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Breve Analise Frei Luis de Sousa
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Breve AnliseResumo
O primeiro marido de D. Madalena de Vilhena tinha partido para a guerra de Alccer Quibir e tinha desaparecido h j sete anos, quando ela decide casar de novo, com D. Manuel de Sousa Coutinho. Deste casamento nasce uma filha, D. Maria, que se transforma numa jovem pura, curiosa e impetuosa. Com o casal e a filha vive Telmo, um fiel amigo e empregado de D. Joo de Portugal, primeiro marido de D. Madalena, que aps o seu desaparecimento ficara a servir a sua suposta viva e a sua famlia. Apesar de viver feliz e amar verdadeiramente D. Manuel Coutinho, D. Madalena, uma mulher muito supersticiosa, sente-se constantemente atormentada com a possibilidade do regresso do seu primeiro marido cujo corpo nunca fora encontrado. Envolvido numa briga com alguns governantes D. Manuel incendeia a prpria casa e vo viver para a casa que pertencera a D. Joo de Portugal. A existncia de um retrato seu ao lado de um outro do rei D. Sebastio, que o povo acredita que regressar um dia, deixa D. Madalena ainda mais atormentada. Muitos anos aps o seu desaparecimento aparece um romeiro que diz ter informaes sobre D. Joo mas, na verdade, o prprio D. Joo que esteve cativo, durante vinte anos, na Terra Santa. Considerando que cometeram um pecado gravssimo ao terem casado sem a certeza da morte de D. Joo, D. Madalena e D. Manuel decidem recolher ao convento como Frei Lus de Sousa e Sorr Madalena. Ao tomar conhecimento de toda a verdade, D. Maria tenta demover os pais dessa deciso, mas a sua sade, debilitada pela tuberculose de que sofre no resiste e morre.1. Aco dramtica
Frei Lus de Sousa contm o drama que se abate sobre a famlia de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreenses e pressentimentos de Madalena de que a paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade. O incndio no final do Acto I permite uma mutao dos acontecimentos e precipita a tenso dramtica. E no palcio que fora de D. Joo de Portugal, a aco atinge o seu clmax, quer pelas recordaes de imagens e de vivncias, quer pela possibilidade que d ao Romeiro de reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.
O Acto I inicia-se com Madalena a repetir os versos d'Os Lusadas:
"Naquele engano d'alma ledo e cego,que a fortuna no deixa durar muito"
As reflexes que se seguem transmitem, de forma explcita um pressgio da desgraa que ir acontecer. Obedecendo lgica do teatro clssico desenvolve a intriga de forma a que tudo culmine num desfecho dramtico, cheio de intensidade: morte fsica de Maria e a morte para o mundo de Manuel e Madalena.
2. Do drama clssico ao drama romntico
Se se pretender fazer uma aproximao entre esta obra e a tragdia clssica, poder-se- dizer que possvel encontrar quase todos os elementos da tragdia, embora nem sempre obedea sua estruturao objectiva.
A hybris o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena no comete um crime propriamente na aco, mas sabemos que ele existiu pela confisso a Frei Jorge de que ainda em vida de D. Joo de Portugal amou Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade ao marido. O crime estava no seu corao, na sua mente, embora no fosse explcito como entre os clssicos.
Manuel de Sousa Coutinho tambm comete a sua hybris ao incendiar o palcio para no receber os governadores. A hybris manifesta-se em muitas outras atitudes das personagens.
O conflito que nasce da hybris desenvolve-se atravs da peripcia (sbita alterao dos acontecimentos que modifica a aco e conduz ao desfecho), do reconhecimento (agnrise) imprevisto que provoca a catstrofe. O desencadear da aco d-nos conta do sofrimento (pthos) que se intensifica (climax) e conduz ao desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, atravs dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixes (catarse). A reflexo catrtica tambm dada pelas palavras do Prior, quando na ltima fala afirma: "Meus irmos, Deus aflige neste mundo queles que ama. A coroa da glria no se d seno no cu".Tal como na tragdia clssica, tambm o fatalismo uma presena constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como um fora que as arrasta de forma cega para a desgraa. ele que no deixa que a felicidade daquela famlia possa durar muito.
Garrett, recorrendo a muitos elementos da tragdia clssica, constri um drama romntico, definido pela valorizao dos sentimentos humanos das personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crena no destino, mas psicologicamente deixar-se afectar por pressentimentos e acreditar no sebastianismo; pelo uso da prosa em substituio do verso e pela utilizao de uma linguagem mais prxima da realidade vivida pelas personagens; sem preocupaes excessivas com algumas regras, como a presena do coro ou a obedincia perfeita lei das trs unidades (aco, tempo e espao).
3. Tempo
A aco dramtica de Frei Luis de Sousa acontece em 1599, durante o domnio filipino, 21 anos aps a batalha de Alccer-Quibir. Esta aconteceu a 4 de Agosto de 1578.
"A que se apega esta vossa credulidade de sete e hoje mais catorze vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena 11).
"Vivemos seguros, em paz e felizes h catorze anos" (1, cena 11).
"Faz hoje anos que que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastio, e faz anos tambm que vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (Il. cena X).
"Morei l vinte anos cumpridos" () "faz hoje um ano quando me libertaram", diz o Romeiro (Il. cena XIV).
A aco reporta-se ao final do sculo XVI, embora a descrio do cenrio do Acto I se refira "elegncia" portuguesa dos princpios do sculo XVII.
O texto , porm, escrito no sculo XIX, acontecendo a primeira representao em 1843.
4. Personagens
D. Madalena de Vilhena a primeira personagem que aparece na obra, mas pode-se afirmar que toda a familia tem um relevo significativo. So as relaes entre esposos, pais e filha, o criado e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que esto em causa. Um drama abate-se sobre esta famlia e enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se refugiam na vida religiosa, Maria morre como vtima inocente.
D. Madalena tinha 17 anos quando D. Joo de Portugal desapareceu na batalha de Alccer-Quibir. Durante 7 anos procurou-o. H catorze anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho. Tem agora 38 anos (17 + 21). Mulher bela, de carcter nobre, vive uma felicidade efmera, pressentindo a desventura e a tragdia do seu amor. Racionalmente, no acredita no mito sebastianista que Ihe pode trazer D. Joo de Portugal, mas teme a possibilidade da sua vinda. E com medo que a encontramos a reflectir sobre os versos de Cames e a sentir, como que em pesadelo, a ideia de que a sobrevivncia de D. Joo destrua a felicidade da sua famlia. No imaginrio de D. Madalena, a apreenso torna-se pressentimento, dor e angstia. neste terror que se v na necessidade de voltar para a habitao onde com ele viveu.
Manuel de Sousa Coutinho (mais tarde Frei Luis de Sousa) um nobre e honrado fidalgo, que queima o seu prprio palcio, para no receber os governadores. Embora apresente a razo a dominar os sentimentos, por vezes, estes sobrepem-se quando se preocupa com a doena da filha. um bom pai e um bom marido.
Maria de Noronha tem 13 anos, uma menina bela, mas frgil, com tuberculose, e acredita com fervor que D. Sebastio regressar. Tem uma grande curiosidade e esprito idealista. Ao pressentir a hiptese de ser filha ilegtima sofre moralmente. Ser ela a vtima sacrificada no drama.
Telmo Pais, o velho criado, confidente privilegiado, define-se pela lealdade e fidelidade. No quer magoar nem pretende a desgraa da famlia de D. Madalena e Manuel. Mas como verdade recorrente no mito sebastianista, acredita que D. Joo de Portugal h-de regressar. No fim, acaba por trair um pouco a lealdade de escudeiro pelo amor que o une filha daquele casal, D. Maria de Noronha. Representa um pouco o papel de coro da tragdia grega, com os seus dilogos, os seus agoiros ou os seus apartes.
O Romeiro apresenta-se como um peregrino, mas o prprio D. Joo de Portugal. Os vinte anos de cativeiro transformaram-no e j nem a mulher o reconhece. D. Joo, de espectro invisvel na imaginao das personagens, vai lentamente adquirindo contornos at se tornar na figura do Romeiro que se identifica como "Ningum". O seu fantasma paira sobre a felicidade daquele lar como uma ameaa trgica. E o sonho torna-se realidade.
Frei Jorge Coutinho, irmo de Manuel de Sousa, amigo da famlia e confidente nas horas de angstia, ouve a confisso angustiada de D. Madalena. Vai ter um papel importante na identificao do Romeiro, que na sua presena indicar o quadro de D. Joo de Portugal.
5. Cenrio
O Acto I passa-se numa "cmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegancia dos principios do sculo XVII", no palcio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Neste espao elegante parece brilhar uma felicidade, que ser, apenas, aparente.
O Acto II acontece "no palcio que fora de D Joo de Portugal, em Almada, salo antigo, de gosto melanclico e pesado, com grandes retratos de familia". As evocaes do passado e a melancolia prenunciam a desgraa fatal.
O Acto lll passa-se na capela, que se situa na "parte baixa do palcio de D. Joo de Portugal". " um casaro vasto sem ornato algum". O espao denuncia o fim das preocupaes materiais. Os bens do mundo so abandonados.
6. A Atmosfera
H ao longo da intriga dramtica uma atmosfera psicolgica do sebastianismo com a crena no regresso do monarca desaparecido e a crena no regresso da liberdade. Telmo Pais quem melhor alimenta estas crenas, mas Maria mostra-se a sua melhor seguidora.
Percebe-se tambm uma atmosfera de superstio, nomeadamente desenvolvida em redor de D Madalena.
7. Simbologia
Vrios elementos esto carregados de simbologia, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da aco e a desgraa das personagens. Apenas como referncia, podemos encontrar algumas situaes e dados simblicos:
A leitura dos versos de Cames referem-se ao trgico fim dos amores de D. Ins de Castro que, como D. Madalena, tambm vivia uma felicidade aparente quando a desgraa se abateu.
O tempo dos principais momentos da aco sugerem o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto lll); e sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; sexta-feira d-se o regresso de D. Joo de Portugal; sexta-feira morreu D. Sebastio, vinte e um anos antes.
A numerologia (1) parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou 7 anos depois de D. Joo haver desaparecido na batalha de Alccer-Quibir; h 14 anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraa, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21=3x7). 0 nmero 7 um nmero primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as clulas humanas renovam-se de sete em sete anos), representa o descanso no fim da criao e pode-se encontrar em muitas representaes da vida, do universo, do homem ou da religio; o nmero 7 indica o fim de um ciclo peridico. O nmero 3 o nmero da criao e representa o crculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O nmero 21 corresponde a 3x7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notcias sobre D. Joo de Portugal e o descanso aps tanta procura); 14 anos foi o tempo de vida com Manuel de Sousa (2x7, o crescimento de uma dupla felicidade: como esposa de Manuel e como me de Maria; 14 gerado por 1+4=5, apresentando-se como smbolo da relao sexual, do acto de amor); 21 anos completa a trade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do crculo dos 3 ciclos peridicos O nmero 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatrio do ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeio; o 21 significa, ento, a fatalidade perfeita.
Maria vive apenas 13 anos. Na crena popular o 13 indica azar. Embora como nmero mpar deva apresentar uma conotao positiva, em numerologia gerado pelo 1+3=4, um nmero par, de influncias negativas, que representa limites naturais. Maria v limitados os seus momentos de vida.
8. Estrutura dramtica
Estrutura InternaEstrutura Externa
ExposioActo I - cenas I, II, III e IV
ConflitoActo I - cenas V-XII
Acto II
Acto III - cenas I-IX
DesenlaceActo III - cenas X-XII
Acto Icenas I-IV
cenas V-VIII
cenas IX-XIIInformaes sobre o passado das personagens Preparao da aco - deciso dos governadores e deciso de incendiar o palcio
Aco: incndio do palcio
Acto IIcenas I-III
cenas IV-VIII
cenas IX-XVInformaes sobre o que se passou depois do incndio
Preparao da aco: ida de Manuel de Sousa Coutinho a Lisboa
Aco: chegada do Romeiro
Acto IIIcena I
cenas II-IX
cenas X-XIIInformaes sobre a soluo adoptada
Preparao do desenlace
Desenlace