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O conhecimento e o processo so-cializador do ser humano têm uma relação intrínseca. Não

importa a área, o nível, a profundi-dade ou o contexto, o conhecimen-to integra e influencia o processo de formação pessoal e social dos indi-víduos. Verdade em qualquer tem-po, essa premissa assume importân-cia ainda maior quando se considera a formação para o contexto atual, para a sociedade da informação e do conhecimento.

Conhecimento, educação e sociedade1

Angela Alves*

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Por meio do conhecimento, os indivíduos são inseridos em sua cultura e dela se apropriam. César Coll, em Aprendizagem escolar e construção do conhecimento, afirma que “o desenvolvimento pessoal é o processo mediante o qual o ser humano faz sua a cultura do grupo social a que pertence.” E, nesse processo, “os grupos sociais ajudam seus novos membros a assimilar a experi-ência coletiva culturalmente organizada e a se converterem, por sua vez, em agentes da criação cultural.”

O desenvolvimento pessoal, em todos os seus aspectos, inclusi-ve social, está, portanto, fortemente vinculado às experiências socializadoras e educacionais e aos conhecimentos incorporados pelos indivíduos. Na mesma medida, a evolução da sociedade e de sua cultura decorre diretamente da formação pessoal e social de seus membros. Porque é a utilização desses conhecimentos que impulsiona o avanço social e cultural. Há, pois, uma rela-ção de reciprocidade e dependência entre o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade na qual estão inseridos, relação esta essencialmente vinculada à apropriação e uso do conhecimento.

Considerando a realidade contemporânea, o lugar e o papel que o conhecimento nela ocupa e a relação com ele estabelecida, não é exagero considerá-lo, atualmente, item de sobrevivência social. Por outro lado, o volume crescente de informações e o acesso fa-cilitado a elas tornam cada vez mais necessário um domínio de co-nhecimentos tal que permita selecioná-las, avaliá-las, utilizá-las, discernindo, inclusive, as que merecem credibilidade. Aumenta a demanda pela capacidade de transformar informação em co-nhecimento, uma vez que, se construir conhecimento pressupõe a posse da informação, o conhecimento não se limita ou se reduz ao trato da informação, seu acúmulo ou simples processamento, como sói acontecer pelas ferramentas da tecnologia. O conheci-mento é resultado de um processo de construção realizado pelos indivíduos na sua interação com a informação, que lhes é exterior, e o significado que a ela atribuem.

À sociedade cabe organizar-se de maneira a oferecer, aos que a constituem, todas as possibilidades de acesso à informação, à construção do conhecimento e ao seu uso adequado para a pro-dução de novos saberes. E, ao fazê-lo, deve cuidar para que a sua apropriação se dê em equilíbrio e harmonia com outros saberes essenciais, fundamentados em princípios e valores éticos e mo-rais, visto que desse equilíbrio dependem, diretamente, a exis-tência da sociedade e até mesmo a sobrevivência da humanidade.

Dentre as diversas instâncias da sociedade, a educação escolar cumpre um papel essencial no acesso à informação, na constru-ção e na produção de conhecimento, incluindo a apropriação gradativa daquele oficialmente reconhecido e validado como científico. Exercer esse papel exige crescente e permanente ar-

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ticulação com a dinâmica da vida em geral e com outras instâncias sociais que agem na mesma dire-ção, tais como a família, as instituições religiosas e os meios de comunicação. Portanto, é com atenção à realidade que a educação escolar deve determi-nar sua ação educativa, da estrutura curricular às práticas docentes, redefinindo objetivos, priorida-des e estratégias.

Para tanto, torna-se necessário rever a abordagem dos conteúdos e o trato das informações, sua re-levância social e existencial, significância e finali-dade na formação das pessoas e em sua inserção social, pois, como existe uma relação direta entre aquisição de conhecimento, processo de aprendi-zagem, educação e desenvolvimento humano, o trato adequado de informações deve constituir o foco permanente de atenção e cuidado. Informa-ções excessivas e sem significação podem prejudi-car o desenvolvimento dos indivíduos, limitando-os a aprender por imposição, sem descobrir por si mesmos, comprometendo, assim, a formação de personalidades autônomas, uma vez que “se (o in-divíduo) é passivo intelectualmente, não consegui-rá ser livre moralmente”, diz Jean Piaget, em Para onde vai a educação?

A matéria-prima da escola é a informação. Como também o é para os meios de comunicação. No desafio de contribuir para que as pessoas sejam capazes de transformar informação em conheci-mento, “organizar os fatos e outros fragmentos de informação em um sistema de relações signi-ficativas”, conforme João Saraiva, em A educação na perspectiva construtivista, o uso articulado e adequado dos instrumentos de informação e co-municação constituem um dos grandes recursos da educação escolar. Cada vez mais a tecnologia e a informação assumem maior centralidade na vida de crianças e jovens, constituindo seu ambiente cultural e fazendo nascer uma nova geração de pessoas com capacidades, habilidades e formas de pensar diferenciadas. Uma geração que se relacio-na de forma muito peculiar com a informação e o conhecimento.

A experiência escolar pode, e deve, se consolidar como um momento privilegiado para a formação de pessoas que transitam, de forma consciente, crítica e ética, pela aquisição e utilização do co-

nhecimento, em todos os âmbitos e níveis de sua existência. Porque o conhecimento em si mesmo representa muito pouco, se não for aplicado na vida pessoal e profissional das pessoas e instrumentali-zado de forma apropriada e eficaz na produção de produtos e serviços, no bem da coletividade e no desenvolvimento social.

A dinâmica da sociedade moderna estimula a bus-ca pelo conhecimento; nela, todos sentem a ne-cessidade de aprender. Porque aprender, ter aces-so ao conhecimento está associado à possibilidade de crescer, como pessoa e como cidadão. Por isso, o conhecimento só tem sentido se contribuir para que cada um se sinta plenamente humano, realiza-do, feliz, e para que todos, a sociedade, a humani-dade tenham mais paz, mais dignidade e vida.

A educação escolar, nesse contexto, tem a respon-sabilidade de se transformar em centro irradiador privilegiado da construção de um mundo melhor, local especialmente dedicado a fornecer informa-ção, favorecer sua transformação em conhecimen-to e fazê-lo de maneira a formar pessoas que o uti-lizem de forma ética, competente e responsável. Para tanto, deve “combinar a aquisição de conhe-cimentos, a estruturação da inteligência e o de-senvolvimento das faculdades críticas, desenvolver o conhecimento como um todo, ativar de forma permanente as faculdades criativas e imaginativas; ensinar a desempenhar um papel responsável na sociedade; ensinar a se comunicar; ajudar os es-tudantes a se prepararem para a mudança e capa-citá-los para adquirir uma visão global”, conforme ensinam Fernando Hernandez e Montserrat Ventu-ra, em A organização do currículo por projetos de trabalho. Dessa forma, poderá cumprir plenamen-te seu papel e contribuir para que a informação e o conhecimento se tornem uma mola propulsora da concretização do sonho de uma sociedade mais justa, humana, fraterna e solidária.

1Artigo especialmente inspirado e fundamentado no texto O conhecimento em favor da vida, do Prof. Dr. Manoel Alves, presidente da Rede Católi-ca de Educação.

*Diretora-geral da Rede Católica de Educação

www.redecatolicadeeducacao.com.br

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