há relatos de hemólise em amostras sanguíneas de testudíneos com 176

o emprego do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), por isso preconiza-se a utilização da 177

heparina como anticoagulante em répteis37,38

. 178

179

2.3.3. Jejum 180

A indicação primária do jejum pré-anestésico em crocodilianos não está 181

relacionada à prevenção da regurgitação e aspiração de conteúdo gástrico, como ocorre nos 182

mamíferos. O jejum é realizado principalmente para diminuir o risco de compressão dos 183

pulmões pela presença de grande volume estomacal e para evitar putrefação de alimentos não 184

digeridos29,39

. 185

O fato de não ser um evento comum não é motivo para ignorar o risco de 186

regurgitação em crocodilianos, pois há relato de caso desse tipo de ocorrência em Caiman 187

crocodilus18

. Também foi demonstrado que a taxa metabólica de répteis aumenta de três a 40 188

vezes após a alimentação e permanece elevada por até sete dias, mas não há estudos que 189

esclareçam a importância desse fato na anestesia40

. 190

Para crocodilianos jovens o tempo de jejum pode ser de 24 a 96 horas, enquanto 191

que para animais maiores esse tempo pode se estender para sete a 14 dias, quando 192

alimentados com presas grandes29

. Em temperatura ótima, o tempo de esvaziamento do 193

estômago de Caiman crocodilus jovens ocorre entre 24 e 72 horas41

. 194

195

2.3.4. Vias de administração de fármacos 196

Diversas vias podem ser empregadas para administração de fármacos em 197

crocodilianos. Em exemplares pequenos ou debilitados a via oral é uma boa opção, sendo 198

possível a administração do medicamento junto com alimentos42

. A via subcutânea é pouco 199

utilizada em relação às demais, principalmente pela presença das placas ósseas dérmicas que 200

dificultam determinar a posicionamento exato da agulha1. 201

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A via intramuscular (IM) é a mais usada na contenção química e na aplicação de 202

anestésicos para procedimentos cirúrgicos em crocodilianos5. Sua principal vantagem é a 203

possibilidade de injeção do fármaco à distância, o que a torna a opção mais segura, entretanto, 204

a indução do animal pode ser demorada, chegando a 30 minutos27

. 205

A aplicação pela via intravenosa (IV) é muito utilizada para a indução anestésica. 206

Os vasos mais acessados são a veias caudais ventral e lateral e o seio venoso occipital, uma 207

vez que o acesso às veias jugular e cefálica requer procedimento cirúrgico1,43,44

. O seio venoso 208

occipital também é muito empregado na colheita de sangue em répteis, entretanto, deve-se ter 209

em consideração a presença de seios linfáticos bem desenvolvidos nesse local, o que pode 210

causar uma diluição do sangue45

. 211

O seio venoso occipital é acessado na região caudal à cabeça do animal, na linha 212

mediana dorsal, em ângulo de 90º. A introdução da agulha nesse local deve ser feita com 213

cuidado para não lesionar a medula espinhal ou contaminar a amostra com líquido 214

cefalorraquidiano. Essa também é uma das vias de eleição para a colheita de sangue em 215

Caiman crocodilus, principalmente porque a punção da veia caudal ventral nessa espécie é 216

dificultada pela significante espessura das escamas ventrais46

. 217

A via intracelomática (IC) também pode ser utilizada para aplicação de fármacos 218

em crocodilianos47

. Em filhotes a agulha pode ser inserida na linha mediana ventral, 219

cranialmente ao osso da pube. Em exemplares adultos a agulha é introduzida pela região 220

laterocaudal esquerda, para evitar a perfuração do lobo hepático ou deposição em tecido 221

adiposo presente no antímero direito da cavidade celomática, o que pode diminuir a 222

velocidade de absorção23,27

. O emprego da via intracelomática é interessante pela facilidade 223

de acesso e pela velocidade de absorção de substâncias nesse local ser maior, quando 224

comparada à via intramuscular29

. 225

226

2.3.5. Monitoração anestésica 227

A monitoração da anestesia é um dos maiores desafios enfrentados pelos médicos 228

veterinários durante a contenção química e os procedimentos cirúrgicos de répteis. Dentre as 229

maiores dificuldades relatadas pelos profissionais estão o controle da profundidade anestésica 230

e a avaliação dos parâmetros vitais, em função do pouco conhecimento sobre a resposta à dor 231

e sobre a farmacocinética dos anestésicos nesses animais48

. 232

A divisão dos estágios anestésicos em crocodilianos é semelhante a dos 233

mamíferos. No primeiro estágio há diminuição de movimentos voluntários, entretanto, o 234

animal ainda apresenta a reação postural endireitamento (RPE), que consiste na capacidade 235

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deste retornar à posição quadrupedal quando previamente colocado em decúbito dorsal28

. 236

Nesse estágio, os crocodilianos estão parcialmente sedados e apresentam reflexos corneal, 237

palpebral e de mordida, com diminuição da capacidade de executar a RPE e o reflexo 238

nociceptivo49

. 239

No estágio dois a reação postural de endiretamento está ausente, o animal pode ou 240

não responder ao estímulo nociceptivo, mas o reflexo palpebral ainda está presente e não há 241

relaxamento muscular completo. O terceiro estágio é considerado o plano ideal para a 242

anestesia cirúrgica, no qual os músculos se encontram totalmente relaxados, não há resposta 243

ao estímulo nociceptivo e o reflexo palpebral está ausente. No quarto estágio há um 244

aprofundamento exacerbado da anestesia, com ausência do reflexo corneal, bradicardia e risco 245

de morte28

. 246

A FC e o ritmo cardíacos podem ser difíceis de monitorar nos crocodilianos 247

devido à presença de placas ósseas na pele e ao potencial risco para o profissional no 248

posicionamento do estetoscópio esofágico. Por isso, indica-se o emprego do doppler vascular 249

colocando-se a probe em local onde seja possível ouvir fluxo sanguíneo no coração (na parede 250

lateral esquerda do corpo do animal, na região imediatamente caudal ao membro torácico)4, 50

. 251

A eletrocardiografia é importante para avaliar taquicardia, bradicardia e outras 252

arritmias, mas não fornece avaliação da viabilidade mecânica do coração. Em crocodilianos o 253

traçado eletrocardiográfico pode ser obtido com o uso de eletrodos do tipo “jacaré”, colocados 254

diretamente na pele do animal ou acoplados a agulhas hipodérmicas28

. Embora sejam poucos 255

os trabalhos publicados sobre eletrocardiografia em crocodilianos, há relatos de diagnóstico 256

de arritmia sinusal respiratória e não respiratória a partir do emprego desse exame 257

complementar em exemplares de Alligator mississippiensis, em estudo sobre a caracterização 258

do traçado eletrocardiográfico em animais não anestesiados51

. 259

A frequência respiratória em crocodilianos é avaliada por meio da visualização 260

dos movimentos de inspiração e expiração, com aumento ou diminuição do volume da 261

cavidade celomática, respectivamente52

. 262

O emprego da oximetria de pulso para avaliar a saturação de oxigênio em répteis é 263

controverso, uma vez que os aparelhos encontrados no mercado são calibrados para avaliar 264

hemácias de mamíferos, que são anucleadas, diferentemente do que ocorre em representantes 265

da classe Reptilia, nos quais essas células possuem núcleo50

. Quando da utilização do 266

oxímetro, a probe deve ser posicionada na cavidade oral ou na cloaca, entretanto, não há 267

trabalhos em crocodilianos que descrevaram valores clínicos ideiais ou acompanhamento da 268

oximetria no período trans-anestésico28

. 269

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Não há valores de referência para quantificação de gases sanguíneos para a 270

maioria das espécies de répteis e os trabalhos nesse segmento relatam que os resultados são 271

difíceis de interpretar pelo fato de ocorrerem variações de acordo com a temperatura, a 272

alimentação e o local da colheita de sangue53

. Ademais, por se tratar de organismos mais 273

resistentes a desequilíbrios do pH e das pressões parciais de gases, mesmo alterações 274

significativas desses exames podem não refletir um evento com valor clínico52

. 275

Em relação à monitoração da temperatura corporal (TC), devido à característica 276

ectotérmica dos representantes da classe Reptilia, deve-se atentar para o controle conjunto da 277

temperatura ambiente27

. Os termômetros utilizados para aferição de TC em mamíferos podem 278

não ser ideais em répteis pelo fato da maioria não registrar valores abaixo de 32 ºC e, por isso, 279

devem ser utilizados termômetros com limite inferior reduzido4. Adicionalmente, observou-se 280

que a temperatura da cloaca possui valores próximos aos da temperatura da superfície do 281

cérebro, sendo confiável para a monitoração da TC54

. 282

283

2.3.6. Protocolos anestésicos e sedativos injetáveis utilizados em crocodilianos 284

A maior parte dos trabalhos com anestesia em crocodilianos ainda é antiga, 285

envolve poucos exemplares e relata apenas a dose dos fármacos e as vias de administração, 286

sem mencionar os intervalos de monitoração anestésica ou de parâmetros fisiológicos55-57

. 287

Adicionalmente, muitos dos fármacos testados não são ideais para esses pacientes devido às 288

variações na eficiência e no tempo de anestesia, baixa margem de segurança, dificuldade de 289

reverter efeitos adversos, demora na indução e na recuperação, além do risco para os 290

profissionais49

. 291

Em trabalho realizado com dados de médicos veterinários que efetuam 292

procedimentos cirúrgicos em répteis, observou-se que dentre os anestésicos injetáveis, os mais 293

utilizados são a cetamina e o propofol. Os problemas mais relatados pelos profissionais foram 294

depressão respiratória, hipotermia, dificuldade de monitoração e recuperação prolongada48

. 295

Dentre as vantagens do emprego de agentes anestésicos injetáveis estão a 296

facilidade de administração, a não interferência da apneia fisiológica, que pode prolongar o 297

tempo de indução na anestesia inaltória, e o baixo custo. Entretanto, em tais protocolos é mais 298

difícil reverter situações emergenciais, ou mesmo antecipar uma recuperação prolongada. No 299

que se refere aos medicamentos pré-anestésicos, a atropina e o glicopirrolato não são 300

utilizados com frequência em répteis, uma vez que esses animais não apresentam tendência à 301

sialorreia e a bradicardia se relaciona geralmente a baixas temperaturas ambientais ou 302

aprofundamento exagerado do plano anestésico28

. 303

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Relaxantes musculares são empregados em crocodilianos há muito tempo e eram 304

considerados como os agentes mais efetivos para a contenção química de crocodilianos de 305

grande porte58

. O cloreto de succinilcolina foi avaliado em exemplares de Alligator 306

mississippiensis, Crocodylus palustris, Crocodylus porosus e Crocodylus johnstoni, em doses 307

de 0,33 a 5,0 mg/kg, IM, com relatos de relaxamento muscular total em até cinco minutos e 308

tempos de recuperação variados, de 2 horas a 5 dias. Entretanto, como desvantagens do 309

emprego desse fármaco os autores citam a grande variabilidade de doses, tempos de indução e 310

recuperação longos e, ocasionalmente, a ocorrência de óbitos47,59

. 311

O trietiodeto de galamina foi aplicado nas doses de 1,0 a 1,25 mg/kg, IM, em 312

Crocodylus niloticus de vida livre e cativeiro, tendo-se documentado ataxia inicial e 313

imobilização completa em até 30 minutos após a injeção. Após o uso de 0,25 mg/animal de 314

metilsulfato de neostigmina, IM, observou-se tempo de recuperação de cinco minutos60

. 315

A associação de 4 mg/kg de atracúrio, IM, com 0,4 mg/kg de diazepam, IM, em 316

Alligator mississippiensis proporcionou período de latência de 38,8 minutos e recuperação aos 317

316,9 minutos. Aproximadamente 28 minutos após a indução, observou-se apneia em 62,5% 318

dos animais avaliados, por isso esse protocolo foi contra-indicado pelo autor59

. 319

No que se refere aos agonistas de receptores adrenérgicos -2, a aplicação isolada 320

de 5 mg/kg de medetomidina, IM, com repetições de no máximo cinco bolus de 0,5 mg/kg, 321

IM, na cauda, membros torácicos e membros pélvicos foi avaliada em Crocodylus porosus e 322

Crocodylus johnstoni. A imobilização química só foi obtida nos animais que receberam o 323

fármaco no membro torácico. O efeito sedativo do protocolo se iniciou aos 30 minutos, teve 324

duração média de 90 minutos e os animais apresentaram diminuição das frequências cardíaca 325

e respiratória61

. 326

Em trabalho com exemplares de Crocodylus porosus, um grupo foi submetido 327

somente à contenção física e no outro grupo foi aplicado 5 mg/kg de midazolam, IM. 328

Observou-se que apenas os animais imobilizados fisicamente apresentaram aumento 329

significativo de FC, lactato e pressão parcial venosa de CO2, com diminuição do pH 330

sanguíneo, além de distúrbios comportamentais, como recusa em se alimentar e não interação 331

social. O início de ação do midazolam ocorreu após 15 minutos de sua aplicação, com 332

duração de uma hora, sendo que os animais apresentaram relaxamento muscular e deleção da 333

reação postural de endireitamento. Os autores indicam o emprego do benzodiazepínico por 334

diminuir episódios de estresse, além de permitir a avaliação física, a colheita de material para 335

exames e o transporte44

. 336

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Apesar de não ser mais utilizado, há relato antigo do emprego de 11 e 12 mg/kg 337

do cloridrato de fenciclidina, IM, em Alligator mississippiensis jovens. O tempo de indução 338

observado foi de aproximadamente uma hora e recuperação de seis a sete horas, sem 339

pormenorização das informações sobre a monitoração anestésica ou efeitos adversos com o 340

uso desse fármaco47

. 341

Ao se avaliar o uso de 15 mg/kg de tiletamina associada ao zolazepam, IM, 342

observou-se que o protocolo não promoveu perda completa da reação postural de 343

endireitamento em Alligator mississippiensis, mas esse reflexo se tornou bastante lento. A 344

associação proporcionou tempo de indução de 15 min e recuperação de 183,8 min. Os animais 345

apresentaram diminuição de resposta agressiva após pinçamento dos dígitos, lentidão de 346

locomoção e comportamento de fuga reduzido perante a aproximação do avaliador59

. 347

Foram administrados 3 mg/kg de tiletamina com zolazepam, IM, na cauda de um 348

exemplar de Crocodylus niloticus, associados a bloqueio local com 5 mL de lidocaína, em 349

cirurgia de parafimose. Houve diminuição significativa da frequência respiratória, ausência de 350

resposta nociceptiva e tempo de recuperação de mais de 5 h62

. 351

A cetamina é um dos principais anestésicos utilizados em crocodilianos. As doses 352

empregadas por via intramuscular variam de 12 a 80 mg/kg, com tempo de indução de 30 353

minutos ou mais e recuperação de quatro a sete horas, sendo que os estudos apontam a 354

aplicação desse fármaco isolado ou em associação a outros princípios ativos63

. 355

A administração isolada de 45 a 70 mg/kg de cetamina, IM, em Alligator 356

mississippiensis, promoveu inconsciência por até 20 minutos, ausência de relaxamento 357

muscular e recuperação anestésica prolongada64

. Adicionalmente, há afirmações de que a 358

cetamina isolada não promove relaxamento muscular e o volume do fármaco para grandes 359

animais é difícil de ser administrado por via intramuscular58

. 360

Em cirurgia de gastrotomia para remoção de corpo estranho em Caiman 361

crocodilus, utilizou-se 20 mg/kg de cetamina, IM. Foram realizadas quatro aplicações dessa 362

dose em intervalos de 30 minutos até a indução anestésica do animal e sua intubação 363

endotraqueal para manutenção na anestesia inalatória com halotano. Os autores relataram que 364

após 60 minutos do início da anestesia inalatória o animal apresentou apneia, com duração de 365

45 minutos, mas sem alterar os parâmetros cardíacos18

. 366

A administração de 20 mg/kg de cetamina racêmica ou de dextrocetamina, IM, foi 367

avaliada em Caiman crocodilus. Constatou-se que os crocodilianos apresentaram 368

comportamentos letárgicos com relaxamento muscular e dificuldade de sustentação da cabeça. 369

O início de ação para os dois protocolos ocorreu em até 10 minutos e a recuperação em até 370

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120 minutos. Não foram observadas variações significativas nos parâmetros fisiológicos e os 371

protocolos foram indicados para a contenção farmacológica de animais da espécie estudada, 372

durante procedimentos pouco ou não invasivos4. 373

A associação de doses entre 0,13 a 0,22 mg/kg de medetomidina com 7,5 a 10 374

mg/kg de cetamina, IM, em Alligator mississippiensis, promoveu tempo de indução de 375

aproximadamente 23,1 minutos para a anestesia cirúrgica, com presença de analgesia e perda 376

da reação postural de endireitamento. O efeito anestésico foi suprimido com o uso de 0,694 a 377

1,188 µg/kg de atipamezole, IM, e observou-se tempo médio de recuperação de 36 minutos 378

após a aplicação do antagonista. O relaxamento muscular teve duração média de 111,7 379

minutos em animais jovens e 160,9 minutos em adultos. Relatou-se uma anestesia segura e de 380

fácil administração. Entretanto, observou-se depressão cardíaca e respiratória entre 30 e 60 381

minutos que foi totalmente revertida com o uso do antagonista49

. 382

A mesma associação de 0,1 mg/kg de medetomidina e 54 mg/kg de cetamina, foi 383

administrada por via intramuscular em um crocodilo da espécie Osteolaemus tetraspis 384

tetraspis, durante um procedimento cirúrgico para reparação de fratura. A associação 385

anestésica foi injetada com dardo na cauda do animal e foi o suficiente para a realização da 386

cirurgia, mas o autor não detalhou os eventos anestésicos65

. 387

Há relatos do uso de 50 mg/kg de xilazina, IM, associada a 20 mg/kg de cetamina, 388

IC, em Crocodylus niloticus. O protocolo induziu anestesia cirúrgica para realização de 389

injeção intraocular em estudos imunorreativos de fibras ópticas e de retina, mas, assim como 390

o anterior, os trabalhos não detalharam os eventos anestésicos66,67

. 391

A associação de 30 mg/kg de cetamina e 1 mg/kg de xilazina, IM, injetada no 392

membro torácico ou pélvico, em Caiman latirostris juvenis não provocou alterações nos 393

parâmetros clínicos e não houve diferença de duração de estágios entre a administração 394

cranial ou caudal, com tempos de indução e recuperação próximos a 21 e 17 minutos, e 84 e 395

72 minutos, respectivamente. O protocolo testado não promoveu anestesia cirúrgica, uma vez 396

que o reflexo nociceptivo se manteve presente e o uso desses fármacos para contenção 397

química também não se apresentou interessante devido à imprevisibilidade da intensidade dos 398

efeitos e à curta duração5. 399

O uso de 2 mg/kg de midazolam associado a 20 ou 40 mg/kg de cetamina, IM, em 400

Caiman crocodilus promoveu sedação com tempos médios de latência e de recuperação, de 401

seis e 500 minutos, respectivamente. Não houve diferenças estatísticas entre os grupos que 402

receberam 20 ou 40 mg/kg de cetamina para os períodos sedativos e intensidade de efeitos, 403

assim como não houve alterações nas frequências cardíaca e respiratória. Os protocolos não 404

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promoveram ausência de resposta a estímulos nociceptivos, mas os animais apresentaram leve 405

relaxamento muscular e diminuição da agressividade4. 406

Dentre outros tipos de fármacos injetáveis utilizados em crocodilianos, em um 407

trabalho antigo com o emprego de 200 mg/kg do barbitúrico pentobarbital sódico por via oral, 408

seguida de 15 mg/kg, IC, em Crocodylus niloticus foi eficiente para produzir anestesia 409

cirúrgica durante um procedimento de remoção de corpo estranho68

. O problema do uso desse 410

fármaco é que o tempo de indução é muito variável e o período de recuperação é demasiado 411

prolongado, podendo chegar a cinco dias69

. 412

Nas doses de 1,6 a 15,4 mg/kg, IM, o pentobarbital sódico promoveu completo 413

relaxamento muscular em Alligator mississippiensis e em exemplares do gênero Caiman. 414

Houve transição até o estado de tranquilização dos animais, com ausência de coordenação e 415

perda de equilíbrio e a recuperação ocorreu em tempos variados, com relatos de períodos de 416

duas horas a cinco dias47,69

. 417

A aplicação de 1 a 4,5 mg/kg de alfaxalona, IV, em Crocodylus porosus 418

promoveu rápida indução, com perda da RPE e do reflexo corneal em até dois minutos, com 419

duração entre 20 e 100 minutos e recuperação rápida. Relatou-se diminuição significativa da 420

FC com o uso da alfaxalona e quando os animais apresentaram valores próximos dos basais 421

coincidiu com a recuperação dos exemplares. Por isso, a monitoração da FC foi indicada 422

como uma forma de prever as condições de retorno anestésico70

. 423

A alfaxalona foi utilizada nas espécies Crocodylus porosus e Crocodylus 424

johnstoni, na dose de 3 mg/kg, IV, no seio venoso occipital, em diferentes temperaturas entre 425

17 e 32 ºC. Os animais mantidos em temperatura próxima a 32 ºC retornaram antes que os 426

mantidos a 17 ºC, e estes últimos apresentaram apneia prolongada. Por causa da ocorrência de 427

apneia o protocolo foi indicado apenas para animais de cativeiro que tenham acesso à 428

ventilação assistida e possam permanecer fora da água por 24 horas71

. 429

Exemplares de Caiman yacare foram anestesiados com propofol para a realização 430

de uma ferida cirúrgica em estudo sobre cicatrização, com doses de 5 a 10 mg/kg, IV, mas 431

sem menção aos efeitos ou parâmetros anestésicos avaliados72

. 432

433

2.4. Características gerais da cetamina 434

A cetamina [2-(Oclorofenil)-2-metilamino ciclohexanona] é comercializada na 435

forma hidrossolúvel, o que permite sua administração intravenosa, intramuscular, intranasal, 436

oral e retal. Esse dissociativo age promovendo desconexão entre os sistemas tálamocortical e 437

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límbico, ao atuar em áreas corticais e suprimir a transmissão de impulsos nociceptivos na 438

formação reticular mesencefálica e no núcleo medial do tálamo73

. 439

Em humanos, a meia-vida de eliminação (t1/2) da cetamina por via intravenosa é 440

150 minutos, sendo considerada um fármaco de início de ação lento, quando comparado aos 441

demais anestésicos utilizados para indução. Em cães a t1/2 da cetamina é de 61 minutos com 442

início de ação de 60 segundos e taxa de ligação a proteínas plasmáticas de 53,5%74

. 443

A forma da cetamina utilizada na medicina veterinária ainda é, 444

predominantemente, a racêmica que associa os dois enantiômeros ópticos, a dextro e a 445

levocetamina. O primeiro enantiômero puro é menos cardiodepressor, possui afinidade maior 446

para o receptor do tipo N-metil-D-aspartato e parece ser o principal responsável pelos efeitos 447

analgésicos, amnésicos, psicomiméticos e neuroprotetores75

. 448

Trabalhos com mamíferos reportam uma superioridade de ação da dextrocetamina 449

comparada à forma racêmica, podendo ser utilizadas doses totais inferiores para produzir 450

anestesia e analgesia satisfatórias, além de promover recuperação mais rápida e menor 451

incidência de efeitos adversos76,77

. Alguns autores relatam redução da dose da forma pura em 452

até 50% para produzir os mesmos efeitos do composto racêmico em ratos e ovelhas75,78

. 453

A iniciativa de se estudar os isômeros separadamente surge das diferenças 454

farmacodinâmicas e farmacocinéticas entre eles e a mistura racêmica. Na maioria dos casos, 455

há predominância de efeitos benéficos com o emprego de um dos enantiômeros purificado79

. 456

A biotransformação da dextrocetamina ocorre mais rapidamente do que a do 457

enantiômero R(–). No homem, a biotransformação hepática é a principal via metabólica, 458

principalmente pela isoforma CYP2B6 do complexo enzimático do citocromo P450. Seu 459

metabólito primário é a norcetamina e seus metabólitos secundários são derivados 460

hidroxilados que, após conjugados, são eliminados na urina como glicuronídeos, haja vista 461

que somente de 2 a 3% do fármaco é eliminado inalterado74

. 462

Em doses maiores que 80 mg/kg, a cetamina pode causar depressão respiratória e 463

inclusive apneia em répteis. Porém, esse não é um evento somente ligado aos anestésicos 464

dissociativos, uma vez que os exemplares da classe Reptilia facilmente apresentam esse efeito 465

adverso quando anestesiados, o que pode estar relacionado à deleção da respiração ativa 466

quando submetidos a anestesia39,80

. 467

Em mamíferos, o uso isolado da cetamina é contra-indicado devido à ocorrência 468

de efeitos adversos como excitação, hipertensão e hipertonicidade muscular e, por isso, 469

indica-se sua associação com fármacos sedativos e miorrelaxantes81

. Nos répteis tais eventos 470

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não são observados, entretanto, a utilização desse fármaco associado a benzodiazepínicos e 471

agonistas de receptores α-2, geralmente potencializa e prolonga os efeitos do dissociativo3,4

. 472

473

2.5. Características gerais do midazolam 474

O midazolam é um dos fármacos de eleição para o uso conjunto com a cetamina 475

por potencializar a ação anestésica do agente dissociativo em mamíferos11

. Apesar de seus 476

efeitos em répteis não estarem totalmente elucidados, sabe-se que nesses animais, tal 477

benzodiazepínico promove relaxamento muscular, redução de agressão, possui ampla margem 478

de segurança e pode ser administrado pelas vias intramuscular, intravenosa e 479

intracelomática82-83

. 480

Os efeitos do midazolam ocorrem mediante o aumento da afinidade de conexão 481

entre o receptor para o ácido gama-aminobutírico (GABA) e seu transmissor primário. Após a 482

ligação do fármaco com o receptor GABA ocorre potencialização da ação sobre o canal de 483

cloro acoplado e hiperpolarização da fibra nervosa. O efeito miorrelaxante é independente do 484

efeito sedativo e decorre de ação central84

. 485

No homem e nos ratos, o midazolam possui alta taxa de ligação proteica, 486

chegando a 90% e sua biotransformação ocorre abundantemente no fígado pela isoforma 487

CYP3A do complexo enzimático P450, formando metabólitos ativos hidroxilados, com 488

eliminação urinária85,86

. O midazolam é injetado em solução aquosa como fármaco ionizado, 489

mas no sangue é rapidamente convertido em forma não ionizada e lipossolúvel, com t1/2 de 490

excreção de duas a 4h em humanos84

. 491

492

2.6. Princípios básicos da farmacocinética 493

O início dos estudos farmacocinéticos data da década de 1960 quando os 494

primeiros trabalhos conseguiram esclarecer eventos sobre a biotransformação e distribuição 495

dos fármacos87

. A partir da quantificação de compostos em fluidos, ou mesmo em tecidos 496

corporais, a farmacocinética promoveu um avanço no desenvolvimento de protocolos e 497

medicamentos seguros e eficazes. 498

Geralmente, não se consegue quantificar o fármaco em seu sítio de ação, por isso, 499

utilizam-se outros componentes corporais para verificar tal medida. Qualquer fluido corporal 500

pode ser utilizado como amostra, entretanto, o mais empregado é o plasma sanguíneo por ser 501

estável e de fácil obtenção8. 502

As fases a serem consideradas em um estudo sobre a farmacocinética de 503

determinado princípio ativo são absorção, distribuição, biotransformação e excreção. A 504

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absorção é a passagem do fármaco do seu sítio de administração para o fluxo sanguíneo8. No 505

caso da administração intravenosa, como a deposição do fármaco é realizada diretamente na 506

corrente sanguínea, não ocorre a fase da absorção, presente nas demais vias88

. 507

A distribuição é a migração do fármaco a partir do sangue para os tecidos, sendo 508

que para os medicamentos injetados por via intravenosa considera-se que o volume que 509

circula para os órgãos centrais, como o coração e o cérebro, é maior que o que se dirige aos 510

vasos sanguíneos periféricos. Essa fase sofre interferências fisiológicas a partir de variações 511

na perfusão sanguínea e pelas características dos fármacos e das membranas8. 512

O processo de distribuição é caracterizado pelo volume aparente de distribuição 513

(Vd)89

. Geralmente Vds altos indicam fármacos lipossolúveis e Vds baixos são característicos 514

de substâncias hidrossolúveis. O volume de distribuição permite classificar o perfil 515

farmacocinético de acordo com o número de compartimentos. O compartimento central é 516

formado por órgãos de alta perfusão como coração, pulmões e cérebro, em contrapartida, o 517

tecido adiposo e os músculos são considerados como compartimento periférico. De acordo 518

com a capacidade e velocidade de distribuição do fármaco ele é classificado como mono, bi 519

ou tricompartimental90

. 520

Após se distribuir pelos compartimentos corporais, o fármaco será eliminado do 521

sangue, seja por biotransformação ou por excreção. A biotransformação consiste na 522

metabolização do fármaco injetado em um ou mais compostos, geralmente mais 523

hidrossolúveis e, assim, mais facilmente excretados. O principal sítio de biotransformação de 524

fármacos no organismo é o fígado, principalmente pelo complexo enzimático do citocromo 525

P4508. 526

Outra forma de eliminação do fármaco do organismo é a excreção, que seria a 527

supressão irreversível de uma substância inalterada do corpo8. A eliminação é descrita na 528

farmacocinética a partir de dois parâmetros, a constante de eliminação e a taxa de depuração 529

ou clearence, sendo a última conceituada como a quantidade de fármaco removida do sangue 530

em determinado intervalo de tempo. O principal órgão envolvido com a excreção dos 531

anestésicos é o rim91

. 532

A partir dos dados farmacocinéticos obtidos determinam-se parâmetros 533

importantes, como a meia-vida do fármaco, que é o tempo gasto para que a concentração do 534

princípio ativo se reduza pela metade. Informações sobre as diferentes concentrações 535

plasmáticas da substância pelo tempo permitem a determinação de protocolos eficazes e 536

seguros, uma vez que possibilitam, por exemplo, determinar a dose de ataque e o intervalo de 537

administração ideal de fármacos8. 538

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Dentre as principais técnicas analíticas utilizadas na farmacocinética estão as 539

cromatografias gasosa e líquida. A CLAE é muito empregada, uma vez que apresenta alta 540

precisão e rapidez nos resultados. Essa técnica consiste na separação dos componentes a partir 541

de uma fase estacionária e outra móvel, ambas líquidas92

. 542

Sabe-se que a administração de fármacos concomitantemente pode alterar sua 543

farmacocinética e farmacodinâmica. Do ponto de vista de seus efeitos, eles podem se tornar 544

mais ou menos acentuados, assim como suas reações adversas93

. No que se refere à 545

farmacocinética, a concentração plasmática dos fármacos se altera principalmente por 546

competição frente a sítios comuns, indução ou inibição de sistemas enzimáticos na 547

biotransformação e alteração do meio induzida por uma das substâncias, como por exemplo, 548

mudança de pH94

. 549

Estudos farmacocinéticos em mamíferos demonstram que tanto a cetamina quanto 550

o midazolam sofrem metabolismo hepático por oxidação. Entretanto, foram identificadas 551

diferenças interespécies no conteúdo e atividade dos complexos enzimáticos, com 552

possibilidade de competição por esses sistemas quando os fármacos são administrados 553

simultaneamente95

. 554

A velocidade da circulação sanguínea em crocodilianos acarreta baixa taxa de 555

absorção, distribuição e eliminação de fármacos, menor que em aves e mamíferos e é 556

dependente da temperatura. Além das diferenças farmacocinéticas entre esses répteis e outras 557

classes de animais, há variação de tolerância e efeitos entre espécies dessa ordem, por isso o 558

aprofundamento de estudos nesse sentido é importante23

. 559

A partir da farmacocinética é possível definir a dose eficaz dos diferentes 560

fármacos, dados de difícil determinação em répteis pela característica de ectotermia nesses 561

animais e pelo fato de mesmo quando se tem controle da temperatura ambiente, não haver 562

conhecimento suficiente sobre a eficácia e aplicabilidade alométrica em tais pacientes96

. A 563

partir do emprego da CLAE conseguiu-se determinar o perfil farmacocinético da 564

oxitetraciclina e da enrofloxacina em Alligator mississippiensis, assim como a dose e 565

intervalo entre administrações ideais para esses animais6,7

. 566

567

3. JUSTIFICATIVAS 568

Frente à necessidade da utilização da contenção química em crocodilianos é 569

interessante promover estudos para definir protocolos seguros e eficazes. Assim, o emprego 570

de dextrocetamina isolada ou associada ao midazolam é promissor, tanto pelos efeitos 571

sedativos desses princípios ativos quanto pela ampla margem de segurança das doses.572

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Adicionalmente, o emprego da técnica de farmacocinética para delineamento do 573

perfil de anestésicos em crocodilianos é um estudo inédito e que poderá auxiliar nas escolhas 574

de novos protocolos. Outra importância sobre a aplicação dessa técnica em trabalhos com 575

répteis é que a elucidação do metabolismo de fármacos no organismo desses animais pode 576

ajudar a esclarecer aspectos fisiológicos básicos que ainda não foram totalmente explicados. 577

578

4. OBJETIVOS 579

580

4.1. Objetivo geral 581

Avaliar os efeitos sedativos, alterações fisiológicas e o perfil farmacocinético da 582

dextrocetamina, isolada ou em associação ao midazolam em exemplares de Caiman 583

crocodilus. 584

585

4.2. Objetivos específicos 586

a) determinar a duração e a profundidade da anestesia com 10 mg/kg de dextrocetamina, 587

isolada ou em associação a 0,5 mg/kg de midazolam, administrados pelas vias intravenosa 588

(cranial ou caudal) ou intracelomática em Caiman crocodilus. 589

b) registrar as alterações fisiológicas promovidas pela administração de 10 mg/kg de 590

dextrocetamina, isolada ou em associação a 0,5 mg/kg de midazolam, pelas vias intravenosa 591

(cranial ou caudal) ou intracelomática em Caiman crocodilus, em relação à eletrocardiografia, 592

frequências cardíaca e respiratória, temperatura corporal, reação postural de endireitamento, 593

reflexos palpebral e corneal, relaxamento muscular e de resposta a estímulos nociceptivos. 594

c) delinear o perfil farmacocinético da dextrocetamina e esclarecer se a aplicação conjunta 595

desse anestésico com o midazolam afeta sua farmacocinética em Caiman crocodilus. 596

d) avaliar se a região de aplicação da dextrocetamina em Caiman crocodilus influencia 597

significantemente nos efeitos dos fármacos e na farmacocinética. 598

599

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CAPÍTULO 2 – SEDAÇÃO DE Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) 857

(CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE) COM DEXTROCETAMINA 858

ISOLADA OU ASSOCIADA AO MIDAZOLAM 859

860

RESUMO 861 Objetivou-se avaliar a intensidade e duração dos efeitos fisiológicos e sedativos da dextrocetamina, 862 isolada ou em associação ao midazolam, em Caiman crocodilus. Oito exemplares foram anestesiados 863 com 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicada no seio venoso occipital (grupo DO); ou por via 864 intracelomática (grupo DI); 10 mg/kg de dextrocetamina associada a 0,5 mg/kg de midazolam, 865 aplicados nos seios venosos occipital (grupo DMO), seio venoso caudal (grupo DMC) ou por via 866 intracelomática (grupo DMI). Monitoraram-se os parâmetros fisiológicos e os estágios sedativos. Não 867 se obteve anestesia cirúrgica com os protocolos avaliados, com permanência de resposta ao estímulo 868 nociceptivo e reflexo palpebral. A FC manteve-se inalterada somente no grupo DI, os demais 869 apresentaram redução significativa. A ƒ se manteve constante em todos os grupos e a TC aumentou 870 significantemente apenas no grupo DMC. Dez minutos após aplicação dos fármacos, todos os animais 871 dos grupos DO, DMO e DMC apresentaram início de ação sedativa, entretanto, nos grupos DI e DMI, 872 esse fato ocorreu em seis animais. Os tempos médios de recuperação total dos grupos DO, DMO, 873 DMC, DI e DMI, foram, respectivamente, 206,25 ± 79,27 minutos, 228, 75 ± 59,86 minutos, 367,5 ± 874 74,79 minutos, 607,5 ± 550,31 minutos e 900 ± 631,18 minutos. 875 PALAVRAS-CHAVE: anestésico dissociativo, benzodiazepínico, crocodilianos, jacaré-tinga, répteis. 876 877

SEDATION OF Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) (CROCODYLIA: 878

ALLIGATORIDAE) WITH DEXTRO-KETAMINE ISOLATED OR ASSOCIATED WITH 879 MIDAZOLAM 880

881 ABSTRACT 882

The aim of this study was to evaluate the intensity and duration of effects of dextro-ketamine, alone or 883 in association with midazolam on Caiman crocodilus. Eight caimans were anesthetized with 10 mg/kg 884 of dextro-ketamine injected into the occipital venous sinus (DO group); or via intracoelomic route (DI 885 group); 10 mg/kg of dextro-ketamine combined with 0.5 mg/kg of midazolam, applied in the occipital 886 venous sinuses (DMO group); caudal venous sinus (DMC group); or via intracoelomic route (DMI 887 group). Physiological parameters and stage intervals were monitored. The surgical plan of anesthesia 888 was not achieved with the evaluated protocols, with presence of response to nociceptive stimuli and 889 eyelid reflex. HR remained unchanged only in DI group, the others showed a significant reduction. 890 The ƒ remained constant in all groups and T increased significantly only in DMC group. Ten minutes 891 after application of drugs, all animals of DO, DMO and DMC groups were sedated; however, in DI 892 and DMI groups, this fact occurred in six animals. Mean time of full recovery of groups DO, DMO, 893 DMC, DI and DMI were, respectively, 206.25 ± 79.27 minutes, 228.75 ± 59.86 minutes, 367.5 ± 74.79 894 minutes, 607.5 ± 550.31 minutes and 631.18 ± 900 minutes. 895 KEY WORDS: dissociative anesthetic, benzodiazepine, crocodilians, spectacled caiman, reptiles. 896

897

1. INTRODUÇÃO 898

899

Na medicina de animais silvestres é frequente a necessidade do emprego de 900

agentes anestésicos, principalmente na contenção farmacológica. Dentre os representantes da 901

classe Reptilia, tais situações estão, sobretudo, relacionadas aos crocodilianos pelos relatos de 902

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problemas comportamentais por estresse após imobilização física e pelo potencial de risco 903

que representam para o profissional1-3

. 904

Por serem animais ectotérmicos, deve-se manter o controle da temperatura 905

ambiente (TA) durante procedimentos anestésicos em crocodilianos, estabelecendo seus 906

limites próximos da temperatura ótima para esses animais, que geralmente se encontra entre 907

25 e 37 ºC4. Outra particularidade de seu metabolismo está relacionada à presença do sistema 908

porta-renal, que pode promover a eliminação de fármacos com excreção pelos rins antes que 909

esses atinjam a circulação sistêmica5. 910

Apesar da evolução da qualidade anestésica com a implementação de protocolos 911

envolvendo fármacos voláteis, no caso dos répteis essa modalidade é mais utilizada na 912

manutenção da anestesia, uma vez que esses animais podem apresentar apneia fisiológica 913

prolongada6. Por isso, os agentes injetáveis ainda são os mais empregados na indução 914

anestésica de crocodilianos e, dentre eles, se destacam a cetamina e o propofol7,8

. 915

A cetamina racêmica é frequentemente usada na anestesia cirúrgica e na 916

contenção química de répteis, mas são poucas as pesquisas com a sua forma 917

enantiomericamente pura, denominada de dextrocetamina. Em mamíferos, essa formulação 918

tem mostrado vantagens em comparação com o racemato, principalmente ligadas à potência 919

analgésica superior e à menor incidência de efeitos adversos9-12

. 920

Considerando as potenciais vantagens da dextrocetamina em comparação com a 921

forma racêmica e o fato de existerem poucos relatos sobre o uso desse isômero em répteis, o 922

objetivo do presente trabalho foi avaliar a intesidade e duração dos efeitos sedativos da 923

dextrocetamina, isolada ou em associação ao midazolam, administrados pela via intravenosa 924

(IV), cranial ou caudal, ou intracelomática (IC), em exemplares de Caiman crocodilus. 925

926

2. MATERIAL E MÉTODOS 927

928

2.1. Animais 929

Todos os procedimentos foram executados conforme as orientações da Sociedade 930

Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL) e após aprovação do projeto pelo 931

Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da Universidade Federal de Uberlândia 932

(UFU), protocolo 099/201012

. 933

Os animais foram capturados em lagos marginais do Rio Araguaia, município de 934

São Miguel do Araguaia, Estado de Goiás, mediante a licença nº 41298-1 do Sistema de 935

Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) do Instituto Chico Mendes de 936

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Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Após encaminhamento para o Laboratório de 937

Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres (LAPAS) da UFU, os crocodilianos foram 938

identificados por meio da colocação de brincos plásticos numerados (Modelo Top Tag, 939

Allflex, Joinville, SC) na cauda e permaneceram em período de adaptação por quatro meses. 940

Os jacarés foram alojados, em um recinto de 4 x 2,5 m, composto de uma parte 941

seca e uma divisão alagada de 30 cm de profundidade, de forma que todos os crocodilianos 942

conseguiam ficar submersos ao mesmo tempo. A alimentação dos répteis consistia no 943

oferecimento de rãs e pintinhos vivos, três vezes por semana13

. 944

Oito exemplares jovens de Caiman crocodilus foram pesados (Balança MIC 945

200®, Micheletti, São Paulo – SP) e seus dados biométricos foram obtidos por meio de uma 946

trena (Magnética Pro®, Stanley, Uberaba - MG)14

. Dos animais selecionados dois eram 947

machos e seis fêmeas, com peso médio de 6,93 kg ± 1,31 kg e comprimento corporal total 948

médio de 109 cm ± 6 cm. 949

Para verificar o estado de saúde e fazer a triagem dos répteis a serem utilizados no 950

experimento foram feitos exames físicos para observar integridade da pele, hidratação, 951

deambulação, conformação e escore corporal. Avaliou-se também o comportamento dos 952

animais em relação ao interesse pela alimentação, taxa de atividade e agressividade com os 953

companheiros de recinto6. 954

Uma semana antes do procedimento anestésico, 1 mL de sangue foi colhido do 955

seio venoso occipital dos crocodilianos, por meio de seringa de 3 mL (BD Emerald®, BD, 956

Curitiba, PR) e agulha 25 x 0,8 mm (Labor Import, Osasco – SP). O sangue foi alocado em 957

tubo estéril de 10 mL (Labor Import, Osasco – SP), para avaliação do perfil bioquímico 958

sanguíneo dos répteis. Os parâmetros bioquímicos avaliados foram: albumina, creatinina, 959

fosfatase alcalina, gama-glutamil transferase (gama GT), proteínas totais, aspartato 960

aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), ureia e ácido úrico6. Os testes 961

foram realizados no Laboratório Clínico Veterinário do Hospital Veterinário da UFU e os 962

valores obtidos foram comparados com dados de referência publicados para o gênero 963

Caiman15,16

. 964

965

2.2. Protocolos anestésicos 966

Os exemplares de Caiman crocodilus permaneceram de cinco a oito dias em 967

jejum alimentar. Vinte e quatro horas antes do procedimento anestésico os animais foram 968

transferidos para a sala de anestesia e submetidos à restrição hídrica. A temperatura e a 969

umidade do ambiente foram registradas por meio de um termo-higrômetro digital (Incoterm, 970

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Porto Alegre – RS) em intervalos de uma hora e se mantiveram entre 26 e 30 ºC (média 27,49 971

ºC ± 1,15 ºC) para a temperatura e 66% para a umidade. 972

Cada exemplar foi sedado cinco vezes durante o experimento e o intervalo 973

mínimo entre os procedimentos foi de 15 dias, de forma que ocorresse a eliminação total do 974

fármaco e se reduzisse a sobrecarga de estresse. Com o intuito de diminuir as variações nas 975

condições ambientais da temperatura e, consequentemente, do metabolismo, a anestesia dos 976

jacarés foi realizada nos meses de Janeiro a Março do ano de 2014. 977

A ordem da utilização dos exemplares foi mantida para padronizar o intervalo 978

entre as anestesias. Na determinação dos protocolos, empregou-se o delineamento 979

inteiramente casualizado, a partir de um programa de randomização17

. 980

Foram avaliados cinco protocolos anestésicos, determinados a partir de pilotos: 981

- Protocolo 1 (grupo DO): 10 mg/kg de dextrocetamina (Ketamin® 50 mg/mL, Cristália, 982

Itapira - SP), aplicada em bolus no seio venoso occipital; 983

- Protocolo 2 (grupo DI): 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicada em bolus pela via 984

intracelomática; 985

- Protocolo 3 (grupo DMO): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 986

midazolam (Dormire® 5 mg/mL, Cristalia, Itapira – SP), aplicada na mesma seringa, em 987

bolus no seio venoso occipital; 988

- Protocolo 4 (grupo DMC): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 989

midazolam, aplicada na mesma seringa, em bolus no seio venoso caudal; 990

- Protocolo 5 (grupo DMI): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 991

midazolam, aplicada na mesma seringa, em bolus pela via intracelomática; 992

Os animais foram contidos com o auxílio de dois cambões, um para imobilização 993

da cabeça e outro para fechamento da boca. A boca permaneceu fechada por esparadrapo 994

(Cremer®, Cremer S/A, Blumenau – SC) desde o momento da contenção até a recuperação 995

total do animal e soltura no recinto, para maior segurança da equipe executora. Antes da 996

injeção dos fármacos foi realizada a antissepsia local com álcool. 997

Para a colheita sanguínea e aplicação dos anestésicos no seio venoso occipital, a 998

agulha foi introduzida na linha mediana dorsal da primeira fileira de escamas transversais 999

caudal à cabeça dos exemplares, em um ângulo de 90º com o dorso. O seio venoso caudal foi 1000

acessado na região imediatamente posterior ao sacro, com a introdução da agulha entre as 1001

escamas, em um ângulo de 45º com a pele. A certificação da aplicação do anestésico nos seios 1002

venosos foi feita a partir da verificação de conteúdo sanguíneo na seringa mediante aspiração. 1003

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No que se refere à via intracelomática, realizou-se a deposição do fármaco na região ventro-1004

caudal do antímero esquerdo do animal6,18

. 1005

1006

2.3. Monitoração anestésica 1007

Todos os parâmetros monitorados durante o experimento foram escolhidos com 1008

base na literatura científica de répteis e a partir da realização dos pilotos. As avaliações foram 1009

realizadas previamente à anestesia, correspondendo às condições do tempo zero (t0)6,19,20

. 1010

Uma cobertura de látex com 1,10 x 0,65 m foi colocada sobre a superfície da mesa de 1011

avaliação para evitar interferência no traçado eletrocardiográfico e oferecer maior conforto 1012

aos animais. 1013

Foram avaliados a frequência (FC) e o ritmo cardíacos, por meio de um aparelho 1014

doppler vascular (Modelo DV 2001, Medpej, Ribeirão Preto – SP), e o traçado 1015

eletrocardiográfico (ECG), por eletrocardiografia computadorizada (ECGPC®, Tecnologia 1016

Eletrônica Brasileira, São Paulo – SP). A probe do doppler vascular foi posicionada na região 1017

lateral esquerda, caudalmente ao membro torácico do corpo do animal, enquanto os eletrodos 1018

do tipo “jacaré” foram colocados diretamente na pele dos crocodilianos, próximos aos 1019

membros19,20

. 1020

A frequência respiratória (ƒ) foi avaliada pela visualização dos movimentos 1021

respiratórios. A temperatura corporal (TC) foi aferida por meio de termômetro digital 1022

(Equiterm, Porto Alegre, RS) com escala em graus Celsius (- 50 a 300 ºC), inserido 5 cm no 1023

interior da cloaca e mantido durante um minuto. 1024

No caso da avaliação do ECG e da TC, os animais foram posicionados em 1025

decúbito dorsal e um apoio foi colocado entre a mesa e a extremidade da boca do animal para 1026

que não houvesse compressão dos olhos, evitando assim que ocorresse estimulação vagal. 1027

Para avaliar o parâmetro de reação postural de endireitamento (RPE), os animais 1028

foram posicionados em decúbito dorsal e foi observada a capacidade e o tempo em que estes 1029

conseguiam retornar para a posição quadrupedal. Na monitoração do relaxamento de cauda e 1030

membros foi realizada tração caudal dos membros e lateral da cauda para constatar se o 1031

exemplar conseguia retraí-los. O relaxamento da cabeça foi avaliado a partir da elevação da 1032

cabeça do animal em nível acima do corpo e após soltá-la monitorou-se a capacidade deste em 1033

mantê-la elevada. As respostas para esses três parâmetros foram classificadas na forma de 1034

escores conforme a TABELA 1. 1035

1036

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TABELA 1 – Classificação, em escores, dos parâmetros de reação postural de endireitamento, 1037

relaxamento de cauda e membros e relaxamento de cabeça para monitoração de 1038 Caiman crocodilus sedados com dextrocetamina isolada ou associada ao 1039

midazolam. 1040

Parâmetro Escore 1 Escore 2 Escore 3

Reação postural de

endireitamento

Posição quadrupedal

em até 3 segundos

Posição quadrupedal

em mais de 3

segundos

Incapacidade de

retornar a posição

quadrupedal

Relaxamento de

cauda e membros

Resposta idêntica a

t0

Retração de forma

lenta de cauda e

membros

Incapacidade de

retrair cauda e

membros

Relaxamento de

cabeça

Cabeça acima do

nível do corpo

Sustenta a queda ou

mantém a cabeça ao

nível do corpo

Incapacidade de

sustentação da

cabeça

1041

Adicionalmente, monitoraram-se os reflexos palpebral e corneal tocando 1042

levemente tais estruturas com uma cânula de látex (Biosani, Arapoti – PR) no canto medial de 1043

cada olho e observando o fechamento de pálpebra e membrana nictante. Foi padronizado 1044

como escore 1 a presença de fechamento de pelo menos uma dessas estruturas e a ausência foi 1045

classificada como escore 2. 1046

A resposta ao estímulo nociceptivo foi avaliada por meio de uma pinça 1047

hemostática Kelly de 18 cm (ABC, São Paulo – SP), com as serrilhas recobertas por cânula de 1048

látex. A pinça foi utilizada para realizar pressão na falange distal do dedo II ou do dedo III de 1049

cada membro e na extremidade da cauda dos crocodilianos. Padronizou-se o fechamento da 1050

pinça no primeiro nível da cremalheira, em intervalo de até cinco segundos, que foi 1051

interrompido nos casos em que houve resposta do animal antes de atingido o tempo padrão. A 1052

resposta a esse estímulo foi considerada presente (escore 1) quando o exemplar esboçou 1053

reações de retração do membro ou da cauda, locomoção ou tentativa de agressão ao avaliador, 1054

no intervalo de tempo menor ou igual a 5 segundos. A ausência de resposta ao pinçamento foi 1055

classificada como escore 2. 1056

Após a aplicação dos fármacos, os parâmetros foram avaliados aos 10, 15, 30, 60, 1057

90, 120, 150, 180, 210 e 240 minutos (t0, t10, t15, t30, t60, t90, t120, t150, t180, t210 e t240, 1058

respectivamente). Nos casos em que não houve retorno às condições basais durante esse 1059

período, realizou-se a monitoração com intervalos de uma hora até o período de 480 minutos 1060

(t480). Após esse intervalo a monitoração foi realizada aos 720 minutos (t720) e 1440 1061

minutos (t1440) posteriores à aplicação dos fármacos. 1062

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Foi considerada como presente a ação sedativa leve, no intervalo em que se 1063

verificou a classificação de escore 2 em um ou mais dos parâmetros avaliados. O início da 1064

sedação profunda correspondeu ao momento em que se registrou escore 3 para RPE, 1065

relaxamento de cauda, membros e cabeça. O retorno de algum desses parâmetros ao escore 2 1066

foi denominado como fim da sedação profunda e quando se obteve escore 1 para todas as 1067

respostas foi determinada a recuperação total. 1068

Os animais permaneceram por 48 horas na sala de anestesia após aplicação dos 1069

fármacos, em um caixote de madeira com dimensões de 1,8 x 0,8 m para assegurar a 1070

recuperação completa dos exemplares. Após esse período os jacarés retornaram ao recinto e à 1071

convivência com os demais crocodilianos e foram observados diariamente em relação a 1072

altrerações comportamentais de tentativa de fuga, grau de agressividade em relação aos 1073

demais animais do recinto e retorno à alimentação. 1074

1075

2.4. Análise estatística 1076

A estatística foi realizada por meio do programa Biostat 5.0 (UFPR, Curitiba - 1077

PR). 1078

Para a determinação de diferenças estatísticas para os intervalos de tempo dos 1079

estágios sedativos entre os protocolos, bem como entre as avaliações dos parâmetros 1080

fisiológicos de frequências cardíaca e respiratória e temperatura corporal, entre o t0 e os 1081

demais intervalos de avaliação, foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para certificação sobre o 1082

padrão de normalidade de distribuição dos dados. 1083

Posteriormente, para os parâmetros com distribuição normal de FC, ƒ e TC, 1084

aplicou-se a Análise de Variância (ANOVA) e para determinar diferenças estatísticas 1085

significativas entre médias, aplicou-se o teste de Tukey com 5% de significância. Os dados 1086

não paramétricos de intervalos de tempo dos estágios sedativos foram submetidos ao teste de 1087

Kruskal-Wallis, sendo que os que mostraram diferença estatisticamente significante foram 1088

submetidos ao teste de Student-Newman-Keuls, também com nível de significância de 5%21

. 1089

1090

3. RESULTADOS 1091

1092

Uma vez que os animais mantiveram os reflexos palpebral e corneal, assim como 1093

a resposta ao estímulo nociceptivo em escore 1 durante todo o período de avaliação, 1094

considerou-se que não houve anestesia cirúrgica com o emprego de nenhum dos protocolos no 1095

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presente estudo. Sendo assim, a partir dos demais parâmetros avaliados, foram determinados 1096

os estágios sedativos. 1097

Não foram observadas alterações sugestivas de arritmias ou doenças cardíacas no 1098

traçado eletrocardiográfico em nenhum dos animais dos cinco grupos avaliados nos diferentes 1099

tempos. A FC diminuiu significativamente nos grupos DO, DMO, DMC e DMI nos tempos 1100

t150 e t210, t150 a t360, t120 a t480 e de t120 a t1440, respectivamente, em comparação com 1101

os valores basais (TABELA 2). Apenas no grupo DI não houve variação significativa da FC. 1102

Não houve alteração da ƒ em nenhum dos grupos avaliados (TABELA 3). Nos 1103

grupos DO, DI, DMO e DMI não houve diferenças significativas da temperatura corporal nos 1104

diferentes tempos. No grupo DMC observou-se aumento significativo da TC nos tempos de 1105

t360 a t480 em relação à aferição basal (TABELA 4). 1106

Os intervalos dos estágios sedativos do grupo DO, DI, DMO, DMC e DMI estão 1107

representados na TABELA 5. No grupo DO, aos 10 minutos (t10), todos os animais 1108

apresentavam sedação leve e metade dos crocodilianos permaneceu nesse estágio durante o 1109

período de avaliação, pois não apresentaram relaxamento muscular total, nem ausência de 1110

reflexo de endireitamento. Para análise de diferenças entre os estágios relacionados à sedação 1111

profunda, foram considerados apenas quatro exemplares. 1112

No grupo DI nenhum dos exemplares alcançou sedação profunda, permanecendo 1113

apenas em sedação leve, uma vez que os animais não alcançaram escore 3 para o 1114

relaxamentos muscular de cabeça, cauda e membros concomitantemente com a perda do 1115

reflexo postural de endireitamento. No primeiro intervalo avaliado (t10), seis animais (75%) 1116

apresentavam sedação leve e os outros dois atingiram esse estágio em t15. Somente dois 1117

animais apresentaram escore 3 para o reflexo de endireitamento, entretanto, mantiveram o 1118

relaxamento de cabeça em escore 2, por isso não pôde ser considerado como sedação 1119

profunda. 1120

De todos os protocolos com a associação da dextrocetamina e do midazolam 1121

avaliados, o grupo DMO foi o que apresentou respostas mais uniformes dentre seus 1122

componentes, o que pode ser confirmado pelos menores valores de desvio padrão. Todos os 1123

exemplares desse grupo e do grupo DMC apresentaram sedação leve em t10 e atingiram o 1124

estágio de sedação profunda com ausência de reflexo de endireitamento e relaxamento 1125

muscular de membros, cauda e cabeça 1126

Dentre os grupos, o DMI foi o que apresentou mais irregularidade de intensidade 1127

e duração das respostas anestésicas. Um dos animais (12,5%) não apresentou nenhum efeito 1128

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com a aplicação dos fármacos, mantendo todos os parâmetros em escore 1 durante as 48 horas 1129

de observação e, por isso, foi excluído da comparação entre estágios. 1130

Cinco animais (62,5%) do grupo DMI apresentaram sedação leve em t10 e dois 1131

(25%) em t15. Três exemplares desse grupo alcançaram como efeito máximo do protocolo o 1132

estágio de sedação leve e foram descartados das análises comparativas para os intervalos de 1133

início e fim de sedação profunda, entretanto, seus intervalos de recuperação não diferiram 1134

estatisticamente entre esses e os que apresentaram sedação profunda e, assim, foram 1135

relacionados dentro da mesma média. 1136

Não houve diferença significativa entre os grupos para os intervalos de 1137

constatação de ação sedativa leve. O início de sedação profunda também apresentou valores 1138

estatisticamente iguais para os grupos DO, DMO, DMC e DMI. Para o fim da sedação 1139

profunda, o grupo DMI obteve valores superiores quando comparado aos grupos DO e DMO 1140

e o grupo DMC apresentou médias de valores semelhantes aos demais grupos. 1141

No que se refere aos intervalos de recuperação total, os grupos DO e DI se 1142

equivaleram, mas obtiveram valores inferiores aos grupos DMO, DMC e DMI. Esses três 1143

últimos apresentaram médias estatisticamente iguais. 1144

1145

4. DISCUSSÃO 1146

1147

Diante das particularidades anatomofisiológicas da classe Reptilia, preconizou-se 1148

trabalhar com os crocodilianos dentro de suas condições ideais de metabolismo. Estabeleceu-1149

se assim um tempo de jejum de cinco a oito dias na alimentação dos animais, pois exemplares 1150

da espécie Caiman crocodilus apresentam taxa metabólica significantemente maior em torno 1151

de quatro dias após sua alimentação22

. 1152

A aplicação intracelomática se mostrou mais simples de ser realizada e causou 1153

menos desconforto aos exemplares. Após o acesso no seio venoso occipital ou no seio venoso 1154

caudal os jacarés-tinga apresentavam comportamento de tentativa de fuga ou fechamento 1155

brusco dos olhos como sinais de desconforto. 1156

1157

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TABELA 2 - Média e desvio padrão da frequência cardíaca de Caiman crocodilus sedados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou 1158 associada a 0,5 mg/kg de midazolam. 1159

0’ 10’ 15’ 30’ 60’ 90’ 120’ 150’ 180’ 210’ 240’ 300’ 360’ 480’ 720’ 1440’

DO 37±8a 34±7

a 34±6

a 33±7

a 31±8

a 29±7

a 27±7

a 27±6

b 28±5

b 27±5

b 30±6

a --- --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=5) (n=5) (n=3)

DI 46±10a

42±6a 42±7

a 41±8

a 38±6

a 37±7

a 39±9

a 37±8

a 36±6

a 37±7

a 38±7

a 38

a --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=1)

DMO 36±7a 28±10

a 32±7

a 29±9

a 25±8

a 24±8

a 25±8

a 22±6

b 21±6

b 22±7

b 23±6

b 24±6

b 25±7

b 25±7

a --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=2)

DMC 37±4a

35±3a 34±7

a 32±6

a 30±7

a 27±6

a 25±6

b 26±4

b 26±5

b 26±4

b 26±4

b 27±4

b 27±4

b 28±6

b 29±5

a 33±3

a

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=4) (n=2)

DMI 43±7a

40±6a

39±6a

36±10a

35±9a 34±9

a 31±8

b 30±8

b 29±8

b 29±6

b 31±7

b 30±6

b 30±6

b 30±5

b 28±6

b 25±7

b

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=4) (n=4) (n=3) (n=2) (n=2)

’ minutos. --- intervalo não monitorado. a,b letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatística em relação à medida basal. bpm: batimentos por minuto. DI: 1160 dextrocetamina isolada por via intracelomática. DMC: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. DMI: dextrocetamina associada ao 1161 midazolam aplicados por via intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso occipital. DO: dextrocetamina isolada aplicada no seio 1162 venoso occipital. n: número do exemplares. 1163 1164 TABELA 3 - Média e desvio padrão da frequência respiratória de Caiman crocodilus sedados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou 1165

associada a 0,5 mg/kg de midazolam. 1166

’ minutos. --- intervalo não monitorado. DI: dextrocetamina isolada por via intracelomática. DMC: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. 1167 DMI: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados por via intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso occipital. DO: 1168 dextrocetamina isolada aplicada no seio venoso occipital. n: número de exemplares. 1169

0’ 10’ 15’ 30’ 60’ 90’ 120’ 150’ 180’ 210’ 240’ 300’ 360’ 480’ 720’ 1440’

DO 5±4 6±2 6±2 6±2 10±3 9±5 8±4 8±5 7±6 8±6 7±4 --- --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=5) (n=5) (n=3)

DI 7±4 12±3 13±3 14±5 13±8 11±8 13±10 14±11 13± 9 12±7 14±6 8±6 --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=1)

DMO 3±3 4±2 4±2 5±2 5±4 5±2 5±2 5±3 5±3 5±2 6±3 4±2 4±2 4±2 --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=2)

DMC 4±3 6±3 6±3 7±5 6±4 5±3 4±2 4±2 4±2 4±2 4±2 4±3 4±2 4±3 4±2 5±3

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=4) (n=2)

DMI 6±4 9±3 10±5 10±4 11±5 9±6 10±7 8±6 8±7 9±7 10±7 9±5 5±0 5±2 4±2 5±1

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=4) (n=4) (n=3) (n=2) (n=2)

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TABELA 4 – Média e desvio padrão da temperatura corporal (ºC) de Caiman crocodilus sedados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou 1170 associada a 0,5 mg/kg de midazolam. 1171

’ minutos. --- intervalo não monitorado. a,b letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatística em relação à medida basal. DI: dextrocetamina isolada por via 1172 intracelomática. DMC: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. DMI: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados por via 1173 intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso occipital. DO: dextrocetamina isolada aplicada no seio venoso occipital. n: número 1174 de exemplares. 1175 1176

1177 O intervalo de 15 dias empregado entre as anestesias dos animais demonstrou ser viável em relação a alterações de comportamento 1178

ligadas ao estresse, assim como o tempo de 48 horas em que os exemplares permaneceram em recuperação na sala cirúrgica. Nenhum 1179

crocodiliano demonstrou alterações de comportamento, como anorexia prolongada ou agressividade com companheiros posteriormente à 1180

recolocação no recinto e todos se dirigiram para a parte alagada logo após a soltura, sem sinais de deleção na locomoção. Além disso, os jacarés-1181

tinga voltaram a se alimentar em até quatro dias após o procedimento anestésico. 1182

1183

0’ 10’ 15’ 30’ 60’ 90’ 120’ 150’ 180’ 210’ 240’ 300’ 360’ 480’ 720’ 1440’

DO 25,5 ±

1,4a

26 ,0 ± 1,9

a 26,0 ±

1,3a

26,3 ± 1,4

a 26,3 ±

1,3a

26,6 ± 1,1

a 26,7 ± 1,0

a

26,5 ± 0,8

a 26,9 ±

1,0a

27,0 ± 0,9

a 27,3 ±

0,5a --- --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=5) (n=5) (n=3)

DI 28,7 ±

1,1a

29,0 ± 1,3

a 29,2 ±

1,3a

29,4 ± 1,0

a 29,6 ±

0,8a

29,7 ± 0,8

a 30,0 ± 0,6

a 29,7 ±

0,5a

29,7 ± 0,5

a 30,0 ±

0,6a

30,1 ± 0,4

a 29 ±

0a --- --- --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=7) (n=1)

DMO 26 ± 1,5

a 26,4 ±

1,8a

26,6 ± 1,4

a 26,9 ±

1,4a

26,8 ± 1,4

a 26,9 ±

1,2a

27,0 ± 11

a 27,1 ±

1,0a

26,8 ± 0,8

a 27,0 ±

0,8a

27,3 ± 1,2

a 27,5 ± 0,5

a 27,5 ±

0,5a

27,6 ± 0,7

a --- ---

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=2)

DMC 25,7 ±

0,5a

26,9 ± 1,3

a 26,9 ±

1,4a

26,9 ± 1,4

a 27,1 ±

0,9a

27,1 ± 0,9

a 27,1 ± 0,9

a 27,0 ±

0,5a

27,1 ± 0,6

a 27,1 ±

0,2a

27,0 ± 0,8

a 27,3 ± 0,9

a 27,4 ± 0,5

b 27,4 ± 0,5

b 26,5 ±

0,3a

26,4 ± 0,9

a

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=5) (n=4) (n=2)

DMI 26,8 ±

1,4a

27,4 ±

1,2a

27,5 ±

1,2a

27,6 ±

1,3a

27,9 ±

1,1a

27,9 ±

1,2a

27,6 ±

0,9a

27,9 ±

0,8a

27,9 ±

0,8a

28,1 ±

1,1a

28,0 ±

1,1a

28,1 ±

1,0a

28,0 ±

0,9a

28,0 ±

0,7a

28,0 ±

0,3a

27,7 ±

0,6a

(n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=8) (n=6) (n=4) (n=4) (n=3) (n=2) (n=2)

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37

TABELA 5 – Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo, em minutos, dos estágios sedativos de exemplares de Caiman 1184 crocodilus sedados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a 0,5 mg/kg de midazolam. 1185

’ minutos. --- intervalo não monitorado. a,b letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatística em relação à medida basal. mpm: movimentos por minuto. DI: 1186 dextrocetamina isolada por via intracelomática. DMC: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. DMI: dextrocetamina associada ao 1187 midazolam aplicados por via intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso occipital. DO: dextrocetamina isolada aplicada no seio 1188 venoso occipital. ISL: início de sedação leve. ISP: início de sedação profunda. FSP: fim da sedação profunda. n: número de exemplares. 1189

1190

A manutenção dos animais na sala de anestesia durante 48 horas após a aplicação dos anestésicos teve como um dos objetivos 1191

assegurar a recuperação total dos exemplares. Isso porque, devido à ausência de antagonistas para agentes dissociativos, indica-se que após a 1192

utilização desses anestésicos, os crocodilianos permaneçam fora da água por um período prolongado7. 1193

Em trabalho sobre comportamento de crocodilianos após sedação com midazolam ou somente com contenção física, relatou-se, que 1194

no primeiro caso, os animais retornaram à alimentação no dia seguinte e mantiveram seus hábitos normais. Em contrapartida, os exemplares que 1195

foram imobilizados apenas fisicamente apresentaram comportamentos de estresse, como tentativa de escalar a parede3. No presente estudo, os 1196

animais não apresentaram qualquer alteração comportamental e retornaram a alimentação no máximo na segunda vez em que foi oferecido o 1197

alimento. 1198

ISL inicio de sedação prunfa fim de sedação profunda Recuperação

Média Mediana n Média Mediana n Média Mediana n Média Mediana n

DO 10 a 10 8 15

a 13,7 4 56,2

a

60 4 206,2

a 210 8

±0 (10-10) (10-15) ±2,5 ±30,9 (15-90) ±79,3 (120-360)

DI 11,2 a 10 8 --- --- 0 --- --- 0 228,7

a 240 8

±2,3 (10-15 ±59,9 (90-300)

DMO 10 a 10 8 10 13,1

a 8 114,4

a 105 8 367,5

b 360 8

±0 (10-10) (10-30) ±7,0 ±78,5 (15-210) ±74,8 (300-480)

DMC 10 a 10 8 15 22,9

a 8 187,9

ab 145 8 607,5

b 315 8

±0 (10-10) (10-60) ±17,5 ±167,0 (60-480) ±550,3 (150-1440)

DMI 11,4 a 10 7 30 25

a 4 630,0

b 465 4 900,0

b 360 7

±2,4 (10-15) (15-30) ±8,7 ±597,5 (150-1440) ±631,2 (210-1440)

FSP ISP

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38

Várias pesquisas relataram insucesso em alcançar a anestesia cirúrgica com o uso 1199

de baixas doses de anestésicos dissociativos isolados ou em associação a agentes sedativos em 1200

crocodilianos. Na maioria dos relatos, os protocolos apresentaram como efeito máximo 1201

sedação leve, sem a perda do reflexo de endireitamento7,23,24

. Uma das causas para a 1202

dificuldade em se obter anestesia cirúrgica pode estar relacionada ao emprego de subdoses em 1203

animais jovens, uma vez que foram relatadas diferenças entre as doses anestésicas conforme 1204

as distintas faixas etárias em crocodilianos, sendo necessárias doses de cetamina 1205

significativamente maiores para exemplares jovens23,25

. 1206

No presente estudo, trabalhou-se com Caiman crocodilus de até 1,20 m, 1207

considerados como animais juvenis para espécie26

. Entretanto, no caso da dextrocetamina 1208

isolada ou associada ao midazolam, não se defende a justificativa de dose insuficiente, pelo 1209

fato de que durante a fase de determinação dos protocolos empregados foram realizados 1210

pilotos em que mesmo doses maiores não promoveram analgesia e, em contrapartida, 1211

aumentaram muito o tempo de retorno dos animais, além de causarem depressão 1212

cardiorrespiratória. 1213

Apesar de relatos sobre a superioridade da analgesia promovida pela 1214

dextrocetamina em relação ao composto racêmico em mamíferos, essa observação não tem 1215

sido frequente em répteis9,10

. Mesmo nos casos em que o enantiômero apresentou melhores 1216

efeitos anestésicos, ele não promoveu anestesia cirúrgica em exemplares de serpentes, 1217

testudíneos ou crocodilianos20,27,28

. Tal observação corrobora citações sobre a necessidade de 1218

se associar a cetamina com compostos sedativos e analgésicos ou anestésicos locais em 1219

procedimentos invasivos29

. 1220

Apesar de não haver parâmetros de referência de ECG para Caiman crocodilus, a 1221

partir do padrão dos traçados observou-se ausência de arritmias nos animais do presente 1222

estudo. Esse seria um resultado previsível ante os protocolos avaliados, uma vez que fármacos 1223

dissociativos podem induzir taquicardia, mas geralmente não ocasionam problemas de 1224

ritmo30

. 1225

Essa mesma observação foi verificada em animais do gênero Trachemys, ao se 1226

utilizar cetamina racêmica isolada ou em associação ao midazolam ou à xilazina31

. Em 1227

contrapartida, foram constatadas arritmias cardíacas em dois exemplares de Alligator 1228

mississippiensis anestesiados com cetamina e medetomidina, mas tal evento foi relacionado 1229

ao uso do agonista de receptores -2 adrenérgicos, uma vez que a aplicação de seu 1230

antagonista cessou o efeito adverso25

. 1231

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Outro fato a ser levado em consideração seria que a origem das arritmias 1232

observadas com o uso da cetamina é, principalmente, relacionada à hipóxia do miocárdio 1233

induzida por esse agente anestésico32

. Todavia, pelas adaptações fisiológicas a intervalos 1234

relativamente longos de apneia, os répteis apresentam menores distúrbios relacionados a 1235

baixos níveis de oxigênio tecidual, o que pode justificar menor ocorrência de arritmias com o 1236

uso de dissociativos nessa classe6. 1237

Na literatura não há descrição do intervalo de frequência cardíaca considerado 1238

normal para Caiman crocodilus de cativeiro mantidos em temperatura ótima. Os valores 1239

basais encontrados para os exemplares deste estudo estão próximos do intervalo de 32 a 44 1240

bpm, para Alligator mississippiensis jovens e de 38 a 41 bpm, observadas também em jacarés-1241

tinga20,25

. 1242

Em trabalhos realizados com Caiman latirostris jovens e com Alligator 1243

mississippiensis, as FC basais registradas foram 56 bpm e 54 bpm, respectivamente7,23

. Além 1244

de se tratar de espécies diferentes da estudada, esses registros com valores superiores podem 1245

ter ocorrido devido a um maior grau de estresse causado pela contenção física que, nos 1246

trabalhos supracitados, foi realizada pouco tempo antes da avaliação dos parâmetros 1247

fisiológicos. No presente estudo, a contenção física dos crocodilianos e a transferência para a 1248

sala de anestesia ocorreu 24 horas antes do procedimento anestésico, o que pode ter diminuído 1249

a carga de estresse. 1250

Assim como foi observado no grupo DI, vários trabalhos discorrem sobre a 1251

ausência de alterações cardíacas em crocodilianos com o uso de protocolos envolvendo doses 1252

baixas de cetamina isolada ou em associação com fármacos sedativos7,20,23

. Isso corrobora os 1253

achados de autores que afirmam que, em doses baixas, a estimulação cardíaca promovida pela 1254

cetamina é mínima33

. 1255

No presente estudo, diferentemente da taquicardia relatada com o uso da cetamina 1256

em mamíferos e outras ordens de répteis, observou-se diminuição da FC nos animais dos 1257

grupos DO, DMO, DMC e DMI30,34

. No caso dos protocolos em que houve a aplicação 1258

conjunta do midazolam, a redução da FC pode ter sido, em parte, predisposta pelo uso desse 1259

fármaco, uma vez que a aplicação isolada de 5 mg/kg, desse benzodiazepínico, IM, também 1260

promoveu bradicardia em crocodilianos3. Tal efeito adverso pode estar relacionado à inibição 1261

do sistema simpático pelo midazolam, que resultaria em hipotensão e bradicardia35

. 1262

Entretanto, pelo fato de no grupo DO também ter sido observada diminuição da 1263

FC em proporção semelhante aos demais, não há como correlacionar totalmente a aplicação 1264

do midazolam à bradicardia. Outra causa possível, pode ter sido a redução da estimulação 1265

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externa dos animais, uma vez que esse efeito foi observado após o aumento do intervalo entre 1266

as avaliações dos jacarés, o que diminuiu a manipulação e, assim, seu nível de estresse7. 1267

Adicionalmente, observou-se menor resistência dos animais à aproximação do avaliador 1268

durante as últimas monitorações, talvez pela possível adaptação à presença humana. 1269

Em Alligator mississippiensis sedados com 220 μg/kg de medetomidina associada 1270

a 10 mg/kg de cetamina, IM, também se observou diminuição significativa da FC. Entretanto, 1271

naquele trabalho, a temperatura ambiente em que os animais foram mantidos foi de 18 a 25 1272

ºC, valores menores que a faixa ótima pelos crocodilianos, o que pode ter afetado seu 1273

metabolismo e, consequentemente, seus parâmetros fisiológicos25

. A bradicardia também 1274

pode estar relacionada à aplicação da metomidina, pois a administração isolada desse sedativo 1275

também causou redução acentuada da FC em Crocodylus porosus36

. 1276

As médias de ƒ basal dos Caiman crocodilus deste trabalho variaram entre 3 e 7 1277

movimentos por minuto (mpm). Nenhum animal apresentou diminuição acentuada de ƒ, 1278

abaixo de 3 mpm, limite inferior definido como ideal para um retorno anestésico seguro em 1279

répteis37,38

. 1280

Em um trabalho de anestesia com exemplares de Caiman crocodilus, valores 1281

maiores entre seis e 11 mpm para a ƒ foram observados. Em contrapartida, um exemplar dessa 1282

mesma espécie submetido a um procedimento cirúrgico para remoção de corpo estranho 1283

apresentou ƒ basal de 3 mpm20,39

. Apesar de ambos os estudos terem relatado a manutenção 1284

dos exemplares em temperatura ambiente ótima para a espécie, as diferenças de ƒ basal 1285

podem estar relacionadas a variações entre indivíduos. No presente estudo, diante do estresse 1286

causado pela presença e manipulação humana, a maioria dos crocodilianos avaliados se 1287

manteve em estado de alerta, com diminuição da movimentação e da ƒ, mas alguns 1288

apresentavam comportamento de tentativa de fuga, com aumento de movimentos 1289

respiratórios. 1290

Houve variação significativa de temperatura corporal apenas no grupo DMC e ao 1291

se comparar com a temperatura ambiente, percebe-se que a variação corpórea seguiu a 1292

tendência ascendente das condições ambientais. A constatação de que a TA foi mantida 1293

dentro da faixa de temperatura ótima para os répteis e o fato da variação da TC não ter 1294

excedido 2 ºC, permite inferir que esse componente não afetou clinicamente os parâmetros 1295

fisiológicos do grupo DMC. Tal fato é reforçado pela manutenção da f inalterada no grupo e a 1296

variação da FC ter sido semelhante a dos outros grupos, que não apresentaram variação 1297

significativa de TC. 1298

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Os demais grupos não apresentaram alterações da temperatura corporal mesmo 1299

quando houve variação significativa de TA. Tal observação corrobora outros estudos em que 1300

dentro da faixa de temperatura ótima pelos répteis, esses pacientes foram capazes de manter 1301

uma taxa de metabolismo constante mesmo sob efeito anestésico, sendo a manutenção da TC 1302

mais dependente de fatores externos7,40

. 1303

Autores citam ocorrência de efeitos adversos com o uso da cetamina em 1304

mamíferos, principalmente relacionados à presença de rigidez muscular, o que inviabiliza 1305

totalmente seu emprego isolado, inclusive para contenção química29,41

. Essa observação 1306

também foi registrada anteriormente em trabalhos antigos com exemplares da classe Reptilia, 1307

entretanto, o presente estudo e outros trabalhos realizados com répteis têm demonstrado que 1308

esse não é um achado constante nesses animais e que a vantagem da associação com agentes 1309

sedativos está relacionada principalmente ao aumento da intensidade e duração dos 1310

efeitos20,27,28,42,43

. 1311

Doses de 10 a 40 mg/kg de dextrocetamina, IM, em testudíneos da espécie 1312

Podocnemis expansa, não aboliram o reflexo de endireitamento dos exemplares. A dose de 10 1313

mg/kg não gerou nenhuma supressão nos parâmetros avaliados e foi considerada ineficiente28

. 1314

No presente estudo, crocodilianos anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, IV ou IC, 1315

apresentaram sedação leve com relaxamento muscular nos grupos DO e DI, respectivamente. 1316

Acredita-se que, apesar de serem espécies pertencentes a ordens distintas, um provável fator 1317

que diferenciou os efeitos entre os dois estudos foi o local de aplicação. A via intravenosa 1318

assegura absorção total do fármaco injetado, reduzindo assim, as doses necessárias. A via 1319

intracelomática tem demonstrado efeito intermediário entre as vias IV e IM, na velocidade de 1320

absorção, o que pode ter feito com que os protocolos testados nos Caiman crocodilus 1321

apresentassem maior potência44,45

. 1322

Os animais dos grupos DO e DI obtiveram ação sedativa leve em até 10 e 15 1323

minutos, e recuperação aos 206 e 228 minutos, respectivamente. A aplicação de 40 mg/kg ou 1324

20 mg/kg de dextrocetamina, IM, em Podocnemis expansa e Caiman crocodilus, 1325

respectivamente, não aboliu o reflexo de endireitamento em nenhum dos exemplares e os 1326

períodos de latência ocorreram em 6,5 minutos para os testudíneos e 10,83 minutos para os 1327

crocodilianos20,28

. No presente estudo, a primeira avaliação realizada após a aplicação dos 1328

fármacos foi aos 10 minutos e, por isso, não se pode descartar que no grupo DO os efeitos 1329

sedativos tenham ocorrido antes desse período. 1330

O tempo de recuperação ocorreu em média aos 134 minutos no estudo com 1331

Podocnemis expansa e aos 115 minutos para Caiman crocodilus, intervalos inferiores aos dos 1332

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42

grupos DO e DI20,28

. Apesar de terem sido aplicadas doses maiores que a do presente estudo, a 1333

diferença no tempo de recuperação pode ter ocorrido em função de um menor valor de 1334

concentração máxima conseguido pela aplicação intramuscular, quando comparada às vias IV 1335

e IC, o que reduziu assim, o intervalo hábil do agente dissociativo. Entretanto, para se ter 1336

comprovação desta suposição seria necessária a realização de pesquisas farmacocinéticas da 1337

dextrocetamina pela via intramuscular. 1338

A aplicação de 20 mg/kg de dextrocetamina, IC, em serpentes, causou anestesia 1339

cirúrgica em 50% dos exemplares, com presença de analgesia e ausência do reflexo de 1340

endireitamento27

. Apesar de ter sido usado o dobro da dose do presente estudo, o período de 1341

latência para as serpentes foi um pouco superior, com 16,5 minutos, e a recuperação total 1342

ocorreu mais rapidamente, aos 171,5 minutos. A diferença de efeitos pode ter ocorrido pelo 1343

uso do dobro da dose do grupo DI. Contudo, a disparidade de intervalos de tempo reforça o 1344

consenso sobre não ser adequado extrapolar as doses entre as diferentes ordens de répteis e a 1345

necessidade de realizar estudos para determinação de doses específicas para cada espécie46

. 1346

A recuperação prolongada é uma das principais desvantagens citadas com o uso 1347

da cetamina em répteis que, em doses de até 40 mg/kg, pode chegar a 96 hs6. Na presente 1348

pesquisa, o grupo com tempo maior de recuperação foi o DMI, com retorno de exemplares ao 1349

estado basal em até 24 horas, o que foi considerado uma dificuldade para o emprego desse 1350

protocolo na rotina da clínica e cirurgia nessa espécie. Entretanto, os grupos DO e DI 1351

obtiveram recuperação total em até quatro horas e o grupo DMO em até seis horas, o que se 1352

avaliou como pertinente, dependendo da aplicação dos protocolos dentro da anestesiologia de 1353

répteis. 1354

Ao se aplicar 30 mg/kg de cetamina racêmica associada a 1 mg/kg de xilazina, 1355

IM, em exemplares do gênero Caiman, nos membros torácicos ou pélvicos, não se observou 1356

diferença significativa nos intervalos de tempo em relação ao sítio de aplicação. Houve maior 1357

uniformidade com a aplicação cranial, entretanto, também não há como afirmar que essa 1358

disparidade dentro dos grupos esteja totalmente relacionada ao sistema porta-renal23

. No 1359

presente estudo, ao se comparar os grupos DMO e DMC, nos quais foi empregada a via 1360

intravenosa em porção cranial ou caudal do corpo, respectivamente, também não se observou 1361

diferença entre efeitos ou duração de períodos. Todavia, a partir da avaliação das respostas 1362

individuais, também se obteve resultado mais uniforme dentro do grupo DMO, o que é 1363

confirmado pelo alto desvio padrão observado em DMC. 1364

As observações do presente trabalho denotam não haver importância clínica do 1365

sistema porta-renal para os efeitos da dextrocetamina associada ao midazolam. Uma das 1366

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justificativas para a não influência desse sistema seria a presença do estresse, que pode ter 1367

reduzido o fluxo renal ou mesmo o fato de ser fisiologicamente baixo o volume desviado, o 1368

que tornaria seu papel insignificante na excreção precoce de fármacos23,47

. 1369

Em contrapartida, um estudo com exemplares do gênero Crocodylus demonstrou 1370

diferença de efeitos com a aplicação de 0,5 mg/kg de medetomidina, IM, em membros 1371

torácicos em comparação com a injeção em membros pelvinos ou cauda. No primeiro sítio de 1372

deposição, todos os animais apresentaram ausência de reflexo de endireitamento, que esteve 1373

presente no uso das vias caudais36. A ocorrência dessas diferenças entre efeitos pode estar 1374

relacionada ao tipo de excreção renal dos fármacos, pois em iguanas, o desvio de sangue do 1375

sistema porta-renal atinge os rins ao nível das arteríolas eferentes e, assim, não alteraria a 1376

excreção de fármacos eliminados predominantemente por filtração glomerular. Não obstante, 1377

tal mecanismo ainda não foi totalmente elucidado em crocodilianos48

. 1378

Em trabalho com Alligator mississippiensis anestesiados com 15 mg/kg de 1379

tiletamina e zolazepam, IM, observou-se que nenhum animal perdeu o reflexo de 1380

endireitamento, com tempo de latência de 15 minutos e recuperação inferior aos grupos 1381

DMO, DMC e DMI, de 183,3 minutos7. Pelo fato de os exemplares de Caiman crocodilus 1382

terem apresentado resultados mais intensos e tempo de recuperação maior, supõe-se que tais 1383

divergências estariam ligadas à dose e à via empregadas no estudo com tiletamina e 1384

zolazepam. 1385

Ao se comparar o efeito de 2 mg/kg de midazolam associado a 20 ou 40 mg/kg de 1386

cetamina racêmica em Caiman crocodilus, observou-se tempo de latência de 7,5 e 5,85 1387

minutos e recuperação total de 450 e 550 minutos, respectivamente, valores próximos aos 1388

apresentados pelos grupos DMO e DMC. Porém, relatou-se que apenas dois animais 1389

apresentaram relaxamento muscular total e perda de reflexo de endireitamento, 1390

diferentemente dos exemplares dos dois grupos deste trabalho que obtiveram perda desse 1391

reflexo20

. A superioridade de efeito do presente estudo deve estar relacionada principalmente 1392

à via empregada, que permitiu um valor de concentração máxima maior, com aumento de 1393

intensidade de efeito. 1394

A diferença de efeitos entre exemplares que receberam o mesmo protocolo, no 1395

caso dos grupos DO e DMI, em que apenas metade dos animais alcançou a sedação profunda 1396

também foi relatado em outros trabalhos com répteis. Metade do grupo de serpentes que 1397

recebeu 20 mg/kg de dextrocetamina, IC, apresentou anestesia cirúrgica e nos demais 1398

exemplares observou-se apenas sedação leve27

. A aplicação de 30 mg/kg de cetamina 1399

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racêmica associada a 1 mg/kg de xilazina, IM, no membro pélvico de Caiman latirostris, 1400

aboliu o reflexo de endireitamento somente em 75% dos animais23

. Semelhantemente, apenas 1401

25% dos exemplares de Caiman crocodilus em que se aplicou a associação de 2 mg/kg de 1402

midazolam com 40 mg/kg de cetamina, IM, apresentou perda do reflexo de endireitamento20

. 1403

Apesar de serem frequentes os relatos de variações nos efeitos de fármacos dentro de um 1404

mesmo grupo de répteis, as razões dessas ocorrências ainda não foram totalmente 1405

esclarecidas49

. 1406

1407

5. CONCLUSÕES 1408

A partir dos resultados do presente estudo conclui-se que: 1409

- Os protocolos avaliados não alteram a frequência respiratória. 1410

- A dose de 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a 0,5 mg/kg de midazolam, 1411

administrados nos seios venosos occipital ou caudal, ou por via intracelomática, causam 1412

diminuição da frequência cardíaca. 1413

- A sedação com 10 mg/kg de dextrocetamina, IC, é indicada para procedimentos pouco ou 1414

não invasivos em jacarés-tinga. 1415

- A associação de 10 mg/kg de dextrocetamina com 0,5 mg/kg de midazolam promove 1416

sedação profunda em Caiman crocodilus. 1417

- Não há interferência do sistema porta-renal nos protocolos testados. 1418

- A aplicação cranial do fármaco promoveu efeitos mais uniformes. 1419

1420

AGRADECIMENTOS 1421

1422

Os autores agradecem ao Laboratório Cristália – Produtos Químicos 1423

Farmacêuticos Ltda pela doação das formas comerciais da dextrocetamina e do midazolam. 1424

1425

REFERÊNCIAS 1426

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1554

1555

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CAPÍTULO 3 - FARMACOCINÉTICA DA DEXTROCETAMINA ISOLADA OU 1556

ASSOCIADA AO MIDAZOLAM ADMINISTRADA PELAS VIAS INTRAVENOSA 1557

OU INTRACELOMÁTICA EM Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) 1558

(CROCODYLIA: ALLIGATORIDAE) 1559

1560

RESUMO 1561 Delineou-se a farmacocinética da dextrocetamina, isolada ou associada ao midazolam, pelas vias 1562 intravenosa (IV) ou intracelomática (IC) em Caiman crocodilus. Utilizaram-se oito animais que foram 1563 anestesiados com 10 mg/kg de dextrocetamina, injetada no seio venoso occipital (grupo DO); ou por 1564 via intracelomática (grupo DI); 10 mg/kg de dextrocetamina associada a 0,5 mg/kg de midazolam, nos 1565 seios venosos occipital (grupo DMO), caudal (grupo DMC) ou por via intracelomática (grupo DMI). 1566 Realizou-se a farmacocinética da dextrocetamina e do midazolam, por meio da técnica de 1567 cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) acoplada a um espectômetro de massas. A partir da 1568 CLAE conseguiu-se determinar os valores de concentração plasmática máxima, área sob a curva da 1569 concentração plasmática vs tempo, tempo para atingir a concentração plasmática máxima, meia-vida, 1570 constante e taxa de depuração, com presença de diferenças entre os grupos de acordo com a via e os 1571 fármacos administrados. Áreas sob a curva (ASC µg/mL.h) da dextrocetamina isolada: DO = 27,89 ± 1572 5,24 e DI = 29,65 ± 7,67; associada ao midazolam: DMO = 39,48 ± 11,13; DMC = 45,64 ± 11,19; 1573 DMI = 22,83 ± 10,08. ASC do midazolam: DMO = 1,69 ± 0,74; DMC = 0,64 ± 0,22 e DMI 0,79 ± 1574 0,85. 1575 PALAVRAS-CHAVE: anestésico dissociativo, benzodiazepínico, crocodilianos, cromatografia 1576 líquida, répteis, via extravascular. 1577 1578 1579 1580 PHARMACOKINETICS OF DEXTRO-KETAMINE ISOLATED OR ASSOCIATED WITH 1581

MIDAZOLAM ADMINISTERED VIA INTRAVENOUS OR INTRACOELOMIC ROUTES 1582

IN Caiman crocodilus LINNAEUS (1758) (CROCODYLIA: Alligatoridae) 1583

1584 ABSTRACT 1585

1586 The purpose of this study was to outline the pharmacokinetic profile of dextro-ketamine, isolated or 1587 associated with midazolam, administered via intravenous (IV) or intracoelomic (IC) routes in Caiman 1588 crocodilus. Eight young animals were anesthetized with 10 mg/kg of dextro-ketamine, injected into 1589 the occipital venosus sinus (DO group); or via intracoelomic (DI group); 10 mg/kg of dextro-ketamine 1590 associated with 0.5 mg/kg of midazolam applied to the occipital venous sinus (DMO group); or caudal 1591 venous sinous (DMC group); or via intracoelomic (DMI group). The pharmacokinetics of 1592 dextrocetamina and midazolam were performed by high performance liquid chromatography (HPLC) 1593 coupled with a mass spectrometry. From HPLC analyses we were able to determine the values of 1594 maximum concentration, the area under the curve, time to peak concentration, half-life, constant and 1595 clearance rate, which showed different values among groups according to the route and the drugs 1596 administered. The area under the curve (AUC µg/mL.h) of dextro-ketamine alone: AUCDO = 27.89 ± 1597 5.24; AUCDI = 29.65 ± 7.67, and dextro-ketamine associated with midazolam: AUCDMO = 39.48 ± 1598 11.13; AUCDMC = 45.64 ± 11.19; AUCDMI = 22.83 ± 10.08 and of midazolam AUCDMO = 1.69 ± 1599 0.74; AUCDMC = 0.64 ± 0.22 e AUCDMI 0.79 ± 0.85. 1600 Key words: dissociative anesthetic, benzodiazepine, crocodilians, liquid chromatography, reptiles, 1601 extravascular route. 1602

1603

1604

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1. INTRODUÇÃO 1605

1606

O atendimento de pacientes da ordem Crocodylia envolve exemplares de vida 1607

livre ou provenientes de cativeiro, sobretudo zoológicos e criatórios comerciais1. A casuística 1608

mais frequente na medicina de crocodilianos é a relacionada aos casos de trauma, por isso, a 1609

anestesia cirúrgica ou a contenção farmacológica são constantemente empregadas2. 1610

Mesmo com relatos do emprego da via intracelomática (IC) em répteis há pouco 1611

esclarecimento sobre o metabolismo dos fármacos aplicados nesse local3,4

. Porntanto, é 1612

importante a realização de estudos que avaliem a funcionalidade e, principalmente, a 1613

farmacocinética das substâncias administrados por tal via. 1614

Dentre as técnicas para avaliação do metabolismo de fármacos nos organismos, 1615

destaca-se a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), que permite a elaboração do 1616

perfil farmacocinético de diferentes princípios ativos5. Sendo assim, o emprego desse método 1617

na medicina de répteis é interessante para a determinação de doses e intervalos de 1618

administração. Adicionalmente, informações básicas sobre a absorção, distribuição, 1619

biotransformação e excreção podem ajudar a explicar os motivos da ocorrência de eventos 1620

metabólicos inesperados e esclarecer assuntos controversos ligados a esses animais, como por 1621

exemplo, o real papel do sistema porta no metabolismo dos diferentes fármacos. 1622

Estudos com a aplicação da CLAE foram realizados com crocodilianos para a 1623

determinação da farmacocinética de antibióticos, mas ainda não há informações do uso dessa 1624

técnica na avaliação de agentes anestésicos e sedativos6,7

. A dextrocetamina é um 1625

enantiômero que tem sido utilizado em substituição da forma de racemato em seres humanos 1626

pelas vantagens de menor ocorrência de efeitos adversos associada à analgesia mais efetiva e 1627

recuperação mais rápida8,9

. 1628

Em cães, a farmacocinética da dextrocetamina isolada apresentou valores de meia-1629

vida de eliminação (t1/2), área sob a curva de concentração plasmática vs tempo (ASC) e taxa 1630

de depuração (Cl) de 2,95 horas, 5,76 µg/mL.h e 1,83 L/kg.h, respectivamente. Tais 1631

parâmetros não diferiram significantemente quando se associou o midazolam com o 1632

dissociativo10

. 1633

Considerando os potenciais benefícios do emprego da dextrocetamina e a 1634

importância da obtenção de dados sobre o metabolismo dos anestésicos pelo uso da CLAE em 1635

répteis, neste trabalho objetivou-se avaliar o perfil farmacocinético da dextrocetamina, isolada 1636

ou associada ao midazolam, administrada pelas vias intravenosa, cranial ou caudal, ou por via 1637

intracelomática em Caiman crocodilus. 1638

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2. MATERIAL E MÉTODOS 1639

1640

O presente trabalho foi realizado conforme as orientações da Sociedade Brasileira 1641

de Ciência em Animais de Laboratório e após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética na 1642

Utilização de Animais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), protocolo 099/1111

. A 1643

captura dos animais foi realizada na região do município de São Miguel do Araguaia, Goiás, 1644

Brasil, mediante a licença nº 41298-1 do Sistema de Autorização e Informação em 1645

Biodiversidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 1646

Após a captura, os animais foram identificados por meio de brincos numerados 1647

(Modelo Top Tag, Allflex, Joinville, SC) na cauda e foram alojados no Laboratório de Ensino 1648

e Pesquisa de Animais Silvestres (LAPAS) da UFU, com período de adaptação de quatro 1649

meses. Os animais foram mantidos em um recinto de 4 x 2,5 m, composto de uma parte seca e 1650

uma divisão alagada e sua alimentação foi realizada três vezes por semana com oferecimento 1651

de rãs e pintinhos vivos12

. 1652

Oito exemplares jovens de Caiman crocodilus foram pesados (Balança MIC 200®

, 1653

Micheletti, São Paulo – SP) e o comprimento corporal total foi obtido por meio de uma trena 1654

(Magnética Pro®, Stanley, Uberaba – MG)

13. Dos animais selecionados dois foram machos e 1655

seis foram fêmeas, com valores médios de peso e comprimento corporal total de 6,93 kg, ± 1656

1,31 kg e 1,09 m, ± 0,06 m, respectivamente. 1657

A triagem dos animais utilizados na pesquisa foi feita a partir de observações 1658

externas, como condição corporal geral, estado de hidratação, locomoção, escore corporal e 1659

comportamento relacionado à alimentação, atividade e agressividade14

. Adicionalmente, uma 1660

semana antes da anestesia, foi colhida amostra de 1 mL de sangue no seio venoso occipital 1661

para avaliação do perfil bioquímico sanguíneo (albumina, creatinina, fosfatase alcalina, gama-1662

glutamil transferase, proteínas totais, aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, 1663

uréia e creatinina). As análises foram feitas pelo Laboratório Clínico Veterinário do Hospital 1664

Veterinária da UFU e comparadas com valores de referência publicados para o gênero 1665

Caiman14-16

. 1666

Todas as colheitas de sangue do presente estudo foram realizadas no seio venoso 1667

occipital, com a introdução da agulha em um ângulo de 90º, na linha mediana dorsal da 1668

primeira fileira de escamas transversais caudal ao osso occipital dos exemplares. 1669

1670

1671

1672

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2.1. Anestesia dos crocodilianos 1673

Foi realizado jejum alimentar de cinco a oito dias e jejum hídrico de 24 horas, 1674

quando os animais foram transferidos para a sala de anestesia. A temperatura (TA) e a 1675

umidade ambientes foram registradas por meio de um termo-higrômetro digital (Incoterm, 1676

Porto Alegre – RS) em intervalos de uma hora e se mantiveram entre 26 e 30 ºC (média 27,49 1677

± 1,15 ºC) para a temperatura e 66% para a umidade. 1678

A anestesia dos crocodilianos foi realizada nos meses de Janeiro a Março do ano 1679

de 2014 para diminuir a interferência da temperatura ambiente. Empregou-se o delineamento 1680

inteiramente casualizado a partir de um programa de randomização, mas se manteve a ordem 1681

da utilização dos exemplares para uniformizar o intervalo entre as anestesias17

. Cada exemplar 1682

foi anestesiado cinco vezes durante o experimento e o intervalo mínimo entre procedimentos 1683

foi de 15 dias, de forma que ocorresse a eliminação total do fármaco e se reduzisse a 1684

sobrecarga de estresse. 1685

Foram avaliados os seguintes protocolos: 1686

- Protocolo 1 (grupo DO): 10 mg/kg de dextrocetamina (Ketamin® 50 mg/mL, Cristália, 1687

Itapira - SP), aplicada em bolus no seio venoso occipital; 1688

- Protocolo 2 (grupo DI): 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicada em bolus pela via 1689

intracelomática; 1690

- Protocolo 3 (grupo DMO): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 1691

midazolam (Dormire® 5 mg/mL, Cristalia, Itapira – SP), aplicada na mesma seringa em bolus 1692

no seio venoso occipital; 1693

- Protocolo 4 (grupo DMC): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 1694

midazolam, aplicada na mesma seringa em bolus no seio venoso caudal; 1695

- Protocolo 5 (grupo DMI): Associação de 10 mg/kg de dextrocetamina e 0,5 mg/kg de 1696

midazolam, aplicada na mesma seringa em bolus pela via intracelomática; 1697

Os animais foram contidos com o auxílio de dois cambões e permaneceram com a 1698

boca fechada por esparadrapo (Cremer®, Cremer S/A, Blumenau – SC) durante todo o 1699

procedimento. Antes da injeção dos fármacos foi realizada a antissepsia local com álcool. 1700

A aplicação intravenosa no seio occipital foi realizada com a mesma técnica da 1701

colheita do sangue para avaliação bioquímica. Para a injeção no seio venoso caudal a agulha 1702

foi inserida em um ângulo de 45º com o dorso do animal, entre as fileiras de escamas 1703

imediatamente caudais ao sacro. Para a injeção intracelomática o acesso foi feito na região 1704

ventro-caudal do antímero esquerdo do animal, para se evitar a deposição de fármaco em 1705

tecido adiposo, ou mesmo no fígado14,18

. 1706

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Após a aplicação dos anestésicos, os animais permaneceram 48 horas na sala de 1707

anestesia, em um caixote de madeira com dimensões de 1,8 x 0,8 m para facilitar as colheitas 1708

de sangue e assegurar a recuperação completa dos exemplares. Após esse período os jacarés 1709

retornaram ao recinto e à convivência com os demais crocodilianos. 1710

1711

2.2. Farmacocinética 1712

As análises farmacocinéticas foram realizadas no Laboratório de Nanotecnologia 1713

Farmacêutica e Sistemas de Liberação Controlada de Fármacos, da Faculdade de Farmácia, da 1714

Universidade Federal de Goiás. 1715

Vinte e quatro horas antes da anestesia dos exemplares, amostras de 1 mL de 1716

sangue foram colhidas no seio venoso occipital para a realização da farmacocinética e 1717

constatação da ausência dos agentes anestésicos no sangue desses animais. O intervalo 1718

utilizado foi determinado também para evitar o extravasamento de anestésico por perfuração 1719

prévia para a coleta de sangue, no caso dos protocolos em que a deposição do fármaco foi 1720

realizada no seio venoso occipital. 1721

Durante a avaliação dos protocolos propostos, a mesma quantidade de sangue foi 1722

colhida, no seio venoso occipital, para análise farmacocinética nos tempos 15, 30, 60, 120, 1723

240, 480, 720, 1440 e 2880 minutos após a aplicação anestésica (t15, t30, t60, t120, t240, 1724

t480, t720, t1440 e t2880, respectivamente). 1725

As amostragens sanguíneas foram acondicionadas em tubos estéreis para coleta de 1726

sangue de 10 mL (Labor Import, Osasco – SP), contento uma gota de heparina sódica 1727

(Hepamax-S® 5.000 U.I/mL, Blau Farmacêutica, Cotia – SP) e imediatamente centrifugadas 1728

(Modelo Combate, Celm, São Caetano – SP), a 3500 rpm por 4 minutos. Após a separação do 1729

plasma, esse foi pipetado e estocado em tubos do tipo eppendorf (Labmais Ltda, Curitiba – 1730

PR), mantidos congelados em temperatura de - 80 ºC (Thermo Fisher Scientific, Waltham – 1731

MA, Estados Unidos) até a realização das análises cromatográficas. 1732

Empregou-se a xilazina (Agener União, Pouso Algre – MG) como padrão interno 1733

(PI) para monitorar a precisão das técnicas. Os fármacos cetamina, midazolam e xilazina, na 1734

concentração 1000 ng/mL, foram infundidos automaticamente por meio de uma bomba de 1735

infusão (Modelo 11 plus, Harvard Apparatus, Holliston – MA, Estados Unidos) a um fluxo de 1736

10 μL/min em um espectrômetro de massas (Modelo API 3200, Sciex, Thornhill – ON, 1737

Canadá) com ionização a pressão atmosférica, triplo quadrupolo equipado com fonte 1738

electrospray. 1739

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Após a infusão, foi realizada a otimização da fonte de ionização e determinou-se a 1740

monitoração das transições de acordo com a massa molecular de cada princípio ativo 1741

utilizado: 238,1/220,0; 326,1/291,0 e 221,0/90,0; para cetamina, midazolam e PI, 1742

respectivamente. 1743

Antes do preparo das amostras, estas foram mantidas em repouso a 25 ºC, durante 1744

30 minutos para o descongelamento. A cetamina, o midazolam e o PI foram extraídos do 1745

plasma por meio de uma solução contendo metilterc-butil-éter (MTBE) (J. T. Baker, 1746

Hernando – FL, Estados Unidos) : diclorometano (Scharlau, Barcelona – CT, Espanha) para 1747

extração líquido-líquido (LLE) realizada em eppendof de 1500 μL (Labmais Ltda, Curitiba – 1748

PR). 1749

Para o preparo das amostras, foram utilizados pipetadores automáticos (Brand, 1750

Wertheim – BW, Alemanha), a partir dos quais foram adicionados 125 μL de plasma e 25 μL 1751

de xilazina na concentração de 2000 ng/mL em acetonitrila grau CLAE (ACN) (J. T. Baker, 1752

Hernando – FL, Estados Unidos), 25 μL de hidróxido de sódio 0,1 mol/L (Hexis, Jundiaí – 1753

SP) e, subsequentemente, 1000 μL de MTBE : diclorometano (80:20 v/v). 1754

As amostras foram homogenizadas em vórtex (Modelo AP56, Phoenix Luferco, 1755

Araraquara – SP) por 1 minuto e centrifugadas (MiniSpin® plus, Eppendorf, São Paulo – SP) 1756

durante 5 minutos em velocidade de 10.000 rpm. Posteriormente, 80% do volume do 1757

sobrenadante foi transferido para um tubo de ensaio, para passar por secagem sob uma 1758

corrente suave de ar comprimido de temperatura 40 °C. O resíduo então foi reconstituído em 1759

300 μL de solvente de ACN : água (1:1, v/v), sob agitação em vórtex durante 30 segundos e 1760

transferido para vial com insert (Nova Analítica, São Paulo – SP), para análise pela técnica de 1761

CLAE acoplada a um espectrômetro de massas (CLAE – MS/MS). 1762

O método para quantificação dos fármacos em CLAE foi desenvolvido, baseado 1763

na literatura, no qual foram utilizadas condições cromatográficas com colunas de fase reversa 1764

e detecção por espectrometria de massas19

. 1765

O sistema era composto de um cromatógrafo, bomba binária e amostrador 1766

automático. A cromatografia foi realizada utilizando uma coluna C18 (150 x 3,0mm, 5μm). A 1767

fase móvel consistia em uma mistura de acetonitrila e água com acetato de amônio 2 mM + 1768

0,025% de ácido fórmico (70:30, v/v), utilizando um fluxo de 0,5 mL/min e volume de 1769

injeção de 10 μL com forno a temperatura de 30 °C. 1770

Após a quantificação dos princípios ativos no plasma, foram determinados os 1771

parâmetros farmacocinéticos de concentração plasmática máxima (Cmax) (µg/mL), ASC 1772

(µg/mL.h), tempo para atingir Cmax (tmax) (min), 1/2t (h), constante de eliminação k (h-1), 1773

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Cl (mL/kg.min). Tais valores foram determinados a partir do software Phoenix WinNonlin 1774

versão 6.3 (Pharsight, Saint Luis – MO, Estados Unidos), com base em modelo não 1775

compartimental. 1776

1777

2.3. Análise estatística 1778

A estatística foi realizada por meio do programa Biostat 5.0 (UFPR, Curitiba - 1779

PR) e para a confecção dos gráficos foi utilizado o programa SigmaPlot 12.1 (Systat 1780

Software, San Jose – CA, Estados Unidos). 1781

Para comparar valores dos parâmetros farmacocinéticos entre os grupos, 1782

empregou-se o teste de Shapiro-Wilk na averiguação do padrão de distribuição dos dados. 1783

Com exceção do tmax, os demais parâmetros apresentaram valores paramétricos e foram 1784

submetidos à análise de variância (ANOVA). Posteriormente, para determinar diferenças 1785

estatísticas significativas entre médias, aplicou-se o teste de Tukey com 5% de significância. 1786

Os valores de tmax apresentaram distribuição não paramétrica e foram 1787

comparados a partir do teste de Kruskal-Wallis, sendo que quando houve diferença 1788

estatisticamente significativa, foram submetidos ao teste de Student-Newman-Keuls, também 1789

com nível de significância de 5%20

. 1790

1791

3. RESULTADOS 1792

1793

O intervalo mínimo de 15 dias entre a utilização do mesmo exemplar foi 1794

suficiente para a eliminação completa da dextrocetamina e do midazolam do plasma 1795

sanguíneo dos exemplares, como comprovado pelas análises farmacocinéticas. 1796

Diante da escassez de informações sobre o metabolismo de fármacos e a ausência 1797

de ensaios sobre a farmacocinética de anestésicos em crocodilianos, optou-se por calcular os 1798

parâmetros farmacocinéticos com base em um modelo não-compartimental. Tal escolha visou 1799

evitar a extrapolação de dados e anular resultados tendenciosos. 1800

1801

3.1. Farmacocinética da dextrocetamina 1802

Observou-se que as curvas de concentração da dextrocetamina no plasma 1803

sanguíneo dos jacarés nos grupos DI e DMI apresentaram início crescente, diferentemente dos 1804

demais protocolos em que as curvas seguiram uma tendência decrescente (FIGURA 1). Em 1805

nenhum dos animais foram detectados os princípios ativos no plasma após 48 horas da 1806

aplicação dos fármacos. 1807

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1808

1809

1810

FIGURA 1 – Médias da concentração plasmática (µg/mL) vs tempo (minutos), de 10 1811 mg/kg de dextrocetamina isolada, aplicada no seio occipital (DO) e por via 1812

intracelomática (DI), ou em associação com 0,5 mg/kg de midazolam, 1813 administrados nos seios venosos occipital (DMO) e caudal (DMC) ou por 1814

via intracelomática (DMI), em exemplares de Caiman crocodilus. (n = 1815 número de exemplares). 1816

1817

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Na TABELA 1 estão dispostos os valores de concentração plasmática máxima, 1818

área sob a curva de concentração plasmática vs tempo, tempo para atingir Cmax, meia-vida, 1819

constante e taxa de depuração da dextrocetamina nos cinco protocolos avaliados. 1820

1821

TABELA 1 – Parâmetros farmacocinéticos da dextrocetamina em exemplares de Caiman 1822

crocodilus sedados com 10 mg/kg de dextrocetamina, isolada ou associada a 1823 0,5 mg/kg de midazolam. 1824

DO (n=8)

DI (n=8)

DMO (n=8)

DMC (n=8)

DMI (n=8)

Cmax(µg/mL) 8,96 ± 3,50a 4,37 ± 0,51

bc 7,34 ± 3,52

ab 4,94 ± 0,63

bc 3,47 ± 1,67

c

ASC (µg/mL.h) 27,89 ± 5,24ad

29,65 ± 7,67ab

39,48 ± 11,13cb

45,64 ± 11,19c

22,83 ± 10,08ad

tmax(min) 16,88 ± 5,30a

63,75 ± 46,58b

18,75 ± 6,94a

19,29 ± 7,32a

73,13 ± 42,00b

t1/2 (h) 5,98 ± 2,71a

6,85 ± 2,82a

13,30 ± 5,45b

12,29 ± 2,91b

8,70 ± 3,37a

k (h-1

) 0,22 ± 0,06a

0,19 ± 0,07a

0,10 ± 0,05a

0,10 ± 0,02a

0,15 ± 0,06a

Cl (mL/kg.min) 0,37 ± 0,07ab

0,36 ± 0,08ab

0,28 ± 0,09a

0,24 ± 0,08a

0,53 ± 0,26b

Cmax - concentração plasmática máxima; AUC - área sob a curva de concentração plasmática vs tempo; tmax - 1825 tempo para atingir Cmax; t1/2 – meia-vida; k – constante; Cl – taxa de depuração; DI: dextrocetamina isolada por 1826 via intracelomática. DMC: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. DMI: 1827 dextrocetamina associada ao midazolam aplicados por via intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao 1828 midazolam aplicados no seio venoso occipital. DO: dextrocetamina isolada aplicada no seio venoso occipital. n: 1829 número do exemplares. 1830 a,b,c,d – Parâmetros com letras diferentes na mesma linha indicam médias com diferença estatística. 1831 1832

O tmax apresentou distribuição não paramétrica, com valores de mediana, mínimo 1833

e máximo, respectivamente, de: grupo DO = 15 minutos (15-30 minutos); grupo DI = 30 1834

minutos (30-120 minutos); grupo DMO 15 minutos (15-30 minutos); grupo DMC = 15 (15-30 1835

minutos); grupo DMI 60 minutos (15- 120 minutos). 1836

A Cmax foi superior no grupo DO em relação aos grupos DI, DMC e DMI e no 1837

grupo DMO em comparação com o grupo DMI. Entre os demais grupos não houve diferenças 1838

significativas. 1839

As médias da ASC foram significantemente maiores no grupo DMC em 1840

comparação com os grupos DO, DI e DMI, e no grupo DMO em relação aos grupos DO e 1841

DMI. O tmax nos grupos DI e DMI foi estatisticamente maior quando comparado aos grupos 1842

DO, DMO e DMC. 1843

Nos grupos DO, DI e DMI a t1/2 foi menor do que nos grupos DMO e DMC. Por 1844

outro lado, não houve diferença estatística entre as médias de k da dextrocetamina entre os 1845

grupos avaliados. Para o Cl, os valores foram maiores em DMI em comparação com DO e 1846

DMO, e no grupo DO em comparação com DMO. 1847

1848

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3.2. Farmacocinética do midazolam 1849

As curvas de concentração plasmática do midazolam de acordo com o tempo 1850

decorrido estão representadas na FIGURA 2. Assim como ocorreu com a dextrocetamina, as 1851

curvas do fármaco administrado IV mostraram um padrão descendente. Ao contrário, por via 1852

intracelomática a curva apresentou ascensão no início, que depois decresceu. 1853

1854

1855

1856

FIGURA 2 - Médias da concentração (µg/mL) vs tempo (minutos), de 0,5 mg/kg de 1857

midazolam associado a 10 mg/kg de dextrocetamina, aplicado nos seios 1858

venosos occipital (DMO) e caudal (DMC), ou por via intracelomática 1859

(DMI) no plasma de Caiman crocodilus. (n = número de exemplares). 1860

1861

Os parâmetros farmacocinéticos de Cmax, ASC, tmax, t1/2, k e Cl do midazolam 1862

aplicado concomitantemente com a dextrocetamina nos grupos DMO, DMC e DMI estão 1863

dispostos na TABELA 2. 1864

O tmax apresentou distribuição não paramétrica, com valores de mediana, mínimo 1865

e máximo, respectivamente, de: grupo DMO = 15 minutos (15-30 minutos); grupo DMC = 15 1866

(15-30 minutos); grupo DMI 60 minutos (15- 120 minutos). 1867

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As médias para os parâmetros de Cmax e ASC foram maiores no DMO em 1868

relação aos grupos DMC e DMI. Observou-se valores significantemente superiores de tmax 1869

para o grupo DMI ao se comparar com os grupos DMO e DMC. 1870

A t1/2 do grupo DMI foi estatisticamente maior que o grupo DMC. Assim como 1871

ocorreu para os parâmetros farmacocinéticos da dextrocetamina, não houve diferença 1872

estatística entre os grupos para a constante do midazolam. 1873

No que se refere à Cl, o grupo DMO apresentou valor estatisticamente menor do 1874

que o grupo DMI. 1875

1876

TABELA 2 – Parâmetros farmacocinéticos do midazolam em Caiman crocodilus, na dose de 1877 0,5 mg/kg, aplicado concomitantemente com 10 mg/kg de dextrocetamina no 1878

seio venoso occipital (DMO), seio venoso caudal (DMC) ou por via 1879 intracelomática (DMI) 1880

DMO (n=8)

DMC (n=8)

DMI (n=8)

Cmax(µg/ml) 0,57 ± 0,24a

0,22 ± 0,07b

0,21 ± 0,13b

ASC (µg/ml.h) 1,69 ± 0,74a

0,64 ± 0,22b

0,79 ± 0,85b

tmax(min) 16,88 ± 5,30a

17,50 ± 5,18a

75,00 ± 41,66b

t1/2 (h) 5,10 ± 2,81ab

3,60 ± 1,68a

9,86 ± 7,10b

K (h-1

) 0,32 ± 0,25a

0,39 ± 0,14a

0,22 ± 0,20a

Cl (ml/kg.min) 0,38 ± 0,22a

0,89 ± 0,30ab

1,33 ± 0,78b

Cmax - concentração plasmática máxima; AUC - área sob a curva de concentração plasmática vs tempo; tmax - 1881 tempo para atingir Cmax; t1/2 – meia-vida; k– constante; Cl – taxa de depuração; DMC: dextrocetamina associada 1882 ao midazolam aplicados no seio venoso caudal. DMI: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados por via 1883 intracelomática. DMO: dextrocetamina associada ao midazolam aplicados no seio venoso occipital. n – número 1884 do exemplares. 1885 a,b – Parâmetros com letras diferentes na mesma linha indicam médias com diferença estatística. 1886 1887

4. DISCUSSÃO 1888

1889

Até o presente momento, é de desconhecimento dos autores do presente trabalho, 1890

o desenvolvimento prévio de pesquisas com a farmacocinética de agentes anestésicos ou 1891

sedativos e da aplicação intracelomática em répteis. A escolha pelo modelo não 1892

compartimental objetivou suprimir afirmações forçadas, uma vez que não há estudos prévios 1893

sobre informações in vivo ou in vitro que correlacionem a farmacocinética da dextrocetamina 1894

e do midazolam em crocodilianos. A análise dos dados a partir de experiências em mamíferos 1895

pode gerar dados não confiáveis, uma vez que mesmo dentro da classe Mammalia, há relatos 1896

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59

de diferenças de distribuição compartimental de acordo com as espécies, o estado de saúde e o 1897

tipo de técnica empregada21

. 1898

Para a avaliação da farmacocinética da enrofloxacina em Alligator 1899

mississippiensis também se empregou o modelo não compartimental para a administração 1900

oral. Contudo, no caso da aplicação intravenosa, foi utilizado o modelo bicompartimental, 1901

uma vez que outros trabalhos com esse antibiótico, também envolvendo répteis, haviam 1902

relatado esse padrão7. No presente estudo, apesar de os trabalhos com farmacocinética do 1903

midazolam e da cetamina por via intravenosa em mamíferos empregarem o modelo 1904

bicompartimental, optou-se pelo modelo não compartimental porque não há estudos da 1905

farmacocinética da cetamina racêmica, da dextrocetamina ou do midazolam em répteis e, 1906

assim, preferiu-se evitar resultados tendenciosos10,22

. 1907

Ao se comparar os Cmax da dextrocetamina e do midazolam entre os grupos 1908

DMC, DI e DMI, constatou-se que a absorção pela via intracelomática desses agentes 1909

anestésicos é alta, alcançando valores semelhantes aos da via intravascular, o que torna esse 1910

acesso interessante em pesquisas como uma via alternativa para a aplicação de substâncias. 1911

Pelo fato de não ter sido feita avaliação com a aplicação isolada do midazolam em 1912

Caiman crocodilus, a farmacocinética desse benzodiazepínico não foi comparada com outros 1913

trabalhos, mas os dados foram utilizados para a comparação dos resultados farmacocinéticos 1914

entre os diferentes protocolos. 1915

A partir do conceito de que 10% do fármaco é remanescente quando todo ele foi 1916

eliminado do organismo, seriam necessárias 3,32 meias-vidas para tal ocorrência5. Dessa 1917

forma, observou-se que em 48 horas não havia resquícios dos fármacos no sangue dos 1918

crocodilianos, o que coincide com o intervalo de eliminação total dos mesmos quanto ao 1919

número de t1/2. 1920

Em estudo sobre farmacocinética da dextrocetamina em cães, utilizaram-se 1921

diferentes vias para injeção do fármaco e colheita de sangue com o intuito de evitar uma 1922

possível contaminação das amostras nas análises farmacocinéticas10

. No presente estudo, 1923

assim como em outros trabalhos de farmacocinética em crocodilianos, foi empregado o 1924

mesmo local para deposição dos fármacos e colheitas sanguíneas, no caso dos protocolos em 1925

que a aplicação ocorreu no seio venoso occipital (grupos DO e DMO), devido à dificuldade 1926

do acesso venoso nesses animais6,7

. Realizaram-se tentativas de colheita sanguínea no seio 1927

venoso caudal nos protocolos DO e DMO, ou na veia caudal para todos os protocolos durante 1928

a realização dos pilotos, mas conforme se repetiam as punções, o acesso venoso era 1929

inviabilizado em tais locais e, por isso, foram descartados. 1930

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Para os fármacos aplicados IV se observou que os valores de concentração 1931

máxima (Cmax) da dextrocetamina e do midazolam ocorreram no primeiro intervalo de 1932

colheita o que era esperado, uma vez que por essa via não há a fase de absorção do princípio 1933

ativo e, assim, os fármacos tendem a apresentar uma curva decrescente5. 1934

Nos grupos DO e DMO as Cmax foram semelhantes e, no caso do grupo DO, a 1935

Cmax foi significativamente maior que a os grupos DI, DMI e DMC. Apesar de não ter sido 1936

contatada diferença estatística na Cmax entre o grupo DMO e os grupos DI e DMC, o 1937

primeiro apresentou médias maiores do que os outros grupos. Os maiores valores observados 1938

nos grupos DO e DMO em relação ao grupo DMC podem ter sido ocasionados por 1939

represamento do fármaco injetado no local, uma vez que foi o mesmo ponto em que foram 1940

colhidas as amostras23

. 1941

Para o midazolam, o grupo DMO apresentou Cmax significativamente superior à 1942

dos grupos DMC e DMI, o que também pode estar relacionado ao represamento do fármaco 1943

no local de aplicação, no primeiro caso e ao processo de absorção do fármaco no segundo5,23

. 1944

O fato do tmax e da t1/2 terem sido maiores em DI e DMI para dextrocetamina e 1945

para o midazolam em relação aos demais grupos era esperado. Isso pelo fato de que nesses 1946

dois grupos o fármaco foi aplicado em via extravascular, o que impôs a necessidade de sua 1947

absorção para corrente sanguínea e, consequentemente, prolongou o tempo para que 1948

atingissem a Cmax e também para que ela decaísse pela metade5. 1949

Não houve diferença estatística entre os grupos DI e DMI para nenhum dos 1950

parâmetros farmacocinéticos avaliados, observação também relatada com a comparação de 1951

protocolos de dextrocetamina isolada ou associada ao midazolam, por via intravenosa em 1952

cães10

. Isso pode estar relacionado com a propriedade da dextrocetamina de se ligar em baixa 1953

proporção às proteínas no plasma, o que diminuiria a presença de alterações em sua 1954

farmacocinética com a associação a outras substâncias24,25

. 1955

A ausência de interferência do midazolam na farmacocinética da dextrocetamina 1956

também pode estar relacionada à diferença nas isoformas participantes da biotransformação 1957

desses dois fármacos. Apesar de ambos serem biotransformados principalmente no fígado 1958

pelas enzimas do complexo CYP450, em humanos, a dextrocetamina é metabolizada 1959

primariamente pela isoforma CYP2B6, em contrapartida, a oxidação do midazolam tem como 1960

isoenzima principal o CYP3A, com contribuição da isoforma CYP2C1126,27

. 1961

Por outro lado, a administração conjunta de midazolam e dextrocetamina se 1962

diferenciou do uso isolado do dissociativo nos grupos DO e DMO para os parâmetros de ASC 1963

e t1/2, com valores menores no grupo DO. Como a curva de concentração máxima e o tempo 1964

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para atingí-la não diferiram de forma significativa, supõe-se que tais diferenças estejam 1965

correlacionadas a uma biotransformação e excreção mais rápida da dextrocetamina aplicada 1966

isoladamente o que, apesar de não ter apresentado diferença estatística, refletiu em uma média 1967

de Cl maior em DO. 1968

O antagonismo sobre a interferência ou não do midazolam na farmacocinética da 1969

dextrocetamina reforça a necessidade de intensificar as pesquisas sobre mecanismos 1970

fisiológicos básicos dos répteis, principalmente em relação às vias metabólicas. No entanto, a 1971

partir dos resultados do presente estudo conseguiu-se inferir que a interferência do 1972

benzodiazepínico na farmacocinética do dissociativo não ocorre durante os processos de 1973

absorção e distribuição, mas, caso exista, se relaciona às vias de redistribuição, 1974

biotransformação ou excreção. 1975

Apesar do cálculo da biodisponibilidade não ter sido viável na pesquisa em 1976

questão, assim como no estudo sobre a farmacocinética de oxitetraciclina em Alligator 1977

mississippiensis, há uma proporção direta desse parâmetro com a ASC e, assim, pode-se 1978

estimar uma menor ou maior biodisponibilidade dos fármacos6. No presente estudo, 1979

observou-se que os grupos DMO e DMC apresentaram maiores valores para esse parâmetro 1980

quando comparados ao restante, mesmo com o grupo DMO não obtendo diferença estatística 1981

de DMI. Tais resultados provavelmente refletem o fato de que nesses dois grupos a aplicação 1982

ocorreu por via intravenosa e a associação com o midazolam pode ter retardado a 1983

redistribuição, biotransformação ou excreção da dextrocetamina, o que justifica a maior 1984

biodisponibilidade ao se comparar com o grupo DO. O grupo DMO apresentou valor de ASC 1985

para o midazolam superior aos DMC e DMI, o que foi um reflexo da menor taxa de 1986

depuração nesse grupo e de um Cmax superior. 1987

No que se refere à diferença entre aplicação da dextrocetamina na região cranial 1988

ou caudal do animal, os grupos DMO e DMC não apresentaram diferenças estatísticas entre 1989

os parâmetros farmacocinéticos avaliados. Isso denota que a presença do sistema porta-renal 1990

pode não ter importância na farmacocinética desse dissociativo, que pode ter sua excreção 1991

realizada em região extra-tubular renal28

. 1992

O valor de Cmax para o midazolam no grupo DMO foi significantemente maior 1993

do que em DMC, o que denota a possibilidade de interferência do sistema porta-renal. Essa 1994

constatação também foi realizada em trabalho com testudíneos que descreveu superioridade 1995

no Cmax da buprenorfina aplicada por via intramuscular no membro torácico quando 1996

comparada ao membro pélvico, o que foi correlacionado a um efeito de primeira passagem29

. 1997

Entretanto, pela possível interferência da contaminação do local de colheita no caso do DMO, 1998

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62

sugere-se a realização de novas pesquisas acerca da importância do sistema porta-renal no 1999

metabolismo do midazolam em crocodilianos. 2000

2001

2002

5. CONCLUSÕES 2003

2004

A partir do presente trabalho conclui-se que: 2005

- a técnica de CLAE acoplada a um espectômetro de massas possibilitou quantificar os níveis 2006

plasmáticos da dextrocetamina e do midazolam em plasma de Caiman crocodilus; 2007

- há diferenças farmacocinéticas de acordo com as vias de administração intravenosa e 2008

intracelomática, com intervalo de tempo para atingir o valor de contração plasmáticas menor 2009

em aplicações IV; 2010

- o sistema porta-renal não influencia na farmacocinética da dextrocetamina em relação à sua 2011

administração intravenosa cranial ou caudal; 2012

2013 AGRADECIMENTOS 2014

2015

Os autores agradem ao Laboratório Cristália – Produtos Químicos Farmacêuticos 2016

Ltda pela doação das formas comerciais da dextrocetamina e do midazolam, assim como de 2017

seus padrões secundários utilizados na padronização do método farmacocinético. 2018

2019

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66

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 1

2

Em relação à praticidade e conforto das vias de administração avaliadas, a 3

aplicação intracelomática é mais simples e causou menos desconforto aos animais. Entretanto, 4

indica-se somente a administração da dextrocetamina isolada por tal acesso, uma vez que sua 5

associação com o midazolam apresentou efeitos variáveis e inesperados. 6

Uma vez que os animais mantiveram o reflexo palpebral e corneal, assim como a 7

resposta ao estímulo nociceptivo em escore 1 durante todo o período de avaliação, 8

considerou-se que não houve anestesia cirúrgica com o emprego de nenhum dos protocolos do 9

presente estudo. Entretanto, recomenda-se a execução de novas pesquisas que envolvam a 10

associação dos anestésicos utilizados com fármacos que promovam analgesia, como os 11

opioides. 12

Indica-se o protocolo DI para contenção química em procedimentos pouco 13

invasivos ou durante o transporte, pela uniformidade de respostas e facilidade de aplicação do 14

fármaco. Dentre os grupos em que se associou à dextrocetamina e o midazolam, o grupo 15

DMO demonstrou maior regularidade nos efeitos e os animais apresentaram sedação profunda 16

com possibilidade de intubação orotraqueal para manutenção de anestesia volátil, uma vez 17

que esse procedimento é considerado de alto risco para a realização com contenção física, até 18

mesmo em pequenos exemplares. 19

A técnica de CLAE acoplada a espectometria de massas demonstrou ser de grande 20

valia para a determinação da concentração plasmática da dextrocetamina e midazolam em 21

crocodilianos, sobretudo no melhor entendimento das causas de variações de efeitos 22

anestésicos entre exemplares da mesma espécie. Foi observado que nos protocolos avaliados, 23

tais ocorrências estão ligadas a uma reação individual do exemplar frente ao fármaco, mais do 24

que ao metabolismo dos princípios ativos propriamente ditos, embora estudos mais 25

aprofundados nesse assunto, principalmente em relação aos tipos de neurorreceptores 26

envolvidos nos efeitos anestésicos em crocodilianos devem ser realizados. 27

A partir da análise dos efeitos e da farmacocinética dos protocolos conseguiu-se 28

determinar que diferentemente do que se observou em estudos com mamíferos, o midazolam 29

interferiu na farmacocinética da dextrocetamina por via intravenosa. 30

31

4.1 Particularidades dos efeitos versus farmacocinética da dextrocetamina 32

Realizaram-se algumas análises estatísticas para avaliar as diferenças 33

farmacocinéticas em relação à duração e intensidade observadas dentro dos grupos. Para os 34

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grupos DMO, DMC e DI não foram feitas análises, uma vez que ambos apresentaram 35

respostas uniformes entre seus exemplares. 36

No grupo DO, comparou-se a farmacocinética dos exemplares que apresentaram 37

sedação leve com os que atingiram a sedação profunda. Não houve diferença estatística para 38

nenhum dos padrões farmacocinéticos avaliados de Cmax, AUC, tmax, 1/2t, k e Cl. 39

No grupo DMI, detectou-se presença dos fármacos no plasma sanguíneo do 40

exemplar que não apresentou nenhum efeito após a injeção da dextrocetamina e do 41

midazolam. Os valores de seus parâmetros farmacocinéticos para Cmax, ASC, tmax, t1/2, k e 42

Cl da dextrocetamina foram, respectivamente, 2,83 µg/mL, 13,4 µg/mL.h, 60 min, 4,6 h, 0,25 43

h-1

e 0,75 mL/kg.min. Para o midazolam foi detectado Cmax de 0,52 µg/mL, ASC de 0,22 44

µg/mL.h, tmax de 30 min, t1/2 de 11,07 h, k de 0,10 h-1

e Cl de 2,23 mL/kg.min.Tais 45

observações indicam que a ausência de efeito sedativo nesse exemplar deve estar mais 46

relacionado a alterações particulares do animal frente aos fármacos empregados e talvez 47

teriam que ser usadas doses maiores. 48

Também foi realizada a comparação estatística dos parâmetros farmacocinéticos 49

entre os animais que apresentaram sedação leve com os que obtiveram sedação profunda em 50

DMI e não houve diferença estatística para nenhum dos parâmetros da dextrocetamina ou do 51

midazolam. 52

53

54

55

56

57

58

59

60

61

62

63

64

65

66

67

68

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68

ANEXO A - FIGURAS ADICIONAIS DA TESE 69

70

71

FIGURA 1 – Foto ilustrativa do recinto de 72 alojamento de Caiman crocodilus no LAPAS – 73

UFU. 74 75

76

FIGURA 2 – Foto ilustrativa da pesagem de 77 exemplar de Caiman crocodilus. 78

79

80

FIGURA 3 – Foto ilustrativa da biometria de comprimento corporal total (A) e 81

comprimento rostro-cloacal (B) de Caiman crocodilus. 82

A B

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69

83

FIGURA 4 – Foto ilustrativa de acesso nos seios venosos occipital (A) e caudal (B) de 84 Caiman crocodilus. 85

86

87

FIGURA 5 – Foto ilustrativa da 88

administração de fármacos em exemplar de 89 Caiman crocodilus por via intracelomática. 90

91

92

FIGURA 6 – Foto ilustrativa da 93 monitoração da frequência cardíaca de 94

Caiman crocodilus por meio de doppler 95 vascular. 96

B A

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97 FIGURA 7 – Foto ilustrativa do posicionamento de 98

eletrodos do tipo “jacaré” em Caiman crocodilus para 99 avaliação eletrocardiográfica. 100

101

102

FIGURA 8 – Foto ilustrativa da aferição de 103 temperatura corporal de Caiman crocodilus 104

por meio de termômetro digital. 105 106

107

FIGURA 9 – Foto ilustrativa do aparelho de 108

cromatografia líquida de alta eficiência 109 empregado na farmacocinética do estudo. 110

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ANEXO B – Gráficos de concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) 111

ou horas (h) da dextrocetamina isolada, ou associada ao midazolam, admisnitrada pelas 112

vias intravenosa ou intracelomática em Caiman crocodilus 113

114

115

116

117

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118

FIGURA 1C – Gráficos da concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) ou 119

horas (h), da Caiman crocodilus anestesiados com dextrocetamina aplicada 120 no seio venoso occipital. 121

122 123

124 125

126 127 128

129

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130 131

132 133

FIGURA 2C – Gráficos da concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) ou 134 horas (h), da Caiman crocodilus anestesiados com dextrocetamina aplicada 135

por via intracelomática. 136 137

138 139

140 141

142 143

Dextrocetamina Midazolam

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144

145 146

147 148

149

150 151 152

153 154

155

156 157

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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158 159

160 161

162

163 164

165 166

167 168

169 170

171

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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172 FIGURA 3C – Gráficos da concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) ou 173

horas (h), da Caiman crocodilus anestesiados com dextrocetamina associada 174

ao midazolam, aplicados no seio venoso occipital. 175 176

177 178

179 180

181 182

183 184

185

186

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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187 188 189

190 191

192

193 194

195 196

197 198

199 200

201

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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202 203 204

205

206 207 208

209 210

FIGURA 4C – Gráficos da concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) ou 211 horas (h), da Caiman crocodilus anestesiados com dextrocetamina associada 212

ao midazolam, aplicados no seio venoso caudal. 213 214

215

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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216 217 218

219 220

221

222 223

224 225

226

227 228

229

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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230 231

232 233

234 235

236 237

238 239

240 241

242 243

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam

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244 245

246 247 FIGURA 5C – Gráficos da concentração plasmática (µg/mL) pelo tempo, em minutos (m) ou 248

horas (h), da Caiman crocodilus anestesiados com dextrocetamina associada 249 ao midazolam, por via intracelomática. 250

Dextrocetamina Midazolam

Dextrocetamina Midazolam