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CAPOEIRA E SUA APLICABILIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR · capoeira se espalhou pelo Brasil, porém foi nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco onde se encontravam os maiores

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CAPOEIRA E SUA APLICABILIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Autor: Nislei Teresinha Steffler1 Orientador: Ms. Bruno Sergio Portela2

RESUMO: O objetivo do trabalho e valorizar a capoeira nas aulas de Educação Física dando ênfase a questões culturais, no combate ao preconceito racial, a indisciplina, na elevação da auto-estima do adolescente ajudando a construir sua identidade social buscando aproximar os alunos das culturas populares com igualdade de participação, bem como estimular o desenvolvimento das aptidões físicas. O instrumento utilizado com os alunos num primeiro bloco foi um questionário onde busca questionar socialização, indisciplina, perspectiva de aprender o novo, decisões a serem tomadas. O instrumento utilizado com os professores neste estudo foi um questionário sendo utilizada uma abordagem quantitativa para ambos os sexos que atuam na área de Educação Física do ensino Fundamental e Médio na rede pública e particular das escolas do município de Quedas do Iguaçu no Estado do Paraná - Brasil. Durante a aplicação do projeto fizemos oito intervenções pudemos observar vários aspectos que merecem ser ressaltados. O primeiro e o aumento de interesse pelas aulas, eles ficavam ansiosos pelas aulas de capoeira com instrumentos musicais alem de alunos de outras series pedirem para participar das aulas de capoeira. A inovação faz-se necessária nas aulas de Educação Física. Os resultados foram ótimos, todas as sextas feiras às 17h no Centro comunitário do Bairro Alto Recreio acontecem às aulas de capoeira para alunos, pais e comunidade em geral melhorando a convivência, auto-estima, transformando o ambiente escolar de forma que reflete no sucesso escolar possibilitando a permanência dos alunos na escola.

Palavras-Chaves: luta; Capoeira na Escola; Educação Física

1 INTRODUÇÃO

Por força da Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº. 10.639/03 que preconiza a

obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, em nível dos

estabelecimentos de ensino, público e privado da Educação Básica. O objetivo deste trabalho

foi difundir a prática de capoeira no Colégio Estadual Alto Recreio no Município de Quedas

1 Graduada em Educação Física (FACEPAL) Especialização em Administração Escolar (FAFI) Docente do Colégio Estadual Alto Recreio E.F.M. 2 Graduado em Educação Física (UNICENTRO) Especialização em Ergonomia (UFPR) Mestre em Engenharia Mecânica (UFPR) Docente do Departamento de Educação Física da UNICENTRO

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do Iguaçu. A referida turma foi escolhidas intencionalmente para amostra de estudo onde se

pretende trabalhar a prática da capoeira com a finalidade de transformar o ambiente escolar

elevando a auto estima e promovendo o sucesso dos alunos, observando se com atividades

relacionadas a capoeira venham a ter um melhor desempenho, ligado a sua permanência na

escola, através de resultados eficientes. Com o intuito demonstrar os benefícios

proporcionados pela pratica e o poder que a capoeira tem em reverter situações, em mudar

vidas e trazer uma esperança à crianças que, provavelmente, não teriam um futuro promissor

devido à sua classe social ou, por outro lado, quando vivem em uma situação econômica

estável, se entregam ao sedentarismo dedicando todo o seu tempo livre aos vídeo games e

computadores ou, até mesmo, ás drogas.

Pensamos que a capoeira pode contribuir para o desenvolvimento de valores na

formação dos jovens em idade escolar, pois ela trabalha, entre outros aspectos, a afetividade,

equilíbrio, destreza, lateralidade, respeito, coleguismo e auto-estima. Além disto, proporciona

de qualidades físicas, citadas por Campos (2001), que são: flexibilidade, força, agilidade,

velocidade, bem como equilíbrio e coordenação. A Educação Física Escolar (EFE) contribui

para o desenvolvimento dos alunos quando o professor cria situações para que o aluno exerça

sua criatividade.

O professor não deve tentar automatizar os movimentos e sim propor espaços

educativos que promovam um ambiente onde o eles possam se desenvolver naturalmente, ou

seja, não só reproduzir, mas, sobretudo, motivá-los a construir novos jogos e brincadeiras com

a participação de todos, visando um ambiente que proporcione o crescimento e

desenvolvimento, ou seja, o professor colocar o aluno como centro do processo.

Vemos na capoeira como um conteúdo colaborador no processo de construção de

identidade, quando ensinamos o aluno a desenvolver movimentos que lhe sejam úteis no

convívio social, movimentos como o domínio de corpo, equilíbrio, bem como quando o aluno

executa um movimento que requer certo grau de equilíbrio, como, por exemplo, uma parada

de cabeça. Nestes momentos o aluno percebe que é capaz, e exemplos como esses valorizam a

auto-estima, auxiliando a construção da sua ação coletiva enquanto agente no contexto

escolar. Mais que isso, ao participar de um grupo, onde é dada a oportunidade de se

organizarem, os adolescentes tendem a tomarem as decisões de maneira coletiva, sempre

pensando com o outro, assim como acontece no desenvolvimento do jogo: um joga com o

outro e não contra o outro.

Fleori (2001) acredita na relação de participação, na qual cada indivíduo se firma com

os outros. Para este autor, cada homem só se realiza na relação com os outros e que, mesmo

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divergindo dos outros, é impossível viver isolado. Pode viver com ou contra, nunca sem os

outros. Deste modo, pode-se dizer que estes pensamentos estão de acordo com a filosofia da

capoeira, visto que neste caso o sujeito da ação humana é o espaço coletivo.

Assim como Freire (1975) diz que ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém

se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo, quer

dizer, o processo de conscientização se desenvolve na medida em que as pessoas, em grupo,

discutem e enfrentam os problemas comuns.

Várias formas de cultura foram extintas, mas a capoeira (entre outras) chegou até

mesmo a ser proibida, mas resistiu a todos os problemas da sua evolução história, se

lapidando até chegar ao estágio atual. Além de conseguir se consolidar na história do Brasil, a

capoeira mostrou-se capaz de contribuir em diversos campos de atuação, entre eles o da

educação.

A capoeira tem muito que ensinar. Ela é luta, é dança, é jogo, é expressão corporal, é

técnica, é arte, é folclore, é esporte, enfim, é cultura. Isso significa que está ligada às

necessidades básicas de nossos alunos, nos aspectos históricos, físicos, psíquicos e culturais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Origens da capoeira

A capoeira surgiu entre os escravos como um grito de liberdade.

Os negros da África, a maioria da região de Angola, foram trazidos para o Brasil para

trabalhar nas lavouras de cana de açúcar como mão de obra escrava.

Segundo Menezes (1976), a vida dos negros trazidos da África de maneira forçada, brutal,

consistia em trabalhar de sol a sol para os senhores portugueses que exploravam as riquezas

brasileiras desde o descobrimento.

Já Oliveira (1989, p. 21), também conhecido por Mestre Bola Sete, em seu livro A

Capoeira Angola na Bahia, afirma que:

Os primeiros escravos africanos a chegarem no Brasil e os que vieram em maior número foram os negros bantos, eram naturais de Angola. Quando aqui chegavam eram separados para que um senhor não ficasse com negros que falassem o mesmo dialeto, a fim de evitar que se comunicassem e armassem rebeliões. A relação entre os senhores e os negros escravos era de propriedade, decorrente do pagamento por

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sua aquisição. Os senhores julgavam-se no direito de exigir dos negros os mais duros trabalhos.

Chegando a nova terra, os escravos eram repartidos entre os senhores, marcados a

ferro em brasa como gado e empilhados na sua nova moradia: as prisões infectadas das

senzalas. Os colonizadores agrupavam os africanos de diferentes tribos, com hábitos,

costumes e até línguas diferentes, eliminando, assim, o risco de rebeliões. Os negros

chegavam ao Brasil, depois de passarem dias empilhados em navios negreiros, trazendo como

única bagagem suas tradições culturais e religiosas. O negro trouxe consigo suas danças e

lutas guerreiras que de muita valia veio a se tornar para os escravos fugitivos.

Na África, mais precisamente na região de Angola, os negros lutavam com cabeçadas

e pontapés nas chamadas “luta das zebras”, disputando as meninas das suas tribos com a

finalidade de torná-las suas esposas. Na ausência de armas, os negros buscaram nas danças

guerreiras sua forma de defesa. Da necessidade de preservação da vida, surgiu a capoeira.

Tendo como mestra a mãe natureza, notando brigas dos animais as marradas, coices, saltos e

botes, utilizando-se das manifestações culturais trazidas da África (como, por exemplo,

brincadeiras, competições etc. que lá praticavam em momentos cerimoniais e ritualísticos),

aproveitando-se dos vãos livres que aqui se abriam no interior das matas e capoeiras, os

negros criam e praticam uma luta de auto defesa para enfrentar o inimigo.

Com o passar dos tempos, os nossos colonizadores perceberam o poder fatal da

capoeira, proibindo esta e rotulando-a de “arte negra”, Santos (1998). Em 1888 foi abolida a

escravatura e com isso muitos escravos foram lançados nas cidades sem emprego e a capoeira

foi um dos meios utilizados para a sobrevivência. Alguns ex-escravos passaram a ganhar a

vida fazendo pequenas apresentações em praça pública, porém muitos deles utilizaram a

capoeira para roubar e saquear. Os marginais brancos também aprenderam a nova luta com o

convívio mais direto com os negros e introduziram na sua prática as armas brancas.

Formaram-se verdadeiros bandos de marginais aterrorizando a população. Já em 1890 a

capoeira foi colocada fora da lei pelo Código Penal da República, que dizia:

Art. 402 - Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão celular de dois meses a seis meses (Barbieri, 1993, p.118).

Segundo Sodré (1983), as punições aplicadas eram reclusão na ilha Fernando de

Noronha e castigos corporais, tais como chibatadas. Segundo Areias (1983), os seus chefes

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foram encarcerados ou exterminados, mas a capoeiragem continuou fazendo o seu trajeto. A

capoeira se espalhou pelo Brasil, porém foi nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e

Pernambuco onde se encontravam os maiores comentários entre o povo e a imprensa local.

Apesar de reprimida a capoeira continuou a ser praticada e ensinada para as gerações

seguintes.

Em 1929 ocorreu a quebra da Bolsa de Nova Iorque com a conseqüente crise do

capitalismo, o Brasil viveu um momento de ebulição das forças sociais. Com a entrada de

Getúlio Vargas no governo do país, medidas foram tomadas para angariar a simpatia popular,

entre elas a liberação de uma série de manifestações populares. Para tal, Getúlio Vargas

convidou Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, para uma apresentação no Palácio do

Governo. Temendo a popularização da arte - luta, Getúlio Vargas permitiu a abertura da

primeira academia de capoeira, que teria um cunho folclórico.

Após essa passagem, a capoeira perdeu suas características de luta marginal e

vadiagem, visto que para freqüentar a academia de mestre Bimba os indivíduos eram

obrigados a ter carteira de trabalho assinada. Grande parte do que se sabe hoje sobre a

capoeira praticada pelos escravos foi transmitido pelas gerações de forma oral, visto que "... a

documentação referente à época da escravatura foi queimada por Rui Barbosa, Ministro da

Fazenda no governo de Deodoro da Fonseca". (Sete 1997). Enfim, a capoeira ganhou a

popularidade estimada por Bimba, e até os dias de hoje vem reunindo adeptos pelo país.

2.2 Importância pedagógica da capoeira

A Capoeira na Escola, associada à Educação Física, deverá ter um papel fundamental

enquanto atividade pedagógica e despertar no alunado uma relação concreta sujeito-mundo.

Para Natividade (2004), o Parâmetro Curricular Nacional – Ensino Fundamental (PCN-EF)

acertou em incluir as lutas como possível conteúdo para a Educação Física. “Também

concordam com alguns autores que a Capoeira como um instrumento da Educação Física é

importante para a educação global do indivíduo”.

Natividade (2004) afirma que, a falta de vivência, conhecimento da área de luta é um

dos grandes empecilhos para que esta prática se torne rotineira como o futsal, handebol,

basquete, dança entre outras. Porém, nossos educadores, em sua grande maioria conhecem o

PCN-EF, sabem de sua importância para o acervo corporal e cultural do aluno.

Entretanto a presença da capoeira no espaço escolar, está cada vez menor, seja através

de apresentações, voluntários da comunidade, projetos do governo etc. A capoeira sendo uma

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expressão cultural que mistura esporte, luta, arte marcial, defesa pessoal, dança, educação,

musica, lazer, cultura popular e brincadeira, desenvolvida por descendentes de escravos

africanos trazidos ao Brasil, além de representar a resistência dos negros à escravidão não

poderia ser deixada de lado como está sendo em nossa escola.

A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus múltiplos enfoques, que possibilitam a luta, a dança, a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo. A mesma deve ser ensinada globalizadamente, deixando que o aluno identifique-se com os aspectos que mais lhe convier [...] (Souza, 2001, p.44).

No aspecto motor, especificamente, a capoeira deve ser reconhecida como uma

alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas da criança, como esquema corporal,

lateralidade, equilíbrio, orientação espaço temporal, coordenação motora, etc.

As atividades propostas de capoeira devem estar voltadas para atuarem de maneira

direta e indireta sobre os aspectos cognitivo, afetivo, social e motor dos alunos. Um dos

principais diferenciais que a capoeira possui em relação a outros esportes, está em seu aspecto

rítmico. A utilização de instrumentos musicais e canções em sua prática, faz com que o aluno

desenvolva o domínio do ritmo em todas as suas formas: aprendendo a tocar instrumentos

como o berimbau, pandeiro e atabaque; a cantar em público, tornando-o mais desinibido e

utilizando a música como forma de aprendizado, uma vez que as canções da capoeira falam

da história desta arte. Entende-se assim que educando a criança social, física e

espiritualmente, terá ela maior facilidade de inserir-se e realizar-se no seu contexto natural.

Desse modo, a Capoeira deve propiciar à criança oportunidades de evoluir o espírito

de liberdade com responsabilidade, de adquirir os seus hábitos, seus direitos e deveres, a

coragem de enfrentar os riscos e de exercer a autoridade para o bem da comunidade. Deve

oportunizar ainda o espírito criativo e desenvolver aspectos de sensibilidade, para que possa

analisar sintetizar e refletir criativamente sobre os problemas que por ventura venha encontrar.

A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da Educação Física escolar

para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as

capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito

de todo o acesso a eles. Além disso, adota uma perspectiva metodológica de ensino e

aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social

e a afirmação de valores e princípios democráticos. O trabalho de Educação Física abre

espaço para que se aprofundem discussões importantes sobre aspectos éticos e sociais, alguns

dos quais merecem destaque (PCN’s, 1997).

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De acordo com a Lei 10.639/03, que “institui o ensino de assuntos e historia da África

nos currículos escolares”, a Capoeira pode ganhar maior força para ser reconhecida como

conteúdo riquíssimo para “o acervo cultural do aluno, desenvolvendo não somente o aspecto

motor, mas também o cognitivo e afetivo-social”. As aulas devem evoluir ricas variações de

estímulos corporais e musicais, que favoreçam a exploração do conhecimento do corpo e suas

capacidades e da musicalidade, nas noções básicas de diferentes ritmos e estímulos. Além de

aprender a própria Capoeira, estilo Angola e Regional, os alunos aprenderão outras danças

afro brasileiras ligadas a Capoeira, como o Maculelê, Samba de Roda, jogos e brincadeiras.

Conforme Casco (2008), convida os profissionais de educação física e demais práticas

corporais a questionar os valores rígidos que dominam o mundo dos esportes e propõe a

criação e prática de jogos elaborados pelas comunidades e culturas, a partir de suas tradições.

Os professores de Educação Física podem exercitar a Capoeira em qualquer espaço

físico, acompanhado de um profissional da Capoeira se o mesmo não tiver conhecimento

técnico ou prévio, ou um praticante em processo de estagio de capoeira, pois o material é o

próprio corpo do aluno, logo necessitam perceber e saber como explorar o potencial do aluno,

possibilitando seu desenvolvimento natural e favorecer a criatividade.

Outra observação é que na Educação Física escolar, alguns professores só se prendem

aos esportes a preferência da meninada (jogar bola), mas as possibilidades esportivas não

esgotam aí. É preciso ampliar o leque de escolhas, despertarem a curiosidade sobre novos

esportes, aprender a conhecer opções nunca experimentadas, como a Capoeira.

Como dimensões da cultura, o esporte e lazer são tratados de modo integrado as outras

dimensões da vida cotidiana, como o trabalho, a educação, a vida familiar, a segurança, dentre

outras, e refere-se às vivências praticadas ou fruídas nos tempos e espaços disponíveis das

pessoas, fora das obrigações sociais (MARCELLINO, 1987).

2.3 Relação professor-aluno no contexto da capoeira

Geralmente a relação estabelecida entre o professor e o aluno de capoeira rompe a

barreira das academias, existe um relacionamento que se estabelece dentro e fora das aulas de

capoeira envolvendo respeito, dedicação, amizade e alem de outros valores que devem partir

de ambos os lados que, presentes no ambiente em que se desenvolve a arte da capoeira.

A relação professor e aluno pode acontecer em diferentes contextos, individual (todas a idades, gêneros ou raças), coletivo (pequenos e/ou grandes grupos),

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ambientes diferente (clube, academias, escolas, etc.), dentro dessa perspectiva veremos os aspecto sócio – afetivo (LIBÂNEO, 1994, p.249).

O relacionamento estabelecido entre professor e aluno no contexto da capoeira é um

dos pilares básicos que há uma consideração fraterna, e que o mestre não é um ditador,

disciplinador de conhecimentos, mas sim o seu papel é de facilitador e indicador no pensar e

fazer do aluno além de incentivar as reflexões sobre as conseqüências devido as suas atitudes,

usando-se do seu significado conhecimento específico obtido pela vivência da prática da

capoeira e da vida e geralmente o aluno reconhece a competência do mestre e confia em suas

percepções, contudo não obedecendo cegamente ao mestre, não sentindo temor nem

fragilidade, mas sempre tendo respeito, reconhecimento de seus valores, admiração e

principalmente consideração.

“Diz respeito às relações pessoais entre professor e aluno e às normas disciplinares

indispensáveis ao trabalho docente [...]” (LIBÂNEO, 1994, p. 249).

O aluno tem que ser estimulado a desenvolver opinião própria, a ser crítico e mais

autônomo, ou seja, descobrir e redescobrir todo o seu conhecimento respeitando suas

capacidades. Com atitudes como essa, o desenvolvimento integral e integrado dos alunos

pode ser facilitados, contribuindo para sua boa formação e estabelecendo uma relação mestre

e aluno aproveitável.

Para melhor ressaltar essas ideias recorremos a Freire (1997, pág. 59), partindo do

princípio de que se educa para a liberdade e para o direito de escolha:

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe, a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza que manda que “ele se ponha no seu lugar” ao mais tênue sinal da sua rebeldia legítima, tanto o professor que se exime do cumprimento do seu dever de propor limites a liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente a experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.

Inventar novos jogos, com a participação ativa dos alunos, onde eles possam debater

as regras mais relevantes é muito mais importante do que, como muitas vezes acontece, o

professor de educação física trazer o plano de aula pronto, obrigando o educando a se adaptar.

Em alguns casos, o professor e seu plano não têm o mínimo de flexibilidade necessária e esta

situação “castra” o desenvolvimento dos alunos, porque não se dá espaço para que ele

participe com sugestões. Quando o professor age desta maneira, ele mais aliena do que liberta.

Acreditamos que o professor de educação física deve trazer à escola mecanismos que

possibilitem esta busca.

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Poderíamos citar como exemplo, a formação continuada do professor e uma

predisposição para conhecer o novo, inclusive buscando novas formas de atuação. Dentro

desta perspectiva, o professor deve tentar proporcionar mais a cooperação do que a

competição, procurando proporcionar para a turma um clima de reflexão que facilite a

compreensão e a igualdade por parte dos alunos. Embora na capoeira exista o aspecto

competitivo, é enfatizado muito mais a cooperação do que a competição.

A formação profissional dos professores também deve ir neste sentido, para que a

escola possa ser um espaço intrinsecamente ordenado para os valores e para a cooperação.

(GRAÇA, 1997).

A capoeira pode constituir-se como uma ferramenta importante de construção de

sujeitos cidadãos, solidários e preocupados com o bem comum na medida em que enfatiza o

trabalho em grupo ao invés de métodos individuais e a cooperação ao invés da competição.

Na capoeira o sujeito joga com o outro e não contra o outro, assim, para Torres (1997):

[...] A educação popular tende a desenvolver habilidades ou capacidades concretas, tais como aprender a ler/escrever ou fazer contas e se esforça por tentar fazer emergir o orgulho, senso de dignidade, segurança pessoal e autoconfiança entre os participantes (p. 134).

3 METODOLOGIA

Com o objetivo de compreender como os professores de Educação Física (EF)

estavam trabalhando o conteúdo de capoeira nas aulas de Educação Física, foi utilizada uma

abordagem quantitativa, através de um questionário misto, aplicado aos 14 professores de EF,

de ambos os sexos, profissionais que atuam na rede pública e particular das escolas do

Município de Quedas do Iguaçu no Estado do Paraná - Brasil. Estes professores ministram

aulas nos níveis: De EF, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Como critério de inclusão, foi

utilizado o fato dos professores estarem atuando apenas na área da EF escolar e estarem

vinculados ao local de trabalho.

A pesquisa foi realizada na cidade de Quedas do Iguaçu, no período de outubro a

novembro de 2010.

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Questionário 01

1-Você trabalha o conteúdo CAPOEIRA em suas aulas de educação física?

A. Sim

B. Não

Se a resposta for positiva:

A. Através de práticas recreativas/ lúdicas.

B. Através da ajuda de um especialista.

C. Através da TV pen drive.

D. Através de aula de campo.

E. Outras alternativas.

Se for negativa:

A. Não tenho instrução para isso.

B. A escola não tem condições físicas para tal aula.

C. Não temos um colaborador que saiba tal tema.

D. Acho este conteúdo inadequado para a escola.

E. Outras alternativas.

2- Que tipo de luta você acha ideal ser trabalhada na escola?

A. Capoeira

B. Karatê

C. Judô

D. Taekwondo

3- É possível trabalhar nas lutas a capoeira no Ensino Fundamental?

A. Sim

B. Não

C. Acho complicado.

4-Você considera que a prática da capoeira gera violência?

A. Sim

B. Não

C. Depende do professor

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5- A capoeira é desenvolvida em sua escola de que forma?

A. Para todos os alunos

B. Para aqueles que demonstram interesse pessoal

C. Não é desenvolvida

6- É possível trabalhar nas lutas a capoeira no Ensino Médio?

A. Sim

B.Não

C.Acho complicado

Questionário 02

Questionário desenvolvido para 24 alunos de 7˚serie do período matutino do Colégio Estadual

Alto Recreio Do Município de Quedas do Iguaçu-Pr

1- Você já praticou o Jogo de capoeira?

A. Sim

B. Não

2- Você considera Capoeira um conteúdo a ser trabalhado nas aulas de Educação Física?

A. Sim

B. Não

3- Você considera Capoeira uma luta violenta?

A. Sim

B. Não

4- Tem interesse de aprender a tocar instrumentos de capoeira?

A. Berimbau;

B. Atabaque;

C. Pandeiro;

D. Todos

5- Quando se encontra em uma situação difícil, normalmente resolve de que forma?

A. Parte pra briga

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B. Tenta conversar e resolver numa boa

C. Procura ajuda com um adulto (professor, diretor ou outros).

6- A capoeira contribui em algo quando precisa tomar uma decisão?

A. Sim;

B. Não;

C. Não sei.

Após aplicado questionário foi constatado a necessidade de trabalhar a capoeira na

escola.

4 DISCUSSÕES E RESULTADOS

4.1 Resultado do primeiro questionário:

Gráfico 1 – Professores que trabalham capoeira na escola

FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 2 – De que forma o professor trabalha o tema capoeira

FONTE: STEFFLER (2012)

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Gráfico 3 – Por que não trabalha capoeira com os alunos

FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 4 – Luta ideal para se trabalhar na escola

FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 5 – É possível trabalhar capoeira no ensino fundamental

FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 6 – Prática da capoeira gera violência?

FONTE: STEFFLER (2012)

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Gráfico 7 – Forma de desenvolver a capoeira

FONTE: STEFFLER (2012)

4.2 Resultado do questionário 02 aplicado para os alunos no inicio do projeto

Gráfico 8 – Já praticou capoeira? FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 9 – Capoeira é conteúdo para trabalhar nas aulas de educação física FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 10 – Capoeira é luta violenta? FONTE: STEFFLER (2012)

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Gráfico 11 – Interesse dos entrevistados em aprender a tocar os instrumentos da capoeira FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 12 – Formas de resolver situação difícil FONTE: STEFFLER (2012)

Gráfico 13 – Contribuição da capoeira na hora de toma ruma decisão

FONTE: STEFFLER (2012)

4.3 Aplicação da intervenção pedagógica

Este trabalho foi realizado no Colégio Estadual Alto Recreio Ensino Fundamental e

Médio com uma turma de alunos de 7˚serie do período matutino num total de 24 alunos

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participantes no período entre 08/09/2011 a 27/10/2011, num total de 8 intervenções sendo 14

alunos do sexo feminino e 10 do sexo masculino.

Ao implementar a proposta pedagógica na Escola foi constatado que o ensino da

Capoeira pode se beneficiar deste recurso pedagógico. Em conformidade com o autor Campos

e Silva, observamos que quando oportunizamos a construção e elaboração de conhecimentos

através de recursos próprios, ou seja, os alunos conseguem fazer os próprios instrumentos

contribuindo para superação de dificuldades e elevação da auto estima. Para desenvolver um

trabalho direcionado a Capoeira, deve-se primeiramente ressaltar a exigência de um

planejamento minucioso por parte do professor. A aula de capoeira é um momento de

cooperação e de trabalho de equipe, pois é necessário para que ela aconteça que cada aluno

desempenhe um papel ou uma função: tocar os instrumentos, cantar, responder em coro, bater

palmas e jogar. É essencial a participação ativa de todos, visto que o resultado final depende

do conjunto.

No primeiro encontro com a comunidade escolar apresentamos o projeto e pedimos

para que relatassem seus conhecimentos sobre a capoeira fazendo uma lista de informações a

vista de todos e em seguida responderam o questionário para sondagem com os resultados

acima descritos.

No segundo encontro dia 22 de setembro apresentamos o vídeo de capoeira

(http://www.youtube.com/watch?v=4XDJpHxhT5s) mostrando os movimentos básicos

incentivando a participação dos alunos no projeto.

No terceiro encontro dia 29 de setembro fizemos aula pratica com formação de grupos

demonstrando na gestualidade o que caracterizava capoeira na opinião deles (vivencia dos

movimentos básicos). No quarto encontro dia 06 de outubro classificamos os movimentos

trabalhados norteando o trabalho para as próximas etapas e também fizemos a coleta de varas

de uma arvore chamada cinamomo (Melia azedarach) para confecção dos berimbaus. No

quarto encontro dia 13 de outubro retomamos as informações surgidas durante as etapas já

apresentadas e apresentamos imagens previamente selecionadas para discutirmos as formas

com que os capoeiristas se apresentam na TV, jornais e livros. Apresentamos textos com

informações que desestabilizam eventuais representações estereotipadas sobre a pratica,

solicitando a elaboração de registro individual para apresentação das produções num mural

exposto para todos os alunos da escola. No quinto encontro dia 20 de outubro os alunos já

estavam com o berimbau que foi confeccionado com ajuda da comunidade e aprenderam o

toque angola desenvolvendo o gosto pela musica. No sexto encontro dia 25 de outubro,

organizamos uma roda de capoeira que foi um sucesso sempre com objetivo de respeitar,

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ouvir, cantar esperando sua vez de entrar na roda, vivenciando os movimentos, toques e

histórias aprendidas. No sétimo encontro dia 27 de outubro foi o encerramento, ou seja, o

inicio de uma nova historia no Colégio Estadual Alto Recreio fizemos entrevistas com mestre

de capoeira e todos foram convidados para participar de uma grande roda onde vários

praticantes de outras cidades vieram participar fazendo um lindo festival de capoeira com a

participação dos alunos e comunidades em geral.

Os resultados foram ótimos, fizemos uma linda apresentação dia 20 de novembro que

era dia da consciência negra e conseguimos criar um grupo de capoeira na comunidade

fazendo uma parceria com a Associação dos Professores de EF de Quedas do Iguaçu. Todas

as sextas feiras as 17h no Centro comunitário do Bairro Alto Recreio acontecem as aulas de

capoeira para alunos, pais e comunidade em geral melhorando a convivência, auto estima,

transformando o ambiente escolar de forma que reflete no sucesso escolar possibilitando a

permanência doa alunos na escola.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho procurou-se verificar se poderia ser trabalhado o conteúdo Capoeira

numa abordagem sócio afetiva diminuindo a indisciplina escolar com eficácia na sétima serie

do ensino fundamental de uma escola publica. É um desafio ensinar uma atividade que

não faz parte do cotidiano escolar. Mesmo conhecendo a capoeira e tendo uma

pequena vivência significativa, acreditamos que incluí-la em aulas num processo educativo,

com outras atividades, modalidades esportivas ou recreativas, exige mais dedicação, pois

envolve uma questão social ampla. Além disso, aspectos iniciais como a receptividade do

aluno que é sempre uma situação imprevisível, a estrutura da aula diferente, a utilização de

instrumentos musicais, a parte histórica, base fundamental do trabalho com capoeira, ou seja,

são aspectos que a diferenciam de uma aula convencional de Educação Física, ela chama

atenção das pessoas que não a conhecem, revela outros valores e provoca um desafio pessoal

em quem a pratica. Porem, este desafio vale a pena, sobretudo quando nos defrontamos com o

constante desinteresse dos alunos pelas atividades desenvolvidas pela escola. Durante a

aplicação das atividades pudemos observar vários aspectos que merecem ser ressaltados. Um

deles e o aumento de interesse pelas aulas, eles ficavam ansiosos pelas aulas de capoeira com

instrumentos musicais além de que, os alunos que participam da roda não apenas joga, como

se reveza, participando do coro, tocando instrumentos e cantando. Desta maneira, o

aprendizado passa a ser completo por estar possibilitando a experiência pessoal em todos os

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momentos da grande roda. Em relação ao ritmo e movimento, as experiências são

maravilhosas e causam grande satisfação pessoal. Ao mesmo tempo que desperta no aluno a

consciência corporal, reconhecendo a mecânica do movimento possibilitando ao aluno a

liberdade de criar. A inovação faz-se necessária nas aulas de EF.

REFERÊNCIAS

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