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CARACTERÍSTICAS DE UMA ESCOLA RURAL SELVÍRIA (MS) E PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES Divanir Zaffani Sant Ana 1 Antonio Lázaro Sant´Ana 2 Este trabalho foi desenvolvido na Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo (EMRSJ), situada no assentamento São Joaquim, em Selvíria (MS). Esta escola ofereceu aos seus professores um curso ligado ao Programa Escola Ativa do MEC segue as diretrizes da proposta da Educação do Campo que visa adequar o ensino às características e necessidades das pessoas que vivem e trabalham no campo. O trabalho objetivou verificar a infraestrutura física e didática da Escola e as percepções que os professores têm do seu trabalho. Foi aplicado um questionário a 10 professores e à diretora da escola, além de observação direta e consulta a documentos da escola. A EMRSJ recebe alunos de três assentamentos rurais e moradores de fazendas dos arredores e, desde 2010, atende do ensino infantil ao ensino médio. O prédio principal é de alvenaria, mas não tem espaço físico para acomodar todos os alunos, o que obrigou à diretora a colocar parte destes em uma casa ao lado da escola que está em estado lastimável. A EMRSJ situa-se a 60km do núcleo urbano, sendo que a estrada que faz esta ligação é de terra e apresenta problemas de conservação. Como 80% dos professores são da área urbana, estes permanecem na escola de segunda feira a quinta feira, alojando-se precariamente nas salas de aula. Na escola não havia, em 2011, nenhum meio de comunicação de urgência, como telefone ou internet. Mesmo com muitos aspectos a serem melhorados os professores declararam estar bastante satisfeitos com o público que atendem e com o trabalho que desenvolvem na escola. Mencionaram ainda que esta experiência tem servido como crescimento pessoal e também gostam de ter maior proximidade com a realidade dos alunos, pois sabem que estão trabalhando com uma comunidade que os respeita como profissionais e dá valor ao ensino que seus filhos recebem. Palavras-chave: Educação do campo, infraestrura de escola rural, visão dos educadores e políticas públicas. 1 Especialista em Educação do Campo (UFMS) e aluna do Curso de Geografia do Centro Claretiano de Educação. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Sociologia (Unesp) e professor da Unesp, Campus de Ilha Solteira (SP). E-mail: [email protected]

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CARACTERÍSTICAS DE UMA ESCOLA RURAL SELVÍRIA (MS)

E PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES

Divanir Zaffani Sant Ana1

Antonio Lázaro Sant´Ana2

Este trabalho foi desenvolvido na Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo (EMRSJ),

situada no assentamento São Joaquim, em Selvíria (MS). Esta escola ofereceu aos seus

professores um curso ligado ao Programa Escola Ativa do MEC segue as diretrizes da

proposta da Educação do Campo que visa adequar o ensino às características e necessidades

das pessoas que vivem e trabalham no campo. O trabalho objetivou verificar a infraestrutura

física e didática da Escola e as percepções que os professores têm do seu trabalho. Foi

aplicado um questionário a 10 professores e à diretora da escola, além de observação direta e

consulta a documentos da escola. A EMRSJ recebe alunos de três assentamentos rurais e

moradores de fazendas dos arredores e, desde 2010, atende do ensino infantil ao ensino

médio. O prédio principal é de alvenaria, mas não tem espaço físico para acomodar todos os

alunos, o que obrigou à diretora a colocar parte destes em uma casa ao lado da escola que está

em estado lastimável. A EMRSJ situa-se a 60km do núcleo urbano, sendo que a estrada que

faz esta ligação é de terra e apresenta problemas de conservação. Como 80% dos professores

são da área urbana, estes permanecem na escola de segunda feira a quinta feira, alojando-se

precariamente nas salas de aula. Na escola não havia, em 2011, nenhum meio de comunicação

de urgência, como telefone ou internet. Mesmo com muitos aspectos a serem melhorados os

professores declararam estar bastante satisfeitos com o público que atendem e com o trabalho

que desenvolvem na escola. Mencionaram ainda que esta experiência tem servido como

crescimento pessoal e também gostam de ter maior proximidade com a realidade dos alunos,

pois sabem que estão trabalhando com uma comunidade que os respeita como profissionais e

dá valor ao ensino que seus filhos recebem.

Palavras-chave: Educação do campo, infraestrura de escola rural, visão dos educadores e

políticas públicas.

1 Especialista em Educação do Campo (UFMS) e aluna do Curso de Geografia do Centro Claretiano de

Educação. E-mail: [email protected] 2

Doutor em Sociologia (Unesp) e professor da Unesp, Campus de Ilha Solteira (SP). E-mail:

[email protected]

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INTRODUÇÃO

A educação tem papel importante na transformação na vida das pessoas, e em especial

para as pessoas que vivem e trabalham na área rural, que com o decorrer dos anos, vêm

sofrendo com as mudanças políticas (ênfase ao urbano) e climáticas, tornado cada vez mais

difícil a permanência destas no campo.

Com a intenção de proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas que vivem e

trabalham no campo, os movimentos sociais, com o apoio da sociedade e várias instituições,

reivindicaram uma educação que pudesse atender as necessidades dessa população do meio

rural. Um trabalho educativo com o intuito de elevar a autoestima das famílias que vivem e

trabalham na área rural, por meio de disciplinas que tratem de questões relativas ao meio em

que estão inseridos e que os auxilie na garantia da sua reprodução social no campo. Pois, ao

contrário do que por muito tempo foi afirmado, o campo não é o lugar do atraso e nem deve

ser entendido como progresso, o fato de que para conseguir melhores condições de vida, as

pessoas tenham que deixar o campo e ir para as cidades.

Trata-se de uma decisão política a construção de uma Educação do Campo que possa

atender as necessidades das pessoas que vivem e trabalham no campo e reafirmar o campo

como lugar digno para viver e se desenvolver. Como afirma Caldart (2004, p.10), é necessário

construir uma educação “que contribua para afirmar o campo como território legítimo de

produção da existência humana e não só a produção agrícola”.

Neste trabalho foi estudada a Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo e Extensões

(EMRSJ) que se encontra instalada no Assentamento São Joaquim, à aproximadamente 60 km

da sede do município de Selvíria, situado na região noroeste do Estado do Mato Grosso do

Sul.

A Escola passou por mudanças a partir de 2009, quando não era uma unidade escolar

autônoma, mas apenas uma extensão e atendia somente o ensino até o 5º ano do Ensino

Fundamental. Com a criação de novos assentamentos rurais próximos à escola, as famílias

assentadas reivindicaram a ampliação do atendimento, de modo a abranger maior número de

alunos que necessitavam dar continuidade aos seus estudos. Em 2010, a Escola passou

oferecer o ciclo completo do Ensino Fundamental, até o 9º ano e também uma série do Ensino

Infantil. Outro acontecimento que deve ser destacado é que em 2011 estenderam-se as aulas

também para alunos que estão cursando o 1º e 2º anos do Ensino Médio. Em 2010 foi

ministrado um curso de formação continuada para os professores do 1º ao 5º anos do Ensino

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Fundamental, ligado ao Programa Escola Ativa do Ministério da Educação, que segue, em

linhas gerais, os princípios da proposta de Educação do Campo.

Dentre os 10 professores pesquisados que ministram aulas na Escola São Joaquim,

oito moram na sede municipal e passam a semana alojada na própria escola, no Assentamento

São Joaquim. O objetivo deste trabalho foi verificar se a escola estava conseguindo implantar

às diretrizes político-pedagógicas da Educação do Campo, quais foram às dificuldades

encontradas e qual a percepção dos professores em relação ao seu trabalho, à Educação do

Campo e aos alunos da área rural.

METODOLOGIA

A pesquisa realizada na Escola São Joaquim Pólo foi precedida de alguns contatos

com a Secretaria Municipal de Educação, especialmente com a Coordenadora Pedagógica,

que forneceu as informações preliminares sobre a Escola. A Secretária Municipal de

Educação solicitou uma carta explicitando os objetivos da pesquisa e em seguida autorizou a

visita à Escola São Joaquim. Solicitou também que todas as atividades de pesquisa no local

deveriam ser comunicadas previamente à direção da Escola por meio de um telefone que

servia para deixar recado em um pequeno comércio localizado a 2 km da escola.

A visita inicial à Escola Municipal Rural São Joaquim, na Unidade Pólo foi realizada

no início de junho de 2011, visando conhecer as características do local, os professores e as

rotinas do estabelecimento por meio de observações diretas e de uma entrevista com a

diretora. A Diretora durante a visita nos apresentou as 14 dependências da escola, o corpo

docente (alguns estavam ministrando aulas e outros corrigindo tarefas/preparando aulas) e os

materiais pedagógicos. Foi aplicado também, um questionário dirigido aos professores, com a

finalidade de verificar como os educadores organizam suas atividades de ensino, as

metodologias que utilizam, como percebem o público ao qual estão vinculados, a

compreensão que possuem das propostas da educação do campo e a visão geral que possuem

sobre a sua profissão.

Em agosto de 2011 foi realizada nova visita a Escola São Joaquim, Unidade Pólo, para

verificar o cotidiano de trabalho na Escola, consulta de documentos relativos à Escola

(Relatório de Avaliação Institucional Interna e o Histórico Descritivo do Funcionamento da

Escola, ambos elaborados pela direção e coordenação da Instituição) e também foi realizada

uma entrevista (gravada) com a Diretora e Coordenadora Pedagógica para tratar vários temas

relativos à pesquisa (o roteiro foi estabelecido para esclarecer dúvidas e complementar as

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informações coletadas a partir da análise dos questionários respondidos pela diretora e pelos

professores na primeira visita).

RESULTADOS

A Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo

A escola foi instalada na casa sede da antiga Fazenda São Joaquim quando esta foi

desapropriada para a construção do Assentamento São Joaquim, com área total de 3.514,27

hectares. O Assentamento possui 182 lotes (média de 13,2 ha cada lote), uma área

comunitária na antiga sede (onde está localizada a Escola M. R. São Joaquim Pólo), além das

áreas de reserva legal. Os antigos dormitórios da casa da fazenda foram transformados em

sala de aula, que permitiram dar início as primeiras turmas do ensino fundamental na Escola

São Joaquim, atendendo crianças dos Assentamentos São Joaquim, Alecrim e Canoas, assim

como também alunos que moram em fazendas próximas à Escola.

A Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo está localizada à aproximadamente 60

km do município de Selvíria. A partir de 2010 passou por ampliações que, segundo

informações da coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação, visou atender

reivindicações das famílias que moram na área rural, especialmente após a implantação dos

três assentamentos naquela região do município. Em 2010 passou a abranger do 6º ao 9 º anos

do Ensino Fundamental e uma classe do Ensino Infantil. Em 2011 também houve a abertura

de duas turmas de Ensino Médio (1º e 2º anos). Esta pesquisa focalizou apenas a Unidade

Pólo da Escola São Joaquim, embora haja duas extensões em fazendas da região e que

atendem alunos até o 5º ano.

Em agosto de 2011, 240 alunos estudavam na Escola São Joaquim (Pólo), distribuídos

em 20 (vinte) turmas, abrangendo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino

Médio. No total trabalhavam 18 (dezoito) professores na Escola São Joaquim Pólo, incluindo

a Coordenadora pedagógica e a Diretora. São 11(onze) turmas no período matutino (entrada

às 7h: 45min. e saída às 12h:10min, exceto a turma de Ensino Infantil que sai às 11h: 50 min.)

e 09 (nove) turmas no período vespertino (entrada às 13h:20min. e saída às 17h: 45min,

exceto a turma de Ensino Infantil que sai às 17h: 25min).

Na Escola São Joaquim, de acordo com a Diretora, há 01 (um) professor para cada ano

de 1º ao 5º anos e do 6º ao 9º anos há professores específicos para cada disciplina. Exceto a

série do Ensino Infantil, o 1º e 2º anos do Ensino Fundamental e também as duas turmas do

Ensino Médio, todas as demais séries possuem duas turmas, uma em cada período.

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A Secretaria da Educação, com propósito de atender melhor e tentar se enquadrar ao

propósito da Educação do Campo ofereceu de junho a dezembro de 2010, com duração de

200 horas, um curso de formação continuada, ligado ao Programa Escola Ativa, aos

educadores do 1º ao 5º anos da EMRSJ. Este curso foi ministrado pela Diretora e pela

Coordenadora Municipal do Programa Escola Ativa em Selvíria, lotada na Secretária

municipal de Educação, a partir de formação específica obtida em Campo Grande (MS).

O Programa da Escola Ativa visa desenvolver e adaptar os conteúdos à realidade do

público em questão, de modo que o professor possa incluir novas práticas pedagógicas e

metodológicas que façam o aluno aprender valorizando a sua cultura, para que o ensino desses

alunos seja de fato universal, no sentido tratado por Caldart (2007, p.03): “o que se quer,

portanto, não é ficar na particularidade, fragmentar o debate e as lutas; ao contrário, a luta é

para que o universal seja mais universal”.

Após o início do curso, os professores fizeram algumas modificações nas práticas

pedagógicas na escola e segundo a coordenadora pedagógica da Secretária Municipal da

Educação, tem havido a cada 15 dias monitoramento para verificar se está sendo posta em

prática os princípios do Programa Escola Ativa.

Como se trata de uma Escola de implantação recente, até o momento da pesquisa

(agosto de 2011) ainda não ocorrera à aprovação o Projeto Político Pedagógico específico da

EMRSJ. Algumas modificações foram feitas a partir do 2º semestre de 2010, após o início do

curso da Escola Ativa, com adaptações no conteúdo e especialmente na metodologia de

ensino.

O Plano de Desenvolvimento da Escola foi feito pela Secretaria da Educação e está em

trâmite no Departamento Jurídico da Prefeitura de Selvíria.

O curso de formação de professores por meio do Programa Escola Ativa do Ministério

da Educação foi um primeiro e importante passo para que os princípios da educação do campo

sejam aplicados na Escola São Joaquim, mas é necessário que sejam consolidados por meio

da aprovação de um Plano de Desenvolvimento da Escola e de um Projeto Político

Pedagógico também coerente com este fim. A Escola trabalha com calendário de alternância

regular de períodos de estudos, organizados em Tempo-Escola (TE) e Tempo-Comunidade

(TC), que “se realiza de forma dialética e processual, em espaço e tempos pedagógicos

internos à escola, sempre atendendo aos objetivos e conteúdos estabelecidos. (ESCOLA

MUNICIPAL RURAL SÃO JOAQUIM PÓLO E EXTENSÕES, 2011b).

A divisão das atividades em Tempo-Escola e Tempo-Comunidade é inspirada nos

princípios da Pedagogia da Alternância. Surgida em 1935, na França, pela insatisfação de um

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pequeno grupo de camponeses com o sistema educacional de seu país, o qual não atendia as

especificidades de uma Educação para o meio rural (GIMONET, 1999; ESTEVAM, 2003;

MAGALHÃES, 2004, citado por TEIXEIRA, BERNARTT E TRINDADE, 2008). A

pedagogia da alternância busca conciliar, num mesmo processo de ensino-aprendizagem, as

experiências de vida dos jovens e seus familiares com os saberes teóricos (conhecimentos)

adquiridos na escola (ESTEVAM, FELIPE e SILVA, 2010).

A Pedagogia da Alternância surgiu no Brasil em 1969, por meio da ação do

Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), o qual fundou as então

Escolas Família Rural de Alfredo Chaves, Escola Família Rural de Rio Novo do Sul e Escola

Família Rural de Olivânia, essa última no município de Anchieta (PESSOTI, 1978, citado por

TEIXEIRA, BERNARTT E TRINDADE, 2008).

Nos estabelecimentos escolares que atuam em regime de alternância normalmente o

Tempo-Comunidade é de uma ou duas semanas na escola, alternado por um período

semelhante do Tempo-Escola.

No caso da Escola Municipal Rural São Joaquim, segundo a Diretora, o Tempo-Escola

é composto de 80% do calendário escolar (segunda a quinta-feira), se desenvolve em espaço

interno da Escola, por meio de aulas, atividades de estudos, reflexões, leituras, oficinas,

atividades culturais e esportivas. O Tempo-Comunidade composto de 20% do calendário

escolar (sexta-feira), se desenvolve em espaço externo, abrangendo atividade de pesquisa, de

leitura, de escrita, de trabalho, acompanhados, orientados, avaliados e com registro de

freqüência feito pelo educador, no primeiro dia do Tempo-Escola posterior (segunda-feira).

Os trabalhos que são desenvolvidos na sala de aula e fora dela, como os TCs (Tempo

Comunidade), recebem valores variados que se juntam às avaliações escritas e resultam na média

bimestral (ESCOLA MUNICIPAL RURAL SÃO JOAQUIM PÓLO E EXTENSÕES, 2011b). Os

Documentos apresentados pela Coordenadora Pedagógica mostram que o índice de

desenvolvimento em 2010 foi bastante positivo, tendo 71% dos alunos aprovados, 14% de alunos

transferidos, apenas 9% foram retidos, e 6% desistiram (ESCOLA MUNICIPAL RURAL SÃO

JOAQUIM PÓLO E EXTENSÕES, 2011a).

Os alunos são de procedência da área rural, a grande maioria (70,83%) mora nos

assentamentos, enquanto 29,17% em fazendas e outros tipos de propriedades rurais, como sítios

ou chácaras.

A Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo conta com alguns recursos tecnológicos para

promover a educação dos alunos. Possui uma sala de informática (Unidade de Inclusão Digital)

com sete computadores. O Ministério da Educação doou cinco computadores, por meio do

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Programa Escola Ativa, e cinco computadores e uma impressora foram doados pela Eletrosul

(Programa Luz para Todos). Deste total, dois computadores doados pela Eletrosul ficaram na

Unidade Pólo (Foto 01) e três foram repassados para as Extensões (Sala Canoas, Sala Canaã e

Sala Floresta), pertencentes à EMRSJ. Em todos esses computadores, tanto da Unidade Pólo como

das Extensões, foi instalado o programa “Linux Educacional” que possibilita aos alunos fazerem

diversas leituras de obras literárias, consultar o conteúdo de várias disciplinas (Português,

Geografia, História, Matemática, e outras), e utilizarem jogos pedagógicos para melhorar a

aprendizagem. Não há conexão com a internet.

Há também três televisores, um aparelho de vídeo cassete, um computador com

impressora na Secretaria, um computador com impressora para os professores e uma máquina

copiadora.

Foto 01: Vista parcial da Sala de Informática da Escola Municipal Rural São Joaquim

Pólo (EMRSJ).

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

Os recursos didáticos que a Escola possui são Kits fornecidos pelo Programa Escola

Ativa, constituídos de material dourado, ábacos, globos geográficos, bússola, réplicas de

esqueletos humanos, tabuleiros de xadrez, alfabeto móvel, números móveis, jogos silábicos e os

cadernos de Ensino e Aprendizagem (Foto 02).

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Foto 2: Kits fornecidos pelo Programa Escola Ativa, EMRSJ.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

A Escola conta com uma biblioteca, embora até o momento da pesquisa esta se

encontrasse em local não apropriado (corredor) e havia falta de prateleira para parte dos livros. O

acervo da biblioteca inclui livros didáticos e paradidáticos (Foto 03).

Foto 3: Biblioteca instalada no corredor que dá acesso as salas de aula, EMRSJ.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

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O prédio em que atualmente está instalada a Escola São Joaquim foi doado pela

Associação dos Produtores do Assentamento São Joaquim (mas ainda depende de

regularização junto ao Incra). É uma construção muito bonita, com varandas em “L”(Foto 04),

e foi adaptada para tentar oferecer um ambiente adequado para os alunos. Há, porém,

deficiências, pois são nove salas para atender os 240 alunos (total de 20 turmas, sendo 11 no

período matutino e nove no período vespertino). Todas as nove salas de aula contêm carteiras,

mesa para o professor, lousa branca e ventilador.

Foto 04: Fachada e Lateral da Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

Na primeira visita, no saguão de entrada (pátio interno) do prédio, funcionava, de maneira

improvisada, uma turma de Ensino Infantil, além de ser o espaço de estudo e estar dos

professores, e de funcionar a secretária, coordenação pedagógica e a diretoria (Foto 05)

Foto 05: Saguão onde funcionava o Ensino Infantil e está instalada a secretária,

a sala da direção e da coordenação e a sala dos professores.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

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A falta de espaço para atendimento de todas as séries, fez com que a direção da Escola

deslocasse o Ensino Médio (1º e 2º) para uma dependência (casa antiga) fora do corpo da Escola

que fica no mesmo terreno e a poucos metros da Escola, mas que está em situação muito precária

(paredes com rachaduras, sem pintura, banheiro precário e mal conservado, teto sem forro e com

goteiras) (Foto 06). Desta forma foi possível instalar em uma sala específica a turma de ensino

infantil, mas o saguão continua a ser usado para as demais funções constatadas na primeira visita.

O mobiliário da sala de Educação Infantil conta com mesas apropriadas para a faixa etária dos

alunos, armários, mesa do professor, jogos, brinquedos lúdicos e banheiros com sanitários e

lavatórios adequados e separados por sexo.

Foto 06: Sala de aula do Ensino Médio que fica em uma dependência ao fundo do

terreno da EMRSJ.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

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Em um pequeno pátio externo ao prédio, mas pertencente ao corpo da Escola, uma das

professoras, que atende ao ensino de 1º ao 5º ano, organizou uma pequena horta em um antigo

cocho de madeira que antes era utilizado para o trato do gado da antiga fazenda, e agora serve

como canteiro, onde são cultivadas plantas medicinais como vick, hortelã, boldo, alecrim,

açafrão, poejo, erva-cidreira, dentre outros.

Na parte lateral da Escola, com entrada independente, há uma cozinha onde é

preparada a alimentação. As refeições são servidas em uma pequena varanda com 03 (três)

mesas compridas de madeira, em torno das quais os alunos se sentam para realizarem as

refeições. Como pode-se observar pela Foto 07, a varanda é aberta e não possui isolamento

em relação à área externa como seria desejável. No período matutino são servidas duas

refeições: chá com bolacha ou bolo antes de entrarem para sala de aula e um lanche reforçado

que é servido em horários diferentes conforme faixa etária. Os alunos que estudam no período

matutino e ficam para as aulas de reforço no período vespertino também almoçam na Escola.

Para os alunos do período vespertino é servida apenas uma refeição às 15hs para o Ensino

Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental, e às 15hs: 30min para os alunos dos anos

finais do Ensino Fundamental (RAII, 2011).

Foto 07: Varanda onde são realizadas as refeições dos alunos e professores, EMRSJ.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

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Em função da distância em que se encontra a Escola da sede municipal (cerca de 60

km) e sendo os professores, em sua grande maioria, provenientes da cidade, esses

permanecem na Escola durante a semana e só retornam para suas casas na quinta-feira, pois

na sexta estão previstas atividades extraclasse (Tempo- Comunidade). A Escola não possui

dormitórios para que os seus professores possam descansar depois de um dia de trabalho. Para

dormir os professores juntam as carteiras no centro da sala e colocam os colchões sobre este

estrado formado pelas carteiras ou então pelas cadeiras (Foto 08). Os professores disseram

que usam esse procedimento para tentar se proteger de cobras, escorpiões, aranhas e outros

animais peçonhentos que às vezes são encontrados no interior do prédio ou nas imediações. A

refeição do jantar é preparada por duplas de professores, em forma de rodízio, de modo que

todos colaborem com esta tarefa.

Foto 08: Professor demonstrando como usam as carteiras para colocar os colchões nas

salas de aula, EMRSJ.

Fonte: Autora da Pesquisa (agosto 2011)

Percepção da Diretora sobre a EMRSJ e sobre o trabalho

A Diretora da Escola São Joaquim, Inêz Rezende, é, também, uma moradora do

campo e estudou quando criança em uma escola na área rural, em sala multisseriada.

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Lecionou durante muitos anos nesse tipo de escola no campo, portanto conhece a trajetória da

educação no meio rural da região. É uma pessoa bastante interativa, com facilidade de

comunicação e uma profissional bastante capacitada para a função que exerce. Pareceu-nos

bastante comprometida com os alunos, com a comunidade e com o grupo que a auxilia

(coordenadora e outros professores) e com o corpo docente e os funcionários em geral.

Demonstrou-se muito satisfeita com o público atendido pela Escola, apontando que os alunos

em sua grande maioria são educados e, de maneira geral, tranquilos. Também considera que

os jovens que ali estudam têm consciência dos seus deveres e as crianças são responsáveis

com os afazeres escolares.

Sobre a capacidade e aprendizagem dos alunos, a Diretora compreende que todos têm

capacidades e competências individuais para aprender, o que mostra a sua experiência como

educadora, pois cada indivíduo é um ser único, passível a ter uma formação satisfatória

mesmo com diferenças específicas.

Em relação ao Projeto Político Pedagógico adotado pela Escola São Joaquim, a

Diretora afirmou que se trata da proposta pedagógica da educação do campo, que respeita as

diferenças, contempla a diversidade do campo e todos os aspectos sociais e econômicos. Parte

dos professores fez o curso do Programa Escola Ativa, que destinou se aos professores do 1º

ao 5º ano. A Diretora avaliou que estes docentes já estão colocando em prática o que

aprenderam e utilizam a referida metodologia desde junho de 2010. Estes aspectos são

importantes, pois como afirma Caldart (2008):

A educação do Campo nasceu também como crítica a uma educação pensada em si

mesma ou em abstrato; seus sujeitos lutaram desde o começo para o debate

pedagógico se colasse a sua realidade, de relações sociais concretas, de vida

acontecendo em sua necessária complexidade. (CALDART, 2008, p.72).

A Diretora considera que a Escola tem conseguido o apoio dos pais, sendo que sua

avaliação baseia-se no fato de que estes sempre estão presentes nas reuniões e mostram-se

participativos, colaborando na formação dos filhos, especialmente no Tempo-Comunidade.

A grande dificuldade encontrada pela Diretora refere-se à distância do centro urbano,

combinada com a falta de meios de comunicação, inclusive para os casos de emergência. O

local onde a Escola está situada não possui sinal para ligações a partir de telefones celulares e

a escola não possui telefone fixo convencional e nem acesso à internet. Outros aspectos

negativos apontados pela Diretora são a dificuldade de interação com os órgãos públicos da

cidade, a falta de alguns equipamentos para o desenvolvimento do trabalho, as instalações

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físicas insuficientes, como a falta de salas de aula para todas as turmas, de salas para os

professores, para a direção e para a coordenação, além de não existir dormitórios para os

professores que passam a semana na Escola.

Mesmo com muitos aspectos ainda necessitando melhoria, a Diretora se mostra

bastante entusiasmada com o trabalho que vem sendo desenvolvido e com as pessoas com

quem convive na Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo.

Ao apontar os pontos positivos do trabalho na Escola, a Diretora ressalta a interação

Escola e comunidade e elogia os professores (professores esses que na sua grande maioria

foram convidados ou selecionados pela Secretária Municipal de Educação de Selvíria e alguns

também pela própria Diretora), mostrando-se satisfeita com o corpo docente que atua na

Escola. Outro aspecto destacado pela Diretora é o comprometimento de cada um dos

professores com o desenvolvimento da Escola, permitindo com isso que ela descentralize o

trabalho de gestão, dividindo os encargos com os colegas de trabalho.

Percepções dos professores sobre a EMRSJ, o trabalho e os alunos

A pesquisa buscou verificar junto aos professores, como estes organizam suas

atividades de ensino, suas percepções sobre os alunos e visão que possuem da Educação do

Campo e de sua profissão.

Foram pesquisados 10 professores (sete mulheres e três homens) que ministram aulas

para os três níveis de ensino: educação infantil, ensino fundamental e médio. Destes

professores oito são de procedência da área urbana e apenas dois são moradores da área rural

(assentamento).

Em relação ao tempo que exercem a profissão, dos 10 professores pesquisados, quatro

professores têm de um a cinco anos de atuação, três trabalham de seis a nove anos e dois tem

mais de 10 anos de experiência (um não respondeu). Quanto ao tempo que estão EMRSJ,

nove professores estão no local há menos de dois anos, portanto, apenas um professor está

desde o início da ampliação do atendimento e da criação da Escola São Joaquim enquanto

unidade autônoma, em 2010.

Observou-se que apenas dois professores não possuem curso superior, sendo que um

deles está cursando pedagogia e o outro apenas concluiu o curso de magistério (nível médio).

Os professores possuem formação em várias áreas, sendo que três são graduados em

pedagogia, dois graduaram-se em letras e outros três concluíram o curso de matemática, um

geografia (plena e bacharelado) e um história (plena e bacharelado). Dois professores, além da

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graduação possuem pós-graduação, um em lingüística e o outro em psicopedagogia. Trata-se,

de modo geral, de um corpo docente com qualificação formal adequada.

Verificou-se que 70% dos professores pesquisados que ministram aulas na Escola São

Joaquim foram selecionados pela Secretária Municipal da Educação, 20% dos professores

foram selecionados conjuntamente pela Secretária da Educação e pela Diretora, e apenas 10%

por indicação de uma colega, com posterior avaliação da Direção. Em alguns casos foram

feitos convites (em função do conhecimento que a Secretária ou Diretora possuía em relação

ao docente) e em outros foram selecionados a partir de currículos entregues na Secretaria

Municipal de Educação de Selvíria. Um aspecto importante é que os professores não foram

designados contra a vontade, mas selecionados e convidados para assumir as aulas na

EMRSJ.

Alguns autores, como cita Beltrame (2010), que pesquisam o ensino no campo,

mostram que é frequente a presença de professores com baixa qualificação e que aceitam

trabalhar e receber salários aviltantes nas escolas rurais por não terem outra opção, o que

refletirá na qualidade do ensino ministrado. É uma constante nesses estudos a afirmação de

que o professor do meio rural enfrenta uma série de dificuldades, causadas tanto pela

infraestrutura deficiente dos prédios escolares, quanto pela precariedade salarial e falta de

oportunidades para a formação adequada ao desempenho da profissão. Esse professor, na

maioria das vezes sem formação formal oferecida pelo sistema de ensino, aceita passivamente

as condições que lhe são propostas ou impostas, com salário que, em certas regiões do país,

mal paga o custo do transporte para recebê-lo (ALENCAR, 1993, citado por BELTRAME,

2010, p.02).

Dentre os professores pesquisados, cinco responderam que não fizeram o curso do

Programa Escola Ativa, oferecido pela Secretária Municipal da Educação, em convênio com o

Ministério da Educação, pois estes professores lecionam somente para o segundo ciclo do

Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e para o Ensino Médio. O curso do Programa Escola Ativa

foi destinado apenas aos professores que ministram aulas do 1º ao 5º ano do Ensino

Fundamental, sendo que três docentes pesquisados já fizeram o curso e os outros dois

professores estavam realizando o curso (agosto de 2011).

A opinião dos professores sobre o curso oferecido pela Secretária da Educação é muito

positiva. Dois dos professores enfatizaram os novos conhecimentos proporcionados pelo

curso: “deu nova visão sobre o processo ensino e aprendizagem” e trouxe “um novo

aprendizado”; outros dois professores destacaram a aderência do curso a realidade do campo,

considerando muito pertinente “por estar totalmente relacionado com a escola do campo” ou

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porque “se encaixou na Escola São Joaquim e deu certo”; um dos professores disse que

acredita que o curso proporciona melhoria na qualidade do ensino e desenvolve valores éticos,

cívicos e democráticos; enquanto outro pesquisado avaliou que o curso oferece material

pedagógico que lhes proporciona maior flexibilidade nas disciplinas.

Em relação à questão se estão colocando em prática a proposta pedagógica da Escola

Ativa, todos os professores que participaram do curso responderam que sim, sendo que cada

professor relatou alguns exemplos da metodologia que empregam. Um professor relatou que

utiliza o caderno de Ensino e Aprendizagem, o Alfabeto Móvel, os jogos das sílabas e o

material dourado. Outro professor mencionou que lança mão da caixa de sugestões, caixa de

compromisso e do cartaz dos combinados (o professor e a turma assumem determinado

objetivo ou meta, o “combinado”). O ambiente alfabetizador e os kits pedagógicos oferecidos

pelo curso foram mencionados por um dos professores, enquanto outro afirmou que coloca

em prática as propostas por meio da arte e da música, explorando o contexto regional. Há

ainda um professor que utiliza também o caderno de ensino e aprendizagem, o material

dourado, o diário de leitura e o comitê de leitura, dentre outros.

Quanto às metodologias em geral utilizadas em sala de aula, cinco professores

responderam que utilizam a metodologias propostas pela Escola Ativa, um professor relatou

que adota aula expositiva com a utilização da lousa, livros didáticos e equipamentos

multimídias, um professor mencionou livros didáticos, globo terrestre, mapas e vídeos para o

ensino e aprendizagem do conteúdo e um professor citou a utilização de material concreto

sempre que possível e voltado para o cotidiano dos alunos. Dois professores não responderam

esta questão. Em conversas informais, no entanto, pode-se notar a utilização de práticas

ligadas ao campo, como o professor de matemática que ensina áreas tipicamente utilizadas no

meio rural e o cálculo de altura de árvores.

Também foi solicitado aos professores que avaliassem os alunos da Escola São

Joaquim e, caso tivessem experiência anterior, fizessem comparação com alunos de outras

escolas. Não houve consenso a respeito dos alunos. Quatro professores destacaram aspectos

diferenciais e três acharam que são iguais aos da cidade. Dentre os que mencionaram

diferenças em relação aos alunos da cidade, um professor considerou que os alunos da Escola

São Joaquim têm maior compromisso, são humildes e muito mais fácies de trabalhar e os

outros três professores avaliaram que são disciplinados, têm interesse de aprender o conteúdo

e participativos, enquanto os alunos nas escolas urbanas em que lecionaram eram

indisciplinados e o interesse de aprender era menor do que na zona rural. Já os professores

que não identificaram diferenças entre os alunos, destacaram, no entanto, que a Escola São

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Joaquim diferencia-se pela metodologia empregada que busca trabalhar a partir da realidade

do educando. Outros dois professores não fizeram comparações, sendo que destes um

mencionou aspectos positivos dos alunos (“são meigos e esforçados”) e um professor

considerou que a maioria dos alunos é irresponsável e não estuda o suficiente para ter um

melhor desempenho escolar.

A Escola São Joaquim se encontra há 60 km da cidade de Selvíria e a 70 km da cidade

de Ilha Solteira, cidades em que reside a maioria dos professores que lecionam nesta Escola.

Além da distância, a estrada é de terra e quase todo tempo permanece em estado de

conservação não adequado (quando chove fica intransitável para alguns tipos de veículos).

Para conseguir exercer a profissão 80% dos professores permanece na Escola durante a

semana. Como já mencionado, os professores improvisam os dormitórios nas salas de aula,

colocando os colchões sobre as carteiras escolares, como forma de diminuir o risco de picadas

de animais peçonhentos. Os professores chegam segunda-feira de manhã e retornam para os

seus lares somente na quinta feira, após o expediente de trabalho.

Foi perguntado aos professores como estes vêem o desafio de ficar longe de casa e da

família durante a semana. As experiências relatadas demonstraram a seriedade destes

educadores. Os professores, de modo geral, consideram que foi um desafio, mas que tem

proporcionado um crescimento pessoal e profissional, pelo convívio diário mais estreito do

grupo, embora haja vários desafios e sacrifícios, como ficar longe da família, a experiência e

vivência no meio rural, a falta de comunicação, de recursos pedagógicos, dentre outros

fatores. Os dois professores que não permanecem na Escola moram nos assentamentos e usam

o transporte escolar dos alunos. Os professores que moram na cidade vêm de ônibus escolar

específico da Prefeitura de Selvíria.

Quando são questionados sobre o conhecimento das propostas da Educação do

Campo, sete professores afirmaram que conheciam, enquanto três professores responderam

que não. Cabe destacar que dentre os cinco professores que fizeram o Curso Programa Escola

Ativa, dois afirmam não saber o que é Educação do Campo (são professores que ainda estão

cursando), já dentre os cinco professores que não fizeram o curso Programa Escola Ativa,

apenas 01 (um) professor não sabe o que é Educação do Campo. Provavelmente os

professores que estão fazendo o curso do Programa Escola Ativa não associaram o termo

“educação do campo” com o conteúdo do curso, embora a proposta metodológica seja

semelhante. Deve-se destacar também que o conceito de educação do campo está em

construção:

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O conceito de Educação do Campo é novo, mas já está em disputa, exatamente

porque o movimento da realidade que ele busca expressar é marcado por

contradições sociais muito fortes. Para nós o debate conceitual é importante à

medida que nos ajuda a ter mais claro quais são os embates e quais os desafios

práticos que temos pela frente. No debate teórico o momento atual não nos parece

ser o de buscar “fixar” um conceito, fechá-lo em um conjunto de palavras: porque

isso poderia matar a idéia de movimento da realidade que ele quer apreender,

abstrair, e que nós precisamos compreender com mais rigor justamente para poder

influir ou intervir no seu curso (CALDART, 2007, p.02).

Ao opinar sobre o que os professores pensam sobre a Educação do Campo, a maioria

dos professores que conhecia a proposta, a considerou importante e mencionou o fato de que a

ênfase desta proposta político-metodológica é trabalhar a realidade e o cotidiano do aluno,

sendo adequada para a EMRSJ. Um professor associou a proposta ao processo de

flexibilização da grade curricular do ensino médio e disse concordar com o processo, desde

que o aluno também tenha os conteúdos e disciplinas exigidos no vestibular.

Ao serem questionados sobre qual a maior dificuldade que o professor encontra ao

trabalhar na Escola Joaquim, cinco professores responderam ser a falta de comunicação

(telefone, internet, etc.) e dois professores responderam que é a falta de material didático e

paradidático. O transporte escolar e a distância da cidade também foram mencionados, cada

um, por dois professores. Outros dois professores afirmaram não ter nenhuma dificuldade,

seja porque a “escola é um sonho de muitos anos que se tornou realidade” ou porque tem a

colaboração da coordenadora pedagógica, além de pesquisar muito.

Em relação aos aspectos positivos em trabalhar na Escola São Joaquim, quatro

professores mencionaram o crescimento pessoal e as boas relações pessoais estabelecidas no

âmbito da escola (“Gosto muito, me sinto em casa, aqui somos uma família, sempre contando

com o apoio de todos”). A ampliação dos conhecimentos e da aprendizagem e a boa relação

entre professores e alunos foram citados, cada aspecto, por três professores. Outros fatores

como reconhecimento pessoal do trabalho, proximidade com a realidade dos alunos, gostar de

dar aulas e até a economia das despesas de casa e o fato de não ter progressão continuada

foram aspectos citados por um professor (cada uma dessas respostas).

De modo geral observa-se que o corpo docente tem formação condizente para o

exercício da profissão e busca adequar o ensino à realidade dos alunos do campo

(especialmente aqueles docentes que frequentaram o curso do Programa Escola Ativa).

Mostram-se satisfeitos com o tipo de público que atendem e consideram que estão vivendo

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uma experiência importante como professores, com uma convivência diferenciada com os

colegas, demais funcionários e alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo, embora de implantação muito recente e

com alguns problemas de infraestrutura física (como a falta de salas de aulas, falta de

alojamento para os professores, dificuldades do transporte escolar, de comunicação e de

manutenção das estradas) está constituindo uma experiência importante de educação no meio

rural do município de Selvíria (MS), na medida em que busca considerar as especificidades do

campo. A maneira de compor o quadro docente (após passarem por um processo de avaliação

de currículo, o professor é convidado e não designado para trabalhar na referida Escola); o

forte envolvimento, tanto da direção, como do corpo docente e administrativo na organização

da escola para que o processo pedagógico de ensino-aprendizagem aconteça de forma

adequada; a atenção que é possível dispensar aos alunos (as turmas tem no máximo 15

alunos), trabalhando a metodologia e os conteúdos de modo mais próximo à sua realidade

cotidiana, são fatores diferenciais e relevantes da EMRSJ.

A análise dos dados da pesquisa mostra que os professores, em sua grande maioria,

gostam de trabalhar no campo, e especificamente naquela escola e se sentem satisfeitos com

as características e interesse dos discentes. A avaliação mais detalhada da aplicação dos

princípios e metodologias propostos pela Educação do Campo demandaria uma pesquisa ao

longo de um tempo maior e com uma imersão mais profunda no cotidiano da Escola e no

trabalho dos professores, que não foi o foco deste trabalho. As observações realizadas,

entretanto, e os instrumentos de análise utilizados nos trazem evidências de que há um

ambiente fértil (gestão democrática da escola, professores qualificados e motivados para o

trabalho, turmas pequenas que permitem atender as especificidades de cada aluno, esforço

metodológico de alguns professores no sentido de adequar os conteúdos à realidade dos

alunos e valorizar sua cultura) para que os princípios da Educação do Campo se desenvolvam

na Escola São Joaquim.

É necessária, também, a valorização dos professores e de suas condições de trabalho

(remuneração, alojamento adequado), de modo estimular a permanência no local por mais

tempo, consolidando iniciativas e formando equipes mais coesas, e, concomitantemente,

incentivando a formação de jovens e adultos da área rural para estes possam se tornar, no

futuro, professores da Escola Municipal Rural São Joaquim Pólo e Extensões.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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do Campo, Eixo Temático II, 2010.

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2004, p. 13-52.

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_________ Por uma Educação do Campo. In: SANTOS, C. (Org.). Educação do campo:

Campo-políticas públicas-educação. Brasília, DF: INCRA; MDA, 2008.

ESCOLA MUNICIPAL RURAL SÃO JOAQUIM PÓLO E EXTENSÕES. Índice de desenvolvimento,

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_______ Relatório de avaliação institucional interna de 2010. Selvíria (MS), 2011b. 09p.

ESTEVAM, D. O., FELIPE, D. F., SILVA, F. N. A situação dos jovens egressos da Casa Familiar

Rural de Armazém (SC) e de seus projetos profissionais e de vida: Um estudo de caso. In:

SEMINÁRIO SOCIOLOGIA & POLÍTICA, 2, Curitiba, 2010. Anais..., vol. 8, Curitiba, 2010.

Disponível em: http://www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br/paginas/anais/8.html

Acesso: 14/10/2011.

TEIXEIRA, E. S., BERNARTT, M. de L., TRINDADE, G. A. Estudos sobre Pedagogia da

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Pesquisa, São Paulo, v.34, n.2, p. 227-242. 2008. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ep/v34n2/02.pdf Acesso em: 13/10/2011.