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D. Madalena de Vilhena Frei Luís de SousaAlmeida Garrett Análise de D. Madalena de Vilhena

D. Madalena -Frei Luis de Sousa

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D. Madalena de Vilhena

“Frei Luís de Sousa” – Almeida Garrett – Análise de D. Madalena de Vilhena

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IntroduçãoD. Madalena de Vilhena é apresentada na primeira cena do Ato Primeiro.Pertence à nobreza portuguesa seiscentista e é casada com D. Manuel de Sousa Coutinho, do qual tem uma filha, Maria. Porém, antes deste casamento, D. Madalena teve outro marido, D. João de Portugal, que após o seu desaparecimento na batalha de Alcácer-Quibir, foi dado como morto.

A obra desenvolve-se tendo por base a acreditada “sombra” da presença de D. João que D. Madalena imagina a pairar sobre a sua nova família, prestes a trazer grandes desgraças que se começam a desenrolar ao longo da peça.

D. Madalena tem portanto um papel central na obra no sentido que as suas ações, escolhas e sentimentos estão na base de todo o desenvolvimento de “Frei Luís de Sousa”.

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PsicológicoSupersticiosa, Amedrontada, Aterrada e Perturbada

Como esposa:Apaixonada e Ansiosa

Como mãe:Preocupada e ProtetoraFrágil e FracaPersonagem romântica e trágica

Incompreendida

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Supersticiosa, Amedrontada, Aterrada e PerturbadaATO PRIMEIRO, CENA I – “Madalena - (…) Oh! Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor.”

ATO PRIMEIRO, CENA VIII – “Madalena – Mas é que tu não sabes…eu não sou melindrosa nem de invenções: em tudo o mais sou mulher e muito mulher, querido; nisso não…mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali (…) que vou achar ali a sombra despeitosa de João (…) que vou morrer naquela casa funesta, que não estou ali três dias, três horas, sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós.”

ATO SEGUNDO, CENA X – “Madalena – Hoje…hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado…que ainda temo que não acabe sem muita grande desgraça…É um dia fatal para mim: faz hoje anos que…que casei a primeira vez – faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião – e faz anos também que…vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.”

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Como mãe: Preocupada e ProtetoraATO PRIMEIRO, CENA II - “Madalena - (…) Temos esta filha, esta querida Maria, que é todo o gosto e ânsia da nossa vida. Abençoou-nos Deus na formusura, no engenho, nos dotes admiráveis daquele anjo…(…)”

ATO PRIMEIRO, CENA III – “Madalena - Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são tão pouco para a tua idade! Isso é o que nos aflige, a teu pai e a mim; queria-te ver mais alegre, a folgar mais, e com coisas menos…”

ATO SEGUNDO, CENA VII – “Madalena – (…) Maria, minha filha, toma sentido no ar, não te resfries. E o sol…não saias debaixo do toldo no bergantim. Telmo, não te tires de ao pé dela. – Dá-me outro abraço, filha – Doroteia, levais tudo? (Examina uma bolsa grande de damasco que Doroteia leva no braço) Pode haver qualquer coisa, molhar-se, ter frio para a tarde…(Tendo examinado a bolsa). Vai tudo: bem! (baixo a Doroteira). Não me apartes os olhos dela, Doroteira. Ouve. (Fala baixo, a Doroteia, que lhes responde baixo também; depois diz alto) Está bom.

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Como esposa: Apaixonada e AnsiosaATO PRIMEIRO, CENA II – “Madalena - (…) E dizei a meu cunhado, a Frei Jorge Coutinho, que me está dando cuidado a demora de meu marido em Lisboa; que me prometeu vir antes de véspera, e não veio; que é quase noite, e que já não estou contente com a tardança (…) Que ele é tão bom mareante…Ora, um cavaleiro de Malta! (Olha para o retrato com amor) (…) Aquele caráter inflexível de Manuel de Sousa traz-me num susto contínuo. (…)”

ATO SEGUNDO, CENA V – “Madalena – (…) (Para Manuel de Sousa) Tu ficas aqui já de vez. Não me deixas mais, não sais de ao pé de mim? – Agora, olha, estes primeiros dias ao menos, hás de me aturar, hás de me fazer companhia. Preciso muito, querido.”

ATO SEGUNDO, CENA VIII - Madalena – Vivos ambos…sem ofensa um do ouro, querendo-se, estimando-se…e separar-se cada um para sua cova! Verem-se com a mortalha já vestida – e…vivos, sãos…depois de tantos anos de amor…e convivência…condenarem-se a morrer longe um do outro -, sós, sós! – e quem sabe se nessa tremenda hora…arrependidos!”

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Frágil e FracaATO PRIMEIRO, CENA II – “Madalena - Oh, Telmo! Deus te perdoe o mal que me fazes. (Desata a chorar).”

ATO PRIMEIRO, CENA III – “Maria- Então, minha mãe, então! – Veem, veem?...também minha mãe não gosta. Oh! Essa ainda é pior, que se aflige, chora, ela aí está a chorar…(Vai-se abraçar à mãe, que chora)”

ATO SEGUNDO, CENA V – “Madalena (abraçada com a filha) – Oh Maria, Maria…também tu me queres deixar! – também tu me desamparas…e hoje!(…)Madalena – E tua mãe, filha, deixa-la aqui só a morrer de tristeza (Àparte) e de medo!”

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ATO PRIMEIRO, CENA IV – “Maria – Pois sim; tendo-me tanto amor, que nunca houve outro igual, estais sempre num sobressalto comigo?...”

Incompreendida

ATO PRIMEIRO, CENA VIII – “Madalena – Mas é que tu não sabes…eu não sou melindrosa nem de invenções: em tudo o mais sou mulher e muito mulher, querido; nisso não… mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali… (…) Meu esposo, Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor to peço, pela nossa filha… vamos seja para onde for, para a cabana de algum pobre pescador desses contornos, mas para ali não, oh! Não.Manuel – Em verdade nunca te vi assim; nunca pensei que tivesses a fraqueza de acreditar em agouros. Não há senão um temor justo, Madalena, é o temor de Deus (…) Vamos, D. Madalena, lembrai-vos de quem sois e de quem vindes, senhora… e não me tires, querida mulher, com vãs quimeras de crianças, a tranquilidade do espírito e a força do coração, que as preciso inteiras nesta hora.”

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Personagem romântica e trágica-Culta e Educada - Procura conforto na meditação, na introspeção- Monólogos frequentes- Emoção em detrimento da Razão- Sentimentalismo-Queda para o dramático, para o trágico, para a melancolia-Discurso muitas vezes desconexo, espaçado e reticente, consequência das suas emoções

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Personagem romântica e trágicaMOMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA

DESENVOLVIMENTO DE D. MADALENA

Hybris D. Madalena desafia a ordem natural – rompe com os padrões sociais e com as leis da família tradicional ao casar pela segunda vez sem ter a certeza que o seu primeiro marido estava mesmo morto.

Pathos Sofrimento interno causado pela constante ansiedade de que D. João ainda esteja vivo.A consciência de D. Madalena pesa por causa do adultério, do pecado que cometeu, ainda por mais porque se apaixonou por D. Manuel ainda casada com D. João.

Punição do Fatum O destino pune D. Madalena através das circunstâncias: ela e a família têm de deixar a casa devido ao conflito com os governadores e ir para o palácio onde D. Madalena antes vivia com D. João. Tal coisa significa grande sofrimento para D. Madalena, pelo que ainda se integra esta punição no Pathos.

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Personagem romântica e trágicaMOMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA

DESENVOLVIMENTO DE D. MADALENA

Peripécias - A vinda do “dia fatídico”, o “hoje”, que para além de calhar numa sexta-feira (de simbologia agoirenta), é também o aniversário da batalha de Alcácer Quibir. - A viagem de Maria e D. Manuel a Lisboa nesse dia traz grandes preocupações a D. Madalena.- A chegada de um Romeiro que pretende falar com D. Madalena.

Anagnórise - Dá-se o reconhecimento: o Romeiro traz a notícia que D. João está vivo e esteve estes 21 anos na Terra Santa sem maneira de se comunicar com D. Madalena. Este reconhecimento torna-se derradeiro apenas na presença de Telmo, ao qual o Romeiro se revela como sendo o próprio D. João. Este acontecimento não figura, porém, na anagnórise de D. Madalena.

Catástrofe O clímax engloba o profundo desespero de D. Madalena perante a notícia trazida pelo Romeiro; a sua resignação à vida religiosa; e por fim, o sofrimento causado pela morte de Maria nos seus próprios braços.

Catharsis Purificação do espectador ao ser confrontado com o destino de D. Madalena: separada de D. Manuel, com a sua filha morta, condenada a uma vida religiosa até ao fim dos seus dias.

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ConclusãoD. Madalena de Vilhena é uma personagem central, fulcral em todo o desenvolver da história. É uma mulher tipicamente romântica, que preza a emoção e não a razão, que se fundamenta em superstições e vive perturbada pelos seus medos, assombrada pelos seus pecados e pela figura omnipresente do seu antigo marido, D. João de Portugal. É uma mãe bastante preocupada e tenta proteger ao máximo a sua filha Maria de tudo o que a possa afastar de si, seja a morte, seja a desonra, seja o próprio pecado que está intrínseco na mesma, aos olhos da sociedade da época. É perdidamente apaixonada pelo seu marido e anseia por ele sempre que se afastam. É bastante frágil e fraca no que toca a lidar com os seus sentimentos mais profundos e nefastos, nascidos dos seus medos pelo passado, pelo futuro, por um destino que ela teme conhecer. Por fim, pode dizer-se que D. Madalena é uma personagem caracteristicamente rica e complexa, com uma personalidade densa e lúgubre, tal como a sua própria existência.

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