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Ramiro Moura Tavares Tyszka
Relatório de Estágio Curricular Realizado na Foz Tropicana, Parque das Aves
(Foz do Iguaçu/PR) e no Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas do
Sul (CETAS/PUCPR/IBAMA)
Curitiba
2010
Trabalho apresentado para conclusão do
Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal do Paraná
Supervisor: Prof. Rogério Ribas Lange
Orientadores: MV. Mathias Dislich
MV, MSc. Grazielle Soresini
Ramiro Moura Tavares Tyszka
Relatório de Estágio Curricular
Área: Medicina de Animais Selvagens
Curitiba
2010
Dedico este trabalho a todos os interessados.
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a minha família, que me deu apoio em todas as etapas
do meu curso, me aturando durante os momentos de estresse, me empurrando
nos momentos de desespero e comemorando nos momentos de alegria. Obrigado
minha mãe Clio, meu irmão Pietro e meu pai Marcos.
Obrigado a Luana Bicudo, que esteve mais próxima de mim do que qualquer outra
pessoa durante estes cinco anos de aprendizado, e que juntos vencemos essa
etapa da vida.
Professor Rogério R. Lange, sempre sendo “O” Professor, concedeu a mim mais
de 200% do meu aprendizado sobre Medicina de Animais Selvagens, me dando
oportunidades e razões para aprender. Obrigado por responder todas minhas
perguntas que fiz ao longo destes anos, tenho certeza que haverá mais, obrigado
por me orientar no trabalho de Iniciação Científica, e obrigado por ser o nosso
Fowler Brasileiro.
Mathias Dislich eu agradeço por tudo que aprendi com você, sua dedicação ao
trabalho me incentivou ainda mais a tornar-me um profissional de qualidade.
Mathias é um Veterinário que lhe ensina muito mais do que Medicina Veterinária,
ele lhe ensina fotografia, Excel e Access (Bertoli R. S., 2009).
Grazielle Soresini, mesmo tendo aprendido milhares de informações com você,
mesmo você me dando oportunidade para praticar milhares de tarefas, o que mais
aprendi de você foi o amor ao trabalho. Juro que a partir desde momento dedicarei
minhas forças a amar o meu trabalho da mesma forma que você o faz. Obrigado.
Obrigado Marina Figueiredo por tanto ter me ensinado e me ajudado durante
minha estadia no CETAS, obrigado Preta e Paulo por terem me deixado ajudá-los
na ausência das veterinárias. E obrigado funcionários do Parque das Aves:
Adriana, Amarildo, Dona Amélia, Francisco (obrigado em dobro ao senhor),
Giovane, Mariana, Seu Mário, Paulinho, Vanderlei e Yara.
E... Muitíssimo obrigado aos meus amigos, que sempre me deram apoio para eu
me dedicar à faculdade, em momentos que eu tinha que escolher entre estudar ou
festejar, assistir consultas ou ir a um churrasco. Obrigado por sempre me
respeitarem e nunca se esquecerem de mim. Prometo que tudo valerá a pena a
nós todos.
“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.”
Socrates
vi
SUMÁRIO
SUMÁRIO.............................................................................................................. vi
LISTA DE FIGURAS............................................................................................. vii
LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS............................................................................................. xi
RESUMO............................................................................................................... xii
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 14
2. OBJETIVOS................................................................................................ 15
2.1 OBJETIVOS GERAIS................................................................................. 15
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................... 15
3. RELATÓRIO DOS ESTÁGIOS................................................................... 16
3.1 FOZ TROPICANA, PARQUE DAS AVES.................................................. 16
3.1.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL........................................................................... 16
3.1.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................... 20
3.1.3 DISCUSSÃO............................................................................................... 31
3.2 CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SELVAGENS DE TIJUCAS DO SUL
– PUCPR – IBAMA................................................................................................ 42
3.2.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL........................................................................... 42
3.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................... 47
3.2.3 DISCUSSÃO............................................................................................... 52
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 58
5. CASOS CLÍNICOS..................................................................................... 62
5.1 CASO CLÍNICO I........................................................................................ 62
5.1.1 HISTÓRICO................................................................................................ 62
5.1.2 DISCUSSÃO............................................................................................... 67
5.1.3 SOBRE A ESPÉCIE................................................................................... 68
5.1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 69
5.2 CASO CLÍNICO II...................................................................................... 75
5.2.1 HISTÓRICO................................................................................................ 75
5.2.2 DISCUSSÃO............................................................................................... 79
5.2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 81
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 87
7. Anexos....................................................................................................... 90
vii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Mapa esquemático do Parque das Aves.
FIGURA 2 – Sonda metálica para alimentação de aves.
FIGURA 3 - Mensuração do microhematócrito com tubos oriundos da África do
Sul.
FIGURA 4 – Indução anestésica de um gerbil (Meriones unguiculatus) usando
isoflurano.
FIGURA 5 – Animais do internamento sendo expostos a luz solar.
FIGURA 6 – Microhematócrito do tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus).
FIGURA 7 – Rodenticida encontrado no solo do recinto “Floresta” ao lado da
armadilha.
FIGURA 8 – Aspecto do animal no momento se sua chegada ao hospital
veterinário
FIGURA 9 – Sinais de hemorragia na cavidade oral de um tucano-de-bico-verde
(Ramphastus dicolorus) após ingestão de rodenticida.
FIGURA 10 – Cavidade oral de um tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus)
intoxicado com rodenticida, um dia após o tratamento com vitamina K.
FIGURA 11 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).
FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de
antibiograma de um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).
FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de
antibiograma de um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).
FIGURA 13 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus), após
debridagem do local.
viii
FIGURA 14 – Abertura da cavidade oral de um cágado-de-barbicha (Phrynops
geoffroanus) com o uso de um especulo, para alimentação forçada.
ix
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Distribuição das atividades desenvolvidas pelo Setor Veterinário na
Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
GRÁFICO 2 – Exames complementares realizados na Foz Tropicana, Parque das
Aves durante o mês de julho de 2010.
GRÁFICO 3 – Relação entre número de internamentos e número de avaliações
anuais realizadas na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de
2010.
GRÁFICO 4 – Relação entre tucanos (Ramphastus sp.) e o total de animais
internados no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o
mês de julho em 2010.
GRÁFICO 5 - Relação entre as diferentes espécies de tucanos internados no
hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho
em 2010.
GRÁFICO 6 – Proporção entre a ordem das enfermidades dos animais internados
no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho
em 2010.
GRÁFICO 7 – Proporção entre machos e fêmeas usados para coleta de materiais
para exames complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves no mês de
julho de 2010.
x
GRÁFICO 8 – Espécies usadas para coleta de amostras para exames
complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho de
2010.
GRÁFICO 9 – Locais usados para coleta de amostras microbiológicas dos animais
da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.
GRÁFICO 10 – Percentagem das amostras colhidas em meio de cultura BHI e em
selenito na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
GRÁFICO 11 – Casuística de animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul,
PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.
GRÁFICO 12 – Relação entre os casos referentes a traumas dos animais tratados
no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.
GRÁFICO 13 – Relação entre os casos de doenças nutricionais referentes aos
animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto
de 2010.
GRÁFICO 14 – Relação entre os casos de doenças parasitárias referentes aos
animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto
de 2010.
GRÁFICO 15 – Número de animais por espécie recebidos no CETAS de Tijucas
do Sul, PUCPR, IBAMA no mês de agosto de 2010.
GRÁFICO 16 – Número de solturas de animais por espécie, realizadas pelo
CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, em agosto de 2010.
xi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Animais presentes no internamento do hospital veterinário da Foz
Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
TABELA 2 - Programação referente aos dias em que fizeram o censo em cada um
dos recintos da Foz Tropicana, Parque das Aves, em 2010.
xii
RESUMO
A Medicina de Animais Selvagens por si só já possui uma grande variedade
de áreas em que um médico veterinário pode atuar. Visando abranger uma gama
maior das especialidades dentro da Medicina de Animais Selvagens, acompanhei
a rotina como estagiário de duas entidades distintas, o Parque das Aves e o
Centro de Triagem de Animais Selvagens (CETAS) de Tijucas do Sul. Com o
objetivo de aprimorar meus conhecimentos neste ramo da Medicina Veterinária,
pratiquei o exercício da profissão durante o período de 5 de julho até 31 de agosto
de 2010. Nestas condições tive a oportunidade de aprender sobre a medicina
profilática desenvolvida no Parque das Aves, e a medicina curativa tão praticada
no CETAS. Ao longo dos meus estágios acompanhei diversos casos clínicos, e
neste trabalho apresento os mais interessantes, buscando atualidades na
literatura, a fim de fornecer informações valiosas ao que venham estudá-lo.
14
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade apresentar as atividades
desenvolvidas durante meu estágio curricular no Parque das Aves no período de 5
a 30 de julho e no Centro de Triagem de Animais Selvagens – PUCPR nos dias 1
a 31 de agosto de 2010.
Buscando um aprimoramento mais rico sobre medicina de animais
selvagens, escolhi dois locais para estágio que apresentassem qualidades
complementares. O Parque das Aves é conhecido por desenvolver uma profilaxia
superior, mantendo um plantel saudável ao longo de anos. Já o CETAS de Tijucas
do Sul, tem sua fama por ser um exemplo entre os Centros de Triagem de todo o
Brasil, com sua avançada técnica curativa. Juntando esses dois pontos, uma
medicina profilática com uma curativa, pude complementar meu aprendizado,
tornando-me um profissional mais completo e apto a ser aceito no mercado de
trabalho.
15
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAIS
Aprimorar os conhecimentos das áreas de clínica médica e cirúrgica,
profilaxia e manejo de animais selvagens.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Aprender sobre o exercício da profissão de um médico veterinário em um
zoológico e em um centro de triagem de animais selvagens. Praticar as
habilidades requeridas por um médico veterinário de qualidade. Aprender sobre
medicina preventiva e medicina curativa.
16
3. RELATÓRIO DOS ESTÁGIOS
3.1 FOZ TROPICANA, PARQUE DAS AVES
3.1.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL
O Parque das Aves é um zoológico que tem como principal característica a
exposição de aves ao público. Em 1994 o parque foi criado por um admirador de
aves, Dennis Croukamp, e por sua esposa Anna Croukamp. Ele apresenta uma
área de 16 hectares, sendo que oito deles são destinados a visitação e o restante
é considerado uma área de proteção ambiental. Entretanto os próprios recintos
são construídos de forma a alterar pouco o ambiente em que se encontram, de
modo que se fossem desfeitos, a mata tornar-se-ia próxima a nativa rapidamente.
Como zoológico o parque segue fielmente o tripé que rege os zoológicos,
dedicando-se a: conservação da natureza, educação ambiental e lazer. O parque
conta com uma equipe destinada a recepcionar escolas e os acompanhar durante
o passeio promovendo uma educação ambiental de qualidade. Também realiza
pesquisas na área de conservação, e estuda, executa e participa de projetos que
envolvem conservação animal.
Os principais objetivos do parque são: educar os visitantes do parque
quanto ao respeito à natureza de forma a despertar a consciência ambiental,
desenvolver projetos e pesquisas na área de conservação ambiental, reproduzir
animais em cativeiro, em especial os ameaçados de extinção e expor os animais a
fim de arrecadar dinheiro para futuros investimentos no próprio parque.
17
Para o funcionamento adequado do parque, ele conta com diversas
instalações, como: hospital veterinário, cozinha, depósito de alimentos, área
interna, sala de necropsias, quarentena, recintos e a oficina.
O hospital veterinário apresenta um internamento, um ambulatório, um
laboratório, uma sala de esterilização, um depósito de materiais de limpeza, um
depósito de materiais hospitalares, um banheiro, uma sala de incubação e uma
para filhotes. O internamento apresenta diversas gaiolas para abrigar animais
enfermos. O ambulatório se localiza junto com o escritório do veterinário, e contém
a maioria dos materiais necessários para o dia-a-dia do veterinário, além de um
equipamento de anestesia inalatória com isoflurano, um Vetscan®, aparelho
usado para exame bioquímico do sangue e uma geladeira usada para armazenar
medicamentos, meios de cultura e kits de identificação de bactérias. O laboratório
é usado tanto para laboratório clínico, microbiológico e parasitológico. Ele contém
uma estufa microbiológica, um microscópio, e diversos kits para coloração de
lâminas. Na sala de ovos há uma série de incubadoras para os diversos tamanhos
de ovos, além de balança para pesagem de ovos.
18
FIGURA 1 – Mapa esquemático do Parque das Aves
(Retirado do site oficial do Parque das Aves, www.parquedasaves.com.br)
A cozinha é onde são preparados os alimentos dos animais. Nela trabalha
uma funcionária permanente junto com mais uma funcionária da limpeza, que
muda a cada dia. O depósito de alimentos armazena as rações usadas na
alimentação das diversas espécies.
19
Na área interna há 16 recintos extras, os quais são usados para alojar
animais excedentes, ou animais problema, que por algum motivo, como brigas,
agressão a visitantes ou por estarem em tratamento, não podem permanecer nos
seus recintos de origem. O biotério do parque se localiza nesta área, e há espaço
para criação de ratos, e para alojar coelhos, galinhas e grilos que são comprados
quando necessário. Além disto, animais mansos, usados no entretenimento de
turistas, são alojados na área interna. Também há a cozinha de preparo de
alimentos para seres humanos e o refeitório para funcionários do parque.
A sala de necropsias fica isolada das demais instalações, e apresenta uma
mesa para realização das necropsias, um freezer comum para armazenar
cadáveres, e um local destino ao armazenamento de amostras histológicas.
A quarentena fica em um local distante do hospital veterinário, e possuí três
recintos pequenos para alojar animais recém chegados no parque. O período que
os animais ficam na quarentena é de cerca de 30 dias, e no decorrer desses dias
são feitos exames físicos e complementares a fim de avaliar a condição sanitária
dos animais. Além desta função, no Parque das Aves, a quarentena tem uma
função importantíssima de acostumar os animais a uma nova dieta, pois nunca se
deve soltar um animal em um recinto coletivo sem que este esteja habituado a
alimentar-se do alimento disponibilizado para ele.
Os recintos do Parque das Aves foram construídos de forma a alterar pouco
o ambiente a sua volta, deixando-os o mais natural possível. Assim mesmo os oito
hectares destinados a visitação continuam a preservar boa parte do ambiente
natural da região.
20
Há dois tipos de recintos no parque: um deles são os recintos fechados,
comuns em outros zoológicos, e o outro são os recintos de imersão. Os recintos
de imersão foram construídos de forma a permitir a entrada dos visitantes,
oferecendo um maior contato com os animais. Eles apresentam um corredor de
segurança que dificulta a fuga de animais, e uma trilha que deve ser seguida pelos
visitantes, para que os animais ainda tenham a opção de manterem-se longe das
pessoas e abrigados. Nesses recintos só encontramos animais selecionados, que
suportem a presença do homem, e que não sejam agressivos.
A oficina do parque, muito bem desenvolvida, de modo que todos os
reparos e construções de recintos sejam feitos por funcionários do próprio parque,
sem a necessidade de trabalho terceirizado. Dessa forma qualquer situação de
risco pode ser corrigida com rapidez e eficiência, uma vez que os funcionários são
muito bem treinados.
Além disto, há as instalações referentes à administração do parque, a
lanchonete, a loja e uma área destinada á educação ambiental. Mas ainda há uma
estrutura importante no parque, que é o filtro biológico. Este dispositivo utiliza
materiais para filtragem e luz ultravioleta, o que permite que a água dos recintos
permaneça limpa e transparente por um tempo prolongado. Entretanto a limpeza
dos recintos continua a ser feita com bastante regularidade.
3.1.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante minha estada no Parque das Aves, minhas atividades começavam
às 8 horas da manhã indo até as 12 horas, quando fazíamos um intervalo para o
21
almoço. Após isto às 13 horas eu retornava as atividades, porem na maioria dos
dias eu acompanhava o MV Mathias em atividades nos laboratórios. Às 17 horas
meu serviço acabava, entretanto muitas vezes eu permanecia por mais tempo,
com a autorização do Mathias, para ajudá-lo no serviço pendente. Eu me alojei no
Hotel Otto, que ficava numa boa localização e tinha transporte fácil até o Parque.
O transporte era pago pelo próprio Parque, assim como o café da manhã e o
almoço. O jantar eu costumava fazer na lanchonete do Parque, pois eu tinha um
desconto de 20% nos produtos ali vendidos.
As atividades desenvolvidas pelos estagiários eram basicamente:
medicar animais, fazer ronda pelos recintos, acompanhar os diferentes setores do
Parque, realizar e interpretar exames complementares, realizar exames físicos nos
animais dos recintos e realizar necropsias. Durante o estágio, tive oportunidade de
acompanhar o censo anual que tinha como objetivo confirmar o número das
anilhas e dos microchips dos animais, fazer a microchipagem dos animais ainda
não microchipados, avaliar a necessidade de coleta de sangue para sexagem e
fazer um exame físico dos animais. Ao decorrer da minha permanência no Parque
distribuí as atividades de acordo com o GRÁFICO 1.
A primeira atividade do dia era medicar os animais internados, o que
deveria ser feito o mais cedo possível. Durante meu estágio presenciei 22 animais
internados. Incluindo os animais que já estavam internados antes e os que foram
internados durante minha estadia. Os animais internados estão demonstrados na
TABELA 1. A medicação era feita tanto pelo veterinário quanto pelo estagiário, e
em muitas vezes o estagiário era acompanhado apenas pela auxiliar do
veterinário, que fazia a contenção dos animais. As agulhas e as seringas eram
22
reutilizadas e reutilizadas nos mesmos animais. Concomitantemente com as
medicações era feita a alimentação forçada nos animais que a requeriam. A
alimentação forçada era preparada com ração para filhotes da Alcon®, e era
fornecida por meio de uma sonda para aves (FIGURA 2). Os principais animais
que recebiam tal alimentação eram os tucanos-de-bico-verde e a principal
orientação dada pelo veterinário do Parque era de se o animal regurgitasse
durante a alimentação, a contenção física deveria ser cessada o mais rápido
possível, para evitar que houvesse aspiração do alimento, levando a iatrogenia.
GRÁFICO 1 – Distribuição das atividades desenvolvidas pelo Setor Veterinário na Foz
Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
23
FIGURA 2 – Sonda metálica para alimentação de aves.
(foto retirada do site http://www.ortovet.com.br/catalogo/loja_tipo2.php?cat_id=43&pro_id=1017, no dia 18 de setembro de 2010)
Durante o período de estágio três animais que estiveram internados e
necessitaram sofrer contenção química. Para isto foi usado isoflurano tanto para
indução quanto para manutenção. Os procedimentos foram uma redução e
imobilização de uma fratura e duas suturas de feridas causadas por brigas no
recinto. Além disto, houve mais um caso em que um animal que foi anestesiado
para se fazer exame físico, coleta de material para exames laboratoriais e
microchipagem (sagui-de-tufo-preto – Callithrix penicillata)
Com o término das medicações, o veterinário junto do estagiário fazia uma
ronda por todo o parque, observando todos os animais em busca de
anormalidades que requeressem intervenção.
Em seguida da ronda, voltávamos ao setor de veterinária e ou nos
preparávamos para fazer o censo anual juntamente com o exame físico dos
animais, ou realizávamos os exames complementares.
O censo anual é realizado para manter o controle do plantel. Como dito
anteriormente, eram conferido às identificações dos animais, realizado a
identificação e a coleta de sangue para sexagem quando pendentes e realizado o
exame físico e a vermifugação de todos os animais. Durante o censo capturamos
24
cerca de 313 animais, dentre eles aves, répteis e mamíferos. Inicialmente a minha
função era de preparar os medicamentos e organizar a coleta de materiais para
exames complementares. À medida que fui ganhando confiança do veterinário
comecei a aplicar as medicações eu mesmo, enquanto que os tratadores
realizavam a captura e a contenção física dos animais.
A vermifugação era feita ou com levamisol (Ripercol®), ou com febendazole
(Panacur®), variando de acordo com a experiência do veterinário. O levamisol é
preparado usando um produto na concentração de 7,5%, diluído em nove partes
de ringer com lactato, de modo que a dose usada para a maioria das espécies de
aves fica de 1 mL/kg. Por ser um agente com risco tóxico, essa diluição torna o
medicamento torna-se mais seguro. O febendazole por si só já é usado na mesma
dose de 1 mL/kg.
Quando a equipe estava bem treinada, eu e o Mathias cuidávamos
integralmente das medicações, eu as preparando e administrando, e ele
supervisionando e fazendo o exame físico, enquanto que a assistente se
encarregava de identificar as amostras coletadas e, quando necessário, ela
também ajudava na contenção dos animais.
Para os procedimentos do censo todos usavam equipamentos de proteção
individual (EPIs), de acordo com o tipo de animais a serem capturados, como por
exemplo, luvas de couro para Psitaciformes e óculos de proteção para aves com
bico pontiagudo.
25
TABELA 1 – Animais presentes no internamento do hospital veterinário da Foz
Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010. Data Espécie Queixa Principal Ordem da Enfermidade
09/05/10 Phoenicopterus ruber
roseus
Apatia Indeterminada
20/05/10 Aratinga leucophtalma Lesão ocular Traumática
04/06/10 Ramphastuc tucanus Apatia Infecciosa
06/06/10 Amazona vinacea Lesão em digito Traumática
11/06/10 Eudocimus ruber Queimadura Traumática
12/06/10 Guarouba guarouba Agressão Traumática
14/06/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa
22/06/10 Ara chloropterus Tumor cavidade oral Inflamatória
23/06/10 Dendrocygna vicuata Perda de peso Indeterminada
30/06/10 Ramphastus dicolorus Apatia Parasitária
01/07/10 Boa constrictor Lesão tegumentar Traumática
07/07/10 Chauna torquata Lesão (perfuração) Traumática
08/07/10 Penelope supercilliaris Fratura em tarso Traumática
11/07/10 Pionopsitta pileata Lesão em digito Traumática
14/07/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa
17/07/10 Ramphastus dicolorus Capillaria Parasitária
19/07/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa
19/07/10 Ramphastus dicolorus Perda de peso Parasitária
20/07/10 Ramphastus dicolorus Edema conjuntival Toxigênica
27/07/10 Gutera pucherani Apatia Infecciosa
27/07/10 Crax faciolata Agressão Traumática
29/07/10 Guarouba guarouba Agressão Traumática
26
A rotina de captura dos animais para o censo seguiu conforme a TABELA
2. Houve um grande intervalo sem capturas entre os dias 20 e 26, devido às férias
que foram tiradas pelo veterinário durante estes dias. Em sua ausência quem
assumia o setor de veterinária era a sua folguista, a veterinária Katrin. Nesse
período só houve captura no dia 26 com a presença da veterinária, e nos demais
não houve captura. Durante esses dias eu acompanhei mais os tratadores em
seus setores, buscando aprender mais sobre as espécies, sobre manejo e
alimentação dos animais.
Os exames complementares eram basicamente: hemograma, bioquímica
sanguínea, esfregaço sanguíneo, sorologia, exame bacteriológico e citológico de
fezes, de zaragatoas de cloaca e exame histológico. A rotina de exames
complementares está demonstrada no GRÁFICO 2.
TABELA 2 - Programação referente aos dias em que fizeram o censo em cada um dos
recintos da Foz Tropicana, Parque das Aves, em 2010.
Data Recinto Data Recinto
05/07 Extras 15/07 Viveirão
06/07 Árvore da Vida 16/07 Pantanal
07/07 Ameaçados 19/07 Savana e emas
08/07 Floresta 20/07 Tucanos e mutuns
10/07 Araras e papagaios 26/07 Isolamento e entrada
11/07 Urubu-rei 27/07 Extras
12/07 Gralha e periquitos 30/07 Répteis
14/07 Asiático 31/07 Flamingos
27
FIGURA 2 - Colheita de sangue de um grou-demoiselle (Anthropoides virgo), com contenção
física com uso de EPIs.
Os exames hematológicos eram feitos o mais rápido possível. O esfregaço
era realizado logo quando o sangue era coletado, antes de se misturar com
qualquer anticoagulante, já que as seringas usadas para colheita não eram
heparinizadas. Em seguida o sangue era depositado em um frasco contendo
heparina, e em seguida homogeneizado, tomando o devido cuidado para evitar
hemólise.
O hematócrito era feito pela técnica do microhematócrito, porém os tubos
usados para tal eram diferentes dos convencionais, pois estes vieram da África do
Sul, como pode ser visto na FIGURA 3. Os seis tubos eram mensurados,
avaliando a percentagem de células vermelhas por uma regra de três, e para se
28
obter um resultado era feito a média entre os seis tubos, calculando também o
desvio padrão, para saber se a amostra era valida ou não.
GRÁFICO 2 – Exames complementares realizados na Foz Tropicana, Parque das Aves durante
o mês de julho de 2010.
O esfregaço sanguíneo era secado com secador de cabelo para acelerar o
processo, e corado ou pela técnica de panótipo, ou pela de Giemsa e Grimwald.
Pelo esfregaço era feita a contagem de leucócitos por estimativa, e em seguida
era realizada a contagem diferencial.
Para se obter o perfil bioquímico era usado um equipamento especializado
chamado Vetscan®. Com esse equipamento uma pequena quantidade de sangue
fornece o melhor perfil bioquímico de acordo com a espécie animal em 15
minutos.
29
FIGURA 3 - Mensuração do microhematócrito com tubos oriundos da África do Sul.
(Foto de Mathias Dislich)
O soro dos animais era armazenado para serem enviados a laboratórios
especializados para exames sorológicos.
Já exames citológicos de fezes e de material de cloaca colhido com
zaragatoas eram realizados no próprio laboratório do parque e eram corados ou
por método de panótipo ou por Giemsa e Grimwald.
Também eram realizados exames diretos das fezes dos animais, como
forma de avaliação do nível de parasitismo.
A coloração de gram era a usada para os exames bacteriológicos. Além
disso, o laboratório do Parque disponha de equipamento para realizar cultura
bacteriana. Portanto grande parte da nossa rotina se destinava a esta etapa dos
exames complementares, como pode ser visto no GRÁFICO 2. O laboratório
dispunha de diversos meios de cultura. Os mais usados eram o de Selenito e do
de BHI como meios líquidos, e o Agar Sangue e o Agar SS para o isolamento de
colônias.
30
Para identificação das bactérias o laboratório usava Kits especializados
(BACTRAY®), que testam a capacidade das bactérias de degradar diferentes
substâncias, e a partir da combinação de positivos e negativos para os diferentes
testes, e com o uso de um software, se obtém as espécies de bactérias mais
prováveis.
Durante meu estágio presenciei seis necropsias, como pode ser visto no
GRÁFICO 1. Os animais necropsiados foram uma perdiz (Rhynchotus rufescens),
um flamingo-africano (Phoenicopterus ruber roseus), um quero-quero (Vanellus
chilensis), uma iguana (Iguana iguana), um pássaro-preto (Gnorimopsar chopi) e
um marreco-mandarim (Aix galericulata). Nas necropsias todos os órgãos eram
pesados e fotografados e era colhido material para exames histológicos, que eram
mantidos conservados para posterior envio a algum laboratório especializado ou
para alguma universidade. Alguns materiais eram colhidos para exames de
microscopia eletrônica, e eram devidamente conservados para este fim.
Sobre os manejos reprodutivos foram poucas as situações que presenciei,
já que no mês de julho os animais ainda não haviam entrado no período
reprodutivo. A sala de incubação foi usada para incubar dois ovos de tachã
(Chauna torquata), e houve também a postura de urubus-rei (Sarcoramphus
papa).
Além disto, houve outras tarefas pertinentes ao estagiário, como
acompanhar os tratadores em seus setores, acompanhar as atividades na cozinha
para aprender sobre a alimentação de cada espécie e o biotério.
Outra atividade importante realizada diariamente no Parque das Aves é
uma reunião antes do almoço, em que estão presentes o veterinário e seu
31
estagiário, os biólogos, a diretora do parque e sua secretária, e todos os
tratadores. Nesta reunião são discutidos todos os episódios e as observações
importantes, sobre todos os recintos, sobre manejos de animais e sobre as tarefas
de cada dia.
3.1.3 DISCUSSÃO
Avaliando o GRÁFICO 1 podemos perceber qual é o enfoque que o
veterinário tem no seu trabalho. 52% das atividades são voltadas para os exames
complementares, que visam obter rapidamente informações sobre os animais, a
fim de identificar os problemas em um estágio inicial das enfermidades. Isto pode
ser considerado uma medida profilática, já que tanto animais doentes quanto os
saudáveis passam por esse processo. O segundo ponto de maior enfoque do
veterinário foi o exame físico anual com 44% do total de atividades, mostrando
mais uma atividade profilática, de modo a conhecer o seu plantel, a fim de
identificar situações que exijam intervenção veterinária. Muitas vezes nesses
exames físicos identificamos problemas mais generalizados, que podem indicar
algum erro de manejo, como um recinto ou alimentação inapropriada. O numero
de internamentos é incrivelmente menor que o de ações profiláticas, sendo este
apenas 3% do total. Este 3% representa 22 animais, o que quando comparado
com os 313 animais que foram examinados durante o censo percebemos mais
ainda tal importância, como pode ser visto no GRÁFICO 3.
No internamento, tivemos uma grande variedade de animais, como pode
ser visto na TABELA 1. Entretanto houve uma incidencia maior de tucanos.como
32
podemos ver no GRÁFICO 4. Entre os tucanos o de maior importância foi o
tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus), sendo estes sete casos num total
de oito. O GRÁFICO 5 contém as informações sobre os tucanos.
GRÁFICO 3 - Relação entre número de internamentos e número de avaliações anuais
realizadas na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
De acordo com o GRÁFICO 6 percebemos que o maior número de casos
foi o de lesões traumáticas, seguido de o de doenças infecciosas. Isto mostra mais
uma vez a importância das medidas profiláticas adotadas pelo veterinpario do
Parque. A maior incidencia de casos de trauma se deve a alta concentração dos
animais nos recintos, pois assim os animais tem menos espaço para voar e se
abrigar. Muitos casos desses ocorrem durante o período de chuva e frio, pois os
animais dominantes não permitem que os mais fracos se abriguem, e muitas
vezes acabam atacando e causando lesões nos oprimidos. Outro ponto que levou
a uma grande quantidade de traumas no mês de julho foi a captura dos animais
para o censo, pois em alguns momentos os animais se machucavam durante as
contenções físicas.
33
A baixa ocorrencia de doenças infecciosas e parasitárias é o reflexo de uma
profilaxia de qualidade, com a vermifugação dos animais regularmente, e com o
procedimento de quarentena dos animais recem chegados. A vermifugação
periódica é feita de uma maneira diferente para cada espécie, sendo que a
intensidade pode variar de três em três meses até dois em dois anos. A
quarentena no parque das aves tem uma importância maior do que só uma
barreira sanitária, pois é nesse local que eles acostumam os animais a uma nova
dieta. Não é recomendado soltar um animal em um recinto sem que este esteja
abituado a se alimentar do alimento fornecido.
GRÁFICO 4 – Relação entre tucanos (Ramphastus sp.) e o total de animais internados no
hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.
GRÁFICO 5 – Relação entre as diferentes espécies de tucanos internados no hospital
veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.
No internamento tive a oportunidade de treinar a aplicação de
medicamentos e a realização de alimentação forçada. Foram poucas, mas
também tive a oportunidade de treinar a contenção física dos animais internados.
34
As seringas eram reutilizadas como foi dito anteriormente, o que com
certeza aumentava a pressão sofrida pelos animais.
GRÁFICO 6 – Proporção entre a ordem das enfermidades dos animais internados internados
no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.
As seringas eram reutilizadas como foi dito anteriormente, o que com
certeza aumentava a pressão sofrida pelos animais.
Durante as medicações dos animais tive oportunidade de discutir vários
casos e diferentes formas de tratamento com o veterinário, o que me rendeu muita
informação extra. Muitas vezes fazíamos comparativos com o que outros
veterinários faziam, e quando havia discordância entre as informações nós
estudávamos em livros, que pertenciam ao Parque, e na maioria das vezes
chegávamos a conclusões importantes, mudando até a nossa forma de pensar.
A experiência do veterinário sobre o tratamento dos animais era
extremamente valiosa, e muitas vezes os protocolos eram diferentes dos citados
em livros, e mesmo assim víamos um ótimo resultado em muitos dos animais,
como no tratamento de tucanos com capilariose, em que os animais são tratados
com febendazole (Panacur®), na dose de 50 mg/kg, PO, BID, por cinco dias,
repetindo o tratamento após 15 dias. E em seguida são tratados com Levamisol
(Ripercol®) na dose de 7,5 mg/kg SC SID por um dia.
35
O internamento esteve lotado por vários dias, e alguns animais tiveram que
terminar o seu tratamento no próprio recinto. Entretanto este foi um episódio raro,
pois não é comum tantos animais adoecerem ao mesmo tempo no Parque das
Aves.
A ronda era um ótimo momento para discutir diversos assuntos com o
veterinário, muitas vezes assunto não relacionados à medicina veterinária, mas
muitos deles eram importantes para o crescimento profissional. Mas o principal
ponto positivo das rondas era aprender a avaliar a necessidade de intervenção
veterinária. Isto é uma questão de vivência e treinamento, olhar para um recinto e
saber o que há de errado, aprender as diferentes posturas e diferentes
comportamentos dos animais, tanto quando estão sadios quanto quando estão
enfermos. A ronda também foi importante para aprender sobre a biologia dos
animais, como a forma de alimentação, por exemplo, os guarás (Eudocimus
ruber), que precisam receber água junto com os peixes para que estes possam
mergulhá-los e então ingeri-los.
O censo foi uma das melhores oportunidades que tive, pois conheci a forma
de contenção das diferentes espécies, assim como as melhores vias de
administração de fármacos. Pratiquei muito a aplicação de remédios,
principalmente pela via subcutânea e a via oral, com o uso do levamisol e do
febendazole, respectivamente. Entretanto foram poucas as vezes que eu
efetivamente pratiquei a contenção física dos animais, o que para mim foi uma
insatisfação. Mas isto ocorreu dessa forma, pois no Parque das Aves, é função
dos tratadores fazer a contenção física, por mais que seja função do veterinário
ensiná-los. Outro ponto positivo do censo foi a pratica do trabalho em equipe.
36
Toda a equipe do Parque era muito bem treinada, e eu tive a oportunidade de
aprender a sua forma de trabalho, o que com certeza me ajudou muito a crescer
profissionalmente.
Foi durante o censo que a maioria das amostras para exames
complementares foi coletada, e nesses momentos tive a oportunidade de aprender
a forma e os materiais a serem coletados das diferentes espécies.
Os exames complementares são um dos pontos mais fortes do Parque das
Aves. O veterinário responsável é um profissional muito entendido nessa área, e
que com o objetivo de centralizar as informações sobre os animais e de tornar a
obtenção dos resultados mais rápida, passou a realizar os exames
complementares em suas próprias instalações.
Diversos animais foram usados para se obter as amostras, e estes eram
escolhidos de acordo com a vontade do veterinário. Ele buscava conhecer melhor
o seu plantel. Isto é de extrema importância, pois como estamos falando de
animais selvagens, não há valores de referência sobre a maioria deles. Logo o
veterinário esta criando um banco de dados de grande valia. Assim quando algum
animal estiver internado, os resultados dos seus exames complementares podem
ser comparados aos dos animais sadios que ele já havia obtido anteriormente. Os
exames foram realizados em uma proporção maior em animais do gênero
feminino, como podemos ver no GRÁFICO 7. É possível que este resultado tenha
ocorrido devido ao grande numero de flamingos-africanos (Phoenicopterus ruber
roseus) do sexo feminino que foram usados para obtenção das amostras e o único
motivo pelo qual as fêmeas foram escolhidas foi para padronizar a amostra.
37
Como podemos ver no GRÁFICO 8 os flamingos representaram 15% do
total de amostras coletadas, deixando-os como a terceira espécie mais coletada,
seguido das jacutingas (Aburria jacutinga) em segundo e dos guarás (Eudocimus
ruber) em primeiro.
Com relação aos exames hematológicos, aprendi mais sobre a
interpretação resultados. Não pratiquei nenhuma coleta de sangue, o que foi
descontentador e nenhum esfregaço sanguíneo. Porém aprendi a interpretá-los,
inclusive com o avançado aparelho Vetscan®. Esse aparelho com certeza é de
ótima valia para o Parque, entretanto cada exame requer o uso de um disco
próprio para o equipamento, e cada disco apresenta um valor monetário
consideravelmente alto.
No Parque a coloração de lâminas de esfregaço sanguíneo, citológico, de
gram de fezes e de cloaca na maioria das vezes é feita pela técnica auxiliar do
veterinário, mas mesmo assim tive oportunidade de praticar várias vezes à
confecção das lâminas. Fiquei contente quando percebi que as minhas maiores
dificuldades na interpretação dos exames eram as mesmas sofridas pelo
veterinário, porém em menor escala.
GRÁFICO 7 – Proporção entre machos e fêmeas usados para coleta de materiais para exames
complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves no mês de julho de 2010.
38
GRÁFICO 8 – Espécies usadas para coleta de amostras para exames complementares na Foz
Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho de 2010.
As amostras biológicas, ou seja, para exames microbiológicos, eram
usadas principalmente para a identificação das bactérias. As amostras eram
coletadas principalmente da cloaca de animais sadios, como podemos ver no
GRÁFICO 9. A percentagem de amostras de lesões foi bem baixa devido a baixa
incidencia de lesões, e as de necrópsias deram um valor que quando comparado
aos de cloaca torna-se baixo, entretanto a maioria dos órgãos que continuam
alguma alteração nas necrópsias eram usados para colheita de amostras
biológicas.
Nas necrópsias as amostras eram obtidas esquentando uma lamina
de bisturi, encostando a lamina sobre a superfície do órgão, incisando a superfície
e em seguida introduzindo a zaragatoa no corte. As amostras eram coletadas o
mais rápido possível, a fim de minimizar a contaminação. A maioria das amostras
foram semeadas primeiramente em meio de cultura selenito (82% das amostras)
como podemos ver no GRÁFICO 10 e em seguida eram repicadas ou em agar
39
sangue ou em agar SS. A combinação de selenito com o agar SS é uma ótima
ferramenta para isolar a bactéria do gênero Salmonella sp.. Isto mostra a
procupação do veterinário com a salmonelose em seu plantel, com razão pois a
salmonela é patogênica para todas as aves.
GRÁFICO 9 – Locais usados para coleta de amostras microbiológicas dos animais da Foz
Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.
Gráfico 10 – Percentagem das amostras colhidas em meio de cultura BHI e em selenito na Foz
Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.
Nos exames de fezes tive oportunidade de aprender sobre alguns ovos de
parasitas, principalmente sobre capilaria, que é extremamente comum em
tucanos-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus). Como a maioria dos nosso
internados eram tucanos-de-bico-verde (GRÁFICOS 4 e 5), todos os exames de
fezes que fiz nessas espécies deram positivo para capilaria. A interpretação do
Gram de fezes tambem foi um ótimo aprendizado para min, e com o auxilio do
40
veterinário em poucos dias já adqueri experiência necessária para diagnósticar
casos não muito complexos.
As necrópsias eram realizadas meticulosamente, o que me deu bastante
oportunidade para conhecer diversas peculiaridades sobre as espécies e sobre
patologia. Tive oportunidade de realizar eu mesmo duas das necrópsias. Os
materiais coletados para histologia ficavam armazenados na própria sala, e fazia
algum tempo que o veterinários não os enviava para algum laboratório
especializado. Isto é um ponto negativo, pois para um local que preza tanto pela
profilaxia o laudo de um exame histologico de um animal do plantel é muito
valioso, pois sabendo exatamente o que o animal apresentava facilita a prevenção
nos demais da mesma espécie.
As férias tiradas pelo veterinário durante meu estágio foram inicialmente
desanimadoras, pois eu estaria perdendo tempo de aprendizado. Entretanto
durante esse periodo aprendi sobre diversos assuntos, principalmente com os
tratadores, os quais eu acompanhei mais de perto no decorrer desses dias. O
principal ponto que aprendi foi sobre o convivio das pessoas em um zoológico,
como por exemplo a relação que os funcionários tem com os veterinários. E mais
uma vez tive oportunidade de ver como a equipe do Parque das Aves é bem
treinada, pois todos sabiam com clareza suas funções e as funções de cada
pessoa, de modo que todos sabiam a quem se dirigir e como se dirigir quando
havia interperies no cotidiano do Parque.
As reuniões realizadas diariamente com os tratadores do parque foram
extremamente importantes, pois dessa forma os cordenadores do parque
conseguem manter-se informados sobre todos os ocorridos, além de que os
41
próprios tratadores sentem-se mais valorizados por estarem sendo ouvidos e
tambem sentem-se com uma responsabilidade maior sobre o seu setor.
42
3.2 CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SELVAGENS DE TIJUCAS DO
SUL – PUCPR – IBAMA
3.2.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL
Um Centro de Triagem de Animais Selvagens é um local destinado a
recepcionar, triar e tratar os animais selvagens resgatados ou apreendidos pelos
órgãos fiscalizadores, assim como, receber animais selvagens de particulares que
os estavam mantendo em cativeiro, como animais de estimação.
Os animais recebidos são identificados e registrados, tanto sobre o próprio
animal quanto ao local de origem deste. Após isto eles são examinados, e
alojados de acordo com a sua necessidade. Se houver necessidade de tratamento
o animal é alojado no internamento do CETAS, estando hígido é encaminhado à
quarentena, onde é alimentado e mantido sob observação.
Caso os animais apreendidos não estejam na lista de animais ameaçados
de extinção, eles devem ser encaminhados a zoológicos, criadouros ou centros de
pesquisa registrados no IBAMA. A soltura pode também ser um destino, as
solturas devem ser feitas preferencialmente vinculadas a programas específicos
para este fim. Caso eles estejam na lista de espécies ameaçadas de extinção
cada animal deve ser avaliado caso a caso para decidir o seu destino.
A quantidade de viveiros que um CETAS necessita ter é relativa à
quantidade e variedade das espécies que os órgãos fiscalizadores costumam
encontrar na região onde o Centro está instalado.
Para que um CETAS funcione a contento, precisa dispor em seu quadro de
pessoal, no mínimo, um biólogo, um médico-veterinário e tratadores, pois são
43
atividades complexas e requerem bastante conhecimento de quem às
desempenha.
Os Centros de Triagem são apoiados e supervisionados pelo IBAMA por
meio de termos de cooperação técnica normalmente pertencem às instituições
científicas, jardins zoológicos, empresas privadas, fundações e secretarias
estaduais ou municipais.
Por trata-se de empreendimento oneroso e que lida diretamente com vida,
as suas atividades não podem ser interrompidas repentinamente por falta de
recursos. Dessa forma, os CETAS normalmente são vinculados às pessoas
jurídicas ou a órgãos de governo.
O CETAS de Tijucas do Sul é mantido pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (PUCPR), e foi inalgurado em junho de 1999, por meio de um acordo
entre a PUCPR, a Instituição Filantrópica Sergius Erdelyi e o IBAMA.
Por ser o único local no estado do Paraná autorizado pelo IBAMA para
receber animais selvagens, o CETAS de Tijucas do Sul, recebe animais oriundos
de todo o estado, trazidos por órgãos fiscalizadores, ou por outras autoridades,
como no caso da Ecovia, um órgão responsável pela integridade e pelo bom
funcionamento de diversas rodovias do estado do Paraná. Além disto, muitos
animais são trazidos por proprietários, que os mantinham em cativeiro.
A finalidade do CETAS é receber animais apreendidos e encaminhá-los as
instituições credenciadas, colaborando, desta forma com a conservação da fauna
no Estado do Paraná. Este Centro possibilita aos alunos de Medicina Veterinária,
Zootecnia e Biologia uma experiência prática com atividades de conservação da
natureza.
44
Nele trabalham duas veterinárias, sendo uma a responsável pelo CETAS e
a outra participa do um programa de residência em medicina de animais
selvagens. Além disto, há um biólogo responsável, e mais três tratadores.
O CETAS de Tijucas do Sul, basicamente apresenta como estrutura física,
uma recepção, um internamento, um ambulatório, um depósito junto com um
biotério, os recintos da quarentena, e outros recintos. Além de uma cozinha com
depósito de alimentos e banheiros para os funcionários. Dentro do terreno ainda
há a casa de um funcionário, que além de tratador dos animais, exerce a função
de caseiro.
Na recepção são feitos os recebimentos dos animais, sua identificação e
seu cadastramento. Todas as fichas clínicas e ofícios ficam guardados neste local.
O internamento é uma sala com prateleiras como suporte para gaiolas. Nele
há armários com rações para algumas aves, e com materiais usados na
manutenção e no manejo dos animais, como por exemplo, folhas de jornal. Há
uma pia aonde é feita a limpeza de materiais e a desinfecção das mãos em casos
de procedimentos cirúrgicos.
No ambulatório há os armários onde se guardam todos os medicamentos,
além de materiais usados no dia-a-dia, como equipamentos de contenção,
medicamentos para manejo de feridas, imobilização, anestésicos e etc. Há uma
mesa para a manipulação dos animais, e uma balança. Neste local ficam também
alguns animais internados que precisem de uma atenção especial, como por
exemplo, aquecimento artificial.
No setor de internamento também há as dependências especialmente
planejadas para o internamento dos répteis. Esta é uma sala isolada das demais,
45
isto se justifica pelas altas cargas bacterianas que os répteis apresentam em sua
superfície, e também devido às exigências especiais características do grupo
como o conforto térmico, nela há um aquecedor, e materiais para desinfecção,
como anti-sépticos.
Os recintos da quarentena ficam todos em um corredor, isolados das outras
instalações e são um total de 14 unidades. Cada um deles apresenta sua própria
área de manejo. Ultimamente esses recintos são usados para manutenção de
animais que ainda não foram destinados, mas que já não precisariam permanecer
em quarentena, o que causa uma superlotação do local.
Há uma serie de recintos extras, como o dos carcarás, o dos jabutis, o dos
tigres d’água que no momento só contém animais da espécie exótica (Trachemys
elegans), duas piscinas usadas como recintos para testudinos aquáticos nativos.
Ainda há um local com recintos para rapinantes, num total de cinco viveiros.
Porém devido à alta lotação, há mamíferos precariamente alojados em alguns
desses recintos. Também existem os recintos abertos, que são sete no total, e
abrigam animais como veados e cachorros-do-mato que se estressam com a
presença do ser humano.
O biotério fica junto ao depósito, onde estão guardadas ferramentas,
sacolas de lixo, caixas e gaiolas. Basicamente os animais criados no biotério são
ratos e porquinhos-da-índia.
Na cozinha há uma área para limpeza de potes usados para alimentar os
animais, um local para o preparo de alimentos, uma sala com geladeiras e um
depósito de frutas e rações.
46
3.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o estágio no Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas
do Sul, PUCPR, estive alojado nas dependências do PROAÇÃO, um projeto que
presta serviços a comunidade de Tijucas do Sul, associado à PUCPR. O estágio
durou do dia 1 a 31 de agosto de 2010 e tinha início às 8 horas da manhã, com
um intervalo de 1 hora para o almoço que se iniciava às 12 horas e terminava as
13. As atividades eram retomadas às 13 horas e terminavam às 17 horas, quando
eu era levado até o alojamento novamente. Por morar em Curitiba, nos finais de
semana eu tinha a opção de voltar para minha casa.
A primeira atividade do dia era administrar medicamentos aos animais
internados. Prioritariamente os antibióticos eram administrados, já que estes
devem seguir rigorosamente o horário, e em seguida eram tratados os outros
animais. Os outros animais eram tratados com suplementos nutricionais, Vitamina
A e complexos vitamínicos, tratamento de feridas, alimentação forçada ou apenas
com auxílio, e reavaliação. Após isto os répteis eram medicados e em seguida
alimentados, lembrando que a medicação com antibióticos era feita a cada dois
dias nos répteis, nas segunda, quartas e sextas-feiras. Os répteis eram tratados
principalmente com antibióticos e suplementação de cálcio. Em seguida era feita a
medicação dos animais que recebiam medicação uma vez por semana, como por
exemplo, antiparasitários, Vitamina A intramuscular e decanoato de haloperidol
(Haldol®).
Após o término das medicações não havia uma rotina estabelecida para
cada dia. As tarefas eram determinadas pela veterinária responsável e pela
residente do CETAS. Tais tarefas variavam entre, limpeza de gaiolas e recintos;
47
alimentação individual de alguns animais, organização do ambulatório, dos
documentos da recepção, manejo, captura ou tratamento individual de alguns
animais, organização do depósito, confecção de dardos e gaiolas/caixas,
observação dos animais e vermifugação.
Houve três procedimentos cirúrgicos durante meu estágio, sendo duas
castrações de macacos-pregos e uma amputação de cauda de um sagui-de-tufo-
branco (Callithrx jacchus).
Todas as quintas-feiras, os animais que necessitassem de exames
complementares eram encaminhados para o Hospital Veterinário da PUCPR no
campus de São José dos Pinhais. Nesses dias fiquei sozinho com os funcionários
no CETAS, cuidando das medicações dos animais. Entretanto na minha ultima
semana me foi permitido que fosse acompanhar os animais no Hospital
Veterinário. Neste dia a veterinária responsável pelo CETAS cuidou das
medicações e eu e a residente fomos para o Hospital. Junto com os exames
complementares as quintas-feiras são usadas para atender animais selvagens ou
não convencionais. Neste dia atendemos um gerbil que foi atacado por um gato, e
estava com necrose da ponta da cauda. O animal foi anestesiado com isoflurano e
realizamos a amputação da cauda no ambulatório de odontologia. Neste dia
realizamos apenas exames radiográficos de uma coruja-do-mato, uma coruja-
orelhuda, um periquito-maracanã, dois jabutis, um bem-te-vi e um sagui-de-tufo-
branco.
48
FIGURA 4 – Indução anestésica de um gerbil (Meriones unguiculatus) usando isoflurano.
O manejo dos animais era necessário em diferentes situações: alguns
requeriam manejo para a troca de caixas ou gaiolas, para limpeza e alimentação
do animal, como no caso de um ratão-do-banhado. Outros precisavam de manejo
devido a brigas nos recintos, logo era preciso formar novos grupos, com a
pretensão de cessar os ataques, como no caso dos macacos-prego.
Como foi supracitado, o ratão-do-banhado precisava ser removido da sua
caixa, e transferido para outra, que já estava limpa e com alimento no seu interior.
Assim nós podíamos limpar a outra caixa, e deixá-la pronta para o uso no dia
seguinte. A troca das caixas era feita colocando uma em frente à outra, abrindo as
duas tampas e incentivando o animal a passar de uma para a outra. Tal animal
49
havia sido capturado no recinto, por estar sofrendo de uma infestação por
carrapatos.
Os macacos-prego, além de brigarem, houve a chegada de mais indivíduos,
e também havia outro animal que estava sendo mantido isolado dos demais por
ter sido atacado e ferido na cauda. Os macacos foram capturados com puçás, um
a um, foram vermifugados, com levamisol (Ripercol®) injetável e com Fipronil
tópico (Frontline®). A nova disposição dos animais nos três recintos de macacos
foi feita desmanchando grupos de animais agressivos, e trocando todos os
animais possíveis do seu recinto original, para que este não se sentisse dono do
território.
Também foram manejados dois bugios, que foram colocados em gaiolas
pequenas, por uma semana, para vagar o seu recinto original para um filhote de
tamanduá-mirim, que não estava se alimentando por estresse causado pela sua
gaiola de tamanho inadequado.
Alem disto quatro quatis foram manejados para que realizássemos a
vermifugação com Drontal®, pela via oral e pesagem Outro animal que tentamos o
manejo foi uma capivara, mas após várias tentativas insatisfatórias de captura, em
um dia de muito calor, desistimos de prosseguir, com medo que o animal sofresse
maiores danos, como por exemplo, uma hipertermia.
Os tucanos-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus) foram capturados e
vermifugados com Drontal®, para prepará-los para uma transferência.
As serpentes venenosas também foram manejadas, para que pudéssemos
realizar sua alimentação. Elas eram retiradas de suas caixas com equipamento
especializado, com o tratador Paulo usando EPIs, e eram colocadas em um balde
50
com tampa, para que fizéssemos a limpeza da caixa. Em seguida colocávamos
um rato para cada serpente, e devolvíamos o réptil para seu local de origem.
Os demais répteis internados eram manejados para que tomassem banho
de sol sempre que possível.
Os animais do internamento eram constantemente manejados, seja para as
medicações, como já foi dito anteriormente, seja para troca de gaiolas, de poleiros
e de comedouros e bebedouros. Além disto, uma vez por semana nós os
levávamos para o gramado para que eles pudessem tomar banho de sol, como
pode ser visto na FIGURA 5.
Todos os papagaios do CETAS também foram manejados, para reorganizá-los de
forma a dividi-los melhor entre os recintos, evitando assim uma superlotação.
Concomitantemente com o manejo fizemos a vermifugação com Drontal®.
No penúltimo dia do meu estágio 174 aves dos recintos 1 e 2 foram
capturados e colocados em caixas para serem soltos no dia seguinte. Entre essas
aves estavam 12 espécies diferentes. Outros animais que também foram soltos
durante o estágio foram 12 aves de rapina e um gato-do-mato. Eles foram soltos
em um local escolhido pelos técnicos do CETAS.
51
FIGURA 5 – Animais do internamento sendo expostos a luz solar.
Outra atividade que ficou sob meus cuidados em alguns momentos era o de
ensinar e de supervisionar os alunos estagiários da PUCPR, do curso de Medicina
Veterinária.
Quando chegavam animais trazidos ou por órgãos competentes ou por
doação por proprietários, os estagiários tinham que ajudar no exame físico dos
animais. Durante o mês de agosto de 2010 foram trazidos 47 animais.
Durante meu estágio houve uma atividade extra no meu primeiro dia. Neste
dia um grupo de pesquisadores do curso de Medicina Veterinária da Universidade
Federal do Paraná fez uma visita ao CETAS, para realizar diversos exames
oftálmicos nas corujas e nos carcarás ali alojados. Os exames realizados foram:
52
Teste Lacrimal de Schirmer, tonometria com o uso do Tonopen®, teste de
sensibilidade da córnea, paquimetria, biometria dos olhos e fundoscopia quando
possível.
3.2.3 DISCUSSÃO
A medicação dos animais era feita como primeira atividade do dia para
respeitar os horários dos medicamentos, principalmente dos antibióticos. Durante
esta etapa do dia tive oportunidade de treinar diversas habilidades, como captura
de animais engaiolados, contenção de aves, répteis e mamíferos, administração
oral, subcutâneo, intramuscular, tópica e oftálmica, e avaliação dos animais por
exame físico. Além disto, aprendi sobre diversos protocolos de tratamento, assim
como sinais clínicos, diagnóstico e sobre a alimentação dos diversos animais.
Aprendi também sobre as diferentes espécies animais e seus nomes vulgares,
sobre o método de preenchimento de fichas de um CETAS, que é diferenciado
devido à grande casuística do local e a não necessidade de estar reportando os
achados dos animais a um proprietário.
Como eu havia voltado do meu estágio no Parque das Aves, eu já tinha
pratica em manejo e contenção de aves, e como a maioria dos casos no CETAS
eram desse tipo de animal, não foi preciso que as veterinárias se preocupassem
tanto em me ensinar. Isto com certeza favoreceu a minha adaptação as práticas
do local, e também acelerou grande parte dos procedimentos em que participei.
53
De acordo com o GRÁFICO 11 a maior parte dos animais tratados
apresentava enfermidade traumática, com um total de 26 casos (41%), sendo que
em segundo lugar houve um empate entre doenças parasitárias e nutricionais,
cada uma delas com 13 casos (21%). No total foram tratados 63 animais. Das
afecções traumáticas 17 dos 26 casos (65%), foram tratadas com procedimentos
ortopédicos, e o restante, nove casos (35%) foi necessário apenas o tratamento
de feridas, como pode ser visto no GRÁFICO 12.
GRÁFICO 11 – Casuística de animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR,
IBAMA, no mês de agosto de 2010.
Entre as doenças nutricionais, se destacaram a hipovitaminose A, com sete
dos 13 casos (54%), a doença osteometabólica com quatro casos (31%) e os
outros dois casos (15%) foram apenas de ou alimentação forçada ou alimentação
supervisionada.
Comparando os casos de doenças parasitárias, quase o total se encaixou
em algum tipo de sarna, representando 92% dos casos (12), Além disto, houve
apenas um caso (8%) de uma infestação por carrapatos.
Durante os manejos dos diversos animais, tive uma maior chance de
praticar a captura e contenção de animais nos recintos, com o uso de puçás e
54
luvas de couro. Tal pratica exige tanto conhecimento técnico, como força e
reflexos, e com estes procedimentos percebi em mim mesmo uma melhora ao
decorrer do tempo.
GRÁFICO 12 – Relação entre os casos referentes a traumas dos animais tratados no
CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.
GRÁFICO 13 – Relação entre os casos de doenças nutricionais referentes aos animais
tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.
55
GRÁFICO 14 – Relação entre os casos de doenças parasitárias referentes aos animais
tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010..
Durante o manejo dos macacos-prego, treinei apenas a captura com
uso de puçás. A contenção física após a captura também ficava nas mãos do
tratador, e o meu serviço durante este procedimento era de tratar feridas e aplicar
levamisol (Ripercol®) e fipronil (Frontline®).
Na captura dos papagaios pude praticar a captura dos animais, a
contenção física e a administração de medicamentos por via oral, já que os
vermifugamos com o uso de Drontal®.
Com a capivara, por mais que ela não tenha sido capturada, aprendi
sobre a forma de captura com rede, em que uma pessoa arma a rede e os demais
conduzem o animal na direção da armadilha. Mas o maior aprendizado que tive foi
sobre o momento certo de se parar a perseguição ao animal, o que se não for
respeitado, pode ocasionar a morte do animal.
Os quatis exigiram mais de mim para a sua captura e contenção,
mas isto ocorreu, pois como era já na minha ultima semana de estágio eu já
estava mais confiante e mais confiável, portanto me permiti participar mais
ativamente do procedimento.
56
Durante o mês de agosto, recebemos 47 animais vindos de
apreensões ou doações, seguindo a distribuição mostrada no GRÁFICO 15.
Comparado com o histórico de recebimento do CETAS o mês de agosto teve uma
baixa quantidade de recebimentos. Os animais recebidos em maio número foram
gambás, mas isto só ocorreu, pois em um dia chegaram sete filhotes de gambá,
todos mortos, logo isto não deve ser usado para estudar a casuística de
recebimentos. Em seguida dos gambás há uma maior quantidade de canários-da-
terra e de coleirinhos, o que realmente condiz com o histórico de recebimentos,
mostrando um maior número de passeriformes.
GRÁFICO 15 – Número de animais por espécie recebidos no CETAS de Tijucas do Sul,
PUCPR, IBAMA no mês de agosto de 2010.
Durante o mês de agosto fizemos soltura de 187 animais,
distribuídos como mostra o GRÁFICO 16. A enorme quantidade de canários da
terra que foram soltos condiz com a quantidade desses animais que chegam ao
CETAS todos os meses, como vimos anteriormente no GRÁFICO 15 essa espécie
foi a segunda que mais chegou nesse mês.
57
A visita realizada pelos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná
foi muito interessante, pois o CETAS apresenta uma enorme quantia de animais
disponíveis para o uso em pesquisa, e que muitas vezes é negligenciada. Dessa
forma os animais passaram a ter uma utilidade maior do que apenas esperar por
uma transferência, o que, muitas vezes, nunca acontece.
Sobre o funcionamento de um CETAS percebi o quanto demorado e
burocrático os processos podem ser. Muitos animais que tinham condições de
serem soltos, precisaram esperar a autorização do IBAMA para tal, e no decorrer
deste tempo ou morreram ou adoeceram devido à precariedade da manutenção
no cativeiro, caso ocorrido com um tatu.
GRÁFICO 16 – Número de solturas de animais por espécie, realizadas pelo CETAS de
Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, em agosto de 2010.
58
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente escolhi o estágio no Parque das Aves, pois ele tem fama de
ser um zoológico exemplo para todo o Brasil, e por ter uma medicina preventiva
excepcional. Isto me chamou muito a atenção visto que eu nunca tinha estagiado
em um zoológico antes, e que a minha área de conhecimento mais fraco era a de
medicina preventiva.
O estágio cumpriu todos os seus objetivos, superando-os de maneira
surpreendente. Aprendi muito mais do que apenas medicina preventiva! Os
conhecimentos clínicos do veterinário do Parque são extraordinários, alem de ser
uma pessoal muito acessível, o que me fez ficar a vontade para tirar muitas
dúvidas, e discutir muitos assuntos, inclusive, expressar a minha opinião mesmo
quando esta era contrária a do próprio veterinário. E mesmos nestes casos eu fui
ouvido e levado em consideração.
Senti falta de praticar alguns procedimentos como a colheita de sangue, e a
contenção física dos animais, porém concordo que tais procedimentos não são
totalmente apropriados a um estagiário, visto que o Parque é uma entidade
privada com fins lucrativos. Sobre a contenção física dos animais acredito que se
o estagiário expressar essa vontade isto lhe será permitido, mas na maioria das
vezes as funções que tivemos a oportunidade de exercer quando os animais
precisam ser contidos foram mais interessantes do que a própria contenção.
A experiência que adquiri, mesmo nos assuntos não diretamente
relacionados com veterinária, foi além das minhas expectativas. Dessa forma senti
que com o término do estágio eu havia crescido muito tanto profissionalmente
59
como pessoalmente, tornando-me uma pessoa mais habilitada a exercer minha
futura profissão, mais confiante e mais contente comigo mesmo.
Após o início do estágio no CETAS percebi que este seria um pouco
diferente do que o previsto por mim. Inicialmente eu acreditava que aprenderia
sobre a teoria da clínica médica e cirúrgica, e também que praticaria, mas me
surpreendi quando percebi que eu já possuía o conhecimento de grande parte da
teoria. Dessa forma o estágio foi mais proveitoso no sentido do treino das minhas
habilidades práticas, e também no reforço da teoria dos procedimentos.
Ainda assim tive oportunidade de aprender diversos protocolos
diferentes dos que eu já havia presenciado, e em alguns casos, como em
ortopedia, protocolos com indicações opostas ao que eu conhecia.
O ponto principal no meu aprendizado durante o estágio foi o do
funcionamento de um CETAS, já que esta entidade é umas das únicas que unem
todos os locais de trabalho. O trabalho em um CETAS é diferente de qualquer
outro local, pois nossos esforços são para tratar animais enfermos para habilitá-los
para solturas ou destiná-los para zoológicos. Todos os animais devem estar
saudáveis para que isto seja possível, o que represente grande responsabilidade.
Além destas considerações, acredito que o CETAS deveria ter autonomia para
decidir sobre a solturas dos animais, pois os profissionais mais qualificados para a
decisão sobre a capacidade ou não do animal sobreviver em vida livre são os
próprios veterinários do CETAS. Problemas podem ocorrer quanto ao local de
soltura, mas isto também seria levado em consideração pelos profissionais, e em
muitos casos sabe-se exatamente o local onde o animal foi capturado. Quando
não, o CETAS e o IBAMA deveriam agir em conjunto para tornar as solturas dos
60
animais mais rápidas para evitar possíveis mortes devido à manutenção do
cativeiro.
Com este estágio me senti mais preparado para trabalhar com animais
selvagens, pois vi o quanto é possível fazer pelos animais, mesmo quando
trabalhamos em condições não ideais.
Desde a seleção e a escolha dos locais para meu estágio, o objetivo foi
buscar lugares complementares não somente entre si, mas que também
agregassem experiências e conhecimento a minha formação. Pude perceber que
tal objetivo foi atingido com eficiência. O CETAS e o Parque das Aves são lugares
diferentes, que trabalham com áreas complementares da Medicina de Animais
Selvagens. Os pontos comuns entre os dois estágios, principalmente a clínica de
aves, também foram proveitosos, visto que a realidade enfrentada nos dois
lugares é completamente diferente. Enquanto em um lugar nós dispúnhamos de
uma quantidade enorme de ferramentas, que nos permitiam aprofundar com
eficiência cada um dos casos clínicos; o outro apresentava uma estrutura muito
menos sofisticada. Isto abiu portas para o uso de técnicas diferenciadas, que
permitam atendimentos de qualidade mesmo com a precariedade de recursos.
Vale lembrar que tal precariedade só se é percebida quando comparada ao outro
local, que realmente possui uma estrutura a cima da média, pois quando
comparada a lugares habituais, como por exemplo, o Hospital Veterinário da
Universidade Federal do Paraná, não é observado tanta diferença. Portanto eu me
senti completamente à vontade atuando em um lugar como o CETAS. Por outro
lado, no Parque das Aves, aprendi diversas informações teóricas novas,
61
principalmente sobre profilaxia e o funcionamento de um zoológico. Informações
que faltavam a minha formação profissional, no CETAS eu pratiquei diversas
atividades que eu aprendi ao longo desses cinco anos do Curso de Medicina
Veterinária, e fiquei contente ao perceber que as executava com certa eficiência.
Há uma grande semelhança entre os dois locais. Os dois apresentam
casuística muito grande e uma serie de atividades que exigem a presença de um
médico veterinário. E tais lugares só se sustentam em cima de apenas um
veterinário, o Mathias Dislich no Parque das Aves e a Grazielle Soresini no
CETAS. Os dois se dedicam praticamente em tempo integral ao seu trabalho, e
muitas vezes trabalham em suas próprias casas para cumprir com o total de
tarefas que seu trabalho exige. Portanto a qualidade do atendimento médico
veterinário dos dois locais só se mantém por causa dessa determinação e
dedicação elogiável dos dois profissionais. No CETAS há o programa de
residência em medicina de animais selvagens, o que com certeza ajuda muito
para o melhor desempenho do atendimento, mas no caso do Parque das Aves
não há mais ninguém que possa colaborar, portanto acredito que o ideal seria
mais um veterinário trabalhando com conjunto com o Mathias. Muitas vezes o
convênio com universidades consegue ajudar com grande eficiência o
desempenho de lugares como esses.
Dessa forma sinto que após esses estágios estou mais preparado para o
mercado de trabalho, menos inseguro e mais confiante em minhas habilidades e
conhecimentos.
62
5. CASOS CLÍNICOS
5.1 CASO CLÍNICO I
Nome Científico: Ramphastus dicolorus Nome Popular: tucano-de-bico-verde Local: Foz Tropicana, Parque das Aves
5.1.1 HISTÓRICO
O animal foi encontrado no solo do recinto “Floresta”, que é um recinto de
imersão, pelo tratador responsável por este setor, com aumento de volume nas
pálpebras do olho direito. Foi trazido até o hospital veterinário, onde foi
examinado. Durante o exame físico notou-se edema palpebral no olho direito,
sangue no fundo do saco conjuntival, sangue na cavidade oral e uma estrutura
azulada na conjuntiva. Fora isso o animal apresentava-se alerta e com bom
escore corporal.
Foi colhido sangue da veia jugular direita, e notou-se que este estava com
baixa viscosidade. Os seguintes exames complementares foram efetuados:
esfregaço sanguíneo, microhematócrito e exame bioquímico com o Vetscan®.
No microhematócrito observou-se um valor de 14,1%, mostrando uma
anemia considerável, como vemos na FIGURA 6. No esfregaço sanguíneo foi
possível observar uma grande quantidade de eritrócitos jovens e seus
precursores, característico de uma anemia regenerativa. Os parâmetros do
Vetscan® foram os seguintes:
63
AST = 262
BA = <35
CK = 3948
UA = 3,3
GLU = 443
CA++ = 9,7
PHOS = 2,9
TP = 2,7
ALB = 1,4
GLOB = 1,4
Considerando o histórico, considerou-se como diagnóstico diferencial:
hemorragia por trauma, intoxicação por rodenticida ou alguma enfermidade que
promovesse hemólise. Porém como o não havia evidências de hemólise, esta
possibilidade foi descartada.
Uma avaliação minuciosa do recinto animal revelou pequena quantidade de
iscas rodenticidas no solo próximo a armadilhas para ratos. No total eram cinco
armadilhas no recinto e em três delas havia fragmentos do veneno no chão, como
mostra a FIGURA 7.
64
FIGURA 6 – Microhematócrito do tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus). Foto de
Mathias Dislich
O animal foi tratado com Vitamina K, na dose 2.2 mg/kg intramuscular,
resultando em 0,5 mL (já que a ave pesava 373g) e pela grande quantidade do
medicamento ele foi administrado em dois lugares diferentes do peito do animal.
Além disto a ave também foi tratada com 0,07 mL de cetoprofeno 1%, IM, SID;
0,15 mL enrofloxacina 2,5%, IM, BID e Epitezan® (Allergan) . Ao longo do dia, o
edema palpebral direito diminuiu, entretanto houve um aumento em menor escala
na pálpebra do olho esquerdo do animal. Um dia após o início do tratamento o
edema palpebral havia diminuído consideravelmente, não havia mais sangue na
cavidade oral e o animal continuava alerta. No local da aplicação da Vitamina K
havia dois grandes hematomas, e foi cessado o tratamento com este
medicamento após a segunda dose.
65
FIGURA 7 – Rodenticida encontrado no solo do recinto “Floresta” ao lado da armadilha.
FIGURA 8 – Aspecto do animal no momento se sua chegada ao hospital veterinário
66
FIGURA 9 – Sinais de hemorragia na cavidade oral de um tucano-de-bico-verde
(Ramphastus dicolorus) após ingestão de rodenticida.
FIGURA 10 – Cavidade oral de um tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus)
intoxicado com rodenticida, um dia após o tratamento com vitamina K.
67
Conclui-se que o animal havia ingerido uma quantidade considerável de
rodenticida.
Após o término do tratamento o animal não apresentou mais sinais de
hemorragias, porém este desenvolveu um desequilíbrio gastrintestinal, mostrando
sinais de enterite bacteriana e capilariose. Este episódio pode ser justificado como
decorrência de queda da imunidade, tornando exacerbado o parasitismo que se
encontrava equilibrado com as condições orgânicas do paciente até então.
5.1.2 DISCUSSÃO
A quantidade de veneno encontrado no solo do recinto não aparentava ser
uma quantidade suficiente para que o animal sofresse uma intoxicação aguda,
portanto é possível concluir que o animal vinha ingerindo o veneno há vários dias.
Entretanto a toxicidade depende do principio ativo do veneno e já que a isca era
de cor azulada acredita-se que o veneno seja feito de warfarina, que é um
composto da cumarina de baixa toxicidade. Para que a warfarina cause sinais
clínicos nos animais é preciso que ocorra uma ingestão crônica, de 1 a 2
mg/kg/dia (MURPHY, 1975). Como o veneno foi encontrado no chão próximo a
duas das cinco armadilhas do recinto é possível que a ingestão tenha sido de uma
maior quantidade vinda das varias armadilhas ou uma ingestão crônica.
Como ranfastídeos tem o hábito de alimentar-se de pequenos animais
(SICK, 1995), ainda há a possibilidade de a ave ter ingerido algum animal que
estivesse carreando o veneno consigo, entretanto sabe-se que a quantidade
carregada por um pequeno animal não é o suficiente para intoxicar uma ave do
tamanho de um tucano.
68
O animal apresentava uma anemia grave, e a o tratamento foi cessado
após apenas duas dose de vitamina K. Em casos de intoxicação por rodenticida o
tratamento recomendado para aves é de 0,2-2,2 mg/kg IM q4-8h até o animal
estabilizar e após isto o deve ser continuado na mesma dose, q24h por 14 dias
(CARPENTER, et all, 2010). Segundo Marx (2006) e Tiwari (2010), o tratamento
na mesma dosagem deve ser prolongado para até quatro semanas, caso o
rodenticida seja de geração intermediária ou de segunda geração. Não foi utilizado
o tratamento recomendado pela literatura o que pode ter dificultado a recuperação
do animal. É possível que o estresse que esse animal sofreu para se recuperar
sem o tratamento recomendado tenha causado uma deficiência em sua
imunidade, o que explicaria, em parte, o desequilíbrio gastrintestinal. De acordo a
opinião de Mathias Dislich, uma maior proliferação de capilárias no trato
gastrintestinal de tucanos causa lesões nas mucosas abrindo portas de entradas
para agentes bacterianos. E pode ter ocorrido de o animal ainda estar com um
grau importante de deficiência de coagulação, o que pode ter agravado as lesões
causadas inicialmente pelas capilárias.
5.1.3 SOBRE A ESPÉCIE Reino: Animália Classe: Aves Ordem: Piciformes Família: Rhamphastidae Gênero: Ramphastus Espécie: Ramphastus dicolorus
Todas as aves da família Ranfastídea são arborícolas, se restringem ao
Neotrópico e se distribuem do México até a Argentina. São conhecidos por
apresentarem ranfotecas grandes e com cores fortes e chamativas. Sendo assim
69
tal estrutura apresenta duas funções, uma de proteção contra predadores e rivais
e outra para atrair um companheiro, além de servir para a apreensão de alimento
(SICK, 1997). Outra função recentemente estudada é a de que a ranfoteca dos
tucanos atuam como órgãos termorreguladores (TATTERSALL, et al., 2009).
Os ranfastídeos são aves frugívoras, mas também podem se alimentar de
pequenos animais, como aranhas, cigarras e grilos. Também são conhecidos por
predarem ovos e filhotes de outras aves (HELMUT SICK, 1997).
Esses animais costumam viver em bandos, reúnem-se principalmente à
noite para dormirem. Ao dormir, colocam a cabeça sobre as costas e a cobrem
com as penas do rabo, o qual se levanta de maneira involuntária e sem esforço,
com o relaxamento dos músculos. Eles podem dormir tanto em buracos de troncos
como empoleirados em galhos.
Tucanos formam casais, os quais se alimentam e arrumam as penas um
dos outros. Fazem ninhos em buracos ou fendas já existentes em arvores altas.
Põem de dois a quatro ovos e no caso dos R. vitellinus o período de incubação é
de 18 dias e após terem nascido eles saem do ninho com 25 a 30 dias de vida, em
cativeiro (SICK, 1997).
5.1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Aves são animais com grande potencial à ingestão de toxinas por serem
curiosos e acabam tendo interesse em materiais de texturas diferentes, recipientes
e locais diferentes pelo ambiente (HARRISON e DUMONCEAUX, 1994). Dessa
forma é recomendado que o ambiente no qual as aves se encontram sejam
construídos “a prova de aves” para impedir que elas tenham acesso a objetos ou
materiais que causem risco a suas vidas.
70
O contato ou o consumo de certas substâncias podem levar o animal a uma
intoxicação aguda ou crônica. Além disto, as aves, pela sua fisiologia e tamanho,
são mais susceptíveis a alguns agentes tóxicos, como químicos voláteis e
fumaças (HARRISON e DUMONCEAUX, 1994).
Antigamente eram usados rodenticidas à base de alfanaftliltiouréia (ANTU),
anidrido arsenioso, estricnina, fosfetos metálicos, fósforo branco,
monofluoroacetato (1080), monofluoroacetamida (1081), sais de bário e sais de
tálio, entretanto tais compostos estão proibidos de acordo com a Portaria nº
321/MS/SNVS, de 8 de agosto de 1997. Os compostos permitidos pelo Ministério
da Saúde são compostos orgânicos sintéticos, à base de warfarina e outros
anticoagulantes. Tais anticoagulantes agem interferindo em processos
bioquímicos que envolvem a Vitamina k.
O sistema circulatório é um tecido muito dinâmico, que esta em constante
estado de reparação e regeneração. A hemorragia que ocorre como devido a
causas normais (traumas, processos infecciosos, choques, estresse e etc.)
desencadeia três processos que determinam a coagulação.
A primeira fase é conhecida como fase vascular, em que ocorre contração
ou espasmo da parede vascular, a fim de retardar a saída de sangue do caso
lesado. A segunda, fase plaquetária, ocorre concomitantemente com a primeira,
sendo considerada parte da mesma fase por alguns autores. As plaquetas se
aderem ao endotélio dos casos lesionados formando um tampão ou um trombo de
plaquetas. Além disto, as plaquetas liberam fatores vaso ativos e fatores iniciantes
da coagulação, o que da origem a terceira fase. Durante a terceira fase ocorrem
os mecanismos que transformam o fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel.
71
Serão abordados apenas os componentes do mecanismo de coagulação
que a sua concentração plasmática é influenciada pela Vitamina K.
Quando a coagulação é iniciada, são desencadeados dois caminhos para
alcançar a hemostasia. A via intrínseca se refere a um processo lento (5-15
minutos), enquanto que a via extrínseca é um processo rápido (10-12 segundos).
As duas vias agem de maneiras diferentes até certo ponto da cascata de
coagulação, quando as duas passam a seguir o mesmo caminho, transformando o
fibrinogênio em fibrina.
As duas vias de coagulação (intrínseca e extrínseca) apresentam durante
seu processo pelo menos um fator que depende de vitamina K para sua síntese,
logo a deficiência ou a inibição da vitamina k interrompe o fluxo da cascata de
coagulação, impedindo a fibrina de ser formada.
Os fatores dependentes de Vitamina K são o fator VII (na via extrínseca), o
fator IX (na via intrínseca) e os fatores X e II (protrombina) (nas duas vias). Esses
fatores são produzidos no fígado e a Vitamina K é essencial para a carboxilação
dos seus ácidos glutâmico residuais. O metabolismo da Vitamina K é
essencialmente no fígado.
Uma enzima muito importante para que seja continuada a síntese de novos
fatores VII, IX, X e da protrombina, é a 2,3 epoxi-redutase de Vitamina K. A ação
dos rodenticidas anticoagulantes é impedir essa enzima de reciclar a vitamina K, o
que causa depleção da forma ativa da vitamina. Quando isto ocorre, é cessada a
carboxilação dos fatores VII, IX, X e da protrombina. Entretanto os fatores
produzidos anteriormente a ação da toxina não sofrem ação alguma e são
capazes de continuar com sua função na cascata de coagulação, até que ocorra
72
depleção total desses fatores. É nesse momento que as hemorragias começam e
isto pode demorar até cinco dias após a ingestão do veneno. Como o fator VII tem
uma meia-vida de 6,2 horas, a via extrínseca é a primeira a cessar. Nesse caso o
animal já sofre pequenas hemorragias, mas sem presença de sinais clínicos.
Assim o diagnóstico pode ser feito por exames laboratoriais que revelam um
elevado Tempo de Protrombina (PT).
Quando a vida útil do fator IX (via intrínseca) chega ao fim (13.9 horas),
esse caminho também cessa, e é nesse momento que as hemorragias mais sérias
e os sinais clínicos começam a aparecer. Também é possível de se detectar em
exames laboratoriais um elevado Tempo Parcial de Protrombina (PTT).
Como dito anteriormente os rodenticidas anticoagulantes atuam inibindo a
enzima 2,3 epoxi-redutase de Vitamina K que faz a reciclagem da vitamina K.
Entre os compostos usados hoje em dia no combate de roedores estão com
rodenticidas de primeira geração, como principal membro a warfarina e os
rodenticidas de segunda geração, como o Brodifacum.
Warfarina: são formulados como tabletes parafinados (uso em saúde
publica e agrícola) de coloração verde ou azul escuro; pó (agricultura) e iscas de
coloração azul-celeste (uso doméstico). Sua concentração varia de 1,5-10g de
ingrediente ativo por cada quilo de produto formulado.
O brodifacum apresenta-se como iscas de coloração rósea, com uma
concentração de 20-50mg/kg de produto formulado. Concentrações do produto
bromadiolone variam usualmente de 0,005 a 0,05%.
Sobre a farmacocinética desses venenos podemos dizer que a absorção
pela pele é baixa e pelo trato gastrintestinal é rápida e completa, em poucos
73
minutos depois de ingerida (2-3h). Também podem ser absorvidos por via
respiratória, principalmente, no momento da formulação. Significante absorção
transcutanea de warfarin causou muitos casos de síndrome hemorrágica em
crianças.
Dados do uso como agente terapêutico mostram que o volume de
distribuição é muito pequeno (0,1-0,2L/kg). Liga-se predominantemente (99%) em
albumina sérica e outras proteínas plasmáticas.
A warfarina é metabolizada por enzimas microssomais hepáticas por
oxidação a 6-hidroxiwarfarina e 7-hidroxiwarfarina (ambos anticoagulantes
inativos), e por redução para álcool isomérico (ativo). São conjugados e lançados
na bile, sofrendo reabsorção enteroepática. O brodifacum sofre metabolização
muito lenta, a meia-vida do produto no soro é de 156h ou mais. A meia-vida da
warfarina depois de uma overdose volumosa de 2000mg em um adulto foi de
21,7h. Em outro paciente, com overdose de quantidade desconhecida, foi de 53h.
Atravessam a barreira placentária apresentando risco de hemorragia significativo
para o feto. Uma parte é excretada pelos rins e outra parte pela bile. Menos de 1%
da dose é excretada inalterada na urina, e essencialmente nenhuma warfarina
inalterada é encontrada nas fezes. A excreção urinária corresponde a 16-43% de
uma única dose da droga por um período de seis dias, aparentemente como o
metabólito 7-hidroxi. Têm duração de efeito em torno de 2-7 dias após.
Sobre a farmacodinâmica, A warfarina inibe a atividade da 2,3 epoxi-
redutase de Vitamina K e da quinona redutase de vitamina K resultando de ambos
os efeitos, a inibição de vitamina K. Esta vitamina é um co-fator na síntese dos
fatores da coagulação II, VII, IX e X.
74
Esses agentes também aumentam a permeabilidade dos capilares
predispondo a hemorragia interna além de causar lesões diretas nos capilares.
Eles aumentam a fragilidade capilar, sendo esse efeito intensificado pela ingestão
de doses repetidas, havendo acúmulo progressivo das lesões bioquímicas. Os
fatores predisponentes para que a intoxicação ocorra são: dieta rica em gorduras,
pois a gordura desfaz o ligamento entre o anticoagulante e a albumina,
aumentando assim a porção livre do veneno. Antibióticoterapia prolongada, pois
isto diminui a produção de vitamina K pelos microorganismos intestinais.
Obstruções biliares e do fígado diminuem a excreção do anticoagulante, além de
comprometer a função de síntese dos fatores de coagulação. Há outras
substancias que desligam o anticoagulante da albumina, como oxyfenbutazona,
fenilbutazona, sulfonamidas e adrenocorticóides. Além de em casos de uremia.
Ácido acetilsalicílico compromete a coagulação.
Os métodos de prevenção dessa intoxicação é basicamente educação do
cliente e do operador das armadilhas.
75
5.2 CASO CLÍNICO II
Nome Científico: Phrynops geoffroanus Nome Popular: cágado-de-barbicha Local: Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas do Sul
5.2.1 HISTÓRICO
O animal já estava alojado no CETAS de Tijuca do Sul em uma piscina de
lona comercial, e estava sendo tratado com 0,3mL de enrofloxacina 10%
intracelomático, 3 mL de fluido para répteis (1/3 de solução fisiológica, 1/3 de
ringer com lactato e 1/3 de glicose a 5%) intracelomático a cada dois dias, e
vitamina A (Arovit®) intramuscular uma vez por semana, devido a uma série de
lesões no casco e na pele. Durante a visita dos pesquisadores da Universidade
Federal do Paraná, percebemos que o animal apresentava certo grau de blefarite
e enoftalmia em ambos os olhos.
Junto com esse animal havia outros, inclusive um cágado-feio (Acantochelys
spixii) que apresentava, em um grau menor, os mesmos sinais de blefarite.
Entretanto o segundo animal veio a óbito antes do início do tratamento.
Durante a visita dos pesquisadores, os oftalmologistas do grupo
recomendaram o uso de Epitezan®, uma pomada oftálmica que contem
cloranfenicol, e realizaram coleta de material microbiológico do saco conjuntival
para cultura e antibiograma.
O tratamento foi iniciado com Epitezan® antes dos resultados dos exames
complementares, realizando a administração da pomada três vezes ao dia e o
animal foi transportado para uma pia dentro da recepção do CETAS. Durante os
primeiros dias não houve melhorada significativa e após uma debridagem do
76
tecido necrosado das pálpebras percebeu-se a intensidade da inflamação do
tecido, com hiperemia acentuada e um edema considerável. Nesse dia inicio-se
também a instilação de Biamotil-D®, um colírio contendo ciprofloxacina e
dexametasona.
Logo no segundo dia após o tratamento com o colírio houve uma boa
redução do edema, porém o tecido continuou hiperemiado.
O resultado do exame complementar revelou a presença de Aeromonas sp.
Do material coletado do saco conjuntival do animal, o antibiograma informou que a
colônia era sensível a cloranfenicol.
Ao passar dos dias decidiu-se aumentar a dosagem de fluido para 20 mL.
Com duas semanas de tratamento, realizou-se uma debridagem do tecido
necrosado no casco, o que causou um sangramento crônico de algumas partes.
Seguido disso inicio-se também uma terapia de banho em PVPI diluído em água
morna uma vez ao dia.
Após três semanas de tratamento, não havendo melhora significativa do
animal fez-se alimentação forçada com peixe de água-doce congelado, água,
carbonato de Cálcio (Biotec®), complexo B (Bemcomplex®), e com complexo
vitamínico (Aminomix®), todos batidos em um liquidificador. A abertura da
cavidade oral do animal foi realizada com um especulo, e o alimento foi fornecido
através de uma sonda. Feito isso o animal ficou sob observação quanto à
produção de fezes e urina. Nos próximos dias observou-se apenas uma pequena
quantidade de urina sendo eliminada.
No dia seguinte o animal se mostrou mais ativo, porém mesmo nos dias
seguintes não houve melhora clínica. Fora o dia após a alimentação forçada, o
77
animal foi ficando mais apático com o passar dos dias, mostrando uma não reação
à enfermidade.
FIGURA 11 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).
FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de antibiograma de
um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).
78
FIGURA 13 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus), após
debridagem do local.
79
FIGURA 14 – Abertura da cavidade oral de um cágado-de-barbicha (Phrynops
geoffroanus) com o uso de um especulo, para alimentação forçada.
5.2.2 DISCUSSÃO
O animal era mantido em um lugar não próprio, sem aquecimento , junto
com diversos outros animais, alguns também enfermos. Isto aumenta a pressão
que o animal sofre para resistir à doença. Mesmo trocando o animal de ambiente
ele não ficou em um local adequado, ainda que se o animal não tivesse doente
este não estaria sentindo-se confortável. A mudança do ambiente foi realizada
mais para facilitar o manejo do animal, que tinha que ser contido três vezes por
dia, do que para melhorar a sua qualidade de vida.
80
O tratamento indicado pelo oftalmologista com certeza é um tratamento de
eleição para este tipo de infecção, devido à grande experiência do pesquisador, o
que foi comprovado pelo exame de antibiograma.
Já foi observado infecção das pálpebras de serpentes, causada por
Aeromonas sp. carreada por artrópodes parasitas (Ophionyssus natricis) (PARÉ
et. al., 2007), entretanto alguns pesquisadores duvidam deste ocorrido. Mesmo
assim é comum encontrar concomitantemente com infecções das pálpebras,
artrópodes parasitas nessa região. Nesse cágado foi observada a presença de
pequenos artrópodes na sua superfície, mas não se sabe detalhes sobre tais
animais, quanto à espécie, parasitismo ou não, e envolvimento ou não com as
pálpebras.
O tratamento com a pomada não foi feito de maneira correta todas às
vezes. Em algumas situações a pomada era passada na região de fora das
pálpebras, de modo que o principio ativo não conseguia um contato tão intimo com
a conjuntiva do animal. Além disso, havia momentos que o tratamento era
realizado por diversos estagiários do CETAS, e a falta de experiência de alguns
pode ter comprometido o sucesso do tratamento. Também o uso de um colírio
com glicocorticóides foi realizado sem muitos cuidados, pois não foi avaliada a
presença de ulceras de córnea no animal. Se o animal apresentar ulcera de
córnea, essa irá progredir devido ao efeito potencializador que os corticóides
exercem na enzima colagenase produzida por bactérias além de que os
corticóides inibem a regeneração epitelial, a infiltração de células inflamatórias, a
atividade fibroblástica e a regeneração endotelial (SLATTER, 2005).
81
O animal não apresentou melhora algum durante um mês de tratamento, o
que em muitos tratamentos de répteis não quer dizer que o animal não esteja
respondendo bem. Há casos de répteis que são tratados por mais de um ano, e às
vezes, mesmo após terem sido “curados” continuam a apresentar alguns sinais
clínicos.
Além de já ser esperada essa falta de melhora clínica em um mês de
tratamento, se este continuar a ser feito da mesma forma é de se esperar que o
animal só venha a piorar, pois para que o animal recupere-se, deve ser fornecido
muito mais do que apenas uma antibióticoterapia correta. Os répteis por serem
ectotérmicos, sofrem muita influência do meio ambiente, e dessa forma se o
ambiente estiver impróprio para a espécie, o animal estará sob estresse e seu
sistema imune não estará funcionando corretamente. De acordo com Montiani et.
al. (2007), blefarites podem estar relacionadas com doenças respiratórias, ou
imunossupressão ou septicemia.
Pensando dessa forma vale à pena discutir sobre o potencial que o CETAS
apresenta de curar um animal dessa forma. Não há um ambiente que forneça ao
animal as condições necessárias para que este mantenha sua homeostase.
Vontade de dar essa qualidade de vida ao animal é o que não falta no CETAS de
Tijucas do Sul, mas infelizmente temos de fazer o que é possível com o que nós
temos.
5.2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Segundo Frye (1991) o ambiente artificial que criamos para mantermos
répteis em cativeiro contribuem para a alta incidência de doenças e injurias a
esses animais. Diversas doenças virais, bacterianas, fúngicas, causadas por
82
protozoários e metazoários estão diretamente relacionadas com a negligência à
higiene. Uma variedade de afecções respiratórias, de pele, gastroentéricas
ocorrerão se um animal acostumado a um clima for mantido em outro, como por
exemplo, um animal de ambiente árido mantido em ambiente úmido.
Quando um animal é mantido em um ambiente inadequado podemos dizer
que ele começou a morrer nesse instante. Tal fato irá acontecer, pode demorar
anos, mas a morte desse animal ocorrerá pelo erro de manejo. De acordo com
Frye (1991), esse intervalo entre a captura do animal e a morte pode ser seguido
de períodos de atividade normal pelo animal, mas gradativamente este definha por
uma serie de doenças devido à baixa imunidade. A falta de atenção para a
temperatura do ambiente, o fotoperíodo requerido pelo animal e a dieta são
fatores que mais interferem diretamente na saúde, e conseqüentemente, na
imunidade do animal. Quando se fala em dieta, não falamos apenas do tipo de
alimento em si, mas também falamos na forma de apresentação do alimento.
Portanto o manejo adequado dos répteis é o fator principal para sua
manutenção com saúde, mantendo a imunidade possível de combater afecções
que venham a atormentá-lo durante a estadia em cativeiro.
Para répteis aquáticos (caso do cágado-de-barbicha), a primeira atenção
que devemos ter é com a qualidade da água, pois se ela contiver compostos
nitrogenados e produtos bacterianos em demasia, o casco das tartarugas pode ser
infectado ou ainda o próprio animal pode acabar morrendo. Tartarugas não
apresentam um odor forte, e tal odor significa algum erro de manejo quanto à água
do recinto.
83
A água deve estar limpa, e para isto há vários métodos, como troca
freqüente da água, remoção de materiais orgânicos e filtros, sejam estes físicos
químicos ou biológicos (veja Mader¹ para uma boa revisão), lembrando que
cágados produzem mais material orgânico em seu ambiente do que peixes. A
água também deve estar com boa aeração, e para isto devem-se usar
equipamentos próprios para este fim.
A temperatura do ambiente é uma ferramenta de extrema importância para
a manutenção de répteis saudáveis. Cada espécie de réptil apresenta a sua faixa
de temperatura de atividade. Tais animais evoluíram de modo que suas enzimas
funcionam com maior eficiência quando dentro dessa faixa de temperatura,
fazendo com que suas reações bioquímicas ocorram de maneira normal. Dessa
forma quando tal temperatura não é respeitada, as reações químicas não ocorrem
com eficiência, o que compromete a saúde do animal. (veja Frye² para mais
detalhes sobre termoregulação)
A umidade do ambiente deve ser respeitada de modo diferente para cada
espécie, assim como o fotoperíodo.
Quando o animal apresenta-se enfermo, devemos intervir, traçando o mais
adequado tratamento para cada situação. Para desenvolvermos o melhor plano
terapêutico devemos nos atentar para as peculiaridades dos répteis.
Segundo Mitchell (2006), os repteis por serem ectotérmicos estão
intimamente ligados ao seu ambiente, e dessa forma sua taxa metabólica e sua
resposta imune variam de acordo com as condições do ambiente. Portanto para
que um protocolo terapêutico obtenha sucesso, é preciso otimizar as condições
ambientais dos répteis.
84
Durante o tratamento um dos principais fatores a ser considerado é a
temperatura do animal. A temperatura, além de alterar ativamente a imunidade
dos animais, com aumento ou queda da produção de linfócitos e anticorpos
(EVANS, 1963, MITCHEL, 2007), ela altera a farmacocinética das drogas
fornecidas (FRYE, 2007). Logicamente em temperaturas mais próximas do
extremo superior da faixa de temperatura de atividade do animal induzem uma
maior produção de componentes da resposta imune, enquanto que a situação
inversa a produção dos componentes sofre uma queda.
Com o aumenta da temperatura corporal dos répteis, é possível diminuir a
concentração inibitória mínima dos antibióticos, logo é possível de se administrar
os fármacos em doses menores, diminuindo assim a sua toxicidade. Situação
importante em casos que o animal não esteja se alimentando corretamente, e
esteja possivelmente desidratado. Dessa forma é recomendado o uso de
fluidoterapia concomitantemente com a antibioticoterapia.
A resposta imune dos répteis também varia de acordo com o ambiente.
Além da própria temperatura, que acelera as reações bioquímicas aumentando a
produção de leucócitos e de anticorpos, alterações climáticas mais sutis também
têm influencia sobre a imunidade, como quando nas diferentes estações. Diversos
trabalhos mostram que a imunidade, tanto quanto a produção de anticorpos
quanto na produção de linfócitos, é mais eficiente durante o outono e o inverno
(ORIGGI, 2007). O tipo de antígeno também influencia a intensidade que a
resposta imune reage, juntamente com a via de entrada do antígeno (em alguns
casos).
85
Diversos trabalhos têm mostrado a presença de células semelhantes aos
linfócitos B e T dos mamíferos (ORIGGI, 2007). Os macrófagos e outras células
fagocitárias também estão presentes nos répteis, e muitos autores as têm
estudado quanto a sua capacidade de fagocitose. Até então se mostrou que
catecolaminas em baixa concentração melhoram a atividade fagocitária dessas
células, entretanto quando eu alta concentração a fagocitose é prejudicada. Isto
mostra o quanto o estresse pode influenciar nas defesas do animal contra
patógenos, mesmo em estresses agudos, como em contenções. Outro estudo
mostrou que concentrações muito baixas de succionato de sódio de hidrocortisona
(aproximadamente 0.00005 mg/kg no animal) reduziram consideravelmente a
capacidade fagocitária e a liberação de óxido nítrico. Também se provou que os
hormônios sexuais influenciam inibindo a liberação de nitrito, o que diminui a
atividade citotóxica dos macrófagos.
Os mecanismos inatos de defesa do organismo dos répteis são muito
eficientes, porém uma vez que essa barreira é rompida (como no caso de uma
hipovitaminose A) ocorre uma importante redução na capacidade do animal de se
prevenir contra patógenos.
Em afecções oftálmicas de répteis deve-se suspeitar das mesmas
condições causadoras que vemos em mamíferos e em aves, pois basicamente as
estruturas são muito semelhantes, com exceção das serpentes e alguns lagartos
que não apresentam pálpebras móveis. Portanto os procedimentos diagnósticos,
clínicos e cirúrgicos se diferem muito pouco dos usuais.
A causa mais comum de blefarite em testudinos aquáticos é a
hipovitaminose A (FRYE, 1991, BOYER, 2006, MONTIANI et al, 2007). A
86
hipovitaminose A pode predispor o animal a ter infecções nessa região, sendo
necessário juntamente com o tratamento com vitamina A o uso de pomadas
oftálmicas.
Sinais característicos de uma hipovitaminose A em grau avançado são
edema palpebral grave, formação de crostas na rima palpebral, com ceratite
grave, que pode levar o animal a cegueira (MONTIANI et al, 2007). Neste
momento a conjuntiva encontra-se róseo-avermelhada e edematosa. A visão é
essencial para a captura de alimento de alguns testudinos, portando em casos
graves de hipovitaminose A, blefarite ou cegueira, o animal para de se alimentar, o
que agrava mais ainda a sua situação clinica.
De acordo com Frye (1991), outras causas de blefarite são: trauma, corpos
estranhos, infecções, oxyspiroides, e/ou helmintos filarióides ou distúrbios
metabólicos.
As blefarites, assim como em aves, nos répteis podem estar associadas
com uma doença respiratória, ou com imunodepressão ou septicemia.
Segundo Mitchell (2007), já foram desenvolvidas e testadas vacinas para
testudinos contra Aeromonas sóbria, e a mortalidade dos animais vacinados foi
50% menor do que a as não vacinadas.
87
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Reptile Medicine and Surgery, Mader D. R., 2ª Ed., Canada, Ed. Elsevier
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Surgery, Mader D. R., 2ª Ed., Canadá, Ed. Elsevier inc., 2006, 1242p..
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9. Frye F. L., Doenças Infecciosas – Doenças Fúngicas, por Actinomicetos,
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Medicina de Animais Selvagens: Medicina de Répteis, Vilani R. G. O.
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10. Sick H. Ornitologia Brasileira, 2ª Ed., p. 479-503, Rio de Janeiro, Nova
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11. Marx K. L., Therapeutics Agents, 241-342p. In: Clinical Avian Medicine,
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89
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Controllable Vascular Thermal Radiator, Science 325, 468 (2009), DOI:
10.1126/science.1175553.
90
ANEXO 1: INSTRUÇÕES AOS AUTORES: REVISTA “ARCHIVES OF
VETERINARY SCIENCE”
Diretrizes para Autores
INSTRUÇÃO AOS AUTORES
O periódico ARCHIVES OF VETERINARY SCIENCE (AVS) é publicado trimestralmente, sob orientação do seu Corpo Editorial, com a finalidade de divulgar artigos completos e de revisão relacionados à ciência animal sobre os temas: clínica, cirurgia e patologia veterinária; sanidade animal e medicina veterinária preventiva; nutrição e alimentação animal; sistemas de produção animal e meio ambiente; reprodução e melhoramento genético animal; tecnologia de alimentos; economia e sociologia rural e métodos de investigação científica. A publicação dos artigos científicos dependerá da observância das normas editoriais e dos pareceres dos consultores “ad hoc”. Todos os pareceres têm caráter sigiloso e imparcial, e os conceitos e/ou patentes emitidos nos artigos, são de inteira responsabilidade dos autores, eximindo-se o periódico de quaisquer danos autorais. A submissão de artigos deve ser feita diretamente na página da revista (www.ser.ufpr.br/veterinary.). Mais informações são fornecidas na seção “Informações sobre a revista”.
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS
1. Digitação: O artigo com no máximo vinte e cinco páginas deverá ser digitado em folha com tamanho A4 210 x 297 mm, com margens laterais direita, esquerda, superior e inferior de 2,5 cm. As páginas deverão ser numeradas de forma progressiva no canto superior direito. Deverá ser utilizado fonte arial 12 em espaço duplo; em uma coluna. Tabelas e Figuras com legendas serão inseridas diretamente no texto e não em folhas separadas.
2. Identificação dos autores e instituições: Todos os dados referentes a autores ou instituição devem ser inseridos exclusivamente nos metadados no momento da submissão online. Não deve haver nenhuma identificação dos autores no corpo do artigo enviado para a revista. Os autores devem inclusive remover a identificação de autoria do arquivo e da opção Propriedades no Word, garantindo desta forma o critério de sigilo da revista.
3. Tabelas: Devem ser numeradas em algarismo arábico seguido de hífen. O título será inserido na parte superior da tabela em caixa baixa (espaço simples) com ponto final. O recuo da segunda linha deverá ocorrer sob a primeira letra do
91
título. (Ex.: Tabela 1 – Título.). As abreviações devem ser descritas em notas no rodapé da tabela. Estas serão referenciadas por números sobrescritos (1,2,3). Quando couber, os cabeçalhos das colunas deverão possuir as unidades de medida. Tanto o título quanto as notas de rodapé devem fazer parte da tabela, inseridos em "linhas de tabela".
4. Figuras: Devem ser numeradas em algarismo arábico seguido de hífen. O título será inserido na parte inferior da figura em caixa baixa (espaço simples) com ponto final. O recuo da segunda linha deverá ocorrer sob a primeira letra do título (Ex.: Figura 1 – Título). As designações das variáveis X e Y devem ter iniciais maiúsculas e unidades entre parênteses. São admitidas apenas figuras em preto-e-branco. Figuras coloridas terão as despesas de clicheria e impressão a cores pagas pelo autor. Nesse caso deverá ser solicitada ao Editor (via ofício) a impressão a cores.
NORMAS EDITORIAIS
Artigo completo - Deverá ser inédito, escrito em idioma português (nomenclatura oficial) ou em inglês. O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract; Key words; Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão; Conclusão; Agradecimento(s) (quando houver); Nota informando aprovação por Comitê de Ética (quando houver); Referências.
Artigo de Revisão - Os artigos de revisão deverão ser digitados seguindo a mesma norma do artigo científico e conter os seguintes tópicos: Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract; Key words; Introdução; Desenvolvimento; Conclusão; Agradecimento(s) (quando houver); Referencias. A publicação de artigos de revisão fica condicionada à relevância do tema, mérito científico dos autores e disponibilidade da Revista para publicação de artigos de Revisão.
ESTRUTURA DO ARTIGO
TÍTULO - em português, centralizado na página, e com letras maiúsculas. Logo abaixo, título em inglês, entre parêntesis e centralizado na página, com letras minúsculas e itálicas. Não deve ser precedido do termo título.
RESUMO - no máximo 1800 caracteres incluindo os espaços, em língua portuguesa. As informações devem ser precisas e sumarizar objetivos, material e métodos, resultados e conclusões. O texto deve ser justificado e digitado em
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parágrafo único e espaço duplo. Deve ser precedido do termo “Resumo” em caixa alta e negrito.
PALAVRAS-CHAVE – inseridas abaixo do resumo. Máximo de cinco palavras em letras minúsculas, separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética, retiradas exclusivamente do artigo, não devem fazer parte do título, e alinhado a esquerda. Não deve conter ponto final. Deve ser precedido do termo “Palavras-chave” em caixa baixa e negrito.
ABSTRACT - deve ser redigido em inglês, refletindo fielmente o resumo e com no máximo 1800 caracteres. O texto deve ser justificado e digitado em espaço duplo, em parágrafo único. Deve ser precedido do termo “Abstract” em caixa alta e negrito.
KEY WORDS - inseridas abaixo do abstract. Máximo de cinco palavras em letras minúsculas, separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética, retiradas exclusivamente do artigo, não devem fazer parte do título em inglês, e alinhado a esquerda. Não precisam ser traduções exatas das palavras-chave e não deve conter ponto final. Deve ser precedido do termo “Key words” em caixa baixa e negrito.
INTRODUÇÃO – abrange também uma breve revisão de literatura e, ao final, os objetivos. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Introdução” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.
MATERIAL E MÉTODOS - o autor deverá ser preciso na descrição de novas metodologias e adaptações realizadas nas metodologias já consagradas na experimentação animal. Fornecer referência específica original para todos os procedimentos utilizados. Não usar nomes comerciais de produtos. O texto deverá iniciar sob a primeira letra do termo “Material e Métodos” (escrito em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.
RESULTADOS (O item Resultados e o item Discussão podem ser presentados juntos, na forma RESULTADOS e DISCUSSÃO, ou em itens separados)
o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Resultados” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda. Símbolos e unidades devem ser listados conforme os exemplos: Usar 36%, e não 36 % (não usar espaço entre o no e %); Usar 88 kg, e não 88Kg (com espaço entre o no e kg, que deve vir em minúsculo); Usar 42 mL, e não 42 ml (litro deve vir em L maiúsculo, conforme padronização internacional); Usar 25oC, e não 25 oC (sem espaço entre o no e oC ); Usar (P<0,05) e não (p < 0,05); Usar r2 = 0,89 e não r2=0,89; Nas tabelas inserir o valor da probabilidade como “valor de P”; Nas tabelas e texto utilizar média ± desvio padrão (15,0 ± 0,5). Devem ser evitadas abreviações não-consagradas, como por exemplo: “o T3 foi maior que o
93
T4, que não diferiu do T5 e do T6”. Este tipo de redação é muito cômodo para o autor, mas é de difícil compreensão para o leitor. Escreva os resultados e apresente suporte com dados. Não seja redundante incluindo os mesmos dados ou resultados em tabelas ou figuras.
DISCUSSÃO - o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Discussão” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda. Apresente a sua interpretação dos seus dados. Mostre a relação entre fatos ou generalizações reveladas pelos seus resultados. Aponte exceções ou aspectos ainda não resolvidos. Mostre como os seus resultados ou interpretações concordam com trabalhos previamente publicados ou discordam deles, mas apresente apenas trabalhos originais, evitando citações de terceiros. Discuta os aspectos teóricos e/ou práticos do seu trabalho. Pequenas especulações podem ser interessantes, porém devem manter relação factual com os seus resultados. Afirmações tais como: "Atualmente nós estamos tentando resolver este problema..." não são aceitas. Referências a "dados não publicados" não são aceitas. Conclua sua discussão com uma curta afirmação sobre a significância dos seus resultados.
CONCLUSÕES - preferencialmente redigir a conclusão em parágrafo único, baseada nos objetivos. Devem se apresentar de forma clara e sem abreviações. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Conclusão” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.
AGRADECIMENTOS - os agradecimentos pelo apoio à pesquisa serão incluídos nesta seção. Seja breve nos seus agradecimentos. Não deve haver agradecimento a autores do trabalho. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Agradecimento” (escrita em caixa baixa).
NOTAS INFORMATIVAS - quando for o caso, antes das referências, deverá ser incluído parágrafo com informações e número de protocolo de aprovação da pesquisa pela Comissão de Ética e ou Biossegurança. (quando a Comissão de Ética pertencer à própria instituição onde a pesquisa foi realizada, deverá constar apenas o número do protocolo).
REFERÊNCIAS - o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Referências” (escrita em caixa alta e negrito). Omitir a palavra bibliográficas. Alinhada somente à esquerda. Usar como base as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (NBR 10520 (NB 896) - 08/2002). Devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelo(s) sobrenome(s) do(s) autor(es). Os destaques deverão ser em NEGRITO e os nomes científicos, em ITÁLICO. NÃO ABREVIAR O TÍTULO DOS PERIÓDICOS. Indica-se o(s) autor(es) com entrada pelo último sobrenome seguido do(s) prenome(s) abreviado (s), exceto para nomes de origem espanhola, em que entram os dois últimos sobrenomes. Mencionam-se os autores separados por ponto e vírgula. Digitá-las em espaço simples e formatá-las segundo as seguintes
94
instruções: no menu FORMATAR, escolha a opção PARÁGRAFO... ESPAÇAMENTO...ANTES...6 pts.Exemplo de como referenciar:
ARTIGOS DE PERIÓDICOS:
JOCHLE, W.; LAMOND, D.R.; ANDERSEN, A.C. Mestranol as an abortifacient in the bitch. Theriogenology, v.4, n.1, p.1-9, 1975.
Livros e capítulos de livro. Os elementos essenciais são: autor(es), título e subtítulo (se houver), seguidos da expressão "In:", e da referência completa como um todo. No final da referência, deve-se informar a paginação. Quando a editora não é identificada, deve-se indicar a expressão sine nomine, abreviada, entre colchetes [s.n.]. Quando o editor e local não puderem ser indicados na publicação, utilizam-se ambas as expressões, abreviadas, e entre colchetes [S.I.: s.n.].
REFERÊNCIA DE LIVROS (in totum):
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OBRAS DE RESPONSABILIDADE DE UMA ENTIDADE COLETIVA: A entidade é tida como autora e deve ser escrita por extenso, acompanhada por sua respectiva abreviatura. No texto, é citada somente a abreviatura correspondente. Quando a editora é a mesma instituição responsável pela autoria e já tiver sido mencionada, não é indicada.
ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY - AOAC. Official methods of analysis. 16.ed. Arlington: AOAC International, 1995. 1025p.
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REFERÊNCIA DE ARTIGOS DE PERIÓDICOS ELETRÔNICOS:Quando se tratar de obras consultadas on-line, são essenciais as informações sobre o endereço eletrônico, apresentado entre os sinais < >, precedido da expressão “Disponível em: xx/xx/xxxx”e a data de acesso do documento, precedida da expressão “Acesso em: xx/xx/xxxx.”
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CITAÇÃO DE TRABALHOS PUBLICADOS EM CD ROM:Na citação de material bibliográfico publicado em CD ROM, o autor deve proceder como o exemplo abaixo:
EUCLIDES, V.P.B.; MACEDO, M.C.M.; OLIVEIRA, M.P. Avaliação de cultivares de Panicum maximum em pastejo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36., 1999, Porto Alegre. Anais... São Paulo: Gmosis, 1999, 17par. CD-ROM. Forragicultura. Avaliação com animais. FOR-020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Bases de dados em Ciência e Tecnologia. Brasília, n. 1, 1996. CD-ROM.
E.mail Autor, < e-mail do autor. “Assunto”, Data de postagem, e-mail pessoal, (data da leitura)
Web Site Autor [se conhecido], “Título”(título principal, se aplicável), última data da revisão [se conhecida], < URL (data que foi acessado)
FTPAutor [se conhecido] “Título do documento”(Data da publicação) [se disponível], Endereço FTP (data que foi acessado)
CITAÇÕES NO TEXTO: As citações no texto deverão ser feitas em caixa baixa. Quando se tratar de dois autores, ambos devem ser citados, seguido apenas do ano da publicação; três ou mais autores, citar o sobrenome do primeiro autor seguido de et al. obedecendo aos exemplos abaixo:
Silva e Oliveira (1999)
Schmidt et al. (1999)
(Silva et al., 2000)