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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PRODUÇÃO de Mariana ICHS

Apostila de Produção de Textos

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Page 1: Apostila  de Produção de Textos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PRODUÇÃO

de

Mariana – ICHS

Page 2: Apostila  de Produção de Textos

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Esta apostila foi elaborada com o objetivo de complementar a bibliografia

básica da disciplina “Produção de Textos”. Por meio de exercícios e propostas

de produção de textos, este material visa a orientar o aluno quanto ao

desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita, no âmbito acadêmico e

profissional.

É importante ressaltar que a leitura desta apostila não substitui a leitura de

textos básicos, presentes na bibliografia da disciplina, e de outros textos que

poderão ser sugeridos durante o semestre letivo.

De acordo com o plano da disciplina, trabalharemos, na unidade I, uma

reflexão acerca dos conceitos de língua, linguagem e texto, observando

aspectos ligados à norma culta e às variedades linguísticas da língua

portuguesa. Abordaremos também aspectos ligados às condições de produção

e de recepção de textos, destacando restrições de ordem situacional, como os

interlocutores e suas relações, o contexto social e histórico das interações, as

condições materiais e comunicacionais envolvidas nas interlocuções de um

modo geral. Destacaremos também restrições de ordem cognitiva, a exemplo

dos objetivos e expectativas dos interlocutores, da atividade inferencial, dos

conhecimentos prévios (de mundo e lingüístico), necessários à produção e à

recepção de um texto.

Na unidade II, trabalharemos com os conceitos de textualidade, com

enfoque nos princípios de coesão e coerência, intertextualidade e polifonia, a

fim de analisarmos a produção e recepção de textos, do ponto de vista de sua

materialidade linguística.

Na unidade III, focalizaremos os processos de construção discursiva da

argumentação, abordando as condições de produção e as estratégias discursi

vas utilizadas em textos argumentativos, a exemplo do artigo de opinião, do

editorial, do fórum de discussão e da carta de leitor.

Na unidade IV, que será desenvolvida parcialmente em concomitância com

as três primeiras, nos dedicaremos à dimensão prática do curso, ou seja, à

produção de textos em sala e, eventualmente, em casa, abordando, sobretudo,

os gêneros acadêmicos, enfatizando a leitura e a produção de esquemas,

resumos e resenhas, com vistas a desenvolver habilidades de documentação

de leitura, de síntese crítica e de gestão de vozes por meio do trabalho de

citação.

Page 3: Apostila  de Produção de Textos

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PROGRAMA DA DISCIPLINA

PRODUÇÃO DE TEXTOS I

Professor: Paulo Henrique A. Mendes

Código

LET712

Departamento

LETRAS

Unidade

ICHS

Carga Horária

Semanal

Teórica

02

Prática

02

No de Créditos

03

Duração/Semana

15

Carga

Horária

Semestral

60 horas

EMENTA: Estudo dos conceitos de texto, textualidade, textualização, coesão, coerência .

O texto argumentativo. Leitura de textos de opinião. Prática de produção de textos, com

ênfase nos gêneros acadêmicos. Resumo. Resenha.

OBJETIVOS: Possibilitar ao aluno conceber teórica e operacionalmente o processo de leitura e produção

de textos como uma das dimensões que compõem o objeto de estudo/trabalho do curso de

letras.

Desenvolver e/ou refinar no aluno habilidades de leitura e produção de textos que lhe

permitam constituir-se como produtor e receptor ‘competente’ de diferentes tipos de textos,

com ênfase sobre gêneros discursivos mais recorrentes no universo acadêmico, tais como

resumo, resenha, entre outros.

MÉTODOS DIDÁTICOS:

Diagnóstico das habilidades de produção e leitura de textos, a fim de verificar as diretrizes a

serem seguidas na abordagem do objeto de estudo; aulas expositivas e seminários sobre os

textos lidos; exercícios interativos de leitura e produção de textos, contemplando os fatores

constitutivos das condições de produção e interpretação; leitura e produção de gêneros

acadêmicos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Unidade 1

1.1. Da língua ao texto: uma abordagem enunciativa da linguagem

1.2. Variação, norma e adequação linguística do texto oral ou escrito

1.3. Conceito de texto: condições de produção/recepção, estratégias e efeitos de sentido

Unidade 2

2.1. Princípios de textualidade: processos enunciativos e estratégias de textualização

2.2. Coerência e coesão textual

2.3. Intertextualidade e polifonia

Unidade 3 3.1. Gêneros discursivos e argumentação

3.2. Letramento e gêneros acadêmicos

3.3. Gestão de vozes, posicionamento crítico e construção da autoria

3.4. O trabalho da citação. Tipos de citação. Citação X plágio

Page 4: Apostila  de Produção de Textos

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Unidade 4

4.1. Leitura e produção de parágrafos, com vistas ao desenvolvimento da capacidade de

estruturação de períodos e de organização tópica.

4.2. Leitura e produção de artigos de opinião, cartas de leitor e comentários de fórum de

discussão, tematicamente orientados em função de determinadas condições de produção.

4.3. Produção e apresentação de esquemas de textos lidos no curso, visando à habilidade de

filtragem e articulação conceitual.

4.4. Leitura e produção de resumos de textos lidos no curso, enfatizando a capacidade de

filtragem/articulação conceitual e de gestão das vozes (pontos de vista).

4.5. Leitura e produção de comentários e resenhas de textos teóricos, com ênfase na capacidade

de argumentação crítica e de gestão das vozes (pontos de vista).

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ANTUNES, I. Análise de Textos – fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

ELIAS, Vanda Maria; KOCH, Ingedore Villaça. Ler e escrever – estratégias de produção

textual. São Paulo: Contexto, 2010.

EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto – redação, argumentação e leitura. São Paulo:

Geração Editorial, 2012.

ILARI, Rodolfo., BASSO, Renato. O português da gente – a língua que estudamos, a língua

que falamos. São Paulo: Contexto, 2009.

KOCH, Ingedore G. V; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coerência Textual. São Paulo: Contexto,

2012.

KOCH, Ingedore. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.

MACHADO, Ana Raquel. et al. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

_____________. Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

SILVA, Ana Virgínia. Recursos linguísticos em resenhas acadêmicas e a apropriação do

gênero. Curitiba: Appris, 2011.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

_________. Muito além da gramática – por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São

Paulo: Parábola Editorial, 2007.

FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis:

Vozes, 1992.

FIORIN, J. L. Lições de texto. São Paulo: Ática, 2000.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,

2003.

GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1998.

_______. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

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Os materiais abaixo indicados são sugestões que lhe fazemos para futuras aquisições,

visando à composição de sua biblioteca particular de obras de consulta e referência

quanto à norma padrão da língua escrita, o que é de grande valia para o profissional de

qualquer área de conhecimento. Vale destacar, no entanto, que, mesmo de posse desses

títulos, no momento da escrita é necessária a adequação do gênero textual à situação

comunicativa (interlocutores envolvidos, objetivo pretendido, conteúdo abordado etc.),

o que significa considerar mais do que o uso da norma padrão.

Bom proveito!

HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário

Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

(Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco

de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda.).

Disponível em versão impressa ou digital, O dicionário Houaiss

foi desenvolvido por uma equipe formada por mais de 150

especialistas -

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do

Português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2001.

Esta Gramática é uma descrição do português atual em sua

forma culta, ou seja, da língua como a têm utilizado os

escritores brasileiros, portugueses e africanos do Romantismo

para cá, como privilégio concedido aos autores de nossos dias.

Page 6: Apostila  de Produção de Textos

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Rodolfo Ilari e Renato Basso, seguindo uma tradição iniciada

nos anos 1920 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral,

oferem-nos, em O português da gente, um estudo da língua

que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus

direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de

aula e fora dela. (Mário A. Perini)

A Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos

de Azeredo, oferece as informações necessárias para quem

quer entender mais o português e comunicar-se melhor. Trata

da língua de maneira clara e incorpora o uso já estabelecido da

escrita. Oferece também ferramentas para interpretação e

redação de texto. Apresenta todas as variedades como formas

válidas de expressão, tendo como foco a variedade padrão da

língua, a norma culta, cujo emprego é requerido na maior parte

das situações formais.

LIVROS GRÁTIS!!

Um guia de bibliotecas virtuais

Domínio Público, Brasiliana, Arquivo do Estado de São Paulo: essas e outras

bases de dados reúnem milhares de clássicos da literatura. No site, você

navega por um guia com os melhores acervos vrituais para ler e baixar.

Como acessar?

Digite na busca acervos virtuais públicos.

Fonte: Revista Nova Escola n. 251, abril de

2012.

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FORMA SENTIDO

ortografia, pontuação e

acentuação

?

coerência e contradição

[ ] estruturação sintática inadequação vocabular

colocação pronominal,

concordância e regência argumentação

articulação conceitual

]

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CONCEITOS BÁSICOS: Nesta unidade, trataremos de conceitos básicos para se tornar

um bom produtor e leitor de textos, tais como: língua, linguagem, texto, variação

linguística. Para começar a refletir sobre tais conceitos, leia os textos 1 e 2, presentes no

ANEXO I:

Texto 1: Conceito de língua, linguagem e texto (Solange Bonomo Assupção).

Texto 2: O que é linguagem. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Educação.

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídio à Proposta

Curricular ao ensino de Língua Portuguesa. São Paulo. SE/CENP, 1988.

Para aprofundar a sua reflexão, vejamos os posicionamentos de dois linguistas

acerca de algumas noções básicas sobre o nosso objeto de estudo, apresentados em

entrevistas publicadas na obra Conversas com Linguistas (2003)1.

JOSÉ LUIZ FIORIN

O que é língua?

“Olha... isso é uma coisa difícil, porque cada vez mais eu tenho dúvidas a respeito do

que seja a língua por causa da complexidade. Veja, não me satisfazem definições como

instrumento de comunicação, ou como um sistema ordenado com vistas à expressão do

pensamento, nada disso. Eu penso, na verdade, que linguagem humana é a condensação

de todas as experiências históricas de uma gramática, ela tem um léxico, eu não estou

negando isso, mas, para mim, o aspecto mais relevante a verificar é que a língua é, de

certa forma, a condensação de um homem historicamente situado. Uma língua é isso.”

Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?

“A língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta. A linguagem

humana é essa faculdade de poder construir mundos. Isso para mim é o relevante. A

linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar realidades, de

evocar realidades não presentes. E a língua é uma forma particular dessa faculdade de

1 CORTEZ, Suzana; XAVIER, Antônio Carlos. Conversas com lingüistas. São Paulo: Parábola, 2003.

Page 9: Apostila  de Produção de Textos

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criar mundos. A língua, nesse sentido, é a concretização de uma experiência histórica.

Ela está radicalmente presa à sociedade, quer dizer eu não nego a existência de um

sistema de regras gramaticais, eu não estou negando isso, isso é evidente. Mas digo que,

para o meu trabalho, o que profundamente me interessa é exatamente essa vinculação da

língua com a sociedade, como a língua foi condensando todas as experiências de uma

dada comunidade humana.”

INGEDORE KOCH

O que é língua?

“Olha, essa pergunta é muito difícil de responder, porque eu vejo a língua

simultaneamente como um sistema e como uma prática social. Eu não consigo dissociar

essas duas coisas. A língua é um sistema, ela é um conjunto de elementos inter-

relacionados em vários níveis, no nível morfológico, no nível fonológico-morfológico,

sintático. Mas ela só se realiza enquanto prática social, quer dizer, os seres humanos nas

suas práticas sociais usam a língua e a língua só se configura nessas práticas e é

constituída nessas práticas.”

Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?

“Eu já falei para você o que eu entendo por língua. Agora linguagem eu acho algo mais

amplo. Linguagem é para mim a capacidade do ser humano de se expressar através de

um conjunto de signos, de qualquer conjunto de signos. Então, eu acredito numa

linguagem pictórica, numa linguagem sonora, numa linguagem verbal etc. Então,

linguagem é todo meio de expressão do ser humano através de símbolos. E a sociedade

nessa relação é essencial. Sem sociedade não há língua. A língua se configura através

das práticas sociais de uma sociedade, de uma comunidade. Então, a língua se configura

dentro do meio social, como expressão do meio social, lugar de interação entre os

membros de uma sociedade e nesse lugar de interação é que se constituem as formas

lingüísticas e todas as maneiras de falar que existem numa determinada época, numa

determinada sincronia.”

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Com base nos pontos de vista apresentados acima, analise os exemplos a seguir

e elabore um comentário de um ou dois parágrafos.

Exemplo1:

Exemplo 2:

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1) Leia e reflita sobre a interação comunicativa presente na tirinha abaixo:

Adaptado da tirinha de Adão Iturrusgarai)

1- De acordo com a tirinha, o personagem Otto não consegue entender o que o primo da

Aline está dizendo. Por que isso acontece? Que elementos lingüísticos presentes na fala

do primo dificultaram a compreensão de Otto?

2- Transforme a fala do primo, no segundo quadro, adequando-a ao padrão culto da

língua portuguesa?

3- Depois da transformação da linguagem caipira, no segundo quadro, você acha que a

compreensão da tirinha continua a mesma? Justifique.

LEMBRE-SE: o uso da língua varia conforme a situação de comunicação em que o

texto está inserido (e-mail, relatório acadêmico, notícia, etc.), os participantes

envolvidos (médico, professor, adolescente, etc.), os objetivos subjacentes ao texto

(informar, opinar, entreter, convencer etc. Portanto, não convém dizer que um

determinado uso da língua está certo ou errado, pois tudo dependerá de uma série de

fatores interdependentes e não somente de um determinado padrão de uso ou mesmo

dos preconceitos que circulam na sociedade com relação às várias formas de

comunicação.

O importante é saber usar a melhor forma (oral, escrita, formal ou informal) de acordo

com situação de comunicação, a fim de ser o mais bem sucedido possível em suas

interações cotidianas.

A nossa maneira de falar faz parte da nossa identidade, pois revela boa parte de nossas

características, tais como, a nossa idade, sexo, profissão, grau de escolaridade, região de

nascimento e isso deve ser respeitado. Porém, é importante aprendermos a utilizar a

linguagem formal em algumas de nossas interações, como é o caso dos textos do

universo acadêmico-profissional, das entrevistas de emprego, dos textos jornalísticos,

etc.

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Como forma de ajudá-lo(a) a ler e a compreender os conteúdos propostos na

Unidade 1, propomos, a seguir, algumas sugestões de atividades, orientando a leitura do

artigo de Marcos Bagno, abaixo transcrito. Considere-as como um roteiro de trabalho,

um possível caminho para compreender o texto e os conceitos ali discutidos.

a) Em primeiro lugar, faça uma leitura do artigo abaixo. Para aproveitá-la melhor,

vá ‘dialogando’ com o texto. Grife as partes que julgar mais importantes com

caneta marca-texto (Não vá manchar tudo de amarelo fluorescente!!), tome

notas nas bordas, assinale com ponto de interrogação quando surgir uma dúvida

em algum trecho específico, use o ponto de exclamação para assinalar uma

passagem importante, circule palavras ou expressões etc.

http://www.ceale.fae.ufmg.br/noticias_ler_coluna.php?txtId=182, acesso em

12/07/2011.

Os dois lados dos "erros de português"

Marcos Bagno

Uma das conseqüências da concepção normativo-prescritiva da língua foi o

surgimento, há mais de 2.300 anos, da velha doutrina do erro, tão arraigada em nossa

cultura. Evidentemente, não se trata propriamente de “língua”, mas de uma idealização

nebulosa de correção lingüística, à qual se dá geralmente o problemático nome de

“norma culta”. Essa “norma culta” acaba sendo identificada, no senso comum e na

prática pedagógica tradicional, com a própria noção de “língua portuguesa” ou de

“português”, numa equivocada sinonímia de graves conseqüências para o indivíduo e

para a sociedade: o uso que não está consagrado nessa “norma culta” (o uso que não

está abonado nas gramáticas normativas e nos dicionários) simplesmente “não existe”

ou “não é português”. Esse modo de conceber os fatos de linguagem condena ao

submundo do não-ser determinadas manifestações lingüísticas não-normatizadas,

rotuladas automaticamente de “erro” — e, junto com as formas lingüísticas

estigmatizadas, condena-se ao silêncio e à quase-inexistência as pessoas que se servem

delas.

Ora, já está mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente

científico, não existe erro em língua — o que existe é variação e mudança, e a variação

e a mudança não são “acidentes de percurso”: muito pelo contrário, elas são

constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. Além disso, as

línguas não variam/mudam nem para “melhor” nem para “pior”, elas não “progridem”

nem se “deterioram”: elas simplesmente (e até obviamente, eu diria) variam e mudam...

O português brasileiro, por exemplo, não vai nem bem nem mal, ele simplesmente vai,

isto é, segue seu impulso natural na direção da variação e da mudança (que, insisto, são

simplesmente variação e mudança, e nada têm a ver com “progresso” ou “decadência”).

Desse modo, tudo aquilo que é classificado tradicionalmente de “erro” tem uma

explicação científica perfeitamente demonstrável. A noção de erro em língua é

inaceitável dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem. Afinal,

Page 13: Apostila  de Produção de Textos

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nenhuma ciência pode considerar a existência de erros em seu objeto de estudo (os

erros, falhas e equívocos podem ocorrer nas metodologias de pesquisa, nos

procedimentos de análise, na elaboração de construtos teóricos, nos preconceitos de

natureza ideológica que o cientista pode assumir consciente ou inconscientemente, mas

não no objeto em si).

No entanto, mesmo que tenhamos tudo isso muito claro, é preciso sempre

lembrar que, do ponto de vista sociocultural, o “erro” existe, e sua maior ou menor

“gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das

classes sociais, que é também uma pirâmide de variedades lingüísticas. Quanto mais

baixo estiver um falante na escala social, maior número de “erros” as camadas mais

elevadas atribuirão à sua variedade lingüística (e a diversas outras características sociais

dele). O “erro” lingüístico, do ponto de vista sociológico e antropológico, se baseia,

portanto, numa avaliação negativa que nada tem de lingüística: é uma avaliação

estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, no seu poder aquisitivo, no seu

grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua origem geográfica, nos postos de

comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, no seu sexo e outros

critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais. Por isso é que, muitas

vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética” quando surge

num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das classes

privilegiadas, e como um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua”

quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente.

Do ponto de vista estritamente lingüístico, não existe diferença funcional (nem,

muito menos, erro) entre dizer os menino tudo veio e os meninos todos vieram, mas do

ponto de vista social a regra é avaliada negativamente e rotulada de “erro”, rótulo que,

automaticamente, é aplicado a todas as demais características físicas e psicológicas,

bem como a todos os outros comportamentos sociais do falante que se serve dela.

Tem havido muitos equívocos no tratamento da questão do “erro” gramatical.

Poderíamos classificar esses equívocos em dois grandes grupos. No primeiro, estão as

atitudes das pessoas que, fascinadas pelos avanços da pesquisa científica, se limitam a

considerar os “erros” exclusivamente do ponto de vista lingüístico e negam totalmente

sua existência, uma vez que todos os fenômenos divergentes da norma-padrão

codificada podem e devem ser explicados à luz de teorias lingüísticas consistentes. No

segundo grupo, estão as atitudes daquelas pessoas que só consideram o ponto de vista

sociocultural e se deixam comover por uma boa intenção baseada na ilusão de que o

domínio da tal “norma culta” permite “ascensão social”: assim, elas têm consciência de

que o não-respeito às formas gramaticais normatizadas pode ser prejudicial ao futuro do

indivíduo que as desobedece, e acreditam que é preciso substituir essas formas não-

normatizadas pelas formas canônicas, que gozam de prestígio na sociedade.

Ora, não podemos perder de vista a “dupla personalidade” daquilo que

tradicionalmente se chama de “erro”. O erro é uma moeda, e como toda moeda, ele tem

duas faces: uma face lingüística e uma face sociocultural. Como já disse, do ponto de

vista estritamente lingüístico não existe erro na língua, uma vez que é possível explicar

cientificamente toda e qualquer construção lingüística divergente daquela que a norma-

padrão tradicional cobra do falante. Mas, do ponto de vista sociocultural, o erro existe,

sim, e não podemos fingir que não sabemos do peso que ele tem na vida diária dos

falantes. É na face sociocultural dessa moeda que está impresso o valor que se atribui ao

suposto “erro”.

Uma das tarefas de um ensino de língua mais esclarecido seria, então, discutir os valores

sociais atribuídos a cada variante lingüística, enfatizando a carga de discriminação que

pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua

Page 14: Apostila  de Produção de Textos

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produção lingüística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social,

positiva ou negativa.

b) Depois de ‘dialogar’ (tomar notas, marcar trechos lidos, etc) com o texto, faça

um parágrafo, posicionando-se com relação aos dois lados dos “erros de

português” apresentados por Bagno.

PARA SABER MAIS! Leia fragmentos dos textos: ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato.

O português da gente. São Paulo: Contexto, 2009 e CASTILHO, Ataliba T. Nova

gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010. ANEXO I

Finalizando o comentário sobre variação linguística, vejamos os dois textos abaixo:

Texto 1

A Peda de Oro

Tinha um viúvo que tinha treis rapaz e o pai já era bastante avançado na idade, já num

trabaiava mais. Os treis rapaz dentro de casa era muito obidiente do pai. Intão fazia

lavora e tudo...

Um dia os rapaz ta lá trabaiano na roça e passo um home. Chego ‘sim, oiô ês:

- Bom dia!

- Bom dia!

- Uai!

- Ta trabaiano, né, os minino?

- É, nós ta trabaiano aqui, mas nosso pai ta bastante avançado na idade, coitado, num

pode fazê mais nada. Agora nós é que trata dele. Nós faz tudo pa meu pai. O home

assunto ‘ sim. Falo:

- ó, ocês é besta, moço! Ces ta pa saí pó mundo, pocês trabaiá, arrumá suas vida. Se

ocês ficá mais seu pai toda vida, cês num ‘ruma nada. Cês fica só dentro de casa

trabaiano pa seu pai, cês num ruma nada procês não. E dispidiu dês e saiu.

O rapaz suntô aquilo.

- Ô, moço, aquel’home é que ta certo. Se nós ficá aqui só trabaiano, tratano de nosso

pai, nós num ruma nada não. Nós vamos saí. É mesmo como ele falo. Dipois que nós

saí, de num achá nós, ele dá o jeito dele.

Antão saiu os treis rapaz, deixo o veio. Viajano, viajano, viajano... Chego num artura,

passano assim dentro da mata. Deu um grito lá dento da mata. Deu um grito lá e ês cá.

- Ôooo”

- Cá ôooooo! Se ocês qué vê o laço do capeta, vem aqui!

Mais o rapaz assunto assim, um conformo cuns os Oto.

- Ô, moço, vamo lá pa nós vê de que jeito que é esse laço do capeta.

Antão entro todos treis na mata. Lá vai, lá vai, lá vai... Foi quês deu cum home, o

mesmo home que tinha tido mais ês lá na roça.

- Ó, aqui essa peda de oro aqui procês, ó. É procês, cês treis aí. Se ocês ficá lá mais seu

pai, cês arrumava fortuna? Arrumava de jeito ninhum. Isso aí é seus. Ah! Dexa os rapaz

luitá pa pega a peda. Pelejava, pelejava, a peda num saía do chão. O Oto vinha, luitava

cum a peda, luitava. Nada! A peda tava queta no chão. Ês foi luitao, cuessa peda, foi

luitano cuessa peda, foi, um peso ‘sim. Falô:

- Ô, moço, se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda.

Page 15: Apostila  de Produção de Textos

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O Oto falô:

- Pois é mesmo, moço. Se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda. Ô, moço,

tem uma venda qui perto.

Falô:

-Ô, nós vai em dois lá e fica m aqui oiano a peda.

Antão saiu dois pá i lá no buteco e fico o Oto oiano a peda. O que fico oiano a peda fez

um caírco. Falo:

- Quando ês chega cum a cachaça aqui, deito fogo nês todos dois e mato ês, bebo a

cachaça e pego a peda pa mim sozin.

Antão saiu os dois. Quanto tava pa chegá no buteco, um deu vontade d entrá no mato,

entro no mato, e o Oto foi dipressa lá na venda, compô a cachaça e compô um veneno e

pÕs dento da cachaça e veio vortano. Topo cum Oto inhante de chegá lá no buteco e

falo:

- Uai, moço, ocê já foi lá?

- Já, moço, fui lá, já comprei, já lá vô vortano. Toma aqui um poco.

Deu ele a garrafa. Ele viro na boca assim. Quando ele viro na boca assim, ele caiu cum

a garrafa e tudo. Pulo pa garrafa e bateu a tampa, pôs dento do imbornale e siguiu.

Falô assim:

- Chega lá, eu dô a cachaça. A hora quele caí eu vô ficá cuessa peda.

Intão lá vai, lá vai, lá vai. E o Oto lá no mesmo sintido:

- Logo quês chegá aqui, eu deito fogo nÊs aqui e bebo a cachaça e eu pego a peda pra

mim só.

Aí, quando o Oto foi chegano, deito fogo no Oto, pôs o Oto no chão. Deu um pulo no

imbornal dipressa e pego a garrafa e viro na boca e assim caiu cum garrafa e tudo.

Morreu todos treis e a peda de oro fico lá.

Page 16: Apostila  de Produção de Textos

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Texto 2

Folha de Minas – Terça-feira, 02 de março de 2003 - Página 12

CADERNO GERAL

Jovens irmãos se matam no Buraco Fundo Desconfia-se de envolvimento com o tráfico de drogas

Adriana Melo

No domingo, 29 de

fevereiro, às

16h30minutos, foram

encontrados mortos os

irmãos Galdino, 22

anos, Gualberto, 24, e

Guilherme Moreira, 20.

Os rapazes não traziam

no corpo escoriações,

cortes ou quaisquer

outras marcas que

indicassem uma briga.

Foram encontrados

estirados à beira de uma

estrada, num lugar

conhecido como Buraco

Fundo, próximo à

cidade de Fé Cega.

Segundo os habitantes

da região, o local é

ermo e dado a aparições

fantasmagóricas e

demoníacas. Um dos

rapazes estava com o

corpo queimado e

desconfia-se que tenha

sido assassinado pelos

irmãos.

Segundo o pai dos

rapazes, eles se

encontravam fora de

casa há algumas

semanas e haviam sido

aliciados por um

homem muito suspeito

para transportar uma

carta misteriosa. A

polícia local imagina

tratar-se de tráfico de

drogas. Os objetos

encontrados no local

onde os corpos foram

deixados são: uma

garrafa de cachaça

vazia, uma caixa com

palitos de fósforos e

uma pedra. O homem

que aliciou os irmãos

está foragido e suspeita-

se que o mesmo possua

explicações sobre o que

aconteceu realmente.

“Eles eram bons

meninos. Nunca me

deram trabalho.

Apenas foram

ingênuos.”

A polícia iniciou perícia

no local do crime e

mandou os três corpos

para o IML, onde serão

submetidos à necropsia

para elucidação do caso,

uma vez que há suspeita

de overdose, como

causa da morte de dois

dos irmãos. O pai dos

rapazes mortos,

Idelfonso Moreira,

mostrava-se muito

abalado com a morte

dos garotos. Depois de

chorar, ao reconhecer os

corpos dos filhos,

declarou: “eles eram

bons meninos. Nunca

me deram trabalho.

Apenas foram

ingênuos”. O erro dos

três irmãos foi fatal.

Segundo o Sr. Idelfonso

Moreira, os meninos

foram embora para ver

a cidade, ganhar

dinheiro, viver coisas

novas. Talvez os irmãos

tenham se envolvido

com o tráfico de drogas

e não tenham tido

estrutura ou maldade

suficientes para lutar

com os patifes que

comandam o crime nas

grandes cidades. A

polícia está trabalhando

no sentido de deslindar

o mistério e dar uma

reposta ao pai dos

rapazes sobre a causa

dessas mortes,

aparentemente sem

sentido.

Page 17: Apostila  de Produção de Textos

17

Agora que você já substituiu a dicotomia certo x errado por adequado x inadequado,

com relação aos textos que circulam na sociedade, é preciso avançar um pouco mais, no

intuito de desenvolver a sua competência comunicativa, ler e produzir textos adequados a

situações de comunicação específicas.

Para ajudá-lo nesse percurso, introduziremos outros conceitos importantes.

1) As condições de produção e recepção de textos

Esta noção refere-se aos elementos que condicionam o processo que os interlocutores

desenvolvem, isto é, as suas estratégias de recepção e produção de textos orais ou escritos.

Alguns desses elementos são discriminados em função de uma situação de comunicação*

específica.

1.1 Objetivo de produção:

Na produção de textos orais e escritos, o objetivo é aquilo que o autor de um texto

pretende alcançar, no leitor, através de seu texto. Pode ou não ser consciente. Mesmo que

um autor não tenha consciência de suas motivações, há algo que, com certeza, deseja

alcançar escrevendo ou falando: informar, persuadir, polemizar, convencer, refletir,

lembrar, emocionar, divertir, etc. dependendo da perspectiva teórica, o objetivo do autor é

também denominado “intenção” ou “efeito buscado”. Os termos também são utilizados em

estudos sobre a recepção de textos orais e escritos para designar aquilo que o leitor busca ao

interagir com o outro.

Procure estabelecer os objetivos de produção/recepção para os textos abaixo:

Texto 1

Os ingredientes:

1 copo de arroz

1 dente de alho amassado ou [muito bem picado]²

Opcional: 1/6 de uma cebola média, picada

3 copos de água

Sal

10 ml de óleo (de novo, lembre-se: o suficiente pra melar o fundo da panela).

Modo de Preparo

Enquanto você coloca a água pra ferver, vá descascando e picando (ou amassando, no caso

do alho) a cebola e o alho. Em outra panela já pré-aquecida de leve, você vai dourar os

dois (lembre-se da ordem alho-cebola) no óleo.

Caso você já tenha visto sua mãe lavando o arroz, aqui vai uma informação: eu perguntei a

uma doutoranda em nutrição e ela me confirmou que não há necessidade em fazer isso.

Objetivo de produção/recepção_______________________________________________

*Esse termo se

refere às

condições

linguísticas e

extralinguística

s que

organizam

uma interação

comunicativa.

Page 18: Apostila  de Produção de Textos

18

Texto 2

Objetivo de produção/recepção_________________________________________

Texto III

Objetivo de produção/recepção__________________________________________

Page 19: Apostila  de Produção de Textos

19

Observe a página abaixo, retirada do minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa.

Objetivo de produção/recepção__________________________________________

Leia o texto abaixo. Em seguida, reúna-se em grupo com alguns colegas e aguarde

as instruções do professor. Esta atividade irá ajudá-lo a refletir sobre estratégias de leitura e

produção de textos, no que tange aos objetivos projetados pelo autor e pelo leitor.

Page 20: Apostila  de Produção de Textos

20

A CASA DE EDUARDO

Os dois garotos correram até a entrada da casa. “Veja, eu disse a você que hoje era

um bom dia para brincar aqui, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa na quinta-feira”,

ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os meninos podiam correr no

jardim extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que a sua casa era tão grande”, disse

Marcos. “É, mas ela está mais bonita agora, desde que meu pai mandou revestir com pedras

essa parede lateral e colocou uma lareira. Havia portas na frente, atrás e uma porta lateral

que levava à garagem, que estava vazia exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas

aí. Eles entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela ficava sempre aberta para

suas irmãs mais novas entrarem e saírem sem dificuldade.

Marcos queria ver a casa, então Eduardo começou a mostrá-la pela sala de estar.

Estava recém pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o som: o barulho

preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está a meio quilômetro daqui,

gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao observar que nenhuma casa podia ser

vista em qualquer direção além do enorme jardim.

A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar para brincar: os

garotos foram para a cozinha onde fizeram um lanche.

Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e mofado uma

vez que o encanamento arrebentara.

“Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de selos e moedas raras”, disse Eduardo

enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório, havia três quartos no

andar superior da casa.

Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre trancado

onde havia jóias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante, exceto pela televisão com

o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era que o banheiro do corredor era seu,

desde que um outro foi construído no quarto de suas irmãs. Não era tão bonito como o de

seus pais, que estava revestido de mármore, mas para ele era a melhor coisa do mundo.

Traduzido e adaptado de Pitchert, J. & Anderson, R. Taking different perspectives

on a story. Journal of Educational Psychology, 1997, p. 69.

1.2) Os interlocutores e suas identidades

Ao produzir ou ler um texto oral ou escrito, lançamos mão do conhecimento que

temos sobre nossa identidade. Na linguagem escrita de caráter público (livros, jornais,

artigos, etc.), em que não podemos contar com a presença física de quem escreveu o texto,

as identidades, tanto do autor quanto do leitor, referem-se não propriamente às pessoas

concretas que leem ou escrevem, mas a uma hipótese de leitor ou de autor que construímos,

através dos conhecimentos e disposições que esperamos que nossos interlocutores possuam

e de ‘marcas/pistas’ deixadas no texto que produzimos ou lemos.

Todo texto é produzido por alguém para ser lido/ouvido por alguém, mas nem todas as

pessoas podem produzir qualquer tipo de texto. Por exemplo, só um sacerdote pode dizer

“Eu te batizo”. Só um Juiz pode dar uma sentença. Só o presidente da república pode

sancionar uma lei. Cada situação de comunicação exige que assumamos uma identidade

específica. Se o mesmo Padre estiver em uma consulta médica, ele se torna paciente. Se ele

Page 21: Apostila  de Produção de Textos

21

estiver em uma loja de produtos religiosos, ele se torna um cliente e, em função disso,

adéqua o seu discurso à situação de comunicação.

Assim, o grau de formalidade, a entonação, as escolhas lexicais, dentre outros aspectos,

vão depender das identidades projetadas no discurso e da situação de comunicação em que

essas identidades se inscrevem. Uma entrevista de emprego exige uma linguagem formal e

uma postura do candidato que não fazem a menor diferença em uma conversa cotidiana

entre amigos de infância. Um texto acadêmico, por exemplo, exige ser escrito na norma

culta, de acordo com normatização técnica apropriada, além de demandar a apresentação de

termos técnicos da área, citação de fontes de consulta, etc.

1) Identifique as identidades projetadas nos textos abaixo. Justifique a sua resposta,

utilizando marcas linguísticas dos textos.

Texto 1

RADICAIS LIVRES E OS PRINCIPAIS ANTIOXIDANTES DA DIETA

Maria de Lourdes Pires BIANCHI1

Lusânia Maria Greggi ANTUNES2

RESUMO

Durante a redução do oxigênio molecular, espécies reativas de oxigênio são

formadas e existe a necessidade permanente de inativar estes radicais livres. Os

danos induzidos pelos radicais livres podem afetar muitas moléculas biológicas,

incluindo os lipídeos, as proteínas, os carboidratos e as vitaminas presentes nos

alimentos. As espécies reativas de oxigênio também estão implicadas nas várias

doenças humanas. Evidências têm sido acumuladas indicando que uma dieta rica

em antioxidantes reduz os riscos das principais doenças humanas. Esta revisão

discute a importância dos antioxidantes da dieta sobre as estratégias de defesa dos

organismos contra os radicais livres.

Termos de indexação: radicais livres, antioxidantes, dieta, vitaminas.

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n2/v12n2a01.pdf

Resposta:_________________________________________________________________

Page 22: Apostila  de Produção de Textos

22

06/08/2011

gays sem chatice

Acho absurda (ver post anterior) a iniciativa de criar o Dia do Orgulho Hétero. Mas as

reações ao projeto talvez estejam indo pelo caminho errado.

Essa coisa de fazer abaixo-assinados, de apelar por um veto do prefeito, me parecem sérias

demais.

O bom da Parada Gay é sua leveza, seu espírito de brincadeira.

Se os adversários do Dia Hétero começarem a ficar chatos e sérios, tudo estará perdido.

Sou a favor de um boicote pelo humor.

Pode-se inventar uma série de palavras de ordem cretinas para o evento. Pode-se criar um

site só de piadas e charges a respeito.

Pode-se tornar tudo tão ridículo que não valerá a pena para ninguém aderir ao Orgulho

Hétero.

Por muito menos do que isso, o movimento do “Cansei”, inventado pela Fiesp, esvaziou-se.

Militância chata, nunca, por favor.

Escrito por Marcelo Coelho às 11h47

Resposta:_________________________________________________________________

http://www2.uol.com.br/josesimao/colunafolha.htm, acesso em 14/08/2011.

América! O cartão estourou!

Com a craise americana, prefiro investir em

cintos. Cinto muito, mas suas ações

despencaram. Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha essa placa na praça da Árvore, aqui em Sampa: "Cuida-se de crianças! Desde que não seja mal-educada, corintiana ou que goste de samba". Rarará! E encontrei o pai do ano: o jornalista desportivo argentino Walter Rotundo, que batizou as duas filhas gêmeas de Mara e Dona! Isso é coisa que se faça com as filhas? Se eu tivesse gêmeos, eu ia botar: Ká e Ká! E essa expressão "zona do euro" tá errada. Porque o euro tá uma zona! E a crise

americana? E o Buraco Obama? A craise tá crazy! Americanos em baixa! Pedi um americano na padoca e veio sem ovo! Rarará! E o discurso do Obama em Wisconsin? Conclusão: acabou o dinheiro, o cartão estourou! Resumo da crise: O CARTÃO ESTOUROU! E a placa no portão da Casa Branca: "Alugo quartos para estudantes, solteiros, republicanos, mexicanos, CORINTIANOS E IRANIANOS". Rarará! E a Bolsa? A Bolsa Ioiô! Como disse uma amiga: "Com a queda das bolsas, melhor investir em sapatos".

Mas eu prefiro investir em cintos. Cinto muito, mas suas ações despencaram. Rarará!

Page 23: Apostila  de Produção de Textos

23

E eu já disse que os Estados Unidos viraram um país socialista: querem socializar os prejuízos com o resto do mundo! E eu tenho a foto de um americano fantasiado de Tio Sam jogado na calçada e com o cartaz: "I want you! Pra me emprestar US$ 12 trilhões".

E a novela "Insensato Coração"! Insensato não é o coração. Insensato é o autor. Não é possível! Eu tô apaixonado por Natalie, Douglas, Bibi e a biba que grta: "SUGAR"! E adorei a charge do Salvador: "Prenderam algum ministério hoje?". Não se prende mais ministro, agora prende logo o ministério! E essa: "Americanos fazem fila pra pegar greencard brasileiro". E o site Sensacionalista: "Golpe do Baú! Obama deixa Michelle e pede Dilma em casamento". Rarará! E eu estava no México na Semana Santa quando um americano me disse: "My boss is Brazilian! Meu patrão é brasileiro". Aí falei: "Mas não devia ser o contrário, como sempre? Patrão americano e funcionário brasileiro?". Resposta: "Não, porque os Estados Unidos estão indo pra baixo e o Brasil tá bombando". "Brazil is booming!", foi o que ele me disse! Ueba! Nóis sofre, mas nóis goza!Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

[email protected]

Resposta:_________________________________________________________________

Leia os horóscopos abaixo:

Horóscopo 1

Page 24: Apostila  de Produção de Textos

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Page 25: Apostila  de Produção de Textos

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Horóscopo 2

Page 26: Apostila  de Produção de Textos

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Horóscopo 3

2- Estes horóscopos foram retirados de três revistas: Carícia, Cláudia e Marie Claire.

Descubra em qual dessas revistas cada um deles foi encontrado.

3- Aponte os elementos que te levaram a essa conclusão.

4- Você pode imaginar como seria um horóscopo para uma revista masculina? E para uma

revista infantil? E para um jornal rural? E para uma revista para surfistas ou para jogadores

de futebol? Ou ainda, para alunos do curso de Letras ou Serviço Social? Escolha um

público definido e escreva um horóscopo para um determinado signo.

5-Alguns de vocês serão escolhidos para ler o horóscopo para os colegas. Se eles acertarem

o público a que se destina seu texto, é porque você cumpriu muito bem a sua missão.

Page 27: Apostila  de Produção de Textos

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1. 3. Conhecimentos prévios

A noção é usada para designar o conhecimento que possuímos em nossas mentes e que

nos possibilita compreender o mundo e a linguagem. Também é designada através de

termos como “estrutura cognitiva”, “memória de longo termo” ou, num sentido um pouco

mais restrito, “enciclopédia”. Possui vários componentes relacionados entre si de modo

imbricado, dentre eles o nosso conhecimento do mundo e nosso conhecimento lingüístico.

Embora o nosso conhecimento sobre os interlocutores da interação lingüística seja um

aspecto de nossos conhecimentos lingüísticos e de mundo, ele também será detalhado aqui

a seguir.

1.3.1. Conhecimento de mundo

Trata-se dos conhecimentos que possuímos a respeito do mundo que nos rodeia, de seus

objetos e eventos, organizados em categorias relacionadas. É ele que está na base de toda a

nossa compreensão e que nos permite receber e produzir textos. No entanto, é ele, também,

que é alterado quando aprendemos algo, através ou não da escrita.

1.3.2. Conhecimento linguístico

Assim como nosso conhecimento de mundo, o termo recobre um conjunto de categorias

e “regras”. São essas categorias que nos permitem produzir e receber textos orais ou

escritos, funcionando como uma espécie de processador de estímulos visuais (na escrita) ou

sonoros (na fala). Possui três elementos mais gerais: nosso conhecimento pragmático, nosso

conhecimento semântico e nosso conhecimento gramatical.

O componente pragmático refere-se ao saber que possuímos a respeito da situação

concreta em que produzimos ou compreendemos textos (como por exemplo, a respeito da

relação entre os interlocutores) e, ainda, ao saber que possuímos sobre a relação entre os

recursos expressivos de uma língua e a situação de seu uso. O componente semântico diz

respeito às significações e aos referentes que atribuímos às palavras e aos enunciados de

nossa língua. O componente gramatical refere-se aos recursos formais da língua que

utilizamos, em seus níveis fonológico e morfossintático. A utilização desses dois últimos

componentes é filtrada pelo componente pragmático. Todos os falantes de uma língua

possuem esses conhecimentos, antes mesmo de entrar para a escola. É que todos nós

possuímos uma competência lingüística e comunicativa que nos permite construir esses

conhecimentos no contato com os outros e vivenciando interações. Ao longo de nossa vida,

apenas ampliamos esses conhecimentos, com base nas novas interações que

experimentamos.

Page 28: Apostila  de Produção de Textos

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Observe os textos a seguir e procurem perceber que tipo de conhecimentos eles exigem

do leitor para o sentido seja processado.

Texto 1

Bipirizil e outros males

Rubem Braga

Uma delicada leitora me escreve, não gostou de uma crônica minha de outro dia

sobre dois bipirizantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica:

paciência. Mas o que a leitura estranha é que o cronista “qualifique o bipirizil, o

principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda”. E, diz mais: “Não é

possível que o senhor não biripize, e que, bipirizando, julgue um sentimento de tal

grandeza incômodo”.

Não, minha senhora, não bipirizo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a

lembrança que tenho de meu último bipirizil, anos atrás, foi exatamente isso que me

inspirou esse vulgar adjetivo – “incômodo”. Na época eu usaria talvez adjetivo mais

bonito, pois o bipirizil, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta

vida sentir que um grande bipirizil pode deixar apenas uma lembrança mesquinha:

daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu.

Não sei se vale a pena lhe contar que minha bipirizada era linda; não, não a

descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era

linda, inteligente, pura e gabita – e não me tinha, nem de longe, bipirizil algum; apenas

uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias.

A história acaba aqui: é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu

poderia ter cotado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Figicou, doeu e –

perdoe, minha delicada leitora – incomodou.

Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara,

travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco: era uma cafu

que eu carregava o dia inteiro e no qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e

mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando

doía como sudica. Eu já tive um mês de sudica, minha senhora: dói de se dar guinchos,

de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra sudica, mas não volte

nunca um bipirizil como aquele. Sudica é uma dor burra que dói, mesmo, e vai

doendo; a dor do bipirizil tem de repente uma doçura, um instante de sonho que

mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um

menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma tapada numa pedra. É a

angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde

sentimento de ridículo e de importância, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a

alma, e a “vontade de chorar e de morrer”, de que fala o samba?

Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escreve, me tem alguma estima, por

favor: me deseje uma boa sudica.

Page 29: Apostila  de Produção de Textos

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Texto 2

Editorial

O DESCARALHAMENTO DAS RESPONSABILIDADES

Perry White

O país atravessa um momento de buraco. Somente com a retomada do buraco e o

reaquecimento do buraco poderemos alcançar a otimização do processo de buraco. A

pressão do buraco internacional é intolerável. Nossa classe trabalhadora já deu sua cota de

buraco. A trimestralidade do buraco é uma realidade. As Forças Armadas não permitirão,

em hipótese alguma, uma revisão do Buraco. O exemplo do Buraco argentino não deve ser

buraco aqui. Temos que dar todo nosso apoio ao governo do Novo Buraco do presidente

José Buraco, no que diz respeito ao corte no buraco.

Cidadãos, é hora de buraco! Em 15 de buraco todo eleitor consciente, munido de

seu buraco se dirigirá ao buraco eleitoral e depositará o seu buraco no buraco,

escolhendo livremente o buraco de seu buraco!

1. Estratégias de produção e de recepção de textos

A noção refere-se ao trabalho que desenvolvemos para produzir e compreender textos

orais ou escritos. No caso da recepção de textos, a noção procura designar os processos que

desenvolvemos para integrar a informação visual ou sonora ao nosso conhecimento prévio.

No caso da produção de textos, refere-se aos processos que empregamos para selecionar o

que e como dizer. Em ambos os casos, a noção recobre, na verdade, o processo de

articulação que promovemos entre as condições de produção e de recepção de textos e os

produtos nelas gerados: a significação que produzimos, as imagens que construímos de nós

mesmos, dos outros e para os outros, do mundo e de seus fenômenos.

É isso, afinal, o que a relação de interação lingüística nos possibilita: não apenas a

comunicação e a recepção de nossas idéias, sentimentos e emoções, mas, sobretudo, a

própria produção de nós mesmos, do outro e do mundo, ainda que essa produção seja

sempre provisória e instável.

Page 30: Apostila  de Produção de Textos

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