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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 1

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[ Palavra do Autor ]

Penso que “irmão” ou “irmã” é um dos maiores títulos que um ser humano pode carregar. Claro que não me refiro apenas a família terrena, passageira, mas sim a irmandade da Família de Deus. Para mim, ser um bom irmão, deve ser um dos grandes alvos da vida. Quem não for um “bom irmão” ou “irmã” nunca merecerá ser reconhecido pelo céu um bom obreiro, ainda que alguns na terra possam reconhecer. E como ser um bom irmão sem amar a família ? – Amo a Igreja, sonho e tento sempre viver este “chamado”, o grande “chamado – a – irmão”. Ele pressupõe estar no grupo mais bem aventurado que já existiu: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 1:12) - o grupo que também é “o grande alvo do amor de Deus nesta terra”.

A História sempre nos inspira. Não é sem motivo que grande parte da Bíblia é composta da

história pessoal de homens e mulheres de Deus, e algumas outras também da história coletiva.

Esta apostila foi entregue no final de reuniões sob o tema “História da Igreja”. O texto aqui

apresentado, foi compilado, parafraseado e reformulado conforme documentos históricos que

estão acessíveis a qualquer um através de pesquisa da Internet ou então em documentos

antigos postados por mim no site http://frutodagraca.com.br.

É importante afirmar que esta apostila, de maneira alguma substitui o conteúdo das reuniões,

já que, nos faltou espaço para narrar boa parte do que estudamos. Além disso, muitos

detalhes, fatos e ilustrações foram comentários inseridos a fim de acrescentar explicações,

valores e espiritualidade as aulas. Também não pode ser considerada como um “estudo da

Bíblia”, pois o objetivo foi apresentar os rumos da igreja ao longo dos séculos e não se ater ao

primeiro século onde aconteceu o contexto bíblico neo-testamentário. Aqueles que estiveram

presentes nas reuniões, lembrarão os eventos e seus detalhes, alguns deles de nível particular,

de determinada geografia ou situação, e outros de maneira ampla e geral.

“A Pra. Edna e Pr. Ronaldo, meu agradecimento por ceder tempo e apoio a fim de que

pudéssemos estar, neste dias, semeando no coração dos filhos de Deus. Agradeço também a

Aline, Evelyn e o Ricardo Becker por me ajudarem a corrigir a maior parte do matérial.”

“A você que participou conosco nestas quintas-feiras de estudo –

Meus mais sinceros votos de Graça, Misericórdia e Paz,

em Jesus Cristo, nosso Senhor”.

Cristiano Araújo Irmão em Cristo

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[ Índice ]

O que é a Igreja ........................................................................................................................ 4

Características da Igreja Primitiva ........................................................................................... 6

Contexto de vida da Igreja Primitiva ........................................................................................ 7

Perseguições e Heresias ........................................................................................................... 8

Mártires .................................................................................................................................. 12

Problemas e superstições no Início da Igreja ......................................................................... 13

Pais da Igreja e Textos Patrícios ............................................................................................. 14

Resposta às Heresias e Perseguições ..................................................................................... 15

Constantino (~300d.C.) ........................................................................................................... 17

Desvios da verdade................................................................................................................. 19

Nomes de Destaque entre 300 e 500 d.C. .............................................................................. 19

A Idade Média ........................................................................................................................ 20

O desenvolvimento do papado ............................................................................................... 20

Feudalismo ............................................................................................................................. 21

Islamismo ............................................................................................................................... 21

Divisão Católica ...................................................................................................................... 22

Monasticismo ......................................................................................................................... 23

Cristianismo em ~1.000 d.C. .................................................................................................. 25

Absurdos em Nome de Cristo ................................................................................................. 27

Período Pré-Reforma .............................................................................................................. 28

A Reforma Protestante ........................................................................................................... 30

O caso da Inglaterra ............................................................................................................... 38

A Contra-Reforma .................................................................................................................. 39

O Desenvolvimento da Reforma ............................................................................................. 40

Doutrinas Teológicas .............................................................................................................. 42

Avivamentos ........................................................................................................................... 51

Missões ................................................................................................................................... 72

O Movimento Pentecostal ...................................................................................................... 76

Movimentos Paralelos ............................................................................................................ 78

Apostia – Neoliberalismo ....................................................................................................... 79

Igreja hoje (término da apostila) ............................................................................................ 82

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[ O que é a Igreja ? ]

A primeira vez que Jesus menciona a palavra Igreja está em Mateus 16.

“13 E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? 14 E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. 15 Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? 16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. 17 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. 18 Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; 19 E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”

A luz deste texto:

1. O que é a Igreja ?

A Igreja é formada pelas pessoas que, assim como Pedro, tiveram uma revelação de

Deus, em seus corações, de quem realmente é Jesus Cristo. Não um simples profeta,

nem um simples milagreiro, nem qualquer outra coisa – mas o Filho de Deus.

2. Qual é a Pedra sobre a qual ela esta edificada ?

Os romanos dizem que é Pedro. Mas o que será que Pedro mesmo diz ?

“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para

com Deus eleita e preciosa” I Pedro 2:4

“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da

esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os

que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram,

essa foi a principal da esquina” I Pedro 2:6,7

A Pedra era a declaração de Pedro ao qual Jesus fez um trocadilho de palavras e

mostrou que Pedro era uma “pedra”, mas quando Jesus diz “Esta Pedra” ele fala Rocha

– tem a ver com a declaração inabalável que Pedro acabara de fazer.

3. O que quer dizer a palavra ?

A Palavra grega para igreja é “Ecclesia”, quer dizer literalmente dizer “chamados para

fora”. É um chamado a separação do mundo.

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[ Igreja - Uma edificação Viva ]

Igreja é um edifício construído com blocos e cimento? Não. É um edifício construído com pedras vivas. "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo" (1 Pedro 2:5). A igreja não é nenhum tipo de instituição ou objeto impessoal. É um corpo constituído de componentes vivos. Pessoas separadas do pecado (estude João 17:14-23; Colossenses 1:13; 1 Pedro 2:9; 1 João 4:5-6). Deus chama o povo para deixar o mal deste mundo através da mensagem do evangelho (2 Tessalonicenses 2:13-14). Aqueles que são convertidos verdadeiramente a Cristo são chamados santos (1 Coríntios 1:2; Colossenses 1:1-2).

[ Outras Descrições Bíblicas ]

Freqüentemente, as descrições da igreja no Novo Testamento mostram a relação que existe entre o Senhor e sua igreja. A igreja pertence a Deus, e é freqüentemente chamada "a igreja de Deus" (veja Atos 20:28; 1 Coríntios 1:2; 10:32; Gálatas 1:13; 1 Timóteo 3:5, 15). Jesus derramou seu sangue para comprar a igreja. Portanto, Paulo falou de "igrejas de Cristo" (Romanos 16:16) e Jesus falou de sua própria igreja (Mateus 16:18). O povo de Deus pode ser corretamente descrito como a "igreja dos primogênitos arrolados nos céus" (Hebreus 12:23).

O Corpo de Cristo (Colossenses 1:24; Efésios 1:22-23; 4:12). Assim como o corpo humano não pode sobreviver separado da cabeça, não podemos viver sem nossa cabeça, Jesus Cristo (Efésios 5:23; Colossenses 1:18). Discípulos de Jesus são membros do corpo (Romanos 12:4-5; 1 Coríntios 12:12-27; Efésios 3:6; 4:16; 5:30).

(Parte do) Reino de Deus ou Reino dos Céus (Mateus 3:2; 4:17; Lucas 4:43; Atos 8:12; 19:8; 20:25; 28:23, 31). A idéia de reino ressalta a posição de autoridade do rei (veja 1 Coríntios 4:20; Hebreus 1:8; 12:28-29; Mateus 28:18-20; Apocalipse 12:10). O reino de Cristo não é deste mundo (João 18:36). Em vez de ser uma entidade política e mundana, a igreja é um reino espiritual assentado no caráter santo de Deus. Podemos entrar no reino somente quando formos transformados espiritualmente (Colossenses 1:13). Como servos do Rei, temos que desenvolver as características espirituais de nosso Senhor (Tiago 2:5). Escrevi “Parte” no começo deste texto por que o Reino de Deus compreende tudo onde Deus reina, inclusive sobre os anjos, o cosmo e muito mais.

A Casa de Deus (1 Timóteo 3:15) não é um edifício material, mas o santuário e a habitação do Senhor (Efésios 2:21-22). É um edifício espiritual (1 Pedro 2:5).

O Rebanho de Deus (Atos 20:28). Jesus é o bom pastor que deu sua vida pelas ovelhas (João 10:11). As ovelhas ouvem sua voz e o seguem para receber a vida eterna (João 10:27-28).

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[ Características da Igreja Primitiva ]

O início da Igreja Primitiva caracterizava quase que “a visão ideal de Deus”. A igreja era como

uma “sociedade alternativa”. Ela cuidava de seus membros de tal maneira que havia uma

completa independência do Estado. Ninguém tinha falta de coisa alguma, ao contrário tudo

lhes era em comum. Em verdade se cumpriu a promessa do Antigo Testamento: “Se ouviremos

a voz do Senhor seu Deus.... emprestarás a muitos e não tomarás emprestado” – tal promessa

não é individual, é e sempre foi coletiva – também não apenas sobrenatural, mas em grande

parte – natural, desde que o Povo cumprisse a “Lei da Misericórdia”. Deus afirmava que até

poderia haver necessitados (mesmo no povo de Israel) onde eram fiéis, porém não seria

necessário descer ao Egito, por que sempre haveria ajuda e apoio dentro de suas próprias

fronteiras, pelos que vivem segundo a “Lei da misericórdia”. Além disso, na Igreja primitiva, se

cumpria o que Jesus havia dito: “quem deixasse pai, mãe, irmãos, bens, etc. haveria de

receber cem vezes mais em pais, mães, irmãos, bens, na vida presente?” Como isto se

cumpriu? É simples, quem havia perdido sua mãe, agora tinha muitas, quem havia perdido

seus bens em nome do Evangelho, agora era participante de uma nova sociedade onde tudo

lhes eram comum e ninguém tinha falta de coisa alguma. Em resumo: A Igreja Primitiva viveu

por um período o “ideal dado por Deus” de uma sociedade separada - segundo o que se pode

chamar de verdadeira Família de Deus.

Início: A igreja iniciou quando Jesus começou a chamar seus discípulos, porém tem-se por

costume, dizer que a oficialização disto ocorreu com a vinda do Poder do Espírito Santo no dia

de Pentecostes (Atos 2).

Forma: Algumas pessoas, olham para igreja, como uma espécie de lugar, onde a gente “se

agüenta”, até Jesus voltar. Ao invés disso, a igreja primitiva se olhava como “a comunidade do

futuro”. É como se alguém dissesse: “Daqui a pouco este mundo vai passar, tudo vai terminar,

todas as culturas e sociedades passarão e a única sociedade que vai restar será a Igreja”. Esse

era o pensamento, eles viam a si mesmos como “Cidadãos do Reino de Deus” ou “Cidadãos da

Era porvir”.

Práticas: Tanto tempo quanto foi possível. A igreja primitiva buscou a unanimidade. Estar

juntos, nas orações, no partir do pão, na comunhão em Geral.

Organização: Apesar de terem algumas bases, a organização da Igreja foi surgindo a medida

da necessidade. Primeiro vieram os apóstolos, surgiram profetas, então necessitaram de

diáconos e outros ministérios.

Problemas: Toda organização humana tem problemas. Em Atos, no capítulo 6, vemos que

houve desprezo por parte dos judeus na igreja, das viúvas gregas. Os apóstolos foram criados a

vida inteira dentro do judaísmo, que era bem preconceituoso. Isso trouxe algumas influências,

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“panelinhas” e golpes de favoritismo, mesmo dentro da igreja primitiva. A ponto de, por

diversas vezes, os próprios apóstolos precisarem se corrigir. Mesmo a igreja primitiva não era

perfeita, passava por diversos erros e problemas.

[ Contexto de vida da Igreja Primitiva ]

A igreja começou em Jerusalém e foi se expandido conforme a Palavra de Jesus. Esta expansão

as vezes foi voluntária – através da evangelização, e outras foi involuntária, através da

perseguição.

Nesta época, Roma dominava grande parte da terra conhecida. O governo local, em Jerusalém,

era exercido por um representante de Roma, questões menores ficavam a cargo de

representantes judeus. Roma estava sendo dominada pelo pensamento Grego. Era uma época

onde a cultura helênica (de Roma) se tornara muito forte nos lugares conquistados por ela.

O Evangelho iria precisar enfrentar oposições dos Judeus ortodoxos, filósofos gregos, o

paganismo e a religião do império.

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[ Perseguições e Heresias ]

Desde o começo, os discípulos de Jesus precisaram

enfrentar diversos tipos de perseguição. Havia tanto

perseguições físicas como intelectuais. No que diz respeito

às distorções da Palavra de Deus, chamamos de Heresias. A

maior parte destas heresias eram criadas por pessoas de

alguma forma associadas a igreja, embora nem sempre

fosse assim.

Desde o começo, a igreja já enfrentava problema com os

Judaizantes, aqueles que queriam que o Evangelho seguisse

por demais os moldes do judaísmo. Por causa disto, para

tentar conter este problema, Paulo precisou escrever

diversas cartas as igrejas, como por exemplo, a Carta aos Gálatas. Outro tipo de perseguição

intelectual vinha por conta de membros da igreja aliados a pensadores gregos ou então a

tradições helênicas. Nos primeiros séculos, havia muitas heresias tentando bombardear a

igreja – um dos pais da igreja disse que combater a heresia era como tentar combater Hidra –

uma serpente da mitologia grega que tinha 7 cabeças e cada vez que uma delas era cortada

crescia outra em seu lugar. Por isso, vamos nos reservar a citar algumas doutrinas e nomes

destacados na época:

Gnosticismo Gnose = Conhecimento. É a idéia de que somos salvos através do conhecimento. E por vezes

um conhecimento secreto. As vezes era alinhada a idéia de sucessivas reencarnações para

obtenção deste conhecimento até que se chegasse a um plano mais elevado. Estas idéias

datavam vários anos antes de Cristo e seu alcance vem até os dias de hoje. Era a heresia mais

“fértil” nos dias dos apóstolos, a ponto de Paulo, João e Judas mencionarem ataques contra

esta doutrina. Também outros pais da igreja, como Inácio de Antioquia, escreveram diversos

livros apenas para tentar defender o cristianismo da contaminação por ela.

Simão - o Mago Simão foi o precursor do Simeonismo (significa dar dinheiro para comprar a bênção de Deus, o

que parece muito comum em nossos dias). Podemos conhecer mais sobre ele na própria Bíblia

em Atos 8:4-24. Os documentos históricos (como “História Eclesiástica” – Eusébio de Cesaréia)

nos mostram que ele deu muito trabalho a igreja. Ele fez uso dos pensamentos gnósticos - que

pregavam a salvação através de um conhecimento secreto. Falou muitas heresias, se afirmou

como um deus e chegou até a dizer que ele era uma outra “encarnação de Cristo”. Conseguiu

convencer membros importantes do governo de Roma e fez oposição a igreja por um tempo.

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Marcionismo –110d.c. Marcion era filho de um bispo de Sinope, província romana do

ponto - hoje Turquia. Devido aos problemas que causava seu

pai o expulsou da igreja. Era muito rico e fez grandes doações

a igreja (as quais foram devolvidas depois). Misturou doutrinas

gnósticas com o cristianismo. Falava da existência de dois

deuses – o deus do Antigo Testamento, que era mau e do

Novo Testamento que era bom. Chegou a ter missionários,

bispos e até mártires em sua igreja. Ensinava que a

encarnação, o nascimento e sexo eram coisas sujas. Acreditava

que Cristo dava a salvação e aceitava como sagradas as cartas de Paulo e trechos do Evangelho

segundo Lucas.

Montano–157d.c. Até o ano 150d.c. o número de sinais e maravilhas que aconteciam no meio da igreja era de

uma ordem extraordinária. Perto deste ano os sinais “cessaram”. Continuaram acontecendo

coisas mais isoladas, porém os sinais pararam de se manifestar de forma tão intensa. A

maioria dos bispos da igreja entendeu que “as bases do Evangelho já haviam sido lançadas”,

daí a mão de Deus não se manifestava de maneira tão intensa. Outros começaram a alegar que

a igreja estava fria, que o mundanismo tinha entrado nela etc. Neste tempo surgiu Montano,

que começou a usar estes argumentos e criar dentro da própria igreja um grupo separado,

radical, que tentava pregar que os sinais continuavam os mesmos. No começo, os demais

bispos entenderam que o caso poderia ser esso mesmo, ou seja, talvez Montano estivesse

certo. Um tempo depois, ele foi considerado como herético pois havia dado profecias que

nunca se cumpriram, alegou sinais que ninguém comprovou, começou a se achar o único

ungido, a única voz de Deus, e dizia que Deus não falava mais por ninguém, a não ser por seu

intermédio etc.

Perseguições Imperiais

Durante um tempo, foi Roma quem impediu que os cristãos fossem perseguidos de forma mais

acirrada pelos judeus. As leis romanas acabam favorecendo os cristãos e impedindo que

algumas atrocidades acontecessem. Isso estava prestes a mudar. Quando houve o incêndio em

Roma (segundo alguns, causado pelo próprio Nero que queria dar motivos para reconstruir, de

forma mais bela, parte da cidade), Nero colocou a culpa sobre os cristãos, dos quais, em sua

época e região o principal líder era Paulo. Por isso iniciou-se a perseguição imperial.

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Nero (60.D.C.) Nero tinha um caráter assustador. Mandou matar sua própria mãe, duas esposas, um

professor e vários de seus senadores amigos de

governo. Ele se achava um “grande personagem”.

Muitos cristãos achavam que Nero era a Besta do

Apocalipse, o próprio Anti-Cristo. Sob seu governo,

foram martirizados 2 apóstolos: Pedro em 67d.c. e

Paulo em 68.d.c. Ele prendia os cristãos e os

atiravam aos leões no Coliseu. Alguns eram

banhados em óleo e acesos como tochas humanas

para iluminar seus jogos, no pátio de seu palácio, a

noite. O nível de crueldade praticada por ele contra

os cristãos foi incrível. Nero morreu quando se viu preso em uma emboscada de um exército

inimigo, ao ver seu desfecho iminente, disse para si mesmo “que Grande Músico o mundo

perde hoje...” e suicidou-se.

Tito (70 D.C.) Citei aqui propositalmente, mas não foi propriamente uma perseguição contra os cristãos.

Tito cumpriu as profecias que

Jesus deu sobre a destruição

do Templo de Jerusalém. Ele

invadiu a cidade e houve

muito sangue e destruição.

Este evento se reveste de

interesse pelos detalhes de

como as profecias foram

cumpridas cabalmente e nos

mínimos detalhes. Para ver

com mais exatidão, leia

História dos Hebreus, de

Flávio Joséfo.

Dominiciano (81 D.C.) Nesta época o apóstolo João, que vivia em Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos,

Trajano (98 a 117 D.C.) Estabeleceu como Lei, que sendo cristão acusado de qualquer coisa e não negasse a fé, seria

castigado, não tendo acusação estão livres. Mandava crucificar e lançar às feras.

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Adriano (117 a 138 D.C.) Fez uma forte perseguição. Morreu em agonia, gritando, "Quão desgraçado é procurar a morte

e não encontrar ".

Marco Aurélio (161 a 180 D.C.) Mandava decapitar e lançar às feras. Apesar de possuir boas qualidades como homem e

governante reconhecido pelo povo como sendo justo. No entanto, foi acérrimo perseguidor

dos cristãos. Opunha-se, pois, aos cristãos por considerá-los inovadores. Milhares foram

decapitados e devorados pelas feras na arena.

Severo (193 a 211 D.C.) Mandava decapitar e lançar às

feras. Iniciou uma terrível

perseguição que durou até à sua

morte em 211 AD. Possuía uma

natureza mórbida e melancólica;

era muito rigoroso na execução

da disciplina. Tão cruel fora o

espírito do imperador, que foi

considerado por muitos como o

anticristo.

Décio (249 a 251 D.C.) Décio observava com inveja o poder crescente dos cristãos e determinou reprimi-lo. Via as

igrejas cheias enquanto os templos pagãos desertos. Por conseqüência, mandou que os

cristãos tivessem que se apresentar ao Imperador para comunicar a religião. Quem renunciava

recebia um certificado, que não renunciava era considerado criminoso, conduzidos às prisões

e sujeitos às mais horrorosas torturas.

Diocleciano (305 a 310 D.C.) A última, mais sistemática e a mais terrível de todas as perseguições deu-se neste governo.

Em uma série de editos determinou-se que :

a. Todos os exemplares da Bíblia fossem queimados.

b. Todos os templos construídos em todo o império durante meio século, fossem destruídos.

c. Todos os pertencentes as ordens clericais fossem presos.

d. Ninguém seria solto sem negar o Cristianismo.

e. Pena de morte para quem não adorasse aos deuses.

f. Prendiam os cristãos dentro dos templos e depois ateavam fogo.

g.Consta que o imperador erigiu um monumento com esta inscrição

" Em honra ao extermínio da superstição cristã ".

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[ Mártires ]

Mártires eram aqueles que morreram confessando a Jesus durante as perseguições. Eles

davam grande testemunho de Cristo, não recuavam diante do sofrimento e da morte, além de

incentivar os demais cristãos.

Os mártires se tornaram célebres na igreja antiga. Os cristãos comemoravam como aniversário

o dia da morte deles. Os parentes dos mártires foram tidos como os principais conselheiros no

meio da igreja.

Inácio de Antioquia

Provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado no ano 107 AD por não adorar a

outros deuses. Foi morto como mártir, lançado para as feras no anfiteatro romano, no ano 108

ou 110, enquanto o povo festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a

viagem para Roma, escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de

morrer por seu Senhor.

Policarpo

Bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser

levado perante o governador e instado para abandonar a fé e

negar o nome de Jesus, assim respondeu: "Oitenta e seis anos o

servi, e somente bens recebi durante todo o tempo. Como

poderia eu agora negar ao meu Salvador ? Tentaram queimá-lo

vivo, testemunhas afirmaram que como as chamas não o

matavam, um soldado chegou e o transpassou com uma

espada. Policarpo recebeu de antemão, uma revelação de

como iria morrer - para quem quiser pesquisar mais, é um

testemunho muito interessante.

Justino Mártir

Era um dos homens mais competentes de seu tempo, e um dos

principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem,

oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos primeiros séculos.

Perpétua e a serva Feliciti

Ambas moravam em Cartago. Foram presas junto com 5 pessoas

candidatas ao batismo. Perpétua tinha 22 anos e tinha um filho, sua

serva estava grávida de 8 meses. Seu pai viera lhe visitar diversas

vezes, lembrando-a que tinha um filho pequeno e que precisava

renunciar a fé para viver para seu filho e não ser morta pela

perseguição. Certa vez ela respondeu: “Pai... vê este vaso ? Ele não

pode ser outra coisa além do que é – um vaso. Assim eu também não

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posso ser outra coisa além do que sou: Cristã”. Perpétua, Feliciti e os demais foram atirados as

feras. Os homens foram atacados por um javali, um urso e um leopardo. As mulheres foram

mortas por um Touro.

Há muitas histórias e testemunhos incríveis sobre mártires que podem ser pesquisados na

Internet ou lido em alguns livros sobre o assunto.

Acusações aos Mártires

Ateus Não criam nos deuses gregos, romanos ou egípcios.

Canibalismo Rumores de comer o corpo e o sangue de alguém (Celebração da Ceia).

Incesto Termos como: Marido da irmã, esposa do irmão...

Falta de patriotismo Não adoravam o imperador, coloca o império em risco.

Anti-Sociais Não participavam de festas cívicas, imoralidade, etc

Anti-Família Exemplos: Por causa de Perpétua que não ouviu seu pai.

Causa de Catástrofes Naturais Eles eram chamados de ATEUS, por que não criam nos deuses

romanos, nem gregos, nem egípcios - chamados deuses do rio, deuses do mar, etc... Assim a

cada catástrofe natural que acontecia eles gritavam: É culpa dos cristãos. Tertuliano chegou a

dizer: “Se o Tibre transborda, se o rio Nilo não chega aos campos, se o céu não se move não

dando chuva, se há uma fome, se há uma peste, o clamor é um só: Joguem os Cristãos aos

Leões”.

Resultado das Perseguições

1. Não haviam cristãos nominais (ser cristão era duro, difícil e radical)

2. Tertuliano disse: "O sangue dos mártires era a semente da igreja".

3. A igreja cresceu grandemente em alguns lugares. Porém, houve lugares onde a igreja

também foi quase extinta, como na Ásia e África. Por vezes a perseguição também se

mostra muito ruim aos propósitos do Evangelho.

[ Problemas e superstições no Início da Igreja ]

Depois do primeiro século, a igreja havia se espalhado muito, encontrando assim novos povos

e culturas. As heresias tentavam bombardear a igreja de todos os lados, muitas coisas eram

questionadas, muitas coisas aconteciam. Durante esta época, vários pensadores cristãos

começaram a ensinar doutrinas que não estavam 100% de acordo com as escrituras. Daí, na

tentativa de defender as doutrinas da igreja, muitos as exageravam. Por exemplo, alguns

afirmavam que era impossível Jesus ter nascido de uma virgem, em contra partida alguns

bispos defenderam com unhas e dentes esta verdade e na tentativa de tornar isso uma

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 14

questão ainda mais radical, alguns disseram: Era virgem sim e tem mais, é virgem até agora e

permanece virgem pra sempre. Em outros casos, algumas doutrinas, perdiam seu conteúdo

“espiritual” e se tornavam literais. Como é o caso onde alguns pais da igreja, logo no começo,

começarem a dizer que o batismo literalmente lavava os pecados. A ponto de já no ano 300

alguns ditos “convertidos” afirmarem querer se batizar somente ao ficarem velhos por que

assim “apagariam” mais pecados. Outro fato que aconteceu no começo era a superstição em

relação ao martírio. No começo aqueles que não tinham coragem de enfrentar os leões,

negavam publicamente a Cristo, e voltavam envergonhados ao seio da Igreja. Os cristãos

porém, os confortavam, reafirmavam estas pessoas na fé e os ajudavam. Alguns deles eram

presos de novo e não negavam a fé em momento algum. Pouco tempo depois, criou-se uma

superstição que aqueles que haviam negado só poderiam ser perdoados por Deus caso o

parente de um dos mártires os perdoassem também. Desde o começo, a falta de escrituras e

de líderes em algumas regiões, trouxe pequenos pontos negativos no meio das comunidades,

criando assim, superstições e alguns desvios de doutrina.

[Pais da Igreja e os Textos Patrícios]

Foram conhecidos como “Pais da Igreja”, aqueles que vieram depois dos apóstolos. Os “Pais”

são chamados assim, não por seus ensinos, como é o caso dos apóstolos. Eles viveram em

tempos por muitas vezes confusos e alguns deles erraram bastante de várias afirmações que

fizeram. Mas eles “expuseram suas cabeças” para levar o Cristianismo ao mundo e para

estabelecer a base da igreja. Os que testemunharam o primeiro concílio, perto do ano 300 d.C.

dizem que estes homens vinham para as reuniões, muitos deles cheios de cicatrizes de

chicotes e com marcas profundas da perseguição. Vários deles foram martirizados e outros

sofreram ao extremo para defender a Fé. Policarpo, Irineu de Lyon, Clemente de Alexandria,

Orígenes, Tertuliano, Justino o Martir, são alguns nomes que ficaram conhecidos.

Os chamados textos “Patrícios” ou “Patristica” é a coleção dos textos escritos por estes e

outros homens que deram suas vidas a serviço da difusão da fé logo na era pós-apostólica. São

textos muito que nos ensinam muito sobre como viviam os primeiros cristãos, como era a

liturgia de culto, como eram realizados os batismos, quais eram as ênfases da Igreja etc Se

você desejar conhecer alguns dos seus escritos, poderá baixar em:

http://frutodagraca.wordpress.com

Características do Início da Era Cristã

1. A igreja tinha como cargos oficiais: Presbíteros e Diáconos.

2. A igreja concordava na inspiração do Antigo Testamento.

3. A igreja tinha muitas cartas textos do N.T. e outros, e compartilhavam entre si.

4. A igreja era unida.

5. A igreja tinha liderança descentralizada.

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[ Resposta às Heresias e Perseguições ]

1. O crescimento da autoridade de Bispos Outra atitude da igreja frente as perseguições era a de centralizar mais a

liderança. A liderança das igrejas era bem dividida. Geralmente as

decisões eram tomadas por presbíteros, que eram aqueles que tinham

mais tempo de caminhada na fé. Assim como no modelo que vemos

com o Apóstolos, no livro de Atos, onde um Conselho tomava as

decisões pela igreja, na grande maioria das vezes, em outras igrejas

tudo era feito em conselho. Porém, a medida que a perseguição

foi se instalado, os Bispos ganharam mais autoridade. Agora, um

único nome, responderia por toda uma igreja.

Pouco mais a diante, os bispos foram ganhando ainda mais autoridade, infelizmente segundo

interesses humanos, e alguns bispos foram se destacando, segundo a influência política que

tinham, até se transformar no uso Papado, arcebispos, bispos etc.

Por volta do ano 300, as igrejas importantes do Oriente eram: Jerusalém, Cesaréia, Antioquia,

Alexandria e Constantinopla. Do ocidente: A igreja de Roma (é bom destacar: sede do império

romano). Sem dúvida, na sede do império, centro da riqueza e política mundial, os bispos

passaram a ter mais autoridade. Curiosidade: Bispo não era um “nome” exclusivo da igreja,

houveram casos em que generais e outros de cargos públicos foram chamados de “bispo”, pois

a palavra significa Supervisor.

2. A definição de um Credo (Concílio de

Nicéia 325d.C.) Um credo é uma frase ou um pequeno texto, que defina de

forma tão resumida quanto possível aquilo que se crê.

Geralmente é usado como fórmula de citação em batismos ou

declarações públicas de fé. O credo é aquilo que vemos no

romanismo até hoje: “Creio em Deus pai, Todo poderoso,

Criador do Céu e da terra...” Este credo, foi compilado perto do

ano 300 mas sofreu diversas modificações ao longo dos anos.

Curiosidade: Talvez o credo mais básico da igreja antiga seja o IKTUS, aquele símbolo de um

peixe. Isso por quê a palavra IKTUS, pode ser as iniciais de Iesus Kristus Theo Uius Soter que

quer dizer (Jesus Cristo Filho de Deus Salvador).

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3. A definição do Canon Canon se refere aos livros que seriam considerados “Inspirados

por Deus”. O Canon não havia sido uma idéia original da igreja.

Marcion, defensor de heresias, já tinha seu próprio Canon que

se constituía do evangelho de Lucas e as Cartas de Paulo. A

igreja precisava decidir quais textos seriam considerados

inspirados e quais não seriam, já que existiam muitos, andando

de igreja em igreja. Para formular o Canon eles levaram em

conta dois critérios:

1. A evidência externa.

Seriam considerados sagrados os textos que tivessem

ligação direta com os apóstolos, escrito por eles mesmos ou pelo menos por pessoas

diretamente ligadas a eles.

2. A evidência interna.

O texto precisava estar em concordância com todo o ensino de Deus. Exemplo: Nunca se

soube exatamente quem escreveu o livro de Hebreus, porém a evidência de

concordância interna é tão sólida que foi considerado como inspirado. Um livro que quase

entrou no Canon foi chamado “O pastor de Hermas”. Muitos bispos desejavam, na época,

que esse livro entrasse. Porém, após um cuidadoso exame, viu-se que ele não tinha nem

evidência Externa (não tinha ligação alguma com um apóstolo ou discípulo direto de

apóstolo) e nem Interna (dentro dele havia diversas coisas sobre penitência, o que era

mais próprio da difusão romana da igreja não da base oficial do Evangelho)

Livros que não entraram na Bíblia Há duas categorias de documentos que não entraram na Bíblia: Apócrifos e Documentos

verdadeiros (porém, não inspirados) da época.

Os Apócrifos foram considerados como “falsos”. Narravam doutrinas que não estavam em

concordância com as escrituras, descrevem absurdos e também narram situações sem

respaldo histórico. A alguns ensinavam claramente o Gnosticismo. Exemplos de livros

Apócrifos são: Evangelho de Tomé, Evangelho de Pedro, Evangelho de Judas, etc

Os Documentos comuns (alguns deles depois chamados de Textos Patrícios) eram livros

verdadeiros, que contribuíram muito para o entendimento da história da igreja e as situações

vividas e enfrentadas por ela, bem como sobre a interpretação dos pais da igreja quanto às

escrituras e a doutrina. Exemplos destes são: Cartas de Policarpo (discípulo do Apóstolo João),

Cartas de Inácio de Antioquia (também discípulo de João), Cartas de lemente de Alexandria, e

diversos outros. Veja mais em: http://frutodagraca.wordpress.com .

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[ Constantino ≈300 D.C. ]

Em 305, Diocleciano abdicou do trono imperial. Haviam dois concorrentes a

posição: Constantino e Majêncio. Constantino alega ter tido um sonho, onde

ele via um símbolo (vide ao lado). Usado até hoje em vestes sacerdotais.

Segundo Constantino, ele ouviu uma voz que disse: “In hoc signus

vinces” – Por este símbolo vencerá. Ao acordar ele entendeu que o

símbolo era uma mescla das letras do nome de Cristo (com K, no grego), e

mandou gravar o mesmo em todos os escudos de seus soldados. Então ele

foi a guerra e venceu. Constantino atribuiu a vitória a Cristo e aos

Cristãos e por isso decidiu fazer algo em favor da igreja.

Resultados Positivos:

a. O Domingo foi proclamado como dia de descanso e adoração.

b. As perseguições acabaram

c. A crucificação foi abolida

d. Templos restaurados e muitos construídos

e. O infanticídio foi reprimido

c. As lutas de gladiadores foram proibidas

Resultados Negativos:

a. As Igrejas eram mantidas pelo Estado, perdendo assim, sua independência.

b. Ministros eram privilegiados, não pagavam impostos e tinham julgamentos

especiais.

c. Iniciou-se as perseguições aos pagãos e conversão pela força.

d. Havia na grande maioria, conversões falsas.

e. Todos eram aceitos - Homens mundanos, ambiciosos, assassinos.

e. Os cultos aumentaram em esplendor, é certo, porém eram menos espirituais e

menos sinceros do que no passado.

f. Aos poucos as festas pagãs tiveram seus lugares na Igreja, porém com outros nomes.

A adoração a Venus e Diana foram substituídas pela adoração a virgem Maria. As

imagens dos mártires começaram a aparecer nos templos, como objeto de reverência.

Curiosidade: Soldados, as vezes, eram batizados com as mãos e braços fora da água, por que

diziam que aquelas mãos e braços ainda iriam matar muito gente. No ano 363 AD, todos os

governadores professaram o Cristianismo e antes de findar o quarto século o Cristianismo, foi

virtualmente estabelecido como religião do Império.

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[ Desvios da verdade...]

Há diversas maneiras pelas quais surgem as crenças e costumes equivocados. Vamos ver

alguns exemplos:

Por crença popular

Você já viu alguém dizer: São Pedro, pare de mandar

chuva ? Tem-se no popular que São Pedro é quem

controla a chuva por que ele tem a chave do céu. Isso

é baseado no versículo Bíblico que está em Mateus

16:19, onde Cristo diz que daria a Pedro as chaves do

Reino dos Céus. A Chave do Reino, não tem nada a

ver com a chave do “Céu” ou “Clima”. A chave do

Reino é o Evangelho, é por ele que as pessoas tem

acesso ao Reino de Deus. Alguns teólogos dizem também que Jesus estava se referindo a

pregação de Pedro ter sido a primeira no dia de Pentescostes. Independente de qualquer

coisa, isso não tem nada a ver com o Clima.

Por interpretação da Bíblia fora de contexto

Outro exemplo ruim de interpretação é quando Jesus diz: “Tudo o que ligardes na terra, será

ligado no céu...” Segundo o contexto (Mateus 18) da passagem vemos que Jesus está falando

a Pedro sobre perdão do irmão e aceitação no conjunto de membros da Igreja e não sobre

qualquer outra coisa.

Por substituição de costumes

A falsa adoração a uma deusa-mãe, rainha dos céus, senhora, madona etc. teve início na antiga

Babilônia e se espalhou pelas nações até chegar a Roma. Os gregos adoravam Afrodite; em

Éfeso, a deusa era Diana; Isis era o nome da deusa no Egito. Muitos desse tipo de adoradores

"aderiram" ao catolicismo em Roma para ficarem mais próximos do poder, haja vista que o

Império Romano no século III adotou o cristianismo como religião oficial. Então, esses

"cristãos" nominais levaram suas práticas idólatras e pagãs para a Igreja de Roma. Em vez de

coibir o abuso e conduzir os fiéis pelos caminhos da fé exclusiva em Deus, os líderes romanos

contemporanizaram a situação: aos poucos as imagens pagãs foram substituídas por imagens

cristãs; os deuses pagãos, substituídos pelos “deuses” cristãos (os santos bíblicos).

Por permissão de contexto

Durante a época dos mártires, nem sempre se tinha condições de mergulhar em um rio e se

batizar, por isso, documentos da época, escritos por autoridades da igreja, permitiam que se

houvesse um pouco de água, bastava derramar 3 vezes água na cabeça do batizado – isso foi

permitido em situações em que não era possível o batismo comum.

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[ Destaques entre 300 e 500d.C.]

Ambrósio ≈360 d.C.

Ambrósio era governador. Alguns documentos da época dizem que durante a nomeação de

quem seria o próximo bispo de Roma, uma pomba pousou sobre seu ombro e uma criança

teria gritado: É ele, o escolhido de Deus. Em apenas 8 dias ele se converteu, foi batizado,

consagrado a presbítero e depois a Bispo – um record na história da Igreja. Começou a

defender a independência da igreja em relação ao Estado. O imperador Teodósio tentava

mandar na igreja, em todos os lugares. Ambrósio, sendo muito corajoso, não o deixou entrar

na igreja – dizia a ela que primeiro precisava se arrepender de seus pecados e se entregar de

verdade a Deus. Excelente pregador e compositor de Hinos, Ambrósio começou a resgatar,

ainda que de maneira muito leve, a “Doutrina da Graça” na igreja.

Jerônimo ≈347 d.C.

Foi um intelectual que traduziu a Bíblia para o Latim (Vulgata Latina). Latim e Grego eram

comuns nesta época, mas ele conhecia o Hebraico - traduziu diretamente do Hebraico o Velho

Testamento. Homem de temperamento muito difícil, como monge que era, começou a

defender o Celibato. Nesta época havia um crescente interesse do Celibato e Virgindade.

João Crisóstomo ≈349 d.C.

"Como verdadeiro pastor, tratava a todos com cordialidade, (...) em particular nutria uma

ternura especial pela mulher e dedicava uma atenção particular ao matrimônio e à família,

convidava aos fiéis a participar na vida litúrgica, que fez de forma esplêndida e atrativa".

Lembrado como o maior exegeta de seu tempo e grande pregador da fé.

Agostinho de Hipona ≈354 d.C.

Agostinho nasceu em Tagaste, Norte da África. Ele foi a Roma e em Milão conheceu

Ambrósio. Certo dia, lendo os escritos de Antão e Atanásio de Alexandria ficou convencido de

sua conversão. Voltou para o Norte da Africa, vendeu tudo e construiu Monastério. Em 391

foi ordenado Padre em Hipona, e em 396 foi ordenado bispo. Celebrava uma Missa diária,

pregava 2 vezes por dia, ensinava os que iriam se batizar, administra os bens da igreja,

resolvia questões de justiça – sobre cercas, muros, dívidas, brigas de família, atendia os

pobres e órfãos. Faleceu em 430d.c. A Agostinho pertence a fama de ter os principais

elementos da doutrina protestante. Foi ele quem resgatou a visão de “Graça de Deus”.

Escreveu um livro chamado “Cidade de Deus”, onde defendia que ao contrário da crença da

época, a cidade de Deus não era Roma. Sua obra mais famosa foi “Confissões” onde ele narra

sua vida e conversão na forma de um diálogo com Deus.

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[ Depois do ano 500 d.C. - idade média ]

A medida que o tempo foi passando, a igreja dos primeiros séculos foi se distanciando da

prática e se aprofundando em teorias sobre Deus. A conseqüência disto é que ela foi caindo

cada vez mais em uma “sistematização de dogmas teológicos”. Havia mais teoria e menos vida.

O cristianismo tornara-se, em sua maior parcela, apenas nominal. Mesmo a parte não nominal,

foi dividida entre Clero e Povo, ou seja, uma classe que era considerava “superior” de cristãos

e outra parte que vivia o cristianismo apenas através de rituais.

[ Desenvolvimento do Papado ]

Do ponto de vista protestante, o papado não é uma instituição de origem divina, mas resultou

de um longo e complexo processo histórico. As Escrituras não apontam esse ofício como uma

ordenança de Cristo à sua igreja. É verdade que o Senhor proferiu a Pedro as bem conhecidas

palavras: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt 16.18). Todavia, isto

está muito longe de declarar que Pedro seria o chefe universal da igreja (o primado de Pedro)

e que a sua autoridade seria transmitida aos seus sucessores (sucessão apostólica). As

primeiras gerações de cristãos não entenderam as palavras de Cristo dessa maneira. Tanto é

que não se vê em todo o Novo Testamento qualquer noção de que Pedro tenha ocupado uma

função formal de liderança na Igreja Primitiva. No chamado "Concílio de Jerusalém", narrado

no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, isso não aconteceu, e o próprio Pedro não reivindica

essa posição em suas duas epístolas. Antes, ele se apresenta como apóstolo de Jesus Cristo e

como um presbítero entre outros (1 Pe 1.1; 5.1). Ademais, é um fato bem estabelecido que

não houve episcopado monárquico no primeiro século, no âmbito do cristianismo. As igrejas

eram governadas por colegiados de bispos ou presbíteros (ver Atos 20.17 e 28; Tito 1.5 e 7).

Provavelmente o papado começou a surgir a partir do momento em que as perseguições

intelectuais/físicas começaram a “apertar” as igrejas. Já nesta época, definiram-se Bispos que

teriam uma autoridade maior sobre os presbíteros (mais velhos), e logo depois começaram a

dar primazia a determinados bispos, por questões até políticas.

Como Roma era a sede da riqueza e dos recursos humanos, é certo que o bispo de Roma teria

mais consideração, é o mesmo que uma igreja nascida no interior do sertão do nordeste se

transformasse numa grande catedral em São Paulo. Vemos desde o começo da igreja, homens

como Inácio de Antioquia – sem dúvida um cristão exemplar - querendo dar uma certa

primazia a igreja de Roma. Porém, a grandeza desta primazia é que se desenvolveu ao longo

dos anos a fim de “centralizar” poder – o que não acontecia nas igrejas primitivas. Se passaram

então, períodos diversos, onde encontramos desde “papas ávidos defensores do cristianismo”

até “papas políticos e interesseiros”.

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[ Feudalismo (≈500 a ≈1453 d.C.) ]

Com a queda do império romano por volta de 475 d.C., os povos

bárbaros foram conquistando as regiões do império. Foi

surgindo um novo modelo político-cultural chamado de

Feudalismo, época dos “senhores feudais”. É fácil imaginar esta

época, basta lembrarmos dos Reis, Soldados, Cavaleiros, Bispos

e Camponeses, que assistimos tantas vezes em filmes como “O

Rei Arthur”.

Essa época é conhecida como “O período Negro” da história da

humanidade. Ao contrário do que os filmes mostram não tinha nada de romântica. Houve

Muita opressão, fome, peste e devassidão por parte da Igreja. Ocorreu ainda mais o

enfraquecimento do cristianismo verdadeiro, já muito raro nestes tempos.

Neste período, o Papa começou a ganhar ainda mais autoridade e presidir sobre o mundo.

Junto aos reis geralmente ficava um Bispo, representante do Papa. A Religião ganhou um

poder supersticioso e absoluto sobre a vida. Na maioria dos lugares, o Papa e o Bispo eram

amplamente respeitados. Se o Papa mandasse excomungar um Rei, significava que ele

“determinou” a perdição daquela terra, isso poderia trazer uma revolta popular. Em outros

locais, de menos influência e medo, além de Bispo, o Rei tinha também um “bruxo”, para

consultar quando achasse que a opinião do Bispo não estivesse muito certa.

[ Islamismo ≈600 d.C. ]

O Islamismo foi uma religião que surgiu por volta do século VI e

fez forte oposição ao Cristianismo. Seu líder, conhecido como

Maomé ou Muhammad, afirma ter tido encontros com o anjo

Gabriel em uma caverna durante um retiro de oração que fazia.

Há muitas estórias conturbadas em torno do evento. Algumas

dizem que o próprio Maomé pensou estar louco nos primeiros

dias, até ser convencido por sua esposa e amigos que teria tido

uma revelação de Deus.

O Islamismo acredita em Deus (chamando-o de Allah), nos anjos, no Antigo Testamento, e

inclusive em Jesus (porém, sendo ele apenas um profeta, menor do que Maomé). Sua

escritura sagrada chama-se Corão ou Alcorão como alguns preferem. Já nos 100 primeiros

anos o Islamismo cresceu absurdamente devido ao enfraquecimento da fé cristã e também ao

modo como o Islamismo difunde sua doutrina. As famílias são incentivadas a que sejam

“férteis” (várias mulheres por marido, cada uma com muitos filhos) e fiéis.

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[ Divisão da Igreja Católica ≈1.054 d.C. ]

Muitos autores divergem quanto a sua opinião sobre quando a Igreja

passou a ser chamada de Católica, palavra que quer dizer “Universal”.

Independente disto, é fato que as características que indicam o

movimento romano são marcadas por volta do ano 300, a partir de

Constantino. Outro fato claro é que a igreja começou a estar dividida

mesmo um pouco antes desta época. Houveram diversas divisões,

porém nada nunca foi tido como oficial. Em 1.054 ocorreu o chamado

“Grande Cisma do Oriente”. A igreja católica se separou entre a igreja

Oriental e a Ocidental. Os dois lados da igreja já discordavam em

diversas coisas e a ruptura veio culminar neste ano. Quando Miguel Cerulário tornou-se

patriarca na igreja oriental de Constantinopla, em 1043, houve divergências internas. O papa

nomeou o Cardeal Humberto para ir até lá resolver a questão. O resultado foi que o Cardeal

em nome do Papa excomungou (tirou-lhe o direito ao céu) o patriarca Miguel Cerulário, e

Miguel por sua vez, excomungou o Cardeal Miguel. Na volta da viagem de Miguel a Roma, o

Papa havia falecido, por isso tentaram afirmar que o que Miguel havia feito era um ato sem

reconhecimento e por isso tentaram colocar “panos quentes” em tudo, mas a ruptura já

estava feita. Depois disso, foram muitos anos e anos de bulas papais, maldições e ameaças

trocadas entre as igrejas.

[ Principais Diferença das duas igrejas ]

Características da Igreja Católica Ocidental: Ênfase em assuntos como: Pecado, Graça, Juízo,

Justificação. Debates constantes, várias discórdias sobre diversos temas, reformas e divisões

dentro da igreja. Mudança de decisões, mesmo dos Concílios.

Características da Igreja Ortodoxa Oriental: Ênfase no mistério - debates sobre questões

complicadas não são encorajados. Não há espaço para mudanças. Eles creram que um

pentecoste aconteceu em cada um dos 7 concílios da igreja. Ênfase no ser humano ir se

transformando à imagem de Cristo. Ícones, Imagens e Santos - a igreja ortodoxa levou isso ao

extremo. Houve uma época em que se misturavam raspas de tinta das imagens com a Ceia

para servir aos fiéis.

[ Divisão Católica no Ocidente 1378-1417d.C. ]

Basicamente ocorreu porque o papa de Roma, chamado Clemente V, foi levado forçadamente

para França por conta de um imperador. Os bispos de Roma não gostaram e nomearam um

novo papa em Roma chamado Gregório XI. O Papa na França afirmou ser Ele o verdadeiro

papa, já o de Roma afirmou o mesmo. Um chamou o outro de Anti-Papa. E houve uma divisão

católica que foi conhecida por “cativeiro babilônico”, onde por um período, ela estava dividida

na França e em Roma.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 23

[ Monasticismo ]

Já a partir de 250 d.C., ao perceber que a igreja não seguia os mesmo padrões que antes,

muitos começaram a questionar: Isso realmente é igreja ? Isso realmente é vida cristã ?

Isso deu origem a um movimento conhecido como Monasticismo. Mono significa sozinho.

Monasticismo é o movimento dos Monges e freiras.

Figuras Estranhas

Dentro deste movimento, encontramos diversas figuras estranhas

tais como: Simeão, o Estilita. O que é um Estilita ? Por incrível

que possa parecer, estilita esta definido como alguém que passa a

vida sobre uma coluna. Simeão fez um voto, decidiu passar a sua

vida pregando em cima de uma pedra e disse que não sairia de lá.

Ficou muito famoso em seu tempo e após sua morte ergueram

um templo em volta da pedra onde ficava. O dia 5 de Janeiro é

dedicado a ele, tanto na igreja Romana como na Ortodoxa.

Início e Fortalecimento do Monasticismo

O Monasticismo começou por volta de 270 d.C. com Antonio, chamado de Santo Antonio (não

confundir com Santo Antonio de Lisboa). Ele teria ficado impressionado com o texto de Marcos

10 e foi para o deserto viver uma vida abdicada.

As pessoas procuravam os monges a todo o tempo, pois eles viviam uma vida de estudo e

oração, o tempo todo. Eles começaram a olhar para os monges e dizer: “Aqueles são cristãos

de verdade”, já que Constantino havia tornado o cristianismo algo nominal.

Brincadeira de Criança O Monasticismo cresceu ao longo dos anos, até por volta de 1.450 d.C. Com o passar do

tempo, os monges se tornaram populares. As crianças começavam a brincar no campo de

“Monges e Demônios”. Uma criança se fingia de Monge e as outras de “demônios” que vinham

tentá-la.

Pecados Capitais x Veniais Com o passar do tempo numeraram 8 demônios da vida monástica: Glutonaria, Luxuria,

Avareza, Ira, Tristeza, Vangloria, Preguiça, Arrogância. Isso mais tarde, para o Catolicismo se

tornariam os pecados Capitais (que levam a morte) e os Veniais (mais leves).

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Martinho de Tur

No Ocidente tudo começou com um homem chamado Martinho de Tur. Ele estava cavalgando

quando encontrou um mendigo congelado, ai então ele decidiu repartir sua capa com ele. A

noite teve um sonho, onde Jesus disse: Obrigado por ter me dado sua capa. Quando acordou

ele decidiu dar toda a sua vida a este serviço, tornou-se monge e acolhedor dos pobres e

fundador de mosteiros.

Benedito de Núrcia

Benedito criou a mais famosa ordem de monges do Ocidente – os beneditinos. Ele organizou

os mosteiros, criou a chamada “REGRA”, livro que fala sobre como

um monge deve viver. A regra estipulava que os monges deviam:

- Orar 7 vezes ao dia.

- Após a primeira oração do dia atribuíam-se os trabalhos que

deveriam ser feitos: limpeza, agricultura, estudo etc.

- Qualquer visitante, viajante ou estrangeiro deveria ser recebido como

o próprio cristo.

- Os mosteiros eram respeitados até por inimigos em tempos de guerra.

As pessoas diziam que os Monges Beneditinos sempre vinham com uma CRUZ, um LIVRO e

uma FOICE. A Cruz por que era a mensagem, o Livro era a Bíblia e Foice por que além de pregar

eles ensinavam técnicas de agricultura desenvolvidas no mosteiro ao povo.

Pontos Positivos

a. Oração

b. Missão (Os monges iam até nos países bárbaros)

c. Cópias das Escrituras (Eles copiaram as escrituras por um bom tempo)

d. Desenvolvimento da Agricultura

e. Primeiras Faculdades (Foram os monges quem criaram as primeiras faculdades, pois

devido a vida de estudo, eles detinham o saber).

Pontos Negativos

a. Perda de relevância com o tempo. Eles não viviam no mundo, com o tempo, como

podiam aconselhar problemas diários ?

b. Duas classes de cristãos (nominal - religioso )

c. Começaram a dar ênfase aos seus méritos e viver uma espécie de “Salvação pelas obras”

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 25

[ Cristianismo em ≈1.000 d.C. ]

Nesta época haviam os movimentos executados pela Igreja oficial, por Monges, acadêmicos e

também pessoas do povo geral que se levantaram em nome do Evangelho. A Igreja oficial

estava corrompida e também foi seu período de maior riqueza material na história. O Papa era

Inocêncio III.

Os Valdenses ≈1176 d.C.

Pedro Valdo era um rico comerciante de Lyon que ao ser

tocado pelo Evangelho decidiu fazer um voto de pobreza e

viver exatamente aquilo que dizia Mateus 5, 6 e 7. Logo se

formou um grupo de discípulos os quais passaram a se

chamar Valdenses. Eles tentaram pleitear junto ao Papa o

reconhecimento de sua ordem, porém, devido aos seus princípios não foram reconhecidos e

começaram inclusive a ser perseguidos. Pode-se dizer que este grupo foi um dos primeiros

precursores da reforma que iria haver anos mais tarde. Pedro Valdo era homem instruído e

dizia que não era somente direito do Clero ler as Escrituras. Neste tempo a Bíblia era proibida

na língua comum do povo, podendo ser lida somente em Latim e apenas pelos sacerdotes. Ele

traduziu a Bíblia para a linguagem comum, disse que todos deveriam conhecer as escrituras, e

formou um grupo de discípulos. O Papa os excomungou da igreja, mas eles continuaram

pregando - amavam a Palavra. As famílias precisavam decorar trechos das escrituras, por que

assim que os soldados chegavam nas vilas, mandavam queimar tudo o que encontrassem

traduzido. Então as famílias se juntavam novamente e cada um re-escrevia as porções

conforme aquilo que tinham decorado. Os Valdenses reuniam-se em casas de família ou

mesmo em grutas, clandestinamente devido à perseguição da Igreja Católica. Celebravam

a Santa Ceia uma vez por ano. Negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens

como idolatria e eram guardadores da doutrina cristã apostólica. Eles influenciaram muitas

pessoas e nomes que ajudaram a levar a chama do Evangelho nesta idade de trevas. Pode-se

dizer que este movimento foi um renascimento do cristianismo verdadeiro a tanto vendido e

esquecido.

Francisco de Assis ≈1.208 d.C.

Segundo alguns testemunhos, Francisco de Assis foi um dos homens que teve, ainda que por

muito pouco tempo, contato com os Valdenses e também foi inspirado pelas suas vidas. Como

este tempo foi bem curto, Francisco não se enquadra exatamente naquele movimento, mas

guardou no seu coração o zelo por Mateus 5, 6 e 7. Era praticamente analfabeto, e pouco

entendia das escrituras. Também é bom frisar que tanto no começo do movimento Valdense,

como também a respeito dos demais personagens desta época, todos só conheciam o

Catolicismo, nenhum deles era completamente livre desta influência. Francisco terminou por

fazer parte dos ditos monges místicos – a classe de monge que era menos esclarecida, e que

buscava a vida de Deus no amor ao próximo.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 26

Logo de início, optou por um ministério junto aos leprosários (haviam pelo menos 2 em sua

cidade). Durante o Feudalismo, o Papa era servido pelos Bispos, que eram servidos pelos reis,

que eram pelos soldados e estes pelos camponeses na classe

mais baixa. Nem sempre nesta ordem, mas de qualquer

forma, com o povo sempre por último. O lema de Francisco

era tornar-se “Servo do mais servo”. Ele queria se identificar

com Cristo, que havia descido a pobreza deste mundo a fim

de ajudar os pobres. Assim, viveu na prática, um lado muito

profundo do cristianismo. No começo de seu trabalho, teve

um sonho onde Jesus disse a Ele: “Francisco – minha igreja

esta em ruínas, edifica minha igreja!” E ele entendeu isso de

forma literal (já que sua mente não podia inicialmente conceber mal sobre Roma). Por isso

convocou mais pessoas e reconstruíam as capelas que ficavam nas cidades próximas. Um

pouco mais tarde, ele veio a cair em si e entender que Jesus estava falando mesmo é do modo

como a Igreja vivia. Francisco resistiu a montar um ordem, foram seus seguidores quem

exigiram uma. Até o fim de sua vida, não queria nada organizado, queria se identificar com os

que “iam sem bolsa e sem alforje”, mas reuniu uma multidão de pessoas voluntárias que

queriam fazer como Ele. Por vezes, voltava semi - nú para os lugares onde ficava, ao dar a

única roupa que tinha a pessoas de rua. Certa vez um homem de seu tempo disse: “Você quer

perder a fé ? Vá ao Papa em Roma ! Você quer recuperar a fé ? Vá a Francisco em Assis !”.

Francisco é talvez o maior exemplo do movimento que foi conhecido como Monges Místicos

nesta época. O romanismo criou diversos mitos em torno de São Francisco de Assis que não

corresponde as ênfases de sua vida, mas sua verdadeira história realmente marcou seu tempo.

Tomás de Aquino ≈ 1.274 d.C. Foi o principal Teólogo da Igreja Católica. Quando criança

era conhecido como “boi mudo”, por ser muito quieto e

ter um tamanho considerável. Nesta época, as pessoas, nas

universidades, começaram a usar um método de estudo

chamado “Dialética”. Consiste em lançar uma questão no

ar, alguém defender e outro contrariar até que se chegue a

um consenso. Este método começou a ser usado inclusive na Teologia. Esse meio de estudo,

muitas vezes levavam a “questões loucas”. Sabe-se por exemplo, de certa vez em uma

universidade onde monges ficaram por mais de 2 meses debatendo se uma oração de 3 horas

era mais forte do 3 orações de 1 hora. Tomás de Aquino se destacou por ser um dos melhores

de seu tempo em dialética. Escreveu várias obras, dentre elas, a principal “Teologia

Sistemática” que não chegou a terminar. Quando ele já havia escrito a maior parte, Tomás

testemunhou que certo dia teve uma visão e parou de escrever. Perguntaram a ele por que

não escreveria mais, ao que ele teria respondido: “Tenho visto que tudo quanto tenho escrito

não é senão palha”. Os romanos interpretaram isso como se ele houvesse visto algo tão

maravilhoso, que perto da visão as demais coisas ainda seriam pequenas.

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[ Absurdos em nome de Cristo]

As Cruzadas 1.096 - 1.272 d.C.

Em 1.071, Jerusalém e toda a Terra Santa estava, já há

algum tempo, sob o domínio dos Turcos mulçumanos.

Embora sua religião fosse diferente, eles permitiam que

cristãos fizessem peregrinações até Jerusalém, o que era

muito comum nesta época. Neste ano, eles decidiram

proibir as peregrinações.

O imperador de Constantinopla pediu ajuda ao Papa para

retomada da Terra. O Papa Urbano, levantou um discurso

que convocava a todos os “verdadeiros discípulos de Jesus

Cristo” a pegar em armas e ir atacá-los para reconquistar a Terra Santa. Começaram então as

ditas “Cruzadas” – expedições com o objetivo de lutar e reconquistar as terras tomadas pelos

Mulçumanos. Aguardando um grupo bem armado de soldados, de repente o imperador viu-se

rodeado de mendigos, camponeses e gente do povo. Esta foi a primeira de 9 cruzadas. Esse

bando “barulhento e faminto” de “cristãos fieis” terminou por saquear a cidade e foram

expulsos da cidade. O Papa então, prometeu salvação a todos os soldados que morressem em

cruzadas. Um grupo de cavaleiros então partiu para Terra Santa. Godofredo de Bulhão, após

longo cerco, conquistou Jerusalém atacando uma guarnição fraca em 1099. O derramamento

de sangue causado pelos “cristãos” foi enorme – mulheres foram estupradas, crianças de colo

lançadas contra as paredes, diz-se que o sangue das pessoas chegou a bater nos joelhos em

uma parte menos elevada na cidade. Mesmo os mais acostumados com guerras disseram

nunca ter estado em local tão sangrento. Enquanto iam pelo caminho, retomando a terra, os

“cristãos” aproveitaram para matar todos Judeus que encontravam, calcula-se que mais de

1.000 judeus foram mortos só na primeira cruzada. Esse era o tipo de cristianismo oferecido

por este povo em contraste total com aquilo que ofereciam os Valdenses, Francisco de Assis e

outros movimentos da época.

Depois disso, novamente Jerusalém foi atacada e retomada pelos mulçumanos, então várias

outras cruzadas foram feitas, quase todas com muito sangue e sem sucesso. Talvez a cruzada

mais famosa seja a “Cruzada dos Meninos”. Como os ditos “cristãos” não conseguiam mais

tomar a Terra, disseram que “somente mãos puras” poderiam conquistá-la. Os testemunhos

dizem que um grupo grande de crianças saiu em direção a terra e como tinham que passar por

um braço de mar, ao chegar a tal local não sabiam o que fazer. Alguns deles teriam dito que

esperariam o mar se abrir – assim como Deus fez com Moises. Depois de esperar alguns foram

embora e se dispersaram, outros esperaram e foram capturados por “piratas” quando barcos

aportaram na praia. Esta cruzada nunca chegou ao seu destino.

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[ Período Pré-Reforma ]

O Estopim havia sido Aceso A salvação era adquirida através de sacramentos ditados pelos bispos. A igreja romana estava sobrecarregada de pecados - cruzadas, inquisições, matanças sem fim, exploração, impostos, riqueza, indulgências – muitas vezes o céu era vendido a quem pudesse pagar, pecados eram perdoados em nome do dinheiro, batismos eram comprados, até mesmo batismos feitos em nomes de antepassados, algumas vezes padres e bispos não conheciam a Bíblia, já que haviam sido ordenados simplesmente por questão política. Um tempo antes, alguns haviam sido pegos em prostíbulos e em casas de jogo. A Europa era uma grande bomba, e o estopim estava aceso. As universidades germinavam mais e mais, pensadores e estudiosos começavam a questionar sobre o ensino das escrituras, o poder da Igreja já havia começado cada vez mais a depender dos reis e governadores locais, as práticas da igreja e os poderes vigentes começavam a ser discutidos em todos os lados.

John Wycliff ≈ 1.329 d.C. “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Depois das trevas, do

medo e da perseguição, chega o alívio com os primeiros raios de luz. A Bíblia, escondida na era

das trevas, começa agora a aparecer. A bem sucedida participação na história da reforma de

homens como Martinho Lutero e João Calvino, parece apagar um pouco da importante

contribuição de John Wycliff e John Huss. Mas estes foram os precursores do movimento

reformado. São chamados de pré-reformadores. Depois de uma época de descontentamento

contra os abusos da Igreja Romana por toda a Europa, Deus, pela sua misericórdia, começa a

levantar homens que enfrentarão diretamente a chamada “igreja oficial”. Nasceu em Hipswell,

Yorkshire na Inglaterra, em 1329. Foi estudar em Oxford e logo se notabilizou por sua

inteligência e erudição. Dominou a filosofia e os ensinos de Agostinho (ensinos que mais tarde

influenciariam homens com Lutero e Calvino). Por ser um grande teólogo, tornou-se capelão

do Rei da Inglaterra, Ricardo II. Nesta posição pôde fazer muito pela reforma de sua Igreja.

Wycliff ensinava que os concílios e a liderança da Igreja deveriam ser provados pelas Escrituras

Sagradas. A palavra do papa e a tradição da igreja não poderiam ter uma autoridade maior do

que a da Bíblia. Para o reformador Inglês, a Bíblia é a única regra de fé e prática. Ela é

suficiente pra suprir as necessidades da alma humana, sem que sejam necessárias as

intervenções da Igreja e as mágicas de seus sacerdotes. Wycliff entendia também que as

Sagradas Escrituras deveriam ser colocadas na mão do povo e não ficarem limitadas ao clero

(liderança da Igreja). Wycliff ensinava que os papas eram homens sujeitos ao erro e ao

engano. Assim como dentro da Igreja de Cristo havia joio e o trigo, ser líder da igreja não era

garantia de salvação, muito menos de perfeição. Ensinava que o ofício do papado era invenção

do homem e não de Deus e que o papa seria o anticristo se não seguisse fielmente os

ensinamentos de Cristo. Censurou monges quanto à preguiça e ignorância deles no que dizia

respeito ao estudo das Escrituras.

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Os Lolardos Para que o ensino bíblico fosse transmitido por toda Inglaterra, Wycliff fundou um grupo de pregadores leigos, os quais receberam o nome de Lolardos. O trabalho de expansão deu certo, mas o papa não gostou. Em um decreto, a Igreja condenou os Lolardos à pena de morte. Apesar disto, Deus não permitiu que nenhum desses pregadores fossem mortos.

Os Boêmios Estudantes da região da Boêmia, no centro da Europa, foram para Oxford e lá tiveram contato com os escritos de Wycliff e com alguns dos Lolardos. Ao regressarem para a sua terra, os boêmios levaram as novas informações e ensinos que acabaram influenciando aquele que seria um outro grande reformador, John Huss. Ao tomar os primeiros contatos com os escritos de Wycliff, Huss escreve na margem de seus papéis: “Wycliff, Wycliff, você vai virar muitas cabeças”. Anos mais tarde, Huss teria sido acusado pela Igreja de Wicliffismo. A história nos mostra que Deus vai espalhando sua semente. Assim como na Igreja Primitiva, crentes foram influenciando pessoas, autoridades e até reis, a ponto de ocupar todo o mundo. Temos a Bíblia em nossas mãos hoje porque servos e servas de Deus se dedicaram para isto.

John Huss ≈ 1.405 d.C. Foi um homem de origem simples. Nasceu no vilarejo de Hussinecz, sul da Boêmia. Seus pais eram camponeses. Sua mãe, muito religiosa, quis que o filho fosse sacerdote. Mais tarde, Huss admitiu ter iniciado a carreira religiosa pelo dinheiro e prestígio que ela dava, mas seu interesse por Deus veio quando ele começou a estudar mais profundamente.Formou-se na universidade, tornou-se Mestre e dirigente da Capela de Belém, em Praga, cidade importante em seu país. Nesta Igreja, Huss pregava na língua do povo. Nas outras, o serviço religioso era feito em latim. Foi um pastor dedicado. Sua preocupação era agradar a Deus com uma vida santa e prover sólida alimentação espiritual ao povo. Criticava duramente os líderes da Igreja por usarem seus ofícios em benefício próprio, vivendo no conforto e na imoralidade. Para Huss, a autoridade de um líder religioso vinha do seu caráter e não da sua posição. Huss insistia que o povo deveria viver em total dependência de Deus, numa vida simples e consagrada ao trabalho. Pela providencia de Deus, Huss fora colocado como o dirigente da Capela de Belém, na importante cidade de Praga. A rainha Zofie costumava freqüentar aquela igreja. Ela era esposa do rei Václav da Boêmia. Zofie influenciou o rei para que facilitasse as reformas pretendidas por Huss. Com isso, a reforma cresceu, tendo Huss como líder e o Rei como escudo contra as investidas do papa. Huss, influenciado pelos escritos de John Wycliff, tornava-se cada vez mais um apaixonado pela reforma da Igreja de Jesus Cristo. Começa então a andar em terreno perigoso. Em seus sermões, condenava o pecado dos padres, bispos e arcebispos. Declarava que os crentes tinham o mesmo direito que os sacerdotes de participarem do cálice na ceia, e não somente do pão. Ridicularizava o pretenso poder dos sacerdotes de concederem o Espírito Santo a uma pessoa ou mandarem-na para o inferno. Huss recebeu ordens do próprio papa para se calar, mas não se calou. Em 1412, o papa João XXIII proclamou uma cruzada contra o rei Nápoles, que tornara-se rebelde. Para levantar fundos contra a guerra, o papa institui a venda de indulgências (perdão) em larga

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escala por todo o império. Huss ficou horrorizado com isso e declarou: “mesmo que o fogo para queimar o meu corpo seja colocado diante dos meus olhos, eu não obedecerei”. E ainda, diante de grande pressão, declarou: “Ficarei em silêncio? Deus não permita! Ai de mim, se me calar. É melhor morrer, do que não me opor diante desta impiedade, o que me faria participante da culpa e do inferno.” Excomungado quatro vezes, Huss resolveu exilar-se voluntariamente, para que sua igreja não fosse privada das ministrações. Foi para o sul da Boêmia, onde escreveu livro e pregou em alguns vilarejos. Dois anos depois, o papa convocou um concílio em Constança e convidou Huss. Depois de receber garantias do imperador da Boêmia, Sigismund, meio irmão do rei Václav, que prometeu conceder-lhe salvo conduto enquanto estivesse em Constança, Huss aceitou o convite. Na segunda semana que estava em Constança, Huss foi preso e ficou nesta condição vários meses enquanto o Concílio prosseguia. Finalmente Huss foi chamado ao Concílio. Advertiram: “Reconsidere seus escritos, ou morre”. Huss não voltou atrás. Então, rasgaram suas vestes e colocaram em sua cabeça uma mitra de papel com 3 demônios desenhados e escrito “Eis um herege”. Acompanhado por uma multidão, Huss, amarrado e puxado pela ruas de Constança foi ao local de sua morte. Na presença de homens, mulheres, velhos e crianças, Huss foi amarrado numa estaca e lhe deram mais um oportunidade para rever seu ensino. Mas em um grito respondeu: “Deus é minha testemunha de que a principal intenção foi tão somente libertar os homens de seus pecados, e baseado na verdade do Evangelho que preguei e ensinei, estou realmente feliz em morrer hoje.” Com estas palavras um sinal foi dado ao executor que acendeu a fogueira. Por entre chamas e fumaças Huss entoou uma melodia “Jesus, Filho do Deus vivo, tem misericórdia de mim.”

[ A Reforma ≈ 1.517 d.C.]

Notas Importantes

A reforma foi um “divisor de águas” na história da igreja, separando católicos e protestantes. Apesar do que se imagina, Martinho Lutero, por muito tempo ainda depois do início da reforma, queria “reformar a igreja católica” e não separar uma outra igreja. Outros homens de Deus importantes para o movimento já sabiam desde o começo que não conseguiriam mudar as atitudes do Clero. Os ventos da reforma foram ajudados por diversos fatores: Homens de Deus cheios de coragem, pessoas com sede das Escrituras e até reis, imperadores e outros governantes que tinham apenas interesse político. Lutero ficou até deprimido certa vez, vendo que muitos do “movimento” que iniciara, na verdade não estavam interessados em “Deus”, mas sim em política. Os reformadores também não eram pessoas perfeitas, ainda tinham muito da Teologia da Época em suas mentes, alguns deles concordaram com matanças, outros incitaram revoluções armadas, alguns cometeram favoritismo para com os ricos, outros eram Anti-Judeus (como o próprio Lutero) e também em determinado momento cometeram “absurdos” em nome da fé etc. Alguns pequenos grupos se disseram protestantes apenas para se livrar do poder de Roma, e cometiam saques, faziam guerras, invadiam propriedades e cometiam todo tipo de torpeza. Apesar disto, mesmo em meio ao joio, o Trigo apareceu, e mesmo em meio ao chumbo, o “ouro” deu o seu brilho – um brilho que iria mudar a história da humanidade a partir daí.

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Martinho Lutero ≈ 1.517 d.C. No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: "Podem matar um ganso ( na sua língua, ' huss ' é ganso ), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar". Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em redor da casa,

nasceu esse "cisne", em Eisbelen, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero. Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fogueira, o "cisne" afixou, na porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma. O pai de Martinho, satisfeitíssimo pelos trabalhos escolares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo. Para conseguir a sua subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas, cantando canções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a mendigar o pão. Quando estava a ponto de abandonar os estudos, para trabalhar com as mãos, certa senhora de recursos, D. Úrsola Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o entre a família. Pela primeira vez Lutero sentira fartura. Logo depois, os pais de Martinho alcançaram certa abastança. Foi eleito vereador na sua cidade e começou a fazer planos para educar seus filhos. Aos dezoito anos, Martinho ansiava estudar numa universidade. Seu pai, reconhecendo a idoneidade do filho, enviou-o a Erfurt, o centro intelectual do país, onde cursavam mais de mil estudantes. O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro semestre, obteve o grau de bacharel de filosofia. Mas a alma de Lutero suspirava por Deus, acima de todas as coisas. Vários acontecimentos influenciaram-no a entrar na vida monástica, passo que entristeceu profundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade. Durante o ano de noviciato, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram de tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu. Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo. No meio das ocupações de professorado, dedicou-se ao estudo das Escrituras, e no primeiro ano conquistou o grau de "Baccalaureus ad Biblia". O coração de Lutero,

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elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg. Acerca da grande transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: " Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge, a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus. Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores...Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o mesmo versículo ( Rm 1: 17 ), porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra : “O justo viverá da fé”. Vi então que a justiça de Deus, nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva " . A alma de Lutero dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: "Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo o que ensinavam sobre a ' justiça de Deus ' . Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso ". Depois dessa experiência, pregava diariamente; em certas ocasiões, pregava até três vezes ao dia. A fama do jovem monge espalhou-se até longe. "Em outubro de 1517, Lutero afixou a porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência ". Lutero afixou as teses ou proposições para um debate público, na porta da Igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, foram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. Antes de decorrido um mês, para a surpresa de Lutero, já estavam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses na Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma Protestante. Em agosto de 1518, Lutero foi chamado a Roma para responder a uma denúncia de heresia. Contudo, o eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. "Eles te queimarão vivo", insistiram seus amigos. Lutero, porém, respondeu resolutamente: " Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada ". A ordem do anúncio do Papa em Augsburgo foi: " Retrata-se ou não voltará daqui ". Contudo Lutero conseguiu fugir, passando por uma pequena cancela no muro da cidade, na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Wittenberg, um ano depois de afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos para serem publicadas em folhetos. O que escreveu dessa forma, hoje seriam cem volumes. Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg, perante grande ajuntamento do povo. Porém, o imperador Carlos V, que ia convocar sua primeira Dieta na cidade de Worms, queria que Lutero comparecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusadores. Os amigos de Lutero insistiram em que recusasse ir.- " Não fora João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida por parte do imperador ?! " Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel a chamada de Deus, respondeu : "Ainda que haja em Worms, tantos demônios como quantas sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordens acerca do trabalho, no caso de ele não voltar, partiu.

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Na sua viagem para Worms, o povo afluía em massa para ver o grande homem que teve coragem de desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas não mais comportavam as multidões que queriam ouvir seus sermões. Ao avistar as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino, o mais famoso da Reforma: " Ein Feste Berg ", isto é : " Castelo forte é o nosso Deus " . Ao entrar, por fim, na cidade, estava acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que fora ao encontro de Carlos V . No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões. Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assembléias de autoridades religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a noite anterior de vigília. Prostrado com o rosto em terra, chorando e suplicando. Quando, na assembléia, o núncio do Papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembléia, que se retrasse, ele respondeu : "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras, ou por argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros - a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude ! Amém ". Apesar de os papistas não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que pudesse queimar na fogueira o assim chamado " herege ", Lutero teve de enfrentar outro grave problema. O edito de excomunhão entraria imediatamente em vigor; Lutero por causa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime capital. Lutero, regressando a Wittenberg, foi repentinamente rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, depois de despedirem as pessoas que o acompanhavam, conduziram-no, alta noite, ao castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe da Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de chegar a casa. No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o considerava morto. Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedido a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão - em poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil exemplares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinqüenta e duas edições impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas Lutero não aceitou um centavo de direitos. A maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua - depois de voltar a Wittenberg. O seu êxito em traduzir as Sagradas Escrituras para o uso dos mais humildes, verifica-se no fato de que, depois de quatro séculos, sua tradução permanece como a principal.

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Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo. É difícil concebermos a magnitude das coisas que devemos atualmente a Martinho Lutero. O grande passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus. Antes dele, o sermão nos cultos era de pouca importância mas Lutero fez do sermão a parte principal do culto. Ele mesmo servia de exemplo para acentuar esse costume: era pregador de grande porte. Considerava-se como sendo nada; a mensagem saía-lhe do íntimo do coração: o povo sentia a presença de Deus. Em Zwiekau pregou a um auditório de 25 mil pessoas na praça pública. Os homens geralmente querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e aos seus destacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu escreveu : " O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante enche o coração até transbordar em sermões, correspondência e ensinamentos ". Nos seus sessenta e dois anos pregou seu último sermão sobre o texto. Vivia sempre esperando que o Papa conseguisse executar a repetida ameaça de queimá-lo vivo. Contudo não era essa a vontade de Deus : Cristo o chamou enquanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera . Um imenso cortejo de crentes que o amavam ardentemente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o reformador queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da Igreja onde, há vinte e nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. Depois abriram a sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo. Quatorze anos depois, o corpo de Melancton achou descanso do outro lado do púlpito. Em redor dos dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universidade. As portas da Igreja do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95 teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no metal que perece, mas em centenas de milhões de almas imortais, a Palavra de Deus que dará fruto para toda a eternidade.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 35

Zwínglio ≈ 1.520 d.C

Paralela à reforma de Lutero, surgiu na Suíça um reformador chamado

Úlrico Zwínglio. Era mais novo do que Lutero apenas 50 dias, mas tinha

formação e idéias diferentes do reformador alemão. Nasceu na Suíça,

no dia 1º de janeiro de 1484. Seu pai era magistrado provincial. Sua

família tinha uma boa posição social e financeira, o que lhe permitiu

estudar em importantes escolas daquela época. Estudou na

Universidade de Viena, de Basiléia e de Berna. Graduou-se Bacharel em

Artes, em 1504, e Mestre dois anos depois.

Em 1506 Zwínglio tornou-se padre, embora o seu interesse pela religião fosse mais intelectual

do que espiritual. Em 1520 Zwínglio passou por uma profunda experiência espiritual, causada

pela morte de um irmão querido. Dois anos depois iniciou um trabalho de pregação do

evangelho, baseando-se tão somente na Escritura Sagrada. O Papa Adriano VI proibiu-o de

pregar. Poucos meses depois, o governo de Zurique, na Suíça, resolveu apoiar Zwínglio e

ordenou que ele continuasse pregando. Em 1525 Zwínglio casou-se com uma viúva chamada

Ana Reinhard. Nesse mesmo ano Zurique tornou-se, oficialmente, protestante. Outros cantões

(estados) suíços também aderiram ao protestantismo. As divergências entre estes cantões e os

que permaneceram fiéis a Roma iam-se aprofundando. Em 1531 estourou a guerra entre os

cantões católicos e os protestantes, liderados por Zurique. Zwínglio, homem de gênio forte,

também foi para o campo de batalha, onde morreu no dia 11 de outubro de 1531.

Zwínglio morreu, mas o movimento iniciado por ele não. Outros líderes deram continuidade ao

seu trabalho. Suas idéias foram reestudadas e aperfeiçoadas. As igrejas que surgiram como

resultado do movimento iniciado por Zwínglio são chamadas de igrejas reformadas em alguns

países, e igrejas presbiterianas em outros. Dentre os líderes que levaram avante o movimento

iniciado por Zwínglio destacam-se Guilherme Farel e João Calvino.

João Calvino ≈ 1.533 d.C.

Calvino nasceu em Noyon, nordeste da França, no dia 10 de julho de

1509. Seu pai, Gérard Calvin, era advogado dos religiosos e secretário

do bispo local. Aos 12 anos, Calvino recebeu um benefício eclesiástico

cuja renda serviu-lhe de bolsa de estudos. Em 1523, foi residir em

Paris, onde estudou latim e humanidades (Collège de la Marche) e

teologia (Collège de Montaigu). Em 1528, iniciou seus estudos jurídicos, primeiro em Orléans e

depois em Bourges, onde também estudou grego com o erudito luterano Melchior Wolmar.

Com a morte do pai em 1531, retornou a Paris e dedicou-se ao seu interesse predileto - a

literatura clássica. No ano seguinte publicou um comentário sobre o tratado de Sêneca De

Clementia.

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Calvino converteu-se à fé evangélica por volta de 1533, provavelmente sob a influência do seu

primo Robert Olivétan. No final daquele ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser o co-

autor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o reitor da

universidade. No ano seguinte, voltou a Noyon e renunciou ao benefício eclesiástico. Escreveu

o prefácio do Novo Testamento traduzido para o francês por Olivétan (1535). Em 1536 veio a

lume a primeira edição da sua grande obra, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã,

introduzidas por uma carta ao rei Francisco I da França, contendo um apelo em favor dos

evangélicos perseguidos. Alguns meses mais tarde, o reformador suíço Guilherme Farel o

convenceu a ajudá-lo na cidade de Genebra, que acabara de abraçar a Reforma. Logo, os dois

líderes entraram em conflito com as autoridades civis sobre questões eclesiásticas, sendo

expulsos em 1538. Calvino foi para Estrasburgo, onde residia o reformador Martin Bucer.

Atuou como pastor, professor, participante de conferências e escritor. Produziu uma nova

edição das Institutas (1539), o Comentário da Epístola aos Romanos, a Resposta a Sadoleto

(uma apologia da fé reformada) e outras obras. Casou-se com a viúva Idelette de Bure (falecida

em 1549). Em 1541, Calvino retornou a Genebra por insistência dos governantes da cidade.

Assumiu o pastorado da igreja reformada e escreveu para a mesma as célebres Ordenanças

Eclesiásticas. Por catorze anos, enfrentou grandes lutas com as autoridades civis e algumas

famílias influentes (os "libertinos"). Apesar de estar constantemente enfermo, desenvolveu

intensa atividade como pastor, pregador, administrador, professor e escritor. Produziu

comentários sobre quase toda a Bíblia. Em 1555, os partidários de Calvino finalmente

derrotaram os "libertinos." Os conselhos municipais passaram a ser constituídos de homens

que o apoiavam. A Academia de Genebra, embrião da futura universidade, foi inaugurada em

1559. Nesse mesmo ano, Calvino publicou a última edição das Institutas. O reformador faleceu

aos 55 anos, em 27 de maio de 1564. O período que viveu com exilado em Estrasburgo (1538-

41) retrata bem para nós quem foi João Calvino. Pastoreou refugiados franceses na pequena

igreja de S. Nicolas, situada junto ao muro sul da cidade. Celebrava o sacramento da Ceia,

dedicava-se à visitação pastoral e pregava quatro sermões semanais. Traduziu vários salmos

para a métrica francesa para serem usados no canto congregacional. Tornou-se conferencista

das Sagradas Escrituras na escola secundária local, onde dava palestras três vezes por semana.

Além disso, dava aulas particulares e advogava nas horas vagas. Seu salário era um florim

semanal, que recebeu a primeira vez com seis meses de atraso, o que também o forçava a

vender parte de seus livros para sobreviver. Reeditou e ampliou as Institutas em agosto de

1539, e em 1541 editou a sua primeira tradução francesa. Publicou o Comentário aos Romanos

(1539). Participou junto com Bucer e Capito, (reformadores contemporâneos) de várias

tentativas para unificar os protestantes alemães e suíços. Inclusive encontros entre católicos e

protestantes, visando a unidades em Frankfurt, Hagenau e Worms. Desistiu de encontros com

católicos após 1541 quando percebeu a inflexibilidade católica quanto a seus dogmas e

doutrinas não fundamentadas nas Escrituras.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 37

John Knox ≈ 1.517 d.C. Pai do Presbiterianismo.

“Deus é minha testemunha, nunca preguei Jesus Cristo com

desrespeito a qualquer homem.”

“Senhor, dá-me a Escócia ou então morrerei!”

Em 1513, nasceu em nas proximidades da cidade de Haddington (a

20 kms a leste de Edimburgo). Filho de uma família distinta seu pai

se chamava William Knox e sua mãe Sinclair. Nunca teve vergonha

ou se escusou de suas origens rústicas mesmo quando a

providência colocou-o entre os bem nascidos de seu tempo.1522: Prosseguiu os seus estudos

na Universidade de Glasgow, onde o nome "John Knox" figura entre os matriculados em 1522

ou em St. Andrews, onde se afirma que ele tenha sido aluno do celebrado John Major, nativo

como Knox da região escocesa de East Lothian, e um dos maiores acadêmicos dos seu tempo.

Ele aprendeu Grego e Hebraico num período posterior, como indicado na sua escrita.1540: É

ordenado padre. Até 1543, Knox ainda se mantinha sob o comando de Roma. Um documento

assinado a 27 de Março desse ano, guardado no castelo de Tyninghame, prova-o. 1545: Knox

professou pela primeira vez a fé protestante . Antes disso já tinha mostrado sinais de simpatia

pela fé, sem o ter declarado explicitamente. De acordo com Thomas Guillaume Calderwood,

um nativo de East Lothian, a ordem de Blackfriars em 1543, foi a primeira a "dar ao Sr. Knox

um cheirinho da verdade". A sua mudança de opinião original tem sido atribuída ao seu estudo

na sua juventude ao ler Agostinho e Jerônimo em particular, que lhe apresentaram os grandes

temas das Escrituras: graça, fé, pecado, justificação, providência. Pelo resto de sua vida sua

passagem predileta era João 17, na qual Jesus às vésperas de ser traído ora por aqueles que o

Pai lhe dera, e ora especificamente para que sejam sustentados em todas as tormentas pelas

quais passariam – não só eles, mas por todos os Filhos de Deus, em qualquer época. 1547: Ele

pregou no castelo de St. Andrew, criticando duramente a guarnição do castelo por sua

degradação – e assim foi surpreendido subitamente ao ser chamado de pastor da

congregação. Mas isto não durou muito. Dois meses após, vinte e uma galés francesas

bombardearam o castelo furiosamente. Já enfraquecidos pela peste, a guarnição do castelo se

rendeu. Knox e outros homens foram acorrentados a bancos, como remadores, e foram

submetidos a violento esforço físico de dia, e a noite se juntavam para se aquecer sob as

bancas comendo feito lobos. O rei da França, presumindo que agora poderia usar agora a

Escócia como base para atacar a Inglaterra pensou que um patriota e um líder como Knox

ajudaria-o a fazer isso. Ele soltou o escocês depois de 19 meses de agonia nas galés francesas.

O monarca gaulês havia cometido um erro de cálculo, o escocês era qualquer coisa exceto

antiinglês. Logo Knox estava na Inglaterra pregando para a crescente congregação que havia

reunido. Aqui os reformadores ingleses ressaltaram os seus dons na teologia e na liturgia,

incorporando seu trabalho no Livro de Orações da Igreja Anglicana. 1554-59: Deixando a

Inglaterra pouco depois da morte de Eduardo, Knox dirigiu-se para o continente, uma viagem

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de que não temos as paragens ou datas em certeza. Em 1554, vivendo já em Genebra, ele

aceitou, em acordo com João Calvino, uma posição na igreja inglesa de Frankfurt. 1555:

Regressou a Escócia, e cinco anos depois logo que o Parlamento aprovara a Confissão Scótica,

donde se perfilavam já os princípios do presbiterianismo, movimento protestante

caracterizado por uma acentuação da forma de organização eclesiástica proposta por Calvino.

Knox foi um destacado opositor da rainha Maria, a sanguinária.1572: Faleceu em Edimburgo a

24 de Novembro. A voz trovejante podia apenas sussurrar agora. Enquanto a morte chegava

mais perto a sua esposa lia e relia suas passagens favoritas da Bíblia, sempre terminando com

João 17, segundo ele “o lugar onde eu primeiro pus minha âncora”. No túmulo uma pessoa

que foi ao funeral afirmou “Aqui jaz um homem que nunca dissimulou com palavras ou temeu

a morte”.

[ O caso da Inglaterra ]

A reforma na Inglaterra começou de maneira deferente. A igreja católica, ao mesmo tempo

que era muito rica em terras, dependia da proteção do Estado. Henrique VIII, rei da Inglaterra,

condenou, a principio, o ideário luterano e perseguiu seus seguidores, sendo condenando pela

igreja como “Defensor da Fé”. Por outro lado, o rei pretendia assumir as terras e as riquezas

da igreja católica e, ao mesmo tempo, enfraquecer sua influência. A justificativa para

concretizar o cisma foi a recusa do papa em dissolver o casamento de Henrique VIII com

Catarina de Aragão, que não podia lhe dar um filho herdeiro (o que criaria problemas políticos

de hereditariedade do Reino). O rei não recuou diante da recusa da Igreja e casou-se

novamente com Ana Bolena, sendo excomungado. Henrique VIII repetiria o ato, de acordo

com seus interesses políticos, casando-se seis vezes.

O rompimento oficial deu-se em 1534, quando o Parlamento inglês aprovou o Ato de

Supremacia, que colocava a Igreja sob a autoridade do rei. As propriedades da Igreja Católica

passaram às mãos do rei e da nobreza. Todos os dogmas da Igreja Católica forma mantidos,

exceto a autoridade papal, que devia se submeter à do rei. Nascia, assim, a Igreja Anglicana,

gerando insatisfação entre católicos e protestantes. Portanto, as razões da separação entre o

Estado e a Igreja não eram religiosas, mas políticas e econômicas.

Após a morte de Henrique VIII, assumiu o trono seu filho Eduardo VI, que morreu logo em

seguida, ainda criança. Ele foi sucedido por Maria Tudor, filha da Catarina de Aragão; católica,

perseguiu os protestantes durante todo seu reinado (1547 – 1558), gerando inúmeros conflitos

político-religiosos.

Nesse clima tenso assumiu o trono Elizabeth I, filha de Henrique VIII com Ana Bolena. Nesse

período (1558-1603), a Inglaterra alcançou a paz religiosa, e o anglicanismo ganhou uma face

mais definida, misturando elementos do ritual católico com os princípios da fé calvinista.

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[ A Contra-Reforma ]

A Reforma Protestante implicou mudanças sociais e políticas em toda a Europa. Com a crise da

Igreja Católica Romana, a maioria das populações do centro e do norte da Europa convertia-se

ao protestantismo. Isso causou imediatamente sérios problemas políticos, levando ao conflito

violento os adeptos das duas religiões e ao confronto os Estados católicos e protestantes. A

Igreja Católica Romana cada vez mais perdia espaços no quadro geopolítico europeu, além de

sofrer pesadas perdas de fiéis. Procurando impedir o avanço da Reforma Protestante, ela

realizou sua própria reforma nos padrões mais tradicionais do catolicismo, também conhecida

como a Contra-Reforma. A Igreja católica tentaria combater o protestantismo e restaurar a

hegemonia do catolicismo por meio de doutrina e força. Para alcançar tal objetivo a Igreja

precisou tomar algumas atitudes:

1. A reativação da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. A Inquisição foi criada no

século XIII para julgar e punir os hereges. Ela reassumiu esse papel, no século XVI, e

obteve muita força nas monarquias católicas de Portugal e Espanha, que usaram a

Inquisição para perseguir principalmente os judeus; estes transferiram-se em grande

número para os Paises Baixos ou se converteram (os cristãos novos).

2. A criação da Companhia de Jesus, em 1534, por Inácio de Loyola, com o objetivo de

divulgar o catolicismo, principalmente por meio da educação. Organizados em moldes

quase militantes, os jesuítas foram muito importantes para a defesa do catolicismo e sua

propagação na América e na África.

3. No campo doutrinário, o papa Paulo III organizou o Concílio de Trento (1545 – 1563)

para definir quais as novas posturas católicas. De forma geral, todos os dogmas e

sacramentos condenados pelos protestantes foram reafirmados nesse Concílio.

4. Foi criado o Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum), em 1564.

Tratava-se de uma lista de livros proibidos elaborada pelo Tribunal do Santo Ofício. Toda

obra impressa deveria passar pela análise do Tribunal, que o “recomendava” ou não aos

católicos. Na realidade a Igreja estava censurando obras artísticas, cientificas, Filosóficas

e teologias. Um cientista que teve suas obras reprovadas foi Galileu Galilei.

5. Foi reafirmada a infalibilidade do papa, defendendo sua autoridade sobre todos os

católicos.

6. As obras e sacramentos foram mantidos como fundamentais para a salvação da alma.

7. Foram criados seminários para formação intelectual e religioso dos padres.

8. Foi proibida a venda de indulgência e relíquias eclesiásticas.

9. Foi mantido o celibato clerical (proibição do casamento de padres e freiras).

Apesar da Reforma não ter conseguido “reformar “ a Igreja Católica, ela acabou tendo alguns

pontos positivos também para eles – nunca mais o Catolicismo desceu ao nível que estava

antes deste tempo.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 40

[ O Desenvolvimento da Reforma ] O movimento da Reforma começou a se espalhar por todos os lados. Muito da maneira como se interpretava e vivia o Evangelho começou a ser repensado. Após alguns anos, houve o “aquecimento” da fé em algumas regiões, e o “esfriamento” da fé em outras. Mas a Palavra se espalhava como a muito tempo não acontecia. Isso gerava corações inflamados, pessoas inspiradas, verdadeiras chamas acesas para “iluminar o mundo”. Muitos movimentos surgiram. Numerá-los, aumentaria muito o escopo desta apostila, então vamos citar apenas os mais importantes por nós conhecidos: Luteranos A ruptura de Lutera com os católicos, em 1517, lançou as bases para a expansão do protestantismo. Os luteranos condenavam o comportamento moral dos padres católicos e acreditavam que a salvação estava nas escrituras sagradas. Presbiterianos Inspirados no teólogo francês João Calvino (1509-1564), pregavam a predestinação divina: ou seja, só os eleitos por Deus se salvariam. O teólogo holandês James Arminius (1560-1609) criaria depois outra vertente do presbiterianismo: o Arminianismo. Anglicanos O rei inglês Henrique VIII (1491-1547) queria anular seu primeiro casamento para se unir a outra mulher. Após a recusa do papa Clemente VII, ele rompeu com a Igreja Católica e criou a anglicana em 1534, ficando livre da interferência papal. Batistas O movimento anabatista já existia quando Lutero começou a questionar a Igreja Católica. Mas, como outras correntes protestantes, o movimento só ganhou expressão após a Reforma. Acabou dando origem à Igreja Batista. Metodistas Surgiram na Inglaterra no século 18, propondo reformar a Igreja Anglicana. Baseadas na crença da salvação pela fé em Cristo, as idéias metodistas não conseguiram mudar os anglicanos, mas deram origem a uma nova corrente protestante. Pentecostais Começaram a aparecer no início do século XX como uma dissidência dos metodistas. Em 1910, foi fundada a Congregação Cristã do Brasil; no ano seguinte, a Assembléia de Deus, e em 1962, Deus é Amor. Neo-pentecostais Fazendo parte do grupo, a conhecida Igreja Universal do Reino de Deus, de 1977. Os neo-pentecostais caracterizam um cunho, por vezes, bem diferente da reforma protestante.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 41

Um novo “trabalhar”

de Deus

A partir de 1.700 começou uma época conhecida

como “época dos Grandes Avivamentos”. Períodos e

lugares onde Deus trabalhou de maneira tão

especial que, as vezes, países inteiros eram

sacudidos pela chama do evangelho. Por volta

deste mesmo período, começaram também a

surgir as “missões modernas” – pessoas

inflamadas pelo fogo do desejo de levar a verdade a almas no mundo todo, a salvação até os confins da terra, ofereciam suas vidas

para ir a terras desconhecidas, aprender novas culturas, infiltrar-se

no meio de pessoas absolutamente estranhas e com costumes, as vezes, extremamente diferentes.

Muitos iam “sem bolsa, nem alforje...” munidos apenas com “fé” e nada

mais. Conhecer e lembrar a história destas pessoas

me põe lágrimas nos olhos e me fazem lembrar de

Hebreus 11:33-38.

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 42

[ Doutrinas Teológicas ] Apesar das Doutrinas Teológicas não fazerem parte do escopo inicial desta apostila, devido as muitas dúvidas e pedidos, decidi incluí-las para que ficassem conhecidas. O modo de pensar no que diz respeito a Salvação e ao trabalhar de Deus não é o mesmo entre as diversas ramificações da igreja, por isso, quero incluir aqui um resumo das duas principais doutrinas que deixaram sua influência para os dias de hoje:

[Pelagianismo ] Base de Doutrina

O pelagianismo é uma teoria teológica cristã, atribuída a Pelágio da Bretanha. Sustenta

basicamente que todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto,

não necessita da graça divina. Segundo os pelagianos, todo homem nasce "moralmente

neutro", sendo capaz, por si mesmo, sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim

o desejar. Uma das grandes disputas durante a Reforma protestante versou sobre a natureza e

a extensão do pecado original.

No século V, Pelágio havia debatido ferozmente com Santo Agostinho sobre este assunto.

Agostinho mantinha que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que,

mesmo que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao

pecado e não pode não pecar. Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão afetara

apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, ele também dá a

habilidade moral para que elas possam fazê-lo e embora considerasse Adão como "um mau

exemplo" para a sua descendência, suas ações não teriam consequências para a mesma, sendo

o papel de Jesus definido pelos pelagianos como "um bom exemplo fixo" para o resto da

humanidade (contrariando assim o mau exemplo de Adão), bem como proporciona uma

expiação pelos seus pecados, tendo a humanidade em suma, total controle pelas suas ações,

posteriormente Pelágio reivindicou que a graça divina era desnecessária para a salvação,

embora facilitasse a obediência.

[ Semi-Pelagianismo ] Base de Doutrina

Semipelagianismo é uma teoria teológica cristã que trata principalmente sobre a salvação.

Ensina basicamente que o ser humano é salvo exclusivamente por Deus mediante a graça, mas

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 43

que a salvação partiria somente da iniciativa da boa vontade no coração do homem para com

Deus. Isto é, o homem precisa dar o primeiro passo em direção a Deus e então Deus irá

completar o processo da salvação do homem. Esta teoria foi considerada herética pela igreja

cristã no Concílio de Orange. No Concílio de Éfeso a igreja condenou a negação de Pelágio a

respeito da necessidade e suficiência da graça sobrenatural, e também não decidiu a favor

de Agostinho no tocante aos pensamentos monergistas. Portanto, mesmo o pelagianismo não

sendo mais aceito pela igreja católica e ortodoxa, muitos teólogos migraram para uma posição

intermediária entre o monergismo de Agostinho e as obras de justiça defendidas por Pelágio. A

intenção era encontrar uma teoria soteriológica que fizesse justiça tanto a soberania da graça,

quanto à livre decisão e atuação do homem.

João Cassiano, monge de Marselha na França, foi o principal teólogo da controvérsia

semipelagiana. Ele nasceu por volta do ano de 360 e ingressou ainda jovem no mosteiro

deBelém, na Palestina. Visitou mosteiros no Egito e em outros lugares do Império Romano,

depois fundou seu próprio mosteiro em Marselha, no ano de 410. Sua fama na história da

igreja é mais como fundador do monasticismo ocidental, do que como teólogo do

semipelagianismo. No mosteiro de Marselha estudaram vários teólogos relativamente

brilhantes e o local se transformou no principal foco de oposição à teoria monergística,

defendida por Agostinho.

A controvérsia semipelagiana terminou no ano de 529 quando houve uma reunião de bispos

ocidentais, conhecida como Sínodo de Orange, também chamada de Concílio de Orange.

Importante observar que não consta na relação dos concílios ecumênicos, pois houve a

participação apenas dos bispos ocidentais. Nesse concilio os bispos católicos condenaram os

principais aspectos do semipelagianismo. Importante observar que ocorreram dois Concílios

de Orange o primeiro no ano 441 e o segundo no ano de 529.

[ Monergismo ] Base de Doutrina

Monergismo significa na teologia cristã a teoria de que o Espírito Santo sozinho pode atuar

num ser humano e propiciar a conversão.

Em uma manifestação simplificada o monergismo afirma que a salvação emana toda ela

de Deus, opondo-se ao sinergismo, o qual afirma que Deus atua parcialmente e que a

totalidade da salvação também depende da vontade de cada ser humano para completar a

obra divina e com isso unir-se a Deus de maneira deliberada. Segundo o monergismo a

um pecador é concedido o perdão quando da morte de Jesus e por isso estaria implícita a

comunhão com o Cristo, e a fé em Jesus pelo Espírito Santo. Assim, para uns a santificação viria

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 44

instantaneamente, ou para outros como algo progressivo. Mas segundo o monergismo a

santificação advém inteiramente de Deus, dentro do conceito de graça irresistível.

Monergismo (regeneração monergística) é uma benção redentora adquirida por Cristo para

aqueles que o Pai lhe deu (1Pe 1.3; Jo 6.37-39). Ela comunica aquele poder na alma caída pela

qual a pessoa que deve ser salva é eficazmente capacitada a responder ao chamado do

evangelho (Jo 1.13). Ela é aquele poder sobrenatural de Deus somente pelo qual nos é

concedida a capacidade espiritual para cumprir as condições do pacto da graça; isto é, para

apreender o Redentor por uma fé viva, para se achegar aos termos da salvação, se arrepender

dos ídolos e amar a Deus e o Mediador supremamente. O Espírito Santo, ao vivificar a alma,

misericordiosamente capacita e inclina o eleito de Deus ao exercício espiritual da fé em Jesus

Cristo. Este processo é o meio pelo qual o Espírito nos traz à viva união com Ele.

[ Sinergismo ] Base de Doutrina

Sinergismo significa na teologia cristã a teoria de que o homem tem algum grau de

participação na salvação, ou seja, é responsável pela sua salvação ou perdição. Os pais da

igreja grega dos primeiros séculos do cristianismo e muitos dos teólogos católicos medievais

eram sinergistas. Philip Melanchthon, companheiro de Lutero na reforma alemã, era

sinergista, embora o próprio Lutero não fosse.

No sinergismo Arminiano, ao contrário do semipelagianismo e do pelagianismo, o sinergismo

arminiano afirma a total depravação do homem em seu estado natural. De fato, com relação

à depravação total, não há diferença entre o calvinismo e o arminianismo. O homem é

totalmente incapaz, até mesmo, de desejar se aproximar de Deus. Para Armínio, a salvação é

pela graça somente e por meio da fé somente. Mesmo para dar os primeiros passos em

direção a Deus o homem precisa da graça preveniente, que foi tornada disponível a todos os

homens graças à obra redentora de Jesus Cristo. Portanto, a participação do homem em sua

própria salvação consiste apenas em não resistir a Deus. Todavia, nenhum homem nasce com

essa capacidade de não resistir à Deus, já que todos nascem totalmente depravados, com sua

natureza corrompida devido ao pecado de Adão. É a graça preveniente, outorgada por Deus a

todos os homens, que restaura neles essa capacidade de escolherem a Deus, se quiserem.

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[ Luteranismo ] O Luteranismo é um ramo do Cristianismo Ocidental, fundado por Martinho Lutero, pioneiro da Reforma da Igreja Católica na Alemanha, a partir de 1517, sendo sua orientação teológica a base doutrinária de todas as Igrejas Luteranas espalhadas pelo mundo. Acompanhe as doutrinas referentes a salvação, apresentadas na tabela no final desta seção.

[ O Calvinismo ]

O Calvinismo (também chamado de Tradição Reformada, Fé Reformada ou Teologia

Reformada) é tanto um movimento religioso protestante quanto uma ideologia sociocultural

com raízes na Reforma iniciada por João Calvino em Genebra no século XVI. A tradição

Reformada foi desenvolvida, ainda, por diversos outros teólogos como Martin Bucer, Heinrich

Bullinger, Pietro Martire Vermigli e Ulrico Zuínglio. Apesar disso, a fé Reformada costuma levar

o nome de Calvino, por ter sido ele seu grande expoente. Atualmente, o termo também se

refere às doutrinas e práticas das Igrejas Reformadas. O Calvinismo tem sua base em que Deus

predestinou aqueles que seriam salvos. Há diversas ramificações do Calvinismo, mas o

pensamento geral é que a humanidade, por padrão, esta perdida e Deus de antemão escolheu

os que desejava Salvar segundo um critério absolutamente desconhecido. O sistema costuma

ser sumarizado através dos Cinco pontos do Calvinismo, chamados pela abreviação TULIP, são

eles:

1. Total Depravity - Depravação total do homem;

Também chamada de "depravação radical", "corrupção total" e "incapacidade total".

Indica que toda criatura humana, em sua condição atual, ou seja, após a queda, é

caracterizada pelo pecado, que a corrompe e contamina, incluindo a mente. Por isso,

afirma-se que ninguém é capaz de realizar o que é verdadeiramente bom aos olhos de

Deus. Em contrapartida, o ser humano é escravo do pecado, por natureza hostil e

rebelde para com Deus, espiritualmente cego para a verdade, incapaz de salvar a si

mesmo ou até mesmo de se preparar para a salvação. Só a intervenção direta de Deus

pode mudar esta situação.

2. Unconditional Election - Eleição incondicional;

Eleição significa "escolha". É a escolha feita por Deus desde toda a eternidade,

daqueles a quem ele concedeu a graça da salvação. Esta escolha não se baseia no

simples mérito, ou na fé das pessoas que ele escolhe, mas se baseia em sua decisão

soberana e incondicional, irrevogável e insondável. Isso não significa que a mesma

salvação final é incondicional, mas que a condição em que assenta (fé) é concedida

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também pela graça de Deus, como seu presente para aqueles a quem Ele escolheu

incondicionalmente.

3. Limited Atonement - Expiação limitada;

Também chamada de "redenção particular" ou "redenção definida", significa a

doutrina segundo a qual a obra redentora de Cristo foi apenas visando a salvação

daqueles que têm sido alvo da graça da salvação. A eficácia salvífica do Cristo redentor,

então, não é "universal" ou "potencialmente eficaz" para quem iria recebê-lo, mas

especificamente designada para tornar possível a salvação daqueles a quem Deus Pai

escolheu desde antes da fundação do mundo. Os calvinistas não acreditam que a

expiação é limitada em seu valor ou poder (se Deus o Pai quisesse, teria salvo todos os

seres humanos sem excepção), mas sim que a expiação é limitada na medida em que

foi destinada para alguns e não para todos.

4. Irresistible Grace - ou Graça Irresistível ou Vocação eficaz

Também conhecida como "graça eficaz", esta doutrina ensina que a influência salvífica

do Espírito Santo de Deus é irresistível, superando toda e qualquer resistência. Quando

então, Deus soberanamente visa salvar alguém, o indivíduo não tem como resistir à

essa graça da vida eterna com o próprio Deus.

5. Perseverance of the Saints.

Também conhecida como "preservação dos santos" ou "segurança eterna", este

quinto ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para a salvação, e depois, à

comunhão eterna com ele (" santos ", segundo a Bíblia) não podem cair em desgraça e

perder sua salvação. Mesmo que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua

profissão de fé, eles (se eles são autênticos eleitos), mais cedo ou mais tarde,

retornarão à comunhão com Deus Essa doutrina é baseada na suposição de que a

salvação é obra de Deus do começo ao fim, que Deus é fiel às Suas promessas, e que

nada nem ninguém pode impedir Seus propósitos soberanos. Este conceito é

ligeiramente diferente do conceito usado em algumas igrejas evangélicas, de "uma vez

salvos - salvos para sempre", apesar da apostasia, a falta de arrependimento ou a

permanência no pecado, desde que eles tiverem realmente aceito a Cristo no passado.

No ensino tradicional calvinista, se uma pessoa cai em apostasia ou não mostra mais

sinais de arrependimento genuíno, pode ser prova de que ele nunca foi realmente

salvo, e, em seguida, que não fazia parte do número dos eleitos.

Esta linha é anunciada pela grande maioria das igrejas reformadas de hoje.

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[ O Arminianismo ]

Arminianismo (também chamado tradição reformada arminiana, a fé reformada arminiana, ou

teologia reformada arminiana) é uma escola de pensamento soterológica de dentro do

cristianismo protestante, baseada sobre ideias do teólogo reformado holandes Jacobus

Arminius (1560 – 1609) e seus seguidores históricos, os Remonstrantes. A aceitação

doutrinária se estende por boa parte do cristianismo desde os primeiros argumentos entre

Atanásio e Orígenes, até a defesa de Agostinho de Hipona do "pecado original."

O arminianismo holandês foi originalmente articulado na Remonstrância (1610), uma

declaração teológica assinada por 45 ministros e apresentado ao estado holandês. O Sínodo de

Dort (1618–19) foi chamado pelos estados gerais para mudar a Remonstrância. Os cinco

pontos da Remonstrância afirmam que:

1. A a eleição (e condenação no dia do jugamento) foi condicionada pela fé racional ou

não-fé do homem;

2. A expiação, embora qualitativamente suficiente à todos os homens, só é eficaz ao

homem de fé;

3. Sem o auxílio do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade

de Deus;

4. A graça não é irresistível; e

5. Os crentes são capazes de resistir ao pecado, mas não estão fora da possibilidade

de cair da graça.

Esta corrente, professam a grande maioria das igrejas pentecostais hoje, e algumas outras

vertentes. No Arminianismo clássico (crenças originais de Jacobus Arminius) existem os

seguintes conceitos:

A depravação é total: Arminius declarou: "Neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem

para o verdadeiro bem não está apenas ferido, enfermo, inclinado, e enfraquecido; mas

ele está também preso, destruído, e perdido. E os seus poderes não só estão debilitados e

inúteis a menos que seja assistido pela graça, mas não tem poder algum exceto quando é

animado pela graça divina."[6]

A expiação destina-se à todos: Jesus morreu para todas as pessoas, Jesus atrai todos a si

mesmo, e todas as pessoas têm oportunidade de se salvarem pela fé.[7]

A morte de Jesus satisfaz a justiça de Deus: A penalidade pelos pecados dos eleitos é paga

integralmente através da obra de Jesus na cruz. Assim, a expiação de Cristo é destinada a

todos, mas requer a fé para ser efetuada. Arminius declarou que: "Justificação, quando

usado para o ato de um juiz, também é exclusivamente a imputação da justiça através da

misericórdia... ou esse homem é justificado diante de Deus... de acordo com o rigor da

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justiça sem qualquer perdão."[8] Stephen Ashby esclarece: "Arminius só considera duas

maneiras possíveis em que o pecador pode ser justificado: (1) pela nossa adesão absoluta

e perfeita à lei, ou (2) exclusivamente pela divina imputação da justiça de Cristo."[9]

A graça é resistível: Deus toma a iniciativa no processo de salvação e a sua graça vem a

todas as pessoas. Esta graça (muitas vezes chamada de preveniente ou pré-graça

regeneradora) age em todas as pessoas para convencê-las do Evangelho, chamá-las

fortemente à salvação, e capacitar a possibilidade de uma fé sincera. Picirilli declarou que

"realmente esta graça está tão próxima da regeneração que ela leva inevitavelmente a

regeneração, a menos que, por fim seja resistida." [10] A oferta de salvação por graça não

age irresistivelmente em um simples causa-efeito (i.e num método determinístico), mas

sim de um modo de influência-e-resposta, que tanto pode ser livremente aceita e

livremente negada.

O homem tem livre arbítrio para responder ou resistir: O livre-arbítrio é limitado pela

soberania de Deus, mas a soberania de Deus permite que todos os homens tenham a

opção de aceitar o Evangelho de Jesus através da fé, simultaneamente, permite que todos

os homens resistam.

A eleição é condicional: Arminius define eleição como "o decreto de Deus pelo qual, de Si

mesmo, desde a eternidade, decretou justificar em Cristo, os crentes, e aceitá-los para a

vida eterna."[12] Só Deus determina quem será salvo e a sua determinação é que todos os

que crêem em Jesus através da fé sejam justificados. Segundo Arminius, "Deus a ninguém

preza em Cristo, a menos que sejam enxertados nele pela fé".[12]

Deus predestina os eleitos a um futuro glorioso: A predestinação não é a

predeterminação de quem irá crer, mas sim a predeterminação da herança futura do

crente. Os eleitos são, portanto, predestinados a filiação pela adoção, glorificação, e vida

eterna.[13]

A justiça de Cristo é imputada ao crente: A justificação é sola fide. Quando os indivíduos

se arrependem e creem em Cristo (fé salvífica), eles são regenerados e trazidos a união

com Cristo, pela qual a morte e a justiça de Cristo são imputados a eles, para sua

justificação diante de Deus.[14]

A segurança eterna é também condicional: Todos os crentes têm plena certeza da

salvação com a condição de que eles permaneçam em Cristo. A salvação é condicional a

fé, portanto, a perseverança também é condicional.[15] A apostasia (desvio de Cristo) só é

cometida por uma deliberada e proposital rejeição de Jesus e renúncia da fé.[16]

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Tabela de diferença de Crenças Teológicas pós reforma:

'Tema' Luteranismo Calvinismo Arminianismo

Arbítrio humano Depravação total,

sem o livre-arbítrio

Depravação total, sem

o livre-arbítrio

A depravação não se

opõe ao livre-arbítrio

Eleição

Incondicional,

somente eleição para

a salvação

Eleição

incondicional para a

salvação e danação

(dupla-predestinação)

Eleição condicional,

baseando-se na fé ou

incredulidade prevista

Justificação

Justificação de todos

os que

creêm, completa na

morte de Cristo.

Justificação é

limitada aos eleitos

para a salvação,

completa, na morte de

Cristo.

Justificação é possível

para todos, mas só se

aplica sobre quem põe

fé em Jesus.

Conversão

Monergista, através

dos meios de

graça, resistível

Monergista, sem

meios, irresistível

Sinergista, pela graça

preveniente, deve ser

recebida, resistível por

causa do livre-arbítrio

Preservação e

apostasia

Cair da graça é

possível, mas Deus

dá garantia de

preservação.

Perseverança dos

santos: os

eternamente eleitos

em Cristo

necessariamente

perseverarão na fé e

na santidade até o fim

A preservação é

condicional a fé contínua

a Cristo; há possibilidade

de uma total e

definitiva apostasia

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[ Respostas? Quem as tem completamente? ]

No que diz respeito a estas doutrinas citadas acima a Bíblia oferece uma ampla gama de

versículos que parecem apoiar tanto umas como outras. Arminianos ficam sem base para

explicar muitos versículos e teorias., De igual maneira, mesmo famosos Calvinistas admitem

não ter como dar respostas a todas as perguntas que surgem em contra-ponto aos seus

pensamentos.

Muitas tentativas são feitas para que seja descoberta uma nova teologia onde as perguntas

possam ser respondidas – neste afã, de querer responder tudo, surgem linhas estranhas.

Recentemente, por exemplo, surgiu uma linha chama Teologia Relacional ou “do processo”,

que afirmava que para que Deus pudesse ter um relacionamento significativo conosco,

precisava abrir mão de conhecer o futuro. Tal afirmação ajuda a emprestar lógica a muitas das

perguntas que temos hoje, mas incorrem em um problema: não há base Bíblica alguma para

isso, a Bíblia mostra que Deus sabe o futuro. Assim, tão repentinamente quanto veio e

alcançou alguns fãs também decaiu.

As pessoas menos instruídas podem se sentir muito confusas tendo em vistas todos os

aspectos destas diversas doutrinas. Assim sendo, independente do modo como ocorre a

salvação, o qual só está plenamente compreendido na Mente de Deus, o importante é

focarmos nossas vidas em obedecer a Palavra. Com certeza tais doutrinas são importantes por

uma série de fatores, mas a prática cristã diária (oração, leitura, santificação, exercício do

amor, misericórdia etc. nem sempre dependem exatamente de “como se crê no processo”.

Sempre discuto várias doutrinas, com vários amigos, mas no final, em relação a coisas incertas,

digo: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a Ti mesmo!” – “Faze isto, e

viverás !” – foi Jesus quem disse ( Lucas 10:28 ).

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[ Avivamentos ]

Jorge Whitefield ≈ 1.714 d.C. Mais de 100 mil pessoas rodeavam o pregador, há mais de duzentos anos, em Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo, ouviam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. Para nós, é difícil fazer uma idéia do vulto da multidão de 10 mil penitentes que responderam ao apelo nessa ocasião, para se entregarem ao Salvador. Durante um período de vinte e oito dias fez a incrível façanha de pregar a 10 mil pessoas diariamente. Não havia prédio no qual coubesse os auditórios e, nos países onde pregou, armava seu púlpito nos campos, fora das cidades. A vida de Jorge Whitefield era um milagre. Nasceu em uma taberna de bebidas alcoólicas. Antes de completar três anos, seu pai faleceu. Sua mãe casou-se novamente, mas a Jorge foi permitido continuar os estudos na escola. Na pensão de sua mãe, fazia a limpeza dos quartos, lavava roupa e vendia bebidas no bar. Custeou os próprios estudos em Pembroke College, Oxford, servindo como garçom em um hotel. Depois de estar algum tempo em Oxford, ajuntou-se ao grupo de estudantes a que pertenciam João e Carlos Wesley. Passou muito tempo, como os demais do grupo, jejuando e esforçando-se para mortificar a carne, a fim de alcançar a salvação, sem compreender que " a verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós " (como Ele mesmo depois pregou).

Acerca da sua salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: " Sei o lugar onde...Todas as vezes que vou a Oxford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde Jesus se revelou a mim, pela primeira vez, e me deu novo nascimento ".

Com a saúde abalada, talvez pelo excesso de estudo, Jorge voltou a sua casa para recuperá-la. Resolvido a não cair no indiferentismo, inaugurou uma classe bíblica para jovens que, como ele, desejavam orar e crescer na graça de Deus. Visitavam diariamente os doentes e os pobres e, freqüentemente, os prisioneiros nas cadeias, para orarem com eles e prestarem-lhes qualquer serviço manual que pudessem. Quando estudante no colégio de Oxford, seu coração ardia de zelo e pequenos grupos de alunos se reuniam no seu quarto, diariamente; eles eram movidos, como os discípulos logo depois do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste. O Espírito continuou a operar poderosamente nele e por ele durante o resto da sua vida, porque nunca abandonou o costume de buscar a presença de Deus. Dividia o dia em três partes: oito horas sozinho com Deus e em estudo, oito horas para dormir e as refeições, oito horas para trabalhar entre o povo. De joelhos, lia, e orava sobre as

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leituras das Escrituras e recebia luz, vida e poder. Lemos que numa das suas visitas aos Estados Unidos, "passou a maior parte da viagem a bordo, sozinho em oração " .

Repetidas vezes Whitefield pregou nos campos, porque as igrejas fecharam-lhe as portas. Ás vezes nem os hotéis queriam aceitá-lo como hóspede. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe torrões de terra. Em Moorfield destruíram-lhe a mesa que lhe servia de púlpito e arremessaram contra ele o lixo da feira. Em Evesham, as autoridades, antes de seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava a dez mil pessoas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chegado para ele a hora, como o ensangüentado Estevão, de ser imediatamente chamado à presença do Mestre. Em outro lugar, apedrejaram-no novamente, até ficar coberto de sangue. Verdadeiramente levava no corpo, até a morte, as marcas de Jesus.

Quando ainda muito novo, passava noites inteiras lendo a Bíblia, que muito amava. Depois de se converter, teve a primeira daquelas experiências de sentir-se arrebatado, ficando a sua alma inteiramente aberta, cheia, purificada, iluminada da glória e levada sacrificar-se, inteiramente ao seu Salvador. Consagrou a vida completamente a Cristo. E a manifestação exterior daquela vida nunca excedia a sua realidade interior, portanto, nunca mostrou cansaço nem diminuiu a marcha durante resto de sua vida.

Acerca do que sentiu em uma das viagens à colônia da Geórgia, Whitefield escreveu: "Foram-me concedidas manifestações extraordinárias do alto. Cedo de manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite, de fato durante o dia inteiro, o amado Jesus me visitava para renovar-me o coração. Se certas árvores perto de Stonehourse pudessem falar, contariam acerca da doce comunhão, que eu e alguns irmãos desfrutamos ali com Deus, sempre bendito .Ás vezes, quando de passeio, a minha alma fazia tais incursões pelas regiões celestes, era tal que parecia pronta a abandonar o corpo. Outras vezes sentia-me tão vencido pela grandeza da majestade infinita de Deus, que me prostrava

em terra e entregava-lhe a alma, como um papel em branco, para Ele escrever nela o que desejasse. De uma noite nunca esquecerei. Relampejava excessivamente. Eu pregara a muitas pessoas e algumas ficaram receosas de voltar para casa. Senti-me dirigido a acompanhá-las e aproveitar o ensejo para as animar a se prepararem para a vinda do Filho do homem. Oh ! que gozo senti na minha alma ! Depois de voltar, enquanto alguns se levantavam das suas camas, assombrados pelos relâmpagos que

andavam pelo chão e brilhavam duma parte do céu até outra, eu com mais um irmão ficamos no campo adorando, orando, exultando ao nosso Deus e desejando a revelação de Jesus nos céus ! "

Nos Estados Unidos, quando era ainda um país novo, ajuntaram-se grandes multidões dos que moravam longe um do outro, nas florestas. O famoso Benjamim Franklin, no seu jornal, assim noticiou essas reuniões: " Quinta-feira o reverendo Whitefield partiu de nossa cidade, acompanhado de cento e cinqüenta pessoas a cavalo, com destino a Chester, onde pregou a sete mil ouvintes, mais ou menos. Sexta-feira pregou duas

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 53

vezes em Willings Town a quase cinco mil; no sábado, em Newcastle, pregou a cerca de duas mil e quinhentas, e na tarde do mesmo dia, em Cristiana Bridge, pregou a quase três mil; no domingo, em White Clay Creek, pregou duas vezes ( descansando uma meia hora entre os sermões ) a oito mil pessoas, das quais, cerca de três mil, tinham vindo a cavalo. Choveu a maior parte do tempo, porém, todos se conservaram em pé, ao ar livre " .

Apesar da sua grande obra, não se pode acusar Whitefield de procurar fama ou riquezas terrestres. Sentia fome e sede da simplicidade e sinceridade divina. A maior parte de suas viagens à América do Norte foram feitas a favor do orfanato que fundara na colônia da Geórgia. Vivia na pobreza e esforçava-se para granjear o necessário para o orfanato. Amava os órfãos ternamente, escrevendo-lhes cartas e dirigindo-se a cada um pelo nome. Para muitas dessas crianças, ele era o único pai, o único meio de elas terem o sustento. Fez uma grande parte de sua obra evangelística entre os órfãos e quase todos permaneceram crentes fiéis, sendo que um bom número deles se tornaram ministros do Evangelho.

Depois do sermão, em Exeter, foi a Newburyport para passar a noite na casa do pastor. Ao subir para o quarto de dormir, virou-se na escada e, com a vela na mão, proferiu uma curta mensagem aos amigos que ali estavam e insistiam em que pregasse. Ás duas horas da madrugada acordou. Faltava-lhe o fôlego e pronunciou as suas últimas palavras na Terra. Milhares de pessoas não conseguiram chegar perto da porta da igreja, por causa da imensa multidão. Conforme seu pedido, foi enterrado sob o púlpito da Igreja.

John Wesley ≈ 1738 d.C. O evangelista do coração ardente, é alguém cujo ministério foi repetidamente caracterizado pelo poder do Espírito Santo. A história da sua conversão é bem conhecida. O ambiente piedoso do seu lar na primeira infância, sua intenção através da juventude no sentido de disciplinar metodicamente o seu corpo para uma vida santa, sua promoção no Clube dos Santos em Oxford, sua experiência missionária de dois anos na América do Norte e sua profunda piedade, mas falta de certeza da salvação — são freqüentemente citados. A seguir veio o seu novo nascimento, transformador de vida, em 24 de maio de 1738, quando este ministro profundamente dedicado encontrou Cristo durante a leitura de uma passagem deMartinho Lutero. Wesley contou que seu coração sentiu-se "estranhamente aquecido", e a partir desse dia ele se tornou o proclamador do glorioso testemunho do Espírito na salvação. Um nobre inglês, passando por um povoado em Cornwall, na Inglaterra, depois de procurar em vão um lugar onde comprar bebida alcoólica, perguntou a um camponês: "Como é que eu não posso comprar um copo de bebida nesta triste aldeia?". O velho, reconhecendo a posição do estrangeiro, tirou respeitosamente o chapéu e curvou-se, dizendo: "Senhor, há cerca de cem

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 54

anos um homem chamado John Wesley passou por aqui". O camponês então virou-se e foi embora. Durante 53 anos de um ministério incansável, Wesley chamou a si mesmo de "homem de um livro só" — a Bíblia. Ele escreveu, todavia, mais de 200 livros, editou uma revista, compilou dicionários em quatro línguas — tudo escrito a mão. Ele percorreu a Inglaterra a cavalo, num total de 250.000 milhas. Durante anos, fez uma média de 20 milhas diárias e muitas vezes andava de 50 a 60 e até mais milhas por dia, parando para pregar ao longo do caminho. Ele pregou 40.000 sermões — raramente menos que dois por dia e às vezes sete, oito ou até mais. Aos 83 anos queixou-se de que não podia ler nem escrever mais de 15 horas por dia sem que os olhos doessem. Lamentou não poder pregar mais que duas vezes por dia, e confessou sua crescente tendência de permanecer na cama até as 5.30 da manhã. Aos 86 continuava levantando-se nessa hora para orar. Qual o segredo da sua tremenda energia ou, mais ainda, o segredo do selo continuado de Deus sobre o seu ministério? As anotações da sua agenda nos dias 3 e 15 de outubro de 1738 evidenciam os seus anseios por uma experiência mais profunda. Os historiadores apontam para uma ocasião, seis meses depois do seu novo nascimento. Ouçam as palavras dele, escritas no diário: "Segunda-feira, 1º de janeiro de 1739. Os srs. Hall, Kinchin, Ingham, Whitefield, Hutchins e meu irmão Charles estiveram presentes à nossa festa de confraternização em Fetter-lane, com cerca de 60 de nossos irmãos. Às três da manhã aproximadamente, enquanto continuávamos em oração, o poder de Deus veio poderosamente sobre nós, a ponto de muitos clamarem por júbilo e outros tantos caírem no chão. Tão logo nos recobramos um pouco desse temor e surpresa com a presença de Sua majestade, falamos todos juntos: 'Te louvamos, ó Deus, reconhecemos que Tu és o Senhor'". A partir dessa data, Wesley pregou com tanta autoridade e poder que milhares se renderam ao Senhor. Seus diários, que ele guardou fielmente no correr dos anos, contam a respeito de indivíduos tomados subitamente de profunda convicção de pecados dada pelo Espírito Santo. As pessoas viam os seus pecados como eles são aos olhos do nosso Deus santo e clamavam por livramento. Algumas eram acometidas de tremor diante da temível presença de Deus. Outras eram tomadas por tremenda convicção de pecado até três semanas mais tarde. Elas subitamente gritavam como em agonia mortal, arrependiam-se e em breve se rejubilavam com o perdão dos seus pecados. Em 21 de abril de 1739, em Weaver's Hall, Bristol, "um jovem foi subitamente acometido de violento tremor e em poucos minutos, aumentados os sofrimentos do seu coração, ele caiu prostrado". Em breve alcançou paz. Em 25 de abril, enquanto Wesley pregava, "imediatamente um, depois outro, e outro caíram no chão; eles caíam em toda parte, como atingidos por um raio". Parecia ser quase uma repetição da experiência de Paulo em Damasco. As pessoas eram sempre tomadas por uma revelação terrível de Deus e da profundidade do seu pecado. Os críticos que ficavam a volta eram subitamente acometidos da mesma convicção e convertidos na mesma hora. Um forte oponente foi repentinamente jogado para fora da cadeira e prostrou-se invocando a Deus.

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Wesley fala de um outro lugar em que o poder de Deus cobriu a sua pregação: "Um, depois outro, e mais outro foram lançados ao chão, tremendo excessivamente na presença do Seu poder. Outros gritaram, em voz alta e amargurada: 'O que devemos fazer para ser salvos?'" O evangelista foi repetida e violentamente atacado, muitas vezes perseguido pela multidão e correu risco de morte. Mas Wesley escreveu a respeito da sua pregação: "O poder de Deus

veio sobre a sua palavra; de maneira que ninguém zombou, ou interrompeu, ou abriu a boca". Em Wapping, 26 pessoas sentiram tamanha convicção de pecado que ''algumas caíram e não lhes restaram qualquer força, outras tremeram e temeram". Wesley orou para que nenhum observador se sentisse ofendido com esses acontecimentos. Ele não encorajava nem tentava fazê-las parar, reconhecendo que era a mão do Senhor.

Citei apenas alguns dos muitos exemplos do poder de Deus sobre Wesley. Não existe uma explicação humana, exceto a sua vida de oração e sensação repetida do poder de Deus. Não era nada fingido. Ele não buscava emoção ou uma demonstração externa. Deus simplesmente revestiu de poder seu ministério constante.

Charles Finney ≈ 1821 d.C. Perto da aldeia de New York Mills, no século XIX, havia uma fábrica de tecidos movida pela força das águas do rio Oriskany. Certa manhã, os operários se achavam comovidos, conversando sobre o poderoso culto da noite anterior, no prédio da escola pública. Não muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto e atlético, entrou na fábrica. O poder do Espírito Santo ainda permanecia nele; os operários, ao vê-lo, sentiram a culpa de seus pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a trabalhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam juntas, uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as dependências da fábrica. O diretor, vendo que os operários não podiam trabalhar, achou que seria melhor que cuidassem da salvação da alma, e mandou que parassem as máquinas. A comporta das águas foi fechada e os operários se ajuntaram em um salão . O Espírito Santo operou com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram. Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney. Ele relata em sua autobiografia:

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"Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas grandes preocupações como advogado, resolvi seguir rigorosamente a determinação de ser salvo. Pela providência de Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando. Mas ao encarar a situação resolutamente achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e não me envergonhava de lê-la diante do próximo. Mas então, se entrasse alguém, eu colocaria um livro aberto sobre a Bíblia para escondê-la. Durante a segunda e a terça-feira, a minha convicção aumentou, mas parecia que o coração se havia endurecido: eu não podia, nem orar... Terça-feira, à noite, senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno. De manhã cedo, fui para o gabinete...Parecia que uma voz me perguntava: - ' Porque esperas ? Não prometesse dar o coração a Deus ? O que experimentas fazer ? - Alcançar a justificação pelas obras ? ' Foi então que vi, claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à justiça de Deus por intermédio de Cristo...Sem o saber, fiquei imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a voz de dentro se se dirigia a mim. Então me veio a pergunta: - ' Aceita-lo-ás, agora, hoje ? ' Repliquei:- Aceita-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao gabinete, voltei para entrar na floresta, onde podia derramar a alma sem alguém me ver nem me ouvir. Mas ao tentar orar, o coração não queria. Pensara que, uma vez sozinho, onde ninguém pudesse ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo, achei-me sem coisa alguma a dizer a Deus. Toda a vez que tentava orar, parecia-me ouvir alguém chegando. Por fim, achei-me quase em desespero. O coração estava morto para com Deus e não queria orar. Então reprovei-me a mim mesmo por ter-me comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse abandonado...Achei-me tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar de joelhos. Foi justamente nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém se aproximar e abri os olhos para ver. Logo foi-me revelado que o orgulho do meu coração era a barreira entre mim e a minha salvação. Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demônios do Inferno me cercassem. Gritei: ' Ora, um pecador como eu, de joelhos perante o grande e santo Deus, e confessando-lhes os pecados, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque me encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido ! ' O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: ' Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração... Continuei a orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo. Orei até que sem saber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-me de que disse a mim mesmo: ' Se eu me converter, pregarei o Evangelho. Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na minha mente. - ' Que é isso ? ' Perguntei-me a mim mesmo. - ' Entristecera eu o Espírito Santo até retirar-se de mim ? Não sinto mais convicção...' Então lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra...A calma de meu espírito era

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indescritível...Fui almoçar, mas não tinha vontade de comer. Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almoço. Comecei a tocar a música de um hino no rebecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as palavras sagradas, o coração parecia derreter-se e só podia chorar. Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, parecia-me ter encontrado o Senhor Jesus Cristo face a face. Não me entrou na mente, na ocasião, nem por algum tempo depois, que era apenas uma concepção mental. Ao contrário, parecia-me que eu o encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma, mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos seus pés. Isso, para mim, foi, depois, uma experiência extraordinária, porque parecia-me uma realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante mim, e eu me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz tanta confissão quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os seus pés com as minhas lágrimas; contudo, sem sentir ter tocado na sua pessoa. Ao virar-me para me sentar, recebi o poderoso batismo com o Espírito Santo. Sem o esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal maneira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o como uma onda elétrica que me traspassava repetidamente. De fato, parecia-me como ondas de amor liquefeito; porque não sei outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio fôlego de Deus. Não existem palavras para descrever o maravilhoso amor derramado no meu coração. Chorei de tanto gozo e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz, as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim, uma após outra, até eu clamar: ' Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre mim ! Senhor, não suporto mais ! ' Contudo, não receava a morte. Não sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coral veio ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos e perguntou: ' Sr. Finney, que tem ? ' Por algum tempo não pude responder-lhe. Então ele perguntou mais: - ' Está sentindo alguma dor ? ' Com dificuldade respondi: - Não, mas sinto-me demasiadamente feliz para viver. Saiu e, daí a pouco, voltou acompanhado por um dos anciões da Igreja. Esse ancião sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao entrar, encontrou-me no mesmo estado, mais ou menos, como quando o rapaz o foi chamar. Queria saber o que eu sentia e eu comecei a lhe explicar. Mas, em vez de responder-me, foi tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do fundo do seu coração. Nessa altura, entrou certo rapaz que começou a freqüentar os cultos da igreja. Presenciou tudo por alguns momentos, até cair no chão em grande angústia de alma, clamando: " Orem por mim ! " O ancião da igreja e outro crente oraram e depois Finney também orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho. Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa do amor que lhe transbordava do coração. Isso aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois : "Quando me acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto. Faltavam-me palavras para exprimir os meus sentimentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado da cama e chorei pelo gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa alguma senão derramar a alma perante Deus " " Por oito dias ( depois da sua conversão ) o meu coração permanecia tão cheio, que não sentia desejo de comer nem de dormir”. " Grande poder acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me ao notar como poucas palavras, dirigidas a uma pessoa, traspassavam-lhe o coração

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como uma seta. Não demorei muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único membro da família que fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai encontrou-me no portão e me perguntou: - ' Como tem passado, Carlos ? ' Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na alma. Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus filhos estão crescidos e casados; e nunca ouvi alguém orar na sua casa. Ele baixou a cabeça e começou a chorar, dizendo: - ' É verdade, Carlos; entre, e você mesmo ore. Entramos e oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois, converteram-se. Se a minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia". Assim, esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de trabalhar, ele escreveu: "Dei grande ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos um avivamento. Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo, sua divindade, sua missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária, sua ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé, e outras doutrinas que se tornaram vivas pelo poder do Espírito Santo. Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados. Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo." Acerca do espírito de oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses avivamentos, os recém - convertidos se acharem tomados pelo desejo de orar noites inteiras até lhes faltarem as forças físicas.” Durante os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do colégio de Oberlin e ensinou a um total de 20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com o Espírito Santo do que à preparação do intelecto; de Oberlin saiu uma corrente contínua de alunos cheios do Espírito Santo. Assim, depois dos anos de uma campanha intensiva de evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio, " em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a Deus ". ( By My Spirit, Jônathan Goforth, p. 183 ) Os diários de New York, às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do avivamento. Para que alguém não julgue que a obra era superficial, citamos outro escritor: "Descobriu-se, por pesquisa empolgante, que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney, permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressionar a consciência dos homens, sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente " . (Deeper Experiences of Famous Christiasn, p. 243 ) Finney continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos. Já no fim da vida, permanecia tão lúcido de mente como quando jovem e sua vida nunca foi tão rica no fruto do Espírito e na beleza da sua santidade do que nesse últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último sermão. Mas de noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem " Jesus lover of my soul, let me to Thy bosom fly ", saiu até o portão na frente da casa, e com estes que tanto amava, foi a última vez que cantou na terra. Acordou-se à meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera assim muitas vezes durante sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as regara com lágrimas. Todas as vezes que recebeu o fogo

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da mão de Deus, foi com sofrimento. Finalmente, antes de amanhecer o dia, dormiu na terra para acordar na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias para completar 83 anos de vida aqui na terra. Mas aprouve a Deus levá-lo antes.

Jonatas Edwards ≈ 1821 d.C.

Há dois séculos o mundo fala do famoso sermão: Pecadores nas mãos de um Deus irado e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando que iam cair no fogo eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que aconteceram nas reuniões em que o Espírito Santo desvendava os olhos dos presentes para eles contemplarem as glórias do Céu e a realidade do castigo que está bem perto daqueles que estão afastados de Deus.

Jônatas Edwards, entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava " O Grande despertamento ".

Quando Jônatas tinha sete ou oito anos, houve um despertamento na igreja de seu pai, e o menino acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e a chamar outros da sua idade para orarem com ele.

Antes de completar treze anos, iniciou seu curso em Yale College. Antes de completar dezessete anos, diplomou-se com as maiores honras. Sempre estudava com esmero, mas também conseguia tempo para estudar a Bíblia, diariamente. Depois de diplomar-se, continuou seus estudos em Yale, durante dois anos e foi então separado para o ministério. Acerca da sua consagração, com a idade de vinte anos, Edwards escreveu : " Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo o que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos de forma alguma.... travando uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida " .

Ao lado de Jônatas Edwards, no Grande Despertamento, estava o nome de Sara Edwards, sua fiel esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela nos serve como exemplo de rara intelectualidade. Profundamente estudiosa, inteiramente entregue ao serviço de Deus, ela era conhecida pela sua santa dedicação ao lar, pelo modo de criar seus filhos e pela economia que praticava, movido pelas palavras de Cristo: " Para que nada se perca " . Mas antes de tudo, tanto ela como seu marido eram conhecidos por suas experiências em oração. Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa, também, diariamente o acompanhava em oração. Depois da última refeição, ele deixava toda a lida, a fim de passar uma hora com a família.

Quais são as doutrinas a igreja havia esquecido e quais Edwards começou a ensinar e a observar de novo, com manifestações tão sublimes ? Basta uma leitura superficial para descobrir que a doutrina, à qual ele deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma experiência certa e definida, em contraste com a idéia da Igreja Romana e de várias denominações. O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões feitos por Edwards.

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O famoso sermão de Edwards, " Pecadores nas mãos de um Deus irado ", merece menção especial. O povo, ao entrar para o culto, mostrava um espírito leviano, e mesmo de desrespeito, diante dos cinco pregadores que estavam presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para pregar. Era homem de dois metros de altura; seu rosto tinha um aspecto feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito na outra mão, falava com voz monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio 32: 35 " Ao tempo em que resvalar o seu pé " . Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava, por um momento, que os pecadores caíssem no Inferno, a não ser a própria vontade de Deus; que Deus estava mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam no Inferno; que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalha de fogo e enxofre, e que somente a vontade do Deus indignado os guardava da morte instantânea. O resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que estavam. Nessa altura o sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; um homem correu para a frente, clamando: Sr. Edwards, tenha compaixão! Outros se agarravam aos bancos, pensando que iam cair no Inferno. Foi como se um furacão soprasse e destruísse uma floresta. Durante a noite inteira a cidade de Enfild ficou como uma fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas, o clamor das almas que, até aquela hora, confiavam na sua própria justiça. Esperavam que, a qualquer momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e apóstolos ao lado, e que os túmulos entregassem os mortos que neles haviam. Imediatamente antes desse sermão, por três dias Edwards não se alimentara; durante três noites não dormira. Rogara a Deus sem cessar: " Dá-me a Nova Inglaterra ! " Ao levantar-se da oração, dirigindo-se para o púlpito, alguém disse que tinha o semblante de quem fitara, por algum tempo, o rosto de Deus. Antes de abrir a boca para proferir a primeira palavra, a convicção caiu sobre o auditório.

Certo é que a Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos tempos modernos. É igualmente certo que este avivamento se iniciou, não com os sermões célebres de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma " obra direta que o Espírito divino faz na alma humana ". Note-se bem: Não foram seus sermões monótonos, nem a eloqüência extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no coração dos mortos espiritualmente, que, "começando em Northampton , espalhou-se por toda a Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escócia e a Inglaterra " . De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa da Nova Inglaterra, despertou e foram arrebatadas de trinta a cinqüenta mil almas do Inferno durante um período de dois a três anos. No meio das suas lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas Edwards foi tirada da Terra. Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de Filadélfia para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas de suas filhas foram também vacinados. Na febre que resultou, suas forças diminuíram gradualmente até que, um mês depois, faleceu. Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma da muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvolvamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as entreguemos desinteressadamente para o seu uso

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Moody ≈ 1837 d.C.

Tudo aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar almas. A noite de uma segunda-feira tinha sido reservada para um discurso dirigido aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticismo, então no zênite da fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem à reunião. Assim, cerca de 5.000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram e ocuparam todos os bancos.

Moody pregou sobre o texto: " A rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios inimigos os juízes " ( Deuteronômio 32: 31 ).

"Com uma rajada de incidentes pertinentes e comoventes das suas experiências com pessoas presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si mesmo quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam basear sua fé e esperança. Sem querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de homens demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis, isto é, o coração e o lar.

"Ao findar, Moody disse: ' Levantemo-nos para cantar: Oh! vinde vós aflitos! E enquanto o fazemos, os porteiros abram todas as portas para que possam sair todos os que quiserem. Depois faremos o culto, como de costume, para aqueles que desejam aceitar o Salvador '. Uma das pessoas que assistiu a esse culto, disse: ' Eu esperava que todos saíssem imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande massa de cinco mil homens se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum deles deixou seu assento! "

"Moody, então disse: 'Quero explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai'. Um grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de falar um pouco sobre a palavra recebei, fez um apelo: ' Quem quer recebê-lo ? É somente dizer: ' Quero '. Cerca de cinqüenta dos que estavam em pé e encostado às paredes, responderam: ' Quero ', mas nenhum dos que estavam sentados. Um homem exclamou: 'Não posso '. Moody então replicou: 'Falou bem e com razão, amigo; foi bom ter falado. Escute e depois poderá dizer: 'Eu posso'. Moody então explicou o sentido da palavra crer e fez o segundo apelo: 'Quem dirá: Quero crer nele? ' De novo alguns dos homens que estavam em pé responderam, aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero! ' Moody, vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos os homens que estão aqui esta noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero' .

"Então, levou todos a considerarem a história do Filho Pródigo, dizendo: 'A batalha é sobre o querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse: Levantar-me-ei a luta foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria vontade. É com referência a este ponto que depende de tudo hoje. Senhores, tendes aí em vosso meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero. Desejo que todos aqui, que acreditam que

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esse campeão tem razão, levantem-se e sigam o seu exemplo, dizendo: Eu não quero'. Todos ficaram quietos e houve silêncio até que, por fim, Moody interrompeu, dizendo: ' Graças a Deus ! Ninguém disse: Eu não quero. Agora quem dirá: Eu quero ? Instantanea-mente parece que o Espírito Santo tomou conta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e cerca de quinhentos homens puseram-se de pé, as lágrimas rolando pelas faces e gritando: ' Eu quero ! Eu quero ! ' Clamando até que todo o ambiente se transformou. A batalha foi ganha " .

"O culto terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que estavam desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram transferidos das fileiras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição da vontade. Os anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes nunca mais se ergueram. Deus, na sua misericórdia e poder, os aniquilou por seu Evangelho " .

Dwight nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto entre nove filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores tomaram conta do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha para aquecer a casa em tempo de intenso frio.

Com a idade de dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de Boston, onde achou emprego na sapataria de um tio seu. Continuou a assistir aos cultos, mas ainda não era salvo. Moody não foi salvo em um culto, mas na escola dominical. Eduardo Kimball (professor), conta:

"Resolvi falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vacilei um pouco em entrar na sapataria, não queria embaraçar o moço durante as horas de serviço. Por fim, entrei,

resolvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja, embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu ombro, fiz o que depois parecia ser um apelo fraco, um convite para aceitar a Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para receber a luz

que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria, entregou-se a Cristo ".

Era costume das igrejas daquela época, alugarem os assentos. Moody, logo depois da sua conversão, transbordando de amor para com o seu Salvador, pagou aluguel de um banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solicitando homens e meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro, até conseguir encher quatro bancos, todos os domingos. Mas isso não era suficiente para satisfazer o amor que sentia para com os perdidos. Certo domingo visitou uma Escola Dominical em outra rua. Pediu permissão para ensinar também uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola " . Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada, mas, como ele disse: " Todos com uma alma para ser salva ". Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no

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prédio não cabiam mais; então resolveu abrir outra escola em outra parte da cidade. Moody não ensinava, mas arranjava professores, providenciava o pagamento do aluguel e de outras despesas. Em poucos meses essa escola veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar outros para trabalhar no domingo, Moody, cedo, pela manhã, tirava as pipas de cerveja ( outros ocupavam o prédio durante a semana ) , varria e preparava tudo para o funcionamento da escola. Depois, então, saía para convidar alunos. Às duas horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de alunos. Depois de findar a escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para estarem a pregação, à noite.

Antes de findar o ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos em 80 classes. A seguir a assistência subia a 1.000 e, as às vezes, a 1.500. Ao mesmo tempo que Moody se aplicava à Escola Dominical com tais resultados, esforçava-se, também, no comércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era vir a ser um dos principais comerciantes do mundo, um multimilionário. Não tinha mais de 23 anos é já tinha ajuntado 7.000 dólares ! Mas seu Salvador tinha um plano ainda mais nobre para seu servo.

Certo dia, um dos professores da Escola Dominical entrou na sapataria onde Moody negociava. Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelos médicos, resolvera voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se muito perturbado, não porque tinha de morrer, mas porque até então não conseguira levar ao Salvador nenhuma das moças da sua classe da Escola Dominical. Moody, profundamente comovido, sugeriu que visitassem juntos as moças em suas casas, uma por uma. Visitaram uma. Então o professor falou-lhe seriamente acerca da salvação da sua alma. A moça deixou seu espírito leviano e começou a chorar, entregando-se ao seu Salvador. Todas as outras moças que foram visitadas naquele dia fizeram o mesmo.

Passados dez dias, o professor foi novamente à sapataria. Com grande gozo informou a Moody que todas as moças se havia entregado a Cristo. Moody, mais tarde, confessou: "Eu não sabia o preço que tinha de pagar, como resultado de haver participado na evangelização individual das moças. Perdi todo o jeito de negociar; não tinha mais interesse no comércio. Experimentara um outro mundo e não mais queria ganhar dinheiro...Oh ! delícia, a de levar uma alma das trevas desde mundo à gloriosa luz e liberdade do Evangelho ! "

Então, não muito depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou um bom emprego com salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso naquele tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um único centavo. A parte da biografia de D. L. Moody que trata dos primeiros anos do seu ministério está repleta de proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas uma, isto é, o fato de Moody fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais tarde se referia àqueles anos como uma manifestação do " zelo de Deus, mas sem entendimento ", acrescentando: " Há, contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem entendimento do que para o homem de entendimento sem zelo " .

Rompeu a tremenda Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento militar onde armou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou dinheiro e levantou um templo onde dirigiu 1.500 cultos durante a guerra. Uma pessoa que o conhecia assim comentou sua ação: " Moody precisava estar constantemente em todos os lugares, dia e noite, nos domingos e todos os dias da semana; orando,

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exortando, tratando com os soldados acerca das suas almas, regozijando-se nas oportunidades abundantes de trabalhar no grande fruto ao seu alcance por causa da guerra ". Depois de findar a guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio para os cultos, com capacidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse edifício foi destruído por um incêndio, ele e dois outros iniciaram outra campanha, antes de os escombros haverem esfriados, para levantar um novo edifício. Trata-se do Farwell Hall II, que se tornou um grande centro religioso em Chicago. O segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo da escada .

No meio desses grandes esforços, Moody resolveu, inesperadamente, fazer uma visita à Inglaterra. Em Londres, antes de tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle. Já tinha lido muito do que " o príncipe dos pregadores " escrevera, mas ali pôde verificar que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra visão. Visitou Jorge Müller e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de Müller exerceu tanta influência sobre ele como já o tinha feito " O Peregrino ", de Bunyan. Entretanto, nessa viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais profunda com Cristo, foram estas palavras proferidas por um grande ganhador de almas de Dubim, Henrique Varley: " O mundo ainda não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele entregue". Moody disse consigo mesmo: " Ele não disse por um grande homem, nem por um sábio, nem por um rico, nem por um eloqüente, nem por um inteligente, mas simplesmente por um homem. Eu sou um homem, e cabe ao homem mesmo resolver se deseja ou não consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse homem " . Apesar de tudo isso, Moody, depois de voltar à América, continuava a se esforçar e a empregar métodos naturais. Foi nessa época que a cidade de Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso incêndio de 1871.

Moody foi a Nova Iorque, a fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande incêndio. Acerca do que se passou, ele mesmo escreveu: " Não sentia o desejo no coração de solicitar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque - Ah que dia ! Não posso decrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da qual não falou por catorze anos. Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim e tive uma experiência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que retirasse de mim sua mão. Não quero voltar para viver de novo como vivi outrora nem que eu pudesse possuir o mundo inteiro" . Acerca dessa experiência, um de seus biógrafos acrescentou: " O Moody que andava na rua parecia outro. Nunca jamais bebera mosto, mas então conhecia a diferença entre o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. Enquanto andava, parecia-lhe que um pé dizia a cada passo, ' Glória ! ' e o outro respondia, 'Aleluia!'. O pregador rompeu em soluços, balbuciando: ' Ó Deus, constrange-nos andar perto de ti para todo o sempre ' ".

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O Senhor supriu dinheiro para Moody construir um edifícil provisório para realizar os cultos em Chicago. Era de madeira rústica, forrada de papel grosso para evitar o frio; o teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no centro. Nessa templo provisório realizaram-se os cultos durante três anos, no meio de um deserto de cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita pelos membros que moravam em ranchos ou mesmos em lugares escavados por debaixo das calçadas das ruas. Ao primeiro culto assistiram mais de mil crianças com seus respectivos pais !

Esse templo provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor; eram tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que conseguiram levar muitos a Cristo e se tornaram ricos, apesar de nada possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões choravam seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados, clamavam e louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batismo com o Espírito Santo.

Não muito depois de haver construído o templo permanente ( com assentos para 2.000 pessoas - e sem endividar-se ), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos seus primeiros cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca assistência e o povo sem interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito, que Moody recebera nas ruas de Nova Iorque, ainda pemanecia na sua alma e Deus o usou como seu instrumento para um avivamento mundial .

Na Inglaterra, as cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e Newcastle foram vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia, em Edimburgh, os cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou comovida". Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da Escola Dominical, a que assistiram mais de 3.000 . O culto de noite foi anunciado para às 18:30, mas muito antes da hora marcada, o grande edifício ficou repleto e a multidão que não pôde entrar foi levada para as quatro igrejas mais próximas. Essa série de cultos transformou radicalmente a vida diária do povo. Na última noite Sankey cantou para 7.000 pessoas que estavam dentro do edifício, e Moody, sem poder entrar no auditório, subiu numa carruagem e pregou a 20 mil pessoas que se achavam congregadas do lado de fora. O coral cantou os hinos de cima dum galpão. Em um só dia mais de 2.000 pessoas responderam ao apelo para se entregarem definitivamente a Cristo.

Depois de uma campanha bem sucedida na Irlanda, Moody e Sankey voltaram à Inglaterra e dirigiram cultos inesquecíveis em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos meses, os maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões desejosas de ouvirem a apresentação clara e ousada do Evangelho por um homem livre de todo o interesse e ostentação. O poder do Espírito se manifestou em todos os cultos produzindo resultados que permanecem até hoje.

Quando Moody saiu dos Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e tinha fama, apenas como obreiro da Escola Dominical e da Associação Cristã de Moços. Mas quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como o mais famoso pregador do mundo.

Nas suas ministrações havia ocasiões que eram realmente dramáticas. Em Chicago, o Circo Forepaugh, com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e lugares para outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos. Moody

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alugou a tenda para os cultos de manhã, os donos resolveram não fazer sessão no segundo domingo. O culto realizou-se sob a lona no segundo domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, 18.000 pessoas ficaram em pé, banhados em suor e esquecidos do calor. No silêncio que reinava durante a pregação de Moody, o poder desceu e centenas foram salvos. Apesar de Moody não ter instrução acadêmica, reconhecia o grande valor da educação e sempre aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus. Reconhecia a grande vantagem da instrução também para os que pregam no poder do Espírito Santo. Ainda existem três grandes monumentos às suas convicções nesse ponto - as três escolas que ele fundou: Instituto Bíblico em Chicago, com 38 prédios e 16.000 matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos por Correspondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do Monte Hermon, com 500 alunos.

Tudo no mundo tem de findar; chegou o tempo também para D. L. Moody findar o seu ministério aqui na terra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em Kansas City, com auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É provável que soubesse que seria o último: certo é que seu apelo era ungido como poder vindo do Alto e centenas de almas foram ganhas para Cristo.

Para a nação, a sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano, mas para D.L. Moody, foi o dia que clareou. Foi o começo do dia que nunca findará. Ás seis horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos ouviram-no dizer em voz clara: " Se isto é a morte, não há nenhum vale. Isto é glorioso. A terra recua; o céu se abre perante mim. Deus está me chamando ! "

Spurgeon ≈ 1837 d.C.

Spurgeon, quando ainda criança, interessava-se pela leitura de " O Peregrino ", pela história dos mártires e por diversas obras de teologia. É impossível calcular a influência dessas obras sobre a sua vida.

Quando Carlos Spurgeon era ainda pequeno, foi por Deus convencido do pecado. Durante alguns anos sentia-se uma criatura sem esperança e sem conforto; visitava um lugar de culto após outro, sem conseguir saber como podia livrar-se do pecado. Então, quando tinha quinze anos de idade, aumentou nele o desejo de ser salvo. E aumentou de tal forma, que passou seis meses agonizando em oração. Nesse tempo assistiu a um culto numa igreja; nesse dia, o pregador não fora ao culto, por causa duma grande tempestade de neve. Na falta do pastor, um sapateiro se levantou para pregar às poucas pessoas presentes, e leu este texto: " Olhai para mim e sede salvos, todos os confins da terra " (Isaías 45: 22). O sapateiro, inexperiente na arte de pregar, podia apenas repetir a passagem e dizer: "Olhai ! Não é necessário levantar um pé, nem um dedo. Não vos é necessário estudar no colégio para saber olhar; nem contribuir com mil libras. Olhai para mim, não para vós mesmos. Não há conforto em vós. Olhai para mim, suando grandes gotas de sangue. Olhai para mim, pendurado na cruz. Olhai para mim, morto e sepultado. Olhai para mim, ressuscitado. Olhai para mim, à direita de Deus ". Em seguida, fitando os olhos em

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Carlos, disse: " Moço, tu pareces ser miserável. Serás infeliz na vida e na morte se não obedeceres ". Então gritou ainda mais: " Moço, olha para Jesus ! Olha agora ! " O rapaz olhou e continuou a olhar, até que por fim, um gozo indizível entrou na sua alma.

A partir dai Spurgeon aproveitava todas as oportunidades para distribuir folhetos. Entregava-se de todo o coração a ensinar na Escola Dominical, onde alcançou, de início, o amor dos alunos e, por intermédio desses, a presença dos pais na escola. Com a idade de dezesseis anos começou a pregar. Acerca disso ele disse: "Quantas vezes me foi concedido o privilégio de pregar na cozinha duma casa de agricultor, ou num celeiro!". Alguns meses depois de pregar seu primeiro sermão, foi chamado a pastorear a igreja em Waterbeach. Ao fim de dois anos, essa igreja de quarenta membros, passou a ter cem.

Spurgeon foi chamado a pregar na Park Street Chapel, em Londres. O local era inconveniente para os cultos, e o templo, que tinha assentos para mil e duzentos

ouvintes, era demasiado grande para os auditórios. Contudo, " havia ali um grupo de fiéis que nunca cessaram de rogar a Deus um glorioso avivamento ". Este fato é assim registrado nas palavras do próprio Spurgeon: "No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações. Ás vezes pareciam que rogavam até verem realmente presente o Anjo do Concerto (Cristo), querendo abençoá-los. Mais que uma vez nos admiramos com a solenidade das

orações até alcançarmos quietude, enquanto o poder do Senhor nos sobrevinha... Assim desceu a bênção, a casa se encheu de ouvintes e foram salvas dezenas de almas ! "

Sob o ministério desse moço de dezenove anos, a audiência aumentou em poucos meses a ponto de o prédio não mais comportar as multidões; centenas de ouvintes permaneciam na rua para aproveitar as migalhas que caíam do banquete dentro da casa. Foi resolvido reformar a New Park Street Chapel e, durante o tempo da obra, realizavam-se os cultos em Exeter Hall, prédio que tinha assentos para quatro mil e quinhentos ouvintes. Aí, em menos de dois meses, os auditórios eram tão grandes, que as ruas, durante os cultos, se tornavam intransitáveis. Quando voltaram para o Chapel, o problema, em vez de ser resolvido, era maior; três mil pessoas ocupavam o espaço preparado para mil e quinhentas ! O dinheiro gasto, que alcançou uma elevada quantia, fora desperdiçado ! Tornou-se necessário voltar para o Exeter Hall. Mas nem o Exeter Hall comportava mais os auditórios e a igreja tomou uma atitude espetacular - alugou o Surrey Music Hall, o prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres, construído para diversões públicas. O culto inaugural foi anunciado para a noite de 19 de outubro de 1856. Na tarde do dia marcado, milhares de pessoas para lá se dirigiram para achar assento. Quando, por fim, o culto começou, o prédio no qual cabiam 12.000 pessoas, estava superlotado e havia mais 10.000 fora. Neste primeiro culto, notaram-se vestígios da perseguição que Spurgeon tinha de encarar. Ele estava orando, e depois da leitura das Escrituras, os inimigos da obra de Deus se levantaram, gritando: " Fogo ! Fogo ! " Apesar de todos os esforços de Spurgeon e de outros crentes, a grande massa de gente movimentou-se em pânico, de tal modo que sete pessoas

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morreram e vinte e oito ficaram gravemente feridas. Spurgeon comportou-se com a maior calma durante todo o tempo da indescritível catástrofe, mas depois passou dias prostrado, sofrendo em conseqüência do tremendo choque.

De um dia para o outro Spurgeon, o herói do Sul de Londres, tornou-se um vulto de projeção mundial. Aceitou convites para pregar em cidades da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre e nos maiores edifícios, em média, oito a doze vezes por semana.

Contruiram então o famoso Templo Metropolitan Tabernacle em Londres. Durante certo período, pregou trezentas vezes em doze meses. O maior auditório, no qual pregou, foi no Crystal Palace, Londres, em 7 de outubro de 1857. O número exato de assistentes era por volta de 23.654. Spurgeon esforçou-se tanto nessa ocasião, e o cansaço foi tal, que após o sermão da noite de quarta-feira, dormiu até a manhã de sexta-feira !

Spurgeon também se ocupava grandemente no evangelismo individual. Nesse sentido citamos aqui o que certo crente disse a respeito dele: "Tenho visto auditórios de 6.500 pessoas inteiramente levadas pelo fervor de Spurgeon. Mas ao lado de uma criança moribunda, que ele levara a Cristo, achei-o mais sublime do que quando dominava o interesse da multidão ".

Spurgeon escreveu muitos livros e inspirado pelo exemplo de Jorge Müller, fundou e dirigiu o orfanato de Stockwell. Pediram a Deus e recebiam o necessário para levantar prédio após prédio e alimentar centenas de crianças desamparadas.

Quando alguém perguntava a Spurgeon a explicação do poder na sua pregação, o Príncipe de Joelhos apontava para a loja que ficava sob o salão do Metropolitan Tabernacle e dizia: " Na sala que está embaixo, há trezentos crentes que sabem orar. Todas as vezes que prego, eles se reúnem ali para sustentar-me as mãos, orando e suplicando ininterruptamente”. Spurgeon muitas vezes passava dias inteiros em jejum e oração. Na sua autobiografia, desde o começo do seu ministério em Londres, consta que pessoas gravemente enfermas foram curadas em respostas às suas orações. J. P. Fruit disse: "Quando Spurgeon orava, parecia que Jesus estava em pé ao seu lado".

As suas últimas palavras, no leito de morte, dirigidas à sua esposa, foram: " Oh ! Querida, tenho desfrutado um tempo mui glorioso com meu Senhor ! " Ela, ao ver, por fim, que seu marido passaria para o outro lado, caiu de joelhos e com lágrimas exclamou. " Oh ! Bendito Senhor Jesus, eu te agradeço o tesouro que me emprestaste no decurso destes anos; agora Senhor, dá-me força e direção durante todo o futuro ".

[ Avivamentos mais recentes ]

Muitos outros avivamentos ocorreram na história, dignos de destaque, poderia citar ainda: Ducan Campbell e o avivamento nas ilhas da Escócia (1949 d.C.), e também Erlo Stegen - Avivamento entre nos Zulus da África 1966 d.C. Tais avivamentos estão documentados e

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possuem testemunhos inclusive em vídeos de ótima qualidade, que podem ser pesquisados e baixados no Internet.

[ Destaque ] Jorge Müller ( 1805 - 1898 )

"Pela fé, Abel.... Pela fé, Noé... Pela fé, Abraão..." Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nele. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: Pela fé, Jorge Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo ". Jorge Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o Evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda. Gastou esses primeiros anos de estudo nos mais desenfreados vícios, chegando, certa vez, a ser preso por vinte e quatro dias. Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no famoso orfanato de A.H. Frank. Apesar de esse fervoroso servo de Deus, o senhor Frank, ter morrido quase cem anos antes ( em 1727 ), o seu orfanato continuava a funcionar com as mesmas regras de confiar inteiramente em Deus para o sustento. Certo pregador, pouco antes da morte de Jorge Müller, perguntou-lhes se orava muito. A resposta foi esta: " Algumas horas todos os dias. E ainda, vivo no espírito de oração; oro enquanto ando, enquanto deitado e quando me levanto. Estou constantemente recebendo respostas. Uma vez persuadido de que certa coisa é justa, continuo a orar até a receber ". Não muito antes de seu casamento, não se sentia bem com o costume de salário fixo, preferindo confiar em Deus em vez de confiar nas promessas dos irmãos. Deu sobre isso as três seguintes regras: 1) " Um salário significa uma importância designada, geralmente adquirida do aluguel dos bancos. Mas a vontade de Deus não é alugar bancos ( Tiago 2: 1-6 ). 2) " O preço fixo dum assento na igreja, às vezes, é pesado demais para alguns filhos de Deus e não quero colocar o menor obstáculo no caminho do progresso espiritual da igreja " . 3) "Toda a idéia de alugar os assentos e ter salário torna-se tropeço para o pregador, levando-o a trabalhar mais pelo dinheiro do que por razões espirituais ". Um mês depois de seu casamento, colocou uma caixa no salão de cultos e anunciou que podiam deitar lá as ofertas para o seu sustento e que, daí em diante, não pediria mais nada, nem a seus amados irmãos; porque, como ele disse, " Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço de carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor ".

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O primeiro ano findou com grande triunfo e Jorge Müller disse aos irmãos que, apesar da pouca fé ao começar, o Senhor tinha ricamente suprido todas as suas necessidades. O ano seguinte foi, porém, de grande provação, porque muitas vezes não lhes restava um xelim. E Jorge Müller acrescenta que no momento próprio a sua fé sempre foi recompensada com a chegada de dinheiro ou alimentos. Nesses dias, quando começou a provar as promessas de Deus, ficou comovido pelo estado dos órfãos e pobres crianças que encontrava nas ruas. Ajuntou algumas dessas crianças para comer consigo às oito horas da manhã e a seguir, durante uma hora e meia, ensinava-lhes as Escrituras. A obra aumentou rapidamente. Quanto mais crescia o número para comer, tanto mais recebia para alimentá-las até se achar cuidando de trinta a quarenta menores. Ao mesmo tempo, Jorge Müller fundou a Junta para o Conhecimento das Escrituras na Nação e no Estrangeiro. O alvo era: 1) Auxiliar as escolas bíblicas e as escolas dominicais. 2) Espalhar as Escrituras. 3) Aumentar a obra missionária. Não é necessário acrescentar que tudo foi feito com a mesma resolução de não se endividar, mas sempre pedir a Deus, em secreto, todo o necessário. Certa noite, quando lia a Bíblia, ficou profundamente impressionado com as palavras: "Abre bem a tua boca, e te encherei " (Salmo 81:10). Foi levado a aplicar essas palavras ao orfanato, sendo-lhe dada a fé de pedir mil libras ao Senhor; também pediu que Deus levantasse irmãos com qualificação para cuidar das crianças. Desde aquele momento, esse texto ( Salmos 81:10 ), serviu-lhe como lema e a promessa se tornou em poder que determinou todo o curso na sua vida. Quatro dias depois foi recebida a primeira contribuição de móveis: um guarda-roupa; e uma irmã ofereceu dar seus serviços para cuidar dos órfãos. Jorge Müller escreveu naquele dia que estava alegre no Senhor e confiante que Ele ia completar tudo. No dia seguinte, Jorge Müller recebeu uma carta com estas palavras: "Oferecemo-nos para o serviço do orfanato se o irmão achar que temos as qualificações. Oferecemos também todos os móveis, etc.., que o Senhor nos tem dado. Faremos tudo isto sem qualquer salário, crendo que, se for a vontade do Senhor usar-nos, Ele suprirá todas as nossa necessidades ". Desde aquele dia, nunca faltaram, no orfanato, auxiliares alegres e devotados, apesar de a obra aumentar mais depressa do que Jorge Müller esperava. Três meses depois, foi que conseguiu alugar uma grande casa e anunciou a data da inauguração do orfanato para o sexo feminino. No dia da inauguração, porém, ficou desapontado: nenhuma órfã foi recebida. Somente depois de chegar a casa é que se lembrou de que não as tinha pedido. Naquela noite humilhou-se rogando a Deus o que anelava. Ganhou a vitória de novo, pois veio uma órfã no dia seguinte. Quarenta e duas pediram entrada antes de findar o mês, e já havia vinte e seis no orfanato. Era seu costume, e recomendava também aos irmãos, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Dessa maneira, foi levado a desejar respostas concretas aos pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: " Senhor, olha para as necessidades de teu servo..." Essa foi uma oração a que

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Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de trinta minutos. Sua confiança no "Pai dos órfãos" era tal, que nem uma só vez recusou aceitar crianças no orfanato. Os cinco prédios construídos de pedras lavradas e situados em Ashley Hill, Bristol, Inglaterra, com 1.700 janelas e lugar para acomodar mais de 2.000 pessoas, são testemunhas atuais dessa grande fé de que ele escreveu. Havia ainda 189 missionários para sustentar, cerca de 100 colégios com mais ou menos 9.000 alunos, além de 4.000.000 de tratados para distribuir, tudo sob nossa responsabilidade, sem que houvesse dinheiro em caixa para as despesas ". Com a idade de 69 anos, Jorge Müller iniciou suas viagens, nas quais pregou centenas de vezes em quarenta e duas nações, a mais de três milhões de pessoas. O estimado evangelista, Carlos Inglis, contou a respeito de Jorge Müller: "Quando vim pela primeira vez à América, faz trinta e um anos, o comandante do navio era devoto tal que jamais conheci. Quando nos aproximamos da Terra Nova, ele me disse: Sr. Inglis, a última vez que passei aqui, há cinco semanas, aconteceu uma coisa tão extraordinária que foi a causa de uma transformação de toda a minha vida de crente. Até aquele tempo eu era um crente comum. Havia a bordo conosco um homem de Deus, o senhor Müller, de Bristol. Eu tinha passado 22 horas sem me afastar da ponte de comando, nem por um momento, quando fui assustado por alguém que me tocou no ombro. Era o senhor Jorge Müller. Houve, então, entre nós o seguinte diálogo: - Comandante - disse o senhor Müller, - vim dizer-lhe que tenho de estar em Quebec no sábado à tarde. Era quarta-feira. - Impossível - respondi. - Pois bem, se seu navio não pode levar-me, Deus achará outro meio de transporte. Durante 57 anos nunca deixei de estar no lugar à hora em que me achava comprometido. - Teria muito prazer em ajudá-lo, mas o que posso fazer ? - Não há meios ! - Vamos aqui dentro para orar - sugeriu. Olhei para aquele homem e disse a mim mesmo: ' De qual casa de doidos escapou este ? ' Nunca eu ouvira alguém falar desse modo. - Sr. Müller, o senhor vê como é espessa esta neblina . - Não - respondeu ele - os meus olhos não estão na neblina, mas no Deus vivo que governa todas as circunstâncias da minha vida . O senhor Müller caiu de joelhos e orou da forma mais simples possível. Eu pensei: ' É uma oração como a de uma criança de oito ou nove anos '. Foi mais ou menos assim que ele orou: ' Ó Senhor, se for da tua vontade, retira esta neblina dentro de cinco minutos. Sabes como me comprometi a estar em Quebec no sábado. Creio ser isso a tua vontade ". Quando findou, eu queria orar também, mas o senhor Müller pôs a sua mão no meu ombro e pediu que não o fizesse, dizendo: - Comandante, primeiro o senhor não crê que Deus faça isso, e, em segundo lugar, eu creio que Ele já o fez. Não há, pois, qualquer necessidade de o senhor orar nesse sentido. Conheço, comandante, o meu Senhor há cinqüenta e sete anos e não há dia em que eu não tenha audiência com Ele. Levante-se, por favor, abra a porta e verá

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que a neblina já desapareceu . Levantei-me, olhei, e a neblina havia desaparecido. No sábado, à tarde, Jorge Müller estava em Quebec " . Jorge Müller tinha consigo, havia quase quarenta anos, uma esposa sempre fiel. Quando ela faleceu, milhares de pessoas assistiram ao seu enterro. Ele mesmo, fortalecido pelo Senhor, conforme confessou, dirigiu os cultos fúnebres no templo e no cemintério. Com a idade de 90 anos pregou o sermão fúnebre da segunda esposa, como fizera na morte da primeira. No ano de 1898, com a idade de noventa e três anos, na última noite antes de partir para estar com Cristo, sem mostrar sinal de diminuição de suas forças físicas, deitou-se como de costume. Na manhã do dia seguinte foi " chamado ", na expressão de um amigo ao receber as notícias que assim explicam a partida: " O querido Müller desapareceu de nosso meio para o Lar, quando o Mestre abriu a porta e o chamou ternamente, dizendo: ' Vem ! " Os jornais publicaram, meio século depois da sua morte, a seguinte notícia: " O orfanato de Jorge Müller, em Bristol, permanece como uma das maravilhas do mundo. Desde a sua fundação, em 1836, a cifra que Deus tem concedido, unicamente em resposta às orações, sobe a mais de vinte milhões de dólares e o número de órfãos ascende a 19.935.

[ Missões ]

Comunidades Missionárias

· OS PURITANOS O nome é originado da vontade de purificar-se dos resquícios católicos romanos. A idéia puritana expandiu-se também para a purificação da sociedade por parte dos seus seguidores. Um dos mais famosos puritanos é John Bunyan, autor de “O Peregrino”. Um grupo de puritanos desembarcou na parte norte da América e deu origem a diversas comunidades de discípulos. Este movimento surgiu no século XVII. · PIETISMO Originou-se no meio da Igreja Luterana, no final de 1600, e propunha reformas à tradição protestante que já se acomodava. Phillip J. Spener (1631 - 1705) é considerado o Pai do Pietismo. Os pietistas influenciaram grandemente o trabalho missionário de sua época. · A MISSÃO HALLE Esta foi a primeira missão européia a enviar missionários. Nasceu de uma união com o governo dinamarquês e os pietistas. · OS MORÁVIOS Esta é uma das comunidades mais impressionantes da história. O testemunho histórico diz que eles mantiveram uma oração contínua, revezada, que durou 100 anos ininterruptamente. Influenciaram muitas vidas com a verdadeira fé, inclusive o já citado John Wesley, pai do Metodismo. Um a cada sessenta Morávios era missionário. Por vezes, se vendiam como escravos (sem opção de retorno) para fazer missão, em outras

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vezes, mesmo sabendo que ficariam doentes, entravam e passavam a viver em colônias de leprosos para pregar, esperando somente na Vida Eterna.

Willian Carey ≈ 1.793 d.C. Willian Carey viveu na Inglaterra do século XVIII. Ainda menino aprendeu com seu pai a fazer e concertar sapatos. Certo dia, encontrou um Novo Testamento com letras estranhas. Ao indagar seu idoso professor, ele explicou que eram palavras gregas. William ficou tão interessado na língua antiga que procurou outros livros escritos em grego até que aprendeu a ler esta língua. Ele sustentava a família fazendo sapatos e ao mesmo tempo começou a estudar línguas diferentes: hebraico, latim, grego, alemão e francês. Willian tornou-se professor durante o dia e ainda concertava sapatos a noite. Fez um globo terrestre, com uma série de pedaços de couro de várias cores e pendurou em sua sala de aula. Enquanto olhava para aquele globo Deus começou a falar em seu coração, dando-lhe grande compaixão pelas almas perdidas. Certo dia, ele leu a história da vida de David Brainerd, missionário junto aos índios norte-americanos. Enquanto lia decidiu entregar sua vida da mesma forma. Neste tempo, começou a implorar a Deus que usasse sua vida. Naquele tempo, as igrejas da Inglaterra não enviavam missionários. Ao conversar com um pastor sobre o seu desejo, o mesmo lhe respondeu: “Rapaz, quando Deus quiser converter os pagãos, Ele o fará sem o seu auxílio”. Mas ele não desistiu, por que sabia que Deus assim desejava. Logo no começo, sua esposa recusou-se a ir, porém acabou consentindo. William e sua família partiram para índia em 1793. Viajaram de navio e chegaram depois de 5 meses. Ele ficou na índia por 41 anos. Traduziu a Bíblia inteira para o Bengalês, Sânscrito e Marathí, e o Novo Testamento para diversas outras línguas. Fundou escolas cristãs, foi usado na conversão de muitos hindus e na formação de várias igrejas. Sua família passou por tempos muito difíceis, doenças, fome, falta de um teto para dormir. Certa vez, um incêndio, destruiu muitos anos de trabalho na composição de literaturas cristãs feitas por ele. Mas jamais esmureceu. Ele conseguiu transformar inclusive, algumas leis do pais. Quando Carey havia chegado na Índia, ficou chocado por um costume chamado de “sati” – as viúvas eram queimadas vivas junto com os corpos de seus maridos que morriam. Isto fazia parte de um costume na índia e não havia Lei para impedi-lo. Ele demorou 40 anos lutando para que tal prática fosse abolida, e conseguiu. Hoje Carey é chamado “Pai das missões modernas”.

Hudson Taylor ≈ 1.856 d.C.

James Hudson Taylor, nasceu em 1832, na cidade de Barnsley, em Yorkshire, na Inglaterra. Era de família metodista, e recebeu muita

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influência espiritual dos seus pais e avós, bem como dos seus irmãos William e Amelia. Seu pai, um farmacêutico, preocupou-se sempre com a condição espiritual da China, e sempre que tinha oportunidade, realizava reuniões especiais para discutir como poderia ajudar aquele tão grande país.

Em Junho de 1849, aos dezessete anos, ao ler um folheto escrito pelo seu pai sobre a obra de Cristo, Hudson compreendeu o plano da salvação, e como resultado, entregou a sua vida a Jesus. Neste mesmo ano, sentiu a chamada do Senhor para trabalhar como missionário na China. Ao dizer sim à chamada, começou a preparar-se em todos os aspectos da sua vida, a fim de atingir o objetivo de evangelizar a China. Desde logo começou a aprender o Mandarim através de uma cópia do Evangelho de Lucas. Hudson também soube da grande necessidade

de médicos na China, e assim começou a estudar medicina. O seu treinamento médico começou na cidade de Hull e continuou em Londres. Além disso, estudou Teologia, Latim e Grego. Enquanto estava em Hull, vivia basicamente alimentando-se de aveia e arroz, e grande parte do seu salário ofertava para a obra do Senhor. No dia 19 de Setembro de 1853, com 21 anos, e associado à Sociedade de Evangelização Chinesa, Hudson Taylor partiu para a China a bordo do navio de carga chamado Dumfries. Após seis longos meses de viagem com intempéries e perigos de morte,

ele chega finalmente a Xangai. Ao juntar-se a outros missionários ingleses, residentes naquela mesma cidade, Hudson notou a grande deficiência da evangelização no interior do país. Nesta época, a China estava a passar por momentos tumultuosos, e Xangai havia sido tomada por rebeldes. Por isso, todos os missionários estavam nas cidades da costa, e envolvidos mais com o comércio e a política externa, do que verdadeiramente com a evangelização da nação. Ponderando tudo isso no seu coração, Hudson decidiu que haveria de trabalhar no interior da China, onde o evangelho não tinha sido levado. Assim, ele começou o seu trabalho distribuindo literatura e porções bíblicas nas vilas ao redor de Xangai, sendo uma delas Sungkiang. Ao estar no meio do povo, ele notou como as pessoas o olhavam de modo diferente por causa da sua roupa ocidental. Sendo assim, ele decidiu adaptar os costumes da terra, vestindo-se como um chinês, deixando o seu cabelo crescer e fazendo uma trança, como os outros chineses. Este ato conquistou o respeito de muitos chineses, porém, para os missionários ocidentais, uma falta de senso. Em 1856, Hudson começou a trabalhar na cidade proeminente de Ningpo. Ali, casou-se em Janeiro de 1858 com a senhorita Maria J. Dyer, filha de missionários, porém órfã, que trabalhava numa escola para meninas. Um ano depois, Hudson assumiu a direção da Missão Hospitalar de Londres em Ningpo. Deus não só o prosperou, como muitos dos doentes aceitaram Jesus e se recuperaram das suas enfermidades. Ele começou a orar por mais missionários para o país.

Depois de estar sete anos na China, Hudson regressou à Inglaterra por motivos de saúde. Ao partir em 1860 para a Inglaterra, não imaginava que estaria seis anos longe do campo. Apesar da distância, o seu coração estava ligado à China. De frente a um mapa da nação, todos os dias ele orava, pedindo que Deus enviasse pessoas dispostas a ganhar as almas chinesas. Juntamente com o Sr. F. Gough, Hudson fez a revisão do Novo Testamento para o chinês e escreveu vários artigos sobre as missões na China. Ao recrutar alguns missionários, Taylor viu

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a necessidade de ter uma missão que suportasse e direcionasse esses novos missionários no interior da China. Para este fim, é que a “Missão para o Interior da China” foi fundada. Durante o tempo que esteve na Inglaterra, enviou cinco obreiros para a China, e em 1864, Hudson pediu a Deus 24 missionários, dois para cada província já evangelizada no interior e dois para a Mongólia. Deus cumpriu o seu desejo, e em 26 de Maio de 1866, Hudson e Maria, os seus quatro filhos e os 24 missionários embarcaram no navio Lammermuir em direção à China. Estabelecidos em Ningpo e em Hangchow, o trabalho missionário começou a expandir-se para o sul da província de Chekiang. Dez anos depois, o norte de Kiangsu, o oeste de Anhwei e o sudeste de Kiangsi tinham sido alcançados. Durante um período de três anos, Hudson sofreu a perda da sua filha mais velha, Gracie, do seu filho Samuel, seu filho recém-nascido, e em Julho de 1870, a sua esposa também morre de cólera. Mesmo passando por este vale, Hudson Taylor não desistiu da sua chamada para a grande China. Em 1871, quando voltava para visitar o restante dos seus filhos que haviam sido enviados para a Inglaterra, Taylor teve a oportunidade de viajar com uma grande amiga e missionária na China, Jennie Faulding, com a qual se casou em 1872 na Inglaterra. Entre 1876 e 1878 muitos outros missionários vieram dar o seu apoio ao campo, vindos de todas as partes do mundo. Hudson esteve por alguns meses acometido de uma enfermidade na coluna, a qual o paralisou, porém, mesmo na cama, ele conseguiu enviar dezoito novos missionários para a China. Milagrosamente, depois de muitas orações, Deus curou-o e ele voltou a caminhar com plena saúde. Em 1882, Hudson orou ao Senhor por 70 missionários, e Deus proveu fielmente os missionários e o suporte para cada um deles. Em 1886, Hudson tomou outro passo de fé, e pediu ao Senhor 100 missionários. Milagrosamente, 600 candidatos inscreveram-se vindos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda, prontificando-se para o trabalho. Em Novembro de 1887, Hudson anunciou alegremente a partida dos cem missionários para a China. O trabalho da Missão espalhou-se por todo o interior do país, segundo o desejo de Hudson Taylor, e no final do século, metade de todos os missionários do país estavam ligados à Missão. Em Outubro de 1888, depois de haver visitado os Estados Unidos e Canadá, Hudson partiu mais uma vez em direção à China, acompanhado da sua esposa e mais 14 missionários. Durante os quinze anos seguintes, Hudson despendeu o seu tempo visitando a América, Europa e Oceania, recrutando missionários para China. O desafio agora não era apenas de cem, mas de mil missionários. Em Abril de 1905, com 73 anos, Hudson Taylor faz a sua última viagem à China. A sua esposa Jennie havia falecido, e ele tinha passado o Inverno na Suécia. O seu filho Howard, que era médico, juntamente com a sua esposa, decidiram acompanhar Hudson nesta viagem. Ao chegar a Xangai, ele visitou o cemitério de Yangchow, onde a sua esposa Maria e quatro de seus filhos foram sepultados, durante o seu trabalho naquele grande país. Após haver percorrido todos as missões estabelecidas por ele, Hudson Taylor, estabelecido agora na cidade de Changsa, deitou-se numa tarde de 1905 para descansar, e deste sono acordou nas mansões celestiais. A voz que cinquenta e dois anos atrás havia dito a Hudson Taylor: “Vai à China”, agora dizia: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco fostes fiel, sobre muito te colocarei; ENTRA NO GOZO DO TEU SENHOR!”

Outros Nomes de Destaque em Missões Adoniram Judson (1788 - 1850) - Missionário na Índia e na Birmânia. Robert Moffat ( 1795 - 1883) - Pioneiro em missões na África do Sul. David Livingstone (1813 - 1873) - Interior da África. Robert Morrison (1782 - 1834) - Na China, primeiro a traduzir a Bíblia para Chinês.

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John Paton (1824 - 1907) - Trabalhou nas Ilhas do Pacífico.

[ O Movimento Pentecostal ≈ 1.910 d.C. ]

O início do movimento começou com o ministério de Charles Fox Parham. Em 1898 Parham abriu um ministério, incluindo uma escola Bíblica, na cidade de Topeka, Kansas. Depois de estudar o livro de Atos, os alunos da escola começaram buscar o batismo no Espírito Santo, e, no dia 1° de janeiro de 1901, uma aluna, Agnes Ozman, recebeu o batismo, com a manifestação do dom de falar em línguas estranhas. Nos dias seguintes, outros alunos, e o próprio Parham, também receberam a experiência e falaram em línguas.

Nesta época, as igrejas Holiness ("Santidade"), descendentes da Igreja Metodista, ensinaram que o batismo no Espírito Santo, a chamada "segunda benção", significava uma santificação, e não uma experiência de capacitação de poder sobrenatural. Parham, com seu pequeno grupo de alunos e obreiros, começou pregar sobre o batismo no Espírito Santo, e também iniciou um jornal chamado "The Apostolic Faith" (A Fé Apostólica). Em Janeiro de 1906 ele abriu uma outra escola Bíblica na cidade de Houston, Texas. Um dos alunos nesta escola foi o William Seymour. Nascido em 1870, filho de ex-escravos, Seymour estava pastoreando uma pequena igreja Holiness na cidade, e já estava orando cinco horas por dia para poder receber a plenitude do Espírito Santo na sua vida.

Uma pequena congregação Holiness da cidade de Los Angeles ouviu sobre Seymour e o chamou para ministrar na sua igreja. Mas quando ele chegou e pregou sobre o batismo no Espírito Santo e o dom de línguas, Seymour logo foi excluído daquela congregação. Sozinho na cidade de Los Angeles, sem sustento financeiro nem a passagem para poder voltar para Houston, Seymour foi hospedado por Edward Lee, um membro daquela igreja, e mais tarde, por Richard Asbery. Seymour ficou em oração, aumentando seu tempo diário de oração para sete horas por dia, pedindo que Deus o desse "aquilo que Parham pregou, o verdadeiro Espírito Santo e fogo, com línguas e o amor e o poder de Deus, como os apóstolos tiveram."

Uma reunião de oração começou na casa da família Asbery, na Rua Bonnie Brae, número 214. O grupo levantou uma oferta para poder trazer Lucy Farrow, amiga de Seymour que já tinha recebido o batismo no Espírito Santo, da cidade de Houston. Quando ela chegou, Farrow orou para Edward Lee, que caiu no chão e começou falar em línguas estranhas. Naquela mesma noite, 9 de abril de 1906, o poder do Espírito Santo caiu na reunião de oração na Rua Bonnie Brae, e a maioria das pessoas presentes começaram falar em línguas. Jennie Moore, que mais tarde se casou com William Seymour, começou cantar e tocar o piano, apesar de nunca tiver aprendido a tocar.

A partir dessa noite, a casa na Rua Bonnie ficou lotado com pessoas buscando o batismo no Espírito Santo. Dentro de poucos dias, o próprio Seymour também recebeu o batismo e o dom de línguas. Uma testemunha das reuniões na Rua Bonnie Brae disse: Eles clamaram durante três dias e três noites. Era Páscoa. As pessoas vieram de todos os lugares. No dia seguinte foi impossível chegar perto da casa. Quando as pessoas entraram, elas caiaram debaixo do poder de Deus; e a cidade inteira foi tocada. Eles clamaram lá até as fundações da

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casa cederem, mas ninguém foi ferido. Durante esses três dias havia muitas pessoas que receberam o batismo. Os doentes foram curados e os pecadores foram salvos assim que eles entraram.

Rua Azusa, 312 Sabendo que a casa na Rua Bonnie Brae estava ficando pequena demais para as

multidões, Seymour e os outros procuravam um lugar para se reunir. Eles acharam um prédio, na Rua Azusa, número 312, que tinha sido uma igreja Metodista Episcopal mas, depois de ser danificado num incêndio, foi utilizado como estábulo e depósito. Depois de tirar os escombros, e construir um púlpito de duas caixas de madeira e bancos de tábuas, o primeiro culto foi realizado na Rua Azusa no dia 14 de abril de 1906.

Havia um avivamento em Gales, e muitos pastores locais estavam orando por um avivamento ali também. Tal avivamento, começou com o pequeno grupo de oração dirigido por Seymour. Como no avivamento de Gales, as reuniões não foram dirigidas de acordo com uma programação, mas foram compostas de orações, testemu-nhos e cânticos espontâneos. No jornal da missão, também chamado "The Apostolic Faith", temos a seguinte descrição dos cultos: "As reuniões foram transferidas para a Rua Azusa, e desde então as multidões estão vindo. As reuniões começam por volta das 10 horas da manhã, e mal conseguem terminar antes das 20 ou 22 horas, e às vezes vão até às 2 ou 3 horas da madrugada, porque muitos estão buscando e outros estão caídos no poder de Deus. As pessoas estão buscando no altar três vezes por dia, e fileiras e mais fileiras de cadeiras precisam ser esvaziadas e ocupadas com os que estão chegando. Não podemos dizer quantas pessoas têm sido salvas, e santificadas, e batizadas com o Espírito Santo, e curadas de todos os tipos de enfermidade. Muitos estão falando em novas línguas e alguns estão indo para campos missionários. Estamos buscando mais do poder de Deus.".

Notícias sobre as reuniões na Rua Azusa começaram a se espalhar, e multidões vierem para poder experimentar aquilo que estava acontecendo. Além daqueles que vierem dos Estados Unidos e da Canadá, missionários em outros países ouvirem sobre o avivamento e visitavam a humilde missão. Novas missões e igrejas Pentecostais foram estabelecidas, e algumas denominações Holiness se tornaram igrejas Pentecostais. Em apenas dois anos, o movimento foi estabelecido em 50 nações e em todas as cidades nos Estados Unidos com mais de três mil habitantes.

A influência da missão da Rua Azusa começou a diminuir à medida que outras missões e igrejas abraçaram a mensagem e a experiência do batismo do Espírito Santo. Uma visita de Charles Parham à missão, em outubro de 1906, resultou em divisão e o estabelecimento de uma missão rival. Parham não se conformava com a integração racial do movimento, e criticou as manifestações que ele viu nas reuniões.

O avivamento da Rua Azusa durou apenas três anos, mas foi instrumental na criação do movimento Pentecostal, que é o maior segmento da igreja evangélica hoje. William H. Durham recebeu seu batismo no Espírito Santo em Azusa, formando missionários na sua igreja em Chicago, como E. N. Bell (fundador da Assembleia de Deus dos EUA), Daniel Burg (fundador da Assembleia de Deus no Brasil) e Luigi Francescon (fundador da Congregação Cristã no Brasil).

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[ Movimentos Paralelos ] (Mt. 24:4,5; Mt. 24:22-27; II Cor. 11:2-4; II Tm. 3:1-17; II Pd. 2:2,3)

Ao longo dos tempos, surgiram diversos movimentos “paralelos” dentro da Igreja.

Grande parte destes, foram classificados como Seitas. Originalmente, a palavra “Seita” significava “Partido”, o próprio cristianismo foi considerado uma “seita” dos judeus no começo (Atos 24:5). Com o tempo “Seita” ganhou uma conotação negativa – hoje, ela se refere a movimentos que defendem posições extremamente questionáveis quanto a fé. Sendo assim, há duas perguntas básicas que nos ensinam a identificar o cristianismo verdadeiro ou uma seita.

1) Quem é Jesus Cristo ? (Mateus 16:16) 2) Qual é o Papel das Escrituras ? (II Tm. 3:15-17)

As características básicas de uma seita:

1) Sobre Jesus (elas podem): a. Negar sua divindade, sua humanidade, seu nascimento virginal, sua

ressurreição, seu senhorio ou sua volta. b. Colocá-lo em pé de igualdade com outro ser humano, no que diz respeito a

sua natureza ou função divina.

2) Sobre as Escrituras (uma seita): a. Pode ter outro livro de mesma autoridade que a Bíblia b. Pode aceitar apenas “parte” da Bíblia c. Pode ter uma “tradução bíblica” só de sua organização. d. Podem haver experiências pessoais de seus membros, as quais

são colocadas acima da autoridade das Escrituras. e. Podem ter líderes vivos/mortos com autoridade equivalente

a das escrituras ou de Jesus. d. Podem defender um “conhecimento secreto”, utilizado como meio de manipulação de poder. Neste caso, somente os que conhecem – são iluminados ou salvos. Lembre-se:

1) As pessoas envolvidas com seitas não as vêem da mesma maneira dos outros, a grande maioria delas acha sinceramente que esta no caminho da salvação.

2) As seitas costumam “armar” muito bem seus “evangelizadores”, por isso, é importante estar bem preparado antes de tentar argumentar com eles.

3) O Evangelho é simples: Crer na obra de Cristo e viver o amor, paz, longaminidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança – contra estas coisas não há Lei (Gl. 5:22). Questões sobre genealogias, doutrinas parcialmente reveladas, questões obscuras sobre a volta de Cristo, especulações sobre o futuro etc, são secundárias e sem a devida preparação podem facilmente confundir a mente daqueles que não

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estão devidamente introduzidos nestes assuntos, ou então, aprisioná-las em um único ponto de vista – talvez, o ponto de vista errado. (Tg. 3:1,2, I Cor. 13:9,10).

[ Apostasia Liberal ] (Parafraseado de Augustus Nicodemos)

Todos nós que conhecemos a Bíblia sabemos que ela nos adverte contra o que ela

chama de apostasia. Apostasia significa basicamente “afastar-se de uma posição”, “se desviar de um marco estabelecido”. Este verbo composto, na Bíblia, fala de se afastar da verdade de Deus como Ele a revelou. O apostata, na Palavra, é uma pessoa que um dia tomou conhecimento da verdade, mas mudou o pensamento sobre o que considerava verdadeiro.

Deixe-me citar dois exemplos. Primeiro, Barth Erman: era cristão declarado, completou várias graduações em áreas teológicas mas hoje declara-se agnóstico. Considerado uma sumidade sobre o Cristianismo, hoje ele fala contra o novo testamento e nega a possibilidade de se conhecer de fato quem era Jesus.

Outro exemplo menos conhecido é William Barclay. Ele escreveu vários comentários bíblicos que impressionam pelo seu conhecimento de grego e da cultura. No entanto, em sua autobiografia, ele revelava que foi mudando de opinião sobre o que cria e sobre o que escreveu nos comentários. Ele já não acreditada que Jesus era Deus, que Ele teria morrido por nós, não acreditava no inferno e cria que todos seriam salvos no final. Em seu ultimo livro, ele se declara agnóstico.

Na Bíblia, há vários motivos para que alguém se desvie da fé. Na parábola do semeador há aqueles que ouvem, mas que depois esquecem. Paulo fala sobre os que dão ouvidos às doutrinas de demônios e se apartam da fé e sobre os que abraçavam a, falsamente chamada, ciência. Existem vários casos de apostasia na igreja, de pessoas que amaram o mundo e que se afastaram do conhecimento do Deus vivo. Em resumo, os motivos externos são vários: dinheiro, sexualidade, insubmissão, problemas não resolvidos etc. Nesta palestra, quero falar de uma causa externa da apostasia: a crença em doutrinas diferentes da verdade de Deus.

O Liberalismo Teológico Não que ao Liberalismo seja a maior causa de apostasia, mas é a mais importante para

nosso momento. Esse movimento tem uma origem bem antiga. Em linhas gerais, o liberalismo é o

resultado do iluminismo, caracterizado pela revolta contra a religião e o cristianismo particular. Seu referencial teórico era o racionalismo e o empirismo – filosofias antagônicas, mas que concluem juntas que Deus precisa ser excluído do universo humano. O resultado disto na academia foi muito profundo, pois os milagres bíblicos eram considerados fatos de modo quase unânime e, a partir destes novos critérios para a observação da verdade mudou muito disso.

Começou-se a crer que Deus não interfere na história, que as histórias bíblicas são meros mitos e interpretações de um povo ignorante e pré-científico e que o miraculoso não existe. Com isso, criaram-se dois tipos de “história”, a do mundo e a salvífica – esta, referente às “coisas sobre Deus”, não provada e não crível. Com isto, a Bíblia deixou de ser um livro historicamente confiável. Ela passa a ser um mero livro de teologia, ignorante historicamente. Passou-se a considerar a Bíblia como um livro cheio de contrições e de incoerências.

Neste contexto que surgiu o método histórico crítico de analisar a Bíblia – método nitidamente liberal e anticristão. Considerou-se a diferença entre “escritura” e “palavra de

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Deus”. Segundo essa separação, a Escritura é o livro escrito, com erros humanos, subjetividades e interpretações incorretas. A Palavra de Deus é que é válida e infalível, e que precisava ser encontrada dentro da Escritura.

A igreja reagiu a este radicalismo. Ora, o que o liberalismo havia deixado para o povo de Deus? Nada! Eles desconstruíram a fé, mas não colocaram nada no lugar. Segundo eles, Jesus era um camponês, reformador do judaísmo e só, que impressionou tantos seus discípulos que foi elevado por eles como messias, senhor e Deus. A reação contra isto foi a chamada Neo-Ortodoxia. O maior expoente foi Karl Barth, que se levantou para protestar contra aqueles que estavam, segundo ele, tirando Deus da igreja, colocando a Bíblia e segundo plano e matando o povo de Deus. Se por um lado devemos ser gratos a Barth por ter lutado contra o liberalismo, por outro devemos tomar cuidado com ele. Por que Barth concordava que a Bíblia era cheia de erros, mas que, mesmo assim, Deus falava por meio desta Bíblia imperfeita através de um encontro existencial. Ele não solucionou o problema por completo por que assumiu muitos pressupostos ainda liberais. O liberalismo teve um grande impacto na igreja, apesar da neo-ortodoxia. Como resultado, surge o ecumenismo, o feminismo, a teologia gay e o esvaziamento das igrejas.

Os Impactos Gerais O ecumenismo começa com liberais protestantes. A ideia era de que todas as religiões

tinham o sentimento de busca a Deus e de transcendência. Como todos estavam buscando a mesma coisa, todos devem ser reais. Isso é evidentemente apostasia. Igualar Jesus a outros lideres é blasfemo. Dizer que Cristo não é O salvador, mas UM salvador é antideus e anticristo.

Um Pouco de História O liberalismo teológico começou a dar passos mais firmes no Brasil nas décadas de 50 e

60. Hoje, está cada dia mais presente em nossa nação. Isto tem invadido nossas redes sociais, tem sido publicado em livros e estado presente nos sermões. Vamos olhar um pouco para a história para entramos no nosso contexto atual.

Nos EUA, iniciou-se, nesta época, o debate contra o “modernismo”, em três vertentes: Um debate contra a teologia (com a neo-ortodoxia), contra a eclesiologia (com o ecumenismo) e contra a sociedade (com o marxismo). Como as escolas teológicas eram fracas e quase inexistentes no Brasil, os jovens e pastores estudavam nos Estados Unidos e, com isso, traziam ideais liberais e neo-ortodoxas. Como na primeira metade do século o mercado editorial evangélico era pouquíssimo, as coisas ficaram até paradas, mas a partir da década de 50 e 60 algumas denominações começaram a absorver as ideias liberais. Alguns seminários conservadores começaram a adotar o método crítico de interpretação bíblica, fazendo com que algumas pessoas começassem a crer no liberalismo e na neo-ortodoxia. Quando estes pastores pregavam estas ideias em suas igrejas, foram muitas vezes desprezados; porém, ainda tiveram muito alcance em várias igrejas locais.

O Impacto no Brasil 20 anos após a controvérsia americana, o liberalismo chegou às igrejas locais através das

instituições de ensino. A busca por respeitabilidade acadêmica destruiu a consciência ministerial dos seminários teológicos.

As denominações históricas (luteranos, batistas, presbiterianos, congregacionais, metodistas, etc.) começaram a adotar teologias mais liberalizantes, como a neo-ortodoxia, por causa de pastores e seminarista que levavam estas ideias para seus rebanhos.

O “abaixo ao fundamentalismo” começou a ganhar espaço por meio da juventude. Naquele primeiro momento, as igrejas presbiterianas e algumas outras resistiram muito a este fato. Houve muitas lutas, seminários foram fechados e membros foram expulsos. Vários

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pastores de influencia produziram vários liberais famosíssimos, como Rubem Alves, aqui no Brasil. Segundo ele, “a igreja não deve converter o mundo à igreja, mas a igreja ao mundo”.

Por fim, a literatura cristã foi afetada por este contexto. As grandes editoras católicas romanas adotaram o liberalismo como método de interpretação bíblica e começaram a divulgar material neo-ortodoxo, material consumido até pelos ditos evangélicos.

Como Encarar o Liberalismo Liberalismo é outra religião, já que nega tudo que o Cristianismo afirma. Assim, para

vencermos essa heresia, precisamos enfatizar: 1. A autoridade da Escritura 2. A literalidade dos milagres 3. A exclusividade do Cristianismo 4. A centralidade de Jesus 5. O método histórico-gramatical de interpretação bíblica Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum,

tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos. (Judas 1:3)

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[ A Igreja Hoje ]

A igreja de hoje se ramificou de todos os movimentos que vimos anteriormente. Bons ramos surgiram e também ramos maus. Depois de 1.517 vimos as Igrejas Reformadas, perto de 1.900 vimos o movimento Pentecostal e por fim estamos experimentando uma época em que muitos movimentos infelizmente se tornaram neo-pentecostais e outros liberais. Tanto as igrejas reformadas como as igrejas pentecostais centralizavam-se em torno de temas como “A Glória de Deus”, “Santidade”, “Novo Nascimento”, “Volta de Cristo”, “a Eternidade”. Infelizmente, como característica dos dias hoje, grande parte do pentecostalismo se transformou em neo-pentecostalismo, e a ênfase passou a ser na terra. “Prosperidade”, “Sucesso”, “Dinheiro”, passaram a ser os grandes temas em detrimento dos temas anteriores – algumas simplesmente voltaram ao tempo das indulgências de Roma, ainda de modo mais vil, pois as primeiras tentavam “comprar o perdão para entrar no céu”, mas as indulgências atuais tem como alvo somente comprar a melhoria na terra – este “deus” se deixa explorar, se vende, faz barganhas, atiça a ganância, se comporta e se move por meio de lógicas puramente humanas, que não conseguiriam de modo nenhum “enfiar na cabeça” dos pais da igreja, nem dos mártires, tão pouco ainda dos apóstolos.

Do outro lado (tradicional/histórico), temos hoje, em muitos lugares um verdadeiro esfriamento. Nas universidades Teológicas temos os chamados “Teólogos Liberais” - homens que defendem que os milagres, a ressurreição de Cristo, a história da vida de homens como Sansão, Jonas etc são apenas fábulas que tentam nos contar verdades interiores, reduzindo o cristianismo a ética ou apenas a puro civismo, a causa básica do grande esfriamento da Europa.

Nesta época, confusa sobre certos ângulos - vemos que Deus sempre tem remanescentes – homens e mulheres fieis, boas igrejas e bons movimentos. Nem sempre eles conseguem chegar aos holofotes da mídia, mas com certeza os faróis do céu estão apontados sobre eles. Pessoas das mais diferentes denominações tem sustentado o evangelho – na intenção, na vida e na fidelidade.

A igreja continua sua jornada nesta terra - peregrina, espalhada por todos os cantos, até o dia que o seu Senhor a chamar - então, haverá “um só rebanho e um só pastor”. As virgens prudentes ainda estão por ai, e as loucas também (Mateus 25:2). Os servos bons e maus (Mateus 25:14). O Trigo e o Joio continuam crescendo juntos (Mateus 13:30). A multidão de peixes continua sendo pescada Mateus (13:47). Em tudo isto, mais de 2.000 anos depois, Deus continua exercendo sua longaminidade (II Pedro 3:9) e sua promessa continua firme: “...edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18b).

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Cristiano Araújo – Curso História da Igreja 83

[ Conclusão?.... ] não, continuação...

A história da Igreja ainda não findou nesta terra – ela continua em você ! Por isso, se você

deseja simbolicamente guardar como lembrança das reuniões, complete o texto abaixo:

A Igreja continua ! a Igreja está viva ! Nós estamos aqui ! Eu, __________________________

a conheci em _______________________________________________________________

quando Cristo me chamou. Junto a Igreja , descobri que ______________________________

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Quero amá-la, desejo me esforçar para __________________________________________

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Pois aprendi que a igreja faz parte da Família de Deus e permanecerá para sempre !