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Universidade do Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Porto, Dezembro 2005 Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do Motocross Autor: Victor Azevedo

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

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Page 1: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Universidade do PortoFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Porto, Dezembro 2005

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do Motocross

Autor: Victor Azevedo

Page 2: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Universidade do PortoFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Victor José da Silva Azevedo

Porto, Dezembro 2005

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do Motocross

Trabalho orientado pelo Prof. Dr. António Ascensão

Trabalho Monográfico realizado no âmbito da disciplina de Seminário, ministrada no

5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física da Faculdade de Ciências

do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.

Page 3: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Agradecimentos

Apesar de se constituir como um trabalho individual, não seria possível a sua

concretização sem a ajuda de várias pessoas que nos acompanharam ao longo

do mesmo. Gostaria de expressar a minha gratidão e o meu profundo

agradecimento:

Ao Prof. Doutor António Ascensão por ter aceite orientar este trabalho, pela

forma empenhada, competente e rigorosa como o orientou, pelos

ensinamentos que nos transmitiu e pelo constante apoio e disponibilidade

prestada.

Ao Prof. Doutor José Magalhães pelos valiosos conselhos emitidos para

discussão dos resultados e pelo apoio prestado na realização da parte

experimental.

Ao Prof. Mestre Eduardo Oliveira pelos seus valiosos ensinamentos sobre o

manuseamento de alguns instrumentos de avaliação, bem como pela sua

colaboração na parte experimental do trabalho.

Ao Paulo Marques pelas excelentes condições de trabalho que nos

proporcionou na realização dos testes de terreno.

A todos os pilotos que participaram na realização deste trabalho.

À minha mãe, Maria Celeste, pelo amor e compreensão demonstrados ao

longo deste trabalho.

À Sónia Saldanha pelo amor, carinho incentivo e apoio prestado.

Page 4: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Em memória do meu Pai:

Albino da Silva Azevedo

Page 5: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Resumo A condição física dos pilotos de motocross tem sido frequentemente

referenciada de forma empírica como essencial para a obtenção de resultados

desportivos relevantes. Contudo, do nosso conhecimento não existem trabalhos

científicos elaborados sobre esta modalidade que caracterizem fisiologicamente

o esforço dos pilotos de motocross. Assim, o presente estudo pretende

caracterizar a intensidade de exercício dos pilotos durante a realização de uma

manga competitiva simulada de motocross.

A amostra foi constituída por nove (9) pilotos de motocross de elite (28,3 ± 7,9

anos; 71,1 ± 7 kg; 169 ± 4cm; 53,5 ± 3,7 ml.kg-1.min-1; 14,9 ± 3,3 % massa

gorda). Os pilotos realizaram, previamente um teste de corrida em tapete rolante

até à exaustão para determinar a frequência cardíaca máxima (FCmáx), o

consumo máximo de oxigénio (VO2max) e o limiar anaeróbio ventilatório (Lan

vent). Posteriormente, foi monitorizada e analisada a FC durante a realização de

uma manga de motocross.

Durante os 30 minutos da manga de motocross realizada, a FC média foi de

180,7±11,3 bpm e os pilotos despenderam: (i) 26 minutos (87%) do tempo da

manga acima de 90% FC máx; (ii) 27 minutos (89%) acima de 85% VO2máx e

(iii) 27 minutos com uma FC superior à correspondente ao Lan vent.

Em suma, as elevadas percentagens de tempo com FC bastante elevadas

observadas no presente estudo sugerem que o motocross é uma modalidade de

intensidade de exercício elevada.

Palavras-chave: motocross, manga, intensidade de exercício, frequência

cardíaca, consumo de oxigénio, limiar anaeróbio ventilatório

Page 6: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Abstract Physical conditioning of motocross riders has been considered as an important

component in this specific and complex sport performance. However, to our

present knowledge no studies regarding the exercise intensity of motocross

heats have been addressed so far. In this regard, the present study was

designed to quantify and describe the intensity profile of motocross riders during

a simulated competitive race.

To achieve this purpose, nine (9) elite motocross riders (28,3 ± 7,9 yrs; 71,1 ± 7

kg; 169 ± 4cm; 53,5 ± 3,7 ml.kg-1.min-1; 14,9 ± 3,3 % fat) performed one treadmill

running test to exhaustion in order to determine maximal heart rate (HRmax),

maximal oxygen consumption (VO2max) and ventilatory threshold (Lan vent).

Furthermore, one 30 min competitive off-road motocross heat was also

performed to measure exercise intensity through HR monitoring.

During the 30 min heat, mean HR was 180.7±11.3 bpm and riders spent: (i) 26

minutes (87%) of time above 90% of HRmax; (ii) 27 minutes (89%) between 95-

100% of VO2max and; (iii) 27 minutes with an HR higher than that corresponding

to Lan vent.

In conclusion, due to the elevated percentage of time spent at very high HR

observed in the present study, it can be suggested that competitive motocross

heats are performed at high exercise intensities.

Key words: motocross, heat, exercise intensity, heart rate, oxygen uptake,

lactate threshold.

Page 7: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Resumé La condition physique des pilotes de motocross a été souvent marquée de forme

empirique comme étant essentielle pour avoir des résultats sportifs importants.

Toutefois, à notre connaissance, il n´ ya pas des travaux scientifíques sur cette

modalité pour caractériser l´ effort des pilotes de motocross.

Le présent étude veut caractériser l´intensité de l´exercice d´une compétition de

motocross avec le recours de quelques indicateurs d´exigence cardio respiratoire

comme la fréquence cardiaque et la consommation de l´oxygène.

L´échantillon a été formé par neuf (9) pilotes de motocross d´ élite (28,3 ± 7,9

années; 71,1 ± 7 kg; 169 ± 4cm; 53,5 ± 3,7 ml.kg-1.min-1; 14,9 ± 3,3 % masse

gras). En laboratoire on a fait une course en tapis volant jusqu à l´ exhaustion, a

fin de déterminer la fréquence cardiaque maximale, la consommation maximale

d´ oxygène et le seuil anaérobie. Dans le terrain, la fréquence cardiaque a été

monitorizée pendant la réalisation d´une compétition de motocross.

Pendant les 30 minutes de la compétition de motocross, la fréquence cardiaque

moyenne a été 180.7±11.3 ppm et les pilotes ont passé : (i) 26 minutes (87%) du

temp au dessus 90%, FCmax; (ii) 27minutes (89%) au dessus 85 % VO2max;

(iii) 27 minutes au dessus Lan vent.

À la fin, les grands pourcentages de temp au dessus de 90% FCmax et VO2max

et aussi au dessus Lanvent, peut vent dire que le motocross est une modalité

avec une intensité d´exercice élevée.

Mots-clés: motocross, course, intensité d´ exercice, fréquence cardiaque,

consommation d´ oxygène, seuil anaérobie.

Page 8: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Índice

1 - Introdução 3 2 - Revisão da Literatura 4

2.1 - Breve perspectiva histórica da modalidade 4

2.2 - Importância da avaliação das capacidades físicas no rendimento desportivo 7

2.3 - Avaliação da intensidade de exercício 9

2.3.1 - Modalidades com perfil de actividade cíclica 9 2.3.2 - Modalidades tradicionais com perfil de actividade intermitente 11 2.3.3 - Modalidades off-road 14

2.4 - Vantagens e limitações da utilização da frequência cardíaca como indicador da

intensidade de exercício 16 3 – Material e Métodos 17 3.1 – Amostra 17

3.2 - Procedimentos de avaliação 17

3.2.1 -Testes de laboratório 18

3.2.2 -Testes de terreno 19

3.2.3 - Procedimentos estatísticos 20

4 - Resultados 21

5 - Discussão 25 5.1 - Discussão da metodologia 25

5.2 - Discussão dos resultados 27

6 - Conclusão 30 7- Bibliografia 31

Page 9: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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1. Introdução O motociclismo é uma modalidade desportiva que engloba várias disciplinas

como a velocidade, o enduro, o todo – terreno, o trial, o motocross entre outras.

Estas disciplinas podem ser disputadas em asfalto ou em terra (off-road) e em

circuito fechado ou em terreno aberto de que é exemplo o classicamente

designado “Rally Paris Dakar”.

O motocross é uma modalidade disputada em duas mangas (1), num circuito

fechado constituído por vários saltos e obstáculos naturais. Cada piloto

tripulando o seu motociclo compete directamente com todos os seus

adversários, sendo consagrado vencedor aquele que cortar a meta em primeiro

lugar após ter cumprido o tempo de competição regulamentar (40 minutos + 2

voltas). (2)

Fig.1 – Circuito motocross de Ernée - França

Actualmente, a modalidade off-road mais profissional é o motocross. Nos

últimos anos tem-se assistido nesta disciplina do motociclismo a um incremento

do seu nível competitivo e por isso a um aumento do número de horas

dispendidos pelos pilotos para melhorar a sua condição física e técnica de

pilotagem.

(1) – Uma prova de motocross é constituída por duas corridas, denominadas de mangas.

(2) – Competição internacional; nacional 30 minutos mais duas voltas, denominadas de mangas.

Page 10: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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A condição física dos pilotos de motocross tem sido empiricamente

referenciada, como essencial para a obtenção de resultados desportivos

relevantes. Assim é do nosso entendimento que o conhecimento das

exigências do stress físico e fisiológico que a competição impõe aos pilotos

poderá contribuir para uma prescrição mais eficaz das cargas de treino e assim

melhorar a performance. Contudo, do nosso conhecimento não existem

trabalhos científicos elaborados sobre esta modalidade que caracterizem

fisiologicamente o esforço dos pilotos de motocross.

O presente estudo pretende caracterizar a intensidade de exercício de uma

manga de motocross recorrendo para isso a indicadores de exigência cardio-

respiratória como a frequência cardíaca (FC) e o consumo de oxigénio (VO2).

2. Revisão da Literatura

2.1- Breve perspectiva histórica da modalidade Segundo Bonini (1996) o motocross teve origem na Inglaterra no ano de 1920,

apesar do termo “motocross” só ter sido utilizado pela primeira vez alguns anos

mais tarde na Holanda e na Bélgica. Em 1947 realizou-se na Holanda a

primeira prova internacional denominada, motocross das nações.

Presentemente, este evento ainda se realiza uma vez por ano, tratando-se de

uma competição por selecções a nível mundial, onde os três melhores pilotos

em representação do seu país procuram obter as melhores classificações em

confronto com os pilotos das outras nacionalidades. De acordo com o autor

supra referido, o primeiro campeonato do mundo de motocross realizou-se no

ano de 1957.

Page 11: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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Em Portugal, o primeiro campeonato nacional disputou-se no ano de 1969.

Actualmente existem vários campeonatos nacionais distribuídos por 4 classes

elaboradas de acordo com o escalão etário; infantis, iniciados, sub–19 e sénior.

O escalão sénior é, ainda, dividido em duas categorias tendo em conta as

especificações técnicas do motociclo. O nível competitivo dos pilotos

portugueses tem evoluído de forma significativa, tendo recentemente a equipa

portuguesa alcançando um honroso 8º lugar na edição 2005 do motocross das

nações disputado em França, num total de 40 selecções participantes

(www.motox.com.br).

Fig.2 – Edição 2005 do motocross das nações

Após esta breve perspectiva histórica da modalidade, a questão que se coloca

é: o que é o motocross? O motocross segundo a definição da Federação

Internacional de Motociclismo (www.fim.ch) “é uma competição off-road

disputada num circuito com obstáculos naturais”. Na nossa opinião, esta

definição parece-nos desactualizada e insuficiente para descrever esta

modalidade. O motocross é efectivamente uma competição off-road, disputada

entre todos os pilotos em confronto directo com os demais, em duas mangas

realizadas, num circuito fechado constituído por obstáculos naturais e artificiais

como saltos, lombas e relevées (3).

(3) - Relevo do terreno que funciona como batente e carril nas curvas permitindo realizá-las com velocidade superior

Page 12: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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Quanto à estrutura, uma prova de motocross é constituída pelos treinos livres e

treinos cronometrados disputados da parte da manhã e pela corrida

propriamente dita (duas mangas) da parte da tarde. A corrida inicia-se com os

pilotos perfilados atrás da grelha de partida e o vencedor, é o piloto que cortar

a meta em primeiro lugar após cumprir os 40 minutos mais duas voltas

constituintes da manga.

Fig.3 – Partida de uma manga de motocross

A partir de meados do século passado tem-se assistido a um incremento do

interesse pela modalidade como é possível observar pelo aumento do número

de participantes, competições e nível da mesma. Desta forma, o motocross é

actualmente uma modalidade com uma grande expansão, existindo

campeonatos em todo o mundo desde a Austrália e o Japão passando pela

Europa até ao Brasil e aos Estados Unidos. Actualmente, o campeonato mais

competitivo é o disputado nos Estados Unidos, rivalizando este, inclusive com o

campeonato mundial de motocross disputado maioritariamente na Europa.

O motocross das nações, competição acima referida, serve como palco para

confronto dos melhores pilotos de motocross de todo o mundo.

Page 13: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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2.2 – Importância da avaliação das capacidades físicas no rendimento desportivo

Segundo Wilmore e Costill (1994), o corpo humano é uma “máquina” complexa,

onde a actividade dos vários tipos de células e tecidos se conjugam de uma

forma precisa e coordenada. Assim, O rendimento desportivo de um atleta é o

produto do funcionamento do seu organismo.

De acordo com Green (1991), o rendimento final observado depende de uma

complexidade de factores, cada um dos quais, contribuindo de uma forma

váriavel na performance.

Para Banister (1991), a performance depende de uma complexa interacção de

factores (treino, fadiga, capacidades físicas, habilidades herdadas

genéticamente, factores psicológicos) e da forma como o organismo os integra.

Tendo em conta a orientação do presente estudo, focaremos a nossa atenção

nas capacidades do atleta, nomeadamente na importância da sua avaliação a

partir da aplicação de testes de avaliação funcional e fisiológica no rendimento

desportivo.

A capacidade física do atleta é determinada entre outras, pela capacidade de

produção máxima de energia (processos aeróbios e anaeróbios máximos), da

força muscular, da coordenação/economia do movimento e de factores

psicológicos (Powers e Howly, 1997). Segundo os mesmos autores, a

avaliação das capacidades físicas implica um conhecimento dos factores que

contribuem para o sucesso desportivo numa determinada modalidade

desportiva. Deste modo, defendem a utilização de testes fisiológicos que

avaliem os sistemas metabólicos preferencialmente utilizados para obtenção de

energia por forma a rentabilizar o treino e atingir níveis de performance mais

elevados.

Page 14: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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Para MacDougall e Wenger (1991), a avaliação das capacidades físicas do

atleta a partir de testes fisiológicos, poderão representar vantagens para o

atleta e para o seu treinador. Assim, (i) Uma bateria de testes indica os pontos

fortes e fracos do atleta na modalidade praticada e permite, face aos resultados

obtidos, prescrever um programa de treino que atenue os pontos fracos

identificados; (ii) Uma bateria de testes fornece ao atleta um feedback sobre o

efeito do programa de treino no seu rendimento, por comparação dos

resultados em dois momentos distintos; (iii) permite ao atleta sujeito a elevadas

cargas de treino, obter informações sobre o seu estado de saúde; (iv) Um atleta

sujeito a uma bateria de testes aprende o funcionamento do seu corpo em

termos fisiológicos e compreende as exigências do seu desporto.

Alguns autores reconhecem ainda a vantagem da aplicação dos testes na

predição da performance num determinado desporto, tendo em conta as

características antropométricas e as capacidades fisiológicas do indivíduo

(Pyke, 2000; Semenick, 1994). Tendo sempre em conta as características do

desporto, a selecção de testes deve preencher vários requisitos,

nomeadamente a relevância, a especificidade, a viabilidade, a validade e a

precisão.

Adicionalmente, a avaliação e controlo representam um contributo para a

redução dos factores de risco associados aos diferentes tipos de lesões, bem

como para a prevenção de situações potenciais de sobretreino.

Desta forma, a avaliação das capacidades físicas a partir de testes fisiológicos

permite conhecer e maximizar o potencial do atleta enquanto “máquina”

produtora de rendimento desportivo, constituindo-se assim como um requisito

importante no controlo e na maximização dos meios de treino utilizados.

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Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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2.3 – Avaliação da intensidade de exercício

2.3.1- Modalidades com perfil de actividade cíclica As modalidades com perfil de actividade cíclica caracterizam-se pela execução

de gestos desportivos iguais, repetidos ritmicamente durante a duração da

performance (Dantas, 1995). O ciclismo de estrada e a corrida maratona do

atletismo são exemplos de modalidades que se enquadram nesta classificação.

De seguida apresentamos alguns dados obtidos a partir da literatura centrados

na avaliação da intensidade de exercício nestas modalidades.

Começando pelos estudos realizados sobre o ciclismo de estrada, segundo

Lucia et al (2001), esta modalidade é de resistência extrema. Um ciclista

profissional durante um ano percorre em treino e em competições entre 30.000

a 35.000km. Segundo os mesmos autores, a intensidade de exercício em

algumas etapas (contra relógio e subida de montanha) é elevada, próxima dos

90% da potência máxima aeróbia (VO2 máx.) e acima do limiar anaeróbio. O

VO2 máx. dos ciclistas profissionais ronda os 74 ml/kg/min (Hug et al, 2003; Lee

et al, 2002).

Padilla et al (2000) realizaram um estudo para avaliar a intensidade de

exercício durante as etapas contra – relógio em ciclistas profissionais utilizando

como indicador, a FC. Neste estudo, 80 ciclistas realizaram em laboratório, um

teste incremental no ciclo ergómetro, para avaliar a FCmáx, o início da

acumulação de lactato no sangue, o limiar anaeróbio e a relação da FC com

estes indicadores fisiológicos. A FC foi monitorizada nos cinco tipos de etapas

ao cronómetro constituintes de uma prova de ciclismo, nomeadamente o

prólogo (< 10km), o contra – relógio curto (<40km), o contra – relógio longo

(>40km), o contra – relógio de montanha (subida) e o contra – relógio de

equipa. Os autores mostraram que o valor percentual da FC utilizado pelos

ciclistas em relação à FCmáx., correspondente ao início da acumulação de

Page 16: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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lactato no sangue e ao limiar anaeróbio, reflecte as exigências fisiológicas nos

variados tipos de etapas que compõe uma competição de ciclismo de estrada.

Contudo, Jones e Doust (1997) afirmam que o momento do desvio da

linearidade durante o aumento da FC, ocorre sistematicamente a uma

intensidade superior à FC correspondente ao limiar anaeróbio e

aproximadamente a 95% da FCmáx. Deste modo, a utilização da FC poderá

constituir-se um indicador muito lábil na determinação do limiar anaeróbio

apresentando assim, limitações na avaliação do esforço físico neste tipo de

modalidades.

Quanto à corrida da maratona, esta disciplina do atletismo é para os seus

praticantes, uma das mais exigentes do ponto de vista físico e psicológico. De

acordo com Hagerman (1992), a quantidade total de energia gasta por um

maratonista é a mais elevada no seio de todas as modalidades de resistência.

Segundo o mesmo autor, a intensidade de treino para a corrida de maratona

pode variar entre 60 e 125% do VO2 máx. e em competição os atletas de elite

correm acima de 80 – 90% do seu VO2máx. para alcançar bons resultados

desportivos. Segundo os estudos de Svedenhag e Sjodin (1984) e Peronnet e

Thibault (1987), os maratonistas de elite apresentam valores muito elevados de

VO2 máx. (aprox.76 ml//kg/min).

Vários autores têm estudado um conjunto de indicadores fisiológicos, incluindo

o VO2 máx, o limiar anaeróbio (Lan vent), FC, entre outros numa perspectiva

preditora da performance (Hagen et al,1981; Billat et al, 2001).

Page 17: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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2.3.2 – Modalidades com perfil de actividade intermitente Modalidades como o futebol, judo, karaté, esgrima, golfe, basquetebol, voleibol,

ténis, andebol e o hóquei em patins constituem exemplos de modalidades

desportivas em que o exercício se desenvolve de um modo intermitente, isto é,

caracterizado por conter períodos de pausa frequentes, com níveis de

intensidade muito variáveis, seja nas fases de esforço ou nos momentos de

recuperação (Figueiredo, 1998; Zumerchik, 1997; Soares, 1988).

Dado o elevado número de desportos com este perfil, elegemos três

tradicionais como o futebol, o basquetebol e o ténis para apresentar alguns

dados da literatura sobre a caracterização da intensidade de exercício nestas

modalidades.

Em relação ao futebol, numerosos estudos têm sido realizados para avaliar a

intensidade de exercício nos seus intervenientes, desde os jogadores e

respectivas posições até aos árbitros (Hoff et al, 2002; D’ Ottavio e Castagna,

2001; Ali e Farrally, 1991; Rienzi et al, 2000; Krustrup e Bangsbo, 2001).

Segundo Stolen et al (2005), os jogadores de elite percorrem por jogo e em

média cerca de 10 km com uma intensidade perto do Lan vent e a 80 a 90% da

FCmáx.. Tendo em conta a duração do jogo, consideram o metabolismo

aeróbio como a principal fonte energética apesar de reconhecerem que a

maioria das acções decisivas de um jogo de futebol depender do metabolismo

anaeróbio.

A importância do metabolismo aeróbio referida anteriormente, está de acordo

com o estudo de Hoff et al (2002), segundo o qual 90% da energia produzida

num jogo de futebol provem desta via. Segundo os mesmos autores, a

utilização da FC durante um exercício específico de futebol é um indicador

válido para avaliar a sua intensidade de exercício.

Page 18: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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Contudo Stolen et al (2005), referem que o futebol se caracteriza por períodos

de alta e baixa intensidade de jogo, e deste modo advertem que a utilização da

FC média durante os 90 minutos de jogo se pode traduzir numa enorme perda

de informação específica. Os estudos de Bangsbo et al (1991), Rienzi et al

(2000), e Castagna et al (2003) fundamentam esta ideia, afirmando que

durante o jogo os jogadores despendem o tempo em diferentes acções

motoras de intensidade variável, como caminhar, em jogging, a passo largo,

em sprint e a caminhar/ correr de costas.

Ali e Farrally (1991) avaliaram a FC em jogadores de futebol no decorrer de um

jogo. A amostra, constituída por jogadores de nível semi–profissional,

universitários e recreação, foi ainda sub–dividida de acordo com as posições

ocupadas dentro do campo nomeadamente, avançados, médios e defesas. Os

resultados deste estudo sugerem que para todos os níveis, os jogadores

avançados e médios a intensidade de jogo é superior tendo em conta o registo

de FC médias mais elevadas. O mesmo estudo evidencia ainda nos níveis

semi-profissional e universitário, uma intensidade de exercício mais elevada

nos médios.

Esta ideia está de acordo com os resultados de outros estudos (Bangsbo et al,

1991; Rienzi et al, 2000; Ekblom, 1986), segundo os quais, os jogadores do

meio campo percorrem durante um jogo de futebol maiores distâncias em

relação aos jogadores avançados e defesas.

McInnes et al (1995) estudaram a intensidade de exercício em jogadores de

basquetebol de elite do sexo masculino durante a competição, utilizando

gravação vídeo e analisando a FC e as concentrações de lactato no sangue.

Os jogadores, no tempo efectivo de jogo, apresentaram uma FC média de 169

± 9 bpm e dispenderam 75% deste tempo com valores de FC correspondendo

a 85% da FCmáx. O nível médio de lactato encontrado no sangue foi de 6.8 ±

2.8 mM. Com base nestes resultados, os autores deste estudo concluíram que

Page 19: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

13

as exigências do basquetebol masculino de elite são, quer do ponto de vista

metabólico quer cardiovascular, elevadas.

Todavia, a utilização do lactato como indicador de intensidade nestas

modalidades de perfil intermitente poderá constituir-se como um indicador

pouco preciso, uma vez que a intensidade das acções motoras desenvolvidas

pelos atletas nos momentos precedentes da recolha do sangue influencia

directamente a concentração deste metabolito.

Quanto ao ténis, trata-se de uma modalidade muito complexa que envolve

força, potência, velocidade, agilidade, explosividade e a intervenção de várias

componentes de resistência (Koniq et al, 2001). Segundo os mesmos autores,

a intensidade média de exercício no Ténis varia entre os 60 a 70% do VO2

máx. e a energia dispendida provêm principalmente do metabolismo aeróbio.

Esta ideia está de acordo com o estudo de Bergeron et al (1991), segundo o

qual, o ténis se caracteriza por períodos breves de alta intensidade de exercício

embora a exigência metabólica geral se assemelhe aos requisitos de exercício

prolongado de intensidade moderada. Neste estudo efectuado em 10 jogadores

do sexo masculino da 1ª divisão, a FC foi monitorizada durante 85 minutos de

jogo num campo indoor de superfície dura. Os resultados evidenciaram uma

FC média durante o jogo de 144.6 ±13.2 bpm com uma utilização média de

apenas 61,4% da FCmáx. de reserva.

Page 20: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

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2.3.3- Modalidades off-road O motocross, o enduro e o todo-terreno constituem exemplos de disciplinas do

motociclismo com características off-road. Do nosso conhecimento, não

existem estudos de caracterização da intensidade de exercício nestas

modalidades motorizadas. Os estudos existentes na literatura sobre a

intensidade de exercício nas modalidades off-road tem-se centrado no ciclismo

fora de estrada (B.T.T.), nomeadamente numa das suas vertentes; o cross-

country (Impellizzeri et al, 2002; Creag et al, 1998; Wilber et al 1997).

O cross-country é uma das disciplinas mais populares do B.T.T., tendo sida

introduzida como modalidade Olímpica nos Jogos Olímpicos de Atlanta em

1996. Trata-se de uma modalidade de resistência, disputada num circuito off-

road, composto por várias subidas e descidas e variados tipos de piso.

Segundo o estudo de Lee et al (2003), o VO2máx dos atletas desta modalidade

(B.T.T.- cross-country), comparado aos valores apresentados pelos ciclistas

profissionais de estrada, são ligeiramente superiores, respectivamente, 78 ±

4,4 ml//kg/min e 73 ± 3,4 ml//kg/min.

Impellizzeri et al (2002), caracterizaram a intensidade de exercício do cross-

country em atletas de alto nível, monitorizando a FC em 4 competições

distintas. A amostra constituída por 9 atletas foi submetida em laboratório à

avaliação das suas características antropométricas e de alguns indicadores

fisiológicos como a FCmáx., VO2máx., o limiar de lactato (LT) e o início da

acumulação de lactato no sangue (OBLA). Tendo em conta estes indicadores,

os autores definiram 3 zonas distintas para caracterizar o perfil da intensidade

de exercício numa prova de cross-country; (i) “Easy zone“ para intensidades de

exercício abaixo da FC correspondente ao LT, (ii) “Moderate Zone“ para

intensidades de exercício entre a FC correspondente ao LT e OBLA, (iii) “Hard

Zone “para intensidades de exercício acima da FC correspondente ao OBLA. A

relação individual entre a VO2máx. e a FCmáx. foi igualmente determinada. Na

Page 21: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

15

segunda fase do estudo desenvolvida no terreno, a FC foi monitorizada de 5

em 5” a todos os atletas nas 4 provas de cross-country constituintes do

protocolo. A FCmáx. média dos 5 atletas que completaram as 4 competições

não foi significativamente diferente da FCmáx. média atingida no laboratório;

191 ± 6 bpm e 192 ± 5 bpm, respectivamente. Tomando o exemplo de um perfil

individual da FC durante o desenrolar de uma das 4 competições, os autores

verificaram uma FC ligeiramente superior na parte inicial da prova o que pode

ser explicado segundo os mesmos, pela necessidade dos atletas atingirem

rapidamente os lugares da frente. Nas 4 competições constituintes dos testes

de terreno, a FC média dos atletas, 171 ± 6 bpm, correspondeu a 90 ± 3% da

FCmáx. Outra forma encontrada pelos autores deste estudo para descrever o

perfil da intensidade de exercício nesta modalidade, foi a percentagem do

tempo total despendido em cada uma das 3 zonas préviamente definidas,

“Easy zone“ 18 ± 10 %, “Moderate Zone” 51± 9 %, “Hard Zone“ 31 ± 16 %. Os

resultados obtidos neste estudo mostram que o cross-country é uma

modalidade desportiva de alta intensidade.

Esta ideia está de acordo com os resultados do estudo de Creag et al (1998)

realizado a atletas de elite do sexo feminino. As atletas durante a realização da

prova de cross-country passaram 43,4% do tempo com FC superiores a 180

bpm, 52,6% do tempo com FC entre 170 e 179 bpm e apenas 4% com FC

entre os 160 e 169 bpm, o que evidencia uma intensidade de exercício

igualmente elevada.

Page 22: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

16

2.4 – Vantagens e limitações da utilização da frequência cardíaca como indicador da intensidade de exercício. Para Powers e Howley (1997), durante o exercício, o débito cardíaco, ou seja,

a quantidade de sangue bombeado por batimento cardíaco aumenta em função

da exigência elevada de oxigénio e nutrientes da musculatura activa, havendo

uma relação essencialmente linear entre estes dois factores. A FC é em

repouso e em exercício máximo, inferior nos indivíduos treinados pelo facto

destes apresentarem superiores volumes de ejecção. Nos indivíduos pouco ou

moderadamente treinados, o volume de ejecção não aumenta além de uma

carga de VO2 máx. de 40%, sendo o débito cardíaco aumentado acima desta

intensidade de exercício, graças apenas a um aumento da FC.

A FC é o factor determinante do trabalho cardíaco em exercícios de

intensidade moderada a máxima desempenhando um papel importante no

aumento do consumo de oxigénio, incrementando o fluxo sanguíneo e

consequentemente o seu transporte para os músculos activos durante o

exercício (Brooks et al,1996).

Para Powers e Howley (1997), o VO2 máx. pode ser estimado a partir das

respostas da FC ao exercício sub máximo por meio da extrapolação da relação

com a FCmáx. ajustada à idade do indivíduo, garantindo uma avaliação mais

célere com menor stress cardiovascular.

A utilização FC tem ainda a vantagem de contornar as dificuldades inerentes a

uma avaliação fora do laboratório, dado tratar-se de um indicador fisiológico

facilmente mensurável. (Creagh et al, 1998; Impellizzeri et al, 2002).

Por outro lado, a determinação da intensidade de esforço recorrendo aos

valores da FC, levanta algumas preocupações, dado que este indicador se

assume como bastante lábil sendo influenciado por inúmeros factores como a

Page 23: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

17

temperatura ambiente, a desidratação, a idade, o nível de condição física, as

massas musculares utilizadas, o tipo de exercício realizado e o estado

emocional (Powers e Howley, 1997; Soares, 1988).

A título de exemplo, vários estudos têm demonstrado alteração significativa no

padrão da FC em exercícios: (i) com uma percentagem elevada de contracções

isométricas (Lewis et al, 1985; Kilbom e Brundin, 1976); (ii) envolvendo um

stress emocional elevado com consequente elevação das concentrações de

catecolaminas circulantes (Stratton et al, 1985; Schwaberger, 1987; Baron et al,

1992) e (iii) prolongados realizados em ambientes quentes (Voltaire et al,

2003).

3. Material e Métodos

3.1. Amostra Participaram no presente estudo 9 pilotos do sexo masculino (idade = 28,3 ±

7,9 anos, peso = 71,1± 7 kg, altura = 169,8 ± 5 cm). Antes da sua participação

todos os sujeitos foram informados dos seus objectivos e procedimentos, tendo

fornecido consentimento escrito para a realização dos mesmos. As

características dos sujeitos da amostra (n=9) são apresentadas no quadro 1.

3.2. Procedimentos de avaliação O protocolo experimental foi subdividido em duas fases distintas: a primeira

realizada no laboratório e a segunda no terreno. O intervalo temporal entre as

fases foi de 5 dias para evitar possíveis alterações na condição física dos

pilotos da amostra entre os momentos.

Page 24: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

18

3.2.1 Testes de laboratório Nesta fase laboratorial, os pilotos foram sujeitos à avaliação dos seguintes

indicadores/parâmetros pela ordem apresentada de seguida:

(i) Dados antropométricos

Os sujeitos foram pesados em roupa interior numa balança digital (TANITA) e

medidos descalços utilizando um antropómetro (SECA). Foi também avaliada

por bioimpedância (BODYSTAT), a % de massa gorda dos sujeitos.

(ii) Teste força de preensão manual (Handgrip)

Os atletas realizaram o habitualmente designado teste de Handgrip com um

dinamómetro (Grip-D TKK5401) para avaliar a força máxima de preensão

manual e o índice de fadiga. A força máxima foi determinada foi determinada

através da realização de uma contracção isométrica voluntária máxima,

mantendo ambos os membros superiores simultaneamente em extensão e

paralelos ao solo. Foi adoptada esta posição por forma a aproximar o padrão

de avaliação com a posição de pilotagem utilizada no motocross. O teste teve a

duração de 30´´ após os quais foi novamente avaliada a força máxima de

preensão. O índice de fadiga, foi calculado pela diferença entre a força máxima

e a força mínima, a dividir pela força máxima e multiplicado por 100 e expresso

em percentagem.

(iii) Teste Wingate de braços

O teste Wingate foi realizado num ciclo ergómetro (MONARK 824

ERGOMEDIC) com controlo da carga por mecanismo de fricção. Para

uniformizar as condições da realização do teste, a altura e a distância do banco

foram ajustadas para cada atleta de forma a nivelar a altura do ombro com a

altura do centro de rotação da pedaleira e permitir uma extensão do membro

superior. Cinco segundos antes do início do teste, foi pedido aos atletas para

utilizarem uma cadência da pedalada máxima enquanto o avaliador fazia a

contagem decrescente de 5 até zero. Neste momento (zero), foi aplicada uma

Page 25: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

19

carga equivalente a 5% do peso corporal. Nos 30 segundos subsequentes os

atletas foram instruídos para manter a cadência da pedalada máxima, tendo

sido verbalmente encorajados. Os parâmetros avaliados foram: (i) potência

máxima, calculada como a potência média mais elevada nos melhores 5

segundos do teste; (ii) potência média, definida como a potência média ao

longo dos 30 segundos; (ii) potência mínima, definida como a potência média

mais baixa registada no período correspondente aos piores 5 segundos do

teste; (iii) Índice de fadiga, definido como um valor percentual correspondente à

diferença entre a potência máxima e mínima multiplicado por 100 e depois

dividido pela potência máxima, Os valores da potência máxima, média e

mínima foram ainda relativizados ao peso corporal dos atletas

(iv) Avaliação cárdio-respiratória

A avaliação do consumo máximo oxigénio e de outros indicadores respiratórios

como a ventilação máxima, o limiar anaeróbio ventilatório e o quociente

respiratório máximo, efectuou-se por espirometria em circuito aberto com

oxímetro (CORTEX BREATH BY BREATH METALIZER 3B). Este teste foi

realizado em tapete rolante utilizando um protocolo máximal contínuo com

incrementos de velocidade de minuto a minuto de 0,2m/s até à exaustão. A FC

foi monitorizada durante a realização do teste utilizando um cárdio-

frequencímetro (POLAR VANTAGE NV), composto por um emissor colocado

num cinto ajustável ao tórax dos sujeitos, ao nível do apêndice xifoideo e por

um receptor (relógio) colocado no pulso do braço não dominante que registava

os valores dos batimentos cardíacos de 5 em 5 segundos. Foi ainda avaliada a

FCmáx. Durante a realização do teste os sujeitos foram verbalmente

encorajados pelos restantes pilotos e autores do presente trabalho.

3.2.2 Testes de terreno Esta fase realizou-se num circuito de motocross em condições ambientais

termo-naturais. Os sujeitos realizaram uma simulação da manga de motocross

com a duração de 30 minutos, numa pista com extensão de aproximadamente

Page 26: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

20

1km, constituído por pequenos saltos e vários tipos de curva. Relativamente ao

estado físico, a pista encontrava-se deteriorada (ondulada) e com boa

aderência. Foram avaliados os seguintes indicadores/parâmetros:

(i) Dados antropométricos

Para avaliação do peso e da % de massa gorda dos sujeitos foram seguidos os

procedimentos metodológicos atrás referidos na avaliação laboratorial. Durante

esta 2ª fase experimental os pilotos não ingeriram qualquer alimento ou liquido

de forma a homogeneizar possíveis factores exógenos de interferência no

comportamento da FC.

(ii) Monitorização da FC A FC dos pilotos foi monitorizada durante a realização da manga de motocross

de acordo com o procedimento e material atrás referidos.

3.2.3 Procedimentos estatísticos Foram utilizadas medidas habituais de estatística descritiva média e desvio

padrão. Foi igualmente efectuada uma distribuição absoluta e relativa da FC e

da FC correspondente à % de VO2máx. durante a manga por intervalos de

intensidade.

Page 27: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

21

4. Resultados O quadro 1 mostra as principais características antropométricas e cárdio-

respiratórias dos sujeitos que participaram no presente estudo. São ainda

apresentados os valores relativos à performance dos sujeitos alcançadas no

teste de Wingate e de força de preensão manual (Handgrip).

Quadro 1 – Caracterização da amostra

Variáveis Média ± dp Idade (anos) 28,3 ± 7,9

Peso (kg) 71,1 ± 7

Altura (cm) 169,8 ± 4

% Massa gorda 14,9 ± 3,3 HG Pot.máx. esq.(kg) 40,1 ± 6,7

HG indice fadiga esq.(%) 16,6 ± 9

HG Pot.máx. dta.(kg) 47,7 ± 6,3

HG indice fadiga dta. (%) 21,6 ± 8,5 WB Pot. Máx. (w/kg) 7,2 ± 0,5

WB Pot. Méd. (w/kg) 5,2 ± 0,5

WB Pot. Min. (w/kg) 3,7 ± 0,8

WB Indíce fadiga (%) 48,7 ± 12,6 VO2 máx. (ml/min) 3,8 ± 0,4

VO2 máx. (ml/min/kg) 53,5 ± 3,7

Vemax (L/min) 131,9 ± 17,9

QR máx. 1,12 ± 0,1

LAN vent (bpm) 159,7 ± 24,1

LAN vent (ml/kg/min) 42 ± 5,6

LAN vent (%VO2max) 76,1± 8,9

FCmáx. (bpm . min -1) 198,3 ± 4,4

HG, Handgrip; WB, Wingate de braços; VO2 máx, consumo máximo de oxigénio;

Vemáx, ventilação máxima; QRmáx, quociente respiratório máximo; LAn vent, limiar

anaeróbio ventilatório; FCmáx, frequência cardíaca máxima;

Page 28: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

22

O quadro 2 apresenta o comportamento da FC mínima, média e máxima

durante os 30 minutos da manga de motocross realizada. Expressa ainda a FC

média dos primeiros 15 minutos e dos 16 minutos até ao final da manga.

Quadro 2 – Frequência cardíaca durante a realização da

manga de motocross

Frequência cardíaca Média ± dp

Mínima (bpm) 137± 15,2

Média (bpm) 180,7 ± 11,3

Máxima (bpm) 191,7± 8

Média 0 – 15 min. (bpm) 179,6 ± 11,5

Média 16 – 30min. (bpm) 181,9 ± 11 bpm, batimentos por minuto

Tal como se pode observar pela análise da figura 4, durante os 30 minutos da

manga de motocross realizada, os pilotos encontram-se 87% do tempo acima

de 90% da sua FCmáx, especificamente 43 ± 25% do tempo com FC entre os

95 e 100 % da sua FCmáx. e 44 ± 22% do tempo com FC entre os 90 e 94

%da sua FCmáx. Para FC entre os 85 e 89 da FCmáx. os sujeitos passaram 8

± 7% do tempo. O tempo, despendido pelos pilotos a FC inferiores a 85% da

sua FCmáx, foi muito reduzido. Apenas 2 ± 3% entre os 85 e 80 % da sua

FCmáx. e 1 ± 1% do tempo com FC inferiores a 79 %.

Page 29: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

23

Fig. 4 – Percentagem do tempo total despendido nas diferentes percentagens da FC máxima (%FCmáx) durante os 30 minutos da manga de motocross realizada. Os valores representam média ± desvio padrão

A figura 5 mostra o tempo dispendido pelos pilotos nos intervalos percentuais

de FCmáx. considerados. Relativamente ao tempo total dispendido em cada

um dos diferentes intervalos, os pilotos encontraram-se 26 minutos acima de

90% da sua FCmáx, especificamente 13± 7,4 minutos entre os 95 e 100 % da

sua FCmáx. e 13 ± 6,2 minutos entre os 90 e 94 %da sua FCmáx. No intervalo

entre os 85 e 89 da FCmáx. os sujeitos passaram 2 ± 2minutos. Com FC

inferiores a 85% da FCmáx. encontraram-se apenas 1 ± 1 minuto num total de

30 minutos constituintes da manga de motocross realizada.

Fig. 5 – Tempo total despendido (s) nas diferentes percentagens da FC máxima (%FCmáx) durante os 30 minutos da manga de motocross realizada. Os valores representam média ± desvio padrão

1 0 0 02

4443

805

1015202530354045505560657075

100-95 94-90 89-85 84-80 79-75 74-70 69-65 64-60

% FCmáx

Tem

po (%

)

0 0 0 0

1313

21

0

5

10

15

20

25

100-95 94-90 89-85 84-80 79-75 74-70 69-65 64-60

%FCmáx

Tem

po (m

in)

Page 30: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

24

A figura 6 mostra que durante os 30 minutos da manga de motocross

realizada, os pilotos encontraram-se na maioria do tempo (57 ± 33%) entre 100

e 95 % do seu VO2 máx. determinado laboratorialmente. No intervalo definido

entre os 94 e 90 % do VO2 máx, os pilotos passaram 14 ± 9 % do tempo. Entre

os 89 e 85 % de VO2 máx. dos pilotos, a percentagem de tempo dispendida foi

de 18 ± 19 %, enquanto que entre os valores correspondentes a 84 e 80% do

VO2 máx, a percentagem de tempo foi de 8 ± 11 %. Para percentagens

compreendidas entre 79 e 75 % do VO2 máx. os sujeitos passaram 2 ± 4% do

tempo. Com valores inferiores a 75 % do VO2 máx. encontraram-se apenas 1 ±

1% do tempo total da manga.

Fig. 6 - Percentagem do tempo total despendido nas diferentes percentagens do VO2máximo (%VO2máx) durante os 30 minutos da manga de motocross realizada. Os valores representam média ± desvio padrão

1 0 0 081814

57

2

0

1020

30

4050

60

70

8090

100

100-95 94-90 89-85 84-80 79-75 74-70 69-65 64-60 59-55

VO2máx (%)

Tem

po (%

)

Page 31: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

25

Através da análise da figura 7 verificamos que durante os 30 minutos da manga

de motocross realizada, os pilotos passaram 27 ± 4 minutos a uma intensidade

de exercício superior à FC correspondente ao LANvent determinado

previamente em tapete rolante. Apenas 3 ± 5 minutos da manga foram

realizados a intensidades inferiores à FC correspondente ao LANvent.

3

27

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

Superior LANvent Inferior LANvent

Intensidade de exercício

Tem

po (m

in)

Fig. 7 – Tempo total dispendido (min) acima e abaixo da intensidade de exercício correspondente ao Lan vent durante os 30 minutos da manga de motocross realizada. Os valores representam média ± desvio padrão

5. Discussão 5.1. Discussão da metodologia Participaram inicialmente no presente estudo 12 pilotos. Contudo, devido à

verificação de inúmeros artefactos nos registos da FC de 3 pilotos obtidos

durante a realização da manga de motocross optamos por excluir a sua

análise. De entre os possíveis factores que poderiam ter estado na origem

desta morte amostral destacamos a dificuldade de captação e emissão

adequadas do sinal durante períodos extensos, as quais poderão estar

associadas à vasta quantidade de equipamento utilizada pelos pilotos que se

encontra sobre o emissor.

Page 32: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

26

Para garantir uma amostra representativa da população praticante e

adicionalmente, compreender as exigências funcionais e cardiovasculares

desta modalidade desportiva, seleccionamos uma amostra homogénea

constituída por pilotos motocross de elite.

Tendo em conta a especificidade do esforço físico dos atletas nas diversas

modalidades desportivas, bem como o stress emocional habitualmente

envolvido nas competições de motocross, procedemos no presente estudo à

recolha de dados a partir de uma manga de motocross com a duração de 30

minutos realizada sob condições regulamentares similares às de uma

competição oficial.

Durante a realização da manga de motocross, os pilotos não ingeriram líquidos

para evitar possíveis alterações na relação do volume plasmático. Os valores

médios do peso da amostra determinados antes e após a realização da manga

(71,05 ± 7,5 kg e 70,05 ± 7,6 kg), evidenciaram uma redução de

aproximadamente 1kg (1,4% do peso corporal) num período de apenas 30

minutos. Tem sido sugerido que estas reduções tenham origem em grande

parte na perda de água por sudação e evaporação (Broad et al, 1996; Speedy

et al, 2001). Esta perda, sugere uma redução do volume plasmático com

consequente incremento da viscosidade do sangue. Estas alterações obrigam

o sistema cardiovascular do organismo a uma série de adaptações como: (i)

aumento significativo da FC; (ii) diminuição da pressão sanguínea sistólica e

(iii) aumento da resistência periférica (Davis e Fortney, 1997). Contudo,

McConnell et al (1999), sugerem que a ingestão de água, nas condições

ambientais atrás referidas, durante a realização da manga (30 min.) não teria

um efeito significativo na FC, na temperatura corporal, no volume plasmático e

na performance. Deste modo, o valor médio de 1,4% de perda de peso corporal

por desidratação encontrado no presente estudo, parece não ter influenciado

de forma significativa a performance, dado que os sujeitos em esforços

inferiores a 90 minutos parecem tolerar perdas até 2% do seu peso corporal em

Page 33: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

27

água sem alterações negativas no seu desempenho físico (Cheuvront et al,

2003; Naghii 2000).

Relativamente à idade, o valor médio dos pilotos constituintes da amostra (28,3

anos) e respectivo desvio padrão (7,9 anos) é relativamente elevado. Uma vez

que se verifica uma diminuição da FC com a idade (Gerstenblith et al, 1987), os

resultados do presente estudo são apresentados em percentagem do seu valor

máximo determinado no laboratório para cada sujeito da amostra. Para efeitos

de análise, este procedimento anula o efeito da idade na FC.

5.2. Discussão dos resultados Do nosso conhecimento, não se encontram disponíveis na literatura, trabalhos

científicos elaborados na área da fisiologia sobre a modalidade do motocross.

Deste modo, o presente estudo parece ser o primeiro que: (i) caracteriza do

ponto de vista morfológico, funcional e cárdio–respiratório, o piloto de

motocross; (ii) analisa a intensidade de exercício de uma manga de motocross.

No presente estudo, o valor da massa gorda estimada (aprox. 15%) parece, em

comparação com atletas de elite de outras modalidades como o futebol,

basquetebol e o kickboxing relativamente elevado (Wittich et al, 2001;

Apostolidis et al, 2004; Figueiredo, 1998). Todavia, este valor médio

encontrado na amostra poderá hipoteticamente resultar da equação de

estimativa escolhida da BODYSTAT que se referiu a indivíduos com um nível

de treino médio/alto. No que concerne ao VO2 máx., o valor médio dos pilotos

de motocross (53,0±7,7 ml/kg/min) é similar aos escaladores de elite (Watts,

2004) e inferior aos valores (aprox.75 ml/kg/min) apresentados pelos

maratonistas (Svedenhag e Sjodin, 1984; Peronnet e Thibault 1987) e ciclistas

profissionais (Hug et al, 2003; Lee et al, 2002).

Page 34: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

28

A FC foi o indicador fisiológico de referência utilizado no nosso estudo para

caracterizar a intensidade de exercício da manga. O registo dos valores da FC

tem sido um método, igualmente, utilizado por vários autores para avaliar a

intensidade de exercício em diversas modalidades desportivas (Padilla et al,

2000; D’Ottavio e Castagna, 2001; Ali e Farraly, 1991; Bergeron et al, 1991;

Watts et al, 1998; Impellizzeri et al, 2002).

O padrão de FC obtido durante a realização da manga de motocross evidencia

elevadas percentagens da FCmáx (acima de 90%) durante 87% do tempo total

(fig. 4) e de valores percentuais entre 100 e 95 % do VO2 máx. durante 57% do

tempo da manga (fig. 6). Estes resultados parecem sugerir que o motocross é

um desporto caracterizado por uma intensidade de exercício elevada, similar a

desportos de resistência extrema como a corrida de maratona, em que atletas

de elite correm acima de 80 – 90% do seu VO2 máx. (Hagerman, 1992) e ao

ciclismo de estrada, em que a intensidade de exercício em algumas etapas

(contra relógio e subida de montanha) é elevada, próxima dos 90% da potência

máxima aeróbia (Lucia et al, 2001).

Os resultados obtidos no nosso estudo (FC média de 180,7 ± 9,5 bpm) em

comparação com o estudo de Impellizzeri et al (2002), efectuado a atletas

praticantes de B.T.T na vertente cross-country (FC média de 171 ± 6 bpm)

sugerem uma intensidade de esforço ligeiramente superior.

De facto, tal como referido no capítulo de resultados, os pilotos despendem

grande parte dos 30 minutos da manga com FC acima de 90% FCmáx.

Gostaríamos de ressalvar que, embora não tivéssemos determinado as

concentrações de catecolaminas circulantes após a manga competitiva bem

como após o teste máximo em laboratório para a determinação da FCmáx e

VO2máx, alguns trabalhos sugerem uma libertação de adrenalina e

noradrenalina bastante elevados em situação de competição (Schwaberger,

1987; Baron et al, 1992). Este aumento da actividade simpática poderá

Page 35: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

29

contribuir, conjuntamente com o exercício per se, para uma elevação dos

valores da FC (Stratton et al, 1985; Schwaberger, 1987; Baron et al, 1992).

A caracterização da intensidade de exercício em diferentes modalidades tem

igualmente recorrido ao LANvent como indicador (Padilla et al, 2001; Bergeron et

al, 1991; Impellizzeri et al, 2002). No presente estudo, a FC correspondente ao

LANvent foi utilizada como referência para estimar do ponto de vista metabólico,

a intensidade de exercício do motocross. Deste modo, avaliamos o tempo que

cada piloto passou acima e abaixo do seu LANvent durante os 30 minutos

constituintes da manga de motocross. A análise da figura 7 mostra que os

pilotos passaram grande parte do tempo (27 min.) a uma intensidade de

exercício acima do LANvent e apenas 3minutos abaixo deste indicador

fisiológico. Este dado, reforça a ideia supra referida, que o motocross per se é

uma modalidade com uma intensidade de esforço elevada, ainda que

consideremos a possível influência da elevada contribuição simpática para as

FC observadas.

Embora não tenha sido avaliada a velocidade dos pilotos (tempo por volta ao

circuito de motocross), durante a realização da manga, parece que esta,

diminui com o decorrer da mesma. No entanto, este dado não justifica os

resultados obtidos, uma vez que, para além de ter sido muito tempo acima do

LANvent, os dados da figura 4 relativos à distribuição da FC mostram que a

intensidade de exercício se desenrolou muito acima da FC correspondente a

este indicador. O LANvent ocorreu a aproximadamente 81% da FCmáx. e a FC

da amostra esteve aproximadamente 26 minutos (87% do tempo da manga)

entre os 90 e 100% da FCmáx. De salientar, que o LANvent, FCmáx e o VO2

máx. foram determinados em laboratório num teste de corrida realizado em

tapete rolante, num esforço caracterizado por contracções musculares

dinâmicas enquanto que o esforço realizado pelos pilotos durante a realização

da manga de motocross (absorção das irregularidades do terreno, acelerações

da moto, travagens, mudanças bruscas de direcção, recepções nos saltos,

Page 36: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

30

estabilização da moto), parece assumir um padrão de actividade com elevado

apelo a uma elevada percentagem de contracções isométricas. Esta diferença

no padrão de actividade, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de

contracções musculares realizadas, poderá explicar a elevada FC dos pilotos

durante a realização da manga de motocross, dado que as contracções

isométricas induzem, em comparação com as dinâmicas, diminuição do retorno

venoso e do volume sistólico e consequentemente, aumentos superiores da

pressão arterial e da FC (Lewis et al, 1985; Kilbom et Brundin, 1976).

Os dados mostram que o motocross é uma modalidade que se caracteriza por

uma intensidade de exercício muito elevada. Apesar de se tratar de um

desporto com a duração de aproximadamente 30 minutos, parece fazer um

apelo relativamente elevado à via glicolítica de produção de energia.

6. Conclusão As principais conclusões a retirar deste estudo foram:

1. Os pilotos de motocross, durante a realização da manga utilizam elevadas

percentagens da FCmáx. e do VO2 máx durante grande parte do tempo,

sugerindo a elevada intensidade de exercício reportada pelos sujeitos

praticantes desta modalidade.

2. Apesar da forma cautelosa com que devemos encarar a informação

fornecida pela FC neste tipo de modalidades envolvendo um stress

emocional elevado e uma percentagem igualmente elevada de contracções

isométricas, os resultados mostram que o motocross é uma modalidade

com uma intensidade de exercício desenvolvida acima do LANvent e por isso

de intensidade elevada.

Page 37: Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do

Caracterização da intensidade de exercício na modalidade do motocross

31

7.Bibliografia

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