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Introdução Uma das estratégias de manejo do bicudo — Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) (Figura 1) — é o controle biológico, que consiste na utilização de inimigos naturais por meio da manipulação de hospedeiros da praga, meio ambien- te e seus entomopatógenos (fungos, bactérias e vírus), predadores O controle biológico do bicudo-do-algodoeiro Francisco de Sousa Ramalho Embrapa Algodão José Bruno Malaquias Embrapa Algodão Figura 1. Adulto do bicudo, (Anthonomus grandis Boheman) CAPÍTULO 5.4 (Foto: F. S. Ramalho) 151

CAPÍTULO 5.4 O controle biológico do bicudo-do-algodoeiroainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/141684/1/O-controle... · pode ser, para o cotonicultor, ... dentro da cadeia

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Introdução

Uma das estratégias de manejo do bicudo — Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) (Figura 1) — é o controle biológico, que consiste na utilização de inimigos naturais por meio da manipulação de hospedeiros da praga, meio ambien-te e seus entomopatógenos (fungos, bactérias e vírus), predadores

O controle biológico do bicudo-do-algodoeiro

Francisco de Sousa RamalhoEmbrapa Algodão

José Bruno MalaquiasEmbrapa Algodão

Figura 1. Adulto do bicudo, (Anthonomus grandis Boheman)

CAPÍTULO 5.4(F

oto: F

. S. R

amalh

o)

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e parasitoides, tornando-os mais efetivos contra a praga. Entomopatógenos, predadores e parasitoides são importan-

tes no controle de pragas em qualquer parte do mundo, en-tretanto, nos trópicos, eles são bem mais importantes (Whit-comb, 1953).

Do ponto de vista ecológico, o controle biológico é uma par-te do controle natural e que pode ser definido como a regu-lação de um organismo dentro de certos limites por qualquer combinação de fatores naturais, classificados como abióticos e bióticos.

Em programas de manejo do bicudo, o controle biológico natural, ou seja, aquele que ocorre sem a interferência do ho-mem, assume uma importância de grande relevância do ponto de vista econômico, ecológico e social. Entretanto, o aplicado também tem muito valor e engloba a introdução e a manipula-ção de inimigos naturais pelo homem, visando à redução dos danos que poderão ser causados pelo bicudo a níveis toleráveis.

No Brasil, programas de controle do bicudo que visem a liberação e/ou conservação de inimigos naturais nativos nos agroecossistemas são bastante promissores ecológica e econo-micamente, pois os ecossistemas brasileiros têm um rico com-plexo de inimigos naturais. O bicudo é atacado por um grupo diverso de inimigos naturais.

Pesquisadores brasileiros têm mostrado a importância eco-lógica e econômica de se utilizar parasitoides e predadores como uma estratégia para reduzir populações de bicudo (Ra-malho et al., 1986; Araújo et al., 1991, Ramalho & Wanderley, 1996; Araújo et al., 1999; Ramalho et al., 2000; Ramalho & Dias, 2003). Assim sendo, propõe-se aqui apresentar informa-ções a respeito do controle biológico natural e aplicado do bi-cudo A. grandis nos agroecossistemas do algodoeiro do Brasil.

1. Prospecção de inimigos naturais do bicudo

Com a introdução do bicudo no Brasil, em 1983, pesquisa-dores brasileiros iniciaram o trabalho de prospecção de inimi-gos naturais (entomopatógenos, predadores e parasitoides) nos diferentes agroecossistemas do algodoeiro do Brasil. Es-ses estudos geraram bastantes informações, que nos levaram a acreditar no potencial desses organismos como agentes de

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controle biológico dessa praga.Apesar de serem importantes agentes reguladores de po-

pulações de pragas do algodão, pouco se conhece a respeito dos entomopatógenos do bicudo que ocorrem naturalmente nos agroecossistemas do Brasil. Entretanto, Ramalho et al. (1993) encontraram larvas de bicudo atacadas por um vírus na Região Nordeste.

A maioria das pesquisas utilizando entomopatógenos con-tra o bicudo, no Brasil, foi feita com o fungo Beauveria bassia-na (Bals.-Criv.) Vuill. (Figura 2), cuja ocorrência em condições naturais tem sido registrada com certa frequência, enzootica-mente ou provocando epizootias (Andrade et al., 1984; Camar-go et al., 1984; Pierozzi Júnior & Habib, 1993). Por sua vez, estudos têm sido realizados sobre a suscetibilidade do bicudo (McLaughlin, 1962; Camargo et al., 1985), a viabilidade dos es-poros (Batista Filho & Cardelli, 1986) e a eficiência (Gutierrez, 1986; Coutinho & Oliveira, 1991; Almeida & Diniz, 1997; Silva, 2001) a outros fungos entomopatogênicos. O impacto de Me-tarhizium anisopliae (Metchnikoff) Sorokin nas populações do bicudo (Figura 3) foi reportado por Jamarillo & Alves (1986),

Figura 3. Bicudo adulto parasitado por Metarhizium anisopliae (Metch-nikoff) Sorokin (Almeida et al., 2008)

Figura 2. Bicudo adulto parasita-do por Beauveria bassiana (Bals.--Criv.) Vuill. (Almeida et al., 2008)

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Oliveira (1991), Almeida & Diniz (1997) e Almeida (1998). De acordo com Pierozzi (1989), a bactéria Serratia marces-

cens Bizio e o fungo Isaria sp., algumas vezes, causam mor-talidade do bicudo em campos de algodão na Região Sudeste. Acredita-se que o uso de feromônios com entomopatógenos pode ser, para o cotonicultor, uma ferramenta que poderá ser utilizada para reduzir as populações do bicudo (Coutinho & Cavalcante, 1988).

Cientistas começaram recentemente a entender o papel de-sempenhado pelos predadores nos ecossistemas agrícolas, bem como os impactos que ocorrem quando esses predadores são eliminados dos sistemas agrícolas. Portanto, apresentaremos novas evidências que mostram a importância dos predadores dentro da cadeia alimentar dos agroecossistemas do algodoei-ro. Estudos conduzidos no Brasil relataram a ocorrência de 13 espécies de parasitoides (Tabela 1) e dez espécies de predado-res (Tabela 2) de A. grandis (Ramalho & Wanderley, 1996). Dentre os principais fatores bióticos de mortalidade natural, as espécies Catolaccus grandis (Burks) (Hymenoptera: Ptero-malidae) (Figuras 4 a 7) e Bracon vulgaris Ashmead (Hyme-noptera: Braconidae) (Ramalho et al., 1993) (Figuras 8 a 11) são as que têm maior impacto na redução de populações dessa praga (Ramalho & Wanderley, 1996). A espécie C. grandis está sincronizada com a ocorrência do bicudo atacando os botões florais; já a espécie B. vulgaris, com o bicudo atacando as ma-çãs. Todavia, devemos lembrar que todas as espécies de pre-dadores e parasitoides encontradas naturalmente nos agroe-cossistemas do algodoeiro deverão ser preservadas e utilizadas contra o bicudo, como controle biológico natural. O sucesso desse vai depender da utilização de práticas agrícolas ecologi-camente vantajosas, isto é, aquelas que beneficiem os inimigos naturais e prejudiquem a praga.

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Predadores Famílias Países ReferênciasComponotus sericeiventris Formicidae Brasil Pierozzi (1989)Solenopsis spp. Formicidae Brazil Pierozzi (1989)Latrodectus geometricus Theridiidae Brasil Pierozzi (1989)Solenopsis geminata Formicidae Brasil Ramalho & Silva (1993)Crematogaster spp. Formicidae Brasil Ramalho & Silva (1993)Pheidole spp. Formicidae Brasil/Venezuela Marengo et al. (1987); Ramalho & Silva (1993) Brachygastra lecheguana Vespidae Brasil Soares & Lara (1994)Conomyrma sp. Formicidae Brasil Dado não publicadoEuborellia annulipes Anisolabidae Brasil Lemos et al. (2003)Neivamyrmex sp. Formicidae Colômbia Dado não publicado

Tabela 2. Predadores do bicudo na América do Sul (Ramalho & Wanderley, 1996)

Parasitoides Famílias Países ReferênciasBracon kirkpatrick Braconidae Colômbia Álvarez (1990)Bracon mellitor Braconidae Brasil Araújo et al. (1991)Bracon vestiticida Braconidae Venezuela Cross & Chesnut (1971)Bracon spp. Braconidae Brasil Pierozzi (1989)Bracon spp. Braconidae Brasil Ramalho et al. (1986)Bracon vulgaris Braconidae Brasil Ramalho & Gonzaga (1990)Urosigalphus rubicorpus Braconidae Brasil Ramalho & Gonzaga (1990)Catolaccus grandis Pteromalidae Brasil/Colômbia Ramalho et al. (1986); Álvarez (1990)Catolaccus hunteri Pteromalidae Brasil/Colômbia Ramalho et al. (1986); Álvarez (1990)Heterospilus spp. Pteromalidae Colômbia Álvarez (1990)Protolaccus spp. Pteromalidae Colômbia Álvarez (1990)Eupelmus cushmeni Eupelmidae Brasil Pierozzi (1989)Eupelmus sp. Eupelmidae Brasil Ramalho & Gonzaga (1990)Eurytoma sp. Eurytomidae Brasil Ramalho & Gonzaga (1990)Hyalomyodes brasiliensis Tachinidae Brasil Pierozzi (1989)Não identificado Ichneumonidae Brasil Araújo et al. (1991)Não identificado Bethylidae Brasil Ramalho & Gonzaga (1990)

Tabela 1. Parasitoides do bicudo na América do Sul (Ramalho & Wanderley, 1996)

Esses agentes de controle biológico natural contribuem para o controle do bicudo nos diferentes agroecossistemas do algodoeiro, alimentando-se externamente das formas imatu-ras (larvas e pupas) de A. grandis; daí eles serem chamados de ectoparasitoides.

Sabe-se que no Brasil ocorrem duas espécies de parasitoi-

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des que poderão ser usadas com sucesso contra o bicudo: C. grandis (Figura 4) e B. vulgaris (Figura 8). Estudos conduzi-dos por Morales-Ramos e King (1991) e Ramalho et al. (1998) mostraram que a fêmea de C. grandis tem grande capacidade de busca, conseguindo localizar e parasitar as larvas do bicudo dentro dos botões florais, mesmo quando submetida a baixas densidades do hospedeiro. Tais características indicam que esse parasitoide é um excelente candidato para ser usado em liberações inundativas contra o A. grandis nos agroecossiste-mas de algodoeiro herbáceo do Brasil (Ramalho et al., 1998).

2. Controle biológico natural do bicudo

O controle biológico natural é aquele que ocorre pela ação constante de agentes biológicos nativos (entomopatógenos, predadores e/ou parasitoides) contra a praga. Esse controle é chamado natural porque ocorre sem a intervenção direta do homem na manipulação dos organismos benéficos; podendo o cotonicultor preservá-los e, muitas vezes, incrementar sua ação contra a praga por meio de tomadas de decisões (rotação de culturas, consórcio de diferentes espécies vegetais, arqui-tetura de plantas, espaçamento, área de refúgio constituída especialmente de plantas nativas), que serão benéficas para a ação dos inimigos naturais.

A conservação de inimigos naturais nos ecossistemas agrí-colas, especialmente visando ao controle do bicudo, envolve a manipulação do próprio ecossistema a fim de garantir sobre-vivência, reprodução, fecundidade, longevidade e o comporta-mento desses agentes de controle, proporcionando a supressão das populações da praga.

Nos agroecossistemas do algodoeiro do Brasil ocorre, às ve-zes, em determinada fase de desenvolvimento da cultura, uma relação de equilíbrio do bicudo e seus agentes de controle natu-ral biótico (parasitoides, predadores e/ou entomopatógenos) e abióticos (alta temperatura e baixa umidade do solo). Todavia, essa relação de equilíbrio poderá ser quebrada no momento em que o cotonicultor tomar uma decisão incorreta, como, por exemplo, aplicações de determinados inseticidas químicos contra o bicudo. Tal decisão causará desequilíbrios biológicos por causa da ação direta desses inseticidas contra os inimigos

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naturais (predadores e/ou parasitoides) do bicudo, causando a morte desses agentes de controle, e também da indireta, por causa do fato de os predadores e parasitoides necessitarem de presas e hospedeiros, respectivamente, para sobreviver e re-produzir-se no agroecossistema.

Portanto, para se ter sucesso com o controle biológico natural do bicudo, é necessário que o cotonicultor utilize práticas agrí-colas que sejam favoráveis aos inimigos naturais e desfavoráveis à praga. Ademais, o cotonicultor poderá melhorar significativa-mente a eficiência do controle biológico natural do bicudo com a utilização do controle biológico aplicado. De acordo com Ra-malho e Wanderley (1996), as mortalidades naturais do bicudo no Agreste da Paraíba em 1989 e 1990, em virtude de fatores bi-óticos (predação, parasitismo e doença) e abióticos (dessecação de larvas, pupa e/ou adulto pré-emergente), foram 32% e 39%, respectivamente, com parasitismo abaixo de 10%. Entretanto, quando foi utilizado o controle biológico aplicado por meio de liberações inundativas do parasitoide C. grandis, o parasitismo foi acima de 80% (Ramalho et al., 2000). Portanto, o controle biológico aplicado do bicudo no Brasil com a utilização de pa-rasitoides (C. grandis e B. vulgaris), oriundos de sua produção automatizada em laboratório e com liberações inundativas peri-ódicas de controle nos agroecossistemas do algodoeiro, mostra--se técnica e logisticamente viável.

3. Controle biológico aplicado do bicudo

3.1. Caracterização e modo de ação dos parasitoides C. gran-dis e B. vulgaris

As fêmeas de C. grandis (Figura 4) preferem parasitar lar-vas de bicudo que se encontram em botões caídos ao solo, isto é, larvas de 3º instar. Por outro lado, as fêmeas de B. vulgaris (Figura 8) preferem parasitar larvas do bicudo, quando as ma-çãs atacadas ainda se encontram na planta (Ramalho & Wan-derley, 1996).

Catolaccus grandis (Burks) (Hymenoptera: Pteromalidae)

De acordo com Ramalho et al. (1998), a ação de C. grandis

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nas populações do bicudo dá-se por meio da paralisação e/ou parasitismo. Paralisação é um tipo de ataque em que a fêmea de C. grandis imobiliza a larva do bicudo (Figura 4), através da injeção de toxinas no corpo do hospedeiro, mas não realiza postura sobre a larva ou nas paredes internas do botão floral, mas, algumas vezes, se alimenta da hemolinfa da larva e, geral-mente, causa a morte do hospedeiro. De acordo com Ramalho et al. (1998), 1.200 larvas e 810 pupas do bicudo paralisadas morreram em virtude da ação da toxina injetada pelas fêmeas do parasitoide. O parasitismo ocorre pela ação direta da larva no hospedeiro. Isso mostra que apenas a introdução de toxi-nas pela fêmea no interior da larva do bicudo é suficiente para causar-lhe a morte. Então, a ação de C. grandis como agente regulador de populações do bicudo não se deve somente ao ec-toparasitismo das larvas, mas também à ação parasítica das fêmeas adultas através da introdução de toxinas no interior do hospedeiro, levando-o à morte. No caso de parasitismo, a fêmea introduz seu ovipositor (Figura 4) no botão floral até penetrar a larva do bicudo, injetando toxinas no corpo do hos-pedeiro. Em seguida, a fêmea do parasitoide realiza a postura, colocando um ou mais ovos (Figura 5) sobre a larva do bicu-do e/ou paredes internas do botão floral, e, com o passar do tempo, ocorre a eclosão das larvas. As larvas recém-eclodidas (Figura 6) começam a alimentar-se da parte externa do hos-

Figura 4.- Fêmea adulta de Catolaccus grandis (Burks), parasitoide do bicudo

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pedeiro (ectoparasitoide), causando-lhe a morte. A fêmea do parasitoide produz um tubo de alimentação, que é secretado pelas paredes do ovipositor após a retirada de dentro do hos-pedeiro, deixando formado esse tubo que conecta o hospedeiro ao exterior do botão floral. Logo após a retirada do ovipositor de dentro do hospedeiro, a fêmea de C. grandis alimenta-se do líquido exsudado pela parte terminal externa do tubo.

Figura 5. Ovos de Catolaccus grandis (Burks), parasitoide do bicudo

O número de ataques das fêmeas de C. grandis varia em função da temperatura ambiente, atingindo o ótimo a 30°C. Conforme a temperatura ultrapassa os 30°C, o número de ataques realizados pelas fêmeas do parasitoide é reduzido; o mesmo ocorre com a paralisação do hospedeiro. Entretanto, no caso de parasitismo, ocorre o inverso, conforme aumenta a temperatura, aumenta também o número de hospedeiros pa-rasitados, isto é, 57 (a 20°C) e 89 (a 30°C) larvas parasitadas. Cada fêmea desse parasitoide ataca 4 e 6 larvas de A. grandis por dia e oviposita em média 1 e 8 ovos por dia, a 20°C e 30°C, respectivamente. Todavia, o número de ovos produzidos e ata-ques realizados pelas fêmeas variam em função da temperatu-ra e da sua idade.

Os ovos desse parasitoide (Figura 5) apresentam-se oblon-gos, brancos e translúcidos, medindo de 0,61 mm a 0,92 mm

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Figura 6. Larva de Catolaccus grandis (Burks), parasitoide do bicudo

e recobertos por pequeníssimos espinhos, exceto na sua parte posterior e final, onde apresenta uma substância adesiva para a fixação à larva de seu hospedeiro (Wanderley & Ramalho, 1996). As durações dos períodos embrionários de fêmeas e ma-chos são de 0,50 a 1,96 dia. À temperatura constante de 38°C, os ovos do parasitoide perdem água e não ocorrem eclosões de larvas. A larva (Figura 6) ao eclodir apresenta 13 segmentos e comprimento de 0,63 mm a 0,92 mm; sua eclosão ocorre por orifício feito pelo par de mandíbulas, extremamente afiadas, localizado na parte posterior do córion. A larva alimenta-se sobre o hospedeiro (ectoparasitoide), mas nunca no mesmo local. O tempo de desenvolvimento das larvas que dão origem a machos varia de 3 a 11 dias, e o das fêmeas, de 2 a 11. O ca-nibalismo desse parasitoide ocorre na fase larval, a partir do primeiro ínstar. O início da formação de pupas (Figura 7) que dão origem a machos ocorre de 0,29 a 3,00 dias após a quarta ecdise, e, naquelas que dão origem a fêmeas, ocorre de 0,24 a 3,46 dias após a quarta ecdise. A larva cessa de alimentar-se na fase de pré-pupa, quando se desprende do hospedeiro, deixan-do-o completamente destruído. A pupa recém-formada apre-senta coloração branca e comprimento de 2 mm a 4 mm. Logo após esse período, a cabeça torna-se preta, e a pupa adquire uma coloração marrom-avermelhada, com tendência a escure-cer até, finalmente, tornar-se completamente preta (Figura 7).

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É nessa fase que se verifica o dimorfismo sexual.Na sua fase adulta (Figura 4), as fêmeas de C. grandis apre-

sentam-se maiores que os machos, com o abdômen longo e afinado na extremidade, em forma de cunha. Macho e fêmea apresentam comprimentos de 2 mm a 3 mm e de 3 mm a 5 mm, respectivamente. Os machos apresentam coloração preta, com uma área transparente no pequeno abdômen. Os olhos do adulto de C. grandis mostram-se vermelhos e brilhantes sob a luz, e o fêmur, castanho-amarelado, características que, de acordo com Johnson et al. (1973), diferenciam essa espécie das outras, principalmente de Heterolaccus hunteri (Crawford) (Hymenoptera: Pteromalidae).

As durações da fase de pupa e do período de ovo à emer-gência de machos adultos de C. grandis, independentemente da temperatura, são inferiores às das fêmeas adultas. A velo-cidade de desenvolvimento de cada parasitoide, fase e forma jovem de C. grandis, varia de acordo com a temperatura, e, por conseguinte, com a região e a época do ano. Portanto, a temperatura exerce um papel importante na determinação do número de gerações desse parasitoide. O bicudo não é mais tolerante que C. grandis a altas temperaturas. De acordo com Bacheler et al. (1975) e Sharpe e Hu (1980), o bicudo alimen-tado com botões florais e submetido à temperatura de 34°C co-meça a ter estresse no desenvolvimento. Logo, as velocidades

Figura 7. Pupa de Catolaccus grandis (Burks), parasitoide do bicudo

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de desenvolvimento de A. grandis (Figura 1) são idênticas às de C. grandis (Figura 4), quando submetidos às mesmas tem-peraturas (Bachelier et al., 1975). Isso sugere que C. grandis e A. grandis têm adaptações fisiológicas aos mesmos limites de temperaturas. Quando o bicudo se alimenta de maçãs, no entanto, a velocidade de desenvolvimento diminui (Sharpe & Hu, 1980). Portanto, o bicudo é mais vulnerável a parasitismo quando se alimenta de maçãs.

Em relação a Catolaccus grandis quando exposto a 20°C e 25°C, os machos (20°C, 57 dias; 25°C, 52 dias) vivem mais que as fêmeas (20°C, 47 dias; 25°C, 45 dias); entretanto, quando a 30°C, as fêmeas (19 dias) vivem mais que os machos (16 dias). Os períodos de oviposição e alta fecundidade de C. grandis decrescem à medida que as fêmeas são expostas a temperatu-ras mais elevadas. Já para as fêmeas expostas a 20°C, 25°C e 30°C, os períodos de alta fecundidade começam quando atin-gem 11, 4 e 4 dias, e terminam aos 46, 30 e 19 dias de idade, com durações de 36, 27 e 16 dias, respectivamente (Ramalho et al., 1998). Os declínios de fecundidade das fêmeas de C. grandis submetidas a 20°C, 25°C e 30°C começaram quando elas alcançaram, respectivamente, 47, 31 e 20 dias de idade e terminaram com a morte. Por conseguinte, existe uma ten-dência de o aumento da temperatura antecipar o início do de-clínio de fecundidade das fêmeas do parasitoide. As fêmeas de C. grandis produzem durante toda a sua vida uma média de 75, 173 e 254 ovos por fêmea, respectivamente, a 20°C, 25°C e 30°C. Do total de ovos produzidos por fêmea a 20°C, 25°C e 30°C, uma média de 70, 128 e 218, respectivamente, chega a produzir larvas.

Os valores de reprodução de fêmeas de C. grandis foram es-timados por Ramalho et al. (1998), os quais afirmaram que as informações referentes aos valores de reprodução das fêmeas do parasitoide, quando se encontram em diferentes faixas de idade e temperaturas, são importantes em programas de con-trole biológico. Essas informações permitem que se decida em que idade das fêmeas se deve liberá-las nos agroecossistemas do algodoeiro, visando à redução das populações do bicudo sob determinadas condições climáticas. Para as temperaturas de 20°C e 25°C, os valores de reprodução máximos correspon-dem a fêmeas adultas de A. grandis com aproximadamente

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sete dias de idade; enquanto que a 30°C, o valor de reprodução máximo corresponde a fêmeas adultas recém-emergidas de C. grandis. De acordo com Ramalho et al. (1998), em programas de controle biológico do bicudo com uso de liberações inocu-lativas — nos quais as reduções das populações do bicudo são obtidas por meio de progênies das populações liberadas do pa-rasitoide, a idade ideal de C. grandis para fins de liberações deve ser aquela com o mais alto valor de reprodução, isto é, a 20°C ou 25°C, fêmeas adultas com aproximadamente uma semana de idade, e a 30°C, fêmeas adultas recém-emersas. No caso do uso deliberações inundativas, a idade ideal para libe-rações das fêmeas adultas de C. grandis deve ser aquela em que ocorre alta capacidade de ataque, isto é, entre 4 e 41 dias (a 20°C), 4 e 32 dias (a 25°C) e 3 e 20 dias (a 30°C) de idade.

Bracon vulgaris Ashmead (Hymenoptera: Braconidae)

Esse braconídeo é um ectoparasitoide do bicudo e sua ocor-rência no agroecossistema do algodoeiro está sincronizada com o surgimento de maçãs atacadas pelo bicudo na cultura.

Os adultos de B. vulgaris são de cor amarelada, medindo os machos e as fêmeas, respectivamente, 2,86 mm e 3,29 mm de comprimento (Wanderley et al., 2007).

A fêmea (Figura 8), ao localizar a maçã atacada pelo bicudo, introduz o ovipositor na maçã até atingir a larva , injetando to-xinas no hospedeiro, as quais imediatamente paralisam a lar-va. Em seguida, ela oviposita um ou mais ovos (Figura 9) sobre a larva e/ou nas paredes internas da maçã.

Os ovos de B. vulgaris (Figura 9) medem cerca de 1 mm de comprimento, apresentando-se alongados, com uma das extre-midades arredondada e com diâmetro maior que a extremidade oposta, que se apresenta pontiaguda. Os ovos são de cor branca, translúcidos e aderem ao corpo da larva hospedeira pela extremi-dade mais fina, pela ação de uma substância adesiva proveniente da fêmea do parasitoide, ou ficam aderidos às paredes internas da maçã. Na fase de ovo, o parasitoide suporta bem as variações de temperatura, no intervalo entre 18°C e 35°C. Todavia, a 38°C, ocorre o ressecamento de ovos, o que impede a eclosão de larvas. A duração da fase de ovo varia de 0,66 (a 35°C) a 1,90 dia (a 18°C). As larvas recém-eclodidas do parasitoide (Figura 10) são

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Figura 8. Fêmea adulta de Bracon vulgaris Ash-mead, parasitoide do bicudo

Figura 9. Ovos de Bracon vulgaris Ashmead, parasitoide do bicudo

de cor branca e ativas, medindo logo após a eclosão 0,86 mm de comprimento, e apresentam 11 segmentos. Elas eclodem por ori-fícios feitos no ovo, utilizando as mandíbulas, e imediatamente passam a alimentar-se, externamente, do hospedeiro, inserindo as mandíbulas através da cutícula, chegando a consumir quase que totalmente a larva, sem, no entanto, penetrar o corpo (ec-toparasitoide) em nenhum momento (Wanderley et al., 2007).

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A fase larval de B. vulgaris apresenta quatro ínstares e sua duração varia de dois (a 35°C) a oito dias (a 18°C). Não ocorre canibalismo entre larvas e ovos desse parasitoide. Ao final do quarto ínstar, a larva deixa de alimentar-se, então se afasta do hospedeiro e inicia a construção de um casulo (Figura 11), den-tro do qual permanece durante toda a fase de pupa (Figura 11). Essa fase de abandono do hospedeiro e construção do casulo ca-racteriza a fase de pré-pupa. Nas temperaturas extremas, a larva apresenta dificuldades de tecer o casulo, não conseguindo fazê--lo algumas vezes, e passando à fase de pupa, sem construí-lo ou chegando a morrer antes de pupar. O final da fase de pré-pupa caracteriza-se pela completa construção do casulo, de cor bran-ca com formação cotonosa, medindo 4 mm de comprimento. A pupa apresenta-se inicialmente branca, evoluindo para uma co-loração amarelada. Para os casulos que dão origem, abrindo-os cuidadosamente, pode-se notar o ovipositor, de coloração escu-ra e dobrado sobre a face ventral do abdômen, medindo 2 mm de comprimento. A duração da fase de pupa varia de 6 (a 35 oC) a 22 dias (a 18 oC). Em cada larva hospedeira, geralmente, desenvolve-se mais de um espécime do parasitoide. Nesse caso, os casulos são formados juntos um ao outro, podendo acontecer de ficarem distanciados um do outro. De acordo com Wanderley (1998), a formação de casulos agregados provavelmente é uma estratégia de defesa da espécie. A duração de desenvolvimento da forma imatura (de ovo a emergência de adultos) de B. vulga-ris varia de 9 (a 35°C) a 33 dias (a 18°C).

Figura 10. Larvas de Bracon vulgaris Ashmead, parasitoide do bicudo

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O número médio de larvas parasitadas por fêmea de B. vul-garis a 25°C (72 larvas) é maior do que a 20°C (31 larvas) e 30°C (25 larvas) (Ramalho et al., 2011). Isso se dá por cau-sa das larvas hospedeiras expostas a 25°C apresentarem uma maior movimentação do que a 20°C ou 30°C. O período médio de oviposição desse braconídeo a 25°C (30 dias) é mais longo do que a 30°C (14 dias). Isto provavelmente vem do fato de que com o aumento da temperatura ocorre uma maturação mais rápida dos órgãos sexuais das fêmeas do parasitoide, reduzin-do o período de oviposição, assim como provoca um estímulo para maior movimentação do hospedeiro. Portanto, acredita--se que a 30°C ocorra uma antecipação do impacto de B. vul-garis sobre as populações do bicudo (Ramalho et al., 2011).

De acordo com Ramalho et al. (2011), o período de alta fe-cundidade de B. vulgaris tende a decrescer à medida que ele é exposto a temperaturas mais elevadas. Para fêmeas expostas a 20°C, 25°C ou 30°C, os períodos de alta fecundidade começam no momento em que elas atingem 11, 9 ou 3 dias, e terminam aos 28, 27 ou 14 dias de idade, com durações de 17, 18 ou 11 dias, respectivamente. Os declínios de fecundidade das fêmeas de B. vulgaris expostas a 20°C, 25°C ou 30°C começam quan-do são atingidos 29, 28 ou 15 dias de idade, respectivamente, e terminam com a morte. Existe uma tendência de o aumento da temperatura antecipar o início do declínio de fecundidade das fêmeas desse braconídeo. As fêmeas do parasitoide produ-

Figura 11. Pupas de Bracon vulgaris Ashmead, parasitoide do bicudo

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zem mais ovos quando são expostas a 25°C (125 ovos) do que a 20°C (43 ovos) ou 30°C (50 ovos). À medida que a tempe-ratura aumenta, ocorre um aumento no número de ovos por larva hospedeira (a 20°C, 1,39 ovo; a 25°C, 1,75 ovo; e a 30°C, 1,96 ovo), todavia, a longevidade de fêmeas decresce (a 20°C, 43 dias; a 25°C, 41 dias; e a 30°C, 21 dias). Assim, acredita-se que o aumento da temperatura contribua para acelerar o me-tabolismo de B. vulgaris, modificando o comportamento das fêmeas, que passam a depositar maior quantidade de ovos em uma mesma larva paralisada, reduzindo, portanto, o gasto de energia (Ramalho et al., 2011). Quando a fêmea do parasitoide seleciona um hospedeiro, ocorre um gasto de tempo e energia na paralisação até este que esteja pronto para receber o pri-meiro ovo. Se a fêmea deposita dois ou mais ovos em um mes-mo hospedeiro, ocorre certa economia de tempo e energia que seriam dispensados no processo de paralisação.

Em programas de controle biológico do bicudo, é extre-mamente necessário que se tenha informações referentes aos valores de reprodução das fêmeas do parasitoide B. vulgaris quando se encontram em diferentes faixas de idade e tempe-raturas. Esse conhecimento será importante para que se possa decidir em que idade se deve liberar as fêmeas nos agroecos-sistemas do algodoeiro, visando à redução das populações do bicudo sob determinadas condições climáticas.

Nos programas de controle biológico que se valem de li-berações inoculativas do parasitoide B. vulgaris — em que as reduções das populações do bicudo são obtidas por meio de progênies das populações liberadas do parasitoide —, a idade ideal de fêmeas de B. vulgaris para tais fins nos agroecossis-temas refere-se a fêmeas adultas com 5 dias de idade (a 25°C ou 30°C) ou a fêmeas adultas com 20 dias de idade (a 20°C). No caso de utilizar liberações inundativas de B. vulgaris, suge-re-se fazer as liberações de fêmeas adultas com 8 a 31 dias (a 20°C), 4 a 29 dias (a 25°C) e 3 a 14 dias (a 30°C) de idade.

3.2. Produção de parasitoides C. grandis e B. vulgaris em laboratório

A utilização de parasitoides como agentes de controle bio-lógico aplicado contra o bicudo está diretamente ligada a sua

167

produção em laboratório. A produção comercial e economicamente viável de parasi-

toides deverá ser a principal meta desse tipo de programa de controle do bicudo.

A metodologia de criação dos parasitoides C. grandis e B. vulgaris é aquela adotada por Wanderley e Ramalho (1996), Ramalho et al. (2000), Ramalho e Dias (2003), Wanderley et al. (2007), Ramalho et al. (2009) e Ramalho et al. (2011). Tal metodologia consiste em colocar folha de parafilme ou filme de cera de abelha (Aquino et al., 2000) sobre uma placa de alumínio (20 cm x 20 cm x 1 cm), toda perfurada com orifícios de 0,80 cm de diâmetro com 1,00 cm de profundidade (placa A) (Figura 12). Em seguida, outra placa de alumínio, com as mesmas dimensões (placa B) (Figura 12), apresentando pinos de alumínio com 0,88 cm de altura e diâmetro de 0,67 cm, é colocada sobre a placa A e pressionada, formando celas. Logo após, a placa B é removida e o parafilme ou filme de cera de abelha é deixado sobre a placa A.

Figura 12. Placas A e B usadas no encapsulamento de larvas do hospedeiro alternativo de parasitoides

Antes de serem encapsuladas, as larvas do hospedeiro al-ternativo são submetidas a um processo de desinfecção com hipoclorito de sódio a 10%, durante 10 minutos (Figura 13).

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A

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Dentro de cada cela são colocadas duas larvas de último íns-tar da broca da-batata-doce Euscepes postfasciatus (Fairmaire) (Coleoptera: Curculionidae) (Ramalho et al., 2000) (Figura 14). Uma vez preenchidas todas as celas, outra folha de parafilme ou filme de cera de abelha não prensada é estendida sobre a pri-meira, e, com o auxílio de uma carretilha, as celas são fechadas, passando-se a carretilha entre as celas (Figura 15) em todos os sentidos. As larvas encapsuladas do hospedeiro alternativo são levadas para as caixas de criação (Figura 16), onde ficam expos-tas a fêmeas grávidas do parasitoide (Figura 17) por um período de 24 horas. Nas caixas com C. grandis, as larvas encapsuladas são colocadas e fixadas na parte inferior da caixa (Figura 17), enquanto nas com B. vulgaris, as larvas encapsuladas são fixa-das na parte superior da caixa de criação (Ramalho et al., 2007). Cada 24 horas, as caixas recebem larvas para serem parasitadas por adultos recém-emergidos do parasitoide. As caixas de cria-ção são de acrílico transparente, medindo 40 cm x 40 cm x 25 cm, com duas aberturas circulares localizadas em um dos lados, para permitir a manipulação (Figura 16). A essas aberturas são presas duas luvas de tecido, com 40 cm de comprimento por 25 cm de diâmetro, as quais impedem que os parasitoides adultos escapem da caixa. Dois tubos de vidro contendo água destilada e tampados cada um com um chumaço de algodão são colocados em cada caixa para manter a umidade elevada no interior da cai-

Figura 13. Larvas do hospedeiro alternativo submetidas ao pro-cesso de desinfecção com hipoclorito de sódio

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xa e fornecer água aos parasitoides. Diariamente, mel de abelha é oferecido aos parasitoides adultos em pequenas gotas, distri-buídas nas paredes da caixa de criação e entre as celas molda-das do parafilme ou filme de cera de abelha, utilizando-se uma seringa descartável. Em intervalos de 24 horas, as larvas para-sitadas são retiradas da caixa de criação e colocadas em potes plásticos, onde ocorre a emergência de adultos do parasitoide. À medida que os adultos do parasitoide vão emergindo, proce-de-se a retirada deles dos potes plásticos usando-se uma bomba de sucção (Figura 18). Alguns desses adultos são utilizados para produção em laboratório e outros são usados para liberação em campo, visando ao controle do bicudo.

Figura 14. Processo de encapsulamento de larvas do hospe-deiro alternativo

Figura 15. Processo de utilização da carretilha para fechamento das celas, isto é, aderência de uma película a outra

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Figura 16. Caixas de acrílico utilizadas na criação dos parasitoi-des C. grandis e B. vulgaris

Figura 17. Larvas do hospedeiro alternativo sendo parasitadas por fêmeas do parasitoide C. grandis

Figura 18. Processo de coleta de adultos dos parasitoides do bicu-do emergidos nos potes de plástico, usando-se bomba de sucção

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4. Considerações e conclusões

É de fundamental importância que o empresário do algo-dão, antes de tudo, esteja consciente de que, para a implemen-tação de programas do manejo de pragas na região do Cerrado do Brasil com o uso da estratégia de controle biológico, não se pode pensar no manejo de determinada espécie de praga de uma cultura, mas, sim, no manejo de um sistema agrícola constituído de várias culturas (soja, milho, algodão, etc.). As-sim sendo, é necessário que os empresários das culturas que compõem o sistema agrícola do Cerrado do Brasil, de manei-ra conjunta, invistam seus esforços em programas de controle biológico como estratégia principal para o manejo das pragas dessas culturas. Essa ação irá garantir ao Cerrado do Brasil uma agricultura sustentável.

A ocorrência de inimigos naturais nos agroecossistemas do algodoeiro no Brasil é útil na redução de populações do bi-cudo, sem afetar as relações ecológicas de outros organismos. Os inimigos naturais são um componente biológico de pro-gramas de manejo do bicudo e estão aptos a serem aplicados em todo Brasil.

O controle biológico do bicudo por meio da conservação de seus inimigos naturais é pouco usado no país. Todavia, para o melhoramento desta tática, é necessário gerar mais conhe-cimentos sobre as variáveis (rotação de culturas, consórcio de diferentes espécies vegetais, arquitetura de plantas, den-sidade de plantio, área de refúgio constituída especialmente de plantas nativas, interações tróficas, cadeia alimentar), que poderão contribuir para o aumento populacional de parasi-toides, predadores e entomopatógenos do bicudo que ocor-rem naturalmente nos agroecossistemas de algodoeiros do Brasil. Os estudos deverão ser implementados e conduzidos durante um período bastante longo e de maneira intensiva por pesquisadores do país em cooperação com seus pares de países da América do Sul que tenham interesse no contro-le biológico do bicudo. Esses estudos irão fornecer a base do conhecimento que será fundamental para o desenvolvimento de tácticas de manejo de A. grandis, sem afetar os agroecos-sistemas do algodoeiro e, assim, garantir ao Brasil uma coto-nicultura sustentável.

172

Para viabilizar o controle biológico aplicado do bicudo, é ur-gente que sejam feitos investimentos na automação da produ-ção desses agentes de controle; só assim será possível produzir quantidade suficiente de parasitoides para atender à demanda da área plantada de algodão do Brasil.

Existe uma necessidade urgente para implantação de pro-gramas de controle biológico das principais pragas das cultu-ras (soja, milho e algodão) que compõem o sistema agrícola do Cerrado. Entretanto, para que isso se torne uma realidade, é necessário investimento pesado na instalação de várias bio-fábricas para produção de inimigos naturais em grande escala que atenda à demanda da região.

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