As Excelencias Da Santa Missa, 1737 - Fr. Leonardo

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  • LEONARDO DE PORTO-MAURCIO da Ordem dos Frades Menores

    AS EXCELNCIAS DA

    SANTA MISSA

    Conforme a edio romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII

    DEDICATRIA

    Santssimo Padre,

    O mnimo dos Frades Menores, humildemente prostrado aos ps de Va Santidade, ousa oferecer-vos este livrinho. Vai publicado sob o ttulo de TESOURO OCULTO, mas para vossa grande alma, um tesouro h longo tempo conhecido, pois trata da excelncia e utilidade da Santa Missa, que constitui toda a vossa consolao e o esplendor da Igreja de Deus.

    A convenincia e a justia combinadas levam-me a apresentar-vos esta humilde homenagem.

    Nada mais conveniente; pois j que trar do mais augusto de todos os sacrifcios, a quem poderia ser melhor dedicado este livro do que ao primeiro de todos os Padres? E onde poderia eu buscar apoio mais precioso, seno no patrocnio do Pastor supremo, que longe de guardar em si sua grande piedade, deseja to ardentemente espalh-la em proveito dos povos to necessitados de luz? Igualmente, nada mais justo. Numerosos e poderosssimos so os motivos que, de longa data, me impelem a manifestar em atos, meu vivo reconhecimento a vossa Santidade. Oh! Quantos benefcios que concedeu vossa clemncia durante o pouco tempo que passei na Cidade Eterna!

    Atestam-no a faculdade de pregar misses em Roma, o desenvolvimento do santo Exerccio da Via Sacra, e a elevao da Adorao Perptua do Santssimo Sacramento. Em uma palavra, no h favor, que eu vos tenha pedido para o bem comum de nosso Instituto, que no tenhais benevolamente concedido.

    Estes motivos e muitos outros excitam em meu corao sentimentos do mais humilde respeito, obrigam-me a manifestar o meu devotamento e encorajam-me a mandar imprimir no frontispcio destas pginas o vosso nome augusto, conferindo-lhes assim uma recomendao que lhe aumentar o valor.

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  • O preito que vos rendo com este livro , portanto conveniente e justo.

    Mas ser sempre de vossa parte, santssimo Padre, pura benevolncia se vos dignardes aceita-la. o que espero, vendo-vos to inclinado a promover tudo que de qualquer modo, possa facilitar o grande negcio da salvao das almas.

    Este zelo admirvel que atrai sobre vs a proteo visvel do Altssimo.

    Deus, certamente, que a uma idade to avanada ajunta santidade to florescente: DEUS, vosso conselheiro em to difceis conjunturas, DEUS, vossa Fora nas provaes to grandes da Igreja, DEUS mesmo, que ser finalmente vossa recompensa por to gloriosos empreendimentos, dirigidos todos para o bem do universo catlico.

    Digne-se vossa Santidade permitir que eu me prostre, com profunda submisso, beijando vossos ps sagrados, e oferecendo-vos minhas obras, minhas palavras e meu corao, e que me confesse,

    de vossa Santidade,

    o mais humilde, respeitoso e obediente filho e servo,

    Frei Leonardo de Porto-Maurcio

    Convento de So Boaventura,

    Roma, 15 de Outubro de 1737.

    PREFCIO

    Os tesouros, por grandes e preciosos que sejam, no podem ser estimados se no forem conhecidos. Eis porque, caro leitor, muitos no tm pelo santo Sacrifcio da Missa o amor que deveriam ter, porque este tesouro, A MAIOR MARAVILHA e a MAIOR RIQUEZA da IGREJA DE DEUS um TESOURO OCULTO um tesouro muito pouco conhecido. Ah! se todos conhecessem esta preciosidade celeste, tudo sacrificariam para adquiri-lo. A exemplo do mercador do Evangelho, cada um, de boa vontade, daria tudo que possusse para obter to precioso tesouro.(Mt 13, 46)

    Para estabelecer, portanto, queles que no estimam suficientemente to grande mistrio, publicamos este opsculo.

    Talvez a primeira vista, voc no d muito valor a ele, pois tantos outros livros foram j impressos, que ensinam admiravelmente o mtodo para participar com fruto da Santa Missa, que outros novos no se podem desejar, como temerrio, pois seria preciso mais talentos, a fim de pr, em evidncia, todo o valor de um Mistrio to venervel, alm da inteligncia dos prprios Serafins.

    Responder-vos-ei, ingenuamente, que dizeis a verdade. E confesso que nada tenho a objetar, e mais ainda, que por muito tempo estas duas consideraes me detiveram. Tolhia-me viva repugnncia de empreender uma obra que havia de ser julgada pelo pblico, como suprflua e alm de minhas foras.

    Dois motivos, porm, impeliram-me a vencer todas as resistncias de meu corao. Em primeiro lugar um conselho, para mim sagrado como uma ordem, pois que vinha dum Personagem a quem, por muitos ttulos, devo obedincia. Em segundo lugar a esperana de este escrito prestar algum servio s populaes que tenho evangelizado nas Misses.

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  • Com efeito, um dos maiores benefcios que se obtm das Misses o incremento do culto e do amor ao Santssimo Sacramento. A finalidade delas excitar em todos os cristos um santo fervor que os impila a nutrirem-se mais freqentemente do Po dos Anjos, a acompanhar o santo Vitico, cada vez que ele levado aos doentes, a fim de que se forme um grande cortejo de pessoas e luzes, numa palavra, se lhes prestem as honras e pompa adequadas. Muito esforo tambm feito no sentido de levar, todos os fiis catlicos, a assistir diariamente Santa Missa; e no podeis imaginar como vantajoso, para atingir um fim to santo, colocar, entre as mos dos fiis, livros compostos em estilo simples e a seu alcance. Esses livros aplanam toda dificuldade para excitar a devoo, aclarando a inteligncia e aquecendo os coraes; e muitas vezes tira-se deles mais proveito que mesmo das pregaes, pois nestas a palavra se dissipa enquanto que a verdade escrita permanece sempre sob os nossos olhos.

    Ainda que este opsculo, no fizesse bem seno a uma nica alma, no se poderia dizer que ficasse sem fruto.

    A fim de coloc-lo ao alcance de todos, ele s conter trs captulos.

    No primeiro encontrar-se- uma curta introduo sobre a excelncia, a necessidade, e as vantagens da Santa Missa; no segundo vai exposto um mtodo piedoso e prtico para dela participar com fruto; no terceiro, registram-se alguns exemplos prprios para excitar as pessoas, de boa condio, a assistir Santa Missa todos os dias.

    Em suma, um TESOUTO OCULTO que eu vos desvendo, e, se souberdes dele aproveitar, enriquecereis de todos os bens para a vida e para a morte, para o tempo e para a eternidade.

    EXCELNCIA, NECESSIDADE E VANTAGENS

    DO SANTO SACRIFCO DA MISSA

    Grande pacincia necessria para suportar a indiferena, que a maioria dos batizados na Igreja Catlica tm pela Santa Missa: eles rescendem atesmo e so o veneno da piedade. Pensam eles: Uma missa a mais, uma missa a menos, que importa... J bastante ouvir a missa nos dias de festa. A missa de tal padre uma missa de semana santa: quando ele surge no altar eu fujo da igreja.

    Esses que assim falam deixam perceber claramente que pouca ou nenhuma estima tm pelo santssimo Sacrifcio da Missa.

    Sabeis que, na realidade, a Santa Missa? o sol da cristandade, a alma da F, o centro da religio Catlica apostlica com a sede em Roma, a que tendem todos os seus ritos, todas as suas cerimnias, todos os seus sacramentos. uma palavra, A ESSNCIA DE TUDO O QUE H DE BOM E BELO NA IGREJA DE DEUS.

    Por isso caros leitores meditem bem tudo que vou dizer-vos nesta instruo.

    EXCELNCIA DO SANTO SACRIFCIO DA MISSA

    uma verdade incontestvel que todas as religies, que existiram desde o comeo do Mundo, tiveram sempre algum sacrifcio como parte essencial do culto devido a DEUS.

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  • Mas porque essas religies eram vs ou imperfeitas, seus sacrifcios, tambm, eram vos ou imperfeitos.

    Totalmente vos eram os sacrifcios do paganismo, e nem acode ao esprito falar sobre eles.

    Quanto ao dos hebreus, eram imperfeitos.

    Se bem que professassem, ento, a religio verdadeira, seus sacrifcios eram podres e defeituosos, infirma et egena elementa, como qualifica So Paulo.

    No podiam, assim, apagar os pecados nem conferir graa.

    S o Sacrifcio que temos em nossa santa religio, que a Santa Missa, um sacrifcio santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a DEUS, reconhecendo, ao mesmo tempo, o prprio nada e o supremo domnio de DEUS. Davi o chama: Sacrifcio de Justia, sacrificium justitiae; tanto porque contm o Justo dos justos e o Santo dos santos, ou, melhor a prpria Justia e Santidade, como porque santifica as almas pela infuso das graas e abundncia dos dons que lhes confere.

    PRIMEIRA EXCELNCIA

    O SACRIFCIO DA SANTA MISSA O MESMO QUE O SACRIFCIO DA CRUZ

    A Santa Missa um sacrifcio to santo, o mais augusto e excelente de todos, e a fim de formardes uma idia adequada de to grande tesouro, algumas de suas excelncias divinas; pois dize-las todas no empreendimento a que baste a fraqueza da minha inteligncia.

    A principal excelncia do santo Sacrifcio da Missa consiste em que se deve consider-lo como essencialmente o mesmo oferecido no Calvrio sobre a Cruz, com esta nica diferena: que o sacrifcio da Cruz foi sangrento e s se realizou uma vez e que nessa nica oblao JESUS CRISTO satisfez plenamente por todos os pecados do Mundo; enquanto que o sacrifcio do altar um sacrifcio incruento, que se pode renovar uma infinidade de vezes, e que foi institudo pra nos aplicar especialmente esta expiao universal que JESUS por ns cumpriu no Calvrio,

    Assim o SACRIFCIO CRUENTO foi o MEIO de nossa REDENO, e O SACRIFCIO INCRUENTO nos proporciona as GRAAS da nossa REDENO.

    Um abre-nos os tesouros dos mritos de CRISTO Nosso Senhor, o outro no-los d para os utilizarmos.

    Notai, portanto que na Missa no se faz apenas uma representao, uma simples memria da Paixo e Morte do nosso Salvador; mas num sentido realssimo, o mesmo que se realizou outrora no Calvrio aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada Santa Missa nosso Redentor morre por ns misticamente, sem morre na realidade, estando ao mesmo tempo vivo e como imolado: Vidi agunum stantem tanquan accisum. (Apoc 5, 6)

    No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o nascimento do Salvador, mas no verdade que Ele nasa, ainda, nesse dia.

    Nos dias da Ascenso e Pentecostes, comemoramos a subida do Senhor JESUS ao Cu e a vinda do ESPRITO SANTO, sem que, de modo algum nesses dias o Senhor suba ainda ao Cu, ou o ESPRITO SANTO desa visivelmente Terra.

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  • A mesma coisa, porm, no se pode dizer do mistrio da Santa Missa, pois a no uma simples representao que se faz, mas, sim, o mesmo sacrifcio oferecido sobre a Cruz, com efuso de sangue, e que se renova de modo incruento: o mesmo corpo, o mesmo sangue, o mesmo JESUS, que se imola hoje na Santa Missa. Opus trae Redemptionis exercetur, diz a Santa Igreja.

    A obra de nossa Redeno a se exerce: sim, exercetur, a se exerce atualmente. Este santo sacrifcio realiza, opera o que foi feito sobre a Cruz. Que obra sublime! Ora, dizei-me sinceramente se, quando ides Igreja para assistir a Santa Missa, penssseis bem que ides ao Calvrio assistir morte do Redentor, que diria algum que vos visse ai chegar numa atitude to pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvrio e se prostrasse aos ps da Cruz vestida, perfumada e ataviada como em seus tempos de desordem, quanto no seria censurada! E que se dir de vs que ides Santa Missa como se fsseis a uma festa mundana?

    Que aconteceria, sobretudo se profansseis este ato to santo, com gestos, risadas, cochichos, encontros sacrlegos?

    Digo que, em qualquer tempo e lugar, a iniqidade no tem cabimento; mas os pecados que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do altar, so pecados que atraem a maldio, de DEUS: Maledictus qui facit opus Domini fraudulenter (Jer 48,10). Meditai seriamente sobre esse assunto.

    Outras maravilhas, porm, vou desvendar-vos de tesouro to precioso.

    SEGUNDA EXCELNCIA

    O SACRIFCIO DA SANTA MISSA TEM POR SACERDOTE O PRPRIO JESUS CRISTO

    Depois de dizer que o Sacrifico da Missa o mesmo Sacrifcio da Cruz, e no uma cpia, era de imaginar que no se poderia encontrar prerrogativa melhor. O que o torna, entretanto, mais sublime o fato de ter como sacerdote o prprio Deus feito homem. Trs coisas, certamente so para considerar no santo Sacrifcio: o Sacerdote que oferece. A Vtima oferecida e a Majestade divina, a quem se oferece. Ora, trs consideraes: o Sacerdote, que oferece, um Homem-DEUS, JESUS CRISTO: a vtima a vida de um DEUS; e no se oferece a outrem seno DEUS. Reanimai, portanto, a vossa f, e reconhecei no padre que celebra, a pessoa adorvel de Nosso Senhor JESUS CRISTO. Ele o principal oferente, no s porque instituiu este santo Sacrifcio, e lhe d, por seus mritos, a eficcia, mas porque se digna, em cada Santa Missa e para nosso benefcio mudar o po e o vinho em seu santssimo Corpo e preciosssimo Sangue.

    Eis porque a maior excelncia da Santa Missa consiste em ter por Sacerdote um DEUS feito Homem. E quando virdes o celebrante no altar, sabei que sua maior dignidade ser o ministro deste Sacerdote invisvel e eterno que nosso Redentor.

    Da vem que o Sacrifcio no deixa de ser agradvel a DEUS, ainda que o padre celebrante seja um pecador, visto que o principal oferente CRISTO Nosso Senhor, e o padre seu simples representante. Do mesmo modo, aquele que d esmola pela mo dum servidor, verdadeiramente o principal autor do benefcio, e ainda que o servo fosse um celerado, se o patro um justo, a esmola santa e meritria.

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  • Bendito seja DEUS que nos deu um Sacerdote infinitamente santo, a prpria Santidade, o qual oferece ao PAI Eterno este divino Sacrifcio, no s em todo lugar, pois hoje a f est difundida em toda parte, mas tambm em todo tempo, todos os dias e mesmo a toda hora, graas a DEUS, o sol se levanta para outras regies, quando pra ns desaparece. A toda hora, portanto em qualquer parte da Terra, este Santssimo Sacerdote oferece seu Corpo, seu Sangue, todo o Ser ao PAI, por ns, e o faz tantas vezes quantas Missas se celebram em todo o Universo.

    Que tesouro imenso! Que mina de inestimveis riquezas possumos na Igreja de DEUS! Felizes de ns se pudssemos assistir devotamente a todas as Santas Missas! Que capital de mritos amontoaramos! Que abundncia de graas nesta vida, e que grau de glria na outra nos proporcionar a devota e amorosa assistncia a tantas Santas Missas!

    Mas que digo? Assistncia? Os que assistem a Missa Santa Missa no fazem apenas o ofcio de assistentes, mas tambm o de celebrantes e pode-se chama-los sacerdotes: Fecisti nos DEO nostro regnun et sacerdotes (Apoc 5,10). O sacerdote que oficia como o ministro pblico da Igreja inteira, o mediador de todos os fiis, e especialmente daqueles que participam da Santa Missa, junto do Sacerdote invisvel que JESUS. Com CRISTO, ele oferece ao Eterno PAI, em seu Nome e em nome de todos, o resgate precioso da Redeno dos homens. No est, porm, sozinho nesta santa funo.

    Todos os que assistem a Santa Missa, concorrem com ele no oferecimento do Sacrifcio. Assim, voltado para os fiis, o sacerdote diz: Orate, fratres, ut meum ac vestrum sacrificium acceptabile fiat:

    Orai, meus irmos, para que o meu sacrifcio, que tambm o vosso, seja agradvel a DEUS.

    Estas palavras, que o sacerdote profere, para nos dar a entender que, conquanto desempenhe ele o papel de ministro principal, todos, que ali assistem, com ele oferecem a grande Vtima. Quando assistis Santa Missa, fazeis, portanto, de certo modo, o ofcio de sacerdote.

    Que dizeis agora? Ousareis ainda assistir Santa Missa, sentados, tagarelando, olhando para um e outro lado, e contentando-vos de recitar, bem ou mal, umas preces vocais, sem levar em conta o ofcio de tanta responsabilidade que exerceis, o ofcio de sacerdote?

    Ah! no posso evitar de exclamar aqui: mundo insensato, que nada compreende de to augustos mistrios.

    Como possvel permanecer ao p dos altares com o esprito distrado e o corao dissipado, num momento em que os Anjos e os Santos se absorvem em admirao e temo vista de to maravilhosa obra!

    TERCEIRA EXCELNCIA

    A PALAVRA DE UM HOMEM OPERA O SACRIFCIO.

    Admirai-vos, talvez, de me ouvir dizer que a Missa uma obra maravilhosa? E no , com efeito, inefvel maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que lngua anglica ou humana poderia explicar poder to excessivo? Quem, jamais, pode imaginar que a palavra de um homem, que no tem, naturalmente, a fora de levantar da terra uma palha, receberia da graa o poder surpreendente de fazer descer do Cu o Filho de DEUS?

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  • A est um poder maior que o de transportar montanhas, esgotar o mar e abalar os cus; poder comparvel, de certo modo, quele primeiro Fiat com que DEUS fez surgir do nada todas as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em outro sentido, aquele Fiat pelo qual a Virgem Santssima atraiu a seu seio o Verbo Divino.

    A Virgem Maria nada mais fez que fornecer a matria do corpo de Cristo dela formado, sem dvida, isto , de seu purssimo sangue, mas no por ela nem por sua operao: enquanto que a voz do sacerdote, sendo instrumento de CRISTO no ato da consagrao, O reproduz de um modo novo e admirvel, quer dizer, sacramentalmente e isto tantas vezes quantas consagra.

    O bem-aventurado Joo, o Bom, de Mntua, levou um eremita seu companheiro a compreender esta verdade. Este no conseguia persuadir de que a palavra de um padre tivesse o poder de mudar a substncia do po, no Corpo de JESUS CRISTO, e a do vinho em seu Sangue; e, o que mais deplorvel, tinha cedido a essa tentao diablica. O servo de DEUS percebeu o erro do companheiro, e, conduzindo-o a beira de uma fonte, a encheu de gua uma taa e deu-lhe de beber.

    Depois de sorver toda a gua, o outro confessou que jamais, em toda a sua vida, provara um vinho to delicioso. Ento Joo, o Bom, disse-lhe: No vedes o milagre, meu querido irmo? Se, por meio de um miservel como eu, a gua se mudou em vinho pela onipotncia divina, quanto mais deveis crer, por meio das palavras do sacerdote, que so palavras de DEUS, o po e o vinho mudam-se no Corpo e Sangue de JESUS CRISTO? Quem ousaria jamais pr limites onipotncia de DEUS?

    Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu esprito toda a dvida, fez grande penitncia por seu pecado.

    Um pouco de f, mas de f viva, e confessaremos que inmeras so as prodigiosas prerrogativas contidas neste admirvel Sacrifcio.

    A veremos, com admirao, renovar-se- a toda hora este prodgio da sagrada humanidade de JESUS CRISTO presente em milhares e milhares de lugares, e gozando, por assim dizer, de uma sorte de imensidade que no possui nenhum outro corpo, e s a ela reservada em recompensa do sacrifcio de sua vida que Ele fez a DEUS Altssimo.

    Um esprito, falando pela boca de uma pessoa, fez com que um judeu incrdulo compreendesse esta verdade, por meio de uma comparao material e grosseira. O homem achava-se numa praa com muitas pessoas, entre as quais a mulher possessa. Nesse momento passou um padre que levava o Santo Vitico a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e prestaram homenagem ao Santssimo Sacramento. S o judeu ficou imvel e no deu sinal algum de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapu e deu-lhe um vigoroso bofeto, dizendo-lhe.

    Desgraado, porque no te prostras diante do verdadeiro DEUS presente neste Divino Sacramento? Que DEUS?, replicou o judeu. Se fosse verdade, a conseqncia seria haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Santa Missa ele estaria em cada um dos vossos altares.

    A estas palavras, o esprito, que habitava naquela mulher, tomou um crivo e opondo-se ao sol, disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida ajuntou: Dize-me, judeu, h ento muitos sis passando pelas aberturas deste crivo, ou um s? E, resposta do judeu de que no havia seno um sol, a mulher replicou.

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  • Por que te espantas, ento, de que DEUS, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de amor, uma presena real e verdadeira sobre vrios altares, permanecendo, no entanto, uno, indivisvel e imutvel? Foi o suficiente para confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocnio se viu constrangido a confessar a verdade de nossa F.

    santa F! Apenas um raio de tua luz, e exclamaremos com fervor: Quem ousaria estabelecer limites onipotncia de DEUS?

    Nesta grande concepo que tinha do poder de DEUS, Santa Teresa dizia, muitas vezes, que quanto mais sublimes eram os mistrios de nossa f, e profundos e impenetrveis nossa inteligncia, com tanto mais fora e felicidade neles acreditava, sabendo bem que DEUS todo-poderoso pode fazer prodgios infinitamente maiores.

    Reanimai, espontaneamente, vossa f e confessai que este Divino Sacramento o milagre dos milagres, a maravilha das maravilhas, e que sua maior excelncia consiste em ultrapassar nossa pobre inteligncia. E tomados de admirao dizei e repeti muitas vezes: Oh! Que grande tesouro! Que imenso tesouro!

    Se, porm, sua excelncia prodigiosa no vos comove, que vos toque, ao menos, sua soberana necessidade.

    NECESSIDADE DO SANTO SACRIFCIO

    Se no houvesse o Sol, que seria da Terra? Oh! Tudo seria trevas, horror, esterilidade e desolao.

    E se o Mundo no tivesse a Santa Missa, que seria de ns? Infelizes! Ficaramos privados de todos os bens sobrecarregados de todos os males. Estaramos expostos a todos os raios da clera de DEUS.

    Alguns h que se admiram, e acham que, de certo modo DEUS mudou a sua maneira de governar. Antigamente Ele se nomeava de DEUS dos exrcitos, e falava ao povo do meio das nuvens, manejando o trovo; e de fato, era com todo o rigor da justia que castigava os pecados. Por um nico adultrio, mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da tribo de Benjamim. (Juiz 20,46).

    Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo, enviou Ele uma peste to terrvel que, em poucas horas pereceram setenta mil pessoas (II Sam. 24,15) Por um s olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez que cinqenta mil deles perecessem. (I Sam. 6, 19).

    E agora suporta, com pacincia, no s vaidades e irreverncias, mas adultrios, os mais vergonhosos, escndalos gravssimos, e tantas blasfmias horrveis que muitos cristos vomitam contra Seu Nome Santssimo.

    Porque assim acontece? Por que to grande mudana de conduta? Sero as ingratides dos homens mais escusveis hoje do que outrora? Bem ao contrrio, so muito mais culpveis, j que os imensos benefcios de DEUS se multiplicam cada dia. A verdadeira razo desta clemncia espantosa a Santa Missa, pela qual esta grande Vtima, que se chama JESUS, se oferece ao Eterno PAI. Eis a o sol da santa Igreja que dissipa as nuvens e torna sereno o cu. Eis a o arco-ris que detm os raios da Divina Justia. Creio para mim que, no fosse a Santa Missa, o Mundo estaria j no abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas iniqidades.

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  • A Santa Missa o poderoso sustentculo que lhe permite subsistir.

    Conclu, de tudo isto, quanto este divino Sacrifcio necessrio; assim ento, sabei aproveit-lo o mximo que for possvel.

    Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrvel tempestade, teve uma inspirao: tomou nos braos uma criana que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto, exclamou: Se todos somos pecadores, esta criaturinha certamente sem mcula, Ah! Senhor por amor deste inocente compadecei-vos dos culpados! Acreditareis? A vista dessa criana inocente agradou tanto a DEUS, que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria queles infelizes, gelados j pelo terror da morte certa.

    Ora, qual pensais seja a atitude do Eterno Pai, quando o sacerdote, levantando a Santa Hstia, lhe apresenta o Divino FILHO? Ah! seu amor no pode resistir vista do inocente JESUS; Ele se sente forado a acalmar nossas tormentas, e acudir a todas as nossas necessidades. Sem esta santa vtima, portanto, sem JESUS sacrificado por ns, primeiro sobre a Cruz, e todos os dias sobre nossos altares, estaramos perdidos, e poderia cada um dizer a seu companheiro: At vista no inferno! Sim, sim, no inferno, no inferno! At vista no inferno!

    Mas, com este tesouro da Santa Missa a nosso alcance, nossa esperana renasce; e se no opusermos obstculos, teremos assegurado o Paraso.

    Deveramos, portanto, beijar nossos altares, perfum-los de incenso, e sobretudo honr-los com nosso mximo respeito, pois que deles nos vem tantos bens.

    Juntai as mos e agradecei a DEUS PAI que nos deu o mandamento to doce de oferecer-Lhe muitas vezes a Vtima celeste. Agradecei-Lhe, sobretudo, pelo imenso proveito que dela recebeis, se sois fiel no somente em oferec-la, mas de faz-lo para os fins a que nos foi concedido este dom to precioso.

    VANTAGENS DO SANTO SACRIFCIO

    A grandeza e a beleza so dois motivos assaz poderosos para tocar os coraes; a utilidade, porm, os persuade e, a despeito de toda repugnncia, arrebata quase sempre vitria. Ainda que a excelncia e a necessidade da Santa Missa no fossem para vs bastante ponderveis, como podereis deixar de apreciar a magna utilidade que ela proporciona aos vivos e falecidos, aos justos e aos pecadores, para a vida e para a morte, e mesmo para depois da morte? Imaginai que sois aquele devedor do Evangelho, cuja dvida se elevara enorme quantia de dez mil talentos. Chamado a prestar contas humilha-se, implora e pede adiamento para satisfazer completamente o dbito: Patientiam hiabe in me, et omnia rddam tibi.

    Tem pacincia comigo, que tudo de pagarei (Mt 18, 26)

    A est o que deveis fazer, vs que tendes com a Justia divina no uma, mas mil dvidas. Deveis humilhar-vos e suplicar tempo bastante para assistir Santa Missa; e ficai certos de que estas Santas Missas saldaro completamente todas as vossas obrigaes.

    So Toms de Aquino, o Doutor anglico, nos ensina quais so as dvidas que temos com DEUS. Ele diz que h especialmente quatro. Todas as quatro ilimitadas.

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  • A primeira de adorar, louvar e honrar este DEUS de majestade infinita e digno de infinitos louvores e homenagens.

    A segunda dar-Lhe satisfao pelos pecados que cometemos.

    A terceira, render-Lhe graas pelos benefcios recebidos.

    A quarta, implora-Lhe, como fonte de todas as graas.

    Ora, como possvel que pobres criaturas como ns, que nada possumos, nem mesmo o ar que respiramos, possam jamais satisfazer obrigaes to grandes? Consolemo-nos, pois aqui est um meio faclimo. Faamos o possvel para participar de muitas Missas e com a mxima devoo; mandemos celebr-la tambm o mais que pudermos: e, se bem que nossas dvidas sejam enormes e inumerveis, no h dvida de que, com o tesouro contido na Santa Missa, poderemos solv-las inteiramente. E para melhor compreendermos estas dvidas, explic-las-ei uma depois da outra, e grande ser vossa consolao ao ver a grande utilidade e inesgotvel riqueza que podeis haurir de mina abundante, para pagar todas.

    PELA SANTA MISSA ADORAMOS DIGNAMENTE A DEUS

    Nossa primeira obrigao para com DEUS ador-Lo e honr-Lo. preceito da prpria lei natural que todo inferior deve homenagem a seu superior. E quanto maior a dignidade deste, tanto maiores devem ser as honras que se lhes prestam. Da resulta que, sendo DEUS de majestade infinita, homenagens infinitas Lhe devemos.

    Infelizes que somos! Onde encontraremos oferenda digna de nosso Criador? Passei vs em revista todas as criaturas do Universo: coisa alguma encontrareis digna Dele.

    Ah! que uma oferenda digna de DEUS no pode ser seno o prprio DEUS. Necessrio que Aquele, que est sentado no trono de Sua Majestade, desa para oferecer-se como vtima sobre os nossos altares, a fim de que a homenagem corresponda perfeitamente Excelncia de sua grandeza infinita.

    Isto o que se realiza na Santa Missa, pela qual DEUS adorado na medida que merece, porque adorado por DEUS mesmo, isto , por JESUS que, pondo-se sobre o altar em estado de vtima, adora a SANTISSMA TRINDADE por um ato de inefvel dependncia e tanto quanto Ela merece. E de tal modo que todas as outras homenagens que Lhe possam prestar as criaturas, comparadas a essa humilhao de JESUS, desaparecem como as estrelas em presena do sol.

    Conta-se de uma santa alma que, totalmente abrasada de amor a DEUS, traduzia em mil desejos o ardor de sua ternura: Ah! meu DEUS, dizia ela, quisera ter tantos coraes e tantas lnguas como h de folhas nas rvores, de tomos no ar e de gotas dgua, para vos amar e louvar como mereceis. Oh! Se eu tivesse em meu poder todas se consumissem de amor por vs, contanto que eu vos amasse mais que todas juntas, mais que todos os Anjos, os Santos e todo o Paraso! Certo dia em que tal desejo repetia com mais fervor do que nunca, ouviu o SENHOR responder-lhe: Consola-te, minha filha, pois com uma s Missa que participas com devoo, ds-me toda esta glria que me desejas, e ainda mais infinitamente.

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  • Admirai-vos talvez esta afirmao? No tendes motivo, pois visto nosso bonssimo JESUS ser no somente Homem, mas DEUS verdadeiro e Todo-Poderoso, quando Ele se aniquila sobre o altar, d com este ato homenagem e adorao infinitas SANTISSMA TRINDADE.

    Deste modo que ns, que concorremos com Ele no oferecimento deste grande Sacrifcio, damos tambm de nossa parte, a DEUS, honra e homenagem infinitas. Oh! Que coisa sublime! Digamos uma vez ainda, pois importantssimo sab-lo: sim, assistindo Santa Missa, prestamos a DEUS adorao, honra e homenagem infinitas.

    Deixai, aqui, empolgar-vos de admirao, e reconhecei que absolutamente verdade dizer que, ao assistirmos com devoo Santa Missa, damos a DEUS mais glria, do que lhe do, com suas adoraes, todos os Anjos e todos os Santos juntos: pois, definitivamente, eles so apenas simples criaturas e, portanto, suas homenagens so limitadas e curtas. Na Santa Missa, porm, JESUS se aniquila e esta humilhao de valor e mrito infinitos.

    Por conseguinte, a homenagem e a honra que por meio dEle prestamos a DEUS na Santa Missa, so homenagem e amor infinitos.

    Sendo assim, como quitaremos bem a nossa primeira dvida com DEUS, assistindo Santa Missa! mundo obcecado, quando abrirs os olhos para compreender verdade to importante.

    E vs cristos negligentes, tereis ainda a coragem de dizer: Uma missa a mais, uma missa a menos, pouco importa? Que triste cegueira!

    PELA SANTA MISSA PODEMOS SATISFAZER A JUSTIA DIVINA

    PELOS PECADOS COMETIDOS

    A segunda obrigao que temos para com DEUS de satisfazer sua justia por tantos pecados cometidos. Oh! Que dvida imensa esta! Um nico pecado mortal pesa tanto na balana da Justia Divina que no bastariam, para expi-lo, todas as boas obras de todos os mrtires e de todos os santos passados, presentes e futuros.

    No entanto com o Santo Sacrifcio da Missa, se considerarmos o seu valor intrnseco e seu preo, pode-se satisfazer plenamente por todos os pecados cometidos.

    E aqui buscai compreender quanto de reconhecimento deveis a JESUS . Pensai-o bem: Ele o ofendido; entretanto, no contente de no Calvrio ter satisfeito por ns Justia Divina, deu-nos e continua a dar-nos incessantemente o meio de apazigu-la no sacrifcio da Santa Missa, pois ai renova a oferenda que, na Cruz, fez a DEUS PAI, pelos pecados do Mundo inteiro. O mesmo sangue que derramou para resgatar o gnero humano aplicado e oferecido especialmente na Santa Missa pelos pecados daquele que a celebra ou manda celebrar, e de todos os que participam deste augusto Sacrifcio. No que o Sacrifcio da Santa Missa apague por si mesmo e imediatamente nossos pecados, como o caso do sacramento da Confisso; mas obtm que eles nos sejam apagados, proporcionando-nos, seja no momento mesmo da Santa Missa, seja em outra ocasio oportuna, boas inspiraes, movimentos salutares e graas atuais que nos so indispensveis para nos arrependermos dignamente de nossas faltas. S DEUS sabe quantas almas escaparam das garras do pecado pelos socorros extraordinrios que lhes provieram deste divino Sacrifcio!

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  • Assim conquanto s almas em estado de pecado mortal no lhes aproveite o valor no que tem de propiciatrio, todos os pecadores deviam assistir muitas vezes Santa Missa para alcanar mais facilmente a graa da converso. Quanto s almas vivendo em paz com DEUS, o Sacrifcio da Santa Missa lhes d uma fora surpreendente para se manterem nesse estado e, conforme a opinio comum, so apagados todos os pecados veniais, casso tenham ao mesmo tempo um arrependimento geral.

    o que ensina claramente Santo Agostinho: Se algum assiste devotamente Santa Missa, no cair em pecado mortal e os pecados veniais lhe sero perdoados.

    Narra So Gregrio que uma pobre mulher encomendava a celebrao de Santas Missas, todas as segundas-feiras, em ao de graas, para o seu marido, que ela julgava morto, pois ele cara nas mos dos brbaros. Estava vivo, porm, e durante o tempo em que se celebravam essas Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos ps e das mos e lhe caam as algemas, e ele ficava livre e desembaraado, como, ao libertar-se da escravido, pde contar a sua mulher. Quanto mais devemos crer na eficcia deste Sacrifcio para desatar os laos espirituais, isto , os pecados veniais, que de certo modo mantm cativa a alma, impedindo-a de agir com a liberdade e o fervor que ela teria, no fossem esses entraves.

    bem-aventurada Santa Missa, que nos restitui a liberdade de filhos de DEUS, e satisfaz todas as penas devidas por nossos pecados!

    Mas ento, me direis, basta assistir ou encomendar uma nica Santa Missa para pagar as maiores dvidas com DEUS, em vista de tantos pecados cometidos, pois, sendo infinito o seu valor, com ela daremos a DEUS uma satisfao infinita. Devagar!, eu vos peo.

    Realmente, se bem que o valor do Santo Sacrifcio seja infinito, deveis saber entretanto, que DEUS o aceita numa medida limitada e finita, mais ou menos, conforme a devoo maior ou menor de quem o celebra, manda celebrar, ou a ele assiste.

    Quorum tibi fides cgnita est et nota devotio, diz a Santa Igreja no Cnon da Santa Missa, e, por esta linguagem, d-nos a entender o que ensinam expressamente os Doutores, e , que a maior ou menor satisfao proporcionada pela Santa Missa, quanto pena devida por nossos pecados, depende da disposio de quem a celebra ou a ela assiste.

    Note-se aqui o erro daqueles que preferem as missas mais curtas e menos devotas, ou, o que pior, que a elas assistem com pouca ou nenhuma devoo. verdade que todas as Missas so iguais do ponto de vista do Sacramento, como ensina So Toms; no o so, porm, quanto aos efeitos que delas provm. Quanto maior a piedade atual ou habitual do celebrante, maior ser o fruto de seu sacrifcio. Assim, no fazer diferena entre um padre mais fervoroso e outro menos, seria o mesmo que, para pescar, lanar mo indiferentemente de uma rede de malhas pequenas ou grandes.

    Diga-se o mesmo dos que assistem Santa Missa. E ainda que eu vos exorte, o mais que posso, a assistir muitas vezes Santa Missa, advirto-vos de procurar, sobretudo assistir a cinqenta, mais glria dais a DEUS com aquela nica Missa, e retirais mais fruto, mesmo desse que chamamos ex opere operato, do que o outro h de tirar de cinqenta, apesar do nmero considervel.

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  • Na satisfao, olha-se mais a piedade do oferente que a quantidade da oblao. In satisfactione magis attenditur affectus offrentis quam quantitas oblationis, diz So Toms.

    Pode acontecer, sem dvida, (como afirma um srio autor) que, com uma nica Missa, assistida com extraordinria devoo, se d satisfao Justia de DEUS, por todos os pecados ainda do maior pecador, conforme se depreende do Santo conclio de Trento, que diz: Graas oferenda deste santo Sacrifcio, DEUS concede o dom da verdadeira penitncia, e por ela o perdo dos pecados, ainda os mais graves.

    No entanto, visto que conhecermos claramente a disposio interior com que assistimos Santa Missa, nem a satisfao correspondente devemos ter o cuidado em assistir a muitas, o mais que pudermos, e assistir com todo o amor e devoo possveis. Felizes de vs se depositardes uma grande confiana em DEUS, que to admiravelmente exerce Seu Amor neste Divino Sacrifcio, e se assistirdes com f, fervor e reverncia, a todas as Santas Missas que puderdes!

    Afirmo-vos que podeis alimentar a doce esperana de alcanar diretamente o Paraso, sem passar pelo Purgatrio.

    Santa Missa, portanto, Santa Missa! E que jamais se oua de vossos lbios esta palavra escandalosa: Uma missa a mais, uma missa a menos no tem importncia.

    PELA SANTA MISSA AGRADECEMOS DIGNAMENTE A DEUS

    TODOS OS BENEFCIOS

    A terceira dvida a do reconhecimento pelos benefcios de que nos cumulou carinhosamente nosso DEUS. Computai todos os favores que dele tendes recebido, os bens da natureza e da graa, o corpo, a alma, os sentidos, as faculdades, a sade, a vida.

    A prpria vida, enfim, de seu Filho JESUS, e a morte que por ns sofreu, elevam alm de qualquer medida a divida de gratido que temos com DEUS. Como poderemos agradecer-Lhe suficientemente?

    Se, duma parte, a lei da gratido observada mesmo pelos animais selvagens, que s vezes mudam sua ferocidade em afeio queles que lhe fazem bem, quanto mais dever ser ela observada entre os homens, dotados de razo e to prodigiosamente favorecida pela liberalidade de DEUS!

    Doutra parte, porm, nossa misria to grande que no temos sequer o meio de satisfazer pelos menores benefcios recebidos de DEUS. Pois o menor de todos, provindo das mos de to grande Rei e acompanhado dum amor infinito, adquire um preo infinito e nos obriga a um reconhecimento tambm infinito. Infelizes que somos! Se no podemos suportar o peso de um s benefcio, como poderemos arcar com o fardo de graas inumerveis? Sendo assim, portanto, estaremos destinados triste contingncia de viver e morrer ingratos para com nosso Benfeitor.

    Consolai-vos, pois o meio de dar aes de graas suficientes ao bonssimo DEUS nos ensinado pelo rei Davi, que, contemplando com esprito proftico o divino sacrifcio, confessava que s ele bastava para dar a DEUS aes de graas adequadas. Quid retribuam Domino pro omnibus quae retribuit mihi? Perguntava. Que retribuirei ao Senhor por todos os benefcios que me tem feito?

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  • E responde: Calicem salutaris, ou, segundo outra verso:

    Calicem levabo. Elevarei ao cu o clice do Senhor, isto , Oferecer-Lhe-ei um sacrifcio que ser infinitamente agradvel, e com o qual, somente, satisfarei a minha dvida por tantos e to grandes benefcios.

    Acresce que este Sacrifcio foi institudo pelo nosso Redentor, principalmente para este fim, quero dizer, para reconhecer a divina munificncia e agradecer-Lhe, e por isso chama-se Eucaristia por excelncia, o que significa ao de graas. Ele mesmo nos deu o exemplo, quando na ltima Ceia, antes de pronunciar nessa Missa as palavras da consagrao, elevou os olhos ao cu e deu graas a seu PAI: Elevatis oculis in caelum, tibi gratias apens fregit.

    divina ao de graas, que nos descobre o fim sublime para que foi institudo este augusto Sacrifcio, e nos convida a conformar-nos a nosso Chefe, a fim de que sempre, ao assistir Santa Missa, saibamos servir-nos de to grande tesouro, oferecendo-o em ao de graas a nosso soberano Benfeitor, e associando-nos ao Paraso todo, Santssima Virgem, aos Anjos e Santos, que se enchem de alegria ao ver-nos render a nosso adorvel DEUS, este tributo de reconhecimento!

    A venervel irm Francisca Farnese vivia em contnuos tormentos de amor, por se ver inteiramente cumulada de benefcios divinos, sem encontrar o meio de depor to pesado fardo, dando ao Senhor um reconhecimento suficiente. Certo dia apareceu-lhe a Santssima Virgem e, depondo-lhe nos braos o divino infante, disse-lhe: Toma-O, Ele teu, e saibas dele servir-te, pois com Ele pagars todas as tuas dvidas.

    bem aventurada Santa Missa, graas qual o Filho de DEUS depositado, no em nossos braos, mas em nossas mos e em nosso corao! Uma criancinha nos dada, a fim de que dela nos sirvamos, e no h dvida de que com ela possamos solver completamente a dvida de reconhecimento que temos com DEUS. Mais ainda: se bem refletirmos, na Santa Missa damos, de certo modo, a DEUS algo mais do que Ele nos deu: pois DEUS PAI nos deu somente uma vez o seu divino FILHO, na Encarnao, enquanto ns lho damos sem cessar neste santo Sacrifcio. De modo que parece o sobrepujamos, por assim dizer, se no no prprio dom, pois maior no pode haver que o FILHO de DEUS, mas ao menos em aparncia, renovando tantas vezes o mesmo dom.

    grandessssimo DEUS! DEUS fonte do Amor! DEUS todo Amor!

    Quem dera, pudssemos ter uma infinidade de lnguas para agradecer-vos pelo incalculvel tesouro que nos destes, instituindo a Santa Missa!

    E vs, que fazeis? Abristes enfim os olhos para reconhecer to preciosssimo tesouro? Se, no passado, ele foi para vs como um Tesouro Oculto, agora que comeais a conhec-lo, no exclamais transportados de admirao: Oh! Que admirvel tesouro! Que imenso tesouro!

    PELA SANTA MISSA PODEMOS OBTER TODAS AS GRAAS QUE NECESSITAMOS

    No termina, porm, a a soberana utilidade da Santa Missa, pois ela nos permite ainda cumprir a quarta obrigao que temos para com DEUS: ORAR E PEDIR-LHE NOVOS FAVORES.

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  • J sabeis quo grande so vossas misrias, tanto de corpo como de alma, e. pro conseqncia, a necessidade que tendes de recorrer a DEUS, a fim de que a todo momento Ele vos assista e vos socorra, pois s Ele o autor e o princpio de todos os nossos bens temporais e eternos. Mas, doutra parte, ousareis pedir-Lhe novos benefcios, vendo s suprema ingratido com que tendes correspondido s suas graas anteriores? No vos servistes, talvez, mesmo dessas graas para ofend-Lo? Todavia, tende confiana; pois se no mereceis essas graas, JESUS mereceu-as pro vs, e para este fim. Ele quis ser na Santa Missa uma hstia pacfica, isto , um sacrifcio impetratrio para obter-nos de Seu PAI tudo aquilo de que temos necessidade. Sim, sim, na Santa Missa, nosso adorvel JESUS, o primeiro e Sumo Pontfice, recomenda a Seu PAI a nossa causa, intercede por ns constituindo-se nosso amoroso advogado.

    Se soubssemos que a augusta Virgem unia suas preces s nossas, para nos alcanar a graa que desejamos; que confiana no teramos, de ser atendidos? Que confiana, portanto, que segurana no devemos ter, sabendo que na Santa Missa o prprio JESUS ora por ns, e se faz nosso advogado? bem aventurada Missa, que nos proporciona todos os bens!

    preciso, porm cavar bem fundo nesta mina para descobrir os grandes tesouros que ela contm.

    Oh! Que riquezas de graas, bnos, virtudes e de socorros nos obtm a Santa Missa! Em primeiro lugar, ela nos alcana todas as graas espirituais e os bens que se relacionam com a alma, como a contrio por nossos pecados, a vitria sobre as tentaes, sejam vindas de fora, das ms companhias e do demnio, sejam produzidas no interior pelas revoltas da carne.

    Obtm os socorros de graa, to necessrios para nos levantarmos depois de uma queda, para permanecermos de p e avanarmos nos caminhos de DEUS. Por ela nos vem muitas inspiraes boas e santas e movimentos interiores que nos dispem a sacudir a tibieza e nos excitam a agir com mais fervor, com uma vontade mais generosa e uma inteno mais pura e reta; e por isso mesmo, proporciona-nos um tesouro inestimvel, pois todos esses meios so eficacssimos para alcanar de DEUS a graa da perseverana e penitncia final, de que depende a nossa salvao eterna, e nos do a certeza moral tanto quanto possvel t-la aqui na Terra, de chegar bem-aventurana eterna.

    Alm disso, a Santa Missa nos obtm todos os bens temporais, contanto que concorram salvao da alma, por exemplo, a sade, a abundncia, a paz, e nos preserva dos males que se lhe opem, como seja: epidemias, terremotos, guerras, fomes, perseguies, processos, inimizades, misria, calnias, injustias, etc.

    Em suma, ela nos proporciona todos os bens. E para dizer tudo em s frase:

    A SANTA MISSA A CHAVE DE OURO DO PARASO

    E j que, DEUS infinitamente Santo , nos deu esta chave, qual de todos os seus bens ir nos recusar! Aquele que no poupou Seu prprio Filho, mas O entregou por ns, como por meio dEle no nos dar tudo de bom! (Rom 8,32)

    Vede, portanto, se no tinha toda a razo aquele bom sacerdote que costumava dizer que, ao pedir algumas grandes graas para si, ou para outrem, ao celebrar o santo Sacrifcio, parecia-lhe pouco pedir, quando comparava aquilo que de DEUS solicitava com a oferenda que Lhe fazia.

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  • Assim argumentava ele: Todas as graas que peo a DEUS na Santa Missa so bens criados e finitos, enquanto que os dons que Lhe ofereo so dons incriados e infinitos. Feitas, portanto, as contas, sou eu o credor e Ele o devedor. E com este argumento, pedia e recebia grandes graas.

    E vs, por que no despertais, por que no pedis graas importantes? Se quiserdes confirmao, pedi a DEUS em cada Santa Missa, que faa de vs um grande santo. Achareis, talvez, que pedir demais! No, de modo algum. No o nosso bonssimo Mestre JESUS quem promete no Santo Evangelho que, por um copo dgua dada em Seu nome, ter a sua recompensa?

    Quando Lhe oferecemos, portanto todo o Sangue de Seu Divino Filho, ainda que tivesse uma centena de parasos, no no-los daria todos?

    Como podeis duvidar de que Ele esteja disposto a conceder-vos todas as virtudes, todas as perfeies necessrias para fazer de vs um grande santo no Cu? bem-aventurada Missa! Abri vosso corao e pedi grandes graas, pensando que as pedis a um DEUS que no se empobrece, e que quanto mais pedirdes mais vos ser dado.

    A SANTA MISSA NOS LIVRA DUMA MULTIDO DE MALES

    Acreditai que, alm dos favores que solicitamos na Santa Missa, nosso bonssimo DEUS nos concede muitos outros sem que o peamos.

    o que ensina claramente So Jernimo: absque dbio dat nobis Dominus quod in Missa petimus; et, quod magis est, saepe dat quaod non petimus.

    Sem dvida alguma, o Senhor nos d todas as graas que pedimos na Santa Missa, contanto que nos sejam de vantagem; mas, o que mais admirvel, muitas vezes nos d o que no pedimos.

    Podemos dizer, por isso, que a Santa Missa o sol do gnero humano espalhando seus raios sobre os bons e sobre os maus, e alma no h to prfida sobre a terra, que assistindo Santa Missa, dela no aufira qualquer grande bem, e muitas vezes mesmo sem nele pensar ou pedi-lo. Santo Antonino conta que um dia dois jovens libertinos passeavam numa floresta. Um deles havia assistido Santa Missa e o outro no. Levantou-se subitamente furiosa tempestade, e no meio dos troves e relmpagos ouviram eles uma voz que clamava: Mata! Mata! No mesmo instante o raio esbraseou o ar e feriu aquele que no assistira Santa Missa.

    O companheiro apavorado, prosseguiu o caminho buscando um refgio, quando ouviu novamente a mesma voz, que repetia. Mata! Mata! O pobre rapaz nada mais esperava seno a morte. Uma outra voz, porm, respondeu: No posso, pois ele assistiu Santa Missa. A Santa Missa a que ele assistiu impede-me de feri-lo.

    Oh! Quantas vezes DEUS no vos livrou da morte, ou, pelo menos, de numerosos e graves perigos, graas s Santas Missas a que tiverdes assistido! Disso nos assegura So Gregrio no quarto de seus Dilogos: Per auditionem Missae homo liberatur a miltis malis at periculis, diz o santo Doutor. Sim, verdade que aquele que assiste devotamente Santa Missa ser preservado de muitos males e perigos, se bem que disto no se aperceba.

    Santo Agostinho chega a afirmar a preservao da morte sbita, o golpe mais terrvel com que a Justia Divina fere os pecadores.

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  • Qui! Missam devote audierit subitnea morte nom peribit. Eis, diz-nos este santo Bispo, um preservativo admirvel para evitar a morte imprevista: assistir todos os dias Santa Missa e com toda a devoo possvel. Quem se munir de to eficaz salvaguarda viver sem temor dessa terrvel desgraa.

    Existe certa crena, por alguns atribuda a Santo Agostinho, de que durante o tempo em que se assiste Santa Missa no se envelhece, mas a fora e o vigor do fiel se ocupa saber se isto ou no verdade, mas digo sem receio que, mesmo envelhecendo em idade, no se envelhece me malcia, pois, na expresso de So Gregrio, uma pessoa que assiste com devoo Santa Missa conserva sua alma no caminho reto: Justus audiens Missam in via rectitudinis conservaturt.

    Cresce sempre em mrito e em graa, e faz na virtude novos progressos, que o tornam agradvel a seu DEUS.

    E muito mais, ajunta So Bernardo, se ganha assistindo a uma nica Santa Missa (se considerar seu valor intrnseco), do que distribuindo a fortuna aos pobres e peregrinando a todos os santurios mais famosos da Terra. Audiesn devote Missam aut celebrans multo magis meretur, quam si substantiam suam pauperibus, erogaret, et totam terram peregrinando transiret. tesouro incalculvel da Santa Missa! Compreendei bem esta verdade: podemos merecer mais assistindo ou celebrando uma s Santa Missa, se a considerarmos em si mesma e em todo o seu valor intrnseco, do que se distribussemos nossa fortuna aos pobres, e em seguida partssemos a percorrer o Mundo como peregrinos, visitando com a maior das devoes os santurios de Jerusalm, Roma, Compostela, Loreto, etc;

    So Toms de Aquino, nos garante que na Santa Missa est encerrado todos os frutos, todas as graas e todos os imensos tesouros to abundantemente espalhados pelo Filho de DEUS sobre a Igreja, sua Esposa, no Sacrifcio cruento da Cruz. In qualibet Missa inventur omnis fructus et utilitas quam CHRISTUS in die parasceve operatus est in Cruce.

    Detende-vos aqui, um instante: fechai o livro, interrompei a leitura, e reuni todas estas vantagens, to abundantes, que proporciona a Santa Missa. Ponderai-as bem em silncio e, depois, dizei-me se tendes ainda dificuldade de crer que uma nica Missa, considerada em si, e em relao a seu preo e valor intrnseco, tenha uma eficcia to grande que baste, como ensinam os diversos doutores, para alcanar a salvao de todo o gnero humano.

    Suponde que Nosso Senhor JESUS CRISTO no tivesse sido crucificado no Calvrio e que, em lugar do Sacrifcio cruento da Cruz, houvesse institudo somente a Santa Missa, com a ordem formal de no se celebrar seno uma sobre a Terra. Pois bem, admitindo esta suposio, sabei que essa nica Missa, celebrada pelo sacerdote mais humilde do Mundo, teria sido mais que suficiente, considerado o seu valor intrnseco, para obter de DEUS a salvao de todos os homens.

    Sim, uma nica Missa bastaria, no sentido que acabamos de explicar, para obter a converso de todos os hereges e cismticos, de todos os infiis e de todos os maus cristos; para fechar a porta do Inferno a todos os pecadores, e para esvaziar o Purgatrio de todas as almas que l se purificam. E ns, miserveis, com nossa tibieza, nossa falta de devoo, e as escandalosas distraes com que assistimos Santa Missa, quantas barreiras lhe opomos ao e restringimos a eficcia de seu poder!

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  • Quisera subir ao cume das mais altas montanhas e de l bradar com voz retumbante: Povo insensato, povo transviado, que fazeis? Por que no acorreis s Igrejas para a assistir a todas as Santas Missas que puderdes? Por que no imitais os santos Anjos, que, no dizer de So Crisstomo, descem do Cu em legies, quando se celebra a Santa Missa, e se mantm diante de nossos altares, velando-se com as asas em sinal de profundo respeito? Esperam o momento bendito da Santa Missa a fim de, com mais sucesso, intercederem por ns, pois sabem muito bem que essa a ocasio mais propcia para nos alcanarem as graas celestes.

    E vs! que confuso para vs terdes at agora pouco apreciado a Santa Missa; e mais, de ter tantas vezes profanado uma ao to santa, sobretudo se for do nmero daqueles que se atrevem a dizer temerariamente: Uma missa a mais, uma missa a menos, isto ninharia!.

    A SANTA MISSA DE GRANDE AUXLIO

    PARA AS ALMAS DO PURGATRIO

    Para concluir esta instruo, refleti que no foi premeditado desgnio que disse anteriormente que uma nica Santa Missa, tomada em si e em relao ao seu valor intrnseco, basta para esvaziar inteiramente o Purgatrio e abrir a todas as almas, que l se acham, as portas do Paraso. Com efeito, este Divino Sacrifcio vai em auxlio das lamas dos falecidos, no s satisfazendo por suas dvidas como propiciatrio, mas ainda obtendo-lhes a libertao, como impetratrio. Isto decorrente claramente da conduta da Igreja, que no somente oferece a Santa Missa pelas almas sofredoras, como tambm insere oraes para libert-las.

    Ora, a fim de excitar vossa compaixo por essas santas almas, sabei que o fogo em que esto mergulhados to devorador quanto o do prprio Inferno. Tal a opinio de So Gregrio. Instrumento da Justia Divina, ele age sobre as almas com to grande ardor, que lhes causa dores intolerveis e superiores a todos os suplcios que jamais se pode ver, experimentar ou sequer imaginar aqui na Terra. Muito mais, porm, sofrem elas pela pena de dano, e , a privao da bem-aventurada viso de DEUS. Elas experimentam, diz So Toms, uma insuportvel angstia, causada pelo desejo que tm de ver o Soberano Bem, desejo que no pode ser satisfeito.

    Pois bem, consulta-vos intimamente e respondei pergunta: Se vsseis vosso pai e vossa me a ponto de afogar-se num lago e que para salv-los vos bastasse estender a mo, no sereis levados, pela caridade e pela Justia, a socorr-los!?

    E ento! vedes com os olhos da F tantas pobres almas de vossos parentes prximos, queimando vivas num lago de fogo, e no quereis impor-vos um pequeno incmodo para assistir devotamente uma Santa Missa em seu sufrgio. De que feito o vosso corao? Pois quem pode duvidar que a Santa Missa leve um grande auxlio a essas pobres almas? Quanto a isto, ouvi So Jernimo. Ele vos dir claramente que, ao celebrar-se a Santa Missa por uma alma do Purgatrio, o fogo to devorante que ordinariamente a consome, suspende sua ao e ela no sofre pena alguma enquanto dura o Sacrifcio. Animae quae sunt in Purgatorio pro quibus solet sacerdos in Missa orare, nterim nullum tormentum sentiunt dum Missa celebratur.

    Alm disso, afirma que, a cada Santa Missa, muitas almas ficam livres do Purgatrio e voam para o Paraso? Missa celebrata, plures animae exeunt de Purgatrio.

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  • Acresce que esta caridade, exercida em favor das pobres almas, redundar inteiramente em vosso proveito. Infinidade de exemplos poderia eu apresentar-vos em apoio desta afirmao. Contentar-me-ei com um fato perfeitamente autntico, acontecido com So Pedro Damio. Criana ainda, ele perdeu o pai e foi recolhido na casa de um dos irmos, que o tratava com muita desumanidade a ponto de deix-lo andar descalo, em andrajos e lhe faltando tudo. Sucedeu que um dia o menino achou, na rua, uma moeda qualquer. Imaginai a sua alegria e como lhe pareceu ter achado um tesouro. Mas em que empreg-lo! A pobreza sugeria-lhe mil projetos. Por fim, depois de refletir longamente, decidiu dar o dinheiro a um sacerdote para que celebrasse uma Santa Missa pelas santas almas do Purgatrio. Podeis acreditar: desde ento a fortuna mudou para ele. Recolheu-o outro dos irmos, mais compassivo, que o amou como um filho deu-lhe roupas convenientes, enviou-o escola, contribuindo assim para que ele se tornasse esse grande homem e grande Santo, ornamento prpuro e forte sustentculo da Igreja. Vede como uma nica Santa Missa, encomendada com ligeiro sacrifcio, se tornou para ele a origem de to grande bem.

    bem-aventurada Santa Missa! Que ajuda ao mesmo tempo os mortos e os vivos, que alcana graas para o tempo presente e para a eternidade. Essas santas almas so to gratas a seus benfeitores, que chegando ao Cu, elas se constituem seus advogados e jamais os abandonam at que os vejam de posse da glria.

    Foi o que verificou uma mulher de m vida em Roma. Inteiramente esquecida de sua salvao, no pensava seno em satisfazer suas paixes, e servia de agente de satans para corromper a mocidade.

    J no fazia nenhuma boa ao, a no se encomendar quase todos os dias uma Santa Missa pelas almas do Purgatrio.

    Oh! Essas almas, como se pode crer piedosamente, oraram to bem por sua benfeitora, que um belo dia, tomada de profunda contrio de suas faltas, ela abandonou sua casa infame, foi prostrar-se aos ps de um zeloso confessor, fez sua confisso geral e pouco tempo depois morreu em consoladoras disposies que todos ficaram persuadidos de sua salvao eterna. Esta graa to admirvel foi atribuda eficcia das Santas Missas que ela encomendava pelas lamas do Purgatrio.

    Despertemos tambm ns, e no deixemos que os publicanos e as mulheres da m vida nos precedam no Reino de DEUS (Mt 21,31) Se fsseis dessa raa de ingratos que no s faltam caridade, que se esquecem de rezar por seus falecidos, e no participam nunca de uma Santa Missa por esses pobres afligidos, mas ainda, violando toda justia, recusam aplicar os legados piedosos de Missas, indicados no testamento de seus parentes.

    Oh! Ento eu me inflamaria a vos diria em face: Retira-vos, sois piores que um demnio, pois, realmente, os demnios s torturam as almas dos rprobos, mas vs, vs atormentais as almas dos eleitos; os demnios exercem sua raiva sobre os condenados, mas vs sois cruis com os predestinados, os amigos de DEUS. No, no h para vs, nem confisso que valha, nem padre que vos possa absolver se no fizerdes penitncia de to grande pecado e no solverdes inteiramente as dvidas que tendes com os mortos.

    - Mas, direis, no tenho meios de encomendar essas missas, no possvel.

    - No tendes meios? No possvel? E para manter essa casa confortvel, para andar suntuosamente vestido, para gastar loucamente em festins, em recepes de prazer, e, s vezes, em, divertimentos criminosos, tendes meios.

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  • Depois quando se trata de pagar vossas dvidas, aos pobres defuntos; no possus nada! No possvel?! Ah! compreendo: no h ningum na Terra para cobrar essas contas. Mas tereis que prest-las a DEUS. Continuai, portanto, a comer os bens dos mortos, os legados piedosos, os sacrifcios, mas sabei que para vs que est escrito nos Profetas uma ameaa de desgraas, de calamidades, de tribulaes, de runa irreparvel para vossos bens, vossa honra e vossa vida. Eis a palavra de DEUS que no poder ficar sem efeito: Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis runa Comeram os sacrifcios dos mortos e multiplicou-se neles a runa (Sl 102, 28-29). Sim, runas, infortnios, perdas irreparveis s casas que no se desobrigaram de seus deveres para com os mortos.

    Vede quantas famlias extintas, quantas casas arruinadas, lojas fechadas, comrcio em apuros, falncias, quantos males, quantos lamentos! Mas qual a causa? Um exame atento revelaria que uma das causas principais a crueldade para com os pobres mortos, recusando-lhes os sufrgios devidos, negligenciando o cumprimento dos legados piedosos. Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis run.

    Entretanto, no consiste ainda nisto todo o castigo de DEUS queles sem amor a seus falecidos: outro maior lhes est reservado na outra vida. So Tiago assegura que eles sero julgados por DEUS com todo o rigor da justia, sem misericrdia, pois que eles mesmos foram impiedosos com os pobres mortos. Judicium sine misericordia illi qui non fecit misericordiam. (Tg 2, 13). Permitir DEUS que seus herdeiros lhes paguem na mesma moeda, e , que suas ltimas disposies no sejam cumpridas, as Missas deixadas em testamento no sejam realizadas: e, se forem celebradas, DEUS no as aplicar a eles, mas a outras almas que nesta vida tiveram compaixo dos mortos.

    Isto nos ensinam, outrossim, nossas crnicas, a respeito de um irmo que, aps a morte, apareceu a um de seus companheiros, revelando-lhe que no Purgatrio sofria dores extremas, especialmente por ter sido muito negligente em rezar por seus irmos falecidos. At aquele momento ele no recebera nenhum alvio dos sufrgios e Missas oferecidos em seu favor. Como punio por sua negligncia, DEUS os aplicava a outras almas que em vida tinham sido devotas das almas sofredoras.

    Ante de terminar esta instruo, permiti-me caro leitor, suplicar-vos de joelhos e mos postas de no fechar este livro sem tomar a firme resoluo de fazer, no futuro, todo o esforo para assistir ou encomendar todas as Santas Missas que vossas ocupaes e vossa condio vos permitirem, no s pelas almas dos falecidos, mas tambm pela vossa, e isto por dois motivos. Em primeiro lugar, para alcanardes uma boa e santa morte, pois opinio constante dos telogos que no h meio mais eficaz para se chegar a um bom fim, do que a Santa Missa. Ainda mais, Nosso Senhor JESUS CRISTO revelou a Santa Mectilde que aquele que, durante a vida, tiver tido o hbito de assistir devotamente Santa Missa, ser consolado na morte pela presena dos Anjos e dos Santos protetores, que o defendero poderosamente contra todos os ataques dos demnios. Ah! De que bela morte ser coroada a vossa vida, se a tiverdes empregado em assistir a todas as Santas Missas que puderdes.

    Em segundo lugar, par sair prontamente do Purgatrio e voar glria eterna. J provamos suficientemente a eficcia da Santa Missa para apressar a remisso das penas do Purgatrio. Contentai-vos aqui com o exemplo e autoridade do grande servo de DEUS, Joo dvila, orculo da Espanha. Encontra-se em artigo de morte e algum lhe perguntou o que mais queria depois da morte, e ele respondeu: Missas, Missas, Missas!

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  • Mas se me permite, eu quisera dar-vos, sobre este ponto, um conselho de grande importncia: cuidai de mandar celebrar durante vossa vida todas as Santas Missas que desejareis que fossem celebradas depois de vossa morte, e no encarregueis disto os que ficarem no mundo depois de vs. Tanto mais que Santo Anselmo vos ensina que uma nica Santa Missa assistida ou celebrada por vossa inteno durante vossa vida, vos ser talvez mais til que mil depois de morrerdes. Audire devote unicam Missam in vita vel dare eleemosynam pro ea, pordest magis quam relinquere ad celebrandum mille post obitum.

    Bem compreendera esta verdade aquele rico mercador de Gnova que ao morrer, no deixou nenhuma disposio para assegura-se sufrgios. Todos se admiravam de que um homem to rico, to piedoso e generoso para com todo mundo, tivesse sido to cruel consigo. Mas, terminados os funerais, encontraram-se lanadas, em um de sus livros de contas, as grandes caridades que fizera por sua alma durante a vida.

    Missas celebradas por minha alma, dois mil escudos; para o casamento das jovens, dez mil; para tal santurio, duzentos, etc.

    E no fim l estava escrito: Porque quem deseja o prprio bem, faa-o a si durante a vida, e no conte com os outros para que lho faam depois de morto. provrbio bastante conhecido que uma vela frente clareia mais que uma tocha atrs.

    Aproveitai to belo exemplo e pesai bem a utilidade e as vantagens da Santa Missa. Deplorai a cegueira em que tendes vivido at agora, desestimando o valor de to grande tesouro, que por longo tempo tem sido para vs um tesouro oculto.

    Agora, portanto, que lhe conheceis o preo, bani de vosso esprito e mais ainda de vossos lbios estas expresses escandalosas: Uma missa a mais, uma missa a menos, pouco importa. J basta assistir Santa Missa nos dias de preceito! A Missa daquele padre uma Missa de semana santa: quando ele sobe ao altar, eu fujo da Igreja. E tomai novamente a resoluo de assistir, de hoje em diante, a todas as Santas Missas que puderes, e assistir com a devida devoo: e, para que assim seja, servi-vos, com a graa de DEUS do mtodo piedoso e fcil que segue.

    MTODO CURTO E DEVOTO, PARA ASSISTIR COM FRUTO

    SANTA MISSA

    Era opinio de So Joo Crisstomo, opinio aprovada e confirmada por Gregrio, no quarto de seus Dilogos, que, no momento em que o padre celebra a Missa, os cus se abrem, e multides de Anjos descem do Paraso para assistir ao santo Sacrifcio. So Nilo abade, discpulo do mesmo So Crisstomo, afirma que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande multido daqueles espritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funes.

    Eis o meio mais adequado para assistir com fruto Santa Missa: consiste em irdes Igreja como se fsseis ao Calvrio, e de vos comportardes, diante do altar, como o fareis diante do trono de DEUS, em companhia dos Santos Anjos. Vede, por conseguinte, que modstia, que respeito, que recolhimento so necessrios para receber o fruto e as graas que DEUS costuma conceder queles que honram, com sua piedosa atitude, mistrios to santos.

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  • Entre os hebreus, enquanto se celebravam os sacrifcios da antiga Lei, nos quais se ofereciam apenas touros, cordeiros e outros animais, era coisa digna de admirao ver com quanto recolhimento, modstia e silncio o povo todo acompanhava. E, se bem que o nmero de assistentes fosse incalculvel, alm dos setecentos ministros que sacrificavam, parecia, no entanto, que o templo estava vazio, pois no se ouvia o menor rudo, nem um sopro. Ora, se havia tanto respeito e venerao por esses sacrifcios que afinal, no eram mais que uma sombra e figura do nosso, que silncio, que ateno, que devoo no merece a Santa Missa, na qual o prprio Cordeiro Imaculado, o Verbo de DEUS, se imola por ns?!

    Bem o compreendia Santo Ambrsio. No testemunho de Cesrio, quando ele celebrava a Santa Missa, aps o Evangelho virava-se para o povo e o exortava a um piedoso recolhimento e impunha a todos guardar o mais rigoroso silncio, no s proibindo a menor palavra, mas ainda abstendo-se de tossir ou fazer qualquer rudo. E era obedecido. Quem quer que assistisse Santa Missa do santo Bispo, sentia-se tomado de profundo respeito e comovido at ao fundo da alma, tirando assim grande proveito e acrscimo de graas.

    VRIOS MTODOS PARA ASSISTIR SANTA MISSA

    O desgnio exclusivo do presente opsculo levar aqueles que o quiserem ler, a adotar com fervo um mtodo de assistir Santa Missa, conforme vou expor.

    Como, porm, muitas maneiras de assistir Missa, todas louvveis e santas, tm sido ensinadas at hoje, no tenho a inteno de impor-vos a minha.

    Deixo-vos, portanto, a liberdade de escolher aquele modo que mais vos agradar e vos parecer mais conforme a vossa devoo e capacidade, e farei junto de vs apenas o ofcio de Anjo da guarda, propondo-vos o mtodo mais frutuoso, quero dizer, o que, a meu humilde julgamento, poder ser para vs mais vantajoso e fcil. Neste fim, distinguimos trs classes de mtodos.

    O primeiro o das pessoas que, de livro mo, seguem atentamente todas as aes do sacerdote, a cada um recitam outra prece vocal que lem no livro, e assim passam todo o tempo da Missa a ler. No h dvida que, se a essa leitura se junta a meditao dos grandes mistrios, uma excelente maneira de assistir ao santo Sacrifcio; e produz tambm grandes frutos. Visto, porm, exigir ateno excessiva, pois necessrio seguir todas as cerimnias que o sacerdote efetua, e em seguida dirigir os olhos ao livro para a ler a orao correspondente, torna-se uma prtica algo fatigante, na qual poucas pessoas, creio, ho de persistir, dada a fraqueza do nosso esprito que se enfada facilmente de refletir sobre tantas aes diversas que o sacerdote executa no altar. Enfim, aquele que se acha bem assim e tira proveito espiritual, continue a seguir este sistema; pois prtica to laboriosa no faltar uma recompensa da parte de DEUS.

    A segunda maneira de assistir Santa Missa a das pessoas que no se servem de livros e no lem absolutamente nada durante todo o tempo do santo Sacrifcio, mas que, com viva f, fixam os olhos da alma em JESUS crucificado, e, apoiados na rvore da Cruz, dela recolhem os frutos por meio de doce contemplao. Passam todo esse tempo em piedoso recolhimento interior e na considerao dos sagrados mistrios da Paixo de JESUS CRISTO, que so no somente representados, mas misticamente reproduzidos na Santa Missa.

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  • certo que estas pessoas, mantendo suas almas assim recolhidas em DEUS, exercem atos hericos de F, de Esperana e de Caridade e de outras virtudes, e no h duvida que esta maneira de assistir Santa Missa muito mais perfeita que a primeira, e tambm mais doce e mais suave, como o atesta a experincia de um bom irmo converso.

    Costuma ele dizer que, ao assistir Santa Missa, no lia mais que trs letras: a primeira, negra, era a considerao de seus pecados que lhe produziam confuso e arrependimento, e ocupava-o desde o comeo at ao ofertrio. A segunda era vermelha: a meditao da Paixo de CRISTO, na qual considerava o preciosssimo Sangue que JESUS derramou por ns no Calvrio, sofrendo morte to cruel; nisto se entretinha at Comunho.

    A terceira letra era branca pois quando o sacerdote comungava, ele se unia a JESUS pela comunho espiritual, ficando, em seguida, todo absorto em DEUS, contemplando a glria eterna que esperava como fruto do divino Sacrifcio. Esse homem simples assistia Santa Missa com grande perfeio e quisera eu que todos aprendessem dele to alta sabedoria.

    MTODO DE SO LEONARDO DE PORTO-MAURCIO

    O terceiro mtodo para assistir com fruto Santa Missa, como que a mdia dos dois precedentes. No exige a leitura de inmeras preces vocais do primeiro, nem obriga a um esprito de contemplao to elevado como o segundo. Bem compreendido, porm, o mais conforme ao esprito da santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote que celebra.

    Ora, o sacerdote deve oferecer o sacrifcio pelos quatro fins explicados na instruo precedente, pois que a Missa, no dizer de So Toms, o meio mais eficaz de cumprir os quatro grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, j que exerceis de certo modo o ofcio do sacerdote, ao assistir Missa, deveis aplicar-vos quanto possvel considerao dos ditos quatro fins, que atingis muito facilmente se, durante a Missa fizerdes as quatro ofertas indicadas a seguir. Tomai convosco, durante algum tempo, este livrinho, at que tenhais aprendido bem estes atos, ou ao menos at lhes terdes penetrado bastante o sentido, pois no tenho em mira que estejais ligados demais s palavras.

    Logo que a Santa Missa comea, enquanto o sacerdote se humilha ao p do altar, dizendo o Confiteor, fazei tambm um pequeno exame, excitai em vosso corao um ato de contrio sincera, pedindo a DEUS perdo de vossos pecados.

    Implorai, ao mesmo tempo, o auxlio do ESPRITO SANTO e da Santssima Virgem Maria, a fim de assistir Santa Missa com todo o respeito e devoo possveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa, para, nessas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes deveres, e isso do modo que segue:

    Na primeira parte, que ir desde o comeo at ao Evangelho, cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos. Para isso humilhai-vos com JESUS, abaixando-vos na considerao do vosso nada, e confessai sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade divina. Dize-lho, humilhando-vos no s em vosso corao, como tambm exteriormente, pois importa assistir Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta:

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  • meu DEUS, adoro-vos e reconheo-vos como meu Senhor e o Mestre de minha alma. Tudo que sou, tudo que tenho reconheo dever a vs. E, como vossa soberana Majestade merece homenagem e adorao infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente incapaz de pagar-vos esta grande dvida, ofereo-vos os mritos das humilhaes e homenagens que JESUS vos tributa sobre o altar. O que Ele faz, eu tenho a mesma inteno de fazer. Humilho-me e prostro-me com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas prprias humilhaes que JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito-me de vosso FILHO bem amado Vos preste por mim uma homenagem e uma honra infinitas. Amm.

    Fechai agora o livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes:

    Sim, meu DEUS, regozijo-me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifcio, para Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso.

    No vos preocupeis em observar risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS. Deste modo tereis saldado bem a primeira dvida.

    Durante a segunda parte da Santa Missa, do Evangelho elevao, desobrigar-vos-eis do segundo dever. Lanando um rpido olhar aos vossos pecados, e vendo a dvida imensa que por eles contrastes com a Justia Divina, dizei, com o corao humilhado:

    Eis aqui, meu DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vs. Infeliz que sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrio, meus enormes pecados, e ofereo-vos em reparao a prpria satisfao que JESUS vos d sobre o altar.

    Ofereo-vos o CRISTO total, com seu preciosssimo Sangue, e todos os Seus mritos, DEUS e Homem, que na qualidade de vtima, de novo se sacrifica por mim. Pois que o Senhor JESUS se faz, sobre este altar, meu mediador , meu advogado, e por seu Sangue implora o perdo para mim, eu me uno voz deste SENHOR to amante, e vos peo misericrdia por tantos pecados to graves, que tenho cometido. Misericrdia! Clama-vos o Sangue de JESUS. Misericrdia! Clama-vos meu corao desolado. Ah! Meu adorvel SENHOR, se minhas lgrimas no vos comovem, deixai-vos tocar pelos gemidos de JESUS. Por que no obteria Ele para mim, sobre este altar, o perdo que , na Cruz, mereceu para todo o gnero humano? Em virtude deste preciosssimo Sangue, espero que me perdoeis, tambm todos os meus pecados, os quais no cessarei de chorar at meu ltimo suspiro. Amm.

    Fechai o livro e repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrio. Da livre curso a vossos sentimentos e, com confuso de palavras, mas do fundo do corao dizei a JESUS:

    JESUS adorvel, dai-me as lgrimas de So Pedro, a contrio de Madalena, e a dor daqueles santos que, depois de terem sido grandes pecadores, se tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Santa Missa, eu obtenha o mais completo perdo de meus pecados. Amm.

    Fazei muitos destes atos, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim pagareis completamente todas as dvidas que, por vossos pecados, contrastes com DEUS.

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  • Na terceira parte, isto , depois da elevao at a Comunho, considerai os imensos benefcios de que fostes cumulados e, em troca oferecei a DEUS um presente de valor infinito: O Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO. Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graas a DEUS, por vs, da maneira seguinte, ou de outra qualquer equivalente:

    Eis-me aqui, meu amado SENHOR cumulado de benefcios, tanto gerais como particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheo que vossas misericrdias para comigo foram e so infinitas. Eis aqui portanto, em reconhecimento e em paga, este Sangue Divino, este Corpo Sacratssimo, que vos apresento pela mo do sacerdote. Estou certo de que esta oferenda suficiente para vos pagar por todos os bens que me tendes concedido. Este dom de valor infinito vale por si todos os dons que recebi, que recebo, e que ainda receberei de vs. Ah! Santos Anjos e vs todos os habitantes do Cu, ajudai-me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em ao de graas no s esta Santa Missa, mas todas as que se celebram neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua bondade to cheia de amor seja dignamente agradecida, por tantas graas que me concedeu e que quer conceder-me agora e nos sculos dos sculos. Amm.

    Ah! Quanto agradar a nosso bonssimo DEUS to afetuoso reconhecimento! Como no ficar pago com esta nica oferta que vale mais que tudo, porque de valor infinito! E, para mais excitar estes piedosos sentimentos, convidai o Cu a cooperar convosco. Invocai os Santos aos quais tendes devoo e dizei-lhes do fundo do corao:

    queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de infinita bondade, no viva e morra eu como ingrato.

    Peo-vos, suplicai-lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece, por mim, o adorvel JESUS. Amm.

    No vos contenteis me dizer isto uma vez, mas repeti-o , e ficai certo de que assim chegareis a pagar completamente esta grande dvida. Maior sucesso ainda tereis se cada manh fizerdes o ato de oferecimento que comea com as palavras DEUS Eterno (pg. 83), a fim de com este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro. (A orao DEUS Eterno est incompleta, pois no a conseguimos pro inteiro).

    Na quarta parte, depois da Comunho at o fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote comunga sacramentalmente, fareis a comunho espiritual como indico no captulo seguinte. Em seguida, contemplando a DEUS no ntimo de vosso corao, no receeis pedir-Lhe muitas graas, pois neste momento JESUS une-se todo a vs e Ele mesmo ora por vs.

    Expandi, portanto, vosso corao, pedindo, no coisas de pouca importncia, mas grandes graas. J que to grande a oferenda que Lhe fazeis, o deu Divino Filho. Dizei-Lhe, ento, com o corao repleto de humildade:

    meu DEUS, reconheo-me por demais indigno de vossos favores; confesso minha suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e to grandes pecados, no mereo ser atendido. Como podereis, porm, deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este altar, pede pro mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? meu DEUS fonte do Amor, ouvi as splicas deste poderoso advogado, e, em considerao a Ele, concedei-me todas as graas que sabeis que necessito para realizar o grande trabalho de minha salvao eterna. agora que ouso pedi-vos o perdo geral de todos os meus pecados e a graa da perseverana no bem.

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  • Mais ainda, confiante nas preces de JESUS peo-vos meu DEUS, todas as virtudes num grau herico, e todas as graas eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peo-vos a converso de todos os infiis e de todos os pecadores e particularmente daqueles a quem estou unido pelos laos do sangue ou por um parentesco espiritual.

    Imploro-vos a libertao no s de uma, mas de todas as almas do Purgatrio: libertai-as todas e que, pela eficcia deste Divino Sacrifcio, fique vazia aquela priso. Peo-vos, humildemente, a converso de todos os vivos, a fim de que este miservel Mundo se transforme num paraso de delcias onde sejais amado, reverenciado, adorado pro todos no tempo, para depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. Amm.

    Pedi ainda, graas para vs, para as crianas, para vossos amigos, parentes e conhecidos; implorai socorro para todas as vossas necessidades espirituais e temporais; rogai para a santa Igreja Catlica Apostlica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de todos os males.

    Rezai muito especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa, mais do que todos, ele merece sua gratido. Pea ao bonssimo DEUS a perseverana para ele e muito especialmente que faa dele um grande santo. E no faais com negligncia, mas com grande confiana, seguros de que vossas oraes, unidas s de JESUS, sero atendidas.

    Terminada a Santa Missa, fazei um ato de agradecimento a DEUS, dizendo-Lhe: Agimus tibi gratias, etc., Se puderdes, ficai uns quinze minutos em Ao de graas, depois sa da Igreja com o corao compungido, como se descsseis do Calvrio.

    Dizei-me agora: se tivsseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado at ao presente, de quantos tesouros no tereis enriquecido vossa alma? Oh! Que enormes prejuzos vos causastes, quando assistia Santa Missa, olhando para um e outro lado, observando os que entravam e saam da igreja e, muitas vezes at, conversando ou cochilando, ou, sobretudo, enrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor recolhimento interior. Tomais, portanto, a resoluo de adotar este mtodo to fcil, to suave, de assistir com fruto Santa Missa, e que consiste me cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS: no tenhais dvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de graas especiais, e nunca mais vos vir idia dizer: Uma missa a mais, uma missa a menos, que importa!

    DA COMUNHO ESPIRITUAL

    Quanto maneira de fazer a comunho espiritual de que falei antes, preciso conhecer a doutrina do santo Conclio de Trento, o qual ensina que se pode receber o Santssimo Sacramento de trs modos: sacramentalmente, espiritualmente, ou sacramentalmente e espiritualmente ao mesmo tempo. No se fala aqui do primeiro modo, que se verifica tambm nos que comungam em estado de pecado mortal, como fez Judas; nem do terceiro, comum a todos os que comungam em estado de graa; mas trata-se aqui e do segundo, adequado queles que, tomando as palavras do santo Conclio, impossibilitados de receber sacramentalmente o Corpo de Nosso Senhor, o recebem em esprito, fazendo, atos de f viva e ardente caridade, e com um grande desejo de se unirem ao soberano bem, e, por meio, se pem em estado de obter os frutos do Divino Sacramento.

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  • Qui voto propositum illum caslestem panem edentes fide viva quae per dilectionewm operatur, fructum ejus et utilitatem sentium. (Sess. XIII, c.8.)

    Para facilitar-vos prtica to excelente, pesai bem o que vou dizer-vos. No momento em que o sacerdote se dispe a comungar, na Santa Missa, recolhei-vos no vosso ntimo, tomando a mais modesta posio; formulai, em seguida, em vosso corao um ato de sincera contrio e, batendo humildemente no peito, em sinal de que vos reconheceis indignos de to grande graa, fazei todos os atos de amor, oferecimento, humildade e os demais que costumais fazer quando comungais sacramentalmente: Desejai, ento, vivamente receber o adorvel JESUS , oculto por vosso amor, no Santssimo Sacramento.

    Para excitar em vs o fervor, imaginai que a Santssima Virgem ou um de vossos santos padroeiros vos d a santa comunho: suponde receb-la realmente e, estreitando JESUS em vosso corao, repeti-Lhe muitas e muitas vezes com ardente amor: Vinde, JESUS adorvel, vinde ao meu pobre corao; vinde saciar meu desejo; vinde meu adorado JESUS, vinde dulcssimo JESUS! E depois ficai em silncio, contemplando vosso DEUS dentro de vs, e, como se tivsseis todos os atos que habitualmente fazeis depois da comunho sacramental.

    Ora, sabei que esta santa e bendita comunho espiritual, to pouco praticada pelos cristos de nossos dias, um tesouro que cumula a alma de bens incalculveis; e, no sentir de muitos autores, de tal modo eficaz que pode produzir as mesmas graas que a comunho sacramental, e maiores ainda.

    Com efeito, se vem que a comunho sacramental, na qual se recebe a santa Hstia, seja por sua natureza de maior proveito, porque como sacramento, age ex operare operato, possvel, no entanto, que uma alma faa a comunho espiritual com tanta humildade, amor e fervor, que obtenha mais graas que no obteria outra, comungando sacramentalmente, mas com disposio menos perfeita.

    Nosso Senhor, outrossim, ama tanto este modo de fazer a comunho espiritual, que muitas vezes se dignou atender com milagres visveis os piedosos desejos de seus servos, dando-lhes a comunho ou por sua prpria mo, como fez bem-aventurada Clara de Montefalco, a Santa Catarina de Sena, e a Santa Lidvina; ou pela mo dos Anjos, como aconteceu a So Boaventura e aos santos bispos Honorato e Firmino; ou ainda, mais freqentemente, por meio da augusta Me de DEUS, que se dignou dar a comunho ao bem aventurado Silvestre.

    No vos admireis desta condescendncia to terna, pois a comunho espiritual abrasa a alma no amor a DEUS, une-a Ele, e dispe-na a receber as graas mais insignes.

    Se refletsseis, portanto, nestas coisas, seria possvel permanecerdes, frios e insensveis? Que desculpa podereis invocar para isentar-vos de to devota prtica? Tomai a resoluo de vos habituardes a ela; e notai que a comunho espiritual tem sobre a sacramental esta vantagem, que esta s se pode fazer uma vez ao dia, enquanto aquela podeis faz-la em todas as Missas que quiserdes, e ainda, de manh, tarde, o dia todo ou de noite, em casa como na igreja, sem necessitar permisso de vosso confessor.

    Em resumo, quantas vezes fizerdes a comunho espiritual, outras tantas vos enriquecereis de graas, de mritos e de toda sorte de bens.

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  • Ora o fim deste livrinho despertar no corao de todos os que o lerem um santo ardor para que se introduza entre os fiis o costume de assistir todo dia piedosamente Santa Missa e de fazer ai a comunho espiritual. Oh! Que felicidade se, se obtivesse este resultado! Teria, ento, a esperana de ver refletir em toda a Terra este santo fervor que se admirava na Idade de ouro da primitiva Igreja. Nesse tempo os fiis assistiam diariamente ao Santo Sacrifcio, e diariamente recebiam a Comunho sacramental. Se dignos no sois de imit-los, ao menos assisti a todas as Santas Missas que puderdes e comungai espiritualmente. Se eu tivesse a dita de persuadir-vos, creria ter ganho o Mundo inteiro, e daria por bem recompensados os meus dbeis esforos. Enfim, para desfazer todos os pretextos que se apresentam ordinariamente, a fim de no assistir Santa Missa, darei nos captulos seguintes diversos exemplos que interessam a toda sorte de pessoas. Por a cada um compreender que, se, se priva de to grande bem, por sua culpa, por sua preguia e seu pouco zelo pelas coisas santas, e que assim se prepara amargo arrependimento na hora da morte.

    EXMPLOS PRPRIOS PARA EXCITAR OS FIIS DE TODOS OS ESTADOS E CONDIES

    A ASSISTIR TODOS OS DIAS SANTA MISSA

    Aqueles que no tm gosto para assistir Santa Missa, invocam inmeros pretextos para escusar sua tibieza. Podeis v-los absolvidos por seus negcios. Cheios de solicitude e zelo pelo progresso de seus miserveis interesses.

    Para isso toda fadiga leve e no h dificuldade que os retenha. Ao contrrio, para assistir Santa Missa, que o mais importante dos tesouros, ei-los cheios de frieza e preguia, invocando centenas de escusas frvolas: sues nmeros cuidados, sua sade delicada, os embaraos da famlia, a falta de tempo, o excesso de ocupaes. Em suma, se a Santa Madre Igreja no os obrigasse sob pena de pecado a assistir Santa Missa ao menos, aos domingos e dias santificados, sabe DEUS se visitariam jamais uma igreja ou dobrariam o joelho ante um altar.

    vergonha profunda misria de nossos tempos infelizes, que estamos longe do fervor dos primeiros cristos, os quais, como j disse, assistiam todo dia Santa Missa e recebiam o po dos Anjos.

    No entanto no lhes faltavam afazeres, cuidados, ocupaes. Mas a prpria Santa Missa era para eles um auxlio para bem dirigir seus negcios e interesses espirituais e temporais. Mundo obcecado! Quando abrirs os olhos para reconhecer to palpvel iluso? Vamos! Despertemos todos! E que nossa devoo preferida, a mais amada, seja assistir diariamente Santa Missa e nela comungar, pelo menos espiritualmente.

    Para alcanar to santo resultado, no sei de meio mais eficaz que o exemplo, pois uma mxima indiscutvel que todos vivimus ab exemplo: isto , que tudo que vemos feito por nossos semelhantes se nos torna acessvel e fcil. No poders fazer, dizia a si prprio Santo Agostinho, o que fazem estes e aqueles? Tu non poteris qudo isti et istae?

    Apresentarei, portanto, alguns exemplos interessantes de pessoas diversas, e por este meio espero convencer todo o mundo.

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  • EXEMPLOS PARA EXCITAR OS PADRES A CELEBRAR TODO DIA

    SALVO CASO DE LEGTIMO IMPEDIMENTO

    Sacerdote de CRISTO, procedei de tal modo que, antes de tudo, seja simples e pura a vossa inteno, e que s tenhais a DEUS em vista.

    Com esta finalidade, renovai ao menos mentalmente antes de comear a Santa Missa, as quatro intenes ensinadas anteriormente, e em vosso memento, depois de feita a aplicao devida, oferecei brevemente o Sacrifcio ao altssimo, para os fins a que foi institudo, Isto , para honra a DEUS, agradecer-Lhe dar-Lhe reparao, e obter de sua bondade todos os bens.

    Ponde em seguida todo o cuidado, a fim de celebrar com o mximo de modstia, recolhimento, e ateno possvel, calmamente, sem vos apressardes, mas empregando todo o tempo necessrio para pronunciar bem todas as palavras, para executar integralmente todas as cerimnias com a gravidade e dignidade convenientes. Pois, se as palavras no so bem articuladas e as cerimnias bem feitas, ao invs de excitar a piedade e devoo tornam-se para os assistentes motivo de escndalo.

    Isto posto, todo sacerdote deve tomar a firme e constante resoluo de celebrar todos os dias a Santa Missa.

    Se na Igreja primitiva, os leigos comungavam diariamente, de crer com mais forte razo que os padres celebravam todos os dias.

    Santo Andr dizia a seu perseguidor: Quotidie Emmolo DEO Agnum immaculatum. Ofereo diariamente a DEUS, o Cordeiro Imaculado. E So Cipriano, em uma de suas cartas: Sacerdotes que Sacrificium DEO quotidie immolamus. Ns sacerdotes, que cada dia oferecemos a DEUS o Sacrifcio.

    So Gregrio Magno conta que So Cassiano, Bispo de Narni, tinha o costume de celebrar a Santa Missa todos os dias, e que seu capelo recebeu de DEUS a ordem de dizer-lhe que fazia muito bem