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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Priscilla Cardoso Ambrosio Cálculo do Resultado Fiscal Estrutural brasileiro no período de 2000 a 2016 RIO DE JANEIRO 2017

Cálculo do Resultado Fiscal Estrutural brasileiro no ... · Prof. Carlos Heitor Campani, DSc. (COPPEAD/UFRJ) _____ Profa. Viviane Luporini, DSc. (IE/UFRJ) RIO DE JANEIRO 2017 . 6

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

Priscilla Cardoso Ambrosio

Cálculo do Resultado Fiscal Estrutural brasileiro no período

de 2000 a 2016

RIO DE JANEIRO

2017

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Cálculo do Resultado Fiscal Estrutural brasileiro no período de 2000

a 2016

Dissertaçao de mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD

de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

de Mestre de Administração.

Orientadora: Profª Margarida Gutierrez

D.Sc. em Economia

RIO DE JANEIRO

2017

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CIP – Catalogação na Publicação

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os

dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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PRISCILLA CARDOSO AMBROSIO

Cálculo do Resultado Fiscal Estrutural brasileiro no período de 2000

a 2016

Dissertaçao de mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD

de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

de Mestre de Administração.

Aprovada em

____________________________________________

Profa. Dra. Margarida Gutierres, DSc. – Orientadora

(COPPEAD/UFRJ)

____________________________________________

Prof. Carlos Heitor Campani, DSc.

(COPPEAD/UFRJ)

____________________________________________

Profa. Viviane Luporini, DSc.

(IE/UFRJ)

RIO DE JANEIRO

2017

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RESUMO

O resultado estrutural revela-se um importante indicador à medida que permite avaliar

o esforço intencional e recorrente do governo em manter sustentável a trajetória da dívida

pública. Este trabalho visa calcular este indicador para as contas do governo central. Para tanto,

foi utilizada a metodologia adotada pela Secretaria de Política Econômica, com pequenas

modificações. Essas alterações dizem respeito à utilização de uma série de PIB potencial

calculada a partir de função de produção e fornecida por (SOUZA JÚNIOR) e à adoção de

novas inscrições em restos a pagar como receita não recorrente. Assim como na metodologia

da Secretaria de Política Econômica, o resultado estrutural sofreu ajuste em relação ao ciclo

econômico e ao preço do petróleo e foi utilizado o modelo de componentes não observáveis

para o cálculo das elasticidades. Com isso, foi possível verificar que o resultado fiscal do

governo foi favorecido pelos efeitos do ciclo econômico e das receitas extraordinárias no

período entre 2009 e 2015. Além disso, a análise do impulso fiscal revelou que a política fiscal

teve viés levemente pró-cíclico no período analisado, em 8 de 15 anos, o que significa o governo

adotou política fiscal expansionista em momentos de crescimento do PIB efetivo acima do

potencial e adotou política contracionista em momentos de crescimento abaixo do PIB

potencial.

Palavras-Chaves: Macroeconomia. Política Fiscal. Contas Fiscais. Resultado

Estrutural.

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ABSTRACT

The structural budget balance proves to be an important indicator as it measures

government’s intentional and recurrent effort to maintain a sustainable public debt trajectory.

This paper aims to calculate this indicator for the central government accounts. Therefore, the

methodology adopted by the Brazilian Secretariat of Economic Policy was employed, with

minor modifications. These alterations relate to the use of a potential GDP series calculated

through a production function and provided by (SOUZA JÚNIOR) and the adoption of new

inscriptions in disbursement deferrals as non-recurring revenue. As in the Secretariat’s

methodology, the structural budget balance was adjusted to the economic cycle and to the oil

price and the unobservable components model was used to calculate the elasticities. As a result,

it was found that the fiscal result was favored by the effects of the economic cycle and

extraordinary revenues in the period between 2009 and 2015. In addition, the fiscal impulse

analysis revealed that fiscal policy had a slightly procyclical bias during the analyzed period, 8

of 15 years, which means that the government adopted expansionary fiscal policy when

effective GDP growth was above potential GDP and adopted contractionary policy when

effective GDP was below its potential.

Key-words: Macroeconomics. Fiscal Policy. Tax bills. Structural Budget Balance.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Katia, e à minha avó, Helenita, por todo o carinho e incentivo que me

deram para que eu pudesse concluir o meu mestrado.

Aos meus amigos mestrandos do COPPEAD, pelas experiências maravilhosas

compartilhadas nos últimos anos.

A todos os meus amigos que me incentivaram e tiveram que lidar com algumas

ausências em época de dissertação.

À minha orientadora, profissional que muito admiro, e que me deu todo o apoio

necessário.

A todos os demais professores que eu tive em minha jornada, por terem contribuído

com a minha formação.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Política Fiscal Anticíclica versus Procíclica (% PIB) .............................................................. 42

FIGURA 2 – PIB efetivo, PIB tendendial e hiato do produto ................................................................. 50

FIGURA 3 – Preço do petróleo efetivo, preço do petróleo tendencial e hiato do preço do petróleo .. 52

FIGURA 4 – Evolução dos restos a pagar processados .......................................................................... 60

FIGURA 5 – Novas inscrições em Restos a pagar processados ............................................................. 61

FIGURA 6 – Receitas extraordinárias ..................................................................................................... 61

FIGURA 7 – Resultado convencional x resultado estrutural ................................................................. 62

FIGURA 8 – Comparação de resultados estruturais (deste trabalho), (SPE, 2016) e convencional ...... 63

FIGURA 9 – Decomposição do resultado fiscal por componente ......................................................... 64

FIGURA 10 – Comparação entre as componentes não recorrentes ..................................................... 65

FIGURA 11 – Detalhamento da comparação entre componentes não recorrentes ............................. 65

FIGURA 12 – Impulso fiscal convencional x estrutural .......................................................................... 66

FIGURA 13 – Orientação da política fiscal ............................................................................................. 67

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Elasticidades dos grupos de receita ................................................................................... 53

TABELA 2 - Elasticidades dos grupos de receita estimadas pela SPE .................................................... 54

TABELA 3 – Resultado primário por tipo de ajuste ............................................................................... 55

TABELA 4 – Eventos não recorrentes (continua) .................................................................................. 56

TABELA 4 – Eventos não recorrentes (conclusão)................................................................................. 57

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

1.1 CONTEXTO ................................................................................................... 12

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................ 16

1.3 RELEVÂNCIA ............................................................................................... 17

1.4 DELIMITAÇÃO ............................................................................................. 17

1.5 METODOLOGIA ........................................................................................... 17

1.6 BASE DE DADOS ......................................................................................... 22

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 23

2.1 A ADOÇÃO DE REGRAS FISCAIS ............................................................ 23

2.2 ESTABILIDADE FISCAL E ESTABILIZADORES AUTOMÁTICOS ...... 27

2.3 O RESULTADO CICLICAMENTE AJUSTADO ........................................ 30

2.4 O RESULTADO ESTRUTURAL .................................................................. 31

2.5 PROBLEMAS DE CÁLCULO ...................................................................... 32

2.6 USOS DO RESULTADO CICLICAMENTE AJUSTADO .......................... 39

2.7 O CONCEITO DE IMPULSO FISCAL ......................................................... 41

2.8 PRINCIPAIS ABORDAGENS ...................................................................... 42

2.8.1 A metodologia do FMI .......................................................................................... 43

2.8.2 A metodologia da OCDE ....................................................................................... 45

2.8.3 A metodologia do ECB .......................................................................................... 46

2.9 APLICAÇÕES NO CASO BRASILEIRO ..................................................... 48

3. RESULTADOS ...................................................................................................... 50

3.1 TENDÊNCIAS E HIATOS ............................................................................ 50

3.2 ELASTICIDADES ESTIMADAS ................................................................. 52

3.3 COMPONENTE CÍCLICO ............................................................................ 54

3.4 EVENTOS NÃO RECORRENTES ............................................................... 55

3.5 RESULTADO ESTRUTURAL ...................................................................... 62

3.6 IMPULSO FISCAL ........................................................................................ 66

4. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 68

5. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 70

APÊNDICE A – Elasticidades obtidas a partir do software R ..................................... 73

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO

Desde a eclosão da crise de créditos habitacionais inadimplentes e renegociados

(subprime) em 2008, a discussão em torno de políticas fiscais entrou em forte debate na

literatura econômica. Os temas abordados incluíam tanto as diversas medidas adotadas pelos

países no pré e pós crise quanto os instrumentos que viabilizaram as melhores performances

para enfrentar as dificuldades econômicas.

Até hoje, o Chile foi o único país do LA6 (grupo de países formado pelas seis maiores

economias de mercado emergente financeiramente integradas da América Latina, quais sejam:

Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai) capaz de retirar o afrouxo financeiro utilizado

como resposta à crise de 2008. Já o Brasil adotou uma postura fiscal pós-crise expansionista

nos momentos de desaceleração econômica, mas não foi capaz de reverter essa postura nos

momentos de aceleração (CELASUN, 2015).

Isso ocorreu, pois no Brasil especificamente, a expansão fiscal que o governo

implementou baseou-se em desoneração fiscal temporária e aumento de gastos permanentes.

(GARCIA, 2009) afirmou que quando a crise terminasse, estes gastos, que não poderiam ser

cortados quando o país saísse da recessão, constituiriam pesado fardo a diminuir o investimento,

tanto privado quanto público, e atrasariam o crescimento econômico.

Segundo (VELLOSO, 2013. p.1.):

O Brasil tem insistido num modelo econômico baseado em forte estímulo ao consumo,

ou, melhor dizendo, na pouca atenção à poupança e ao investimento. Mesmo com o

boom de commodities, que alivia as restrições mas não será eterno, e mesmo com a

farta disponibilidade de capitais externos, a taxa de investimento, e, portanto, a de

crescimento do PIB, não consegue aumentar além de certo ponto.

(MANSUETO, 2015. p.1.) afirma que “a reação do governo à crise de 2008 agravou

ainda mais os nossos problemas”. Isso porque os estímulos dados ao consumo e ao

investimento, que deveriam permitir um maior crescimento econômico, não atingiram o

resultado esperado e em 2014 o país entrou em estagnação seguida de recessão em 2015.

Hoje a maior parte dos autores concorda em utilizar políticas fiscais de forma a

minimizar os ciclos econômicos, ou seja, utilizar as chamadas políticas anticíclicas. Uma

medida anticíclica é aquela voltada para minimizar os efeitos dos ciclos econômicos, que são

os desvios do PIB real em torno da trajetória do PIB potencial. Por definição, o PIB potencial

é a capacidade de oferta de uma economia quando são empregados todos os fatores de produção

e o PIB real é o produto que de fato ocorre, aquele que pode ser medido.

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Segundo (GARCIA, 2009), política anticíclica se faz principalmente com metas fiscais

automaticamente ajustadas para o ciclo econômico, como o Chile pratica há muitos anos. O

autor explica que em períodos de expansão, a meta para o superávit fiscal torna-se mais rígida,

enquanto que em períodos recessivos a meta é afrouxada.

De acordo com (CELASUN, 2015), apesar dos países do LA6 terem adotado uma

postura anticíclica no começo da crise, em seu desenrolar foram evidenciadas deficiências no

quadro orçamentário e destacados os perigos de realizar medidas discricionárias sem uma

âncora para o médio prazo ou um plano de saída.

O foco da discussão voltou-se então aos instrumentos capazes de avaliar a postura fiscal

do governo (se anti ou pró-cíclica). O resultado fiscal estrutural, que se diferencia do resultado

convencional por eliminar receitas e despesas extraordinárias, além de alterações em receitas e

despesas consequentes dos ciclos econômicos, é um desses instrumentos.

Para o futuro, segundo (CELASUN, 2015), é importante fortalecer o espaço fiscal nos

países do LA6, embora o tamanho, ritmo e tempo necessário varie de acordo com a situação de

cada economia. As reformas precisam ir além da restauração do quadro fiscal pré-crise. O novo

arranjo institucional deve ser construído de forma a distinguir receitas permanentes e

temporárias, evitar pró-ciclicidade, assegurar uma resposta mais simétrica às recessões e

expansões da economia e incorporar cláusulas de escape bem definidas. Deve-se também aderir

a regras fiscais como forma de construir credibilidade, evitando a contabilidade criativa. E, por

fim, deve-se aumentar a eficiência do gasto público de forma a otimizar a provisão de produtos

e serviços públicos.

(MARCIO GARCIA, 2012) afirma que a forma correta de utilizar uma política fiscal

anticíclica seria através da introdução de uma meta para o superávit estrutural, a exemplo do

que faz o Chile. Ainda segundo o autor, a introdução dessa meta permitiria que medidas de

expansão fiscal não alimentasse o receio do compromentimento da solvência do setor público.

Além disso, evitaria o que ocorreu no Brasil no pós-crise de 2008, quando o governo realizou

um aumento de gastos recorrentes sob o pretexto de combate à crise.

No entanto, essa opinião não é unanimidade na literatura. Segundo (REIS, MANASSE

e PANIZZA, 2007) embora existam evidências que apontem para uma redução da pró-

ciclicidade, os autores citam casos em que até mesmo a adoção dessas regras fiscais pode ser

ineficiente ou prejudicial. Quanto à ineficiência, isso ocorreria por ser mais provável que sejam

os próprios políticos virtuosos que adotem frameworks que conduzem à sustentabilidade fiscal

do que seja a adoção desses frameworks fiscais que torne os políticos mais virtuosos.

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Quanto ao prejuízo, isso se daria em uma situação de revisão abrupta do nível do PIB

potencial, por exemplo. No caso de um país governado por policymakers conservadores que

sofrem constantes pressões para expandir os gastos públicos, uma revisão do PIB potencial para

um nível mais elevado combinado com uma regra fiscal baseada em resultado estrutural levaria

os gastos públicos para um nível mais alto a fim de reduzir a diferença para o PIB potencial.

Essa mudança repentina pode superaquecer a economia e o país pode não ser capaz de

administrar adequadamente esse aumento nos gastos públicos. Ademais, se o PIB tendencial

estiver incorreto e for novamente corrigido para baixo, o país pode terminar com um nível de

gastos difícil de reverter. Esse problema ocorre principalmente nos países emergentes, onde a

volatilidade do PIB é maior.

De forma geral, a política fiscal passou a ser cada vez mais monitorada através da

utilização de indicadores estruturais mantendo o foco na questão da sustentabilidade da dívida.

Essa sustentabilidade é garantida através do conceito de restrição orçamentária intertemporal,

em que o valor presente de todos os superávits futuros deve ser maior ou igual ao valor da

dívida pública, de forma a garantir o pagamento da mesma.

Se esta restrição for cumprida, os agentes financeiros sofrerão menos incerteza e,

consequentemente, aceitarão taxas menores para financiar o governo, ou seja, essa política

fiscal contribuirá para a redução de juros na economia. Já a redução de juros causa uma

diminuição do endividamento que gera uma nova melhora na restrição intertemporal. Com a

dívida mais baixa, as receitas não precisarão ser tão altas, culminando assim em um ciclo que

permite a diminuição de impostos e a melhoria de renda.

Uma das dificuldades em cumprir a restrição orçamentária intertemporal está na

existência do viés do ciclo político definido como o incentivo que os governantes têm em

aumentar seus gastos no final de seus mandatos, para causar uma boa impressão aos eleitores

menos informados, e deixar a dívida para os governos seguintes.

Buscando enfrentar este problema, em 2000 foi elaborada no Brasil a Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF) (Lei Complementar 101 de maio/2000) inspirada no Manual de

Boas Práticas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que trazia princípios de austeridade

fiscal. De acordo com o caput do art. 1º, seu principal objetivo consiste em estabelecer “normas

de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal”.

Sendo assim, a condução da política fiscal foi orientada de forma a fixar metas para o

superávit primário - definido como resultado positivo de todas as receitas e despesas do

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governo, excetuando gastos com pagamento de juros - com o intuito de reduzir a relação dívida

pública/PIB.

É possível verificar que as metas foram alcançadas nos primeiros anos da LRF (1999 a

2007), mas, a partir de 2009, os superávits primários caíram e a prática das heterodoxias

contábeis, artifícios que alteram os resultados de um determinado período passando receitas ou

gastos de um período para outro, se multiplicou.

(GOBETTI, 2010) cita como exemplo de heterodoxia contábil, também chamada

contabilidade criativa, o fato que ocorreu em 2009, quando o governo enfrentava dificuldade

em cumprir a meta estabelecida, que já havia sido revisada. O Tesouro Nacional promoveu,

então, a antecipação de dividendos da Eletrobras junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) e a recuperação de depósitos judiciais junto à Caixa Econômica

Federal para aumentar a receita primária e, assim, cumprir a LRF.

Já (OLIVEIRA, 2012) ilustra como exemplo de mecanismo pouco ortodoxo utilizado

para cumprir a meta fiscal a venda pelo governo de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal

para a Petrobras totalizando R$ 74,9 bilhões. Dessa quantia, R$ 32 bilhões foram utilizados

para cumprir a meta de superávit primário.

(GOBETTI, 2010) afirma que:

O que se vê, portanto, é que o governo brasileiro tem tomado uma série de iniciativas

isoladas que tem por objetivo flexibilizar o regime de metas, mas o mais apropriado

talvez seja adotar a metodologia de resultado fiscal estrutural nos moldes do Chile e

de outras economias avançadas.

Sendo assim, atualmente os indicadores de resultado estrutural de diversos países são

regularmente calculados e divulgados pelo FMI e por diversas outras instituições. A Comissão

para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID) estimulam que os países da região realizem suas próprias estimativas oficiais como forma

de reduzir o viés pró-cíclico dos mesmos.

Na América Latina, no entanto, a metodologia para o cálculo do resultado estrutural

ainda é pouco difundida. O Chile calcula o superávit estrutural realizando ajuste cíclico para o

PIB potencial e para o preço do cobre, a Colômbia ajusta o resultado fiscal aos efeitos do ciclo

e das receitas extraordinárias oriundas das atividades de mineração e energia. Já no Brasil, desde

2013 o Banco Central utiliza o superávit primário estrutural como variável fiscal em seus

modelos de projeções econômicas. Em 2014 a Secretaria de Política Econômica calculou e

divulgou pela primeira vez o resultado primário estrutural oficial do país com ajustes cíclicos

para o PIB tendencial e para o preço do petróleo.

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A intenção deste trabalho é calcular o resultado estrutural para o governo central do

Brasil utilizando a metodologia da (SPE, 2016) e adaptando-a quando necessário. A principal

diferença consiste na utilização da série do PIB potencial obtida através de função de produção

pelo autor (SOUZA JÚNIOR)1 e na escolha de eventos não recorrentes a serem excluídos.

Embora este cálculo já tenha sido realizado em estudos anteriores como (DE MELLO et al,

2006), (GOBETTI et al, 2010), (ORENG, 2012), entre outros, não há consenso sobre as diversas

metodologias e etapas envolvidas. A estimativa do PIB potencial ou da tendência dos preços

dos ativos/commodities, a definição de grupos de receitas e gastos a serem ajustados

ciclicamente, a definição de receitas e gastos não recorrentes e o método para cálculo de

elasticidades ainda são discutidos. Dessa forma, este trabalho reflete a visão e as escolhas da

autora e pode, portanto, ser utilizado como comparação com os demais estudos realizados.

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

O principal objetivo da pesquisa é calcular o Resultado Fiscal Estrutural do governo

central, que inclui o Tesouro Nacional, Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e Banco

Central, no período de 2000 a 2016. O período escolhido inicia-se no ano de 2000, pois foi o

ano da adoção da Lei de Responsabilidade Fiscal, e vai até a data em que há informações

divulgadas para realizar os cálculos, ou seja, o primeiro trimestre de 2016.

Como objetivo secundário, será analisado o impulso fiscal, dado pela variação do

resultado estrutural entre dois períodos, a fim de verificar o quão expansionista ou

contracionista é a ação discricionária da política fiscal.

Outro objetivo alcançado a partir da análise do impulso fiscal e do hiato do produto,

ambos calculados neste trabalho, é a definição se o país tem adotado uma postura pró ou

anticíclica de política fiscal.

Adicionalmente, a partir do cálculo das elasticidades dos grupos de receitas, será

possível identificar aquelas que sofrem mais impacto com a variação do ciclo.

1 A série de PIB potencial foi gentilmente cedida pelo autor. Explicações aprofundadas sobre metodologia

de cálculo encontram-se em SOUZA JÚNIOR, José Ronaldo de Castro. Produto potencial: conceitos, métodos de

estimação e aplicação à economia brasileira. 2005. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

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1.3 RELEVÂNCIA

Um papel importante da política fiscal consiste em utilizá-la como amortecedor dos

ciclos econômicos. Quando a economia cresce acima do PIB potencial ocorrem pressões

inflacionárias, já que os fatores de produção estão em seu limite máximo de utilização e a

demanda continua a crescer. Por outro lado, um crescimento abaixo do PIB potencial também

não é desejado, pois há aumento do desemprego.

Quando se trata de política fiscal, o déficit público deve então se expandir em momentos

de recessão, de modo a reestabelecer o equilíbrio econômico, enquanto que em momentos de

crescimento o inverso deve ocorrer, ou seja, a tributação deve ser elevada, criando assim um

fundo de reserva que possa ser utilizado nos períodos de depressão. O impacto da política fiscal

no produto é maior quando a política monetária trabalha na mesma direção, buscando os

mesmos objetivos. A importância do resultado estrutural se dá ao passo que este permite

analisar o esforço fiscal de forma dissociada do ciclo econômico e dos eventos não recorrentes

que impactam o resultado convencional.

Segundo (GOBETTI, 2010), no período de 2005 a 2008, o superávit primário

consolidado do setor público sempre superou a meta, mas se o país tivesse adotado um resultado

fiscal estrutural, possivelmente algumas conclusões teriam sido diferentes. Tendo isso em

mente, percebe-se a importância do resultado estrutural por medir o resultado das ações

discricionárias do governo.

1.4 DELIMITAÇÃO

Serão considerados neste estudo somente dados de acesso público.

1.5 METODOLOGIA

Atualmente, a literatura apresenta três metodologias gerais para o cálculo do resultado

estrutural: A metodologia do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Banco Central Europeu (ECB). Cada

metodologia será detalhada na seção 2. REVISÂO BIBLIOGRÁFICA e, por ora, será

apresentada somente a metodologia utilizada neste estudo, que combina as abordagens do FMI

e da OCDE.

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O cálculo do resultado estrutural foi elaborado baseado na metodologia da Secretaria de

Política Econômica, que consiste em seis passos, quais sejam:

(i) Cálculo da tendência do PIB potencial e do preço do petróleo

Neste trabalho, diferentemente do (SPE, 2016), foi utilizada a série histórica de PIB

potencial calculada através de função de produção pelo autor (JOSÉ RONALDO SOUZA

JÚNIOR), conforme recomendação do FMI.

Já a tendência do preço do petróleo foi obtida através do uso do filtro Hodrick-Prescott

(HP) com fator λ = 14400, conforme recomendação na literatura para utilização de dados

mensais.

(ii) Formação de grupos de receitas e despesas ajustadas ao ciclo

Neste trabalho, apenas as receitas sofreram ajuste cíclico. Isso ocorreu porque segundo

(HAGEMANN, 1999) somente um gasto do governo é dependente do ciclo, o chamado seguro-

desemprego, que aumenta em períodos de crescimento abaixo do potencial e diminui em

períodos de crescimento acima do potencial. No entanto, esse estabilizador automático não

funciona perfeitamente no Brasil, já que o país possui um mercado de trabalho ainda em

formalização. Sendo assim, quando o país tem um crescimento acima do potencial, o seguro

desemprego continua a subir devido aos novos entrantes no mercado de trabalho formal. Esse

gasto, portanto, não sofre tanta influência do ciclo, mas sim do grau de formalização do mercado

de trabalho e, por isso, não foi ajustado ciclicamente.

As receitas consideradas para o ajuste foram baseadas em (SPE, 2016). São oito grupos

no total, sendo que seis grupos sofreram ajuste ao ciclo econômico e dois ao preço do petróleo.

As receitas ajustadas ao ciclo foram:

1. Impostos sobre renda do trabalho (TRT)

Consiste em:

Imposto de Renda Pessoa Física, exceto parcela derivada de Ganhos de capital

Imposto de Renda Retido na Fonte - Rendimentos do trabalho

2. Contribuições previdenciárias relacionadas à seguridade social (TSS)

Consiste em:

Receita do Regime Geral de Previdência Social

Salário Educação

3. Tributos sobre a renda corporativa (TRC)

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Consiste em:

Imposto de Renda Pessoa Jurídica

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

4. Tributos indiretos (TI)

Consiste em:

Imposto sobre Produtos Industrializados, exceto Importação

PIS/PASEP, exceto Importação

COFINS, exceto Importação

5. Tributos sobre a importação (TM)

Consiste em:

Imposto de Importação

Imposto sobre Produtos Industrializados – Importação

PIS/PASEP - Importação

COFINS – Importação

6. Impostos sobre ganhos do capital (TGC)

Consiste em:

Imposto de Renda Pessoa Física - Ganhos de capital

Imposto de Renda Retido na Fonte - Rendimentos do capital

As receitas ajustadas ao preço do petróleo foram:

7. Receitas de royalties (ROY)

8. Participação especial do petróleo (PE)

(iii) Cálculo das elasticidades

As elasticidades dos grupos de receitas foram estimadas em relação ao hiato do produto

e ao hiato do petróleo. Isso se deu através da metodologia dos componentes não observados,

em que uma série temporal é decomposta em componentes de tendência (𝜇𝑡), sazonalidade

(𝛾𝑡) e erro (휀𝑡).

As elasticidades dos grupos de receitas em relação ao ciclo econômico são estimadas a

partir da seguinte fórmula:

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ln(𝑅𝑖)𝑡 = 𝜇𝑡 + 𝛾𝑡 + ∑(휀𝑅𝑖,𝐻𝛾(𝐻𝛾))𝑡−𝑘

𝑘

𝑘=0

+ 𝛽𝑡𝑤𝑡 + 휀𝑡

Onde 𝑅𝑖 é um grupo de receita sujeito ao ajuste ao ciclo econômico, 𝐻𝛾 é o hiato do

produto definido como 𝑌− 𝑌∗

𝑌∗ (onde Y é o PIB efetivo e 𝑌∗ é o PIB potencial) e 휀𝑅𝑖,𝐻𝛾 é a

elasticidade do grupo de receita i sujeita ao ajuste cíclico com relação ao hiato do produto.

Faz-se importante lembrar aqui que ln𝑥

𝑦~

(𝑥−𝑦)

𝑦. Sendo assim, a fórmula

ln(𝑅𝑖)𝑡 = 𝜇𝑡 + 𝛾𝑡 + ∑ (휀𝑅𝑖,𝐻𝛾(ln

𝑌

𝑌∗))𝑡−𝑘

𝑘𝑘=0 + 𝛽𝑡𝑤𝑡 + 휀𝑡 foi aproximada para a

fórmula ln(𝑅𝑖)𝑡 = 𝜇𝑡 + 𝛾𝑡 + ∑ (휀𝑅𝑖,𝐻𝛾(𝐻𝛾))𝑡−𝑘

𝑘𝑘=0 + 𝛽𝑡𝑤𝑡 + 휀𝑡, utilizada neste estudo.

A tendência 𝜇𝑡 é composta de um componente de nível e um de inclinação:

𝜇𝑡+1 = 𝜇𝑡 + 𝜐𝑡 + 𝜉𝑡 (nível)

𝜐𝑡+1 = 𝜐𝑡 + 𝜉𝑡 (inclinação)

A sazonalidade 𝛾𝑡 para dados trimestrais (s = 4) é definida como:

𝛾𝑡 = ∑ 𝛾𝑗,𝑡

[𝑠2

]

𝑗=1

Onde cada 𝛾𝑗,𝑡 é gerado por:

𝛾𝑗,𝑡+1 = 𝛾𝑗,𝑡 cos 𝜆𝑗 + 𝛾𝑗,𝑡∗ sin 𝜆𝑗 + 𝜔𝑗,𝑡

𝛾𝑗,𝑡+1∗ = −𝛾𝑗,𝑡 sin 𝜆𝑗 + 𝛾𝑗,𝑡

∗ cos 𝜆𝑗 + 𝜔𝑗,𝑡∗

Onde 𝜆𝑗 = 2𝜋𝑗/𝑠 é a frequência em radianos e os termos 𝜔𝑗,𝑡 e 𝜔𝑗,𝑡∗ são mutuamente

independentes.

Já o componente 𝛽𝑡𝑤𝑡 permite modelar tanto outliers quanto quebras estruturais.

As elasticidades dos grupos de receitas em relação ao hiato do petróleo são estimadas a

partir da seguinte fórmula:

ln(𝑅𝑗)𝑡 = 𝜇𝑡 + ∑ (휀𝑅𝑗,𝐻𝑜𝑖𝑙(𝐻𝑜𝑖𝑙))𝑡−𝑘

1

𝑘=0 𝑜𝑢 1

+ 𝛽𝑡𝑤𝑡 + 휀𝑡

Onde 𝑅𝑗 é um grupo de receita sujeito ao ajuste ao preço do petróleo, 𝐻𝑜𝑖𝑙 é o hiato do

preço do petróleo, definido como 𝑜𝑖𝑙− 𝑜𝑖𝑙∗

𝑜𝑖𝑙∗ (onde oil é a cotação do petróleo e 𝑜𝑖𝑙∗é o preço

tendencial do petróleo) e 휀𝑅𝑗,𝐻𝑜𝑖𝑙 é a elasticidade do grupo de receita j sujeita ao ajuste cíclico

com relação ao hiato do preço do petróleo.

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A regressão foi baseada no método de máxima verossimilhança e os p-valores obtidos

a partir de testes t.

(iv) Cálculo do componente cíclico

Para cada grupo de receita, o componente cíclico é a diferença entre a receita sujeita ao

ajuste e a receita ciclicamente ajustada, ou seja,

𝑅𝑖𝑐 = 𝑅𝑖 − 𝑅𝑖

∗ (ajuste para o PIB)

𝑅𝑗𝑐 = 𝑅𝑗 − 𝑅𝑗

∗ (ajuste para o preço do petróleo)

Onde 𝑅𝑐 é o componente cíclico, R é a receita sujeita ao ajuste e 𝑅∗ é a receita

ciclicamente ajustada. O índice i refere-se aos grupos de receitas ajustados pelo PIB enquanto

que o índice j refere-se aos grupos de receitas ajustados pelo preço do petróleo.

As receitas ajustadas ao ciclo do PIB (𝑅𝑖∗) são definidas como:

𝑅𝑖∗ = 𝑅𝑖 ∗ (

𝑌∗

𝑌)

𝜀𝑅𝑖,𝐻𝑌

E as receitas ajustadas ao ciclo do preço do petróleo (𝑅𝑗∗) são definidas como:

𝑅𝑗∗ = 𝑅𝑗 ∗ (

𝑜𝑖𝑙∗

𝑜𝑖𝑙)

𝜀𝑅𝑗,𝐻𝑜𝑖𝑙

Onde 𝑌∗ e 𝑜𝑖𝑙∗ são respectivamente o PIB e o preço do petróleo tendenciais, 휀𝑅𝑖,𝐻𝑌 é a

elasticidade do grupo de receita i sujeito ao ajuste cíclico com relação ao PIB e 휀𝑅𝑖,𝐻𝑌 é a

elasticidade do grupo de receita j sujeito ao ajuste cíclico com relação ao preço do petróleo.

O componente cíclico agregado é o somatório dos componentes cíclicos que pode ser

expresso como:

𝑆𝑃𝑐 = ∑ 𝑅𝑖𝑐

𝑁

𝑖

+ ∑ 𝑅𝑗𝑐

𝑀

𝑗

(v) Expurgo das receitas não recorrentes

Assim como na metodologia da (SPE, 2016), neste trabalho as receitas não recorrentes

foram expurgadas após o cálculo das elasticidades.

Para classificação dos eventos como não recorrentes, foram considerados os seguintes

critérios, em linha com a literatura:

Efeito sobre o patrimônio líquido do setor público

Efeito sobre a renda disponível do setor privado

Perspectivas de repetição no longo prazo

Materialidade dos valores envolvidos

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Disponibilidade de informações públicas sobre a operação

(vi) Formulação do Resultado

Finalmente o resultado estrutural (𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇) é definido como a diferença entre o resultado

convencional (SP), o componente cíclico do resultado (𝑆𝑃𝑐 ) e o resultado não recorrente

(𝑆𝑃𝑁𝑅), conforme a fórmula a seguir:

𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇 = 𝑆𝑃 − 𝑆𝑃𝑐 − 𝑆𝑃𝑁𝑅

1.6 BASE DE DADOS

A seguir são listados todos os dados utilizados neste trabalho e suas respectivas fontes:

Receitas Federais

Fonte: Resultado do Tesouro Nacional

PIS/COFINS – Importação

Fonte: Receita Federal do Brasil

IRPF - Ganho de Capital

Fonte: Receita Federal do Brasil

Royalties do petróleo

Fonte: Receitas patrimoniais e de contribuições, disponíveis no site do Tesouro

Nacional

Participação especial do petróleo

Fonte: Receitas patrimoniais e de contribuições, disponíveis no site do Tesouro

Nacional

Preço do petróleo

Fonte: Série mensal em dólar americano da cotação Brent Dated, disponibilizada pelo

Banco Mundial. A taxa de câmbio para compra foi obtida junto ao BCB.

Resultado Fiscal do Setor Público Consolidado

Fonte: Resultado do Tesouro Nacional

Restos a pagar processados

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional

As séries fiscais trimestrais foram deflacionadas pela série histórica do IPCA. Os dados

foram deflacionados a preços do segundo trimestre de 2000.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A ADOÇÃO DE REGRAS FISCAIS

(KUMAR, 2009) afirma que, ao sair da crise, o principal desafio dos países é

desenvolver estratégias com credibilidade para fortalecer as finanças públicas, e apresenta as

regras fiscais como mecanismos voltados para aumentar a credibilidade fiscal e a disciplina.

Ainda segundo o autor, existem quatro tipos de regras fiscais:

Regras de superávit primário ou de resultado fiscal que asseguram que a relação

débito/PIB convergirá para um limite finito;

Regras de débito que limitam explicitamente a relação débito/PIB;

Regras de despesas que estabelecem limites para as despesas;

Regras de receitas que apresentam teto ou piso para as receitas.

As regras de superávit primário são menos ligadas à sustentabilidade da dívida, pois

incrementos nos pagamentos de juros não requerem um ajuste mesmo se afetarem o resultado

fiscal e o débito público. As regras de débito não oferecem ajuda suficiente para a política fiscal

quando o débito se encontra abaixo do teto. Já as regras de despesas não são diretamente

relacionadas à sustentabilidade do débito, pois não restringem a receita. Finalmente, as regras

de receita também não são diretamente ligadas à sustentabilidade da dívida por não restringirem

os gastos. (KUMAR, 2009)

Ao definir o conjunto de regras, é importante que haja flexibilidade para lidar com

choques e isso se dá através de cláusulas de escape. Em aproximadamente metade dos países

que adotavam regras fiscais em 2008, o framework existente foi capaz de lidar com a crise, pois

havia flexibilidade nas restrições numéricas, tempo projetado para ajuste e/ou cláusulas de

escape. Foi o caso do Brasil, Ìndia, Indonésia, Quenia e Noruega. Um quarto dos países tiveram

que modificar suas regras ou as suspenderam para responder à crise. O restante dos países

percebeu um conflito entre suas regras fiscais e a resposta de política fiscal desejada (KUMAR,

2009).

Segundo (OLIVEIRA, 2012), a primeira geração de metas fiscais no Brasil foi

estabelecida em percentuais do Produto Interno Bruto, seja em termos de resultados nominais

ou primários. No entanto, essa geração não considerava o impacto das flutuações do produto e

das flutuações dos preços das commodities sobre as receitas dos governos ou a qualidade das

medidas que eram adotadas para alcançar as metas estabelecidas. Embora exista um movimento

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em direção à adoção de regras de segunda geração, o Brasil e diversos outros países,

principalmente os emergentes, ainda utilizam essas regras mais antigas.

A nova geração de metas fiscais, ou segunda geração, tem como essência tornar as metas

mais flexíveis, no sentido de que sejam estabelecidas de forma a se ajustar aos ciclos

econômicos e às flutuações de preços das commodities. O resultado estrutural faz parte dessa

segunda geração de metas fiscais.

Embora o resultado estrutural seja utilizado por alguns países como regra fiscal, na

literatura há visões divergentes sobre os benefícios e malefícios da utilização de regras fiscais

em geral. Os autores que são a favor sustentam o argumento de que, por motivos diversos, existe

um viés de déficit inerente na condução da política fiscal e a adoção de regras fiscais limitaria

esse viés. Já os autores que são contra baseiam-se principalmente no argumento de que ao

limitar a capacidade do governo de estabilizar a economia, as regras fiscais acabariam

introduzindo pró-ciclicidade. Ambos os argumentos são aprofundados a seguir.

Adoção de regras fiscais como forma de eliminar o viés de déficit das políticas

fiscais

Políticas fiscais expansionistas em momentos de crescimento ou contracionistas em

momentos de recessão são denominadas políticas pró-ciclicas, pois aumentam o hiato do

produto, contribuindo, portanto, para o aprofundamento do ciclo econômico. Essas medidas

não são desejáveis, pois aumentam a volatilidade macroeconômica, depreciam o investimento,

dificultam o crescimento e prejudicam os pobres (SERVÉN, 1998).

Para alcançar um padrão anticíclico na política fiscal, (ALESINA, CAMPANTE e

TABELLINNI, 2008) afirmam que a maioria dos economistas concorda com a prescrição de

manter as alíquotas de impostos e os gastos discricionários do governo constantes durante os

ciclos econômicos. Isso porque, em uma situação de aquecimento econômico, se as alíquotas

de impostos permanecerem constantes e houver certo grau de progressividade de impostos, a

proporção das receitas governamentais sobre o PIB irá aumentar. Além disso, se os gastos

públicos discricionários não sofrerem alterações, a razão dos gastos públicos totais/PIB irá

diminuir devido à ação dos estabilizadores automáticos (apresentados na Seção 2.2). Esse

aumento de receitas e redução de despesas em relação ao PIB, acaba gerando um superávit

primário que deve ser poupado para momentos de desaquecimento.

Já em momentos de recessão, o contrário deverá ocorrer: caso as alíquotas de impostos

permaneçam inalteradas e haja algum grau de progressividade, as receitas cairão mais do que o

PIB; e caso os gastos públicos também permaneçam no mesmo patamar, a razão de gastos

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públicos totais/PIB irá aumentar. A redução de receitas e o aumento de gastos resultará em um

déficit primário que contribuirá para reaquecer a economia.

No entanto, (GAVIN e PEROTTI, 1997), (CATÃO e SUTTON, 2002), (KAMINSKI,

REINHART e VEGH, 2004), (TALVI e VEGH, 2005) e (MANASSE, 2005) concluíram em

seus estudos que a adoção de uma política fiscal pró-cíclica é comum em muitos países em

desenvolvimento. (GAVIN e PEROTTI, 1997) utilizam a hipótese de restrição de acesso ao

crédito para justificar a adoção de políticas pró-cíclicas pelos países em desenvolvimento.

Segundo os autores, nos períodos de crise, muitos países em desenvolvimento não têm

acesso a empréstimos ou apenas o conseguem a taxas de juros muito altas. Para não incorrer

em déficits, acabam optando por cortar gastos. Já em momentos de crescimento esses países

teriam acesso facilitado a empréstimos com taxas mais baixas. Nesses momentos os

policymakers escolheriam tomar os empréstimos, o que resultaria em aumento nos gastos

públicos.

(ALESINA, CAMPANTE e TABELLINNI, 2008) afirmam que este argumento seria

incompleto, pois esses países poderiam acumular reservas nos períodos de crescimento do

produto acima do potencial para não precisar enfrentar restrições de acesso ao crédito nos

momentos de recessão. Ademais, os autores questionam por que os credores não emprestariam

a taxas razoáveis se eles estivessem convencidos de que o empréstimo amenizaria o ciclo

econômico.

Os autores defendem a hipótese de que a adoção de políticas pró-cíclicas ocorre porque

os eleitores lidam com governos corruptos que se apropriam de parte das receitas públicas para

interesses próprios. Os eleitores até podem substituir esses governantes corruptos, mas não

conseguem reduzir o desvio de dinheiro público a zero. Adicionando o problema de assimetria

de informação, em momentos de crescimento econômico, os eleitores são capazes de observar

o estado da economia, mas podem não ser informados corretamente sobre os empréstimos

governamentais. Com tudo isso, quando os votantes percebem uma situação de aquecimento

econômico, eles demandam uma maior utilidade para si mesmos sob a forma de redução de

impostos, aumento de gastos ou de transferências públicas, como forma de evitar que o dinheiro

seja desviado pela corrupção. Essa demanda introduz o viés de déficit e pressiona o governo a

adotar medidas pró-cíclicas.

Com a intenção de testar os efeitos da adoção de regras fiscais na posição fiscal do

governo, se é anti ou pró-cíclica, (MANASSE, 2006) construiu um modelo de regressão para

estimar o resultado primário do governo central em função do hiato do produto, do estoque da

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dívida pública e da presença ou não de regras fiscais. O autor concluiu que as políticas fiscais

possuem um viés de déficit e que as regras fiscais tendem a reduzir esse déficit em

aproximadamente dois terços por ponto percentual do PIB. Além disso, a presença de regras

fiscais tornaria a política fiscal mais anti do que pró-cíclica.

Segundo (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) a adoção de regras que impõem limites

nas expansões fiscais ajuda a reduzir, pelo menos em teoria, o viés de déficit, mas o efeito final

depende de como essas regras são elaboradas.

Os perigos em adotar regras fiscais

A adoção de regras fiscais que limitam os gastos mesmo em momentos de recessão, ou

seja, regras fiscais com pouca flexibilidade, força o governo a adotar medidas fiscais

contracionistas e, portanto, pró-cíclicas. Segundo (AUERBACH, 2012) a importância de adotar

regras flexíveis depende de alguns fatores como, por exemplo, o nível de governo em que as

regras fiscais são adotadas. Caso as regras fiscais atuem em nível subnacional, a função de

estabilização do ciclo econômico pode ser designada ao governo central, como ocorre nos

Estados Unidos da América.

Além disso, a necessidade de flexibilização vai variar de acordo com o quanto uma

política anticíclica pode fazer diferença, o que depende da magnitude dos multiplicadores

fiscais. Por fim, estudos demonstram que a efetividade da política fiscal depende também das

condições fiscais.

(AUERBACH, 2012) afirma que, ao contrário do desejado, as regras fiscais podem ter

um impacto limitado por diversos motivos: (i) elas podem simplesmente não ser aplicadas, (ii)

podem não ser permanentes e serem apenas o reflexo da política pretendida, ou seja, um

governo que planeja obter disciplina fiscal pode utilizar as regras somente enquanto forem

consistentes com seus planos, (iii) pode ser possível aderir às regras, sem respeitar a sua

intenção declarada. Por exemplo, uma regra limitando o déficit no orçamento corrente pode ser

contornada utilizando expansões fiscais cujo registro contábil registram apenas déficits futuros.

Sendo assim, as regras fiscais podem ser subvertidas dependendo do quão bem

desenhadas elas foram para atingir o objetivo desejado, dependendo das penalidades previstas

em casos de violação e dependendo da facilidade com que podem ser alteradas, seja por

regulamento do Poder Executivo, via legislativa simples ou através de mudança constitucional.

O autor ainda alerta para o fato de que caso as regras fiscais sejam mal formuladas, a aderência

a elas pode levar os governos a tomar medidas indesejadas que reduzem o bem-estar nacional.

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Segundo (AUERBACH, 2012), a forma como as regras surgem, a forma como são

aplicadas e se de fato são respeitadas e a facilidade com que são modificadas são aspectos que

influenciam a sua efetividade.

Evidências sobre a adoção de regras fiscais

Na literatura existem evidências variadas e, portanto, ainda inconclusivas sobre o real

impacto da utilização de regras fiscais. (PORTEBA, 1994) concluiu que os estados americanos

com regras fiscais mais fortes se saíram melhor ao implementar políticas fiscais de redução de

déficit. (GALÍ e PERROTTI, 2003) descobriram que os países da zona do euro que adotaram

o Tratado de Maastricht apresentaram políticas fiscais mais anticíclicas após a adoção de regras

fiscais.

Contudo, (MANASSE, 2005) afirma que limites na relação débito/PIB cria incentivos

para adotar políticas pró-cíclicas quando a economia se encontra em um estado intermediário e

incentivos para utilização de políticas anticíclicas em momentos muito bons ou muito ruins.

Já (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) afirmam que a adoção de regras fiscais

baseadas em resultado estrutural pode ser ineficaz, pois nao há como saber se sao os “bons

políticos” que adotam as regras fiscais ou se a adoçao de regras fiscais os torna “bons políticos”.

Além disso, os autores apresentam uma situação em que a adoção dessas regras fiscais poderia

ser maléfica: quando há alta volatilidade do PIB e uma estimativa incorreta de PIB potencial

pode superaquecer uma economia que já estava aquecida. Nesse caso, os gastos públicos seriam

erroneamente aumentados, o que traria problemas como, por exemplo, a dificuldade em voltar

a um patamar de gastos mais baixo após a detecção do erro da estimativa de PIB potencial.

2.2 ESTABILIDADE FISCAL E ESTABILIZADORES AUTOMÁTICOS

(INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2015) define estabilidade fiscal como a

sensibilidade do resultado fiscal em relação ao hiato do produto. Segundo o autor, um aumento

plausível na estabilidade fiscal poderia aumentar as taxas de crescimento anuais em 0.1 pontos

percentuais em países em desenvolvimento. No entanto, observa-se que a estabilidade fiscal é

maior durante períodos de recessão e é ausente em períodos de expansão. Essa falha em se

recuperar de momentos de expansão pode não só sobreaquecer a economia como também pode

contribuir para o aumento do débito público de longo prazo.

A desejada estabilidade fiscal ocorre quando são adotadas medidas, discricionárias ou

automáticas, a fim de reduzir o hiato do produto. As repostas discricionárias são as que ocorrem

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quando os policymakers tomam medidas deliberadas para combater as flutuações do produto

da economia. Já as respostas automáticas ocorrem através da variação automática de impostos

e transferências de acordo com o PIB real de forma a estimular a demanda agregada em períodos

de recessão e controlá-la em períodos de expansão (INTERNATIONAL MONETARY FUND,

2015).

Tanto as receitas quanto os gastos públicos são afetados por essas ações discricionárias

do governo e pelos efeitos automáticos das mudanças no ambiente macroeconômico. Como o

resultado fiscal é a diferença entre as receitas e os gastos do governo, isso quer dizer que ele

também sofre influência desses efeitos, chamados de estabilizadores automáticos. Esses

estabilizadores ajudam a reduzir os ciclos econômicos e são disparados automaticamente

através do código tributário e das regras de dispêndio existentes no país (FEDELINO,

HORTON e IVANOVA, 2009).

Quando a economia se encontra em recessão, por exemplo, a arrecadação dos impostos

sobre a renda diminui. Esta redução tributária faz com que a renda disponível não seja tão

prejudicada e, com isso, acaba estimulando o consumo das famílias, o que, por fim, favorece a

recuperação da demanda agregada, que precisa se expandir. Similarmente, durante um período

de expansão econômica, a arrecadação do governo aumenta e essa expansão tributária favorece

a contenção da já aquecida demanda agregada.

Outro exemplo de estabilizador automático é o seguro desemprego, já que em momentos

de recessão, o desemprego aumenta e consequentemente aumentam os gastos com o seguro.

Esse aumento de gasto do governo quando a economia se encontra abaixo do potencial contribui

para estimular a demanda agregada e, portanto, minimizar o efeito do ciclo econômico.

Estabilizadores automáticos são a ferramenta mais eficiente para estabilização fiscal,

pois não sofrem de delay de informação, decisão e implementação já que operam em tempo

real (BLANCHARD, DELL’ARICCIA e MAURO 2010). Além disso, há menos risco de

intervenção de fatores políticos quando medidas anticíclicas precisam ser tomadas

(BAUNSGAARD e SYMANSKY, 2009).

Contudo, segundo (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007), a priori não há como saber

se os estabilizadores automáticos fornecem uma quantidade ótima de estabilização para a

economia. O que se sabe é que eles operam de forma diferente em cada país. Quanto mais

progressivo o sistema de impostos for, maior a sua característica estabilizadora. Um sistema

progressivo de impostos é aquele no qual a alíquota é acrescida conforme o montante tributável

aumenta.

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Além disso, em seu trabalho, (FATÀS e MIHOV, 2001) realizam diversas regressões

de medidas de volatilidade dos ciclos econômicos versus diferentes medidas de tamanhos de

governo. Eles concluem que quanto maior o tamanho do governo, menor a volatilidade dos

ciclos, ou seja, maior o efeito dos estabilizadores automáticos.

Embora atenuem os ciclos econômicos, os estabilizadores automáticos também podem

trazer malefícios para a economia. Isso se deve ao fato de que é mais provável que os

governantes os permitam operar livremente nos momentos de recessão e não nos períodos de

crescimento. Com isso, os estabilizadores podem não atuar simetricamente ao longo do tempo

e surge então um viés de débito fiscal, pois nos períodos de crise pode ocorrer um aumento de

endividamento público que não é revertido quando a atividade econômica se recupera (VAN

DEN NOORD, 2000).

Adicionalmente, como os estabilizadores respondem a quaisquer mudanças na

economia, sejam elas cíclicas ou estruturais, se o crescimento potencial diminui e o governo

não percebe rapidamente, a atuação dos estabilizadores automáticos pode corroer as contas do

governo. Isto é, caso ocorra um choque estrutural que leve o PIB potencial a um nível mais

baixo, os estabilizadores fiscais atuarão no sentido de elevar a demanda agregada, aumentando,

portanto, os dispêndios governamentais. Como não se trata de uma situação temporária, esses

gastos prejudicarão a performance fiscal até que seja percebida a mudança de patamar do PIB

potencial e alguma ação seja tomada (VAN DEN NOORD, 2000).

Ainda, nem todo estabilizador automático contribui para a estabilidade fiscal. Regras

de indexação, muitas deduções de impostos como pagamentos de juros de hipotecas e certos

tipos de investimentos são inerentemente desestabilizadores.

Os efeitos dos estabilizadores fiscais podem ser bastante relevantes nos orçamentos

públicos e seus impactos podem ser neutralizados ou reforçados por ações discricionárias dos

policymakers. Segundo (VAN DEN NOORD, 2000) simulações sugerem que durante a década

de 1990 os estabilizadores automáticos atenuaram os ciclos econômicos em aproximadamente

25% em média nos países europeus.

Devido a seus benefícios, malefícios e expressividade, é importante quantificar os

efeitos do ciclo econômico na economia. Um falso diagnóstico do posicionamento fiscal do

governo, se expansionista ou contracionista, pode ocorrer em razão da presença dos

estabilizadores fiscais. A política fiscal será contracionista ou expansionista dependendo do

resultado fiscal tradicional. No entanto, observar somente o resultado tradicional pode trazer a

falsa impressão de que os governantes estão tomando medidas expansionistas (ou

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contracionistas) quando na verdade não o estão. Para lidar com essa questão, foi desenvolvido

o resultado ciclicamente ajustado, que elimina os efeitos do ciclo do resultado tradicional.

2.3 O RESULTADO CICLICAMENTE AJUSTADO

O resultado ciclicamente ajustado se baseia na premissa de que o PIB real flutua em

torno da trajetória do PIB potencial (BLANCHARD, 1990). Este último reflete essencialmente

a taxa de crescimento potencial da economia no longo prazo, ou seja, quando são empregados

todos os fatores de produção.

O PIB potencial sofre constantemente choques temporários e permanentes de diversas

intensidades. Um choque permanente, como por exemplo uma mudança tecnológica, é capaz

de levar o PIB potencial a um novo patamar. Já os choques temporários, que por definição são

de curto prazo e se dissipam ao longo do tempo, provocam movimentos para cima e para baixo

da trajetória do PIB potencial - os chamados ciclos econômicos.

A presença desses ciclos e de diversos outros fatores, como o recebimento de rendas

extraordinárias e o aumento dos preços de commodities, influenciam as variáveis fiscais do

governo. Como o resultado fiscal tradicional é composto pela diferença entre as receitas e os

gastos públicos, ele é afetado por esses fatores o que faz com que seu valor final não dependa

apenas das decisões tomadas pelos governantes.

Um aumento de receita, por exemplo, é uma medida intencional do governo quando este

altera a alíquota de um imposto de forma a elevar a arrecadação total. Já um aumento provocado

por incremento de renda quando a economia se encontra acima do potencial é uma medida

circunstancial, que se dissipará assim que a economia voltar a crescer no seu limite. De forma

análoga, o aumento de preço de uma commodity também amplia a arrecadação do governo de

forma temporária e não intencional. Já a presença de rendas extraordinárias permite que o

governante eleve os gastos públicos sem prejudicar o resultado fiscal tradicional.

É comum os políticos aproveitarem esses momentos em que há folga orçamentária

proveniente de um dos fatores acima citados para aumentar os gastos. No entanto, elevar

despesas em períodos em que a economia já se encontra aquecida traz como consequência uma

pressão inflacionária adicional indesejada, visto que todos os recursos da economia já estão em

pleno emprego. Além disso, como a economia opera em ciclos, ora acima do produto potencial,

ora abaixo, os superavits obtidos nos momentos de superaquecimento devem ser utilizados para

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cobrir eventuais deficits em momentos de recessão, de forma a minimizar a probabilidade de

contração de dívida pública no futuro.

Os fatores mencionados são muitas vezes expressivos e acabam mascarando a ação

discricionária dos policymakers. É possível, portanto, que um governo cujas medidas fiscais

levariam a um déficit obtenha superávit devido à presença de tais fatores. O inverso também é

válido, é possível que um governo obtenha déficit fiscal ainda que suas medidas resultassem

em superávit a priori. Na tentativa de obter um resultado fiscal que isole o efeito do ciclo

econômico foi criado o indicador chamado “resultado ciclicamente ajustado” que, segundo

(REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007), responde à pergunta “qual parte da posição fiscal se

deve a mudanças no ambiente macroeconômico e qual parte se deve a mudanças na política?”.

Este resultado é o precursor do resultado estrutural, pois retira apenas os efeitos do ciclo

econômico, e foi citado neste trabalho já que grande parte da literatura que versa sobre ele pode

ser estendida ao resultado estrutural.

2.4 O RESULTADO ESTRUTURAL

Segundo (BORNHORST, 2011), o resultado estrutural pode ser entendido como uma

extensão do resultado ciclicamente ajustado, já que ele realiza o ajuste para outros fatores que

não apenas o ciclo econômico. Além do efeito do ciclo econômico, o resultado estrutural

quantifica e remove do tradicional o impacto dos fatores que não são correlacionados com o

ciclo como, por exemplo, os preços dos ativos ou os preços das commodities, além de retirar o

efeito das receitas e gastos extraordinários.

Os preços de determinadas commodities ou ativos podem impactar significativamente

o resultado fiscal de determinadas economias. No Brasil, por exemplo, uma elevação no preço

do barril de petróleo influencia direta e temporariamente as receitas denominadas Royalties do

petróleo e Participação especial do petróleo. Outro exemplo seria o aumento da arrecadação de

IOF devido à presença de uma bolha no mercado de ações. Na prática, cada país deve avaliar

suas peculiaridades para determinar quais ativos influenciam seus resultados.

Já as receitas e gastos extraordinários decorrem de eventos não recorrentes como

concessões e desastres naturais. Estes também influenciam o resultado fiscal, já que geram

receitas ou gastos circunstanciais que, assim como os efeitos dos ciclos e dos preços das

commodities e de outros ativos, não se manterão. Também devem, portanto, ser eliminados do

resultado tradicional.

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De maneira simplificada, a (SPE, 2016, p.3) define o resultado fiscal estrutural como

“aquele resultado consistente com o PIB tendencial, com preços dos ativos ao nível do

equilíbrio de longo prazo e livre dos efeitos de eventos não recorrentes.”

Sendo assim, o resultado fiscal estrutural representa o esforço recorrente e discricionário

da autoridade fiscal em manter sustentável a trajetória da dívida pública, enquanto que o

resultado convencional pode não mensurar corretamente esse esforço fiscal. (SPE, 2016)

O estrutural é definido como a diferença entre o resultado tradicional e o componente

cíclico do resultado, aquele que mostra o impacto do ciclo econômico no orçamento público.

Sendo assim, mudanças nesse componente cíclico representam o impacto dos estabilizadores

automáticos, explanados anteriormente.

Assumindo que o hiato do produto e a elasticidade foram estimados corretamente, um

aumento de impostos devido a um crescimento da economia acima do PIB potencial não altera

o resultado estrutural, enquanto que um aumento causado por uma alteração na alíquota de

imposto altera o resultado estrutural.

Embora o resultado estrutural seja o indicador mais utilizado para mensurar o esforço

fiscal, ele também apresenta algumas desvantagens, que serão apresentadas na próxima Seção.

Os indicadores estruturais oferecem maior clareza quanto à análise da ação discricionária do

governo, mas são menos intuitivos que os indicadores convencionais. Isto ocorre devido ao seu

processo de cálculo mais complexo e mais sujeito a hipóteses.

2.5 PROBLEMAS DE CÁLCULO

De acordo com (BORNHORST, 2011) o resultado ciclicamente ajustado baseado

apenas no hiato do produto nem sempre fornece um retrato adequado do estado da economia.

Muitas vezes é necessário ir além do ajuste cíclico para se obter um indicador livre das

flutuações macroeconômicas.

Diversos autores apontam problemas com o cálculo do resultado ciclicamente ajustado.

Os problemas citados consistem em:

Variáveis como inflação, taxa de juros, taxa de câmbio e preço das

commodities não são consideradas

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Segundo (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) quatro variáveis que deveriam ser

consideradas no ajuste cíclico são particularmente importantes nos países emergentes: a taxa de

juros, a inflação, a taxa real de câmbio e os preços das commodities.

(QUINET e BOUTHEVILLAIN, 1998) também afirmam que o resultado ciclicamente

ajustado deveria remover variações cíclicas nas taxas de juros. Segundo os autores, uma

mudança nessa taxa afeta o resultado fiscal através de diferentes canais. Uma queda nos juros

durante um período de recessão resulta em aumento no PIB e nas receitas com impostos,

redução no custo do serviço da dívida e, provavelmente, aumento dos gastos primários caso o

governo se aproveite dos pagamentos de juros menores para aumentar despesas como, por

exemplo, o investimento público.

Os autores ainda afirmam que embora remova do hiato do produto e das receitas a

influência das mudanças na taxa de juros, ela ainda está incorporada de forma implícita no

resultado ciclicamente ajustado e, com isso, a avaliação de um déficit estrutural pode estar

subestimada durante uma recessão.

Por serem as taxas de juros bastante voláteis em países emergentes, aumentos repentinos

no risco país podem levar a deficits orçamentários completamente fora do controle dos

policymakers (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007). O autor aponta como solução adotar o

resultado primário, que é a diferença entre receitas e despesas do governo excluindo-se da conta

as receitas e despesas com juros.

A respeito da inflação, (QUINET e BOUTHEVILLAIN, 1998) afirmam que remover a

influência das mudanças na inflação é complicado, pois o impacto de choques de preços pode

variar consideravelmente se eles forem ou não esperados.

Os autores apontam três problemas. Um deles decorre do fato de as receitas e as despesas

do governo não serem indexadas no mesmo índice de preços. As receitas costumam ser fixadas

em função de um deflator do PIB, definido como a divisão do PIB nominal pelo PIB real,

multiplicado por cem. Já as despesas costumam ser indexadas em função de um índice de preços

ao consumidor, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é baseado em uma

cesta de bens. Caso ocorra um choque favorável nos termos de troca, o índice de preços do

consumidor irá diminuir em relação ao deflator do PIB e com isso as despesas irão aumentar

em proporção menor do que as receitas, melhorando o resultado fiscal.

Outro problema com a inflação ocorre mesmo se as receitas e os gastos forem indexados

no mesmo deflator, pois ainda assim haverá distorção. Enquanto as receitas são fixadas na

inflação realizada, os gastos dependem da inflação esperada e, por isso, apresentam maior

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rigidez. Se um aumento de preços inesperado ocorre, as receitas são afetadas imediatamente

enquanto que os gastos irão aumentar mais lentamente fazendo com que o resultado fiscal

melhore.

O último problema citado consiste nos diferentes graus de indexação que as receitas e

despesas possuem. As despesas podem ser desindexadas, mas as receitas são mais fortemente

ligadas à inflação.

No que diz respeito à taxa de câmbio, (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) afirmam

que variações na taxa real de câmbio podem trazer grandes impactos no orçamento público já

que uma grande depreciação da taxa real de câmbio pode piorar muito as contas do governo e

até leva-lo à insolvência.

Quanto aos preços das commodities e dos ativos, estes podem se elevar consideralmente

caso haja um aumento na demanda global. Se a participação das receitas fiscais relativas a eles

for significativa nas contas públicas, será necessário realizar um ajuste para esses preços

(BORNHORST, 2011). Embora (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) citem a não

consideração do preço das commodities como um dos problemas do resultado ciclicamente

ajustado, diversos países já utilizam variáveis como o preço do petróleo, do cobre e de outros

ativos para realizar o ajuste cíclico para o resultado estrutural. No Brasil, por exemplo, a SPE

realiza o ajuste ao PIB potencial e ao preço do petróleo.

Além de alguns autores criticarem a não consideração de determinadas variáveis

macroeconômicas, o (ECB, 2015) cita como outra fragilidade as diversas incertezas acerca das

estimativas do hiato do produto. Segundo a publicação, essas incertezas decorrem do fato de

não haver consenso em como o hiato do produto deva ser modelado, de forma que diferentes

modelos e métodos produzem estimativas significativamente distintas. Além disso, cada

método exige a utilização de um ou mais parâmetros não observáveis, o que adiciona incerteza

ao modelo, e, finalmente, os dados utilizados para estimar o hiato do produto são

frequentemente revisados ao longo do tempo levando a alterações dos resultados previamente

obtidos.

Problemas com as estimativas do hiato do produto

Uma das estapas iniciais para calcular o resultado estrutural ou o resultado ciclicamente

ajustado é estimar o PIB potencial e o hiato do produto. (HERS e SUYKER, 2014) afirmam

que diferentes instituições internacionais, como o FMI, a OCDE e o Comitê Europeu,

frequentemente fornecem estimativas divergentes quanto ao tamanho do hiato do produto.

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(TEREANU, TULADHAR e SIMONE, 2014) concluíram que, durante crises e

imediatamente após, a chance de erros na estimativa do hiato do produto é ainda maior do que

o normal: para países da União Européia, o valor médio absoluto das revisões do hiato do

produto durante a crise de 2008 e 2009 foi de 3% do PIB, enquanto que nos anos sem crise foi

de 0,8% do PIB.

Existem diversos métodos estatísticos para se calcular o PIB potencial. Segundo

(QUINET e BOUTHEVILLAIN, 1998) o método Hodrick-Prescott - Filtro HP - remove os

ciclos econômicos relevantes do PIB e é simples e transparente, não necessitando de

julgamentos econômicos subjetivos. No entanto, por operar basicamente como uma média

móvel infinita, uma limitação desse método é que ele opera de forma insatisfatória no final da

amosta, fazendo com que os últimos dados disponíveis fiquem com um peso muito grande e a

tendência, nesse caso o PIB potencial, fique muito próxima desses dados. Assim sendo, se o

final da amostra for caracterizado por uma recessão, a tendência estimada será mais baixa e se

o final for caracterizado por um período de aquecimento, a tendência estimada será mais alta.

(BORNHORST, 2011) afirma que essa técnica perfoma melhor se a série de dados for

estendida além do período de interesse, pois assim é possível reduzir o impacto das últimas

observações na estimativa da tendência. O autor também salienta que esse método não deve ser

utilizado de forma indiscriminada. Para preços de commodities, termos de troca e preços dos

ativos, os métodos de filtro podem não ser uma solução ótima. Isso porque não é claro se essas

variáveis seguem uma tendência de longo prazo.

Outra fragilidade citada é a utilizaçao no modelo de um parâmetro λ que determina a

medida em que a variabilidade da série é alocada à tendência ou ao ciclo. A escolha de um valor

para esse parâmetro é questionada, pois não há base teórica que a justifique.

De forma alternativa, algumas instituições utilizam uma função de produção para

calcular o PIB potencial. A função de produção é baseada no nível do PIB consistente com o

pleno emprego dos fatores de produção e com salários ou inflação estáveis. Segundo (QUINET

e BOUTHEVILLAIN, 1998) este método é interessante por ser baseado em hipóteses

econômicas explícitas no que se refere ao desemprego natural e à utilização normal das

capacidades. A saber, a taxa de desemprego natural é aquela que mantém a inflação estável.

Com isso, a utilização de uma função de produção permite distinguir entre choques de

oferta, que possuem efeitos permanentes no PIB, e choques de demanda, que possuem efeitos

temporários no PIB. Ao contrário do filtro HP, a função de produção possui a vantagem de

permitir testar a ocorrência de um choque de oferta no final da amostra de dados. (GIORNO,

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1995) revisa os métodos utilizados para estimar o hiato do produto nos países da OCDE e afirma

que utilizar a função de produção é a melhor forma de estimar o PIB potencial e assim estimar

o hiato do produto e calcular o resultado estrutural.

Problemas com a disponibilidade de informações em tempo real

Independente da metodologia adotada, as estimativas do hiato do produto continuam

sujeitas a margens de erros consideráveis devido aos problemas relacionados com a

disponibilidade de informação em tempo real. Isso ocorre, pois muitos métodos, como o filtro

HP, exigem observações futuras para estimar o PIB potencial.

Conforme informações novas e melhores ficam disponíveis, as estimativas do hiato do

produto em tempo real são revisadas e alteradas até que possam ser confirmadas alguns anos

depois. Essa incerteza ocorre justamente no momento mais atual, que é o de maior interesse das

análises econômicas e políticas. A diferença entre as projeções do PIB dentro de um mesmo

ano e os números finais confirmados nos anos seguintes impacta a capacidade dos governantes

de projetar as receitas e gastos de forma adequada naquele momento.

Segundo (ECB, 2015) a confiabilidade das estimativas do hiato do produto em tempo

real é muito baixa. As revisões dessas estimativas publicadas pelo ECB, OCDE e FMI de 1999

a 2004 para países da área do euro são significativas e frequentemente da mesma magnitude do

próprio hiato do produto estimado, quando não maior.

Resultados de simulações apresentadas por (LEY e MISCH, 2013) sugerem que

revisões nos resultados estrutural e tradicional podem ser consideráveis e são acima de 1

porcento do PIB em mais de 25% dos casos. (ORPHANIDES e VAN NORDEN, 2002)

mostram que as revisões do hiato do produto nos EUA são de mesma magnitude que o próprio

hiato.

Em seu estudo, (HALLETT, KATTAI e LEWIS, 2009) afirmam que o resultado

ciclicamente ajustado em termpo real é sistematicamente menos confiável em condições de

finanças públicas pobres ou em condição de deteriorização, o que significa que ele é mais

impreciso justamente quando é mais necessário.

(FORNI e MOMIGLIANO, 2004) compararam as estimativas do hiato do produto dos

países da OCDE para os anos entre 1993 e 2003 com as estimativas disponíveis hoje para o

mesmo período e concluem que para a maioria dos países as diferenças são significativas e

sistemáticas durante o tempo.

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Finalmente, (CIMADOMO, 2007) afirma que a utilização de informações atualizadas

apontaria para uma posição fiscal pró-cíclica nos países industrializados no período de 1994 a

2006, enquanto que o uso de informações disponíveis na época aponta para uma política fiscal

anticíclica. (BERNOTH, HUGHES e LEWIS, 2008) chegam à mesma conclusão em seu

trabalho.

Problemas com a estimativa das elasticidades

Após calcular o PIB potencial e o hiato do produto, um próximo passo consiste em

estimar as elasticidades das receitas e dos gastos em relação a esse hiato. As elasticidades em

relação ao PIB podem ser calculadas como um valor médio para o período considerado ou

estimadas através de uma regressão simples.

Segundo (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) realizar uma regressão separada para

as receitas e outra para os gastos vale a pena quando as elasticidades mudam em direções

opostas – é a chamada desagregação do resultado em componentes. Por exemplo, suponha uma

reforma que torne o sistema de impostos menos progressivo e os benefícios de desemprego

mais generosos. Nesse caso, caso haja uma recessão, a arrecadação cairá menos e os gastos

aumentarão mais do que antes das mudanças e o contrário ocorrerá em um momento de

aquecimento. Caso as estimativas de elasticidade estejam corretas, a confiabilidade do resultado

ciclicamente ajustado irá aumentar. No entanto, se as elasticidades das receitas e dos gastos

mudassem na mesma direção, a estimativa agregada se tornaria menos confiável e, dessa forma,

as estimativas desagregadas seriam preferíveis.

Já (QUINET e BOUTHEVILLAIN, 1998) afirmam que o principal problema com a

estimativa das elasticidades é assumir que seus valores são constantes ao longo do ciclo

econômico. Os autores afirmam haver evidências de que as elasticidades das receitas são

sensíveis ao ciclo, de modo que as receitas caem mais rapidamente do que o PIB em momentos

de recessão e crescem mais rapidamente em momentos de crescimento acelerado.

Finalmente, (BORNHORST, 2011) sugere a validação das elasticidades com as

estimativas disponíveis para países comparáveis a fim de minimizar o erro associado com o

cálculo das elasticidades.

Problemas em definir os eventos não recorrentes

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Um dos passos para calcular o resultado estrutural é identificar e remover as operações

fiscais temporárias e extraordinárias. No entanto, não há um critério universalmente aceito para

identificar essas operações já que diversos fatores podem tornar o julgamento subjetivo.

Segundo (BORNHORST, 2011) percepções acerca da natureza do caráter temporário

variam e os policy makers são tentados a manter as medidas temporárias que contribuem para

o resultado e excluir aquelas que o prejudicam.

O autor sugere considerar como operações que devem ser eliminadas aquelas com as

seguintes características: envolverem operações grandes e não recorrentes, cujos impactos nos

resultados fiscais ocorrem no ano em que as mesmas são registradas, sem que ocorra uma

mudança permanente na posição fiscal e, portanto, sem que haja mudança na sustentabilidade

fiscal do governo; ou se tratarem de transferências de capital, independente de melhorar ou

piorar o resultado.

Além disso, ele recomenda que estímulos fiscais discricionários relacionados a crises

não sejam removidos, pois possuem um impacto na demanda agregada e são difíceis de reverter.

(LARCH e TURRINI, 2010) apontam as seguintes características para identificar

medidas extraordinárias:

Tamanho: Apenas medidas que possuem um impacto significativo no resultado

devem ser consideradas. Por definição serão aquelas superiores a 0,1% do PIB.

Duração: O impacto deve estar restrito a um único ano ou a um número muito

limitado de anos.

Natureza: Medidas extraordinárias estão tipicamente, mas não exclusivamente,

incluídas nas transferências de capital.

(BORNHORST, 2011) apresenta o tratamento comumente dado pelos países a algumas

operações:

Ajuda financeira para salvar bancos ou empresas ou capitalização de instituições

estatais deve ser excluída do resultado estrutural.

Aquisição de um único item de valor expressivo como a compra de um

equipamento militar ou a construção de instalações para um evento esportivo não devem ser

excluídos, já que refletem decisões discricionárias do governo. Além disso, a compra desses

itens acarreta gastos recorrentes com manutenção e operação.

Custos associados com a limpeza e recuperação de um desastre natural ou

ambiental devem ser excluídos, principalmente se forem concentrados em um curto período de

tempo.

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Reconhecimento de despesas com salários e fornecedores atrasados devem ser

excluídos caso sejam eventos excepcionais. No entanto, se ocorrem regularmente devem ser

incluídos no resultado.

Finalmente, (LARCH e TURRINI, 2010) apresentam uma lista de medidas

extraordinárias:

Anistias fiscais envolvendo pagamento excepcional pelos contribuintes;

Venda de ativos não financeiros (imóveis, licenças e concessões);

Operações de securitização;

Alterações legislativas no calendário de desembolsos ou receitas;

Receitas excepcionais de empresas estatais;

Receitas excepcionais ligadas à transferência de obrigações de pensão;

Alterações nas receitas ou despesas após decisão judicial.

2.6 USOS DO RESULTADO CICLICAMENTE AJUSTADO

Segundo (BLANCHARD, 1990), o resultado ciclicamente ajustado deve ser utilizado

como indicador das mudanças discricionárias na política fiscal, mas tem sido usado com

propósitos diversos aos que foi projetado. São destacados os usos como indicador de mudanças

discricionárias na política fiscal, como indicador de sustentabilidade, como indicador de

posição fiscal e como indicador normativo.

Resultado ciclicamente ajustado como indicador de mudanças

discricionárias na política fiscal

O autor argumenta que embora o indicador seja útil, já que revela se o governo tomou

medidas ativas para diminuir os gastos ou aumentar as receitas, ele é incompleto. A explicação

apresentada é que não há motivo para focar nas mudanças no produto e excluir as mudanças na

inflação e na taxa real de juros. Além disso, a utilização do PIB potencial também é criticada,

por ser uma estimativa controversa.

Segundo o autor, para distinguir mudanças discricionárias na política fiscal qualquer

benchmark pode ser utilizado. Ele sugere o uso de um índice de mudança discricionária definido

como o valor do superávit primário que ocorreria com o desemprego no mesmo nível do ano

anterior menos o superávit primário do ano anterior. Neste caso, qualquer outro benchmark

poderia ser escolhido como, por exemplo, em relação à média dos últimos dez anos. Embora

essa escolha ainda seja uma questão relevante, essa abordagem teria a vantagem de não se

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posicionar sobre para onde a economia deveria retornar, ou seja, não precisar definir o PIB

potencial da economia.

Já (REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) argumenta que a interpretação do resultado

ciclicamente ajustado como uma medida de discricionariedade da política fiscal não é

totalmente garantida. Segundo o autor, a decisão de não alterar a alíquota dos impostos na

presença de forte alteração na base tributária é uma decisão tão discricionária quanto a decisão

de alterá-la. Sendo assim, ele sugere a utilizaçao das palavras “respostas ativas” ou “passivas”

da política como uma descrição mais correta do que o resultado ciclicamente ajustado permite

estimar.

Resultado ciclicamente ajustado como indicador de sustentabilidade

Um indicador de sustentabilidade deve ser capaz de responder à pergunta “O curso atual

da política fiscal pode ser sustentado sem explodir a dívida?”. Para responder essa pergunta

seria necessário estimar o futuro e o resultado ciclicamente ajustado se mostra incompleto, já

que há muitos fatores além dos movimentos no produto, como mudanças na inflação e na taxa

real de juros, que fazem o futuro ser potencialmente bastante diferente do presente

(BLANCHARD, 1990). Segundo o autor, o uso do resultado ciclicamente ajustado como

indicador de sustentabilidade pode ser melhorado através do maior uso de previsões e da

incorporação de algumas mudanças previsíveis no orçamento.

(REIS, MANASSE e PANIZZA, 2007) afirmam que o resultado pode ter implicações

muito diferentes para a dinâmica da dívida e a solvência depende de relações entre a taxa real

de juros, a taxa de crescimento da economia e a estrutura da dívida. Por fim, ele conclui que

não se deve confiar exclusivamente no resultado fiscal como indicador de sustentabilidade, mas

sim em uma análise mais abrangente da sustentabilidade da dívida.

Resultado ciclicamente ajustado como indicador de política fiscal na

economia

Segundo (BLANCHARD, 1990) as políticas fiscais afetam a economia através de dois

canais, quais sejam: i) o efeito direto da política fiscal na demanda agregada e ii) as distorções

implicadas pela estrutura de impostos e incentivos nas decisões tomadas. O resultado

ciclicamente ajustado só diz respeito ao primeiro canal e um indicador ou conjunto de

indicadores que descrevam os efeitos da política fiscal na economia deveria lidar com os dois.

Além disso, o autor também esclarece que o resultado ciclicamente ajustado pode

revelar apenas os efeitos de impacto e não os efeitos finais. Sendo assim, se um aumento nos

gastos públicos se traduzirá em um aumento na taxa de juros sem alterar o produto, ou em um

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aumento na taxa de câmbio sem alterar o produto, ou em um aumento no produto sem alterar a

taxa de juros, dependerá se a política monetária acomodará, se a força de trabalho está

totalmente empregada, se a economia adota regime de câmbio fixo ou flutuante e etc. Dadas as

diversas variáveis envolvidas, somente simulações de modelos macroeconômicos podem

responder quais serão os impactos finais.

Resultado ciclicamente ajustado como indicador normativo

Muitas vezes manter o resultado ciclicamente ajustado igual a zero é tido como um

objetivo desejável, mas segundo (BLANCHARD, 1990) como o resultado ciclicamente

ajustado não é um bom indicador dos efeitos da política fiscal na demanda, conforme visto no

item acima, mantê-lo constante provavelmente não será bom para nada. Além disso, não é

possível garantir que os estabilizadores automáticos produzam a quantidade ótima de

estabilização e que o nível de poupança do setor privado seja ótimo, de modo que a poupança

do setor público possa ser zero.

2.7 O CONCEITO DE IMPULSO FISCAL

Segundo (ALESINA e PEROTTI, 1995) o impulso fiscal é a diferença entre alguma

medida real da posição fiscal do governo e o nível da mesma medida que prevaleceria se os

efeitos do ciclo pudessem ser eliminados através da comparação com alguma situação de

benchmark, de outra forma, impulso fiscal é a mudança discricionária na posição fiscal do

governo.

Ainda segundo os autores, como o interesse é apenas avaliar mudanças na posição fiscal,

para qualquer ano o benchmark adotado pode ser seguramente o ano anterior. Essa escolha evita

o problema de ter que escolher um ano de referência em que supostamente o PIB real está no

mesmo nível do PIB potencial e, com isso, incorrer em erro.

Neste trabalho o impulso fiscal é então definido como a diferença entre resultados fiscais

estruturais de dois períodos consecutivos, conforme a fórmula a seguir:

𝐼𝐹𝑡 = 𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 − 𝑆𝑃𝑡

𝐸𝑆𝑇

Onde 𝐼𝐹𝑡 é o impulso fiscal no período t, 𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 é o resultado estrutural no período t-1

e 𝑆𝑃𝑡𝐸𝑆𝑇 é o resultado estrutural no período t.

Analizando a fórmula, pode-se observar que se o resultado estrutural aumenta (𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 <

𝑆𝑃𝑡𝐸𝑆𝑇), o impulso fiscal é negativo, logo diz-se que houve um impulso fiscal contracionista.

Já se o resultado estrutural diminui, (𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 > 𝑆𝑃𝑡

𝐸𝑆𝑇), o impulso fiscal é positivo e diz-se,

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portanto, que houve um impulso fiscal expansionista. Finalmente, caso não haja variação entre

os resultados estruturais, o impulso fiscal é tido como pretensamente neutro.

A análise isolada do impulso fiscal não permite identificar se a política fiscal adotada

foi anti ou pró-cíclica. Para isso, é preciso avaliar também o sinal do hiato do produto, este

último é definido como a diferença entre o PIB real e o PIB potencial. Logo, o hiato do produto

é positivo quando o PIB real > PIB potencial e, de forma análoga, o hiato do produto é negativo

quando o PIB real < PIB potencial.

Tendo as definições de impulso fiscal e hiato do produto em mente, diz-se que uma

política fiscal é pró-cíclica quando os sinais do impulso fiscal e do hiato do produto são iguais.

Logo, um impulso fiscal expansionista (sinal positivo) combinado com um hiato do produto

positivo, será classificado como política fiscal pró-cíclica. O mesmo raciocínio se aplica para

classificar uma política fiscal como anticíclica, ou seja, ela ocorre quando o sinal do impulso

fiscal é diferente do sinal do hiato do produto. A FIGURA 1 a seguir facilita a compreensão:

FIGURA 1 - Política Fiscal Anticíclica versus Procíclica (% PIB)

Fonte: (SPE, 2016, p. 15)

Para classificar a orientação fiscal de acordo com o valor do impulso fiscal, (ALESINA

e PEROTTI, 1995) utilizam observações anuais de impulso fiscal de 20 países da OCDE entre

os anos de 1960 a 1992. Os autores propõem os seguintes critérios:

Em um dado ano, a orientação fiscal será:

Neutra: se o impulso fiscal variar entre -0,005% do PIB e 0,005% do PIB;

Frouxa: se o impulso fiscal variar entre 0,005% do PIB a 0,015% do PIB;

Muito Frouxa: se o impulso fiscal for superior a 0,015% do PIB;

Apertada: se o impulso fiscal variar entre -0,015% do PIB e -0,005% do PIB;

Muito Apertada: se o impulso fiscal for inferior a -0,015% do PIB.

2.8 PRINCIPAIS ABORDAGENS

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Existem diversas abordagens para calcular o Resultado Estrutural, sendo a maior parte

delas baseada nas metodologias do FMI, da OCDE ou do ECB. Em alguns casos, como na

metodologia adotada pela SPE no Brasil, é utilizado um modelo misto composto por uma

combinação dessas três principais metodologias.

A seguir são apresentadas as principais características desses métodos gerais:

2.8.1 A metodologia do FMI

O trabalho original do FMI, elaborado por (HAGEMANN, 1999) define o resultado

estrutural como a posição fiscal real do governo expurgadas as influências do ciclo econômico.

Para calculá-lo, o autor propõe 3 passos: (i) estimar o PIB potencial e o hiato do produto, (ii)

quantificar o componente cíclico das receitas e despesas e (iii) subtrair o componente cíclico

do resultado observado para se obter o resultado estrutural.

Segundo o autor, o PIB potencial pode ser obtido através de métodos estatísticos, como

o filtro Hodrick-Prescott (HP), ou de uma função de produção. Embora o filtro HP seja um

recurso amplamente difundido, o que facilita a reprodução do indicador, ele apresenta o

problema conhecido como “efeito de borda”, que surge do fato de que o filtro se torna

assimétrico nos extremos de uma série temporal. Por isso, o autor aponta a utilização de uma

função de produção como abordagem principal utilizada pelo FMI. A principal desvantagem

desse tratamento é a exigência de um volume maior de dados do que o filtro HP.

Para quantificar o componente cíclico, é preciso partir da definição do resultado

estrutural (𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇) como sendo a diferença entre o resultado observado (SP) e a sua componente

cíclica (𝑆𝑃𝑐), ou seja,

𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇 = 𝑆𝑃 − 𝑆𝑃𝑐

(HAGEMANN, 1999) afirma que os componentes cíclicos das receitas são calculados

utilizando as elasticidades estimadas pela OCDE e ajustadas posteriormente, em alguns casos,

pelo FMI. Em seu trabalho não foi apresentada uma fórmula para cálculo das elasticidades, mas

o autor expôs as elasticidades dos principais itens de impostos em relação ao hiato do produto

de 14 países europeus. A elasticidade agregada foi calculada utilizando a participação média de

cada item na receita total durante o período analisado.

Segundo (HAGEMANN, 1999) o resultado estrutural é obtido pela simples subtração:

𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇 = 𝑅𝑐 − 𝐷𝑐

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Onde:

𝑆𝑃𝐸𝑆𝑇 é o Resultado Estrutural;

𝑅𝑐 são as Receitas ajustadas ciclicamente;

𝐷𝑐 são as Despesas ajustados ciclicamente.

Essa é uma metodologia mais simplificada, que exige uma menor quantidade de dados

e, portanto, é mais fácil de ser adotada. É importante observar que embora (HAGEMANN,

1999) utilize o termo “Resultado Estrutural”, nao há previsao para o expurgo de eventos

extraordinários.

(BORNHORST et al, 2011) apresentam em estudo posterior do FMI o resultado

estrutural como sendo uma expansão do conceito apresentado por (HAGEMANN, 1999). O

resultado estrutural quantifica e remove o impacto de fatores que não são fortemente

correlacionados com o ciclo como, por exemplo, mudanças nos preços de ativos ou de

commodities e de fatores que não alteram a posição fiscal, como receitas e despesas

extraordinárias.

Segundo (BORNHORST et al, 2011), o resultado estrutural é obtido em três passos: (i)

identificação e remoção das operações extraordinárias, (ii) avaliação do impacto do ciclo nas

receitas e despesas e (iii) estimativa dos efeitos de outros fatores que não o ciclo econômico,

como o preço das commodities, dos ativos e dos efeitos de composição do PIB, que ocorrem

quando os ciclos não estão perfeitamente sincronizados.

A avaliação do impacto do ciclo econômico pode ser realizada através do método

agregado, no qual são utilizadas duas elasticidades: uma para medir a sensibilidade da receita

total e outra para a despesa total em função do hiato do produto. Também é possível empregar

o método desagregado, no qual são utilizadas elasticidades específicas para diversos grupos de

receitas ou de despesas. O método agregado é também conhecido como método do FMI

enquanto o desagregado é conhecido como método da OCDE.

A metodologia agregada revela-se um exercício simples que exige menos dados. Devido

a essa simplicidade, é mais fácil de ser comunicada e permite comparações entre países. No

entanto, só alcança resultados acurados se os principais agregados fiscais se comportarem de

forma similiar em relação ao hiato do produto e se houver pouca mudança na composição das

receitas.

(BORNHORST et al, 2011) apresenta a seguinte regressão para estimar as elasticidades

de receitas e gastos totais com relação ao hiato do produto e outros ciclos através do método

agregado:

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log 𝑋 = 𝛼 + ε𝑋,𝑌 ∗ log (𝑌

𝑌∗) + ε𝑋,𝐴 ∗ log (

𝐴

𝐴∗) + 𝑢

Onde:

X representa a série das receitas ou dos gastos totais,

Y representa a série do PIB real,

𝑌∗ representa a série do PIB potencial,

A representa a série dos preços reais do ativo e

𝐴∗ representa a série dos preços tendenciais dos ativos

Quanto às despesas, os gastos totais são ajustados por um valor que reflete o impacto da

diferença entre a taxa atual de desemprego e a taxa de desemprego não aceleradora da inflação

(NAIRU, em inglês non-accelerating inflation rate of unemployment). Na metodologia do FMI,

assume-se que apenas os gastos com seguro desemprego são sensíveis aos movimentos do ciclo

e, portanto, somente esses gastos sofrem o ajuste cíclico.

No entanto, nos estudos realizados no Brasil, parece haver um consenso em não ajustar

os gastos com seguro desemprego, pois este estabilizador automático não funciona

perfeitamente no país. Por possuir um mercado de trabalho ainda em formalização, quando o

PIB real cresce acima do potencial, o seguro desemprego, que deveria cair, se eleva devido aos

novos entrantes no mercado de trabalho formal.

2.8.2 A metodologia da OCDE

No método desagregado o ajuste cíclico realizado em grupos de receitas e de despesas

é expresso como:

CAB = [(Σ𝑖=1𝑁 𝑅𝑖

∗) − 𝐺𝑐𝑢𝑟∗ + 𝑅𝑁𝐶𝐴 − 𝐺𝑁𝐶𝐴],

Onde:

CAB é o resultado ciclicamente ajustado (do inglês cyclically adjusted balance),

𝑅𝑖∗ representa o componente ciclicamente ajustado do i-ésimo grupo de receita,

𝐺𝑐𝑢𝑟𝐶𝐴 representa o componente ciclicamente ajustado das despesas primárias correntes,

𝑅𝑁𝐶𝐴 representa todos os grupos de receitas que não necessitam ajuste e

𝐺𝑁𝐶𝐴 representa todos os grupos de despesas que não necessitam ajuste.

Nesta metodologia, as elasticidades de cada grupo de receita podem ser decompostas

em dois fatores. A elasticidade das receitas fiscais em relação do hiato do produto (ε𝑅𝑖𝑌) é o

produto da elasticidade das receitas fiscais ( 𝑅𝑖 ) em relação à base de incidência ( 𝐵𝑖 ),

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representada por ε𝑅𝑖𝐵𝑖, e a elasticidade da base de incidência em relação ao hiato do produto

(ε𝐵𝑖𝑌).

ε𝑅𝑖𝑌 = ε𝑅𝑖𝐵𝑖∗ ε𝐵𝑖𝑌

É possível estimar as elasticidades da base de incidência em relação ao hiato do produto

e outros ciclos através de uma regressão simples:

log 𝑋 = 𝛼 + ε𝑋,𝑌 ∗ log (𝑌

𝑌∗) + ε𝑋,𝐴 ∗ log (

𝐴

𝐴∗) + 𝑢

Onde:

X representa a série da base de incidência,

Y representa a série do PIB real,

𝑌∗ representa a série do PIB potencial,

A representa a série dos preços reais do ativo e

𝐴∗ representa a série dos preços tendenciais dos ativos.

Já as elasticidades dos grupos de receitas em relação à base de incidência são oriundas

normalmente do código fiscal do país

O método desagregado, embora exija mais dados, oferece vantagens em relação ao

método agregado em termos de estabilidade e melhores análises da resposta cíclica dos diversos

grupos de receitas e despesas. Utilizar elasticidades médias pode trazer instabilidade no modelo

agregado. Além disso, a metodologia da OCDE revela quais impostos e gastos mais influenciam

o resultado cíclico, permitindo assim descobertas sobre o funcionamento dos estabilizadores

automáticos.

2.8.3 A metodologia do ECB

(BOUTHEVILLAIN et al, 2001) propõem uma metodologia de cálculo do resultado

estrutural construída sobre os métodos do FMI e da OCDE. Em seu trabalho, os autores alteram

o foco do hiato do produto para os movimentos cíclicos em outras variáveis que compõem o

cenário macroeconômico, como os gastos do consumidor, a produção industrial e a massa

salarial.

Uma diferença do método do ECB em relação aos anteriores, é a possibilidade de tratar

os efeitos de composição do PIB. Segundo (ORENG, 2012), quando os ciclos não estão

totalmente sincronizados, a elasticidade das receitas em relação ao PIB irá se alterar ao longo

do tempo. Como as variáveis macroeconômicas variam de forma diferente do PIB, tanto em

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magnitude quanto no tempo em que ocorrem, seu uso melhora, em teoria, a qualidade das

estimativas de elasticidade e consequentemente a acuracidade do ajuste estrutural.

De forma análoga aos métodos apresentados anteriormente, o resultado ciclicamente

ajustado (CAB, do inglês cyclically adjusted budget balance) é obtido a partir da subtração do

componente cíclico (𝐵𝑐) do resultado convencional (B), conforme a expressão a seguir:

𝐶𝐴𝐵 = 𝐵 − 𝐵𝑐 = 𝐵 − ∑ 𝐵𝑐𝑗

𝑗

Em que

𝐵 = ∑ 𝐵𝑗

𝑗

O componente cíclico de cada categoria 𝐵𝑐𝑗 é calculado a partir da seguinte fórmula:

𝐵𝑐𝑗

= 𝐵𝑗∗ ∗ 휀𝐵𝑗,𝑉𝑗 ∗ 𝑉𝑐𝑗

Onde 𝑉𝑐𝑗

é o gap da variável macroeconômica em termos reais, calculado como

𝑉𝑐𝑗=(𝑉𝑗 − 𝑉𝑗∗)/𝑉𝑗∗,

휀𝐵𝑗,𝑉𝑗 representa a elasticidade de Bj relativa à variável correspondente Vj,

𝐵𝑗∗ representa a tendência de Bj, que pode ser aproximada pelo valor real de Bj.

Em seu trabalho, o autor afirma que as elasticidades podem ser estimadas através de

regressões econométricas ou derivadas dos impostos ou leis sobre gastos, associados a

informações de distribuição de renda e receitas. Quando estimadas via econometria, duas

especificações podem ser utilizadas. A primeira especificação é apresentada a seguir:

∆𝑙𝑛𝐵𝑡𝑗

= 𝛼 + 𝛿𝑡 + 𝛽∆𝑙𝑛𝑉𝑡𝑗

+ 𝐴 + 𝜉

Onde 𝐵𝑗 é um item de receita ou de gasto, 𝑉𝑗 é o componente relevante do PIB ou a

variável macroeconômica em termos reais e A captura as medidas discricionárias de política

fiscal e/ou alguma característica particular da economia, 𝛽 mede a elasticidade de 𝐵𝑗 em

relação a 𝑉𝑗 , 𝛼 diz respeito à mudança de tendência nas razões fiscais, enquanto que 𝛿𝑡

representa a mudança nessa tendência. Especificações dinâmicas são, às vezes, necessárias caso

haja defasagens temporais na coleta de impostos e efeitos defasados de choques econômicos

nas variáveis fiscais.

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A segunda especificação que pode ser utilizada para estimar a elasticidade via regressão

econométrica é a seguinte:

∆𝑙𝑛𝐵𝑡𝑗

= 𝛼 + 𝛽(∆𝑙𝑛𝐵𝑡−1𝑗

− 𝛾∆𝑙𝑛𝑉𝑡−1𝑗

+ 𝜙 + 𝛿𝑡 + ⋯ ) + 𝛿1∆𝑙𝑛𝑉𝑡𝑗

+ 𝛿2∆𝑙𝑛𝑉𝑡−1𝑗

+ 𝐴 + 𝜉

Onde 𝛾 mede a relação de longo prazo e os parâmetros 𝛿1 e 𝛿2 se referem às

elasticidades curto prazo e defasadas.

O método para estimar as elasticidades via derivação exige a análise das regras fiscais

e é mais confiável quando o sistema é bem representado por uma taxa constante, como é o caso

dos impostos indiretos para muitos países. Já quando o imposto é baseado em um sistema de

taxas progressivas, como é o caso do imposto de renda de pessoa física, uma estimativa da

elasticidade é possível desde que haja informação de receita detalhada por faixa de renda.

(ORENG, 2012) afirma que o método do ECB possui a desvantagem de ser o mais

baseado em filtros estatísticos, já que há menos metodologias baseadas em teorias estabelecidas

para diferenciar ciclos de tendências em macro agregados do que há para diferenciar ciclos de

tendências do PIB.

De forma resumida, o método do FMI aplica elasticidades para receitas e gastos totais,

depende de menos dados e, por isso, é mais fácil de ser calculado, além de permitir comparações

entre países. Já a metodologia da OCDE aplica elasticidades diversas para cada grupo de

receitas e de gastos, revela através dessas elasticidades quais impostos e gastos mais

influenciam o resultado cíclico e é um método que oferece vantagens em termos de maior

estabilidade. Finalmente, o método do ECB muda o foco do PIB para outras variáveis

macroeconômicas e permite que as elasticidades variem ao longo do tempo.

2.9 APLICAÇÕES NO CASO BRASILEIRO

No Brasil, (BEVILAQUA e WERNECK, 1997) mediram o impulso fiscal no período

de 1989-1996. Eles adaptaram a metodologia proposta por (BLANCHARD, 1990) para o caso

brasileiro, ajustando os resultados pela inflação. O trabalho apresentou a primeira evidência do

viés pró-cíclico da política fiscal brasileira.

(DE MELLO et al, 2006) utilizou a metodologia OCDE para estimar o resultado

primário ciclicamente ajustado no período de 1995 a 2005. Também foi identificado um viés

pró-cíclico nas medidas discricionárias de política fiscal brasileira.

(ROCHA, 2009) utilizou a elasticidade estimada por (DE MELLO et al, 2006) e aplicou

a uma função em que o resultado fiscal real depende do resultado fiscal estrutural e do hiato do

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produto. O período analisado foi de 1995 a 2005. A autora concluiu que a política fiscal sempre

foi pró-cíclica, embora tenha se tornado menos após a aprovação da Lei de Responsabilidade

Fiscal, em 2000.

(GOBETTI et al, 2010) utilizou a metodologia do FMI para estimar o resultado fiscal

estrutural no período de 1997 a 2010. Os autores ajustaram as receitas para os ciclos de

crescimento (PIB) e preços do petróleo. Nenhum ajuste de gasto foi realizado. A conclusão é

de que até 2005 houve contração da política fiscal e expansão a partir de 2006. Os resultados

apontam para um leve viés pró-cíclico.

(ORENG, 2012) utilizou a metodologia do FMI e do ECB para calcular o resultado

fiscal estrutural no período de 2000 a 2011. Como baseline de comparação com o resultado

oficial, foi calculada para cada ano a média entre as duas metodologias. Mais uma vez foi

identificado um viés pró-cíclico na política fiscal brasileira.

A (SPE, 2014) apresenta em seu Monitor de Política Fiscal a metodologia utilizada e

calcula o resultado estrutural oficial do país. Para tanto foi utilizada uma adaptação da

metodologia mais geral de ajuste cíclico usada pelo FMI, partindo do modelo de desagregação

de receitas semelhante ao da OCDE por base de incidência. Como resultado, também foi

identificado viés pró-cíclico na política fiscal.

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3. RESULTADOS

3.1 TENDÊNCIAS E HIATOS

O resultado estrutural depende de um ajuste realizado em relação ao ciclo econômico e

aos preços dos ativos, além do expurgo de receitas e despesas não recorrentes. Para realizar o

ajuste, é necessário calcular previamente o hiato do produto, definido como a diferença entre o

PIB efetivo e o PIB potencial sobre o PIB potencial, e o hiato do preço do petróleo, que é a

diferença entre o preço efetivo do petróleo e o seu preço tendencial sobre o preço tendencial.

Conforme visto nas seções 2.5 PROBLEMAS DE CÁLCULO e 2.8 PRINCIPAIS

ABORDAGENS, a utilização de uma função de produção para cálculo do PIB potencial é

preferível e, por isso, foram utilizados neste trabalho o PIB efetivo, PIB tendencial e o hiato do

PIB calculados pelo autor (SOUZA JÚNIOR).

Na FIGURA 2 são apresentadas a trajetória do PIB efetivo e do PIB tendencial como

índice de base fixa com a média de 2000 igual a 100, além do hiato do produto, como percentual

do PIB em relação à tendência. Vale ressaltar que quando o PIB efetivo está acima do PIB

tendencial o hiato é positivo e quando o PIB efetivo está abaixo do PIB tendencial o hiato

assume valor negativo.

FIGURA 2 – PIB efetivo, PIB tendendial e hiato do produto

Fonte: (SOUZA JUNIOR)

Elaboração: A autora

A partir do gráfico, podemos observar que o hiato foi negativo nos períodos de 2001-

T2 a 2007-T1, 2008-T4 a 2010-T1, 2012-T1 a 2012-T2 e 2014-T2 a 2016-T1. Nesses períodos,

-9,00%

-7,00%

-5,00%

-3,00%

-1,00%

1,00%

3,00%

5,00%

7,00%

90,00

100,00

110,00

120,00

130,00

140,00

150,00

160,00

170,00H

iato

(%

do

Pre

ço T

end

enci

al)

PIB

(R

$ d

e 2

00

0)

PIB Efetivo, Tendencial e Hiato do PIB

Hiato (fim do período) PIB Efetivo PIB Tendencial

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as receitas do governo foram afetadas de maneira negativa e, por consequência, o resultado

fiscal ficou abaixo do que seria caso o PIB efetivo fosse igual ao tendencial, ou seja, caso não

houvesse efeito do ciclo econômico. Nos demais períodos, o hiato foi positivo e, portanto, as

receitas públicas foram afetadas de maneira positiva fazendo com que o resultado fiscal ficasse

acima do estrutural.

No período entre 2000 e 2015 o PIB efetivo teve crescimento anual médio de 2,56%

enquanto que o PIB potencial teve crescimento anual médio de 3,01%, o que demonstra que o

país teve um crescimento abaixo do potencial no período.

Já o cálculo do preço tendencial do petróleo foi realizado através da utilização do filtro

Hodrick-Prescott com parâmetro λ igual a 14.400 (conforme recomendaçao da literatura para

dados mensais). A escolha pelo filtro Hodrick-Prescott se dá pela sua ampla utilização na

literatura. Antes de aplicar o filtro, o preço do petróleo em dólares foi convertido para reais

utilizando a taxa de câmbio livre mensal, média do período, fornecida pela Banco Central, e em

seguida os dados foram desinflacionados utilizando o IPCA. A série não foi extendida devido

à dificuldade em prever o câmbio futuro.

Na FIGURA 3 são apresentadas a trajetória do preço do petróleo efetivo e do preço do

petróleo tendencial, em reais a valor constante de 2000, além do hiato do petróleo, como

percentual do preço do petróleo em relação à tendência. Assim como no hiato do produto,

quando o preço do petróleo efetivo está acima do preço tendencial o hiato é positivo e quando

o preço efetivo está abaixo do preço tendencial o hiato assume valor negativo.

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FIGURA 3 – Preço do petróleo efetivo, preço do petróleo tendencial e hiato do

preço do petróleo

Fonte: (Banco Mundial)

Elaboração: A autora

3.2 ELASTICIDADES ESTIMADAS

Com os hiatos do PIB e do preço do petróleo estimados, foi possível calcular as

elasticidades de cada grupo de receita.

Mais uma vez, neste trabalho foi utilizada a mesma metodologia que (SPE, 2016) e,

embora alguns autores alertem para o problema de calcular elasticidades antes de retirar receitas

não recorrentes, este trabalho visou comparar os resultados obtidos utilizando a metodologia

(SPE, 2016) apenas com a diferença da adoção de uma função de produção para cálculo do PIB

potencial e da seleção de eventos não recorrentes. Uma sugestão para trabalhos futuros seria

recalcular as elasticidades após a exclusão de eventos não recorrentes.

Os parâmetros estimados para cada elasticidade e os p-valores associados a cada

estatística são apresentados na TABELA 1 a seguir:

-100,0%

-75,0%

-50,0%

-25,0%

0,0%

25,0%

50,0%

75,0%

100,0%

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

140,00

% d

o P

reço

Ten

den

cial

do

Pet

róle

o

Pre

ço d

o P

etró

leo

(R

$ d

e 2

00

0)

Preço do Petróleo (Brent) Efetivo, Tendencial e Hiato do Petróleo

Hiato do Petróleo Preço Efetivo (R$ de 2000) Preço Tendencial

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TABELA 1 – Elasticidades dos grupos de receita

Grupo de Receita Trimestre

corrente

Trimestre

anterior

TRT elasticidade 1,1

p-valor 8,18%

TSS elasticidade 0,8

p-valor 0,15%

TRC elasticidade 2,5

p-valor 3,44%

TI elasticidade 3,2

p-valor 0,00%

TM elasticidade 1,7

p-valor 8,74%

TGC elasticidade 2,0

p-valor 10,67%

ROY elasticidade 0,2 0,9

p-valor 0,59% 0,00%

PE elasticidade 1,2

p-valor 0,02% Elaboração: A autora

A partir da tabela acima, é possível verificar que os grupos de receitas “Tributos sobre

a renda corporativa” (TRC), “Tributos indiretos” (TI), “Tributos sobre a importaçao” (TM) e

“Impostos sobre ganho de capital” (TGC) apresentam alta sensibilidade a variações no hiato do

produto.

Já os “Tributos sobre a renda do trabalho” (TRT) e os “Tributos de contribuições

previdenciárias” apresentaram elasticidades mais baixas, próximas à unidade.

A receita de “Royalties” (ROY) possui elasticidade em relação ao preço do petróleo

também próxima a um enquanto que as “Participações especiais do petróleo” (PE) apresentam

elasticidade um pouco mais elevada, mas apenas em relação ao hiato do preço do petróleo

defasado.

A elasticidade média ponderada pelos tributos em relação ao hiato do PIB encontrada

neste trabalho possui valor de 1,74 enquanto que a elasticidade média ponderada pelas receitas

informada pela (SPE, 2016) é de 1,56. Essa diferença se dá principalmente devido à utilização

de séries diferentes de PIB potencial e, portanto, de valores diferentes em relação ao hiato do

produto.

Já a elasticidade média ponderada pelos tributos em relação ao preço do petróleo

calculada neste trabalho é igual a 0,77. Embora a (SPE, 2016) não divulgue esta elasticidade,

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realizando os cálculos a partir dos parâmetros informados pela (SPE, 2016), a elasticidade

encontrada seria de 0,79.

Conforme pode ser observado na tabela acima, com exceção do grupo de receitas TGC,

todos os valores são estatisticamente relevantes a um nível de confiança de 10%.

Como base de comparação, na TABELA 2 a seguir são apresentados os parâmetros

estimados pela (SPE, 2016):

TABELA 2 - Elasticidades dos grupos de receita estimadas pela SPE

Grupo

de

Receita

Hiato do PIB no

trimestre

corrente

Hiato do PIB no

trimestre

anterior

Hiato do petróleo

(brent) no trimestre

corrente

Hiato do petróleo

(brent) no trimestre

anterior

TRT 0,7 - - -

TSS 0,5 - - -

TRC 2 1 - -

TI 2 - - -

TM 3,3 - - -

TGC 0,3 2 - -

ROY - - 0,6 0,4

PE - - - 1,4 Fonte: (SPE, 2016, p. 11)

No APÊNDICE A é possível encontrar todos os resultados das regressões obtidos neste

trabalho.

3.3 COMPONENTE CÍCLICO

O componente cíclico é composto pela soma do componente referente ao hiato do PIB

com o componente do hiato do petróleo. A TABELA 3 abaixo apresenta a composição do

resultado estrutural a partir do desmembramento do resultado convencional. Todos valores são

apresentados como % do PIB efetivo.

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TABELA 3 – Resultado primário por tipo de ajuste

Ano Resultado

convencional

Componente

cíclico Ciclo PIB

Ciclo

Petróleo

Resultado

não

recorrente

Resultado

Estrutural

2000 1,70% -0,31% -0,31% 0,00% 1,39%

2001 1,67% 0,45% 0,45% 0,00% 2,12%

2002 2,14% 0,40% 0,40% -1,18% 1,37%

2003 2,26% 0,80% 0,80% -0,21% 2,84%

2004 2,68% 0,26% 0,26% 0,18% 3,11%

2005 2,57% 0,40% 0,40% -0,07% 2,89%

2006 2,13% 0,59% 0,39% 0,20% -0,01% 2,71%

2007 2,19% 0,20% 0,02% 0,19% -0,09% 2,30%

2008 2,29% -0,03% -0,14% 0,11% 0,17% 2,43%

2009 1,27% 0,82% 0,62% 0,20% -1,43% 0,66%

2010 2,03% 0,11% -0,05% 0,17% -0,78% 1,36%

2011 2,13% 0,00% -0,14% 0,14% -0,44% 1,69%

2012 1,79% 0,11% -0,02% 0,14% -0,49% 1,41%

2013 1,42% -0,07% -0,19% 0,12% -0,71% 0,64%

2014 -0,36% 0,06% -0,04% 0,10% -0,62% -0,92%

2015 -1,98% 0,57% 0,47% 0,10% 0,54% -0,86%

2016 -0,98% 0,88% 0,86% 0,02% -1,24% -1,35%

Média

(2002-2015) 1,61% 1,55% Elaboração: A autora

Ainda pela tabela, é possível observar que o Ciclo Petróleo se inicia somente em 2006.

Isso ocorre porque esta é a data de início das séries históricas “Royalties” e “Participaçao

especial do petróleo”.

Como pode ser observado, a partir de 2009, o resultado estrutural ficou abaixo do

convencional em todos o período analisado, com exceção de 2015.

3.4 EVENTOS NÃO RECORRENTES

A fim de se obter o resultado estrutural, os eventos classificados como não recorrentes

foram excluídos do resultado convencional. Esses eventos são retratados na TABELA 4 a

seguir:

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56

TABELA 4 – Eventos não recorrentes (continua)

Ano Receita não recorrente

R$ milhões (valores

correntes)

2002

Receita de concessões 1.820

Novas incrições em RPP 6.508

Outras receitas atípicas 9.261

2003 Receita de concessões 402

Novas incrições em RPP 3.232

2004 Receita de concessões 1.254

Novas incrições em RPP - 4.851

2005 Receita de concessões 827

Novas incrições em RPP 706

2006 Receita de concessões 985

Novas incrições em RPP - 745

2007 Receita de concessões 2.064

Novas incrições em RPP 390

2008

Receita de concessões 6.080

Novas incrições em RPP 1.790

Fundo Soberano do Brasil - 14.244

Retirada Fundo Nacional de Desenvolvimento 1.094

2009

Receita de concessões 3.091

Novas incrições em RPP 19.900

Dépositos judiciais CEF 8.883

Cessão de dividendos da Eletrobras para o

BNDES 3.496

Refis 8.137

Retirada Fundo Nacional de Desenvolvimento 4.248

2010

Receita de concessões 1.158

Novas incrições em RPP - 4.020

Cessão de dividendos da Eletrobras para o

BNDES 1.400

Petrobras-cessão onerosa-capitalização 31.880

Retirada Fundo Nacional de Desenvolvimento 23

2011

Receita de concessões 3.938

Novas incrições em RPP 2.540

Refis 6.757

Pagamento da Vale em disputa judicial 5.800

2012

Receita de concessões 2.237

Novas incrições em RPP - 1.350

Fundo Soberano do Brasil 12.400

Antecipação de dividendos 10.333

Retirada Fundo Nacional de Desenvolvimento 34

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57

TABELA 4 – Eventos não recorrentes (conclusão)

Ano Receita não recorrente

R$ milhões (valores

correntes)

2013

Receita de concessões 22.073

Novas incrições em RPP 2.180

Refis 21.786

Outras receitas atípicas 1.800

Antecipação de dividendos - 10.333

2014

Receita de concessões 7.921

Novas incrições em RPP 7.340

Refis 19.949

2015

Receita de concessões 5.891

Novas incrições em RPP 4.850

Fundo Soberano do Brasil 855

Outras receitas atípicas 12.090

Pagamento de passivos - 55.800

2016 Receita de concessões 11.635

Novas incrições em RPP 6.700 Elaboração: A autora

Em todos os anos foram excluídas as receitas com Concessões. As concessões são

contratos de propriedade e direitos cedidos pela Administração Pública a uma empresa

particular por um determinado período de tempo, mediante pagamento. A maior parte desse

pagamento ocorre no ano em que foi negociada a concessão e, dessa forma, as receitas

provenientes dessa operação são classificadas como não recorrentes e, portanto, devem ser

eliminadas do resultado convencional.

Além disso, foram também eliminadas as receitas provenientes dos programas de

parcelamento ou pagamento de dívidas tributárias (Refis) instituídos pelas leis 11.491/09,

12.865/13 e 12.996/14. Esse programa alterou temporariamente o fluxo de receitas ao

possibilitar o refinanciamento de dívidas de pessoas físicas e jurídicas.

Em todos os anos em que ocorreu o Refis, houve um crescimento expressivo da receita

nos primeiros meses em decorrência dos pagamentos à vista das empresas que aderiram ao

programa. Nos meses subsequentes observou-se uma redução dessas receitas devido às próprias

regras do programa. Devido à dificuldade em se obter valores exatos, foi utilizada a mesma

metodologia de (ORENG, 2012) e (SPE, 2014), ou seja, foram consideradas neste trabalho as

receitas extraordinárias dos meses cujos recebimentos foram mais significativos. Sendo assim,

para o Refis 2009 foi utilizado como referência o mês de novembro (R$ 8,1 bilhões), para o

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58

Refis 2011 o mês de junho (R$ 6,8 bilhões) e para o Refis 2013 os meses de novembro a

dezembro (R$ 20 bilhões).

Em 2002, o item “Outras receitas atípicas” diz respeito aos pagamentos em atraso

recolhidos por fundos de pensão.

Em 2008 houve um aporte financeiro ao Fundo Soberano. Esse evento trata-se de uma

receita que o governo deveria receber e abriu mão, sendo classificado, portanto, como um gasto

não recorrente (sinal negativo). Já em 2012 e 2015 o governo contou com receitas

extraordinárias provenientes de saques neste fundo.

Os saques do Fundo Nacional do Desenvolvimento (2008, 2009, 2010 e 2012)

ocorreram com o início do processo de extinção do mesmo. Tratava-se, portanto, de um evento

atípico e os saques, que eram antecipações de amortizações realizadas pelo BNDES entre 2008

e 2009, foram considerados receitas não recorrentes.

Como consequência da MP 468, todos os depósitos judiciais e extrajudiciais de tributos

federais que estavam guardados em outras instituições financeiras foram transferidos para a

Caixa Econômica Federal e esta repassou estes recursos para a Conta Única do Tesouro

Nacional, resultando em um relevante fluxo extraordinário de receitas em 2009 (R$ 8,9

bilhões).

Em 2009 e 2010 a venda dos futuros dividendos da Eletrobrás para o BNDES resultou

em R$ 3,5 bilhões e R$ 1,4 bilhões, respectivamente.

Em 2010 ocorreu a capitalização da Petrobras com o objetivo de arrecadar recursos

financeiros para ampliar seus investimentos, principalmente em função da exploração do pré-

sal. Essa capitalização gerou um expressivo fluxo de receitas não recorrentes no valor de R$

31,9 bilhões.

Em 2011 o pagamento extraordinário de CSLL realizado pela Vale em antecipação a

uma decisão judicial no valor de R$ 5,8 bilhões foi considerado como receita não recorrente.

Em 2012 houve antecipação de dividendos no valor de R$ 10,3 bilhões. Esse valor foi

considerado receita não recorrente no ano de 2012 (sinal positivo) e despesa não recorrente no

ano seguinte (sinal negativo).

Já em 2013, o item “Outras receitas atípicas” diz respeito ao recolhimento, em junho de

2013, de recursos do INCRA (Portaria nº 352, de 18 de junho de 2013). Em 2015 o mesmo item

se refere à recuperação de débitos em atraso devido a ações fiscais da administração tributária

e aos tributos provenientes da transferência de ativos entre um banco e uma operadora privada

de cartões, ambos eventos extraordinários que acarretaram em receitas não recorrentes.

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59

O item “Pagamento de passivos de 2015” compreende o pagamento de passivos do

Tesouro Nacional definido pelos Acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU) nº 825/2015

e nº 3.297/2015 no valor de R$ 55,8 bilhões.

Já as Novas inscrições em RPP (Restos a pagar processados), que consiste na diferença

do estoque total de Restos a Pagar processados de um ano e do ano anterior, devem ser excluídos

do resultado convencional por se tratar de transferências de gastos de um ano para o outro. Os

Restos a pagar processados correspondem às despesas que foram empenhadas e liquidadas até

31 de dezembro do respectivo ano, mas não foram pagas.

Para melhor compreensão desta exclusão, é necessário aprofundar o entendimento do

Restos a pagar processados através da explicação dos três estágios das despesas públicas:

empenho, liquidação e pagamento, nesta ordem. Por definição, as despesas empenhadas são

aquelas para as quais há ato emanado de autoridade competente criando para o Estado a

obrigação de pagamento. Já a liquidação consiste na verificação do direito adquirido pelo credor

e o pagamento corresponde à entrega de numerário ao credor do Estado, extinguindo dessa

forma o débito ou obrigação.

Ao final de cada ano, nem todas as despesas empenhadas são pagas. Essas despesas

empenhadas e não pagas até 31 de dezembro são chamadas de Restos a pagar. Os Restos a pagar

processados são as despesas que além de terem sido empenhadas, já foram liquidadas, mas

ainda não foram pagas até 31 de dezembro do respectivo ano. A FIGURA 4 a seguir retrata a

evolução dos Restos a pagar processados.

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60

FIGURA 4 – Evolução dos restos a pagar processados

Fonte: (STN)

Elaboração: A autora

Para calcular as novas inscrições em Restos a pagar processados, foi necessário assumir

os Restos a pagar como sendo zero antes de 2001, visto que a série divulgada pelo Tesouro

Nacional inicia-se em dez/2002. A partir de 2006, inclusive, foram utilizados os dados do

Relatório de Avaliação Restos a Pagar 2017, disponível no site do Tesouro Nacional. Em

seguida, foi calculada a diferença do estoque total de Restos a pagar processados de um ano e

do ano anterior. Finalmente foi possível obter as Novas inscrições em Restos a pagar

processados, que foram excluídas do resultado convencional, conforme a FIGURA 5 a seguir:

6,59,7

4,9 5,6 4,9 5,2 7,0

26,922,9

25,5 24,126,3

33,6

38,5

45,2

Restos a Pagar Processados (R$ bi)

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61

FIGURA 5 – Novas inscrições em Restos a pagar processados

Fonte: (STN)

Elaboração: A autora

As receitas apresentadas na TABELA 4 foram agrupadas em seis categorias:

Transferência de capital, novas inscrições em Restos a pagar, Pagamento de passivos, Outras

receitas atípicas e Anistia de impostos e decisões judiciais. A FIGURA 6 apresenta a

participação de cada categoria no período entre 2002 e 2015.

FIGURA 6 – Receitas extraordinárias

Elaboração: A autora

6,5

3,2

-4,9

0,7

-0,7

0,41,8

19,9

-4,0

2,5

-1,4

2,2

7,34,9

6,7

Novas inscrições em RPP (R$ bi)

-60

-40

-20

0

20

40

R$ B

ILH

ÕE

S

Receitas extraordinárias Transferência

de Capital

Restos a Pagar

Pagamento de

passivos

Outras

receitas

atípicas

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62

Pelo gráfico, é possível observar que o volume de receitas extraordinárias passou a ser

mais expressivo após a crise financeira mundial de 2008. Em 2013, a receita expressiva da

categoria Concessão se refere ao leilão do campo de petróleo de Libra.

3.5 RESULTADO ESTRUTURAL

A comparação entre o resultado convencional divulgado pelo governo e o resultado

estrutural calculado neste trabalho pode ser visualizada na FIGURA 7 a seguir:

FIGURA 7 – Resultado convencional x resultado estrutural

Elaboração: A autora

Observando o gráfico, é possível verificar que há diferenças significativas entre o

resultado convencional e o estrutural em 2002 e a partir de 2009. A diferença verificada em

2002 ocorre principalmente devido à premissa utilizada neste trabalho de que os Restos a pagar

processados em 2001 eram iguais a zero. Esta premissa teve que ser adotada, pois a série de

Restos a pagar processados divulgada pela STN compreende o período de 2002 a 2014. Com

isso, foi considerado que todo o Restos a pagar processados de 2002 correspondiam a novas

inscrições naquele ano, o que não corresponde à realidade.

É interessante comparar os resultados aqui obtidos com trabalhos anteriores. A

metodologia utilizada neste estudo foi baseada na metodologia utilizada pela SPE em seu

Monitor de Política Fiscal 2016. Conforme dito anteriormente, este trabalho se diferencia pela

-2,00%

-1,00%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

Resultado Convencional x Estrutural (% PIB)

Resultado Convencional Resultado Estrutural

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63

utilização do PIB potencial calculado através de função de produção em vez do uso de filtro HP

e pela exclusão de receitas extraordinárias como as Novas inscrições em Restos a pagar

processados, que consiste na diferença do Restos a Pagar processados de um ano para o anterior.

Devido a essas principais mudanças, os resultados obtidos não são os mesmos, conforme pode

ser visualizado na FIGURA 8 abaixo.

FIGURA 8 – Comparação de resultados estruturais (deste trabalho), (SPE, 2016)

e convencional

Elaboração: A autora

Como o resultado estrutural do ano de 2002 foi muito descontado devido à consideração

do Restos a pagar processados como sendo zero no ano anterior, foi calculada a média dos

resultados fiscais no período de 2003 (ano seguinte) a 2009, no qual se observa menor

discrepância entre os resultados estruturais e convencional. A média do resultado convencional

no período foi de 2,20% do PIB, a média do resultado estrutural calculado pela SPE 2016 foi

de 2,18% do PIB e a média do resultado estrutural estimada neste trabalho foi de 2,42% do PIB.

A partir de 2010 ambos os resultados estruturais se distanciaram mais do resultado

convencional. A média do resultado fiscal convencional no período entre 2010 e 2015 foi 0,84%

do PIB, enquanto a média do resultado estrutural calculado pela SPE 2016 foi de 0,26% e a

média deste trabalho foi de 0,55% do PIB no mesmo período. Tanto este trabalho quanto a

(SPE, 2016) demonstram com os seus resultados estruturais que o resultado fiscal do governo

foi favorecido pelos efeitos do ciclo e das receitas extraordinárias entre os anos 2009 e 2015.

-1,50%

-1,00%

-0,50%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

3,50%

Comparação de Resultados (%PIB)

Resultado deste trabalho Resultado da SPE 2016 Resultado Convencional

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64

A partir de 2009 o ajuste de receitas não recorrentes foi o principal causador da diferença

entre o resultado convencional e o resultado estrutural, conforme pode ser visualizado na

FIGURA 9 a seguir:

FIGURA 9 – Decomposição do resultado fiscal por componente

Elaboração: A autora

As componentes não recorrentes dos dois estudos possuem algumas variações

principalmente nos anos de 2002 e 2009, conforme pode ser visto na FIGURA 10 a seguir.

-2,00%

-1,00%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

Decomposição do Resultado Fiscal por Componente

Componente Cíclico Resultado Não Recorrente

Resultado Estrutural Resultado Convencional

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FIGURA 10 – Comparação entre as componentes não recorrentes

Elaboração: A autora

Essas variações na componente não recorrente ocorrem devido à consideração das

Novas inscrições em Restos a pagar processados como receitas extraordinárias. Esse montante

diz respeito a uma despesa já reconhecida, ou seja, liquidada, que deveria ter sido paga no ano,

mas que por algum motivo não o foi. Na FIGURA 11 a seguir é possível verificar que quando

as novas inscrições são positivas, a componente não recorrente fica ainda mais negativa.

FIGURA 11 – Detalhamento da comparação entre componentes não recorrentes

Elaboração: A autora

-1,50%

-1,00%

-0,50%

0,00%

0,50%

1,00%

Componente não recorrente (% PIB)

Este trabalho SPE 2016

-24

-16

-8

0

8

16

24

-1,5%

-1,0%

-0,5%

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

Novas

insc

riçõ

es (

R$ e

m b

ilhões

)

Com

ponen

te n

ão r

ecorr

ente

(%

PIB

)

Comparação da componente não recorrente

Novas Inscrições RPP Este trabalho SPE 2016

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66

3.6 IMPULSO FISCAL

Conforme exposto na seção 2.7 IMPULSO FISCAL, o impulso fiscal é dado pela

fórmula:

𝐼𝐹𝑡 = 𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 − 𝑆𝑃𝑡

𝐸𝑆𝑇

Onde 𝐼𝐹𝑡 é o impulso fiscal no período t, 𝑆𝑃𝑡−1𝐸𝑆𝑇 é o resultado estrutural no período t-1

e 𝑆𝑃𝑡𝐸𝑆𝑇 é o resultado estrutural no período t.

O objetivo de calcular o impulso fiscal é analisar se a política fiscal foi expansionista

ou contracionista em determinado período. Em anos em que o impulso fiscal é positivo,

significa que houve piora nas contas públicas, ou seja, o resultado fiscal do ano anterior era

melhor do que o resultado do ano atual. De forma análoga, o impulso fiscal negativo sinaliza

melhora nas contas públicas.

A FIGURA 12 apresenta os impulsos fiscais obtidos entre 2001 e 2015.

FIGURA 12 – Impulso fiscal convencional x estrutural

Elaboração: A autora

No gráfico acima, é possível observar valores bastante divergentes em relação ao

impulso fiscal convencional e o impulso fiscal calculado neste trabalho. A média divulgada

pelo governo é de 0,25% enquanto que a média calculada neste trabalho é de 0,15%. Ambos os

resultados demonstram que em média os movimentos foram mais expansionistas do que

-1,50%

-1,00%

-0,50%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

Impulso Fiscal Convencional x Estrutural (% PIB)

Impulso Fiscal Convencional Impulso Fiscal Estrutural

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contracionistas, mas as contas estruturais fornecem um impulso de menor magnitude,

influenciado principalmente pelos anos de 2003 e 2015.

Adicionalmente, a análise do impulso fiscal juntamente com o hiato do produto permite

verificar se a política adotada foi anti ou pró-cíclica. Quando o impulso fiscal possui o mesmo

sinal que o hiato do produto, diz-se que a política fiscal é pró-cíclica e quando o impulso e o

hiato possuem sinais contrários, diz-se que a política fiscal é anticíclica.

Sendo assim, foram plotados na FIGURA 13 os valores do impulso fiscal e do hiato do

produto de cada ano para verificar a orientação da política fiscal.

FIGURA 13 – Orientação da política fiscal

Elaboração: A autora

É possível verificar no gráfico acima que a política fiscal foi anticíclica em sete anos

(2002, 2005, 2006, 2009, 2010, 2011 e 2014) e foi pró-cíclica em oito anos (2001, 2003, 2004,

2007, 2008, 2012, 2013 e 2015) do período analisado.

-3,50%

-2,50%

-1,50%

-0,50%

0,50%

1,50%

2,50%

3,50%

-2,00% -1,50% -1,00% -0,50% 0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00%

Hia

to d

o P

rod

uto

Impulso Fiscal

Orientação da Política Fiscal

20012003

2007

20152009

2014

2002

2006

20052008

2004

2011

20102012

2013

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68

4. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo principal calcular o resultado estrutural do governo

central de 2000 até primeiro trimestre de 2016, período em que há dados disponíveis. O trabalho

foi realizado utilizando para o cálculo das elasticidades a mesma metodologia empregada pela

SPE em seu Monitor de Política Fiscal 2016.

A partir desse objetivo, foram definidos objetivos secundários que consistiam em

calcular as elasticidades de diferentes grupos de receitas para saber como elas se comportavam

em relação ao ciclo do PIB ou ao ciclo do petróleo, calcular o impulso fiscal estrutural de cada

ano para verificar se as medidas discricionárias do governo foram expansionistas ou

contracionistas e, por fim, analisar o impulso fiscal estrutural junto com o hiato do produto para

identificar se a ação discricionária foi pró ou anticíclica.

Para alcançar estes objetivos, foi realizada inicialmente uma revisão bibliográfica acerca

dos conceitos abordados neste trabalho, os problemas de cálculo, as principais abordagens e

aplicações no caso brasileiro. Durante esta etapa, foi identificada a recomendação de alguns

autores em calcular as elasticidades somente após retirar as receitas e despesas extraordinárias,

de modo a não enviesar as estimativas. No entanto, a metodologia da (SPE, 2016) não segue

esta recomendação e este trabalho se manteve fiel à metodologia (SPE, 2016). Cabe aqui sugerir

como trabalho futuro a realização dos cálculos das elasticidades segundo a recomendação de

expurgar receitas não recorrentes anteriormente ao cálculo das mesmas.

As contas foram ajustadas em relação ao ciclo econômico e ao preço do petróleo. Foi

identificado que a elasticidade média ponderada pelos tributos em relação ao ciclo, estimada

em 1,74, é maior do que a elasticidade média ponderada pelos tributos em relação ao preço do

petróleo, esta última estimada em 0,77.

A elasticidade em relação ao ciclo encontrada neste estudo é mais alta do que a

elasticidade divulgada pela (SPE, 2016) no valor de 1,56. Essa diferença se deve principalmente

ao uso de uma série de hiato do produto construída a partir de função de produção, enquanto

que (SPE, 2016) utiliza o filtro HP. Já as elasticidades obtidas em relação ao preço do petróleo

ficaram muito próximas, já que ambos os trabalhos utilizam o filtro HP para estimar o preço

tendencial.

Assim como em (SPE, 2016) foi identificado que quatro grupos de receitas apresentam

alta sensibilidade a variações no hiato do produto, revelado através de suas elasticidades mais

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elevadas. São eles: “Tributos sobre a renda corporativa” (TRC), “Tributos indiretos” (TI),

“Tributos sobre a importaçao” (TM) e “Impostos sobre ganho de capital” (TGC).

As elasticidades dos grupos “Tributos sobre a renda do trabalho” (TRT) e os “Tributos

de contribuições previdenciárias” foram estimadas próximas à unidade, como em (SPE, 2016).

Tanto as elasticidades da receita de “Royalties” (ROY) em relaçao ao preço do petróleo

quanto a das “Participações especiais do petróleo” (PE) ficaram próximas de um, em

consonância com os resultados obtidos por (SPE, 2016).

Adicionalmente, em relação ao cálculo da componente não recorrente, a principal

diferença deste trabalho para (SPE, 2016) foi a exclusão das Novas inscrições em restos a pagar.

Foi possível observar que as maiores diferenças entre o resultado convencional e o

estrutural ocorrem a partir de 2009. Neste período, o ajuste de receitas não recorrentes foi o

principal responsável por essa divergência.

A política fiscal foi levemente pró-cíclica no período analisado (em 8 dos 15 anos), o

que significa que nestes períodos de pró-ciclicidade a política foi contracionista em anos em

que o crescimento do PIB efetivo ficou abaixo do PIB potencial e foi expansionista em anos

em que o hiato do PIB foi positivo. É importante ressaltar que esta análise depende

fundamentalmente da metodologia de estimação do PIB potencial, que definirá se o hiato do

produto foi positivo ou negativo. Sendo assim, a utilização de uma metodologia diferente

poderia levar a conclusões distintas.

Embora ainda apresente muitas fragilidades, principalmente em relação à metodologia

utilizada, o indicador de resultado estrutural revelou-se de grande serventia e, portanto, deve

ser feito um esforço para aprimorá-lo. Espera-se que este estudo tenha dado um passo nesta

direção e possa contribuir com trabalhos futuros.

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APÊNDICE A – ELASTICIDADES OBTIDAS A PARTIR DO SOFTWARE R

#TRT

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

PIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PIB.csv",header=F)

TRT = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TRT.csv",header=F)

TRT=log(TRT)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PIB, TRT))

colnames(dat) <- c("PIB", "TRT")

fo <- as.formula("TRT ~ PIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

PIB 1.12580 0.63669 1.7682 0.08179 .

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

0.0048 0.0004 0.0000 0.0004

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74

#TSS

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

PIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PIB.csv",header=F)

TSS = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TSS.csv",header=F)

TSS=log(TSS)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PIB, TSS))

colnames(dat) <- c("PIB", "TSS")

fo <- as.formula("TSS ~ PIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

PIB 0.76590 0.23155 3.3077 0.001546 **

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

2e-04 1e-04 0e+00 0e+00

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75

#TRC

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

PIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PIB.csv",header=F)

TRC = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TRC.csv",header=F)

TRC=log(TRC)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PIB, TRC))

colnames(dat) <- c("PIB", "TRC")

fo <- as.formula("TRC ~ PIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

PIB 2.4797 1.1473 2.1613 0.03442 *

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

0.0095 0.0030 0.0000 0.0001

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76

#TI

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

PIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PIB.csv",header=F)

TI = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TI.csv",header=F)

TI=log(TI)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PIB, TI))

colnames(dat) <- c("PIB", "TI")

fo <- as.formula("TI ~ PIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

PIB 3.15700 0.51657 6.1115 6.526e-08 ***

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

0.0016 0.0008 0.0000 0.0000

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77

#TM

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

PIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PIB.csv",header=F)

TM = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TM.csv",header=F)

TM=log(TM)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PIB, TM))

colnames(dat) <- c("PIB", "TM")

fo <- as.formula("TM ~ PIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

PIB 1.71830 0.98987 1.7359 0.0874 .

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

0.0000 0.0074 0.0000 0.0000

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78

#TGC

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

lagPIB = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/lagPIB.csv",header=F)

TGC = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/TGC.csv",header=F)

TGC=log(TGC)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(TGC,lagPIB))

colnames(dat) <- c("TGC", "lagPIB")

fo <- as.formula("TGC ~ lagPIB + 0")

# comprimento sazonal série trimestral=4

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = TRUE, season.length = 4,

slope=TRUE, cycle = FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = TRUE,

season.length = 4, cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

lagPIB 2.0028 1.2176 1.6449 0.1067

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance Season_Variance

0.0124 0.0018 0.0000 0.0001

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79

#ROY

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

OIL = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/OIL.csv",header=F)

lagOIL = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/lagOIL.csv",header=F)

ROY = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/ROY.csv",header=F)

ROY=log(ROY)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(OIL, ROY,lagOIL))

colnames(dat) <- c("OIL", "ROY", "lagOIL")

fo <- as.formula("ROY ~ OIL+ lagOIL + 0")

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = FALSE, slope=TRUE, cycle =

FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = FALSE,

cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

OIL 0.211800 0.072602 2.9173 0.005899 **

lagOIL 0.923800 0.072274 12.7819 2.465e-15 ***

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance

0.0019 0.0006 0.0003

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#PE

#carregar o pacote rucm

library(rucm)

#importar dados

lagOIL = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/lagOIL.csv",header=F)

PE = read.csv2("C:/Users/prisa/Desktop/PE.csv",header=F)

PE =log(PE)

set.seed(123) #gera números aleatórios

dat <- as.data.frame(cbind(PE, lagOIL))

colnames(dat) <- c("PE", "lagOIL")

fo <- as.formula("PE ~ lagOIL + 0")

mymod <- ucm(fo, data = dat, level = TRUE, season = FALSE, slope=TRUE, cycle =

FALSE)

mymod

Call:

ucm(formula = fo, data = dat, level = TRUE, slope = TRUE, season = FALSE,

cycle = FALSE)

Parameter estimates:

Estimate Approx.StdErr t.val p.value

lagOIL 1.18220 0.21282 5.555 2.148e-06 ***

---

Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Estimated variance:

Irregular_Variance Level_Variance Slope_Variance

0.0186 0.0083 0.0001