Auriculoterapia 1 Definicao e Historia

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AURICULOTERAPIA ESCOLAS CHINESA E FRANCESA

AURICULOTERAPIA ESCOLAS CHINESA E FRANCESA

1. DEFINIO

A acupuntura realizada no pavilho da orelha um mtodo teraputico e de analgesia, que consiste na estimulao dos pontos cutneos especficos da aurcula, a fim de promover a homeostase psicossomtica.

A etimologia do vocbulo acupuntura provm do latim onde acus = agulha e punctura = picar, punturar. A palavra surgiu pela primeira vez na literatura ocidental em meados do sculo XVII, atravs dos relatos de jesutas franceses que retomaram das misses da China. Os missionrios presenciaram as curas de doenas tratadas pelos acupuntores chineses.

A terapia consiste em espetar agulhas em pontos especficos da pele e da orelha chamados de acupontos. A fontica latinizada do ideograma chins (figura ou sinal que exprime uma idia) para o termo acupuntura se diz Zhen Jiu Fa, que significa tratamento feito atravs de agulhas e moxa (aplicao de estmulo trmico feito com, Artemsia Vulgaris no ponto).

O termo acupuntura auricular apareceu na literatura sinomdica tradicional em 64 D.C, embora o uso prtico remonte s origens da acupuntura.

Na dcada de 50, surge o termo Zhen Jiu Lio F (aps o advento da auriculoterapia, neologia empregada pelo Dr. Paul Nogier na Frana), com a conotao microssistema.

A palavra auriculoterapia tem origem latina, onde auris = orelha, aurcula = pequena orelha e do grego therapien = tratamento; e, pr extenso, quer dizer a teraputica feita atravs de estmulos provocados nos pontos auriculares.

Atualmente, aplica-se o termo microssistema, que designa genericamente, no vocabulrio acupuntural, determinada estrutura ou parte do corpo que representa todo o organismo o microssistema contm o soma (corpo): a lngua, couro cabeludo, face, mo, p, dentes, orelha so os mais conhecidos.

A rigor existe uma distino conceito do microssistema auricular entre a escola francesa e a MTC. Para a escola francesa da auriculoterapia a microssoma da orelha tem significado reflexolgico e ao neurofisiolgica, enquanto que para a escola chinesa a acupuntura auricular segue as bases da medicina tradicional chinesa.

II. HISTRICO DA ACUPUNTURA AURICULAR E DA AURICULOTERAPIA

1. Auriculoterapia no Oriente

Trata-se da prtica milenar conhecida das antigas civilizaes orientais como Egito, ndia, Arbia, China, entre outras. A utilizao de pontos auriculares foi mais difundida entre os chineses atravs da Medicina Tradicional Chinesa ou MTC.

No perodo paleoltico, mdicos chineses aplicavam nos pontos do corpo e da aurcula Agulhas de pedra (Bian) confeccionadas de lascas afiadas de slex. Tambm eram usadas as agulhas feitas de osso e de bambu. O conhecimento acupuntural era transmitido verbalmente, de mestre para discpulo.

As agulhas de cermica e de barro foram usadas aps a criao da tcnica de coser utenslios de argila. A literatura sinomdica tradicional cita o uso, na China antiga, de se picar agulhas de cermica na regio do ante-hlix para o tratamento da diarria e analgesia da regio dorsal.

As agulhas de bronze foram usadas no sculo XVI a.C., na China, segundo as descobertas recentes feitas nas escavaes da provncia de Hebei. No sculo II a.C., os chineses passaram ao uso de agulhas de ouro e prata.

O Livro Nei Ting ou Tratado de Medicina Interna recopilado no ano 400 a.C., obra clssica da MTC, afirma que a orelha no uma estrutura isolada do corpo, pois tem relao com os rgos internos (Zang-Fu).

O livro intitulado O Tesouro da Sade, publicado durante a dinastia chinesa de Yuan, indica a presso do lbulo para tratar epilepsia infantil. Na dinastia Tsin (400 d.C.) o emprego de acupuntura auricular para urgncias mdicas foi preconizado no livro Prescrio para Emergncias. O livro publicado durante a dinastia Tang (730 d.C.), sob O ttulo Tchi Mie Fang, cita a prescrio para o tratamento da malria com aplicao de custicos em reas da superfcie da orelha.

Desde tempos remotos os japoneses se utilizam da prtica da mogusa ou moxabusto de acupontos sistmicos e auriculares. Documentos arqueolgicos mostram que ocorreu um desenvolvimento sistemtico e detalhado da acupuntura no oriente. Sabe-se que no antigo Egito era comum a prtica de estmulos de pontos auriculares para analgesia; inclusive, curioso notar que o uso de brincos no lbulo da orelha entre os egpcios visava fins teraputicos. E, ainda mais, estimulavam na aurcula certos pontos de ao anticonceptiva.

De certo, os antigos msticos conheciam profundamente a acupuntura, em particular o microssistema da orelha. Entre outros hbitos que justificava tal afirmativa, o costume de provocar a hipertrofia do lbulo auricular com instrumentos apropriados era muito difundido entre eles para estimular certas reas cerebrais, auxiliando, deste modo, na meditao.

Note bem que o lbulo corresponde zona cerebral, segundo a somatotopia da orelha. Tivemos a oportunidade de verificar o lbulo hipertrofiado na proporo de at trs vezes o tamanho natural da orelha, em certas figuras budistas, em divindades hindustas, tibetanas e tambm encontradas nas esculturas idnticas s budistas nas ilhas Maldivas.

2. Auriculoterapia no Ocidente

Na Grcia antiga, pr volta do sculo IV a.C., Hipcrates sangrava pontos auriculares para tratamento de doenas sistmicas e praticava incises na orelha a fim de curar a esterilidade. Os incas eram conhecidos como a raa real de orelhas compridas, ou seja, com o lbulo hipertrofiado mecanicamente. O autctone do Mxico no sculo XV, o asteca, tinha o costume de aumentar o volume do lbulo de modo similar ao mstico da Antigidade. Outro fato notrio os habitantes da Ilha de Pscoa do sculo XVII, que afirmavam ser uma raa real e apresentavam suas orelhas aumentadas de tamanho.

interessante acrescentar que esculturas encontradas em Rano Raraku apresentam o lbulo da mesma maneira. Atualmente nos nativos das Ilhas Marquesas, os chefes marquesanos, em Tahuata e nas tribos africanas encontra-se o costume idntico ao dos inas e tantos outros povos do ocidente e do oriente: a estimulao de reas cerebrais para diversos fins, atravs da hipertrofia mecnica do lbulo auricular.

Zacuto Luzitanus, mdico portugus do sculo XVH, realizou em 1637 cauterizares auriculares para o tratamento da citica com surpreendentes resultados. No livro De Aura Humana Tratactus, publicado pelo mdico anatomista italiano Antnio Mara Valsava, em 1717, nas pginas 11 e 12 - pargrafo XV, descreve o ponto auricular H para tratamento de odontalgias e nevralgia do nervo trigmeo.

O mesmo ponto descrito no mapa da escola chinesa, sendo divulgado para o ocidente somente em 1972. Cauterizaes no hlix para tratamento da citica eram feitas pelo Dr. Rulken de Cincinnati em 1850, sem tomar conhecimento da acupuntura. O Dr. Lucciani de Bastia publica, em maio de 1850, observaes e documentos sobre a cauterizao do ramo ascendente do hlix para a cura da citica. Descreve o cauterizador metlico auricular que era aplicado aps ser aquecido (flambado) na orelha do paciente. Em 1854, o artigo do mdico italiano M. Giovani Batt Pugno, publicado na Revista de Teraputica Mdico-Cirrgica, na Frana, descreve a cauterizao da orelha para tratamento de odontalgias, trofismo, coxalgia e citica. Outros mdicos tratavam diversos tipos de algias pr mtodo similar ao da cauterizao auricular.

3. Auriculoterapia Moderna Fase Cientifica

O Dr. Paul Nogier, mdico lions, aps extensas pesquisas de tratados e documentos antigos sobre a pratica dos estmulos de pontos na orelha para fins teraputicos, contribuiu para o desenvolvimento cientfico da acupuntura auricular.

Denominou o novo enfoque de Auriculoterapia em 1951, a data do marco inicial da fase cientfica da acupuntura do pavilho da orelha. Aperfeioou o mtodo e usou estmulos auriculares feitos atravs de agulhas de costura punturadas na raiz do ante-hlix em pontos sensveis a presso digital, com resultados positivos. Ampliou o raciocnio analgico e deduziu que se o territrio lombar onde se origina a dor citica tem representao bem definida no pavilho auricular, possivelmente o mesmo ocorra em relao a outras partes do corpo. Investigou a relao entre os acupontos auriculares hiperestsicos a presso digital e os rgos afetados. Ao estimular tais pontos obteve a reduo ou eliminao lgica. Para conseguir melhores resultados procurou os pontos auriculares sensveis a presso puntiforme, feita com a ponta de lpis. Num caso de clica heptica explorou o pavilho da orelha com a ponta do lpis at achar o ponto mais lgico correspondente e substituiu as agulhas de costura pelas de acupuntura. Comeou a realizar experimentos clnicos mais objetivos.

Executou a explorao do pavilho da aurcula com sonda num jovem sadio e no encontrou ponto doloroso a presso. Ento, resolveu pinar a polpa do polegar e ps-se a observar a orelha. O pinamento do polegar provocara a estase sangnea mais a sensao de dor; enquanto isso, o pavilho auricular mostrava a zona erimatosa lgica na parte superior da fossa escafa. Depois de cessado o pinamento extinguia-se a dor provocada, desaparecia a sensibilidade e o eritema auriculares na rea correspondente.

Paul Nogier fez o mesmo com a polpa do dedo indicador. Localizou um ponto prximo ao anterior e completou o teste com os demais dedos da mo, obtendo respostas auriculares em zonas adjacentes s outras. Estendeu a verificao para as demais reas do corpo e pde detectar os pontos auriculares a eles relacionados. Aprimorou a inspeo do pavilho da orelha com aparelho eltrico.

O REFLEXO VSCULO NEURAL DE (NOGIER) NA ORELHA

Pde, ento, discriminar com maior exatido a somatotopia puntiforme da aurcula correspondente estimulao dolorosa provocada em diferentes regies do corpo e obteve dados mensurveis. Os trabalhos desenvolvidos por Nogier tornaram possvel o estabelecimento do chamado reflexo auriculocardaco (RAC) o estmulo no ponto auricular produz alterao mensurvel na corrente sangnea detectada na artria radial ao nvel do punho. O RAC pode ser provocado, tambm, pelo eletroestmulo nos pontos da aurcula, com distintas freqncias e intensidades.

Paul Nogier, depois destas observaes, estabeleceu a correlao entre o pavilho da orelha e o feto na posio invertido intra-tero, onde o lbulo auricular corresponde a cabea do feto, o ante-hlix a coluna vertebral, a regio de concha inferior ao sistema cardiopulmonar e a concha superior aos sistemas digestivo e geniturinrio.

Em 1973, o Dr. Nogier inicia trabalhos experimentais em animais e publica os pontos auriculares do coelho; realiza experimentos de analgesia em coelhos em conjunto com o Dr. Niboyet e Corcelle. E prope nova denominao ao mtodo teraputico pela orelha de auriculomedicina (medicina auricular). Atualmente diversas associaes e instituies de acupuntura e de auriculoterapeutas de diferentes naes praticam a acupuntura e a auriculoterapia, em ambulatrio, hospitalar e experimental; renem-se em congressos nacionais e internacionais.

A IMAGEM DO FETO INVERTIDO NA ORELHA MICROSSISTEMA AURICULAR.

4. A Auriculoterapia no Brasil

No Brasil, desde o perodo anterior ao descobrimento, a prtica da acupuntura primitiva era difundida entre os aborgines. O fato digno de nota da cultura do nosso indgena, relacionado com a acupuntura, se refere ao costume da implantao, no lbulo auricular dos guerreiros da tribo, de pequenos espetes de madeira, que coincide com o acupontos da agressividade.

Quem visitar o Museu do ndio, em Manaus, ter a oportunidade de apreciar o acervo de instrumentos rudimentares da acupuntura dos aborgines do Brasil. O paj da tribo praticava a insero (manual ou com zarabatanas) de espetes de madeira, cactos, entre outros, nos acupontos somticos e auriculares. A finalidade teraputica funcionava vinculada ao ritual da pajelana.