Cartilha Ada e Edu, De Produção Regional

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  • Cartilha Ada e Edu: de produo regional circulao

    nacional (1977-1985)*

    CANCIONILA JANZKOVSKI CARDOSO Universidade Federal de Mato Grosso

    CirCUnsCrevendo o objeto de estUdo, sUa MetodoloGia e Fontes

    Neste trabalho so apresentados parte de resultados de pesquisa cujo obje-tivo geral foi o de contribuir para a constituio, sistematizao e socializao da histria de um livro mato-grossense, mediante a investigao da produo, difuso e circulao da cartilha Ada e Edu, que foi elaborada por professoras de Mato Grosso, no ano de 1977. Trata-se de uma investigao inscrita na histria da alfabetizao, campo caracterizado por Antnio Frago (1993, p.81) pelos termos ruptura e aber-tura, desagregao e exploso. Para esse autor, A histria da alfabetizao mantm relao com, interessa-se por e abriu-se a campos e questes to diversos mas todos conectados que finalmente parece ter-se diludo. Essa rea de estudo interdisciplinar e confluente , segundo Magda Soares e Francisca Maciel (2000), ainda nova no Brasil. Em meio diversidade, abertura e diluio do assunto, esta investigao, fruto de pesquisa de ps-doutorado,1 tem como foco a histria dos

    * Trabalho revisto e ampliado, inicialmente apresentado na 33 Reunio Anual da Asso-ciao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao (ANPEd), em 2010, no Grupo de Trabalho Alfabetizao, Leitura e Escrita (GT-10).

    1 A pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Paran (UFPR), no Grupo de Pesquisa Cultura, Prticas Escolares e Educao Histrica, sob a orientao da

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    livros escolares, tomando como objeto de anlise o funcionamento do circuito que foi organizado em torno de um deles no contexto escolar mato-grossense.

    Imediatamente, surgiram as questes: Por que estudar livros escolares? Qual a contribuio de um estudo dessa natureza? Uma resposta possvel abrange a constatao de que, em 2009, o governo federal investiu R$689,4 milhes na compra e distribuio de 103.581.176 livros didticos para a educao bsica, beneficiando 28.968.104 estudantes. A histria evidencia que desde a criao do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1929, o livro didtico tem circulado em escala crescente no cenrio nacional. Essa onipresena do livro didtico (Choppin, 2004, p.551) abre importante dimenso no campo da investigao do fenmeno da cultura escrita. Apresentando multiplicidade de funes, diversidade de agentes (idem, p.552) e ainda se configurando como documento multifacetado, o livro didtico elemento fundamental na constituio/manuteno da cultura material escolar. Assim, o estudo do livro didtico oferece referenciais importantes para se pensar prticas educativas contemporneas, relacionadas aos usos da cultura escrita escolar e, sobretudo, ao papel formador que exerce sobre seus destinatrios: professores e alunos. Em decorrncia, o estudo histrico de cartilhas ajuda-nos a compreender o passado, para explic-lo, e tambm iluminar o presente, observando-se tenses, mudanas e permanncias, caractersticas da alfabetizao no Brasil.

    Outra motivao para o estudo respalda-se em Amncio (2008), que ressalta a ausncia de produo e publicao de cartilhas de ensino de leitura em Mato Grosso nas primeiras dcadas do sculo XIX. Sendo Ada e Edu a nica produo encontrada at o incio desta pesquisa, era justificvel que se transformasse em objeto de estudo.

    A proposta metodolgica desta investigao tomou como base o circuito das comunicaes modelo proposto por Robert Darnton (1990) para examinar o percurso da produo mato-grossense Nossa terra nossa gente, posteriormente transformada na cartilha Ada e Edu, editada e comercializada nacionalmente pela Bloch Editores. Tambm para Darnton, a histria dos livros hoje um campo de estudo rico e diversificado, cuja principal peculiaridade a convergncia de diversas disciplinas. A percepo da complexidade que envolve o assunto o leva a propor um modelo geral para analisar como os livros surgem e se difundem entre a sociedade, como forma de mapear a busca e ajudar o pesquisador, em especial o iniciante, a enxergar o objeto como um todo (idem, p.112).

    Para esse autor (idem, ibidem), [...] os livros impressos passam aproximadamente pelo mesmo ciclo de vida. Este pode ser descrito como um circuito de comunicao que vai do autor ao editor (se no o livreiro que assume esse papel), ao impressor, ao distribuidor, ao vendedor, e chega ao leitor. O leitor encerra o circuito porque ele influencia o autor tanto antes quanto depois do ato de composio.

    professora doutora Tnia Maria Figueiredo Braga; contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).

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    O modelo permite construir uma viso holstica da histria do livro, na me-dida em que abre a possibilidade de anlise dos diferentes segmentos que compem o seu ciclo de vida.

    A periodizao eleita nesta investigao contemplou o ano de 1977, que marca a data da produo da cartilha Nossa terra nossa gente, depois transformada em Ada e Edu, at o ano de 1985, data da ltima edio encontrada.

    O caminho investigativo encontra-se orientado por referenciais terico--metodolgicos ligados histria cultural, histria das disciplinas escolares e, mais precisamente, histria dos livros, os quais permitem abordar a elaborao e a circulao de um impresso em um contexto abrangente e multifacetado.

    Para tentar chegar ao mundo do passado, recorri s fontes histricas, enten-didas como produes humanas, quer sejam as que, aparentemente, se constituem de modo espontneo ou aquelas que produzimos intencionalmente (Saviani, 2004, p.6). Desse modo, compreendendo e antecipando o valor lacunar das fontes impressas que seriam encontradas, recorri tambm s memrias das autoras e de algumas alfabetizadoras leitoras/usurias da cartilha Ada e Edu. Entendendo que

    A memria um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade, individual ou coletiva, cuja busca uma das atividades fundamentais dos indi-vduos e das sociedades de hoje, na febre e na angstia. [...] A memria, na qual cresce a histria, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. (Le Goff, 2003, p.469; 471, grifo do original)

    Na busca das fontes impressas, visitei acervos locais e nacionais,2 bem como realizei contatos em diferentes rgos relacionados ao livro didtico brasileiro.3 J as fontes orais, utilizadas na perspectiva de memria de Jacques Le Goff (2003), so oriundas de entrevistas realizadas com seis autoras, quatro professoras/usu-rias, duas supervisoras e uma coordenadora do Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental (PLIDEF) de Mato Grosso, sujeitos que gravitaram em torno da cartilha. Trabalhei, ainda, com os depoimentos escritos de Nvia Gordo, consultora da Secretaria de Educao/MT no perodo em que Ada e Edu foi

    2 Acervos visitados: 1. Arquivo Pblico do Estado de Mato Grosso (APMT); 2. Biblioteca Nacional RJ; 3. Arquivo Central da Secretaria de Estado de Educao (SEDUC/MT); 4. Arquivo da Bloch Editores RJ; 5. Arquivo Administrativo do Ministrio da Educao(MEC) Braslia; 6. Centro de Informao e Biblioteca em Educao (CIBEC) Braslia; 7. Arquivo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP) Braslia; 8. Centro de Documentao do Ncleo de Pesquisa em Educao da Universidade Federal de Mato Grosso (NUPED/UFMT); 9. Acervo da Escola Daniel Martins de Moura(Rondonpolis-MT).

    3 rgos contatados: 1. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE); 2. Secretaria de Educao Bsica (SEB); 3. Programa Nacional do Livro Didtico; 4. Coordenao Geral de Avaliao de Materiais (COGEAM); 5. Coordenao de Avaliao e Qualidade do Livro Didtico; 6. Secretaria de Biblioteca (SBIB) do Senado Federal.

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    elaborada, e com o de Arnaldo Niskier, diretor da Bloch Editores no perodo em que a cartilha foi editada.

    Dos resultados obtidos a respeito do circuito da comunicao da obra em questo, apresento neste texto um recorte que contempla aspectos relacionados sua produo e circulao regional e nacional.4

    ContribUies dos estUdiosos: artiCUlando vozes interdisCiplinares

    Para Andr Chervel (1990), um dos precursores da histria das disciplinas escolares, a especificidade desse campo reside na investigao dos ensinos da ida-de escolar, pois o seu elemento central a histria dos contedos. Nessa histria confrontam-se as finalidades da escola e as transformaes do pblico escolar, ori-ginando as evolues e adaptaes das disciplinas escolares. Fruto de um dilogo secular entre os mestres e os alunos, elas constituem, por assim dizer, o cdigo que duas geraes, lentamente, minuciosamente, elaboraram em conjunto para permitir a uma delas transmitir outra uma cultura determinada (idem, p.222). O cdigo ou o conjunto de conhecimentos, valores e mtodos se expressa nas propostas de cursos, nos programas de ensino, nos peridicos pedaggicos e, principalmente, nos manuais didticos. Nesses ltimos se verifica o que Chervel denomina de vulgata, ou seja, aspectos comuns s diferentes disciplinas. Assim, os conceitos ensinados, a terminologia adotada, a coleo de rubricas e captulos, a organizao do corpus de conhecimentos, mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerccios praticados so idnticos, com variaes aproximadas (idem, p.203).

    Essas consideraes sobre os contedos das disciplinas escolares elevam para um plano privilegiado a anlise dos manuais e das edies didticas, ou seja, a histria dos livros escolares.

    Em artigo publicado originalmente em 2002, Alain Choppin apresenta um balano da produo mundial sobre a histria dos livros e das edies didticas. Em que pesem os argumentos sobre as dificuldades de se fazer um estado da arte exaustivo sobre o que foi feito e escrito (Choppin, 2004, p.549), seu trabalho tornou-se um texto fundador na medida em que mapeia os principais temas e problemticas abordados pela pesquisa histrica, alm de destacar tendncias e perspectivas para esse campo de estudo. Aspectos como o peso que o setor escolar assume na economia editorial nesses ltimos dois sculos e a multiplicidade dos agentes envolvidos em cada uma das etapas que marcam a vida de um livro escolar, desde a sua concepo pelo autor at seu descarte pelo professor e, idealmente, sua conservao para as futuras geraes (idem, p.551-554), so apontados pelo

    4 O relatrio detalhado dessa investigao encontra-se em vias de publicao pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso (EdUFMT), financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), com o ttulo Cartilha Ada e Edu: produo, difuso e circulao (1977-1985).

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    autor como forma de justificar a relevncia do balano, evidenciando a variedade de aspectos passveis de serem abordados pela pesquisa histrica sobre livros e edies didticas.

    Mas, afinal, como conceituar livro didtico? Antnio Batista (2002, p.534, grifos do original) inicialmente o define como aquele livro ou impresso empregado pela escola, para desenvolvimento de um processo de ensino ou de formao. Logo, porm, a definio se revela pouco eficaz para conceituar um objeto varivel e instvel, que se apresenta em diferentes portadores impressos, resultando na impossibilidade de identificar livro didtico ao objeto livro como comumente o conhecemos. O exemplo dado pelo autor justamente o de cartilhas utilizadas no Brasil, entre o final dos anos de 1940 e meados de 1970, que se fazem acompanhar de outros objetos que no o livro (cartazes, folhas, fichas) e por ele denominados satlites. Sabemos que o livro didtico, embora seja um dos principais recursos utilizados pelos professores em suas prticas pedaggicas, considerado o primo-pobre da literatura, texto para ler e botar fora, descartvel porque anacrnico: ou ele fica supe-rado dados os progressos da cincia a que se refere ou o estudante o abandona, por avanar em sua educao (Lajolo; Zilberman, 1998, p.120). Antnio Batista lembra que o livro didtico voltado para o mercado escolar, destinando-se a um pblico infantil. Assim, produzido em grandes tiragens de pouca qualidade material, o que o torna mais vulnervel deteriorao, sendo sua circulao predominante fora do espao das grandes livrarias e bibliotecas. Para o autor (Batista, 2002, p.529-530), o desprestgio social do livro didtico, que possui muitos indicadores, desprestigia tambm, por contaminao, [...] aqueles que dele se ocupam, os pesquisadores neles includos.

    Assim sendo, no tarefa fcil ao pesquisador se propor a conhecer e analisar a evoluo do livro didtico no Brasil, mais difcil ainda quando se trata de cartilhas, material descartvel ao final de cada ano letivo.

    Talvez permanea a pergunta: Por que livros? Respondo com Laurence Hallewell (1985, p.XXIX): Procurar conhecer uma nao por meio de sua pro-duo editorial , mais ou menos, o mesmo que julgar uma pessoa por meio de sua caligrafia. [...] as duas podem ser muito reveladoras, pois ns somos como nos expressamos.

    Desse modo, considerando as representaes como a pedra angular de uma abordagem da histria cultural (Chartier, 1990, p.23), concordo, igualmente, que o terreno comum dos historiadores culturais pode ser descrito como a preocupa-o com o simblico e suas interpretaes (Burke, 2005, p.10). O mundo das representaes, moldado pelos diversos e contraditrios discursos, leva a pensar sobre as modalidades de apropriao dos materiais culturais. Este , sem dvida, um frtil caminho para se perceber distines e diferenciaes socioculturais, em termos de acesso, de desvios e, sobretudo, de prticas de utilizao e consumo do material didtico que busquei analisar.

    Assim, sem descuidar dos documentos, na pesquisa tentei dar uma aten-o especial s prticas, recorrendo ao conceito de cultura escolar proposto por

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    Dominique Julia (2001, p.10, grifos do original): [...] como um conjunto de nor-mas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de prticas que permitem a transmisso desses conhecimentos e a incorporao desses comportamentos. O conceito de cultura escolar, que inclui o corpo profissional da escola os professores chamados a obedecer s ordens, parece ser pertinente a esta investigao, uma vez que o livro didtico, ao mesmo tempo em que se configura como norma contedos e comportamentos a serem ensinados, materializa e incorpora diversas prticas, dependendo do uso que dele fazem/fizeram os pro-fessores e os alunos. Desse modo, os textos que compem os livros escolares so registros a serem decodificados, pois esto impregnados de saberes a inculcar e que tiveram como instrumento de inculcao [sic] as prticas educativas escolares (Corra, 2000, p.19).

    NOSSA tERRA NOSSA gENtE: UM livro soMbra de UM projeto

    Produzido por professores mato-grossenses no ano de 1977, o conjunto didtico Nossa terra nossa gente, composto pela cartilha, livro do professor e caderno de atividades, apareceu como uma resposta das polticas pblicas, nacional e local, ao problema do fracasso escolar. Nele encontram-se aspectos do contexto legislativo e regulador (Choppin, 2004, p.561), que condicionou a existncia, a estrutura e a produo dessa cartilha no II Plano Setorial de Educao e Cultura (II PSEC), lanado pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) e previsto para os anos de 1975-1979. O plano abrigava em uma de suas reas a de Inovao e renovao do ensino o subprojeto Desenvolvimento de novas metodologias aplicveis ao processo ensino-aprendizagem do 1 grau (PNM). Nessa ocasio, vivamos uma dramtica situao relacionada com o rendimento do ensino em nosso pas, tra-duzida pela expresso fracasso escolar : a sistemtica evaso e repetncia de nossas crianas. As taxas de evaso e repetncia, no Brasil, chegavam a 56%, na passagem da 1 para a 2 srie (Brando et al., 1983, p.22),5 estendendo-se para as sries se-guintes. Num perodo da educao brasileira em que o governo da ditadura militar, iniciada em 1964, pretendia solucionar os problemas educacionais adotando a linha do desenvolvimento internacional baseado no capital humano, o II PSEC no poderia deixar de refletir uma filosofia liberal, que via a educao como investimento e como instrumento de mudana social. Assim, os objetivos e metas do II PSEC refletiam as concepes de racionalidade, eficincia e produtividade necessrias a uma educao vista como instrumento para a formao do que se convencionou chamar de recursos humanos para o desenvolvimento (Brasil, 1976, p.22).

    5 Atualmente, os ndices de evaso e repetncia continuam altos 19,5% no nvel na-cional, o que demonstra uma enorme inadequao entre a demanda e a qualidade da oferta (Brasil, 1996-2002).

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    A Secretaria de Educao e Cultura do Estado de Mato Grosso (SEDUC) acatou as proposies do II PSEC, em especial no que diz respeito ao PNM. As normas sugeriam que o subprojeto deveria, para enfrentar as reprovaes na 1 srie e regularizar o fluxo escolar, partir de estudos e experimentaes com o intuito de desenvolver novas metodologias para subsidiar as unidades federadas, visando a uma maior aprendizagem, principalmente quanto leitura e escrita. Os dados da matrcula inicial e do desempenho dos alunos mato-grossenses no 1 grau evi-denciavam a gravidade da situao e a urgncia em se tomar medidas direcionadas ao fracasso escolar. Evaso e repetncia somavam o intolervel ndice de 65,6%.

    Entre as atividades desenvolvidas no interior do PNM destaca-se a expe-rimentao de novas metodologias no ensino de 1 Grau e, em especial na 1 srie, atravs de novos processos de alfabetizao (Mato Grosso, 1976, p.8). Essa frente de trabalho foi desenvolvida nos anos de 1975 e 1976, com base em experincias de pesquisa controlada com diferentes mtodos de ensino e cartilhas a eles corre-latas. A reflexo sobre essas experincias levou a equipe responsvel a decidir pela elaborao de uma cartilha regional. Na concluso geral do relatrio de 1976, a equipe assim se manifesta:

    Partindo da deduo de que a aprendizagem seria mais eficaz se o professor em-pregasse uma cartilha que atendesse a esses aspectos e que fosse adequada nossa realidade, esta coordenadoria juntamente com o Departamento de Edu-cao, aps consulta feita ao DEF/MEC, decidiu elaborar e aplicar para o ano de 1977 uma cartilha prpria. (idem, p.36)A cartilha nasceu, portanto, da experincia da equipe da SEDUC no interior

    do PNM, alicerada em uma experimentao cientfica que, apesar do esforo dos sujeitos envolvidos, no logrou os resultados esperados.

    A equipe segue apresentando um conjunto de motivos que a levou a propor reformulaes no PNM, entre elas:

    1. elaborao de uma cartilha que atendesse aos requisitos da lngua e nossa realidade;

    2. elaborao de um manual de orientao em linguagem simples e acessvel do professor;

    3. treinamento dos professores envolvidos no Projeto a fim de que eles fossem orientados para o emprego da cartilha, recebessem informaes especfi-cas relativas lngua portuguesa e aos pr-requisitos da alfabetizao [...]. (Mato Grosso, 1977a, p.10)

    A deciso de elaborar uma cartilha estava ancorada no pressuposto bsico de que, embora houvesse mltiplas interferncias no processo de alfabetizao, al-guns fatores eram passveis de um acompanhamento e controle mais efetivos. O grupo ento se decidiu pela seleo dos fatores cartilha e professor, que, preparados adequadamente e bem controlados [sic], poderiam responder por uma elevao

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    do padro de ensino e, consequentemente, do rendimento escolar (Mato Grosso, 1977a, p.16).

    Duas crenas importantes da equipe aparecem no documento Exposio de motivos (Mato Grosso, 1977b). Por um lado, a esperana em poder materializar uma cartilha ideal do ponto de vista lingustico: utilizando-se uma linguagem regional, prxima linguagem dos escolares, e apresentando a lngua de forma graduada, contemplando suas dificuldades e sua complexidade. Desse modo, na perspectiva da equipe, ela seria de fcil manejo pelo professor e de melhor apropriao pelos alunos. Por outro lado, pela definio dos objetivos e contedos inerentes 1 srie, a esperana de poder homogeneizar a aprendizagem das crianas.

    nesse contexto que nasceu a cartilha Nossa terra nossa gente, um livro didtico que possua estreitos vnculos com um projeto de poltica pblica e com as concepes de educao e de alfabetizao oficiais e/ou hegemnicas naquele momento histrico.

    Figura 1 Cartilha Nossa terra nossa gente. Fonte: Acervo do Centro de Documentao do NUPED/UFMT.

    NOSSA tERRA NOSSA gENtE se transForMa eM ADA E EDu: UMa Cartilha do Mato Grosso para o brasil

    Em 1977, o PNM de Mato Grosso foi reconfigurado do ponto de vista metodolgico, no seguindo mais a orientao de realizar pesquisa experimental. Nessa fase a equipe se dedica, fundamentalmente, a elaborar o conjunto didtico, a cartilha e seus complementos, selecionar e preparar as escolas e os professores e aplicar o material elaborado, acompanhando a prtica pedaggica passo a passo.

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    Segundo uma das autoras,Eu me lembro bem que a gente tinha muita conscincia de que o projeto era um projeto-piloto, que a situao era uma situao de laboratrio e que aquilo que desse resultado, a gente ia espalhar para o estado. (Maria Antonieta Fernandes)6

    A partir da, a equipe se dedicou a um projeto de alfabetizao que se deu em torno da nova cartilha. Portanto, a circulao desse livro didtico, em um primeiro momento, ocorreu entre os supervisores, professores e alunos do projeto-piloto, desenvolvido em Cuiab, que visava utilizao do material em dois nveis: a) alunos com idade/srie regular, tentando elevar os ndices de promoo (Meta 1-PNM); b) alunos com distoro idade/srie, tentando acelerar a escolarizao (Meta 2-PNM). A Meta 1 foi desenvolvida nas mesmas escolas nas quais havia se realizado o experimento Senador Azeredo; Professor Nilo Pvoas; Jos Machado N.da Costa; Jos Estevam, acrescida da Escola Joaquina Caldas. Isso significa que os primeiros leitores da cartilha foram os 5 supervisores dessas escolas, os 17 professores (de vinte classes) e os 678 alunos atendidos nessas classes. A Meta 2 foi desenvolvida em 4 escolas, 11 classes, envolvendo 396 alunos e 11 professores. Esses professores e alunos tambm compuseram o quadro dos primeiros leitores de Nossa terra nossa gente (Mato Grosso, 1977a, p.15; 30).

    A notcia da existncia da cartilha chegou a Arnaldo Niskier, ento diretor da Bloch Editores, que procurou as autoras e fez um contrato de publicao, trans-formando Nossa terra nossa gente em Ada e Edu.

    Os resultados do primeiro ano foram avaliados positivamente e em 1978 o PNM se expandiu, passando a atuar em mais quatro municpios, alm da capital, Cuiab, a saber: Cceres, Rondonpolis, Barra do Garas e Poxoro. Essa ampliao atingiu 19 escolas, 68 classes da Meta 1, totalizando 2.272 alunos, e 48 classes da Meta 2, totalizando 1.259 alunos. Naquele ano, Ada e Edu j se encontrava publicada pela Bloch Editores, sendo esse o universo dos primeiros leitores do livro didtico transformado, conforme citao abaixo:

    Em todas as classes foi empregada a cartilha nica Ada e Edu e o mesmo processo de alfabetizao. Os supervisores, sob a coordenao da equipe cen-tral, acompanharam e controlaram sistematicamente o plano de alfabetizao. (Mato Grosso, 1979a, p.19)A expanso teve continuidade no ano de 1979. Dados indicaram que o PNM

    em seu ltimo ano de funcionamento envolveu 11 municpios. Na programao do III Encontro Estadual de Alfabetizao (Mato Grosso, 1979b), aparecem listados para apresentar relato de experincias do projeto, alm dos municpios j citados, outros seis: Alto Araguaia, Rosrio Oeste, Pocon, Santo Antnio, Alto Paraguai e Guiratinga.

    6 Entrevista realizada em 23 de abril de 2008.

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    Esse quadro configura, portanto, a circulao da cartilha Ada e Edu no interior do PNM. A circulao em nvel nacional esteve diretamente condicionada edio do material pela Bloch Editores e pela entrada dessa cartilha no PLIDEF e, mais particularmente, no processo de coedio entre editoras e a Fundao Nacional de Material Escolar (FENAME), aspecto que ser explorado a seguir.

    voo inesperado: NOSSA tERRA NOSSA gENtE no rio de janeiro

    Se atualmente o livro didtico questionado em alguns setores educacionais, na dcada de 1970 seu status deixava poucas dvidas em relao sua capacidade de promover uma organicidade prtica pedaggica. Em um arcabouo de valorizao, o livro didtico era visto como instrumento essencial, como tecnologia a servio das aes educativas de sala de aula e, mesmo, para alm dela. Em que pesem frequentes e histricas crticas aos mtodos implementados por alguns livros didticos7 ou, ainda, aos contedos nele abordados, o certo que, por um lado, justamete ao final daquela dcada que comeam a aparecer, com mais intensidade, textos que condenariam o seu uso,8 acusando-o de ser um grande veculo ideolgico, mas, por outro lado, apenas na dcada de 1980 que esses textos ganham maior circulao e visibilidade entre os professores.

    Entendido como uma importante pea do processo de ensino, o livro di-dtico sofre vrias influncias de natureza legal, tcnica, poltica e organizacional decorrentes dos problemas gerais da educao e da escola (Oliveira et al., 1984, p.70). A dcada de 1970 foi frtil em mudanas com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) n. 5.692 alm de outras medidas s quais o mercado editorial teve de se adaptar.

    Segundo Oliveira et al. (idem, ibidem), a poltica mais geral do MEC, com respeito a currculos e programas de ensino, passava poca por grandes e contnuas mudanas, apresentando diretrizes muito genricas. Essas polticas centrais eram complementadas por aes nos estados, por parte das secretarias ou conselhos de educao. Nesse sentido, o critrio para a edio de um texto aproxim-lo das propostas curriculares dos estados. Mas elas so as mais deferentes. No batem umas

    7 Ver polmica sobre cartilhas em Maria do Rosrio Longo Mortatti (2000).8 Na verdade, Flvia Rosemberg et al., no texto Racismo em livros didticos brasileiros e

    seu combate: uma reviso da literatura (2003, p.132), apontam que Os estudos sobre preconceito racial e livros didticos e paradidticos no Brasil iniciaram-se na dcada de 1950 com a pesquisa de Dante Moreira Leite (1950): Preconceito racial e patriotismo em seis livros didticos primrios brasileiros. Os livros emblemticos da dcada de 1980 so: As belas mentiras: a ideologia subjacente nos livros didticos, de Maria de Lourdes Chagas Deir Nosella (So Paulo: Moraes, 1981); Ideologia no livro didtico, de Ana Lcia Goulart de Faria (So Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984); O livro didtico em questo, de Barbara Freitag, Valria Rodrigues Motta e Wanderly Ferreira da Costa (So Paulo: Cortez/Autores Associados, 1989).

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    com as outras (Scipione apud Oliveira et al., 1984, p.71). Para resolver essa situa-o, o que os autores e editores fazem buscar um mnimo denominador comum (idem, ibidem). Em muitos casos, as editoras oferecem mais de uma resposta: Todas as editoras tm dois tipos de colees. Uma coleo que serve para o Estado de So Paulo e uma que serve para o restante do Brasil (Takahash apud idem, p.72).

    Segundo esse raciocnio, a Bloch Editores identificou em Nossa terra nossa gente esse mnimo denominador comum. Em sua avaliao, acreditou ser um livro que inspirava certo grau de aceitao por parte de professores de algumas regies. Para isso, acionou seus dispositivos editoriais, independentemente de a produo ter sido inspirada numa adequao regional especfica.

    Em resposta minha tentativa de conhecer como a Bloch Editores ficou sabendo da existncia de Nossa terra nossa gente e se interessou em public-la, as au-toras rememoraram e me apontaram a existncia de dois intermedirios (Darnton, 1990), o diretor da Bloch e a coordenadora do PLIDEF em Mato Grosso:

    Por causa do PLIDEF, porque eles vinham muito aqui. O PLIDEF era o pro-grama do livro didtico, e atravs da Conceio, que era a coordenadora do PLIDEF [...] o Arnaldo esteve aqui em Cuiab e viu a cartilha, e quando ele viu, falou assim: vamos publicar, entendeu? (Rosa Persona)9 Ficou explcito em vrias falas que as autoras no tiveram um papel central na

    deciso de publicao. A ideia da publicao apareceu como uma agradvel surpresa, um prmio ou uma conquista. Em contrapartida, Niskier diz: Lembro que fui o autor da ideia de buscar trabalhos originais em outros Estados, para diversificar a produo da Bloch Educao.10

    Como se v, Niskier e Conceio so atores que desempenharam papis de agentes culturais, intermedirios que foram entre uma produo local e as de-mandas do mercado de livros didticos. Estavam inseridos em uma ampla rede de produtores e consumidores da literatura didtica, tomando decises pertinentes s demandas dessa rede.

    Assim, a surpresa de ver, inesperadamente, Nossa terra nossa gente no Rio de Janeiro explicada por Darnton (1990, p.130-131) quando sugere que os livros no respeitam limites, sejam lingusticos ou nacionais. Inserindo-os num circuito de comunicao, podemos mostrar que os livros no se limitam a relatar a histria: eles a fazem.

    9 Entrevista realizada em 25 de abril de 2008.10 Correspondncia de 30 de maro de 2005.

    599Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • Cancionila Janzkovski Cardoso

    a Coedio CoM a FenaMe e a CirCUlao naCional

    Comparando os conjuntos Nossa terra nossa gente e Ada e Edu, podemos per-ceber que a publicao da Bloch Editores, alm do ttulo, alterou o formato, o design e a qualidade do papel dos livros. O novo ttulo foi retirado da primeira lio, cujas palavras-chave so Ada e Edu. Deixou-se de aludir a aspectos particulares (a terra e a gente de Mato Grosso) para oferecer ao leitor histrias de duas crianas comuns, que poderiam viver em qualquer lugar do Brasil. Do apelo tnico da capa da verso original, passou-se para a apresentao de crianas brancas, aparentemente, de classe mdia.

    Figura 2 Cartilha Ada e Edu, 1 edio, 1978. Fonte: Acervo do Centro de Documentao do NUPED/UFMT.

    A 5 edio de Ada e Edu, de 1981, coedio entre FENAME e Bloch, que abriu a possibilidade de circulao nacional dessa cartilha, deu-se no lapso de tempo em que de censor oficial dos livros didticos usados nas escolas brasileiras, o Estado foi assumindo tambm o papel de financiador desses livros (Hfling, 2000, p.163). O sistema de coedio com as editoras nacionais, com recursos do INL, foi implantado em 1970. Em 1983 criada a Fundao de Assistncia ao Estudante (FAE), e em 1984 deu-se fim ao sistema de coedio, passando o MEC

    600 Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • Cartilha Ada e Edu

    a ser o comprador e distribuidor dos livros produzidos pelas editoras participantes do Programa do Livro Didtico (PLID).11

    O funcionamento do PLIDEF obedecia a uma complexa dinmica, em torno da qual circulavam variadas instncias e inmeros intermedirios, com o fim ltimo de colocar em circulao, nas mos de professores e alunos, uma determinada obra didtica. Nesse estgio do circuito do livro, que aqui poderia ser chamado penetra-o na distribuio estatal, o texto transitava entre editores, comisses avaliadoras do Departamento de Ensino Fundamental (DEF)/MEC, secretrios de educao das unidades federadas, comisses avaliadoras das secretarias; tcnicos em conta-bilidade da FENAME; impressores; revisores; distribuidores e livreiros; chegando, finalmente, aos leitores (bibliotecas, escolas e grande pblico) (Brasil, [197-?]).

    Os dados sobre a poltica de produo e distribuio de livros didticos da poca, cruzados com os exemplares encontrados, me permitiram chegar a algumas concluses e inferncias a respeito das tiragens de Ada e Edu, sintetizadas no quadro a seguir:

    Quadro 1 Conjunto Ada e Edu: exemplares localizados

    Edio AnoNmero de exemplares

    Livro (s)

    1 1978197811

    Cartilha Cartilha

    2

    31978197919801980

    1111

    Cartilha Caderno de atividades Livro do professor Caderno de atividades

    4 1980151

    Cartilha Cartilha Cartilha

    5198119811981

    11142

    30.000

    Cartilha12 Livro do professor Cartilha Livro do professor (copyright de 1981) Livro do professor (copyright de 1981) Livro do professor (copyright de 1981)

    6 1985 1 Cartilha Total de exemplares da cartilha 12Total de exemplares do caderno de atividades 2Total de exemplares do livro do professor 30.008

    Fonte: Material localizado nos seguintes acervos: a) Centro de Documentao/NUPED/ICHS/UFMT; b) Biblioteca Nacional (RJ); c) Acervo da Bloch Editores; d) Arquivos pessoais das autoras da cartilha; e) Arquivo pessoal da autora deste texto. Elaborao da autora.12

    11 O Programa do Livro Didtico (PLID) abrangia os diferentes nveis de ensino: Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental (PLIDEF); Programa do Livro Didtico para o Ensino Mdio (PLIDEM); Programa do Livro Didtico para o Ensino Superior (PLIDES) e Programa do Livro Didtico para o Ensino Supletivo (PLIDESU).

    12 Coedio Bloch/FENAME.

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  • Cancionila Janzkovski Cardoso

    Observando o nmero de edies, facilmente podemos concluir que, em seu primeiro ano na Bloch Editores, a cartilha teve trs edies. Se considerarmos o mnimo por edio de 5 mil exemplares, registrado no contrato, chegaremos aos 15mil exemplares da cartilha e provavelmente aos correspondentes 15 mil cadernos de atividades e 500 manuais do professor.

    Um caderno de atividades encontrado na Biblioteca Nacional, da 3 edio de 1979, com o carimbo de autorizao do MEC para distribuio em 1/8/1983, sinaliza que houve, no ano de 1979, pelo menos uma edio. Igualmente, no ano de 1980, o manual do professor, depositado na Biblioteca Nacional, evidencia mais uma edio de, no mnimo, 5 mil exemplares. Podemos observar que foram registrados como pertencentes 3 edio: a cartilha do ano de 1978; o caderno de atividades de 1979; e o livro do professor de 1980. Ao que tudo indica, embora esses trs materiais compusessem o conjunto Ada e Edu, foram tratados individualmente no processo de produo da editora, obtendo nmero e tiragem prprios de edio. Ainda, com registro do ano de 1980, consegui encontrar alguns exemplares da cartilha da 4 edio.

    Nesse clculo, sempre lembrando ao leitor que trabalho aqui com o ndice mnimo do qual tenho fontes para justificar, chegamos a um total de 30 mil exem-plares publicados da cartilha, seguindo o raciocnio de que cada exemplar encontrado de uma determinada edio pertence a uma tiragem de 5 mil cartilhas.

    Desse modo, chegamos ao ano de 1981 e 5 edio de Ada e Edu, agora coeditada com a FENAME. Considerando que as determinaes desse rgo pre-viam que cada ttulo selecionado tivesse um pedido mnimo de 7 mil exemplares por estado e de 20 mil para todo o pas, poderia ficar com esse ltimo nmero como tiragem mnima do ano em questo. No entanto, h outros indcios que precisam ser considerados.

    O primeiro deles a existncia do dado emblemtico de uma significativa sobra de estoque em um dos galpes da antiga TV Manchete, situado na Estrada da gua Grande, em Iraj, periferia do Rio de Janeiro, que abriga acervo significativo da Bloch Editores e que passarei a denominar arquivo da Bloch.13 L se encontra uma grande pilha de Ada e Edu livro do professor. Os exemplares no traziam o nmero da edio, mas apresentavam o copyright de 1981, o que permite deduzir que eram referentes ao ano da coedio com a FENAME, quando a produo foi mais significativa. Um clculo aproximado da pilha (5x10x12=600 pacotes, con-tendo 50 exemplares em cada um) me permite dizer que ali se encontravam cerca de 30mil exemplares.

    13 A Bloch Editores foi decretada massa falida em 2000. A minha visita ao seu acervo no Rio de Janeiro foi autorizada por Walter Soares, sndico da massa falida. Fui acompanhada pelo preposto Luiz Antnio Reis de Freitas. Este me informou que os livros contbeis da editora estavam sendo periciados e, portanto, eu no poderia ter acesso a eles. A inexistncia de outros documentos (correspondncias, contratos, notas fiscais) explicada pela via da disperso: hiato de tempo entre a notcia da falncia e a falncia, propriamente dita, e as constantes mudanas do acervo.

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  • Cartilha Ada e Edu

    Esse nmero, por si s, evidencia que, pelo menos no ano de 1981, a Bloch produziu bem mais que o mnimo rezado no contrato, que era de meros 5 mil exem-plares, e tambm mais que o mnimo exigido pela FENAME, que era de 20mil exemplares. Se considerarmos que para cada manual do professor eram confeccio-nadas cerca de 30 cartilhas para os alunos, nosso nmero cresce significativamente, evidenciando uma expectativa de produo de 900 mil exemplares de cartilhas, correspondentes quele estoque de manuais do professor. Poderia mesmo ir alm, levantando a seguinte hiptese: se esse material sobra de edio, a produo do ano de 1981 foi muito significativa, extrapolando em muito as mdias de 50mil exemplares por edio. Isso teria fundamento?

    As fontes, sempre lacunares e imprevisveis, vo se dando, lentamente, a conhecer, processo esse muitas vezes condicionado ao tempo disponvel, per-sistncia, ao faro e sorte do pesquisador. nesse mbito que situo o encontro de outro documento importante: A nova escolha do livro didtico Catlogo da FAE Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD), de setembro de 1985. Na primeira pgina desse impresso, o presidente da FAE, Carlos Pereira de Carvalho e Silva, dirige-se aos professores traduzindo o que significava a palavra Nova para o PNL: o reconhecimento de [...] que os professores tm o direito de indicar os livros que sero utilizados com seus alunos. O item Comear de novo... vai valer a pena traz a seguinte explicao:

    Em agosto, voc, provavelmente, participou da escolha dos livros de sua escola. Mas agora preciso uma NOVA ESCOLHA, porque: Muitosprofessoreseescolaspensaramque spodiamescolher livrosdos

    catlogos de propaganda de algumas editoras! Muitasescolasindicaramseuslivrosemmodelosdeformulrionooficial,

    de propaganda de editoras! Muitosprofessoresnoforamconsultados!A FAE, no entanto, insiste: SemProfessornohescolha!(Brasil,1985,p.3)

    A indignao contida nas exclamaes tenta, por um lado, justificar uma nova escolha no mesmo ano e, por outro, firmar o novo compromisso da FAE de que o professor seria o responsvel pela escolha dos manuais e que, a partir de en-to, haveria menos interferncias externas ao processo de escolha do livro didtico.

    Da pgina 3 8, o catlogo se deteve a explicar toda a sistemtica de escolha e preenchimento da ficha, justificando que o computador vai ajudar e, por isso, foi criado um cdigo para cada livro. A partir da pgina 9 foram apresentados em tabelas e em ordem alfabtica todos os ttulos disponveis para todas as sries alfabetizao, 1 a 4 e todos os componentes curriculares: comunicao e ex-presso, matemtica, estudos sociais e cincias. Para a 1 srie, havia a especificidade de serem oferecidos os seguintes livros: cartilha, pr-livro e leitura intermediria. exatamente na pgina 9 que figurava a cartilha Ada e Edu, para escolha pelos professores brasileiros.

    603Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

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    Assim, a coedio Bloch/FENAME da cartilha Ada e Edu no ano de 1981, somada s evidncias de sua distribuio pelo MEC no ano de 1983, e sua incluso no catlogo da FAE do ano de 1985, para distribuio em 1986, me fazem defender a ideia de sua permanncia no PLIDEF, pelo menos entre os anos 1981 e 1985, o que amplia consideravelmente as possibilidades de circulao desse livro didtico.

    Lamentavelmente, dada a ausncia de outras fontes tais como os contratos celebrados entre a FENAME/FAE e a Bloch Editores e os mapas de distribuio dos livros ou registros da distribuio especfica desse livro didtico talvez seja possvel ampliar para as instituies oficiais brasileiras o mesmo raciocnio que Darnton (1990) faz em relao aos editores: os arquivos so tratados como lixo.

    Restam, ento, as questes: Qual foi o montante de produo de Ada e Edu? Para onde, efetivamente, foram todos os exemplares produzidos pela Bloch Editores? Por onde circulou Ada e Edu?

    Assim, preciso me conformar em fazer o inventrio dos arquivos do silncio e fazer a histria a partir dos documentos e das ausncias dos documentos (Le Goff, 2003, p.103).

    ConClUses

    Estudar o circuito das comunicaes do manual didtico cartilha exigiu uma compreenso do papel da escola como instituio especializada em promover/garantir o acesso das novas geraes cultura letrada, com base no aprendizado da leitura e da escrita. Mortatti (2008, p.93) lembra que na modernidade republicana

    A alfabetizao se tornou o fundamento da escola obrigatria, laica e gratuita; a leitura e a escrita se tornaram, definitivamente, objeto de ensino e apren-dizagem escolarizados, ou seja, submetidos organizao sistemtica, tecni-camente ensinveis e demarcando preparao de profissionais especializados. Desse ponto de vista, a alfabetizao se apresenta como o signo mais evidente e complexo da relao problemtica entre educao e modernidade, tornando--se o principal ndice de medida e testagem da eficincia da educao escolar.O signo mais evidente e complexo da relao problemtica entre educao

    e modernidade(idem, ibidem) a alfabetizao historicamente se apoiou em cartilhas para cumprir seu papel de chave que abre a porta de entrada para a cultura escrita. Esses manuais galgaram tal nvel de importncia na alfabetizao e na escolarizao que passaram a ser sinnimo de mtodo de alfabetizao, o que evidencia a sua funo instrumental (Choppin, 2004).

    Assim, se a histria da alfabetizao se faz de embates sobre mtodos no-vos e antigos, aqueles, apoiados em modernas verdades cientficas, acusando estes, apoiados em teorias decadentes, de tradicionais, a histria de um livro de alfabetizao reflete e refrata esse pressuposto.

    Dessa maneira, o circuito das comunicaes da cartilha Ada e Edu em suas fases de produo, difuso e circulao se amparou no discurso do novo em confronto

    604 Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • Cartilha Ada e Edu

    com o velho e ultrapassado, fundando representaes e moldando a cultura escolar, ao mesmo tempo, com elementos de transformao e de permanncia.

    Diante das urgentes demandas sociais daqueles tempos, em 1975 o governo federal prope o II PSEC. Apelando para objetivos de modernizao e melhoramen-to qualitativo, um quinho de investimento reservado inovao e renovao do ensino, que poderia mostrar toda a sua criatividade no seio do PNM. O novo nesse momento histrico era a aplicao dos pressupostos da teoria do capital humano (racionalidade, eficincia e produtividade), tida como eficiente para a administrao de fbricas, para a escola, que passara a ter novas finalidades: atendimento a um novo pblico escolar o povo brasileiro.

    O conjunto de fontes disponveis me encaminha para algumas interpretaes possveis. Por um lado, em termos de concepo de alfabetizao, so ressaltadas duas crenas importantes da equipe: a) a esperana em poder materializar uma cartilha ideal do ponto de vista lingustico, utilizando-se uma linguagem regional e apresentando a lngua de forma graduada, contemplando suas dificuldades e sua complexidade, a fim de que ela fosse de fcil manejo pelo professor e de melhor apropriao pelos alunos; b) com a definio dos objetivos e contedos inerentes 1 srie, a esperana de poder homogeneizar a aprendizagem das crianas.

    Por outro lado, em termos da circulao do livro, Niskier ressalta e antecipa a dificuldade que teramos, diante da disperso dos arquivos da Bloch, de encontrar dados precisos da cartilha (edies, tiragens, localizao etc.). No entanto, lembra que: A cartilha foi adotada oficialmente em Mato Grosso. E a teve uma boa circulao [...]. Em outros Estados, vendas pequenas [...]. A cartilha foi espalhada sobretudo nas regies Norte e Nordeste.

    Niskier faz referncia a vendas pequenas, no entanto, sua viso comercial o levou a registrar no contrato, 4 artigo, a possibilidade de a obra ser coeditada:

    nico: Fica estabelecido, desde j, que se a obra for coeditada com o Ins-tituto Nacional do Livro INL, Fundao Nacional de Material Escolar FENAME ou outro rgo similar, os direitos autorais sero de apenas 6% (seis por cento), para a tiragem da obra encomendada. (Bloch Editores, 1978, p.1)

    Assim, com base no modelo circuito das comunicaes (Darnton, 1990), foi possvel reconstruir aspectos da produo e da circulao da cartilha Ada e Edu no contexto mato-grossense e registrar algumas possibilidades da circulao desse material em mbito nacional. Certo que cedo constatei que o livro tem, em torno dele, muitos sujeitos. Mais que isso, ao tentar escrever a histria de Ada e Edu, mergulhei, inesperadamente, na histria da poltica pblica que deu origem a essa cartilha o PNM, num claro exemplo de como a histria da alfabetizao se entrelaa com tantas outras histrias, como bem aponta Harvey Graff (1994, p.174). Ambos, projeto e livro, traduzem concepes de educao e de alfabetizao, sugerem metodologias e prticas pedaggicas, configurando uma cultura escolar, cujos tentculos ainda se fazem presentes.

    605Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • Cancionila Janzkovski Cardoso

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    607Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • Cancionila Janzkovski Cardoso

    sobre a aUtora

    Cancionila Janzkovski Cardoso doutora em educao pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora associada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).E-mail: [email protected]

    Recebido em maio de 2011 Aprovado em novembro de 2011

    608 Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

  • CanCionila Janzkovski Cardoso

    Cartilha Ada e Edu: de produo regional circulao nacional (1977-1985)

    O texto apresenta resultados de pesquisa cujo objetivo geral foi o de contribuir para a sistematizao e socializao da histria de um livro mato-grossense, mediante a investigao da produo, difuso e circulao da cartilha Ada e Edu, elaborada em 1977. A investigao se inscreve na histria da alfabetizao, sendo orientada por referenciais terico-metodolgicos ligados histria cultural e histria dos livros. A proposta metodolgica baseou-se no circuito das comunicaes, modelo proposto por Robert Darnton, para examinar o percurso da cartilha regional Nossa terra nossa gente, posteriormente transformada em cartilha Ada e Edu, editada e comercializada nacionalmente pela Editora Bloch. Foi possvel reconstruir aspectos da produo e da circulao dessa cartilha no contexto mato-grossense e registrar elementos da circulao em mbito nacional, via Programa Nacional do Livro Didtico.

    Palavras-chave: histria da alfabetizao; cartilhas escolares; circulao de livros.

    790 Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

    Resumos/abstracts/resumens

  • school primer Ada and Edu: from regional production to national circulation (1977-1985)

    The text presents results of a study whose main goal was to contribute to the systematization and dissemination of the history of the book of Mato Grosso state, by investigating the production, diffusion and circulation of the school primer Ada and Edu, created in 1977. The study falls into the category of history of literacy, and is guided by theoretical and methodological frameworks linked to cultural history and book history. The methodological proposal has arisen from the communications circuit, a model proposed by Robert Darnton, to examine the course of the regional school primer Nossa terra nossa gente, subsequently changed to school primer Ada and Edu, published and marketed nationwide by Editora Bloch. It was possible to reconstruct aspects of the production and circulation of that school primer in the context of Mato Grosso state and record elements of nationwide circulation through Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD, National Textbook Program).

    Keywords: history of literacy; school primers; circulation of books.Cartilla Ada y Edu: de produccin regional a la circulacin nacional (1977-1985)

    El artculo presenta los resultados de un estudio cuyo objetivo general es contribuir a la sistematizacin y difusin de una historia del libro de Mato Grosso, tras la investigacin de la produccin, difusin y circulacin de la cartilla Ada e Edu, elaborada en 1977. La investigacin se inscribe en la historia de la alfabetizacin, y se gua por las referencias tericas y metodolgicas relacionadas con la historia cultural y la historia del libro. La propuesta metodolgica se bas en el circuito de las comunicaciones, modelo propuesto por Robert Darnton, para examinar la ruta de la cartilla regional Nuestra tierra nuestra gente, ms tarde transformada en la cartilla Ada y Edu, editada y comercializada a nivel nacional por la Editora Bloch. Ha sido posible reconstruir aspectos de la produccin y la circulacin de esta cartilla en el contexto de Mato Grosso y registrar elementos de la circulacin a nivel nacional, por medio del Programa Nacional do Livro Didtico.

    Palavras clave: historia de la alfabetizacin; cartillas escolares; circulacin de libros.

    791Revista Brasileira de Educao v. 18 n. 54 jul.-set. 2013

    Resumos/abstracts/resumens