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2011 EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

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enfermagem

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2011

EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDECADERNO DE tExtOS ACADêMICOS

AgêNCIA NACIONAl DE vIgIlâNCIA SANItáRIA

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EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDECADERNO DE tExtOS ACADêMICOS

AgêNCIA NACIONAl DE vIgIlâNCIA SANItáRIA

2011

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Diretor-Presidente Adjunto do Diretor-Presidente

Dirceu Brás Aparecido Barbano Luiz Roberto Klassmann

Diretores Adjuntos de Diretores

José Agenor Álvares da Silva Neilton Araujo de Oliveira

Maria Cecília Martins Brito Luiz Armando Erthal

Jaime Cesar de Moura Oliveira Luciana Shimizu Takara

gerência geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos à vigilância Sanitária

Maria José Delgado Fagundes

Coordenação Editorial

Paula Simões

Rosaura Hexsel

Elaboração

Instituições de Ensino Superior participantes da Fase IV do Projeto de Monitoração de

Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária

Revisão

Paula Simões

Rosaura Hexsel

Colaboração

Maria José DelgadoFagundes

Renata Regina Leite de Assis

Projeto gráfico e diagramação

Paula Simões

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EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDECADERNO DE tExtOS ACADêMICOS

AgêNCIA NACIONAl DE vIgIlâNCIA SANItáRIA

2011

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6 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

SUMáRIO

APRESENTAÇÃO 9

PARTE 1 - AÇÕES DE EDUCAÇÃO 11

UCB - Projeto Educanvisa em escola pública de Taguatinga – Distrito Federal: organização

e execução das atividades 13

UEl - Educação para o consumo de alimentos saudáveis no ensino fundamental 19

UFBA - Uso racional de medicamentos versus propaganda abusiva: percepção dos educadores

e impacto das ações realizadas no município de Santo Antônio de Jesus - Bahia 33

UFF - Promovendo o Uso Racional de Medicamentos nas escolas públicas que participam do

Projeto Educanvisa 39

UFg - Percepção de professores do ensino fundamental de escolhas da cidade de Goiânia sobre

valores sociais e educacionais em saúde 43

UJF - Educação em saúde nas escolas: impacto da propaganda de medicamentos e promoção

da alimentação saudável 51

UFMA - Trabalho educativo com estudantes de ensino fundamental: uma abordagem sobre

medicamentos, alimentação e legislação de propaganda 57

UFMg - Educação e informação sobre produtos sujeitos à vigilância sanitária brasileira 69

UFPB - Atividades educativas sobre a propaganda e o uso racional de medicamentos para alunos

do ensino fundamental de escola pública de João Pessoa (PB) 77

UFPI - A Promoção da Saúde na escola 85

UFPR - Atividade educativa sobre automedicação e alimentação saudável com crianças de ensino

fundamental em escola municipal de Curitiba (PR) e seus impactos 95

UFRgS - Percepção e atitudes de estudantes do ensino médio sobre os medicamentos e a publicidade

farmacêutica 103

UFRN - Avaliação do Conhecimento sobre Medicamentos e alimentos em Estudantes de Escola

Pública em Natal/RN 111

UFSC - Atividades de educação em saúde envolvendo o Uso Racional de Medicamentos na escola

de educação básica José Boiteux do Município de Florianópolis (SC) 121

UNIUBE - Capacitação para professoras (es): contribuições para a promoção do uso racional de

medicamentos. 131

USP - Experiência de uso de ferramentas lúdicas como estratégia de abordagem do tema uso racional

de medicamentos para alunos do ensino fundamental. 139

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 7

PARTE 2 - AÇÕES DE INFORMAÇÃO 153

UEl - A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio: análise do impacto de ações de informação e

educação para profissionais de rádio 154

UFBA - Análise das propagandas de medicamentos veiculadas nas emissoras de rádio de salvador – Bahia 167

UFF - “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio ”: relato de workshop realizado no Rio de Janeiro 171

UFg - Construindo valores sociais e educacionais: relato de uma experiência no Projeto Educanvisa

em Goiânia-Goiás 177

UJF - Educação em Saúde via rádio: sensibilização dos radialistas pela equipe da UFJF, vigilância sanitária

de Juiz de Fora e Anvisa 181

UFMA - Impacto da intervenção educacional relativo ao uso de medicamentos, alimentação saudável

e legislação de propaganda 189

UFMg - A responsabilidade social do comunicador de rádio face aos produtos sujeitos à vigilância

sanitária 201

UFPB - Atividades educativas sobre a propaganda e o uso racional de medicamentos para profissionais

do Sistema de Comunicação Radiofônico 207

UFPI - O rádio como instrumento para a educação em saúde: potencialidades e desafios 213

UFPR - A publicidade de medicamentos em rádio: divulgar com ética e ser ético na divulgação 225

UFRgS - A tentativa de aproximação entre o projeto de educação em propaganda de produtos sujeitos

à vigilância sanitá ria e comunicadores de rádio: um relato de experiência. 235

UFRN - Avaliação do conhecimento sobre propaganda de medicamentos e alimentação saudável entre

participantes de um seminário 241

UFSC - Propaganda de medicamentos: um desafio para todas as profissões 249

UNIUBE - Publicidade de medicamentos no rádio e o perfil de informação dos radialistas 257

USP - A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio – seminário direcionado aos radialistas sobre a

propaganda de medicamentos e sua regulamentação 265

PARTE 3 - PERSPECTIVAS E DESAFIOS 273

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 9

APRESENtAÇÃO

O Caderno de Textos Acadêmicos é uma

publicação que apresenta o registro das

experiências vivenciadas pelos alunos bolsistas

das universidades parceiras do Projeto Educação

e Informação. As atividades do projeto foram

desenvolvidas ao longo do ano de 2009, em

16 cidades, promovendo a integração dos

acadêmicos com alunos e professores de

diversas escolas de ensino fundamental e médio

brasileiras, além de possibilitar a aproximação

com um público bastante diferenciado – os

radialistas – para difundir as regras sobre a

propaganda de produtos sujeitos à vigilância

sanitária e trazer ao debate a temática da saúde.

Temas como o uso racional de medicamentos;

a influência da propaganda de medicamentos

e produtos sujeitos à vigilância sanitária;

a alimentação saudável; e os riscos da

automedicação foram amplamente debatidos

e trabalhados durante as atividades do projeto.

O objetivo foi propor à comunidade escolar e

aos profissionais radialistas uma reflexão sobre

os hábitos saudáveis de vida e as técnicas de

persuasão e de convencimento usadas para

induzir ao consumo inadequado e excessivo de

medicamentos ou alimentos industrializados.

Esta publicação, organizada em formato de

artigos e de relatos, apresenta os resultados do

Projeto Educação e Informação, concretizando

uma ação conjunta entre a vigilância sanitária e

a academia. O Caderno representa também mais

um registro para disseminar o conhecimento

construído ao longo dos últimos oito anos de

parceria com as instituições de ensino superior,

um trabalho que foi iniciado ainda em 2002,

com o Projeto de Monitoração de Propaganda.

A primeira parte do Caderno expõe os artigos

e relatos elaborados pelos estudantes, sob a

supervisão dos professores coordenadores,

relacionados às ações de educação em saúde

desenvolvidas nas escolas selecionadas, pelas

universidades, para integrar-se ao projeto. As

ações de informação, que foram destinadas

aos radialistas, compõem a segunda parte

da publicação. Nesta parte da coletânea, os

universitários relatam a sua experiência com

a organização do seminário “A Promoção da

Saúde nas Ondas do Rádio”, e apontam as

dificuldades enfrentadas para mobilizar esse

público de comunicadores.

Ao final, faz-se uma análise dos resultados

obtidos com o projeto, a partir dos manuscritos

enviados pelas universidades, demonstrando

o impacto dessas atividades de educação em

saúde destinadas a públicos diversificados

– professores, alunos e radialistas – e

evidenciando as constatações dos autores

sobre as experiências em pauta, as quais podem

apontar caminhos e abrir novos espaços que

propiciem o diálogo e a troca de saberes, em

prol da promoção da saúde das coletividades.

Jaime Cesar de Moura OliveiraDiretor da Agência Nacional de vigilância

Sanitária

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PARtE 1AÇÕES DE EDUCAÇÃO

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 13

PROJEtO EDUCANvISA EM ESCOlA PÚBlICA DE tAgUAtINgA – DIStRItO FEDERAl: ORgANIzAÇÃO E ExECUÇÃO DAS AtIvIDADES

Universidade Católica de Brasília (UCB)

Aline Daiane dos Reis 1; Samara Haddad Simões Machado 2; Eloá Fátima Ferreira de Medeiros2

1 – Discente da Universidade Católica de Brasília (UCB)2 – Docente da Universidade Católica de Brasília (UCB)

RESUMO

O projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tem como proposta a educação em saúde para docentes, profissionais das Vigilâncias Sanitárias locais (Visa) e estudantes de ensino fundamental e médio em todo o Brasil. Para isto, a Anvisa capacita professores de modo que as informações transmitidas sejam repassadas aos estudantes, por meio de parcerias com universidades brasileiras. Este trabalho visa avaliar o impacto da realização do projeto Educanvisa no Centro Educacional da cidade de Taguatinga (DF), por meio da análise dos questionários aplicados. Nessa instituição, quatro professores foram capacitados, beneficiando 1.190 estudantes (51,7% do público estudantil). Foram realizadas atividades com os estudantes sobre alimentação saudável, vigilância sanitária, uso de medicamentos e educação em saúde, com aulas expositivas e jogos. Para avaliação dos perfis da escola, comunidade e consumo de medicamentos e alimentos dos estudantes e pais e/ou responsáveis, foram aplicados diferentes modelos de questionários. Percebe-se que a escola também é responsável por promover ações educativas sobre saúde. Para tanto, o treinamento dos educadores é fundamental, já que este tema não é parte de suas formações acadêmicas. O profissional de saúde deve auxiliar nesta difícil tarefa, visando sempre a qualidade de vida das pessoas, informando as crianças, os professores e também os familiares sobre alimentação saudável e uso adequado de medicamentos.

INtRODUÇÃO

A obesidade tornou-se uma doença crônica e epidêmica, já que o aumento de sua prevalência em países desenvolvidos e em desenvolvimento foi considerável nas últimas décadas. Este dado torna-se ainda mais preocupante, observando-se esse aumento também em crianças e adolescentes, já que estudos longitudinais avaliam que o tempo de duração da obesidade é diretamente proporcional à morbidade e à mortalidade por doenças cardiovasculares devido à dislipidemia, à hipertensão arterial e ao diabetes melito (OLIVEIRA e CINTRA, 2004). Além disto, a intoxicação por medicamentos é outro fator relevante. Os dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) de 2007 apontam 100 mil casos de intoxicação humana, sendo que 500 evoluíram ao óbito. Os medicamentos são os principais agentes de intoxicação humana, totalizando 30,7% dos casos (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2009). Após análise desses fatores, percebe-se que o processo de educação em saúde exige a participação da comunidade local e não apenas daqueles sob risco de enfermidade (MACHADO et al., 2007). Assim, a informação às crianças e aos seus pais e/ou responsáveis é a melhor maneira de diminuir esses dados tão alarmantes, pois o tratamento do problema, na base, é mais eficaz que tentar curá-lo no futuro.

O projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é resultado da fusão de dois projetos da Agência desde 2005, o Contributo

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14 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

e o Educação para o Consumo Responsável de Medicamentos. O Projeto possui proposta de educação em saúde para docentes, profissionais das Vigilâncias Sanitárias locais (Visa) e estudantes de ensino fundamental e médio (BRASIL, 2009).

O programa “Mais Saúde” do Governo Federal, incluído no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), determinou que, até o final de 2009, 84 escolas públicas do país deveriam ser incluídas no projeto Educanvisa. Até agosto, a Anvisa capacitou professores de 184 unidades de ensino, superando o planejamento anual (OLIVEIRA e CINTRA, 2004). No ano de 2009, foram realizadas reuniões da Anvisa com representantes das secretarias de Educação e Saúde dos municípios interessados em implantar o projeto Educanvisa e também com aqueles que já possuíam a proposta instituída. Após a formalização das parcerias, realizaram-se cursos de capacitação de profissionais em Brasília entre os meses de maio e agosto. Foram recebidas 31 cidades, totalizando 483 professores e 62 colaboradores das Visas locais. Assim, observa-se que mais de 19 mil estudantes de ensino fundamental e médio foram beneficiados com o Projeto (BRASIL, 2009).

O projeto Educanvisa, no Distrito Federal, iniciou-se com a capacitação dos professores de algumas escolas públicas em julho de 2009. Durante o segundo semestre de 2009, os professores trabalharam assuntos como alimentação saudável, Vigilância Sanitária, uso de medicamentos e educação em saúde com os estudantes, por meio de aulas expositivas e jogos fornecidos pela Anvisa (Trilha da Saúde e Jogo da Memória). Durante o projeto, foram aplicados questionários elaborados pela Anvisa destinados aos pais, à escola, aos alunos e à comunidade.

No segundo semestre de 2009, os estudantes colaboradores do curso de Farmácia, mediante parceria entre Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Anvisa, elaboraram atividades para serem desenvolvidas nas instituições credenciadas pelo projeto Educanvisa. Em novembro de 2009, os estudantes colaboradores

visitaram o Centro Educacional no 6, Taguatinga (DF), para desenvolver palestras e dinâmicas com os estudantes e avaliar o conhecimento construído por eles. A atividade foi desenvolvida em cinco turmas de sexto e sétimo anos, totalizando 200 crianças com idade entre 10 e 12 anos. Foram realizadas palestras com o auxílio de cartazes repletos de figuras sobre os temas anteriormente abordados pelos professores. Além disto, foram realizadas três dinâmicas relacionadas aos temas: alimentação saudável, uso racional de medicamentos e educação em saúde.

A primeira dinâmica realizada tinha como objetivo montar uma pirâmide alimentar. A pirâmide foi confeccionada em material emborrachado e as figuras estavam pontilhadas para que os estudantes as localizassem mais facilmente. Depois disso, realizou-se a dinâmica do “telefone-sem-fio da automedicação”, em que um medicamento fictício e sua posologia eram falados a um estudante, que deveria passar aos demais a informação. O último participante falava em voz alta o que escutou. O fechamento consistia na explicação de que a automedicação por indicação de terceiros pode ser maléfica, já que a informação pode chegar distorcida. Por fim, fechou-se com a dinâmica do desenho, em que a turma foi dividida no grupo dos meninos e no grupo das meninas, que elegeram, cada grupo, um representante. O grupo teve um minuto para acertar o que o representante desenhou. Após as apresentações e dinâmicas, foram distribuídas garrafinhas e blocos de anotação com a logomarca do Educanvisa para todos os participantes.

MAtERIAIS E MÉtODOS

A pesquisa foi realizada no Centro Educacional no 6, Taguatinga (DF), pelos quatro professores capacitados participantes do Educanvisa, entre os meses de agosto e novembro de 2009. Quatro questionários foram elaborados pela Anvisa, visando obter os perfis da escola, da comunidade e do consumo de medicamentos e alimentos dos estudantes de ensino fundamental e médio e pais e/ou responsáveis.

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RESUltADOS E DISCUSSÃO

O Centro Educacional no 6, Taguatinga (DF), possui um total de 2.300 estudantes e 154 professores. Quatro professores (2,6% dos professores da instituição) desenvolveram o projeto Educanvisa com 1.190 estudantes da escola (51,7% do público estudantil). A instituição recebe o benefício da Política de Alimentação Saudável para a merenda escolar. A cantina segue esta política, porém comercializa também doces, salgados e refrigerantes. A escola não costuma oferecer medicamentos aos estudantes quando eles apresentam alguma enfermidade, sem o consentimento dos pais e os pais e/ou responsáveis não solicitam que a escola administre medicamentos aos seus filhos.

O Centro de Saúde no 3 de Taguatinga (DF) é o mais próximo da escola e atendeu, em média, 1.600 pacientes nos últimos seis meses. Em seu registro de controle de intoxicação por medicamentos, verificou-se dez casos naquele período. Existem duas drogarias nas proximidades da escola e elas foram visitadas pelos professores e estudantes. Na ocasião da visita, apenas em uma drogaria o farmacêutico estava presente.

Em média, 700 pais e/ou responsáveis participam das reuniões do cronograma da escola, sendo que 14,3% deles participaram da pesquisa do Projeto. Quando foi perguntado onde eles costumam armazenar os medicamentos em casa, obteve-se o resultado de 25% na cozinha, 20% no banheiro, 50% em armários de difícil acesso e 5% não possuem um local específico para armazená-los. Dentre os entrevistados, 58% acreditam que o uso de medicamentos sem receita médica ou sem a orientação de um farmacêutico pode piorar a doença, e 45% acreditam que o uso de remédios caseiros ou naturais também pode prejudicar a saúde. A maioria dos pais e/ou responsáveis costuma usar medicamentos sem a orientação do médico, dentista ou farmacêutico, totalizando 60% dos entrevistados. Os medicamentos mais utilizados sem orientação são dipirona, paracetamol, escopolamina, xaropes e

antibióticos. Sobre a frequência com que são comprados medicamentos na drogaria ou na farmácia, obteve-se como resposta 2% uma vez por semana, 40% uma vez por mês e 58% somente quando é necessário. Sessenta por cento dos pais e/ou responsáveis fazem leitura da bula dos medicamentos antes de utilizá-los. A maioria deles considera que a propaganda de medicamentos não contém todas as informações necessárias para o consumidor utilizar tal medicamento, totalizando 69%.

Para os pais e/ou responsáveis entrevistados o que mais influencia na compra de medicamentos é a indicação de familiares, amigos ou vizinhos (37%), seguido do preço (30%), da propaganda (24%) e da indicação do balconista (9%). Quando perguntado quais alimentos são oferecidos com maior frequência nos lanches, obteve-se as seguintes respostas: 21% frutas, 8% biscoitos recheados, 9% refrigerantes ou sucos artificiais, 47% sucos naturais de frutas, 8% salgadinhos industrializados, 7% doces, chocolates e balas. Apenas 22% dos pais e/ou responsáveis compram alimentos que os filhos conheceram nas propagandas.

Nessa escola, 170 estudantes responderam à pesquisa. Dentre eles, 72,9% utilizam ou já utilizaram medicamentos sem a orientação do médico, dentista ou farmacêutico. A maioria deles (70,6%) toma medicamentos com o consentimento dos pais e/ou responsáveis. Dentre os estudantes, 80% consideram que a propaganda não contém todas as informações necessárias para o uso do medicamento e apenas 24,7% deles pedem que os pais e/ou responsáveis comprem medicamentos conhecidos por meio das propagandas. No que se diz respeito à alimentação, observou-se que 53% dos estudantes pedem aos pais e/ou responsáveis para comprarem os alimentos vistos nas propagandas.

Nos quesitos alimentos mais consumidos e como os estudantes escolhem os lanches consumidos na escola, em casa e nos passeios, foi solicitado que os estudantes marcassem

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16 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

apenas uma alternativa no questionário, no entanto, alguns deles marcaram mais de uma, tornando-se um viés da pesquisa, já que a soma dos itens marcados é maior que a quantidade de alunos que responderam ao questionário, conforme tabela 1.

A escola é uma instituição socialmente conhecida por desenvolver o ato pedagógico, representando uma etapa relevante e longa da

vida de uma pessoa. Porém, a escola não atua sozinha no aprendizado e na educação das crianças, ela é complementar à responsabilidade da família. Na escola, a criança aprende a construir valores pessoais e sociais (AERTS et al., 2004). Desta forma, a escola também é responsável por promover ações educativas sobre a saúde, formando, assim, um indivíduo holisticamente. Para isto, o treinamento dos educadores é fundamental, já que este tema

não é parte de suas formações acadêmicas. O profissional de saúde deve auxiliar nessa difícil tarefa, visando sempre a qualidade de vida das pessoas, informando as crianças, os professores e também os familiares sobre alimentação saudável e uso adequado de medicamentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A informação às crianças é muito importante para que os casos futuros de obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias e diabetes melittus sejam reduzidos devido a uma alimentação saudável,

PERgUNtAS AltERNAtIvAS vAlOR ABSOlUtO N(%)

Quais alimentos são mais consumidos pelos estudantes?

Frutas 47 (22,5)Biscoitos recheados 28 (13,4)Refrigerantes/ sucos artificiais 40 (19,14)Sucos naturais de frutas 25 (12)Salgadinhos industrializados 20 (9,6)Doces, bombons, chocolates e balas 49 (23,4)tOtAl 209 (100)

Como os estudantes escolhem os lanches na escola, em casa

e nos passeios?

Por orientação dos pais e/ou responsáveis

44 (24,4)

Porque viram na propaganda 40 (22,2)Porque é saudável 68 (37,8)Porque os colegas comem 28 (15,5)tOtAl 180 (100)

tabela 1. Respostas sobre os alimentos mais consumidos e como os estudantes escolhem os lanches consumidos na escola, em casa e nos passeios.

diminuindo, assim, os riscos de futuros eventos cardiovasculares.

A informação aos pais e/ou responsáveis também contribui com este trabalho, melhorando a qualidade de vida dessas pessoas devido à adoção de uma alimentação saudável. Esses hábitos positivos certamente serão transmitidos aos filhos e a outros familiares. Também deve haver um trabalho educativo quanto ao uso racional de medicamentos para que os casos de intoxicação possam diminuir de maneira significativa.

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AgRADECIMENtOSÀ Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Universidade Católica de Brasília (UCB).

COlABORADORESA.D. dos Reis realizou a revisão bibliográfica, redação do artigo e procedeu a tabulação dos dados. S.H.S. Machado e E.F.F. de Medeiros promoveram a revisão final do texto.

REFERêNCIAS

AERTS, D.; ALVES, G. G; SALVIA, M. W. L; ABEGG, C. Promoção de saúde: a convergência entre as propostas da vigilância da saúde e da escola cidadã. Caderno de Saúde Pública, v.20, n.4, p.1020-1028, 2004.

BARROSO, M. G. T. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS: uma revisão conceitual. Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.2, p. 335-342, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A História do Educanvisa. [acessado 2009 Dez 14]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/propaganda/educação_saude/historia_anvisa.htm

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Especial Educanvisa. In: Visa é: Almanaque da Vigilância Sanitária, n.2, p. 14-15, 2009. Brasília: Anvisa, 2009.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas. Registros de intoxicações. [acessado 2009 Dez 15]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=151

MACHADO, M. F. A. S.; MONTEIRO, E. M. L. M.; QUEIROZ, D. T.; VIEIRA, N .F. C; OLIVEIRA, C. L.; MELLO, M.T; CINTRA, I. P; FISBERG, M. Obesidade e síndrome metabólica na infância e adolescência. Revista de Nutrição, v. 17, n.2, p. 237-245, 2004.

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EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO DE AlIMENtOS SAUDávEIS NO ENSINO FUNDAMENtAl

Universidade Estadual de londrina (UEl)

Ester Massae Okamoto Dalla Costa1, Eliane Saori Otaguiri2, Gustavo Henrique Oliveira de Paula2, Rafael Fagun-

des Dezorzi3, Rogério Yuzo Toyama3.

1 - Docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

2 - Acadêmicos do Curso de Farmácia – Universidade Estadual de Londrina (UEL).

3 - Acadêmicos do Curso de Medicina Universidade Estadual de Londrina (UEL).

RESUMO

A obesidade é apontada, na atualidade, como um problema de saúde pública. Estudos apontam a alimentação inadequada como um dos fatores que mais contribuem para o aumento da obesidade na população. Considerando que hábitos alimentares saudáveis devem ser incorporados na prática cotidiana, o presente estudo teve como objetivo o desenvolvimento de ações para a educação e informação em saúde, com vistas à promoção de uma alimentação saudável em escolares. Verificou-se que ações isoladas, embora importantes, são insuficientes para a apreensão dos conhecimentos, sendo necessárias ações contínuas de educação para o consumo de uma alimentação saudável, com vistas à promoção da saúde.

INtRODUÇÃO

A obesidade já é apontada por países desenvolvidos como um problema de saúde pública e, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já é considerada uma epidemia global (WHO; 1995). Trabalhos mostram sua relação com o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes mellitus tipo II, doenças cardiovasculares, osteoartrite, câncer, entre outras, demonstrando a necessidade de uma profilaxia como fator mais importante para prevenir a obesidade do que o tratamento após a doença instalada (VISCHER, 2001).

Na infância, principalmente, a obesidade tem um grande impacto, pois geralmente as crianças e adolescentes obesos têm problema com sua autoestima (ABRANTES, 2002). Foi demonstrado ainda, que a obesidade está com a prevalência aumentando em crianças e adolescentes, e que tende a permanecer na idade adulta em 50% das crianças obesas aos seis meses de idade, e em 80% das crianças obesas aos 5 anos de idade (TROIANO et al., 1995; GORTMAKER, 1987; JULIUSSON, 2007). É cada vez mais demonstrado nessa fase, o início da formação de processos ateroscleróticos e também definições de hábitos de alimentação e atividade física na infância (STORY, 1999).

Estudos têm demonstrado que a mudança da dinâmica familiar e a propaganda de alimentos exercem uma influência nos hábitos de consumo de alimentos na infância (CRIVELARO et al., 2006).

Desta forma, o desenvolvimento de projetos que buscam a sensiblização e a educação para o consumo de alimentos saudáveis associados ao conhecimento de informações acerca da importância de ações de vigilância sanitária, entre elas a regulação da propaganda de alimentos, podem ser instrumentos de empoderamento das crianças, para que possam se contrapor ao apelo a que são expostas no cotidiano.

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20 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

OBJEtIvOS

Objetivos gerais

Desenvolvimento de ações e estratégias de educação e comunicação em saúde para orientar estudantes do ensino fundamental para o consumo seguro e responsável de alimentos.

Objetivos Específicos

• Criar espaço para debate sobre o consumo responsável de alimentos entre os alunos da terceira série do Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina, buscando despertar o senso crítico em relação às estratégias comerciais praticadas pela propaganda de medicamentos e alimentos.• Desenvolver estratégias para que a temática seja trabalhada em sala de aula.• Desenvolver atividades e material didático para discussão da temática na escola.• Capacitar alunos como multiplicadores de conceitos e práticas relacionadas ao consumo de alimentos saudáveis.

DESENvOlvIMENtO

O trabalho foi realizado em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina, no Estado do Paraná, sendo o projeto previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. As atividades foram desenvolvidas na terceira série do Ensino Fundamental, nas turmas do período matutino e vespertino, por meio de aulas dialogadas com uso de recursos audiovisuais e atividades de fixação. Com duração média de 1 hora, foram abordados os seguintes temas: Alimentação saudável e propaganda de alimentos; Uso Racional de Medicamentos e propaganda de medicamentos; e o papel da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao término das aulas dialogadas, foram realizadas atividades individuais para fixação

dos conteúdos. No final das atividades, todas as crianças participaram de uma rodada de recreação, com a utilização da “Trilha da Saúde”, um jogo desenvolvido pela Anvisa, baseado na tradicional “trilha”, um jogo no qual os participantes partem de um ponto inicial e, à medida que jogam dados, avançam as casas na trilha e respondem a algumas perguntas. No caso da “Trilha da Saúde”, as questões eram relacionadas aos temas abordados nas aulas. Foram utilizadas tanto a versão de chão, onde as próprias crianças atuam como peças do jogo, como também as trilhas de mesa. Além da Trilha, as crianças puderam brincar com um jogo da memória – também com temas relativos às aulas, e realizaram a leitura do livro “Alimentação Saudável”, produzidos pela Anvisa. O livro foi posteriormente disponibilizado para todas as crianças, para as professoras e para a diretora da escola.

Finalizadas as atividades recreativas, os alunos responderam a um questionário que teve como objetivo avaliar o impacto das experiências vivenciadas. O questionário abordou todos os temas explorados nas aulas e, antes de sua aplicação, foi solicitada a autorização dos pais. Além das crianças, foram levantadas informações acerca do conhecimento dos pais sobre os temas abordados, e um questionário foi também aplicado aos pais que concordaram em participar, sendo que a identificação no questionário dos pais foi facultativa.

Para participarem desse processo, tanto os pais quanto os alunos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As crianças que não apresentaram a autorização dos pais, em tempo hábil, não responderam ao questionário e tiveram seus nomes e imagens retirados do projeto e foram direcionadas para o desenvolvimento de outras atividades.

Os questionários foram posteriormente tabulados utilizando-se o programa Microsoft Office Excel 2007.

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RESUltADOS E DISCUSSÃO

Todas as crianças participaram das atividades educativas, perfazendo um total de 64 crianças, sendo 32 em cada período. As atividades desenvolvidas contaram sempre com a presença da professora responsável pelos alunos em cada sala.

Foram distribuídos 64 questionários, sendo devolvidos 41 (64%) Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, após duas tentativas de recolhimento. Apenas um (1,6%) pai não autorizou a participação de seu filho. Após avaliação prévia dos 40 questionários autorizados, foram descartados dois (5%) por preenchimento incorreto. Deste modo, foram utilizados para a análise, 38 questionários.

Quanto ao consentimento dos pais, foram distribuídos também 64 questionários, sendo que 40 (62,5%) retornaram com o consentimento e um (1,6%) sem o consentimento, totalizando

gráfico 1. Distribuição dos alunos segundo avaliação do conhecimento sobre as ações da Vigilância Sanitária.

40 potenciais participantes. Dos 40 pais que concordaram em participar da pesquisa, 29 (72,5%) devolveram os questionários devidamente preenchidos.

Conhecimentos das Crianças

No formulário dos alunos, quando questionados se conheciam a vigilância sanitária, ou se já haviam ouvido algum comentário sobre esta, 34 (89%) responderam que sim e 4 (11%) dos alunos responderam que não. Quando questionados se a frase “A vigilância sanitária controla todas as etapas relacionadas à produção de alimentos, medicamentos, bebidas, saneantes (produtos de limpeza), cosméticos, aparelhos e instrumentos de uso médico” estava correta, 32 (84%) responderam que sim, dois (5%) responderam que não e quatro (11%) responderam que não sabiam (Gráfico 1).

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22 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

tIPOS DE AlIMENtOS AlUNOSNo. %*

Frutas e Verduras 24 63

Sucos Naturais de Frutas 14 37

Refrigerantes e Sucos Artificiais 13 34

Salgadinhos e doces industrializados 11 29

Biscoitos recheados 05 13

* Os percentuais foram calculados em relação ao total de crianças que responderam o questionário. A soma do percentual é maior que 100%, pois poderiam ser indicados mais de um tipo de alimento.

tabela 1. Distribuição dos alunos, segundo o tipo de alimento mais consumido.

À pergunta: “Quais destes alimentos você mais come?” os alunos poderiam assinalar mais de uma alternativa. Entre os respondentes, 24 (63%) alunos referiram consumir mais frutas e verduras, 14 (37%) os sucos naturais de frutas, 13 (34%) os refrigerantes e sucos artificiais, 11 (29%) os salgadinhos e doces (bala, chocolate etc.) industrializados e 5 (13%) o consumo de biscoitos recheados (Tabela 1).

Quando questionados se consideram o tipo de alimento que consomem saudáveis, 24 (63%) responderam que sim, 12 (32%) que não e dois (5%) referiram não saber responder.

Na questão que solicitava que fossem assinalados os cardápios que consideravam

mais adequados em termos de composição e quantidade, 28 (74%) crianças indicaram o item: “Comer bastante arroz com feijão, massas, pão, depois comer um pouco menos de vegetais e verduras e frutas. Os queijos, leite e carne em pequena quantidade. Doces, salgadinhos fritos, muito pouco”. A alternativa “Comer bastante queijo, carne, leite e comer pouco arroz com feijão, bolachas e doces. Batata frita comer menos ainda” foi apontada como a mais adequada por sete crianças (18%) e a alternativa “Comer muita bolacha, doces, iogurte e comer menos arroz com feijão, frutas e nada de vegetais e verduras” foi assinalada por três (8%) crianças.

Com relação à ingestão de líquido, a água foi apontada por 70% das crianças como sendo o líquido mais consumido diariamente. Chama a atenção, no entanto, os 30% que referiram consumo maior de outros tipos de bebidas, que não a água. São eles: suco de frutas (16%), leite (8%) e refrigerantes (6%) (Gráfico 2).

Ainda sobre a ingestão de líquido, chama a atenção o fato de 50% dos estudantes afirmarem desconhecer a quantidade ideal de ingestão hídrica diária. Entre os que indicaram uma quantidade, 23% assinalaram dez copos, 14% dois copos, 9% seis copos e 4 % oito copos (Gráfico 3).

A variação entre as alternativas assinaladas indica que mesmo os que responderam desconheciam a quantidade ideal.

Em relação à influência das propagandas na escolha do alimento e na formação do cardápio diário, 40% referiram solicitar aos pais os alimentos das propagandas que assistem na televisão. Embora a escolha dos pais prevaleça na escolha e definição do cardápio para um lanche na escola, em casa ou em passeios (60%), para 8% dos estudantes a escolha na formação do cardápio baseia-se na propaganda (Gráfico 4).

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gráfico 4. Distribuição dos alunos segundo influencia da mídia e dos pais sobre a escolha dos alimentos.

gráfico 2. Distribuição dos alunos quanto à especialidade de líquidos consumidos diariamente.

gráfico 3. Distribuição dos alunos segundo a opinião sobre quantidade de ingestão hídrica diária.

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89% responderam ser para “vender mais e ganhar mais dinheiro”. Dois alunos (5,2%) responderam que seria “para promover a saúde dos consumidores” e um aluno (2,6%) indicou ser “para mostrar coisas gostosas”.

Ao serem questionados se os alimentos nas propagandas sempre fazem bem, 92% responderam que não (Gráfico 5).

Conhecimentos dos pais

Participaram da pesquisa e entregaram os questionários, corretamente, 29 (72,5%) dos 40 pais que concordaram em participar da pesquisa.

Questionados se possuíam algum conhecimento ou já haviam ouvido falar sobre a vigilância sanitária todos (29) responderam que sim. Os produtos relacionados por eles como sendo objetos da vigilância sanitária foram os medicamentos (90%), alimentos (86%), água mineral e outras bebidas (72%), saneantes (62%), cosméticos (48%) e uma indicação de brinquedos (3%) (Gráfico 6).

Ainda referente à publicidade e propaganda, 35 (92%) dos entrevistados acreditam que nem sempre os alimentos apresentados em propagandas fazem bem para a saúde, e apenas dois responderam que sim (5%) (Gráfico 5).

Quando questionados sobre os motivos que levam os fabricantes de alimentos a realizarem propagandas de seus produtos,

Os resultados indicam que, embora todos os pais tenham algum conhecimento sobre a vigilância sanitária, ela ainda baseia-se no senso comum e, considerando os itens assinalados, pode estar fundamentado na frequência com que determinados produtos ou ações de vigilância são publicizados.

Em relação ao conhecimento da atuação da vigilância sanitária em serviços, foi considerada correta a atuação da vigilância sanitária em hospitais e clínicas por 90% dos pais, em consultórios dentários por 79%, em escolas e universidades por 55%. Radiações de qualquer natureza foram consideradas como áreas de atuação da vigilância sanitária por apenas 14% dos pais (Gráfico 7).

gráfico 5. Distribuição dos alunos quanto à opinião sobre os alimentos propagados pela mídia.a dos alimentos.

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gráfico 6. Distribuição dos alunos segundo conhecimentos sobre atuação da Vigilância Sanitária na área de produtos

gráfico 7. Distribuição dos alunos segundo conhecimentos sobre a atuação da Vigilância Sanitária na área de serviços.

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Também na área de serviços, há, ainda, um desconhecimento por parte dos pais dos estudantes – demonstrando a necessidade e importância de ações educativas com o tema “Vigilância Sanitária” para os pais e os alunos.

Na avaliação dos hábitos dos pais em relação a alguns cuidados básicos na avaliação da qualidade dos produtos sujeitos a vigilância

sanitária, 97% responderam que verificam o prazo de validade quando adquirem um produto. Entretanto, somente 66% e 59% dos pais olham, respectivamente, a composição e o fabricante do produto. Informações como país de origem, lote e número de registro são observados por, respectivamente, 24%, 14% e 14% dos pais (Gráfico 8).

Quanto à alimentação, 62% dos pais referiram que frutas devem ser consumidas em porções maiores que massas e cereais. E 59% citaram que hortaliças devem ser consumidas em maior quantidade que massas e cereais, e os cereais e grãos consumidos em maiores quantidades que frutas foram mencionados por 55% dos pais. O consumo de carne maior que os vegetais e o consumo de massas maior que o consumo de derivados de leite foram referidos por 10% dos pais.

Sobre os lanches, 52% dos pais assinalaram oferecer com mais frequência as frutas, 41% os sucos naturais de frutas. Entretanto, preocupa o fato de 34% dos pais referirem oferecer com maior frequência no lanche de seus filhos, os

gráfico 8. Distribuição dos alunos quanto conhecimentos de informações contidas em rótulos de alimentos.

biscoitos recheados. Este tipo de biscoito é rico em gorduras trans, que é um tipo específico de gordura saturada formada por um processo

de hidrogenação natural (ocorrido no rúmen de animais) ou industrial. Elas estão presentes principalmente nos alimentos industrializados. Alimentos de origem animal como a carne e o leite possuem pequenas quantidades dessas gorduras. Na indústria, esse tipo de gordura serve para melhorar a consistência dos alimentos, principalmente textura, e também aumentar a vida de prateleira de alguns produtos. Sucos artificiais e refrigerantes são fornecidos com maior frequência em lanches por 17% dos pais. Apenas 3% referiram fornecer, com maior frequência, aos seus filhos, salgadinhos e doces industrializados (Gráfico 9).

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gráfico 9. Distribuição dos pais quanto ao tipo alimentação fornecida aos filhos diariamente.

Quando questionados sobre a alimentação dos filhos, ela foi considerada saudável por apenas 31% dos pais, 14% não acham saudável e 62% acham que poderia ser melhor. Somando-se estes dois resultados, temos que 76% dos pais reconhecem que a alimentação de seus filhos não é saudável – o que demonstra que, apesar de terem conhecimento, este não tem se traduzido em ações e atitudes adequadas para a garantia de uma alimentação saudável para seus filhos.

Em relação à influência da propaganda no processo de decisão para a aquisição de

um alimento para os filhos, 66% dos pais confirmaram ter feito uma compra influenciada pela propaganda. Entre os principais produtos adquiridos sob influência da propaganda estão os doces, bombons, chocolates e balas, citados por 45% dos pais, seguidos pelos biscoitos recheados (41% dos pais) e salgadinhos industrializados (31% dos pais). Em menor quantidade, influenciaram na compra de 24% e 14% dos pais, respectivamente, os sucos naturais de frutas e refrigerantes/sucos naturais. As frutas não foram referidas por nenhum pai como adquirida por ter sido vista em propagandas (Gráfico 10).

gráfico 10. Distribuição dos pais quanto à razão pela qual foram induzidos pela compra de alimentos na mídia.

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Curiosamente, apesar de admitirem ser influenciados pelas propagandas, quando questionados sobre os critérios utilizados para a escolha dos alimentos para seus filhos, 76% afirmaram escolher aqueles que julgam mais saudáveis, 14% seguem a escolha dos filhos, 3% escolhem os que “ouviu falar” que são bons, mas nenhum deles mencionou que sua escolha se baseia na propaganda veiculada na mídia (Gráfico 11).

Sobre os fatores motivadores da propaganda pelos fabricantes de alimentos, 55% referiram

que as empresas o fazem para divulgar seus produtos, 48% acreditam que seja para influenciar a vontade das crianças em consumir alimentos, 41% aludiram ser para terem mais lucro e 7% dos pais acreditam que a propaganda é feita visando o bem-estar do consumidor. Quando perguntado se as propagandas de alimentos podem ser prejudiciais para a saúde, 55% dos pais acham que sim e 24% acham que não. Não souberam se a propaganda é ou não prejudicial 17% dos pais (Gráfico 12).

gráfico 11. Distribuição dos pais segundo a escolha dos alimentos diariamente.

gráfico 12. Distribuição dos pais segundo a opinião da importância da mídia venda dos produtos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na análise dos resultados, verificou-se que 89% dos alunos e 100% dos pais conhecem ou já ouviram falar sobre a vigilância sanitária. Este resultado reforça a ideia de que

(...) a Vigilância Sanitária vem sendo reconhecida pela comunidade, que cada vez mais se

conscientiza de sua importância, e pelas entidades de defesa do consumidor, que a valorizam como

uma prática capaz de promover a proteção e melhoria da qualidade de vida e saúde da

população (EDUARDO e MIRANDA, 1998, p.247).

Entretanto, o desconhecimento da dimensão da presença da vigilância sanitária no cotidiano – seja pelos produtos ou pelos serviços a ela relacionados – também evidencia que há ainda um longo caminho a ser percorrido em relação à disseminação da informação e do conhecimento nessa área para a população. As atividades desenvolvidas junto a escolares podem ser uma das alternativas para este processo. Por meio das crianças, podem-se atingir os pais e a comunidade.

O desconhecimento quanto à composição adequada da dieta cotidiana – tanto por parte dos pais quanto das crianças – indica, também, a necessidade de ações mais efetivas na orientação para uma alimentação saudável, até que este conhecimento seja apreendido e incorporado na prática cotidiana, por meio de sucessivas aproximações. Um exemplo disso foi que o importante hábito de ingestão diária de água que, mesmo sendo colocado em sala de aula durante as atividades educativas, não foi incorporada no repertório da criança. Metade deles respondeu não saber qual seria a quantidade ideal de água a ser ingerida diariamente. Somando-se a resposta daqueles que assinalaram as alternativas incorretas, 67% das crianças não souberam responder a essa questão corretamente.

Em relação à influência da propaganda, 40% dos alunos entrevistados referiram pedir aos pais os alimentos que são promovidos na

televisão, embora somente 8% tenham referido que leva no lanche algum alimento que viram na propaganda.

É indiscutível a importância dos pais para “filtrar” as escolhas dos filhos e até mesmo para aconselhá-los sobre as melhores escolhas alimentares. Entretanto, os resultados indicam que mesmo entre os pais há ainda um desconhecimento sobre a composição adequada dos alimentos na dieta diária – o que pode influenciar negativamente nas escolhas e nos hábitos cotidianos da família.

Ainda em relação à propaganda de alimentos, as crianças, de modo geral, entendem que a propaganda tem como intuito comercializar seus produtos e com isso ter um ganho financeiro. Percebem também que os produtos promovidos nem sempre são adequados para sua saúde – mas são vulneráveis aos apelos e estratégias de marketing das campanhas publicitárias. Conclui-se, portanto, que discussões relacionadas a hábitos alimentares saudáveis são importantes ferramentas de intervenção para o empoderamento das crianças frente a sua vulnerabilidade em relação ao marketing e ao estímulo ao consumo. Trata-se também de uma forma de empoderamento da sociedade, pois esse saber pode e deve ser levado para o cotidiano das famílias e comunidades.

Vale salientar, no entanto, que para que esse conhecimento seja traduzido em ações concretas, essas ferramentas educativas devem ser incorporadas de forma transversal e contínua em todo o processo de formação dos estudantes, com conteúdos e abrangência de complexidade crescente, metodologias ativas e em sucessivas aproximações.

Desta forma, apesar de alguns dos resultados obtidos, fica clara a necessidade da continuidade das atividades de educação nutricional no ambiente escolar, uma vez que a escola é considerada um espaço social propício para a formação de hábitos saudáveis e para a promoção da saúde.

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REFERêNCIAS

ABRANTES, M. M; LAMOUNIER, J. A; COLOSITO, E. A. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste. Jornal de Pediatria v.78, n. 4, p. 335-340, 2002.

CRIVELARO, L. P.; SIBINELLI E. C.; IBARRA, J. A; SILVA, R. A publicidade na tv e sua influência na obesidade infantil. UNIrevista. v.1, n.3, jun.2006.

EDUARDO, M. B. P.; MIRANDA, I. C. S. O poder da ação da vigilância sanitária e os resultados em benefício da saúde. Coleção Saúde e cidadania v. 8, Vigilância sanitária 1998, p.247-251.

GORTMAKER, S. L.; DIETZ, W. H.; SOBOL, A. M.; WEHLER, C.A. Increasing pediatric obesity in the United States. American Journal of Diseases of Children, v. 141, p. 535-540, 1987.

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STORY, M.; EVANS, M.; FABSITZ, R. R.; CLAY, T. E.; ROCK, B. H.; BROUSSARD, B. the epidemic of obesity in American Indian communities and the need for childhood obesity-prevention programs. American Journal Clinical Nutrition, v. 69, Supl 4, p. 747-754, 1999.

TROIANO R. P; FLEGAL, K. M.; KUKZMARSKI, R. J.; CAMPBELL, S. M.; JOHNSON, C. L. Overweight prevalence and trends for children and adolescents – The National and Nutrition Examination Surveys, 1963 to 1991. Arch Pediatr Adolesc Med, v.149, p. 1085-1091, 1995.

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WHO. World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO, 1995.

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USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS vERSUS PROPAgANDA ABUSIvA: PERCEPÇÃO DOS EDUCADORES E IMPACtO DAS AÇÕES REAlIzADAS NO MUNICÍPIO DE SANtO ANtÔNIO DE JESUS - BAHIA.

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Cinara Vasconcelos da Silva1; Eudes da Silva Velozo1; Rosemília Ribeiro da Cunha1.

1 - Faculdade de Farmácia – Universidade Federal da Bahia – UFBA.

INtRODUÇÃO

A propaganda de medicamentos representa um dos principais recursos de marketing utilizados pela indústria farmacêutica para persuadir as pessoas a comprarem produtos farmacêuticos, ainda que não tenham real necessidade de consumi-los. De forma geral, a propaganda de medicamentos não alerta os usuários sobre os riscos sanitários envolvidos no consumo indiscriminado de substâncias farmacológicas e nem para o fato de que todo medicamento, mesmo de venda sem prescrição médica, deve ser consumido com consciência e responsabilidade.

O anúncio publicitário, ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, tende, entre outras coisas, a induzir a automedicação, agravar patologias ou sintomas, incentivar a aquisição de produtos ineficazes ou inadequados e aumentar os gastos do sistema de saúde, inclusive no que diz respeito ao tratamento de intoxicação medicamentosa, que ocupa o primeiro lugar no ranking de intoxicações nos centros de controle de toxicologia e farmacovigilância do Brasil.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população brasileira, entre todos os países da América Latina, é uma das que apresenta maior tendência para comprar medicamentos sem consulta ao médico. Na tentativa de inverter este quadro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a propaganda de medicamentos

através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 102/00 e implantou o Projeto de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária. O projeto visou, além da monitoração de peças publicitárias veiculadas nos mais diversos meios de comunicação; desenvolver ações de educação, informação e divulgação sobre o uso racional de medicamentos e os riscos das propagandas de medicamentos.

No Estado da Bahia, finalizando a terceira fase do Projeto de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária, entre os anos de 2008 e 2009, foram realizadas ações envolvendo órgãos e instituições de ensino superior, escolas de ensino médio e meios de comunicação (rádios, TV e mídia impressa).

Essas ações, segmentadas e selecionadas para públicos afins e com interesses e linguagem comum, constituíam em palestras, seminários e workshop para um público específico que compreendia professores e estudantes das aéreas de Comunicação, Ciências Sociais, Ciências da Saúde (cursos de Farmácia, Medicina, Odontologia, Nutrição, Enfermagem e Medicina Veterinária) e Administração. Além disso, esses eventos conseguiram atingir um público ainda mais específico, e não menos importante, como os professores e alunos do ensino fundamental e profissionais da área de Comunicação, como jornalistas e radialistas.

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O presente artigo tem por objetivo discutir os resultados obtidos em uma das atividades de educação realizada no interior da Bahia (Santo Antônio de Jesus), tendo como público-alvo os professores e diretores de escolas públicas da região, no intuito de abordar e debater temas como o uso racional de medicamentos e as propagandas enganosas e abusivas.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Os dados deste trabalho foram captados durante um seminário intitulado “Educação e Saúde no Uso Racional de Medicamentos”, realizado no dia 4 de dezembro de 2009, no município de Santo Antônio de Jesus, no Estado da Bahia. Nesse evento, houve a participação de 34 ouvintes – professores e coordenadores de escolas municipais de ensino médio e fundamental de Santo Antônio de Jesus.

Para avaliação da percepção dos participantes sobre o uso racional de medicamentos e a propaganda abusiva foi utilizado como ferramenta de pesquisa um questionário, o qual foi aplicado antes e depois da palestra, contendo 22 questões. A confecção desse instrumento de avaliação baseou-se nas dúvidas frequentes que surgiram no momento da exposição do tema sobre uso racional de medicamentos e a propaganda enganosa, entre os participantes de diversos eventos relacionados à educação em saúde, promovidos anteriormente pelos participantes do Projeto de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária, durante o período de 2004 a 2007.

Nos questionários continham questões de múltipla escolha com alternativas diferentes que variavam de (a) a (d) e questões onde as respostas eram “sim”, “não” ou “não sabe responder”.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Todos os participantes responderam aos questionários (antes e após o evento) na tentativa de avaliar a percepção geral dos ouvintes antes

e após a discussão sobre o uso racional de medicamentos e a influência da propaganda na aquisição e uso de produtos medicamentosos.

Foi observado que dos 34 participantes presentes, 100% têm consciência de que a saúde é um dever do Estado e um direito do cidadão, além de considerar importante a construção de atividades relacionadas à educação em saúde, promovendo o conhecimento e o pensamento crítico. Também foi observado que 94% concordavam com o conceito de medicamento fornecido pela pesquisa, e 56% liam a bula antes de utilizar o medicamento. Setenta e quatro por cento dos professores acreditavam que o uso de remédios caseiros podem fazer mal à saúde. Outro dado muito importante é o de que 9% dos participantes não acreditavam na veracidade das informações sobre os medicamentos descritos nas propagandas, 94% achavam que a propaganda influencia no consumo dos remédios e somente 15% deles compravam medicamentos anunciados por qualquer meio de comunicação.

De acordo com a pesquisa, 68% achavam que medicamentos com tarja preta ou vermelha não poderiam ser anunciados em meios de comunicação de massa (Tabela 1).

Ao final do seminário, após discussão e a abordagem de temas como os perigos do uso indiscriminado de medicamentos e de remédios caseiros e como as propagandas influenciam no consumo de medicamentos, os resultados dos questionários foram: 100% dos participantes responderam que leriam a bula antes de usar os medicamentos, acreditavam que automedicação poderia levar ao uso de um medicamento errado no tratamento de uma doença e que o uso de um medicamento orientado pelo balconista poderia levar à automedicação e 91% dos participantes sabiam o conceito sobre uso racional de medicamentos (Tabela 2)

O porcentual de algumas respostas para questionários pré e pós foram os mesmos, a exemplo de: local de guarda do medicamento

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- 62% responderam em um local de difícil acesso, 38% não guardam em locais específicos e nenhum deles guardava na cozinha ou no banheiro; sobre o que é medicamento - 62% marcaram que o medicamento seria uma substância que trata o paciente, 6% assinalaram que “é somente uma substância capaz de promover o benefício da saúde do paciente”, 14% responderam que seria uma “ação que promove a cura da doença” e 18% nenhuma das alternativas.

Perguntados com que frequência compravam medicamentos na drogaria/farmácia, 3% assinalaram uma vez na semana, 12% uma vez por mês e 85% somente quando necessário, nenhum assinalou a alternativa “Todos os dias”. Perguntado o que mais influenciava na compra de um medicamento, 19% afirmaram ser a propaganda, 20% o preço, 20% balconista, 41% indicação de familiares, amigos ou vizinhos.

Os resultados mostrados pelas tabelas 1 e 2, demonstram o impacto de ações de educação realizadas por profissionais ligados às áreas de Ciências Farmacêuticas, Medicina e Educação para a Promoção da Saúde.

Foi observado que após a explanação dos palestrantes houve uma significativa mudança nas respostas visualizadas nos questionários. Antes da palestra, 74% dos ouvintes acreditavam que o uso de remédios caseiros ou naturais podem provocar algum mal à saúde e, após a palestra, esse número se elevou para 84%. Antes da palestra, 56% do público afirmava que praticava automedicação, após a palestra houve um aumento para 72%. Acredita-se que os conceitos abordados pelos palestrantes influenciaram muito na opinião dos participantes. Durante o seminário foram abordados conceitos sobre medicamentos, remédios, posologia e os perigos da automedicação e do uso de remédios caseiros, informando a importância de um produto ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária e, por isso, houve essa mudança de pensamento, refletido nas respostas dos questionários.

Segundo as respostas expressas nos questionários, todos sabiam o que o significava “uso racional de medicamentos” antes da palestra, porém eles admitiram sofrer a influência de vizinhos e amigos no momento da aquisição dos medicamentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A informação e a educação continuada sobre O uso racional de medicamentos para a população é de extrema importância. A publicidade e a propaganda são elaboradas para que os consumidores tenham uma resposta emocional ao recebê-la. Os estrategistas de marketing sabem que as pessoas têm necessidade de sentimentos e não de produtos. No caso de medicamentos os sentimentos são as necessidades básicas de segurança e bem- estar. A exploração do novo também é um recurso muito comum nas propagandas e publicidade de medicamentos.

Por isto, a educação é o caminho para evitar a influência de propagandas na aquisição e no uso indiscriminado de medicamentos. Uma vez que a única interferência no momento da compra do medicamento deve ser a indicação médica adequada para a patologia que o paciente apresenta.

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PROMOvENDO O USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS NAS ESCOlAS PÚBlICAS QUE PARtICIPAM DO PROJEtO EDUCANvISA

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Selma Rodrigues de Castilho1; Gabriela Deutsch2; Luciana das Flores Fontes2; Sarah de Vares Cação2 ;

Silvana Silva Souza2 ; Joyce Andrade das Flores2.

1 – Docente da Faculdade de Farmácia – Universidade Federal Fluminense – UFF. Coordenadora do projeto

Educanvisa.

2 – Bolsistas do Projeto Ações de Informação e Educação da Faculdade de Farmácia.

Universidade Federal Fluminense – UFF.

RESUMO

O artigo relata a experiência da equipe do projeto Ações de Informação e Educação, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com a Anvisa, na promoção do uso racional de medicamentos entre alunos de escolas da rede pública ligadas ao projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária. A equipe do projeto desenvolveu uma cartilha com jogos para as crianças e uma palestra básica para a discussão dos principais conceitos envolvidos no uso racional de medicamentos. Durante as dinâmicas, incluiu-se o jogo Trilha da Saúde, produzido pela Anvisa, para o qual as perguntas foram adequadas, considerando duas faixas etárias: adolescentes e crianças de 8 a 11 anos de idade. As escolas selecionadas ficam localizadas no município de Maricá, Rio de Janeiro.

INtRODUÇÃO

O uso racional de medicamentos envolve a incorporação de valores e conceitos às práticas individuais e coletivas. Embora a propaganda de medicamentos seja apenas um dos vários problemas relacionados ao mercado de medicamentos brasileiro (HEINECK, 1998), contribui substancialmente na definição de padrões de mercado e de comportamento das pessoas, impactando concretamente as práticas terapêuticas (MASSERA E CAMARGO, 2002), sobretudo por se apresentar em muitas situações

inadequada e enganosa, estabelecendo conflitos permanentes entre empresas, governo e sociedade (FAGUNDES, 2007).

Muitas das estratégias de promoção desses medicamentos na sociedade moderna tendem a promover uma percepção errônea sobre seu verdadeiro papel, seja na manutenção do bem-estar, seja na recuperação da saúde. Aos medicamentos são atribuídos, muitas vezes, exageros de aplicação. Por outro lado, é comum que se veicule igualmente a minimização dos riscos de sua utilização. Embora vários autores já venham discutindo essa questão há décadas (TEMPORÃO, 1986; HERXHEIMER & COLLIER, 1990), ainda hoje é fundamental que se busque assegurar uma utilização de medicamentos de acordo com as necessidades da população e não determinada pela interferência da promoção de medicamentos, realizada pelos seus fabricantes (HUERTAS & CAMPOMAR, 2009; MORAIS, 2003; NASCIMENTO, 2009).

Segundo Huertas e Campomar (2009), no Brasil são atribuídas à propaganda direcionada aos consumidores de medicamentos parte da responsabilidade pelas consequências potencialmente perigosas da automedicação. Para Morais (2003), o quinto lugar ocupado pelo Brasil em consumo de medicamentos no mundo reflete o grave problema do uso abusivo de medicamentos, o que constitui uma ameaça

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à saúde pública. O alcance do uso racional de medicamentos depende, portanto, do fornecimento de contrainformação balizada e atual, que permita aos usuários desses produtos a adequada avaliação da relação risco versus benefício de seu emprego, bem como escolhas fundamentadas no conhecimento científico sobre estes produtos.

As crianças e os adolescentes são uma camada social bastante suscetível tanto às influências da propaganda quanto à ocorrência de eventos adversos aos medicamentos. Tanto é assim, que os medicamentos estão envolvidos em grande parcela das intoxicações registradas pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas – Sinitox (MATOS et al., 2002).

Este trabalho descreve o processo de interação entre a equipe do projeto Ações de Educação e Informação da Universidade Federal Fluminense (UFF) com os estudantes de uma escola municipal de saúde do município de Maricá. O principal objetivo desse trabalho foi despertar nos estudantes a crítica frente ao estímulo massivo para o consumo de medicamentos, bem como o alerta sobre possíveis riscos oriundos desta prática. Através da proposição de situações rotineiras, buscou-se despertar nas crianças o questionamento sobre estas práticas comuns na sociedade brasileira.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Inicialmente, buscou-se contato com as escolas do Estado do Rio de Janeiro que participaram do treinamento fornecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para sua inserção no projeto Educanvisa. A Secretaria de Educação do Município de Maricá atendeu prontamente à solicitação de participação da equipe do projeto da UFF, selecionando três de suas escolas. No entanto, em função de compatibilização de agendas, apenas em uma escola foi possível a participação da universidade.

Uma vez agendada a visita, buscou-se identificar a faixa etária dos alunos que participariam da atividade. O material produzido foi destinado a dois públicos: crianças de 8 a 11 anos de

idade e adolescentes. A abordagem inicial foi a realização de uma palestra, tratando dos principais conceitos relacionados ao uso racional de medicamentos. Em seguida, as crianças foram convidadas a participar de jogos com a equipe, onde novamente o tema central foi o uso racional de medicamentos e as situações cotidianas que nos desviam desse uso.

Para tanto, foram adotados dois instrumentos básicos: (i) uma cartilha contendo jogos infantis como labirintos, imagens para colorir, caça palavras, encruzilhadas e jogos de 7 erros e (ii) o jogo Trilha da Saúde, desenvolvido pela Anvisa. Para a utilização do jogo, as perguntas foram adaptadas para as duas faixas etárias, citadas anteriormente, e foi empregado um tapete de 5 x 6 metros, sendo as crianças os peões do jogo.

Ao final da atividade, as crianças identificaram, por meio da seleção de figuras numa ficha de avaliação, sua satisfação com o evento.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Participaram da atividade 42 crianças, na faixa etária de 1 a 15 anos. A palestra inicial (Figura 1) teve duração de 30 minutos. Em seguida, as crianças foram estimuladas a trazer suas vivências para o grupo. Chamou a atenção da equipe, o número relativamente grande de crianças que já haviam vivenciado, em suas relações próximas, algum episódio envolvendo o uso de medicamentos (3), intoxicações medicamentosas (4) e mesmo condutas incorretas na utilização de medicamentos (8), tais como armazenagem incorreta e reaproveitamento de receitas médicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A grande quantidade de problemas relacionados a medicamentos (PRM) detectados nas prescrições recebidas pela Farmácia Universitária (FAU) da UFF indica a necessidade de desenvolvimento de um protocolo de atenção farmacêutica para orientar e acompanhar o tratamento dos pacientes.

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Mesmo para medicamentos de uso contínuo, como os anti-hipertensivos, é provável que problemas de prescrição dificultem a adesão dos pacientes ao tratamento e gerem eventos adversos relacionados a erros de medicação.

Os resultados também apontam a necessidade de elaboração de cursos de capacitação profissional, que incentivem a promoção do uso racional de medicamentos e promovam a integração dos prescritores com a equipe multiprofissional de saúde.

AgRADECIMENtOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de Iniciação Científica e aos funcionários da FAU/UFF, que foram essenciais para a realização deste estudo.

REFERêNCIAS

FAGUNDES, M. J. D. et al. Análise bioética da propaganda e publicidade de medicamentos. Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.1, 2007.

HEINECK, I. et al. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 14, n. 1, p. 193-198, 1998.

HERXHEIMER, A. e COLLIER, J. Promotion by the British pharmaceutical industry, 1983-8: a critical analysis of self regulation. British Medical Journal, v.300 (6720), p.307-311, 1990.

HUERTAS, M .K .Z.; CAMPOMAR, M. C. Apelos racionais e emocionais na propaganda de medicamentos de prescrição: estudo de um remédio para emagrecer. Ciência & Saúde Coletiva, v.13 (supl.), p.651-662, 2008.

MASSERA, A. P. D.; CAMARGO, J. A. S.; SILVA, L. R. F. J. O controle do comportamento privado para fins públicos: a monitoração de propaganda de medicamentos no Brasil

[Monografia de curso de especialização - Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília]. Brasília: UnB, 2002.

MATOS, G. C. de; ROZENFELD, S.; BORTOLETTO, M. E. Intoxicações medicamentosas em crianças menores de cinco anos. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 2, n. 2, p. 167-176, 2002 .

MORAIS, J. viciados em remédios. Revista Superinteressante, Ed. 185, fev. 2003.

NASCIMENTO, A. C. Propaganda de medicamentos no Brasil: é possível regular? Ciência & Saúde Coletiva, v.14, n. 3, p. 869-877, 2009.

TEMPORÃO, J. G. A Propaganda de Medicamentos e o Mito da Saúde. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.

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PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENtAl DE ESCOlAS DA CIDADE DE gOIâNIA SOBRE vAlORES SOCIAIS E EDUCACIONAIS EM SAÚDE

Universidade Federal de goiás (UFg)

Quino, A. T. 1; Barbosa, L. M.2 ; Guilger, R. C.2; Severo, S. L.2; Freitas, J. S.2; Lima, D. M.3..

1 – Farmacêutica, participante do projeto Educanvisa – Universidade Federal de Goiás.

2 – Acadêmicos do curso de Farmácia, Enfermagem e Medicina.

Bolsistas do projeto Educanvisa – Universidade Federal de Goiás.

3 – Professora da Faculdade de Farmácia, coordenadora do projeto Educanvisa. Universidade Federal de Goiás.

RESUMO

As concepções de saúde que permeiam o ambiente escolar possibilitam o entendimento das ações ali desenvolvidas, em relação à saúde, de acordo com o cotidiano e a realidade de escola. Dessa forma, o professor, na função de promotor de saúde, e a escola, têm papel importante na formação de cidadãos mais conscientes, pois o desenvolvimento cognitivo contribui comprovadamente para o nível de saúde da população – proporcionando a valorização da saúde, o discernimento e a participação em decisões relativas à saúde individual e coletiva. Este trabalho teve por objetivo realizar uma avaliação inicial da percepção de professores de séries de ensino fundamental a respeito de temas que envolvem a promoção da saúde, uso racional de medicamentos e alimentação saudável, e como estes temas são enfocados no projeto pedagógico na escola. Os resultados demonstraram que alguns desses temas já vinham sendo trabalhados em sala de aula, em aulas de Ciências, utilizando recursos didáticos variados, ou por meio de projetos interdisciplinares. Aspectos relacionados ao comportamento dos professores quanto ao uso de medicamentos dão conta que, apesar da maioria dos entrevistados afirmarem não consumir medicamentos frequentemente e compreenderem o conceito de uso racional de medicamentos, existe certa confusão em relação aos riscos do uso de medicamentos isentos de prescrição. Os resultados apontaram, também,

que alguns professores admitiram a influência da propaganda no processo de determinação da aquisição do produto medicamentoso, o que pode sinalizar que o conceito de uso racional de medicamentos precisa ser mais explorado.

INtRODUÇÃO

A promoção da saúde extrapola o campo específico da assistência médico-curativa, baseando-se na concepção de que todos os cidadãos devem ter igual acesso aos recursos que possibilitem a melhoria das condições de vida e saúde de todos: educação, habitação e meio ambiente adequados, emprego e renda, informação, lazer e cultura, saneamento, alimentação, segurança, participação social e serviços de saúde. A disseminação de conteúdos informativos e educativos são as bases para a tomada de decisão e, portanto, componentes importantes da promoção da saúde. Por isso a necessidade da participação da escola no processo de construção de uma vida mais saudável, na busca por qualidade de vida (BRASIL, 2008).

É fato reconhecido que parte do insucesso alcançado pelas campanhas educativas se deve ao não entendimento do receptor da informação sobre o tema que lhe é apresentado. O fracasso das práticas desenvolvidas sem o envolvimento da população-alvo revela, na verdade, o

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profundo desconhecimento dos planejadores da saúde sobre o universo de representações do indivíduo, sua forma de conceber a vida, o trabalho, a saúde e o seu conhecimento prévio sobre o tema a ser ensinado (ANDRADE E COELHO, 1997).

As concepções de saúde que permeiam o ambiente escolar possibilitam o entendimento das ações ali desenvolvidas, em relação à saúde, de acordo com o cotidiano e a realidade da escola. Criar atitudes que incentivem hábitos saudáveis devem ter início na infância, sendo importante a incorporação de educação em saúde no ensino fundamental, especialmente nos anos iniciais, uma vez que atitudes em relação à saúde são constituídas por meio da identificação de valores da comunidade. Dessa forma, o professor, na função de promotor de saúde, e a escola, têm papel importante na formação de cidadãos mais conscientes, pois o desenvolvimento cognitivo contribui comprovadamente para o nível de saúde da população – proporcionando a valorização da saúde, o discernimento e a participação em decisões relativas à saúde individual e coletiva (KARNIKOWSKI E FUNGHETTO, 2008; BRASIL, 2007).

Tendo em vista problemas enfrentados pela sociedade, principalmente com relação ao uso de medicamentos, o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária foi criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com o intuito de desenvolver ações de educação em saúde. O principal enfoque do projeto é a influência da propaganda no consumo de medicamentos e de outros produtos sujeitos à vigilância sanitária. Também trata temas como: automedicação, uso racional de medicamentos e cuidados necessários com o consumo de produtos, como alimentos, cosméticos e saneantes (BRASIL, 2008).

O Educanvisa pretende tornar o aluno um multiplicador do conhecimento, disseminando o conteúdo aprendido na escola à comunidade. A proposta busca incentivar a inclusão dos temas relativos à vigilância sanitária nos currículos escolares e a discussão dessas temáticas nas

comunidades, consistindo em uma ação ampla de promoção da saúde. Objetiva-se, portanto, estimular a mudança de hábitos a partir da atuação na comunidade escolar, com a formação de cidadãos mais esclarecidos quanto ao uso responsável de medicamentos e aos cuidados com a sua saúde e da comunidade (BRASIL, 2008).

Este trabalho teve por objetivo realizar uma avaliação inicial da percepção de professores de séries de ensino fundamental a respeito de temas que envolvem promoção da saúde, uso racional de medicamentos e alimentação saudável, assim como têm sido enfocados no projeto pedagógico na escola.

MAtERIAIS E MÉtODOS

A pesquisa foi realizada com os professores de séries do ensino fundamental de quatro escolas da rede pública municipal da cidade de Goiânia (GO), selecionadas pela Secretaria Municipal de Educação para a implantação do projeto Educanvisa, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e outras instituições.

A coleta de dados foi realizada nos meses de maio e junho de 2009, com a aplicação de um questionário padronizado pelo Educanvisa, e respondido de forma individual e anônima. O instrumento continha perguntas abertas e fechadas sobre dados demográficos, educação em saúde e seu enfoque no projeto pedagógico da escola em que trabalhavam, e percepções quanto à vigilância sanitária, alimentação saudável e uso racional de medicamentos.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Dentre os 53 professores entrevistados, 70% eram do sexo feminino, com idade média de 42 anos, tempo médio de magistério de 18 anos, trabalhando na escola atual há aproximadamente oito anos. A maioria (82%) já com algum curso de pós-graduação.

Temas relacionados à saúde já vinham sendo trabalhados em sala de aula, através da utilização de recursos didáticos variados (26,4%), em aulas

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de Ciências (15%), em projetos interdisciplinares (7,6%) e, em parceria com as unidades de saúde locais, por meio de estratégias de Saúde da Família (5,7%) (Figura 1). É interessante ressaltar que os menos abordados foram vigilância sanitária (53%) e propaganda e uso racional de medicamentos (30%) (Figura 2).

O questionário abrangeu também aspectos relacionados ao comportamento dos professores quanto ao uso de medicamentos. Neste sentido, 96% declararam consumir algum tipo de medicamento, embora a maioria (55%) tenha afirmado que a frequência de uso é rara (Figura 3).

Em relação às classes de medicamentos mais comumente consumidas, as mais citadas foram analgésicos e anti-inflamatórios. Além dessas, foi relatado o consumo de anti-hipertensivos, antibióticos e antidepressivos, dentre outros. O consumo de analgésicos é favorecido pela facilidade de sua aquisição e pela venda sem prescrição médica, além de a população mantê-los disponíveis nas chamadas “farmácias domésticas” e, até mesmo, em escolas. Também possuem uma publicidade massiva e, provavelmente, são os mais recomendados por familiares ou amigos (SILVA, 2004).

A Portaria Interministerial nº 1.010, de 8 de maio de 2006, institui as diretrizes para promoção da alimentação saudável nas escolas, sendo que um de seus eixos prioritários é a educação alimentar e nutricional (BRASIL, 2006). A educação nutricional no âmbito escolar deve encorajar uma mudança científica e sociocultural na forma de viver dos alunos, repercutindo em melhores oportunidades de auxiliar as crianças e os adultos na escolha de alimentos (FERNANDES E SILVA, 2008). A partir dessa informação, foi verificado, no questionário aplicado, o conhecimento dos professores sobre os conceitos básicos relacionados à alimentação saudável, sendo que 94% demonstraram ter conhecimento suficiente sobre o tema. Isso pode ser correlacionado com a maior abordagem do tema alimentação saudável em sala de aula (85%), conforme descrito anteriormente na figura 1.

Também foi abordado o conhecimento sobre conceitos relacionados ao uso de medicamentos e

constatado que 79% têm noção da finalidade terapêutica e curativa dos medicamentos, porém, muitos desconhecem outras finalidades, tais como: profilática (66%), paliativa (41%) e de diagnóstico (86%). Dos respondentes, 71% têm conhecimento sobre o conceito de medicamentos essenciais, 88% entendem o que são medicamentos tarjados e 79% compreendem o que é automedicação, apesar de 62% deles fazerem confusão quanto ao conceito de dispensação de medicamentos.

A automedicação é uma prática comum no cotidiano da população brasileira e envolve diversos aspectos, dentre eles a propaganda. De acordo com a Anvisa, a propaganda é um método que estimula o consumo de medicamentos, pois engloba um conjunto de técnicas utilizadas para divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princípios, ideias ou teorias, visando exercer influência sobre o público. Baseando-se nessas informações, foi percebido que 76% dos que responderam ao questionário compreendem a influência da propaganda sobre o público leigo. Sendo que 92% afirmaram entender o conceito de uso racional de medicamentos; porém, 85% fizeram confusão quanto aos riscos e benefícios de medicamentos isentos de prescrição. Em relação à influência da propaganda no consumo de medicamentos, 34% admitiram que a escolha do medicamento utilizado baseou-se na divulgação de produtos farmacêuticos na mídia (Figura 4).

Esse resultado pode estar correlacionado à declaração de que a maioria (62%) utiliza medicamentos por conta própria, ou seja, optam pela prática da automedicação. Tal prática não está isenta de riscos, como o de mascarar doenças graves, com o consequente atraso no diagnóstico ou prejuízo no seguimento médico de situações potencialmente graves, além da possibilidade de utilização inadequada dos medicamentos e a interação entre medicamentos prescritos e não prescritos (VASCO, 2000).

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Figura 2: Principais assuntos abordados dentro da educação em saúde no projeto pedagógico da escola.

Figura 3: Declaração de frequência de consumo de medicamentos por parte dos professores.

Figura 1: Disciplinas ou atividades onde estão inseridos os temas relacionados à promoção da saúde e como esta está sendo trabalhada na escola.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo demonstraram que, apesar de a maioria dos educadores apresentarem um grau de escolaridade com pós-graduação e afirmarem trabalhar com algumas questões sobre educação em saúde em sala de aula, ainda existem algumas deficiências relacionadas aos conhecimentos sobre a propaganda e o uso racional de medicamentos e vigilância sanitária. Portanto, pode-se detectar

a necessidade da formação de multiplicadores que poderão contribuir para o desenvolvimento de práticas educativas relevantes, envolvendo temas sobre vigilância sanitária na comunidade escolar, com a consequente formação de cidadãos mais conscientes e participantes da construção e melhoria de condições saudáveis de vida (BRASIL, 2007; COELHO, 1993).

Figura 4: Influência da propaganda sobre a compra de medicamentos.

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REFERêNCIAS

ANDRADE, V.; Coelho, M. A. S. M. O processo educacional na promoção de ações comunitárias em saúde. Revista Brasileira de Cancerologia, v.43,n.1,p.57-63,1997.

BRASIL. Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria Interministerial de 10 de maio de 2006. Brasília, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Projeto Educação e Promoção da Saúde no Contexto Escolar: o contributo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso racional de medicamentos. Caderno do professor. Brasília: Anvisa, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. vigilância Sanitária e Escola: parceiros na construção da cidadania. Brasília: Anvisa, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Relatório Final - Educação para o Consumo Responsável de Medicamentos e de outros Produtos Sujeitos à vigilância Sanitária: Educanvisa. Brasília: Anvisa, 2008.

COELHO, M. A. S. M.; RIBEIRO, E. C. Metodologia para o desenvolvimento de programas de educação para a saúde em áreas de garimpo de ouro. In: Mercúrio em áreas de garimpo de ouro. Câmara V. M (editor) - OPS. México, 1993.

FERNANDEZ, P. M.; SILVA, D. O. Descrição das noções conceituais sobre os grupos alimentares por professores de 1ª a 4ª série: a necessidade de atualização dos conceitos. Ciência & Educação, v. 14, n. 3, p. 451-66, 2008.

Karnikowski, M. G. de O.; Funghetto, S. S. Projeto Piloto: O Contributo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso racional de medicamentos. Brasília: Anvisa, 2008.

SILVA, C. H. da; GIUGLIANI, E. R. J. Consumo de medicamentos em adolescentes escolares: uma preocupação. Jornal de Pediatria, v.80, n.4, 2004.

VASCO, A. J. M. Automedicação, custos e saúde [editorial]. Revista Portuguesa de Clínica Geral, v.16, p.11-14, 2000.

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ESCOlAS: IMPACtOS DA PROPAgANDA DE MEDICAMENtOS E PROMOÇÃO DA AlIMENtAÇÃO SAUDávEl

Universidade Federal de Juiz de Fora (UJF)

Lilian Henriques do Amaral1; Vivian Henriques do Amaral2; Luiz Paulo Reis Santos1; Thais de Sá Pecis1; Carolina

Pires de Araújo3; Allan Pereira3; Larissa Pereira Brumano1; Simone Gatti Ferreira Reis4; Miriam Aparecida de

Oliveira Pinto5; Maria da Penha Henriques do Amaral5

1-Graduando em Farmácia –Faculdade de Farmácia e Bioquímica (UFJF).

2 - Graduanda em Medicina - Faculdade de Medicina (UFJF).

3 - Graduando em Comunicação Social - Faculdade de Comunicação Social (UFJF).

4 - Cirurgiã Dentista, Especialista em Vigilância Sanitária, Supervisora de Educação em Saúde da Vigilância Sani-

tária Municipal – Juiz de Fora (MG).

5 - Professora Doutora Associada - Faculdade de Farmácia e Bioquímica (UFJF).

RESUMO

A saúde no Brasil é um direito universal e dever do Estado. Para o cumprimento deste direito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem como uma de suas atribuições a educação em vigilância sanitária, incluindo o uso racional de medicamentos e de alimentos, mediante o monitoramento de suas propagandas. Desde 2007, o projeto Educanvisa, promovido pela Anvisa em parceria com escolas públicas de todo o Brasil, incluindo Juiz de Fora, vem introduzindo temas de vigilância sanitária no ambiente de ensino, colocando em pauta assuntos que, até então, não faziam parte das agendas escolares de maneira tão evidente.Temas como o uso racional de medicamentos, o problema da automedicação, a propaganda enganosa de medicamentos e de alimentos funcionais veiculadas nas mídias, e questões relativas à educação em saúde (em especial, os conceitos de uma alimentação saudável) passam a fazer parte dos currículos em algumas escolas da rede municipal de ensino. Em 2009, a Anvisa realizou o projeto educacional A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio para ser desenvolvido por instituições de ensino superior do país, incluindo a Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal de Juiz de Fora (FFB/UFJF), em parceria com as Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal e com

a Secretaria de Educação Municipal. As escolas participantes foram: Escola Municipal Paulo Japiassu; Escola Municipal União da Bethânia; Escola Municipal George Rodenbach; Escola Municipal Arlete Bastos Magalhães; Escola Municipal Marília de Dirceu. Participaram das palestras 699 alunos. O projeto A Promoção da Saúde nas Ondas do Rádio promoveu uma construção ativa do conhecimento em saúde, a partir de contextos escolares interativos problematizadores, utilizando uma metodologia que uniu universidade, vigilância sanitária, secretaria de educação e escolas do ensino fundamental.

INtRODUÇÃO

A saúde no Brasil é um direito universal e dever do Estado. Para o cumprimento deste direito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem como uma de suas atribuições a educação em vigilância sanitária, incluindo o uso racional de medicamentos e de alimentos, mediante o monitoramento de suas propagandas.

Os medicamentos não são mercadorias que possam ser oferecidas da mesma maneira que outros bens e serviços passíveis de regras

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do livre mercado. Para os medicamentos e produtos sujeitos à vigilância sanitária, a Anvisa editou regulamentos e resoluções sobre a sua propaganda, com o intuito de proteger a população (FAGUNDES et al., 2007; BRASIL, 2008).

Este controle da propaganda é eticamente defensável, uma vez que, em questões básicas como a saúde pública, o Estado deve tomar a frente e intervir no compromisso de proteger a população contra o iminente risco sanitário que o consumo descontrolado de medicamentos representa (FAGUNDES et al., 2007). Entretanto, os relatos desta autora e colaboradores e de Heineck et al. (1998) demonstraram que existe alta frequência de propaganda enganosa de medicamentos e de alimentos.

Estudos demonstram que uma alimentação inadequada pode trazer riscos à saúde (FRANCO, 2006). Segundo o Departamento de Saúde e Serviços Humanos nos Estados Unidos, a dieta foi associada a cinco das dez principais causas de morte: doenças coronarianas, alguns tipos de câncer, diabetes tipo dois, arteriosclerose e derrame (HASLER, 2002). Portanto, é fundamental a educação para a alimentação saudável no ambiente escolar.

É importante que este tema seja discutido nas instituições de ensino como universidades e escolas de ensino fundamental e médio, secretarias de educação e de saúde, meios de comunicação incluindo o rádio, cujo acesso atinge as diversas categorias da população.

Neste sentido, a Anvisa criou o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, que é uma ação de educação da Agência, realizada por meio da Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO). As atividades foram iniciadas em 2005 com ações educativas direcionadas ao uso correto de medicamentos, que, inicialmente, contaram com o apoio do Ministério da Justiça.

Desde 2007, o projeto Educanvisa, em Juiz de Fora, vem introduzindo temas de vigilância sanitária no ambiente de ensino, colocando em pauta assuntos que, até então, não faziam parte das agendas escolares de maneira tão evidente.

Temas como o uso racional de medicamentos, o problema da automedicação, a propaganda enganosa de medicamentos e de alimentos com alegação de propriedades funcionais veiculadas nas mídias, e questões relativas à educação em saúde (em especial, os conceitos de uma alimentação saudável) passam a fazer parte dos currículos em algumas escolas da Rede Municipal de Ensino do município.

Baseando-se nestes argumentos, a GGPRO realizou, em 2009, o projeto educacional A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio para ser desenvolvido por instituições de ensino superior do país, incluindo a Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal de Juiz de Fora (FFB/UFJF), em parceria com as Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal e Secretaria de Educação Municipal.

MAtERIAIS E MÉtODOS

A supervisora de educação em saúde da Vigilância Sanitária de Juiz de Fora com o representante da Secretaria de Educação Municipal contactaram cinco escolas de ensino fundamental participantes do Educanvisa para o desenvolvimento do novo projeto promovido pela Anvisa intitulado A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio.

Foram desenvolvidas palestras educativas e de sensibilização para os professores e alunos das escolas de ensino fundamental, mediante a visita pré-agendada pela equipe do projeto. Foram utilizados recursos audiovisuais como data-show, cartazes e folder informativo, elaborados pela equipe.

Os temas apresentados foram: a propaganda de medicamentos e alimentos veiculadas no rádio;

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riscos da automedicação; alimentação saudável; e importância da higiene na preparação dos alimentos.

As escolas participantes dessa atividade foram a Escola Municipal Paulo Japiassu; Escola Municipal União da Bethânia; Escola Municipal George Rodenbach; Escola Municipal Arlete Bastos Magalhães; e Escola Municipal Marília de Dirceu.

A supervisora de educação em saúde da Vigilância Sanitária distribuiu para os professores participantes um questionário de avaliação das atividades desenvolvidas nas escolas pela equipe. As respostas dos questionários foram avaliadas pela equipe do projeto.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Estudos sobre o papel da vigilância sanitária na saúde escolar, os riscos de consumo de medicamentos sem a prescrição e orientação médica, a influência das propagandas de “remédios” veiculadas nas mídias em geral, que acabam por induzir ao uso de produtos que vendem promessas enganosas, entre outros assuntos, foram trabalhados e esclarecidos pela equipe acadêmica em parceria com alunos e professores nas escolas. Termos como reações adversas; contraindicação; composição; e modo de uso, também foram discutidos. Participaram das palestras 699 alunos (Tabela 1).

tabela 1 – Número de alunos participantes nas palestras por escola.

ESCOlAS Nº DE AlUNOS

Escola Municipal George Rodenbach 126

Escola Municipal Arlete Bastos 120

Escola Municipal Marília de Dirceu 163

Escola Municipal Dr. Paulo Japyassu 120

Escola Municipal União da Bethânia 150

tOtAl 699

Foi distribuído um material informativo tipo folder com os temas apresentados nas palestras para os alunos e professores.

Com base nas respostas dos questionários de avaliação distribuídos para os professores das escolas participantes destacam-se: a conscientização sobre os riscos da automedicação e a importância da prescrição médica; mudanças nos hábitos de higiene dos alunos e cuidados com o ambiente em que vivem; introdução de hábitos alimentares mais saudáveis; visão crítica sobre as propagandas e o papel da mídia; formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a saúde pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades realizadas nas escolas apresentaram resultados positivos e significativos para a promoção da saúde no contexto escolar. A promoção de discussões sobre a propaganda de medicamentos, de alimentos e da alimentação saudável com a participação de alunos de ensino fundamental é de grande importância para a disseminação da informação, uma vez que os alunos levam para dentro de suas casas os conhecimentos adquiridos. O conhecimento é um dos fatores que contribui para diminuir os riscos sanitários vinculados às propagandas enganosas dos medicamentos e alimentos.

Dessa forma, o projeto A Promoção da Saúde nas Ondas do Rádio promoveu uma construção ativa do conhecimento em saúde, a partir de contextos escolares interativos problematizadores, utilizando uma metodologia que uniu universidade, vigilância sanitária, secretaria de educação e escolas do ensino fundamental.

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REFERêNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada RDC n° 96, de 17 de dezembro 2008. Brasília: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 18 de dezembro de 2008. Seção 1, p. 102-105.

FAGUNDES, M. J. D. et al. Análise bioética da propaganda da publicidade de medicamentos. Ciência e Saúde Coletiva, v.12, n.1, p.221-229, 2007.

FRANCO, R. C. Análise comparativa de legislações internacionais referentes aos alimentos funcionais [Dissertação de Mestrado – Nutrição Humana Aplicada – PRONUT – FCF/FEA/FSP-USP]. São Paulo: USP, 2006.

HASLER, C. M. Functional foods: benefits, concerns and challenges: a position paper from the American Council on Science and Health, the American Society for Nutitional Sciences. Journal of Nutrition, v.132, p.3772-3781, 2002.

HEINECK. I. et al. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.14, n.1, p.193-198,1998.

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tRABAlHO EDUCAtIvO COM EStUDANtES DE ENSINO FUNDAMENtAl: UMA ABORDAgEM SOBRE MEDICAMENtOS, AlIMENtAÇÃO E lEgISlAÇÃO DE PROPAgANDA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Thays Cláudia da Silva Nascimento1 ; Alessandro Carvalho dos Santos1 ; Tamiris Fernanda Lima Silva1; Luana

Dias da Cunha1; Nataniele Ferreira Viana1; Nelson Machado do Carmo Júnior1; Ráysa Hellen Assunção Costa1;

Norma Dalva Duailibe Barros2; Márcia Cristina Martins Pontes3; Aline Guimarães Amorim4;Antônio Carlos

Romão Borges4.

1 - Acadêmicos da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.

2 - Representante da Vigilância Sanitária do Estado do Maranhão.

3 - Representante da Secretaria Municipal de Educação de São Luís (MA).

4 - Professor do Laboratório de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Produtos sob Vigilância Sanitária –

Universidade Federal do Maranhão – UFMA..

RESUMO

O interesse na realização do estudo é contribuir para tornar estudantes de ensino fundamental mais conscientes quanto ao uso racional de medicamentos, alimentação saudável e a influência da propaganda sobre medicamentos, alimentos e produtos para a saúde. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil dos alunos e pais de quatro escolas públicas municipais de São Luís quanto ao uso racional de medicamentos, alimentação saudável e propaganda de medicamentos e alimentos. A metodologia utilizada baseou-se na aplicação de questionários com perguntas direcionadas aos alunos (n=138), antes e após palestras educativas, exibição de vídeos, e utilização de jogos educativos. A pesquisa foi de natureza quantitativa, evidenciada por meio de gráficos e porcentagem. Foram aplicados questionários em dois níveis de análise, antes e após intervenção educacional. Os resultados demonstraram que a propaganda não foi um determinante das escolhas alimentares dos alunos, visto que 90% dos alunos após as ações indicaram não pedir aos pais para comprarem alimentos vistos em propagandas. O que aparentou influenciar mais os pais na escolha de medicamentos após a intervenção foi a prescrição médica. Observou-se que tanto as influências da propaganda e do preço no consumo dos pais decaíram,

assim como a do balconista e da indicação de familiares, amigos ou vizinhos. Em suma, o trabalho educativo com os estudantes e seu pais os levaram a ter um novo olhar crítico sobre uso racional de medicamentos, alimentação saudável, enquanto a propaganda de alimentos e medicamentos exerceu um percentual mínimo de influência sobre as suas escolhas de consumo.

INtRODUÇÃO

O uso racional de medicamentos acontece quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados, em doses que satisfaçam as necessidades individuais, por um período de tempo adequado, e com o menor custo para eles e para a sua comunidade. Configura-se uma situação de uso irracional quando uma ou mais destas condições não forem cumpridas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004).

Estimativas mundiais apontam que, diante de uma aquisição medicamentosa, mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade dos pacientes não tomam seus remédios de forma correta. Cerca de dois terços das vendas mundiais de antibióticos, por

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exemplo, ocorrem sem qualquer prescrição. Estudos na Indonésia, no Paquistão e na Índia mostraram que mais de 70% das compras eram de antibióticos de venda sob prescrição médica. Adiciona-se a isso que até 90% das injeções aplicadas, em todo o mundo, sejam consideradas dispensáveis (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004).

A automedicação é uma esfera contribuinte ao uso irracional de medicamentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define automedicação como a seleção e o uso de medicamentos por pessoas para tratar de doenças autodiagnosticadas ou de seus sintomas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998).

Segundo Nascimento (2000) são inúmeros os prejuízos da automedicação, incluindo gastos supérfluos, atrasos no diagnóstico e na adoção da terapêutica adequada, além de efeitos indesejáveis, tais como: reações alérgicas, intoxicação, acidentes digestivos, cutâneos, hematológicos, renais etc. Outra problemática levantada é a dissimulação de alguns efeitos adversos e sua confusão com os sinais e sintomas da doença que motivou o consumo.

Os efeitos indesejados mais graves podem levar o paciente à internação hospitalar ou à morte. Dose errada, frequência inadequada, período insuficiente ou demasiado de consumo, combinação com outros medicamentos, com o álcool ou outras drogas são alguns dos erros mais comuns que podem desencadear reações das mais diversas.

Dados de 2007, do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), revelam que a intoxicação por medicamentos foi responsável por 30,31% dos casos registrados de intoxicação humana entre todos os agentes tóxicos. Foram registradas 34.068 intoxicações por medicamentos de um total de 112.403 casos notificados naquele ano (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2007).

Embora os consumidores sejam influenciados primeiramente pelos prescritores e balconistas de farmácia, a mídia exerce papel preponderante

sobre as preferências dos consumidores brasileiros, influenciando o consumo exagerado ou inadequado de produtos medicamentosos (GOMES et al., 2000).

Nesse contexto, a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008, estabeleceu normas sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos. Essa resolução conceitua a propaganda como um

(...) conjunto de técnicas e atividades de

informação e persuasão com o objetivo de

divulgar conhecimentos, tornar mais conhecido

e/ou prestigiado determinado produto ou marca,

visando exercer influência sobre o público por meio

de ações que objetivem promover e/ou induzir à

prescrição, dispensação, aquisição e utilização de

medicamento (BRASIL, 2008).

De acordo com a Associação Brasileira de Propaganda (2006), ao medir o grau de conhecimento da população sobre as restrições à propaganda de determinados produtos, 69% dos entrevistados afirmaram desconhecimento sobre o assunto, ou asseguraram que nenhum produto sofre restrições. Apenas 1% dos participantes da pesquisa fez referência a remédios/medicamentos.

Para Nascimento (2000), as propostas de reforma que têm em vista o uso racional de medicamentos costumam contemplar o acesso dos pacientes a informações farmacológicas básicas, de maneira a propiciar uma utilização adequada e eficiente. Defende que essas informações têm que estar disponíveis desde a fase escolar, como parte da educação de futuros cidadãos.

São raríssimos os estudos que avaliem o consumo de medicamentos especificamente entre os adolescentes. Esta faixa etária é caracterizada pelo desenvolvimento de capacidades e julgamentos cognitivos individuais, os quais podem influenciar, de forma independente, os

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resultados de alguns estudos. Além disso, os jovens tem sido alvo frequente de campanhas publicitárias, por seu alto poder de consumo, inclusive no âmbito das propagandas de medicamentos (DA SILVA, 2004).

No que se refere à alimentação saudável, o Brasil registrou, nas últimas décadas, importante aumento ponderal na prevalência de obesidade/sobrepeso, conforme dados da OMS, e hoje se acredita que aproximadamente 32,2% da população estejam acima da faixa de peso ideal. Nas regiões menos desenvolvidas como no Nordeste, os dados de prevalência são mais modestos quando comparados às regiões Sul e Sudeste.

De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a obesidade na infância e na adolescência é o problema nutricional que mais rapidamente cresce no mundo inteiro. No Brasil, já há mais crianças obesas do que desnutridas, e os dados epidemiológicos mais recentes apontam que aproximadamente 15% dos jovens brasileiros estão acima do peso.

A respeito da influência da mídia – especialmente a televisiva – na determinação das escolhas alimentares, Almeida et al. (2002), ao analisarem a quantidade e qualidade de produtos alimentícios anunciados na televisão brasileira, afirmam que, independente do horário e do dia, os produtos alimentícios foram os mais frequentemente veiculados quando comparados aos outros produtos, havendo predomínio de alimentos com altos teores de gordura e/ou açúcar e sal, fato este que pode estar contribuindo para a mudança nos hábitos alimentares de crianças e jovens e, consequentemente, agravando o problema da obesidade na população.

Conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, a alimentação saudável deve ser entendida como o padrão alimentar adequado às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos, de acordo com as fases do curso da vida. Para a

Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN), do Ministério da Saúde, as ações de promoção da alimentação saudável têm como enfoque o resgate de hábitos e práticas alimentares regionais que valorizem a produção e o consumo de alimentos locais de baixo custo e elevado valor nutritivo, bem como padrões alimentares mais variados, desde os primeiros anos de vida até a idade adulta e a velhice. A este respeito, diferentes ações têm sido pensadas no sentido de favorecer a adoção de práticas alimentares e de estilo de vida saudáveis, tendo como foco a criação de ambientes favoráveis, o desenvolvimento de habilidades pessoais, a mobilização e a participação social.

Por ser a obesidade uma doença de difícil tratamento, a melhor maneira de combater esse agravante é trabalhar com medidas preventivas. Neste sentido, a escola é a melhor janela de oportunidade para prevenir essa patologia, por uma série de motivos, dentre os quais: o fato de ser um local onde a criança realiza pelo menos uma refeição, e o potencial da criança de ser agente de mudanças nos hábitos alimentares da família (VIUNISKI, 2003).

Abordar a questão da alimentação saudável no contexto social e educacional é uma preocupação do Ministério da Saúde, no intuito de substituir alimentos não saudáveis por alimentos saudáveis. Desta forma, torna-se relevante que sejam incluídas na proposta pedagógica das instituições de educação infantil, de ensino fundamental e de ensino médio atividades que contribuam para uma vida saudável.

No que se refere à legislação, no Brasil, alguns lugares como Santa Catarina (lei n° 12.061/01), Rio de Janeiro (decreto nº 21.217/02 e lei nº 4.508/05), Paraná (leis n° 14.423/04 e nº 14.855/05) e Distrito Federal (lei n° 3.695/05) estabeleceram normas jurídicas com a finalidade de incentivar a alimentação saudável nas escolas através do controle da comercialização de alimentos nas cantinas e lanchonetes (PASSOS et al. , 2006).

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A Consulta Pública n° 71, de 10 de novembro de 2006, trata especificamente da propaganda e outras práticas que tenham por objetivo divulgar informações sobre alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura saturada, gordura trans, sódio e de bebidas com baixo teor nutricional. Lista os requisitos para propaganda, publicidade ou promoção de alimentos destinados às crianças, tornando proibido para os alimentos citados, entre outras recomendações: utilizar figuras e desenhos que sejam admirados pelo público alvo; informar ou sugerir que qualquer tipo de alimento seja nutricionalmente completo ou que supra todas as necessidades nutricionais dos seres humanos, excetuando-se o leite materno quando consumido até o seis meses de idade; encorajar práticas e estilos de vida que estimulem situações perigosas ou potencialmente prejudiciais à saúde, da mesma forma que é vedado desencorajar aqueles considerados benéficos à saúde; desencorajar o consumo de alimentos considerados saudáveis, principalmente no que diz respeito aos vegetais frescos, tais como: cereais integrais, frutas, legumes, verduras e leguminosas; explorar negativamente a confiança especial que as crianças depositam em seus pais, educadores, irmãos e personalidades/personagens que possuam grande aceitabilidade por estes grupos populacionais; encorajar direta ou indiretamente crianças a persuadir seus pais e outros a adquirir ou consumir os alimentos e as bebidas citados (BRASIL, 2006).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária exerce um importante papel na defesa da saúde do consumidor, protegendo a pessoa e a família da propaganda de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária que possam oferecer perigo à saúde e ao meio ambiente, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização desses produtos e serviços, dentre os quais os medicamentos e os alimentos.

Nesse sentido, o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, no contexto da promoção da saúde, busca disseminar conceitos de saúde que tenham relação direta

com o trabalho da Anvisa, como prevenir riscos associados ao consumo de medicamentos e de alimentos industrializados, através de ações que contemplem os riscos e cuidados necessários à utilização de produtos sujeitos à vigilância sanitária e discutam a influência da propaganda.

O presente trabalho objetivou avaliar o perfil dos alunos e pais de quatro escolas públicas municipais de São Luís quanto ao uso racional de medicamentos e à alimentação saudável, no que se refere à presença de riscos associados ao consumo de medicamentos e de alimentos industrializados bem como aos aspectos relacionados à propaganda de medicamentos e alimentos.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Este estudo foi realizado de forma prospectiva, com a aplicação de um questionário de avaliação do conhecimento, desenvolvido e validado pela Anvisa, aos alunos matriculados no ensino fundamental de quatro escolas municipais de São Luís (MA) e aos seus pais, de acordo com a listagem fornecida pela Secretaria Municipal de Educação de São Luís (Semed), prevendo os seguintes temas: uso racional de medicamentos, alimentação saudável, propaganda de medicamentos e propaganda de alimentos.

Após a aplicação de questionário para avaliação do conhecimento prévio – o qual foi respondido de forma individual e anônima, sob a supervisão de um entrevistador previamente treinado –, a temática foi abordada de forma transversal nas disciplinas curriculares. Para isso, foram desenvolvidas oficinas com os alunos, com aulas expositivas, abrangendo os temas citados acima; exibição de vídeos com propaganda de medicamentos e alimentos; e realização de dinâmicas por meio de jogos educativos desenvolvidos pela Agência para este fim. Os pais, por sua vez, participaram de reuniões regulares realizadas nas escolas, que trataram dos mesmos temas. Ao fim das atividades, os questionários foram novamente aplicados com

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a finalidade de avaliar o impacto do projeto na percepção de pais e alunos sobre os assuntos abordados.

O Projeto foi realizado pela Universidade Federal do Maranhão em parceria com a Anvisa, Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Superintendência de Vigilância Sanitária do Estado do Maranhão e Secretaria Municipal de Educação de São Luís.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Após as atividades realizadas com os alunos, em que foi esclarecida a importância da prática da alimentação saudável e do uso racional de medicamentos, foram obtidos resultados relevantes quanto ao entendimento de práticas adequadas de alimentação e medicação, e obtenção de uma postura crítica acerca do que é exposto nas propagandas.

Responderam aos questionários 138 alunos. Quando questionados sobre o conteúdo das propagandas de medicamentos, 23% acreditavam que a propaganda continha informações suficientes para a utilização de medicamentos. Após a intervenção, apenas 10% mantiveram a mesma opinião.

No quesito relacionado à frequência com que os alunos pedem aos pais e/ou responsáveis para comprar alimentos que viram na propaganda, 67% relataram que não possuíam esse hábito antes da execução das atividades. Dados obtidos após as atividades apontam um aumento de 23% nesse percentual, fato que demonstra não ser a propaganda um determinante das escolhas alimentares. Resultados contrários foram descritos por Miotto e Oliveira (2006), os quais relataram forte influência da propaganda no desejo de consumo de alimentos, revelando ainda que a maior parte das mães das crianças estudadas atendia, sempre que possível, ao pedido de seus filhos.

Na análise dos hábitos alimentares foram incluídas opções de alimentos nutritivos como frutas e sucos naturais, além de alimentos ricos em gordura, açúcar e sódio como refrigerantes, salgadinhos, doces e biscoitos recheados. Do total de alunos, 39% declararam consumir frutas e sucos naturais, enquanto os outros 61% preferem as opções menos saudáveis. Ao final das atividades, observou-se aumento de 35% no consumo de frutas e sucos naturais e redução para 26% na preferência por refrigerantes e alimentos afins (Figura 1).

Figura 1- Alimentos mais consumidos relatados pelos alunos.

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Resultados semelhantes foram encontrados por Fernandes et al. (2009) em estudo realizado com escolares do ensino fundamental de duas instituições de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina. A melhora na qualidade nutricional, vista a partir do consumo alimentar após intervenção educacional, também foi descrita por Sahota et al. (2001) e Gabriel et al. (2008).

Sobre a escolha do lanche na escola, em casa ou em passeios, 28% atribuíram sua escolha à orientação dos pais e/ou responsáveis,

enquanto 7% a relacionaram ao que viram na propaganda, 57% afirmaram optar por alimentos considerados saudáveis e 8% evidenciaram a influência dos amigos. Quando novamente questionados sobre o mesmo assunto, 30% relacionaram à orientação dos pais e/ou responsáveis, houve redução de 6% na relação da escolha à propaganda, aumento de 10% na motivação da escolha por alimentos saudáveis e redução de 7% na influência dos amigos (Figura 2).

Miotto e Oliveira (2006), em investigação das preferências alimentares e programas de televisão assistidos por crianças de 7 a 10 anos matriculadas no ensino fundamental de uma escola filantrópica no Paraná, relataram não haver associação entre as preferências alimentares e a mídia. Ressaltam, porém, a necessidade da realização de mais estudos que avaliem a influência da mídia em contraposição aos programas de educação nutricional.

Dentre as perguntas direcionadas aos pais (n=128), 59% afirmaram usar medicamentos sem orientação do médico, dentista ou farmacêutico. Após as ações, 27% disseram que

Figura 2- Fatores que influenciam a escolha de lanches na escola, em casa ou em passeios.

ainda cometem essa prática. Na primeira fase, 25% consideraram que a propaganda contém informações suficientes para a utilização de medicamentos, esse número caiu para 10% na fase final do projeto. Do total de pais que responderam ao primeiro questionário, 22% declararam comprar alimentos porque os filhos viram na propaganda. Quando novamente questionados sobre o mesmo assunto, apenas 7% atestaram continuar com a mesma conduta.

Pesquisa realizada em Porto Alegre, por Silva e Giugliani (2004), investigou o hábito de consumo de medicamentos pelos alunos e pelos demais

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membros da família que residiam no mesmo domicílio. Observou-se que mais da metade das declarações de consumo de medicamentos se referia ao uso sem prescrição médica. A orientação dos pais e/ou responsáveis para o consumo de medicamentos esteve presente em 50,8% das respostas ao inquérito, contribuindo para a prática de automedicação em 12,3% dos escolares estudados. Ainda no mesmo estudo, os autores relataram percentuais elevados no consumo de medicamentos no ambiente familiar, demonstrando, ainda, que nas famílias avaliadas, as mães são as maiores consumidoras de medicamentos, seguidas pelos pais.

Em estudo realizado, Pereira et al. (2007) encontraram que 20,1% dos casos de automedicação entre crianças e adolescentes ocorreram por orientação de consulta na

farmácia, fato comum no Brasil e em outros países. Apesar de a mídia, na visão dos entrevistados, ter contribuído com somente 1,8% da automedicação, eles consideram que seu poder provavelmente tem sido subestimado pelos responsáveis pela automedicação.

Quanto aos locais escolhidos para o armazenamento de medicamentos, na fase inicial 47% responderam ser em armários de difícil acesso; 26% cozinha; 2% no banheiro; e os outros 25% não guardam em local específico. Na fase final, os resultados obtidos demonstraram a ocorrência de importante alteração nesse perfil, passando para 80% aqueles que guardam medicamentos em armários de difícil acesso, enquanto que 9% apontaram a cozinha e 3% o banheiro como local de escolha para a guarda de medicamentos (Figura 3).

Figura 3 - Locais de escolha dos pais para guardar medicamentos.

Ao pesquisarem sobre os locais de armazenamento de medicamentos em domicílios de um município brasileiro, Margonato et al. (2008) constataram que em 51,4% das residências visitadas os produtos eram guardados na cozinha, enquanto em 33,3% das residências o local de armazenamento era um dos quartos. Sala e outro cômodo

qualquer perfizeram um total de 12,5%. Estes números podem estar diretamente relacionados à influência e determinantes nas intoxicações medicamentosas agudas. Tourinho et al. (2008) encontraram como principais cômodos de guarda dos medicamentos os dormitórios (47,5%) e, em seguida, as cozinhas (29,9%) e os banheiros (14,6%). Em seu trabalho,

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Figura 4 - Frequência de compra de medicamentos em drogarias/farmácias.

Figura 5 - Fatores que exercem maior influência na compra de medicamentos.

observou-se que a guarda de medicamentos no banheiro pode ser um fator de risco para a automedicação, talvez pela maior facilidade de acesso e visualização dos produtos.

A respeito da frequência de compras de medicamentos, 86% dos entrevistados informaram comprar somente quando necessário, 10% uma vez por mês e 3% uma vez por semana. Na fase final, 77% confirmam a compra somente quando necessário, 16% uma vez por mês e 7% uma vez por semana. Em ambas as fases ninguém afirmou comprar medicamentos todos os dias (Figura 4).

Quanto aos fatores que exercem influência na compra de medicamentos, os dados anteriores à realização das atividades demonstraram que a influência dos familiares, amigos e vizinhos corresponde a 64%; o preço equivale a 24%; 16% sofrem influência dos balconistas; e apenas 11% são persuadidos pela propaganda. Na análise dos dados posteriores à intervenção, foi observada a redução de todos os percentuais citados acima. A motivação por indicação de familiares decaiu para 56%; a influência do preço para 21%; do balconista para 14%, e da propaganda para 10% (Figura 5).

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Figura 6 - Alimentos que os pais ofertam com maior frequência aos filhos

No tocante à oferta de alimentos pelos pais, a primeira fase da pesquisa revelou que dos alimentos ofertados 37% correspondem a frutas, 15% a sucos naturais, 21% a biscoitos recheados, 17% a refrigerantes, 7% a salgadinhos e 3% a doces, bombons, chocolates e balas, não havendo resposta para a alternativa biscoito maisena e cream cracker. Na fase final, houve aumento de 22% na oferta de frutas, 10% de sucos naturais e 3% de biscoito maisena e cream cracker, redução em 19% na oferta de biscoitos recheados, 10% refrigerantes, 5% salgadinhos e 1% doces, bombons, chocolates e balas (Figura 6).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os medicamentos passaram a ser tratados como simples produtos de consumo com visão extremamente voltada ao lucro. As pessoas precisam se conscientizar que a utilização incorreta de medicamentos pode trazer consequências irreversíveis para a saúde. É imperativo educar a população a usar o medicamento somente em casos de extrema

necessidade, com a indicação profissional adequada.

Paralelo a isso, hábitos alimentares nada saudáveis também estão sendo sustentados e perpetuados para as gerações mais novas e, se não forem corrigidos, resultarão em fatores de risco para inúmeras doenças na geração futura.

A pesquisa revelou que houve apropriação, por parte de pais e de alunos, dos conteúdos e conhecimentos disseminados durante o trabalho. Podem-se extrair resultados positivos do projeto Educanvisa, realizado pela Universidade Federal do Maranhão em parceria com a Anvisa, Opas e Secretaria Estadual de Educação, já que foram notadas mudanças nos hábitos alimentares dos alunos, o surgimento de um olhar mais crítico e reflexivo sobre as propagandas de alimentos e medicamentos. Também foi possível perceber maior conscientização dos pais em relação às questões da medicação. Eles entenderam a necessidade de ter acesso a informações precisas e adequadas, para melhor orientar seus filhos quanto aos perigos do uso inadequado e indiscriminado de medicamentos.

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AgRADECIMENtOS

À Universidade Federal do Maranhão, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Organização Pan-Americana de Saúde e à Secretaria Municipal de Educação de São Luís (MA).

REFERêNCIAS

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EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO SOBRE PRODUtOS SUJEItOS À vIgIlâNCIA SANItáRIA BRASIlEIRA

Universidade Federal de Minas gerais (UFMg)

Gerson Antônio Pianetti1; Beatriz Oliveira Carvalho2; Micheline Rosa Silveira3; Leonardo Bahia Tavares4; Luiza

Pinheiro Alves da Silva4; Luis Fernando Duarte de Carvalho4; e Antônio Basílio Pereira5.

1 - Farmacêutico, Professor Associado III do Departamento de Produtos Farmacêuticos (UFMG).

2 - Farmacêutica da Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

3 - Farmacêutica, Professora Adjunto II do Departamento de Farmácia Social (UFMG).

4 - Graduandos do Curso de Farmácia, estagiários do Projeto Monitora (UFMG).

5 - Farmacêutico, Professor Adjunto IV do Departamento de Produtos Farmacêuticos (UFMG).

INtRODUÇÃO

A história da propaganda de medicamentos se confunde com a própria história das práticas publicitárias no Brasil. Ao longo dos anos, os produtos farmacêuticos sempre ocuparam um lugar de destaque nos mais diversos meios de comunicação (TEMPORÃO, 1986).

Já no século 19, quando o principal veículo das propagandas era o jornal, surgiram os primeiros anúncios de medicamentos. Segundo Ramos (1972), “Os anunciantes mais fortes são as lojas, os hotéis e os fabricantes de remédios”.

Se o século 19 foi marcado pelos jornais, o século 20 muda o tom da imprensa com o surgimento das revistas semanais ilustradas. É o momento das charges, sonetos e da crônica social. No novo século assiste-se a um aumento no volume de propagandas de medicamentos (RAMOS, 1972).

Até a década de 20, as casas de representantes, as importadoras e os laboratórios farmacêuticos nacionais utilizavam as mesmas estratégias de divulgação. A partir daí, observa-se um processo de diferenciação entre as concepções e práticas promocionais desenvolvidas pelas indústrias nacionais e estrangeiras. Verifica-se uma forte tendência em priorizar a propaganda para o público geral por parte dos laboratórios nacionais e, por outro lado, uma ênfase em

propagandas para médicos por parte das indústrias estrangeiras. É importante, no entanto, ressaltar que a indústria farmacêutica estrangeira nunca se descuidou da propaganda dirigida diretamente aos consumidores (TEMPORÃO, 1986).

Pode-se destacar, nesse contexto, o surgimento de um grande anunciante regular, a Bayer, com sucessivas campanhas, todas compostas de muitas peças, anúncios ilustrados, quase sempre com um desenho apurado, de inegável bom gosto. Anúncios com títulos imaginosos, de sabor institucional, ou de um paralelismo ingênuo, ou ainda fortemente agressivo. Séries e mais séries para diferentes produtos (RAMOS, 1972).

Em busca de mercado para seus produtos, com a propaganda dos grandes laboratórios, investiu-se contra o modo passado de vida, desqualificando as práticas caseiras e artesanais e sobrepondo-se a elas (GOMES, 2006).

Nos anos 30, o rádio tornou-se a novidade e anúncios como o do Óleo Fígado de Bacalhau e do Xarope São João ocupam grandes espaços na mídia. Nesse momento, os produtos farmacêuticos continuam constituindo a maioria dos anúncios. É a época dos jingles e dos spots (RAMOS, 1972). O período dominado

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pelo rádio durou até meados dos anos 60 e a indústria farmacêutica contribuiu de forma importante para a expansão desse meio e das novas técnicas publicitárias (TEMPORÃO, 1986).

No final da década de 70, assiste-se ao surgimento da televisão, o mais poderoso veículo publicitário. Os produtos anunciados não divergem muito do que vinha sendo anunciado nos outros veículos, mas na TV surge um componente valorativo em detrimento da informação. A TV possibilita, ainda, uma ampliação significativa do alcance dos anúncios, atingindo agora grandes contingentes populacionais (TEMPORÃO, 1986).

A propaganda de medicamentos é uma das mais importantes estratégias da indústria farmacêutica no sentido de incrementar o consumo de seus produtos (BARROS, 1995). Ao veicular informação tendenciosa e/ou duvidosa, esse instrumento se torna um entrave às políticas de uso correto de medicamentos, devendo, portanto, ser alvo de um modelo regulador que proteja a população dos riscos oferecidos por essas propagandas.

Com muita propriedade, Fagundes et al. (2007) realizam uma análise bioética da propaganda e publicidade de medicamentos veiculadas à classe médica e concluem que 98% dos médicos entrevistados recebem visitas regulares de representantes comerciais; 86% recebem brindes; 68% crêem na influência direta da propaganda sobre a prescrição; 14% prescrevem medicamentos em função do recebimento de prêmios; e apenas 68% acreditam existir inverdades nas informações das peças publicitárias.

Considerando os resultados fornecidos pelos autores da análise bioética, a partir de informações obtidas de profissionais da saúde preparados para a prescrição de medicamentos, uma preocupação se instala quando a mesma influência é exercida sobre pessoas com menor poder de discernimento sobre os benefícios e malefícios de uso irracional de medicamentos.

A prática da terapia indicada por leigos torna-se o maior desafio sanitário brasileiro, pois aparece a necessidade de um trabalho intenso com a população para o entendimento de que sua saúde é o seu maior bem.

Educar a sociedade é, talvez, a melhor forma de combater a massiva propaganda indiscriminada realizada nos meios de comunicação do país. Tudo isso, concomitantemente, com uma legislação e fiscalização rígidas.

Uma parcela considerável da população brasileira – constituída por crianças, idosos e portadores de doenças crônicas – está exposta à propaganda de medicamentos sem que ela traga nenhum tipo de advertência quanto ao uso desses produtos em faixas etárias específicas e em condições especiais. Além disso, milhões de brasileiros sequer sabem que são portadores de agravos crônicos, sendo motivados pela propaganda de medicamentos a consumir produtos inadequados à sua condição (NASCIMENTO, 2005).

O surgimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1999; a publicação de resolução específica sobre os limites sanitários da propaganda sobre produtos sujeitos às ações de vigilância sanitária em 2000; e a criação do Projeto de Monitoração de Propaganda e Publicidade de Medicamentos, em 2002, permitiram colocar em evidência o debate acerca da regulação da propaganda de medicamentos no Brasil.

Após a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada, RDC nº 102/2000, a monitoração e a fiscalização passaram a ser realizadas exclusivamente na sede da Anvisa, em Brasília. A fim de superar a limitação da abrangência dessa monitoração, no ano de 2002, a Gerência de Fiscalização e Controle de Medicamentos e Produtos (Gfimp) idealizou e colocou em prática o Projeto de Monitoração da Propaganda de Medicamentos.

O objetivo pretendido com o projeto, ao estabelecer parceria com Instituições de

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Ensino Superior de todo o Brasil, é ampliar a monitoração de propagandas de medicamentos, que até então se encontrava centralizada, assim como capilarizar a discussão do tema por meio do ambiente acadêmico (RUBINSTEIN, 2005).

Com o Projeto, visualiza-se a aplicação de ações técnicas e científicas de esclarecimento aos meios de comunicação, aos comunicadores e, especialmente, a algumas parcelas da população nitidamente mais vulneráveis.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) insere-se no projeto em 2005, e realiza inúmeras ações de divulgação dos resultados entre profissionais prescritores e responsáveis pela dispensação e, ainda, entre educadores nos níveis de formação elementar e superior, de forma a criar fontes multiplicadoras da ideia.

Em 2009, ações voltadas para radialistas são desencadeadas com o intuito de trazer à tona a discussão sobre o poder da comunicação e a responsabilidade social que esses profissionais possuem diante de um público carente de informações e, de certa forma, muitas vezes menos politizado.

No exercício dos projetos iniciais, percebeu-se a necessidade de se atingir essa classe de anunciantes devido ao “estrago” causado pelo poder de influência sobre seus ouvintes, usando formas agressivas de convencimento de utilização de medicamentos, inclusive com o uso abusivo da propaganda testemunhal.

Desprotegida como se encontra a nossa população, a divulgação indevida e absurda nas emissoras de rádio sobre os “benefícios” de produtos desprovidos de qualquer comprovação científica levam à aquisição de “remédios” em inúmeros locais, também desprovidos de profissionais qualificados para o atendimento e para a dispensação farmacêutica.

Em uma ação de cascata, vários desses estabelecimentos, onde, na prática, deveriam ser prestados serviços sanitários, promovem a venda geral de qualquer tipo de produto,

levando o paciente a não valorizar o produto que irá ingerir e que, certamente, irá provocar enorme dano em sua saúde ou em seu bolso. É um descaso com a própria saúde.

Apesar de ter sido observada a ausência de propaganda de medicamentos nos principais jornais do Estado de Minas Gerais, alguns articulistas, reconhecidamente formadores de opinião, insistem em desinformar a população por meio de artigos cujos títulos por si só demonstram o grau de desinformação e o desserviço prestado à população. Com títulos sugestivos, tais como: “Velho versus Novo”; “Tolices Tropicais”; “E essa, agora?”, “Dificuldades aumentam”, Siqueira (2007, 2009 e 2010) vem utilizando espaço nobre do jornal de maior circulação no estado para transmitir opiniões próprias, sem o cuidado de buscar informações com os órgãos de vigilância sanitária e entender o enorme problema que o uso indiscriminado de medicamentos vem causando à saúde da população.

Verifica-se, por outro lado, a falta de cuidado ético de jornalistas que mencionam nomes de drogarias de sua preferência, bem como da confiabilidade de seus serviços como se isso fosse uma verdade absoluta, influenciando, claramente, o leitor na escolha de um serviço de saúde em farmácias e drogarias.

Dentre as ações com a categoria, foram programadas visitas em emissoras de rádio, situadas na cidade de Belo Horizonte; distribuição de material informativo; e realização de um encontro com a classe, pautando como tema de debate a mídia, a saúde e a ética.

Por maior que tenham sido as ações com a categoria, essas não surtiram o efeito esperado. O projeto foi, então, estendido a uma camada da sociedade em formação, na qual a mudança de comportamento pode ser mais provável, se bem trabalhada.

Assim, nasceu o Projeto de Educação e Informação da Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Publicidade,

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Promoção e Informação de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária, da Anvisa. Esse projeto gerou uma Carta Acordo com a Organização Pan Americana da Saúde (Opas/OMS) e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, instituição gestora do trabalho desenvolvido na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Dentre as atividades aprovadas na Carta Acordo, estavam a realização de atividades educacionais em escolas de ensino fundamental, médio e alfabetização de adultos, além de elaboração, produção e distribuição de material educativo com informações, em linguagem acessível, sobre uso racional de medicamentos, propaganda de medicamentos, alimentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária.

MAtERIAS E MÉtODOS

Visando atingir o público alvo, a equipe da UFMG trabalhou no desenvolvimento e na elaboração de uma publicação nos moldes dos antigos “Almanaques” que eram distribuídos, a cada início de ano, nas farmácias das cidades. O tipo de publicação idealizada teve como princípio fazer chegar às crianças, aos adolescentes e aos adultos em alfabetização, informações rápidas, de fácil memorização, e com linguagem adequada, de forma a tornarem mais objetivos os conhecimentos e a facilitar a multiplicação em ambientes domésticos onde se dão os primeiros passos da cidadania.

Outros materiais instrucionais foram trabalhados com o objetivo de serem realizados palestras e grupos de debate sobre os temas uso racional de medicamentos; a saúde que temos, o SUS que queremos; terceira idade com saúde; e vigilância sanitária e hábitos alimentares sadios.

Considerando que a UFMG tem um vitorioso Programa Internato Rural de Farmácia, com alunos da graduação, voltado para atuação sanitária em municípios de Minas Gerais, os coordenadores treinaram 34 alunos, que

participaram do programa, em 15 municípios, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2009.

Além das palestras, os alunos do Internato desenvolveram inúmeras ações objetivas de esclarecimento à população, interligando os temas que envolviam as propagandas, reforçando os cuidados que se deve ter com medicamentos e a alimentação saudável, em detrimento das propagandas enganosas que afirmam que medicamentos podem substituir a alimentação adequada.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

As palestras e debates ocorreram nos municípios mineiros, que receberam os alunos do Internato, Açucena, Arceburgo, Bela Vista de Minas, Brás Pires, Buenópolis, Caiana, Campanário, Congonhas do Norte, Cordisburgo, Frei Gaspar, Jordânia, Peçanha, Pompéu, Rezende Costa e São João Evangelista. Em Belo Horizonte, o evento ocorreu na Escola Municipal Pedro Nava.

Crianças, adolescentes e adultos em alfabetização receberam informações sobre cuidados com a própria saúde. Espaços foram proporcionados para o debate sobre até que ponto se deve aceitar como verdade absoluta o que é anunciado em emissoras de rádio ou na televisão, principalmente de forma testemunhal, cumprindo assim os objetos da dinâmica pensada pela equipe.

Os ouvintes das palestras foram, então, informados sobre as principais irregularidades veiculadas pelas propagandas. Esses dados, obtidos pelas pesquisas realizadas nas fases anteriores do Projeto na UFMG, se referem a: (1) indução ao uso indiscriminado (35%); (2) omissão sobre cuidados especiais e advertências (29%); (3) informações incompletas sobre as contraindicações (21%); (4) sugestão de diagnóstico (10%) e (5) omissão do número de registro (5%), conforme registrado no Gráfico 1.

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gráfico 1 – Frequência de irregularidades detectadas nas propagandas de medicamentos segundo a categoria: 1 Indução ao uso indiscriminado; 2 Omissão sobre cuidados especiais e advertências; 3 Informações incompletas sobre as contraindicações; 4 Sugestão de diagnóstico e 5 Omissão de registro.

A indução ao uso indiscriminado de medicamentos foi a principal irregularidade constatada e é aquela que mais problemas traz ao uso irracional de medicamentos. Não menos importante, encontram-se a omissão sobre cuidados e advertências e as informações incompletas sobre as contraindicações. Um fato grave constatado é que a maioria das peças apresentou mais de uma irregularidade.

A receptividade e o ganho instrucional foram de magnitude inesperada. Tanto no meio escolar quanto nas comunidades das zonas urbanas e rurais a participação foi acima do esperado, e foi possível alertar, nesse meio de divulgação, a seriedade que merece o uso de medicamentos e a alimentação saudável.

Ao total foram mais de 60 palestras para escolares do ensino fundamental, médio e alfabetização de adultos e 16 treinamentos para profissionais de saúde de nível médio e superior. Todas as palestras foram seguidas da distribuição comentada do Almanaque. Todos os municípios receberam exemplares do Almanaque, em quantidade suficiente para a multiplicação dos temas em outros locais. Associações comunitárias dos municípios também foram beneficiadas com as palestras e debates.

Dentre os temas trabalhados, os principais foram: uso racional de medicamentos; alimentação saudável; qualidade de vida; hipertensão; diabetes; dentre outros.

Os locais utilizados, para tal, foram sede da Prefeitura; da Secretaria Municipal de Saúde; postos de saúde; igrejas e escolas. O público maior foi o de crianças e adolescentes seguidos por adultos e idosos, todos em formação conceitual de níveis inicial, médio e alfabetização. Em alguns municípios foram registradas as presenças de profissionais de saúde ou de autoridades locais. Palestras para a comunidade em geral foram, também, proferidas.

Aproximadamente 1.600 pessoas participaram dos eventos, sendo que em torno de 350 delas encontravam-se em uma escola municipal de Belo Horizonte.

Os participantes responderam a um questionário e declararam reação positiva em relação aos temas e às formas trabalhadas, para fazer chegar-lhes informações imprescindíveis sobre os cuidados com a saúde. A distribuição comentada do Almanaque foi o ponto diferencial dos eventos, pois ele é atemporal e poderá ser trabalhado e multiplicado em ocasiões diversas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de três anos de trabalho e de duas fases contribuindo com a monitoração de propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, o resultado obtido poderia ser melhor, se não houvesse a insistência dos veículos de comunicação em não reconhecerem o mal que causam na saúde pública ao divulgarem de forma testemunhal e inadequada o uso indiscriminado de medicamentos.

Há uma clara forma de desobediência por parte da mídia e de alguns de seus profissionais e esses não se intimidam mais, pois imaginam possuírem um poder de comunicação além do aspecto legal, que tem como dever proteger a saúde da população.

A sociedade, por seu lado, começa por sentir-se incomodada com a interferência que esse tipo de comunicação danosa promove na educação e na formação de crianças e adolescentes. Exemplo disso é o artigo publicado em jornal de grande circulação em Minas Gerais sob o título “Pais querem limite nas propagandas” (Jornal O Estado de Minas), o que demonstra uma parte do efeito positivo emanado da própria comunidade em detrimento da propaganda enganosa, veiculada em emissoras de rádio e televisão. As ações desenvolvidas pelo Projeto não deixaram de ser corresponsáveis nessa formação de opinião popular.

Observa-se, entretanto, e com perplexidade, a perpetuação de um quadro inadmissível de descumprimento das normas reguladoras relativas à publicidade de medicamentos e de desrespeito à população, considerando que essas práticas abusivas a submetem a risco sanitário permanente.

Entende-se que o poder público, em respeito aos que desrespeitam a legislação, deve sim dar-lhes tempo para se adequarem às novas regras, as quais são amplamente debatidas com os interessados no setor regulado. O segundo passo que não pode ser negligenciado é a aplicação da lei em sua totalidade.

EStAgIáRIOS BOlSIStAS DO PROJEtO

Beatriz Oliveira Carvalho; Daniela Rezende Garcia Junqueira; Diego Leonel da Costa Vieira; Juliana Sousa Coelho, Leonardo Bahia Tavares, Luis Fernando Duarte de Carvalho, Luiza Pinheiro Alves da Silva, Marina Campos Magalhães; (Farmácia); Otávio Marques Barbosa Ogando; Renata Sakovitz Rangel, Rodolfo Marques Vieira Araújo (Comunicação Social); Fernanda Di Pietro Carvalho, Renato Silvestre Marinho, Rosali Berto de Oliveira (Direito); Tatiane Barroso Maciel; (Medicina); Ana Paula Naves Barros, Anne Danielli Nascimento Soares, Fernanda Gabrielle Silva Martins; Lucila Pires Botelho, Patrícia Mattos Capel Moreno (Nutrição); Eros Ramirez Miranda, Felipe Rodrigues Tavares, Pollyana Mendes Lacerda (Odontologia); Carlos Eduardo Fernandes Santos (Ciências Biológicas); Écio Geovani Neto.

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REFERêNCIAS

BARROS, J. A. C. Propaganda de Medicamentos: atentado à Saúde? São Paulo: Hucitec, 1995.

FAGUNDES, M. J. D. et al. Análise Bioética da propaganda e publicidade de medicamentos. Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.1, p.10, 2007.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações tóxico Farmacológicas.1999-2005. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox>. Acesso em: 13 abr. 2009.

HORTA, C. Pais querem limite nas propagandas. Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte, 17 abr. 2010. p.14.

NASCIMENTO, A. C. Ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado: isso é regulação? São Paulo: Sobravime, 2005.

NASCIMENTO, A. C. Propaganda de medicamentos: é possível regular? 2007. 185 f. Tese [Programa de Doutorado do Instituto de Medicina Social]. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

RAMOS, R. História da propaganda no Brasil. São Paulo: USP, Escola de Comunicações e Artes, 1972.

RUBINSTEIN, F. Propaganda de medicamentos: medidas reguladoras. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS 1. 13-15 out. 2005, Porto Alegre; Rio Grande do Sul; Brasil. ANAIS ELETRÔNICOS Disponível em: <www.anvisa.gov.br/servicosaude/hsentinela/uso_racional_I /Franklin_Rubinstein.ppt>. Acesso em: 22 jan. 2009.

SIQUEIRA, A. M. velho versus novo. Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte, 28 ago.2007. p. 2.

SIQUEIRA, A. M. tolices tropicais. Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte, 12 nov.2009. p. 2.

SIQUEIRA, A. M. E essa agora? Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte, 24 mar.2010. p. 2.

SIQUEIRA, A. M. Dificuldades aumentam. Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte, 25 mar.2010. p. 2.

TEMPORÃO, J. G. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

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AtIvIDADES EDUCAtIvAS SOBRE A PROPAgANDA E O USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS PARA AlUNOS DO ENSINO FUNDAMENtAl DE ESCOlA PÚBlICA DE JOÃO PESSOA (PB)

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Katy, LG Dias1, 3*; Maria R Freitas1; Diego, N Guedes1; Margareth, FFM Diniz2,3; Isac A Medeiros2, 3; Karla, VM

Cavalcante; Álvaro, LVL Brito; Ligiana, L Carvalho; Priscilla, EM Brito; Camila Gurgel; Amanda, MS Lacerda; e

Nadja A Correia1,3.

1 - Departamento de Fisiologia e Patologia. Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

2 - Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

3 - Laboratório de Tecnologia Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de Medeiros – UFPB.

RESUMO

Um estudo sobre a influência das atividades educativas sobre o uso racional de medicamentos foi realizado numa escola municipal de ensino fundamental em João Pessoa, como parte do Projeto Educação e Informação, desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com o objetivo de melhorar o conhecimento sobre o uso racional de medicamentos, visando contribuir para uma maior conscientização sobre saúde e automedicação. Para as análises, foi utilizado um questionário para avaliar e caracterizar o nível de conhecimento dos professores e alunos em relação ao uso racional de medicamentos. O questionário foi aplicado antes e após a realização das atividades educativas. Foi constatado que a maioria dos participantes já conhecia as temáticas abordadas, uma vez que a escola onde o estudo foi realizado faz parte do Projeto Educanvisa, também promovido pela Anvisa junto a diversas escolas públicas de todo o Brasil. Com o estudo foi possível perceber a importância de atividades educativas para a promoção do uso racional de medicamentos.

INtRODUÇÃO

Em 1985, a Conferência de Nairóbi sobre o uso racional de medicamentos marcou o começo de um esforço global para promover

a prescrição racional (WHO, 1987). O uso racional de medicamentos, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é a situação na qual os pacientes recebem os medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas; na dose correta; por um período de tempo adequado; e a um custo acessível.

A automedicação e a autoprescrição constituem práticas perigosas, cujas consequências podem ser, entre outras: mascaramento de uma enfermidade, retardando a assistência médica nos casos em que realmente é necessária; aparecimento de reações adversas; interações medicamentosas; aumento da resistência a agentes antimicrobianos; escolha incorreta do medicamento; e risco de abuso e farmacodependência (HUGHES et al., 2001). A automedicação afeta tanto os países desenvolvidos quanto os países em desenvolvimento, sendo que sua extensão na América Latina vem sendo destacada (DRUG UTILIZATION RESEARCH GROUP LATIN AMERICA, 1997).

Segundo Barros (1995), pelo menos 35% dos medicamentos adquiridos no Brasil são feitos por meio da automedicação. Entretanto, se o brasileiro tende a se automedicar, é porque não encontra disponibilidade de serviços de saúde mais acessíveis; precisa ficar horas em

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uma fila; e, às vezes, espera dias e até meses para ser atendido por um médico (AQUINO, 2008). Além disso, o baixo poder aquisitivo da população e a precariedade dos serviços de saúde contrastam com a facilidade de se obter medicamentos, sem pagamento de consulta e sem receita médica, em qualquer farmácia, onde, não raro, se encontra o estímulo do balconista, interessado em ganhar uma comissão pela venda (BARROS, 1997).

O consumo elevado de medicamentos de forma inadequada tem sido observado, também, entre as camadas mais privilegiadas da sociedade, uma vez que essa prática se dá pela herança cultural – sem qualquer base racional – , pela facilidade de acesso, além de outros aspectos (AQUINO, 2008). Some-se a isso, a promoção de medicamentos nos meios de comunicação de massa, influenciando no conhecimento e nas atitudes das pessoas em relação aos fármacos, o que resulta em um consumo crescente de medicamento como uma forma fácil de resolver os problemas de saúde e promover o uso irracional de medicamentos (LAING et al., 2001). Diante do exposto, o objetivo do presente projeto foi disseminar informações e conhecimentos sobre saúde, medicamentos e automedicação para crianças de escola de nível fundamental, visando contribuir para a promoção do uso racional de medicamentos. Neste contexto, foram avaliados os efeitos de intervenções educativas na promoção de uso racional de medicamentos.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Participaram do projeto 60 estudantes do ensino fundamental, de ambos os sexos, na faixa etária de 4 a 10 anos, e sete professores da escola municipal Agostinho Fonseca Neto, localizada na cidade de João Pessoa (PB). Esta escola foi selecionada porque já vem participando do projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, promovido pela Anvisa.

As atividades educativas foram realizadas com a permissão e a colaboração da direção da escola, consistindo em um dia escolar, nos dois turnos: manhã e tarde. As atividades – realizadas

em cada um dos turnos – ocorreram em três etapas: leitura prévia de uma cartilha elaborada pela equipe do projeto junto com os professores da escola; uma peça teatral apresentada pelos alunos de graduação da UFPB que participam do Projeto Educação e Informação, abordando os mesmos temas da cartilha; e, por fim, um jogo de trilha (Trilha da Saúde) com perguntas relacionadas às atividades anteriormente descritas. As atividades foram realizadas utilizando uma linguagem clara e simples.

O instrumento de coleta de dados consistiu em um questionário preenchido antes e após a realização das atividades educativas, aplicados aos professores e aos alunos, com o intuito de avaliar e caracterizar o nível de conhecimento dos mesmos em relação ao uso racional de medicamentos. Com o intuito de verificar se as atividades educativas resultaram em um aumento no conhecimento do grupo sobre os assuntos abordados, foram comparadas as respostas obtidas antes e após a realização das intervenções educativas.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

As intervenções educativas para promover o uso racional de medicamentos junto à população ainda são escassas. Com base nisso, este trabalho destaca a relevância das atividades educativas direcionadas aos alunos do ensino fundamental relacionadas ao referido tema. Após a realização das atividades, foram observadas diferenças acerca do conhecimento sobre o uso racional de medicamentos e estes resultados são interessantes, pois demonstram uma mudança de concepção das crianças em relação aos medicamentos.

As duas primeiras questões da tabela 1 mostram que, após a realização das atividades educativas, 100% das crianças passaram a achar que não podem usar medicamentos sem a orientação do médico, do farmacêutico ou do dentista como também que não podem usá-los sem o conhecimento dos pais. Observou-se, também, após a realização das tarefas, uma redução no percentual de crianças que consideram que a propaganda contém todas

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as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento, de 18,1% para 12,5%. Identificou-se, ainda, uma redução no percentual de crianças que acham correto pedir aos pais e/ou responsáveis para comprar medicamentos ou alimentos que viram em propagandas, de 14,8% para 7,2% e de 36,1% para 5,4%, respectivamente. Estes resultados indicam que é possível obter mudanças de

atitudes em crianças no que se refere ao uso racional de medicamentos, por meio de atividades educativas. Além disso, esse é um público que pode contribuir na educação de seus familiares, elevando o número de consumidores informados acerca da influência das propagandas no consumo inadequado de produtos farmacêuticos.

tabela 1. Questionário utilizado no presente estudo e as resposta dos alunos do ensino fundamental antes e após a realização das atividades educativas, entre parênteses os percentuais correspondentes a cada resposta.

QUEStIONáRIO AlUNOS

PERgUNtAS

RESPOStAS

Antes Após

SIM NÃO SIM NÃO

1- Quantos alunos acham que podem usar medicamen-tos sem orientação de médico, dentista ou farmacêutico?

4,9% 95,1% 0% 100%

2- Quantos alunos acham que podem tomar medica-mento sem o conhecimento dos pais ou responsáveis?

6,6,% 93,4% 0% 100%

3- Quantos alunos consideram que a propaganda con-tém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento?

18,1% 81,9% 12,5% 87,5%

4- Quantos alunos acham correto pedir aos pais e/ou responsáveis para comprar medicamentos que viram em propagandas?

14,8 % 85,2% 7,2% 92,8%

5- Quantos alunos acham que devem pedir aos pais e/ou responsáveis para comprar alimentos que viram em propagandas?

36,1% 63,9% 5,4% 94,6%

Infelizmente, as intervenções educativas para promover o uso racional de medicamentos junto à população ainda são escassas (LAING et al., 2001). Mas alguns trabalhos já demonstram a eficácia de determinados métodos de intervenção educacional em casos específicos, como no tratamento da diarréia aguda na Indonésia (SANTOSO, 1996). Também foi observado que atividades educativas direcionadas às crianças de uma escola secundária no Equador resultaram em um aumento no nível de conhecimento para o uso apropriado de medicamentos, e que esta modificação no conhecimento e nas atitudes durou um ano, sugerindo também que se estas atividades forem reforçadas provavelmente contribuirão para efeitos mais duradouros (SANTOSO, 1996).

Na tabela 2 pode-se observar que, após a realização das intervenções educativas, houve uma redução no percentual de professores que acreditam que podem usar medicamentos sem orientação do médico, do dentista ou do farmacêutico de 33,3% para 16,7%. Um resultado que se percebe positivo neste estudo foi que, tanto antes quanto após a realização das atividades, 100% dos professores não acharam seguro usar medicamentos de uso prolongado/contínuo sem orientação do médico ou do dentista. Esse resultado pode ser explicado porque a escola já participa do Projeto Educanvisa, o que reforça os resultados de outros estudos que demonstram que o reforço das intervenções educativas pode contribuir para efeitos mais duradouros (MALDONADO, 2006). Em relação ao uso de medicamentos

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consequências perigosas como: aumento do risco de reações adversas e mascaramento ou piora da doença existente (DANHIER et al., 1991). Após a realização das atividades educativas, 100% dos professores reconheceram que não tinham o hábito de guardar os medicamentos em locais específicos. Este resultado pode

sem receita médica ou sem orientação de um farmacêutico, contribuindo para piorar a doença, foi observada uma redução no percentual de professores de 100% para 83,3% que reconhecem que este tipo de uso pode agravar a doença. As pessoas devem ser alertadas para o fato de que a automedicação pode ter

tabela 2. Questionário utilizado no presente estudo e as resposta dos professores do ensino fundamental antes e após a realização das atividades educativas, entre parênteses os percentuais correspondentes a cada resposta.

QUEStIONáRIO PRO-FESSOR

PERgUNtAS

RESPOStAS

Antes Após

SIM NÃO SIM NÃO

1- Você acha que pode usar medicamentos sem orientação de médico, dentista ou farmacêutico?

33,3% 66,7% 16,7% 83,3%

2- Você acha seguro usar medicamentos de uso prolongado/contínuo sem orientação do médico ou dentista?

0% 100% 0% 100%

3- Você acha que o uso de medicamentos sem receita médica ou sem orientação de um far-macêutico pode piorar sua doença?

100% 0% 83,3% 16,7%

4- Onde você costuma guardar os medicamentos em casa?

a - Cozinhaantes após

70 % 0%

b-Banheiroantes após

10% 0%

c-Armárioantes após

20% 0%

d- Qualquerantes após0% 100%

5- Quando você considera necessário comprar medicamentos na drogaria/farmácia?

Todos os dias antes após

0 % 0%

1 vez p/semana antes após

0 % 0%

1 vez p/mêsantes após

0 % 0%

Qd necessárioantes após100 % 100%

6- Você considera que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medi-camento?

11,1% 88,9 % 0% 100%

7- Você costuma comprar medicamentos que vê na propaganda?

0% 100% 0% 100%

8- O que mais lhe influencia na compra de um medicamento?

a - Propagandaantes após

22,2 % 16,7%

b - Preçoantes após

11,1% 66,6%

c - Balconistaantes após

33,3% 16,7%

d - Indcaçõesantes após33,3% 0%

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fatores, que tiveram uma redução em relação ao percentual de respostas como: a propaganda (de 22,2% para 16,7 %), o balconista de (33,3 % para 16,7%) e a indicação de terceiros (de 33,3 % para 0 %).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estes resultados mostram que as atividades educativas desenvolvidas com crianças e adultos influenciam de forma positiva nas atitudes para o uso racional de medicamentos e que estas devem ser atividades permanentes, com o objetivo de intensificar e melhorar os conhecimentos adquiridos.

AgRADECIMENtOS

À Direção e aos professores da Escola Municipal Agostinho Fonseca Neto, à Eriomilza Estrela de Lacerda da Secretaria de Educação de João Pessoa e à Anvisa, pelo apoio financeiro.

estar relacionado às informações transmitidas durante a apresentação da peça e do jogo de trilha, que enfatizaram os locais onde os medicamentos não devem ser armazenados, como cozinha e banheiro, que representam ambientes quentes e úmidos, respectivamente. Nota-se, ainda, que antes das atividades havia um percentual razoável que achava adequado guardar os medicamentos na cozinha (70%), no banheiro (10%) e nos armários (20%), mas, após as atividades, 100% dos professores afirmaram que devem guardar os medicamentos em locais apropriados, pois quando não são guardados nestes locais, os medicamentos representam fonte de risco, principalmente os que têm uma estreita margem terapêutica, os que estão fora do prazo de validade, ou os que estão ao alcance de crianças (DRUG UTILIZATION RESEARCH GROUP LATIN AMERICA, 1997).

Um resultado positivo deste estudo foi que, antes e após a relação das atividades educativas, 100% dos professores acham que só devem comprar medicamentos na drogaria/farmácia quando necessário. Sabe-se que a propaganda de medicamentos influencia o uso irracional desses produtos, visto que tanto pode ser veiculada com informações incompletas e infundadas como também pode induzir falsas expectativas em relação ao valor terapêutico do medicamento (DANHIER et al., 1991).

Face ao exposto, avaliamos se os professores consideram que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento, constatando-se uma redução no percentual de professores de 11,1 % para 0% que acham que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento. Outro resultado positivo deste estudo foi que, tanto antes quanto após a realização das atividades educativas, 100% dos professores não costumavam comprar medicamentos que viam na propaganda. No entanto, após a realização das intervenções educativas, houve um aumento no percentual de professores de 11,1% para 66,6 % que acreditam que o preço é o fator que mais influencia na compra de um medicamento em relação aos demais

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REFERêNCIAS

AQUINO, D. S. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Revista Ciência & Saúde Coletiva, v.13(Sup), p. 733-736, 2008.

BARROS, J. A. C. Propaganda de medicamentos: atentado à saúde? São Paulo: Hucitec/Sobravime, 1995.

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LAING, R. O.; HOGERZEIL, H. V.; ROSS-DEGNAN, D. ten recommendations to improve use of medicines in developing countries. Health Policy Planning, v.16, p. 13–20, 2001.

MALDONADO, J. C.; MELÉNDEZ, S. D.; FIGUERAS, A. long-term effects of an educational intervention on self-medication and appropriate drug use in single-sex secondary public schools, Quito, Ecuador. British Journal of Clinical Pharmacology, v.63, n.1, p.92-99, 2006.SANTOSO, B. Small group intervention vs formal seminar for improving appropriate drug use. Social Science & Medicine, v.42, n.8, p. 1163-1168, 1996.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO).The Rational Use of Drugs. Report of a conference of experts, Nairobi, p.25–29, November 1985. Geneva: World Health Organization, 1987.

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A PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOlA

Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Elenita Maria Dias de Sousa Aguiar1; Emanuelle Agda Ferreira de Sousa 2

1 - Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, especialista em avaliação educacional; mestre em Educação

brasileira. Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

2 - Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia. Universidade Federal do Piauí – UFPI.

RESUMO

A saúde é um tema constantemente debatido e aperfeiçoado. Considerada como requisito básico para uma vida plena, constitui-se em assunto de amplitude ímpar, que pode e deve ser trabalhado e discutido desde os primeiros passos até a terceira idade. Tendo em mente que “a informação e a educação são formas de despertar o interesse e o conhecimento da população sobre os temas relativos à vigilância sanitária, além de funcionarem como ferramentas facilitadoras na prevenção de riscos”, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) idealizou o Projeto Educação e Informação em Vigilância Sanitária. O projeto tem como mote desenvolver ações educativas em escolas de ensino fundamental e médio, a partir da temática Saúde, de maneira a contribuir com o nível de conscientização dos sujeitos em relação a esse assunto, levando em conta o fator multiplicador representado pelas crianças e a contribuição da escola quanto à sua função social. Este artigo visa apresentar resultados obtidos por meio de trabalhos de promoção da saúde com alunos do ensino fundamental e médio de escolas públicas da capital piauiense.

INtRODUÇÃO

Considerada um dos requisitos básicos para uma vida plena, a saúde acarreta muito mais do que apenas um conceito, uma ideia ou um sentimento. Qualquer pessoa indagada a respeito de sua definição saberá responder

prontamente a essa pergunta, levando em conta uma opinião de cunho pessoal e que, apesar disso, não poderá ser tida como incorreta. O conceito de saúde foi sendo formulado ao longo dos anos à luz dos ideais da época, e, até hoje, suscita discussões e novas concepções. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em sua carta de princípios, de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), “saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade” (OMS, 1948). A amplitude desse conceito acarretou críticas, dentre as quais a de que a saúde seria algo inatingível.

Evitando versar sobre definições, a Constituição Federal de 1988, artigo 196, definiu que a saúde é direito de todos e dever do Estado e este direito deve ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, além do acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. O artigo 3º da Lei Orgânica da Saúde (nº 8.080/90) define ainda como fatores determinantes e condicionantes da saúde, entre outros a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990).

Desde então, muitos foram os órgãos criados a fim de assegurar e fiscalizar o direito de todos. Em nível nacional, o exemplo maior foi

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a criação em 1999, sob regime de autarquia especial, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Vinculada ao Ministério da Saúde, a finalidade institucional da Agência é

“promover a proteção da saúde da população por intermédio do controle sanitário da

produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos

insumos e das tecnologias a eles relacionados” (BRASIL, 1999).

Tendo em mente que “a informação e a educação são formas de despertar o interesse e o conhecimento da população sobre os temas relativos à vigilância sanitária, além de funcionarem como ferramentas facilitadoras na prevenção de riscos” (BRASIL, 2007), a Anvisa idealizou o Projeto Educação e Informação em Vigilância Sanitária, como sendo a quarta fase do Projeto de Monitoração de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária. O projeto tem como mote desenvolver ações educativas em escolas de ensino fundamental e médio, a partir da temática saúde, de maneira a contribuir com o nível de conscientização dos sujeitos sobre esse assunto.

A Universidade Federal do Piauí (UFPI), uma das Instituições de Ensino Superior parceiras da Agência, desenvolve, desde 2004, ações educacionais supervisionadas pela Anvisa, que possam trazer melhorias em nível nacional e, principalmente, regional no que se refere à fiscalização e à promoção da saúde. Nesse intuito, o grupo multidisciplinar de colaboradores da UFPI aderiu ao Projeto Educação e Informação, passando a desenvolver a abordagem da temática saúde em turmas de ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino e em escolas públicas do Estado com alunos do ensino médio.

Importância da promoção da saúde em educação

O tema saúde constitui-se preocupação de órgãos governamentais. Muitas iniciativas (campanhas, propagandas, fiscalização, projetos etc.) são desenvolvidas no sentido de contribuir com a prevenção e o controle de doenças ou agravos que coloquem em risco a saúde dos cidadãos. Entretanto, é possível observar que a saúde pública do nosso país não pode ser apresentada como exemplo de saúde eficaz. Casate e Correia (2005) preconizam que é preciso pensar “a valorização da saúde”, como direito do cidadão. Nesse sentido, é possível desenvolver nos indivíduos a valorização tanto de sua própria saúde quanto da saúde do outro, o que passa a ser mais significativo na cotidianidade de cada um, visto que é na possibilidade de resgate do humano, naquilo que lhe é próprio, que pode residir a intenção de humanizar o fazer em saúde (CASATE e CORREIA, 2005).

Faz-se urgente a discussão sobre a inclusão da temática saúde no ambiente escolar, não apenas como um tema transversal1, mas, a nosso ver, como disciplina curricular a ser desenvolvida, praticada e observada no dia a dia da formação do sujeito.

Uma das formas mais promissoras para iniciar, adotar e disseminar comportamentos saudáveis é a educação em saúde, desenvolvida de forma organizada em escolas e instâncias educacionais (família, igreja, comunidade etc.). Por meio dela, é possível promover discussões e reflexões que permitam ao indivíduo atentar-se para os atos que, de alguma forma, sejam prejudiciais à saúde, além de incentivar a adoção de hábitos de vida mais saudáveis.

Nesse contexto, o trabalho escolar constitui-se matéria de relevância, por ser a escola um espaço privilegiado no que se refere à

1 Os temas transversais dos novos parâmetros curriculares incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. São amplos o bastante para traduzir preocupações de todo País, são questões em debate na sociedade através dos quais, o dissenso, o confronto de opiniões se coloca.

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educação e ao desenvolvimento da sua função social, onde a capacidade de conhecimento e trato das informações devem se voltar para o bem da coletividade – relação essa que pode ser percebida nos quatro pilares da Educação, baseado no Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século 21, coordenada por Jacques Delors. A discussão dos “quatro pilares” propõe uma educação direcionada para os quatro tipos fundamentais de educação: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser”. Visto que quando tratamos de “aprender a conhecer” devemos desenvolver o “aprender a fazer”, devemos perceber que “o fazer” tornar-se-á valioso se e, somente se, desenvolvermos a capacidade de “aprender a conviver”, para daí descobrirmos quem somos, pois “aprendemos a ser”.

De acordo com Silva e Fracolli (2009), a escola é um dos locais privilegiados para promover ações de educação em saúde. Destacam, ainda, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras instituições como a Unesco recomendam que a saúde se deva aprender nos estabelecimentos de ensino concomitante com as demais ciências sociais.

Hábitos saudáveis são aprendizagens que devem ser propiciadas pela escola, paralelas aos demais conhecimentos a serem contemplados e vivenciados pelos alunos, que visam dar condições de enfrentamento à vida fora dos muros da escola. Ao adquirir conhecimentos e hábitos de saúde, aos alunos será permitido alcançar o maior grau possível de saúde física, mental e social (SILVA e FRACOLLI, 2009 apud SANMARTI, 1988). Conforme Silva e Fracolli (2009), a saúde, entendida como um produto social, implica

(...) a construção social de uma nova prática sanitária, denominada vigilância da saúde que é conceituada como uma forma de resposta social

organizada aos problemas de saúde, referenciada pelo conceito positivo de saúde e pelo paradigma

da produção social da saúde que organiza os processos de trabalho em saúde mediante

operações intersetoriais, articuladas por diferentes estratégias de intervenção.

Assim, a vigilância da saúde, em consonância com este novo paradigma, se apresenta como ferramenta que visa fomentar a produção social da saúde.

A saúde, sob a perspectiva desse novo paradigma, se apresenta como um ato de responsabilidade de cada cidadão. O que nos remete a inferir que o direito à saúde, estabelecido pela Constituição, é parte importante dessa construção, mas o desenvolvimento de conscientização e responsabilização quanto aos cuidados com a saúde não parte de simples inferência, mas da concretude da realidade vivida pelos cidadãos no seu dia a dia. As realidades sociais demandam políticas que visem sanar os problemas de saúde, o que não significa dizer da não contribuição de cada cidadão quanto aos cuidados com a sua saúde e do coletivo que o rodeia. Conforme Guizardi e Pinheiro (2008), a construção política do direito à saúde tem base nos “sentidos” do que entendemos e vivemos como “saúde”, do que vivemos e entendemos como “direito”.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Trata-se de um relato de experiências quanto a práticas curriculares envolvendo o tema saúde, realizado por alunos de graduação da UFPI que participam do Projeto Educação e Informação, tendo como colaboradores e executores os professores/gestores de escolas públicas de Teresina (PI).

A escolha das escolas foi baseada em feedback recebido por parte dos professores a partir de palestras explicativas prévias, onde o papel da Anvisa e os objetivos do Projeto Educação e Informação foram devidamente especificados e ilustrados a alguns gestores e/ou professores, elemento esse considerado significativo à aceitação quanto ao desenvolvimento do projeto. Definiram-se como campo de trabalho quatro escolas públicas da cidade de Teresina: uma escola municipal da zona sudeste; uma escola municipal da zona norte; e duas escolas estaduais da zona leste. Nas escolas municipais, escolheu-se uma turma de alunos de 3º ano do ensino fundamental e uma turma de alunos

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de 4º ano do ensino fundamental. Nas escolas estaduais optou-se por alunos do ensino médio. A decisão por qual nível abordar foi tomada levando em consideração a faixa etária dos alunos, de forma que tanto estudantes do ensino fundamental quanto do ensino médio fossem partícipes. A realização do projeto ocorreu durante o período de setembro a novembro de 2009.

Os sujeitos diretamente envolvidos com as ações do projeto foram os gestores, os (as) professores (as) e alunos (as) das escolas anteriormente descritas. Eles serão identificados, neste trabalho, pela letra inicial de suas atribuições, tendo ainda um número de referência que os distinguirá dos demais sujeitos. Para identificação das escolas utilizar-se-á a seguinte especificação: E.M.E.F. 3, sempre que referir-se a Escola Municipal de Ensino Fundamental onde o trabalho foi realizado com alunos do 3º ano; E.M.E.F. 4, sempre que referir-se a Escola Municipal de Ensino Fundamental onde o trabalho foi realizado com alunos do 4º ano; U.E. 1 e U.E. 2 quando referir-se às escolas de Ensino Médio.

Durante dois meses, numa frequência de duas a três vezes por semana, os alunos dos cursos de Pedagogia, Jornalismo, Nutrição e Farmácia, envolvidos no Projeto Educação e Informação, participaram da rotina das salas de aula do ensino fundamental, ao mesmo tempo em que alunos de Jornalismo, Direito e Nutrição ministravam palestras em escolas estaduais.

As atividades desenvolvidas foram registradas por meio de fotos, filmagens, escritos, gravações, além da produção de materiais educativos, de forma que possam ser utilizados pela própria escola, Instituição de Ensino Superior (IES) e/ ou Anvisa como elementos de trabalho em salas de aula e na divulgação de ações educativas do Projeto Educação e Informação.

RESUltADOS E DISCUSSÃO Durante dois meses a equipe do projeto participou da rotina da sala de aula nas escolas de ensino fundamental; e foram realizadas

palestras sistemáticas em escolas do ensino médio. Diversas atividades foram empreendidas no sentido de intensificar a temática saúde, priorizando-se o trabalho no que se refere à alimentação saudável e ao uso racional de medicamentos, incentivando a inserção desses assuntos no currículo escolar.

As atividades propostas apresentaram sempre um caráter interdisciplinar, ora abordadas na disciplina de Língua Portuguesa, ora em Matemática, Ciências, Artes e/ou outras. No caso do ensino fundamental, contamos com a valiosa colaboração dos professores titulares das turmas, que firmaram parceria com os alunos do Projeto Educação e Informação no sentido de estarem dispostos a desenvolver atividades sugeridas, bem como dar continuidade em sala de aula ao trabalho iniciado e direcionado à temática saúde.

Para dar início aos trabalhos, foi realizada uma reunião nas escolas com os gestores e professores com o intuito de fazê-los conhecer os objetivos do projeto e torná-los cientes das ações a serem desenvolvidas, no sentido de despertar nesses profissionais o interesse e a motivação para inserir-se no projeto como colaboradores das ações pensadas.

A partir daí, adentrou-se no campo de atuação especificado: sala de aula, propriamente dita, para alunos do ensino fundamental; e escolas, de maneira geral, em se tratando do ensino médio. No que se refere à sala de aula, realizaram-se várias atividades que buscavam aprofundar a temática da saúde sob a ótica da alimentação saudável, uso de medicamentos etc., de forma que pouco a pouco os professores passassem a discutir com seus alunos, integrando o tema às diversas áreas do currículo.

Os alunos envolveram-se com a temática, demonstrando interesse, curiosidade e vontade de conhecer. A participação desses nas atividades planejadas foi registrada com o propósito de produzir materiais educativos que possam ser divulgados, difundidos e utilizados por outras escolas, comunidades e, principalmente, no sentido de que cada uma

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dessas crianças possa ser multiplicadora de informações que contribuam com a saúde dos sujeitos na sociedade. Conforme preconizado pela Anvisa, a informação e a educação criam as devidas condições de despertar o interesse e o conhecimento da população sobre os temas relativos à saúde, contribuindo com a prevenção de riscos.

São apresentadas, abaixo, algumas práticas desenvolvidas nas escolas de ensino fundamental, seguidas de produções dos alunos.

• Disposição de 17 palavras diretamente relacionadas com o tema saúde e 17 palavras não relacionadas, com o objetivo de que as crianças construíssem painéis a partir dessa diferenciação (E.M.E.F. 4).

• Construção de acróstico (E.M.E.F. 3) com a palavra “SAÚDE”.

• Produção textual (E.M.E.F. 4) após conversa da professora sobre a questão da saúde, com apoio dos painéis confeccionados pelos alunos .

Outras atividades foram desenvolvidas com os alunos do ensino fundamental, dentre estas: confecção de cartazes; desenhos livres que representassem atitudes saudáveis; bingo da saúde; colagem de adesivos associados ao tema saúde, envolvendo alimentação e propaganda (EM.E.F. 3); Jogo da saúde (alimentação e propaganda); produção de jogral; descobrindo significados de palavras; palestra com aluna do curso de Nutrição (UFPI) sobre alimentação saudável e uso racional de medicamento; escrita e reescrita de textos que culminaram em um livro; dentre outras.

Após a realização das atividades com a colaboração das professoras, estabelecia-se momento para socialização das ideias trabalhadas, de forma a promover um diálogo interativo com as crianças, ouvir seus relatos, momento esse de acréscimo de informações sobre a saúde e os cuidados para mantê-la.

No que concerne ao tema medicamentos, os registros permitiram perceber que os alunos

ficaram conhecendo melhor os medicamentos principalmente por meio de suas tarjas e embalagens, utilização correta, distinção entre remédios / medicamentos, bem como práticas saudáveis de preservar a saúde. Este aspecto se faz bastante relevante, visto que as informações podem gerar práticas conscientes quanto aos cuidados com medicamentos.

Nas escolas de ensino médio, foram selecionados alunos do turno da noite, sendo que, na U.E. 1, foram realizadas duas palestras no pátio da escola, com o intuito de que houvesse maior participação de professores e alunos. A primeira palestra enfocou o tema “Alimentação Saudável” e a segunda os temas “Medicamentos” e “Uso racional de medicamentos”.

As palestras tiveram duração de 30 a 40 minutos. Durante esses eventos, os alunos tiveram oportunidade de sanar dúvidas, bem como houve a aplicação de um questionário, antes e após as palestras, envolvendo informações sobre “uso de medicamentos”, com o objetivo de perceber o nível de compreensão quanto aos temas apresentados.

Na U.E. 2 também foram realizados dois dias de palestras, com um diferencial: essas aconteceram na sala de aula, enquanto as anteriores ocorreram no pátio. A primeira palestra (2º ano) versou sobre “Propaganda de alimentos” e “Medicamentos”, enquanto a segunda (3º ano) focou o “Uso racional de medicamentos” e “Propaganda de Medicamentos”. A seguir apresenta-se gráfico obtido a partir dos resultados dos questionários aplicados antes e após realização de palestras.

Nas legendas estão especificados como Q1 para o questionário aplicado no início das palestras, e Q2 para o questionário aplicado ao final da palestra. A seguir, apresenta-se o roteiro de questões a que os alunos foram submetidos, com a proposição de manifestarem-se quanto a cada uma delas como certo ou errado.

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90 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

1. AS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS DEVEM CONTER AS CONTRAINDICAÇÕES.

2. FITOTERÁPICOS SÃO PRODUTOS OBTIDOS DE PLANTAS MEDICINAIS.

3. A EMBALAGEM DE UM MEDICAMENTO TEM QUE TRANSMITIR TUDO O QUE POSSA

INTERESSAR SOBRE O PRODUTO, CONTRIBUINDO PARA O SEU CONHECIMENTO.

4. O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS PODE REDUZIR O RISCO DE

APARECIMENTO DE REAÇÕES ADVERSAS.

5. MEDICAMENTOS PODEM POSSUIR FINALIDADE PROFILÁTICA.

6. A POSOLOGIA INFORMA A QUANTIDADE, QUANTAS VEZES AO DIA E POR

QUANTO TEMPO USAR UM MEDICAMENTO.

7. O NOME COMERCIAL DE UM MEDICAMENTO É O NOME QUE O LABORATÓRIO

QUE PRODUZ ESCOLHE.

8. REMÉDIO E MEDICAMENTO SÃO SINÔNIMOS.

9. MEDICAMENTO COM TARJA VERMELHA SÓ PODE SER VENDIDO MEDIANTE RECEITA

MÉDICA.

10. A AUTOMEDICAÇÃO PODE AGRAVAR O PROBLEMA DE SAÚDE.

11. VIA DE ADMINISTRAÇÃO DE UM MEDICAMENTO É A MANEIRA COMO ELE ENTRA

EM CONTATO COM O ORGANISMO.

12. OS MEDICAMENTOS DEVEM SER ARMAZENADOS PROTEGIDOS DA LUZ, CALOR E

UMIDADE.

13. UMA COMPRESSA DE ÁGUA QUENTE PODE SER CONSIDERADA UM REMÉDIO.

14. GÉIS, CREMES E POMADAS SÃO EXEMPLOS DE FORMAS SEMI-SÓLIDAS DE

MEDICAMENTOS.

15.A PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS INFLUENCIA O CONSUMO.

gráfico 1. Resultados dos questionários aplicados

Roteiro de questões

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Observou-se que 95% dos alunos já sabiam que propagandas de medicamentos devem apresentar as contraindicações; após as informações, esse percentual passou para 100%. No que se refere ao reconhecimento de que a obtenção de produtos fitoterápicos ocorre a partir de plantas medicinais, apenas 37% tinham essa informação, dado esse que salta para 73% após a palestra. As questões 3 e 10, respectivamente, saltam de 77% de conhecimento por parte dos alunos para 100% de informações obtidas após a realização da palestra. A questão 8 apresentou 32% de considerações de concordância quanto à afirmativa de que remédio e medicamentos são sinônimos; ela caracterizou-se, dentre as questões respondidas, como a de menor percentual, visto que essa não é uma afirmativa verdadeira. Vale ressaltar que “remédio” é todo e qualquer tipo de cuidado utilizado para curar ou aliviar doenças, sintomas, desconforto e mal-estar, e “medicamentos” são produtos farmacêuticos, também utilizados como remédio, elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico para atender as especificações determinadas pelo órgão regulador. Com a aplicação do Q2, constatou-se diferenciação quanto às informações recebidas, pois o percentual nessa questão aumentou para 65%.

Nesse sentido, ao observar o gráfico e proceder à análise das demais questões, percebe-se nitidamente que o estágio de conhecimento inicial sobre o tema é alterado; o conhecimento das informações, principalmente no que se refere à temática saúde, foi acrescido de forma qualitativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o desenvolvimento de todas estas atividades percebemos a participação efetiva dos alunos, fazendo colocações e dando exemplos práticos que fazem parte do cotidiano. A interação, a troca de ideias quanto as informações recebidas e a capacidade criadora estiveram sempre presentes.

A realização do Projeto Educação e Informação é muito importante, pois pode proporcionar atitudes positivas em relação à saúde que devem fazer parte da vida de todo ser humano. Nesse sentido a escola e seus colaboradores podem contribuir com a promoção da saúde através da boa informação, o que constituirá grande significado para a sociedade de forma geral.

A partir do desenvolvimento do projeto nas escolas estaduais e municipais de Teresina percebeu-se que alguns impactos podem ser destacados e ou/ inferidos, dentre esses destacam-se:

• Ter a escola/ sala de aula como espaço de discussão e produção de material educativo no que se refere ao tema saúde.

• Ampliação das informações à comunidade extra-escolar (família, amigos), o que poderá despertar o interesse quanto à necessidade de maiores conhecimentos sobre o tema, atendendo assim à perspectiva da Anvisa de que passem a funcionar como ferramentas facilitadoras na prevenção de riscos.

• Gerou em outras escolas o desejo de também participar do Projeto Educação e Informação, o que pode constituir maior disseminação dos conceitos de saúde e prevenção aos riscos associados ao consumo de medicamentos e de alimentos industrializados.

• Elevar o nível de conscientização quanto à adoção e disseminação teórica/ prática de comportamentos saudáveis.

Despertar a atenção de gestores, professores e alunos quanto à necessidade de trabalho em torno da saúde é a intenção primeira do projeto, de forma que, a escola proporcione e estimule a mudança de hábitos e atitudes prejudiciais à saúde. A atuação dos atores sociais, que constituem a comunidade escolar pode contribuir significativamente com a formação de cidadãos mais esclarecidos quanto à saúde, sendo possível desenvolver atitudes de cuidado com a sua saúde e com a saúde dos outros, disseminando assim, práticas saudáveis a partir da mudança de postura.

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REFERêNCIAS BRASIL, Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: Ministério da Educação, 2001.

BRASIL. Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília: Ministério da Educação, 2001.

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AtIvIDADE EDUCAtIvA SOBRE AUtOMEDICAÇÃO E AlIMENtAÇÃO SAUDávEl COM CRIANÇAS DE ENSINO FUNDAMENtAl EM ESCOlA MUNICIPAl DE CURItIBA (PR) E SEU IMPACtO

Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Luana Lenzi; Rafael Venson; Roberto Pontarolo (UFPR)

RESUMO

Esse trabalho visou à conscientização e educação de crianças e professores do ensino fundamental a respeito do uso racional de medicamentos, automedicação, alimentação saudável e propaganda de medicamentos e produtos controlados pela vigilância sanitária. Uma escola municipal de ensino fundamental de Curitiba (PR) foi escolhida para a realização de atividades educativas e de informação sobre os temas propostos pelo Projeto de Educação e Informação, promovido pela Anvisa, em parceria com a UFPR. A temática foi abordada por meio de palestras, dinâmicas e brincadeiras educativas, ministradas pelos bolsistas do com a expectativa de tornar o aluno um multiplicador desses conhecimentos. As crianças mostraram-se receptivas e interessadas sobre os temas. Demonstraram bastante conhecimento e fizeram muitos questionamentos aos bolsistas do Projeto. As atividades refletiram em um impacto positivo não só para os alunos, mas também para os professores e os familiares, que, por intermédio do questionário aplicado, relataram o que aprenderam com seus filhos sobre os temas trabalhados. Os resultados alcançados motivaram a direção pedagógica da escola a considerar a implementação de um projeto com mais atividades extracurriculares relacionadas às temáticas desenvolvidas. As crianças são bastante receptivas a temas que dizem respeito a sua saúde e possuem uma grande capacidade de aprendizagem. Dessa forma, ensinar as crianças é uma importante forma de multiplicar esse conhecimento com os pais, os familiares e os colegas.

INtRODUÇÃO

Dentre os inúmeros problemas de saúde pública existentes em todo o mundo, um dos mais sérios é o uso inadequado de medicamentos, incluindo a automedicação irresponsável e suas consequências, tanto do ponto de vista clínico quanto econômico.

Várias são as razões pelas quais os indivíduos se automedicam. A busca da solução imediata para os problemas de saúde, muitas vezes considerados rotineiros pelos pacientes ou familiares, é uma delas. Outra razão é atribuída à dificuldade de acesso à assistência médica por grande parte da população, em especial a de baixa renda, que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) e acaba substituindo o médico ou o dentista pelo balconista da farmácia. Mas, sem dúvida, a falta de conhecimento a respeito da prática da medicação é fator determinante sobre a alta prevalência da automedicação (LENZI, 2009).

É importante que as pessoas tomem conhecimento do que é o uso racional de medicamentos e a automedicação responsável. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos é definido como a situação na qual os pacientes recebem os medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas, na dose correta, por um período de tempo adequado e a um custo acessível (BRASIL, 2008). Já a automedicação é, por definição, uma prática que consiste no autodiagnóstico do problema

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de saúde por parte do paciente, seguido do uso do medicamento sem prescrição médica ou indicação farmacêutica. Certas classes de medicamentos – os chamados medicamentos de venda livre -, que são para tratar problemas menores de saúde, podem ser indicadas pelo farmacêutico sem necessidade da intervenção de um prescritor. Esse tipo de automedicação é a chamada automedicação responsável (BRASIL, 2008).

Devido a essas práticas, os medicamentos têm sido um dos principais causadores de intoxicações no país. A utilização indiscriminada e muitas vezes desnecessária desses produtos pela população cria a necessidade de informar e alertar as pessoas sobre os riscos e os cuidados que se deve ter na utilização de medicamentos.

No Brasil, é grande o número de vítimas de intoxicação por medicamentos. O Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox) registrou, em 2006, 32.884 casos de intoxicação por medicamento no país, correspondendo a 30% dos casos de intoxicação registrados naquele ano. A forma mais comum de intoxicação é a acidental (31%) e a faixa etária mais atingida é a de crianças menores de cinco anos, que representam 36% dos casos. Os medicamentos também lideram os casos de intoxicação entre jovens de 15 a 19 anos, com 35% dos casos registrados nessa faixa etária (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2006).

O objetivo desse trabalho foi o de trazer para o público infantil um contato mais próximo com os conceitos que envolvem saúde, alimentação saudável e farmacoterapia. Procuramos informar as crianças sobre conceitos básicos, como saúde, alimentação saudável, automedicação, tolerância à farmacoterapia, resistência microbiana, entre outros. Além disso, buscamos infundir a consciência de que nenhum medicamento é totalmente livre de risco, em maior ou menor grau, o risco está sempre presente e, por isso, o medicamento deve ser usado com a devida orientação de um

profissional de saúde. Assim, o medicamento representa um, e não o único dos instrumentos terapêuticos disponíveis; e a propaganda de medicamentos nem sempre é uma fonte de informação confiável.

Investimos na proposta de tornar o aluno do ensino fundamental um multiplicador do conhecimento, repassando o que aprendeu na escola aos seus familiares, amigos e vizinhos. Tentamos levar para a sala de aula a discussão sobre o uso racional de medicamentos, os riscos da automedicação e a influência da propaganda desses e de outros produtos sujeitos à vigilância sanitária nos hábitos de consumo.

OBJEtIvOS

Estimular a mudança de hábitos a partir da atuação na comunidade escolar, visando à formação de cidadãos mais esclarecidos quanto ao uso responsável de medicamentos e aos cuidados com a saúde individual e coletiva no que diz respeito à alimentação saudável e a hábitos de higiene; e orientar alunos e a comunidade envolvida quanto à identificação dos riscos do consumo indiscriminado de medicamentos e de outros produtos sujeitos à vigilância sanitária.

MAtERIAl E MÉtODOS

Para a realização das atividades educativas, uma escola municipal de ensino fundamental de Curitiba, no Estado do Paraná, foi escolhida após reunião com colaboradores da Secretaria Municipal da Educação.

A escola eleita foi a Escola Municipal José Lamartine, localizada no bairro Pinheirinho. A mesma possui atividades em tempo integral e um projeto pedagógico bem estruturado.

Após reunião com a diretora da escola, foram definidos datas, horários e programação das atividades. Foram eleitas duas turmas de 3ª série do ensino fundamental, com crianças de aproximadamente 9 anos de idade, para fazerem parte do programa educativo.

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As atividades constituíram-se de aulas expositivas sobre medicação/uso racional de medicamentos/automedicação e sobre alimentação saudável. Foram realizadas dinâmicas com o material desenvolvido descrito a seguir e distribuídas cartilhas informativas.

O material desenvolvido sobre a temática do uso racional de medicamentos consistiu em quebra-cabeças relacionados aos assuntos abordados - automedicação, a influência da propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária e intoxicações – e uma cartilha com informações em forma de história em quadrinhos, contendo atividades de caça-palavras, jogo dos 7 erros, entre outros, envolvendo os temas referentes ao trabalho. Para o tema da alimentação saudável, foram realizadas uma simulação de pirâmide alimentar e dinâmicas sobre a lavagem correta das mãos e hábitos de higiene como escovação dentária, dentre outros.

Os quebra-cabeças foram dados às crianças para que elas montassem e, depois de montados, eles foram lidos e interpretados.

As cartilhas com jogos e as cartilhas somente informativas foram distribuídas e lidas com as crianças.

A atividade com a pirâmide alimentar constou na montagem de um “prato” com alimentos escolhidos pelas crianças. Posteriormente, um prato considerado ideal foi montado pelos bolsistas do projeto com a ajuda das crianças, sendo elaborada uma refeição saudável e saborosa, baseada na pirâmide alimentar.

Uma segunda etapa da atividade de educação foi uma visita ao mesmo colégio algumas semanas depois para a participação em um evento anual realizado pela escola, a ExpoLamartine, que ocorreu durante um sábado pela manhã e cujo objetivo foi a exposição de trabalhos realizados na escola durante o ano letivo transcorrido. Nesse evento, houve a participação dos pais e da comunidade, além dos alunos e dos educadores. Durante a manhã, os bolsistas do projeto de educação distribuíram fôlderes

educativos e conversaram com a comunidade sobre medicação/automedicação/uso racional de medicamentos e alimentação saudável. Além disso, visando a avaliação do impacto das atividades realizadas, foi aplicado aos pais e educadores da escola, um questionário sobre o reflexo das atividades realizadas e que puderam ser observados nas atitudes e no cotidiano das crianças.

RESUltADOS

As atividades despertaram o interesse das crianças pelos assuntos abordados, havendo uma participação muito ativa por parte desses alunos em todas as etapas das dinâmicas e das aulas.

Houve interesse por parte da instituição de ensino também para a instituição de um projeto de educação continuada com as crianças e com os pais.

Todas as crianças receberam a cartilha com informações e atividades recreativas sobre as temáticas que envolveram o trabalho. As cartilhas foram lidas e discutidas com os alunos, que se mostraram bastante receptivos ao tema, e demonstraram aptidão para disseminar as informações aprendidas. Cada uma das crianças possuía um relato sobre algum problema de saúde vivenciado entre seus familiares, demonstrando interesse em repassar as observações e orientações aos mesmos, como forma de retribuir os cuidados e carinhos recebidos por parte deles.

Durante a dinâmica da montagem dos quebra-cabeças, buscou-se relembrar, em grupo, sobre os cuidados e observações discutidos anteriormente.

Surpreendentemente, apesar de os temas discutidos não consistirem em parte do conteúdo escolar, as crianças demonstraram interesse, curiosidade e fácil compreensão durante o desenvolvimento das atividades, demonstrando que podem sim caracterizar um potencial grupo multiplicador dos diversos assuntos abordados.

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Na realização das ações sobre alimentação saudável, conseguimos discutir sobre os benefícios alcançados quando nos propomos a mudanças alimentares, substituindo um biscoito recheado por uma fruta no lanche, ou um refrigerante por um suco natural. As crianças foram bastante receptivas e conseguiram elaborar um prato nutritivo e saboroso ao seu paladar. Quando indagadas se gostariam de comer aquela refeição, a resposta positiva foi unânime.

Ainda durante a dinâmica da pirâmide alimentar, abordamos que não há necessidade de privação total das guloseimas, tão buscadas e preferidas nessa faixa etária, podendo estas serem consumidas em pequena quantidade e, eventualmente, mas nunca preferencialmente, em detrimento de outros alimentos mais saudáveis e com mais benefício à saúde.

Dentre os malefícios de uma má alimentação, salientamos a presença de grandes quantidades de gordura saturada, sódio, açúcar e gordura trans, os quais constituem ingredientes comuns nas guloseimas adoradas pelas crianças. Relacionando os malefícios a saúde, citaram-se a hipertensão arterial, problemas cardíacos, diabetes mellitus e a obesidade, problemas esses que, atualmente, estão inseridos no cenário infantil.

Além das atividades desenvolvidas em sala de aula com as crianças da 3ª série, tivemos a oportunidade de conversar com os pais e com a comunidade, durante o evento de exposição de trabalhos realizados no colégio – a ExpoLamartine.

Nesse evento, conversamos sobre a utilidade prática dos temas abordados com as crianças, e a importância de estar atento aos perigos acerca da exposição indevida aos medicamentos.

Muitos pais mostraram-se favoráveis a mudanças nos hábitos da família, em prol da busca por uma vida mais saudável e da proteção de seus filhos contra os perigos das intoxicações. Informaram que as crianças comentaram em casa sobre o

que tinham aprendido e que já começaram a observar mudanças em relação à alimentação e à preferência por alimentos mais saudáveis.

Sobre a avaliação do impacto das ações realizadas com os alunos, por intermédio da aplicação do questionário aos pais e educadores da escola, obtivemos os resultados que comentamos a seguir.

Sobre o tema “alimentação saudável”: A escola possui um Programa de Alimentação Saudável para a merenda escolar, que é desenvolvido por nutricionistas da prefeitura do município; pais e professores perceberam um aumento do consumo de lanches mais saudáveis por parte das crianças; como comentários dos pais e professores, houve inúmeros relatos de modificação de hábitos alimentares das crianças, que passaram a ingerir menor quantidade de lanches industrializados como salgadinhos e refrigerantes, substituindo-os por alimentos mais saudáveis, como frutas, sucos, iogurtes e até cereais. Houve até o comentário de uma mãe, contando que sua filha de oito anos, que sofre de obesidade, passou a diminuir o consumo de chocolates e a praticar mais atividades físicas, na tentativa de melhorar sua saúde e prevenir as doenças consequentes.

A escola, por ser de período integral, oferece três refeições diárias, sendo estas o lanche da manhã, o almoço e o lanche da tarde. Os educadores comentaram que apesar de a merenda escolar trazer alimentos diversos, variados e nutritivos, como verduras e frutas, as crianças geralmente deixavam esses alimentos de lado durante as refeições. Entretanto, após as atividades educativas em saúde, elas passaram a se alimentar melhor e a comer todos os alimentos disponibilizados na merenda. A diretora da escola estimava que, antes, cerca de 60% desses alimentos acabavam sendo descartados como lixo orgânico, e que, agora, somente 9% vão para a lixeira, sem ser consumido.

Sobre o tema “uso racional de medicamentos”: 78% dos pais afirmaram que passaram a armazenar os medicamentos em locais corretos

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(fora da cozinha, do banheiro e longe do alcance das crianças), após a orientação dos seus filhos (as); 63% afirmaram que costumavam usar medicamentos sem orientação do médico ou do farmacêutico e, desses, somente 16% afirmaram ainda continuar com essa prática; e 97% dos pais alegaram que seus filhos (as) comentaram em casa sobre os temas abordados na escola. E 56% dos pais afirmaram que costumavam comprar medicamentos que viam anunciados em propagandas. Desses, somente 11% afirmaram ainda continuar com essa prática.

Todos os pais fizeram elogios em relação às atividades realizadas na escola. Comentaram que as crianças chegaram em casa contando sobre os temas e propondo mudanças. Praticamente todos pediram que as atividades pudessem ser realizadas mais vezes na escola e que, se possível, abordassem também outros temas relacionados à saúde, para que além das crianças, eles (os pais) pudessem aprender por intermédio dos filhos.

DISCUSSÃO

A saúde é, inegavelmente, um processo social, cultural, ambiental, econômico, psicológico e biológico, contínuo, complexo e multidimensional, não restrito ao uso de um determinado produto (BRASIL, 2008).

Atualmente, para a maioria da nossa população, comprar um medicamento por conta própria, na farmácia mais próxima, tornou-se a primeira e a mais cômoda opção para tratar os sintomas das doenças mais comuns. O problema é que as pessoas desconhecem as graves consequências ligadas a essa prática.

O sucesso do tratamento de doenças, propriamente dito, depende do uso de determinada substância na hora certa, na dosagem certa, no tempo determinado, desde que prescrita por quem tem competência para tal: o médico ou o dentista. Utilizado dessa forma, o medicamento é um importante aliado no tratamento de enfermidades, e seu uso é, assim feito, de forma racional.

Mas, de maneira contrária, os medicamentos podem vir a constituir um sério problema de saúde pública, considerando-se os altos custos e o impacto econômico que representam para o SUS e para os usuários, a elevada incidência de surgimento de efeitos indesejáveis, os riscos atribuídos à prática da automedicação e, ainda, o uso indiscriminado desses produtos.

O uso de qualquer medicamento, sem a orientação de um especialista, pode levar a uma administração equivocada. Os sintomas iniciais podem ser agravados e levar o paciente, inadvertidamente, a fazer uso de mais medicamentos para eliminar o desconforto ou, então, a mascarar a doença (a dor passa, mas a infecção continua, por exemplo) e a retardar o tratamento necessário. Além disso, o medicamento pode ter efeito sobre os órgãos que não estão doentes ou causar a tolerância ou resistência, processo onde o organismo “se acostuma” com o medicamento, exigindo doses cada vez maiores para surtir o mesmo efeito. Exemplo disso é a chamada resistência microbiana (CUSTODIO & VARGAS, 2008).

Os medicamentos são divulgados como sendo sinônimos de saúde, de realização e felicidade, e ocupam um papel central nos tratamentos médicos – grande parte das consultas, em termos nacionais, resulta em receitas farmacêuticas. Observa-se que muitas propagandas estimulam, constantemente, o uso indiscriminado e desnecessário de medicamentos, com apelos exagerados de qualidade, omitindo as contraindicações e os riscos envolvidos no consumo inadequado (CAMARGO, 2009).

A solução desse problema é de responsabilidade geral. Além do governo, nas suas três esferas, e dos profissionais e gestores de saúde é necessário o envolvimento da família, de instituições e empresas na formulação de medidas que promovam a transformação de hábitos e atitudes da população no sentido da conscientização sobre os perigos da prática da automedicação (GARRAFA, 2007).

A Constituição Federal atribui ao Estado, além de outras prerrogativas, a proteção da pessoa e

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da família quanto à publicidade de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente, inclusive com restrições legais à propaganda (BRASIL, 1988).

A legislação ratifica a responsabilidade do Estado no sentido de prover políticas públicas em todas as áreas, visando à promoção da saúde da população, assim como estende a responsabilidade com a saúde ao indivíduo, às famílias e à sociedade.

A pessoa passa a ser chamada para o cuidado consigo mesma e também para o cuidado com a sua comunidade. O cidadão passa a intervir no processo de promoção da saúde por intermédio da organização e participação em escolas, associações de bairro, de classe, empresas e conselhos participativos. Ao governo cabe a articulação entre todas as suas instâncias, com o setor privado e com a sociedade civil, e o indivíduo é estimulado a exercer o seu papel de cidadão interventor e transformador de sua realidade (FAGUNDES et al., 2007).

Não basta informar e orientar o setor regulado para que este cumpra as normas estabelecidas e se reconheça como sujeito atuante no processo de proteção e promoção da saúde da sociedade. De igual importância é a informação e a orientação ao indivíduo comum, para que este tome consciência dos seus direitos e dos perigos a que sua saúde é exposta quando as regras sanitárias não são obedecidas.

Uma população informada e com postura fiscalizadora promove saúde, assume a defesa sanitária própria e de sua comunidade, obrigando produtores e fornecedores à mudança de atitudes, no sentido de oferecer à população produtos e serviços de qualidade, que não coloquem a sua saúde em risco (GARRAFA, 2007).

O consumidor consciente dos seus direitos e responsabilidades, e bem informado das normas sanitárias, exige seu cumprimento. Pois,

embora existam órgãos de fiscalização em todas as etapas de produção e de comercialização, somente o consumidor final é capaz de avaliar criticamente o produto que lhe é oferecido e denunciar quando entender que seus direitos foram desrespeitados (FAGUNDES et al., 2007).

A escola é um ambiente que fomenta a discussão e a participação, cumprindo a sua função de preparação para a vida, adulta e pública, na busca do exercício da cidadania plena. Como espaço privilegiado, nela devem ser desenvolvidas estratégias que envolvem tanto o estabelecimento de ensino quanto o seu entorno, visando à qualidade de vida de toda a sociedade. Assim, qualquer ação que pretenda melhorar as condições de vida das populações menos favorecidas tem maior chance de sucesso se contar com a participação da comunidade escolar.

Quando a escola possui um projeto político-pedagógico construído por meio de um processo coletivo, que envolva toda a comunidade escolar, a mesma consegue despertar verdadeiramente o interesse do aluno, tornando-o multiplicador capaz de influenciar sua família, vizinhos, amigos e outros indivíduos que se relacionam com ele. A escola atinge também os profissionais da educação (professores e auxiliares), pais e responsáveis, que por sua vez tornam-se, da mesma forma, difusores do conhecimento, iniciando cada um a sua própria cadeia de influência: família, amigos, vizinhos e outros (BRASIL, 2008).

Mais do que aprender, os alunos tiveram o estímulo de ensinar aos colegas, aos pais e à comunidade, tornando-se verdadeiros multiplicadores. A vida saudável e o uso de medicamentos são assuntos que envolvem toda a população, desde as crianças até as pessoas mais idosas e, por isto, as orientações a respeito desses temas são de grande importância para a saúde e devem despertar o interesse de todos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O direcionamento inclusivo do aluno como ator praticante do conhecimento foi uma característica ressaltada no desenvolvimento dos temas e atividades do projeto.

Incluir a comunidade e a escola amplia o diálogo sobre a necessidade da mudança de hábitos e atitudes resultantes de uma postura de estímulo ao consumo indiscriminado de tais produtos e minimiza, por meio das ações educativas, a ocorrência de danos à saúde.

Conseguimos despertar a comunidade para a importância de uma alimentação saudável e para a conscientização sobre o uso responsável de medicamentos e a influência da propaganda para o consumo desses produtos, sendo o projeto avaliado com um impacto extremamente positivo, mediante a observação dos resultados alcançados.

Mediante a observação dos resultados, concluímos que foi possível estimular a mudança de hábitos, incentivando o cuidado com a saúde individual e coletiva, caracterizando, dessa forma, uma diminuição dos riscos à saúde associados à automedicação e à alimentação.

REFERêNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial da União, 1988.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Educação para o Consumo Responsável de Medicamentos e de outros Produtos Sujeitos à vigilância Sanitária: Educanvisa. Relatório final - Julho de 2005 a novembro de 2008. Brasília:Anvisa, 2008.

CAMARGO, P. R. J. Propaganda de Medicamentos no Brasil - um discurso pra lá de persuasivo! Disponível em http://www.cit.sc.gov.br/propaganda/pdfs/artigos/propa- ganda _no_brasil.pdf> Acesso em 10/11/2009.

CUSTODIO, B.; VARGAS, S. L. Z. Medicamentos e lucro: uma associação pouco saudável. Monografia de especialização [Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública. Curso de Especialização de Vigilância Sanitária de Medicamentos]. Rio de janeiro, 2008.

FAGUNDES, M. J. D.; SOARES, M. G. A.; DINIZ, N. M.; PIRES, J. R.; GARRAFA, V. Análise bioética da propaganda e publicidade de medicamentos. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.1, p.221-229, 2007.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informação Tóxico Famacológica. Casos Registrados de Intoxicação Humana por Agente tóxico. Brasil, 2006. Disponível em <http://www.fiocruz.br/cict/informacao/intoxicacoeshumanas>.

GARRAFA, V.; MELLO, D. R.; PORTO, D. Bioética e vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2007.

LENZI, L. Diagnóstico situacional das propagandas de produtos sujeitos à vigilância sanitária veiculadas em Curitiba e região metropolitana. Monografia de conclusão de curso. UFPR, 2009.

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PERCEPÇÃO E AtItUDES DE EStUDANtES DO ENSINO MÉDIO SOBRE OS MEDICAMENtOS E A PUBlICIDADE FARMACêUtICA

Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRgS)

Marjorie Muller2; Caren Gobetti2; Bruna Piccoli2;Letícia Oliveira2² e Tânia Alves Amador1¹.

1 - Professor Adjunto II, Departamento de Produção e Controle de Medicamentos. Faculdade de Farmácia. Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

2 - Acadêmicos do Curso de Farmácia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

RESUMO

A urgência em resolver problemas menores de saúde, como um resfriado ou uma dor de cabeça, leva os indivíduos a recorrer às “pílulas” que são divulgadas na mídia, prometendo resolução imediata, e possibilitando o retorno às atividades diárias sem perda de tempo. Jovens e adolescentes têm sido apontados como suscetíveis ao apelo promocional desses produtos. O objetivo deste estudo foi conhecer a percepção de estudantes de ensino médio sobre os medicamentos e a sua publicidade. Foi realizada uma pesquisa descritiva, de cunho qualitativo, aplicada em uma escola de Porto Alegre (RS), no mês de novembro de 2009. As respostas foram analisadas por meio da técnica do discurso do sujeito coletivo. Três ideias centrais se destacaram quanto à percepção sobre medicamento: o discurso muito disseminado na mídia de um produto científico que dá credibilidade; o medicamento como a solução para dores e sofrimentos; e como uma droga que vicia e deve ser evitada para não trazer prejuízos. Sobre a propaganda, transparece um discurso de necessidade de prescrição para uso de medicamentos; já outros admitem terem sido influenciados pela publicidade na busca rápida de resolução dos problemas de saúde. A pesquisa mostra que persiste a ideia de medicamentos como soluções “mágicas, rápidas” e este trabalho fundamenta a necessidade do desenvolvimento de ações de educação voltadas para o segmento de jovens e adolescentes.

INtRODUÇÃO Em 1980, Cordeiro discute que os medicamentos ocupam o lugar de símbolos e representações que obscurecem os determinantes sociais das doenças; iludem os indivíduos com a aparência da eficácia científica; e, como mercadorias, apresentam um valor monetário, garantindo a acumulação de um dos segmentos mais lucrativos do capital industrial. Entretanto, para Lefèvre (1983) esta afirmação é apenas parcial, pois os medicamentos conseguem iludir ou funcionam como paliativos dos sofrimentos de milhares de indivíduos, não com a aparência, mas com a realidade da sua eficácia científica.

Nesse contexto, verificamos um consumo cada vez maior de medicamento, seja na busca de saúde ou dos padrões estéticos impostos na sociedade moderna. Como conseqüência, amplia-se o uso da automedicação, em virtude de múltiplos fatores. Na década de 90, Barros (1997) relacionava essa questão à baixa disponibilidade dos serviços de saúde, com a necessidade da população de baixo poder aquisitivo recorrer à farmácia, onde tinha acesso facilitado aos medicamentos e balconistas disponíveis para indicá-los, estimulados pelo ganho de comissões.

Já em 2003, Nascimento discute que não é somente o consumidor de baixa renda que realiza a automedicação, ela também acontece entre as camadas mais privilegiadas, que apresentam amplo acesso aos serviços médicos. Nesta

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classe, o principal fator associado é a urgência em resolver problemas menores de saúde, o que leva os indivíduos a recorrer às “pílulas” que são divulgadas na mídia, prometendo cura rápida dos problemas de saúde. O uso de medicamentos ou remédios no autocuidado ocorre desde a antiguidade e tem sido discutido em estudos sob diversas óticas, desde a antropológica até sob o ponto de vista econômico (DELYTH et al., 2008; LOYOLA et. al., 2004). Contemporaneamente, com a hipervalorização da tecnologia médica e, em especial, da farmacêutica, obtém-se uma expansão sem precedentes nesta área (NASCIMENTO, 2003). Assim, com o fortalecimento dos grandes laboratórios farmacêuticos, houve um estímulo ao consumo de medicamentos em diferentes meios, seja com publicidade aos prescritores ou ao público leigo (BARROS, 1988). Sendo que a influência da publicidade de medicamentos sobre o consumo é foco de muitos trabalhos (LAGE, 2005).

Existem vários fatores, principalmente culturais, relacionados ao consumo de medicamentos, além de sua propaganda. Contudo, considerando que os medicamentos são compostos por substâncias químicas, que, quando usadas indevidamente e em situações contraindicadas, podem causar riscos como reações adversas e, até mesmo, óbito, mostra-se a necessidade de monitorar todos os fatores que possam impulsionar um consumo irracional desses produtos (HEINECK et al., 1998).

Além disso, considerando a influência exercida pela publicidade no consumo de medicamentos, é necessário desenvolver ações em níveis de educação em saúde para que se possa criar uma visão crítica a respeito do tema, especialmente em grupos suscetíveis ou que possam agir como multiplicadores de informação, como é o caso de adolescentes e jovens.

O jovem pode disseminar informações corretas em sua família ou pode ser influenciado por práticas já instaladas. Um estudo transversal, do tipo inquérito populacional domiciliar,

realizado em 2004 nas cidades de Piracicaba e Limeira (SP), analisou a relação das farmácias domiciliares com a automedicação em crianças e adolescentes. Essa pesquisa constatou que guardar medicamentos nos banheiros (razão de chances = 1,59) e o grau de instrução dos responsáveis legais (≤ 4 anos do ensino fundamental/razão de chances=2,40) representam um maior risco à automedicação (TOURINHO et al., 2008). Esses dados mostram a importância de desenvolver ações de educação para este público.

Com base no cenário apresentado, este estudo teve por objetivo descrever a percepção e a atitude de estudantes do ensino médio, de um colégio de Porto Alegre, a respeito dos medicamentos e da publicidade dos mesmos.

MAtERIAIS E MÉtODOS

O estudo caracteriza-se como transversal, de natureza qualitativa. A seleção da amostra foi aleatória, sendo composta por 26 estudantes do ensino médio, de uma escola na cidade de Porto Alegre.

A coleta de dados ocorreu mediante a aplicação de um questionário testado previamente, composto por perguntas abertas. As entrevistas foram desenvolvidas ao longo do mês de novembro de 2009, por acadêmicas de Farmácia devidamente treinadas.

O único critério de inclusão foi o aceite em participar do estudo, emitido pelos estudantes. Foram obedecidos os critérios éticos previstos na Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde.

Os dados foram tratados utilizando-se a técnica de análise do discurso do sujeito coletivo (DSC), em que é realizado um conjunto de procedimentos de tabulação e organização de dados discursivos. Esses procedimentos envolvem as etapas descritas a seguir: a) seleção das expressões-chave (EC) de cada discurso particular (são segmentos contínuos ou descontínuos de discurso que revelam o principal do conteúdo discursivo. Segundo

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Lefèvre (2008) é uma espécie de “prova discursivo-empírica” da “verdade” das ideias centrais); b) identificação da ideia central (IC) de cada uma dessas EC e que é a síntese do conteúdo dessas expressões, ou seja, o que elas querem efetivamente dizer; c) reunião das expressões-chave referentes às ideias centrais semelhantes ou complementares em um discurso síntese que é o DCS.

O DCS se propõe a deixar mais claras e expressivas as representações sociais, possibilitando a um grupo social – no nosso caso, os estudantes do ensino médio – que ele possa ser encarado como autor e emissor de discursos comuns, compartilhado entre seus componentes. A análise dos dados foi baseada em dados já descritos na literatura.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Foram analisadas as respostas de 26 estudantes de ensino médio, de um colégio de Porto Alegre (RS). Os estudantes estavam na faixa etária de 14 a 17 anos. A amostra não distinguiu gêneros e nem séries escolares, já que o objetivo do estudo foi encontrar as representações sociais do grupo, que nesse caso eram os estudantes do ensino médio.

A primeira questão colocada referia-se ao significado de “remédio” para os participantes da pesquisa, sendo que esse termo é exposto à sociedade como sinônimo de medicamento. Os dados são apresentados no quadro 1.

Quadro 1 – Percepção dos estudantes sobre o que é remédio.

O QUE É REMÉDIO PARA vOCê?

Ideia Central (1)

É um aperfeiçoamento feito pela ciência. É um composto químico desenvolvido para tratar. É uma coisa séria por ser científico.

DSC (1)

Aprimoramento científico. Composto químico para tratamento médico. Composição química.

Ideia Central (2)

O remédio alivia o sofrimento, curar qualquer coisa, cura a dor que tanto incomoda a vida moderna; cura coisas complicadas como anomalias; livra de todo sofrimento da vida.

DSC (2)

Combate anomalias, algo que tomamos quando precisamos melhorar de alguma dor ou doença; ajuda a curar dores; tomamos quando temos al-guma dor; uma mistura de substância para ficar melhor; efeito contrário a dor; forma de se livrar da dor e do sofrimento; tomamos quando não estamos nos sentindo bem.

Ideia Central (3)

Se eu usar vou ficar viciado; é uma droga de abuso; são usadas para se viciar; não deve se usar drogas.

DSC (3)

É uma coisa viciante; droga que vicia; age para o bem, mas pode causar prejuízo; é uma “droga”; não vale muito a pena.

Nas respostas dos alunos é possível perceber algumas das percepções que a sociedade em geral tem do medicamento. Primeiramente, os entrevistados apresentam a ideia disseminada, especialmente na mídia, seja por meio de propagandas ou por meio de matérias jornalísticas, que utilizam o discurso científico para apresentar produtos farmacêuticos para serem consumidos pela sociedade.

O discurso é bem próximo ao que se vem discutindo sobre a sociedade de consumo, que tem como seu principal representante os meios de comunicação. Segundo Cordeiro (1980), os medicamentos ocupam o lugar de símbolos e representações que obscurecem os determinantes sociais das doenças, iludindo os indivíduos com a aparência da eficácia científica.

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A segunda ideia central refere-se ao medicamento como as “pílulas mágicas”, sugerido por Levèfre (1983). Muitos autores têm discutido o tempo contemporâneo como uma época na qual as pessoas encontram-se assoberbadas de atividades, fundamentado no hiperconsumo e no excesso (MOURA e EWALD, 2007). O discurso contido nas mensagens dos estudantes mostra essa preocupação, quase geral, com a cura de “dores” e o medicamento como a solução mágica para esse “sofrimento”. Cabe ressaltar que a faixa etária dos entrevistados é caracterizada por uma fase de grandes angústias.

Já a terceira ideia, reflete a percepção disseminada sobre uso de psicotrópicos e o abuso dessas substâncias, e os estudantes o percebem relatando ser um produto que vicia, que causa prejuízo. Entretanto, as expressões utilizadas não demonstram correlação com os efeitos adversos dos medicamentos. O termo “droga” aparece fortemente como a se referir a uma “droga de abuso”.

Os entrevistados foram questionados sobre lembrarem-se de alguma propaganda que tivessem visto. A maioria respondeu aquelas propagandas com mais inserções na mídia. Os medicamentos mais lembrados foram Benegripe; Neosaldina; Atroveram; Scabin; Lactopurga; sal de fruta Eno; Doril; Merthiolate.

No quadro 2 são apresentadas as respostas do questionamento sobre atitude dos estudantes frente à oferta de medicamentos pela publicidade. É possível perceber dois comportamentos: um que nega o uso e outro que assume que acredita na propaganda para resolver o seu problema. Na primeira opção, é possível que os adolescentes não quisessem admitir que haviam sucumbido ao uso de algo por causa de uma propaganda, temendo alguma represália por parte dos pesquisadores. Enquanto que os que consumiram o medicamento, admitindo a influência da publicidade, apresentam o comportamento já discutido anteriormente, que enxerga no produto uma solução mágica para resolver seus problemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta pesquisa foi aferir o quanto o valor simbólico do medicamento, já abordado na literatura, estava presente num determinado grupo social. Foi possível verificar que essa percepção ainda está presente.

Quadro 2 – Atitude dos estudantes frente à oferta de medicamentos pela publicidade.

vOCê Já tEvE vONtADE DE COMPRAR AlgUM MEDICAMENtO POR CAUSA DE PROPAgANDA?

Ideia Central (1)

Não sou influenciado, sei que é errado, sei que só devo comprar depois de consultar o médico. .

DSC (1)

Não uso medicamento sem aconselhamento médico; não, nunca; só comprei medicamento por que necessitava; não só indicado por um profissional médico.

Ideia Central (2)

A propaganda é séria, eu acreditei na propa-ganda, a pessoa parecia estar bem e eu queria estar como ela.

DSC (2)

Sim porque dizia que era “tiro e queda”; sim porque tenho muita cólica e nenhum remédio resolve; porque dizia que evitava gripe; porque morro de cólica e pensei que era bom pra mim.

A Organização Mundial de Saúde define automedicação responsável como a prática pela qual os indivíduos tratam seus problemas de saúde com medicamentos aprovados e disponíveis para serem adquiridos sem prescrição, e que sejam seguros e efetivos quando utilizados como indicado. Contudo,

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a automedicação responsável requer que os medicamentos utilizados tenham segurança e eficácia comprovadas, bem como sejam indicados para condições autorreconhecíveis e para algumas condições crônicas ou recorrentes - seguindo ao diagnóstico médico inicial (WHO, 1998).

A aceitação da automedicação tem se tornado uma tendência mundial, e, no Brasil, constitui, atualmente, parte essencial do serviço não regularizado de saúde. Uma das alternativas seria a de utilizar os meios de comunicação com a finalidade de esclarecer o público em relação aos medicamentos, melhorar a fiscalização e efetivar as normas de fiscalização de dispensação e propaganda de medicamentos (SIMÕES et al., 1988; HAAK, 1989; BLENKINSOPP et al.,1996; ARRAIS et al., 1997; VILARINO et al., 1998). O avanço nos últimos anos foi significativo, entretanto, ainda há resistência do setor regulado em implantar as mudanças. Compreende-se, portanto, que uma mudança na postura da sociedade é importante e as ações educativas de grande valia no processo.

O consumo de medicamentos está apoiado na necessidade de adequação e compensação de valores estéticos e de conduta, considerados ideais na sociedade contemporânea, como: tranquilidade no dia a dia, solução para emagrecer ou engordar, driblar o cansaço no trabalho e lazer, vitaminas para quem fuma, dentre outros. Além disso, a propaganda de massa estimula intensivamente essa lógica de compensação quando anuncia os medicamentos sem alertar sobre os riscos decorrentes do uso, fazendo, assim, com que a população tenha um processo de deseducação em relação ao consumo de medicamentos (NASCIMENTO, 2003; PACHELLI, 2003; PIZZOL et al, 1998).

Conhecer a percepção e as atitudes dos estudantes frente aos medicamentos, e a publicidade destes, ofereceram subsídios para trabalhar diretamente com esses indivíduos, estabelecendo estratégias específicas para ações de educação, que culminou com o desenvolvimento de um material educativo.

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REFERêNCIAS

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AvAlIAÇÃO DO CONHECIMENtO SOBRE MEDICAMENtOS E AlIMENtOS EM EStUDANtES DE ESCOlA PÚBlICA EM NAtAl/RN

Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN)

Francisca Sueli Monte1; Lourena Mafra Veríssimo2; Maria Giovana Binder Pagnoncelli3; Andreza Rochelle do

Vale Morais4; Rafaella Nayara Andrade Marinho4; Núbia Melo da Rocha5; Maria Cleide Ribeiro Dantas de Car-

valho6.

1 - Professora Assistente do Departamento de Farmácia, mestre em Ciências Farmacêuticas (UFRN).

2 - Professora Assistente do Departamento de Farmácia, mestre em Genética e Biologia Molecular (UFRN).

3 - Professora Adjunta do Departamento de Farmácia, doutora em Engenharia Química (UFRN).

4 - Alunas do Curso de Farmácia (UFRN).

5 - Professora da Escola Estadual Josefa Sampaio. Natal (RN).

6 - Professora Associada do Departamento de Farmácia, doutora em Ciências da Saúde (UFRN).

RESUMO

A disseminação de informações de caráter educativo abarcadas pela vigilância sanitária é importante para prevenir agravos e riscos à saúde. O artigo objetivou avaliar o conhecimento sobre uso de medicamentos e alimentação saudável em estudantes de escola pública em Natal (RN). Para tal, foram aplicados 202 questionários que avaliaram o nível de conhecimento de estudantes do ensino fundamental 1, 2 e médio. Os resultados demonstraram que 59,6% dos alunos usam medicamento sem orientação de profissional de saúde; 20,0% utilizam algum tipo de medicamento sem o conhecimento dos pais; 77,9% não acreditam que as propagandas têm informações suficientes; 87,6% sabem que existem medicamentos que não podem ser usados por crianças; 51,0% já viram nas propagandas a advertência “O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER USADO POR CRIANÇAS”; 22,7% já solicitaram aos pais para comprar medicamento anunciado em propaganda; enquanto que 52,7% afirmam interesse em comprar alimentos divulgados em propagandas; 91,2% observam a validade nos alimentos e medicamentos adquiridos; 82,1% sabem que o farmacêutico é o profissional que deve orientar como os medicamentos devem ser utilizados. Os resultados desta avaliação serão utilizados na elaboração de materiais educativos que subsidiem o uso adequado dos medicamentos e hábitos alimentares saudáveis.

INtRODUÇÃO

A saúde é um direito fundamental do ser humano, declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pela Constituição Federal de 1988, a saúde é concebida como direito de todos e dever do Estado, garantida por políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos. Portanto, trata-se de um direito inerente à própria vida do homem, rege-se pelos princípios da universalidade e da igualdade de acesso às ações e aos serviços que a promovam, a protejam e a recuperem. Nesse sentido, por serem de relevância pública, as ações e os serviços de saúde ficam submetidos à regulamentação, à fiscalização e ao controle do poder público (DIAS, 2002).

O conhecimento sobre o uso correto dos medicamentos, os riscos da automedicação, assim como o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação podem fazer a diferença entre uma vida saudável ou não.

A automedicação é um procedimento caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita lhe trará benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas (PAULO e ZANINE, 1988). Dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) revelaram que no Brasil cerca de 80 milhões de pessoas são

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adeptas da automedicação (IVANNISSEVICH, 1994).

Arrais et al. (1997) concluíram que a automedicação no Brasil reflete as carências e os hábitos da população. É consideravelmente influenciada por prescrições médicas anteriores e tem a sua qualidade prejudicada pela baixa seletividade do mercado farmacêutico.

Um dado preocupante fornecido pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2007) mostrou que dos 112.403 casos registrados de intoxicação humana em 2007, os medicamentos lideraram a lista de principais agentes tóxicos com 30,3% das ocorrências. Além disso, verificou-se que a maior incidência de intoxicações medicamentosas ocorre entre crianças e adolescentes. Dos 34.068 casos de intoxicação medicamentosa registrados, 50,5% ocorreram na faixa etária de 0 a 19 anos, sendo a faixa de 1 a 4 anos a mais atingida, com 22,0%.

Pereira et al. (2007) ao determinarem a prevalência da automedicação em crianças e adolescentes de dois municípios do Estado de São Paulo verificaram que as mães foram as principais indutoras de automedicação, representando 51% da amostra estudada e que a faixa etária de 7 a 18 anos, como também usuários de serviços públicos de saúde, apresentaram risco aumentado de automedicação.

Para Pachelli (2003), a forma pela qual a automedicação é praticada no Brasil é resultado de uma série de fatores como a legislação que define o medicamento de venda livre, o medicamento e sua relação como mercadoria, as práticas comerciais do varejo farmacêutico, o acesso restrito da população aos sistemas de saúde, ao medicamento e ao médico, e a relação entre o medicamento e os meios de comunicação em massa.

A propaganda de medicamentos é um dos principais recursos de marketing utilizados pela indústria farmacêutica. Ela tem como

objetivo persuadir as pessoas a comprarem esses produtos, ainda que não tenham real necessidade de consumi-los. De forma geral, a propaganda de medicamentos não alerta os usuários sobre os riscos sanitários envolvidos no consumo indiscriminado de substâncias farmacológicas e nem para o fato de que todo medicamento, mesmo de venda sem prescrição médica, deve ser consumido com consciência e responsabilidade.

A propaganda estimula a automedicação que, por sua vez, tem levado ao uso indiscriminado e irracional dos medicamentos o que tem causado aumento da resistência bacteriana, aquisição de produtos ineficazes, enfermidades iatrogênicas, hipersensibilidade, dependência, aumento do risco para determinadas neoplasias, agravamento de doenças e/ou sintomas e intoxicação medicamentosa (SOUSA, SILVA e S. NETO, 2008; VILARINO, 1998).

Além do mais, a promoção e proteção da saúde também necessitam de requisitos básicos, como os de manter hábitos de vida saudável. A alimentação e a nutrição constituem esses requisitos para a promoção e proteção da saúde, possibilitando afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania. O conceito de segurança alimentar que, anteriormente, era limitado ao abastecimento, na quantidade apropriada, foi ampliado, incorporando também o acesso universal aos alimentos, o aspecto nutricional e, consequentemente, as questões relativas à composição, à qualidade e ao aproveitamento biológico (VASCONCELLOS, 2009).

As doenças e agravos não transmissíveis vêm aumentando e, no Brasil, são as principais causas de óbitos em adultos, sendo a obesidade um dos fatores de maior risco para o adoecimento nesse grupo. A prevenção e o diagnóstico precoce da obesidade são importantes aspectos para a promoção da saúde e redução de morbimortalidade, não só por ser um fator de risco importante para outras doenças, mas também por interferir na duração e qualidade de vida, e ainda ter implicações

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diretas na aceitação social dos indivíduos quando excluídos da estética difundida pela sociedade contemporânea.

A globalização, o consumismo, a necessidade de prazeres rápidos e respostas imediatas contribuem para o aparecimento da obesidade como uma questão social. A obesidade envolve uma complexa relação entre corpo-saúde-alimento e sociedade, uma vez que os grupos têm diferentes inserções sociais e concepções diversas sobre estes temas, que variam com a história (BRASIL, 2006a).

A informação da população a respeito da alimentação saudável pode contribuir na redução do surgimento de doenças crônico não transmissíveis, como obesidade, diabetes e doenças coronarianas. De acordo com Rique, Soares e Meirelles (2002) a dieta adequada e atividade física regular têm grande importância na redução dos fatores de risco das doenças cardiovasculares.

Nesse contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, custeado com recursos próprios a partir do ano de 2009 que é o resultado da fusão de dois projetos instituídos anteriormente desde 2005, o “Contributo” e o “Educação para o Consumo Responsável de Medicamentos”. O Educanvisa busca formar multiplicadores dos conceitos e práticas desejáveis no uso de medicamentos e na opção pela alimentação saudável e pretende alertar alunos do ensino fundamental sobre os perigos da automedicação, já que o uso indiscriminado de medicamentos vem sendo incentivado constantemente em propaganda (BRASIL, 2009).

A avaliação do conhecimento sobre o uso de medicamentos e alimentação saudável em estudantes de uma escola pública na cidade de Natal (RN) poderá detectar práticas nocivas à saúde dessas crianças e adolescentes e levar os educadores a desenvolver estratégias para minimizar esses efeitos.

MEtODOlOgIA

O estudo seguiu o delineamento transversal e foi realizado em uma escola pública, estadual, participante do projeto Educanvisa e localizada em um bairro de Santos Reis, na cidade de Natal (RN).

O bairro de Santos Reis pertence à região administrativa leste da cidade de Natal, tem uma área de 161,07 hectares, comporta 1.559 domicílios permanentes e população de 6.071 habitantes. O bairro apresenta 96,85% de residências com ligação de água, 97,46% de domicílios com ligação de esgoto, duas escolas municipais e duas estaduais e nenhuma unidade de saúde (NATAL, 2009).

A coleta dos dados ocorreu no mês de setembro de 2009. Dos 420 estudantes matriculados na escola estadual, 202 (48,1%) responderam o questionário. Foram incluídos todos os estudantes do ensino fundamental 1, 2 e do ensino médio, dos turnos matutino, vespertino e noturno, que compareceram à escola no dia da coleta dos dados.

Os questionários utilizados na avaliação do conhecimento foram elaborados pela Anvisa e foram aplicados pelos professores da escola estudada. Em seguida os questionários, sem identificação dos respondentes, foram repassados a um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para que os mesmos procedessem a análise dos dados.

As perguntas referiam-se à automedicação; qual o profissional mais adequado para prestar orientação sobre os medicamentos; propaganda de medicamentos; hábitos alimentares; e propagandas de alimentos, além de dados sociodemográficos. Os questionários foram respondidos pelos próprios alunos, em sala de aula e individualmente, mediante solicitação e coordenação dos respectivos professores.

A análise estatística foi realizada empregando-se o conjunto de programas Epi Info 6, versão 6.04d, 2001 (Centers for Disease Control and

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Prevention, Atlanta, GA, USA). Para a descrição dos dados foram utilizadas medidas de tendência central e dispersão (média +/- desvio-padrão) e distribuições de frequências.

Foi garantido o sigilo sobre as respostas e foi respeitado o direito dos indivíduos de recusarem-se a responder a alguma ou a todas as perguntas do questionário.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Os estudantes que compuseram a análise eram, em sua maioria, do sexo feminino (51%), com idade média de 16, 5 anos. Em relação ao turno, 63,9% frequentavam o diurno, enquanto que 36,1% frequentavam o noturno e pertenciam ao ensino de jovens e adultos.

Ao serem questionados se já haviam utilizado medicamentos sem a orientação de médico, dentista ou farmacêutico, 57,7% responderam que sim e 19,2% afirmaram que usaram medicamentos sem que seus pais ou responsáveis tomassem conhecimento. Perguntados se sabiam que profissional deve orientar sobre a utilização dos medicamentos, 82,8% afirmaram que era o farmacêutico, 4,4% que era o balconista e 12,8% o atendente de farmácia. O que se pode observar neste contexto é que apesar da maioria dos estudantes afirmarem saber quem deve orientar a utilização dos medicamentos, mais de 50% afirmaram ter se automedicado.

Usar um medicamento por conta própria e sem o acompanhamento de um profissional competente pode levar o paciente a riscos que ele não está preparado para resolver. A maioria dos medicamentos pode trazer sérios danos ao organismo, caso não sejam ministrados em uma dosagem correta, nos horários adequados ou que não sejam respeitadas as contraindicações específicas do fármaco que o constitui. Além do mais, pode ocorrer também interação medicamentosa, ou seja, quando mais de um medicamento é utilizado simultaneamente, podendo ocorrer uma potencialização ou minimização de efeitos levando à super ou subdosagens, respectivamente.

Os medicamentos têm assumido importância exagerada diante da hegemonia da medicina curativa e desempenham papéis simbólicos para os consumidores, pois de instrumentos disponíveis para promover e manter a saúde passam a representar a própria saúde (LEFÈVRE, 1991; SEVALHO, 1992; SCOTT e FERNER, 1994).

Em relação à propaganda de medicamentos, 77,3% dos estudantes não consideravam as informações constantes nas propagandas suficientes para lhes deixarem seguros na utilização de um medicamento; 85,1% afirmaram que já haviam identificado em alguma propaganda a frase “O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER UTILIZADO EM CRIANÇAS” e 22,3% asseguraram que costumavam pedir aos pais e/ou responsáveis para comprarem medicamentos mostrados em propagandas.

Mesmo considerando as informações das propagandas insuficientes, alguns estudantes se deixaram influenciar por elas a ponto de solicitarem aos pais que comprassem esses medicamentos anunciados, demonstrando o grau de convencimento exercido pela propaganda.

Estudos sobre a avaliação da propaganda de medicamentos no Brasil têm demonstrado a omissão de informações fundamentais a respeito de cuidados, reações adversas e contraindicações, descumprimento das exigências legais e não observância dos critérios da Organização Mundial da Saúde (BARROS e JOANY, 2002; HEINECK et al., 1998; MASTRIOANNI, GALDURÓZ e CARLINI, 2003; NASCIMENTO, 2005; PIZZOL, SILVA e SCHENKEL, 1998).

De acordo com Barros (2004), o objetivo da propaganda de medicamentos dirigida ao público em geral “é atrair o máximo de compradores para o produto”, muito embora essa população não tenha, na maioria das vezes, capacidade de avaliar o binômio risco-benefício na utilização dos medicamentos.

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No item alimentação o questionário investigou de que forma ocorre a escolha dos alimentos consumidos na escola, em casa e em passeios. Foi observado que a maioria tem preocupação em ingerir alimentos saudáveis, como também a orientação dos pais é levada em consideração para realizar essa escolha, conforme pode ser visualizado na tabela 1.

Em outro momento os alunos foram questionados a respeito da influência das propagandas na compra dos alimentos, e 52,7% dos estudantes afirmaram solicitar que os pais/

responsáveis adquirissem alimentos mostrados em propagandas.

Na avaliação a respeito dos tipos de alimentos consumidos nos intervalos entre as principais refeições, pretendeu-se avaliar qual era a incidência no consumo de alimentos industrializados e/ou alimentos rico em açúcares e gorduras na dieta da população avaliada. Dos alimentos sugeridos no questionário, quatro itens eram a respeito de alimentos industrializados e dois citavam alimentos naturais, conforme pode ser observado na tabela 2.

tabela 1 - Distribuição dos alunos segundo os fatores que influenciam na escolha dos alimentos consumidos por estudantes de uma escola pública, Natal/RN, 2009.

FAtORES N %

Por orientação dos pais/responsáveis 53 26,2

Porque viu na propaganda 12 5,9

Porque é saudável 115 56,9

Porque os amiguinhos comem 22 10,9

tabela 2 - Distribuição dos alunos segundo os alimentos mais consumidos por estudantes de uma escola pública, Natal/RN, 2009.

AlIMENtOS MAIS CONSUMIDOS N %

Frutas 49 24,1

Biscoitos Recheados 45 22,2

Refrigerantes/Sucos artificiais 20 9,9

Sucos naturais de frutas 33 16,3

Salgadinhos industrializados (fandangos, rufles, doritos, etc) 18 8,9

Doces, bombons, chocolates e balas 25 12,3

Referiu mais de um tipo de alimento 13 6,4

A preocupação da maioria dos alunos em consumir alimentos saudáveis (56,9%), conforme observado na tabela 1, foi contraditória quando se observam os alimentos mais ingeridos, pois 53,3% das respostas indicaram o consumo de alimentos industrializados, os quais não são considerados como os mais saudáveis. As mudanças no perfil de alimentação impactado pelo processo de urbanização crescente e dos efeitos da globalização de hábitos de consumo e padrões de comportamento são nutricionalmente

interpretadas pelas prevalências crescentes de sobrepeso e obesidade em jovens e adultos.

As taxas de internação por desnutrição grave reduziram-se sensivelmente no norte urbano e na Região Nordeste. Porém, o sobrepeso e a obesidade estão presentes em 40% da população adulta acima de 20 anos, distribuídos em todas as classes de renda (BRASIL, 2006b). Este perfil exige uma vigilância alimentar e nutricional contínua, ampliando a capacidade

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estabilidade específicos (BRASIL, 2001). Em estudo realizado por Ribeiro e Milhomem Filho (2007), foi constatado com a população do município Imperatriz (ma) que 88% verificavam o prazo de validade do medicamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados da pesquisa demonstraram a necessidade de reforço em determinadas áreas do conhecimento avaliado. Além disso, esses resultados poderão ser utilizados na elaboração de materiais educativos que subsidiem o uso adequado dos medicamentos e promovam o conhecimento a respeito de hábitos alimentares saudáveis.

do setor saúde em focalizar ações e um modelo de atenção à saúde e cuidado nutricional direcionados à prevenção das doenças relacionadas à fome e das doenças crônicas não transmissíveis decorrentes da inadequação alimentar.

Com os dados observados na pesquisa a respeito dos hábitos alimentares surgiu um questionamento: se existe uma preocupação em manter uma alimentação saudável por parte da população avaliada, como é explicado um alto consumo de alimentos ricos em açúcares e gorduras? Talvez a falta de informação a respeito do que é um alimento saudável seja a principal solução para esse consumo exacerbado de alimentos industrializados, uma vez que o custo desses alimentos é maior.

Também foi avaliado se os estudantes verificavam a data de validade dos medicamentos e alimentos. Os dados demonstraram que 91,6% verificavam. O prazo de validade de medicamentos e alimentos é um item importantíssimo para a segurança do consumidor.

Em relação aos alimentos, o prazo de validade mínimo é definido como o prazo após o qual o alimento está legalmente impróprio para o consumo. E quando esse prazo é estipulado de maneira correta pelos fabricantes (através de metodologia específica), a data de validade é estabelecida com uma distância considerável de sua deterioração evidente e, principalmente, com uma distância segura para que o alimento não represente perigo à saúde dos consumidores. Maurício e Matioli (2004), estudando etapas de compra, armazenamento e preparação de alimentos perecíveis por pais de escolares, constaram que 80% dos entrevistados relataram verificar o prazo de validade dos produtos.

Para os medicamentos, o prazo de validade é descrito como o tempo durante o qual o produto poderá ser usado, caracterizado como período de vida útil e fundamentada nos estudos de

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REFERêNCIAS

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AtIvIDADES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE ENvOlvENDO O USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS NA ESCOlA DE EDUCAÇÃO BáSICA JOSÉ BOITEUX DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS – SC

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Alexandra Morais de Alexandri1; Aline Aparecida Foppa2; Ana Carolina Welter1; Célia Maria Teixeira de

Campos3; Heloisa Pamplona Cunha1; Maria Leonor Santana Scherer4; Marina Raijche Mattozo Rover2; Marlene

Zannin5.

1-Acadêmicas de Farmácia. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

2-Farmacêuticas. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

3 - Professora Doutora. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

4. Acadêmica de Letras. Departamento de Letras e Literaturas Vernáculas (UFSC).

5. Professora Doutora. Departamento de Toxicologia (UFSC).

RESUMO

A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientadas para a prevenção de doenças e promoção da saúde. As ações de educação em saúde foram desenvolvidas na Escola de Educação Básica José Boiteux, Florianópolis (SC), na tentativa de promover a importância do uso racional de medicamentos. As atividades realizadas para as crianças foram teatro de fantoches, pinturas, desenhos para colorir e completar, entre outras. Com os adolescentes foram desenvolvidas dinâmicas buscando esclarecer dúvidas comuns da idade. Com os pais foi realizada uma palestra educativa e a distribuição de material informativo. Houve participação efetiva de todos os envolvidos nas atividades. A educação em saúde na escola mostrou ser de grande relevância para a transformação da sociedade.

INtRODUÇÃO

A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de doenças e promoção da saúde (COSTA & LÓPEZ, 1996). Trata-se de um recurso por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção

de novos hábitos e condutas de saúde (ALVES, 2005).

A escola é um local de excelência para a aplicação de programas de educação em saúde por congregar em um único espaço e por um período importante, crianças e adolescentes que se encontram em uma etapa crítica de crescimento, desenvolvimento e aprendizado (FERNANDES; ROCHA e SOUZA, 2005).

Para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a saúde também se inicia na escola, que atua estimulando o protagonismo infanto-juvenil dos escolares, orientando para estilos de vida saudáveis e informando sobre fatores de riscos para a saúde. Assim, a escola pode ser uma grande referência e influenciar atitudes de alunos, familiares e profissionais de educação, sendo um espaço estratégico para a promoção da saúde (BRASIL, 2006).

A promoção da saúde é um conceito ampliado, que começou a ser desenvolvido a partir da I Conferência sobre Promoção de Saúde (Conferência de Ottawa, 1986), que assim a definiu: “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (BRASIL, 2002).

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Segundo BUSS (1998 apud ANDRADE et al., 2006) e BUSS (2003), a partir dessa conferência a temática “promoção da saúde” passa a ser discutida com mais frequência e a considerar que determinantes gerais também influenciam as condições de saúde, tais como: paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Em suma, a saúde não é assegurada apenas pelo setor da saúde e a promoção da saúde demanda uma combinação de estratégias e uma ação coordenada entre diferentes setores sociais.

Barba, Martinez e Carrasco (2003) mencionam que para se trabalhar a promoção de saúde na escola é necessária uma visão intersetorial. Os setores educação e saúde devem ser aliados na promoção da saúde nas escolas, principalmente porque essa questão se insere na constituição do conhecimento do cidadão crítico, no estímulo à autonomia, ao exercício de direitos e deveres, às habilidades com opção por atitudes mais saudáveis e ao controle das condições de sua saúde e qualidade de vida.

Nesse sentido, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a participação das Vigilâncias Sanitárias do Estado de Santa Catarina e Secretaria Estadual de Educação, vem desenvolvendo o Projeto de Educação e Informação em Vigilância Sanitária, coordenado pela Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO), cujo objetivo é estimular e apoiar ações estratégicas de educação e informação em escolas de ensino fundamental, de maneira a promover discussões sobre propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, uso racional de medicamentos e alimentação saudável.

MEtODOlOgIA

As ações de educação em saúde foram desenvolvidas na Escola de Educação Básica José Boiteux, Florianópolis (SC). A escolha da escola foi pactuada em reunião entre Vigilância Sanitária Estadual e a Secretaria Estadual de

Educação visando conscientizar a comunidade escolar em relação aos riscos associados ao consumo de produtos sujeitos à vigilância sanitária influenciados pela propaganda. A equipe responsável pela execução do projeto programou atividades específicas para cada faixa etária dos alunos, e para os pais, procurando dar ênfase ao uso racional de medicamentos.

As atividades realizadas para as crianças na faixa etária dos 6 aos 13 anos foram: teatro de fantoches com a utilização de personagens do folguedo “Boi-de Mamão”, conhecidos do folclore do município de Florianópolis, com o foco na importância da escovação dos dentes e no uso indiscriminado de medicamentos; e atividades recreativas relacionadas ao tema, como pinturas, desenhos para colorir e completar. No encerramento, ocorreu um lanche à base de frutas, com posterior escovação dentária, no intuito de incentivar e valorizar uma alimentação saudável e a importância da higiene bucal desde a infância.

Atividades de educação em saúde foram realizadas com adolescentes na faixa dos 13 aos 15 anos de idade. O método de trabalho escolhido constituiu em dinâmicas simples que visam, principalmente, à reflexão sobre as atitudes no dia a dia e o esclarecimento de uma série de dúvidas comuns na idade.

Na “dinâmica da rosa”, os alunos foram orientados a sentarem-se formando um círculo, onde uma rosa foi passada de mão em mão, cada aluno retirava uma pétala da mesma e pronunciava seu nome ao passá-la ao colega. Ao final, a rosa se encontrou sem pétalas e os alunos foram questionados sobre o que havia sido feito com a rosa, e se seria possível repará-la. O objetivo desta dinâmica foi levar os participantes à reflexão sobre as circunstâncias que os atos individuais podem repercutir sobre o próprio indivíduo e sobre a coletividade e os espaços físicos.

Posteriormente, foi realizada a “dinâmica da alma gêmea”, com o intuito de promover o conhecimento dos estudantes sobre os temas: sexualidade; cuidados com o corpo; e

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doenças sexualmente transmissíveis. Perguntas e respostas sobre os assuntos abordados foram desmembradas e cada aluno recebeu um papel, contendo pergunta ou resposta. Foi dado um tempo de 20 minutos em que deveriam buscar a resposta para a pergunta, formando pares de pergunta-resposta. As questões foram lidas em voz alta para todo o grupo e as dúvidas foram sanadas. Finalmente, foi proposto aos adolescentes que pintassem ou escrevessem em um mural de papel o que representa a saúde para cada um e um questionário foi aplicado para analisar a situação e o conhecimento desses jovens em relação ao uso racional de medicamentos.

Com os pais realizou-se uma palestra na qual se abordou temas relacionados ao uso racional de medicamentos, com enfoque em medicamentos naturais, antibióticos e medicamentos controlados. Também foram mostradas as atividades realizadas com as crianças e os adolescentes da escola, através de slides e vídeo. Posteriormente, os pais receberam um material informativo acerca de como utilizar os medicamentos. As informações contidas nesse material complementam o assunto abordado na palestra. E, por fim, foi aplicado um roteiro de questões relacionadas ao uso racional de medicamentos, para analisar como as famílias agem acerca do tema. As diretrizes do questionário foram elaboradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e adaptadas pela equipe executora visando à viabilização do mesmo.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

As crianças mostraram-se extremamente receptivas ao teatro de fantoches, demonstrando interesse e participando de forma ativa. O teatro teve como objetivo familiarizar as crianças com hábitos saudáveis, escovação dos dentes, além de promover a importância do uso correto de medicamentos, apresentando, também, as consequências do seu uso inadequado.

Após o teatro, foram realizadas atividades recreativas relacionadas ao tema como pinturas, desenhos para colorir e completar entre outras,

com o intuito de que levassem os materiais produzidos para casa, para despertar na família interesse pelo que o aluno fez na escola. Segundo a Anvisa, é de suma importância referenciar a educação em saúde no ensino fundamental, especialmente nas séries iniciais. Isso porque atitudes favoráveis ou desfavoráveis à saúde são constituídas desde a infância, por meio da identificação de valores observados em modelos externos ou por grupos de referências (BRASIL, 2007).

Sabe-se que as faixas etárias que foram trabalhadas se encontram em duas fases do desenvolvimento infantil. Segundo Piaget e Inhelder (1982), a primeira fase é o período pré-operatório (2 a 7 anos), em que a linguagem desenvolve-se de forma mais efetiva, onde tudo que escutam é absorvido e opera no subconsciente. A segunda fase é o período das operações concretas (dos 7 aos 11/12 anos). Nesta fase, a criança já domina o uso da linguagem e, por isso, consegue raciocinar sobre as situações. Com isso, adquire “capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios, adquirindo, portanto, autonomia” (PIAGET; INHELDER, 1982), o que faz com que discutam e absorvam conscientemente o que lhes é ensinado. Por isso, foi importante a utilização de uma linguagem que fizesse parte da realidade das crianças, isto é, utilizando um gênero que passasse a mensagem e que fosse acessível a essas faixas etárias.

Os adolescentes realizaram as atividades propostas com entusiasmo e cooperação. As dinâmicas seguiram de modo que eles entendessem que certas atitudes geram consequências irreparáveis. Os exemplos de atitudes importantes para o cuidado do corpo e para uma boa convivência em sociedade citados pelo grupo foram: cuidado com materiais escolares e ambiente escolar, assim como com os objetos dos colegas; cuidados com o próprio corpo, como usar preservativo masculino e outras formas de proteção para gravidez indesejada e DST/AIDS; ter atitudes saudáveis como alimentação a base de produtos naturais; zelo pelo patrimônio público e privado.

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Segundo Gomes et al. (2002), a responsabilização do adolescente pela preservação da própria saúde gera uma percepção positiva do indivíduo sobre ele mesmo, reconhecendo-se como um importante agente transformador do meio em que está inserido, conhecendo direitos e deveres, e sentindo-se em condições de participar ativamente na construção da saúde coletiva. A adolescência é considerada uma fase de mudanças que afeta os aspectos físicos, sexuais, cognitivos e emocionais (CAMARGO & FERRARI, 2008).

Gomes et al. (2002) mencionam que as informações referentes à saúde no âmbito familiar são escassas, o que faz com que o adolescente acabe recorrendo a amigos e pessoas com pouca preparação para abordar o assunto, havendo a disseminação de informações inadequadas e limitadas. Estas, normalmente, abordam questões relativas à prevenção de DST/AIDS, dando pouca ênfase a outras informações importantes como o funcionamento do corpo, maturação sexual, vivência e conflitos decorrentes do crescimento e da sexualidade.

Cerca de 50 pais participaram da palestra sobre o uso racional de medicamentos. A maior demanda colocada pela escola para a equipe executora das atividades foi o amplo uso de medicamentos sujeitos a controle especial, principalmente o metilfenidato. Este medicamento é utilizado para o controle do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Os pais também demonstraram grande entusiasmo com relação às atividades desenvolvidas com as crianças, percebendo a relevância destas na promoção da saúde, principalmente quando contribuem no desenvolvimento de um cidadão crítico, com habilidades de decidir por atitudes mais saudáveis, que promovam melhora nas condições de sua saúde. Após o término da palestra, alguns pais procuraram a equipe para esclarecimentos com relação aos medicamentos de uso contínuo. Todos levaram os materiais informativos para casa e espera-se que compartilhem as informações que obtiveram com os filhos, parentes, vizinhos e amigos.

Nas tabelas 1 e 2 são apresentados os dados obtidos com o questionário aplicado aos pais e adolescentes.

tabela 1. Questionário referente ao uso e propaganda de medicamentos, aplicado aos pais da Escola de Educação Básica José Boiteux do município de Florianópolis, no ano de 2009.

Onde você costuma guardar os medicamentos em casa?

% n

Cozinha 36,8 7

Armários 36,8 7

Banheiro 10,6 2

Local inespecífico 15,8 3

você acredita que o uso de medicamento sem receita médica ou sem orientação de um farmacêutico pode piorar a doença?

SIM 84,2 16

NÃO 15,8 3

você acredita que o uso de remédios caseiros ou naturais, como chás e garrafadas também podem prejudicar a saúde?

SIM 47,4 9

NÃO 47,4 9

NÃO OPINARAM 5,2 1

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Com que frequência você compra medicamentos na drogaria/farmácia?

Somente quando necessário

94,7 18

Semanalmente 5,3 1

Uma vez ao mês 0 0

Diariamente 0 0

você faz a leitura da bula dos medicamentos antes de utilizar o produto?

SIM 94,7 18

NÃO 5,3 1

você costuma usar medicamento sem orientação do médico, dentista ou farmacêutico?

SIM 31,6 6

NÃO 63,2 12

NÃO OPINARAM 5,2 1

você considera que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento?

SIM 21,0 4

NÃO 73,7 14

NÃO OPINARAM 5,3 1

você costuma comprar medicamentos anunciados em propagandas?

SIM 15,8 3

NÃO 84,2 16

O que mais te influência na compra de um medicamento?

Preço 63,1 12

Balconista 26,3 5

Propaganda 5,3 1

Indicação de amigos 5,3 1

tabela 2. Questionário referente ao uso de medicamentos, aplicado aos alunos entre 13 e 15 anos de idade na Escola de Educação Básica José Boiteux do município de Florianópolis, no ano de 2009.

você usa ou já usou medicamentos sem orientação do médico, dentista ou far-macêutico?

% n

SIM 53,3 8

NÃO 46,7 7

você já tomou medicamento sem o conhecimento dos pais e/ou responsáveis?

SIM 26,7 4

NÃO 73,3 11

você considera que a propaganda contém todas as informações que o consumi-dor deve saber antes de utilizar um medicamento?

SIM 0 0

NÃO 100 15

NÃO OPINARAM 5,2 1

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você costuma pedir aos responsáveis para comprar medicamentos que viu em propagandas?

Somente quando necessário 0 0

Semanalmente 100 15

Quais são os alimentos que você mais consome?

Doces, bombons e balas 27,3 9

Refrigerantes, sucos artificiais 24,2 8

Salgadinhos industrializados 0 0

Biscoitos recheados 3,03 1

Frutas 9,09 3

Sucos naturais de frutas 21,21 7

você costuma pedir aos pais e/ou responsáveis para comprar alimentos que viu em propagandas?

SIM 26,7 4

NÃO 73,3 11

Como você escolhe um lanche na escola, em casa ou em passeios?

SIM 0 0

NÃO 100 15

Através dos questionários aplicados (Tabela 1), pode-se observar que, com relação ao local de armazenamento das medicações, 36,8% dos pais entrevistados costumam guardar os medicamentos na cozinha; 36,8% guardam em armários de fácil acesso; 15,8% não guardam em local específico; e 10,6% têm o costume de guardar os medicamentos no banheiro.

Segundo Taurino et al. (2008), armazenar medicamentos nos domicílios é uma prática comum no Brasil e em outras partes do mundo, podendo representar um potencial risco para o surgimento de agravos à saúde. A farmácia domiciliar, frequentemente depositada em ambientes e recipientes inadequados, propicia diversas possibilidades de consumo irracional e desperdício, incluindo a facilitação da automedicação não responsável, bem como o aumento do risco de exposições tóxicas não intencionais (principalmente em crianças pequenas) e intencionais. Embora a “automedicação responsável” – consumo de medicamentos que não requer prescrição médica para tratamento sintomático – possa, eventualmente, reduzir a “pressão” no sistema de

saúde, que é de difícil acesso, tal procedimento é contestado e não isento de riscos.

Verifica-se, também, na tabela 1 que apesar de 84,2% dos pais entrevistados julgarem que o uso de medicamentos sem receita médica pode acarretar a piora do seu quadro clínico, 31,6% desses costumam usar medicamentos sem orientação do seu médico, dentista ou farmacêutico, reforçando ser prevalente a prática da automedicação em nossa sociedade.

Pierce (1975) afirma que a sociedade de consumo ao mesmo tempo em que promove, por todos os seus canais de comunicação, a ideia de que qualquer sofrimento, qualquer dor, qualquer estado, enfim, que fuja daquilo que ela institui como padrão, inclusive estético; por outro lado, oferece a solução mágica na ponta dos dedos: os comprimidos.

Com relação aos medicamentos naturais, as opiniões foram divididas, cerca de 50% dos pais entrevistados acreditam que o uso de remédios caseiros ou naturais, como chás e garrafadas, também podem prejudicar a saúde; já a outra

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metade acredita que não. Entre os adeptos da fitoterapia, é comum o pensamento de que as plantas medicinais de uso tradicional já foram testadas e homologadas pelo seu uso prolongado na própria espécie humana. Por isso, seriam remédios eficazes e seguros, naturalmente balanceados, sem os efeitos colaterais comuns aos produtos sintéticos. Segundo Simões et al. (2000), a planta medicinal utilizada em medicamentos é um xenobiótico, isto é, um produto estranho ao organismo humano, nele introduzido com finalidades terapêuticas. Como todo corpo estranho, os produtos de sua biotransformação são potencialmente tóxicos e, assim, devem ser encarados até prova em contrário.

De acordo com os dados da tabela 1, 84,2% dos pais entrevistados acreditam que não é a propaganda a maior influenciadora na hora da compra de medicamentos, afirmam que o principal responsável na decisão da compra do fármaco é o preço (63,1%), seguido da indicação do balconista (26,3%). Segundo a Anvisa, apenas medicamentos de venda isenta de prescrição médica têm permissão para serem divulgados para a população em geral. O poder da indústria farmacêutica reforça as ideias mágicas sobre os medicamentos e induz ao emprego do que é novo e mais caro, além de induzir ao uso de medicamentos que “solucionam” problemas até então insolucionáveis (BRASIL, 2007).

Em relação aos adolescentes entrevistados (Tabela 2), aproximadamente 53% usam ou usaram medicamentos sem orientação de médico, dentista ou farmacêutico, e 26% dos entrevistados já tomaram medicamentos sem o conhecimento dos pais ou responsáveis. Apesar de nenhum dos adolescentes entrevistados acreditarem que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento, 21% dos pais acredita que sim (Tabela 1), refletindo a necessidade de se orientar a comunidade sobre os riscos do uso irracional de medicamentos através de ações educativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que foi possível proporcionar uma maior conscientização das crianças em relação às consequências do uso inadequado de medicamentos, da importância da higiene bucal, assim como dos benefícios de uma alimentação saudável.

Os adolescentes mostraram-se interessados nas atividades realizadas, relatando ser algo fora das suas atividades regulares, e foram receptivos. Observou-se que o assunto sexualidade desperta grande interesse, existindo muitas dúvidas, sendo o diálogo ferramenta importante no aprendizado. Alguns professores se interessam bastante pelo tema, promovendo debates em sala de aula ou trabalhos, ao passo que outros preferiram se distanciar.

Fica nítida a necessidade de capacitar professores para contribuir com a elucidação deste tema frente aos alunos. Também foi alcançado o objetivo de atingir e conscientizar o maior número possível de pais de alunos sobre o uso racional de medicamentos.

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128 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

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CAPACItAÇÃO PARA PROFESSORAS (ES): CONtRIBUIÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS.

Universidade de Uberaba (UNIUBE)

Aline Cristina Fraga de Oliveira1; Dirce Sofia Fabbri de Almeida Verde dos Santos 2.

1 - Graduanda, curso de Farmácia. Universidade de Uberaba – UNIUBE.

2 - Docente do curso de Farmácia. Universidade de Uberaba – UNIUBE.

INtRODUÇÃO

O Ministério da Saúde (1998) define o uso racional de medicamentos como um processo que compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; além da dispensação em condições adequadas; e no conjunto de doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade. Portanto, pode-se pressupor que por fatores sociais, econômicos e culturais a população brasileira está exposta ao uso inadequado de medicamentos.

Uma das formas inadequadas de se utilizar medicamentos é a automedicação; prática de utilizar medicamentos sem a orientação ou prescrição médica, gerada pelas mais diversas influências. Uma prática perigosa que pode acarretar riscos à saúde do usuário.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas, cerca de 80 milhões de pessoas utilizam a automedicação no Brasil (IVANNISSEVICH, 1994).

De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas, no ano de 2007 foram registrados mais de 100 mil casos de intoxicação humana e quase 500 óbitos pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica em atividade no Brasil. Essas notificações apontam os medicamentos (30,7%) como os principais agentes causadores de intoxicação humana (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2008).

Medicamentos são produtos farmacêuticos tecnicamente elaborados com a finalidade de tratar, de prevenir, de diagnosticar e de aliviar sintomas, mas por causarem efeitos colaterais, devem ser utilizados com a devida prescrição, orientação e acompanhamento de profissional habilitado a fazê-lo.

De acordo com Rubinstein, Siqueira e Garrafa (2002), a propaganda de medicamentos contribui para o aumento da vulnerabilidade do cidadão, por induzir à automedicação ou por fomentar o fenômeno da medicalização. Portanto, pode ser incluída entre os fatores que predispõem o cidadão ao consumo inadequado de medicamentos.

A mídia tem se tornado, ao longo dos tempos, um instrumento de comunicação de massa muito bem aproveitado pelos produtores de serviço. Os saberes que se propagam, por intermédio desses meios, atingem, de forma direta, toda a população. O estímulo ao consumo e a consequente venda desses produtos divulgados nas propagandas aproveitam a mídia porque ela está ao alcance de todos e atinge um número maior de pessoas (SANTOS, 2008). Ao se refletir sobre a capacidade de persuasão e de estímulo à automedicação que a propaganda proporciona, somado ao fato de que o mercado farmacêutico possui recursos financeiros inesgotáveis para investir no aumento das vendas, foi necessário pensar em outros caminhos capazes de proteger a

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132 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

saúde do indivíduo, especialmente em relação às informações inadequadas e ao incentivo ao consumo de medicamentos, gerados pela propaganda: ações informativas e educativas junto às escolas e à população.

Neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desenvolveu a proposta do Projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, para ser desenvolvido em escolas de todo o Brasil. O projeto foi uma iniciativa desenvolvida com o objetivo de promover ações e estratégias de educação e comunicação em saúde em assuntos referentes à vigilância sanitária (BRASIL, 2007).

Ao se pensar que a escola é um ambiente propício à aprendizagem, pode ser ela uma promotora de ações educativas em saúde. Ao proporcionar a educação em saúde na escola, pode-se fazer com que a criança crie perspectiva sobre a realidade da vida, buscando construir hábitos saudáveis, e participar na promoção de sua saúde, tornando-se um adulto mais consciente (BRASIL, 2007).

O projeto oferece, entre outros recursos, uma capacitação aos professores das escolas participantes. Na capacitação são apresentados temas de vigilância sanitária, uso racional de medicamentos e alimentação saudável. Acredita-se ser essa uma forma de prepará-los para os temas de algumas das atividades que serão desenvolvidas com os alunos durante a execução do projeto.

De acordo com Delors (2003), os professores podem desempenhar um papel muito influente em vários domínios, e o trabalho do professor não consiste simplesmente em transmitir informações ou conhecimentos, mas em apresentá-los sob a forma de problemas a resolver, situando-os num contexto e colocando-os em perspectiva de modo que o aluno possa estabelecer a ligação entre a sua solução e outras interrogações mais abrangentes.

A equipe do Projeto de Ações de Educação e Informação (Uberaba/2009) – um projeto

firmado entre a Universidade de Uberaba (Uniube) e a Anvisa, que possui como objetivo estimular e apoiar ações estratégicas educativas e informativas na cidade de Uberaba –, participou de uma das capacitações oferecidas às professoras e aos professores e decidiu identificar as contribuições advindas dessa capacitação.

Este trabalho foi delineado a partir da ideia de que existem situações na prática cotidiana que nos remetem à experiência trazida pelo que nos acontece, que nos toca e pode nos transformar. Por meio da prática e do envolvimento, tanto do professor quanto dos alunos, o saber da experiência pode permanecer no profissional e surgir no momento em que ele precisar.

MAtERIAIS E MÉtODOS

No ato da inscrição da capacitação, foi entregue para cada um dos professores presentes um questionário elaborado pela equipe da Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO), da Anvisa, com questões de múltipla escolha e discursivas, com a finalidade de avaliar o perfil de consumo de medicamentos das professoras e professores presentes na capacitação. O questionário preenchido foi devolvido antes do início das atividades. Durante os dois dias da capacitação, por intermédio de diferentes estratégias pedagógicas, foram abordados os seguintes temas:

- Educação e Saúde: uma união de sucesso- Exibição do vídeo “O saber e o sabor”- Vigilância Sanitária- Alimentação Saudável: em busca da qualidade de vida- Medicamentos- Uso racional de medicamentos- Propaganda & Consumo: Medicamentos-Discussão de peça publicitária de medicamento

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No final das atividades da capacitação, foi entregue aos participantes um novo questionário, elaborado pela equipe do Projeto de Ações de Educação e Informação (Uberaba/2009), com questões de múltiplas opções e discursivas, recolhidas após o preenchimento.

A análise dos resultados foi realizada de forma estatística e mensurativa, sendo, também, utilizados na análise das questões dissertativas os recursos da pesquisa qualitativa.

A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (1999), trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos, não os reduzindo a simples operacionalização de variáveis. RESUltADOS

Resultado do questionário aplicado ANTES da capacitação: Perfil de Consumo de Medicamentos.

A questão nº 1 perguntava ao participante sobre o uso de medicamentos sem a orientação do médico ou do dentista. Dos 17 respondentes, nove assinalaram a opção SIM e sete assinal-aram a opção NÃO.

A questão nº 2 questionava sobre o uso de medicamentos de uso prolongado SEM a orientação do médico ou do dentista. Todos os 17 respondentes assinalaram a opção NÃO.

A terceira questão indagava sobre o uso de medicamentos de uso prolongado/contínuo COM orientação do médico ou dentista. Neste caso, 11 participantes assinalaram a opção SIM; e seis assinalaram a opção NÃO.

Na questão nº 4 perguntava-se se o respondente acredita que o uso de medicamentos sem receita médica ou sem orientação de um farmacêutico pode piorar sua doença. Todos os 17 assinalaram a opção SIM.

A questão nº 5 questionava onde é feito o armazenamento de medicamentos. Quatro responderam que os medicamentos são guardados na cozinha; uma professora respondeu que guarda no banheiro; nove responderam que guardam em armários de difícil acesso; dois responderam que não tem costume de guardar em locais específicos; e um participante não respondeu.

A pergunta de nº 6 referia-se à frequência de compra de medicamentos em farmácias e drogarias, três professores responderam que compram medicamentos uma vez por mês na drogaria ou farmácia; 13 responderam que só compram quando é necessário; e um professor não respondeu.

gráfico 2 - Local de armazenamento de medicamentos em casa

gráfico 1 - Consumo de medicamentos sem orientação médica

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A questão nº 10 questionava se o respondente lê a bula dos medicamentos antes de utilizar o produto. Três não responderam esta questão; apenas um respondente assinalou a opção NÃO; e 13 assinalaram a opção SIM.

Resultado do questionário aplicado APÓS a capacitação: Perfil de Consumo de Medicamentos

A primeira questão simulava uma situação na qual um indivíduo apresentava novamente “dor de cabeça”, para a qual recebeu, anteriormente, a prescrição de um medicamento que foi eficaz. Questionava-se qual a postura atual da pessoa frente à situação. Dentre as opções oferecidas aos 14 professores que responderam o questionário, sete professores assinalaram que procuravam um médico para um novo diagnóstico e os outros sete responderam que utilizariam o medicamento de costume e depois procurariam o médico.

gráfico 3 - Frequência de compra de medicamentos

Na questão nº 2, item A, perguntava-se: quais os medicamentos que você indicaria para a “farmacinha da escola”?. Doze professores escreveram nomes de medicamentos (analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios e antissépticos tópicos); dois não indicaram nenhum medicamento e comentaram sobre a necessidade de consultar um profissional adequado para a prescrição.

A questão nº 7 questionava se o respondente considerava que a propaganda contém todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento. Três professores assinalaram a opção SIM; e 14 marcaram a opção NÃO.

Na questão nº 8 perguntava-se se o professor costuma comprar medicamentos que vê em propagandas. Três pessoas não responderam; 13 professores assinalaram a opção NÃO; e apenas um marcou a opção SIM.

Ao ser perguntado o que mais influenciava na compra de medicamentos, questão nº 9, quatro professores responderam que é o preço; um respondeu que é o balconista; quatro responderam ser a indicação de familiares, amigos e vizinhos; um professor respondeu ser conforme a sua necessidade; e sete não responderam esta questão.

gráfico 4 - Influencia na “compra do medicamento”

gráfico 5 - Solução de problema de saúde /semelhante

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O item B da questão nº 2 destinou-se apenas aos participantes que indicaram medicamentos. Perguntou-se onde armazenar esses medicamentos indicados. Nove professores responderam “lugares de difícil acesso”; uma pessoa respondeu “em lugar fora de umidade e com ventilação”; um respondeu em “armário limpo e seco”; e um não respondeu a essa questão.

A questão nº 3 simulava uma situação em que o respondente presenciava uma conversa entre aluno e zeladora da escola, na qual o aluno solicitava a guarda do medicamento por ele

gráfico 6 - Identificação de situações de Automedicação

DISCUSSÃO

As respostas obtidas com a aplicação do questionário antes da capacitação apresentaram 53% dos respondentes como prováveis consumidores de medicamentos sem a orientação do profissional adequado. Um fato que preocupa, uma vez que, no mesmo questionário, todos assinalaram que acreditam que o uso do medicamento sem prescrição médica ou orientação do farmacêutico pode agravar a doença.

A compra de medicamentos por indicação de familiares, amigos ou vizinhos, assim como a influência do balconista e da própria necessidade pela medicação, são respostas que confirmam a prática da automedicação.

utilizado. Oferecia opções de resposta. Todos os 14 respondentes afirmaram que orientariam para o correto armazenamento.

A questão nº 4 perguntava opções de situações que representavam automedicação. Sete professores assinalaram todas as opções; três disseram utilizar o medicamento indicado pelo funcionário da farmácia; dois assinalaram usar o medicamento que está acostumado em situações simples, que resolve e nunca faz mal; um participante afirmou fazer uso de um medicamento após vê-lo em propaganda; e uma pessoa não respondeu.

O desconhecimento dos riscos e dos cuidados com o uso de medicamentos também pode ser identificado com as respostas que surgiram quando se perguntou aos professores onde eles guardavam os medicamentos. Surgiram locais como a cozinha, banheiro e a ausência de local determinado. Sabe-se que medicamentos são produtos tecnicamente obtidos que sofrem influência de temperatura, umidade e presença de luz, portanto, necessitam de locais adequados para a armazenagem.

Após as informações recebidas na capacitação, os resultados do questionário pós-capacitação apresentaram-se satisfatórios em relação ao perfil de consumo inicial dos participantes da pesquisa.

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Em uma questão que simulava uma situação na qual um indivíduo apresentava “novamente o mesmo tipo de dor de cabeça”, 98% dos professores assinalaram opções de resposta para a solução desse problema com a presença do médico e o uso de medicamentos. Portanto, pode-se pensar que, após a capacitação, uma nova informação foi incorporada pelos participantes: a importância da presença do profissional médico para a prescrição de medicamentos.

Em outra situação, na qual um aluno e um profissional da escola estariam “guardando” o medicamento em local inadequado para o uso posterior, 100% dos professores assinalaram que iriam orientar o aluno e o profissional sobre o correto armazenamento dos medicamentos. Um fato muito importante, que comprova o papel do professor ao se comprometer na formação do indivíduo para além da sala de aula, e ao utilizar o que permanece de seu conhecimento. Isto fortalece a ideia de que ao capacitar o professor com informações sobre promoção de saúde, ele poderá contribuir na formação de outros com relação a essas informações.

Em outra questão sobre armazenamento, 64% dos professores assinalaram opções de resposta que indicavam que o correto é guardar medicamentos em “locais de difícil acesso”, confirmando a compreensão de que são produtos para situações específicas, com acesso dificultado. Uma contribuição identificada, pois antes, no questionário pré-capacitação, foram indicados locais de fácil acesso e sem condições para a preservação da integridade do medicamento.

Diante da questão que se referia aos medicamentos que os participantes indicariam para a farmácia escolar, foi possível observar que ainda persiste a ideia de que alguns medicamentos “conhecidos há muito tempo” não causam riscos e podem ser utilizados em situações de emergência pelos alunos da escola. Porém, é importante ressaltar que 14% dos respondentes não indicariam nenhum medicamento para estar à disposição ou ser utilizado pelos alunos nas escolas.

Com relação à identificação de situações que representam a automedicação, 99% dos professores identificaram situações de automedicação, sendo que 49% foram capazes de identificar todas as situações apresentadas entre as opções de resposta. Uma contribuição significativa em seu perfil de consumo, pois, ao ser capaz de identificar as situações, pode-se refletir sobre os riscos dessa utilização e, com isso, evitar os riscos de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das respostas dos questionários aplicados aos participantes da capacitação demonstra que muitas informações apresentadas podem ter sido incorporadas aos conhecimentos já existentes – de domínio dos professores –, pois, em algumas das situações simuladas no questionário pós-capacitação, essas informações fizeram parte daquelas que são necessárias para a resolução dos problemas simulados. Problemas que deveriam ser resolvidos com base no uso racional de medicamentos.

Sabe-se, também, que a capacitação é apenas um dos momentos do Projeto Educanvisa, que possui várias outras atividades, além da distribuição de materiais para informação, esclarecimento e consulta para os professores.

As contribuições para os professores foram significativas, pois se sabe que existem situações na prática cotidiana pedagógica que remetem à experiência trazida pelo que nos acontece, que nos toca e pode nos transformar. Por meio da prática e do envolvimento do professor durante a capacitação, o saber da experiência pode permanecer no profissional e surgir no momento em que ele precisar e, assim, contribuir na formação do cidadão consciente sobre o uso racional de medicamentos e na promoção, manutenção de sua saúde (LARROSA, 2002).

De acordo com Freire (1977), no processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, e é capaz de aplicá-lo em situações existenciais concretas.

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REFERêNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Caderno do Professor. Projeto Educação e Promoção da Saúde no Contexto Escolar: O contributo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso racional de medicamentos. Brasília: Anvisa, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. vigilância sanitária e escola: Parceiros na Construção da Cidadania para Professores. Brasília: Anvisa, 2008.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.423, de 7 de abril de 1988. Portaria GM nº 3.916, de 30 de outubro de 1998, Diário Oficial da União, Brasília-DF, 10 de novembro de 1998. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/legis/consolidada/portaria_3916_98.pdf16, de 30 de outubro de 1998>. Acesso em 24 de Novembro de 2009.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1977.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informação Tóxico Farmacológicas. Sinitox. 2008.

RUBINSTEIN, F.; SIQUEIRA, C. R. J.; GARRAFA,V. Relação entre indústria farmacêutica e Estado na propaganda de medicamentos.In : GARRAFA,V.; MELLO, D. R.; PORTO, D. Bioética e Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2007, p.81-91.

IVANNISSEVICH, A. Os perigos da automedicação no Brasil. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 2008.

LARROSA, J. Literatura, experiência e formação. In: COSTA, M. V. Caminhos investigativos – novos olhares na pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 133-160.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec 1999.

SANTOS, M. L. G. S. A comunicação em contexto pedagógico. Universidade Portucalense, 2003. Disponível em: <http://www.aulasvirtuais.org/publicados/mlgs/a_comunicacao_mlgs.pdf.>. Acesso: 6 dez.2009.

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ExPERIêNCIA DE USO DE FERRAMENtAS lÚDICAS COMO EStRAtÉgIA DE ABORDAgEM DO tEMA USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS PARA AlUNOS DO ENSINO FUNDAMENtAl.

Universidade de São Paulo (USP)

Fernando Luis Marcussi1; Michelle Moreira de Matos Pinto1; Renata Viegas Cardamoni2;

Vivian Boschesi Barros3 e Terezinha de Jesus Andreoli Pinto4 .

1 - Graduandos de Farmácia e Bioquímica. Universidade de São Paulo – USP.

2 - Graduanda de Publicidade e Propaganda. Universidade de São Paulo – USP.

3 - Graduanda de Medicina. Universidade de São Paulo – USP.

4 - Docente orientador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Universidade de São Paulo – USP.

RESUMO

O uso irracional de medicamentos é um grave problema de saúde pública e um dos maiores desafios da atualidade para a Organização Mundial da Saúde (OMS). As formas mais comuns de a população praticá-lo são com a automedicação abusiva, o uso indiscriminado de produtos naturais e o mau armazenamento de fármacos. A cultura baseada na ideia de que os medicamentos são soluções rotineiras para todos os problemas de saúde, a qual tem grande contribuição da mídia, é determinante para esse quadro. Diversos autores defendem a importância de programas de educação em saúde na escola para combatê-la, pois desde cedo possibilitariam ao indivíduo obter informações sobre medidas de prevenção a doenças e uso seguro de medicamentos. Uma das maiores iniciativas nacionais nesta área é o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária , que busca capacitar e oferecer material didático a professores de ensino fundamental. A Universidade de São Paulo foi convidada a colaborar com o Educanvisa através do Projeto de Educação e Informação, realizado em parceria com a Anvisa, que consistia desenvolver uma oficina de atividades lúdicas sobre saúde para alunos de uma das escolas participantes, em Taboão da Serra (SP). Os resultados obtidos foram positivos. Acredita-se que o uso de ferramentas lúdicas contribuiu para o aprendizado e assimilação dos assuntos abordados.

INtRODUÇÃO

Conforme estabeleceu, em 1986, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos requer “que os pacientes recebam a medicação apropriada para sua situação clínica, nas doses que satisfaçam as necessidades individuais, por um período adequado, ao menor custo possível” (GANDOLFI, 2006). O uso de fármacos, contrariando esse preceito, é muito prevalente e consiste em grave risco sanitário: a própria OMS considera o problema um de seus maiores desafios e estima que no planeta “mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inapropriadamente e que metade dos pacientes não os usam corretamente” (QUELUZ, 2007).

Em alguns casos, a população tem pouco controle sobre a exposição a medicamentos indevidos. É o que se apresenta, por exemplo, na ocorrência de prescrições inapropriadas ou quando são comercializados produtos com “qualidade, segurança e eficácia comprometidas, como os medicamentos falsos” (LUCHESSI et al, 2005). Tais situações requerem medidas como maior rigidez no controle da produção e distribuição de fármacos e investimentos na formação de prescritores mais qualificados, e, portanto, fogem aos objetivos deste estudo.

Entretanto, em outros casos há contribuição importante da coletividade, notavelmente na automedicação indiscriminada, no

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armazenamento inadequado e no uso irracional de substâncias “naturais” e herbais, situações essas que refletem um posicionamento imaturo frente ao uso de medicamentos.

A automedicação consiste na utilização de um fármaco por um indivíduo ou seus responsáveis sem supervisão de um profissional de saúde habilitado (PEREIRA et al., 2007). Em algumas situações ela é necessária por questões socioeconômicas: o sistema de saúde não permite que a população tenha acesso a atendimento médico frente a qualquer sintoma (NETO et al., 2006). Tal prática não deve ocorrer, porém, com medicamentos que exigem prescrição – o que comumente é feito ao adquiri-los em farmácias que os fornecem ilegalmente sem a exigir – ; ao utilizar receitas de amigos ou familiares, ou antigas; ao consumir sobras de remédios; ou, ainda, no ato de se negligenciar as instruções dos receituários (LOYOLA FILHO et al., 2006). Mesmo os medicamentos isentos de prescrição “devem ser consumidos com consciência e responsabilidade” (BRASIL, 2005), respeitando as instruções do farmacêutico e da bula. Quando isso não ocorre, há aumento dos riscos diretos e indiretos de seu consumo (intoxicações, reações adversas, mascaramento de sintomas de doenças graves, resistência bacteriana), inibem-se condutas preventivas de saúde e são desviados recursos de áreas como moradia e educação (BRASIL, 2005). Inúmeras pesquisas indicam que o fenômeno da automedicação desenfreada é preocupante em todo o mundo (LOYOLA FILHO et al.., 2002) e no Brasil (ARRAIS et al., 2007). Trabalhos que estimam sua ocorrência no país são escassos, pouco abrangentes e têm metodologias diversas, alguns apontando taxas de 42,1% a 74% (idem; SIMÕES & FARACHE FILHO, 1988; VILARINO et al., 1998).

É muito comum, ainda, que a automedicação ocorra pelo uso de medicamentos naturais, herbais ou fitoterápicos, que são de venda livre. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 1997, mostrou que 42% da população havia utilizado itens do tipo, no ano anterior; a prevalência é ainda maior em países subdesenvolvidos. A grande frequência de uso

tem relação com a facilidade de obtenção; com a promessa presente nos rótulos ou veiculada na mídia de que tais produtos não causam malefícios por serem naturais; e com a tradição, pois o uso de plantas medicinais é uma prática sedimentada e utilizada por muitas famílias há gerações – afinal consiste em uma das mais antigas formas de medicalização. Ocorre, porém, que o controle das condições de fabricação e comercialização desses itens é muitas vezes falho; muitos não obtiveram comprovação científica de suas propriedades farmacológicas; os dispensadores não têm preparo para orientar a população quanto à forma adequada de uso; há possibilidade de interação com outras drogas; e, frequentemente, tais produtos oferecem toxicidade – o que configura um sério problema de saúde pública (JUNIOR, et al., 2006).

Também é preocupante o frequente hábito de se guardar os medicamentos em locais inapropriados. O armazenamento adequado e a preservação são indispensáveis para manter as características físicas, químicas e farmacológicas dos mesmos e são fatores fundamentais para a sua eficácia e segurança (BARROS et al., 2007). Além disso, grande parte dos fármacos utilizados para automedicação é guardado nos domicílios, trazendo risco de serem utilizados, sem supervisão, por crianças e podendo causar intoxicações. Um levantamento realizado em Santa Catarina evidenciou que mais de metade dos medicamentos armazenados em residências estavam expostos ao calor e à umidade (SCHENKEL et al., 2005). Outro estudo, no Piauí, permitiu constatar que mais da metade estava ao alcance de crianças e, 15% , não possuíam qualquer identificação, sujeitos a trocas que favorecem envenenamentos (BARROS et al., 2007). A esse respeito, dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (BORBOLETTO & BOCHNER, 1999) demonstraram que 27% dos casos registrados de intoxicações entre 1993 e 1996 eram causados por medicamentos.

Contribui consideravelmente para todo esse quadro o fato de grande parte da população enxergar saúde como a simples ausência de

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doenças – e os medicamentos são vistos, nesse contexto, como símbolos de saúde (VILARINO et al., 1998) e do poder da ciência e da tecnologia (BRASIL, 2005) no combate às enfermidades. Cabe salientar que o conceito atual de vida saudável transcende as questões biológicas, abrangendo aspectos sociais, culturais, ecológicos, psicológicos, econômicos e valorizando o modo de vida, o acesso aos serviços públicos de saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer, à alimentação, ao saneamento básico entre outros (BRASIL, 2008).

Tem-se pensado, ainda, em um modelo condizente com a realidade, onde o indivíduo, mesmo saudável, pode passar por momentos em que esteja doente (IEVORLINO, 2000). O ato de se medicar, entretanto, é muitas vezes considerado uma “economia” de trabalho pessoal, constituindo uma solução simples e rotineira para qualquer problema de saúde. Poupam-se esforços como exercer medidas preventivas e higiênicas, ter uma alimentação correta e praticar exercícios físicos. Esquece-se do risco sanitário intrínseco a todos os medicamentos e que eles de modo algum substituem tais cuidados (VILARINO et al., 1998).

Inúmeros estudos afirmam que essa mentalidade é influenciada pela frequente exposição da população a campanhas publicitárias tendenciosas (BRASIL, 2005). O marketing farmacêutico, que movimenta milhões de dólares no mundo todo, muitas vezes atua de forma não ética, privilegiando a ampliação de lucros em detrimento da qualidade da informação veiculada (BRASIL, 2005). São criadas necessidades de saúde falsas, divulgam-se informações não comprovadas por publicações científicas ou promete-se cura ou bem-estar sem considerar outras variáveis importantes para uma vida saudável (BRASIL, 2009). Os medicamentos são considerados produtos de consumo, em vez de serem instrumentos a serviço da promoção da saúde, estimulando-se o uso irracional (BRASIL, 2005).

Diversos autores (ARRAIS et al., 1997; SCHENKEL et al., 2005; NETO et al., 2006)

enfatizam a importância de programas educativos que possibilitem à população um uso mais consciente de medicamentos e a prevenção de doenças. As escolas são apontadas como ambientes propícios em razão de sua capilaridade e abrangência (BRASIL, 2002). Para o Ministério da Saúde, o desenvolvimento de tais ações é fundamental, já que o período escolar é uma época em que os jovens estão criando e revendo seus hábitos (idem).

Desde o final do século 19 são previstas ações de educação em saúde no Brasil e, desde a década de 20, é prevista a participação das escolas no processo (SILVA, 2007). Observamos, contudo, diversas dificuldades relacionadas ao ensino como um todo no Brasil, particularmente nas escolas públicas: o mau preparo e as condições de trabalho inadequadas dos educadores; o pouco tempo semanal utilizado para o ensino de Ciências; o fato de tais programas predominarem no ensino médio, ao qual parcela importante da população não tem acesso; a carência de materiais didáticos específicos sobre o processo saúde-doença (SCHALL et al., 1987). Além disso, o jovem em idade escolar “já possui conhecimentos, atitudes e práticas de saúde adquiridos no lar” (LEONELLO & L´ABATTE, 2006) e há dificuldade em fazer com que os conceitos adquiridos modifiquem práticas já sedimentadas.

Catalán (LEONELLO & L´ABATTE, 2006) observou ainda que, historicamente, há a tendência de que as atividades de educação em saúde sejam realizadas de “maneira autoritária, impositiva e coercitiva e com caráter exclusivamente informativo, dando ênfase à prevenção das doenças”, atitude que estaria cristalizada na prática de alguns profissionais. Por outro lado, diversos autores lembram que a educação em saúde na escola deve levar o aluno ao comportamento inteligente, capaz de analisar e avaliar diferentes fontes de informações e fazer escolhas conscientes com base em seu conhecimento (idem; GONÇALVES et al., 2008). Fica claro, portanto, que as atividades não devem ser a simples transmissão de ideias que devem ser aceitas sem questionamento.

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O ideal é formar indivíduos que sejam agentes no processo educativo e na construção de reflexões sobre suas condições de vida e de saúde (LEONELLO & L´ABATTE, 2006). Estratégias de ensino que utilizam a ludicidade têm conquistado espaço no panorama nacional, sobretudo na educação infantil, e uma de suas maiores vantagens é justamente a capacidade de favorecer uma atitude proativa dos indivíduos na situação de aprendizagem. A utilização de brincadeiras colabora para o desenvolvimento de habilidades como a interpretação, a tomada de decisão, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e o enfrentamento de novas situações. Além disso, as crianças são motivadas a usar a inteligência e superar obstáculos, pois querem jogar bem. Uma aula com características lúdicas, porém, não depende necessariamente de jogos, mas sim de comprometimento dos professores e alunos a fim de tornar o momento de aprendizado dinâmico e prazeroso (MAURÍCIO, 2006).

Na atualidade, uma das maiores iniciativas do Brasil voltada à educação em saúde é o projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, criado em 2005 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Educanvisa busca formar multiplicadores dos conceitos e práticas desejáveis no uso de medicamentos e na opção pela alimentação saudável. É um dos projetos desenvolvidos pela Agência para atingir as metas firmadas com o Ministério da Saúde no Programa Mais Saúde, integrante do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal (BRASIL, 2009).

O projeto ocorre em diversas regiões e atua capacitando professores e oferecendo material didático aos mesmos. Em 2009, foram realizados cursos de capacitação com cerca de 200 unidades de ensino (BRASIL, 2009). No município de Taboão da Serra, a Anvisa e a Universidade de São Paulo (USP) realizaram uma parceria, constituindo o Projeto de Educação e Informação. Este foi o responsável por organizar, entre outros eventos, uma oficina

de atividades lúdicas para algumas turmas de alunos participantes do Educanvisa, aqui descrita.

OBJEtIvO

O objetivo foi criar atividades a serem realizadas em escolas de ensino fundamental para abordagem do tema Uso Racional de Medicamentos, paralelamente às ações do Projeto Educanvisa. Procurou-se utilizar exercícios lúdicos e atividades não rotineiras a fim de reforçar conceitos já trabalhados durante o projeto, relativos à obtenção de uma vida mais saudável. Definiu-se como meta criar um ambiente onde os alunos pudessem, por meio da brincadeira, da espontaneidade e da imaginação, aprender e esclarecer suas dúvidas.

MAtERIAl E MÉtODOS

Foram planejados dois dias de atividades (17 e 18 de novembro de 2009), cada um com uma hora de duração. As atividades foram desenvolvidas com três turmas de alunos do quarto ano (atual quinta série) do ensino fundamental na EMEF Vinícius de Moraes no Município de Taboão da Serra (SP), participante do projeto Educanvisa durante três meses, aproximadamente. Cada sala de aula era composta de cerca de trinta alunos. A equipe realizadora foi composta por universitários da Universidade de São Paulo (USP).

Utilizou-se como roteiro, para guiar a sequência de temas a serem abordados, dois livretos institucionais da Anvisa: “A Informação é o Melhor Remédio – o que vale a pena saber sobre a propaganda e o uso de medicamentos” (BRASIL, 2008) e “A Informação é o Melhor Remédio – dicas para trabalhar com os vídeos e os spots da campanha” (BRASIL, 2008).

As atividade realizadas nos dois dias de projeto, se não eram estritamente lúdicas, utilizavam materiais e outras formas de comunicação que fogem à rotina das crianças. Houve a preocupação de que o momento de aprendizado fosse prazeroso para elas. A expectativa era

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que através da oficina elas aprendessem e fixassem os temas relacionados ao uso racional de medicamentos e que os levassem para sua família e amigos.

Os temas escolhidos e a estratégia de abordagem foram: conceito de saúde e efeito da vida moderna: quebra-cabeças; conceito de medicamento e automedicação: vídeo; cuidados em relação aos medicamentos: figuras e brincadeira com uma criança voluntária; propaganda de medicamentos: figuras e vídeo; cuidados gerais com a saúde (saúde bucal, tratamento de água e vacinação): teatro.

PRIMEIRO DIA

a) Conceito de saúde e efeitos da vida moderna: quebra-cabeça

O objetivo da primeira atividade planejada seria verificar como os alunos entendem o conceito de saúde e levá-los a reconhecer que ela depende de diversos fatores e que não é sinônimo de medicamento ou de ausência de doenças. Para tanto, foi elaborado um quebra-cabeça de nove peças (Figura 1), onde cada uma tem o desenho de um item importante para a saúde: alimentação, moradia, descanso, lazer, meio ambiente, paz, estudo e renda. Junto a cada quebra-cabeça há duas peças dentre as

seguintes que não têm encaixe com as outras e representam conceitos não relacionados à saúde: doença, estresse, poluição, sedentarismo, sujeira e comidas pouco saudáveis (Figura 2).

Planejou-se iniciar a atividade com uma pergunta a toda a sala: “O que é saúde?”. Após uma rápida discussão, seriam oferecidos à turma três quebra-cabeças, que deveriam ser montados por grupos de aproximadamente dez alunos, para que a relação peça-aluno fosse próxima de um e todos pudessem participar. Os alunos teriam cerca de cinco minutos para a montagem e em seguida se perguntaria a eles, esclarecendo-os em seguida caso houvesse necessidade: Qual a importância de cada uma das peças que se encaixam na vida de um indivíduo? Por que houve peças que não se encaixaram? Por que não havia uma peça com o desenho de um remédio?

A seguir, seria dito rapidamente que a vida moderna impõe um cotidiano apressado e desregrado, e a falta de tempo muitas vezes motiva as pessoas a ignorar os preceitos de uma vida saudável. Por esse motivo, tem aumentado a prevalência de problemas de saúde como depressão, diabetes e hipertensão. Nesse contexto, os medicamentos aparecem como a solução, apesar de o seu uso sempre apresentar um risco.

Figura 1 - Quebra-cabeça sobre saúde. Figura 2 - Peças sem encaixe.

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b) Conceito de medicamento e automedicação

A fim de discutir alguns conceitos básicos sobre uso racional de medicamentos, produziu-se um vídeo caseiro em que os autores são os próprios universitários (Figura 3). A filmagem conta a história de vida de uma bruxa caricata que tem hábitos de vida nada saudáveis (come só doces e lanches; gosta de sujeira; costuma fazer chá com todas as ervas que vê pelo caminho etc.) e acha que, se ficar doente, isso pode ser resolvido facilmente ingerindo medicamentos por sua conta. Ela possui muitos fármacos em sua casa e toma-os sem qualquer responsabilidade, além de distribuí-los e incentivar outras pessoas a se automedicarem. A intenção do vídeo foi chamar a atenção dos alunos para como os medicamentos são vistos erroneamente como uma solução “mágica”. A pretensão era que as crianças criassem empatia com o mesmo, uma vez que eles poderiam reconhecer os atores do filme, além de que associassem a imagem da bruxa a atitudes erradas que todos nós temos no dia a dia. Questionar-se-ia, então, quais eram os problemas retratados, salietando os perigos das atitudes desregradas da bruxa.

Em seguida, seria abordado o próprio conceito de medicamento, que é diferente de remédio: “Medicamentos consistem em recursos utilizados

para curar ou aliviar dores, desconfortos e doenças. São fórmulas elaboradas em farmácias, hospitais ou empresas farmacêuticas e devem atender às especificações técnicas e legais da legislação brasileira de vigilância sanitária. Já a palavra remédio, termo mais amplo, inclui conceitos, além dos medicamentos, sobre cuidados além dos medicamentos, sobre cuidados e recursos terapêuticos com a mesma finalidade” (BRASIL, 2008). Seria salientado que, caso um indivíduo esteja doente, há outras opções para a sua melhora, como descanso, banho quente, psicoterapia, exercícios físicos, fisioterapia, entre outros – os alunos seriam inquiridos se conheciam outras opções. Nesse momento seriam comentados os perigos das substâncias “naturais”.

O último tema a ser abordado nessa parte seria a automedicação. De forma simplificada, através de esquemas na lousa em forma de organogramas e remetendo ao vídeo da bruxa, seria explicado o que é a automedicação, e que a mesma pode causar males à saúde (intoxicações) e dispêndio financeiro inútil – destacando a importância do profissional da saúde, médico ou farmacêutico.

Figura 3 - Vídeo caseiro da bruxa cujos hábitos de vida não são saudáveis.

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c) Cuidados com o medicamento

Para explicar quais os cuidados necessários com o medicamento a ideia foi utilizar fíguras projetadas em slides. Os cuidados escolhidos para serem comentados foram: examinar se a embalagem está intacta, verificar a data de validade, mantê-lo longe do alcance das crianças e abrigá-lo num local seco, longe do calor e da luz. Seria solicitado então a um aluno voluntário que levasse uma caixinha de medicamento falsa até a imagem (fig. 4) que mostrava o local onde ele o armazenaria: banheiro, na cozinha ou no quarto (melhor local, onde o remédio pode ser armazenado em lugar alto, sem umidade ou altas temperaturas). Em seguida, proporíamos uma discussão das vantagens e desvantagens de cada local.

d) Propaganda de medicamentos

A fim de explicar de que forma a indústria farmacêutica induz a compra do medicamento, foram coletadas algumas imagens de propagandas famosas com a intenção de mostrar para as crianças como elas são convincentes e podem nos manipular. Em seguida, planejou-se projetar um vídeo institucional da Anvisa, que conta a história da propaganda de forma cômica em preto e branco, ao estilo filme-mudo. O filme mostra que desde tempos remotos a propaganda de medicamentos tenta nos convencer de que eles são a salvação e também retrata a consequência da automedicação – muitos personagens acabam se intoxicando. Após o vídeo, haveria uma conversa sobre os problemas que os alunos haviam observado.

SEGUNDO DIA

O objetivo do segundo dia de atividades seria salientar que alguns cuidados básicos (saúde bucal, tratamento de água e vacinação) podem contribuir para uma vida mais saudável e sem a necessidade de medicamentos. As salas deveriam ser divididas novamente em três grupos de aproximadamente dez alunos em cada. Para cada grupo seriam distribuídos alguns quadrinhos de personagens famosos dos gibis infantis com temas diversos relacionados à saúde para que eles colocassem as estórias na ordem correta e colassem em um cartaz (Figura 5).

Cada grupo ficaria responsável por organizar uma estória diferente. Após montagem e colagem,

Figura 4 - Qual o lugar ideal para armazenar o medicamento?

haveria um tempo para que ensaiassem e, em seguida, com a participação de todos os integrantes, a estória seria apresentada no centro da sala para os colegas.

Além disso, a equipe do Projeto desenvolveu uma cartilha de atividades chamada “Saúde Divertida” (Figura 6) para que os alunos recebessem no segundo dia, junto com giz de cera e um lápis. A cartilha possui vários jogos e desenhos para pintar: caça-palavras; palavras-cruzadas; jogo dos erros; e liga-liga. Uma parte da cartilha deveria ser feita em sala-de-aula e as crianças seriam orientadas a terminar o resto em casa.

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RESUltADOS E DISCUSSÃO

A opção em adotar nossas impressões para avaliar o sucesso das atividades, ao invés de utilizar ferramentas quantitativas como questionários, se deu em razão da riqueza e importância das expressões e comportamentos das crianças durante as atividades, mais tangíveis; pela maior compatibilidade com a aprendizagem que seria realizada; e também por aspectos motivacionais.

Ao início do primeiro dia, a maioria das crianças mostrou-se empolgada quando foi dito que seriam realizadas algumas brincadeiras sobre saúde. Em todas as classes, no entanto, havia algumas que demonstraram apatia e pareciam desatentas frente à primeira pergunta (“O que é saúde?”). Nenhum aluno associou imediatamente o conceito de saúde a um bem-estar dependente de vários fatores. Quase todos o associavam a “não ficar doente”; apenas alguns falavam sobre conseguir brincar e fazer lição com energia.

A aceitação do quebra-cabeça, no entanto, foi praticamente unânime. Como imaginado, o fato de cada aluno ficar com pelo menos uma peça possibilitou que quase todos participassem. Em cada um dos grupos, porém, foi natural que um ou dois alunos mais extrovertidos assumissem a liderança, organizando a atividade. Em todas as vezes, o quebra-cabeça foi organizado adequadamente.

Após o término da montagem, discutiu-se com a sala toda os conceitos da brincadeira. Alguns

Figura 5 - Crianças colocam as estórias em quadrinhos na ordem correta.

alunos na primeira turma, porém, dispersaram-se em conversações paralelas ou ficaram mexendo nas peças. Nas outras duas turmas, então, foi decidido que a abordagem se desenvolveria melhor se realizada com um universitário por grupo, o que foi feito com sucesso. Todos os desenhos foram compreendidos, exceto o que se referia à moradia (alguns alunos pensaram em “família”, o que também está correto, mas não foi a exata intenção).

Na abordagem dos conceitos sobre vida moderna e também durante o vídeo, as crianças se mostraram atentas. A discussão dos conceitos seguintes sobre medicamentos (o que é um medicamento, automedicação, cuidados com os medicamentos), porém, causou certa dispersão. Talvez isto tenha ocorrido em razão de as ideias serem complicadas e transmitidas de forma predominantemente verbal e em sequência. O vídeo institucional da Anvisa, no entanto, causou animação e muitas crianças opinaram, apontando corretamente os erros mostrados.

O segundo dia começou com a pergunta “Quem gosta de estórias em quadrinhos?” – a qual todos responderam com um sonoro e entusiasmado “sim”. As tirinhas foram, então, entregues aos alunos e após a montagem distribuiu-se um cartaz e cola para que as colassem na ordem correta. Foi proposto um ensaio para que representassem a estória em seguida. Os alunos se mostraram motivados durante a atividade, no entanto, nem todos quiseram se apresentar devido à timidez. Aqueles que aceitaram

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dividiram as falas dos personagens entre si, ensaiaram e depois se apresentaram no centro da sala. O entendimento da estória de alguns grupos ficou prejudicado, pois certos alunos falaram baixo ou tiveram dificuldades em ler. Por isso, todos os quadrinhos foram lidos pela equipe em voz alta após o teatrinho. Além disso, um cartaz de cada estória foi deixado na escola para que os professores colassem no pátio, à vista de todos os estudantes da escola.

Um momento muito especial foi o da distribuição das cartilhas junto com os giz-de-cera. Várias crianças perguntaram se teriam que devolver o giz e diante da afirmativa de que era um presente, ficaram muito felizes.

Na realização da primeira atividade da cartilha, as palavras-cruzadas (Figura 7), os universitários completaram com os alunos os itens mais difíceis: 4, 6, 7 e 9. Os outros itens deveriam ser preenchidos depois com o auxílio do professor ou dos pais. Os estudantes se mostraram animados e sugeriram respostas; alguns fizeram até itens a mais do que os propostos. O caça-palavras (Figura 7) não foi efetuado junto com as crianças em razão da indisponibilidade de tempo. Por isso, a proposta foi que eles o realizassem depois. Mesmo assim, alguns alunos começaram a dizer as palavras que haviam encontrado, provavelmente como uma espécie de disputa entre eles.

O jogo dos erros (Figura 8) notoriamente foi a atividade que as crianças mais gostaram. Observou-se que, por iniciativa própria, a

maioria não só pintou de vermelho o lado da pílula correspondente a uma atitude errada, mas também coloriu de verde o lado que se referia à atitude certa. Apenas o item sobre propaganda trouxe certa dificuldade. Foi então reafirmado que apenas os isentos de prescrição são permitidos em anúncios.

Na realização da quarta e última atividade da cartilha, o liga-liga (Figura 9), as crianças primeiro teriam que pintar as tarjas dos medicamentos da cor indicada e em seguida ligá-los à classe correspondente. Algumas crianças tiveram problemas e, por isso, a equipe se dispersou pela sala na ideia de atender a todas as dúvidas.

É interessante observar que não houve grandes incidentes de mau comportamento e a maior parte dos alunos se mostrou colaborativa durante os dois dias da oficina – foi observado, também, que alguns grupos discutiam os temas apresentados entre si durante as atividades.

As atividades realizadas estão de acordo com a afirmativa “Para aprender é preciso refazer e recriar o que já foi falado ou feito” (SÃO PAULO, 1997), uma vez que refizeram e recriaram muitas vezes temas anteriormente retratados. No entanto, sabe-se que educação em saúde na escola não se faz em poucos dias, mas depende de um contato constante do indivíduo com tal assunto durante a sua vida escolar (IEVORLINO, 1983). O relato dessa experiência tem a intenção de incentivar mais atividades de educação em saúde e discussões a respeito do uso racional de medicamentos.

Figura 6: Parte externa da cartilha “Saúde Divertida”.

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Figura 7: Parte externa da cartilha “Saúde Divertida”.

Figura 8: Parte externa da cartilha “Saúde Divertida”.

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Figura 9: liga-liga e respostas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que o desenvolvimento do Projeto de Educação e Informação, paralelamente ao Projeto Educanvisa, obteve resultados positi-vos. Eles foram complementares ao reforçar o tema Uso Racional de Medicamentos, o que contribuiu para o aprendizado e entendimento dos estudantes.

A oficina foi uma amostra de como a utilização de ferramentas lúdicas é possível e proveitosa para o aprendizado da criança em temas volta-dos à saúde.

AgRADECIMENtOS

Os autores agradecem à Organização Pan-Americana da Saúde pelo financiamento, à Anvisa pelo suporte e à Fundação Instituto de Pesquisas Farmacêuticas pela administração do projeto.

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REFERêNCIAS

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PARtE 2AÇÕES DE INFORMAÇÃO

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A PROMOÇÃO DA SAÚDE PElAS ONDAS DO RáDIO: ANálISE DO IMPACtO DE AÇÕES DE INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA PROFISSIONAIS DE RáDIO

Universidade Estadual de londrina (UEl)

Ester Massae Okamoto Dalla Costa1; Eliane Saori Otaguiri2; Gustavo H. Oliveira de Paula2; Lucas Katsui

Utsunomia2; Rafael Dezorzi3, Rogério Toyama3.

1 - Docente da Universidade Estadual de Londrina – UEL.

2 - Acadêmicos do Curso de Farmácia – Universidade Estadual de Londrina – UEL.

3 - Acadêmicos do Curso de Medicina – Universidade Estadual de Londrina – UEL.

INtRODUÇÃO

A automedicação é definida como o ato de administrar remédio sem prescrição médica, com o objetivo de curar patologias ou de diminuir seus sintomas, sendo que a seleção e o uso de medicamentos são realizados por indivíduos inaptos para tal (OGLIARI, 2004). O medicamento tem forte influência e presença na vida das pessoas (DA SILVA et al., 2009). Para Barros (1995), o medicamento é destacado como objeto mágico, que permite ao paciente ter a sensação de poder sobre seus sintomas. A automedicação é um fenômeno potencialmente nocivo à saúde individual e coletiva, pois nenhum medicamento é inócuo ao organismo (VILARINO, 1998).

Entre todos os países da América Latina, a população brasileira é uma das que apresenta maior tendência para comprar medicamentos sem consulta médica, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pesquisa realizada pela Market Analysis Brazil, com 800 adultos residentes em oito das principais capitais do país, indica que 63% dos brasileiros que se autoavaliam como possuindo uma saúde excelente consomem medicamentos; isto evidencia que, mesmo sem necessidade aparente, o brasileiro consome algum tipo de remédio. O número de entrevistados que compra medicamentos aumenta e, conforme o grau de exposição à mídia, fica mais intenso: 76% dos entrevistados que exibem um grau de exposição forte à mídia compram algum

tipo de medicamento, enquanto 53% dos que apresentam um fraco grau de exposição realizam essa aquisição. Os resultados revelam dependência significativa entre a exposição à mídia e a compra de medicamentos (MARKET ANALYSIS BRASIL, 2005).

O rádio faz parte do cotidiano de muitos brasileiros e tem um grande poder de penetração na população; as empresas de publicidade têm ciência disto, fato que é refletido através de dados. De acordo com o Grupo de Mídia São Paulo (MÍDIA DADOS BRASIL, 2009), existe 3.988 emissoras de rádio no Brasil (Anatel, 2008, levantamento preparado pelo Núcleo de Mídia da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República); 91,5% dos domicílios brasileiros possuem rádio (Projeção Grupo de Mídia); há 82% de penetração de rádios AM e FM (fonte: Ipsos Marplan Pesquisas) e, em 2008, o faturamento publicitário bruto no rádio alcançou pouco mais de R$ 900 milhões (Projeto Intermeios).

A indústria farmacêutica, que investe milhões em pesquisas buscando a cura das doenças, também está entre as empresas que investem alto em todo tipo de marketing e propaganda para vender seus produtos. O uso da mídia de massa para publicidade legitima suas mensagens, alcançando enorme contingente de pessoas (DE JESUS, 2004).

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As propagandas tentam seduzir o consumidor psicologicamente, tocando nos pontos mais vulneráveis e de maior importância na sua vida, levando em consideração o papel que cada pessoa desempenha dentro de um contexto de sociedade proposto ou aceito. A propaganda de produtos ligados à saúde deveria ater-se a informações racionais e corretas, no entanto, o que se observa é a predominância de apelos emocionais; além disso, a maioria das peças publicitárias não apenas omite informações fundamentais a respeito de cuidados, reações adversas e contraindicações, como frequentemente enfatiza a ausência de riscos, induzindo ao uso indiscriminado de medicamentos (HEINECK et al., 1998).

A sociedade, os profissionais de saúde e os legisladores brasileiros há muito se preocupam com a produção e o uso de medicamentos e demais produtos sujeitos à vigilância sanitária. Em 1931, o Decreto nº 20.377, que regulamentou a profissão do farmacêutico, já apresentava restrições aos anúncios de medicamentos. Desde então, a legislação sanitária deu um grande avanço rumo à regulamentação e normatização dos produtos e serviços de saúde. A lei de criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, confere à Agência a competência de estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária, bem como controlar, fiscalizar e acompanhar, sob o prisma da legislação sanitária, a propaganda e a publicidade de produtos submetidos ao regime de vigilância sanitária (BRASIL, 2009). Desde a publicação da Resolução de Diretoria Colegiada n° 102, em 30 de novembro de 2000 (RDC n° 102/2000) e, recentemente, com a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada n° 96, de 17 de dezembro de 2008 (RDC n° 96/2008), as propagandas, mensagens publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção e/ou comercialização de medicamentos passaram a ser regulamentadas (BRASIL, 2000).

O presente trabalho faz parte das atividades da IV fase do Projeto de Monitoração de Propaganda

de Medicamentos e Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária, da Anvisa, em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL), e tem por objetivo analisar e apresentar o impacto das informações e orientações transmitidas por meio do simpósio “A Promoção da Saúde Pelas Ondas do Rádio” a profissionais de emissoras de rádio dos municípios de Londrina e Maringá, do Estado do Paraná, e demais participantes, sobre aspectos referentes às propagandas de medicamentos.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Foi feita uma revisão de literatura com artigos científicos encontrados em bases de pesquisa (Medline, Lilacs, Google Acadêmico, Bireme, SciELO, dentre outros), com o uso de descritores “publicidade de medicamentos”, “automedicação” e “legislação de medicamentos”, no período de julho a agosto de 2009.

Foram elaborados um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um questionário composto de 18 questões relacionadas aos temas: fatores de influência na compra de medicamentos; influência da propaganda na compra de medicamentos; normas relacionadas às propagandas de medicamentos; riscos sanitários relacionados às propagandas de medicamentos; e responsabilidade das emissoras de rádio em relação às propagandas de medicamentos.

Um simpósio intitulado “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” foi realizado, com a presença de 40 participantes, sendo dez profissionais de rádio (dois do município de Maringá e oito do município de Londrina), oito outros profissionais e mais 22 estudantes. O simpósio teve a duração de quatro horas e abordou os temas: o papel da vigilância sanitária e a monitoração e fiscalização de propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária; principais erros e infrações na propaganda de medicamentos e alimentos; e o papel dos meios de comunicação na publicidade de produtos sujeitos à vigilância sanitária. Antes e após o simpósio, o termo de consentimento e os

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questionários foram aplicados para avaliação dos conhecimentos de cada participante.

No período de novembro a dezembro de 2009, os dados foram tabulados e analisados, com a conclusão do presente trabalho.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 mostra o perfil dos participantes que responderam ao questionário, antes e após o simpósio. Antes do evento, 28 questionários foram respondidos; dentre estes, nove foram respondidos por profissionais de rádio (32%), seis por outros profissionais (21,5%) e 13 por estudantes (46,5%). Dos nove profissionais de rádio participantes da pesquisa, quatro são formados em Comunicação Social/Jornalismo (44,5%); dois são formados em Serviço Social (22,2%); um é graduado em Psicologia (11,1%); um tem formação em Pedagogia (11,1%); e um possui Ensino Médio completo (11,1%).

No que se refere ao tempo de atuação dos participantes na área de comunicação radiofônica: um possui um ano de atuação (11,1%); um possui três anos (11,1%); um possui 15 anos (11,1%); um atua há 20 anos (11,1%); um trabalha na área faz 30 anos (11,1%); dois possuem 40 anos de atuação (22,2%); e dois participantes não responderam (22,2%). Dos seis outros profissionais que responderam ao

questionário, seis são farmacêuticos bioquímicos (100%). Dos 13 estudantes respondentes, um é estudante do 3° ano do curso de Jornalismo (7,7%) e 12 são estudantes do curso de Farmácia (92,3%); destes, dois são estudantes do 2° ano do curso de Farmácia (16,7%); oito são do 3° ano (66,6%) e dois são do 5° ano (16,7%).

Após o simpósio, 17 pessoas responderam ao questionário, sendo cinco profissionais de rádio (29,4%); três outros profissionais (17,6%) e nove estudantes (53,0%). Não houve levantamento, no pós-simpósio, da escolaridade nem do tempo de atuação na área radiofônica dos profissionais de rádio, da formação dos outros profissionais e dos cursos de graduação, assim como o ano de curso dos estudantes.

As tabelas 2 e 3 mostram, respectivamente, a opinião dos participantes, antes e após a realização do simpósio, sobre qual o fator que mais influencia a compra de um medicamento.

A tabela 4 mostra a resposta dos participantes, antes e após a realização do evento, em relação à compra de medicamentos sem receita médica.

A tabela 5 apresenta a opinião dos participantes, antes e após a realização do simpósio, sobre a influência da propaganda na compra de medicamentos.

Tabela 1 – Perfil dos participantes do simpósio que responderam ao questionário.

Pré-simpósio Pós-Simpósio

n % n %

Profissionais de rádio 9 32,0 5 29,4

Outros Profissionais 6 21,5 3 17,6

Estudantes 13 46,5 9 53,0

Total de questionários respondidos 28 100,0 17 100,0

Page 158: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

158 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Tabela 2 – Fator que mais influencia a compra de um medicamento, por categoria - respostas pré-simpósio.

Fatores Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

Amigos, familiares, vizinhos 5 55,6 2 33,3 2 15,4 9 32,1

Propaganda 1 11,1 1 16,7 4 30,8 6 21,4

Preço 0 0,0 2 33,3 3 23,1 5 17,8

Outros 3 33,3 1 16,7 1 7,7 5 17,8

Balconista 0 0,0 0 0,0 2 15,4 2 7,1

Não respondeu 0 0,0 0 0,0 1 7,7 1 3,6

Total 9 100,0 6 100,0 13 100,0 28 100,0

Tabela 3 – Fator que mais influencia a compra de um medicamento, por categoria - respostas pós-simpósio.

Fatores Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

Amigos, familiares, vizinhos 4 80,0 0 0 2 22,2 6 35,3

Propaganda 1 20,0 1 33,3 4 44,5 6 35,3

Preço 0 0,0 1 33,3 1 11,1 2 11,8

Outros 0 0,0 1 33,3 1 11,1 2 11,8

Balconista 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não respondeu 0 0,0 0 0,0 1 11,1 1 5,9

Total 5 100,0 3 100,0 9 100,0 17 100,0

Tabela 4 – Compra de medicamentos sem receita médica, por categoria – respostas pré e pós simpósio.

PRÉ-SIMPÓSIO

Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

SIM 7 77,8 6 100,0 13 100,0 26 92,8

NÃO 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

NR 2 22,2 0 0,0 0 0,0 2 7,2

Total 9 100,0 6 100,0 13 100,0 28 100,0

PÓS-SIMPÓSIO

Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

SIM 5 100,0 3 100,0 9 100,0 17 100,0

NÃO 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

NR 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Total 5 100,0 3 100,0 9 100,0 17 100,0

Page 159: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

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E INFO

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 159

Tabela 5 – Influência da propaganda na compra de medicamentos, por categoria – respostas pré e pós simpósio.

PRÉ-SIMPÓSIO

Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

Influência n % n % n % n %

Alta 4 44,5 4 66,7 10 76,9 18 64,4

Média 2 22,2 2 33,3 2 15,4 6 21,4

Baixa 2 22,2 0 0,0 0 0,0 2 7,1

Não-Influencia 1 11,1 0 0,0 1 7,7 2 7,1

Não sei 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não respondeu 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Total 9 100,0 6 100,0 13 100,0 28 100,0

PÓS-SIMPÓSIO

Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

Influência n % n % n % n %

Alta 4 80,0 3 100,0 8 88,8 15 88,2

Média 1 20,0 0 0,0 1 11,2 2 11,8

Baixa 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não-Influencia 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não sei 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não respondeu 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Total 5 100,0 3 100,0 9 100,0 17 100,0

As tabelas 6 e 7 demostram, respectivamente, o conhecimento dos participantes, antes e após a realização do simpósio, em relação às normas que regem as propagandas e a publicidade de medicamentos, de alimentos e de produtos relacionados à saúde.

A tabela 8 traz o conhecimento “pré-simpósio” dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informações em uma propaganda de medicamentos. A tabela 9 traz o conhecimento “pós-simpósio”.

Tabela 6 – Conhecimento das normas que regem as propapandas e a publicidade de medicamentos, alimentos e produtos relacionados à saúde, por categoria – respostas pré simpósio.

Conhecimento Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

Não conheço, e nunca ouvi falar 1 11,1 0 0,0 0 00,0 1 3,6

Não conheço, mas já ouvi falar 1 11,1 0 0,0 1 7,7 2 7,1

Conheço, mas pouco 7 77,8 4 66,7 11 84,6 22 78,6

Conheço plenamente 0 0,0 1 16,7 1 7,7 2 7,1

Não respondeu 0 0,0 1 16,7 0 0,0 1 3,6

Total 9 100,0 6 100,0 13 100,0 28 100,0

Page 160: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

160 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Tabela 7 – Conhecimento das normas que regem as propapandas e a publicidade de medicamentos, alimentos e produtos relacionados à saúde, por categoria – respostas pós simpósio.

Conhecimento Profissionais de rádio

Outros Profissionais

Estudantes Total

n % n % n % n %

Não conheço, e nunca ouvi falar 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não conheço, mas já ouvi falar 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Conheço, mas pouco 4 80,0 2 66,7 7 77,8 13 76,5

Conheço plenamente 1 20,0 1 33,3 1 11,1 3 17,6

Não respondeu 0 0,0 0 0 1 11,1 1 5,9

Total 5 100,0 3 100,0 9 100,0 17 100,0

Tabela 8 – Conhecimento dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informações em uma propaganda de medicamentos – pré-simpósio.

INFORMAÇÕES SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

Total

n % n % n % n % n %

Contraindicações 27 96,4 1 3,6 0 0,0 0 0,0 28 100,0

Nome Comercial 17 60,7 6 21,4 2 7,1 3 10,7 28 100,0

Princípios ativos 21 75,0 2 7,1 2 7,1 3 10,7 28 100,0

Nº registro na Anvisa 19 67,8 7 25,0 2 7,1 0 0,0 28 100,0

Endereço da empresa 10 35,7 11 39,3 3 10,7 4 14,3 28 100,0

Telefone do serviço de atendimento ao consumidor

28 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 28 100,0

MSG1 26 92,8 2 7,1 0 0,0 0 0,0 28 100,0

Nome do responsável técnico 12 42,8 14 50,0 2 7,1 0 0,0 28 100,0

MSG2 9 32,1 13 46,4 5 17,9 1 3,6 28 100,0

EXPRS 12 42,8 14 50,0 0 0,0 2 7,1 28 100,0

Preço sugerido ao consumidor 18 64,3 6 21,4 2 7,1 2 7,1 28 100,0

Nome da empresa de publicidade responsável pela propaganda.

10 35,7 10 35,7 5 17,9 3 10,7 28 100,0

MSG1: a mensagem “A PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”; MSG2: mensagens de “aprovado”, “recomendado por especialista”, “aprovado pelo FDA americano”; EXPRS: expressões como “inócuo”, “seguro”, “produto natural”.

Tabela 9 – Conhecimento dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informa-ções em uma propaganda de medicamentos – pós-simpósio.

INFORMAÇÕES SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

Total

n % n % n % n % n %

Contraindicações 17 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 17 100,0

Nome Comercial 14 82,3 2 11,8 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Princípios ativos 15 88,2 2 11,8 0 0,0 0 0,0 17 100,0

Nº registro na Anvisa 10 58,8 6 35,3 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Endereço da empresa 5 29,4 8 47,1 1 5,9 3 17,6 17 100,0

Telefone do serviço de atendimento ao consumidor

14 82,3 2 11,8 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Page 161: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 161

MSG1 16 94,1 0 0,0 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Nome do responsável técnico 7 41,2 8 47,1 0 0,0 2 11,8 17 100,0

MSG2 4 23,5 12 70,6 0 0,0 1 5,9 17 100,0

EXPRS 4 23,5 12 70,6 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Preço sugerido ao consumidor 9 52,9 7 41,2 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Nome da empresa de publicidade responsável pela propaganda.

6 35,3 9 52,9 0 0,0 2 11,8 17 100,0

MSG1: a mensagem “A PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”; MSG2: mensagens de “aprovado”, “recomendado por especialista”, “aprovado pelo FDA americano”; EXPRS: expressões como “inócuo”, “seguro”, “produto natural”.

A tabela 10 apresenta o conhecimento pré-simpósio dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informações em uma propaganda de medicamentos veiculada em rádio. A tabela 11 fornece a opinião pós-simpósio.

Ao perguntar se a propaganda de medicamentos pode trazer riscos à saúde da população, tanto no pré quanto no pós simpósio, os participantes foram unânimes em responder que sim. A tabela 12 traz os tipos de riscos à saúde, de acordo com a opinião dos participantes.

Tabela 10 – Conhecimento dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informações em uma propaganda de medicamentos veiculada em rádio – pré-simpósio.

INFORMAÇÕES SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

Total

n % n % n % n % n %

Contraindicações 24 85,7 1 3,6 0 0,0 3 10,7 28 100,0

Nome Comercial 22 78,5 3 10,7 1 3,6 2 7,1 28 100,0

Princípios ativos 18 64,3 3 10,7 3 10,7 4 14,3 28 100,0

Nº registro na Anvisa 13 46,4 9 32,1 2 7,1 4 14,3 28 100,0

Endereço da empresa 5 17,8 15 53,6 4 14,3 4 14,3 28 100,0

Telefone do serviço de atendimento ao consumidor

24 85,7 2 7,1 1 3,6 1 3,6 28 100,0

MSG1 25 89,3 2 7,1 0 0,0 1 3,6 28 100,0

Nome do responsável técnico 5 17,8 16 57,1 3 10,7 4 14,3 28 100,0

MSG2 10 35,7 12 42,8 2 7,1 4 14,3 28 100,0

EXPRS 6 21,4 15 53,6 3 10,7 4 14,3 28 100,0

Preço sugerido ao consumidor 14 50,0 10 35,7 1 3,6 3 10,7 28 100,0

Nome da empresa de publicidade responsável pela propaganda.

8 28,6 14 50,0 2 7,1 4 14,3 28 100,0

MSG1: a mensagem “A PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”; MSG2: mensagens de “aprovado”, “recomendado por especialista”, “aprovado pelo FDA americano”; EXPRS: expressões como “inócuo”, “seguro”, “produto natural”.

Page 162: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

162 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Tabela 11 – Conhecimento dos participantes em relação à obrigatoriedade da presença de informa-ções em uma propaganda de medicamentos veiculada em rádio – pós-simpósio.

INFORMAÇÕES SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

Total

n % n % n % n % n %

Contraindicações 16 94,1 1 5,9 0 0,0 0 0,0 17 100,0

Nome Comercial 16 94,1 1 5,9 0 0,0 0 0,0 17 100,0

Princípios ativos 14 82,3 2 11,8 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Nº registro na Anvisa 5 29,4 11 64,7 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Endereço da empresa 3 17,6 11 64,7 0 0,0 3 17,6 17 100,0

Telefone do serviço de atendimento ao consumidor

10 58,8 5 29,4 0 0,0 2 11,8 17 100,0

MSG1 16 94,1 0 7,1 0 0,0 1 3,6 17 100,0

Nome do responsável técnico 3 17,6 11 64,7 0 0,0 3 17,6 17 100,0

MSG2 5 29,4 11 64,7 0 0,0 1 5,9 17 100,0

EXPRS 4 23,5 11 64,7 0 0,0 2 11,8 17 100,0

Preço sugerido ao consumidor 8 47,1 8 47,1 0 0,0 1 5,9 17 100,0

Nome da empresa de publicidade responsável pela propaganda.

5 29,4 10 58,8 0 0,0 2 11,8 17 100,0

MSG1: a mensagem “A PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”; MSG2: mensagens de “aprovado”, “recomendado por especialista”, “aprovado pelo FDA americano”; EXPRS: expressões como “inócuo”, “seguro”, “produto natural”.

Tabela 12 – Riscos que a propaganda de medicamentos pode trazer à saúde da população – pré e pós simpósio.

PRÉ-SIMPÓSIO PÓS-SIMPÓSIO

n % n %

Automedicação 27 96,4 16 94,1

Uso indevido, sem necessidade 24 85,7 17 100,0

Uso para indicação não aprovada 23 82,1 17 100,0

Uso incorreto 24 85,7 17 100,0

Uso contraindicado 23 82,1 17 100,0

Outros 4 14,3 3 17,6

A tabela 13 exibe o conhecimento dos participantes, pré e pós simpósio, em relação à promoção comercial de medicamentos na mídia leiga. Já a tabela 14 traz a opinião dos participantes em relação aos tipos de medicamentos que podem ser promovidos.

A tabela 15 demonstra, de acordo com a opinião dos participantes, as propagandas de produtos relacionados à saúde mais comuns nas emissoras de rádio.

A tabela 16 aponta, segundo a opinião dos participantes, se uma emissora de rádio pode ser responsabilizada por uma propaganda de medicamento irregular.

As tabelas 17 e 18 mostram, respectivamente, o conhecimento dos participantes pré e pós simpósio, em relação ao que é preciso que uma emissora de rádio verifique antes de anunciar qualquer produto sujeito à vigilância sanitária.

Page 163: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 163

Tabela 13 – Conhecimento dos participantes em relação à promoção comercial de medicamentos na mídia leiga.

PRÉ-SIMPÓSIO PÓS-SIMPÓSIO

n % n %

Todo medicamento pode ser promovido 1 3,6 1 5,9

Nem todos os medicamentos podem ser 24 85,7 16 94,1

Nenhum medicamento pode ser promovido 3 10,7 0 0,0

TOTAL 28 100,0 17 100,0

Tabela 14 – Tipo de medicamentos que podem ser promovidos comercialmente na mídia leiga.

PRÉ-SIMPÓSIO PÓS-SIMPÓSIO

n % n %

Medicamento de venda isenta de prescrição 23 82,1 17 100,0

Medicamento de venda sob prescrição 1 3,6 0 0,0

Medicamento de venda sob controle especial 1 3,6 0 0,0

Nenhum 1 3,6 0 0,0

Não respondeu 2 7,1 0 0,0

TOTAL 28 100,0 17 100,0

Tabela 15 – Propagandas de produtos relacionados à saúde mais comuns nas emissoras de rádio.

PRÉ-SIMPÓSIO PÓS-SIMPÓSIO

n % n %

Medicamentos alopáticos 12 42,8 4 23,5

Medicamentos homeopáticos 3 10,7 3 17,6

Medicamentos fitoterápicos 11 39,3 8 47,1

Alimentos funcionais 9 32,1 11 64,7

Não sei 2 7,1 1 5,9

Não respondeu 0 0,0 1 5,9

Tabela 16 – Responsabilidade de emissora de rádio em relação à propaganda de medicamento irregular.

PRÉ-SIMPÓSIO PÓS-SIMPÓSIO

n % n %

Emissora de rádio pode ser responsabilizada 18 64,3 17 100,0

Emissora de rádio não pode ser responsabilizada 2 7,1 0 0,0

Não sei 7 21,4 0 0,0

Não respondeu 1 3,6 0 0,0

TOTAL 28 100,0 17 100,0

Page 164: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

164 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Tabela 17 – Informações que a emissora de rádio precisa verificar antes de anunciar qualquer produto sujeito à vigilância sanitária – pré-simpósio.

SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

n % n % n % n %

Produto tem registro na Anvisa 23 82,1 1 3,6 4 0,0 0 0,0

Anúncio está em conformidade com a Legislação Sanitária

22 78,5 1 3,6 5 0,0 0 0,0

Produto realmente funciona 8 28,6 6 21,4 9 0,0 4 14,3

Empresa anunciante está legalmente estabelecida

22 78,5 6 21,4 0 0,0 0 0,0

Medicamento é isento de prescrição médica

22 78,5 0 0,0 6 21,4 0 0,0

Tabela 18 – Informações que a emissora de rádio precisa verificar antes de anunciar qualquer produto sujeito à vigilância sanitária – pós-simpósio.

SIM NÃO NÃO SEI NÃO RESPONDEU

n % n % n % n %

Produto tem registro na Anvisa 17 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Anúncio está em conformidade com a Legislação Sanitária

17 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Produto realmente funciona 10 58,8 4 23,5 1 5,9 2 11,8

Empresa anunciante está legalmente estabelecida

16 94,1 1 5,9 0 0,0 0 0,0

Medicamento é isento de prescrição médica

17 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Page 165: Caderno Textos Academicos Completo BAIXA Cs4

ÕES D

E INFO

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CADERNO DE TEXTOS ACADÊMICOS - 165

REFERêNCIAS

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BRASIL. Resolução RDC nº 102, de 30 de novembro de 2000. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1º de dezembro de 2000. Disponível em: <http://elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=11079>. Acesso em 27/06/2009.

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BRASIL. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=35664>. Acesso em 28/06/2009.

DA SILVA, D. R. et al. Publicidade de medicamentos de ontem e de hoje: a responsabilidade da publicidade no incentivo à automedicação. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/resumos/R0526-1.pdf>. Acesso em 15/06/2009.

DE JESUS, P. R. C. Propaganda de medicamentos: pra você ficar legal! Disponível em: <http://www.cit.sc.gov.br/propaganda/pdfs/artigos/propaganda_pra_%20ficar_legal.pdf>. Acesso em 28/06/2009.

HEINECK, I. et al. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.14, n.1, p. 193-198, 1998.

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ANálISE DAS PROPAgANDAS DE MEDICAMENtOS vEICUlADAS NAS EMISSORAS DE RÁDIO DE SALVADOR – BAHIA

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Cinara Vasconcelos da Silva1; Eudes da Silva Velozo1; Rosemília Ribeiro da Cunha1 .

1 - Faculdade de Farmácia – Universidade Federal da Bahia – UFBA.

RESUMO

São grandes os riscos e graves os problemas causados pela má qualidade da propaganda de medicamentos, em termos sanitários e econômicos. Assim, necessita-se de controle das peças publicitárias e de educar e informar a população para que se reduzam o uso irracional destes produtos. Para isto, a Anvisa regulamentou e criou uma parceria com universidades do país para monitorar as propagandas em diversos meios de comunicação.

O presente trabalho, realizado através do Projeto de Monitoração de Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, teve por objetivo analisar as propagandas de medicamentos veiculadas nas emissoras de rádio de Salvador (BA), apresentando uma reflexão sobre o assunto com base nas análises, propostas, críticas e sugestões presentes nos relatórios finais das três fases do projeto, enviados à Anvisa.

INtRODUÇÃO

São grandes os riscos e graves os problemas causados pela má qualidade da propaganda de medicamentos, em termos sanitários e econômicos.

A veiculação de campanhas publicitárias tendenciosas, cujos objetivos são meramente comerciais, estimula o consumo indiscriminado de medicamentos. Verifica-se a utilização de recursos publicitários para oferecer uma promessa de cura milagrosa com o uso do medicamento, com omissão de informações importantes como contra-indicações, cuidados e advertências quanto ao uso ou abuso do medicamento.

Muitas vezes, os produtos anunciados não são nem mesmo registrados pelo órgão fiscalizador, mas se apresentam com registro falso ou mesmo como produtos naturais “sem contra-indicações, pois o que é natural não faz mal”.

Assim, faz-se urgente a implantação de rígidas medidas de controle e educação da população para que se reduzam o uso irracional destes produtos.

Todos esses fatores impulsionadores do uso irracional de medicamentos e demais produtos de saúde pela população levaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a criar o Projeto de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, em parceria com universidades distribuídas nas diversas regiões do país. O papel das universidades consistiu em captar a divulgação desses produtos em diferentes veículos de comunicação a fim de analisar o teor das mensagens veiculadas, comparando com a legislação em vigor no intuito de obter um perfil da propaganda e da publicidade de produtos sujeitos à vigilância sanitária no Brasil.

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi uma das instituições escolhidas e contou com uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar, formada por estudantes de Farmácia, de Nutrição, de Odontologia, de Medicina, de Direito e de Comunicação Social.

O presente trabalho, realizado através desse projeto, teve por objetivo analisar as propagandas de medicamentos veiculadas

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nas emissoras de rádio de Salvador (BA), apresentando uma reflexão sobre o assunto, com base nas análises, propostas, críticas e sugestões presentes nos relatórios finais das três fases do projeto, enviados à Anvisa.

MAtERIAl E MÉtODOS

O projeto desenvolveu-se em três etapas: de 11/2002 a 09/2003; de 10/2004 a 04/2006; e de 11/2007 a 02/2008. Foram monitoradas 16 emissoras de rádio no Estado da Bahia: oito emissoras de rádio FM e oito emissoras de rádio AM. A captação de propagandas de medicamentos em rádio foi realizada em horários variados, incluindo os três turnos diários.

A análise das propagandas captadas era efetuada mensalmente, em duas etapas:

inicialmente utilizando os dados fornecidos na peça publicitária, seguida da avaliação desses dados de acordo com a legislação sanitária vigente (RDC nº 102/00; Leis nº 6.360/1976, nº 9.294/1996; Decretos nº 79.094, nº 2.018/1996; Portaria nº 344/1998; e a Resolução nº 83/2002) e a consulta na bibliografia especializada sobre o(s) princípio(s) ativo(s) do medicamento.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de monitoração, foram captadas 52 propagandas de medicamentos em rádio: 32 peças na 1ª Fase do projeto, 16 peças na 2ª Fase e quatro peças na 3ª Fase (Figura 1). Destas, 37 foram obtidas em frequência FM e 15 em AM, sendo que todas as propagandas de medicamentos eram de venda sem prescrição médica e apresentaram pelo menos cinco irregularidades.

tabela 1 – Principais irregularidades observadas em rádio

Omissão de contraindicação 98%

Não consta a advertência obrigatória: “AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”.

84%

Omite o princípio ativo segundo a DCB/DCI e o nº de registro na Anvisa. 79%

Anunciar medicamentos não registrados na Anvisa. 77%

Estimula e/ou induz o uso indiscriminado de medicamento. 65%

Usa de linguagem direta ou indireta relacionando o uso de medicamento ao desempenho físico, intelectual, emocional, sexual ou a beleza de uma pessoa.

31%

Afirma ou sugere que o medicamento tem efeito superior a outro usando expressões como: “mais eficaz”, “menos tóxico”, ou ainda utiliza expressões como: “o produto”, “o de maior escolha”, “o único”, “o mais frequentemente recomendado”, “o melhor” sem evidências científicas comprovadas.

62%

Sugere ausência de efeitos colaterais ou adversos ou utiliza expressões tais como: “inócuo”, “se-guro”, ou “produto natural”.

22%

As peças publicitárias exibidas em rádios destacaram-se em relação às veiculadas em outros meios de comunicação pela baixa qualidade e pouco cuidado com a informação prestada ao consumidor.

Em avaliações feitas com outros coordenadores do projeto em outros estados, foi constatado que nos estados do Nordeste este fato é mais comum que em outras regiões.

A rádio Sociedade da Bahia AM 740 KHz , Rádio Metrópole FM 101,3 MHz e a Rádio Piatã 94,3 MHz foram aquelas que mais veicularam propagandas durante o período de coleta, sendo essas rádios de grande audiência na Bahia, consequentemente, atingindo um público amplo e de menor renda per capita (classes C, D e E). Foi comum encontrar propagandas de medicamentos com composição e fabricante desconhecidos e sem registros na Anvisa,

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como o Taiucaroba, Cardioacetil Supermemo, Hipermemogold, Virmax, entre outros.

Muitos desses produtos foram anunciados como sendo eficazes em diversas indicações, como o Taiucaroba: “Sífilis, reumatismo e doenças difíceis de sarar, indicado para tornar a pele bonita, os poros ficarem abertos, deixar as artérias elásticas, evitar o acúmulo de gordura saturada, deixar a pele sem manchas, sem cravos, melhorar a circulação, acabar com cãibras e feridas difíceis de sarar, pele macia, evitar derrame e depurar o sangue”.

Aproveitando-se do menor acesso à saúde e à educação, as propagandas apregoam produtos capazes de tratar ou curar diversos tipos de enfermidades colocando em risco a saúde de pessoas que já se encontram econômica e socialmente fragilizadas.

O argumento é fundamentado em promessas milagrosas de cura ou prevenção, além de provocar temor e angústia no caso da não utilização dos mesmos (Hipermemogold, Supermemo e Virmax). Como agravante de todas essas irregularidades cometidas, a propaganda pode induzir o público ao uso indiscriminado dos medicamentos anunciados, podendo vir a comprometer a saúde do consumidor ou até mesmo agravar alguma enfermidade já existente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do trabalho de monitoração de publicidade e propaganda de medicamentos em rádio no Estado da Bahia refletem o desconhecimento da legislação específica e a necessidade da continuação desse trabalho, visto que o mesmo tem contribuído com a missão da Anvisa, permitindo uma maior agilidade na identificação das irregularidades, a exemplo de produtos sem registro comercializados sem o conhecimento e autorização do órgão regulador. Além de atuar na conscientização e educação sobre os riscos das propagandas de medicamentos para profissionais de rádio, com visitas às sedes das emissoras e população.

REFERêNCIAS BARROS, J. A. C. Propaganda de Medicamentos: Atentado à saúde? São Paulo: Hucitec, 1995.

CESAR, N. Direção de Arte em Propaganda. São Paulo: Futura, 2000.

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SCHENKEL, E. P.; PIZZOL, F. D.; SILVA, T. Análise da adequação das propagandas de medicamentos dirigidas à categoria médica no Sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 14, n.1, p.85-91, 1998.

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VELOZO, E. S.; CUNHA, R. R. Relatório técnico Narrativo Final (Fase II), 2004/2006.

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“A PROMOÇÃO DA SAÚDE PElAS ONDAS DO RáDIO”: RElAtO DE wORkSHOP REAlIzADO NO RIO DE JANEIRO

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Selma Rodrigues de Castilho1; Silvana da Silva Souza2; Gabriela Deutsch1; Luciana das Flores Fontes3; Sarah de

Vares Cação3; Joyce Andrade das Flores3.

1 – Docente da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense – UFF.

2 – Secretária do CEATRIM/UFF

3 – Discente da Universidade Federal Fluminense – UFF.

RESUMO

O presente trabalho descreve o workshop “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” organizado pela equipe do projeto Ações de Educação e Informação, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense (UFF). O evento teve como principal objetivo discutir a importância da integração entre profissionais da saúde e de comunicação social, visando à correta disseminação de informação sobre saúde, bem como da legislação sobre propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, em especial de alimentos e de medicamentos, para promoção e preservação da saúde pública. O evento se caracteriza como uma atividade de educação continuada, tendo a discussão centrada no papel do rádio na promoção da saúde. As estratégias de divulgação do evento envolveram o envio de mensagens eletrônicas a rádios, sindicatos, escola de rádio e associações de radialistas do Rio de Janeiro. Posteriormente, foram efetuados contatos telefônicos com vários radialistas, além da distribuição de cartazes e fôlderes sobre o evento. Durante o workshop, foram realizadas palestras e debate sobre o tema. Embora a adesão dos radialistas tenha sido baixa, as discussões foram bastante interessantes e aplicadas, sugerindo a oportunidade de realização de mais eventos direcionados aos comunicadores, que fomentem a discussão do papel da propaganda na promoção da saúde da população brasileira. Os radialistas presentes consideraram o evento pertinente e relacionado à sua prática diária.

INtRODUÇÃO

Todo medicamento é desenvolvido com objetivos diagnósticos, de prevenção ou cura de doenças, além do alívio de sintomas. Podem ainda agir no diagnóstico de problemas de saúde. No entanto, a sociedade moderna vive o fenômeno da supermedicalização, caracterizada pelo elevado índice de automedicação, uso excessivo de medicamentos paliativos e uso irracional dos medicamentos. Estas práticas são, em muito, estimuladas pelas estratégias de propaganda adotadas pela indústria farmacêutica. As campanhas publicitárias (LUCHESSI, 2005; NASCIMENTO, 2010) e o grande número de medicamentos que entram no mercado anualmente (LUCHESSI, 2005) também contribuem para o aumento da automedicação pela população.

Muitas das estratégias de promoção dos medicamentos na sociedade moderna tendem a promover uma percepção errônea sobre seu verdadeiro papel, seja na manutenção do bem-estar, seja na recuperação da saúde. Aos medicamentos são atribuídos, muitas vezes, exageros de aplicação. Por outro lado, é comum que se veicule igualmente a minimização dos riscos de sua utilização. Vários autores têm discutido essa questão há décadas (TEMPORÃO, 1986; HERXHEIMER, 1990; BARROS e JOANY, 2002). Por outro lado, as indústrias farmacêuticas chegam a gastar 30% da renda obtida com as vendas em campanhas publicitárias de medicamentos (NASCIMENTO, 2009).

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Há que se observar que muitos consumidores carecem de informação que possibilite uma análise crítica da propaganda de medicamentos veiculada pelas indústrias farmacêuticas para o grande público. NASCIMENTO (2009) aponta entre estas informações a composição dos produtos farmacêuticos, seus efeitos e os riscos envolvidos na sua utilização (NASCIMENTO, 2009). Entre as características sugeridas como indispensáveis à propaganda de medicamentos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) se encontram a autenticidade, veracidade, confiabilidade, equilíbrio e possibilidade de verificação (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1998), vários autores apontam preocupação com a qualidade dessa informação, inclusive no Brasil (NASCIMENTO, 2010; MASTROIANNI et al., 2008, FAGUNDES et al., 2007, BARROS e JOANY, 2002). Por esta razão, a adoção de medidas para regulamentar as respectivas propagandas toma um papel importante para a saúde pública (LUCHESSI, 2005; FAGUNDES et al., 2007). A qualidade das informações contidas nas propagandas deve ser considerada como ponto principal em uma peça publicitária, principalmente caso se trate de produtos envolvidos com a saúde (BRASIL, 2008).

Mesmo os medicamentos chamados de venda livre, que podem ser adquiridos legalmente pela população sem a exigência de apresentação de uma receita médica, apresentam riscos para a população (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA-RJ, 2004; NASCIMENTO, 2010). Desta forma, para esses produtos em especial, considerando-se que e a propaganda para grande público é autorizada, a garantia da qualidade e da completude da informação veiculada para a população é ainda mais importante.

Vários autores (BRASIL, 2005; HEINECK et al., 1998) apontam a vinculação da publicidade de medicamentos a padrões de mercado definidos pelas atitudes dos consumidores. Segundo SOARES (2008) e HUERTAS e CAMPOMAR (2008), há dois aspectos distintos explorados por estas propagandas: os apelos emocionais e os racionais, que juntos irão formar a atitude do consumidor sobre o produto. LYRA e

colaboradores (2010) ressaltam que o impacto da propaganda de medicamentos se dá não apenas sobre os consumidores mas, também, sobre a prática dos profissionais de saúde.

A regulamentação da propaganda de medicamentos no Brasil tem seus primórdios na Lei n° 6.360, de 1976 e no Decreto n° 79.094, de 1977, que a regulamenta (BRASIL, 2000). Em 2000, foi publicada a Resolução de Diretoria Colegiada - RDC n° 102/00, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que reafirmou determinações legais já existentes e incorporou maiores detalhes para a regulamentação da propaganda de medicamentos no Brasil (BRASIL, 2000). Em 2008, foi publicada a RDC n° 96/08, que entrou em vigor em junho de 2009 (BRASIL, 2008), sendo este o texto vigente atualmente.

Segundo esta norma, apenas os medicamentos isentos de prescrição podem ter sua propaganda direcionada ao público em geral. No entanto, a RDC n° 96/2008 proíbe a apresentação de mensagens voltadas para crianças ou adolescentes, de qualquer tipo, e também o uso de símbolos e/ou imagens com este fim (BRASIL, 2008). Também é vedado também fazer uso de qualquer expressão que relacione o uso de medicamentos ao desempenho físico, intelectual, emocional, sexual ou à beleza dos consumidores (BRASIL, 2008; BRASIL, 2000). Ainda, segundo a norma, frases de advertência devem ser veiculadas logo após a peça promocional e a empresa que veicula a propaganda é considerada corresponsável por aquilo que divulga.

O Projeto de Monitoração de Propaganda e Publicidade de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, coordenado pela Anvisa, iniciou suas atividades em 2002. Seu objetivo era contribuir para a fiscalização e o cumprimento das normas legais brasileiras sobre a propaganda dessas tecnologias. (BRASIL 2000; BRASIL, 2005). A Universidade Federal Fluminense (UFF) foi uma das 19 Instituições de Ensino Superior brasileiras a participar do projeto. O presente trabalho descreve o desenvolvimento do workshop “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”

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pela equipe do projeto Ações de Educação e Informação, da Faculdade de Farmácia da UFF, no Rio de Janeiro. Este workshop foi uma das atividades desenvolvidas durante a IV Fase do Projeto de Monitoração.

MAtERIAIS E MÉtODOS

O workshop “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” realizado pela UFF, no Rio de Janeiro, ocorreu no dia 3 de dezembro de 2009. O evento, vinculado ao projeto Ações de Educação e Informação, foi desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF), em cujo auditório, no Rio de Janeiro, ocorreram as atividades. O trabalho foi fruto de convênio entre a UFF e a Anvisa.

O auditório da ABF foi escolhido por possuir toda a estrutura necessária para a realização do evento, e também por ter uma localização privilegiada, no centro da cidade do Rio de Janeiro, próximo a estações do metrô e com circulação próxima de várias linhas de ônibus, o que possibilitaria fácil acesso ao local.

Durante os dois meses que antecederam o evento, a equipe da UFF, formada por cinco discentes (três de Farmácia e um de Letras) e um docente, dedicou-se à preparação do material de suporte para o evento. Constaram deste material uma cartilha destinada aos comunicadores, bem como cartazes e fôlderes de divulgação dos objetivos e data do evento, além de uma homepage.

A divulgação do evento foi realizada durante as quatro semanas que o antecederam, através do site do Projeto de Monitoração de Propaganda na UFF (http://www.uff.br/monitora), onde foram disponibilizadas informações sobre o workshop como, por exemplo, os objetivos do evento, seu cronograma e a ficha de inscrição.

Por meio do sítio de buscas Google (www.google.com.br), foram identificados os endereços eletrônicos das rádios do Rio de Janeiro. Também foi contatado o Sindicado dos Radialistas do Rio de Janeiro, que contribuiu na divulgação do workshop e na obtenção de

uma lista de contatos. A Associação das Rádios Comunitárias do Rio de Janeiro colaborou, igualmente, na divulgação desse evento.

A partir dessas informações, foram enviados e-mails, cartas-convite, cartazes e fôlderes do workshop para os radialistas. Visitas e telefonemas foram feitos, de forma sistemática, a essas instituições, na tentativa de sensibilizar para a importância do evento. Após o contato inicial, a rádio Rio de Janeiro realizou uma entrevista com a coordenadora do projeto, no dia 30 de novembro, às 7h15 da manhã, no programa Manhã no Rio.

As inscrições foram limitadas a 50 vagas, realizadas previamente através do e-mail [email protected], ou no próprio dia do evento. Durante toda a divulgação foi explicitado o fato de que o evento não tinha fins lucrativos, suas inscrições eram gratuitas e não havia nenhum vínculo com a indústria farmacêutica. Ao final do evento, foi utilizado um questionário de avaliação, com perguntas fechadas e abertas, através do qual se buscou avaliar a opinião dos participantes sobre o mesmo.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

A abertura do workshop foi realizada pelas professoras Selma Rodrigues de Castilho, da UFF, Guacira Correa de Matos, da UFRJ, representando a diretoria da ABF, e pela farmacêutica Mariana Collani, representando a GGPRO/Anvisa. Em seguida, a professora Guacira Correa de Matos proferiu a palestra “Intoxicação medicamentosa e o Uso Racional de Medicamentos”. Na sequência, Mariana Collani proferiu a palestra “O papel da Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Estado brasileiro e a monitoração e fiscalização de propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária”.

Em seguida, deu-se início à roda de conversa, com participação dos radialistas presentes, da representante da GGPRO, Mariana Collani, do presidente do Sindicato dos Radialistas, Miguel Walter, e da professora Selma Castilho.

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Após o intervalo para um coffee break, foram iniciadas as atividades da tarde, com a palestra “O Certo e o Errado na Propaganda de Medicamentos e o Papel das Rádios na Promoção da Saúde”. Na sequência, os presentes discutiram a RDC nº 96/08 e fizeram algumas atividades com base nos spots produzidos pela Anvisa durante a campanha “A informação é o melhor remédio”.

Apesar de o público participante totalizar apenas 14 pessoas, as discussões foram muito interessantes e pertinentes aos objetivos iniciais do projeto. Todos os presentes consideraram o tema relevante e o workshop pertinente às suas atividades laborais. Os radialistas manifestaram suas principais dúvidas e dificuldades. Entre elas destacam-se a questão da necessidade de que rádio disponha do registro do produto e a dificuldade de avaliação pelos comunicadores do conteúdo científico das peças. Foi ressaltado pelos radialistas o fato de que a decisão final não cabe necessariamente aos profissionais de comunicação, mas sim à direção das emissoras e, muitas vezes, à equipe de marketing.

O presidente do sindicato propôs a realização de eventos conjuntos no futuro, talvez num formato menor, visando estimular o debate entre os radialistas. Esta sugestão reforça as observações de LYRA e colaboradores (2010) e NASCIMENTO (2010) que enfatizam a importância de uma discussão mais profunda envolvendo tanto os consumidores, quanto os profissionais de comunicação e da saúde.

O representante da rádio Rio de Janeiro mostrou interesse em estreitar os laços com a equipe da UFF, visando à participação da mesma em programas sobre saúde, que a rádio já desenvolve. Na entrevista utilizada para divulgação do evento nesta rádio, foram discutidos os fundamentos do uso racional de medicamentos, o papel da propaganda no consumo de medicamentos, bem como o escopo do projeto monitoração e os objetivos do workshop. Nesta ocasião, foi divulgada a disponibilidade de dois centros de informação sobre medicamentos no Rio de Janeiro, o CEATRIM (UFF) e o CRIM-RJ (UFRJ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a baixa adesão dos comunicadores sociais ao workshop tenha tornado limitados os resultados obtidos, a discussão foi interessante e profícua. Há que esclarecer que o evento não foi divulgado entre estudantes, o que pode ser uma estratégia futura interessante. A baixa adesão levantou considerações sobre o próprio modelo proposto: um dia inteiro de discussões pode dificultar a participação dos radialistas; o público-alvo deve ser expandido, sobretudo para os profissionais que negociam a venda de horário nas rádios. Vale ressaltar que alguns dos profissionais contatados pela equipe já haviam manifestado preocupação tanto com o tema quanto com o tempo de realização do evento.

Os resultados, no entanto, demonstram que realmente existe a necessidade de se realizar mais eventos com a mesma ou maior magnitude, buscando a conscientização e educação continuada dos profissionais da área de comunicação para o papel da propaganda ao grande público na promoção de práticas saudáveis. Algumas das dúvidas apresentadas pelos radialistas mostram que já há um certo grau de discussão entre eles. No entanto, há baixo conhecimento da RDC nº 96/08 e algumas dúvidas em sua interpretação.

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CONStRUINDO vAlORES SOCIAIS E EDUCACIONAIS: RElAtO DE UMA ExPERIêNCIA NO PROJEtO EDUCANvISA EM gOIâNIA-gOIáS

Universidade Federal de goiás (UFg)

Dione Marçal Lima1

1 – Professora, doutora da Universidade Federal de Goiás – UFG.

RElAtO

Dentre as atividades a serem desenvolvidas dentro do projeto Educanvisa: Educação em Vigilância Sanitária, que se trata de uma iniciativa para apoiar ações estratégicas educativas e informativas na cidade de Goiânia, Estado de Goiás, em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi prevista uma atividade com os profissionais radialistas que trabalham nas emissoras de rádio da capital goiana. O foco no rádio foi pensado devido à facilidade de acesso do público ao que é divulgado nesse veículo de comunicação, ao seu apelo popular e ao seu lado humano, além de ser direto e particular ao ouvinte.

Sabendo que existe uma grande veiculação de propagandas/publicidades de produtos para a saúde (especialmente medicamentos) nessa mídia, torna-se importante criar uma nova mentalidade e, talvez, até a adoção de uma nova linguagem por parte desses profissionais, para que haja divulgação desses produtos de forma saudável e regular, atendendo às normas preconizadas pela Anvisa. A ideia é propagar conceitos que eduquem ou relembrem temas relevantes, para proporcionar o desenvolvimento de atitudes de promoção da saúde.

A proposta foi realizar um evento específico para esses comunicadores, a fim de garantir o direcionamento dos temas a serem abordados e, também, promover um espaço para realizar questionamentos e sanar dúvidas.

A Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do projeto Educanvisa, organizou um seminário cujo tema foi: “Propaganda enganosa

de medicamentos e outros produtos para saúde”, com realização no dia 1º de outubro de 2009.

Para a divulgação do evento ao público-alvo (radialistas), foram adotadas as seguintes estratégias:

- Contato com o sindicato dos trabalhadores de comunicação em Goiás, para incentivar a participação de seus representantes, para auxiliar na divulgação do evento e, também, para convidá-los a participar compondo uma mesa- redonda no dia do evento.

- Divulgação pessoal do seminário junto às principais emissoras de rádio AM e FM de Goiânia.

- Participação em um programa de debates de uma das rádios contatadas, com o objetivo de discutir alguns dos temas do evento e reforçar o convite para participação nesse seminário.

O sindicato foi visitado duas vezes antes do evento, tendo sido entregue 100 fôlderes para distribuição junto à classe; e 14 emissoras de rádio da cidade de Goiânia foram visitadas pessoalmente para entrega do convite/folder.

Além do público-alvo, foram encaminhados ofícios-convite às seguintes entidades:

- Vigilância Sanitária Municipal

- Vigilância Sanitária Estadual

- Ministério Público – Promotoria de Defesa do

Consumidor

- Associação Goiana das Emissoras de rádio e TV

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178 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

- Sindicato das agências de propaganda de Goiás

- Coordenação do curso de Farmácia da UFG

- Coordenação do curso de Comunicação da UFG

A programação do seminário foi agendada somente para o período da manhã, com o intuito de facilitar a adesão ao evento, tendo em vista a ampla jornada dos profissionais radialistas.

Apesar de contarmos com 53 participantes no evento, infelizmente nenhum profissional radialista compareceu ao evento. Tivemos bastante interesse pelo tema e muito das discussões foram desviadas para sanar dúvidas a respeito da legislação que regulamenta a propaganda desses produtos no Brasil, especialmente solicitadas pelos representantes presentes do segmento de farmácias magistrais e indústria farmacêutica.

Diante deste relato fica claro que não tivemos como aplicar qualquer instrumento direcionado ao segmento alvo para avaliar seu nível de conhecimento ou sua opinião sobre a regulamentação.

Nosso objetivo era trabalhar a perspectiva de construção de saberes, para gerar mudanças. No entanto, entendemos que para isto é necessário a percepção de problemas ou desconfortos que foram identificados, valorizados ou entendidos como de sua responsabilidade pelo público-alvo. Diante deste relato concluo que outras estratégias precisam ser pensadas para trabalharmos o segmento da comunicação no Brasil.

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE vIA RáDIO: SENSIBIlIzAÇÃO DOS RADIAlIStAS PElA EQUIPE DA UFJF, vIgIlâNCIA SANItáRIA DE JUIz DE FORA E ANvISA

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Lilian Henriques do Amaral1; Vivian Henriques do Amaral2; Luiz Paulo Reis Santos1; Thais de Sá Pecis1;Carolina Pires de Araújo3; Allan Pereira3; Simone Gatti Ferreira Reis4; Miriam Aparecida de Oliveira Pinto5; Maria

da Penha Henriques do Amaral5

1 - Graduando em Farmácia – Faculdade de Farmácia e Bioquímica (UFJF).2 - Graduanda em Medicina - Faculdade de Medicina (UFJF).3 - Graduando em Comunicação Social - Faculdade de Comunicação Social (UFJF).4 - Cirurgiã Dentista, Especialista em Vigilância Sanitária, Supervisora de Educação em Saúde. Vigilância Sanitária Municipal – Juiz de Fora – MG

5 - Professora Doutora Associada - Faculdade de Farmácia e Bioquímica (UFJF).

RESUMO

A saúde no Brasil é um direito universal e dever do Estado. Para o cumprimento deste direito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem como algumas de suas atribuições a educação em vigilância sanitária, a promoção do uso racional de medicamentos e o monitoramento de propagandas de medicamentos, alimentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária. Por meio da Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO), a Anvisa, em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizou o projeto educacional A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio. Foram realizados dois seminários para radialistas e profissionais da comunicação abordando o tema: riscos da veiculação de propagandas enganosas de medicamentos e de alimentos para a saúde do consumidor. No primeiro seminário, apesar da intensa divulgação para radialistas e estudantes, dos 159 participantes, somente cinco eram radialistas. No segundo seminário, os 50 convites foram personalizados e direcionados exclusivamente aos profissionais do rádio e demais meios de comunicação. Destes, somente 23 compareceram. Concluiu-se que uma nova estratégia deveria ser utilizada para a sensibilização dos profissionais de

comunicação, que resultasse no cumprimento da legislação vigente referente à veiculação de propaganda de medicamentos e alimentos na mídia.

INtRODUÇÃO

Os medicamentos não são mercadorias que possam ser oferecidas da mesma maneira que outros bens e serviços passíveis de regras do livre mercado. Com base nisso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) editou regulamentos e resoluções sobre propaganda de medicamentos e de outros produtos sujeitos à vigilância sanitária, com o intuito de proteger a saúde da população (FAGUNDES et al., 2007).

O controle da propaganda é eticamente defensável, uma vez que, em questões básicas como a saúde pública, o Estado deve tomar a frente e intervir, com o compromisso de proteger a população contra o iminente risco sanitário que o consumo descontrolado de medicamentos representa (FAGUNDES et al., 2007). Entretanto, os relatos desta autora e colaboradores e de Heineck et al. (1998) demonstraram que existe alta frequência de propaganda enganosa de medicamentos e de alimentos.

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O rádio deve ser usado como meio de comunicação de massa para fins educativos e culturais (MONTEIRO, 2009). Por ser um meio de veiculação rápida da informação, atinge a um elevado número de indivíduos.

Segundo Brecht (2007), o rádio tem uma face quando na verdade deveria ter duas. Ele é um mero aparato de distribuição, pois simplesmente reparte algo. Para encontrar o que é positivo no rádio, esse autor propõe uma modificação de seu funcionamento: o rádio deve deixar de ser um aparato de distribuição para se transformar num aparato de comunicação. O rádio seria o mais admirável aparato de comunicação que se poderia conceber na vida pública, um enorme sistema de canais. Seria, caso ele se propusesse não somente a emitir, mas, também a receber. Ele, sozinho, pode promover as grandes discussões das empresas e dos consumidores sobre a normatização dos artigos de consumo (BRECHT, 2007).

Não importando o que esteja a empreender, o esforço do rádio deve ser o de contrapor à falta de propósito de anúncios de produtos relacionados à saúde, como os medicamentos e alimentos, recebidos de fabricantes e distribuidores para serem transmitidos à população.

São grandes os riscos e graves os problemas causados pela má qualidade da propaganda, tanto em termos sanitários quanto econômicos (SOARES, 2008).

Conforme afirmam Mello et al.(1993)

(...) é necessário que a comunidade exija qualidade,

fiscalize e polemize as situações vigentes. No

entanto, o sucesso de tal ação depende do

conhecimento disponível sobre o assunto, da

difusão desse saber pela população e da vontade

política de utilizá-lo. Nenhuma sociedade está

imune a erros técnicos, administrativos e à fraude

(MELLO ET al. 1993).

É importante que esse tema seja discutido em instituições de ensino como universidades e escolas de ensino fundamental e médio, secretarias de Educação e de Saúde, meios de

comunicação incluindo o rádio, cujo acesso atinja as diversas categorias da população.

Baseando-se nesses argumentos, a Anvisa lançou, em 2009, o projeto A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio para ser desenvolvido pelas instituições de ensino superior do país, envolvidas, desde o ano de 2002, com o Projeto de Monitoração de Propagandas de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária.

Os objetivos da Anvisa junto à classe dos radialistas foram: informar aos profissionais de comunicação, principalmente do rádio, a nova normatização da veiculação de propaganda de medicamentos e de produtos afins, que é a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 96/2008 (BRASIL, 2008); e conscientizar a classe de profissionais do rádio sobre os riscos da automedicação a que o ouvinte está sujeito, ao usar medicamentos sem a devida prescrição, na busca de resultados imediatos para os problemas de saúde, iludidos pelas promessas milagrosas transmitidas nas propagandas enganosas desses produtos.

Na visão acadêmica, esse projeto teve como característica principal propor para a classe de radialistas a mobilização das rádios para atuarem como promotoras da saúde, corroborando com o parecer de Brecht (2007) sobre a outra face do rádio, que é promover as grandes discussões das empresas e dos consumidores sobre a normatização dos artigos de consumo, sejam estes medicamentos ou alimentos, conforme determina a Anvisa. MAtERIAIS E MÉtODOS

Parte 1Para alcançar o objetivo de realização do projeto educacional A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio junto aos profissionais do rádio e demais meios de comunicação, foram realizadas as seguintes atividades: pesquisa das rádios locais; ampla divulgação do evento mediante o envio de ofícios-convite para os diretores das rádios e jornais do município de Juiz de Fora (MG); envio de release para o sítio da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF);

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e produção de outdoor e banners instalados no campus da UFJF. Foi criado também um endereço eletrônico para o recebimento das inscrições. As inscrições foram gratuitas, abertas também para os acadêmicos das áreas de saúde e de comunicação social.

O local escolhido foi o auditório da Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (ACISPES), situada no bairro de São Mateus de Juiz de Fora (MG).

O programa do seminário constituiu-se da apresentação da legislação RDC nº 96/2008, que trata da normatização de veiculação de propagandas de medicamentos e produtos afins; da importância da educação em vigilância sanitária; e do papel do radialista como promotor de saúde. Os palestrantes foram um representante da Vigilância Sanitária Municipal e uma representante da Anvisa, duas professoras da Faculdade de Farmácia e Bioquímica (FFB) da UFJF e duas professoras do curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá - Juiz de Fora.

Parte 2Uma nova proposta de sensibilização para os profissionais do rádio e de outros meios de comunicação foi apresentada para atingir o maior número possível destes profissionais. Para tanto, buscou-se a parceria da Diretoria de Comunicação (DICOM) da UFJF. Esta elaborou e encaminhou 50 convites personalizados para os profissionais das seis rádios locais e dos demais meios de comunicação de massa, incluindo TV, jornais e provedores de internet. O local foi o auditório de um hotel situado no centro de Juiz de Fora (MG).

O programa constituiu-se de uma apresentação mais compacta da legislação RDC nº 96/2008 pela representante da Anvisa e da análise de uma propaganda enganosa de um produto emagrecedor, transmitida por uma rádio local, captada pela equipe do projeto de monitoramento de propaganda de medicamentos da FFB/UFJF. Enfatizaram-se os riscos das propagandas enganosas de medicamentos e alimentos, veiculadas no rádio, sobre a saúde

do consumidor. Foi elaborado um folder contendo informações sobre a propaganda de medicamentos e alimentos para distribuição aos participantes.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Parte 1Na análise do banco de dados da pesquisa das rádios locais, frequências AM e FM, foram encontradas seis emissoras: Rádio Itatiaia, Rádio Globo, Rádio Universitária, Rádio Catedral, Rádio Energia, e Rádio Solar. Entre diretores e radialistas foram cadastrados 49 profissionais atuantes nessas rádios.

O Conteúdo do outdoor, release, banners e folder de divulgação do primeiro seminário proposto pela Anvisa – A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio –, e realizado pela equipe da UFJF e Vigilância Sanitária de Juiz de Fora, está apresentado na figura 1.

A palestrante da ANVISA apresentou o tema sobre as não conformidades das propagandas de medicamentos veiculadas pela mídia cujas informações não são confiáveis, pois omitem ou minimizam cuidados e riscos, induzindo ao consumo inadequado dos produtos.

As professoras palestrantes da área de comunicação, que também eram radialistas da Radio Energia, mostraram a dificuldade para reunir a classe de profissionais do rádio para este tipo de evento, visto que muitos não possuem a formação acadêmica ou se sentem constrangidos pela falta de conhecimento do tema a ser discutido.

As professoras da Faculdade de Farmácia e Bioquímica apresentaram as exigências legais para a divulgação de propagandas de medicamentos e de alimentos no rádio.

O seminário contou com 159 participantes. Destes 102 apresentaram como ocupação principal estudantes; 26 profissionais de saúde; cinco profissionais de comunicação; 26 outros.A frequência dos participantes por ocupação está apresentada na Figura 2.

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Figura 1- Conteúdo do outdoor, release, banners e folder de divulgação do primeiro seminário pro-posto pela Anvisa: A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio.

Figura 2 - Frequência dos participantes por ocupação no seminário 1: A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio.

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No perfil dos estudantes inscritos, 63 foram da área de Saúde, 30 do setor de Comunicação, cinco do Serviço Social e quatro de outros cursos.

Na avaliação final, mediante apresentação de questionário, 96% dos participantes consideraram o evento ótimo ou bom.

O consenso da equipe organizadora e da Anvisa foi propor novas estratégias de sensibilização dos radialistas. Outro seminário foi realizado somente com os profissionais de comunicação, visto que a participação destes no primeiro foi de apenas 3%.

Parte 2Com a participação da DICOM/UFJF foi realizado o segundo seminário. Adotou-se a estratégia de um convite para coquetel de congraçamento promovido pela UFJF com o título mais abrangente: Nas Ondas do Rádio. O convite elaborado, utilizando a logomarca do projeto da Anvisa, está apresentado na Figura 3.

Figura 3 - Convite do seminário 2 intitulado: Nas Ondas do Rádio.

Foram enviados 50 convites personalizados exclusivamente para radialistas e profissionais da comunicação. A inscrição foi gratuita.

O seminário contou com 23 participantes, além da equipe organizadora. Destes, seis eram de rádio, dois de jornal, um jornalista autônomo, seis de provedores de internet, dois de vigilância sanitária, dois professores da Faculdade de Farmácia e Bioquímica/UFJF, uma acadêmica do curso de mestrado em Saúde Coletiva, duas acadêmicas do curso de Farmácia e o secretário geral da UFJF. Contou-se com a participação de representantes das rádios Solar, Catedral, Energia e Universitária (UFJF), do jornal JF Hoje, dos provedores de internet Acessa.com e Zip-zap.com e de um jornalista autônomo.

Para otimizar a infraestrutura do local, foram contratados serviços de imagem e som, cerimonial, e, por sugestão da DICOM/UFJF, foi oferecido um coffee break aos participantes no final do evento.

De acordo com o parecer da DICOM/UFJF, o número foi abaixo do esperado por dois fatores ocorridos no dia e hora do evento: um temporal no período de 17h às 19h comprometeu o fluxo do trânsito, e a transmissão da decisão de um importante campeonato futebolístico na TV Globo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rádio, inventado por Guglielmo Marconi, conseguia levar à casa de todas as pessoas uma nova forma de transmitir informações, que foi capaz de se tornar uma alternativa de comunicação, principalmente se comparado ao jornal impresso.

Jornal, rádio e televisão começaram a se apresentar como efetivos meios a serem usados no processo educacional (MONTEIRO, 2009).

As pessoas, por vezes, ou por ignorância ou por conformismo, não sabem fazer uma análise adequada da informação, nem mesmo uma

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seleção dos programas que devem ou não ouvir ou assistir (VITORINO, 2009).

Em vista dos conteúdos das propagandas de medicamentos e de alimentos com alegação terapêutica veiculadas na rádio, enfatizando a ausência de quaisquer riscos, mediante declarações como “eu garanto”, “resolve todos os seus problemas”, “compre com o cartão de crédito e ganhe uma nécessaire”, mostrando o medicamento como produto qualquer, requer todos os esforços dos comunicadores de rádio no sentido de dar cumprimento à legislação sobre a propaganda desses produtos. Cabe aos radialistas, que emprestam a voz para transmitir estas falsas informações, por falta, talvez, do conhecimento a respeito dos riscos que estão submetendo o ouvinte, a responsabilidade em transformar o rádio em um meio, também, de promoção da saúde pública.

Os esforços para reunir os profissionais do rádio no seminário proposto pela Anvisa atingiram uma baixa proporção dos radialistas. Novas estratégias deverão ser adotadas para atrair a atenção e alcançar a adesão desses profissionais, como visita individualizada da equipe às emissoras de rádio com o objetivo de educar os profissionais sobre a sua participação na promoção e proteção da saúde pública.

Recomenda-se também a inclusão de uma disciplina nos cursos de Comunicação Social, que tenha como referência a legislação sobre a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária e o impacto negativo do consumo inadequado desses produtos para a saúde.

REFERêNCIAS

BRASIL. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=35664>. Acesso em 28/06/2009

BRECHT, B. O rádio como aparato de comunicação: discurso sobre a função do rádio. Estudos avançados, n. 21, v.60, p.227-232, 2007.

FAGUNDES, M. J. D. et al. Análise bioética da propaganda da publicidade de medicamentos. Ciência e Saúde Coletiva, n.12, v.1, p.221-229, 2007.

HEINECK. I. et. al. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, n.14, v.1, p.193-198, 1998.

MELLO, A. L. et. al. Introdução: as relações de produção e consumo. In: MELLO, A. L. et al. Vigilância Sanitária de Medicamentos e Correlatos. Rio de Janeiro: Qualitymark. p. 5. 1993.

MONTEIRO, C. G. O papel educativo dos meios de comunicação. Fórum Idéias. p.1-9. Disponível em: http://www.ipv.pt/forumedia/3/3_fi3.htm Acesso em: 18 dez. 2009.

SOARES, J. C. R. S. “Quando o anúncio é bom, todo mundo compra”. O projeto monitoração e a propaganda de medicamentos no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, n.13 (supl.), p.641-649, 2008.

VITORINO, C. A imagem e a sua importância na criança e no adolescente. Fórum Idéias. Fórum estudante. Disponível em: http://www.ipv.pt/forumedia/fe_6.htm. Acesso em: 18 dez. 2009.

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IMPACtO DA INtERvENÇÃO EDUCACIONAl RElAtIvO AO USO DE MEDICAMENtOS, AlIMENtAÇÃO SAUDávEl E lEgISlAÇÃO DE PROPAgANDA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Nelson Machado do Carmo Júnior1; Ráysa Hellen Assunção Costa1; Thays Cláudia da Silva Nascimento1;Natália Dourado de Castro1; Nataniele Ferreira Viana1; Luana Dias da Cunha1; Alessandro Carvalho dos Santos1; Tamiris Fernanda Lima Silva1; Aline Guimarães Amorim2; Antônio Carlos Romão Borges2 .

1 - Acadêmicos da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.Departamento de Ciências Fisiológicas, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade Federal do Maranhão – UFMA.

2 - Professores do Departamento de Ciências Fisiológicas, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.

Universidade Federal do Maranhão – UFMA.

RESUMO

Atualmente, as principais preocupações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são o uso indiscriminado de medicamentos, a forma deliberada como são obtidos em algumas farmácias e como os meios de comunicação utilizam-se da propaganda para promover esses produtos. Além dos medicamentos, é fundamental garantir que outros produtos para a saúde e o incentivo à alimentação saudável estejam entre os temas prioritários na agenda de discussão e divulgação dos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, torna-se fundamental que a população em geral e os radialistas em específico estejam cientes e esclarecidos sobre a qualidade da propaganda veiculada pela mídia. O objetivo deste trabalho é verificar o impacto da intervenção educacional em radialistas e em acadêmicos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), na cidade de São Luís Maranhão, no que se refere ao uso de medicamentos, à adoção de uma alimentação saudável e à legislação de propagandas. Os resultados foram obtidos através da análise de dados coletados de um questionário com 25 perguntas, aplicado no início e no fim do seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, promovido pela UFMA em parceria com a Anvisa e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Observou-se que a minoria

das pessoas presentes no seminário consistia de radialistas; no entanto, a intervenção educacional através do seminário teve impacto positivo, pois os conteúdos abordados foram absorvidos pelos radialistas e acadêmicos presentes. Logo, é relevante o incentivo à pesquisa e a discussão de seminários abordando os assuntos propostos.

INtRODUÇÃO

Ao refletir sobre a publicidade de produtos relacionados à saúde como medicamentos, alimentos e cosméticos percebe-se a necessidade de analisar, à luz de parâmetros éticos, questões que associem o direito à informação e à saúde, de modo que sejam desenvolvidas ações que possibilitem minimizar os riscos advindos do consumo induzido de forma indiscriminada. Neste sentido, adquire relevância a pesquisa e a discussão sobre a propaganda desses produtos, para adoção de medidas cautelares por parte de órgãos gestores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (MARTINS, 2008).

A Anvisa tem o papel de monitorar e fiscalizar a propaganda de medicamentos, alimentos e produtos para a saúde em todo o país, ficando responsável, portanto, pela análise criteriosa de todas as informações e os meios empregados

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190 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

nesses tipos de publicidade. Contudo, mesmo a Agência sendo descentralizada nos estados e municípios, é grande a dificuldade de controlar efetivamente algumas propagandas, pois a todo o momento são veiculadas novas peças publicitárias na TV, no rádio, outdoors, internet, dentre outros.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem por objetivo o controle político de acesso, qualidade/segurança e uso racional de medicamentos. Este último item salienta a relevante questão do uso incorreto de medicamentos induzido por promoções que visam, exclusivamente, o lucro (MARTINS, 2008). Paralelamente à introdução maciça de novos fármacos na terapêutica, aumentou-se exponencialmente a quantidade de informações sobre medicamentos, provocando o que se convencionou chamar de “explosão de informação”, nem sempre de boa qualidade e imparcial (VIDOTTI, 2000).

Dentro do processo de ampliação do âmbito de intervenção da Medicina (a chamada “medicalização”), o uso abusivo de medicamentos industrializados assume papel de destaque. Entre as diversas práticas mercadológicas de que a indústria farmacêutica se vale para incrementar os seus lucros — via estímulo ao consumo — sobressai-se a propaganda, particularmente junto aos médicos (BARROS, 1983).

A propaganda divulgada de modo incorreto pode ter um efeito bem drástico ao incentivar uma automedicação possivelmente inadequada. Segundo a OMS (2000/2001), um terço da população mundial não tem acesso aos medicamentos essenciais e este valor eleva-se para 50% nas regiões mais pobres da África e da Ásia. As razões para esta drástica redução podem ser atribuídas ao inadequado financiamento e à má administração da assistência à saúde. O fato de muitos medicamentos disponíveis terem qualidade, segurança e eficácia comprometidas, como os medicamentos falsos, é um sério agravante (LUCHESSI, 2005).

O uso irracional de medicamentos, os elevados índices de prescrição de antibióticos, o tempo

de administração muito reduzido e o uso incorreto por parte do paciente constituem-se, também, em questões preocupantes. A veiculação de campanhas publicitárias tendenciosas, cujos objetivos são meramente comerciais, estimula o consumo crescente e indiscriminado de medicamentos. Assim, faz-se urgente a implantação de rígidas medidas de controle, propondo-se, inclusive, a revisão da legislação vigente, de forma a torná-la mais eficaz e menos propensa a interpretações subjetivas (LUCHESSI, 2005).

A explosão de novos fármacos e de informações nas últimas décadas do século 20 e início do século 21 mostra-se, em alguns casos, negativa, a partir do momento em que a indústria farmacêutica divulga propagandas abusivas, não expondo, ou às vezes minimizando, os reais riscos de determinados fármacos que estão disponíveis no mercado.

Segundo o artigo 1º da Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, ficam sujeitos às normas de vigilância sanitária instituídas por esta lei os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, definidos na Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973, bem como os produtos de higiene, os cosméticos, perfumes, saneantes domissanitários, produtos destinados à correção estética e outros adiante definidos (BRASIL, 2009).

Nesse contexto, a elaboração de uma regulamentação que trata de restrições e concessões à propaganda de medicamentos é representada pela Resolução de Diretoria Colegiada, RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008, emitida pela Anvisa e publicada no Diário Oficial da União, de 18 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos (BRASIL, 2008).

Além de medicamentos, é fundamental garantir que os produtos para a saúde e o incentivo à adoção de uma alimentação saudável estejam entre os itens de prioridade para uma boa informação pela mídia. A vida moderna,

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associada ao desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas à área de alimentos, impulsionou um aumento do consumo de produtos industrializados. As indústrias de alimentos investem, cada vez mais, recursos em propaganda de seus produtos, com o objetivo de conquistar novos e fiéis consumidores. Neste contexto, com um mercado em expansão, surge também um novo perfil de consumo, o “novo” consumidor deseja alimentos equilibrados do ponto de vista nutricional, de fácil preparo e sensorialmente atraentes. As mensagens sobre alimentação veiculadas pelos meios de comunicação merecem especial atenção, entre outros fatores pelos estudos que apontam que a mídia tem exercido papel fundamental na formação de novos hábitos alimentares (MARTINS, 2008).

A propaganda, por ter como objetivo principal atender os negócios do anunciante, pode correr o risco de ser mal utilizada, anunciando informações contrárias à função do alimento e estimulando o consumo de produtos que fazem mal à saúde. Em virtude da disseminação excessiva de propagandas de alimentos, a Anvisa desenvolveu leis para a publicidade desses produtos com o objetivo de identificar irregularidades em seus anúncios. A exposição a esse tipo de propaganda pode levar à adoção de hábitos alimentares negativos em adultos, adolescentes e, principalmente, crianças.

Estudo realizado por Pipitone, em 2005, sobre a influência da propaganda no público infantil, relatou que crianças que passam muitas horas expostas à televisão são mais vulneráveis ao anúncio de alimentos de alto valor calórico, além do fato de não estarem praticando atividades físicas, situação que predispõe para o aumento do risco para obesidade e sobrepeso (PIPITONE, 2005).

Em função do crescente número de crianças acima do peso e obesas no país, e tendo em vista que a publicidade é um dos fatores de maior impacto no estilo de vida e nos hábitos alimentares, especialmente das crianças, a Anvisa desenvolveu uma proposta de resolução técnica para a campanha de alimentos ricos em

gordura, gordura trans, açúcar, sódio e bebidas com baixo valor nutricional, como refrigerantes, refrescos artificiais, bebidas ou concentrados a base de xarope de guaraná ou groselha, chá mate e chá preto (BRASIL, 2008).

Na área de alimentos, o Decreto-Lei nº 986 de 1969, que institui as Normas Básicas sobre Alimentos, torna proibida a divulgação de textos e matérias de propagandas, qualquer que seja o veículo utilizado, para informações contrárias àquelas que foram aprovadas para constar no rótulo (BRASIL, 1969). A rotulagem deve ser clara, objetiva e fidedigna conforme as diretrizes descritas no Regulamento Técnico para a Rotulagem de Alimentos. Desta forma, assim como os rótulos, a propaganda de alimentos não pode induzir o consumidor a erro, equívoco ou engano. Informações adequadas e compreendidas pelo consumidor permitirão que o ato de consumir gere uma atitude prévia de reflexão sobre a necessidade do consumo daquele bem.

De acordo com Henriques et al. (2006), a informação clara e adequada sobre os riscos do consumo exagerado de determinados produtos alimentícios pode contribuir para hábitos alimentares mais saudáveis.

Nas últimas décadas, diversas classes de alimentos naturais consumidos pelos seres humanos, durante milênios, foram substituídas por uma nova geração: os processados e industrializados, criados em resposta à correria imposta pelos dias de hoje, de forma a facilitar a vida moderna. Para garantir a aceitação desses produtos, foram introduzidos novos ingredientes nesses alimentos, tornando-os cada vez mais atraentes e saborosos. Açúcar para adoçar; gordura saturada e gordura trans para dar maior maciez, leveza e cremosidade; sódio para acentuar o sabor; corantes para dar um colorido especial; e aromatizantes para criar novos e variados cheiros (BRASIL, 2008).

A mudança repentina nos hábitos alimentares, incluindo a redução na qualidade nutricional dos alimentos, trouxe uma série de alterações negativas para a saúde da população mundial,

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ocasionando uma verdadeira epidemia do mundo moderno: as doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, o diabetes e a obesidade (BRASIL, 2008).

Logo, a responsabilidade compartilhada entre sociedade, setor produtivo privado e setor público é o caminho para a construção de modos de vida que tenham como objetivo central a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Assim, é pressuposto da promoção da alimentação saudável ampliar e fomentar a autonomia decisória dos indivíduos e grupos, por meio do acesso à informação para a escolha e adoção de práticas alimentares (e de vida) saudáveis (BRASIL, 2006).

A comunicação através das ondas de rádio busca atingir um público que tem acesso há várias informações diárias, desde o que mora nos grandes centros urbanos até a população mais “leiga”, que tem apenas o conhecimento diário da sua pequena cidade, tendo apenas o rádio como uma alternativa para se informar sobre os fatos que estão acontecendo no Brasil e no mundo.

Os radialistas, em qualquer hora do dia, divulgam anúncios publicitários sobre medicamentos, alimentos e produtos para saúde e essas informações alcançarão públicos de várias idades, regiões, sexo, entre outros. Nesse sentido, torna-se fundamental que radialistas e a população em geral estejam cientes e esclarecidos sobre a maneira correta como a propaganda/publicidade deve ser veiculada e a qualidade dos produtos que estão sendo anunciados.

Para conscientizar e aprimorar o conhecimento de radialistas e da comunidade acadêmica, a UFMA em parceria com a Anvisa e a Opas realizaram o seminário intitulado “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, onde foram abordadas as seguintes temáticas: uso racional de medicamentos; alimentação saudável; propaganda de medicamentos; alimentos; e produtos para a saúde. O evento consistiu de

palestras e de aplicação de um questionário sobre os temas abordados.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é verificar o impacto da intervenção educacional no que se refere ao uso de medicamentos, à alimentação saudável e à legislação de propagandas em radialistas e acadêmicos da UFMA, na cidade de São Luís (MA).

MAtERIAIS E MÉtODOS

O seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” foi promovido nos dias 22 e 23 de outubro do ano de 2009, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), na cidade de São Luís (MA). Foram convidados radialistas de todas as emissoras de rádio da cidade para se fazerem presentes nos dias do evento. O seminário foi divulgado na Rádio Universitária, pela internet (no site da UFMA) e por meio de cartazes anexados em toda a extensão da universidade para que os acadêmicos estivessem cientes da realização do evento.

Antes de iniciarem as palestras, foi fornecido um questionário com 25 perguntas sobre os assuntos a serem abordados: propaganda de medicamentos; alimentos e produtos para a saúde; uso racional de medicamentos; alimentação saudável; e legislação, cabível a cada tema. No término do primeiro dia do ciclo de palestras, os questionários foram recolhidos para posterior análise.

No segundo dia, retomou-se o ciclo de palestras acerca dos mesmos assuntos, entregando aos participantes, na metade das atividades desse dia, o mesmo questionário para avaliar o grau de compreensão sobre as informações apresentadas pelos integrantes do projeto.

Para análise dos dados foram utilizados os programas estatísticos Epi Info 3.5 e o programa Bioestat 5.0. Com relação aos aspectos éticos, o trabalho foi homologado no processo n° 5405/2008-08 (Resolução n°649 Consepe).

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RESUltADOS E DISCUSSÃO

O questionário utilizado para comparar o aprendizado dos radialistas e acadêmicos da UFMA foi respondido por 45 pessoas, nos dois dias de evento. Em relação aos participantes, verificou-se que a maioria foram estudantes universitários do Centro de Ciências da Saúde (Medicina, Odontologia, Enfermagem), totalizando 48%; 34% representaram estudantes do Centro de Ciências Sociais (Comunicação Social, Pedagogia e Economia); e apenas 6% eram profissionais que trabalham efetivamente como radialistas, o público-alvo inicial do seminário (Gráfico 1).

A ausência de profissionais do rádio é extremamente preocupante, pois não foi possível perceber se tais profissionais estão interessados sobre o assunto e/ou capacitados de fato para transmitir de maneira correta e ética as informações necessárias no que compete à

promoção da saúde. A ausência dos mesmos pode ser justificada pela incompatibilidade de horário, visto que o seminário ocorreu à noite e muitos trabalham nas rádios no período noturno. A ausência desses profissionais ainda mostra o desinteresse com a informação prestada à população, deixando de lado os quesitos éticos a respeito da veiculação de informações.

Porém, verificou-se no evento uma grande porcentagem de acadêmicos da área da saúde, o que é de grande importância, visto que serão profissionais que atuarão diretamente na promoção da saúde e na prevenção de doenças.

Das 25 questões presentes no questionário aplicado, selecionaram-se as perguntas mais importantes para verificar o impacto das palestras ministradas no seminário.

gráfico 1 – Frequência do público presente no seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”.

No gráfico 2, é possível verificar a frequência de respostas, antes e depois do ciclo de palestras, em relação à pergunta sobre a legalidade da presença de pessoas fazendo o uso de medicamento em propagandas.

De acordo com o artigo 8º, inciso III, presente na RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008, é vedado incluir na propaganda de medicamentos imagens de pessoas fazendo uso do medicamento. Ao comparar as respostas do primeiro e segundo dia de palestras, foi possível

identificar um aumento no número de indivíduos cientes sobre a ilegalidade da presença de pessoas fazendo o uso de medicamentos em propagandas.

No rádio, a indústria farmacêutica patrocina os locutores líderes de audiência. Os discursos utilizados são sempre persuasivos e vão de receitas de chá de limão e comprimidos a rezas contra a gripe (PIPITONE, 2005). Talvez por isso tenhamos uma atividade onde a ausência dos radialistas é preocupante. A propaganda de

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medicamento não deve ser tratada como uma propaganda qualquer, ela tem critérios técnicos diferenciados, não podendo, inclusive, ser veiculada a qualquer hora. O fato de a indústria farmacêutica financiar o funcionamento de programas de rádio é extremamente preocupante, e talvez seja necessária a implantação de uma medida mais rígida para essa situação. Isso põe a saúde das pessoas em risco, e torna-se um grave problema de saúde pública. A ausência desses profissionais do rádio ainda mostra o desinteresse com a informação prestada à população, deixando de lado os quesitos éticos a respeito da veiculação de informações. Segundo Jesus (2004), as propagandas direcionadas aos médicos, quando se trata de medicamentos éticos ou controlados, por lei (no Brasil) não podem ser veiculadas na mídia de massa. Porém, as propagandas de medicamentos considerados de venda livre (over-the-counter - OTC) podem ser divulgadas ao público leigo. Esses anúncios, quase sempre, utilizam imagens de artistas famosos na televisão e utilizam depoimentos exagerados sobre a melhoria de vida ao usar tal medicamento. São frases, expressões, e outras palavras que produzem efeitos fantásticos, principalmente quando repetidas em rádios, TVs, revistas, outdoors e até no material de ponto de venda das farmácias e drogarias.

gráfico 2 – Frequência de respostas sim (1) e não (2) quando perguntados sobre a legalidade da presença de pessoas fazendo o uso de medicamento em propagandas.

A “indústria” da propaganda pensa de maneira ousada e criativa em como fazer mensagens televisivas repletas de promessas enganosas, utilizando como recurso persuasivo, por exemplo, o testemunho de artistas famosos e de credibilidade da população (muitas vezes pouco informada e carente) para “vender” analgésicos.

Por mais que seja proibido, a mídia ainda usa desse discurso apelativo para poder conseguir lucratividade, após anos de investimentos em pesquisas de novas classes de medicamentos.

Vale destacar ainda uma herança histórica e cultural. Ao pesquisar a história da propaganda no Brasil, nota-se que os primeiros anunciantes potencialmente conhecidos foram os de medicamentos. Os “reclames”, como eram denominados os anúncios, eram aparentemente ingênuos, pois não havia um especialista para escrever a respeito de medicamentos. Ora os médicos davam seus depoimentos, ora os poetas eram contratados para escrever, enquanto artistas plásticos e pintores ilustravam os anúncios, quase sempre com imagens de sofrimento e com a promessa de cura pelo medicamento.

A indústria farmacêutica continua fazendo de tudo para obter lucro desenfreado, utilizando-se

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gráfico 3 – Frequência de respostas sim (1) e não (2) quanto à propaganda de alimentos com alto teor de açúcar, sódio, gorduras saturadas, trans e bebidas com baixo valor nutricional veiculadas em qualquer horário para o público infantil.

de qualquer forma de discurso na propaganda: pessoas famosas, imagens de super-herói, “frases feitas”, entre outras. Percebe-se que a saúde do paciente é a de menor importância para a indústria farmacêutica. Devido ao almejo da lucratividade, a informação realmente necessária pode ser distorcida pela indústria farmacêutica e absorvida de maneira inadequada por grande parte da população.

Quanto à alimentação saudável e à propaganda de alimentos, podem ser feitas as seguintes considerações a respeito do horário em que as propagandas de alimentos com alto teor de açúcar, sódio, gorduras saturadas, gorduras trans e bebidas com baixo teor nutricional são veiculadas para o público infantil nos meios de comunicação (Gráfico 3).

Após o ciclo de palestras, observou-se um aumento de participantes cientes de que propagandas de alimentos com alto teor de açúcar, sódio, gorduras saturadas, gorduras trans e bebidas com baixo valor nutricional para o público infantil não podem ser veiculadas em qualquer horário.

Percebeu-se uma diferença no número de frequência de pessoas que responderam ao questionário no primeiro e no segundo dia, fato este advindo de que muitas pessoas não sabiam a resposta no primeiro dia e após o seminário ocorreu um posicionamento em relação às respostas.

De acordo com a Consulta Pública nº 71, de 10 de novembro de 2006, artigo 7º, a propaganda,

a publicidade ou a promoção, em rádio e televisão, de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional somente poderá ser realizada entre às 21 horas e às 6 horas da manhã.

A alimentação saudável deixa de ser um pré-requisito fundamental para propaganda de alimentos, pois a toda hora são veiculados anúncios publicitários de alimentos não saudáveis, o que aumenta o lucro das empresas de alimentos e incentiva os telespectadores a adquirirem péssimos hábitos alimentares, principalmente as crianças, o público mais vulnerável.

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gráfico 4 – Erros e acertos dos questionários aplicados antes do seminário.

gráfico 5 – Erros e acertos dos questionários aplicados depois do seminário.

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Quanto às respostas certas, erradas ou o desconhecimento sobre o assunto, antes e depois da informação repassada no seminário, faz-se as seguintes análises.

Sobre alimentação saudável (questões que vão de 1 a 6) percebe-se que o público presente conseguiu absorver as informações fornecidas no seminário. Fica claro na questão 3, onde questiona sobre os alimentos dietéticos serem feitos para pessoas que precisam restringir o consumo de algum nutriente, que o público que não tinha conhecimento a respeito do assunto passou a ter após assistir às palestras. Com essa informação, os participantes já podem argumentar sobre o assunto, possibilitando usar o conhecimento adquirido e colocá-lo em prática em seus meios de convívio.

Conhecimentos de caráter científico, técnico e específico da área da saúde devem ser transmitidos de maneira mais simples, porém objetiva, para a população em geral, que desconhece sobre os assuntos abordados nas palestras. Fica evidente a diferença também nos outros parâmetros (questões 4, 5 e 6), a partir das informações fornecidas, foi de fundamental importância para o esclarecimento.

Quanto aos assuntos referentes à propaganda de alimentos, medicamentos e produtos para a saúde, chamam a atenção os quesitos 7 e 10, onde os níveis de conhecimento a respeito do assunto eram bem críticos (partindo do princípio que o erro foi bem alto) antes das palestras fornecidas no seminário. No entanto, após as apresentações, a situação foi praticamente invertida. Teve-se um resultado extremamente positivo, mostrando que a informação ainda faz-se de fundamental importância para o contexto sociocultural em que estamos inseridos, onde o acesso à saúde é muito difícil, e, mediante a “avalanche” de informações, torna-se fundamental o papel dos acadêmicos das áreas de Saúde, da Comunicação Social e de profissionais dessas áreas, que devem estar sempre dispostos a esclarecer e a prestar informações.

Sobre o uso racional de medicamentos, o número de erros também diminuiu muito se comparado com a aplicação do questionário antes da informação fornecida. Evidentemente que ainda faltam alguns pontos a serem superados, como o fato de a propaganda incitar o uso de determinado medicamento, em caso de determinada patologia, por exemplo. O uso racional de medicamentos começa a partir de uma informação bem esclarecida. Girando em torno mais uma vez da informação, a inversão da situação da população brasileira, quanto ao nível de conhecimento sobre assuntos fundamentais, pode começar a ser trabalhada dessa maneira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados aqui expostos, conclui-se que a ausência de radialistas foi um fator preocupante, visto que são profissionais fundamentais na transmissão de informações para a população. Porém, a intervenção educacional por meio do seminário teve impacto positivo, uma vez que os conteúdos abordados foram absorvidos por todos os participantes. Nesse sentido, é relevante o incentivo à pesquisa e a discussão de seminários sobre esses temas por profissionais e acadêmicos da área da saúde, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da população.

COlABORADORES

Todos os colaboradores participaram de forma íntegra em todas as etapas do projeto, desde a coleta dos dados até a elaboração deste artigo.

AgRADECIMENtOS

Agradecemos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) pelo financiamento do projeto e fornecimento das instalações para que pudéssemos executar as etapas do projeto.

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REFERêNCIAS

BARROS, J. A. C. Estratégias Mercadológicas da Indústria Farmacêutica e o Consumo de Medicamentos. Revista de Saúde Pública, v. 17, p.377-86, 1983.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Banco de dados. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/legis. Acesso em 10/12/2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Monitoramento de Propaganda de Produtos Sujeitos à vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. vigilância Sanitária e Escola: parceiros na construção da cidadania. Brasília: Anvisa, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de dezembro de 2008.

BRASIL. Decreto-Lei n° 986, de 21 de outubro de 1969. Dispõe sobre as normas básicas sobre alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 de outubro de 1969.

BRASIL. Ministério da Saúde. guia alimentar de bolso: como ter uma alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

HENRIQUES, P.; FERREIRA, D. M.; DIAS, P. C. Regulamentação da propaganda de alimentos no Brasil: uma realidade em construção. Higiene Alimentar, v. 21, 2006.

LUCHESSI, A. D et al. Monitoração de propaganda e publicidade de medicamentos: âmbito de São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 41, n. 3, jul./set., 2005.

MARTINS, B. R; ARAÚJO, I. S; JACOB, S. C. A Propaganda de Alimentos: orientação, ou apenas estímulo ao consumo? Revista Ciência & Saúde Coletiva. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/artigo_int.php?id_artigo=3249. Acessado em 16/dez/2009.

PIPITONE, M. A. P. Educação para o consumo de alimentos. Higiene Alimentar, jun/2005, n. 132, p. 18-23.

VIDOTTI, C.C.F; HOEFLER, R; SILVA, E.V; MENDES, G. B. Sistema Brasileiro de Informação sobre Medicamentos – SISMED. Caderno de Saúde Pública, v.16, n.4, p. 1121-1126, 2000.

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A RESPONSABIlIDADE SOCIAl DO COMUNICADOR DE RáDIO FACE AOS PRODUtOS SUJEItOS À vIgIlâNCIA SANItáRIA

Universidade Federal de Minas gerais (UFMg)

Beatriz Oliveira Carvalho1; Leonardo Bahia Tavares2; Luiza Pinheiro Alves da Silva2; Luis Fernando Duarte de Carvalho2;Gerson Antônio Pianetti3.

1- Farmacêutica da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde de Minas Gerais.

2 - Graduandos do Curso de Farmácia, estagiários do Projeto Monitora (UFMG).

3- Farmacêutico, Professor Associado III do Departamento de Produtos Farmacêuticos (UFMG).

RESUMO

O Brasil é, reconhecidamente, líder na arte da comunicação por meio da propaganda e publicidade de bens de consumo. Possui excelentes escolas, profissionais internacionalmente reconhecidos e domina a tecnologia da comunicação. Isso leva a se ter no país propagandas muito criativas e que conseguem exercer o seu papel de convencimento de que aquele bem de consumo é o melhor e que o cidadão tem uma necessidade enorme em obtê-lo. É a prática do mercado. Extrapolando suas criatividades, os programadores, os jornalistas, os comunicadores, enfim, todas as profissões que envolvem qualquer tipo de comunicação deixam a desejar quando, aliada à propaganda, existe uma questão ética que não pode ser negligenciada. Passou-se a ver nos meios de comunicação propagandas absurdas de produtos que estão sujeitos à legislação sanitária, sem que um debate ético entre esses profissionais tenha sido pensado, visando a uma mudança de comportamento. A comunicação radiofônica é a mais danosa, pois atinge, de forma direta e na maioria das vezes em tom testemunhal, inúmeras pessoas de formação menos privilegiada, menos politizada e, portanto, com certa limitação no discernimento sobre aquilo que está sendo anunciado, na maioria das vezes de maneira indutiva. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de projeto envolvendo diversas universidades públicas brasileiras, promoveu o debate desses e de

outros aspectos sociais na segunda oficina de trabalho “Ética, Mídia e Saúde”, com a tentativa de envolvimento dos comunicadores de rádio da cidade de Belo Horizonte e arredores.

INtRODUÇÃO

A história da propaganda de medicamentos se confunde com a própria história das práticas publicitárias no Brasil. Ao longo dos anos, os produtos farmacêuticos sempre ocuparam um lugar de destaque nos mais diversos meios de comunicação (TEMPORÃO, 1986). Os primeiros anúncios de medicamentos surgiram no século 19, quando o principal veículo de divulgação era o jornal.

Se o século 19 foi marcado pelos jornais, o século 20 muda o tom da imprensa com o surgimento das revistas semanais ilustradas. É o momento das charges, sonetos e da crônica social. O novo século assiste a um aumento no volume de propagandas de medicamentos (RAMOS, 1972).

Até a década de 20, as casas de representantes, as importadoras e os laboratórios nacionais utilizavam as mesmas estratégias de divulgação. A partir daí, observa-se um processo de diferenciação entre as concepções e práticas promocionais desenvolvidas pelas indústrias nacionais e estrangeiras. Verifica-se uma forte tendência em priorizar a propaganda para

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o público geral por parte dos laboratórios nacionais, e, por outro lado, uma ênfase em propagandas para médicos por parte das indústrias estrangeiras. É importante, no entanto, ressaltar que a indústria farmacêutica estrangeira nunca se descuidou da propaganda dirigida diretamente aos consumidores (TEMPORÃO, 1986).

Em busca de mercado para seus produtos, a propaganda dos grandes laboratórios investiu contra o modo passado de vida, desqualificando as práticas caseiras e artesanais e sobrepondo-se a elas (GOMES, 2006).

O período dominado pelo rádio durou até meados dos anos 60 e a indústria farmacêutica contribuiu de forma importante para a expansão desse meio e das novas técnicas publicitárias (TEMPORÃO, 1986).

O final da década de 70 assiste ao surgimento do mais poderoso veículo publicitário: a televisão. Os produtos anunciados não divergem muito do que vinha sendo anunciado pelos outros veículos, mas a TV apresenta um componente valorativo em detrimento da informação; além de uma ampliação significativa do alcance dos anúncios, atingindo agora grandes contingentes populacionais (TEMPORÃO, 1986).

A propaganda de medicamentos é uma das mais importantes estratégias da indústria farmacêutica no sentido de incrementar o consumo de seus produtos (BARROS, 1995). Ao veicular informação tendenciosa e/ou duvidosa, esse instrumento se torna um entrave às políticas de uso correto de medicamentos, devendo, portanto, ser alvo de um modelo regulador que proteja a população dos riscos oferecidos por essas propagandas.

O crescimento do número de intoxicações humanas e de óbitos registrados nos últimos anos pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz/Ministério da Saúde, é um dos indícios dos efeitos danosos da propaganda indiscriminada e do uso incorreto e abusivo de medicamentos no Brasil (NASCIMENTO, 2007).

Os casos de intoxicação humana tendo como agentes os medicamentos somaram, em 2006, 30,7% do total de casos registrados, superando agravos causados por animais peçonhentos, produtos domissanitários e agrotóxicos (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2006). Desde 1995, os medicamentos constituem a principal causa de intoxicação humana no Brasil, segundo informação do Sinitox, 1995-2005.

Uma parcela considerável da população brasileira – constituída por crianças, idosos e portadores de doenças crônicas – está exposta à propaganda de medicamentos sem que ela traga nenhum tipo de advertência quanto ao uso desses produtos em faixas etárias específicas e em condições especiais. Além disso, milhões de brasileiros sequer sabem que são portadores de agravos crônicos, sendo induzidos pela propaganda de medicamentos a consumir produtos inadequados à sua condição (NASCIMENTO, 2005).

A monitoração de propagandas de medicamentos e outros produtos sujeitos às ações de vigilância sanitária tem sido uma preocupação do setor regulador e durante quatro anos 19 universidades foram parceiras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos projetos de monitoração dos meios de comunicação. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) monitorou a mídia da cidade de Belo Horizonte.

Em 2009, ações voltadas para radialistas foram desencadeadas com o intuito de trazer à tona a discussão sobre o poder da comunicação e a responsabilidade social que esses profissionais possuem frente a um público carente de informações e, de certa forma, às vezes menos politizados.

No exercício dos projetos iniciais percebeu-se a necessidade em se atingir essa classe de anunciantes devido ao “estrago” causado pelo poder de influência sobre seus ouvintes, usando formas agressivas de convencimento de utilização de medicamentos, inclusive com o uso abusivo da propaganda testemunhal.

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Dentre as ações com a categoria, foram programadas visitas em emissoras de rádio situadas na cidade de Belo Horizonte, distribuição de material informativo e realização de um encontro com a classe, pautando como tema de debate a mídia, a saúde e a ética.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Foi organizada uma oficina de trabalho intitulada “Ética, Mídia e Saúde”, composta de três palestras e uma sessão de debates voltada, principalmente, para os profissionais comunicadores de rádio da cidade de Belo Horizonte.

A primeira palestra, proferida pela Dra. Beatriz Oliveira Carvalho da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, versou sobre a propaganda em meios de comunicação em Belo Horizonte. A segunda palestra foi proferida pela Dra. Mariana Collani da Agência Nacional de Vigilância Sanitária; enquanto a terceira palestra, realizada pelo Dr. Bruno Guimarães Martins, professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, versou sobre a ética na publicidade.

A divulgação foi ampla e contou com a colaboração dos senhores Edson Gregório Diogo e Aloísio Morais Martins, respectivamente Diretor e Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

O Sindicato repassou endereços das principais emissoras de rádio e foram agendadas visitas para a divulgação do evento com a entrega do material promocional - cartazes e fôlderes publicitários, incluindo a programação.

Por sua parte, a emissora Educativa da UFMG promoveu inúmeras entrevistas com a equipe e fez constantes inserções radiofônicas anunciando o evento e estimulando a participação dos radialistas.

O Boletim da UFMG - com tiragem de 8.000 exemplares - divulgou intensamente o evento. O

Boletim abrange todas as unidades acadêmicas da UFMG e é despachado para praticamente todas as universidades públicas brasileiras e todos os órgãos de ensino e pesquisa do Estado de Minas Gerais, além de órgãos públicos de fomento à pesquisa. Isto é, houve uma abrangência significativa na divulgação do evento.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

O histórico do Projeto de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária na UFMG, realizado em 2007, indica uma avaliação de aproximadamente 120 peças publicitárias captadas em jornais, revistas, rádio e televisão.

Certamente que a propaganda em forma de folheto é de mais fácil coleta, pois aquelas veiculadas em emissoras de rádio e de televisão dependem de gravação, tornando sua captação mais difícil, a não ser que haja uma gravação em tempo integral.

Apesar de se ter percebido a ausência de propaganda de medicamentos nos principais jornais mineiros, observa-se que jornalistas inserem em suas crônicas informações testemunhais que podem sim levar o leitor ao uso não racional de medicamentos, e, inclusive, induzem ao consumo. É uma questão ética muito importante, que merece reflexão à parte.

Não foram inúmeras as gravações radiofônicas, mas pode-se perceber que a forma testemunhal da propaganda tem um componente de forte apelo, pois liga a imagem do radialista, geralmente com elevado poder de convencimento, ao produto por ele anunciado. Foi esse o principal motivo para realizar um evento exclusivo para esse público-alvo, no intuito de fazê-lo ver sua importante participação na educação sanitária da população.

Inúmeras visitas às emissoras de rádio foram realizadas sem, entretanto, despertar interesse no tema por parte desses profissionais. Sabe-se que a propaganda faz parte de uma boa quota do que o profissional recebe da emissora, e,

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não havendo uma conduta ética, ele não está preocupado com o que está anunciando e sim o quanto receberá por esse trabalho.

Apesar da pressão sobre esses profissionais, a ausência deles, em princípio, quase levou a realização do evento ao fracasso. Mas, felizmente, contou com um número expressivo de estudantes de Comunicação Social, os quais se aliaram aos estudantes dos cursos de Farmácia, Medicina, Nutrição, Odontologia dentre outras. Teve-se a presença de apenas um radialista.

No decorrer das visitas realizadas, apesar da gentileza demonstrada no recebimento da equipe, não foram poucos os comentários de que não haveria, certamente, grande adesão de radialistas, pois existe uma política da emissora e eles a seguem à risca e a maioria deles é responsável pela captação da propaganda.

A pesquisa demonstrou a maioria das frequências de irregularidades como sendo a indução ao uso indiscriminado de medicamentos (35%); a omissão sobre cuidados especiais e advertências (29%); as informações incompletas sobre as contra-indicações (21%); a sugestão de diagnóstico (10%); e outras. A advertência obrigatória “A PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO OU O FARMACÊUTICO DEVEM SER CONSULTADOS” não foi observada em nenhuma das gravações realizadas. Dentre todas as irregularidades, a indução ao uso indiscriminado é a principal irregularidade e é aquela que mais traz problemas à saúde pública, promovendo muitas vezes o uso inadequado de medicamentos. Esse fato é agravado pelo depoimento seja do radialista ou de outra pessoa entrevistada, o que induz à automedicação. Geralmente cada bloco publicitário apresenta mais de uma irregularidade em afrontamento à lei vigente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de três anos de trabalho e duas fases contribuindo com a monitoração de propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, o resultado obtido não é muito animador.

Há uma clara forma de desobediência por parte da mídia e de seus profissionais. As multas aos infratores são irrisórias e não revelam uma preocupação da emissora, já que o ganho financeiro é infinitamente maior. Por outro lado, o poder do órgão público regulador fica esvaziado, visto que sua principal preocupação é quanto à proteção da saúde pública brasileira.

Observa-se, com perplexidade, a perpetuação de um quadro inadmissível de descumprimento das normas reguladoras relativas à publicidade de medicamentos e de desrespeito à população, na medida em que estas práticas abusivas a submetem a risco sanitário permanente.

REFERêNCIAS

BARROS, J. A. C. Propaganda de Medicamentos: atentado à saúde? São Paulo: Hucitec, 1995.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações de Informações Tóxico-Farmacológicas. 1999-2005. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox>. Acesso em: 13 abr. 2009.

NASCIMENTO, A.C. Ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado: isto é regulação? São Paulo: Sobravime, 2005.

NASCIMENTO, A.C. Propaganda de medicamentos: é possível regular? 2007. Tese [Doutorado. Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro]. Rio de Janeiro: UERJ, 2007.

RAMOS, R. História da Propaganda no Brasil. São Paulo: USP, Escola de Comunicações e Artes, 1972.

TEMPORÃO, J. G. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

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AtIvIDADES EDUCAtIvAS SOBRE A PROPAgANDA E O USO RACIONAl DE MEDICAMENtOS PARA PROFISSIONAIS DO SIStEMA DE COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICO

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Katy, LG Dias 1*; Diego, N Guedes1; Maria R Freitas1; Margareth, FFM Diniz2,3; Isac A Medeiros2, 3;Darizy, FSA Vasconcelos1, 3; Álvaro, LVL Brito; Ligiana, L Carvalho; Priscilla, EM Brito; Camila Gurgel; Amanda, MS Lacerda & Nadja A Correia1,3.

1 - Departamento de Fisiologia e Patologia (UFPB).2 - Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFPB). 3 - Laboratório de Tecnologia Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de Medeiros (UFPB).

RESUMO

Este artigo aborda o impacto das atividades educativas para os profissionais da comunicação radiofônica no que se refere à propaganda de medicamentos e ao uso racional de medicamentos. Foi realizado o “I Seminário sobre Uso Racional de Medicamentos e Alimentação Saudável para Radialistas”, tendo como objetivos avaliar o impacto das propagandas de medicamentos e o conhecimento desses profissionais sobre o uso racional desses produtos. Para as análises, foi utilizado um questionário contendo perguntas referentes ao papel da Anvisa, das leis que regulamentam a propaganda de medicamentos, bem como alguns conceitos fundamentais acerca de medicamentos. Este questionário foi aplicado antes e após o seminário. Foi constatado que, após o evento, houve um aumento no percentual dos participantes com conhecimento sobre os temas abordados. Com base nestes resultados, ressalta-se a importância de atividades educativas, visando melhorar a qualidade das informações prestadas por estes profissionais, com o intuito de evitar o uso inadequado de medicamentos.

INtRODUÇÃO

Conhece-se bem o impacto da propaganda de medicamentos e demais produtos relacionados à saúde tanto sobre os profissionais da área como sobre a população (SOARES, 2008). A propaganda de medicamentos direcionada ao

consumidor encoraja as pessoas, em alguns casos, a solicitar aos médicos determinados medicamentos e tratamentos. Para aumentar o poder de persuasão, modelos de propaganda recomendam equiparar os apelos (racionais e/ou emocionais) à atitude do consumidor sobre o produto (cognitiva e/ou afetiva) (MELBY & HUERTAS, 2008). No Brasil, a propaganda direta ao consumidor de medicamentos, que não requerem prescrição médica, também é carregada de apelos emocionais e vem se intensificando (MELBY & HUERTAS, 2008; HUERTAS & URDAN, 2004).

Tratando-se de propaganda de medicamentos, questões éticas e de segurança devem ser consideradas, especialmente pelas consequências potencialmente perigosas da automedicação – consumo por conta própria de medicamentos isentos ou não de prescrição (MORAIS, 2003). Para Morais (2003), o quinto lugar ocupado pelo Brasil em consumo de medicamentos no mundo reflete dois problemas graves, alvos de debate nos países desenvolvidos: o uso abusivo de medicamentos como uma ameaça à saúde pública e os interesses bilionários da indústria farmacêutica. O ato de se automedicar pode ser extremamente danoso à saúde e sua frequência tem aumentado em todo o mundo, inclusive no Brasil, principalmente em regiões mais carentes (PAULO & ZANINE, 1998).

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A intoxicação por medicamentos é responsável por 29% das mortes no Brasil e, na maioria dos casos, é consequência da automedicação. Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas pode mascarar a doença de base, podendo esta se agravar (MINATTI-HANNUCH et al., 1992). Segundo as estatísticas do Sistema de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo cruz (Fiocruz), a cada 42 minutos uma pessoa é intoxicada por uso indevido de medicamentos no Brasil (www.farmaconline.ufg.br).

Em face desta realidade é que a propaganda de medicamentos é regulamentada pela Resolução de Diretoria Colegiada nº 96/2008 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O componente ético na propaganda de medicamentos merece atenção especial, pois são grandes os riscos, graves os problemas causados pela má qualidade da propaganda, tanto em termos sanitários, quanto econômicos (SOARES, 2008). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar atividades educativas com os profissionais da comunicação radiofônica para que os mesmos não promovam propagandas com informações inadequadas, incompletas ou descontextualizadas, visto que a promoção não ética de medicamentos constitui um problema de saúde publica, podendo estimular o uso inadequado e indiscriminado de medicamentos, a superprescrição, a automedicação e o uso abusivo.

MAtERIAIS E MÉtODOS

O “I Seminário sobre Uso Racional de Medicamentos e Alimentação Saudável para Radialistas” foi realizado na sede do Sindicato dos Radialistas, na cidade de João Pessoa (PB), no dia 24 de outubro de 2009 e contou com a participação de 63 profissionais e estagiários que atuam no sistema de mídia radiofônica no Estado da Paraíba.

Nesse seminário, foram abordadas as seguintes temáticas: papel da Anvisa no Brasil; leis e resoluções que regulamentam a propaganda

de produtos sujeitos à vigilância sanitária; alimentação saudável; e uso racional de medicamentos. Durante a realização do seminário, após cada palestra abria-se ao público momentos de discussão e de questionamentos. Estas dúvidas e questionamentos, bem com suas respectivas respostas, resultaram na elaboração de um folder, que será disponibilizado para esses profissionais.

Para obtenção dos dados foram utilizados questionários estruturados anônimos, com perguntas objetivas do tipo múltipla escolha, os quais foram aplicados aos profissionais e estagiários do sistema de comunicação radiofônico antes e após a realização do seminário. As perguntas foram elaboradas para avaliar: (a) se o grupo estudado acha importante usar medicamentos apenas com orientação de médico, dentista ou farmacêutico; (b) se o grupo sabe se o uso de medicamento sem orientação médica ou farmacêutica pode piorar a sua doença; (c) se sabem da importância de ler a bula dos medicamentos que estão fazendo uso; (d) se sabem qual é o melhor local para guardar os medicamentos; (e) se as propagandas contêm todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento; (f) o que mais influencia na compra de um medicamento; (g) a importância de se observar o prazo de validade dos medicamentos; (h) se sabem diferenciar um remédio de um medicamento; (i) se sabem a importância das cores das tarjas nas embalagens do medicamento; (j) se conhecem o papel da Anvisa e o que deve obrigatoriamente conter nas propagandas de medicamentos sem tarja; (k) se conhecem quem controla a propaganda de produtos farmacêuticos no Brasil e quais as leis que as regulamentam; (l) se acham que todo o medicamento pode ser promovido comercialmente em rádios; (m) se conhecem como se deve fazer uma propaganda adequada de medicamentos e se em caso de não cumprimento da legislação quem é responsabilizado. Posteriormente, comparamos as respostas obtidas antes e após a realização do evento.

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RESUltADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 representa o questionário e as respostas obtidas antes e após a realização do seminário para os profissionais ou estagiários do sistema de comunicação radiofônico do Estado da Paraíba. O trabalho aqui desenvolvido destaca a grande relevância das atividades educativas relacionadas ao uso racional de medicamentos e à regulamentação das propagandas de medicamentos.

Após a realização do “I Seminário sobre Uso Racional de Medicamentos e Alimentação Saudável para Radialistas” foram observadas

diferenças acerca dos conhecimentos dos profissionais do sistema de comunicação radiofônica de João Pessoa no tocante as temáticas trabalhadas. Entretanto, nas três primeiras questões, que abordam especificamente o perfil de consumo de medicamentos, nenhuma diferença foi observada. Estes resultados podem estar relacionados à atuação das campanhas e/ou projetos de informação e educação, visando advertir sobre o uso irracional de medicamentos, pois, na população estudada, observou-se que a maioria acha importante usar medicamento com orientação do médico, dentista ou farmacêutico.

Tabela 1 – Questionário utilizado no presente estudo e as resposta dos radialistas ou estagiários do sistema de comunicação radiofônico antes e após a realização do seminário, entre parênteses os per-centuais correspondentes a cada resposta.

QUEStIONáRIO Respostas

ANTES APÓS

Perguntas SIM NÃO SIM NÃO

1-Você acha importante usar medi-camentos apenas com orientação de médico, dentista ou farmacêu-tico?

94,7 % 5,3 % 90,2 % 9,8 %

2-Você acredita que o uso de me-dicamento sem orientação médica ou farmacêutica pode piorar a sua doença?

96,5 % 3,5 % 98 % 2 %

3-Você acha importante ler a bula dos medicamentos que estão fazendo uso?

100 % 0 % 100 % 0 %

4-Onde você acha que se deve guardar os medicamentos em casa?

a-Cozinhaantes - 7 %depois - 0 %

b-Banheiroantes - 3,5 %depois - 2 %

c-Armáriosantes - 86%depois - 98%

d- Qualquer localantes - 3,5 %depois - 0 %

5-Você considera que as propagan-das contêm todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento?

5 % 95% 4 % 96%

6-O que você acha que mais influ-encia na compra de um medica-mento?

a-Propagandaantes - 27,8 %depois - 60,4%

b-Preçoantes - 35,2%depois - 10,4%

c-Balconistaantes - 5,6%depois - 8,3%

d- Indicaçõesantes - 31,4%depois - 20,8 %

7 – Você acha importante verificar o prazo de validade dos medica-mentos ante de utilizá-lo?

100 % 0 % 100 % 0 %

8-Você sabe diferenciar medica-mento e remédio?

31,5 % 68,4 % 98 % 2%

9-Você sabe a importância das cores das tarjas nas embalagens do medicamento?

66,7 % 33,3% 94,1 % 5,9%

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Ressalta-se, ainda, que a grande maioria acredita que quando os medicamentos são usados sem orientação de médico, farmacêutico ou dentista podem agravar a doença. Após a realização do seminário, houve um aumento no percentual de indivíduos que acham que o melhor local para guardar os medicamentos é em armários de acesso restrito. Este resultado pode estar relacionado às discussões levantadas acerca do assunto durante a apresentação da palestra “Uso Racional de Medicamento”, na qual foram enfatizados os locais onde os medicamentos não devem ser armazenados, como cozinha e banheiro, que representam ambientes quentes e úmidos, respectivamente; bem como o local mais apropriado e seguro para o armazenamento, representado por armários de acesso restrito. Nota-se que antes da palestra havia um percentual razoável que achava adequado guardar os medicamentos na cozinha (7%), no banheiro (3,5 %) e em local não específico (3,5 %), e após a palestra 98% consideram que o local mais apropriado é um armário de acesso restrito.

Considerando o impacto da propaganda sobre o consumo de medicamentos pela população, esperar-se-ia que a propaganda de medicamentos de venda livre fornecesse informações adequadas e confiáveis sobre o produto anunciado, conforme determina a Resolução da Diretoria Colegiada, RDC nº 96/2008, da Anvisa. Antes e após apresentação do seminário, a grande maioria - 95% e 96%, respectivamente - concorda que as propagandas

não contêm todas as informações que o consumidor deve saber antes de utilizar um medicamento. No entanto, após a realização do evento houve um aumento no percentual de indivíduos de 27,8 % para 60,4% que acreditam que a propaganda influencia mais na compra de um medicamento em relação a outros fatores, que tiveram uma redução em relação ao percentual de respostas como: o preço (de 35,2% para 10,4%) e indicação de terceiros (de 31,4% para 20,8%). Um dos aspectos positivos deste estudo foi que, tanto antes como após a realização das palestras, todos acham importante verificar o prazo de validade dos medicamentos.

Como a amostra avaliada era composta apenas de profissionais e estagiários do sistema de comunicação radiofônico, foi avaliado o nível de conhecimento dos mesmos acerca da diferença entre medicamento e remédio, que aumentou de 31,5% para 98%; da importância das cores das tarjas nas embalagens do medicamento, que aumentou de 66,7% para 94,1%; do papel da Anvisa e do que deve obrigatoriamente conter nas propagandas de medicamentos sem tarja, que aumentou de 40,3% para 94,1 %; de quem controla a propaganda de produtos farmacêuticos no Brasil e quais as regulamentações, que aumentou de 22,15% para 85,8%. Ressalta-se também que houve um aumento no nível de conhecimento sobre como se deve fazer uma propaganda adequada de medicamento e, em caso de não cumprimento da legislação, quem é responsabilizado, que

10-Você conhece o papel da ANVISA e o que deve obrigatoria-mente conter nas propagandas de medicamentos sem tarja?

40,3 % 59.7 % 94,1 % 5,9%

11-Você conhece quem controla a propaganda de produtos farmacêu-ticos no Brasil e quais as leis que as regulamentam?

22,15 % 76,05% 85,8 % 14,2 %

12- Você acha que todo o me-dicamentos pode ser promovido comercialmente em rádios?

33,9 % 66,1% 26 % 74%

13-Você sabe como deve fazer uma propaganda adequada de medicamento e se em caso de não cumprimento da legislação quem é responsabilizado?

25,45 % 74,55 % 87,15 % 12,85 %

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passou de 25,45 % para 87,17%.

Estes resultados, em conjunto, mostram a importância em se desenvolver atividades educativas voltadas aos profissionais de comunicação radiofônica, visto que o rádio pode cooperar com a divulgação de campanhas e ações educativas, bem como de políticas públicas de orientação de profissionais de saúde e da população; pode incentivar que a população busque a orientação de um profissional da saúde antes de consumir medicamentos por conta própria; e, principalmente, pode estimular a fiscalização efetiva das propagandas de medicamentos. Tais ações serviriam para minimizar a automedicação da sociedade e os danos por ela causados, visto que o profissional da radiofonia, por ser formador de opinião e ter legitimidade local, é o grande responsável pela qualidade das informações geradas nos seus programas (GOMES, 2007). Daí o papel colaborador deste profissional no controle social das políticas públicas em sua cidade, seu bairro, sua comunidade (GOMES, 2007).

Ao conhecer e relacionar as políticas públicas às questões cotidianas locais, o radialista passa a atuar como protagonista do controle social. Sendo assim, elevar o nível de conhecimento e de conscientização dos radialistas para que eles estejam habilitados para conversas mais consistentes com o seu público significa redesenhar o rádio para uma atuação simbiótica nos muitos espaços educativos que se propõem ao serviço da democracia. É utilizar o rádio para despertar uma consciência crítica verdadeira (GOMES, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A propaganda de medicamentos e demais produtos relacionados à saúde acaba sendo uma das principais formas de persuasão na escolha de produtos farmacêuticos, tanto pelos profissionais da área quanto pela população em geral, o que torna imperativa a realização de atividades educativas dirigidas aos comunicadores, em especial os de rádio, para que os mesmos divulguem as informações adequadamente, promovendo propagandas

mais consistentes, visto que não há como proibir a automedicação, mas há como contribuir para o uso racional de medicamentos.

AgRADECIMENtOS

Ao Sindicato de Radialistas da Paraíba, à Associação Paraibana de Imprensa, à Professora Ana Claudia Peixoto, ao servidor da Anvisa Itamar Falco Júnior e ao apoio financeiro da Anvisa.

REFERêNCIAS GOMES, A. L. Z. Na boca do rádio: o radialista e as políticas públicas. São Paulo: Hucitec, 2007.

HUERTAS, M. K.; URDAN, A. T. A Propaganda de medicamentos no Brasil: informação ou emoção? Anais do 28º Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, Curitiba, 2004.

MELBY, K. Z.; HUERTAS, M. C. C. Apelos racionais e emocionais na propaganda de medicamentos de prescrição: estudo de um remédio para emagrecer. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13(supl.), p.651-662, 2008. MINATTI-HANNUCH, S. N.; SMITH, R. L.; GUIMARÃES, A. S.; MESTRE-ROSA, V. L.; MARQUES, S. E. S.(1992) Uso de substâncias para alívio imediato da dor (SAID) em pacientes com cefaléia: estudo em uma população ambulatorial. Revista da Associação Médica Brasileira, v.38, n.1, p.17-23, 1992.

MORAIS, J.; NUNES, A.C. Viciados em remédios. Revista Superinteressante, ed. 185, fev.2003.

PAULO, L. G.; ZANINE, A. C. Automedicação no Brasil. Revista da Associação Médica Brasileira, v.47, n.4, p.69-75, 2001.

SOARES, J. C. R. S. Quando o anúncio é bom, todo mundo compra. O Projeto MonitorAÇÃO e a propaganda de medicamentos no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v.13 (supl.), p. 641-649, 2008.

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O RáDIO COMO INStRUMENtO PARA A EDUCAÇÃO EM SAÚDE: POtENCIAlIDADES E DESAFIOS

Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Bruno Ítalo Sousa Pinto1; Camila Calado Lima2; Heila Dias de Sousa Pinho Aguiar3; Maria do Socorro Cordeiro Ferreira4.

1 - Estagiário do Projeto Educação e Informação, graduado em Direito – UFPI, especialista em Direito Civil e

Processo Civil – Universidade Católica Dom Bosco.

2 - Bolsista coordenadora do Projeto Educação e Informação, graduada em Publicidade e Propaganda pelo Cen-

tro de Ensino Unificado de Teresina e acadêmica de Jornalismo (UFPI).

3 - Estagiária do Projeto Educação e Informação, graduada em Nutrição (UFPI).

4 – Docente, mestre em Farmacologia coordenadora do Projeto Educação e Informação (UFPI).

RESUMO

O presente artigo objetiva realizar uma abordagem teórica da aplicação do rádio como recurso pedagógico na educação em saúde, destacando desafios, potencialidades e perspectivas. Partindo de uma pesquisa bibliográfica e documental, faz-se análise dos conceitos de “educação”, “saúde” e “educação em saúde”, evidenciando a abrangência da concepção contemporânea de saúde e sua influência sobre a missão de promover o bem-estar individual e coletivo. Em seguida, são avaliadas as aptidões do rádio como ferramenta de educação em geral e especificamente de promoção da saúde. Com base nessas discussões, percebe-se que o rádio pode contribuir positivamente para o enfrentamento da questão relativa à efetivação da educação voltada para a saúde.

INtRODUÇÃO

A compreensão das várias dimensões que compõem a saúde traz novos desafios aos agentes encarregados de resguardá-la. A partir do instante em que se alarga a visão sobre o fenômeno, deixando de focar tão somente sua dimensão biológica, para então colocar em evidência os fatores culturais, psicológicos, ambientais e sociais que sobre ele exercem grande influência, surgem questionamentos sobre as estratégias a serem utilizadas para promover a saúde em sua nova extensão.

Atualmente, ganha força o entendimento de que o ser humano, para ser considerado verdadeiramente sadio, precisa manter certo equilíbrio em todos os campos da sua vida. A simples ausência de doenças no corpo da pessoa já não basta para lhe conferir saúde. É preciso verificar se o indivíduo desfruta de todas as condições necessárias ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

Os agentes incumbidos da promoção da saúde, portanto, se veem agora sobrecarregados pela necessidade de atender a uma nova demanda, vez que o conceito de saúde transcende a questão de hospitais, médicos e medicamentos. A prevenção e a cura de doenças tornaram-se apenas parte da solução. Dessa forma, exige-se atenção aos diversos fatores capazes de afetar a qualidade de vida do cidadão, o que significa lutar contra inimigos de feições múltiplas, indo da degradação ambiental ao empobrecimento da população.

Essa árdua tarefa só pode ser desempenhada com a ajuda de instrumentos capazes de provocar mudanças amplas e profundas, as quais devem atingir tanto o indivíduo quanto a coletividade que o cerca.

Em razão do seu poder de determinar comportamentos, a educação em saúde se apresenta a como resposta mais adequada para esta incumbência. Não se pode ignorar, porém, que esta solução também enfrenta seus

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próprios desafios, razão pela qual se torna necessária a busca constante por ferramentas que maximizem seus efeitos.

No presente trabalho, com base em pesquisa bibliográfica e documental, são avaliadas as potencialidades do rádio como importante instrumento para a educação da população brasileira, especialmente no que se refere à conscientização quanto à adoção de práticas saudáveis.

Para tanto, parte-se primeiro da análise dos conceitos de educação e saúde, assim como a relação que os dois processos travam entre si, para então se chegar à definição do termo “educação em saúde” no tópico seguinte. Passa-se, adiante, à avaliação das facilidades e dos desafios da radiodifusão como ferramenta educativa, considerando a educação em sentido amplo. Por fim, discutem-se as aptidões do rádio como instrumento de efetivação da educação em saúde, pondo em foco as peculiaridades desta vertente educacional e destacando as facilidades e dificuldades do rádio no cumprimento dessa missão específica.

EDUCAÇÃO E SAÚDE: RElAÇÕES E CONCEItOS

Para a compreensão do termo “educação em saúde”, é naturalmente importante que se faça a explanação do significado dos vocábulos que o compõem, ainda que de forma superficial.

Primeiro, tem-se que educação é o processo contínuo e sistematizado de construção da personalidade do indivíduo, fornecendo-lhe os meios necessários e suficientes para o desempenho de suas aptidões e para o pleno exercício da cidadania. A educação tem por objetivo principal a autonomia do educando, que, dotado de conhecimento e senso crítico, passa a ser capaz de fazer suas escolhas de forma consciente.

Em relação ao conceito de saúde, convém, já de início, ressaltar que este vem sendo ampliado nas últimas décadas. A mudança passou a ser construída a partir do momento em que

se compreendeu que a incolumidade do ser humano depende de fatores diversos, inclusive daqueles que ultrapassam sua condição individual. A Organização Mundial da Saúde (OMS) espelhou esta nova concepção ao dispor que “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (SCLIAR, 2007, p. 37).

Com este conceito, abandona-se a ideia reducionista da saúde como simples qualidade física da pessoa individualmente considerada, passando a contemplar também as dimensões sociais, culturais, ecológicas, psicológicas, econômicas e religiosas. Começa-se a compreender a saúde como um processo, como meio de esboçar um caminho individual e original a ser seguido em direção ao bem-estar.

Desta maneira, as ações de promoção da saúdei devem atuar sobre o universo dos determinantes individuais e coletivos. O equilíbrio ambiental, o saneamento básico, as condições adequadas de trabalho, o acesso à alimentação balanceada e à educação, a mínima disponibilidade de recursos financeiros, a justiça social e a relação do indivíduo com sua família e a comunidade são, portanto, alguns dos elementos a serem observados quando se tem em vista a promoção da saúde.

Por sua amplitude, esta nova conceituação vem sofrendo críticas daqueles que a consideram contraproducente. Alega-se que o novo paradigma inviabiliza ou pelo menos dificulta a tutela da saúde, pois a força de trabalho e os recursos dos agentes envolvidos, sejam públicos ou privados, seriam diluídos na execução de todas as tarefas automaticamente incluídas nos programas de promoção da saúde.

Além disso, a definição em comento traduz a ideia de uma “saúde ótima”, inatingível, uma vez que nenhum indivíduo ou grupo é completamente saudável ou enfermo. A natureza utópica de uma condição humana tão perfeita serviria de desestímulo às pessoas encarregadas de tentar alcançá-la.

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Ainda que se aceite que novas dificuldades emanem da compreensão alargada da saúde, não se pode negar que mais ineficaz é ignorar as causas diversas que a determinam. O reducionismo conduz a que se empreguem esforços em prol apenas da preservação do equilíbrio biológico do ser, privilegiando exclusivamente a dimensão curativa do fenômeno, em detrimento dos fatores mentais, sociais e ambientais que o influenciam.

A complexidade da questão não pode ser ingenuamente minimizada para facilitar sua solução. As dificuldades merecem ser superadas, e não ignoradas.

É justamente nesse contexto que se encaixa a educação em saúde como alternativa viável, principalmente se potencializada pelo uso de ferramentas simples, baratas, de grande abrangência geográfica e de apelo popular, como o rádio.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E OBJEtIvOS

A expressão “educação em saúde” resulta de uma interessante união de termos que denotam processos envolvidos em uma relação de cooperação mútua. Na primeira via, tem-se que o processo de aprendizagem não se completa sem uma conjuntura saudável que o propicie, pois o bem-estar físico e mental do educando e do educador é essencial para a apreensão e transmissão eficiente dos ensinamentos. Já na via em sentido oposto, constata-se que a saúde, por estar intimamente relacionada aos hábitos de vida da pessoa, também se vincula fortemente ao nível de educação do indivíduo e da comunidade.

Todo ato livre e consciente é determinado pela carga de saberes do seu causador, ainda que muitas vezes este resolva agir em contrariedade àquilo que conhece. No que se refere à saúde, o importante é que o agente conheça as consequências do seu comportamento e possa sopesar benefícios e malefícios. O indivíduo deve ter autonomia para cultivar hábitos de vida saudáveis ou prejudiciais à sua integridade,

ainda que, pela lógica, se espere que a escolha recaia sobre a primeira alternativa. Tal liberdade de opção só é devidamente oportunizada por meio da educação em saúde. Desde o instante em que a saúde deixa de ser mera ausência de doenças para se tornar fonte de vida, como bem sintetiza Oliveira (2005), a educação aplicada à sua proteção assume a função de preparar o indivíduo para tomar decisões sobre a sua própria vida.

Esta ideia contemporânea do estímulo ao autogoverno como papel principal da educação em saúde está refletida no conceito apresentado por Candeias (1997, p.210), para quem o termo denota “quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde”, tendo em mente o significado de voluntariedade proposto pelo autorii. Oliveira (2005) alerta que ainda não há um consenso da concepção acima apresentada, que reflete o modelo radical de educação em saúde. Estão fortemente presentes nas práticas cotidianas as ideias do modelo tradicional, que estabelece a prevenção de enfermidades como meta e se pauta no individualismo que permeia a abordagem da relação saúde/doença.

Para o modelo preventivo ou tradicional, a enfermidade tem por única causa o modo de vida do indivíduo, devendo a educação em saúde tão somente persuadi-lo a se comportar de forma adequada. Ignora-se, pois, as determinantes coletivas e a força da sua influência sobre a sanidade do ser humano, como se a doença fosse responsabilidade única e exclusiva do indivíduo, sem considerar as limitações impostas pelo ambiente social.

O modelo radical de educação em saúde, como dito, aposta na conscientização como maneira de fomentar a autonomia do homem, esforçando-se para que sua liberdade de ação aponte para escolhas saudáveis, ainda que aceite o risco disto não ocorrer. Seu alvo são os grupos, mais que os indivíduos, não apenas por reconhecer a relevância do fator social no

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condicionamento da saúde, mas por acreditar que o senso crítico se desenvolve com mais facilidade no seio da coletividade.

Mesmo sofrendo críticas quanto à abertura para as práticas danosas propiciada pelo moderno, já que a autonomia traz consigo a aceitação da liberdade de mal escolher, a abordagem contemporânea da educação em saúde se adapta melhor à conjuntura democrática que envolve o Brasil.

O pleno exercício da cidadania não aceita mais o uso da educação em saúde como “instrumento de dominação, de afirmação de um saber dominante, de responsabilização dos indivíduos pela redução dos riscos à saúde” (ALBUQUERQUE & STOTZ, p. 260). Além disso, está adequada à concepção holística da saúde, pois deixa de centrar suas preocupações na dimensão biológica do paciente para passar a englobar todos os fatores que influenciam seu bem-estar, inclusive, ou até principalmente, os elementos externos.

O RáDIO COMO FERRAMENtA EDUCAtIvA

No Brasil, a radiodifusão surgiu oficialmente com função cultural e educativa, por meio do estabelecimento da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ainda no início da década de 20 (CALABRE, 2004). Roquette Pinto e Henrique Morize, idealizadores daquela que foi a primeira rádio brasileira, já percebiam que a grande vocação do rádio era mesmo a promoção da cultura e a difusão da educação, especialmente em um país em que o ensino formal só alcançava uma camada ínfima da população, como era o Brasil à época.

Ao primeiro dos radialistas pioneiros mencionados transparecia toda a sua convicção quanto às potencialidades deste meio de comunicação quando afirmava que o rádio é

(...) a escola dos que não têm escola. É o jornal de

quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode

ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o

animador de novas esperanças, o consolador dos

enfermos e o guia dos sãos – desde que o realizem

com espírito altruísta e elevado (SOUZA, 2006).

Na definição de Roquette Pinto estão, de certo modo, elencados as qualidades e os desafios do rádio na condição de ferramenta educativa. Suas ideias evidenciam, inicialmente, o grandioso apelo popular do rádio como meio de comunicação de massa. De fato, nenhum outro foi capaz de obter tamanho alcance social e espacial, mostrando-se igualmente acessível a todas as classes, capaz de ressoar pelos mais distantes rincões do país, sendo adaptável às peculiaridades regionais e ao modo de vida de qualquer cidadão.

Mesmo as rápidas transformações tecnológicas que tanto têm afetado o comportamento do ser humano não foram capazes de retirar a posição de destaque do rádio no cotidiano do brasileiro. Ao invés disso, o rádio vem encontrando maneiras de se reiventar e atrair um público ainda mais vasto, a exemplo do que vem ocorrendo com a proliferação de sua versão digital.

A verdade é que ainda não está muito distante da realidade hodierna do país a famosa expressão cunhada por José Carlos Araújo, locutor esportivo da Rádio Globo: “brasileiro não vive sem rádio” (BLOIS, 1996, p.14).

Esse poder de penetração do rádio na sociedade brasileira é seu trunfo maior na missão de educar. O baixo custo do aparelho receptor, seu manuseio simples, a grande abrangência das transmissões e a praticidade trazida com a invenção dos transistores, que propiciou o surgimento do popular radinho de pilha, são fatores que permitem à radiodifusão levar informações a lugares e pessoas que não têm acesso a outras fontes de conhecimento.

Por outro lado, a locução coloquial utilizada pelos radialistas, munida de linguagem simples e direta, auxiliada ainda pelo uso de efeitos sonoros que atraem a atenção do ouvinte, sensibiliza com maior facilidade as mentes das pessoas menos instruídas, que muitas vezes

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não possuem qualquer intimidade com os processos de educação formal ou são limitadas pelo estigma do analfabetismo. Neste último caso, aliás, a mídia falada costuma ser o único meio de informação disponível, principalmente quando a televisão não pode estar presente.

Não bastasse a amplitude do alcance do rádio, possibilitando a extensão de atividades educativas às coletividades sem acesso à educação formal ou a outros meios de comunicação, observa-se ainda que a mídia radiofônica desfruta de suficiente credibilidade perante a população, o que pode garantir também a profundidade das informações transmitidas.

De nada adiantaria a radiodifusão ser capaz de conduzir informações valiosas à quase totalidade da população nacional, se todo esse público não lhe conferisse atenção e/ou nela não depositasse confiança. Para que a informação difundida tenha valor, é preciso que o comunicador apresente a mesma credibilidade e importância que devem revestir a figura do mestre no ambiente escolar.

Tal credibilidade garante à mensagem do rádio o poder de influenciar opiniões e comportamentos, o que pode estar atrelado à sua natureza intimista e informal. A informação parece ser repassada ao “pé do ouvido”, em uma conversa descontraída, espontânea e com a utilização de vocativos, garantindo uma aproximação bem maior com o destinatário do que o jornal impresso, por exemplo. Esta peculiaridade é notada por Bianco (2009), para quem

(...) a permanência desse sentido de proximidade

é constituída quando o rádio envolve o ouvinte

numa dimensão emocional e pessoal pela força

de sua natureza tecnológica. Rádio é som, o que

inclui texto, voz, música, ruídos e efeitos sonoros

(BIANCO, 2009, p.61).

Não se pode esquecer ainda o caráter imediatista e dinâmico da programação radiofônica. Como seus textos são curtos e diretos, o conhecimento transmitido pode ser vasto e diversificado,

além de constantemente atualizado. Aquilo que o ouvinte recebe tem sempre a aura de novidade, de acontecimento imediato. Nesse ponto, a radiodifusão possui grande vantagem em relação à linguagem escrita, pois permite a rápida reciclagem de ensinamentos e desperta maior interesse do educando, eternamente atraído pelo novo.

Todos estes atributos potencializam o rádio como meio condutor do processo educativo. Contudo, não se pode ignorar que muitos são os entraves que dificultam o desenvolvimento dessas aptidões.

O maior impedimento para que o rádio se torne uma ferramenta educativa bem sucedida está no fato de tal empreitada não despertar o interesse dos radialistas e radiodifusores, principalmente por não possuir apelo comercial. A função educativa que o rádio tinha em seu nascedouro foi minada justamente pela disputa por anunciantes. Aos poucos, os programas voltados para a educação informal e para a promoção da cultura foram perdendo espaço para os programas de entretenimento, de música e noticiários sensacionalistas, que melhor atendiam aos interesses da audiência e, consequentemente, do anunciante.

Se as mudanças citadas ajudaram a tornar o rádio mais popular e profissionalizado, assim como contribuíram para tornar sua linguagem mais espontânea e intimista, não se pode negar que foram decisivas para o abandono quase completo da preciosa vertente educativa.

Essa situação se agrava ainda mais no caso das rádios estritamente educativas, pois, em razão da falta de políticas públicas, muitos empreendedores do ramo se percebem obrigados a aderir à programação comercial, sob pena de serem compelidos a encerrar as transmissões.

O desamparo financeiro dessas rádios também inviabiliza os investimentos no conteúdo das transmissões, o que naturalmente afeta o bom desempenho da missão de ensinar. Como nota Souza (2006), estas emissoras

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estão impossibilitadas de manter uma equipe capacitada para criação, desenvolvimento e apresentação de programas educativos de qualidade.

Há outro fator que torna mais complexo o uso do rádio como veículo propagador de empreendimentos educativos. Em época de globalização e convergência midiática, este meio precisa se reinventar e fornecer novas possibilidades de comunicação, a fim de que não perder sua audiência. Em resposta a esta pressão, a radiofonia vem passando por mudanças rápidas e profundas, as quais revelam tendências identificáveis, mas ainda indefinidas.

Haussen (2004), por exemplo, percebe uma disposição da mídia radiofônica à segmentação na prestação de serviços e na disseminação de informações locais. Ortriwano (1985), por sua vez, pesquisando a evolução do rádio até meados da década de 80, aponta um movimento de especialização em sentidos múltiplos, considerando sempre o público que se quer atingir, pois em razão dele é que será escolhido o produto a ser anunciado nos reclames publicitários. Assim, há desde rádios que dedicam toda a sua grade a uma faixa determinada de ouvintes, até aquelas que diversificam sua programação de acordo com o horário, buscando atrair diferentes segmentos da sociedade. Outra tendência indicada pela autora é a de formação de redes, em que emissoras regionais e locais transmitem parte da programação das grandes emissoras nacionais.

Blois (1996, p. 15), também percebendo a convergência do movimento a uma espécie de personalização das emissoras, uma das tendências para as quais sinaliza Ortriwano, afirma que, nos dias presentes, já cabe o emprego da paráfrase “diga-me que rádio ouves, que eu te direi quem és”.

Essa discussão quanto à direção que trilha o rádio na atualidade acaba por fomentar certos temores, ainda que a relevância da radiofonia

não seja colocada em dúvida por aqueles que a estudam. As incertezas quanto à sua nova posição no contexto das mídias contemporâneas gera, no âmbito do senso comum, desconfianças quanto à higidez da mídia radiofônica, o que reforça a posição daqueles que resistem em apostar no rádio como ferramenta pedagógica. É preciso superar essa falsa impressão de que a radiodifusão é uma mídia ultrapassada e sem perspectivas, pensamento este cada dia mais presente na concepção popular, para então reconhecer seu poder de se transformar e se adaptar às exigências da contemporaneidade, sem deixar de cumprir bem sua função de informar e conscientizar.

Por fim, há ainda que ter em conta que o mesmo dinamismo que pode atuar favoravelmente ao enriquecimento do processo educativo, como demonstrado, é também capaz de contribuir para o seu enfraquecimento. A velocidade e a simplicidade com que as informações são veiculadas no rádio podem prejudicar a sua fixação e compreensão, principalmente pelo fato de a audição ser comumente combinada com outras atividades do cotidiano, muitas vezes tornando a sua presença invisível (BIANCO, 2009).

Contra tais possibilidades, é preciso que os comunicadores adotem técnicas de atração e de persuasão. A mensagem precisa ser rápida, mas contundente e atrativa. A repetição e o uso de vozes estilizadas e outros recursos sonoros, por exemplo, podem ajudar a fixar a atenção do ouvinte.

Apesar das dificuldades apontadas, há um imenso saldo positivo a favor do rádio em sua missão educativa. Atendida a condição posta por Roquete Pinto, ou seja, se conduzido “com espírito altruísta e elevado” (SOUZA, 2006), o que atualmente implica atentar mais para a contribuição que a radiofonia educativa pode dar para a cultura nacional e valorizar menos os problemas que ela atravessa, o rádio mantém seu potencial de grande massificador do conhecimento e da conscientização.

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A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NAS ONDAS DO RáDIO

Os esforços educativos voltados para a promoção da saúde em toda a sua integralidade, como não poderia deixar de ser, fazem parte da grande teia de ações voltadas para a formação do cidadão. Nesta condição, a educação em saúde não é nada além da educação voltada para um fim específico, o que significa dizer que os desafios enfrentados pela educação em geral também se impõem à vertente em análise.

Contudo, as peculiaridades da tarefa de educar para o bem viver faz com que surjam novos desafios ao seu cumprimento, que se somam àqueles inerentes à já árdua missão de educar. E, naturalmente, o rádio como veículo da educação em saúde precisa demonstrar ser capaz de cobrir estas dificuldades adicionais.

As grandes barreiras a serem superadas advêm da natureza integral da saúde, que acaba por se refletir na exigência de que também a educação que vise promovê-la atue de forma integral. Esta integralidade é definida por Albuquerque e Stotz (2004, p.263) como

(...) um princípio pelo qual as ações relativas

à saúde devem ser efetivadas, no nível do

indivíduo e da coletividade, buscando atuar

nos fatores determinantes e condicionantes

da saúde, garantindo que as atividades de

promoção, prevenção e recuperação da saúde

sejam integradas, numa visão interdisciplinar que

incorpore na prática o conceito ampliado de saúde

(ALBUQUERQUE & STOTZ, 2004, p.263).

Como se depreende do conceito apresentado, a integralidade da promoção à saúde deriva do conceito holístico de saúde. Neste contexto, a educação, se realmente desejosa de colaborar para a promoção de todas as dimensões que conformam a sanidade humana, não pode negligenciar o dever de abordar elementos que vão além do equilíbrio biológico do indivíduo. Tal desafio se transfere imediatamente ao rádio na qualidade de meio para a educação em saúde, desafio este que a radiofonia revela ter

maneiras para enfrentar. De fato, se a educação em saúde precisa atuar no nível do indivíduo e da coletividade, verifica-se que a mensagem radiofônica tem suficiente penetração nos dois campos. O poder do rádio sobre o indivíduo está evidenciado na popularidade e no seu já referido poder de persuasão. A radiodifusão se distingue ainda pela interatividade decorrente do estímulo à construção de imagens, levando o ouvinte a se posicionar automaticamente como coautor da transmissão e, assim, a ser sensibilizado de forma mais profunda por aquilo que ouve, como ressalta Blois (1996).

Já a influência da radiofonia sobre a coletividade tem tido inúmeras demonstrações ao longo da história. O maior exemplo foi dado por Hitler, que, através da incessante doutrinação via rádio, foi capaz de mobilizar toda uma nação e fazê-la aderir a seu projeto de dominação, a despeito das inconsistências do seu discurso tirânico e intolerante. O Brasil também testemunhou a força do rádio na mobilização de massas, especialmente nos governos de Getúlio Vargas e Leonel Brizola, políticos que o utilizaram para divulgar suas propostas políticas e obter apoio da população.

Toda a aptidão do rádio para influenciar a opinião pública pode ser perfeitamente aproveitada em prol da educação em saúde, atendendo à necessidade de que esta educação atinja não apenas o indivíduo, mas seja capaz de determinar atitudes coletivas. Nesse sentido, Bianco (2009) faz referência à reflexão de McLuhan (2000) de que o rádio fortaleceu a relação entre o indivíduo e o grupo e a comunidade, “a ponto de reverter o individualismo do homem tipográfico para o coletivismo” (BIANCO, 2009, p. 61). O potencial da radiodifusão na determinação do comportamento de grupos vem sendo ampliado pelo surgimento e fortalecimento das rádios comunitárias. Seu enfoque sobre as questões locais e a sua melhor compreensão dos problemas e possibilidades da comunidade aproximam a mensagem dos ouvintes,

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incrementando seu poder de convencimento e, portanto, de conscientização.

As questões de saúde, compreendida em sua definição integral, por envolverem também o modo de vida comunitário, exigem o uso de ferramentas com esse alcance. O radialista comunitário encarregado da educação em saúde comumente se depara com problemas que afetam toda a vizinhança, como o uso de drogas, a gravidez em adolescentes, a degradação ambiental, a desnutrição e endemias como a dengue, entre outros problemas de saúde pública que, como tais, exigem o engajamento de todos os membros da comunidade para solucioná-los.

Esta amplitude de ação, porém, traz consigo uma das dificuldades do uso do rádio como ferramenta da educação em saúde, especialmente quando se fala das rádios comunitárias: as exigências que recaem sobre o comunicador aumentaram bastante, ao passo em que os recursos utilizados no seu preparo tornam-se cada vez mais escassos.

O radialista que assume a função de educador precisa ter uma visão panorâmica do problema e dominar alguns conceitos básicos de saúde, o que raramente acontece. Sem o investimento na capacitação destes profissionais e sem recursos para contratar um profissional de cada área (médicos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais etc.), a emissora que se propõe a auxiliar na promoção da saúde acaba se arriscando a exercer função oposta, transmitindo informações inconsistentes e, deste modo, contribuindo para agravar a situação.

Algumas estratégias podem auxiliar na solução deste entrave, tanto nas rádios comunitárias quanto nas comerciais, a exemplo da produção de reportagens relacionadas à saúde e/ou a proposição de entrevistas com profissionais da área da saúde. A disponibilidade de recursos para manter uma equipe fixa e sempre pronta para trabalhar em prol da conscientização dos ouvintes, entretanto, é essencial para o eficaz funcionamento de rádios que dedicam boa

parte de sua programação à missão educativa. Outro problema relativo à educação em saúde via rádio é a concorrência desleal das propagandas irregulares de produtos sujeitos à vigilância sanitária, especialmente alimentos e medicamentos, que às vezes acaba por anular o progresso conseguido a duras custas por meio da educação. A questão posta em foco é aquela representada pela situação em que a emissora que veicula ensinamentos sobre a importância do aleitamento materno é, às vezes, a mesma que, no intervalo, transmite uma propaganda abusiva de papinha para lactantes.

Inconsistências como a verificada neste exemplo precisam ser enfrentadas, o que depende da fiscalização das propagandas, do combate às irregularidades por parte do poder público e da conscientização das emissoras de rádio, tanto em relação aos danos provocados pela publicidade abusiva ou enganosa à saúde pública, quanto às multas e outras penalidades que o veículo de rádio poderá suportar em caso de veiculação de propagandas ilegais.

Até aqui, foram abordados desafios e potencialidades do rádio como ferramenta da faceta informal da educação em saúde. Vale ressaltar que a radiofonia pode também trazer valiosas contribuições para a educação formal, complementando ou solidificando os ensinamentos repassados no ambiente escolar.

O grande desafio da escola no século 21 é formar cidadãos que transformem a informação trabalhada no ambiente escolar em conhecimento, utilizando-o em benefício da sua vida pessoal e da comunidade. Nesse contexto, o rádio desempenha um importante papel, no sentido de preencher

(...) a lacuna formada entre sociedade e escola,

desenvolvendo competências e habilidades

(capacidade de síntese, de raciocínio, de

verbalização de idéias (sic) etc.) que viabilizem

às comunidades escolares condições de realizar

um projeto de vida e de sociedade melhor”

(GONÇALVES & AZEVEDO, 2005).

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No caso específico da educação em saúde, o rádio exerce uma relevância ainda maior por possibilitar o diálogo entre o saber técnico-científico e o popular, por meio da adoção de uma linguagem mais acessível (simples e direta), dinâmica, com grande abrangência geográfica e que possibilita a interatividade por meio de participações populares.

As experiências envolvendo as rádios escolares e universitárias servem ainda para imergir os estudantes na construção do conhecimento e atiçar seu senso crítico quanto às mensagens receptadas. Nas palavras de Souza (2006), a introdução do rádio como recurso pedagógico deve propiciar aos educandos “a oportunidade de aprender a produzir e selecionar programas educativos de qualidade, exercendo um senso crítico sobre o que ouve e recebe através das mídias diversas”.

Tais aptidões são naturalmente úteis para a educação formal em saúde, incitando o senso crítico que é tão importante para a consecução do objetivo de provocar mudanças no hábito de vida dos educandos. A grande barreira a ser transposta, nesse caso, é o preconceito que alguns educadores ainda nutrem em relação ao uso de recursos pedagógicos alternativos, como o rádio, o que só será possível com a divulgação das experiências positivas já vivenciadas nesse campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar dos grandes empecilhos que desafiam o uso eficaz do rádio como instrumento da educação em saúde, percebe-se que as contribuições trazidas pela radiodifusão são de vital importância para os novos enfrentamentos provocados pela compreensão contemporânea da saúde.

A missão de conscientizar profundamente indivíduos e comunidades, a ponto de estimular mudanças saudáveis em seus modos de vida, exige o emprego de ferramentas com o alcance que o rádio possui. Sua influência sobre todos os grupos humanos, especialmente aqueles menos favorecidos, que não dispõem de outras fontes

de conhecimento em saúde, muito menos têm acesso a educação formal nesta área, representa parte da solução buscada para a questão da promoção da saúde em sua integralidade.

O rádio torna-se importante instrumento pedagógico da saúde por traduzir informações técnicas e científicas para a população de maneira bem simples e interessante, além de melhorar as maneiras de expressão do público, tanto no texto escrito, quanto na fala. O vínculo com a tradição da cultura oral é uma das principais razões do rádio despertar o interesse da população, em especial de classes mais baixas onde essa tradição faz-se ainda mais presente.

É preciso, assim, que a missão de educar para a saúde seja encarada com a seriedade exigida diante da complexidade que o tema envolve, o que exige que se invista na formação dos comunicadores, na qualidade da programação radiofônica voltada para abordagens na área da saúde e na inserção de conteúdos jornalísticos relacionados ao tema.

Por último, é importante que os educadores percebam a força que o rádio ainda tem sobre a sociedade brasileira e reconheçam seus atributos únicos, abandonando a resistência que ainda envolve o uso do rádio como ferramenta pedagógica, para então utilizá-lo de forma integrada com os demais recursos usualmente trabalhados em sala de aula, como forma de maximizar a aprendizagem dos alunos quanto aos temas de saúde e multiplicar o conteúdo aprendido pelo docente para a comunidade.

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REFERêNCIAS

ALBUQUERQUE, P. C.; STOTZ, E. N. A educação básica na atenção básica à saúde no município: em busca da integralidade. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v.8, n.15, p. 259-274, mar./ago. 2004.

BIANCO, N. R. Del. Rádio, cotidiano e identidade cultural. In:TARGINO, M. G.; CASTELO BRANCO, S. ; CARVALHO, C. P. de.; MAGALHÃES, L. (org.) Comunicação, educação e cultura na era digital: Intercom Nordeste 2009. Teresina: Edufpi, 2009.

BLOIS, M. M. O rádio nosso de cada dia. Comunicação & Educação, São Paulo, v.6, p. 13-21, mai./ago. 1996.

CALABRE, L. A era do rádio. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

CANDEIAS, N. M. F. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e mudanças organizacionais. Revista de Saúde Publica, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 209-213, 1997.

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MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2000.

OLIVEIRA, D. L. L. C. A ‘nova’ saúde pública e a promoção da saúde via educação: entre a tradição e a inovação. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 3, p. 423-431, 2005.

ORTRIWANO, G. S. A informação no Rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus Editorial, 1985.

SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.17, n.1, p. 29-41, 2007.

SOUZA, M. G. de. Limites e possibilidades do rádio na educação à distância. Disponível em: <http://www.abed.org.br/seminario2006/pdf/tc013.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2009.

WORLD HEALTH ORGANIZATION-WHO. Carta de Ottawa. In: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Promoção da saúde: Cartas de Ottawa, Adelaide, Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Brasília: Ministério da Saúde/Informação, Educação e Comunicação- IEC, 1986. p. 11-18.

Este artigo foi produzido a partir das ações desenvolvidas no projeto Educação e Informação – Universidade Federal do Piauí, que corresponde à quarta fase do Projeto Monitoração de Propagandas de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, uma parceria da UFPI com a Anvisa e a OPAS. Como parte do projeto citado, realizou-se o seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, em setembro de 2009, com intuito de discutir o papel do rádio como instrumento de educação e promoção da saúde e os principais aspectos normativos e legais da veiculação de propagandas de produtos sujeitos à vigilância sanitária nas rádios brasileiras.

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A PUBlICIDADE DE MEDICAMENtOS EM RáDIO: DIvUlgAR COM ÉtICA E SER ÉtICO NA DIvUlgAÇÃO

Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Luana Lenzi; Rafael Venson; Roberto Pontarolo (UFPR)

RESUMO

Com base na alta prevalência de irregularidades provenientes de publicidades de medicamentos em rádio e do elevado risco sanitário associado a estas, tendo em vista seu grande poder de alcance a todas as faixas etárias, grupos sociais e de nível de alfabetização, este trabalho buscou conscientizar os radialistas de seu papel social na hora de divulgar produtos para a saúde. Para tanto, realizou-se um seminário intitulado “A Ética nas Ondas do Rádio”. No dia do evento, além da distribuição de material educativo (fôlderes e cartilhas), foi entregue aos participantes um questionário para caracterizar o público presente. Das pessoas que responderam ao questionário, 29% eram radialistas, e destes, todos afirmaram perceber irregularidades nos textos das propagandas anunciadas em rádio, sendo que somente 34% realizam alterações no texto das propagandas que divulgam e 33% são favoráveis à propaganda de medicamentos, desde que realizada de forma correta. Todos afirmaram saber a diferença entre um alimento e um medicamento e aproximadamente 20% sabem o que é um medicamento de venda livre. A falta de conhecimento dos profissionais de comunicação leva à divulgação irregular perante a legislação, e essa, aliada à falta de conhecimento dos pacientes, leva a uma automedicação potencialmente perigosa, gerando elevado risco sanitário aos ouvintes. Por esses motivos, as atividades educativas nesse campo mostram-se de grande importância social e para a saúde.

INtRODUÇÃO

A propaganda de medicamentos é um recurso amplamente utilizado pelas indústrias farmacêuticas para promover seus produtos. Porém, esses produtos não devem ser divulgados

como simples bens de consumo, mas sim com o objetivo de promover/proteger a saúde de pacientes de alguma forma debilitados.

O mercado farmacêutico brasileiro faturou, em 2008, aproximadamente 13,4 bilhões de dólares, sendo o décimo colocado entre os mercados mundiais de medicamentos (Interfarma, 2008). A estimativa do investimento em propaganda de medicamento é de um bilhão de reais (BATISTA, 2009).

O mercado de medicamentos isentos de prescrição é responsável por cerca de 30% da fatura do mercado de medicamentos (ABIMIP, 2008). Em 2007, aproximadamente 863 milhões de reais foram gastos com publicidade no setor de medicamentos isentos de prescrição, sendo que 14% desse montante foram para publicidade em rádio (ABIMIP, 2008).

A publicidade voltada aos medicamentos isentos de prescrição leva as pessoas leigas a consumir ou desejar consumir medicamentos dos quais, muitas vezes, nem precisam realmente. O público leigo não tem conhecimento suficiente a respeito dos riscos que a automedicação pode trazer e as propagandas, normalmente, não trazem recursos informativos suficientes para alertá-lo a esse respeito. O hábito da automedicação já está enraizado na cultura brasileira, sendo constantemente estimulado pela propaganda abusiva e facilitado pela ineficiência do sistema de saúde, o que gera consequências e complicações sérias, muitas vezes irreversíveis, aos usuários (DRUMMOND, 2001).

Deparando-se com a publicidade de produtos para a saúde, é notável a falta de preocupação

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com a ética no momento de propagandear. O importante é o consumo e não suas consequências, o que leva à banalização do uso de medicamentos, transformando-os de produtos para a saúde em produtos que vão de encontro à saúde. Isso tudo gera a medicalização da sociedade e a dependência farmacêutica (GUIMARÃES, SOBREIRA, EWALD, 2005; BARROS, 2002).

O problema da publicidade de medicamentos não reside no fato de ser realizada, mas sim na forma como ela é realizada: apelativa, persuasiva e envolvente. As pessoas que escutam a um anúncio de um medicamento são diretamente afetadas por uma linguagem que as fazem querer o medicamento que não necessitam; e elas ainda são ludibriadas pela falsa imagem de que os medicamentos são isentos de riscos e livres de consequências sérias à saúde. Grande parte das propagandas dá a entender que os produtos naturais, por exemplo, possuem essas virtudes, o que não é verdade.

Este trabalho é fruto de um projeto maior desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conjuntamente com Instituições de Ensino Superior (IES), que teve início em 2002 com o título de Projeto Monitoração de Propaganda e Publicidade de Medicamentos.

Entre outubro de 2007 e fevereiro de 2008, peças publicitárias divulgadas em diversas mídias foram objetos de monitoração, incluindo: peças publicitárias de medicamentos, alimentos (novos, com propriedades funcionais e para fins especiais) e produtos para a saúde de uso ortopédico, odontológico e de ginástica passiva.

Dentre os meios de comunicação monitorados, o que apresentou um maior número de propagandas irregulares e com maior risco sanitário associado foi o rádio.

Desde o seu surgimento e fortalecimento, entre os anos 20 e os anos 60 do século 20, o rádio foi o principal veículo de comunicação de massa do Brasil. Ao final dos anos 50 e início dos 60,

estava consolidado em sua posição de meio de comunicação de massa, representando um elemento fundamental na formação de hábitos na sociedade brasileira. O rádio ajudou a criar novas práticas culturais e de consumo por toda a sociedade brasileira.

Dos anos 30 aos 60, o rádio foi o meio através do qual as novidades tecnológicas, os modismos culturais, as mudanças políticas, as informações e o entretenimento chegavam ao mesmo tempo aos mais distantes lugares do país, permitindo uma intensa troca entre a modernidade e a tradição. Devido ao menor custo quando comparado a outros meios de comunicação como a televisão e a internet, pode-se afirmar que ocorreu um processo de popularização do rádio, fazendo dele quase que uma presença obrigatória nos lares brasileiros, uma espécie de utensílio indispensável. O seu poder de divulgação em massa está relacionado a sua capacidade de alcançar qualquer cidadão, independente da classe social e do grau de alfabetização (BRASILCULTURA, 2009).

Associando a forma apelativa e convincente da maioria dos anúncios e a magnitude da capacidade de divulgação que o rádio possui, as propagandas irregulares de medicamentos divulgadas por esse tipo de mídia caracterizam alto risco sanitário à população.

O fato de a fiscalização e controle por parte da Anvisa ser falha, por permitir, ainda, a divulgação de produtos para a saúde de forma, muitas vezes, abusiva, não isenta a sociedade da sua responsabilidade. De acordo com o parágrafo segundo, do artigo 2º, da Lei 8.080, de 1990, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”, mas “o dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade” (BRASILb, 1990).

Com base nisso, nosso trabalho buscou conscientizar os radialistas de seu papel social na hora de divulgar produtos para a saúde através da realização de um evento educativo e de distribuição de material informativo.

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OBJEtIvOS

Realizar um evento de informação e educação sobre a ética na divulgação de propagandas de medicamentos para radialistas, tendo como base os dados alcançados na etapa de monitoração realizada anteriormente.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Buscando alcançar os objetivos propostos, foi organizado um seminário intitulado “A Ética nas Ondas do Rádio”. O levantamento e o contato com as emissoras de rádio foram realizados em parceria com a Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP).

Para aumentar a atratividade do evento frente aos profissionais da área da comunicação, buscou-se trazer outros temas e outros palestrantes da área da Comunicação Social. Por isso, além do professor doutor Roberto Pontarolo, que falou sobre “A Propaganda de Medicamentos para Comunicadores de Rádio”, a jornalista Melissa Bergonsi e a professora doutora Nair Prata falaram sobre “A Ética na Rádio” e “Web Rádio”, respectivamente.

A realização do evento também contou com a parceria da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA-PR), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A divulgação do evento foi realizada em rádios universitárias, em centros acadêmicos e nas coordenações dos cursos de Jornalismo e Comunicação Social. Além disso, houve divulgação pela Rádio Saúde, da SESA-PR, pela internet e diretamente em escolas de formação de radialistas de Curitiba. Todas as rádios do Paraná receberam convite pelo correio e por telefone.

No dia do evento, material educativo (fôlderes e cartilhas) foi entregue aos participantes juntamente com um questionário, composto por nove perguntas, sendo a maioria objetiva. Com a aplicação do questionário buscou-se distinguir bem o público que compareceu ao evento,

bem como seu nível de conhecimento quanto à divulgação de produtos isentos de prescrição através das emissoras de radiodifusão.

O questionário constava dos seguintes pontos: nome, profissão e tempo de atuação; “você percebe muitas infrações nos anúncios de produtos farmacêuticos?”; “você adiciona novos termos ou chavões ao anúncio, ou repassa o texto conforme recebido?”; “você é contrário ou favorável a anúncios de medicamentos em rádio?”; “você sabe diferenciar o anúncio de um medicamento de um anúncio de alimento?”; “você sabe o que é um medicamento de venda livre?”; “antes de participar do evento, você tinha conhecimento da RDC nº 102/2000 e da RDC nº 96/2008?”.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Conseguimos alcançar um público de 60 pessoas participantes no seminário. Dessas, somente 52% responderam ao questionário.

Das pessoas que responderam, 29% eram radialistas/locutores/apresentadores de programas de rádio e 2% estudavam Radialismo.

A média de tempo de atuação dos radialistas foi de 14,5 anos, sendo que o tempo máximo era de 31 anos e o mínimo de cinco anos.

De todas as pessoas que responderam ao questionário, 87% disseram perceber infrações nos anúncios de produtos farmacêuticos. Dos radialistas, todos disseram que percebem essas infrações.

Entretanto, 34% dos radialistas disseram que não realizam a divulgação conforme passado pelo comprador do serviço, mas sim que adicionam chavões ou alteram, de alguma forma, o anúncio.

De 30 pessoas que responderam à pergunta que indagava se a pessoa era contrária ou favorável à propaganda de medicamentos em rádios, 34% dos radialistas afirmaram ser contrário e dos 66% restantes, 50% fizeram a ressalva de

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ser favorável, porém de maneira consciente, com as informações necessárias ao usuário. Do restante do público, 68% afirmaram ser contrários e 4% não responderam.

Todas as pessoas afirmaram saber a diferença entre um alimento e um medicamento e 77% das pessoas afirmaram saber o que é um medicamento de venda livre. Dessas, 35% eram radialistas.

A grande maioria (90%) disse desconhecer as principais resoluções em vigor que regem a propaganda de medicamentos (RDC nº 102/2000 e RDC nº 96/2008).

Resultados das etapas anteriores do projeto de monitoração da Anvisa demonstram um aumento relativo do número de peças divulgadas em rádio, em comparação com o número de peças divulgadas em outras mídias. A fase 1 (compreendida entre 2002 e 2003) resultou em 1.019 peças captadas, sendo que 14% dessas (143) eram de rádio; a fase 2 (2004-2005) resultou em 469 peças captadas, sendo que 12% (56) eram de rádio. Já a terceira fase (2007-2008) gerou 146 captações, sendo 16% (24) provenientes de rádio.

Esse aumento na proporção de peças provenientes de radioemissoras se deveu, provavelmente, à diminuição maior do número de peças infringentes provenientes de outras mídias; isso porque mídias impressas são mais facilmente fiscalizadas e punidas que as mídias sonoras. As mídias sonoras também são alvos da mazela da intervenção humana: o radialista recebe o que ele deveria falar, porém muitas vezes intervém, alterando a propaganda por falar a mais ou usar conotação ou entonação que acaba modificando o sentido da peça publicitária, justamente por desconhecer a lei ou as consequências de tal ato sobre a saúde da população que ouve ao seu anúncio.

O número médio de infrações por mídia encontrado nas etapas anteriores do projeto mostrou que houve quatro infrações por anúncio nas rádios FM e 2,5 nas AM.

Esses dados justificam a realização de um evento destinado à informação e educação desses profissionais do ramo da radiodifusão.

Nosso público-alvo foi os profissionais da área de Comunicação, como radialistas e estudantes de Radialismo, Jornalismo e Comunicação Social, porém não se fez nenhuma restrição quanto à divulgação do evento, devido à dificuldade de se atrair profissionais desse ramo para um evento que trate basicamente de saúde. Por este motivo, não se fez restrição quanto à participação de outros interessados no evento e nos assuntos por ele abordados.

A simples existência de uma legislação específica sobre o assunto, por mais direta e clara que seja, não é garantia de cumprimento. Prova disso é que diversos trabalhos de pesquisa, realizados depois da publicação da RDC nº 102/00 (CARVALHO, 2004; RESENER, 2004; MASTROIANNI, 2003; NASCIMENTO, 2003; PETROVICK, 2003; WZOREK, 2003) confirmam que apesar do aparente caráter informativo, muitas infrações são cometidas. No que diz respeito à presença de informações essenciais exigidas pela legislação (como contraindicações, DCB/DCI, reações adversas) estas estão presentes em média, em 70% das propagandas brasileiras.

É nesse contexto que se enquadra esse projeto. Não basta regulamentar a divulgação das propagandas de medicamentos, é antes necessário informar e educar a respeito. Na maioria das vezes, as infrações são cometidas por desconhecimento, por parte dos radialistas, dos riscos sanitários que podem estar associados à divulgação equivocada de um anúncio de um medicamento.

Os prejuízos trazidos pela propaganda irregular de medicamentos são diversos: agravamento do estado de saúde do paciente; falta de estabelecimento de uma farmacoterapia adequada; intoxicação pela falta de conhecimento quanto ao correto uso e aos eventos adversos decorrentes do seu uso; entre outros (SANTI, 1999).

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Interferências realizadas na hora de divulgar um anúncio, mesmo com o inocente intuito de transmitir maior credibilidade, atrair um público maior, ou transformar um assunto sério como doença em algo mais próximo do cotidiano dos ouvintes, por vezes banalizando doenças sérias ou maximizando problemas de saúde menores a fim de dar uma entonação cômica ao anúncio provocando vergonha, temor ou angústia, podem dessa forma acarretar em serias consequências à saúde da população sujeita a esses riscos sanitários.

Não basta a esse profissional saber como ou o quê divulgar, é necessário também o conhecimento das consequências danosas que interferências podem causar tanto a quem ouve o anúncio como a ele próprio, que está sujeito às penalidades da lei, conforme artigo 21 do Código Penal, que determina que o desconhecimento da lei não isenta o infrator da culpa ou pena.

A legislação brasileira que regulamenta o setor, a RDC n° 102/2000 e a RDC n° 96/2008, trazem em seu conteúdo todos os requisitos necessários para a correta divulgação das propagandas de medicamentos nas diversas mídias, incluindo entre estas, o rádio.

Frases como: “Sem contraindicação”, “Não apresenta efeitos colaterais”, “Ervas importadas” e “Produto natural” são relativamente comuns em propagandas e dão a falsa impressão de produtos de qualidade e totalmente seguros. Estudo realizado no Rio Grande do Sul demonstrou que de 250 peças publicitárias veiculadas nas principais emissoras de rádio sul rio grandenses, entre agosto de 1995 e janeiro de 1996, 80% não apresentavam declaração quanto ao nome genérico, à composição, à posologia e ao laboratório fabricante do produto. Também 39% enfatizavam a ausência de riscos (através de frases como “Não contém contraindicações”), o que estimula o consumo indiscriminado (HEINECK, 1998).

O fato de 34% dos radialistas distorcerem a informação recebida para o anúncio é

preocupante. Isso porque o que pode ocorrer é que a propaganda vem do laboratório farmacêutico conforme regulamenta a legislação e no momento da realização da propaganda ocorre a irregularidade. O radialista não deve incrementar de forma alguma a propaganda, devendo realizá-la da maneira como a recebe, estando, preferencialmente, em acordo com a legislação, para evitar a ocorrência de infrações.

Algumas pessoas afirmaram desconhecer o conceito de medicamento de venda livre. Isso é um percalço muito grande para a regulamentação da propaganda de medicamentos. Somente essa classe de medicamentos pode ser divulgada para o público leigo. O radialista ou a população em geral podem atuar como fiscalizadores de propagandas de medicamentos, porém para isso eles devem conhecer conceitos básicos da área de farmácia, como o conceito de medicamento isento de prescrição médica ou a diferença entre a divulgação de um produto alimentício e um farmacêutico. Com posse de tais conhecimentos, o radialista, no momento em que receber uma divulgação para fazer, poderá se recusar a fazê-la ou exigir alterações no texto do anúncio publicitário.

Foram constantes durante as palestras discussões e debates sobre ética e proibição/liberação da propaganda de medicamentos e de outros produtos para a saúde.

A maior dificuldade presenciada para a organização do evento foi a de atrair radialistas. Apesar do grande esforço realizado pela organização do evento, seja tornando o seminário mais atrativo ou realizando convites através de diferentes meios de comunicação, inclusive contato telefônico, poucos estiveram presentes. Dos 60 participantes do evento, somente nove eram radialistas que trabalhavam na área. O pequeno número pode ser atribuído à falta de interesse pelo assunto abordado no seminário por desconhecer a legislação e as penalidades que podem sofrer com o anuncio de determinados produtos e pela dificuldade em abandonar o posto de trabalho, pois em

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determinadas emissoras o radialista é o único funcionário, além dos custos com transporte e hospedagem para quem reside fora de Curitiba.

Muitos profissionais dessa área destacam o talento nato de comunicador como o único fator que importa para o trabalho, que a informação chega pronta, sendo seu papel somente divulgar, e quaisquer restrições sobre seu trabalho caracteriza restrição de liberdade de imprensa, sendo assim, inconstitucional.

Outro fator que podemos considerar é a impunidade, a falta de fiscalização mais efetiva e multas sobre propagandas irregulares, pois parece que o único fator que sensibiliza quem já está acostumado a cometer tantas irregularidades é o fator financeiro. Quando a ignorância sobre o assunto tiver um preço este pode ser um fator para motivá-los a conhecer melhor o produto que anunciam e os aspectos legais envolvidos.

Esses dados, mais uma vez, revelam a importância de informar essa classe sobre os deveres perante a legislação em relação à divulgação dos anúncios de medicamentos, e os direitos do cidadão no que se refere a sua saúde e aos riscos sanitários a que pode ser submetido.

Certamente não é somente com uma ação como esta, ou somente com a conscientização do público presente, que conseguiremos mudar a situação atual. Mas para percorrer um caminho e chegar ao fim do trajeto, é necessário dar o primeiro passo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto de Monitoração da Anvisa, em parceria com as IES, mostrou que o número de infrações diminuiu com o passar dos anos. Isto demonstra que a atividade de fiscalização e sanção das infrações segue um caminho produtivo. Porém, apesar da evolução legal que tem ocorrido nesse escopo, resta muito trabalho a se fazer, pois ainda não se consegue coibir totalmente os abusos ocorridos.

O estudo demonstra a necessidade de se tratar o assunto fora dos órgãos reguladores. Como puderam ser observadas, as inúmeras infrações ultrapassam o campo legal e invadem o social, devendo ser tratadas como um problema de saúde pública.

Essas infrações nem sempre ocorrem por má-fé dos profissionais de comunicação. Às vezes falta conhecimento por parte desses profissionais e isso leva a infrações à legislação vigente. Cabe aos profissionais da área da saúde e dos órgãos regulamentadores o dever social de ensiná-los. E cabe à sociedade debater o assunto.

A responsabilidade de regulamentar e fiscalizar a propaganda de medicamentos é responsabilidade do Estado, segundo a Constituição Federal e normas infraconstitucionais, porém isso não exclui a responsabilidade de todos.

Acreditamos ter alcançado resultados positivos com os profissionais que participaram do evento e que os mesmos possam refletir sobre as consequências da publicidade, lutando por uma prática mais responsável e comprometida com a verdade, a fim de cumprir com o que a sociedade necessita e espera.

Não basta a propaganda ser ética, apresentando seu conteúdo em acordo com a legislação e com a literatura científica, é necessário também que o locutor anunciante seja ético na sua divulgação, respeitando o conteúdo do anúncio e, principalmente, a saúde e a vida do ouvinte.

COlABORADORES

A autora Luana Lenzi realizou a monitoração das propagandas em rádio e redigiu o artigo. Juntamente com os demais autores, elaborou e desenvolveu as atividades realizadas nesse projeto. Os coautores Rafael Venson e Roberto Pontarolo auxiliaram em todas as etapas, inclusive na revisão e tradução do texto.

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REFERêNCIAS

ABIMIP. Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição. Propaganda dos MIPS em debate. Revista Kairos. 2008. Disponível em: http://www.abimip.org.br/clip_2008.htm. Acesso em: 17 set. 2009.

BARROS, J. A. C.; JOANY, S. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Ciência & Saúde Coletiva, v.7, n.4, p.891-898, 2002.

BATISTA, A. M. Avaliação da Publicidade de medicamentos veiculada nas principais emissoras de rádio de Natal – RN. Dissertação [Mestrado. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte]. Natal: UFRN, 2009.

BRASILa. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1988.

BRASILb. Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, de 12 de setembro de 1990.

BRASILc. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, de 31 de dezembro de 1940. Código Penal. Senado Federal.

BRASILCULTURA. A participação do rádio no cotidiano da sociedade brasileira (1923-1960). Disponível em: http://www.brasilcultura.com.br/perdidos/a-participacao-do-radio-no-cotidiano-da-sociedade-brasileira/ Acesso em: 20 dez. 2009.

CARVALHO, A. C. B. et al. Avaliação Legal da propaganda e Publicidade de Medicamentos Fitoterápicos Anunciados na Paraíba (Brasil). São Paulo. Acta Farm. Bonaerense, v.3, n.23, p. 413 – 417, 2004.

CUSTODIO, B.; VARGAS, S. L. Z. Medicamentos e lucro: uma associação pouco saudável. Monografia [Especialização em Vigilância Sanitária de Medicamentos. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca]. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.

DRUMMOND Jr, M. Epidemiologia e saúde pública: reflexões sobre os usos da epidemiologia nos serviços do Sistema Único de Saúde em nível municipal. Tese [Doutorado. Curso de Pós-Graduação do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas]. Campinas: Unicamp, 2001.

GUIMARÃES, A. D.; SOBREIRA, C. B.; EWALD, A. Propaganda de medicamentos: a medicalização da sociedade através do consumo. 2005. Disponível em: http://www.projetoradix.com.br/arq_artigo/VII_51.htm. Acesso em: 12 out. 2009.

HEINECK, I.; GALLINA, S. M.; SILVA, T.; DAL PIZZOL, F.; SCHENKEL, E. P. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública, v.14, n.1, p.193-198, jan-mar, 1998.

INTERFARMA. Associação da Indústria Farmacêutica e de Pesquisas. Indicadores. Mercado Farmacêutico Mundial. Abr. 2008. Disponível em: http://www.interfarma.org.br/indicadores2.htm. Acesso em: 10 dez. 2009

LENZI, L. Diagnóstico situacional das propagandas de produtos sujeitos à vigilância sanitária veiculadas em Curitiba e região metropolitana. Monografia de conclusão de curso. UFPR, 2009.

MASTRONIANNI, P. D. C.; GALDUREZ, J. C. F; CARLINI, E. A. Influência da Legislação sobre as Propagandas de Medicamentos Psicoativos no Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria, set. 2003, v.25, n. 3, p.146-155.

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NASCIMENTO, A. C. Ao Persistirem os Sintomas o Médico Deverá ser Consultado: Isto é Regulação? Dissertação [Mestrado em saúde Coletiva. Instituto de Medicina Social, Universidade do estado do Rio de Janeiro]. Rio de Janeiro: UERJ, 2003.

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RESENER, M. C. Análise da qualidade de propagandas de medicamentos fitoterápicos disponibilizadas em Santa Catarina. Dissertação [Mestrado em Farmácia. Faculdade de Farmácia. Universidade Federal de Santa Catarina]. Florianópolis: UFSC, 2004.

SANTI, V. Medicamentos: Verso e Reverso da Propaganda. Ponta Grossa: UEPG, 1999.

WZOREK, L. F.; PONTAROLO, R.; KAI, D. C. Análise de peças publicitárias de medicamentos, veiculadas na mídia da Curitiba-PR e Região Metropolitana, no período de outubro/02 a abril/03. In: Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde (COMSAÚDE), 6, 2003, São Bernardo do Campo. Mídia, Mediação e Medicalização. São Bernardo do Campo: UNESP, 2003. CD-ROM.

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A tENtAtIvA DE APROxIMAÇÃO ENtRE O PROJEtO DE EDUCAÇÃO EM PROPAgANDA DE PRODUtOS SUJEItOS À vIgIlâNCIA SANItáRIA E COMUNICADORES DE RáDIO: UM RElAtO DE ExPERIêNCIA.

Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRgS)

Marjorie Muller2²; Caren Gobbeti2²; Letícia Oliveira2², Bruna Piccoli²2, Tânia Alves Amador¹1

1 - Professor Adjunto da Faculdade de Farmácia, Departamento de Produção e Controle de Medicamentos. Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

2 - Acadêmicos de Farmácia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

RESUMO

Este artigo é o relato de experiência sobre a tentativa de aproximação com comunicadores de rádio, para o desenvolvimento de um seminário que discutisse medicamento e alimento na mídia. O trabalho é parte integrante do Projeto de Educação em Propaganda de Medicamentos, realizado na cidade de Porto Alegre por professores e acadêmicos do curso de Farmácia. O projeto é realizado em parceria com a Anvisa e busca desenvolver ações que promovam o uso racional de medicamentos.

A QUEStÃO DA PUBlICIDADE DE MEDICAMENtOS E DE OUtROS PRODUtOS SUJEItOS À vIgIlâNCIA SANItáRIA

A influência da mídia no comportamento individual é um fato bastante conhecido. No Brasil, a televisão e os demais meios de comunicação, por meio do discurso publicitário, exercem grande pressão para o consumo. A necessidade de adquirir mercadorias e serviços é atualmente produzida com grande força, através da relação existente entre a mídia e a sociedade. Segundo o Instituto Nacional do Consumo da Espanha, a publicidade é uma forma de comunicação de massa que toma partido, é unilateral e subjetiva. Trata de transmitir informações, mas, sobretudo, de influenciar atitudes e comportamentos do público-alvo.

Embora a propaganda de medicamentos já esteja disciplinada no Brasil há várias décadas, os fabricantes e a mídia continuam veiculando peças publicitárias inadequadas tanto para o público leigo quanto para profissionais da área da saúde. Os resultados da etapa inicial do Projeto de Monitoração de Publicidade e Propaganda de Medicamentos (promovido pela Anvisa em parceria com Instituições de Ensino Superior de todo o Brasil) mostraram que as informações divulgadas não contribuem para o esclarecimento do consumidor, além de descumprirem vários requisitos da legislação vigente no país.

Na segunda etapa do projeto percebeu-se uma mudança no teor das campanhas publicitárias de medicamentos. Entretanto, ainda há muito que mudar, principalmente quando se trata dos fabricantes de produtos que não apresentam registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como alimentos, mas insistem em alegar propriedades terapêuticas aos seus produtos, muitas vezes sem registro algum e com sérios riscos à saúde da população. Essas propagandas vêm sendo especialmente divulgadas em jornais e rádios.

No entendimento dos envolvidos no Projeto de Monitoração de Propaganda (Anvisa e pesquisadores das universidades), questões educacionais são essenciais para criar uma nova

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cultura em relação à propaganda de produtos para saúde. Segundo a Anvisa, no estado do Rio Grande do Sul tem ocorrido o maior número de Autos de Infração Sanitária contra rádios locais, correspondendo a 13% do total de autuações contra rádios em todo o Brasil (n=114).

Percebe-se, hoje, que somente as ações punitivas não têm sido suficientes para coibir os abusos na publicidade de medicamentos. Não é de hoje que a Faculdade de Farmácia da UFRGS se preocupa com essa questão, sendo que, em 1998, foi publicado um artigo científico que avaliava a publicidade de medicamentos em rádios de Porto Alegre. As propagandas foram analisadas no período de agosto de 1995 a janeiro de 1996. Durante o período de observação, foram documentadas 250 peças publicitárias referentes a 28 produtos. Mais de 80% não apresentavam declarações quanto ao nome genérico, à composição, à posologia e ao laboratório fabricante do produto, infringindo, dessa forma, a legislação vigente no país naquela época. O mais grave, ainda, é que um número significativo das peças publicitárias (39%) ressaltava a ausência de quaisquer riscos, fazendo declarações como “não tem contraindicações” (o que caracteriza um apelo ao uso irracional) e omitiam informações fundamentais a respeito de cuidados, de reações adversas e de contraindicações (HEINECK et al., 1998).

Segundo dados do Ibope de 2005, o segmento farmacêutico respondia por aproximadamente 2,2% do total do investimento publicitário no Brasil, alcançando 187,5 milhões no 3º trimestre de 2005, o que corresponde a um aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os veículos mais utilizados são televisão (81%), rádio (7%), TV por assinatura (6%), revista (5%) e jornal (1%). No mesmo campo da publicidade do medicamento também se insere hoje a dos alimentos, especialmente aqueles direcionados às crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem se preocupado com a questão da obesidade infantil e, em março de 2009, uma pesquisa realizada pela Universidade Oxford

comprovou a relação entre a limitação da publicidade de alimentos não saudáveis e a redução nos índices de obesidade infantil nos Estados Unidos (VEERMAN, 2009).

Pensando nesse cenário, a Anvisa resolveu ampliar, no ano de 2009, o seu escopo de atuação na área de ações educativas e informativas para os comunicadores de rádio. As universidades parceiras da Agência no Projeto de Monitoração de Propaganda foram novamente chamadas a tentar diminuir a distância entre a informação divulgada pela indústria farmacêutica e a informação científica isenta de pressões econômicas.

Dentro das atividades previstas para o projeto, estava a realização de um seminário voltado para os comunicadores de rádio, com intuito de oferecer uma discussão à luz de informações sobre benefícios e riscos dos medicamentos e alimentos.

A ExPERIêNCIA DE REAlIzAR O SEMINáRIO DE MEDICAMENtOS E AlIMENtOS NA MÍDIA PARA COMUNICADORES DE RáDIO

A limitação de tempo foi um grande dificultador para conseguir sensibilizar os profissionais de rádio a participarem do seminário. Inicialmente foi realizado um levantamento de todas as rádios de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul (RS) para localizar telefone e e-mails. Em seguida, tentou-se contato telefônico e, em geral, o atendimento era realizado pela assessoria de comunicação, sem que tivéssemos acesso direto com os comunicadores.

Entre os assessores ou responsáveis pelo atendimento da chamada telefônica um dos questionamentos que surgiam era o porquê do foco nos radialistas e a alegação de que eles somente liam o texto realizado pela agência da publicidade. Entretanto, esse argumento demonstra certo desconhecimento da legislação, visto que as emissoras de rádio são corresponsáveis pelo que vai ser divulgado na sua programação. Sendo assim, é necessário que a empresa, antes de divulgar um determinado

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produto, esteja ciente que existe registro no Ministério da Saúde, caso contrário poderá sim, ser responsabilizada. Dentre as principais irregularidades verificadas nas peças publicitárias em rádios estão: anunciar produto sem registro; anunciar produto com registro para alimentos alegando propriedades terapêuticas, visto que somente medicamentos possuem essas propriedades; e anunciar produto registrado não atendendo à legislação sanitária vigente. Caso essas infrações sejam comprovadas, as empresas respondem a processos administrativos sanitários e podem ser apenadas com multas que variam de R$ 2.000,00 a R$ 1.500.000,00. As empresas ainda podem sofrer as sanções de natureza cível e penal cabíveis (BRASIL, 2008).

Outra estratégia utilizada para sensibilizar os profissionais do rádio foi encaminhar emails, e, para que facilitasse a adesão, solicitamos à Associação Gaúcha de Rádios e Televisão (AGERT) que o evento fosse realizado na sede da AGERT, o que não foi possível, pois na data do acontecimento a entidade passava por período de eleição. O presidente da entidade foi convidado a realizar o seminário em parceria, mas não demonstrou interesse.

Sabe-se que a AGERT tem uma posição contrária à adoção da legislação que regulamente e restrinja a publicidade de medicamento sob a alegação de que enquanto os produtos tiverem circulação no mercado produtor e livre acesso à toda a população, “não há como se falar em restrição de sua publicidade, sob pena de agressão a normas constitucionais e aos demais princípios que protegem a liberdade”. Esta afirmação é o embasamento não somente das empresas de comunicação, mas das produtoras de publicidade e laboratórios farmacêuticos. A AGERT publicou essa análise em seu site, questionando, como mencionado por eles:

A Resolução nº 96/08 da Anvisa não confere competência para sua intervenção na publicidade

de medicamentos, promovida em rádios e televisões. A pretensão da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária afronta disposição expressa da Constituição Federal (AGERT, 2009).

Outras emissoras no momento do convite mostraram-se prestativas e o evento foi publicado no site e no jornal Zero Hora do Grupo RBS, que ficaram de encaminhar pelo menos um participante, mas não compareceram. Essa descrição é para ilustrar a dificuldade que se tem em aprofundar, com os segmentos dessa “cadeia” de consumo de medicamento, as discussões sobre que abordagem o consumidor, o paciente, o usuário do medicamento merece conhecer, pois a todo o momento ele é bombardeado na mídia com novas informações sobre novas tecnologias de saúde.

O seminário tinha tão somente o objetivo de apresentar dados que mostram o quanto é necessário olhar o medicamento como um bem de saúde e não simplesmente como um bem de consumo e sensibilizar os comunicadores para a necessidade de se ter cuidado com a informação que é lida nas rádios.

Como estratégia para compensar a ausência dos comunicadores ao seminário, convidou-se acadêmicos de Farmácia e de Publicidade. Não obstante, ainda assim considera-se que a estratégia não funcionou, visto o baixo público presente. Entretanto, os convidados para participarem da mesa-redonda como palestrantes firmaram parceria, sendo que as faculdades de Farmácia e de Publicidade da UFRGS vêm desenvolvendo materiais informativos em parceria para o projeto. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Independente da frustração do evento, o grupo do projeto buscou novas estratégias para alcançar os comunicadores. Para tanto, foi desenvolvido um blog onde estão sendo publicados artigos curtos sobre riscos do uso indiscriminado de medicamentos. O blog vem sendo divulgado periodicamente para os e-mails dos comunicadores.

A ferramenta internet nos pareceu mais apropriada para um segmento da sociedade que trabalha exatamente com a comunicação. Por email foi divulgado um folder que chama os leitores a pensar sobre os riscos da

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automedicação e a influência da publicidade. Sabemos que não é o suficiente, e outras estratégias devem ser pensadas, mas ao tentar inserir esses temas no dia a dia dessas pessoas é possível despertar, ao menos, a curiosidade. Em outros setores da universidade pretendemos ampliar essa discussão.

REFERêNCIAS

AGERT. Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão. Publicidade de medicamentos em rádios e televisão e a Anvisa. Disponível em: http://www.agert.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15756:publicidade-de-medicamentos-em-radios-e-televisao-e-a-anvisa&catid=15:artigos). Acesso em 12/12/2009.

BRASIL. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de dezembro de 2008. Disponível em: http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=35664. Acesso em: 12/12/2009.

HEINECK, I.; GALLINA S. M.; SILVA, T. da; DAL PIZZOL, F.; SCHENKEL, E. P. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública, v.14, n.1, p.193-198, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000100028&lng=en.

VEERMAN, J. L.; VAN BEECK, E. F.; BARENDREGT, J. J.; MACKENBACH, J. P.B. How much would limiting TV food advertising reduce childhood obesity? European Journal of Public Health, v. 19, n. 4, p.365–369, 2009.

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AvAlIAÇÃO DO CONHECIMENtO SOBRE PROPAgANDA DE MEDICAMENtOS E AlIMENtAÇÃO SAUDávEl ENtRE PARtICIPANtES DE UM SEMINáRIO

Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN)

Maria Cleide Ribeiro Dantas de Carvalho1; Francisca Sueli Monte2; Lourena Mafra Veríssimo2; Ney Moura

Lemos2; Maria Giovana Binder Pagnoncelli3 ; Fillipe Azevedo de Medeiros4; Rayllan de Oliveira Rodrigues4.

1 - Professora Associada do Departamento de Farmácia, autora responsável (UFRN).

2 – Professores Assistentes do Departamento de Farmácia (UFRN).

3- Professora Adjunta do Departamento de Farmácia (UFRN).

4- Alunos do Curso de Farmácia (UFRN).

RESUMO

O artigo objetivou avaliar o conhecimento sobre a norma que regulamenta a propaganda de medicamentos (RDC nº 96/08), sobre intoxicação medicamentosa e sobre alimentação saudável, entre participantes de um seminário que abordou os referidos temas. O seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” ocorreu em agosto de 2009, na cidade de Natal (RN) e buscou reunir as principais informações e orientações necessárias à promoção dos produtos e dos serviços sujeitos à vigilância sanitária de acordo com a legislação vigente, aliado à ética e responsabilidade que o tema demanda. Este seminário teve como participantes alunos de graduação em Farmácia e em Comunicação Social, assim como comunicadores que atuam no setor de rádio. A programação do seminário abordou a norma que regulamenta a propaganda de medicamentos (RDC nº 96/08), intoxicação por medicamentos e alimentação saudável. Para a avaliação do conhecimento, foi aplicado um mesmo questionário, antes e depois do evento, com questões de múltipla escolha para 78 estudantes do curso de Farmácia, 11 estudantes do curso de Comunicação Social e 13 comunicadores de rádio. Os resultados demonstraram que, de uma maneira geral, houve um aumento do nível de conhecimento, principalmente no que se refere às questões que abordaram a propaganda de medicamentos.

INtRODUÇÃO

O rádio é parte integrante do cotidiano de grande maioria da população brasileira e constitui-se num vigoroso instrumento de divulgação, informação e convencimento da população em todas as classes sociais. As estatísticas demonstram que, ainda hoje, ele se mantém como um dos principais veículos de comunicação de massa. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), cerca de 90% dos domicílios brasileiros dispõem de rádio, no Nordeste são 80,8% (IBGE, 2006).

A Carta de Ottawa (1986), documento apresentado na primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, afirma que a promoção da saúde não é uma responsabilidade apenas do setor saúde, mas vai além, demandando uma ação coordenada de vários setores como o governamental, não governamental, indústria e mídia. As estratégias e programas de promoção da saúde devem ser adaptados às necessidades individuais de cada país e região de modo a atender diferenças sociais, culturais e econômicas. Dessa forma, o rádio pode ser uma importante ferramenta para a promoção da saúde.

Verificou-se que a indústria farmacêutica tem usado bastante o rádio para a divulgação de seus produtos, tornando-se uma das

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principais fontes de receita por esse veículo de comunicação. De acordo com a MediaSpot, da Crowley Broadcast Analysis do Brasil, em 2007, a DM Farmacêutica foi o principal anunciante do rádio no Rio de Janeiro e São Paulo (Drska, 2007a, 2007b). Além disso, de acordo com o ranking dos maiores anunciantes do país pelo Ibope Monitor (2007), esta mesma empresa farmacêutica também figura entre os 30 maiores anunciantes (COSTA, 2009).

No entanto, ao invés de promover saúde, a propaganda de medicamentos tem se tornado um problema para a saúde pública, pois não alerta os usuários sobre os riscos sanitários envolvidos no consumo indiscriminado de substâncias farmacológicas e nem para o fato de que todo medicamento, mesmo aqueles de venda sem prescrição médica, devem ser utilizados com consciência e responsabilidade. Ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, a propaganda tende a induzir à automedicação, agravar patologias ou sintomas, incentivar a aquisição de produtos ineficazes ou inadequados, e ampliar os gastos do Sistema de Saúde, inclusive no que diz respeito ao tratamento de intoxicação medicamentosa, a qual ocupa o primeiro lugar no ranking de intoxicações nos centros de controle de toxicologia e farmacovigilância do Brasil (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2007).

Batista (2009) analisando 228 propagandas de medicamentos veiculadas em emissoras de rádio da cidade de Natal (RN) observou que todas as propagandas cometeram algum tipo de infração à legislação em vigor e que a quase totalidade dos aspectos negativos referentes aos medicamentos (contraindicações, reações adversas, cuidados/advertências, interações medicamentosas) foi omitida nas peças publicitárias captadas.

Dessa forma, os profissionais que atuam na área de comunicação devem ser informados a respeito da importância da qualidade da informação a ser transmitida, como o conhecimento sobre a RDC nº 96/08 (BRASIL, 2008), que dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação

ou promoção comercial de medicamentos e que, recentemente, entrou em vigor (junho de 2009) em substituição à RDC nº 102/00 (BRASIL, 2000).

Por outro lado, a promoção e a proteção da saúde também necessitam de requisitos básicos, como os de manter hábitos de vida saudável. A informação da população a respeito da alimentação saudável pode contribuir na redução do surgimento de doenças crônico degenerativas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e doenças coronarianas.

O seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” buscou reunir as principais informações e orientações necessárias para a promoção dos produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária de acordo com a legislação vigente, aliado à ética e responsabilidade que o tema demanda.

O presente estudo avaliou os conhecimentos adquiridos pelos participantes do seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” no tocante aos temas debatidos.

MAtERIAIS E MÉtODOS

O seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio” ocorreu em agosto de 2009, na cidade de Natal (RN) e teve como público-alvo alunos de graduação em Farmácia e em Comunicação Social, e comunicadores de rádio.

Em princípio, o público-alvo do seminário seriam os comunicadores de rádio e os estudantes de Comunicação Social, os primeiros porque atuam profissionalmente com a propaganda de medicamentos e alimentos, e os seguintes porque estarão em breve no mercado da propaganda. No entanto, como o seminário ocorreu no Auditório do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi ampliado também para os estudantes de Farmácia.

Para a avaliação do conhecimento, foi aplicado um mesmo questionário (pré-teste e pós-teste)

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com questões de múltipla escolha antes do início e no final do seminário.

O preenchimento do pré-teste foi condicionado à inscrição no seminário. Foram preenchidos 102 questionários, sendo 78 de estudantes do curso de Farmácia, 11 de estudantes do curso de Comunicação Social e 13 de comunicadores de rádio. O preenchimento do pós-teste foi condicionado à participação num sorteio no final do evento. Como o número de questionários do pré-teste foi maior que do pós-teste, foram retiradas, aleatoriamente, algumas unidades para que o número de questionários do pré e pós-teste fosse o mesmo. As questões do pré-teste e pós-teste versaram sobre a nova norma que regulariza a propaganda de medicamentos, a RDC nº 96/08 (BRASIL, 2008), intoxicação medicamentosa e alimentação saudável.

Pré e pós-testes são utilizados para medir o conhecimento adquirido pelos participantes em uma formação. O pré-teste é um conjunto de perguntas feitas aos participantes antes do início da formação, com a fInalidade de determinar o seu nível de conhecimento sobre

o conteúdo que será ensinado. Ao final da formação, os participantes devem responder a um pós-teste com as mesmas perguntas feitas anteriormente, ou perguntas com o mesmo nível de dificuldade. Através da comparação das notas do pré-teste com as notas do pós-teste, será possível descobrir se a formação foi bem-sucedida em aumentar o conhecimento do participante sobre o conteúdo da formação. (ORIENTAÇÕES..., 2009).

RESUltADOS E DISCUSSÃO

Foram aplicados 102 questionários no pré e pós teste, sendo 78 de estudantes de graduação em Farmácia, 11 de estudantes de graduação em Comunicação Social e 13 de comunicadores de rádio.

Como se pode constatar, houve um aumento do nível de conhecimento, principalmente no que se referem às questões que abordaram a propaganda de medicamentos (Tabela 1), tanto para o público em geral quanto para os comunicadores de rádio e os estudantes de Comunicação Social.

Tabela 1 – Avaliação das questões pertinentes à propaganda de medicamentos no pré e pós-teste pelos participantes do Seminário “Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, Natal/RN, agosto de 2009.

PERGUNTAS

Todos os participantes Comunicadores de rádio e estudantes de Comunicação Social

ACERTOS NOPRÉ-TESTE

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ACERTOS NOPÓS-TESTE

%

ACERTOS NOPRÉ-TESTE

%

ACERTOS NOPÓS-TESTE

%

1. Resolução que regulamenta a propaganda de medicamentos

31,1 92,1 0 78,3

2. Principal agente causador de intoxicações no Brasil

85,4 100 50 100

3. Divulgar as indicações terapêu-ticas do medicamento na propa-ganda

79,4 93,1 83,3 73,9

4. Usar a expressão “Aprovado pela ANVISA” na propaganda de medicamentos

22,8 92,1 16,7 87

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5. Dirigir informações a crianças e adolescentes na propaganda de medicamentos

25,5 73,0 8,3 60,9

6. Informar que se pode cometer abusos gastronômicos em relação ao uso de determinado medica-mento

58,8 68,7 70,8 78,3

7. Informar sobre a advertência relacionada à substância ativa do medicamento

91,2 99,0 79,2 83,3

8. Oferecer brindes condicionada a compra de determinado medica-mento

95,1 100 87,5 91,3

9. “Se você tem a garganta do-lorida, vermelha e inchada, então use...”

94,1 98,0 87,5 95,7

10. “Para dores de cabeça tenha sempre à mão...”

86,3 98,0 54,2 91,3

11. “Coma e beba à vontade e se sentir algum mal-estar tome...”

95,1 98,0 91,7 95,7

12. “Se persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado”

94,1 99,0 95,8 95,7

13. “O ... vem agora no delicioso sabor morango”

82,4 96,0 62,5 87,0

14. “O ... pode ser encontrado nos sabores morango, abacaxi e limão”

48,0 73,3 37,5 47,8

15. “ ... é um medicamento, seu uso pode trazer riscos, procure o médico e o farmacêutico. Leia a bula”.

92,2 96,0 83,3 95,7

Na maioria das questões a diferença entre o conhecimento do pré e do pós-teste foi mais acentuada nos segmentos dos comunicadores de rádio e dos estudantes de Comunicação Social, provavelmente porque no conjunto das três categorias de participantes os estudantes de Farmácia tinham um maior nível de conhecimento, já que os temas do seminário haviam sido abordados em salas de aula.

Em relação às questões sobre alimentos, os participantes demonstraram um bom conhecimento sobre o assunto no pré-teste. Nos outros itens, o número de acertos no pré-teste também foi elevado. Talvez esse fato seja explicado pelo grande número de reportagens sobre o assunto nos veículos de comunicação de massa.

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Tabela 2 – Avaliação das questões pertinentes aos alimentos no pré e pós-teste pelos participantes do Seminário “Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, Natal/RN, agosto de 2009.

ALIMENTOS RELACIONADOS AO AUMENTO DE CASOS DE OBESI-DADE, DIABETES E HIPERTENSÃO

Todos os participantes Comunicadores de rádio e estudantes de Comunicação Social

ACERTOS NOPRÉ-TESTE

%

ACERTOS NOPÓS-TESTE

%

ACERTOS NOPRÉ-TESTE

%

ACERTOS NOPÓS-TESTE

%

1. Pizza 89,3 96,0 91,7 87,0

2. Biscoitos recheados 81,6 93,1 79,2 91,3

3. Frituras 98,1 96,0 100 87,0

4. Refrigerantes 89,3 95,0 91,7 87,0

5. Salgadinho industrializado 83,5 92,1 79,2 82,6

6. Chocolates, balas, pirulitos 95,1 97,0 87,5 91,3

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos no seminário foram bastante satisfatórios em todos os segmentos de público participante, significando que os objetivos foram alcançados.

De acordo com Hamze (2009), a avaliação permite correção de caminhos a partir de decisões que podem ser tomadas, tendo em vista o desenvolvimento pleno do educando. Basicamente, avaliar é emitir juízo de valor, após análises e ou sínteses efetuadas. A avaliação, essencialmente, não é um fim em si mesmo, mas um elemento que permite averiguar até

que ponto os objetivos definidos estão sendo alcançados. Avaliamos por meio de ferramentas diversificadas, tais como: observações, testes, exercícios, dinâmicas, seminários etc.

Particularizando para o caso em questão, alguns assuntos que podem ter sido mal compreendidos ou não assimilados durante o seminário poderão ser objeto de reforço através de outras ações educativas como a elaboração de cartilhas, manuais ou outros produtos, visando melhorar ainda mais o conhecimento sobre os temas debatidos.

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REFERêNCIAS

BATISTA, A. M. Avaliação da publicidade de medicamentos veiculada nas principais emissoras de rádio de Natal/RN. Dissertação [Mestrado. Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas - Universidade Federal do Rio Grande do Norte]. Natal: UFRN, 2009.

BRASIL. Resolução RDC nº 102, de 30 de novembro de 2000. Aprova o regulamento sobre propagandas, mensagens publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção ou comercialização de medicamentos de produção nacional ou importados, quaisquer que sejam as formas e meios de sua veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da programação normal das emissoras de rádio e televisão. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1º de dezembro de 2000.

BRASIL. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Aprova o regulamento sobre propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos de produção nacional ou estrangeira, quaisquer que sejam as formas e meios de sua veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da programação normal das emissoras de rádio e televisão. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de dezembro de 2008.

COSTA, R. K. B. Quem são os anunciantes na propaganda brasileira? Disponível em: <http://www.arcos.org.br/artigos/quem-sao-os-anunciantes-na-propaganda-brasileira/#topo >. Acesso em 13 nov. 2009.

Drska, M. Exclusivo RA: os 50 maiores anunciantes de Rádio em SP. 2007. Disponível em: http://www.radioagencia.com.br/noticia.php?noticia=16149&categoria=1. Acesso em 13 nov. 2009b.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas - Sinitox. Tabela 4. Casos Registrados de Intoxicação Humana, de Intoxicação Animal e de Solicitação de Informação por Agente Tóxico. Brasil, 2007. Disponível em: http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/media/tab04_brasil_2007.pdf. Acesso em: 17 nov. 2009.

Hamze, A. Avaliação como juízo de valor. Disponível em: <http://www.educador.b r a s i l e s c o l a . c o m / t r a b a l h o - d o c e n t e /avaliacaocomo-juizo-valor.htm >. Acesso em 13 nov. 2009.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Síntese de Indicadores 2006. Disponível em: http://w w w. i b g e . g o v. b r / h o m e / e s t a t i s t i c a /populacao/trabalhoerendimento/pnad2006/sintesepnad2006.pdf. Acesso em: 27 out. 2009.

ORIENTAÇÕES para pré e pós teste. http://www.go2itech.org/resources/ technical-implementation-guides/2.TIG_Pre_Pos_Teste_A4.pdf/view . Acesso em 13 nov. 2009.

OTTAWA. Charter for Health Promotion. 1st International Conference on Health Promotion Ottawa, Canada, 17-21 Nov. Disponível em: http://www.euro.who.int/AboutWHO/Policy/20010827_2 . Acesso em 13 nov. 2009.

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PROPAgANDA DE MEDICAMENtOS: UM DESAFIO PARA tODAS AS PROFISSÕES

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Alexandra Morais de Alexandri1; Aline Aparecida Foppa2; Ana Carolina Welter1; Célia Maria Teixeira de Campos3; Heloisa Pamplona Cunha1; Maria Leonor Santana Scherer4; Marina Raijche Mattozo Rover2;

Marlene Zannin5.

1-Acadêmicas de Farmácia. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

2-Farmacêuticas. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

3 - Professora Doutora. Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFSC).

4. Acadêmica de Letras. Departamento de Letras e Literaturas Vernáculas (UFSC).

5. Professora Doutora. Departamento de Toxicologia (UFSC).

RESUMO

As propagandas de medicamentos frequentemente são criadas sem levar em consideração os critérios científicos, divulgando somente os benefícios desse tipo de produto. A consequência disto é a influência negativa nas prescrições, o consumo indiscriminado e o aumento no número de intoxicações medicamentosas. Buscou-se ampliar o conhecimento dos profissionais de rádio e acadêmicos sobre a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária e a importância do uso racional de medicamentos, por meio da participação em uma webconferência sobre o tema. Os convidados foram os radialistas da grande Florianópolis. O assunto também foi apresentado no 3° Congresso Brasileiro sobre Uso Racional de Medicamentos. Para finalizar, foi realizado um minicurso na 8ª SEPEX. Em decorrência da participação pouco expressiva dos comunicadores de rádio, enviou-se um DVD com a webconferência para as principais rádios. Com os acadêmicos, tentou-se estimular a reflexão sobre a promoção comercial de medicamentos. Espera-se ter contribuído para a redução do número de inconformidades nos anúncios de produtos sob vigilância sanitária veiculados nas rádios locais e para a conscientização dos comunicadores e acadêmicos sobre os riscos à saúde relacionados à propaganda irregular. Sabe-se que este é um trabalho de longo prazo e que ações como essas devem ser executadas mesmo diante da dificuldade vivenciada.

INtRODUÇÃO

Propagandas são estratégias de marketing amplamente utilizadas nos diversos meios de comunicação (KOTLER & ARMSTRONG, 2005). No caso dos medicamentos, as propagandas têm como objetivo influenciar o público-alvo, por meio de ações que promovam e/ou induzam à prescrição, à dispensação, à aquisição e à utilização de medicamentos. Na maioria dos casos, as propagandas de medicamentos são desenvolvidas sem levar em consideração os critérios científicos, divulgando somente os benefícios e omitindo as informações relativas à segurança desses produtos (SOARES, 2008). Isso leva a um aumento do consumo indiscriminado de medicamentos por meio da automedicação e a um consequente aumento do número de intoxicações medicamentosas (ARRAIS et al., 1997; BORTOLETTO & BOCHNER, 1999).

A automedicação é a iniciativa do paciente, ou de seu responsável, de obter e utilizar um medicamento por conta e risco próprio, sem acompanhamento de um profissional responsável (BRASIL, 1998). Segundo Arrais (1997), a escolha de medicamentos é baseada, principalmente, na recomendação de pessoas leigas, sendo também relevante a influência de prescrições anteriores (ARRAIS et al., 1997). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) menciona dentre as causas da automedicação: a propaganda massiva de medicamentos; desespero causado por sintomas ou pela possibilidade de adquirir uma

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doença; falta de conhecimento sobre os efeitos adversos; tentativa de solucionar problemas de saúde sozinho; e ausência de orientação de um farmacêutico (BRASIL, 2007).

Os principais problemas decorrentes da automedicação são: uso de medicamento inadequado devido à falta de diagnóstico; uso de forma incorreta, pois cada patologia e cada pessoa requerem uma dose, uma frequência e um tempo de tratamento apropriados; intoxicações; alergias; interações; gastos desnecessários; resistência microbiana; e alívio de sintomas leves e passageiros, podendo mascarar doenças mais graves (BRASIL, 2007). Dessa forma, a automedicação se contrapõe ao conceito de uso racional de medicamentos, preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1986).

A intoxicação medicamentosa ocupa o primeiro lugar no ranking de intoxicações no Brasil, conforme estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), desde 1994 (BORTOLETTO & BOCHNER, 1999). Em 2006, 18% dos casos de mortes por intoxicações foram causados por medicamentos (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2006). Os calmantes, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são os medicamentos mais comumente relacionados aos casos de intoxicações (ALONZO & CORRÊA, 2001). Em 2006, o Sinitox consolidou a ocorrência de aproximadamente 113 mil casos de intoxicação humana. Deste total, os medicamentos corresponderam a 30,7% (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2006).

A regulação da propaganda de medicamentos no Brasil teve suas primeiras normas publicadas no âmbito da Lei nº 6.360 de 1976, regulamentada pelo Decreto nº 79.094 de 1977 (BRASIL, 1976; BRASIL, 1977). No ano 2000, a Anvisa publicou a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 102/2000, que atualiza e reafirma várias determinações legais já existentes. Na RDC nº 102/2000, destaca-se a exigência de constar, em português, de forma clara e precisa, a contraindicação principal do medicamento. Esta norma veda, na publicidade, a realização

de comparações que não estejam baseadas em informações comprovadas por estudos clínicos veiculados em publicações indexadas, e a prática de provocar temor, angústia ou sugerir que a saúde de uma pessoa será ou poderá ser afetada por não usar o medicamento. Proíbe a atribuição de propriedades curativas ao produto quando este é destinado apenas ao tratamento sintomático e ao controle de doenças crônicas (conforme registro na Anvisa). A publicidade também não pode sugerir ausência de efeitos colaterais ou adversos, ou utilizar expressões como: “’inócuo”’, “seguro” ou “’produto natural”’ (BRASIL, 2000).

Um estudo sobre propaganda de medicamentos realizado em Goiás, no ano de 2005, destaca que a maioria das propagandas se tratava de medicamentos de venda livre (88,63%). A mídia impressa foi identificada como a principal veiculadora de peças irregulares (81,06%), seguida pela televisão (14,40%) e pelo rádio (4,54%). Das 132 peças analisadas, foram constatadas diversas inconformidades com a legislação, com destaque para a ausência de informações sobre “cuidados e advertências” (FREITAS, et al., 2005).

Outro estudo feito com o foco na propaganda de medicamentos foi realizado em São Paulo. Nesse, foi verificado que 3,6% dos produtos veiculados nos anúncios analisados não eram registrados; 17,5% das campanhas publicitárias não apresentaram a principal contraindicação do medicamento; 15,5% do material analisado estimulavam e/ou induziam ao uso indiscriminado de medicamentos, cujo consumo exige prescrição médica; e que 38,5% das campanhas de vendas com receita médica não apresentavam o número do registro no Ministério da Saúde (LUCHESSI et al., 2005).

Estudos recentes demonstram existir uma significativa fragilidade no modelo de regulação da propaganda de medicamentos no Brasil (NASCIMENTO & SAYD, 2005; SOARES, 2008). Ao analisar 100 peças publicitárias de medicamentos e comparar o conteúdo desses anúncios (imagens, texto e indicações terapêuticas de cada produto) com as disposições

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exigidas pela legislação que regula a prática da propaganda farmacêutica, Nascimento e Sayd (2005) concluíram que todas as 100 peças infringem, pelo menos, um artigo da norma, sendo que a média por peça ultrapassa quatro infrações. A própria Anvisa afirma, após analisar 6.002 peças publicitárias, que mais de 90% das peças publicitárias de medicamentos apresentam informações irregulares, o que contribui para a desinformação de profissionais e consumidores (BRASIL, 2005).

Nesse sentido, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a participação das Vigilâncias Sanitárias do Estado de Santa Catarina e Secretaria Estadual de Educação, vem desenvolvendo o Projeto de Educação e Informação (Fase III) da Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO), cujo objetivo é estimular e apoiar ações estratégicas de educação e informação, de maneira a promover discussões sobre as propagandas de produtos sujeitos à vigilância sanitária, o uso racional de medicamentos e a alimentação saudável.

Assim, o presente artigo apresenta a discussão acerca da temática com comunicadores de rádio e acadêmicos como parte integrante desse projeto, com o intuito de ampliar o conhecimento sobre a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, as normas que regulamentam a divulgação destes, os problemas relacionados, bem como a importância do uso racional de medicamentos.

MAtERIAl E MÉtODOS

Uma webconferência foi o método escolhido para a realização da discussão acerca da temática, a fim de facilitar a participação dos comunicadores de rádio. A obtenção da relação das rádios da região da grande Florianópolis se deu por meio de contato com a Associação dos Radialistas. Posteriormente, foram encaminhados os convites para a participação da webconferência intitulada “Propaganda de medicamentos: um desafio para todas as

profissões”. Para a sua realização, contou-se com a colaboração de um representante da Anvisa, que abordou assuntos referentes à legislação que regulamenta a divulgação ou promoção comercial de produtos sujeitos à vigilância sanitária, incluindo a RDC nº 96/2008; e professores da UFSC, que apresentaram a influência da indústria na prescrição/ uso de medicamentos, e as consequências e estatísticas do uso indiscriminado desses produtos.

A webconferência sobre propaganda de medicamentos foi realizada na rede universitária de telemedicina do Hospital Universitário da UFSC, no dia 3 de junho de 2009, para comunicadores de rádio, publicitários, jornalistas e empresários de comunicação. A fim de atingir um número maior de comunicadores de rádio e despertar neles a discussão sobre a temática, também foi elaborada uma cartilha informativa com orientações e critérios sobre propaganda de medicamentos, sendo esta enviada por e-mail para as principais rádios de Florianópolis, juntamente com um DVD contendo o conteúdo da webconferência.

A experiência vivenciada foi levada ao “3° Congresso Brasileiro sobre Uso Racional de Medicamentos” na forma de apresentação de um pôster. Sabendo-se da importância de promover discussões multidisciplinares sobre o assunto, posteriormente foi ministrado um minicurso na “8ª Semana de Pesquisa e Extensão da UFSC (SEPEX)”, no dia 21 de outubro de 2009, intitulado “Informação sobre propaganda e uso racional de medicamentos”. O objetivo foi trazer o debate para graduandos de Jornalismo, Direito, Medicina, Farmácia entre outros sobre a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária no Brasil. O foco do evento foi o impacto social, econômico e a análise frente à legislação vigente da propaganda de medicamentos, seus riscos e perigos, e ainda, temas relacionados como a importância do uso racional de medicamentos.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

O papel da mídia extrapola a simples função de informar, ela tem o poder de influenciar a opinião

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pública e auxiliar no processo de educação da sociedade. Sabendo da abrangência do rádio, assim como do importante papel do radialista nessa relação de proximidade com o ouvinte, a Anvisa desenvolve este projeto de conscientização em parceria com universidades de todo o Brasil (BRASIL, 2008).

As informações discutidas na webconferência ressaltaram a importância da temática para os veículos de comunicação, pois, assim como as empresas anunciantes, as agências de publicidade e os comunicadores respondem legalmente em caso de infração sanitária referente à publicidade, propaganda e promoção de produtos sujeitos à vigilância sanitária. Além disso, é fundamental deixá-los cientes do risco à saúde para a população no que se refere às propagandas irregulares, muitas vezes incompletas, superestimando os possíveis benefícios, e desconsiderando o potencial de danos.

Sobre a participação na webconferência, verificou-se que foi pouco expressiva por parte dos comunicadores de rádio, apesar da demonstração de interesse verificada nas correspondências recebidas. Desta forma, foram enviados uma cartilha informativa e um DVD para as principais rádios de Florianópolis com o conteúdo abordado no evento. Os estudantes de jornalismo da UFSC que participaram do evento publicaram uma matéria sobre o assunto discutido no jornal ZERO (ano XXVII, número 3). O tema também foi apresentado na forma de pôster no “3° Congresso Brasileiro sobre Uso Racional de Medicamentos”, no mês de outubro, em Fortaleza..Para finalizar esta parte do projeto, foi realizado o minicurso na 8ª SEPEX, onde se inscreveram dez participantes sendo que, destes, oito compareceram, além da equipe participante do projeto. Com esta atividade, pudemos sensibilizar os acadêmicos sobre a importância do cumprimento das normas legais, apresentando os benefícios da propaganda realizada de forma ética e em acordo com a legislação, e, em contraposição, os riscos das propagandas que não respeitam os dispositivos legais. Nesse

sentido, tentou-se estimular a reflexão sobre a promoção comercial de produtos que estão diretamente ligados à saúde da população, e, através de exemplos citados pelos participantes, discutiu-se sobre as principais infrações observadas cotidianamente.

Conforme o exposto, percebe-se a necessidade desse trabalho de conscientização, uma vez que a fiscalização e a punição das irregularidades cometidas são realizadas a posteriori do acometimento da infração, quando a população já foi exposta a risco sanitário (NASCIMENTO & SAYD, 2005). Ainda segundo Nascimento (2005), a regulação da propaganda de medicamentos no Brasil incorpora algumas fragilidades que resultam no grande número de inconformidades observadas. Porém, ressalta que há saídas viáveis para a superação das deficiências verificadas hoje, como o estabelecimento de aprovação prévia das peças publicitárias, cumprindo, desta forma, a estratégica função de prevenir o risco a que a sociedade puder vir a ser exposta (NASCIMENTO, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com essa iniciativa, buscou-se contribuir para a redução do número de inconformidades nos anúncios de produtos sob vigilância sanitária veiculados nas rádios locais e conscientizar os comunicadores da importância de ter um senso crítico antes de anunciar uma propaganda relacionada a medicamentos. No ambiente acadêmico, buscou-se sensibilizar e envolver todo o meio na discussão da problemática.

Sabe-se, portanto, que esse é um trabalho de longo prazo, e que ações dessa natureza devem ser executadas mesmo diante da dificuldade vivenciada, trazendo os comunicadores para um diálogo acerca da temática.

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REFERêNCIAS

ALONZO, H. G. A. & CORRÊA, C. L. Analgésicos, antipiréticos e antiinflamatórios não esteroidais: dados epidemiológicos em seis centros de controle de intoxicações do Brasil. Revista Brasileira de Toxicologia, v.14, n.2, p. 49-54, 2001.

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BRASIL. Resolução RDC nº 102, de 30 de novembro de 2000. Aprova o Regulamento sobre propagandas, mensagens publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção ou comercialização de medicamentos de produção nacional ou importados, quaisquer que sejam as formas e meios de sua veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da programação normal das emissoras de rádio e televisão. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1 de dezembro de 2000.

BRASIL. Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976. Dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 de setembro de 1976.

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254 - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

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PUBlICIDADE DE MEDICAMENtOS NO RáDIO E O PERFIl DE INFORMAÇÃO DOS RADIAlIStAS

Universidade de Uberaba (UNIUBE)

Bruna Shellie Siqueira Leite 1 ; Dirce Sofia Fabbri de Almeida Verde dos Santos2.

1 - Graduanda, curso de Farmácia. Universidade de Uberaba – UNIUBE.

2 - Docente do curso de Farmácia. Universidade de Uberaba – UNIUBE.

RESUMO

Este trabalho reafirma o papel do rádio no cotidiano das pessoas; discorre sobre a importância da divulgação de informações corretas e de utilidade à população, por intermédio desse veículo; apresenta a provável relação entre a veiculação de propaganda de medicamentos pela radiodifusão e sua influência no uso indiscriminado desses produtos, pois, sua proximidade com o “ouvinte” pode estimular determinados comportamentos; e, por fim, traça o perfil de conhecimento dos comunicadores de rádio, identificando as informações que eles possuem sobre medicamentos e suas propagandas. Com este trabalho, confirma-se a hipótese de que o desconhecimento por parte dos radialistas sobre os riscos do uso indiscriminado de medicamentos é um dos fatores que contribui para a divulgação de informações inadequadas pela radiodifusão. Apresenta-se, também, a importância da realização de ações que promovam a conscientização desses profissionais em relação aos riscos do consumo inadequado de medicamentos, com base na influência da propaganda irregular.

INtRODUÇÃO

Diante da necessidade de informação e entretenimento, as pessoas buscam os meios de comunicação de massa, sendo que o rádio ocupa papel importante nesse contexto, destacando-se pelo seu grande alcance. Segundo pesquisa do Ibope (2008), o meio rádio alcança, no Brasil, 79% das pessoas. Isso representa cerca de 49 milhões de ouvintes.

Ferraretto (2007) afirma que o rádio possui uma audiência ampla, heterogênea e anônima. Sua mensagem é definida por uma média de gosto e tem, quando transmitida, baixo retorno, uma vez que o receptor não tem como responder, imediatamente, em sentido contrário.

A acessibilidade facilitada, bem como uma programação diversificada e envolvente, faz do rádio uma realidade cotidiana na vida de grande parte da população. De acordo com Ortriwano (1985), o rádio envolve o ouvinte e, ao mesmo tempo, desperta a sua imaginação por meio das palavras e dos recursos de sonoplastia utilizados, propiciando que as mensagens tenham nuances individuais, de acordo com as expectativas e o imaginário de cada um.

César (2005) ressalta que o rádio possui uma característica toda própria para converter, na mente do ouvinte, ideias, palavras e ações em imagens auditivas. Mediante o emprego de técnicas, podemos criar uma tela na mente da pessoa, levando-a a imaginar o sentido daquilo que queremos criar.

O fato de o rádio ser um meio de comunicação marcante e bastante difundido nas diversas camadas sociais faz com que esse veículo seja escolhido por muitos anunciantes na divulgação de produtos. Ortriwano (1985) diz que a publicidade subvenciona os meios de comunicação de massa e, assim, influencia os conteúdos apresentados, principalmente a informação. Na tentativa de salvaguardar sua dependência em relação aos governos,

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as empresas de comunicação acabaram atrelando-a aos anunciantes, sem dar-se conta desse fato.

Com o intuito de interagir o ouvinte com o conteúdo abordado, o profissional radialista pode utilizar de artifícios pessoais durante sua programação. Isso pode gerar no ouvinte uma necessidade de consumo. Temporão (1986) traz que

(...) uma das primeiras idéias que nos vêm à cabeça, ao falar sobre propaganda, é que esta cria permanentemente um novo perfil de necessidades,

que na realidade são fictícias, e que no fundo são necessidades imperiosas do capital em sua

expansão (TEMPORÃO, 1986).

Os medicamentos também são produtos divulgados pelo rádio. Divulgação esta que norteia a mente dos consumidores, fazendo com que o medicamento deixe de ser consumido de acordo com sua real finalidade e passe a ser utilizado indiscriminadamente, como um simples produto.

Nascimento (2005) diz que na tentativa de elevar o padrão de consumo dos medicamentos, a indústria farmacêutica – associada à rede de distribuidoras de medicamentos, às agências de publicidade e às poderosas empresas de mídia impressa e eletrônica – tem lançado mão de diferentes formas de propaganda, dirigidas tanto ao público leigo quanto aos profissionais de saúde.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define medicamento como um produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. Nesse sentido, é um produto que exige prescrição, indicação, orientação e acompanhamento de profissional habilitado (BRASIL, 2002).

Com a finalidade de diminuir os riscos de saúde inerentes à veiculação da propaganda inadequada de medicamentos, a Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e

de Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO) – área da Anvisa responsável pela monitoração e fiscalização de propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária – estimulou a elaboração de novos projetos por universidades brasileiras que já possuíam laboratórios do Projeto de Monitoração de Propaganda. Estes novos projetos deveriam contemplar ações estratégicas de educação e informação para profissionais que atuam no rádio, com o intuito de conscientizá-los sobre os riscos e as prováveis consequências da veiculação de propagandas de medicamentos inadequadas e incorretas.

O Projeto de Educação e Informação (2009) proposto pela Universidade de Uberaba (Uniube) desenvolveu um seminário direcionado aos profissionais radialistas da cidade, com o intuito de promover a discussão sobre a propaganda de medicamentos veiculada pelo rádio.

No decorrer do evento, foram apresentadas informações sobre medicamentos, uso racional de medicamentos e os riscos sanitários oferecidos por meio da sua utilização inadequada. Discutiu-se também sobre o poder de influência do rádio, seu papel social, bem como a legislação que regulamenta a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária.

OBJEtIvO

Este trabalho tem por objetivo realizar um delineamento do perfil de informações que apresentam profissionais radialistas sobre os medicamentos e suas propagandas.

MAtERIAS E MÉtODOS

Para a discussão com os radialistas sobre a propaganda de medicamentos, foi realizado um seminário onde se trabalharam temas como medicamentos; uso racional de medicamentos e os riscos oferecidos por meio da sua utilização inadequada; poder de influência do rádio e o seu papel social; bem como a legislação que regulamenta a propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária.

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Nesse mesmo evento, todos os profissionais radialistas presentes receberam no ato da inscrição um questionário para ser respondido e entregue antes do início das atividades. O instrumento apresentava questões com opções de respostas para serem assinaladas e questões discursivas.

Após o evento, foi realizada uma análise estatística dos resultados, por intermédio de banco de dados do programa Excel (Microsoft Office 97).

Dos resultados, digitados na planilha do programa, foi gerado um gráfico em porcentagem para cada pergunta fechada do questionário e procedeu-se a discussão e a análise desses resultados, que também foram trabalhados sob a perspectiva da pesquisa qualitativa.

De acordo com Minayo (1999), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações,

crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos, não os reduzindo a simples operacionalização de variáveis. Essa abordagem, de acordo com a mesma autora, permite-nos reconhecer os diferentes pontos de vista dos sujeitos do estudo e também que a realidade é mais complexa do que lhe é perceptível inicialmente.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

No seminário houve a participação de dez radialistas, sendo que todos responderam ao questionário.

Na questão 1, que perguntava ao radialista se ele já havia participado de algum curso, palestra, seminário, encontro ou outro evento que o informava sobre medicamento, 40% (quatro) responderam que nunca participaram de evento, enquanto 60% (seis) disseram que já participaram.

Figura 1: Gráfico da questão 1.

Ainda na questão 1, pediu-se para especificar o local do evento, caso já tivessem participado. Os entrevistados que já participaram (40%) citaram eventos promovidos pela Vigilância Sanitária Estadual, Vigilância Sanitária Municipal e Anvisa.

Na questão 2, foi pedido que assinalasse as frases que possuíssem informações sobre medicamentos, com as quais cada entrevistado concordaria. Cinco pessoas (50% do total) optaram pela opção 1, que dizia que medicamento é um produto técnico que tem

por finalidade o tratamento de doenças e que quando prescrito por profissional médico, não apresenta riscos para a saúde de quem o utiliza. Um entrevistado (10% do total) selecionou a opção 2, na qual dizia que medicamentos isentos de prescrição não causam efeitos colaterais, diferente dos medicamentos de prescrição. Dois radialistas (20% do total) escolheram a opção 3, que dizia que medicamentos fitoterápicos são menos perigosos, se comparados aos outros.

Duas pessoas (20% do total) marcaram a opção 4, nenhuma das alternativas.

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Na questão 3 foi simulada uma situação em que o radialista recebia a proposta de veicular uma peça publicitária de um produto com a finalidade curativa e preventiva. Perguntava-se ao radialista se ele teria a curiosidade de procurar outras informações sobre o produto, além das contidas no material de divulgação. Diante da situação, todos os entrevistados responderam que buscariam outras informações antes da divulgação.

Após o questionamento, perguntava-se ao profissional que buscava informações antes da divulgação, quais fontes ele utilizaria para a pesquisa.

Neste item surgiram as mais variadas respostas:

Pergunto a um médico ou enfermeira da vigilância. Não faço comercial de produtos milagrosos sem saber os efeitos.

Sites especializados no assunto, Secretaria de Saúde, profissionais de saúde.Nunca anunciei remédios apenas cosméticos. Se fosse o caso, entraria em contato com os órgãos competentes, por exemplo, a Anvisa.Anvisa.Site da Anvisa e do Ministério da Saúde.Na internet ou com profissionais capacitados do meio ou não.Procuro me informar com farmacêuticos, via internet. Caso já conheça o medicamento, vejo a bula para saber se as informações são coerentes.Produção.Sites Anvisa e através de outras ferramentas de pesquisa da internet. OBS: Esse cuidado, geralmente, cabe à equipe responsável pelo DP de Jornalismo. Infelizmente, muitas empresas não têm esse tipo de departamento. Neste caso, não custa ao profissional checar o conteúdo a ser veiculado.

Figura 2: Gráfico da questão 2.

Figura 3: Gráfico da questão 3.

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- No google, comparo, pergunto a profissionais de saúde.

Analisando-se os resultados obtidos, pôde-se observar que 40% dos profissionais entrevistados não haviam participado de evento informativo sobre medicamentos. Isso pode refletir a necessidade de esclarecimentos e troca de informações entre veículos de comunicação e órgãos governamentais responsáveis pelos produtos divulgados nas propagandas. Sendo assim, pressupõe-se que a falta de informações seja um fator relevante para a realização de propaganda inadequada de medicamentos.

Em relação ao conceito de medicamentos, foram elaboradas afirmativas que minimizavam os riscos da sua utilização ou traziam conceitos inadequados, com o intuito de confirmar a ideia inicial de que medicamentos não são identificados como produtos de risco à saúde. Oitenta por cento dos entrevistados assinalaram conceitos inadequados para medicamentos; 50% do total reconhecem esse produto como sendo tecnicamente obtido com a finalidade de tratar doenças, porém, aceitam a ideia de que, quando esse produto é prescrito por profissional médico, não apresenta riscos. Esta afirmativa não pode ser considerada correta, visto que os medicamentos, mesmo quando utilizados sob prescrição médica, podem apresentar efeitos colaterais nocivos à saúde do paciente.

A ideia de que a fitoterapia apresenta menos riscos quando comparada com outros tipos de medicamentos predomina em 30% dos entrevistados. Com isso, pode-se presumir que os profissionais acreditam na “falsa ideia” de que produtos naturais são menos perigosos e, por isso, podem ser usados sem maiores preocupações.

Do total de entrevistados, 10% assinalaram que medicamentos isentos de prescrição não causam efeitos colaterais, diferente dos medicamentos sob prescrição. Esse resultado reforça o desconhecimento desses profissionais sobre os riscos da utilização inadequada de medicamentos.

Quanto ao questionamento sobre a busca de informações antes de divulgar uma peça publicitária de medicamento em rádio, a resposta foi positiva, visto que todos os entrevistados reconhecem a importância da busca de informações antes da divulgação. Em contrapartida, quando foi perguntado sobre as fontes de pesquisa que eram mais utilizadas, verificou-se que essas são, em sua grande maioria, não confiáveis, inadequadas, ou sem credibilidade técnica. Foram obtidas, também, respostas subjetivas, o que pode ser indício de insegurança por parte dos entrevistados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos resultados obtidos com a aplicação dos questionários e as considerações apresentadas pelos radialistas durante o evento, fica evidente a necessidade de se estabelecer relações e proximidade entre órgãos que regulamentam a propaganda de medicamentos e os profissionais da radiodifusão para que aumentem o grau de informação no que se diz respeito à publicidade de medicamentos no rádio.

Esclarecer os profissionais sobre os riscos da utilização inadequada de medicamentos e do estímulo da propaganda para o seu consumo irracional é uma medida que deve ser considerada, visto que, a ausência de conhecimento pode permitir a divulgação de uma propaganda inadequada, enganosa e até abusiva, podendo gerar riscos para a saúde daquele que, influenciado pela propaganda, consome o produto.

É de fundamental importância que todos os profissionais envolvidos na radiodifusão sejam alertados sobre a necessidade de se informarem em fontes confiáveis antes da realização de qualquer propaganda, a fim de evitar irregularidades. Inclui-se entre esses profissionais os proprietários ou responsáveis pelas emissoras, uma vez que, em várias situações, eles são responsáveis pelos contratos de veiculação das propagandas que serão realizadas pelos funcionários da emissora em seu horário de trabalho.

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Ações de informação e conscientização como as que foram desenvolvidas nesse seminário podem despertar nos profissionais do rádio um olhar crítico frente à sua atividade de divulgar medicamentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária.

REFERêNCIAS

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A PROMOÇÃO DA SAÚDE PELAS ONDAS DO RÁDIO – SEMINÁRIO DIRECIONADO AOS RADIAlIStAS SOBRE A PROPAgANDA DE MEDICAMENtOS E SUA REgUlAMENtAÇÃO

Universidade de São Paulo (USP)

Fernando Luis Marcussi1; Michelle Moreira de Matos Pinto1; Renata Viegas Cardamoni2; Vivian Boschesi Barros3; Terezinha de Jesus Andreoli Pinto4.

1 - Graduandos do curso de Farmácia e Bioquímica (USP).

2 - Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda (USP).

3 - Graduanda do curso de Medicina. Universidade de São Paulo (USP).

4 - Professora Orientadora. Faculdade de Ciências Farmacêuticas (USP).

RESUMO

A publicidade de medicamentos por radiodifusão é importante desde o início da propaganda nessa mídia e mantém sua relevância até hoje. Muitos autores consideram que o rádio, assim como os outros meios de comunicação, pode agir estimulando o uso indiscriminado de medicamentos, notavelmente através da automedicação desenfreada. Isso ocorre não só pelo seu poder de influência, mas também pela veiculação de propagandas enganosas. Para proteger a população da exposição a esse tipo de publicidade, a Anvisa criou, em parceria com universidades brasileiras, o Projeto de Monitoração de Propaganda de Medicamentos e outros Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária. Em 2009, devido ao grande número de irregularidades detectadas nas monitorações, surgiu o Projeto de Educação e Informação, no qual se desenvolveu um seminário intitulado “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, com o objetivo de conscientizar um grupo de radialistas sobre a importância de se combater o marketing farmacêutico não ético.

INtRODUÇÃO

A publicidade de medicamentos no meio radiofônico é importante desde 1932, quando foi autorizado o início da propaganda nessa mídia (BUENO, 2008). As inserções, que de início consistiam na simples leitura de textos, foram se tornando mais dinâmicas e agressivas, com a incorporação de mensagens criativas, jingles

e até mesmo poesias, muitas vezes nas vozes de celebridades (BUENO, 2008; GOMES JUNIOR, 2000). Na década de 40, aproximadamente 60% da verba publicitária em circulação no Brasil eram destinadas a investimentos no rádio – sobretudo propagandas de fármacos. Em 1943, o pesquisador Cláudio Nogueira assinalava o papel determinante do rádio no sucesso de vendas de novos medicamentos e alertava para os frequentes anúncios de benefícios terapêuticos inexistentes (BUENO, 2008).

A importância desse tipo de propaganda teve incremento durante a era de ouro do rádio, entre os anos 40 e 50 (GOMES JUNIOR, 2000). Ele se tornava parte do cotidiano da população, com sua linguagem popular e a empatia estabelecida com o ouvinte (BRASIL, 2008). Com o fortalecimento da televisão, a partir da década de 60, houve queda das verbas destinadas à publicidade no rádio – a de medicamentos foi ainda substituída em parte pela dirigida diretamente aos médicos (BUENO, 2008).

Ainda hoje, entretanto, é enorme a penetração do marketing por meio da radiodifusão, considerando-se que seus custos são mais baixos que os do realizado na televisão (BALDO, 2004). Além disso, cerca de 90% da população, de todas as idades e faixas etárias, têm acesso à mídia radiofônica (GOMES JUNIOR, 2000). No Estado de São Paulo, se o anunciante divulgar a sua propaganda em todas as emissoras, atingirá 96% da população com mais de dez anos de

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idade (GOMES JUNIOR, 2000). Recentemente, houve também integração das rádios com a internet e com os aparelhos celulares, aumentando ainda mais o seu alcance.

É importante salientar que o rádio, como os outros meios de comunicação, exerce sobre a população poder e controle, e as peças publicitárias induzem a uma diminuição em sua autonomia. As propagandas de medicamentos nas diversas mídias foram em grande parte responsáveis pela transformação dos fármacos de necessidades de saúde em mercadorias de consumo, contribuindo para a alienação em relação aos processos saúde-doença (GARRAFA et al., 2007).

Além disso, muitas vezes o marketing farmacêutico, que é guiado por preceitos econômicos, atua de forma não ética, privilegiando a ampliação de lucros em detrimento da qualidade da informação veiculada (BRASIL, 2005). São criadas necessidades de saúde falsas, divulgam-se informações não comprovadas por publicações científicas, ou promete-se cura ou bem-estar sem considerar variáveis como prevenção e hábitos saudáveis. (BRASIL, 2006). Vários estudos indicam que isso pode gerar o uso irracional de medicamentos (BRASIL, 2005; BRASIL, 2006). A forma mais comum de a população praticar o uso inadequado de medicamentos é a automedicação indiscriminada. Esta ocasiona aumento dos riscos diretos e indiretos do consumo de fármacos (intoxicações, reações adversas, mascaramento de sintomas de doenças graves, resistência bacteriana), inibe condutas preventivas de saúde, e desvia recursos de áreas como moradia e educação, consistindo em um sério problema de saúde pública (GARRAFA et al., 2007).

Desse modo, o controle das propagandas de medicamentos é necessário para proteger a população do risco sanitário representado pelo consumo inadequado de fármacos, e é realizado na maioria dos países.

Já em 1968, durante a 21ª Assembléia Mundial da Saúde, a OMS aprovou os Critérios Éticos

e Científicos para a Propaganda Farmacêutica, salientando que a publicidade de medicamentos deveria veicular informações exatas e fidedignas, indicações, composição, efeitos terapêuticos e tóxicos, além de não difundir informações incompletas acerca do produto (BRASIL, 2005).

Embora o Estado nacional tenha empreendido tentativas de estabelecer diretrizes, desde 1931, e acompanhasse as discussões mundiais sobre o tema, a regulamentação no país somente se iniciou, de fato, com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1999. Esta instituição é responsável – dentre outras atribuições – pela monitoração e fiscalização das propagandas de medicamentos no Brasil, que atualmente é exercida pela Gerência Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária (GGPRO) (BRASIL, 2006). A regulamentação para o tema consta na Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 102/2000, que abrange todas as mídias, mas conta com recomendações específicas para cada uma delas.

Depois de algum tempo com iniciativas locais, em Brasília, o trabalho foi ampliado em 2002 com a criação do Projeto de Monitoração de Propaganda e Publicidade de Medicamentos, que depois passou a se chamar Projeto de Monitoração de Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, em parceria com diversas universidades brasileiras – em São Paulo, com a Universidade de São Paulo (USP). Ele tem como objetivo não só fiscalizar a publicidade abusiva e enganosa de medicamentos e outros itens sujeitos à vigilância sanitária, mas também realizar ações informativas com a população sobre questões relevantes à saúde coletiva. A utilidade desse tipo de atividade é abordada por diversos autores (ARRAIS et al., 1997; SHENKEL et al., 2005; NETO et al., 2006), que enfatizam a importância de programas educativos que possibilitem à coletividade um uso mais consciente de medicamentos e a prevenção de doenças.

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Nas três etapas já ocorridas do Projeto de Monitoração, realizadas de 2002 a 2008, foi possível traçar um perfil das características da publicidade de medicamentos em várias regiões do país e diversas empresas foram autuadas por propagandas com incorreções. Foram monitoradas peças publicitárias em farmácias, hospitais, consultórios médicos e em diversas mídias, como televisão, revistas e também rádios AM e FM.

O Projeto de Educação e Informação, também idealizado pela Anvisa, foi criado em 2009 e previa maior enfoque nas ações de educação. Os radialistas foram definidos como um dos públicos-alvo porque há grande taxa de irregularidades nas propagandas anunciadas nas rádios de São Paulo, e em razão da amplitude e influência da radiofonia. Tornou-se essencial, portanto, a conscientização desse grupo sobre a regulamentação vigente e a importância da ética nas propagandas de fármacos. Desse modo, foi desenvolvido um seminário denominado “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, do qual trata este artigo.

OBJEtIvO

O objetivo foi organizar um evento para um público composto por radialistas, com a finalidade de informar sobre assuntos relevantes relacionados à propaganda de medicamentos, mensurando o conhecimento adquirido durante as atividades. Além disso, foi enviado, após as atividades, material informativo contendo aspectos básicos sobre os riscos da publicidade irregular e os principais pontos da regulamentação vigente para ser utilizado como um guia rápido a respeito dos temas abordados.

MAtERIAIS E MÉtODOS

Foi prevista a realização de um seminário sobre propaganda de medicamentos em rádios na sede do Sindicato dos Radialistas do Estado de São Paulo, no dia 17 de outubro de 2009. Chamaram-se a participar cerca de 200 radialistas vinculados (comunicadores de rádio, redatores e pessoal envolvido diretamente ou

não na veiculação de material publicitário) através de convites enviados por mala direta juntamente com o Jornal do Sindicato. Além disso, a atividade foi anunciada no site da instituição.

Antes do início das atividades, foram entregues aos radialistas materiais enviados pela Anvisa: um guia de orientações para comunicadores de rádio: “Nas ondas do rádio: orientações e dicas para comunicadores de rádio sobre a propaganda de medicamentos”, além de um caderno e uma caneta para auxiliarem durante as palestras.

As atividades planejadas foram as seguintes:

• Apresentação – Profª Dra. Nádia A. B. Chacra.

• Palestra sobre os projetos da Anvisa – Dra. Maria José D. Fagundes (Gerente Geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda da Anvisa).

• Distribuição e preenchimento dos questionários da pesquisa para avaliação de conhecimentos.

• Palestra sobre Propaganda de Medicamentos no Rádio - Fernando L. Marcussi (graduando em Farmácia-Bioquímica).

Foram abordados os seguintes assuntos:

• Vigilância sanitária e funções da Anvisa.• A monitoração da propaganda de produtos

sujeitos à vigilância sanitária. • Projeto de Monitoração de Propaganda e

resultados da Fase III.• Histórico da propaganda de medicamentos

no rádio.• Uso racional de medicamentos e vídeo

institucional da Anvisa “Drogaria não é supermercado”.

• Consequências da propaganda de medicamentos em desacordo com a regulamentação: Vídeo institucional da Anvisa “Quando a esmola é demais”.

• O que a rádio deve saber e ter à disposição do ouvinte antes de divulgar uma propaganda e quem será punido em caso de irregularidade.

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• Regulação da Propaganda de Medicamentos: RDC nº 96 e a antiga RDC nº 102.

• Tópicos importantes da RDC nº 96 que se aplicam ao rádio. Também foram utilizados exemplos de propagandas impressas e jingles para melhor entendimento.

• Apontamentos sobre propaganda de alimentos.

• Como encaminhar sugestões, dúvidas e denúncias para a Anvisa.

• Debate sobre erros em vídeos selecionados de propagandas.

• Espaço para esclarecimento de dúvidas dos participantes.

• Distribuição e preenchimento dos novos questionários da pesquisa para avaliação de conhecimentos.

A pesquisa teve como objetivo avaliar o conhecimento adquirido durante as atividades, sendo de preenchimento facultativo. Duas cópias iguais, com quatro páginas, identificadas apenas por números, deveriam ser respondidas, respectivamente, antes e depois da palestra. O conteúdo abrangia o conhecimento sobre a RDC nº 96/08 e opinião pessoal sobre a propaganda de medicamentos.

Para participar do estudo, o indivíduo deveria ser maior de 18 anos e trabalhador de emissora de rádio. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Todos os respondentes deveriam consentir com a participação através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi explicado oralmente e por escrito.

RESUltADOS E DISCUSSÃO

O evento contou com 31 participantes radialistas, e todos concordaram em participar das avaliações de conhecimento; no entanto, muitos não pareciam motivados a preenchê-la adequadamente.

Durante a palestra, notou-se que a maioria dos participantes se mostrou atenta e interessada, tanto que diversas vezes o palestrante foi solicitado a esclarecer dúvidas. Os principais

questionamentos diziam respeito a tópicos da RDC nº 96, como o que proíbe a participação de figuras célebres em propagandas, afirmando que usam determinado medicamento. Muitos faziam anotações ou sublinhavam a cartilha “Nas Ondas do Rádio”. Acredita-se que a colaboração de Maria José Delgado Fagundes, GGPRO/Anvisa, importante autoridade, valorizou o evento e causou grande interesse nos radialistas.

No debate surgiram diversos comentários interessantes, sendo os principais: a dificuldade de verificar se todas as propagandas veiculadas são adequadas; a não viabilidade de aplicar punições penais nas rádios que divulgarem propagandas em desacordo com a regulamentação; e a pouca influência que os trabalhadores das rádios, sejam locutores, editores ou outros, têm sobre o que será anunciado. Houve diversos participantes empolgados que, inclusive, utilizavam tópicos das palestras em suas colocações.

Pesquisa de avaliação de conhecimentos

a )Perguntas de opiniãoNas perguntas de opinião, não existem dados relevantes para uma análise estatística. Contudo, cabem algumas observações. Antes da apresentação, todos os presentes no evento julgavam a população geral como não sendo apta a compreender e interpretar corretamente as informações contidas numa propaganda de medicamentos voltada a este público. Apesar disso, 64% dos respondentes declararam-se a favor da veiculação deste tipo de propaganda para o público geral. Após a apresentação realizada, 96% dos respondentes ainda achavam a população não apta, contudo, a parcela dos que eram a favor da veiculação caiu para 58%. Nota-se certa contradição na análise destas informações, que pode decorrer do viés de a propaganda ser uma das formas de sustentação financeira das emissoras.

b) Perguntas gerais sobre a propaganda de medicamentosNas perguntas gerais, os índices de acerto antes (93%) e depois (95%) da atividade

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educativa foram bastante elevados. O resultado positivo pode ser explicado pela experiência profissional dos indivíduos e pela não exigência de conhecimentos técnicos.

c) Perguntas específicas sobre a regulamentaçãoEsta seção foi considerada a mais marcante para os radialistas, pois foram informados durante a palestra que descumprimentos à regulamentação tornariam as rádios passíveis de punição. Esperava-se, então, que a apresentação elevasse significativamente o percentual de respostas corretas. Contudo, não foi permitido identificar um aumento do percentual de acertos global – houve questões onde ocorreu aumento significativo (1, 8, 12, 14), mas existiram outras onde se observa uma redução também importante (3, 9, 11 e 13) e outras em que não houve diferença notável.

Os dados obtidos trazem dúvidas sobre o sucesso da atividade desenvolvida com os radialistas, ou então quanto à eficiência do método de avaliação utilizado.

Acredita-se que o maior problema se deu durante as avaliações, já que a expressão e o comportamento de grande parte dos radialistas durante as palestras e o debate pareciam demonstrar grande aproveitamento.

Desse modo, podem ser citados alguns fatores que prejudicaram o preenchimento adequado dos questionários: questões motivacionais; incompatibilidade da linguagem utilizada com o nível de entendimento dos respondentes; excesso de questões e de páginas, tornando-os densos e trabalhosos demais; presença de muitas perguntas com nível de dificuldade avançado; duração exagerada das atividades, tornando cansativo o preenchimento do segundo formulário; entre outros.

Deve-se considerar também que a maioria dos indivíduos avaliados nunca havia recebido conhecimento formal sobre regulamentação sanitária e que os tópicos da RDC nº 96 oferecem certa dificuldade, mesmo a entendedores do assunto.

Cabe acrescentar que a educação em saúde não deve depender apenas de iniciativas pontuais, mas depende de um contato constante e sistemático dos indivíduos com esse assunto (IEVORLINO, 2000). Assim, novas ações educativas podem exercer efeito significativo na percepção da propaganda de medicamentos pelos profissionais radialistas, de modo que eles passem a se constituir agentes promotores da saúde, por meio da divulgação de hábitos saudáveis e do aconselhamento sobre o uso racional de medicamentos.

Cartilha “A Promoção da Saúde Pelas Ondas do Rádio”

Foi desenvolvida e enviada por mala direta a todos os convidados a participar do seminário uma cartilha de orientações chamada “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, contendo os principais pontos abordados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos foram consideráveis em razão do interesse manifestado pelos radialistas participantes e pelo debate suscitado a respeito de Uso Racional de Medicamentos e sobre marketing farmacêutico no rádio – sobretudo considerando-se que esta é uma iniciativa pioneira com este público-alvo.

RESPONSABIlIDADES DOS AUtORES

Os autores trabalharam juntos em todas as etapas de produção do manuscrito. O artigo é inédito. O projeto do qual trata foi financiado pela Organização Pan-Americana de Saúde e não há conflito de interesse de ordem pessoal, comercial, acadêmica, política e financeira. A pesquisa com seres humanos foi aprovada no Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e possui CAAE: 0031.018.000-09.

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REFERêNCIAS

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BALDO, R. O rádio no contexto da Propaganda Nacional. In: II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, 2004, Florianópolis. CD de Anais, Florianópolis, 2004. Disponível em: <http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1303.html>. Acesso em: 10 set. de 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nas ondas do rádio: orientações e dicas para comunicadores de rádio sobre a propaganda de medicamentos. Brasília: Anvisa, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Estudo Comparado Regulamentação da Propaganda de Medicamentos. Brasília: Anvisa, 2005. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/propaganda/estudo_comparado.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2009.BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Relatório dos Seminários Regionais e Nacional sobre Propaganda e Uso Racional de Medicamentos. Brasília: Anvisa, 2006. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/propaganda/relatorios/relatorio_geral_ seminarios_prop_usoracional.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2009.

BUENO, E. Vendendo saúde: a história da propaganda de medicamentos no Brasil. Brasília: Anvisa, 2008. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/propaganda/vendendo_saude.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2009.

GARRAFA, V.; MELLO, D. R.; PORTO, D. Bioética e Vigilância Sanitária. Brasília: ANVISA, 2007. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/propaganda/bioetica_vigilancia_sanitaria.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2009.

GOMES JUNIOR, J. A publicidade no rádio: origem e evolução. In: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, 2000, São Paulo. Anais Eletrônicos, São Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/6946409/artigo-A-publicidade-no-radio-origem-e-evolucao>. Acesso em: 12 set. 2009.

IERVOLINO, S. A. Escola promotora de Saúde: um projeto de qualidade de vida. 2000. Dissertação [Mestrado em Saúde Pública. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública. São Paulo]. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6135/tde-01072006-211720/>. Acesso em: 1 dez. 2009.

NETO, J. A. C; SIRIMARCO, M. T.; CHOI, C. M. K. et al. Automedicação entre Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora. HU Revista, v. 32, n. 3, p.59 – 64, 2006. Disponível em: <http://www.seer.ufjf.br/index.php/hurevista/article/ viewFile/18/13> . Acesso em: 1 dez. 2009.

SCHENKEL, E. P.; FERNÁNDES, L. C.; MENGUE, S.S. Como são armazenados os medicamentos nos domicílios? Acta Farmacêutica Bonaerense, v. 24, n. 2, p. 266 – 270, 2005. Disponível em: <http://www.latamjpharm.org/trabajos/24/2/LAJOP_24_2_5_2_D695807SJ6.pdf>. Acesso 14 dez. 2009.representa cerca de 49 milhões de ouvintes.

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PARtE 3PERSPECtIvAS E DESAFIOS

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PROJEtO DE EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO: PERSPECtIvAS E DESAFIOS

Agência Nacional de vigilância Sanitária - gerência geral de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda (ggPRO)

O Projeto de Educação e Informação compôs o conjunto de projetos relacionados às ações de monitoração e fiscalização de propaganda de medicamentos e demais produtos sob o controle da vigilância sanitária, desenvolvidas desde 2002, em parceria com instituições de ensino superior de todo o Brasil.

A iniciativa foi resultado de uma ação de incentivo ao desenvolvimento de atividades educativas em saúde direcionada a públicos diversos, como docentes, profissionais das Vigilâncias Sanitárias locais (Visa) e estudantes de ensino fundamental e médio, além de difusão de informações sobre as normas que regulamentam a propaganda de medicamentos para os comunicadores de rádio.

Da perspectiva da promoção da saúde, o projeto se dedicou a trabalhar temas como o uso racional de medicamentos, os riscos da automedicação, a importância da alimentação saudável e a influência da propaganda nos hábitos de consumo de alimentos industrializados, medicamentos e outros produtos para a saúde, tanto no interior das escolas no âmbito da comunidade escolar quanto para os profissionais do rádio, potenciais formadores de opinião, com grande alcance de audiência.

O Projeto Educação e Informação contou com a participação de 100 acadêmicos, envolvendo grupos de estudantes de 16 universidades e de diversos cursos, tais como Farmácia, Medicina, Nutrição, Direito e Comunicação Social. Mediante a coordenação de docentes responsáveis pelo Projeto nas instituições parceiras, as experiências foram todas registradas, em forma de textos acadêmicos,

dando origem a artigos e relatos de experiências que fazem parte da presente publicação.

A partir das atividades lúdicas e educativas promovidas pelo Projeto, cerca de 3.000 alunos de escolas públicas foram conscientizados sobre a prática de hábitos saudáveis e cuidados com o uso de medicamentos. Para apoiar essas atividades, as universidades reproduziram e distribuíram aos alunos mais de 10 mil exemplares de materiais educativos que apresentaram orientações trabalhadas com a comunidade escolar. As ações desenvolvidas foram registradas em 46 artigos acadêmicos e divulgadas pelas instituições em diversos eventos científicos.

Quanto aos resultados obtidos com o processo de educação em saúde, buscou-se consolidar as análises feitas pelos autores, conforme apresentado a seguir, na tentativa de identificar os desafios que se impõem para o projeto como um todo, além de visualizar possibilidades para o fortalecimento da relação entre a vigilância sanitária e a academia, no sentido de proteção dos direitos da sociedade brasileira.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS AÇÕES EDUCAtIvAS RElAtADAS NOS ARtIgOS

O trabalho teve por objetivo realizar uma avaliação inicial sobre a percepção e as atitudes de alunos, pais e professores de séries de ensino fundamental e médio, frente aos medicamentos e demais produtos sujeitos à vigilância sanitária e à influência da publicidade no consumo.

A diversidade das atividades realizadas ofereceram subsídios para trabalhar diretamente com esses indivíduos, estabelecendo estratégias

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específicas para ações de educação nas escolas a respeito de temas que envolvem a promoção da saúde, o uso racional de medicamentos e a alimentação saudável, e como estes temas são enfocados no projeto pedagógico da escola.

• Os professores das escolas participantes do projeto atuaram como potenciais multiplicadores do conhecimento sobre saúde, em especial de vigilância sanitária, tais como: uso racional de medicamentos; riscos da automedicação; influência das propagandas enganosas de medicamentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária e importância da adoção de hábitos saudáveis de vida, como a alimentação equilibrada, por exemplo, em busca da melhor qualidade de vida.

• Os alunos foram receptivos e participantes ativos nesse processo de educação em saúde, tanto dentro quanto fora da escola; contribuindo para o alcance do objetivo do trabalho e despertando a consciência crítica frente ao estímulo publicitário para o consumo excessivo de medicamentos e alimentos industrializados e aos possíveis riscos oriundos dessa prática.

• A participação de pais de alunos em atividades foi importante, pois como responsáveis podem influenciar positivamente na adoção de hábitos saudáveis de vida em família. Percebeu-se que houve apropriação dos conhecimentos disseminados e que os pais entenderam a necessidade de ter acesso a informações precisas e adequadas, para melhor orientar seus filhos quanto aos perigos do uso inadequado e indiscriminado de medicamentos.

• As mudanças nos hábitos alimentares dos alunos foram significativas, demonstrando o surgimento de um olhar mais crítico e reflexivo sobre as propagandas de alimentos e medicamentos.

• As discussões relacionadas a hábitos alimentares saudáveis foram importantes ferramentas de intervenção para o empoderamento das crianças frente a sua vulnerabilidade em relação ao marketing e ao estímulo ao consumo. Trata-se também de uma forma de empoderamento da sociedade, pois esse saber pode e deve ser levado para o cotidiano das famílias e comunidades.

• As ações de cunho educativo, realizadas no ambiente escolar, têm um grande potencial para provocar mudanças nos modos de vida, contribuindo, sobretudo, para a promoção da saúde individual e coletiva e para a transformação da sociedade.

• A utilização de ferramentas lúdicas foi proveitosa para o aprendizado das crianças em temas voltados a saúde.

• Na maioria das experiências a vigilância sanitária foi reconhecida como importante e como uma prática capaz de promover a proteção e melhoria da qualidade de vida e saúde da população.

• Os dados da pesquisa demonstraram a necessidade de reforço em determinadas áreas do conhecimento avaliado.

Conclui-se, portanto, que o conhecimento em saúde, em especial em vigilância sanitária, pode ser traduzido em ações concretas e efetivas ferramentas educativas, incorporadas de forma transversal e contínua em todo o processo de formação dos estudantes, com conteúdos e abrangência de complexidade crescente, metodologias ativas e em sucessivas aproximações.

Nesse sentido, a escola é considerada um espaço social propício para o desenvolvimento de hábitos saudáveis, promovendo a valorização da saúde, o discernimento e a participação em decisões relativas à saúde individual e coletiva.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE AS AÇÕES INFORMAtIvAS RElAtADAS NOS ARtIgOS

Para atingir os radialistas foi proposta a realização do seminário “A Promoção da Saúde pelas Ondas do Rádio”, com o principal objetivo de discutir a importância da integração entre profissionais da saúde e de comunicação na construção do conhecimento sobre saúde, bem como da legislação sobre propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, em especial de alimentos e de medicamentos, para preservação da saúde pública. Desse modo, a atividade propunha que os profissionais de comunicação fossem conscientizados e, sempre que possível, evitassem realizar propagandas de alimentos e de medicamentos de forma inadequada em seu ambiente de trabalho, no caso, as rádios.

Cada universidade definiu o planejamento do evento de acordo com as orientações da Anvisa, realizando divulgação para alcançar o público-alvo da ação. Entretanto, como não houve retorno expressivo dos profissionais, apesar do intenso trabalho de divulgação do evento, a opção foi estender o alcance do evento para o público universitário relacionado às áreas de Comunicação Social e de Nutrição.

• A baixa adesão desses comunicadores comprometeu o alcance do objetivo central do seminário “A Promoção da Saúde nas Ondas do Rádio”, apontando a necessidade de se realizar mais eventos com a mesma ou maior magnitude, buscando a conscientização e educação continuada dos profissionais dessa área de atuação.

• Foi observado que a falta de conhecimento dos radialistas sobre a regulamentação da propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária oportuniza o descumprimento das normas relacionadas à publicidade desses produtos.

• A perpetuação de um quadro inadmissível de descumprimento das normas reguladoras

relativas à publicidade de medicamentos e de desrespeito ao público configura uma prática abusiva, submetendo a população a risco sanitário permanente.

• Além de atuar na conscientização e educação dos profissionais de rádio sobre os riscos das propagandas, sensibilizando os proprietários das emissoras e a própria população, novas estratégias precisam ser pensadas para trabalhar o segmento da comunicação no Brasil.

• A discussão centrada no papel do rádio na promoção da saúde faz-se imperativa, integrando os profissionais da saúde e os de comunicação, com vistas à correta disseminação de informações sobre saúde, bem como o cumprimento da legislação sobre propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, em especial de alimentos e de medicamentos.

• Destacou-se que a internet pode ser uma grande aliada na estratégia de aproximação com um segmento da sociedade que trabalha exatamente com a comunicação.

O objetivo central da ação não foi alcançado a contento devido à baixa adesão dos radialistas e dos proprietários das rádios aos seminários. Esse aparente descaso reforçou a ideia de que, para se conquistar esse público, faz-se necessário um esforço conjunto no sentido de pensar estratégias de aproximação mais efetivas, considerando que esses profissionais são fundamentais na transmissão de informações com qualidade para a população.

Porém, por outro lado, a intervenção educacional por meio do seminário teve impacto positivo. Os relatos dão conta que a mudança na condução dos trabalhos, estendendo o convite aos estudantes de várias áreas do conhecimento, em especial os de Comunicação Social, do setor regulado e demais participantes interessados pelo tema, possibilitou a construção e a integração de saberes em vigilância sanitária.

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As conclusões sobre o seminário reforçam a necessidade de aprofundar a discussão sobre a propaganda irregular de medicamentos e de outros produtos sujeitos à vigilância sanitária, sobretudo entre os profissionais de comunicação e dirigentes de veículos. Faz-se imperioso abrir espaços para o diálogo sobre a temática da saúde, em que pese a promoção da saúde como eixo principal, destacando o importante papel dessa categoria na melhoria das condições de vida e saúde da população, mediante o “empréstimo” de sua voz, sua imagem e sua opinião.

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