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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS VALÉRIA ALVES FERNANDES Avaliação do efeito do ácido úsnico sobre o perfil redox no coração de mamíferos e em parâmetros da função cardíaca SÃO CRISTÓVÃO 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS

VALÉRIA ALVES FERNANDES

Avaliação do efeito do ácido úsnico sobre o perfil redox no

coração de mamíferos e em parâmetros da função cardíaca

SÃO CRISTÓVÃO

2013

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VALÉRIA ALVES FERNANDES

Avaliação do efeito do ácido úsnico sobre o perfil redox no coração de mamíferos e em parâmetros da função cardíaca

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Fisiológicas da

Universidade Federal de Sergipe como requisito

para a obtenção do grau de Mestre em Ciências

Fisiológicas.

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Lauton Santos

SÃO CRISTÓVÃO

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

F363a

Fernandes, Valéria Alves Avaliação do efeito do ácido úsnico sobre o perfil redox no

coração de mamíferos e em parâmetros da função cardíaca / Valéria Alves Fernandes ; orientadora Sandra Lauton Santos. – São Cristovão, 2013.

92 f. : il.

Dissertação (mestrado em Ciências Fisiológicas) – Universidade Federal de Sergipe, 2013.

1. Coração. 2. Chagas, Doença de. 3. Antioxidantes. 4. Ácido úsnico. I. Santos, Sandra Lauton, orient. II. Título.

CDU 612.17:615.32

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___________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Lauton Santos

(Presidente da banca)

___________________________________________________ Prof. Dra. Carla Maria Lins de Vasconcelos

(Membro externo)

___________________________________________________ Prof. Dr. Enilton Aparecido Camargo

(Membro interno - PROASA)

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Dedico essa dissertação a todos os professores que

participaram, direta ou indiretamente, da minha formação.

Especialmente, à minha primeira professora, Fátima, da escola

infantil Carrossel. Certamente, ela jamais lerá essa dissertação,

mas foi essa professora a responsável pelo meu primeiro

contato com a educação.

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AGRADECIMENTOS

Acredito que agradecer é mais que um ato de humildade e reconhecimento à ajuda

prestada, é uma forma de expressar, em palavras e ações, o quanto a ajuda foi importante.

Pequenas ajudas prestadas, por pessoas bem intencionadas, podem passar despercebidas e o

agradecimento nunca é feito. Acontece todo o tempo e, muitas vezes, nos esquecemos de

simplesmente dizer ‘obrigado’. No meu caso, muitas pessoas contribuíram de forma direta e

indireta para que esta dissertação ficasse pronta e eu anseio conseguir me lembrar de todos e

expressar minha sincera gratidão.

A ajuda de alguns foi tão importante que em muitos momentos se tornou essencial e

indispensável. Sem muitos dos meus amigos e colaboradores essa dissertação jamais ficaria

pronta e eu jamais estaria escrevendo tais agradecimentos. Assim sendo, gostaria de agradecer

enormemente a todas as pessoas listadas abaixo, ansiando sempre, não deixar sequer uma

pequena ajuda passar despercebida.

Aprendi desde criança que as ações ensinam mais do que palavras, por causa disso

agradeço, primeiramente, a minha mãe, que sempre enfrentou os problemas com coragem,

sem se omitir ou fugir, e com isso me ensinou a ser forte e corajosa. Sempre a vi trabalhar

muito, sendo sempre preocupada com a qualidade do seu trabalho e, por isso, agradeço muito

por me ensinar a ser um pouquinho parecida com você nesse aspecto. Muito obrigada também

pelo seu apoio incondicional e por sempre acreditar em mim. Obrigada por me incentivar e

por confiar nas minhas decisões e julgamentos sem interferir, mesmo quando se sente ansiosa

e preocupada com as minhas escolhas.

Agradeço, principal e especialmente, a minha amiga e orientadora Sandra Lauton

Santos pela oportunidade de trabalho em conjunto ao longo desses anos, pela paciência e por

tanto me ensinar. Agradeço pelos conselhos, pelas conversas, pela amizade e por todas as

oportunidades de discutir não só sobre esse trabalho, mas também as discussões sobre ciência,

sobre as decisões futuras e a carreira acadêmica. Certamente sempre vou me lembrar de todos

os conselhos, mas principalmente me lembrarei de tudo que não foi dito e sim observado por

mim no dia a dia do laboratório, durante a realização dos experimentos e principalmente na

forma como fui orientada. Não tenho dúvidas de que sua orientação me guiou a fazer o

melhor mestrado possível e com certeza tudo que aprendi me auxiliará nas minhas próximas

escolhas no meio acadêmico. Muito Obrigada.

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Agradeço enormemente aos professores e pesquisadores Dr. Jader dos Santos Cruz,

Dr. Paulo Sérgio Lacerda Beirão, Dr. Steiner Côrtez, Dra. Virgínia Lemos Dr. Jorge Luís

Pesquero e Dra. Silvia Guatimosim do ICB – UFMG (Instituto de Ciências Biológicas da

Universidade Federal de Minas Gerais), por me acolherem em seus laboratórios e permitirem

a realização dos experimentos descritos nessa dissertação. Agradeço pela ajuda nos

experimentos, pela presteza, pelos conselhos, pelas conversas e pela oportunidade de discutir

meus resultados em seus grupos de pesquisa.

Agradeço muito ao professor Dr. Luciano Capettini, pela imensa ajuda durante a

realização de boa parte dos experimentos, pelas conversas, por todas as perguntas respondidas

prontamente, pela presteza, pela amizade e pela ajuda durante a análise e discussão de muitos

dos meus resultados.

Agradeço ao professor e pesquisador Dr. Adriano Antunes da Universidade Federal de

Sergipe pela preparação do complexo de inclusão de ácido úsnico/ -ciclodextrina utilizado

nessa pesquisa.

Agradeço ao professor e pesquisador Dr. André Talvani da Universidade Federal de

Ouro Preto pela concessão dos animais utilizados nessa pesquisa, pela paciência, pelos

conselhos, pela presteza e disponibilidade de ajudar e me socorrer todas as vezes que liguei

desesperada pedindo mais animais para um experimento extra.

Agradeço aos professores Dr. Thales Nicolau Prímola e Dr. José Antônio Natali da

Universidade Federal de Viçosa por permitir a realização dos experimentos de contratilidade

celular em seu laboratório.

Agradeço muitíssimo a aluna de doutorado Aline Lara, por todas as noites de

experimentos no confocal, pelos finais de semana no ICB, pela presteza, pelos conselhos, pela

oportunidade de discutir meus resultados e pela amizade. Certamente sem sua ajuda, em todos

os momentos que precisei essa dissertação não estaria pronta. Muito obrigada.

Agradeço a todos os queridos colegas do Eletrocel, LAMEX e Farmacologia que

sempre me ajudaram e me ensinaram durante os meses que realizei os experimentos no ICB -

UFMG

Agradeço ao Centro de Aquisição e Processamento de Imagens – CAPI – ICB/UFMG.

Agradeço aos professores e queridos colegas do Laboratório de Biofísica do Coração,

no Departamento de Fisiologia – UFS, pela receptividade, pela amizade, por me acolherem no

laboratório e pelo apoio.

Agradeço aos meus colegas de mestrado Thássio Ricardo Ribeiro Mesquita e José

Evaldo Meneses Filho e ao aluno de Iniciação Científica Michel Santana pela ajuda no início

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dos experimentos em Belo Horizonte, pelas conversas, pela amizade e principalmente pela

paciência durante quase todas as minhas crises de TPM.

Agradeço ao meu amigo Lucas Ferreira da Silva pela amizade de tantos anos, pelas

conversas intermináveis, pelos conselhos, por sempre me ouvir e principalmente pela criação

do programa de análise de imagem, sem o qual as análises dos experimentos no confocal

teriam sido imensamente penosas e complicadas.

Agradeço aos amigos de longa data: Camila, Carolina, Tamires, Leandro e Michelle

que tanto auxiliaram com sua amizade e companheirismo ao longo de minha formação

pessoal e acadêmica. Obrigada por sempre se fazerem presentes, mesmo com a distância, a

minha falta de tempo e às vezes a minha falta de bom humor e assuntos interessantes.

Agradeço ao meu padrasto Romério Ferreira de Assis, que sempre me socorre, não

importa a que hora do dia ou da noite. Obrigada por estar sempre presente e sempre disposto a

me ouvir, mesmo sem entender bem do que se trata.

Agradeço aos meus professores e colegas de mestrado do PROCFIS pelo apoio, pela

hospitalidade em Aracaju e pelos ensinamentos. Aprendi muito com todos e só tenho a

agradecer.

Agradeço ao programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas (PROCFIS) da

Universidade Federal de Sergipe (UFS) por permitir e me auxiliar na realização deste projeto.

Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação do

Amparo à Pesquisa do Estado de Sergipe (FAPITEC) por terem financiado este trabalho.

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“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. ”

Albert Einstein

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RESUMO

Avaliação do efeito do ácido úsnico sobre o perfil redox no coração de mamíferos e em parâmetros da função cardíaca. Valéria Alves Fernandes. São Cristovão, Sergipe. 2013

O ácido úsnico (AU) é um metabólito secundário de liquens, descrito na literatura como um componente com efeito antibiótico, antifúngico, antiviral, anti-inflamatório, antiproliferativo e antiparasitário. Sendo essa substância apontada na literatura como um composto capaz de ter atividade anti Tripanosoma cruzi. Neste trabalho o AU foi utilizado com o objetivo de estudar o potencial efeito antioxidante bem como potenciais efeitos sobre a contratilidade cardíaca e dinâmica do cálcio intracelular. Para isso, após exposição, in vitro, ao AU, foram realizados experimentos para avaliar a viabilidade celular via MTT em células endoteliais humanas. Em células cardíacas isoladas foram analisados o transiente intracelular de cálcio, a contratilidade celular, a produção de peróxido de hidrogênio (H2O2), ânion superóxido e óxido nítrico (NO). O efeito do tratamento oral com AU em camundongos C57Bl6J foi avaliado pela mensuração da peroxidação lipídica, experimentos para a análise da função cardíaca (utilizando-se a técnica de Langendorff), cinética enzimática a fim de avaliar a atividade total da superóxido dismutase (SOD) e catalase. Para avaliar a expressão das enzimas: óxido nítrico sintase (NOS), superóxido dismutase (SOD), catalase, glutationa peroxidase (GPx) e NADPH oxidase foi utilizada a técnica de western blot. Para avaliar se o tratamento oral com AU alteraria os parâmetros da função cardíaca e o perfil redox em camundongos infectados com Tripanosoma cruzi, foram utilizadas a técnica de Langendorff, a mensuração da atividade total da SOD e a peroxidação lipídica. Os resultados de viabilidade celular mostraram que o AU não foi citotóxico nas concentrações estudadas (1 nM, 10 nM, 100 nM, 1

, após 24 horas de exposição. A contratilidade celular e o transiente celular de cálcio não foram alterados após exposição, in vitro, ao AU. Por outro lado, o AU em cardiomiócitos isolados promoveu a diminuição dos níveis de H2O2 (CTR = 564.3 ± 72, n=88 e AU = 514,3 ± 60, n=87), ânion superóxido (citoplasma: CTR = 231,7 ± 42 e AU = 144,2 ± 56,3, n=67; ***P<0,001; núcleo: CTR = 675,8 ± 101,5 e AU = 614,2 ± 133,4, n=60; *P<0,05) e NO (CTR = 591,8 ± 63,7, n=85 e AU = 514,3 ±72,3, n=94). O tratamento oral não influenciou os parâmetros cardíacos avaliados dos camundongos hígidos e chagásicos. Entretanto, o tratamento com AU se mostrou antioxidante, induzindo a diminuição da peroxidação lipídica (No coração: CTR 0,0438 ± 0,011 nmol MDA min-1.mg proteína-1, n=9 e AU = 0,0180 ± 0,011 nmol MDA min-1.mg proteína-1, n=8. e no fígado CTR= 0,0145 ± 0,021 nmol MDA min-1.mg proteína1, n=8 e AU = 0,004 ± 0,022 nmol MDA min-1.mg proteína-1, n=9) e foi também detectado aumento da atividade da SOD (CTR = 7,98 ± 2,5 unidades/mg de proteína e AU =25, 02 ± 4,5 unidades/mg de proteína) aumento da expressão da SOD e GPx e diminuição da expressão da eNOS e NADPH oxidase no coração. A atividade da catalase (CTR = 1,37 ± 0,77 AE. min-1.mg proteína-1 e AU = 0,45 ± 0,22 AE. min-1.mg proteína-1) se mostrou diminuída e sua expressão não foi alterada no coração. A expressão da nNOS também não foi alterada no coração. Em conclusão nossos resultados sugerem que o AU é uma substância capaz de promover a redução do perfil oxidativo, tanto em células isoladas expostas a ele, in vitro, bem como, após o tratamento por via oral. E, do ponto de vista cardíaco, o AU não promove alterações nos parâmetros contráteis analisados (tensões sistólica e diastólica), bem como, na frequência cardíaca e na mobilidade do cálcio, o que indica que o essa substância pode ter potencial terapêutico como substância antioxidante no coração e potencial terapêutico na doença de Chagas.

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Palavras chave: ácido úsnico, coração, antioxidante, doença de Chagas.

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ABSTRACT

Evaluation of usnic acid effects on redox profile and cardiac function parameters in the mammalian heart. Valéria Alves Fernandes. São Cristovão, Sergipe. 2013

The usnic acid AU is a secondary metabolite of lichens described as a component with antibiotic, antifungal, antiviral, anti-inflamattory, antiproliferative and antiparasitic effects. Previous studies reported that this substance has anti Tripanosoma cruzi activity. Therefore, the aim of this study was evaluate the antioxidant potential on heart, intracellular calcium dynamic and cardiac contractility effects of the usnic acid. After exposure, in vitro, to the AU, experiments were performed to assess cell viability in human endothelial cells In isolated cardiomyocytes of rats were analyzed the intracellular calcium transient, cell contractility and the production of hydrogen peroxide (H2O2), superoxide and nitric oxide (NO). After oral treatment in C57Bl6J mice with AU, were performed lipid peroxidation tests, contractility experiments (Langendorff technique), western blot to nitric oxide synthase (NOS), superoxide dismutase (SOD), glutathione peroxidase (GPx) e NADPH expressions. Enzyme kinetics was used to measure total activity of superoxide dismutase and catalase. Oral treatment with AU was performed in infected mice with Trypanosoma cruzi. The results of cell viability showed that AU was not cytotoxic, after 24 hours exposure. The cellular contractility and intracellular calcium transient were not altered after exposure in vitro to AU. Moreover, usnic acid in isolated cardiomyocytes promoted decrease in the levels of H2O2 (CTR = 564.3 ± 72, n=88 e AU = 514,3 ± 60, n=87), superoxide and NO superóxido (citoplasm: CTR = 231,7 ± 42 e AU = 144,2 ± 56,3, n=67; ***P<0,001; nuclei: CTR = 675,8 ± 101,5 e AU = 614,2 ± 133,4, n=60; *P<0,05) e NO (CTR = 591,8 ± 63,7, n=85 e AU = 514,3 ±72,3, n=94). Oral treatment had no effect on cardiac contractility of healthy and chagasic mice. However, treatment with AU showed antioxidant, inducing decrease in lipid peroxidation (heart: CTR 0,0438 ± 0,011 nmol MDA min-1.mg protein-1, n=9 and AU = 0,0180 ± 0,011 nmol MDA min-1.mg protein-1, n=8. In liver CTR= 0,0145 ± 0,021 nmol MDA min-1.mg protein1, n=8 and AU = 0,004 ± 0,022 nmol MDA min-1.mg protein-1, n=9) and increased SOD activity in the heart and liver (CTR = 7,98 ± 2,5 unity/mg protein and AU =25, 02 ± 4,5 unity/mg protein), increased SOD and GPx expression and decreased eNOS and NADPH oxidase expression in a heart. The catalase activity showed decreased (CTR = 1,37 ± 0,77 AE. min-1.mg protein-1 and AU = 0,45 ± 0,22 AE. min-1.mg protein-1) and has no change in expression in a heart. The nNOS expression was not altered in a heart. In conclusion data showed suggest the AU was able to promote antioxidant effects in both experiments (in vitro and in vivo). In cardiac parameters, the AU have no changes in contract values (systolic and diastolic tension), hear rate and calcium mobility. Therefore, the AU have an antioxidant action in a heart and therapeutic potential in a Chagas disease.

Keywords: usnic acid, heart, antioxidant, Chagas disease.

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1. Acoplamento Excitação Contração 3

Figura 2. Esquema da geração de espécies reativas de oxigênio e

nitrogênio

5

Figura 3. Reação de Fenton e interação Haber-Weiss 7

Figura 4. Representação esquemática de uma célula cardíaca sobre ação de

ROS

8

Figura 5. Ciclo natural do T. Cruzi 15

Figura 6. Estrutura química do ácido úsnico (C18H16O7) 19

Figura 7. Representação esquemática da difusão do ácido úsnico (AU)

através da matriz mitocondrial e a formação de ânion usniato (AU-)

21

Figura 08. Viabilidade Celular 37

Figura 09. Contratilidade celular 38

Figura 10. Transiente intracelular de cálcio em cardiomiócitos isolados de

ratos

39

Figura 11. Transiente intracelular de cálcio em cardiomiócitos isolados de

camundongos

40

Figura 12. Medida da produção de óxido nítrico 41

Figura 13. Produção de espécies reativas de oxigênio 42

Figura 14. Produção de ânion superóxido 43

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Figura 15. Níveis peroxidação lipídica medida por TBARS em Fígado de

camundongo

44

Figura 16. Expressão de Oxido Nítrico sintases (NOS). 45

Figura 17. Atividade e expressão da superóxido Dismutase (SOD). 46

Figura 18. Expressão da NADPH oxidase no miocárdio de camundongos

controle (CTR) e tratados com ácido úsnico (AU) e abaixo as imagens

representativas de western blot.

46

Figura 19. (A) Atividade total da enzima catalase, (B) expressão da

enzima catalase e (C) expressão da Glutationa peroxidase (GPx) no coração

de camundongos controles e tratados com AU.

47

Figura 20. Avaliação da função cardíaca em coração isolado de

camundongos. (A) Variação da tensão diastólica, (B) Variação da tensão

sistólica, (C) Avaliação da frequência cardíaca e (D) Avaliação da pressão

de perfusão.

49

Figura 21. Avaliação da função cardíaca em coração isolado de

camundongos chagásicos. (A) Variação da tensão diastólica, (B) Variação

da tensão sistólica, (C) Avaliação da frequência cardíaca e (D) Avaliação

da pressão de perfusão.

50

Figura 22. Níveis de peroxidação lipídica. (A) C oração de camundongos

chagásicos tratados com ácido úsnico (AU) e (B) fígado de camundongos

chagásicos tratados com AU.

51

Figura 23. Atividade da enzima superóxido dismutase total (A) no coração

de camundongos chagásicos e tratados com AU (n=6) e (B) no fígado de

camundongos controles e tratados com AU

52

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

[Ca]i: concentração de cálcio intracelular

Acetil-CoA: acetil-coenzima A

Acil-CoA: acil-coenzima A

AEC: acoplamento excitação contração

ATP: adenosina trifosfato

AU: ácido úsnico

BG-250: Coomassie brilliant blue

Cai: cálcio intracelular

CaMII: calmodulina cinase II

CAT: catalase

Cav-3: caveolina-3

CTR: controle

DAF-AM: 3-Amino, 4-aminomethyl-2′,7′-difluorofluoresceina

DCF: 2,7-diclorofluoresceina

DCFH: 2,7-Dichlorofluoresceina diacetato

DHE: dihidroetidio

DMSO: dimetil sulfoxido

DNA: ácido desoxiribonucleico

DNP: 2,4-dinitrofenol

ECG: ecocardiograma

eNOS: óxido nítrico sintase endotelial

ET-1: endotelina 1

GPx: glutationa peroxidase

GR: glutationa redutase

GSS: s-glutationilação

GSSH: glutationa dissulfeto

H2DCFH-DA: 2,7-diclorodihidrofluoresceína-diacetato

IC50: Concentração inibitória de 50%

iNOS: óxido nítrico sintase induzida (i-NOS).

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LPS: lipopolissacarídeo

MMP: metaloproteinase

MMP-2: metalloproteinase 2

MTT: [3-(4,5-dimethyl thiazol-yl) 2,5-diphenyl tetrazolium bromide]

NADPH: Fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina

Nai: sódio intracelular

NCX: trocador sódio-cálcio

nNOS: óxido nítrico sintase neuronal

NOS: óxido nítrico sintase

NOX 1: isoforma 1 da Nadph oxidase

NOX 2: isoforma 2 da Nadph oxidase

NOX 4: isoformas 4 da Nadph oxidase

OMS: organização mundial de saúde

PA: potencial de ação

PBN: fosfolamban

PBS: solução salina tamponada com fosfato

PKA: proteína cinase A

PLB: fosfolambam

PMSF: fluoreto de fenilmetilsilfonila

RNS: espécies reativas de nitrogênio

ROS: espécies reativas de oxigênio

RPM: rotações por minuto

RS: retículo sarcoplasmático

RyR 2: receptor de rianodina

SDS: dodecil sulfato de sódio

SERCA2A: cálcio-ATPase do subtipo 2A

SNO: s-nitrosilação

SOD: superóxido dismutase

T. cruzi: Trypanosoma cruzi

TBA: ácido tiobarbitúrico

TBARS: substâncias reativa ao ácido tiobarbitúrico

TBS: solução tampão tris

TTH: tampão Tyrode-HEPES

XOR: xantina oxidorredutase

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1 O coração e seu funcionamento ................................................................................ 1

1.2 Espécies reativas de oxigênio e nitrogênio ............................................................... 4

1.3 Estresse oxidativo e modulação redox no coração .................................................. 7

1.4 Modulação Redox em Modelos de Doenças Cardíacas. ....................................... 12

1.5 A doença de Chagas e no coração ........................................................................... 13

1.6 O estresse oxidativo na doença de Chagas ............................................................. 16

1.7 Ácido Úsnico ............................................................................................................. 18

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 24

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 24

2.1 Delineamento Experimental ........................................................................................ 24

3. MÉTODOS .......................................................................................................................... 26

3.1 Hidrossolubilização do ácido úsnico ...................................................................... 26

3.2 Cultura de células e viabilidade celular ................................................................. 26

3.3 Animais utilizados .................................................................................................... 27

3.4 Grupos experimentais .................................................................................................. 27

3.5 Obtenção do coração isolado .................................................................................. 28

3.6 Obtenção das células ventriculares cardíacas ....................................................... 28

3.7 Contratilidade celular .............................................................................................. 29

3.8 Medidas do transiente de cálcio intracelular ........................................................ 30

3.9 Medida dos níveis intracelulares do óxido nítrico ................................................ 30

3.10 Medida dos níveis intracelulares de espécies reativas de oxigênio .................. 31

3.11 Medida dos níveis intracelulares do radical ânion superóxido ........................ 31

3.12 Contratilidade cardíaca (órgão isolado) ............................................................. 32

3.13 Preparação do tecido para as análises enzimáticas ........................................... 32

3.14 Determinação da concentração total de proteínas ............................................ 33

3.15 Determinação da atividade da catalase .............................................................. 33

3.16 Determinação de peroxidação lipídica pelos níveis de TBARS ....................... 34

3.17 Determinação da atividade da superóxido dismutase (SOD) ........................... 34

3.18 Determinação da expressão proteica por western blot ..................................... 35

3.19 Análise estatística ................................................................................................. 36

4. RESULTADOS ................................................................................................................... 37

4.1 Avaliação da toxicidade do ácido úsnico ................................................................ 37

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4.2 Contratilidade celular e transiente intracelular de cálcio .................................... 38

4.2 Medidas das espécies reativas de nitrogênio e oxigênio ....................................... 41

4.3 Peroxidação lipídica ................................................................................................. 43

4.4 Expressão das NOS totais no tecido cardíaco ....................................................... 44

4.5 Medida do perfil redox no tecido cardíaco ............................................................ 45

4.6 Experimentos com camundongos chagásicos ........................................................ 47

4.6.1 Avaliação de parâmetros cardíacos em sistema de Langendorff ........................ 47

4.6.2 Peroxidação lipídica ........................................................................................... 51

4.6.3 Atividade total da SOD ...................................................................................... 51

5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 53

7. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 62

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 63

ANEXOS ................................................................................................................................. 73

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1. INTRODUÇÃO

1.1 O coração e seu funcionamento

O coração pode ser definido como uma bomba muscular oca, provida de válvulas

dinâmicas, que move o sangue através de um circuito contínuo. Este é dividido em duas

partes: o ápice, que contém as paredes ventriculares e a base, a qual contém a maioria das

artérias e veias que permitem a entrada e saída de sangue (BERNE e LEVY, 2000).

A função contrátil cardíaca é regulada e mantida graças à geração e condução do

estímulo elétrico, o qual permite regular a força e a frequência dos batimentos cardíacos

(BERS, 1991). O sistema excitocondutor cardíaco é composto pelo nodo sinoatrial, pelas vias

atriais internodais, pelo nodo atrioventricular, pelo feixe de His e suas ramificações, e pelo

sistema de Purkinje. O nodo sinoatrial é responsável pelo início do sinal elétrico, e os demais

componentes são responsáveis por conduzir tal sinal pelo coração (KATZ, 1992; FUSTER et

al., 1998; BERNE e LEVY, 2000).

A contração cardíaca permite impulsionar o sangue através do corpo, promovendo o

transporte e a distribuição de nutrientes e outras substâncias para todos os tecidos e o

direcionamento de resíduos do metabolismo para os sistemas excretores (BERNE e LEVY,

2000). O fenômeno da contração cardíaca pode ser mais bem compreendido a partir do

conhecimento da fisiologia contrátil dos cardiomiócitos e dos componentes estruturais

envolvidos neste processo.

A alteração brusca na permeabilidade de íons através da membrana plasmática permite

que ocorram mudanças significativas no potencial de repouso da célula cardíaca, gerando o

potencial de ação (PA) e consequente contração celular (BERS, 1991). A contratilidade

celular cardíaca é regida por um rígido controle da concentração de cálcio intracelular ([Ca]i).

O mecanismo básico de ativação da maquinaria contrátil celular pelo PA ocorre, inicialmente,

pela ativação dos canais iônicos sensíveis à voltagem presentes na membrana plasmática

celular, sendo que a abertura de canais para cálcio de tipo L permite o influxo de cálcio (Ca2+)

no miócito cardíaco (BERS, 1991).

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A principal organela que estoca o cálcio intracelular (Cai) é o retículo sarcoplasmático

(RS). No RS são encontrados receptores, canais e proteínas, que regulam a entrada e a saída

de Ca2+ desse compartimento. O efluxo de Ca2+ do RS durante a contração celular ocorre

através do canal para cálcio denominado receptor de rianodina (RyR), presente na membrana

da organela (BERS, 1991).

Na membrana do RS também é encontrada uma bomba, denominada cálcio-ATPase

do retículo sarcoplasmático, conhecida como SERCA, sendo, nas células do coração, do

subtipo 2A (SERCA2A). Esta promove, com gasto de ATP, a recaptação de Ca2+ para dentro

do RS durante o processo de diástole. A SERCA possui 10 domínios transmembrana e um

sítio que é alvo de uma fosfoproteína denominada fosfolamban (PLB), que regula a sua

atividade (BERS, 1991). O PLB é um inibidor endógeno da SERCA. Essa fosfoproteína pode

ser fosforilada pela proteína cinase A (PKA) ou pela calmodulina cinase II (CaMII). A

fosforilação da PLB promove a sua dissociação da SERCA, tornando a atividade da bomba e

a recaptação de Ca+2 aceleradas, enquanto a desfosforilação da PLB é capaz de inibir a

SERCA (JONES e FIELD, 1993).

Na membrana da célula cardíaca existe também um transportador iônico, que trabalha

sem gasto de ATP, denominado trocador sódio-cálcio (NCX). O trocador Na+/Ca2+ é um

transportador que pode ser regulado, tanto pelo [Ca]i quanto pela [Na]i, em sítios específicos.

Em situações fisiológicas, este trocador transporta Ca2+ para o lado de fora da célula e Na+

para o interior da membrana da célula cardíaca. (BERS, 1991; BOUCHARD, 1993).

O fenômeno em que o PA é capaz de induzir a célula cardíaca à contração é

denominado de acoplamento excitação contração (AEC). Este acoplamento eletromecânico é

um dos principais mecanismos responsáveis pelo funcionamento adequado da contratilidade

celular (BERS, 2002). (figura 1).

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Figura 1. Acoplamento Excitação Contração. O esquema mostrado representa uma célula ventricular cardíaca, onde vemos representados componentes moleculares e organelas envolvidos no processo de contração celular. O cálcio (Ca+2) que entra pelos canais de cálcio do tipo L (ICA) sensibiliza os receptores de rianodina (RyR) presentes no retículo sarcoplasmático (SR). Esse Ca+2 se liga a proteínas presentes nos miofilamentos (Myofilaments) e promove a contração celular. Após os miofilamentos perderem a sensibilidade o cálcio, este é recaptado pela cálcio-ATPase, denominada SERCA, representada pelas duas subunidades (ATP + PLB). O fosfolamban (PLB) é subunidade que regula a atividade da SERCA. Vemos também representados o trocador sódio-cálcio (NCX) e as ATPases de membrana (bomba de sódio e potássio), bem como a mitocôndria, essas três estruturas também auxiliam na do cálcio citoplasmático após a contração. Observa-se também o gráfico do decurso temporal do potencial de ação cardíaco (AP (Em)), representado em traçado preto, o aumento da concentração intracelular de cálcio ([Ca]i), representado em traçado azul e a contração cardíaca (Contraction), representado pelo traçado pontilhado vermelho. (adaptado de BERS, 2002).

O AEC é o processo onde, durante o potencial de ação cardíaco, ocorre o influxo de

Ca2+ pelos canais iônicos para Ca2+ tipo L, sensíveis à voltagem. O Ca2+ que entra na célula

sensibiliza os RYRs, liberando os estoques de Ca2+ do RS. A combinação do influxo e a

liberação de Ca2+ faz aumentar a [Ca2+]i. Esse Ca2+ livre se liga aos miofilamentos (troponina

C) ativando a maquinaria contrátil da célula (BERS, 2002).

Para que o relaxamento ocorra é necessário que o Ca2+ se desligue da troponina C e

que a [Ca2+]i decline. O que ocorre é uma dessensibilização natural da troponina C ao Ca2+ e à

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medida que esse íon passa a estar novamente livre no citoplasma, ele é recaptado pela SERCA

e removido pelo NCX e sistemas lentos (ATPase do sarcolema) e mitocôndrias. A quantidade

de Ca2+ removido do citosol celular durante o relaxamento deve ser a mesma que a quantidade

de Ca2+ que entra na célula a cada batimento cardíaco, caso contrário, a célula teria um ganho

ou uma perda de Ca2+ a cada contração celular (BASSANI, 1994; BERS, 2002).

A atividade da SERCA é maior no ventrículo de rato que no ventrículo do coelho

(devido a uma maior concentração de moléculas da bomba no coração do coelho), o que

resulta no fato que, em corações de ratos, a SERCA é responsável por recaptar 92% do cálcio,

sendo o NCX responsável por remover 7% do cálcio e o 1% restante é removido do citosol

pelos sistemas lentos (BASSANI, 1994; BERS, 2002).

É bem conhecido na literatura que todos os componentes do AEC, bem como o

metabolismo celular cardíaco podem ser modulados por espécies reativas de oxigênio (ROS)

e nitrogênio (RNS) (ZENG et al., 2008; AKKI et al., 2009; SANTOS et al., 2011). O

aumento ou diminuição do perfil oxidativo, bem como a diminuição das espécies reativas de

oxigênio e nitrogênio podem induzir efeitos deletérios, protetores ou efeitos de

remodelamento cardíaco pós-injúria (WANG et al., 2005; SANTOS et al., 2011). Assim

sendo, é interessante compreender como o estresse oxidativo e a modulação redox

influenciam os componentes celulares no coração.

1.2 Espécies reativas de oxigênio e nitrogênio

Em condições fisiológicas, as espécies reativas de oxigênio (ROS) e as espécies

reativas de nitrogênio (RNS) são produzidas através das reações de transferência de elétrons

no metabolismo aeróbico e atuam nas mais diversas funções das células eucarióticas (CLARK

e LAMBERTSEN, 1971; CRYSTAL, 1991; KOWALTOWSKI, 2009).

Dentre os principais metabólitos do oxigênio estão o radical ânion superóxido (•O2-), o

peróxido de hidrogênio (H2O2), o radical hidroxila (OH), o oxigênio singlet (1O2) e o ácido

hipocloroso (HOCl). As RNS são derivadas diretamente do óxido nítrico (NO) e as mais

significantes em sistemas biológicos são o peroxinitrito (ONOO-) e o ácido peroxinitroso

(ONOOH) (PRYOR, 1986; HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999; GRIENDLING E

FITZGERALD, 2003).

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A produção de ROS e RNS no coração, bem como, em qualquer outro tecido, pode ser

relacionada à atividade de diversas enzimas, dentre estas, podem ser afetadas enzimas tanto

pró-oxidantes quanto as antioxidantes. Podemos observar na figura 2, um esquema mostrando

a geração de ROS E RNS, bem como as enzimas antioxidantes e pró-oxidantes envolvidas na

produção dessas espécies reativas (GRIENDLING e FITZGERALD, 2003).

Figura 2. Esquema da geração de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. Podemos observar a conversão do oxigênio (O2) em ânion superóxido (•O2

-) pelas enzimas NADPH oxidase (processo que ocorre principalmente na mitocôndria). O •O2

- é dismutado pela superóxido dismutase (SOD), formando peróxido de hidrogênio (H2O2), que pode ser convertido em uma molécula de água (H2O) + O2 pela catalase (CAT) e/ou glutationa peroxidase (GPx). O H2O2 pode formar radical hidroxila (•OH) após reação reagir com o ferro (Fe+2) na reação de Fenton. A glutationa peroxidase (GPx) reduz todos os hidroperóxidos utilizando glutationa reduzida (GSH), um doador de hidrogênio. Outra enzima, a glutationa redutase (GR), mantêm o equilíbrio entre GSH e glutationa oxidada (GSSG). O óxido nítrico (NO) é formado por ação da enzima óxido nítrico sintase (NOS), a partir do aminoácido L-arginina que produz NO e L-citrulina. O •O2

- também pode reagir com o NO para formar peroxinitrito (OONO-) (Adaptado de GRIENDLING e FITZGERALD, 2003).

Como exemplo de enzimas pró-oxidantes, pode-se citar a nicotinamida adenina

dinucleotídeo fosfato oxidase (NADPH oxidase), e as enzimas óxido nítrico sintase (NOS). A

NADPH oxidase participa da cascata respiratória celular e durante o processo oxidativo do

NADPH catalisa a redução de um elétron do oxigênio molecular e origina o •O2-. Já as

enzimas NOS, como o nome sugere, catalisam a formação de NO. Existem três isoformas da

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enzima NOS, a isoforma endotelial (eNOS), a neuronal (nNOS) e a induzida (i-NOS). A

eNOS e a nNOS são constitutivas e suas atividades são reguladas por aumentos nas

concentrações intracelulares de cálcio. Todavia, a iNOS independe das variações de cálcio

celular (GRIENDLING e FITZGERALD, 2003).

São exemplos de enzimas antioxidantes, a superóxido dismutase (SOD), a enzima

glutationa peroxidase (GPx) e a enzima catalase. A SOD catalisa a conversão (dismutação) de

dois moles de •O2- a um mol de O2 e um mol de H2O2, sendo que esta enzima possui três

isoformas: a cobre-zinco SOD (SOD-Cu/Zn), que tem caráter constitutivo presente no citosol

celular. A isoforma manganês SOD (SOD-Mn), é comumente expressa nas mitocôndrias, em

caráter induzido, geralmente em resposta a situações de estresse celular ou inflamação. Já a

isoforma SOD extracelular (EC-SOD) se localiza constitutivamente na matriz extracelular

(GRIENDLING e FITZGERALD, 2003).

A GPx é responsável pela degradação do H2O2 em uma reação em que utiliza,

especificamente, a glutationa reduzida (GSH) como doadora de elétrons. Nesse processo, há a

formação de glutationa dissulfeto (GSSH) que é, consequentemente, reduzido à GSH

utilizando o NADPH como doador de elétrons. A catalase também é responsável pela

degradação do H2O2, e, também, pode atuar na degradação de pequenas quantidades de

hidroperóxidos (GRIENDLING E FITZGERALD, 2003).

As ROS também podem ser geradas sem o auxílio de enzimas como, por exemplo, nas

reações de Fenton e Haber Weiss (figura 3). Na reação de Fenton, através da adição de um

elétron ao H2O2 são formados dois radicais HO, a reação pode ser catalisada pelo sistema

Fe+2/Fe+3 ou Cu+2/Cu+3. Na reação de Haber Weiss ocorre a interação do H2O2 com o •O2- e

também são formados dois radicais •OH (HALLIWELL, 1991).

Figura 3. Reação de Fenton: interação do peróxido de hidrogênio (H2O2) com o ferro (Fe2) e reação de Haber-Weiss: interação de H2O2 com o ânion superóxido •O2

-.

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O radical OH é extremamente reativo e pode causar, dentre outros efeitos, danos à

membrana celular (GARDNER, 1995). As reações de Fenton e Haber-Weiss não são as

únicas que ocorrem sem a interferência de enzimas. Várias outras reações, principalmente

entre as espécies reativas livres ocorrem, frequentemente, sem auxílio de catalisação

enzimática. O O2 livre precisa ser removido rapidamente, quando isso não ocorre, ele pode

reagir com o NO formando ONOO-. Outro exemplo é a reação do •O2- com o NO livre

formando ONOO- (SANTOS et al., 2011).

Fatores como o aumento de hormônios também podem induzir a produção de ROS e

RNS pelas células eucarióticas. A angiotensina II (Angio II), por exemplo, pode gerar

alterações na mobilidade de Ca2+ e quadros inflamatórios, e com isso, induzir estresse

oxidativo (RODRIGUES-MACHADO, 2008).

A própria disponibilidade de O2 livre pode induzir a formação de ROS e RNS, pois, o

O2 exerce um papel central na célula, atuando diretamente sobre enzimas e estruturas ligadas a

produção de espécies reativas (AKKI et al., 2009). O coração, dentre todos os outros órgãos,

tem o maior consumo de O2 do corpo e em condições de carga máxima pode aumentar esse

consumo em até oito vezes ou mais (KEITH et al., 1998). Assim sendo, no coração existem

diversos mecanismos de balanço redox modulando o aporte e o consumo de O2. Mecanismos

complexos de sinalização intracelular estão centralmente envolvidos no balanço entre a

geração e a neutralização das espécies oxidativas (AKKI et al., 2009; SANTOS et al., 2011).

1.3 Estresse oxidativo e modulação redox no coração

Neste tópico, veremos algumas vias de sinalização que, no cardiomiócito, podem

conduzir a uma oxidação branda ou a uma oxidação severa (SANTOS et al., 2011). As ROS e

RNS podem atuar como segundo mensageiros para efeitos deletérios como alterações

patológicas dos níveis de cálcio, hipertrofia cardíaca severa, morte celular programada e

falência cardíaca. Entretanto, em um processo de oxidação brando, podem ocorrer efeitos não

deletérios, como por exemplo, a modulação do AEC e respostas adaptativas a hipóxia que

podem contribuir para o bom funcionamento do coração (SANTOS et al., 2011). Podemos

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visualizar de forma esquemática, na figura 4, como as ROS atuam sobre estruturas

importantes do cardiomiócito.

Figura 4. Representação esquemática de uma célula cardíaca sobre ação de espécies reativas de oxigênio (ROS). Na membrana celular as ROS podem atuar sobre os canais de Ca2+, canais de K+ e canais de Cl-, bem como, sobre a metaloproteinases de membrana (MMPs). Intracelularmente, as ROS podem atuar no retículo sarcoplasmático (RS) e também modular a liberação de cálcio induzida por cálcio (CICR). As ROS também geram disfunções mitocondriais e contráteis. E a atuação de ROS sobre ASK1 (kinase reguladora de sinal de apoptose), Ras (pequenas GTPases), MAPks (proteínas Kinase ativadas por mitógeno) e PKA/B/C/G (proteínas kinase A, B, C e G) induz a transcrição de NF-kB (fator nuclear kB), AP-1 (ativador de proteína-1), HIF-1 (fator induzível por hipóxia-1) STAT (sinal transdutor e ativador de transcrição), o que pode induzir crescimento, hipertrofia, fibrose e apoptose (Adaptado de AKKI et al., 2009).

O AEC, e consequentemente a contratilidade celular, pode ser regulado por alterações

na modulação redox celular. Na membrana celular, as ROS podem atuar sobre os canais de

Ca2+. Um dos mecanismos pelo qual os canais de Ca2+ do tipo L podem ser modulados é pela

via de ativação da endotelina-1 (ET-1). Esta via pode ser ativada, dentre outros mecanismos,

pelo aumento de •O2- produzido pela enzima NADPH oxidase. A ET-1, por sua vez, induz a

ativação dos canais de Ca2+ do tipo L, aumentando assim, o influxo de Ca2+ para o interior do

cardiomiócito (ZENG et al., 2008).

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Ainda na membrana celular cardíaca as ROS podem atuar sobre o NCX, os canais para

K+, os canais para Cl- e as metaloproteinases de membrana (MMPs) (AKKI et al., 2009). A

atividade do NXC diminui significativamente quando há estresse oxidativo (LEHOTSKÝ et

al., 1999). A diminuição da atividade do NCX pode levar ao desequilíbrio na remoção do

Ca2+ presente no citosol da célula cardíaca após a contração celular. Por consequência os

níveis de Ca2+ citoplasmáticos aumentam devido à deficiência da atividade do NCX, o que

pode levar a arritmias cardíacas, principal causa de morte dentre as doenças cardiovasculares

(HILGE, 2012).

A corrente dos canais para K+ também diminui quando há aumento no estresse

oxidativo no cardiomiócito. A diminuição da entrada de K+ na célula pode ser associada ao

aumento da produção de •O2- via NADPH oxidase. Nesse sentido, tanto a inibição da NADPH

oxidase quanto o aumento da atividade da SOD, diminuem os níveis de •O2-, o que leva a

ativação dos canais para K+ e consequentemente um aumento da corrente de K+ (SHIMONI et

al., 2005).

Quanto aos canais para Cl-, a literatura mostra que, as ROS são capazes de modular

seu funcionamento via receptor de angiotensina tipo I (AT1) (SANTOS et al., 2011). A

modulação dos canais para Cl- ocorre a partir do momento que o aumento de ROS ativa o

receptor AT1, e, este induz a ativação dos canais para Cl-. A ativação ou inativação dos canais

para Cl- está relacionada ao equilíbrio iso-osmótico celular. Em modelos de cardiomiopatia

dilatada, os canais para Cl- encontram-se permanentemente ativados. A ativação persistente da

corrente Cl- também ocorre na hipertrofia ventricular, falência cardíaca, diabetes e hipertensão

(REN et al. 2007).

A inibição das enzimas NADPH oxidase (NOX) pode levar a diminuição das correntes

de Cl-. Nesse sentido, a diminuição de •O2

- via atividade da SOD deveria induzir o aumento

das correntes de Cl-, entretanto, durante a dismutação do superóxido é gerado H2O2, que é

considerado um potente agonista dos canais para Cl- cardíacos (REN, et al., 2007). A

presença do H2O2 gerado durante a dismutação do superóxido ativa os canais Cl-. Outro

mecanismo que pode levar à diminuição na ativação dos canais para Cl- é a presença da

enzima catalase. A catalase é considerada uma potente sequestradora de H2O2, e a diminuição

desta molécula pode induzir a diminuição das correntes de Cl- (REN, et al., 2007).

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A metaloproteinase-2 (MMP-2) está presente na membrana do cardiomiócito e é

responsável por degradar substratos como o colágeno tipo IV, a elastina e a endotelina, dentre

outros substratos da matriz extracelular. Alterações na expressão ou ativação da MMP-2 estão

relacionadas a patologias, como a falência cardíaca. Em modelos de isquemia e reperfusão é

possível visualizar um aumento na ativação da MMP-2, sugerindo que esta proteína estaria

agindo beneficamente no remodelamento cardíaco pós-injúria (WANG et al., 2005).

A MMP-2 tem sua atividade regulada pela geração de ROS (SANTOS et al., 2011). É

interessante notar que a literatura demonstra que as ROS geradas pelas NOX (exceto NOX2)

são responsáveis pela ativação da MMP e o estímulo provocado pelo aumento de ROS

derivado da NADPH oxidase pode aumentar a expressão da MMP-2 (CAVE et al., 2006).

Nesse sentido a ativação da MMP-2 seria benéfico para a célula, sendo provavelmente um

mecanismo pelo qual o cardiomiócito poderia minimizar os efeitos deletérios gerados pelo

aumento de ROS.

Intracelularmente, as ROS podem atuar no RS (AKKI et al., 2009). É bem descrito na

literatura que o RyR e também a liberação de Ca2+ induzida por cálcio (CICR) são inibidos

pela atividade endógena da NADPH oxidase no RS (HOOL et al., 2007; AKKI et al., 2009).

A inibição da NADH induz a liberação de Ca2+ pelo RS e, consequentemente, o aumento de

NADH induz a diminuição da atividade do RYR e a diminuição da liberação de Ca2+ pelo RS

(CHEREDNICHENKO et al., 2004).

A SERCA, também pode sofrer a ação das ROS e RNS. É bem estabelecido que

pequenas quantidades de ROS possam atuar aumentando a atividade da SERCA, e grandes

quantidades de ROS podem causar a inativação desta ATPase de forma irreversível

(SHAROV et al., 2006; SANTOS et al., 2011). A recaptação de Ca2+ pela SERCA é

importante, não somente para o relaxamento muscular, mas também na regulação de

processos como apoptose e proliferação celular (MISQUITTA, MACK e GROVER, 1999). A

diminuição de NO intracelular pode influenciar na atividade da SERCA, acelerando a

recaptação de Ca2+, entretanto, o NO é considerado um oxidante fraco. Contudo, essa espécie

reativa pode reagir com proteínas e sofrer s-nitrosilação (SNO) ou s-glutationilação (GSS) de

tióis reativos, essas reações podem ocorrer por meio da geração secundária de RNS, incluindo

NO2, N2O3, NO- ou ONOO- (SAMIE et al., 2009).

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A influência da modulação redox na mitocôndria e nos mecanismos contráteis é de

fundamental importância, pois se relaciona com a função celular e, a depender do aumento

das ROS, também pode se relacionar com a vida ou a morte celular. (AKKI et al., 2009). As

mitocôndrias ocupam 30% do volume total do cardiomiócito e está localizada,

intracelularmente, de forma a ocupar espaços regulares entre os miofilamentos e o RS (PIZZO

e POZZAN, 2007, SANTOS et al., 2011).

A literatura propõe que existe uma relação entre o NADH e o Ca2+ na regulação do

perfil energético do cardiomiócito. Essa relação foi estabelecida pois o aumento de Ca2+ ativa

as desidrogenases mitocondriais que são essenciais para o aumento dos níveis de NADH e,

portanto, uma das responsáveis pela demanda de energia na célula cardíaca

(CHEREDNICHENKO et al., 2004).

Ao atuar sobre a mitocôndria, o O2 pode induzir a formação de •O2-. Esse radical livre

pode reagir com o NO (produzido pelas NOS) e formar o ONOO- (SANTOS et al., 2011). O

ONOO- é gerado, principalmente, quando há um aumento de NO intracelular e é produto de

uma reação rápida entre NO e •O2-, sendo considerado um potente oxidante que é capaz de

oxidar e nitrosilar várias biomoléculas. Danos como, por exemplo, a nitrosilação da enzima

polimerase poli-ADP-ribose (PARP), podem contribuir para disfunção endotelial e falência

cardíaca (FLOREA e ANAND, 2012).

Já a ação do O2 sobre as NOX pode induzir a geração do H2O2, que também pode ser

gerado pelas NOX que atuam no metabolismo celular (por exemplo, a NOX4). O radical OH

que pode ser gerado a partir do H2O2, juntamente com o •NO2 (gerado a partir do ONOO-)

causa danos ao DNA celular, bem como, oxida proteínas metabólicas, o que contribui para a

geração de déficit energético no miócito cardíaco (AKKI et al., 2009; SANTOS et al., 2011).

O estresse oxidativo causado pelo excesso de produção de ROS e RNS está envolvido

em diversos processos fisiopatológicos. Geralmente a geração de espécies reativas não é a

causa da doença e sim parte do processo patológico já instalado. Em pequenas quantidades,

tanto as ROS como as RNS são parte do metabolismo celular cardíaco. Contudo em grandes

quantidades, estão relacionadas a doenças cardíacas como a hipertrofia ventricular, doenças

cardiometabólicas como o diabetes mellitus, dentre outras patologias (GREIENDLING e

FITZGERALD, 2003; ANSLEY e WANG, 2013).

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1.4 Modulação Redox em Modelos de Doenças Cardíacas.

O estresse oxidativo cardíaco pode resultar, resumidamente, em três processos:

adaptação (aumento das defesas antioxidantes), lesão tecidual (dano ao DNA, peroxidação

lipídica e oxidação de proteínas) e morte celular (necrose ou apoptose). No caso da adaptação

do sistema de defesa, diferentes respostas são geradas como proteção completa contra o dano,

ou proteção incompleta contra a lesão, ou seja, as células resistem aos oxidantes

(HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999).

A lesão tecidual ocorre quando a célula não consegue contrabalancear a produção

excessiva de ROS e estruturas celulares importantes são oxidadas (HALLIWELL e

GUTTERIDGE, 1999). A morte celular, que ocorre através da necrose ou apoptose, gera

estresse oxidativo e consequentemente dano tecidual. Na necrose a célula incha se rompe,

liberando seu conteúdo, o que afeta as células adjacentes, já que o produto liberado contem

oxidantes, impondo agressão às células vizinhas e amplificando a lesão tecidual. No processo

de apoptose, comumente o dano tecidual para as células vizinhas é menor, pois o

cardiomiócito, por exemplo, libera mediadores que promovem a morte celular programada

internamente, sem liberar seu conteúdo citoplasmático para as células vizinhas, o que diminui

o dano adjacente (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999; HALLIWELL, 2000).

A alteração do equilíbrio redox celular está presente na instalação e desenvolvimento

de muitas doenças cardíacas, ou doenças que afetam o coração, como por exemplo, a

hipertrofia cardíaca ventricular, o diabetes, a aterosclerose e a doença de Chagas, dentre

outras (WANG et al., 2005; AKKI et al., 2009 GUTIERRES et al., 2009; SANTOS et al.,

2011).

A hipertrofia ventricular é caracterizada por um aumento de fibrose intersticial que

está relacionado à produção de •O2- pelas NOX. A literatura demonstra que principalmente a

NOX-2 está centralmente envolvida na indução de fibrose no cardiomiócito (SANTOS et al.,

2011; BURGOYNE et al., 2012). O remodelamento que ocorre durante o aumento de fibrose

intersticial envolve interação entre os cardiomiócitos, células endoteliais e células

inflamatórias (BURGOYNE et al., 2012).

Uma vez que tanto o diabetes quanto a aterosclerose são fortemente prevalentes em

indivíduos também portadores de síndrome metabólica, e seria plausível conceber que o

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estresse oxidativo também atue como uma variável biológica relacionada a esse distúrbio. O

diabetes está associado ao estresse oxidativo mitocondrial, que apresenta mudanças pró-

oxidativas no estado redox sistêmico.

A aterosclerose pode ser caracterizada como uma doença inflamatória sistêmica, onde

a deposição de placa ocorre, essencialmente, por meio de um desbalanço entre a resposta

imune e a deposição lipídica na camada subendotelial e a alterações nas vias de síntese ou

metabolismo do NO. Os monócitos são os principais agentes efetores na formação do

ateroma, e são excessivamente estimulados pela atividade da NADPH oxidase.

A literatura relaciona a doença de Chagas com o estresse oxidativo, onde as ROS e

RNS são geradas pelas células de defesa do hospedeiro, como agente microbicida (SAEFTEL

et al., 2001). Na doença de Chagas o processo inflamatório é complexo e extensamente

estudado e este processo está diretamente relacionado à produção de ROS e RNS.

É interessante entender, primeiramente, que a doença de Chagas é uma doença

sistêmica e não afeta só o coração, entretanto, abordaremos como essa patologia afeta o

coração e como o estresse oxidativo se relaciona com o desenvolvimento da doença.

1.5 A doença de Chagas e no coração

A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase, é uma zoonose

causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi). Programas de controle profiláticos

tem diminuído substancialmente o número de pessoas infectadas com T. cruzi. Eram entre 16

e 18 milhões de infectados no início de 1990 e em uma estimativa recente o número de

doentes está em 10 a 12 milhões, entretanto, aproximadamente 100 milhões de pessoas ainda

continuam a estar em risco de adquirir a infecção. Essa doença, atualmente, acomete

principalmente residentes da Americana Latina, onde a doença é endêmica (ACQUATELLA,

2007; RAMÍREZ et al., 2012).

O agente etiológico (T. cruzi) é transmitido ao homem, principalmente por seu

hospedeiro invertebrado hematófago, conhecido popularmente como barbeiro. As principais

espécies associadas à transmissão de T. cruzi, são Triatoma infestans, Panstrongylus

megistus, Rhodnius prolixus, Triatoma brasiliensis, Triatoma rubrosfasciata e Triatoma

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sordida, sendo que o primeiro é considerado o mais importante e de maior incidência no

Brasil (BRENER et al., 2000; RASSI et al., 2012).

No ciclo natural do T. cruzi (figura 5) estão evolvidos o inseto infectado e o homem. O

inseto, membro da subfamília Triatominae, se alimenta do sangue do hospedeiro vertebrado,

eliminando durante o repasto, fezes próximas ao local da picada. As fezes que contêm T.

cruzi, na forma epimastigota e tripomastigota metacíclica alcançam o tecido conjuntivo e a

corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado através da ferida aberta durante a picada do

inseto (RASSI et al., 2012).

Dentro do hospedeiro, o T. cruzi em sua forma tripomastigota é capaz de parasitar

diferentes células, inicialmente infecta os macrófagos. (RASSI et al., 2012). No interior das

células, os parasitos se diferenciam em amastigotas, iniciando o processo de replicação. Em

seguida, após determinado número de ciclos de crescimento, de forma sincronizada, as formas

amastigotas se transformam em tripomastigotas, causando a lise da célula infectada e

liberando, no interstício ou na circulação sanguínea, o T. cruzi em sua forma tripomastigota

(BRENER et al., 2000; RASSI et al., 2012)

As formas tripomastigotas são capazes de infectar outras células, ou reiniciar o ciclo

quando um inseto Triatominae não infectado pica o hospedeiro vertebrado infectado

(ANDRADE e ANDREWS, 2005; BRENER et al., 2000; RASSI et al., 2012).

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Figura 5. Ciclo natural do T. Cruzi. O vetor reduviidae elimina o T. cruzi, na forma epimastigota e tripomastigota metacíclica que dentro do hospedeiro se transforma na forma tripomastigota, que é capaz de parasitar diferentes células. No interior das células, os parasitos se diferenciam em amastigotas, iniciando o processo de replicação, após determinado número de ciclos de crescimento as formas amastigotas se transformam em tripomastigotas, causando a lise da célula infectada e liberando, na circulação sanguínea, o T.

cruzi em sua forma tripomastigota. As formas tripomastigotas são capazes de infectar outras células, ou reiniciar o ciclo quando um vetor não infectado pica o hospedeiro vertebrado infectado (Adaptado de Andrade e Andrews, 2005).

A doença de Chagas é uma doença sistêmica, entretanto abordaremos as fases aguda e

crônica no coração. Na fase aguda, ocorre uma grande expansão do número de parasitos na

circulação sanguínea, bem como um aumento do número de ninhos de amastigotas

observados no tecido cardíaco (RUBIN e SCHENKMAN, 2012). A fase crônica da doença se

inicia após o controle da parasitemia, que ocorre devido aos processos de imunidade inata e

adaptativa, onde pode ser observada uma redução significativa do número de parasitos

circulantes, sendo difícil sua detecção na circulação sanguínea (RASSI et al., 2010).

Considerando os aspectos cardíacos durante a fase aguda da doença de Chagas, pode-

se observar a ocorrência de um infiltrado inflamatório mononuclear (DOS SANTOS et al.,

2001). A principal consequência do intenso infiltrado inflamatório é a indução de uma intensa

miocardite difusa, que pode originar danos aos cardiomiócitos, bem como, danos ao sistema

de vasos e inervação do coração (TALVANI e TEIXEIRA, 2011). A literatura demonstra que,

na fase aguda, pode ser observada uma desenervação do sistema autonômico cardíaco, que

está relacionada à destruição dos neurônios parassimpáticos e simpáticos no coração

(MACHADO e RIBEIRO, 1989).

A correlação entre o número de parasitos e a miocardite pode parecer óbvia,

entretanto, diferentes dados da literatura demonstram que não existe uma relação clara nesse

aspecto. Essa falta de correlação pode ser atribuída às diferenças existentes durante a resposta

imune no hospedeiro. O tropismo do T. cruzi por tecidos específicos e as diferenças entres as

cepas de T. cruzi também podem ser responsáveis pela variabilidade na resposta imune e

consequentemente à falta de correlação entre o número de parasitos e a miocardite (SOUZA

et al., 1996).

As manifestações clínicas características da doença de Chagas, na fase aguda, são a

taquicardia, a ligeira hipertrofia ventricular, alternância de onda P, distúrbios de

repolarização, arritmias diversas, dentre outras. Entretanto, a mortalidade associada à fase

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aguda é reduzida (BRENER et al., 2000). As manifestações cardíacas observadas durante a

fase crônica da doença de Chagas podem ocorrer anos ou décadas após a infecção com o T.

cruzi. Contudo, essas manifestações são consideradas os principais problemas decorrentes da

infecção por T. cruzi. Cerca de 30 a 40% das pessoas infectadas irão desenvolver, ao longo

dos anos, o quadro sintomático e fisiopatológico da fase crônica. Nessa fase da doença, a

detecção do parasito no hospedeiro se torna difícil, sendo realizada principalmente com o

auxílio de técnicas de biologia molecular (BRENER et al., 2000; RASSI et al., 2010).

As alterações cardíacas durante a fase crônica da doença de Chagas são a hipertrofia

cardíaca em função da dilatação de ambas as câmaras cardíacas, mas principalmente a

dilatação do ventrículo direito, com hipertrofia do músculo cardíaco. A presença de infiltrado

inflamatório é predominantemente mononuclear difuso, e é observado tanto na interface

quanto nos cardiomiócitos e sistema condutor, a presença de fibrose, que compromete a

função das células cardíacas (SCANAVACCA e SOSA, 1994; POSTAN et al., 1986;

ANDRADE et al. 1978; MACHADO e RIBEIRO, 1989; MACHADO et al., 1987).

Na fase crônica também são observadas alterações no sistema condutor do coração,

bem como alterações das propriedades elétricas no miócito cardíaco, que contribuem de forma

conjunta para a taquicardia ventricular sustentada e as arritmias. Além disso, o infiltrado

inflamatório encontrado ao longo de todo o tecido excitocondutor cardíaco pode contribuir

para as constantes alterações elétricas encontradas nessa fase da patologia, como bloqueio

total/parcial de ramo direito e parcial do ramo esquerdo, bem como atrofia do nodo sinusal e

destruição difusa do nodo átrio-ventricular (BRENER et al., 2000; ANDRADE et al., 1978).

Durante o desenvolvimento da resposta inflamatória ocorre o aumento da produção de

ROS e RNS. Além disso, as espécies reativas são consideradas essenciais na resposta imune,

gerada contra diversos patógenos intracelulares, como os vírus, bactérias, fungos e

protozoários (FUKAI, 2009). Durante a infecção por T. cruzi, ocorre um aumento

generalizado de ROS e RNS com o objetivo de eliminar o parasito (ALVAREZ et al. 2004).

1.6 O estresse oxidativo na doença de Chagas

A literatura descreve o NO, o •O2-, e o H2O2 como as espécies reativas que participam

ativamente na defesa do hospedeiro contra o T. cruzi, e por isso se encontram aumentadas

durante a infecção pelo parasita (BENDALL et al., 2002; FUKAI, 2009; GUTIERRRES, et

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al., 2009). Entretanto, o aumento exagerado das espécies reativas pode desempenhar efeitos

deletérios nas células do próprio hospedeiro (FUKAI, 2009).

Durante a infecção por T. cruzi a NOS2 é expressa pelos macrófagos e a produção de

NO aumentada pode modular a atividade destas células de defesa que são fagócitos ativos no

controle e morte de parasitas por mecanismos oxidativos e não oxidativos. Entretanto, o

excesso de produção de NO pelas células de defesa pode gerar dano tecidual ao coração

(GAZZINELLI et al., 1992).

Durante a evolução da doença de Chagas a produção de ROS se encontra aumentada,

tanto nas células de defesa, como por exemplo, células Natural Killer (NK) e macrófagos

quanto nas células cardíacas com o objetivo de eliminar o parasita (VYATKINA et al., 2004;

FISHER, 2009). A literatura demonstra que, com a evolução da infecção por T. cruzi, ocorre

um remodelamento na matriz mitocondrial nas células cardíacas e com isso, uma redução nos

níveis de ATP, atribuída principalmente a um escape de elétrons da cadeia transportadora de

elétrons, que são transferidos para o O2 molecular, contribuindo para uma produção constante

de •O2- (VYATKINA et al., 2004).

A ação do •O2- e do H2O2 é modulada pela presença de diferentes proteínas

antioxidantes, como a SOD, catalase e a GPx. Entretanto, além de ser observado um aumento

na produção das ROS na infecção por T. cruzi, também é observado uma redução das enzimas

antioxidantes, como a GSH e a MnSOD, indicando a ocorrência de um desbalanço entre

produção e neutralização das ROS (VYATKINA et al., 2004; GUPTA et al., 2009).

A importância de se controlar o estresse oxidativo durante a infecção por T. cruzi é

demonstrada em estudos, onde o tratamento com antioxidante ou a privação de antioxidantes

promoveu respectivamente a melhora ou a piora dos danos cardíacos (CARVALHO et al.,

2006; WEN et al., 2006; MACAO et al., 2007). Um exemplo de aumento de danos cardíacos

causados por estresse oxidativo foi demonstrado por Carvalho et al. (2006), onde, utilizando

ratos chagásicos, a privação de vitamina-E agravou o dano cardíaco e a inervação cardíaca

durante a fase aguda da doença de Chagas.

Wen et al. (2006) demonstraram que, camundongos infectados com T. cruzi e tratados

com Fenil-N-tert-butilnitrona (PBN), uma substância antioxidante, apresentaram melhora na

atividade da cadeia respiratória, contribuindo para melhora dos danos cardíacos observados na

fase aguda da doença de Chagas. Nesse sentido, Macao et al. (2007), em um estudo com

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humanos, também observaram redução no estresse oxidativo de indivíduos tratados com

vitamina A.

Somadas às informações já apresentadas, é interessante acrescentar que os tratamentos

disponíveis para a fase aguda da doença de Chagas, como o Benzonidazol e o Nifurtimox

provocam aumento de estresse oxidativo, pois o mecanismo de ação destes dois fármacos é

via geração de ROS, capaz de matar o T. cruzi (MONCADA et al., 1989; PEDROSA et al.,

2001).

Neste contexto, o ácido úsnico é descrito na literatura como uma molécula capaz de

produzir efeito anti T. cruzi, pois ele atua promovendo a redução da proliferação de formas

epimastigotas do T. cruzi (DE CARVALHO et al., 2005). O interessante dessa molécula é que

vários estudos recentes têm demonstrado que o ácido úsnico tem potencial antioxidante

(ODABASOGLU et al., 2006; RABELO et al., 2012).

1.7 Ácido Úsnico

O ácido úsnico [2,6-diacetil-7,9-dihidroxi-8,9b-dimetil-1,3-(2H, 9H)-dibenzofurano]

(figura 6) é um metabólito secundário de líquens, sendo descrito na literatura como um

componente com efeito antibiótico (FRANCOLINI et al., 2004; SAFAK et al., 2009; GUPTA

et al., 2012), antifúngico (CONOVER et al. 1992; CARDARELLI et al., 1997;

COCCHIETTO et al., 2002) antiviral (COCCHIETTO et al., 2002; SOKOLOV et al., 2012),

anti-inflamatório (COCCHIETTO et al., 2002; HUANG, 2011), antiproliferativo

(COCCHIETTO et al., 2002; DA SILVA, 2006) e antiparasitário (COCCHIETTO et al.,

2002; DE CARVALHO et al., 2005). O ácido úsnico (AU) é uma substância de fácil obtenção

e a sua extração envolve baixos custos financeiros. Desde o seu isolamento, em 1844, tornou-

se o metabólito de líquen mais extensamente estudado e um dos poucos comercialmente

disponíveis (INGÓLFSDÓTTIR, 2002).

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Figura 6. Estrutura química do ácido úsnico (C18H16O7)

Alguns artigos apresentam o AU como um potente agente hepatotóxico

(PRAMYOTHIN et al., 2004; KRISHNA et al., 2011), entretanto, a toxicidade dessa

substância tem sido questionada em vários estudos (ODABASOGLU et al., 2006; JU-QING,

CUI-QIN e LANG-CHONG, 2008; RABELO et al., 2012). O AU é utilizado em vários

países na formulação de cosméticos como cremes, produtos com fator de proteção contra

raios ultravioletas, perfumes, desodorantes, creme dental e antisséptico bucal (RANCAN et

al., 2002; ENGEL et al., 2007; NUNES et al., 2011). Também tem sido relatada a utilização

do AU em suplementos alimentares com a finalidade de ajudar na perda de peso, embora a

literatura aponte que a utilização do AU como emagrecedor pode causar hepatotoxicidade, os

dados indicam que essa substância é utilizada, mesmo sem orientação médica, com essa

finalidade (HSU et al., 2005; BUNCHORNTAVAKUL e REDDY, 2013).

Vários estudos relatam que o AU, em altas doses, induz o desacoplamento da cadeia

transportadora de elétrons (ABO-KHATWA, AL-ROBAI E AL-JAWHARI, 1999; HAN, et

al., 2004; JOSEPH et al., 2009). Joseph et al. (2009), demonstraram ainda que o AU pode

modular a expressão de vários genes, dentre eles, os genes que regulam a expressão dos

complexos que constituem a cadeia transportadora de elétrons. A fosforilação oxidativa é

produzida pelo gradiente de prótons em toda a membrana interna da mitocôndria, e é crucial

para a geração de ATP. A cadeia transportadora de elétrons é constituída por quatro

complexos nomeados complexos I, II, III e IV. O complexo V é responsável pela síntese de

ATP. Todos os cinco complexos possuem várias subunidades de proteínas que são codificadas

pelos genomas mitocondriais e nucleares, exceto as proteínas do complexo II, que são

codificadas apenas pelo DNA nuclear (LEHNINGER, NELSON e COX, 2007).

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No estudo realizado por Joseph, et al. (2009) foi mostrado que o AU apresentou efeito

sobre a expressão genética dos quatro complexos da cadeia de transportadora de elétrons

(complexos I - IV), enquanto a expressão de genes relacionados ao complexo V foi menos

afetada pelo tratamento com AU. Dos 82 genes associados com a fosforilação oxidativa

mitocondrial foram analisados neste estudo 30 genes, dentre esses, a maioria foi regulada

positivamente pelo AU.

Devido ao seu caráter lipofílico o AU, atravessa facilmente a membrana celular e

mitocondrial. Entretanto, para atravessar estas membranas na matriz da mitocôndria, o AU

libera um próton H+ e se transforma em um ânion usniato (AU-). O AU- pode difundir de

volta para espaço intramembranar, onde pode se ligar a um próton H+ para se transformar

novamente em AU (figura 7).

O ciclo resultante da constante entrada e saída do AU provoca uma fuga de prótons

que, eventualmente, pode dissipar o gradiente de prótons através da membrana, o que explica

o motivo pelo qual não há prótons suficientes para ativar o complexo V e, portanto, pode

resultar no desacoplamento da cadeia transportadora de elétrons (JOSEPH et al., 2009).

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Figura 7. Representação esquemática da difusão do ácido úsnico (AU) através da matriz mitocondrial e a formação de ânion usniato (AU-). O AU atravessa facilmente a membrana mitocondrial externa, entretanto, ao atravessar a membrana interna o AU libera um próton H+ e se transforma AU-. Alcançando a matriz mitocondrial o AU- se liga a um próton H+ e se transforma novamente em AU. Quando esse processo ocorre ciclicamente, o gradiente de prótons H+ no espaço intermembranoso é dissipado, o que culmina no bloqueio do complexo V da cadeia transportadora de elétrons. Os complexos I, II, II e IV também estão representados no esquema (Adaptado de JOSEPH et al., 2009).

Joseph et al. (2009) demonstraram que, em camundongos, após tratamento oral com

200 mg/kg de AU, os complexos I – IV da cadeia transportadora de elétrons podem ser

induzidos pelo AU para criar um gradiente de prótons na membrana mitocondrial interna

suficiente para ativar o complexo V. Além disso, a atividade dos complexos I – IV pode

aumentar a produção de acil-coenzima A (acil-CoA) a partir dos ácidos graxos, seguido por

seu aumento na matriz mitocondrial. Os autores ainda apontam que, dentro da matriz

mitocondrial, os níveis mais elevados de acil-CoA podem induzir a β-oxidação de ácidos

graxos, resultando em um produto final, a acetil-coenzima A (acetil-CoA), a qual, em seguida,

pode entrar no ciclo de Krebs. Assim, a ingestão de AU implica em um aumento da atividade

de oxidação dos ácidos graxos, o que pode explicar a grande utilização desta substância como

um suplemento dietético de perda de peso sem orientação médica e de forma indiscriminada

(DURAZO et al., 2004).

A literatura mostra que o AU pode ter efeitos contrários quando se trata de atividade

antioxidante. Neste contexto, Han et al. (2004) demonstraram que o AU pode induzir estresse

oxidativo em hepatócitos por alterar o transporte de elétrons na mitocôndria. Entretanto,

Odabasoglu et al. (2006) descreveram que o AU tem significante efeito protetor na úlcera

gástrica induzida por indometacina em ratos, pois o tratamento com esta substância reduziu a

formação de espécies reativas e consequentemente danos oxidativos. Em um estudo recente,

Rabelo et al. (2012) mostraram que AU produz tanto efeitos antioxidantes, como efeitos pró-

oxidantes. Nesse estudo, foi evidenciado que o AU apresenta efeito antioxidante contra o OH,

previne danos na membrana lipídica por peroxidação e reduz a formação de NO. Entretanto, o

AU não foi capaz de prevenir danos oxidativos mediados por H2O2.

Além dos efeitos biológicos já citados (como os efeitos antiproliferativo, antibiótico e

anti-inflamatório), podemos associar o AU ao efeito antiparasitário descrito por De Carvalho

et al. (2005), onde os autores demonstraram que o esta substância atua promovendo a redução

da proliferação de formas epimastigotas dos parasitas. Neste estudo, foi evidenciado que a

exposição in vitro ao AU, nas doses de 20, 40 e 80 mg/mL foi capaz de promover uma intensa

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vacuolização citoplasmática em formas amastigotas de Trypanosoma cruzi intracelulares,

desorganizando os cinetoplastos e mitocôndrias, sem danos significativos à ultraestrutura dos

macrófagos hospedeiros. Os resultados obtidos foram de maneira dose-dependente e indicam

que esta substância pode ter potencial para eliminar o parasita intracelular que se aloja em

miócitos cardíacos.

Os efeitos cardíacos do AU ainda não bem são conhecidos, uma vez que, quase não se

encontram estudos sobre efeito desse composto no coração. O único artigo que relaciona o

AU ao coração demonstra que, o AU apresenta baixa citotoxidade em fibroblastos cardíacos

de camundongos (CHENG et al., 2009).

Outro estudo que pode nos ajudar a compreender os efeitos do AU no coração está

descrito no trabalho de Mendonça (2009). A autora utilizou esta substância em banho de

órgão isolado e após incubar átrios de cobaias, observou em cortes histológicos, que o AU não

causava danos estruturais ao tecido atrial, mesmo na concentração mais alta utilizada (800

Foi ainda descrito que o AU, é capaz de diminuir a contratilidade atrial, aumentar a

tensão diastólica e aumentar também os tempos de contração e relaxamento.

Os experimentos realizados por Mendonça (2009) demonstraram que a concentração

em concentrações próxi

músculo cardíaco atrial.

Após nos depararmos com esta gama de informações, vimos à necessidade do

esclarecimento de possíveis efeitos do AU sobre as células cardíacas. Justificamos a execução

desse trabalho apoiados nos seguintes fatos: (1) não foi descrito na literatura se existem doses

de AU não tóxicas para as células cardíacas e, ainda, o possível efeito desta substância sob o

perfil redox celular no coração, (2) não existe, na literatura, qualquer descrição sobre a relação

entre o tratamento com AU e a, função cardíaca e (3) não se conhecer se tratamento com AU

de animais com cardiomiopatia chagásica teria algum efeito sobre o sistema redox celular,

uma vez que esta é uma patologia cuja progressão da doença está intimamente relacionada

com este desequilíbrio.

Assim, entendemos que é importante esclarecer se o AU pode ajudar a prevenir danos

oxidativos no coração, e qual a sua relação com a contratilidade cardíaca e a homeostase do

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cálcio, e ainda sua ação sobre as vias de produção e neutralização das espécies reativas de

oxigênio e nitrogênio.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho foi avaliar os efeitos do ácido úsnico (AU) sobre a

contratilidade e o perfil redox do coração de mamíferos, bem como seus efeitos sobre

parâmetros da função cardíaca de animais chagásicos.

2.1 Delineamento Experimental

Para responder a hipótese acima levantada, propusemos o seguinte desenho

experimental:

· Avaliar a toxicidade do AU em cultura de células, investigando se o AU

interfere na viabilidade celular;

· Determinar se a exposição in vitro ao AU altera a contratilidade de

cardiomiócitos isolados;

· Medir o transiente de cálcio intracelular em miócitos cardíacos isolados após a

exposição in vitro ao AU;

· Mensurar o óxido nítrico em miócitos cardíacos isolados após a exposição in

vitro ao AU;

· Avaliar se a exposição in vitro ao AU altera a produção de espécies reativas de

oxigênio intracelular em cardiomiócitos isolados;

· Determinar se a exposição in vitro ao AU altera a produção de ânion

superóxido intracelular em cardiomiócitos isolados;

· Avaliar, pela medida da peroxidação lipídica, se o tratamento oral com AU

causa toxicidade ao fígado ou coração;

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· Determinar se a atividade das enzimas catalase e superóxido dismutase (SOD),

no tecido cardíaco, são alteradas após tratamento oral com AU;

· Avaliar se o tratamento oral com AU altera a expressão das proteínas: eNOS,

nNOS, catalase, CuZn-SOD (SOD-1), Mn-SOD (SOD-2), glutationa

peroxidase e NADPH oxidase no tecido cardíaco.

· Avaliar os parâmetros da função cardíaca (tensões sistólica e diastólica,

frequência cardíaca e resistência coronariana) de camundongos saudáveis e

chagásicos após tratamento oral com AU;

· Avaliar, pela medida da peroxidação lipídica, se o tratamento oral com AU

causa toxicidade ao fígado ou coração de camundongos chagásicos;

· Mensurar a atividade da SOD, em animais chagásicos, após tratamento oral

com AU;

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3. MÉTODOS

3.1 Hidrossolubilização do ácido úsnico

O AU utilizado nesse estudo foi obtido comercialmente (SIGMA-ALDRICH) e

complexado à -ciclodextrina, também obtida na mesma empresa. O AU é uma molécula

apolar, portanto possui baixa solubilidade em água. A formação do complexo AU/ -

ciclodextrina confere à molécula maior solubilidade em água. O complexo foi preparado

utilizando o método que consiste em misturar -ciclodextrina e o AU em metanol em seguida

a indução da evaporação do solvente. Após a completa evaporação do solvente a substância

obtida foi misturada a água e colocada sob agitação por 24 h. Após esse período a substância

foi liofilizada e armazenada para utilização futura.

3.2 Cultura de células e viabilidade celular

As células endoteliais humanas da linhagem EaHy.926 foram mantidas em meio de

cultura Dulbecco modificado contendo (em mM) 4 L-glutamina, 25 glicose, 1 piruvato de

sódio e 18 bicarbonato de sódio e soro fetal bovino a uma concentração final de 10%. Estas

células foram cultivadas em estufa com atmosfera mantida com oxigênio (O2) a 95% e

dióxido de carbono (CO2) a 5%, na temperatura de 37°C. Ao meio de cultura foi adicionado

AU nas concentrações finais de 1 nM, 10 nM, 100 nM, 1 µM e 10 µM e 100 µM, afim de

avaliar se a exposição a esta substância poderia causar citotoxidade. Após 24h de exposição

ao AU, as células passaram pelo teste indireto de viabilidade celular pelo ensaio de

metabolização de sais de tetrazólio (MTT). Trata-se de um ensaio colorimétrico cujo princípio

se baseia na redução de sais de tetrazólio (MOSMAN, 1983; DIEL et al, 1999; VOHR et al,

2001).

Para o ensaio com MTT cultivou-se 1 x 106 células da linhagem Eary926, em placa

contendo meio Dulbecco modificado e 10% de soro fetal bovino, em presença ou ausência de

-se solução de MTT (1,25

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mM), e após 4 horas a placa foi centrifugada a 6000 RPM por 10 minutos e os sobrenadantes

retirados. Os cristais de formazan foram dissolvidos em 100

realizada a 600 nm em espectrofotômetro de placa.

3.3 Animais utilizados

A primeira etapa deste trabalho foi conduzida em ratos Wistar, saudáveis, machos,

com idade de 12 a 14 semanas (peso entre 250 e 300 g) e camundongos C57Bl6J com idade

de 12 semanas (peso entre 20 e 28 g), respectivamente. Os animais foram obtidos após

aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa com Animais (CEPA) da Universidade Federal de

Sergipe, sob os números de protocolo: CEPA 73/2010, CEPA 20/2012 e CEPA 55/2012

(Anexos: 1, 2 e 3, respectivamente).

Foram utilizadas duas espécies de mamíferos para o estudo, devido à disponibilidade

das mesmas nos diferentes locais onde foram executados os experimentos e a necessidade

experimental. Todos os animais foram submetidos a ciclo claro/escuro natural, criados em

número máximo de cinco por gaiola, e tendo livre acesso ao alimento e à água.

Para experimentos visando estudar o efeito da exposição aguda ao AU, os ratos Wistar

e camundongos C57Bl6 tiveram suas células cardíacas isoladas e expostas, in vitro, ao AU

(SIGMA-ALDRICH) diluído em solução Tyrode (em mM: 130 NaCl; 5,4 KCl; 0,33

NaH2PO4; 22 Glicose; 17 NaHCO3; 25 Hepes; 0,5 MgCl2; 1,8 CaCl2). Para o controle da

droga (CTR) foi utilizado o veículo -ciclodextrina (substância à qual o AU está conjugado

para este aumentar sua solubilidade), acrescido à solução Tyrode.

Foi avaliado, neste trabalho, o efeito da exposição aguda (15 minutos) ao AU, nas

concentrações

3.4 Grupos experimentais

A divisão em grupos experimentais para tratamento com AU, ocorreu apenas com os

camundongos C57Bl6. Estes foram divididos em quatro grupos:

Grupo 1: Camundongos CTR tratados com veículo ( -ciclodextrina + água)

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Grupo 2: Camundongos CTR tratados com AU;

Grupo 3: Camundongos infectados com T. cruzi tratados com veículo ( -ciclodextrina

+ água);

Grupo 4: Camundongos infectados com T. cruzi tratados com AU;

A infecção com o T. cruzi foi realizada entre a 7ª e 8ª semanas de vida dos

camundongos. Cada camundongo foi infectado, por injeção intraperitoneal, com 50 formas da

cepa colombiana do parasita. No 15º dia pós-infecção os camundongos infectados com T.

cruzi receberam uma dose única de benzonidazol (300 mg/kg), por via oral. Com o objetivo

de avaliar os camundongos chagásicos no início da fase crônica da doença, os animais

aguardaram 45 dias pós-infecção, antes de ser iniciado o tratamento com AU. Os grupos 2 e 4

receberam 50 mg/kg/dia de AU, por via oral (gavagem), sendo que o tratamento foi realizado

de 12 em 12 h durante cinco dias. Os grupos 1 e 3 receberam apenas veículo durante os

mesmos cinco dias.

3.5 Obtenção do coração isolado

Os animais receberam injeção intraperitoneal de heparina (4000 UI/kg) diluída em de

solução salina (0,9%). Após 15 minutos, os animais foram sacrificados por decapitação e em

seguida foi realizada toracotomia e o coração era retirado em bloco. Posteriormente o coração

foi colocado em uma pequena placa de Petri que continha 50 mL de solução tampão, isenta de

cálcio, a aproximadamente 4ºC (em mM: 130 NaCl; 25 HEPES; 0,5 MgCl2; 0,33 NaH2PO4;

22 D-glicose e 5 L de solução estoque de insulina a 100 UI/mL , com pH em 7,4 ajustado

com NaOH). Na placa de petri, todos os tecidos, exceto o do coração, eram removidos,

deixando à mostra a artéria aorta, que foi cortada, abaixo do tronco braquiocefálico, deixando,

desta forma, um pequeno segmento da mesma. O coração era canulado pelo coto da aorta e

fixado a uma cânula por uma linha. Este sistema foi então colocado no sistema de

Langendorff para o início da perfusão retrógrada.

3.6 Obtenção das células ventriculares cardíacas

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Para a obtenção dos cardiomiócitos isolados foi utilizado o procedimento para a

dissociação enzimática baseado no protocolo descrito por Mitra & Morad (1985). O coração

foi perfundido retrogadamente através da artéria aorta com a mesma solução tampão descrita

anteriormente durante 3 a 5 minutos ou até limpá-lo completamente. A essa solução tampão

foi adicionado 0,18 mM de Ca2+ e 1 mg/mL de collagenase tipo II (WORTHINGTON, EUA)

que foi perfundida em camundongos durante 4 a 5 minutos e em ratos durante 15 a 20

minutos ou até que o coração estivesse com aspecto amolecido. O tecido foi cortado em

fragmentos e prosseguido com agitação mecânica para facilitar o isolamento dos

cardiomiócitos. O Ca2+ extracelular foi restaurado para 1,8 mM gradativamente. As células

foram armazenadas em solução Tyrode.

3.7 Contratilidade celular

A contratilidade celular foi medida através da técnica de alteração do comprimento

diastólico dos cardiomiócitos usando o sistema de detecção de bordas (IONOPTIX

CORPORATION, Milton, MA, EUA) montado num microscópio invertido (NIKON

ECLIPSE – TS100, EUA) (Prímola-Gomes et al, 2009). As células cardíacas foram

acomodadas em uma câmara giratória com a base de vidro e banhadas por uma solução de

Tyrode, à 37ºC.

As células foram visualizadas em um microscópio em um aumento de 400x (objetiva

de imersão em óleo S Fluor, 40x, Nikon, EUA), ou no monitor do computador ao qual era

acoplado ao microscópio invertido e uma câmera (Myocam, Ionoptix, EUA). Foram

utilizadas, para as análises das contrações, somente as células que estavam em boas

condições, com as bordas (direita e esquerda) e as estrias sarcoméricas bem definidas, além de

imóveis quando não estimuladas eletricamente. O estímulo dado aos miócitos foi de 1 Hz (10

Volts, duração de 5 ms), utilizando um estimulador elétrico (Myopacer, Field Stimulator,

Ionoptix, EUA).

As bordas das células foram identificadas com o auxílio de um detector de borda

utilizado para aquisição das imagens e dos registros das contrações, onde duas janelas (direita

e esquerda) foram alinhadas ao longo do comprimento do cardiomiócito, delimitando as

bordas da célula. A definição das bordas foi ajustada através do contraste (preto e branco)

gerado pela qualidade da imagem projetada das células. Os movimentos das bordas dos

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30

miócitos foram capturados pelo sistema de detecção de bordas e armazenados para análise

posterior. Foi analisado o parâmetro porcentagem de encurtamento.

3.8 Medidas do transiente de cálcio intracelular

Para mensurar o transiente intracelular de cálcio foi feita a incubação dos

cardiomiócitos com a sonda fluorescente sensível ao cálcio Fluo-4/AM (5 M) (Molecular

Probes, Eugene, OR, USA), durante 30 minutos a temperatura ambiente, após este tempo, as

células foram lavadas para retirar o excesso de sonda. Posteriormente, as células foram

incubadas com AU, durante 15 minutos, nas concentrações de 0,1 nM; 1 nM; 10 nM; 100 nM;

1 µM e 10 µM. Os cardiomiócitos marcados foram estimulados na frequência de 1 Hz, com

um pulso quadrado de corrente de duração de 5 ms e 30 V e a sonda foi excitada com laser de

argônio no comprimento de onda de 488 nm e a emissão se dava em 515 nm. Após a

aplicação de 8 pulsos elétricos, foi feita uma varredura repetitiva ao longo de uma linha no

eixo longitudinal das células, utilizando-se microscópio Confocal Zeiss 510 Meta

(GUATIMOSIM et al., 2001. LAUTON-SANTOS et al, 2007). As análises foram realizadas

no software Microsoft Excel.

3.9 Medida dos níveis intracelulares do óxido nítrico

Para detecção dos níveis intracelulares de NO, cardiomiócitos de camundongos foram

isolados conforme protocolo anteriormente descrito. As células foram carregadas por 30

minutos, a 37ºC, com 5 -2 FM (4-amino-5-metilamino-2’,7’-

difluorofluoresceina diacetato, Molecular Probes, Eugene, OR, USA) em tampão Tyrode-

HEPES (TTH) contendo (em mM): 140 NaCl, 5 KCl, 0.5 MgCl2, 5 HEPES e 5 glicose (pH

ajustado para 7,4). Posteriormente, os cardiomiócitos foram lavados com solução TTH para

remover excesso da sonda. As células foram então divididas em dois grupos: o grupo

controle, no qual as células foram mantidas em solução TTH e no segundo grupo, as células

foram incubadas com 10 nM de AU diluído em solução TTH, durante 15 minutos.

Imediatamente após esse procedimento, as células foram estimuladas com laser de argônio no

comprimento de onda de 488 nm e a emissão se dava em 515 nm. As imagens capturadas em

microscópio confocal LSM 510 META (Zeiss GmbH, Jena, Alemanha) com uma objetiva de

imersão de 63x. O software Image J foi usado para processar e analisar as imagens.

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3.10 Medida dos níveis intracelulares de espécies reativas de oxigênio

Para a detecção intracelular de peróxido de hidrogênio (H2O2), as células cardíacas de

camundongos foram isoladas e carregadas com 0,1 -

diclorodihidrofluoresceína-diacetato (H2DCFH-DA, Molecular Probes Invitrogen). Esta

sonda é desacetilada intracelularmente por esterases não específicas, e posteriormente

oxidadas pelo H2O2 e/ou radical OH intracelular, formando assim o composto 2,7-

diclorofluoresceína (DCF) cuja emissão de fluorescência em 488 nm pode ser correlacionada

à concentração de H2O2 intracelulares. As células foram incubadas com as sondas em solução

TTH, por 15 minutos, a 37°C, e então lavadas na mesma solução para remover o excesso da

sonda. As células foram então divididas em dois grupos, o grupo controle, no qual as células

foram mantidas em solução TTH e no segundo grupo, as células foram incubadas com AU

diluído em solução TTH, na concentração de 10 nM, durante 15 minutos. As células foram

estimuladas com laser de argônio no comprimento de onda de 488 nm e as imagens

capturadas em microscópio confocal Meta LSM 510 (Zeiss GmbH, Jena, Germany) com a

objetiva de imersão em óleo (63×) e o software Image J foi usado para processar e analisar as

imagens.

3.11 Medida dos níveis intracelulares do radical ânion superóxido

Com o objetivo de detectar o radical •O2-, os miócitos cardíacos isolados de

camundongos foram carregados com 10 M da sonda fluorescente dihidroetídio (DHE,

Molecular Probes, Eugene, OR, EUA). Os cardiomiócitos foram incubados com a sonda

diluída em uma solução TTH, pelo tempo de 30 minutos, a 37°C, sendo posteriormente

lavados durante mais 30 minutos, também a 37°C, com a mesma solução, a fim de remover o

excesso da sonda. As células foram então divididas em dois grupos, o grupo controle no qual

as células foram mantidas em solução TTH e no segundo grupo, as células foram incubadas

com AU diluído em solução TTH, na concentração de 10 nM, durante 15 minutos. Em

seguida, as células foram estimuladas com laser de argônio no comprimento de onda de 488

nm e as imagens capturadas no microscópio confocal Meta LSM 510 (Zeiss GmbH, Jena,

Germany) com a objetiva de imersão em óleo (63×) e o software Image J foi usado para

processar e analisar as imagens.

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3.12 Contratilidade cardíaca (órgão isolado)

O coração dos camundongos foi obtido conforme protocolo citado anteriormente e o

sistema de Langendorff com fluxo constante de perfusão (2,5 mL/min) foi utilizado para o

estudo dos parâmetros contráteis do coração isolado. Neste sistema, os corações foram

submetidos a uma perfusão retrógrada e os registros das medidas da força de contração e

pressão de perfusão foram obtidos por transdutores acoplados a uma placa conversora

conectada a um computador.

Para a transformação dos registros analógicos obtidos em sinais digitais e aquisição

dos mesmos utilizou-se o equipamento Biopac systems, modelo M100A-CE e o software

Acqknowledge 3.8.1

Para a perfusão do coração utilizou-se solução de Krebs-Ringer (em mM): 118,4

NaCl; 4,7 KCl; 26,5 NaHCO3; 1,8 CaCl2.2H2O; 11,7 glicose; 1,2 KH2PO4; 1,2

MgSO4.7H2O), oxigenada (95% de O2 e 5% de CO2) e aquecida a 37°C. A pressão de

perfusão foi captada por um transdutor de pressão (TP-200, Nihon Khoden). Para averiguação

das tensões sistólica e diastólica, foi colocado no ápice do coração, um anzol ligado a um fio

que passava por um sistema de roldanas e fixado a um transdutor de força (TSD 125C, Biopac

Systems, EUA). Foi imposta ao coração uma tensão diastólica de 0,5g durante o período de

estabilização (primeiros 30 minutos). Após este período as medidas foram coletadas por mais

25 minutos sem qualquer ajuste na tensão. As análises dos dados foram realizadas usando o

software Acqknowledge 3.8.1 e Prisma 4.0. (GraphPad, San Diego, CA, EUA).

3.13 Preparação do tecido para as análises enzimáticas

Os ventrículos foram retirados e imersos em solução salina tamponada com fosfato

(PBS) (em mM): 137 NaCl; 2.7 KCl; 4.3 Na2HPO4; 1.47 KH2PO4, pH 7,4 e em seguida

lavados na mesma solução para a retirada do sangue. Posteriormente, o tecido foi pesado e

colocado em PBS na proporção de 0,1 g de tecido por mL de tampão e, então, homogeneizado

(Euro Turrax T20b IKA LABORTECHNIK) por 2 minutos em banho de gelo. Depois deste

processo, o homogenato foi centrifugado por 30 minutos a 12.000 rotações por minuto (RPM)

e o sobrenadante retirado para uso nos ensaios bioquímicos.

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33

3.14 Determinação da concentração total de proteínas

A quantidade total de proteínas foi determinada pelo método descrito por Bradford em

1976. O método de Bradford utiliza o corante de “Coomassie brilliant blue” (BG-250) para

determinar quantidade total de proteínas em uma amostra. Os tecidos foram preparados

conforme o protocolo de preparação do tecido para análises enzimáticas e, posteriormente,

parte do sobrenadante foi utilizado. As amostras foram diluídas 10x em água deionizada.

Também foram preparadas amostras padrão, com quantidades conhecidas de albumina, a fim

de confeccionar uma curva padrão de albumina. Tanto a amostra diluída, quanto diluições

crescentes do padrão de albumina foram colocadas em microplaca de 96 poços, em triplicata.

A pipetagem era realizada rapidamente em ambiente com meia luz e posteriormente a placa

era totalmente protegida da luz e levada para análise em leitor de Elisa, onde a placa era

agitada durante 30 segundos e a leitura realizada em seguida.

A curva padrão de albumina continha oito pontos (em mg/mL: 0,039; 0,078; 0,156;

0,312; 0,625; 1,125; 2,5 e 5) e foi calculada no Microsoft Excel com o uso do gráfico de

dispersão, sobre o qual aplicou-se regressão linear, cujo modelo é y = ax + b, utilizando como

parâmetro de qualidade R2 maior que 0,95. A quantidade total de proteínas em cada amostra

era calculada também com auxílio do Microsoft Excel tendo a curva padrão como parâmetro.

3.15 Determinação da atividade da catalase

O ensaio da atividade da catalase foi realizado conforme o método descrito por Nelson

& Kiesov (1972) e adaptado por Gioda et. al. (2010). As amostras foram preparadas conforme

protocolo descrito anteriormente e o sobrenadante foi utilizado. A atividade da enzima foi

determinada em tampão fosfato (50 mM, pH 7,0). Alíquotas do homogeneizado foram

adicionadas ao tampão fosfato e a reação foi iniciada com a adição de 0,3M H2O2. As leituras

foram realizadas em cubeta de quartzo, imediatamente após o início da reação, a 25ºC, em

espectrofotômetro (Hitachi, Japão), com o comprimento de onda de 240 nm. Foram realizadas

quatro medidas em intervalos de 20 segundos entre elas (0, 20, 40 e 60 segundos). A atividade

da catalase foi calculada no software Microsoft Excel utilizando a fórmula

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34

3.16 Determinação de peroxidação lipídica

Esta técnica baseia-se na reação entre produtos indiretos de peroxidação lipídica

(principalmente o malondialdeído) com o ácido tiobarbitúrico (TBA). Consiste basicamente

na reação entre os produtos de peroxidação e o TBA sob condições ácidas e com elevadas

temperaturas. O produto da reação é um cromóforo rosado com coeficiente de extinção

1,56x105M-1cm-1 à 532 nm.

As amostras de fígado e coração foram preparadas conforme protocolo descrito

anteriormente e o sobrenadante foi utilizado. O sobrenadante foi colocado em tubos de ensaio

e acrescentado a ele TBA (0,67%) e ácido tricloroacético (20%). Após esta adição, os tubos

foram incubados a 100°C por 20 minutos. Posteriormente, os tubos foram centrifugados a

8000 RPM por 5 minutos, o sobrenadante retirado e pipetado em placa para a leitura realizada

em leitora de Elisa a 530 nm.

3.17 Determinação da atividade da superóxido dismutase (SOD)

Este método é baseado para determinação da atividade da enzima SOD através da

redução do MTT pelo superóxido. O ensaio envolve a formação de íons superóxido pela auto-

oxidação do pirogalol e inibição da redução do tetrazólio MTT [3-(4,5-tiazol-dimetil) 2,5-

brometo-difenil-tetrazólio] por superóxido, medida à 570 nm. A reação é terminada pela

adição de dimetil-sufóxido (DMSO), que ajuda a solubilizar os cristais de formazan formados

durante a redução do MTT bem como estabiliza o cromóforo.

As amostras foram preparadas conforme protocolo descrito anteriormente e o

sobrenadante foi utilizado. O sobrenadante foi pipetado em placa de 96 poços juntamente com

PBS contendo 1 mM de EDTA (em mM): 137 NaCl; 10 Na2HPO4; 2 KH2PO4; 2,7 KCl, pH:

7,4. Posteriormente, foram adicionados MTT (1,25 mM) e pirogalol (100

com meia luz. Em seguida a placa foi totalmente protegida da luz. O DMSO foi adicionado

após 5 minutos de reação e a placa foi imediatamente levada para análise em

espectrofotômetro de placa onde foi agitada rapidamente e a leitura realizada a 570 nm. A

atividade da SOD foi calculada no software Microsoft Excel, levando em consideração o

princípio: 1 U de SOD é capaz de reduzir a leitura do padrão em 50%.

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3.18 Determinação da expressão proteica por western blot

Tubos de ensaio contendo ventrículos cardíacos foram homogeneizados em banho de

gelo em tampão Tris-HCl (50 mM) contendo em (mM): 150 NaCl; 5 EDTA-Na; 1 MgCl2; 1%

Nonidet P40; 0,3 % triton X-100; 0,5 % deoxicolato de sódio; 100 DTT; 10 mg/mL

aprotinina; 15,7 mg/mL benzamidina; 1 mg/mL pepstatina A; 100 fluoreto de

fenilmetilsilfonila (PMSF). O homogenato foi centrifugado a 12.000 RPM por 30 minutos a

4°C e o sobrenadante distribuído em alíquotas e imediatamente mantido a -80°C. A

quantidade de proteínas foi mensurada conforme o método de Bradford já descrito.

Amostras contendo 60 e proteínas foram misturadas ao tampão de amostra

desnaturante e aquecidas a 99ºC durante 5 minutos. Após este processo, as amostras foram

aplicadas em gel de poliacrilamida com concentração específica para o tamanho da proteína a

ser identificada (utilizou-se géis de 10 e 12%). Após aplicação das amostras, os géis foram

colocados em tampão de corrida (em mM): Tris 25; Glicina 250; 1% SDS) e foi aplicado um

campo elétrico (utilizando 100 V durante 120 minutos, aproximadamente).

Após a corrida, as proteínas foram transferidas para uma membrana de nitrocelulose,

utilizando um sistema de transferência semi-dry e coradas com solução de Ponceau (1%). A

membrana foi incubada durante 3 horas com solução de bloqueio (TBS-T + 4% de albumina,

onde a solução TBS-T contendo (em mM): 50 Tris, 150 NaCl, 0,05% Tween 20, pH ajustado

para 7,6 com HCl.) Após o bloqueio, a membrana foi incubada com anticorpo primário, “over

nigth”.

O anticorpo foi diluído em solução TBS-T com adição de 1% de albumina. Após essa

etapa a membrana foi lavada por 3 vezes com TBS-T. Em seguida a membrana foi incubada

com anticorpo secundário durante 2 horas e novamente lavada por mais 3 vezes.

Cada membrana foi incubada com o anticorpo específico para cada proteína

investigada, e consequentemente o anticorpo secundário específico para o primário. Anti-

nNOS (1:1000; policlonal), anti-eNOS (1:2000; policlonal), anti-tubulina (1:3000;

monoclonal), anti SOD-1 (1:2000; policlonal); anti SOD-2 (1:2000; policlonal); anti-GPx-1/2

sítio H-151(1:2000; policlonal; anti gp91-phox (NADPH oxidase) (1:1000; monoclonal)

todos acima foram adquiridos da Santa Cruz Biotechnology - EUA) e anti-catalase (1:3000;

Sigma Aldrish, St. Louis, MO).

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As bandas proteicas foram detectadas por reação de quimiluminescência (Luminata

Forte Western HRP Substrate, Millipore). Posteriormente as membranas foram submetidas ao

processo de stripping, no qual é realizada a remoção dos anticorpos através da lavagem com

solução Restore Western Blot Stripping Buffer (Thermo Scientific), durante 5 minutos. As

membranas então foram novamente bloqueadas e incubadas com anticorpo primário utilizado

com normalizador e anticorpo secundário, seguindo o mesmo protocolo descrito

anteriormente. As bandas proteicas foram detectadas e a intensidade das mesmas foi avaliada

por análise densitométrica através do software Image J. A análise é feita utilizando-se o valor

obtido através da análise das bandas da proteína de interesse dividido pelo valor da proteína

normalizadora.

3.19 Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas no programa Graph Pad Prism 4.0. Todos os

resultados foram expressos como média ± EPM e considerados significativos os valores de

p<0,05. Foram realizados os testes T de STUDENT (para análises entre dois grupos) ou one

way ANOVA seguido do pós-teste de TUKEY (para análise entre mais de dois grupos). Os

gráficos de contratilidade em coração isolado foram analisados ponto a ponto através do

método two-way ANOVA para medidas repetidas, seguidas de testes de comparação do tipo

BONFERRONI.

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4. RESULTADOS

4.1 Avaliação da toxicidade do ácido úsnico

Primeiramente, foi realizado um teste de viabilidade celular para avaliar a toxicidade

do AU. O resultado do teste de metabolização do MTT, obtido após 24 horas de exposição, in

vitro ao AU, das células endoteliais humanas da linhagem Eahy926 está representado na

figura 8. Foram testadas as concentrações de 1 nM, 10 nM, 100 nM, 1 M, 10 M, 100 M de

AU.

CTR AU 1 nM AU 10 nM AU 100 nM AU 1 mM AU 10 mM AU 100 mM0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Via

bil

idad

e c

elu

lar

- M

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bo

lozação

do

MT

T

(Ab

so

rbân

cia

)

Figura 08. Viabilidade Celular. Avaliação da viabilidade das células endoteliais humanas da linhagem Eahy926 através do teste de metabolização do MTT (metiltetrazolium) após 24 horas de exposição, in vitro, ao ácido úsnico (AU) (1 nM = 0,345 ± 0,091; 10 nM = 0,374 ± 0,019; 100 nM = 0,353 ± 0,036; 1 mM = 0,360 ± 0,029; 10 mM = 0,381 ± 0,025; 100 mM = 0,4073 ± 0,018) , comparando com o controle (CTR) ( 0,371 ± 0,045). (n= 12).

Os resultados obtidos com a cultura de células Eahy926, na figura 8, sugerem que o

AU, nas concentrações testadas, não traria danos às células do sistema cardiovascular, pois

não há diferença entre a metabolização do MTT nas células controle e as células expostas ao

AU.

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4.2 Contratilidade celular e transiente intracelular de cálcio

Para avaliar o possível efeito tóxico do AU sobre a contratilidade das células

cardíacas, bem como, sobre mecanismos que integram o acoplamento excitação-contração,

foram realizados experimentos in vitro, utilizando cardiomiócitos isolados enzimaticamente.

Primeiramente foi avaliado o efeito do AU na contratilidade celular de ratos. Os dados

obtidos mostraram que o AU não teve efeito sobre a porcentagem de encurtamento do miócito

cardíaco, nas concentrações: 0,1 nM, 1 nM, 5 nM e 10 nM (Figura 09).

0.0 2.5 5.0 7.5 10.0

CTR

AU 0,1 nM

AU 1 nM

AU 5 nM

AU 10 nM

Encurtamento (%)

Figura 09. Contratilidade celular. O gráfico representa a porcentagem de encurtamento dos cardiomiócitos estimulados em frequência de 1Hz. Foram registradas as contrações de células controle (CTR: 9,3 ± 0,35 n=110) e após exposição das células ao AU (0,1 nM = 9,3 ± 0,31 n= 93; 1 nM = 9,4 ± 0,31 n= 80; 5 nM = 9,4 ± 0,35 n=86 e 10 nM = 9,4 ± 0,34 n=88).

Posteriormente foram realizados experimentos com microscopia confocal a fim de

verificar se a exposição, in vitro, ao AU alteraria o transiente intracelular de cálcio ([Ca2+]i)

nos cardiomiócitos isolados de ratos. Nesta etapa, também foi avaliado se a -ciclodextrina,

conjugada ao AU, poderia ter algum efeito sobre o [Ca2+]i. Na figura 10 observa-se que a

exposição das células cardíacas isoladas a -ciclodextrina não influenciou na [Ca2+]i, nas

concentrações testadas (10 nM e 10 ão dos cardiomiócitos ao AU,

nas concentrações de 0,1 nM, 1 nM, 5 nM e 10 nM também não alterou o [Ca2+]i.

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39

Figura 10. Transiente intracelular de cálcio em cardiomiócitos isolados de ratos. (A) Imagem da fluorescência de cálcio intracelular em cardiomiócitos do grupo controle (CTR) e grupos expostos, in vitro

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40

5 nM e 10 nM.) (B) Traçado representativo das médias dos registros. (C) Pico da fluorescência de Ca+2 intracelular dado em F/F0 (CTR= 3,14 ± 0,75, -ciclodextrina 10 nM = 3,10 ± 0,81, -ciclodextrina 10 ± 1,09, n= 49; AU = 0,1 nM = 3,17 ± 0,8, n=61; AU 1 nM = 3,16 ± 0,65, n= 54; 5 nM= 3,32 ± 0,71, n=53; AU 10 nM 3,33 ± 0,69 n= 52). (D) Tempo para o pico de fluorescência (CTR= 2041 ± 160,9, -ciclodextrina 10 nM = 1947 ± 175,4, - ± 180,5, n= 49; AU = 0,1 nM = 2081± 171,6, n=61; AU 1 nM = 2068 ± 180,7, n= 54; 5 nM= 2053 ± 160,6, n=53; AU 10 nM 2122 ± 130,7, n= 52). (E) Tempo para 50% da recaptação cálcio (CTR= 303,5 ± 8,7, n= 77 -ciclodextrina 10 nM = 293,5 ± 10,84, -ciclodextrina 10 ± 6,9, n= 49; AU = 0,1 nM = 299 ± 9,6, n=61; AU 1 nM = 297 ± 10,42, n= 54; 5 nM= 316,2 ± 7,4, n=53; AU 10 nM 319 ± 6,5, n= 52). Os cardiomiócitos foram estimulados a 1Hz e os dados estão representados em média ± E.P.M

Pode-se observar, também, (figura 10 – paneis B e D) que a cinética de receptação do

cálcio não está alterada, uma vez que os valores medidos ao tempo para o decaimento da

fluorescência em 50%. A medida indireta da recaptação de 50% do cálcio (T50) também não

foram alterados pela exposição à -ciclodextrina e ao AU. Esta medida nos permite afirmar

que a recaptação de cálcio pela SERCA não foi alterada pela exposição ao AU.

Posteriormente o transiente intracelular de cálcio também foi mensurado em

cardiomiócitos isolados de camundongos. Os resultados com a concentração de 10 nM de AU

também não se mostraram alterados (Figura 11).

Figura 11. Transiente intracelular de cálcio em cardiomiócitos isolados de camundongos. (A) Imagem da fluorescência de cálcio intracelular em cardiomiócitos do grupo controle (CTR) e

1000ms

CTR

1000ms

AU 10nM

A 4.0 1.0

F/F0

500ms

4.0 1.0

F/F0

500ms

B

C D E

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41

do grupo exposto, in vitro, ao ácido úsnico na concentração de 10nM. (B) Traçado representativo das médias dos registros. (C) Pico da fluorescência de Ca+2 intracelular dado em F/F0 (CTR = 3,52 ± 0,08, n = 80; AU 10nM = 3.62 ± 0,16, n= 78). (D) Tempo para o pico de fluorescência (CTR = 2465 ± 168, n = 80; AU 10nM = 2547 ± 154, n= 78). (E) Tempo para 50% da recaptação cálcio (CTR = 136 ± 2,57, n = 80; AU 10nM = 137,3 ± 3,26, n= 78). Os cardiomiócitos foram estimulados a 1 Hz e os dados estão representados em média ± E.P.M

4.2 Medidas das espécies reativas de nitrogênio e oxigênio

A fim de avaliar se a exposição, in vitro, dos cardiomiócitos ao AU apresentaria efeito

antioxidante, mensuramos algumas espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. Foi avaliado se

a produção de NO, OH e H2O2 e •O2- seria alterada pela exposição dos miócitos cardíacos

isolados de camundongos à concentração de 10 nM de AU.

As medidas de NO intracelular foram realizadas com a sonda intracelular DAF-AM

após exposição, in vitro, dos cardiomiócitos isolados de camundongos ao AU (figura 12). Os

resultados demonstram que, na concentração de 10 nM, o AU foi capaz de promover a

diminuição da formação de NO intracelular.

Figura 12. Medida da produção de óxido nítrico. (A) Imagens representativas de fluorescência obtidas por microscopia confocal mostrando as células cardíacas previamente incubadas com a sonda DAF-AM e posteriormente expostas in vitro ao ácido úsnico (AU). (B) Medida da Fluorescência (CTR = 591,8 ± 63,7, n=85 e AU = 514,3 ±72,3, n=94). Os dados são representados como a média ± EPM, ***P<0,001.

Em seguida, foi mensurada a quantidade de espécies reativas de oxigênio (ROS), em

especial, os níveis de H2O2 e radical OH, utilizando-se a sonda intracelular (DCFH) nas

células cardíacas isoladas e expostas ou não ao AU, na concentração de 10 nM. Os resultados

CTR AU0

100

200

300

400

500

***

Flu

ore

scên

cia

(U

.A)

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42

demonstram que, na concentração de 10 nM, o AU foi capaz de promover a diminuição da

formação de ROS intracelular (Figura 13).

Figura 13. Produção de espécies reativas de oxigênio. (A) Imagens representativas de fluorescência obtidas por microscopia confocal mostrando as células cardíacas previamente incubadas com a sonda DCFH e posteriormente expostas in vitro ao ácido úsnico (AU). (B) Variação da Fluorescência (CTR = 564.3 ± 72, n=88 e AU = 514,3 ± 60, n=87). Dados são representados como a média ± EPM, **P<0,01.

Quanto às medidas de •O2-, foi utilizada a sonda intracelular DHE nos cardiomiócitos

isolados e expostos ou não ao AU, na concentração de 10nM. Também foi observado uma

redução da produção desse radical livre nas células cardíacas tratadas, in vitro, com AU,

quando comparadas aos cardiomiócitos não tratados. Podemos observar na figura 14 que tanto

no citoplasma, como no núcleo dos miócitos cardíacos o •O2- estava diminuído em relação ao

controle.

CTR AU0

100

200

300

400

500

**

Flu

orescên

cia

(U

.A)

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43

Figura 14. Produção de ânion superóxido. (A) Imagens representativas de fluorescência obtidas por microscopia confocal mostrando as células cardíacas previamente incubadas com a sonda DHE e posteriormente expostas in vitro ao ácido úsnico (AU). Imagens de microscopia confocal mostrando as células cardíacas incubadas com a sonda DCFH e posteriormente expostas ao AU. (B) Medida da Fluorescência no citoplasma do cardiomiócito (CTR = 231,7 ± 42 e AU = 144,2 ± 56,3, n=67; ***P<0,001) e (C) Medida da Fluorescência no núcleo do cardiomiócito (CTR = 675,8 ± 101,5 e AU = 614,2 ± 133,4, n=60; *P<0,05). Dados são representados como a média ± EPM.

4.3 Peroxidação lipídica

A fim de esclarecer se a administração oral de AU para animais produzia efeito tóxico

foi avaliada a peroxidação lipídica, em fígado e coração. Esta medida foi determinada pela

detecção de produtos indiretos da peroxidação lipídica, medindo substâncias reativas ao ácido

tiobarbitúrico (TBARS) como, principalmente o malondialdeído. Nossos resultados indicam

que o tratamento oral com AU, além de não causar dano no coração, é capaz de diminuir os

níveis de peroxidação lipídica hepática (figura 15)

CTR AU0

100

200

300

***

Flu

ore

scên

cia

(U

.A)

CTR AU0

100

200

300

400

500

600

700

800

*

Flu

ore

scên

cia

(U

.A)

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Figura 15. Níveis peroxidação lipídica medida por TBARS em Fígado de camundongo. (A) Corações de camundongos (0,0438 ± 0,011 nmol MDA min-1.mg proteína-1, n=9) e tratados com AU (0,0180 ± 0,011 nmol MDA min-1.MG proteína-1, n=8). e (B) Fígados de camundongos (0,0145 ± 0,021 nmol MDA min-1.mg proteína1, n=8) e tratados com AU (0,004 ± 0,022 nmol MDA min-1.mg proteína-1, n=9). Tratamento com AU durante 5 dias, 50mg/kg/dia. Os dados são representados como a média ± EPM, Painel A: *P<0,05.

Tais resultados (figura 15, painel A), mostrando a diminuição dos níveis de TBARS

no fígado são um indicativo de que o AU não trouxe dano hepático para os camundongos

durante os cinco dias de tratamento oral.

4.4 Expressão das NOS totais no tecido cardíaco

Para avaliar se o tratamento com AU poderia alterar a expressão da enzima produtora

de NO. Foram realizados experimentos de western blot para avaliarmos a expressão das

isoformas eNOS e nNOS no coração de camundongos tratados com AU. Nossos resultados

demonstram que o tratamento não foi capaz de alterar a expressão da isoforma nNOS (figura

16 painel A). Entretanto, o tratamento com AU alterou a expressão da isoforma eNOS no

tecido cardíaco (figura 16 painel B).

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Figura 16. Expressão de Oxido Nítrico sintases (NOS). Gráficos de barra mostrando a expressão proteica das isoformas enzimáticas (A) nNOS e (B) eNOS EM miocárdio camundongos controle (CTR) e tratados com ácido úsnico (AU) e abaixo as imagens representativas de western blot. Os valores da densitometria foram normalizados pelos níveis proteicos de tubulina nos camundongos dos grupos CTR e AU. Os dados são representados como a média ± EPM, Painel B:**P<0,01.

4.5 Medida do perfil redox no tecido cardíaco

A produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), após o tratamento com AU, foi

avaliada, primeiramente, através das medidas da atividade total da SOD e da expressão das

isoformas CuZn-SOD (SOD-1) e Mn-SOD (SOD-2). Os resultados podem ser observados na

figura 17. Na figura 17- Painel A vemos que a atividade SOD total está aumentada após

tratamento com AU (CTR = 7,98 ± 2,5 unidades/mg de proteína e AU =25, 02 ± 4,5

unidades/mg de proteína). No painel B podemos observar que não há diferença entre os

camundongos controles e tratados em relação à expressão da CuZn-SOD (SOD-1) e no painel

C observamos que a expressão proteica da Mn-SOD (SOD-2) está aumentada nos

camundongos tratados com AU, em relação ao controle.

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Figura 17. Atividade e expressão da superóxido Dismutase (SOD). Gráficos de barra mostrando (A) a atividade total da SOD, (B) expressão proteica da CuZn-SOD (SOD-1) e (C) expressão proteica da Mn-SOD (SOD-2) no miocárdio camundongos controle (CTR) e tratados com ácido úsnico (AU) e abaixo as imagens representativas de western blot. Os valores da densitometria foram normalizados pelos níveis proteicos de tubulina nos camundongos CTR e AU. Os dados são representados como a média ± EPM, Painel A: **P<0,01; Painel C *P<0,05.

Conforme mostrado, na figura 18, foi avaliada a expressão da NADPH oxidase no

coração dos camundongos tratados com AU e pudemos observar uma diminuição na

expressão desta enzima.

Figura 18. Expressão da NADPH oxidase no miocárdio de camundongos controle (CTR) e tratados com ácido úsnico (AU) e abaixo as imagens representativas de western blot. Os valores da densitometria foram normalizados pelos níveis proteicos de tubulina nos camundongos CTR e em experimentos em AU. Os dados são representados como a média ± EPM, *P<0.05.

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47

Posteriormente foram realizados experimentos para mensuração da atividade e

expressão da enzima catalase, bem como, experimentos de expressão da enzima glutationa

peroxidase (GPx) (Figura 19).

Figura 19. (A) Atividade total da enzima catalase, (B) expressão da enzima catalase e (C) expressão da Glutationa peroxidase (GPx) no coração de camundongos controles e tratados com AU. Tratamento com AU durante 5 dias, 50mg/kg/dia, n=5. Os dados são representados como a média ± EPM, *P<0.05.

Os resultados mostrados na figura 19 mostram que o tratamento com AU promoveu a

diminuição da atividade total da catalase (CTR = 1,37 ± 0,77 AE. min-1.mg proteína-1) e AU =

0,45 ± 0,22 AE. min-1.mg proteína-1) (Painel A), entretanto, a expressão da catalase não se

encontra alterada (Painel B) e a expressão da GPx se mostrou aumentada no coração dos

camundongos tratados com AU, em relação ao CTR (Painel C).

4.6 Experimentos com camundongos chagásicos

4.6.1 Avaliação de parâmetros cardíacos em sistema de Langendorff

Em seguida iniciamos experimentos com animais infectados com T. cruzi, a fim de

avaliar o efeito do AU sobre alguns parâmetros da função cardíaca o efeito redox no animal

chagásico. Primeiramente, foi avaliada a atividade mecânica do coração isolado em sistema

de Langendorff em camundongos não infectados (figura 20) e em seguida avaliamos os

mesmos parâmetros em camundongos infectados com T. cruzi (figura 21).

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48

As medidas foram realizadas durante a contração em ritmo sinusal e fluxo de perfusão

constante e retrógrada do órgão isolado, em camundongos saudáveis, que receberam

tratamento oral com veículo ou AU (figura 20). A partir dos traçados obtidos durante o

registro, calculamos, primeiramente, a tensão mínima ou tensão diastólica e a tensão máxima

ou sistólica.

As medidas de tensão diastólica (figura 20 - painel A) não revelaram alterações

significativas (p>0,05) entre os animais do grupo controle (CTR) os animais do grupo AU.

Analisando a tensão sistólica, também não foram encontradas diferenças significativas entre

os dois grupos estudados (figura 20 - painel B). Estes resultados da medida das tensões

diastólica e sistólica, em conjunto, sugerem que o tratamento oral com o AU não interfere na

força de contração cardíaca.

Em seguida, passamos para a avaliação da frequência cardíaca e resistência

coronariana nos grupos experimentais (figura 20 – painéis C e D). As medidas da frequência

cardíaca realizadas no órgão isolado foram expressas em batimentos por minuto (bpm) e a

resistência coronariana foi avaliada por meio da pressão de perfusão em mmHg. A análise dos

resultados mostrou que a frequência cardíaca e a resistência coronariana não diferem

significativamente entre ambos os grupos estudados.

Ao verificarmos que o AU não alterou a contratilidade em camundongos saudáveis,

repetimos os experimentos de coração isolado em sistema de Langendorff, utilizando

camundongos infectados com T. cruzi e tratados (Chagas AU) e não tratados (Chagas veículo)

com AU. Os camundongos chagásicos se encontravam no início da fase crônica da infecção

por T. cruzi (aproximadamente 45 a 50 dias de infecção). Os resultados mostrados na figura

21 (painéis A, B, C e D) mostram que o AU não alterou a tensão diastólica, tensão sistólica,

frequência cardíaca e resistência coronariana nos camundongos chagásicos tratados com AU,

quando comparados com os camundongos chagásicos que receberam apenas veículo.

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Figura 20. Avaliação da função cardíaca em coração isolado de camundongos. (A) Variação da tensão diastólica, (B) Variação da tensão sistólica, (C) Avaliação da frequência cardíaca e (D) Avaliação da pressão de perfusão. Camundongos do grupo controle receberam tratamento por via oral com veículo (CTR, n=6) e camundongos do grupo AU receberam tratamento por via oral com ácido úsnico (AU, n=6). Os resultados representam a média ± E.P.M.

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Figura 21. Avaliação da função cardíaca em coração isolado de camundongos chagásicos. (A) Variação da tensão diastólica, (B) Variação da tensão sistólica, (C) Avaliação da frequência cardíaca e (D) Avaliação da pressão de perfusão. Camundongos do grupo Chagas receberam tratamento por via oral com veículo (CTR, n=8) e camundongos do grupo Chagas AU receberam tratamento por via oral com ácido úsnico (AU, n=8). Os resultados representam a média ± E.P.M.

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51

Posteriormente, os níveis de peroxidação lipídica também foram avaliados no coração

e no fígado de camundongos chagásicos (figura 22). Os resultados mostram que nos

camundongos infectados com T. cruzi, o tratamento com AU diminui os níveis de TBARS.

CTR 0,1843 ± 0,053 nmol MDA min-1 . mg proteína -1 e tratados com AU 0,1164 ± 0,068

nmol MDA min-1 . MG proteína -1 nos corações Chagásicos e CTR 0,2340 ± 0,050 nmol

MDA min-1 . mg proteína -1 e tratados com AU 0,1513 ± 0,022 nmol MDA min-1 . MG

proteína -1 nos fígados chagásicos.

4.6.2 Peroxidação lipídica

Figura 22. Níveis de peroxidação lipidica. (A) C oração de camundongos chagásicos tratados com ácido úsnico (AU) e (B) fígado de camundongos chagásicos tratados com AU. (Chagásico n=7; Chagásico AU n=7). Tratamento com AU durante 5 dias, 50mg/kg/dia. Os dados são representados como a média ± EPM, *P<0,05.

A diminuição de peroxidação lipidica nos animais chagásicos sugere tanto que, esses

camundongos não sofreram dano cardíaco ou hepático em decorrência do tratamento com

AU, quanto, que o AU tem potencial antioxidante na doença de Chagas, pois reduz os níveis

de peroxidação lipídica.

Em camundongos infectados com T. cruzi, também foi avaliada a atividade total da

SOD (figura 23). Na comparação com os camundongos que receberam apenas veículo, pode-

se perceber que há um aumento da atividade da SOD, tanto no coração (figura 23 – painel A),

como no fígado (figura 23 - painel B) dos camundongos chagásicos tratados com o AU.

4.6.3 Atividade total da SOD

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Figura 23. Atividade da enzima superóxido dismutase total (A) no coração de camundongos chagásicos e tratados com AU (n=6) e (B) no fígado de camundongos controles e tratados com AU (n=5). Tratamento com AU durante 5 dias, 50mg/kg/dia. Os dados são representados como a média ± EPM, *P<0,05.

Os resultados indicam que o tratamento com AU demonstra o mesmo potencial

antioxidante nos camundongos chagásicos e saudáveis, visto que a atividade SOD está

aumentada (figura 17 painel A e figura 23), tanto em animais controle como em animais

chagásicos após o tratamento com AU.

Tanto os resultados pós-exposição in vitro, quanto pós-tratamento oral com AU,

mostraram que o AU tem potencial antioxidante. O AU promoveu a diminuição intracelular

do NO, espécies reativas de oxigênio e •O2- (figuras 12, 13 e 14), bem como induziu o

aumento da expressão das enzimas eNOS, Mn-SOD e GPx e reduziu a expressão da enzima

pró-oxidante da NADPH oxidase, bem como, induziu o aumento da atividade total da SOD

(figuras 17, 18, 19 e 23). Assim sendo os resultados pós-exposição in vitro, são

complementados pelos resultados pós-tratamento oral com AU.

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53

5. DISCUSSÃO

O AU é uma substância com caráter lipofílico, portanto apolar, e, devido aos seus

variados efeitos, apresenta-se com potencial para se tornar medicamento, pois possui

atividade antiparasitária, anti-inflamatória, antipirética, antifúngica, antitumoral, dentre

outras. Entretanto, a literatura aponta que a utilização indiscriminada do AU, como

suplemento alimentar, tem gerado relatos de intoxicação e falência hepática. A toxicidade

desta molécula tem sido discutida também em modelos de tratamento in vitro, demonstrando

que o AU pode ser tóxico para células hepáticas em cultura e outros tipos celulares. Pouco se

conhece sobre os efeitos do AU sobre o sistema cardiovascular. Em seu estudo, Mendonça

(2009) demonstrou que o AU apresentava elevada toxicidade para o tecido atrial cardíaco,

observando efeito inotrópico negativo sob o tecido atrial, de forma dose-dependente. Em

contrapartida, De Carvalho et al. (2005) demonstraram que esta molécula pode ser benéfica,

uma vez que interfere com a viabilidade do protozoário intracelular T. cruzi dentro

macrófagos. As observações destes autores, do nosso ponto de vista, tornam relevante o

conhecimento mais aprofundado dos efeitos biológicos desta molécula no coração, uma vez

que este parasita é o causador da cardiomiopatia chagásica, e a sua eliminação poderia ter

efeito indispensável aos pacientes acometidos por esta patologia.

A toxicidade do AU foi avaliada em vários trabalhos. Cheng et al. (2009) mostraram

no modelo de exposição, in vitro, de cultura celular, que a IC50 do

dado demonstrou que, em cultura de fibroblastos de ratos, a concentração para que 50% das

células tenham sua viabilidade comprometida

vezes maior que concentração máxima utilizada em nossos ensaios de metabolização do MTT

(figura 8).

Entretanto, Sahu et al (2011) mostraram que células hepáticas da linhagem HepG2

expostas ao AU durante 24 horas, apresentam um decréscimo de viabilidade, dependente de

concentração, e, por conseguinte, um aumento da citotoxicidade em intervalos de

concentração de 0, 5, 10, 20, 50 e 100mM. Nestas células a IC50 foi de 30 mM, ou seja, uma

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54

concentração 300 vezes maior que a concentração máxima utilizada em nossos experimentos

(figura 8).

Pouco se sabe sobre os efeitos do AU sobre a contratilidade e a função cardíaca.

Entretanto, Mendonça (2009), estudou a contratilidade atrial de cobaias, em banho de órgão

isolado, incubando os átrios com concentrações de AU entre 1 e 800 Os resultados

mostraram que o AU foi capaz de diminuir a contratilidade atrial, aumentar a tensão diastólica

e aumentar também os tempos de contração e relaxamento. Os experimentos realizados neste

estudo demonstraram que a concentração mais baixa de AU (1 feito sobre a

contratilidade atrial. Entretanto as concentrações mais altas (próximas a 800

capazes de promover uma contratura diastólica irreversível do músculo atrial cardíaco.

Diante disto, para confirmamos, em concentrações mais baixas, a ausência de

toxicidade para células cardíacas e avaliarmos o possível efeito do AU sobre a contratilidade

das células cardíacas, bem como, sobre mecanismos que integram o acoplamento excitação-

contração, foram realizados experimentos in vitro utilizando-se células cardíacas isoladas.

A alteração da contratilidade cardíaca pode estar diretamente relacionada a alterações

na liberação de Ca +2 (BERS, 2002). Contudo, nossos resultados mostram que o AU não é

capaz de interferir na contratilidade das células ventriculares cardíacas isoladas nas

concentrações utilizadas (figura 9).

Em conjunto, os resultados mostrados nas figuras 09 e 10 contrastam com os

resultados obtidos por Mendonça (2009), cujos experimentos realizados com a mesma sonda

para cálcio (Fluo4-AM) mostraram que o AU foi capaz de aumentar a liberação de cálcio

intracelular de cálcio. Entretanto, a diferença observada em nosso estudo pode ter ocorrido

devido ao fato de que, nos experimentos realizados pela autora, as células cardíacas foram

expostas a duas concentrações de AU (100 , sendo que, nas células cardíacas

isoladas e de AU, durante 2 minutos, o aumento de fluorescência teve

intensidade fraca, permitindo apenas o delineamento das bordas do cardiomiócito, contudo,

apó

permitindo o delineamento das bordas e das estriações do cardiomiócito. E nos cardiomiócitos

de AU durante 30 minutos, ocorreu um aumento intenso da fluorescência

de cálcio, ofuscando a observação das estriações.

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Assim, como existe ainda uma diferença grande na concentração de AU avaliada e,

também, difere a abordagem metodológica utilizada em ambos os trabalhos, podemos

justificar a dificuldade de esclarecimento de pontos específicos do nosso questionamento.

Em contrapartida, a ausência de alterações observadas nos parâmetros analisados da

contração celular e da homeostase do cálcio disponibilizado para a contração, aliada a

consonância com estudos nos quais não se detectaram efeitos tóxicos do AU (MENDONÇA,

2009; CHENG et al., 2009). Tais resultados nos impulsionam a acreditar no potencial desta

substância, e trazer mais questionamentos sobre o efeito desta substância sobre o coração.

Os resultados mostrados nas figuras 12 e 13 mostram que o AU pode ter efeito

antioxidante no coração, estes resultados corroboram dados presentes na literatura, que

apontam o AU como uma substância antioxidante. (RABELO et al. 2012).

Rabelo et al. (2012) observaram que a exposição ao AU diminuiu a produção de

radical OH a partir de concentrações de 2 (aproximadamente 6 a

formação de NO em concentrações a partir de 2 ng/mL (aproximadamente 6 nM). Em outro

estudo, Jin et al. (2008), avaliaram o efeito do AU sobre a produção de NO, induzida por

LPS, em cultura de macrófagos RAW 264,7. Os resultados mostram que, após incubação de

24 horas, o AU foi capaz de reduzir a produção de NO de maneira concentração dependente,

sendo que a redução da produção de NO começou a ser observada na concentração de 3

nas concentrações de 10 e 20

não estimuladas com LPS. Ambos os estudos mostraram que a exposição in vitro ao AU foi

capaz de promover a diminuição de óxido nítrico em cultura de células.

A literatura apresenta o AU como uma substância capaz de induzir, tanto estresse

oxidativo, como efeito antioxidante (HAN et al., 2004; SAHU et al., 2011; RABELO et al.,

2012). Utilizando a sonda intracelular DCFH, Han et al. (2004) observaram que hepatócitos,

incubados com AU na concentração de 5 , apresentavam aumento na produção de ROS.

No entanto, em uma concentração mais baixa (2 na produção

de ROS em comparação com o controle. De acordo com Sahu et al. (2011), a exposição, in

vitro, de células hepáticas HepG2 ao AU, durante 24 horas, foi capaz de induzir aumento

significativo no estresse oxidativo, em concentrações superiores de M. Estes resultados

contrastam com o observado na figura 13, onde a exposição ao AU foi capaz de reduzir a

quantidade de ROS intracelular. Entretanto, a diminuição da medida de ROS observada com a

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sonda intracelular DCFH corrobora os resultados de Rabelo et al. (2012), onde foi observado

que o AU pode induzir a diminuição radical OH em cultura de células neuronais.

A diminuição de ânion superóxido observada em nossas medidas (figura 14) corrobora

et al. (2012), onde foi demonstrado que os componentes de liquens

isolados, incluindo o AU, apresentam forte atividade sequestradora de radicais livres, maior

do que os de extratos desses compostos. Os autores relataram que o AU foi capaz de

sequestrar ânion superóxido e radical DPPH e a IC50, ou seja, quantidade de AU para que seja

para radical DPPH.

Os resultados mostrados nas figuras 09, 10 e 11, e os relatos da literatura

anteriormente citados, sugerem que concentrações mais baixas de AU induzem efeitos

antioxidantes, enquanto concentrações mais altas desta substância claramente induzem efeito

oxidante.

O AU parece ter efeitos similares ao 2,4-dinitrofenol (DNP) (ABO-KHATWA et al.,

1996). A literatura mostra o DNP como um potente desacoplador da cadeia transportadora de

elétrons (KUMA e BONNER, 1967; JIN et al., 2004). Nossos resultados dos experimentos de

mensuração de ROS e RNS com as sondas DAF-AM, DCFH e DHE (Figuras 09, 10 e 11),

sugerem que o AU, em concentrações baixas, tem efeito antioxidante no coração.

Considerando os efeitos antioxidantes descritos com o uso de desacopladores da cadeia

transportadora de elétrons na mitocôndria, como o DNP (SILVA et al., 2008;

KOWALTOWSKI et al., 2009), pode-se sugerir que um leve desacoplamento da cadeia

transportadora de elétrons pode ser responsável pela diminuição de RNS e ROS observadas

com o uso do AU.

O desacoplamento mitocondrial é cada vez mais reconhecido como um mecanismo

pelo qual as células modulam o metabolismo de energia e seu estado redox (SILVA et al.,

2008; KOWALTOWSKI et al., 2009; CUNHA et al., 2011). Estudos mostram que o DNP

tem sido utilizado como um agente antiobesidade por causa de seus efeitos de dissipação de

energia, que imitam os efeitos de uma dieta com restrição calórica. (SILVA et al., 2008;

CERQUEIRA et al., 2011).

Segundo Abo-Khatwa et al., (1996), o efeito desacoplador do AU foi dependente da

dose, sendo que a concentração mínima requerida para causar o desacoplamento completo da

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cadeia transportadora de elétrons em células hepáticas de camundongos foi de 1

Korshunov et al. (1997) mostraram que, em mitocôndria isolada de músculo cardíaco de

ratos, alterações nas taxas respiratórias foram capazes de promover a diminuição na produção

de H2O2. Este dado, juntamente com os resultados de Abo-Khatwa et al., (1996) corroboram

os nossos resultados observados na figura 10, onde foi mostrado uma diminuição de ROS

após exposição in vitro ao AU.

O desacoplamento mitocondrial brando tem sido associado com uma diminuição da

produção de ROS em preparações mitocondriais isoladas. Isto ocorre devido ao fato de que,

pequenas alterações nas taxas respiratórias são descritas como causadoras de reduções

substanciais na produção de ROS (SKULACHEV, 1998; BALABAN et al., 2005).

A literatura relata que o tratamento crônico, por via oral, com DNP, é capaz de

prevenir o ganho de peso ao longo da vida do camundongo e aumentar a longevidade (SILVA

et al., 2008). Em relação ao AU, existem relatos de utilização dessa substância por humanos

que mostram que o AU pode ser um potente agente hepatotóxico (HSU et al., 2005;

BUNCHORNTAVAKUL e REDDY, 2012). Entretanto outros dados na literatura apontam

que o tratamento por via oral em ratos não apresenta toxicidade e, ainda, teria efeito

antioxidante (ODABASOGLU et al., 2006).

A partir dessas informações, iniciamos o tratamento de camundongos com AU por via

oral (gavagem), a fim de avaliar os efeitos do AU sobre o coração. A dose escolhida

(50mg/kg) foi baseada no estudo de Odabasoglu et al. (2006), onde os autores trataram ratos

com doses de 25, 50, 100 e 200mg/kg e não foi observada toxicidade com a dose de 50mg/kg

e, nesta dose, o AU se mostrou gastroprotetor e antioxidante.

A peroxidação lipídica avaliada da detecção das substâncias reativas ao ácido

tiobarbitúrico, principalmente, o malondialdeído, mostrou que a diminuição dos níveis de

TBARS no fígado é um forte indicativo que o tratamento com AU não trouxe dano hepático

para os camundongos, pois a medida dos níveis de malondialdeído pode ser considerada uma

medida indireta dos níveis de dano celular (BRANCACCIO et al. 2010). Nossos resultados

mostraram ainda que, nos camundongos saudáveis, o tratamento com AU não promoveu

danos por peroxidação lipídica no coração (figura 15).

Odabasoglu et al. (2006) mostram que o tratamento oral com AU nas doses de 25, 50,

100 e 200mg/kg também foram capazes de promover diminuição da peroxidação lipídica

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(avaliada através da medida nos níveis de TBARS) em estômago de ratos com ulcerações,

provocadas pela administração de indometacina. Neste mesmo estudo, foi mostrado que o

tratamento com a indometacina provocou dano oxidativo ao estômago dos ratos e o AU foi

capaz de reverter esses danos.

Além da peroxidação lipídica também foram avaliadas as expressões de proteínas

relacionadas à produção ou neutralização de espécies reativas. A literatura aponta que o

tratamento com AU é capaz de diminuir a expressão da iNOS induzida por LPS em cultura de

macrófagos RAW 264,7 (JIN et al., 2008). Entretanto o efeito deste tratamento sobre a

expressão da eNOS e nNOS não está relatado na literatura. A isoforma “endotelial” da NO

sintase (eNOS) localiza-se preferencialmente na caveola da membrana do sarcolema. Ela é

expressa em associação com a proteína caveolina-3 (Cav-3). No coração saudável, a isoforma

“neuronal” da NOS (nNOS) está predominantemente localizada no retículo sarcoplasmático, e

está associado com o RYR e xantina oxidorredutase (XOR) (FERON e BALLIGAND, 2005;

ZHANG et al., 2009).

Também está descrito que a nNOS pode modular vários componentes do AEC,

incluindo influxo Ca2+ através do tipo canal para cálcio tipo L e liberação de Ca2+ pelo RyR2 e

a recaptação de Ca2+ pela SERCA2a. A nNOS também pode ter um efeito inibidor sobre a

produção de ânion superóxido. Há evidências sugerindo que a estimulação dependente de

estiramento pode aumentar a síntese de NO pela eNOS no miocárdio e estimular a atividade

do receptor de RyR2. Entretanto aumentos na força de contração está muito mais relacionada

com alterações na expressão da nNOS do que com alterações de expressão da eNOS.

(ZHANG et al., 2009)

O efeito do AU sobre a atividade da SOD foi avaliado no trabalho de Rabelo et al.

(2012) e não foram observadas diferenças estatísticas entre os grupos controle e expostos ao

AU (RABELO et al., 2012). Quanto à expressão da SOD não foram encontrados trabalhos na

literatura que com tais resultados. É interessante notar que a Mn-SOD, é a principal enzima

antioxidante mitocondrial sendo essencial para a manutenção da função e desenvolvimento

normal da célula. O aumento da expressão do gene da Mn-SOD demonstrou ter efeito

benéfico em vários modelos de doenças cardíacas, como a cardiomiopatia diabética e a

insuficiência cardíaca. (SHEN et al. 2006; TSUTSUI et al., 2003).

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O •O2- pode ser gerado, em grande parte pela NADPH oxidase, sendo que esta é

considerada uma enzima pró-oxidante e pode atuar também no aumento de H2O2 no tecido

cardíaco (TAKEYA e SUMIMOTO, 2006). Baseado no que foi descrito por Takeya e

Sumimoto (2006), podemos relacionar, de forma indireta, a diminuição da expressão da

NADPH oxidase cardíaca (figura 18) com a diminuição da medida apresentada •O2- (figura

14). Os resultados dos experimentos realizados após tratamento oral com AU corroboram os

resultados dos experimentos realizados após exposição in vitro ao AU, pois o aumento da

atividade total da SOD (figura 17) pode explicar a ocorrência da diminuição do •O2-

intracelular (figura 14).

Odabasoglu et al. (2006) mostram que o tratamento oral com AU nas doses de 25, 50,

100 e 200 mg/kg também é capaz de promover o aumento da atividade e expressão da

catalase no estômago de ratos, o que contrasta com os nossos resultados (figura 19 – painéis A

e B), onde, observamos que a atividade da catalase se mostrou diminuída após tratamento oral

com AU e a expressão desta enzima não se mostrou alterada com tratamento com AU.

Entretanto Odabasoglu et al. (2006) mostram que a expressão da enzima GPx se mostrou

aumentada após o tratamento com AU o que corrobora o resultado mostrado no painel C da

figura 19.

O aumento da expressão do gene Mn-SOD também pode elevar a expressão dos níveis

de GPx e catalase em miócitos. A GPx e a catalase podem atuar em conjunto com Mn-SOD

contra o estresse oxidativo (TSUTSUI et al., 2003). Conforme observado nas figuras 17 e 19,

a expressão das enzimas Mn-SOD e GPx encontram-se aumentadas após o tratamento com

AU, o que corrobora o que foi descrito por Tsutsui et al. (2003).

Tanto os resultados dos experimentos com células isoladas expostas in vitro, quanto os

resultados do tratamento oral com AU mostraram que esta substância tem potencial

antioxidante, podemos observar que, os resultados dos experimentos de exposição celular in

vitro, são complementados pelos resultados dos experimentos utilizando tratamento oral de

animais tratados com AU.

É interessante notar que o coração exibe um complexo sistema envolvido na propulsão

e circulação sanguínea. Assim, os processos mecânicos de contração-relaxamento e rítmicos

do coração têm importância fundamental. Alterações transitórias nos intervalos entre os

batimentos podem afetar profundamente a força de contração. Desta forma, ocorre regulação

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intrínseca do desempenho do miocárdio induzida pela frequência. Distúrbios nestes

fenômenos podem ocasionar graves patologias como as insuficiências cardíacas (MARK et

al., 2002). Na doença de Chagas podem ocorrer alterações nos processos mecânicos de

contração-relaxamento e rítmicos do coração.

É importante ressaltar que na avaliação da contratilidade cardíaca não encontramos

diferença significativa entre os grupos de animais saudáveis e chagásicos (figuras 20 e 21). A

ausência de alterações nos parâmetros contráteis dos animais infectados com o parasita T.

cruzi quando comparados aos animais não infectados podem ser explicados pelo tempo de

infecção dos animais. Os camundongos utilizados neste estudo foram avaliados

aproximadamente com 45 a 50 dias após a infecção com o parasita, ou seja, eles se

encontravam no início da fase crônica da infecção. Nesta fase da doença pode não ser possível

identificar sinais claros de hipertrofia dilatada e alterações na força e frequência de contração

(ACQUATELLA, 2007).

É interessante o fato de que, em pacientes com miocardite chagásica aguda, é possível

encontrar alterações contráteis ou quadros de derrame pericárdico e tamponamento. Na fase

crônica, muitos pacientes são assintomáticos e apresentam ECG normal, função sistólica

global normal, mas anormalidades contráteis e diastólicas podem ser encontradas, embora o

significado destes achados, na progressão da doença, seja desconhecido (ACQUATELLA,

2007).

A literatura demonstra que o estresse oxidativo é comum nas fases aguda e crônica da

doença de Chagas e que a utilização da intervenção antioxidante pode atenuar a progressão da

doença (OLIVEIRA et al., 2007; MAÇAO et al., 2007; BUDNI et al., 2012).

A ação do •O2- e do H2O2 é modulada pela presença de diferentes proteínas

antioxidantes, como a SOD, catalase e a GPx. Entretanto, além de ser observado um aumento

na produção das ROS na infecção por T. cruzi, também é observado uma redução das enzimas

antioxidantes, como a GSH e a MnSOD, o que indica que ocorre um desbalanço entre

produção e neutralização das ROS (VYATKINA et al., 2004; GUPTA et al., 2009). Nesse

sentido nossos resultados mostram que o AU poderia ajudar na terapia anti T. cruzi, pois

observamos uma redução nos na atividade total da SOD e na peroxidação lipídica.

A importância de se controlar o estresse oxidativo durante a infecção por T. cruzi é

demonstrada em estudos, onde o tratamento com antioxidante ou a privação de antioxidantes

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promove respectivamente a melhora ou a piora dos danos cardíacos (CARVALHO et al.,

2006; WEN et al., 2006; MACAO et al., 2007). Um exemplo de aumento de danos cardíacos

causados por estresse oxidativo foi demonstrado por Carvalho et al. (2006), onde, utilizando

ratos chagásicos, a privação de vitamina-E agravou o dano cardíaco e a inervação cardíaca

durante a fase aguda da doença de Chagas.

Wen et al. (2006) demonstraram que, camundongos infectados com T. cruzi e tratados

com Fenil-N-tert-butilnitrona (PBN), uma substância antioxidante, apresentaram melhora na

atividade da cadeia respiratória, contribuindo para melhora dos danos cardíacos observados na

fase aguda da doença de Chagas. Nesse sentido, Macao et al. (2007), em um estudo com

humanos, também observaram redução no estresse oxidativo de indivíduos tratados com

vitamina A.

Somada as informações já apresentadas, é interessante notar que os tratamentos

disponíveis para a fase aguda da doença de Chagas, como o Benzonidazol e o Nifurtimox

provocam aumento de estresse oxidativo, pois o mecanismo de ação destes dois fármacos é

via geração de ROS, capaz de matar o T. cruzi (MONCADA et al., 1989; PEDROSA et al.,

2001). Assim sendo, o AU pode ter potencial terapêutico na doença de Chagas, pois o

tratamento com AU não altera a contratilidade cardíaca (figuras 20 e 21) e tem efeito

antioxidante no animal chagásico (figuras 22 e 23).

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7. CONCLUSÃO

Concluímos que o ácido úsnico, nas concentrações utilizadas neste estudo, foi capaz

de promover a redução do estresse oxidativo, tanto em células cardíacas isoladas e expostas in

vitro, a ele, bem como, após o tratamento de animais, por via oral. E do ponto de vista

cardíaco, esta substância não trouxe alterações nos parâmetros fisiológicos estudados, o que

nos indica que o AU tem potencial terapêutico tanto como substância antioxidante no coração

bem como, potencial terapêutico na doença de Chagas.

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9. ANEXOS

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