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CONTINUAR EM ESPANHA É A NOSSA RUÍNA Conquistar “pam, trabalho e teito” só é possível com a independência Cumpre-se o 36º aniversário do início do regime constitucional que naceu da voadura controlada da ditadura militar. 36 anos é tempo suficiente para avaliar a bondade ou maldade dum sistema sócio- económico e político e, no caso da Galiza, este balanço do regime que sucedeu ao fascismo só pode ser abertamente negativo para o país e para a maioria social. Assim, junto à expansom do clientelismo e a corrupçom, que som práticas tradicionais da oligarquia espanhola, dos sucessivos sistemas políticos que impulsiona e da sua concreçom na Galiza, o regime espanhol da Transición patuado por PSOE e PCE perpetuou a emigraçom e o desemprego; deteriorou e privatizou os serviços sociais; reduziu os salários e degradou as condiçons de trabalho, alargando a jornada laboral e a sinistralidade, arrasando os direitos e estendendo a precariedade; aprofundou a deterioraçom ambiental e paisagística da nossa Terra e o espólio dos nossos recursos florestais, energéticos e mineiros; liquidou o tecido produtivo agrário e marinheiro, abocando milhares de galegos e galegas ao êxodo forçado e a miséria; generalizou a doença psicossocial da depressom, fazendo do seu tratamento um novíssimo nicho de negócio; avançou na estratégia histórica de liquidaçom da língua e a cultura desta naçom, colocando o Galego na condiçom de língua minorizada; gerou um desastre demográfico de dimensons colossais; expandiu a pobreza até o ponto de comarcas inteiras da Galiza terem a pensom dumha velha ou um velho como principal fonte de ingressos; institucionalizou a corrupçom como expressom mais nítida do regime na Galiza, à vez que readaptou as funçons do caciquismo tradicional; amplificou a controlo social e a repressom, etc., etc. A listagem é extensa. O balanço do regime pós franquista que hoje, alguns, chamam democracia é abertamente negativo para a Galiza. Hoje, segundo as últimas análises da rede hidrográfica galega, os rios deste país, como mais umha expressom deste povo doente e violentado, transportam nas suas águas traços de anti-depressivos, ansiolíticos e tranquilizantes em níveis que as inabilitam para o consumo humano. Som um moderno sintoma do que provocou esta mestura de colonialismo e agudizaçom da exploraçom sob a cobertura da democracia espanhola. O balanço é, pois, claro, e compartilham- o milhares de homes e mulheres galegas, assim como os movimentos populares que combatem o atual estado de cousas desde a setorialidade de cada luita. Precisamos umha estratégia comum No entanto, esta coincidência genérica na análise do que acontece altera-se quando se trata de definir umha estratégia ou folha de rota comum para superar este presente de miséria e exploraçom que nos oferece como

Brochura repartida nas Marchas da Dignidade 29N. Causa Galiza

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Cumpre-se o 36º aniversário do início do regime constitucional que naceu da voadura controlada da ditadura militar. 36 anos é tempo suficiente para avaliar a bondade ou maldade dum sistema sócio-económico e político e, no caso da Galiza, este balanço do regime que sucedeu ao fascismo só pode ser abertamente negativo para o país e para a maioria social.

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CONTINUAR EM ESPANHA É A NOSSA RUÍNAConquistar “pam, trabalho e teito”

só é possível com a independência Cumpre-se o 36º aniversário do início doregime constitucional que naceu davoadura controlada da ditadura militar. 36anos é tempo suficiente para avaliar abondade ou maldade dum sistema sócio-económico e político e, no caso da Galiza,este balanço do regime que sucedeu aofascismo só pode ser abertamentenegativo para o país e para a maioriasocial.

Assim, junto à expansom do clientelismoe a corrupçom, que som práticastradicionais da oligarquia espanhola, dossucessivos sistemas políticos queimpulsiona e da sua concreçom na Galiza,o regime espanhol da Transición patuadopor PSOE e PCE perpetuou a emigraçom eo desemprego; deteriorou e privatizou osserviços sociais; reduziu os salários edegradou as condiçons de trabalho,alargando a jornada laboral e asinistralidade, arrasando os direitos eestendendo a precariedade; aprofundou adeterioraçom ambiental e paisagística danossa Terra e o espólio dos nossosrecursos florestais, energéticos emineiros; liquidou o tecido produtivoagrário e marinheiro, abocando milharesde galegos e galegas ao êxodo forçado e amiséria; generalizou a doença psicossocialda depressom, fazendo do seu tratamentoum novíssimo nicho de negócio; avançouna estratégia histórica de liquidaçom dalíngua e a cultura desta naçom, colocandoo Galego na condiçom de línguaminorizada; gerou um desastredemográfico de dimensons colossais;expandiu a pobreza até o ponto decomarcas inteiras da Galiza terem apensom dumha velha ou um velho comoprincipal fonte de ingressos;institucionalizou a corrupçom comoexpressom mais nítida do regime naGaliza, à vez que readaptou as funçons docaciquismo tradicional; amplificou a

controlo social e a repressom, etc., etc. Alistagem é extensa. O balanço do regimepós franquista que hoje, alguns, chamamdemocracia é abertamente negativo paraa Galiza.

Hoje, segundo as últimas análises darede hidrográfica galega, os rios destepaís, como mais umha expressom destepovo doente e violentado, transportamnas suas águas traços de anti-depressivos,ansiolíticos e tranquilizantes em níveisque as inabilitam para o consumohumano. Som um moderno sintoma doque provocou esta mestura decolonialismo e agudizaçom da exploraçomsob a cobertura da democracia espanhola.

O balanço é, pois, claro, e compartilham-o milhares de homes e mulheres galegas,assim como os movimentos populares quecombatem o atual estado de cousas desdea setorialidade de cada luita.

Precisamos umha estratégia comum

No entanto, esta coincidência genéricana análise do que acontece altera-sequando se trata de definir umhaestratégia ou folha de rota comum parasuperar este presente de miséria eexploraçom que nos oferece como

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alternativa a oligarquia que rege osdestinos do Estado espanhol.

Há umha coincidência geral no rechaço do regime, mas umha extrema confusom sobre a estratégia para superá-lo

Aqui, o desnorte, a atomizaçom dasforças e a conflituosidade interna quearrasta a prática totalidade dosmovimentos sociais e políticos quepretendem mudar este estado de cousasimpom o seu critério paralisante. O únicobeneficiário desta desorientaçom geral éo próprio sistema, que evita assimencontrar à sua frente um movimento demassa capaz de colocá-lo à defensiva efazer que tanta raiva e indignaçom seconvirtam numha força efetiva.

A soluçom hoje está fora do quadro constitucional

Aqui e agora, existe quem nos sugire quea participaçom eleitoral é a via paramudar a realidade, e as principais cadeiasde TV do Estado, que som controladaspola Banca espanhola e internacional, jáindicam com absoluta claridade emhorários de máxima audiência quais somas novas opçons que deveremos validarpor via eleitoral ante a provável implosomdo bipartidismo.

Sentemos como premissa para qualquerabordagem séria da questom o facto deque os históricos problemas sócio-económicos e ambientais que padece aGaliza, que nom som novos, como odesemprego estrutural, a emigraçom, ossalários, pensons e prestaçons médiasinferiores às da classe trabalhadoraespanhola, o espólio do nosso território,etc., som irresolúveis no quadro jurídico-político de 1978. Esta premissa define alinha vermelha que afasta quempretendem mudar desde a raiz a realidadedeste país dos que despontam comofuturos gestores deste regime.

Por que? Porque as instituiçons políticasexistentes na Galiza, que som filhasdumha Constituiçom e um Estatuto deAutonomía aos que este povo deu ascostas no seu dia, carecem da mínimacapacidade de decisom necessária paraimplementar as políticas que precisa comurgência a maioria social galega. Hoje,este povo nom tem os instrumentospolíticos e institucionais de decisom que,hegemonizados por setores populares ede esquerda real, pudessem mudar oatual estado de cousas dum modosignificativo ou, quando menos, levantarum encoro de contençom minimamentedigno à voracidade homicida do Capital.

Assim, pois, quando a esquerdaespanhola que pactuou a Transición, asmarés cidadás que se organizam nasprincipais cidades sob a tutelagem de IU,Podemos ou Anova, ou esse nacionalismoque permanentemente duvida entre o serou nom ser, nos convidam a “votar” paramudar a realidade, só podemos contestar-lhes com umha resposta: por si só, o votoé incapaz de transformar nada. Limitar umprocesso de transformaçom ao atoeleitoral é tanto como negá-lo. É mais:num regime colonial como o queinstalárom na Galiza, com instituiçonspolíticas sem poder, essa via é umhafraude que apontoa o regime, alarga osefeitos negativos do sistema e garante afrustraçom futura de quem luitam.

Necessitamos fender a colonizaçome constituir o nosso próprio Estadoo

Qualquer expetativa de transformaçomda sociedade galega que pretenda superareste presente de exploraçom e miséria

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que nos imponhem Madrid e Bruxelasparte pois de abordar duas premissasinseparáveis: primeira, superar ocomplexo do colonizado que lastra o povogalego e o eiva para executar um processode transformaçom nacional e social. Ospovos que nom recuperam a sua auto-estima som impotentes para afrontar asexigências que imponhem os processos demudança social e, aqui, exprime-se emtoda a sua extensom a importánciaestratégica disso que, com um certodespreço e umha ridícula superioridademoral, a progressia hispana identificacomo a questom identitária.

Por outra parte, a possibilidade de osgalegos e galegas termos condiçons devida dignas está totalmente ligada aodireito a decidir sobre nós e sobre oterritório, recursos e políticas, isto é,liberarmo-nos do diktat de Madrid eBruxelas, de Espanha, a UE e a Eurozona,exercer o direito de autodeterminaçom einiciar um processo sem retorno face aindependência e a construçom dumEstado ao serviço da maioria social. Umcaminho que, agora, em plena crise dosistema económico mundial, cobravigência em Europa Ocidental comEscócia, Flandres, Euskal Herria,Sardenha, Catalunya, Córsega, etc. Som jámuitos os povos que adivinham que ajustiça social só pode vir através darecuperaçom da sua soberania política.

Hoje, num mundo que está governadopor organismos políticos, económicos,militares e financeiros internacionais, ospovos que carecem de poder políticoestatal estám condenados à indefensom e

a ser moeda de cámbio em maos deinteresses oligárquicos infinitamente maisfortes e organizados. Neste contexto, empovos como o nosso, sem Estado próprio,impom-se umha fase de resistêncianacional e popular mais ou menosprolongada para fazer valer a nossasoberania e garantir a nossa subsistência.É um caminho longo e complexo, mas oúnico que assegura umha futura vitória.

Os povos que carecem dum poder estatal próprio estám condenados à indefensom e a serem moeda de cámbio em maos das oligarquias

Esta é a folha de rota que propomos ose as independentistas galegas: asuperaçom do complexo do colonizadoque nos lastra, a auto-organizaçom geralda sociedade galega em todos os ámbitos,construindo a diário mecanismos depoder popular protoestatal que nospermitam enfrontar com garantias ospoderes responsáveis pola situaçom eumha estratégia a longo prazo face aindependência nacional, é dizer, o direitoa auto-governarmo-nos e decidirmossobre nós próprios e próprias.

Sem este poder real, a retórica ruturistae revolucionária de ocasiom que hojealcança umha inaudita projeçommediática e social fica apenas empalavraria inútil, quando nom numhatriste legitimaçom encuberta do sistemaexistente.

Hoje, neste momento de crise de sistemaeconómico e de regime político, sommuitos presuntos e presuntasesquerdistas que desde altofalantesmediáticos e a correçom política maismiserável nos asseguram que “nom étempo de questons identitárias”, que“agora o prioritário é solucionar osproblemas da gente”, etc. É significativoque tanto da extrema direita do regimecomo da esquerda dócil se denigre oindependentismo por “extemporáneo”,

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“identitário”, “desfasado”, “tribal” ou“desligado dos problemas reais da gente”.

Nós como independentistas denunciamosesta demagogia fácil tam funcional para ostablishment que pretende reduzir aliberaçom nacional deste país a umha“questom lingüística” ou “de proteçom danossa cultura e património”. Amplossetores que se auto-proclamam deesquerda caírom na armadilha: reivindicara independência nacional da Galiza vaimuito para além da questom identitáriacomo a denominam os socialdemocratasde novo cunho. Implica exigir poder realde decisom para o nosso povo. Sem este,sem a independência, sem a possessomdum Estado próprio ao serviço da maioriae ganhado por esta através dumha faseprévia de conflito de poderes, nom hásoluçom possível. Quem negam estaperspetiva oferecem a gestom do regimeexistente desde as suas próprias posiçonse interesses.

A Segunda Transición que já se está a argalhar é um novo engano ao povo galego para que todo fique como estava

Os socialdemocratas e os reformistasque gastam retórica revolucionáriaconvidam-te “votar” e criar novasmaiorias institucionais em concelhos,parlamentos autonómicos e Congressoespanhol. O seu oportunismo e a carênciade estratégia dumha rutura real com oregime o único que garantem é aperpetuaçom do atual estado de cousassob novas fórmulas. O engano que seargalha é tam óbvio que os seusdesenhadores baptiçárom-o Segunda

Transición, delatando o vínculo com afraude de 1975-1978.

A “Segunda Transiçom”:duas vezes na mesma pedra

A possibilidade da Segunda Transición ea reforma constitucional estám as portase, adiantando-nos aos eventos, atrevemo-nos a dizer que os novos gestoresinstitucionais, os novos encoros decontençom das luitas e das necessidadesda maioria social, serám quem hoje dizemnom ser “nem de direitas nem deesquerdas”, quem criticam o regimeretoricamente mas reduzem a suaestratégia de combate ao espetáculoparlamentar do que dependem política eeconomicamente, ou quem, para ocultar asua ambigüidade eterna, repitem aladaínha paternalista de que “o povo nomcompreende” ou “nom está preparado”,com o único objetivo de constranger onacionalismo à gestom da autonomiacolonial e empantanar o processo deliberaçom nacional.

Este país tem soluçons. Pode conquistara sua liberdade como premisa paraganhar a dignidade e a justiça social, maspara avançar nesta direçom necessitaorientar os passos com claridade face aindependência nacional. Semindependência nada é possível.

Sem ganhar a independência os galegose as galegas nunca poderemos desfrutarem liberdade de pam, trabalho e teitocomo os que pode oferecer umha Terragenerosa mas espoliada pola oligarquiaespanhola e internacional.

Na Terra, em 29 de novembro de 2014

www.causagaliza.org