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MARIANA FERREIRA DOS ANJOS CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU_080047 ISOLADO DA CARAVELA Physalia physalis Itajaí (SC) 2017

CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU …siaibib01.univali.br/pdf/Mariana Ferreira dos Anjos.pdf · 4 A58c Anjos, Mariana Ferreira dos, 1989- Caracterização da resposta

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    MARIANA FERREIRA DOS ANJOS

    CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU_080047

    ISOLADO DA CARAVELA Physalia physalis

    Itajaí (SC)

    2017

  • 3

    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E SUBSTÂNCIAS

    SINTÉTICAS BIOATIVAS

    MARIANA FERREIRA DOS ANJOS

    CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU_080047

    ISOLADO DA CARAVELA Physalia physalis

    Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como

    parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em

    Ciências Farmacêuticas.

    Orientadora: Profª. Drª. Nara Lins Meira Quintão

    Itajaí (SC)

    Maio de 2017

  • 4

    A58c

    Anjos, Mariana Ferreira dos, 1989-

    Caracterização da resposta induzida pelo veneno MLU_080047 isolado da

    caravela Physalia physalis. [manuscrito] / Mariana Ferreira dos Anjos. –

    Itajaí, 2017.

    109 f. : il., color.

    Inclui lista de figuras, gráficos, abreviaturas e siglas.

    Referências: p. 51-57.

    Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Pós-

    Graduação em Ciências Farmacêuticas, Área de Concentração em produtos

    naturais e substâncias sintéticas bioativas, 2017.

    “Orientadora: Profª Drª. Nara Lins Meira Quintão”.

    1. Physalis physalis - Veneno. 2. Toxina – Efeitos fisiológicos. 3. Venenos de

    Cnidários. I. Quintão, Nara Lins Meira. II. Título.

    CDU: 593.73

    Irene Albino – CRB 14ª/1114

  • 5

    CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU_080047

    ISOLADO DA CARAVELA Physalia physalis

    Mariana Ferreira dos Anjos

    ‘Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas, Área de

    Concentração Produtos Naturais e Substâncias Bioativas e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-

    Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade do Vale do Itajaí.’

    _______________________________________________

    Clóvis Antônio Rodrigues , Profº Drº

    Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas

    Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos Professores:

    ______________________________________

    Profª Drª Nara Lins Meira Quintão (UNIVALI)

    Presidente orientador

    ______________________________________

    Profª Drª Ruth Meri Lucinda da Silva (UNIVALI)

    Membro

    ______________________________________

    Profª Drª Priscila de Souza (UNIVALI)

    Membro

    ____________________________________

    Profº Drº Rafael Cypriano Dutra (UFSC)

    Membro

    Itajaí (SC), 19 de maio de 2017

  • 6

    Dedicatória

    À minha mãe Mariza e ao meu avô José Henrique dedico todo

    o meu conhecimento.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus, por ter guiado meus caminhos até esta conquista e ter sido o grande suporte nos momentos

    difíceis.

    Agradeço aos meus Pais por me permitirem existir nesse plano terrestre e poder elevar minha evolução

    como ser.

    Em especial sempre agradecerei a minha mãe Mariza por incansavelmente nos dar o melhor carinho, o

    maior amor e o maior exemplo.

    À minha irmã Natália, agradeço o companheirismo, a parceria, o suporte e o amor, em todos esses anos.

    À toda minha família, meus avós, tias e tios por me amarem tanto, por sempre sentirem tanto orgulho e por

    vibrarem a cada conquista.

    Agradeço e dedico este trabalho aos meus primos para lembrar que vale a pena seguir nossos sonhos e o

    que manda nosso coração.

    Agradeço a minha orientadora Profª Nara, por todos esses anos de orientação e amizade. Obrigada por ter

    orientado meus caminhos, me incentivado e por ter me ajudado a crescer e amadurecer na pesquisa, por

    ter me tornado mais crítica, mais seletiva, mais aberta às possibilidades. Espero tê-la sempre por perto.

    Agradeço aos membros da pré banca e banca por contribuírem na construção deste trabalho, os

    professores: Dr. Rafael Cypriano Dutra (UFSC), Drª Ruth Meri Lucinda da Silva (UNIVALI), Drª Priscila

    de Souza (UNIVALI) e Drª Luisa Mota (UNIVALI).

    Agradeço aos meus colegas e amigos do grupo de pesquisa em processos dolorosos do Programa de Pós

    graduação em Ciências farmacêuticas da UNIVALI, em especial à amiga Dra. Gislaine Francieli da Silva,

    que me acompanhou na maioria dos experimentos, ajudando nas minhas limitações e tornando este trabalho

    possível. Da mesma forma agradeço aos colegas Jessica Melato e Dr. Luis Carlos Stoeberl, aprendi muito

    com vocês nesse período de convivência. Desejo muito sucesso a todos.

    Aos demais colegas do Programa de Pós graduação em Ciências farmacêuticas da UNIVALI agradeço por

    estes anos. Obrigada pelo carinho e respeito de todos. Em especial agradeço a minha amiga Me. Thaise

    Boeing por ter colaborado no trabalho e auxiliado nas duvidas que surgiram. Obrigada pela amizade e

    desejo a você muito sucesso.

    À CAPES e ao CNPq agradeço o apoio e incentivo à pesquisa.

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    EPÍGRAFE

    “A mente que se abre a novas ideias, nunca volta a seu tamanho original”

    Albert Einstein

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    CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA INDUZIDA PELO VENENO MLU_080047

    ISOLADO DA CARAVELA Physalia physalis

    Mariana Ferreira dos Anjos

    Maio/2017

    Orientador: Nara Lins Meira Quintão, PhD

    Área de Concentração: Produtos Naturais e Substâncias Sintéticas Bioativas

    Número de Páginas: 61

    O envenenamento por animais marinhos como os cnidários são cada vez mais relatados no litoral brasileiro. Esse grupo de

    animais possui poderosas células de defesa denominadas nematocistos, estrutura responsável pela injeção do veneno. A partir

    do contato do veneno com humanos, ocorrem diferentes reações que variam de moderadas até potencialmente fatais. Dentre as

    reações mais comuns estão a dor e ardência local, náusea e mal estar, mas as dificuldades no tratamento dessas ocorrências

    acabam tornando-as, em muitos casos, emergência médica. Este trabalho teve como objetivo investigar a capacidade do veneno

    da caravela Physalia physalis (MLU_080047) em induzir hipersensibilidade e as possíveis vias de sinalização envolvidas, bem

    como os efeitos gástricos produzidos após o contato com o mesmo. Inicialmente, verificou-se que a injeção intraplantar (i.pl.)

    do veneno (0,1 ng/pata) causou hipersensibilidade mecânica, com aumento da resposta em 144,0 ± 31,0% entre 30 min e 2h

    após a sua injeção. Os animais apresentaram redução do limiar térmico com redução de 23,9 ± 6,2% em relação ao grupo

    injetado com PBS. Entretanto, o veneno não produziu resposta edematogênica significativa nas mesmas doses utilizadas para

    avaliação da hipersensibilidade. A hipersensibilidade mecânica induzida pelo veneno foi significativamente atenuada pela

    pirilamina (antagonista do receptor H1) em 31,0 ± 3,9 %, com maior ênfase para os 30 min seguintes à injeção do veneno. O

    SB36679 (antagonista do receptor TRPV1) também inibiu a resposta dos animais em 74,4 ± 12,5 % entre 1 h e 2 h após a

    injeção do veneno. O antagonista do receptor B1 para cininas (Des-Arg9-Leu8-BK) e HOE 140 (antagonista do receptor B2)

    também apresentou inibição de 43,7 ± 15,7 % em relação ao grupo controle no intervalo de tempo de 1 à 3 h após a injeção do

    veneno. O papel do sistema inflamatório, principalmente a via dos prostanoides foi evidenciada através da administração tanto

    do meloxican (inibidor seletivo da enzima COX-2), o qual apresentou inibição de 36,0 ± 8,7 % nos 30 min de avaliação, quanto

    da dexametasona (glicocorticóide) que apresentou inibição na fase mais tardia da hipersensibilização (2 h de avaliação), com

    inibição de 21,4 ± 7,2 %. Cabe ressaltar que a hipersensibilidade mecânica não foi alterada quando antagonista do receptor

    TRPA1(HC030031) e COX-1 (Indometacina). Diante dos resultados acima descritos, foram utilizados animais tratados com

    capsaicina 24-48h após o nascimento como protocolo de depleção de fibras C. Estes animais, quando injetados com o veneno,

    apresentaram redução significativa da hipersensibilidade mecânica quando comparados aos animais sem depleção. O veneno

    MLU_080074 foi capaz de aumentar os níveis de IL-1β e a atividade da enzima mieloperoxidade (migração de leucócitos) na

    pata e no nervo ciático, respectivamente. Entretanto nenhuma alteração foi evidenciada quanto aos níveis de TNF. Na avaliação

    dos efeitos gástricos do veneno MLU_080074, foi observada redução da acidez e volume de secreção gástrica, bem como

    aumento na quantidade de muco aderido em animais submetidos ao modelo de ligadura de Piloro. Os resultados em conjunto

    apontam forte influência do sistema histaminérgico, vaniloide e de eicosanoides na hipersensibilidade mecânica induzida pelo

    veneno da P. physalis, com primordial importância das fibras sensoriais do tipo C. estas vias também podem estar relacionadas

    com os efeitos gástricos encontrados, uma vez que o sistema histaminérgico e prostanoides estão diretamente relacionados com

    a secreção gástrica e alterações de pH. Apesar do forte envolvimento das vias neurogênicas da dor, o sistema inflamatório

    parece contribuir significativamente para este processo. Novos alvos ainda estão sendo investigados para melhor delinear o

    mecanismo pelo qual o veneno da P. physalis desencadeia hipersensibilidade mecânica nos animais, a fim de contribuir para

    um tratamento mais adequado de pessoas expostas a este veneno.

    Palavras-chave: Physalis physalis. Veneno. Hipersensibilidade.

  • 11

    CHARACTERIZATION OF THE RESPONSE INDUCED BY THE VENOM

    MLU_080047 CARAVELA ISOLATE Physalia physalis

    Mariana Ferreira dos Anjos

    May, 2017

    Supervisor: Nara Lins Meira Quintão, PhD

    Area of Concentration: Natural Products and Synthetic Bioactive Substances

    Number of pages: 61

    Poisoning by marine animals, such as jellyfish, is increasingly reported on the Brazilian coast. This group of animals has

    powerful defence cells called nematocysts, the structure responsible for the injection of venom. Once this venom comes into

    contact with humans, different reactions occur, ranging from moderate to potentially fatal. The most common reactions include

    local pain and burning, nausea and malaise, but due to the difficulties in treating these occurrences, they often end up becoming

    medical emergencies. This work investigates the ability of the caravel venom Physalia physalis (MLU_080047) to induce

    hypersensitivity, and the possible signalling pathways involved, as well as the gastric effects produced after contact with it.

    Initially, intraplantar (i.pl.) injection of the venom (0.1 ng/paw) caused mechanical hypersensitivity, with a response increase

    of 144.0 ± 31.0% between 30 min and 2 h after injection. The animals presented a reduction in thermal threshold of 23.9 ±

    6.2% in relation to the group injected with PBS. However, the venom did not produce a significant edematogenic response at

    the same doses used to assess hypersensitivity. The mechanical hypersensitivity induced by the venom was significantly

    attenuated by pyrilamine (H1 receptor antagonist) by 31.0 ± 3.9%, with a more pronounced effect in the 30 min following

    injection of the poison. SB36679 (a TRPV1 receptor antagonist) also inhibited the animals' response by 74.4 ± 12.5% between

    1 h and 2 h after venom injection. The B1 receptor antagonist for kinins (Des-Arg9-Leu8-BK) and HOE 140 (B2 receptor

    antagonist) also showed inhibition of 43.7 ± 15.7% over the control group in the time interval from 1 to 3 h after injection of

    the venom. The role of the inflammatory system, particularly the prostanoid pathway, was evidenced by administration of both

    meloxicam (selective COX-2 inhibitor), which showed inhibition of 36.0 ± 8.7% in the 30 min evaluation, and dexamethasone

    (glucocorticoid), which showed inhibition in the later phase of hypersensitization (2 h evaluation), with inhibition of 21.4 ±

    7.2%. It should be noted that mechanical hypersensitivity was not altered when antagonizing the receptor TRPA1 (HC030031)

    and COX-1 (Indomethacin). Based on these results, we used animals treated with capsaicin 24-48h after birth as a C fiber

    depletion protocol. These animals, when injected with the venom, showed a significant reduction in mechanical hypersensitivity

    when compared to animals without depletion. The MLU_080074 venom was able to increase IL-1β levels and myeloperoxidase

    activity (leukocyte migration) in the paw and sciatic nerve, respectively. However, no change was seen in TNF levels. In the

    evaluation of the gastric effects of the venom MLU_080074, a reduction in the acidity and volume of gastric secretion was

    observed, as well as an increase in the amount of adhered mucus in animals submitted to the Pylorus ligature model. Taken

    together, the results show a strong influence of the histaminergic, vanilloid and eicosanoid systems on mechanical

    hypersensitivity induced by the venom P. physalis, with primordial importance of type C sensory fibres. These pathways may

    also be related to the gastric effects found, as the histaminergic system and prostanoids are directly related to gastric secretion

    and pH changes. Despite the strong involvement of neurogenic pain pathways, the inflammatory system seems to contribute

    significantly to this process. New targets are still being investigated to better delineate the mechanism by which P. physalis

    venom triggers mechanical hypersensitivity in animals, in order to contribute to a more appropriate treatment of people exposed to this venom.

    Keywords: Physalis physalis. Venom. Hypersensitivity.

  • 12

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Incidência dos acidentes com águas vivas e caravelas no estado de Santa Catarina........ 13

    Figura 2 Espécie de cnidários de maior importância médica.......................................................... 16

    Figura 3 Partes anatômicas que compõe a caravela P. physalis..................................................... 17

    Figura 4 Transmissão nervosa da dor............................................................................................. 19

    Figura 5 Terminações cutâneas das fibras nervosas....................................................................... 20

    Figura 6 Mediadores envolvidos na sensibilização periférica........................................................ 21

    Figura 7 Canais TRP, seus diferentes subtipos e ativadores........................................................... 22

    Figura 8 Número de publicações indexadas no Pubmed utilizando os descritores “toxin/venom

    and pain” .........................................................................................................................

    23

    Figura 9 Hipersensibilidade mecânica induzida pelo veneno MLU_080047................................. 30

    Figura 10 Limiar mecânico de retirada da pata................................................................................. 31

    Figura 11 Limiar térmico de retirada da pata.................................................................................... 32

    Figura 12 Resposta edematogênica do veneno MLU_080047......................................................... 33

    Figura 13 Envolvimento do receptor de histamina do tipo H1......................................................................................... 34

    Figura 14 Envolvimento do receptor TRPV1................................................................................... 34

    Figura 15 Envolvimento do receptor TRPA1................................................................................... 35

    Figura 16 Envolvimento da COX-1.................................................................................................. 35

    Figura 17 Envolvimento da COX-2.................................................................................................. 36

    Figura 18 Envolvimento da via dos glicocorticoides........................................................................ 36

    Figura 19 Envolvimento do receptor B1 para cininas........................................................................ 37

    Figura 20 Envolvimento do receptor B2 para cininas....................................................................... 37

    Figura 21 Participação das fibras aferentes do tipo C....................................................................... 38

    Figura 22 Efeito sobre a migração de leucócitos.............................................................................. 39

    Figura 23 Efeito sobre os níveis de IL-1β na pata de camundongos................................................ 39

    Figura 24 Efeito sobre os níveis de TNF.......................................................................................... 40

    Figura 25 Sinalização intracelular dos receptores de histamina do tipo 1........................................ 44

    Figura 26 Envolvimento de TRPV1 e TRPA1 na sensibilização periférica..................................... 45

    Figura 27 Fármacos inibidores das cicloxigenases e sua participação em processos biológicos..... 46

    Figura 28 Sistema calicreína/cininas................................................................................................. 47

    Figura 29 Vias de sinalização participantes da sensibilização induzida pela P. physalis.................

    50

  • 13

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AC - Adenilato Ciclase

    AMPc - Monofosfato Cíclico de Adenosina

    ANOVA - Análise de Variância

    ATP - Trifosfato de Adenosina

    ASICs - Canais iônicos sensíveis a ácido

    AUC - area under curve (área sob a curva)

    BjV – Veneno da Bothrops jararaca

    BK – Bradicinina

    CEUA – Comite de ética para o uso de animais

    CGRP - Peptídeo Relacionado ao Gene da Calcitonina

    COX1 - Ciclooxigenase 1

    COX2 - Ciclooxigenase 2

    DAG - Diacilglicerol

    DRG - Gânglio da Raiz Dorsal

    EPM - Erro Padrão da Média

    VFH - Filamento de Von Frey

    GABA - Ácido -aminobutírico

    i.p. - Intraperitoneal

    i.pl. - Intraplantar

    IASP - Associação Internacional Para o Estudo da Dor

    IL-1β - Interleucina-1β

    IL-8 - Interleucina-8

    iNOS - Óxido Nítrico Sintase Induzida

    IP3 – Trifosfato de inositol

    MPO - Mieloperoxidade

    NF-b - Fator Nuclear κB

    NGF - Fator de Crescimento Neural

    NMDA - N-metil de Aspartato

    PAF – Fator de Ativação Plaquetária

    PBS - Salina Tamponada com Fosfato

    PG - Prostaglandina

    PGE2 - Prostaglandina E2

    PIP2 - Fosfatidilinositol

    PKA - Proteína Quinase A

    PKC - Proteína Quinase C

    RNAm – RNA mensageiro

    Rpm – Rotações por minuto

    SNC - Sistema Nervoso Central

    SNP - Sistema Nervoso Periférico

    SP - Substância P

    TNF - Fator de Necrose Tumoral

    TRK - Receptor de Tirosina Quinase

    TRK-A - Receptor de Tirosina Quinase A

    TRP - Receptor de Potencial Transitório

    TRPV1 - Receptor de Potencial Transitório Vanilóide Tipo 1

    TRPA1 - Receptor de Potencial Transitório Anquirina Tipo 1

    TRPM8 - Receptor de Potencial Transitório Melastatina Tipo 8

    TsTX - Tityustoxina

    TTX - Tetrodotoxina

  • 14

    TTxr - Tetrodotoxina Toxina Resistente

    v.o - Via Oral

  • 15

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12

    2 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 14

    2.1 Objetivo Geral. ........................................................................................................................ 14

    2.2 Objetivos Específicos. ............................................................................................................. 14

    3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 15

    3.1 Veneno e toxina ....................................................................................................................... 15

    3.2 Envenenamento ....................................................................................................................... 15

    3.3 Physalia physalis ...................................................................................................................... 17

    3.4 Dor ............................................................................................................................................ 18

    3.4.1 Dor por envenenamento………………..…………………………………………………….22

    3.5 Ação do veneno sob outros sistemas…………..…………………………………………….23

    4 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................... 25

    4.1 Animais .................................................................................................................................... 25

    4.2 Reagente ................................................................................................................................... 25

    4.3 Avaliação da nocicepção espontânea ..................................................................................... 25

    4.4 Avaliação do limiar mecânico ................................................................................................ 25

    4.5 Avaliação do limiar térmico ................................................................................................... 26

    4.6 Avaliação da resposta edematogênica ................................................................................... 26

    4.7 Análise dos mecanismos envolvidos na resposta nociceptiva .............................................. 26

    4.8 Envolvimento das fibras aferentes do tipo C ....................................................................... 26

    4.9 Ensaios bioquimicos ................................................................................................................ 27

    4.9.1 Medida da atividade da MPO……………………………………………………………......27

    4.9.2 Análise dos níveis de citocinas……………………………………………………………….27

    4.10 Avaliação da secreção gástrica ............................................................................................... 27

    4.11 Avaliação da secreção de muco em mucosa gástrica ............................................................ 28

    4.12 Análise estatística ..................................................................................................................... 28

    5 Resultados ................................................................................................................................ 29

    6 Discussão .................................................................................................................................. 42

    7 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 50

    REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 51

  • 32

  • 32

    1 INTRODUÇÃO

    O reino animal conta com um variado e complexo mecanismo de sobrevivência da espécie que é a

    existência dos venenos e toxinas presentes no seu corpo e que são liberados na presa ou predador. Esse mecanismo

    se transforma em uma fonte de substâncias e moléculas inéditas, haja vista o rápido estabelecimento de sintomas

    durante um envenenamento. Na última década, inúmeros pesquisadores têm estudado venenos e toxinas

    provenientes de espécies do reino animal, incluindo moluscos, insetos, aracnídeos, cnidário, répteis, etc., tanto no

    intuito de investigar os eventos que participam do processo de intoxicação quanto para buscar novas ferramentas

    farmacológicas, tais como inibidores, moduladores seletivos de canais iônicos e receptores (BRIGATTE et al.,

    2010; DE SOUZA et al., 2011; 2012; LEWIS et al., 2012; TEIXEIRA et al., 2009; WANG et al., 2011). Em ambos

    os casos, a alta seletividade da toxina faz destas moléculas ferramentas extraordinárias para o estudo das reações

    celulares desencadeadas pelas mesmas, contribuindo também para decifrar as vias de sinalização mediadas por

    determinados alvos celulares (IBANEZ-TALLON; NITABACH, 2012).

    Acidentes com envenenamento de animais marinhos, como os cnidários, podem levar a prejuízos à saúde

    e também ao turismo local. Uma das espécies mais comumente encontrada no Brasil é a Physalia physalis (Classe

    Hidrozoa). A partir do contato com o animal, os sintomas mais comuns são dor imediata, não raras vezes de forte

    intensidade, com sensação de ardência, manchas avermelhadas na pele, e em alguns casos, náuseas, vômitos,

    hipotensão, cefaleia e angústia respiratória (HADDAD JUNIOR; SILVEIRA; MIGOTTO, 2010).

    De acordo com Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT – UFSC) o número de

    acidentes com águas-vivas e caravelas ocorridos no Sul e Sudeste do Brasil vem aumentando significativamente.

    Possivelmente, isto tenha como causa as alterações climáticas, onde em águas quentes os animais se agrupam para

    reprodução e através de correntes frias são deslocados para as demais regiões do país, além da diminuição do

    número de predadores dessas espécies, como a tartaruga marinha (http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-

    vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-

    santa-catarina-9418212.html; Figura 1).

    Todo o litoral de Santa Catarina apresenta ocorrência de águas-vivas. No verão de 2016, em 3 meses, foram

    registrados quase 20 mil casos de acidentes pelos cnidários nas praias catarinenses. Somente no Sul do Estado, houve

    registro de 3,5 mil casos em uma semana. Já no verão de 2017, antes de terminar a temporada, houve registro de 77 mil

    casos de acidentes com animais marinhos (http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/02/santa-catarina-

    registra-77-mil-lesoes-por-aguas-vivas-desde-outubro-9726746.html).

    De acordo com o Centro de biologia marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar, 2015), outro fator

    que faz aumentar a quantidade de acidentes envolvendo águas-vivas é a composição corporal do invertebrado. A

    espécie é formada por mais de 95% de água, o que a torna praticamente invisível no mar. Nesse cenário, os

    cnidários se tornam grande perigo para as crianças, apresentando maior importância médica e urgência de medidas.

    Os primeiros estudos com o veneno da P. physalis mostrou que ele foi capaz de induzir rápida

    degranulação com liberação de histamina seguida da lise celular (CORMIER, 1984). Também apresentou efeito

    vasodilatador do veneno deste cnidário em vasos da musculatura esquelética de cães (LOREDO; GONZALEZ;

    HESSINGER, 1985). A Physaliotoxina, a mais conhecida toxina do veneno, é uma poderosa hemolisina, esses

    efeitos fisiológicos justificam a geração dos sintomas existentes no envenenamento.

    http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.htmlhttp://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.htmlhttp://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.html

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    Figura 1: Incidência dos acidentes com águas vivas e caravelas no estado de Santa Catarina.

    Fonte - http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-

    aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.html

    Apesar dos relatos com acidentes apresentarem sintomas de curta duração, a ausência de tratamento

    específico, bem como a desinformação sobre as principais medidas a serem tomadas, culminam no agravamento

    dos sintomas do envenenamento.

    Existem inúmeros estudos que caracterizam os venenos e toxinas de muitos animais venenosos como

    caramujos, escorpiões, cobras e aranhas, mas, por comparação, poucos deles evidenciam os venenos e toxinas dos

    cnidários. A identificação de peptídeos tóxicos em cnidários é limitada a um pequeno número de toxinas,

    principalmente de anêmonas do mar. A exemplo de outros estudos já realizados com toxinas animais, tais como,

    veneno da Apis mellífera, Phoneutria nigrieventer, Bothrops asper, Conus sp, etc, a caracterização dos eventos

    moleculares desencadeados pelo contato com o veneno MLU_080047 da P. physalis pode contribuir para a

    descoberta de uma nova ferramenta farmacológica.

    http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.htmlhttp://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/01/confira-as-cinco-hipoteses-que-explicam-o-aumento-da-incidencia-de-aguas-vivas-em-santa-catarina-9418212.html

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    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral:

    Caracterizar a resposta sensorial, inflamatória e gástrica induzida pela injeção do

    veneno MLU_080047 isolado da caravela Physalia physalis em roedores.

    2.2 Objetivos Específicos:

    Traçar o perfil da resposta sensorial e edematogênica induzidas pela injeção

    intraplantar do veneno isolado da P. physalis;

    Investigar os mecanismos moleculares e as vias de sinalização envolvidos na

    hipersensibilidade mecânica induzida pelo veneno isolado da P. Physalis em

    camundongos através da utilização de antagonistas e inibidores de vias específicas;

    Verificar a produção de citocinas e migração celular em animais submetidos a

    injeção i.pl. do veneno da P. Physalis;

    Avaliar a produção de muco e secreção de ácido gástrico de animais submetidos

    ao contato com o veneno da P. physalis através do modelo de ligadura de piloro em

    camundongos.

  • 15

    3 REVISÃO DA LITERATURA

    3.1 Veneno e toxina

    A produção de veneno, por diversas espécies de animais, ocorre tanto para garantir a caça da presa quanto

    para defesa contra predadores. A sua produção ocorre em glândulas especializadas, pertencente a um conjunto de

    animais venenosos que incluem anelídeos, cnidários, equinodermos, moluscos, vertebrados e artrópodes

    (BOHLEN; JULIUS, 2012). A sua inoculação está associada a uma estrutura corporal especializada na inoculação,

    para facilitar o fornecimento de venenos, incluindo farpas, bicos, presas ou dentes modificados, arpões,

    nematocistos, tenazes, probóscide, espinhos, sprays, esporas e picadas (CASEWELL et al., 2013).

    O veneno é uma complexa mistura de toxinas – compostos principalmente por proteínas que exibem

    atividade enzimática, mas também por aminas, lipídios e outros componentes – que interrompem os efeitos

    fisiológicos normais da presa (FRY et al., 2007). A composição do veneno reflete sua função. Os venenos

    defensivos, como os de peixes ou abelhas, são altamente conservados e específicos, produzindo como resposta

    imediata dor intensa e localizada. Por outro lado, os venenos predatórios são mais frequentemente variáveis em

    composição e efeitos.

    Entretanto o componente peptídico dos venenos desperta maior interesse como ferramentas biológicas e

    potenciais terapias. Cada porção especifica do veneno chama-se toxina - moléculas altamente ativas que agem em

    vários receptores celulares. A provável função ancestral dos venenos é a atividade enzimática envolvida na

    digestão de presas; no entanto, em alguns animais, as glândulas de veneno evoluíram para produzir potentes toxinas

    (THAN; KHAN; BRUSIC, 2003). Até hoje, aproximadamente 200 toxinas foram identificadas a partir de cnidários

    (A. TRIM; TRIM, 2013).

    Os venenos e toxinas exibem uma riqueza de propriedades farmacológicas através da interação com uma

    gama de alvos, tais como receptores celulares, receptores de membranas e canais iônicos. Possuem diversas

    funções, como caracterização de vários canais de íons, desenvolvimento de vacinas e antídotos, agentes

    terapêuticos e até na formulação de inseticidas.

    3.2 Envenenamento por cnidários

    O envenenamento ou intoxicação por veneno animal é um importante problema de saúde e principalmente

    registrado nos trópicos do planeta. Os animais se aproximam do litoral, e o aumento da interação com o homem

    pode provocar um correspondente aumento no número de acidentes (KITATANI et al., 2015).

    A cada ano, milhares de lesões causadas por caravelas e águas-vivas são relatadas. Os cnidários estão

    entre os organismos mais venenosos e peçonhentos que se conhecem, e seu arsenal químico vem despertando

    interesse farmacológico (BADRÉ, 2014; BALHARA; STOLBACH, 2014). Os sinais e sintomas de

    envenenamento por cnidários estão relacionados à ação tóxica imediata do veneno e a reação alérgica

    individual. Eles variam de dor simples, leve, localizada com eritema e erupção papulovesicular, a dor intensa, ao

    choque grave e morte (HADDAD JUNIOR et al., 2013). Os efeitos locais (eritema, edema e dor), apresentam

    menos de 20 cm de marcas de pele, são de aparência geralmente oval ou redonda e caracterizam impressões de

    pequenos tentáculos. Já as vítimas que apresentam marcas longas, maiores de 20 cm, com impressões lineares e

    cruzadas mais facilmente apresentam fenômenos sistêmicos, como mal-estar, náuseas, vômito, dispneia,

    taquicardia, hipotensão arterial, convulsões, arritmias cardíacas, insuficiência respiratória e, em alguns casos, a

    morte (HADDAD JUNIOR; SILVEIRA; MIGOTTO, 2010; MOLEIRO, 2013).

    Ressalta-se que os acidentes com cnidários não são queimaduras, embora o aspecto exterior lembre

    queimaduras solares ou por água quente, as lesões são provocadas por toxinas do veneno desses animais, que

    agridem a epiderme e formam desde linhas avermelhadas e dolorosas até bolhas ou mesmo feridas na pele. Na

    maioria dos casos, imediatamente há o aparecimento de dor, edema local e prurido concomitantes (MOLEIRO,

  • 16

    2013). Mas é a manifestação dolorosa a mais comum nos acidentes mais simples até os que desenvolvem choque

    anafilático.

    Neves et al (2007) relataram através de um questionário realizado em hospitais de Pernambuco, com

    vítimas de acidente com animais marinhos que a ardência foi o sintoma mais referido (24%), seguido pela dor

    (14%), alergia (9%) e queimaduras (7%). Outros sintomas citados foram bolhas, edema, manchas na pele,

    problemas respiratórios e vermelhidão com 5% cada um; enquanto asfixia, desmaios, eritema, perda de

    consciência, pressão baixa e tontura obtiveram 3% cada um.

    A gravidade da reação depende de variáveis da eficácia da toxina e da proporção do envenenamento,

    incluindo o número e tipo de nematocistos ativados, o poder de penetração da agulha de nematocistos, a toxicidade

    da espécie envolvida, tamanho molecular do veneno, resposta antigênica particular da vítima, área de superfície

    da pele, localização de lesões corporais e peso corporal das vítimas (MONTGOMERY; SEYS; MEES, 2016;

    NOMURA et al., 2002).

    As ocorrências de águas vivas e caravelas são comuns nas regiões Norte e Nordeste. Entretanto, a

    ocorrência de um número grande de acidentes nos estados do Sul e Sudeste tem chamado à atenção. Possivelmente

    isto tenha como causas as alterações climáticas, onde em águas quentes eles se agrupam para reprodução, e através

    de correntes frias são deslocados para as demais regiões do país. A sobrepesca, o processo de eutrofização e

    alteração do habitat também podem ser pontuados como causas possíveis (MONTGOMERY; SEYS; MEES,

    2016). De acordo com o Corpo de Bombeiro do Município de Florianópolis, somente no verão de 2015, o número

    de relato de acidentes por animais marinhos aumentou 2000% em Santa Catarina. No verão de 2017 houve

    aumento de 100% do número de registros de acidentes em relação ao ano anterior.

    O contato do veneno do cnidário com humanos - composto de substâncias tóxicas a partir de uma mistura

    de vários polipeptídeos como fosfolipases A e B, enzimas proteolíticas e lipídios neutros - pode produzir efeitos

    necrótico, neurotóxico (dor) e cardiotóxicos (NEVES, AMARAL; STEINER, 2007; RIVITTI, 2014).

    O Brasil possui diversas espécies de cnidários. Alguns apresentam importância médica, como as

    caravelas, pertencentes à espécie P. physalis, da classe Hidrozoa (Figura 2C), que podem causar acidentes graves.

    As cubomedusas, da classe Cubozoa, são frequentemente associadas a acidentes fatais como mostra figura 2 A e

    B (OLIVEIRA; PIRES-JUNIOR, 2011).

    Figura 2: Espécies de cnidários de maior importância médica. (A) Chiropsalmus quadrumanus e (B) Tamoya haplonema da

    classe cubozoa e (C) P. physalis da classe hidrozoa.

    A Fonte: Álvaro Migotto / Banco de imagens de biologia marinha, CeBiMar. http://cifonauta.cebimar.usp.br/taxon/chiropsalmus-

    quadrumanus/.

    A B C

    http://cifonauta.cebimar.usp.br/taxon/chiropsalmus-quadrumanus/http://cifonauta.cebimar.usp.br/taxon/chiropsalmus-quadrumanus/http://cifonauta.cebimar.usp.br/taxon/chiropsalmus-quadrumanus/

  • 17

    3.3 P. physalis

    Bem conhecida por banhistas, a espécie de caravela P. physalis, pertencente ao filo Cnidario, classe

    Hydrozoa, é considerada uma colônia de pólipos. Cada ser desta colonia desempenha uma função, que pode ser

    na flutuação, captura de alimentos, defesa, reprodução e movimentação do organismo. É normalmente encontrada

    nas águas quentes do Oceano Atlântico, e considerada a mais perigosa devido ao seu tamanho e por ser responsável

    por muitas mortes relacionadas aos animais marinhos (FERNANDEZ et al., 2011).

    Chamada também de Caravela Portuguesa ou “Portuguese Man-of-War”, a P. physalis é composta por

    uma bolsa azul de ar, flutuante na superfície da água que mede 2-25 cm de comprimento e possui vários tentáculos

    subaquáticos que podem medir até 30 m de comprimento. A espécie se alimenta de lulas e peixes (adultos e larvas),

    e a forte infestação desta espécie pode trazer como consequência a diminuição da pesca (BARDI; MARQUES,

    2007).

    As colônias de P. physalis são dioicas, pois possuem fertilização externa e gametas gerados na água

    (PUGH, 1999). A plânula é formada após a gastrulação, como na maioria dos cnidários (CARRÉ & CARRÉ,

    1994). Tentáculos são longos, portando numerosos nematocistos (CORMIER & HESSINGER, 1981), usados para

    a defesa e captura de presas. A espécie possui múltiplos tentáculos, que são capazes de descarregar milhares de

    organelas intracelulares, os cnidoblastos, cheios de veneno que são usados principalmente para capturar presas ou

    para sua defesa (Figura 3). A descarga do cnidoblasto depende de estímulos mecânicos e químicos e ocorre à alta

    pressão através de um dispositivo semelhante a um canivete, capaz de injetar microgotas de veneno dentro da presa

    ou do predador (QUEIROZ; CALDAS, 2011). O veneno é libertado da cápsula após estimulação dentro de uma

    fração de segundo (700 ns), no que se pensa ser um dos mecanismos mais rápidos presente na natureza

    (MONTGOMERY; SEYS; MEES, 2016).

    Figura 3: Partes anatômicas que compõe a caravela P. physalis.

    Nota: Em destaque, a estrutura de inoculação do veneno, os nematocistos, funcionando como microagulhas descarregadas na

    penetração da presa ou predador. O pneumatóforo é a estrutura flutuante para a colônia. Os gastrozoóides são os responsáveis

    pela alimentação da colônia, já os dactilozoóides são as estruturas nas quais os tentáculos se fixam e os gonozoóides que são

    as estruturas reprodutivas. Fonte: Imagem adaptada de Smarter Every Day

    (https://www.youtube.com/watch?v=7WJCnC5ebf4&t=54s).

    https://www.youtube.com/watch?v=7WJCnC5ebf4&t=54s

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    O principal componente proteináceo do veneno é a physaliotoxina, uma hemolisina (TAMKUN;

    HESSINGER, 1981) com 240 kDa. Glicoforinas, glicoproteínas de membranas de eritrócitos de ratos, cães,

    ovelhas e humanos, parecem ser os alvos nos quais a toxina se ligaria para causar o efeito hemolítico do veneno

    da P. Physalis (MARIOTTINI, 2014).

    Os primeiros estudos demonstraram que a exposição de mastócitos ao veneno da P. physalis foi capaz de

    induzir rápida degranulação com liberação de histamina seguida da lise celular (CORMIER, 1984). Em seguida,

    Loredo, Gonzalez e Hessinger (1985) publicaram dados acerca do efeito vasodilatador do veneno deste cnidário

    em vasos da musculatura esquelética de cães. Este efeito pareceu ser independente da ação de receptores

    muscarínicos ou adrenérgicos. Entretanto, os autores sugeriram que a ação do veneno estaria sendo mediada

    principalmente pela estimulação da síntese de prostaglandinas, uma vez que o inibidor da enzima ciclo-oxigenase

    foi capaz de inibir completamente o efeito vasorelaxante (LOREDO; GONZALEZ; HESSINGER, 1985).

    Mas et al. (1989) avaliaram o efeito da toxina P3 de alto peso molecular, extraída da P. physalis, sobre o

    potencial de ação evocado pelo glutamato em neurônios de lesmas e junções neuromusculares de lagostim. A

    toxina foi capaz de bloquear reversivelmente o potencial de ação induzido pelo glutamato de modo dependente da

    dose. Edwards e colaboradores (2000) evidenciaram ainda que o veneno da P. physalis foi capaz de aumentar o

    influxo de Ca2+ intracelular em cultura de células cardíacas de embrião de galinha. Esta ação foi dependente da

    dose, porém, inalterada frente à exposição aos bloqueadores clássicos de canal de Ca2+ (diltiazem, verapamil,

    nifedipina, nimodipina e mibefradil). Essas alterações foram evidenciadas também para o influxo de Na2+ e efluxo

    de K+.

    3.4 Dor

    A dor é um sintoma comum na prática clínica e seu manejo ainda é um desafio para a equipe de saúde.

    Entre os principais tratamentos farmacológicos estão os analgésicos opioides e não opioides, que muitas vezes não

    apresentam a eficácia esperada. Além disso, os efeitos adversos e diferenças na variabilidade interindividual

    podem determinar o insucesso terapêutico (SONYA TING; STEPHAN SCHUG, 2016). Portanto, é preciso que

    novos alvos celulares sejam investigados a fim de proporcionar alívio desse sintoma e melhora na qualidade de

    vida dos pacientes. Neste cenário, vários estudos são desenvolvidos, tanto para aperfeiçoar os medicamentos

    analgésicos já existentes, quanto para descobrir novos agentes terapêuticos.

    Classificada como uma experiência sensorial comum a todos os seres, a dor foi, durante muito tempo,

    considerada como uma reação a um estímulo nociceptivo, funcionando apenas como um mecanismo de proteção

    do organismo. Hoje em dia sabe-se que a dor é muito mais complexa do que um sistema de ação e reação. Ela é

    reconhecida mais como uma experiência do que como uma sensação (BERNACCHIO; CONTIN; MORI, 2005).

    Conforme recente definição da Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP), a dor é uma experiência

    angustiante associada a uma lesão real ou potencial dos tecidos com componentes sensoriais, emocionais,

    cognitivas e sociais (WILLIAMS e CRAIG, 2016).

    O sistema nervoso detecta e interpreta uma gama de estímulos térmicos e mecânicos, bem como irritantes

    químicos ambientais e endógenos (Figura 4). Muitos estímulos provocam dor e agem como marcadores da

    integridade do indivíduo. A dor alerta da existência de lesões reais ou potenciais ao organismo. Os receptores

    responsáveis por perceberem estímulos potencialmente nocivos, ficam susceptíveis no cenário do envenenamento

    (BASBAUM et al., 2009).

  • 19

    Figura 4: Transmissão nervosa da dor.

    Nota: Transmissão dos impulsos originados nos nociceptores e conduzidos até o corno dorsal da medula espinhal (processo de

    transmissão). Os impulsos são projetados para as vias superiores ou suprimidos (processo de modulação), podendo chegar a

    centros superiores do sistema nervoso para a integração, processamento e reconhecimento dos estímulos sensoriais (percepção).

    Fonte: Adaptada de Oaklander (2011) http://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp medicine/5249/dor_cronica_%E2%80%93_anne_louise_oaklander.htm.

    A dor fisiológica se manifesta como resposta protetora desencadeada para o conhecimento dos estímulos

    lesivos e para a memorização contra os futuros perigos que o organismo estará exposto (BASBAUM et al., 2009).

    Diferentes sensações mecânicas, térmicas e químicas são transformadas em impulsos elétricos por

    terminações nervosas livres chamadas nociceptores. Os nociceptores são uma subpopulação de fibras nervosas

    periféricas (BASBAUM; JESSELL, 2000), que quando excitados por um estímulo que atinge uma faixa nociva de

    intensidade, desencadeiam uma atividade elétrica sequencial.

    Algumas fibras aferentes primárias nociceptivas são especificamente sensíveis a estímulos nocivos,

    enquanto outras respondem a estímulos inócuos também. As aferências nociceptivas são de diâmetro pequeno e

    de condução lenta (fibras aferentes do tipo Aδ e C). O fenômeno da nocicepção envolve os processos de

    transdução, onde os estímulos nocivos são transformados em atividade elétrica. O aumento da sensibilidade à dor

    pode ser refletido como uma resposta perceptiva exagerada a estímulos nocivos (hiperalgesia), como resposta à

    dor a um estímulo (por exemplo, tátil) que é habitualmente inócuo (alodínia) ou ainda como dor referida através

    do envolvimento de terminações aferentes adjacentes à área da lesão inicial (BASBAUM et al., 2009).

    As informações provenientes da periferia chegam aos corpos celulares dos nociceptores, localizados

    nos gânglios da raiz dorsal (DRG; processo de transmissão da dor, onde a informação codificada é levada da

    medula espinhal às áreas do cérebro). O processo de modulação segue a fase de transmissão, e os sinais neurais

    são processados, analisados e uma resposta é então elaborada (BRIDGESTOCK; RAE, 2013). Quando intensos,

    esses estímulos geram a dor aguda. Quando se tornam frequentes, os danos tornam-se persistentes (VON HEHN;

    BARON; WOOLF, 2012).

    http://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp

  • 20

    Vários mediadores químicos estão envolvidos na sensibilização periférica através da interação com

    canais iônicos ou receptores de membrana nas terminações aferentes nociceptivas (BASBAUM et al., 2009).

    Alguns destes canais iónicos e receptores de membrana são ativados por estímulos mecânicos e térmicos nocivos.

    A ativação do nociceptor por estímulo mecânico é dependente do sistema somatossensorial e são

    categorizados conforme o limiar de ativação gerado por esse estímulo. Mecanoceptores presentes nas fibras C e

    Aδ, terminações nervosas livres da pele, possuem limiar alto de ativação, sensível a insultos mecânicos nocivos.

    Os mecanoceptores de baixo limiar incluem as fibras Aβ e detectam toque leve. As fibras que inervam células de

    Merkel, corpúsculos Pacinni e folículos pilosos detectam textura, vibração e leve pressão (GUYTON; HALL,

    2011; Figura 5)

    Figura 5: Terminações cutâneas das fibras nervosas.

    Fonte: Adaptado de Michelle Duarte (2011). https://www.todamateria.com.br/pele-humana/.

    A nocicepção química é o processo pelo qual os neurônios aferentes primários detectam componentes

    irritantes e fatores endógenos produzidos pelo estresse fisiológico, principalmente no contexto da dor aguda. Esses

    fatores podem agir sozinhos ou em combinação para sensibilizar nociceptores sensíveis a estímulos térmicos e/ou

    mecânicos, reduzindo assim os limiares da dor. O resultado desta ação é o reforço da proteção tecidual após as

    lesões (GUYTON; HALL,2011).

    Tanto componentes periféricos quanto do sistema nervoso central apresentam plasticidade de

    transmissão, reforçando os sinais de dor e produzindo hipersensibilidade. Se a plasticidade facilita reflexos

    protetores, a dor pode ser benéfica, desempenhando função protetora ou adaptativa mas, quando o processo se

    estende, uma condição de dor crônica pode resultar e o sintoma doloroso passa a ser a própria doença

    (SCHESTATSKY, 2008; SCHOLZ; WOOLF, 2007). Após a lesão tecidual, há uma cascata de eventos envolvendo

    aferentes sensoriais primários, eferentes simpáticos, leucócitos e plaquetas que induz sensibilização periférica. Há

    também a liberação de endotelina, prostaglandina E2, leucotrienos, bradicinina, citocinas, serotonina e adrenalina

    que aumentam a excitabilidade. Juntamente com as substancias liberadas por mastócitos, macrófagos e os

    neutrófilos, esse cenário inflamatório resulta no aumento da eficácia do fenômeno da transdução, na uma redução

    do limiar de ativação dos canais iônicos e uma resposta aumentada após a ativação desse canal (BRIDGESTOCK;

    RAE, 2013).

    Os Canais de Na+ voltagem-dependentes são expressos em neurônios somatossensoriais. Classificados

    como canais sensíveis a Tetrodotoxina (TTX) (Nav1.1, 1.6 e 1.7) e canais não-sensíveis a TTX (Nav1.8 e 1.9),

    quando alterados levam a uma variedade de distúrbios de dor em humanos (COX et al., 2006; DIB-HAJJ et al.,

    2008). A família de Canais de Ca2+ voltagem dependentes estão expressos em nociceptores. Os canais de tipo P/Q

    são expressos nas lâminas II-IV do corno dorsal e os canais do tipo N e T são também expressos por fibras C.

    Na sensibilização periférica, o acúmulo de fatores endógenos liberados, incluindo mastócitos,

    basófilos, plaquetas, macrófagos, neutrófilos, células endoteliais, queratinócitos e fibroblastos, compreendem uma

    https://www.todamateria.com.br/pele-humana/

  • 21

    matriz de moléculas sinalizadoras, incluindo neurotransmissores, peptídeos (substância P, CGRP, bradicinina),

    eicosinoides e lípidos relacionados (prostaglandinas, tromboxanos, leucotrienos, endocanabinóides),

    neurotrofinas, citocinas e quimiocinas. Todos esses componentes aumentam a excitabilidade da fibra nervosa,

    levando ao aumento na sensibilidade à temperatura ou ao toque. A liberação das citocinas, entre elas IL-1β e IL-

    6, e o fator de necrose tumoral (TNF) contribuem para a hipersensibilidade e resulta na potencialização da resposta

    inflamatória (BASBAUM et al., 2009). Estas vias estão exemplificadas na figura 6.

    Figura 6: Mediadores envolvidos na sensibilização periférica.

    Nota: Liberação de mediadores químicos provenientes de macrófagos, mastócitos, células imunes e das próprias células

    lesionadas que atuam sobre canais iónicos ou receptores de membrana em terminações nervosas aferentes nociceptivas

    periféricas. Alguns mediadores podem aumentar a excitabilidade das terminações aferentes nociceptivas e outros podem

    exercer efeitos inibitórios. ASIC, canal iônico sensível a ácido; canal de potássio; 5-HT, serotonina; IGluR, receptor de

    glutamato ionotrópico; IL-1β, interleucina-1-beta; IL-6, interleucina-6; Μ, receptor mu-opióide; M2, receptor muscarínico;

    MGluR, receptor metabotropico de glutamato; NGF, fator de crescimento neural; PAF, fator de ativação plaquetária; PGE2,

    prostaglandina E2; PKA, proteína quinase A; PKC, proteína quinase C; TNF, fator de necrose tumoral; TrkA, receptor A de

    tirosina quinase; TRPV1, receptor de potencial transitório vaniloide 1; TTXr, canal de sódio resistente à TTX. Fonte: Adaptado

    de Meyer et al., 2006.

    Nesse cenário os canais TRP possuem papel fundamental. São receptores conhecidos por serem

    seletivamente ativados por substâncias irritantes derivadas de plantas, incluindo capsaicina (TRPV1), mentol

    (TRPM8), óleo de mostarda, alho e wasabi (TRPA1) (Figura 7). Ademais, estes mesmos receptores podem ser

    ativados por estímulos térmicos em determinadas faixas de temperatura. Os receptores de potencial transitório

    (TRPs) são canais de cátions não seletivos, permeáveis ao Ca2+ e participam nos complexos mecanismos de quase

    todas as respostas sensoriais. Compreendem uma superfamília complexa e multifuncional. Nos mamíferos, são

    compostos por seis subfamílias conhecidas como canais iônicos TRPC (canônica), TRPV (vaniloide), TRPM

    (melastatina), TRPML (mucolipina), TRPP (policistina) e TRPA (ANKTM1). Atualmente, muitos TRPs têm sido

    descrito em gânglios da raiz dorsal; TRPV1, TRPV2, TRPV3, TRPV4, TRPM8 e TRPA1 (PEREIRA, 2013).

  • 22

    Figura 7: Canais TRP, seus diferentes subtipos e ativadores.

    Canais TRP funcionando como termoceptores, estímulos de calor e frio ativando seus diferentes subtipos. Estimulantes

    naturais são indicados no lado de cada canal com sua fonte natural mais comum. Fonte: adaptado de Belvisi; Dubuis; Birrell,

    2011.

    Os receptores TRPV1, TRPM8 e TRPA1 são detectores moleculares de estímulos térmicos e químicos

    que ativam neurônios sensoriais para produzir dor aguda ou persistente (JULIUS; BASBAUM, 2001). Tem sido

    demonstrado que canais TRPA1 podem ser ativados pela bradicinina (BK), causando hipersensibilidade mecânica

    e térmica (POOLE et al., 1999). Estudos realizados por Bandell et al. (2004) mostraram que o canal TRPA1 está

    acoplado à via de sinalização da BK, e que a fosfolipase C (PLC) é um importante componente para a ativação

    deste canal. Estes autores mostraram que a BK estimula diretamente os neurônios nociceptivos do gânglio da raiz

    dorsal, e assim, causa hiperalgesia. Autores propõem que a ativação do TRPA1 pela BK ocorre através do aumento

    de cálcio intracelular mediado pela PLC e pelo influxo de cálcio através de TRPV1 (NASCIMENTO, 2014).

    3.4.1 Dor por envenenamento

    Os venenos podem ser compostos de catecolaminas, aminas vasoativas (histamina, serotonina), BK,

    colagenases, hialuronidases, proteases, fosfolipases, fibrinolisinas, dermoneurotoxinas, cardiotoxinas, miotoxinas,

    nefrotoxinas, neurotoxinas e antígenos (FRY et al., 2007). Estas substâncias podem interagir diretamente com as

    terminações nervosas sensoriais, como já mostrado na figura 5, desencadear a liberação de agentes pró-álgicos

    intracelulares, causar alterações no transporte de íons e ter ação cardiotóxica, neurotóxica, hepatotóxica e

    demonecrosante (HADDAD e BARREIROS,2007).

    Da mesma forma, de acordo com o Manual de Toxicologia clínica (2014), toxinas podem ter o efeito

    paralisante e anticoagulantes, e produzir dor por rigidez muscular ou choque hemorrágico, respectivamente. Com

    base nos eventos celulares e moleculares envolvidos, há liberação de células inflamatórias que agem na

    sensibilização dos nociceptores (QUEIRO; CALDAS, 2011).

    file:///C:/Users/mariza/Downloads/(adaptadofile:///C:/Users/mariza/Downloads/(adaptado

  • 23

    Por outro lado, efeitos vasculares também podem explicar muitos dos eventos envolvidos na resposta

    inflamatória e, por consequência, na nocicepção. A liberação de mediadores inflamatórios, além de estimular vias

    nociceptivas possuem efeitos diretos sobre vasos, causando aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação.

    Por exemplo, substâncias presentes no veneno da aranha-marrom (Loxosceles intermedia) causam vasodilatação

    e aumento da permeabilidade vascular (RATTMANN et al., 2008), o que contribui para a resposta inflamatória

    existente no local da picada.

    A dor serve como um sistema de alerta primário fisiológico, permitindo que um organismo responda e

    reaja a estímulos potencialmente perigosos. Alguns venenos podem produzir uma hipersensibilidade sem provocar

    danos teciduais significativos, uma vez que estimulam diretamente os neurônios somatosensoriais (MEBS, 2002).

    Aos predadores, essas toxinas produtoras de dor desencadeiam uma desagradável e memorável experiência

    sensorial.

    Nos últimos anos, como mostra a figura 8, venenos e toxinas se revelaram como novas estratégias

    farmacológicas e de mecanismos bioquímicos para manipular receptores específicos e controlar a função celular.

    De 1990 a 2015, houve um aumento exponencial no número de publicação científicas abrangendo tanto o veneno

    e/ou toxina, e dor (A., TRIM; TRIM, 2013).

    Figura 8: Número de publicações indexadas no Pubmed utilizando os descritores “toxin/venom and pain”.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    110

    1947

    1950

    1960

    1970

    1980

    1990

    2000

    2010

    2016

    mero

    de p

    ub

    licaçõ

    es

    Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed

    As toxinas derivadas de veneno podem produzir dor a partir da ativação de vias nociceptivas, especificamente através da ativação do receptor TRPV1 ou canais de íons sensíveis a ácido (ASICs) ou ativar

    diretamente as terminações nervosas sensoriais no local de envenenamento, gerando potenciais de ação que

    propagam os sinais iniciados por elas para áreas de processamento da dor na medula espinhal e no cérebro

    (BASBAUM et al, 2009).

    As principais indicações dos entrevistados contra os sintomas dos acidentes (água do mar, 17% e vinagre,

    14%), estão de acordo com vários autores, que recomendam a utilização de água do mar gelada para lavar o local

    e a aplicação de ácido acético 5% (vinagre) para impedir a descarga dos nematocistos a maioria dos acidentes é

    controlada por analgesia obtida pelo uso de uma ampola de dipirona por via intramuscular e compressa de água

    do mar gelada ou cubos de gelo recobertos aplicados na pele (HADDAD JR., 2000).

    3.5 Ação do veneno sobre outros sistemas

    Apesar das atenções acerca dos efeitos atribuídos às toxinas liberadas pela P. physalis estarem voltadas

    para o processo doloroso e inflamação, substâncias isoladas de organismos vivos têm se mostrado capazes de atuar

    sobre o funcionamento de outros sistemas. Os eventos gástricos também fazem parte dos sintomas desencadeados

    após contato com animais venenosos, a exemplo de relatos de náusea, mal-estar e vomito; no teor de componentes

    da secreção gástrica foram identificadas após contato com veneno de escorpião amarelo Tityus serrulatus.

    Este exerce o seu efeito através da despolarização de terminações do sistema nervoso autônomo pela

    abertura dos canais de Na+, liberando mediadores químicos (acetilcolina, catecolaminas, peptídeos) os quais são

    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhttp://www.controlarambiental.com.br/Escorpiao%20Amarelo%20Tityus%20serrulatus.html

  • 24

    responsáveis por aumentar substancialmente a secreção de glândulas exócrinas do trato gastrointestinal,

    principalmente glândulas salivares, estômago e pâncreas (NOVAES et al., 2002). Melo Jr et al., (1983), ao injetarem a Tityustoxina (TsTX), outra toxina conhecida do escorpião amarelo

    Tityus serrulatus em ratos observaram aumento no volume de secreção gástrica, produção de ácido e pepsina do

    suco gástrico e uma diminuição significativa no pH. Os autores atribuíram os efetos da TsTX à libertação de

    mediadores químicos das fibras nervosas autonômicas pós-ganglionares estimuladas por vias muscarínica e

    receptores histaminérgicos H2.

    Estudos experimentais mostraram que a injeção do veneno total de escorpião amarelo e toxinas

    purificadas também causar salivação profusa, aumento da secreção gástrica e pancreática, lesões de mucosa

    gástrica e pancreáticas agudas, bem como distúrbios da motilidade intestinal (BUCARETCHI et al., 1999).

    Os eventos motores, secretores e absortivos do trato gastrointestinal (TGI) possibilitam controlar a

    motilidade e a velocidade de trânsito da digestão humana, assim como as várias secreções do TGI. Com isso

    permite com que as enzimas digestivas sejam secretadas e ativadas, realizando ação sobre os nutrientes, no

    momento certo, nas quantidades adequadas e em um meio com pH ideal (GUYTON; HALL, 2011).

    O estômago possui mecanismos de proteção contra agentes agressores. Entre os principais estão os

    secretados no lúmen, como ácido, muco, bicarbonato e antibacterianos. A defesa da camada mucosa do estomago

    é constituída de muco e bicarbonato, que tem como função evitar o contato do ácido clorídrico com as células do

    epitélio. A camada de muco aderida à mucosa gástrica protege o epitélio contra o ácido, a pepsina e outros fatores

    necrotizantes. O muco forma um revestimento sob as células superficiais da mucosa gástrica. O suco gástrico

    normal é uma mistura das secreções parietais (ácido e fatores intrnsecos) e não parietais (muco, bicarbonato, Na+,

    K+ e pepsinogênio) (GUYTON; HALL, 2011).

    Os mediadores acetilcolina, gastrina e histamina são conhecidos por estimularem a secreção de ácido

    clorídrico no estômago (RODRIGUES et al, 2005). A presença de ácido clorídrico mantém o pH entre 0,9 e 2,0 e

    garante a ação do pepsinogênio em sua atividade proteolítica. Em conjunto, quando os mecanismos homeostáticos

    estão prejudicados, o volume e a acidez gástrica podem aumentar desproporcionalmente, superando assim as

    defesas da mucosa gástrica, levando a formação de úlcera duodenal, úlcera gástrica e doença do refluxo gastro-

    esofágico (TWARDOWSCHY, 2007).

    http://www.controlarambiental.com.br/Escorpiao%20Amarelo%20Tityus%20serrulatus.htmlhttp://www.controlarambiental.com.br/Escorpiao%20Amarelo%20Tityus%20serrulatus.html

  • 25

    4 MATERIAL E MÉTODOS

    4.1 Animais

    Foram utilizados camundongos da linhagem C57BL/6 (pesando entre 20 e 28 g, com idades de 2 a 5

    meses de idade) machos e camundongos Swiss fêmeos (estes últimos utilizados exclusivamente para os testes de

    ligadura de Piloro) criados no Biotério Central da Universidade do Vale do Itajaí. Os animais foram mantidos em

    ambiente com temperatura e umidade controladas (22 ± 1 °C, 60 a 80% de umidade), em ciclo 12 h claro/12 h

    escuro, com água e ração fornecidos ad libitum. Os experimentos foram conduzidos de acordo com as diretrizes

    atuais de cuidados com os animais de laboratório e com as diretrizes éticas para investigações de dor experimental

    em animais conscientes (ZIMMERMANN, 1983). Todos os experimentos foram aprovados pelo Comitê de ética

    de uso de animais (CEUA) da Universidade do Vale do Itajaí, sob o protocolo 011/14.

    4.2 Reagentes

    O veneno MLU_080047 foi adquirido da Bachem AG (Geneva, Suiça). Os seguintes fármacos foram

    usados: [Des-Arg9]-Bradicinina (DALBK) (Tocris - Inglaterra); Meloxicam (Eurofarma, Brasil); Dexametasona

    (Achê, Brasil); Indometacina (Farmacia UNIVALI, Brasil); Omeprazol (Medley, Brasil); D-Arg-L-Arg-L-Pro-

    LHyp-Gly-L-(2-tienil)Ala-L-Ser-D-1,2,3,4 tetrahidro3isoquinolinocarbonil-L-(2α,3p,7ap)-octa-hidro-1H-indole-

    2-carbonil-L-Arg (HOE 140); Sal de maleato de N-(4-metoxifenil)metil-N',N'-dimetil-N-(2-piridinil)-1,2-

    etanodiamina (Maleato de pirilamina); N-(3-Methoxifenil)-4-clorocinnamida (SB-366791); 1,2,3,6-Tetrahidro-

    1,3-dimetil-N- [4-(1-metiletil)fenil]-2,6-dioxo-7H-purina-7-acetamida, 2-(1,3-Dimetil-2,6-dioxo-1,2,3,6-tetra-

    hidro-7H-purin-7-il)-N-(4-isopropilfenil)acetamida (HC030031) e Capsaicina obtidos da Sigma-Aldrich, EUA.

    Kit de citocinas, EUA,mrIL-1β, mrTNF (R&D Systens, Minneapolis, MN).

    4.3 Avaliação da nocicepção espontânea

    Os animais passaram por um período de ambientação de 1 h por 7 dias consecutivos nas câmaras de

    observação. No momento do experimento os animais foram injetados com o veneno e o tempo dispendido pelo

    animal lambendo ou mordendo a pata foi considerado como índice de nocicepção. Os camundongos receberam

    uma injeção intraplantar (i.pl.) de 10 µL de PBS contendo MLU_080047 em diferentes concentrações (0,01 a 10

    ng/pata), e a nocicepção espontânea foi avaliada por 1 h, extraindo os dados de 5 em 5 min.

    4.4 Avaliação do limiar mecânico

    Os animais foram colocados individualmente em compartimentos de acrílico transparente individuais (9

    X 7 X 11cm) localizados em uma plataforma de arame elevada. Inicialmente, a frequência de resposta de retirada

    da pata posterior direita foi obtida através de 10 aplicações sequenciais do filamento de von Frey 0,6 g (VFH,

    Stoelting, Chicago, USA). Anotadas as frequências, os animais que obtiveram frequência de resposta menor que

    50% foram estimulados com filamentos com gramaturas maiores, em escala logarítmica (1, 1,4, 2 e 4 g), de forma

    crescente até obter-se 50% ou oi mais de resposta de retirada. Caso a frequência de retirada com o filamento de

    0,6 g tenha sido maior que 50%, o mesmo passa a ser estimulado com filamentos de menor gramatura (0,07, 0,16

    e 0,4 g) até obter 50% de resposta). O filamento com o qual o animal respondeu no mínimo 50%, seguindo o

    método descrito acima, representou o limiar mecânico. (Ex: 50% resposta com filamento 0,6 g = limiar 0,6 g)

    (COBOS et al., 2012).

  • 26

    4.5 Análise do limiar térmico

    A técnica utilizada foi primeiramente descrita por Hargreaves et al. (1988), sendo que a intensidade do

    feixe luminoso foi adequada para não causar a retirada da pata dos animais controle num intervalo mínimo de

    tempo de 15 segundos. Os animais foram colocados em uma câmara de acrílico com fundo e lados transparentes

    (Plantar Test, Ugo Basile, modelo 7371), onde permaneceram durante 30 minutos antes do teste. Decorrido o

    tempo de adaptação dos animais ao ambiente, um feixe de luz previamente estabelecido foi incidido abaixo do

    fundo transparente e posicionado sob a pata direita traseira dos animais. A sensibilidade térmica foi caracterizada

    pelo tempo que o animal levou para retirar a pata em um tempo máximo de 20 segundos. Todos os grupos de

    animais foram submetidos à habituação prévia no equipamento por no mínimo uma semana em ambiente

    iluminado com luz vermelha. Os mesmos foram avaliados para o estabelecimento do limiar térmico basal de

    retirada da pata e novamente reavaliados em diferentes tempos após a injeção do veneno.

    4.6 Avaliação da resposta edematogênica

    Os camundongos receberam por via i.pl. na pata posterior direita uma injeção de 10 µL de PBS contendo

    MLU_080047 em diferentes concentrações (0,1 ng/pata, 1,0 ng/pata ou 10 ng/pata). A pata posterior contralateral

    recebeu o mesmo volume de PBS e foi utilizada como controle. O edema de pata foi avaliado utilizando o

    pletismômetro (Ugo Basile, Italy) e expresso em microlitros como a diferença entre as patas posteriores direitas e

    esquerdas (TRATSK et al., 1997).

    4.7 Análise dos mecanismos envolvidos na resposta nociceptiva

    Para avaliar o possível envolvimento de cininas na resposta nociceptiva causada pelo veneno

    MLU_080047, grupos separados de camundongos foram tratados com antagonista não peptídicos seletivo para os

    receptores B1 DALBK (20 nmol/pata) e B2 de cininas, HOE 140 (0,01 nmol/pata e 10 nmol/pata) ou, co-

    administrados com o veneno por via i.pl. (BÉLICHARD et al., 2000).

    O possível envolvimento da ciclooxigenase-1 ou -2 (COX-1 ou COX-2) foi avaliado pelo tratamento de

    animais com indometacina (100 µg/pata; inibidor seletivo para COX-1) (VILLARREAL et al., 2013) e o

    meloxicam (2 mg/kg, inibidor seletivo da COX-2) 30 min antes do teste (PASZCUK et al., 2008). O tratamento

    com dexametasona (0,5 mg/kg) foi realizado para evidenciar a importância da síntese de proteínas, onde os animais

    foram pré-tratados por via s.c. 4 h antes do teste.

    Para avaliar o possível envolvimento dos TRPs nas respostas do veneno, os animais foram pré-tratados

    por via s.c., 30 min antes da injeção do veneno, com o SB366791 (500 μg/kg) (antagonista seletivo dos receptores

    TRPV1) (PASZCUK al., 2007) ou co-administrados com HC-030031 (35mg/ml) (antagonista seletivo dos

    receptores TRPA1) e o veneno por via i.pl (PASZCUK, et al., 2008). Foi testado também o antagonista seletivo

    do receptor de histamina H1, pirilamina (10 mg/kg), através do pré-tratamento por via s.c., 30 minutos antes do

    veneno (PASZCUK, 2007).

    4.8 Envolvimento das fibras C na nocicepção induzida pelo veneno

    Avaliou-se o efeito do tratamento neonatal de camundongos com capsaicina na hipersensibilidade induzida

    peloveneno MLU_080074. O tratamento de animais com capsaicina no período neonatal ou mesmo na fase adulta

    causa uma destruição de grande parte das fibras C sensíveis a capsaicina, sendo este efeito o responsável pela

    insensibilidade dos animais a substâncias irritantes e também a outros estímulos nocivos. (GAMSE, 1982). Com

    a finalidade de explorar a participação das fibras C na condução do estimulo nociceptivo, camundongos recém

    nascidos, foram tratados com uma injeção subcutânea de capsaicina (163,7 mol/kg, s.c.;5 mg/ml) no segundo dia

    de vida, como descrito anteriormente por Massuyama e Shimizu (1997). O efeito do veneno MLU_080074 (1,0

    ng/pata) foi avaliado utilizando o modelo de hipersensibilidade mecânica quando os animais completaram oitava

    semana de vida. Para a comprovação da depleção das fibras C os animais neonatais injetados com capsaicina foram

    desafiados no teste de limpeza ocular (JI et al., 2013), onde receberam 20 µL de capsaicina (0,01%) nos olhos e o

    número de vezes que os mesmos coçaram os olhos foi quantificado num intervalo de 1 min. Os animais que

    alcançavam valores inferiores a 5 vezes por min foram considerados aptos para o teste.

    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0162310999001654http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0091305712003176

  • 27

    4.9 Ensaios bioquímicos

    4.9.1 Medida da atividade da MPO

    O recrutamento de leucócitos na pata do camundongo foi avaliado indiretamente por meio da atividade

    de MPO nos tecidos (FERNANDES et al., 2005). Para este fim, os animais receberam uma injeção i.pl. de 10 μL

    do veneno MLU_080047 (1,0 ng/pata) na pata direita. Os animais foram eutanasiados e as amostras de tecido das

    patas, medula e nervo ciático foram coletadas 1 e 3 h após a injeção da toxina. As mesmas foram homogeneizadas

    a 5% (p/v) em tampão EDTA / NaCl (pH 4,7) e centrifugadas a 10.000 rpm durante 15 min a 4 °C. O sedimento

    foi resuspenso em tampão HTAB a 0,5% (pH 5,4) e as amostras foram congeladas e descongeladas três vezes em

    nitrogênio líquido. As amostras foram centrifugadas (10.000 rpm, 15 min, 4 °C) e 25 μL do sobrenadante foram

    utilizados para o ensaio de MPO. A reação enzimática foi avaliada com 1,6 mM de TMB, 80 mM de PBS (pH 7,2)

    e 0,3 mM de H2O2. A absorbância foi medida a 650 nm. Os resultados foram expressos como a densidade óptica

    O.D. por miligrama de tecido.

    4.9.2 Análise dos níveis de citocinas

    Os níveis de IL-1β e TNF teciduais foram avaliados utilizando o método previamente descrito por Cunha

    et al. (2005). Os animais foram eutanasiados 1 h e 3 h após a injeção do ven. MLU_080074 e o tecido plantar da

    pata posterior direita, nervo ciático e porção lombar da medula espinhal foram coletados. As amostras foram

    imediatamente estocadas a -80 °C. Os tecidos foram homogeneizados em PBS (pH= 7,4; NaCL 137 mM, KCL 2,7

    mM, Na2HPO4 1,5 mM, filtrado a 0,2 mm) contendo NaCL 0,4 M, PMSF 0,1 M, EDTA 10 mM, 0,05 % de tween

    20, 0,5 % de BSA e 2 mg/ml de aprotinina. Os homogenatos foram centrifugados a 3000 g por 10 minutos a 4 °C.

    Os níveis de IL-1β e TNF foram medidos através de Kit ELISA, de acordo com as recomendações do fabricante.

    Os experimentos foram realizados em triplicata e repetidos 2 vezes.

    4.10 Avaliação da secreção gástrica

    Os animais foram submetidos a jejum (8 h) com livre acesso a água, e divididos em diferentes grupos

    (n=7). Foram anestesiados com uma mistura de xilazina (5 mg/ml) e cetamina (2 mg/ml) (0,1 ml/10g de peso de

    animal) e submetidos a amarração do piloro, como descrito por Shay et al. (1945). Realizou-se uma incisão

    longitudinal abaixo ao processo xifoide, onde o estômago foi exposto e o piloro amarrado com fio de sutura. A

    administração das diferentes doses foi realizada por via intraduodenal e intraplantal. Os grupos foram: veículo

    contendo água destilada, 1 (controle negativo) e veneno MLU_080047 nas doses de 1,0 ng/sítio e 30 ng/sítio. O

    grupo omeprazol (20 mg/kg) (controle positivo) recebeu o tratamento via oral, 30 minutos antes da ligadura do

    piloro. Após os tratamentos, as incisões foram suturadas e quatro horas após a cirurgia os animais foram

    sacrificados por deslocamento cervical. As incisões foram reabertas e após pinçamento da válvula cárdia (para

    evitar a perda do conteúdo gástrico) o estômago foi retirado. Os estômagos foram abertos ao longo da curvatura

    maior, lavados com 2 ml de água destilada e todo conteúdo gástrico foi coletado em tubo cônico, centrifugado por

    15 min a 5.000 rpm. Após o processamento do suco gástrico, avaliou-se o pH, volume e acidez total por titulação

    com hidróxido de sódio 0,1 N e fenolftaleína como indicador ácido base. Os resultados foram expressos em ml

    (volume), pH e mEq[H+]/ml/4h (acidez total). Estes testes foram supervisionados pela Profª. Luisa Mota da Silva.

  • 28

    4.11 Avaliação da secreção de muco em mucosa gástrica

    Os animais foram submetidos ao protocolo de amarração do piloro anteriormente descrito. O estômago

    foi retirado, lavado em salina, pesado, e acondicionado em 2 ml de solução de Alcian Blue (Alcian Blue 0,02%,

    sacarose 0,16 M, acetato de sódio 0,05 M; pH 5,8 a 20 ºC) por 24 horas. A solução de Alcian Blue foi removida,

    procedendo a lavagem dos estômagos em 5 mL de solução de sacarose 0,25 mol/l por 15 min e por 45 min. Após

    a remoção da solução de sacarose, solução de cloreto de magnésio 0,5 mol/l foi adicionada a fim de extrair o

    corante aderido ao muco do tecido; esta última solução permaneceu por 2 horas, tendo sido realizado a raspagem

    dos estômagos com auxílio de pinças a cada 30 min neste período. Todo procedimento foi realizado a temperatura

    ambiente. Após leve homogeneização do líquido extrator, transferiu-se 1 ml deste para um tubo cônico, onde igual

    quantia de éter etílico também foi adicionado. A mistura foi agitada em vórtex e centrifugada por 15 min a 3.000

    rpm. Posteriormente, 200 µl da fase aquosa foram transferidos para uma placa de 96 poços em duplicata, a

    absorbância foi determinada em comprimento de onda de 598 nm. O conteúdo de muco foi calculado usando uma

    curva padrão de Alcian Blue (6,25–100 μg/ml), e os resultados foram expressos em μg Alcian Blue/g tecido

    (CORNE; MORRISSEY; WOODS, 1974).

    4.12 Análise estatística

    Todos os resultados são relatados como média ± S.E.M.. As inibições totais são dadas como a diferença

    (em porcentagem) entre as áreas sob a curva tempo-resposta (AUC) do grupo tratado com fármaco em relação ao

    grupo de controle. A comparação estatística dos dados foi realizada por análise de variância (ANOVA) seguido

    de Teste de Bonferroni, ou pelo uso do Teste t de Student não-pareado, Teste de Dunnett´s e Turkey. Valores de

    P inferiores a 0,05 foram considerados significativos. Todas as análises citadas acima foram realizadas utilizando

    o programa GraphPad Instat® ou GraphPad PRISM®.

  • 29

    5 RESULTADOS

    5.1 Avaliação da resposta nociceptiva espontânea e hipersensibilidade mecânica

    Os animais injetados com as doses de 0,1 ng/pata, 1,0 ng/pata e 10 ng/pata não apresentaram

    comportamento distinto dos animais injetados com PBS, evidenciando ausência do comportamento nociceptivo

    espontâneo (dados não mostrados), tanto injetando o veneno por via i.pl., quanto através da instilação do mesmo

    sobre a pata. O próximo passo foi avaliar a hipersensibilidade mecânica induzida pela injeção i.pl. do veneno. A

    Figura 9 demonstra que os animais injetados com o veneno da P. physalis apresentaram hipersensibilidade

    mecânica provocando aumento na frequência de resposta de retirada da pata frente à estimulação com o

    monofilamento de Von Frey, com incremento de 144,0 ± 31,0% na dose de 0,1 ng/pata em relação ao grupo que

    recebeu somente PBS.

    As doses de 0,3 e 1,0 ng/pata também causaram alteração do limiar mecânico de retirada da pata, com

    respectivamente 93,5 ± 9,9% e 107,1 ± 23,7% de aumento da sensibilidade em relação ao controle (figura 9A e

    B). Esta sensibilização mecânica é mais evidente no intervalo 30 minutos à 1 hora após a injeção do veneno.

  • 30

    Figura 9: Hipersensibilidade mecânica induzida pelo veneno MLU_080047.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    PBS (10 L/pata)

    P. physalis (0,01 ng/pata)

    P. physalis (0,03 ng/pata)

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    P. physalis (0,3 ng/pata)

    P. physalis (1,0 ng/pata)

    P. physalis (3,0 ng/pata)

    P. physalis (10 ng/pata)

    P. physalis (30 ng/pata)

    tempo (min) tempo (h)

    Fre

    qu

    ên

    cia

    de

    re

    sp

    osta

    (%

    )

    ***

    ****** ***

    ***

    **

    ***

    *

    B 10 20 30 60 1 2 3 4

    A

    B PBS 0,01 0,03 0,1 0,3 1,0 3,0 10 300

    50

    100

    150

    200

    250

    P. physalis (ng/pata)

    ***

    ******

    ***

    AU

    C

    B

    Hipersensibilidade mecânica obtida na pata traseira direita através da aplicação de VFH 0,6 g de animais injetados com veneno

    MLU_080047 em diferentes doses. Os resultados mostram a média ± erro padrão da média, n = 10. Com * p

  • 31

    A partir destes dados foi escolhida a dose de 0,1 ng/pata para os demais experimentos. O próximo passo

    foi determinar, de maneira quantitativa, alteração no limiar mecânico de retirada da pata. Como demonstrado na

    figura 10 (A e B), os animais injetados com veneno P. physalis na dose de 0,1 ng/pata apresentaram uma redução

    significativa do limiar mecânico de retirada da pata, com redução de 54,39 ± 4,15% em relação ao grupo injetado

    com PBS. Essa alteração foi evidenciada já nos primeiros 20 min com duração máxima de 4 h.

    Figura 10: Limiar mecânico de retirada da pata.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    PBS (10 L/pata)

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    Tempo (min) Tempo (min)

    *****

    ****** ***

    30 6010 20 2 3 4 6 24

    Fre

    quência

    de resposta

    (%

    )

    0.0

    0.5

    1.0

    1.5

    2.0

    2.5

    3.0

    PBS (10 L/pata)

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    Tempo (min) Tempo (h)

    *** ** ***

    *** **

    10 20 30 60 2 3 4 6 24

    Lim

    iar

    (g)

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    ***

    Basal PBS P. physalis

    (0,1 ng/pata)

    AU

    C

    A

    B C

    Hipersensibilidade mecânica verificada na pata traseira direita, (A) utilizando o filamento 0,6 g de von Frey, (B) e através do

    método up and down, em momentos diferentes. Os resultados mostram a média ± erro padrão da média, n = 10. Com ** p

  • 32

    Na continuação da triagem do potencial nociceptivo do veneno MLU_080047, a hipersensibilidade

    térmica ao calor foi verificada, conforme mostra a figura 11. Atualmente é bem estabelecido que a

    percepção térmica esteja relacionada com receptores que funcionam como sensores de temperatura. O grupo de animais com injeção do veneno da P. physalis apresentou período de latência (s) para

    retirada da pata de 23,89 ± 6,19%, maior em relação ao controle. Conforme a figura abaixo, o veneno foi

    capaz de diminuir o limiar térmico, diminuindo o período de latência ou tolerância do animal em sinalizar

    o estimulo térmico como nocivo, possivelmente por sensibilização previa desses receptores participantes

    do processo.

    Figura 11: Limiar térmico de retirada da pata.

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17 PBS (10 L/pata)

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    Tempo (h)

    *****

    B 0,5 1 2 3 4 6 24

    Latê

    ncia

    (s)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    **

    PBS P. physalis

    (0,1 ng/pata)

    AU

    C

    A B

    Hipersensibilidade térmica registrada na pata traseira direita pelo Plantar Teste (Hargreaves) em animais injetados com

    MLU_080047 (0,1 ng/pata). Os resultados mostram a média ± erro padrão da média, n= 10. Significativamente

    diferente do grupo de veículos (PBS, 10 uL/pata) * p

  • 33

    Figura 12: Resposta edematogênica do veneno MLU_080047.

    0

    10

    20

    30

    40

    50PBS (10 L/pata)

    P. physalis (1 ng/pata)

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    P. physalis (0,01 ng/pata)

    *

    0,5 1 2 3 4 6

    Tempo (h)

    v

    olu

    me d

    a p

    ata

    (

    L)

    Resposta edematogênica pela diferença entre as patas posteriores direitas e esquerda em animais injetados com

    MLU_080047 (1,0, 0,1 e 0,01 ng/pata). Os resultados mostram a média ± erro padrão da média, n= 10.

    Significativamente diferente do grupo tratado com veículo (PBS; 10 uL/pata) * p

  • 34

    Figura 13: Envolvimento do receptor de histamina do tipo H1.

    0

    1

    2

    3

    4

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    Pirilamina (10 mg/kg s.c.) + P. physalis (0,1 ng/pata)

    PBS (10 L/pata)

    Tempo (h)

    B 0,5 1 2 3 4 6

    Lim

    iar

    (g)

    0.0

    0.5

    1.0

    1.5

    PBS P. physalis Pirilamina

    **

    #

    Lim

    iar

    (0-3

    0 m

    in)

    A B

    Hipersensibilidade mecânica obtida na pata traseira direita através da aplicação de VFH 0,6 g de animais tratados com

    Pirilamina (A) (10mg/kg s.c.) e animais controle, tratados somente com o MLU_080047. Os resultados mostram a

    média ± erro padrão da média, n = 10. Significativamente diferente do grupo de veículos (PBS, 10 uL/pata) * p

  • 35

    No resultado com os animais tratados com HC 030081, um antagonista do receptor TRPA1, na dose

    de 35 µg/pata não se observou diferença significativa em relação ao grupo controle (figura 15).

    Figura 15: Envolvimento do receptor TRPA1.

    0.0

    0.5

    1.0

    1.5

    2.0

    2.5

    P. physalis (0,1 ng/pata)

    HC-030031 (35 g/ml s.c.), P. physalis (0,1 ng/pata)

    PBS (10 L/pata)

    Tempo (min) Tempo (h)

    B 10 30 60 1 2 3 4 6

    Lim

    iar

    (g)

    Hipersensibilidade mecânica obtida na pata traseira direita através da aplicação de VFH 0,6 g de animais tratados com

    HC-030021 (35 µg/ml) coadministrado com ve