31
COMUNIDADE E DEMOCRACIA: A EXPERIÊNCIA DA ITÁLIA MODERNA ROBERT D. PUTNAM

Apresentação - Comunidade e Democracia

Embed Size (px)

Citation preview

COMUNIDADE E DEMOCRACIA: A EXPERIÊNCIA DA ITÁLIA MODERNA ROBERT D. PUTNAM

2

ROBERT PUTNAM

Cientista política britânico;Membro da Academia

Nacional de CiênciasEx-presidente da Associação

Americana de Ciência Política

Professor de política pública na Escola de Governo em Harward, nos Estados Unidos.

3

ESTRUTURA

Cap.1: Introdução: estudo do desempenho institucional

Cap.2: Mudança das regras: duas décadas de desenvolvimento institucional

Cap.3: Avaliação do desempenho institucional Cap. 4: Explicação do desempenho institucional

Cap. 5: Origens da comunidade cívica

Cap. 6: Capital social e desempenho institucional

4

A OBRA

Debate teórico e pesquisa aplicada relacionando desenvolvimento e capital social

FUNCIONAMENTO EFICAZ DE INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS

O que é preciso para criar instituições fortes e eficientes e como estas influenciam o comportamento político e social

Análise abrangente de duas décadas sobre os novos governos regionais criados na Itália a partir de 1970.

Hipótese: De que modo as instituições formais influenciam a prática da política e do governo? Mudando-se as instituições, mudam-se também as práticas?

5

MÉTODOS

A metodologia utilizada no estudo procurou diversificar os instrumentos para aumentar o potencial e compensar deficiências individuais.observação de campo;estudo de caso;entrevistas;gravações;

6

O CASO DA IMPLANTAÇÃO DOS GOVERNOS REGIONAIS NA ITÁLIA É UMA“OPORTUNIDADE ÚNICA DE ESTUDAR SISTEMATICAMENTE O NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA INSTITUIÇÃO”

PUTNAN

7

CENÁRIO

No pós-guerra (1950-1970), o crescimento italiano foi enorme, com migração do Sul para o Norte.

A política e o governo não acompanharam as mudanças sociais da sociedade italiana;

Nadécada de 70, um dispositivo institucional possibilitou reformas e rompeu com a secular tradição italiana de governo centralizado

Governos regionais passaram a dispor de poderes e recursos para administrar localmente

8

MUDANÇAS AO LONGO DO TEMPO

No início dos anos 70, um arraigado sistema clientelista minava a eficiência administrativa no Sul. As esferas da política pública eram todas controladas por Roma. Os italianos já estavam desconfiados, após anos de mudanças institucionais que deram em nada;

9

LOGO APÓS A INSTALAÇÃO DOS GOVERNOS REGIONAIS

BARI

Os apúlios não escondem o desprezo pelo governo regional

Não costumam considerar governo como ‘seu’, mas como imposição política.

BOLONHA

Na praça central, seus cidadãos discutem problemas políticos.

A sede do governo regional é moderna e resolve problemas com eficiência

10

MUDANÇAS DAS REGRAS

Na primeira série de entrevistas, em 1970, os recém-eleitos conselheiros regionais mostravam-se esperançosos e entusiasmados;

Contudo, uma aliança nacional de políticos conservadores, a burocracia arraigada na sociedade e um Judiciário tradicionalista se uniram para impor restrições às novas regiões.

Em 1976, os entrevistados mostravam-se bem menos confiantes na capacidade das regiões de afirmar sua autonomia. Ao invés de reivindicações individuais, começaram a fazendo o “jogo político centro-periferia’ não mais um-contra um, mas todos-contra-um;

A estratégia funcionou e as relações de confiança entre políticos e líderes de uma região e outra se fortaleceu;

11

MUDANÇAS DAS REGRAS

Essa vitória de todos-contra-um foi tão grande que eles já não tinham mais como culpar as autoridades centrais por suas próprias deficiências

Assim, os novos poderes políticos, conquistados com a coalizão, deu aos governos regionais mais controle orçamentário e poderes de fiscalização, uma revolução no governo.

Os novos poderes incluíam poder formular planos regionais de urbanização e assumir o controle das terras e das câmaras de comércio.

12

ELITE POLÍTICA REGIONAL: NOVO MODO DE FAZER POLÍTICA Os críticos do novo formato político afirmaram que os

novos conselhos regionais se tornariam antros de políticos decadentes;

Contudo, desde o início, os conselhos regionais foram constituídos por políticos em ascensão, capazes e altamente profissionais.

Os legisladores regionais são muito ligados às suas regiões, com experiência em questões partidárias.

Assim, na política italiana, o cargo de conselheiro regional começou a marcar claramente a passagem do político amador para o profissional

13

ELITE POLÍTICA REGIONAL: NOVO MODO DE FAZER POLÍTICA

O percentual de políticos que entendiam que ‘nas atuais questões sociais e econômicas’ é fundamental que as considerações técnicas tenham maior peso’ saltou de 28% em 1970 para 63% em 1989

As questões práticas ganharam maior peso: os conselheiros falavam mais em prestação eficiente de serviços e investimento em estradas e menos em capitalismo, socialismo, liberdade ou exploração.

A hostilidade partidária deixou de representar um obstáculo às questões práticas, com os líderes regionais menos radicais e mais abertos à negociação;

14

Em termos partidários, isso levou a uma despolarização esquerda-direita. A reforma regional criou um novo meio de fazer política,

15

DESEMPENHO INSTITUCIONALMODELO DE GOVERNANÇA

Demandas sociais

Interação política

governo

Opção de política

implementação

implementação

As instituições governamentais recebem subsídios do meio social e geram reações a esse meio

MEIO SOCIAL

16

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO INSTITUCIONAL

Análise comparativa dos processos e decisões referentes à adoção de políticas nas várias regiões;

O ritmo da mudança institucional é lento. Os que edificam essas instituições e aqueles que as avaliam precisam ser paciente;

Questão: por que algumas regiões estudadas apresentaram mudanças positivas e outras não, mesmo com a mesma estrutura de governo e com os mesmos recursos jurídicos e financeiros.

O que explica a diferença no desempenho? Para Putnam, essa diferença pode ser explicada pelo nível de capital social existente em uma sociedade. Esse fator pode explicar o crescimento ou declínio do desenvolvimento econômico.

RESULTADOS

Partindo de certa vertente teórica, Putnam cria alguns índices para avaliar o desempenho institucional dos novos governos:1. Legislação reformadora2. Creches3. Habitação e desenvolvimento urbano4. Serviços estatísticos e de informação5. Inovação legislativa6. Estabilidade do gabinete7. Clínicas familiares8. Sensibilidade da burocracia9. Instrumentos de política industrial10. Presteza orçamentária11. Gastos com unidade sanitária local12. Capacidade de efetuar gastos na agricultura

A satisfação popular com os governos do Norte perpassa todas as classificações sociológicas ou filiações partidárias

Esta constatação levou Putnam à uma indagação:

“O que diferencia as regiões do Norte com bom desempenho das regiões do Sul com mau desempenho e, em cada uma dessas partes, as mais prósperas das menos prósperas”?

EXPLICANDO O DESEMPENHO INSTITUCIONAL

Putnam descarta a tese que associa a democratização à modernização econômica, pois

1) As regiões que mostraram melhor performance institucional não coincidem com as que receberam mais recursos ou investimentos;

2) Apesar de admitir a existência da conexão entre modernidade econômica e democratização, Putnam acha que ela não é direta, precisando de um elemento catalisador.

Para o autor a explicação mais plausível é a da existência de uma comunidade cívica na Itália.

Características da Comunidade Cívica:

- Participação cívica: disposição dos cidadão para a busca do bem comum à custa do puramente individual e mesquinho

- Igualdade política: os cidadão agem como iguais, não como patronos e clientes ou como governantes e requerentes

- Solidariedade, Confiança e Tolerância: nesta comunidade os cidadãos são prestativos, respeitosos e confiantes uns nos outros.

- Associações: são estruturas sociais que incentivam e viabilizam a cooperação (clubes e associações: desportivos, recreativos, atividades culturais, científicas, técnicas, profissionais, etc.);

ORIGENS DA COMUNIDADE CÍVICA A partir do século XII o Norte e o Sul da Itália

passaram a ser governados por regimes distintos:

O Sul: 1) monarquia normanda autocrática; 2) forte máquina administrativa burocrática; 3) reforçou os direitos feudais dos barões; 4) todas cidades eram subordinadas à uma comissão de funcionários centrais; 5) a vida cívica era ordenada do centro para a periferia ou de cima para baixo; 6) atomização da sociedade;

O Norte: 1) as cidades da Itália Setentrional e Central tornaram-se “ilhas” de governos autônomos num “mar” de governos feudais; 2) o desenvolvimento de laços associativos entre os habitantes das comunas foi a principal estratégia para vencer a insegurança gerada pela violência e anarquia da época; 3) as guildas tinham como principal função a promoção da ajuda mútua; 4) a partir do século XIII os vários estratos sociais e classes profissionais passaram a contar com direito de representação nos conselhos comunais.

CAPITAL SOCIAL E DESEMPENHO INSTITUCIONAL

“Teu milho está maduro hoje; o meu estará amanhã. É vantajoso para nós dois que eu te ajude a colhê-lo hoje e que tu me ajudes amanhã. Não tenho amizade por ti e sei que também não tens por mim. Portanto, não farei nenhum esforço em teu favor; e sei que se eu te ajudar, esperando alguma retribuição, certamente me decepcionarei, pois não poderei contar com tua gratidão. Então, deixo de ajudar-te; e tu me pagas na mesma moeda. As estações mudam; e nós dois perdemos nossa colheitas por falta de confiança mútua.” (HUME, 1986, p. 106)

27

CAPITAL SOCIAL

Para Putnam, o capital social é definido como “o conjunto de recursos sociais possuído por um grupo, através de redes de trabalho com as quais se constitui uma comunidade cívica, sentimentos de solidariedade e igualdade com os demais membros da comunidade, normas de cooperação, reciprocidade, confiança e atitudes positivas, reveladas através da confiança no outro, no governo e no funcionamento das instituições”

A Teoria da Escolha Racional (Rational Choice Theory) não é a mais apropriada para resolver estes problemas de ação coletiva.

Uma vez admitido que o indivíduo só estará disposto a cooperar se conseguir maximizar seu interesse particular, então, é de se esperar que cada um dos envolvidos na cooperação veja a deserção como o comportamento mais racional.

O fenômeno “free-rider” (desertor, oportunista, carona) inibe a cooperação voluntária. O resultado é a perda da colheita, o impasse no governo, o aumento da tarifa de táxi ou da taxa de juros do cheque especial.

A pesquisa de Putnam se coloca contra o paradigma hobbesiano do “terceiro que coage”, pois para o filósofo inglês, o que faria os homens cooperarem entre si era a coerção de um poder superior.

Putnam se alinha com a tradição republicana, que remonta à Platão e passa por Maquiavel, atribuindo ao civismo comunitário um papel tanto mobilizador quanto criador de um quadro de referências comuns sobre a realidade

CONCLUSÃO

As instituições, para serem efetivas, necessitam de praticas e normas sociais de cooperação e reciprocidade. A comunidade quando fomenta relações de confiança mútua contribui para a prosperidade econômica, social e cultural

BIBLIOGRAFIAHUME, David. Tratado da Natureza Humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. São Paulo: UNESP, 2001.

PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. 5 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.