Apenas Começando - Espirita

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    Elisa Masselli

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    RevisoSumio Yamada Okada

    Capa

    Cler Mazalli

    Zap design & publicidade

    DiagramaoEdmilson Moreira

    Ia

    Edio da Mensagem de LuzDezembro de 2011

    Publicao e distribuioMENSAGEM DE LUZ EDITORA

    Rua Texas, 333Brooklin Paulista - So Paulo - SP - CEP 04557-001

    Telefone: (11) 3044-4130Site: www.mensagemdeluz.com.br

    E-mail: [email protected]

    proibida a reproduode parte ou da totalidade

    dos textos sem autorizaoprvia do editor

    http://www.mensagemdeluz.com.br/mailto:[email protected]:[email protected]://www.mensagemdeluz.com.br/
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    Sumrio

    Surpresa 7

    Momento de deciso 13

    A descoberta 19

    Palavras de conforto 25

    Uma histria incrvel 31

    O recomeo 55

    A receita da infelicidade 65

    A fora do dinheiro 71

    A vida recomea 93

    Situao inesperada 99

    Tomando conhecimento 105

    A histria de Julia 115

    Tomando uma atitude 147

    Deciso fatal 153

    Ato de desespero 163

    Visita amiga 177

    Apenas comeando 185

    O sonho 191

    Socorro espiritual 201

    Eullia 215

    Uma histria real 227

    O baile 237

    Vida nova 253

    A cerimnia 265

    A entrega 281

    A e spera ,,,,,, 289

    O d e s f e c h o 297

    Livre arbtrio 315

    Sentindo na p e l e , 327O esclarecimento 333

    Eplogo 345

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    Surpresa

    Suzana abriu os olhos, estendeu o brao para o lado da cama emque Anselmo dormia. Ele no estava ali. Sorriu e pensou:

    Ele, como sempre acontece quando est bravo, saiu sem se despedir.

    Voltou-se e olhou para o relgio:Estou atrasada, preciso me preparar e ir para o trabalho. Hoje o

    grande dia!Levantou-se e enquanto se vestia, pensava:No entendo por que Anselmo fica to nervoso com o meu traba

    lho. Ele no entende que tenho uma carreira e que preciso zelar por ela...Em poucos minutos estava pronta para sair. Antes, passou pelo

    quarto de Rodrigo que dormia tranquilo.Sorriu e foi para a cozinha. Edite estava junto ao fogo. Bom-dia, Edite. Bom-dia, dona Suzana.

    Enquanto tomava uma xcara de caf, Suzana perguntou: Quando Anselmo saiu, voc j estava acordada? Sim, ele tomou um caf e saiu, rapidamente. No estava com

    a cara boa, no.Suzana sorriu: Sei disso, mas no se preocupe. Hoje noite, quando eu voltar

    com uma tima notcia, o mau humor dele vai passar. Tomara, dona Suzana. No gosto quando vocs brigam e

    Rodrigo tambm no. Ele fica irritado. Ele no viu nossa briga. J estava dormindo. Ainda bem, acho que ele no precisa assistir. O menino sente

    quando alguma coisa no est bem. Talvez voc tenha razo, vou prestar ateno, mas tudo issovai passar. Agora, preciso ir.

    A senhora s vai tomar essa xcara de caf, no vai comer? No, Edite, preciso ir.

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    Apenas comeando

    A senhora precisa se alimentar...Suzana sorriu, pegou a bolsa e saiu. Chamou o elevador, que, para

    ela, demorou a chegar.Na garagem, entrou em seu carro, o modelo do ano, ligou o motor,

    acelerou e saiu.Durante o caminho, enquanto dirigia, pensava:No entendo por que Anselmo fica to nervoso e briga quase to

    dos os dias. Ele sabe que estou trabalhando e que meu trabalho tomaquase todo meu tempo. Por mais, que eu fique no escritrio, ele nunca

    termina. Eu adoro meu trabalho...Enquanto dirigia, com o trnsito quase parado, pensava:Ontem noite, quando cheguei, ele estava vendo um filme na

    televiso. Assim que entrei, me aproximei, dei-lhe um beijo e falei: Boa-noite, Anselmo.Ele olhou para mim, ficou calado e voltou os olhos para o filme que

    estava assistindo. Aquilo me deixou nervosa. Estou dando boa-noite, Anselmo! Voc sabe que no gosto de conversar, quando estou vendo

    um filme.Eu sei que ele no gosta de conversar, quando est assistindo a

    um filme, mesmo assim, me aproximei e dei-lhe um beijo no rosto. Sei que no quer conversar agora. Vou ver se tem algumacoisa para comer.

    Para minha surpresa ele desligou o aparelho de televiso, levantou-se e disse:

    Precisamos conversar, Suzana! Estava esperando voc chegar. Agora no, Anselmo. Estou morta de cansada. O dia no foi

    fcil. Vou tomar um banho, comer alguma coisa e me deitar. Precisodormir...

    Ele, no conseguindo esconder o nervosismo, disse: justamente sobre isso que precisamos conversar. J sei o que vai dizer. Por isso, prefiro no conversar agora.

    Vamos deixar para outra hora. Voc sempre diz isso! Sempre quer conversar em outra hora!

    Porm, essa hora nunca chega! Por favor, Anselmo...Ele, olhando firme em meus olhos, quase gritou:

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    Surpresa

    No posso mais esperar! Nosso casamento no existe mais! No entendo o que est dizendo. Somos casados h seis anos.

    Como pode dizer que este casamento no existe? No existe, Suzana! Quase no nos vemos! Voc s se preo

    cupa com o seu trabalho!Furiosa, eu disse gritando: Preciso me preocupar! Do meu trabalho depende tudo o que

    temos, a vida que levamos! Por causa dele, vivemos em um apartamento como este e temos o melhor carro do ano! Por causa dele, noprecisamos nos preocupar com as contas para pagar nem com a comida que precisamos comprar! Por causa dele, Rodrigo pode frequentaruma das melhores escolas! Como voc quer que eu no me preocupecom o meu trabalho?

    Sei que tudo isso importante para voc, mas, para mim, omais importante ter uma famlia! chegar do trabalho, poder jantar econversar com minha mulher, mas ela nunca est. Nem parece quevoc minha mulher! uma estranha, uma companheira de quarto!Estou farto de tudo isso e vou embora!

    At agora, no me conformo com a atitude dele. Nervosa, continuei gritando:

    O que voc quer? Quer que eu pare de trabalhar? No, Suzana! Quero que encontre um trabalho que no precise

    ficar at to tarde! Que possa comear a trabalhar s oito horas e sair sseis da tarde, como quase todo mundo faz! Quero ter a sua presena!Quero ter uma mulher em casa para poder conversar e at namorar!Isso no acontece h muito tempo, voc est sempre cansada!

    Voc no sabe o que est falando, Anselmo! Se eu trabalharda maneira como voc fala, meu salrio vai cair muito e no foi paraisso que passei a minha vida toda estudando, me preparando para ofuturo!

    Meu salrio no to pouco, Suzana! No precisamos morar

    em um apartamento luxuoso como este, podemos morar em um menor,porm, poderemos viver como uma famlia de verdade!

    No suportei e comecei a rir: O que est dizendo? Com o seu salrio, voltaremos a morar

    em apartamento, de dois quartos, igual ao que moramos quando noscasamos?

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    Por que no, Suzana? Naquele tempo, tnhamos uma vida maissimples, porm, feliz. Conversvamos muito, fazamos planos.

    Est certo, fazamos planos! Queramos ter filhos, melhorar devida, morar em um lugar melhor, ter um bom carro! Conseguimos tudoo que sonhamos! No entendo por que est reclamando! Esperei trintae cinco anos para ter meu primeiro filho! Fiz isso, porque queria que eletivesse de tudo! Isso, ele tem!

    Realmente, ele tem de tudo, s no tem uma me! O que est dizendo?

    Isso que ouviu! Sou eu quem o leva para a escola e quem opega tarde. Quando voc chega, ele j est dormindo. Ele pensa quea professora ou a empregada sua me! Ele no conhece voc comome, Suzana! Voc aquela que, nos fins de semana, leva-o para passear, e d tudo o quer, muito mais do que ele realmente precisa!

    Ao ouvir aquilo, no suportei, sai da sala e fui para meu quarto.No me conformo com o que ele pensa de mim! No disse, mas sequiser ir embora que v! No preciso dele nem de ningum! Tenhomeu trabalho e hoje vai ser o grande dia! Com a compra da nossaempresa por uma multinacional, nessa reunio que vai acontecer, provavelmente, vou me tornar presidente da empresa, aqui no Brasil e vou

    crescer ainda mais. Meus sonhos ainda no terminaram.Chegou diante do porto da empresa. O guarda que estava na guarita,sorriu e abriu o porto, por onde ela, acelerando o carro, entrou.

    Estacionou o carro na vaga que lhe pertencia. Olhou o relgio emseu pulso, sorriu e desceu.

    Enquanto andava em direo portaria, pensou:Ainda bem que cheguei a tempo. Da maneira como estava o trnsito,

    temi no chegar na hora. Tenho ainda, alguns minutos para me preparar.Dessa reunio, depende o meu futuro. Ainda bem que cheguei a tempo.

    Entrou e, quando passou pela recepo, uma moa que estavasentada diante de um computador, disse:

    Bom-dia, dona Suzana. Bom-dia, Helena. Dona Suzana, tenho um recado para dar a senhora. Recado? Qual? O doutor Santana pediu para eu lhe dizer, antes de entrar para

    a reunio, que a senhora passasse nos recursos humanos.

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    Surpresa

    No recursos humanos? Por qu? No sei. Apenas estou dando o recado. Est bem, obrigada.Caminhou em direo ao elevador. Preocupada, pensou:O que est acontecendo? Talvez seja por eu no ter tirado minhas

    frias ou, quem sabe, vou ter um aumento de salrio...Ansiosa, chegou a uma sala. Bateu levemente e entrou. Assim que entrou, uma senhora se aproximou: Bom-dia, Suzana. Bom-dia, Judite. Recebi um recado para vir at aqui. Do que

    se trata? Infelizmente no tenho uma boa notcia, Suzana. O que aconteceu, Judite? O doutor Santana pediu que voc assinasse esta carta de de

    misso. O que? Demisso? Sim... No pode ser! Ele no pode ter feito isso! O que aconteceu? No sei, Suzana. Voc conhece o doutor Santana. Ele no fala

    muito. Helena, sua secretria me trouxe a carta e disse que era para

    comunicar a voc. No pode ser! Vou conversar com ele! Helena disse tambm que, hoje, ele no vai poder conversar

    com voc porque est se preparando para uma reunio muito importante. Disse que era para voc ir para casa e, quando ele tiver umtempo, vai mandar cham-la.

    Sei dessa reunio. Tambm me preparei para ela! O que aconteceu, Judite?

    No sei, Suzana. Tambm estou intrigada. Voc uma dasprincipais assessoras dele. No sei mesmo...

    Suzana, sem conseguir evitar, comeou a chorar.

    Isso no pode estar acontecendo, devo estar sonhando...Judite, penalizada, segurou a mo de Suzana e disse: Sei que este momento difcil, mas no passa de um momento,

    Suzana. No final tudo sempre d certo. Como pode dar certo, Judite? Nunca passou pela minha cabe

    a que isto pudesse acontecer! Pensei que, com a compra da empresa

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    por outra, minha posio seria melhorada! Como voc mesma disse,eu era a principal assessora do doutor Santana! Preciso muito deste

    emprego! Acabei de comprar um apartamento, sem o emprego, comovou conseguir pagar as prestaes?

    No se preocupe, Suzana. Voc tem capacidade e logo encontrar um novo emprego e, quem sabe, at melhor do que este. Nadasabemos da nossa vida. Pensamos que temos controle, mas, no final,no temos controle algum. Deus quem sabe o que melhor paracada um de ns e nada acontece sem a sua permisso.

    Suzana, ao ouvir aquilo, ficou possessa: De que planeta voc , Judite? Acredita mesmo que posso

    encontrar outro emprego que receba um salrio melhor do que esteque recebo aqui? Isso impossvel!

    Impossvel, por qu? O pas no est em um bom momento. Est em recesso!Sabe que no existem muitas vagas para pessoas com um currculoigual ao meu! O que vou fazer?

    Agora, nada pode fazer, Suzana. Sugiro que v para sua casa eque entregue sua vida nas mos de Deus. Ele, com certeza, sabe o quevoc precisa e vai indicar um caminho. Tenha f, minha amiga...

    Para voc que est empregada, fcil pensar assim, mas paramim, um horror! Deus no est preocupado comigo, Ele tem muitoque fazer! No sabe do que preciso, eu que sei!

    Judite sorriu, mas ficou calada.

    Suzana, sem ter mais o que dizer, despediu-se e saiu.Na garagem, entrou no carro e, desesperada, acelerou e saiu semdestino.

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    Momento de deciso

    Enquanto isso, Anselmo chegava empresa onde trabalhava. Antesde entrar, foi at a uma lanchonete que ficava em frente. Ainda naporta de entrada, olhou para uma das mesas. Nela, estava sentadauma moa, que, ao v-lo, sorriu.

    Ele, tambm sorriu e foi at o balco, pediu caf, um po commanteiga e caminhou em direo onde a moa estava sentada. Sentou-se.

    Bom-dia, Julia! Bom-dia, Anselmo. Hoje, voc se atrasou. Aconteceu alguma

    coisa? Nada aconteceu, foi somente o trnsito.

    Est tudo bem na sua casa? Conversou com ela? No. Nada est bem, Julia. Tentei conversar com Suzana, mas,como sempre, no consegui. Ela est muito preocupada com seu trabalho e com uma possvel promoo.

    Voc precisa tomar uma deciso, Anselmo. No podemos continuar como at aqui.

    Tambm acho que essa situao no pode continuar, mas vocno tem o direito de me cobrar coisa alguma.

    Como no? Estamos juntos h mais de dois anos! No precisa se alterar, Julia. Estou dizendo isso, porque, quan

    do comeamos, voc sabia que eu era casado e que no pretendiaabandonar minha famlia. Lembro-me que deixei isso bem claro. Euno enganei voc.

    Ela, incrdula, ficou olhando para ele que continuou: Sabe que no posso simplesmente abandonar meu fdho. Ele

    ainda muito pequeno... Voc no se separa, apenas por causa de seu filho ou porque

    ainda gosta dela? De onde tirou essa ideia? Claro que por causa do meu filho! Algum disse que o homem casado sempre vem com essa

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    conversa, de que no abandona a mulher por causa dos filhos, masest mentindo.

    Como mentindo? Por qu? Simplesmente mentindo. Quando ele no gosta mais da mu

    lher, no suporta mais ficar com ela, d toda assistncia aos filhos e saide casa. Quando o homem usa os filhos como desculpa, na realidade,quer ficar com as duas.

    Isso no verdade! Sabe o quanto gosto de voc, mas meufilho muito importante. Ele nasceu porque eu quis, no justo que

    cresa longe de mim! Eu sempre disse a voc o quanto ele importante para mim!

    Sei disso, mas, depois de tanto tempo e da maneira como sequeixa da sua mulher, achei que isso ia mudar.

    Pode ser que acontea que eu deixe minha casa, mas vocprecisa esperar. Preciso pensar muito bem, antes de tomar uma atitudecomo essa. No quero traumatizar o menino.

    Voc diz que gosta de mim... Gosto, Julia, mas precisa ter pacincia. Ainda vamos ficar juntos. Tem certeza? Claro que tenho. Se no tivesse voc ao meu lado, no supor

    taria a vida que estou vivendo. Est bem. s isso que tenho feito... esperar por voc...Ele sorriu: Se no estivssemos aqui, eu daria um beijo em voc, mas

    como no posso, acho melhor irmos trabalhar.Ela, levantando-se, tambm sorriu e disse: Tem razo. Vamos trabalhar. Est na hora.De mos dadas, caminharam em direo empresa. Antes de

    entrarem, ele apertou sua mo levemente e entrou. Ela sorriu, tambmapertou a mo dele, atravessou a rua e entrou na empresa em quetrabalhava.

    A empresa em que ele trabalhava era do ramo alimentcio. Estavaali, desde quatorze anos. Comeou como ajudante e, agora, era gerente do departamento de vendas. O seu salrio era bom. Nem um terodo de Suzana, mas, com ele, poderiam ter uma boa vida.

    Assim que entrou no escritrio, Anselmo sentou-se. Dois rapazesentraram em seguida. Eram vendedores que estavam sob sua superviso.

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    Momento de deciso

    Atendeu os dois, deu alguns telefonemas. Olhou para um porta-retratos, onde havia uma fotografia de Suzana e de Rodrigo. Com tristeza, pensou:

    Meu filho, amo tanto a voc, mas acho que vou ser obrigado a sairde casa. No tem como continuar vivendo com a sua me. Ela setransformou em uma pessoa desconhecida para mim.

    Sem que ele imaginasse, estavam ali, dois vultos um homem euma mulher. Ela olhou para ele que sorriu e estendeu suas mos emdireo cabea de Anselmo, que, sem saber por que, lembrou-se do

    dia em que conheceu Suzana.O que est acontecendo? Por que estou me lembrando daqueledia? Acho que estou sentindo saudade daquele tempo. Quando noscasamos, nos amvamos e tnhamos muitos sonhos, mas com o tempo,eu mudei, Suzana mudou e tudo mudou.

    O telefone tocou, ele atendeu. Era um cliente que fez uma reclamao. Ele contornou a situao e o cliente, satisfeito, desligou. Elevoltou a pensar:

    At aqui, por Suzana ser como , tenho me envolvido com vriasmulheres, mas por nenhuma senti o que sinto por Julia. Ela maravilhosa.

    Marta, sua secretria, entrou, ele assinou alguns papis e voltou apensar:

    Nosso casamento se tornou uma rotina. Ela trabalha, eu trabalho. Ela, apesar de tudo que adquiriu, sempre quer mais. Paramim, o importante a aventura, a conquista.

    O que foi agora, Marta? O doutor Alfredo pediu para o senhor v at a sala dele, agora. Agora, no posso sair daqui! Estou recebendo os vendedores! Eu disse isso a ele, mas disse que precisa ser agora. Voc sabe o que est acontecendo? No. No sei. Ele me pareceu muito ansioso. melhor o se

    nhor ir e, se algum vendedor chegar, pedirei que espere.

    Est bem, vou ver o que ele quer. Deve ser alguma bomba queest para estourar. Ele quase no conversa comigo...

    Ela sorriu: verdade, mas a notcia pode ser boa. Tomara. Estou indo e se algum chegar, pea que espere.

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    Apenas comeando

    Intrigado, levantou-se e foi para a sala do diretor. No podia imaginar do que se tratava, mas pela urgncia, parecia ser importante.

    Caminhou alguns passos e parou em frente a uma porta. Demorou alguns segundos, depois bateu e entrou. Por detrs de uma mesa,um senhor que estava sentado, levantou-se:

    Bom-dia, Anselmo, que bom que veio logo. Estava ansiosopara conversarmos. Sente-se.

    Ainda intrigado, Anselmo afastou uma poltrona e sentou-se.Sorrindo, o senhor disse:

    Sei que no est entendendo o que est acontecendo, nem omotivo de ter chamado voc.

    Confesso que verdade. No imagino o que possa ser. Voc trabalha nesta empresa, desde que era muito jovem. Pas

    sou por vrios departamentos, aprendeu tudo sobre ela, mas s se encontrou realmente quando foi trabalhar com vendas. Mostrou-se umtimo vendedor e, depois um excelente gerente de vendas. Hoje possogarantir que, graas a voc, temos a melhor equipe de vendas quepossa existir. Nossos vendedores, influenciados por voc sentem-semotivados e valorizados, por isso, fazem um bom trabalho.

    Obrigado, senhor, mas devo destacar que eles so excelentes.

    Isso porque voc soube escolher os melhores. Obrigado mais uma vez, mas ainda no entendi o motivo de

    estar aqui. Como disse, temos a melhor equipe de vendas que possa exis

    tir, porm, o mesmo no est acontecendo com nossa filial em Recife.Estamos tendo prejuzo e precisamos reverter essa situao.

    Anselmo olhou para ele e perguntou: Aonde o senhor quer chegar? Viu como voc esperto? Quero chegar exatamente onde

    est pensando. Tivemos uma reunio de diretoria e resolvemos fazeruma proposta a voc.

    Que proposta? Precisamos que v para o Recife por um ou dois anos, oumenos, at conseguir montar uma equipe de vendas to boa como aque temos aqui.

    Anselmo, um pouco tonto, levantou-se e quase gritando, perguntou: Para Recife?

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    Descoberta

    Enquanto isso, Suzana, h muito tempo, dirigia sem destino. Comuma das mos, enxugava as lgrimas que insistiam em cair. No conseguia entender nem se conformar com o que havia acontecido:

    Como isso foi acontecer? Durante quase dez anos me dediqueitotalmente para a empresa. Trabalhei todos os dias at altas horas para

    que todo o trabalho ficasse pronto. Sempre fui uma funcionria exemplar. Como o doutor Santana pode me despedir, logo agora que penseiter chegado ao que sempre desejei? Pensei que fosse me tornar presidente da empresa! Isso no pode estar acontecendo! Devo estar sonhando! Sonhando, no! Tendo um pesadelo!

    Parou o carro em um semforo. Muito nervosa pensou:Preciso conversar com Anselmo. Sei que ele no vai acreditar no

    que aconteceu. No sei o que fazer. Talvez ele tenha alguma ideia.O semforo abriu e ela continuou em direo ao trabalho de

    Anselmo.A hora do almoo chegou. Anselmo pegou a carteira e saiu. Quando

    chegou rua, Julia, sorrindo j o esperava. Ele se aproximou e, tambm sorrindo, beijou sua testa. Juntos e de mos dadas caminharamat o restaurante onde comiam todos os dias.

    Nesse exato momento, Suzana passava pela rua. Estava procurando um lugar onde pudesse estacionar o carro. Viu quando Anselmosaiu da empresa. Tentou chamar, mas ele no ouviu. Ficou petrificadaquando viu ele se aproximar de Julia, beijar seu rosto e sarem caminhando de mos dadas para o lado oposto ao dela. Furiosa, parou ocarro no meio da rua e pensou:

    O que est acontecendo aqui? Quem essa mulher?Os carros que estavam atrs comearam a buzinar. Suzana, des

    controlada, acelerou o carro e continuou procurando um lugar paraestacionar.

    Aps dirigir por alguns metros encontrou um lugar junto calada,onde poderia parar. Rapidamente estacionou o carro desceu e, apres-

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    sada, quase correndo foi para o restaurante que havia ali perto. Muitonervosa, pensava:

    Eles devem ter entrado ali para almoar!Entrou e, ainda da porta, pde ver Anselmo e Julia que conversa

    vam. Ele comeava a contar sobre o convite que havia recebido.Suzana entrou e se aproximou: Anselmo, quem essa mulher?Ao v-la, Anselmo empalideceu. Julia sentiu o corao disparar e

    quase no conseguia respirar. Aps alguns segundos, ele conseguiu dizer: Suzana! O que est fazendo aqui? Isso, agora, no importa! Quero saber, quem essa mulher?Anselmo olhou para Julia, percebeu como estava nervosa. Ga

    guejando, respondeu: E Julia, uma amiga do trabalho.Olhou novamente para Julia e continuou: Julia. Esta Suzana, minha esposa.Furiosa, Suzana falou alto: Amiga do trabalho? No precisa mentir. Vi quando se encon

    traram e quando voc beijou-a na testa e, depois, quando caminharamjuntos de mos dadas!

    No o que voc est pensando, Suzana... mas... o que estfazendo aqui?

    Antes que ela respondesse, Julia ao ouvir o que ele disse, levantou-se e, sem nada dizer, tentou ir embora, mas Suzana segurou-a pelobrao e gritou:

    Aonde pensa que vai, mocinha?O grito foi to alto que as pessoas que tambm almoavam, olha

    ram para eles.Julia com um empurro conseguiu se livrar das mos de Suzana e,

    envergonhada, saiu rapidamente.Anselmo, constrangido, pegou com fora o brao de Suzana falou

    baixo: Vamos sair daqui, Suzana. As pessoas esto apreciando a cena

    que voc est fazendo.Ela, descontrolada, gritando, disse: Cena? Claro que estou fazendo uma cena! Encontrei meu

    marido aos beijos com outra mulher, queria que eu fizesse o que? Alm

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    Hoje no mais assim. O que vou fazer? Por que fui at aquelerestaurante? Como fui fazer uma cena como aquela? Por que noconsegui me controlar? Sou uma pessoa esclarecida, uma executiva! Me, o que vou fazer com a minha vida? Depois de desmascarar Anselmo, preciso tomar uma atitude, mas qual? A senhora diziaque ns temos a oportunidade de escolher o caminho que queremos, mas que caminho devo escolher? No sei, no sei. Como fazer uma escolha, neste momento que no tenho mais nada nem umcaminho para escolher?

    O vulto de mulher estendeu as mos sobre ela e disse: Sempre temos um caminho, minha filha, sempre temos uma

    escolha.Suzana no a ouviu, mas sentiu uma brisa sobre seu rosto. Conti

    nuou pensando:Diante de tudo o que aconteceu, a nica escolha, abandonar

    Anselmo! No posso aceitar sua traio!Um dos vultos olhou para o outro, depois para Suzana e, acenou a

    cabea de um lado para outro, dizendo: No, Suzana! Essa no a melhor escolha!Suzana continuou dirigindo.

    Anselmo, envergonhado, saiu do restaurante, foi at a garagem daempresa, onde seu carro estava. Entrou, ligou o motor e saiu.

    Enquanto dirigia, pensou:Agora est tudo terminado. Suzana no vai me perdoar. Algu

    mas vezes, senti vontade de que isso acontecesse, mas no fundo euno queria. Julia tem razo, eu amo meu filho, mas no posso negarque a Suzana tambm. Agora no tem mais volta. Ela no vai aceitaro que viu. Se antes eu sabia que ela no ia aceitar deixar o seu emprego para me acompanhar, agora, tenho certeza. No queria quefosse assim.

    Por estar nervoso, dirigia devagar e pensava:

    No entendo como Suzana foi aparecer daquela maneira. Jamaispoderia imaginar que isso poderia acontecer, muito menos hoje, um diato importante para ela. Um dia em que ela seria promovida. Ser queela desconfiou do meu relacionamento com Julia? No, isso no teriacomo acontecer. Ela no tinha tempo para pensar em algo assim. Sempre preocupada com o trabalho, quase nem me olhava. Ser que al-

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    A descoberta

    gum contou a ela? No sei. De uma coisa tenho certeza, nosso casamento terminou.

    Parou em um semforo e, enquanto ele no abria, lembrou-se deJulia.

    Ela ficou nervosa e constrangida. Afinal, naquela hora, no restaurante, estavam pessoas que trabalham na minha empresa e na dela.Com certeza os comentrios devem ser muitos. Talvez cheguem at oouvido do seu chefe e ela pode at perder o emprego. Isso no justo.

    Parado no semforo, continuou pensando:

    No tenho vontade de ir para minha casa. No sei o que vai acontecer nem o que vou dizer para Suzana.

    O semforo abriu e ele continuou a pensar:Ao invs de ir para casa, vou telefonar para Julia e ver como ela

    est. Com o fim do meu casamento, estarei livre. Pedirei a ela que vcomigo para Recife. Ser que vai aceitar?

    Passou por uma praa e viu um telefone pblico. Parou o carro edesceu. Olhou sua volta e viu uma padaria, pensou:

    Ali, provavelmente deve ter carto telefnico.Encaminhou-se para a padaria. Comprou o carto e foi at o tele

    fone. Discou o telefone do escritrio de Julia. Uma moa atendeu:

    Al! Por favor, preciso falar com a Julia. Ela no est. No est? No, no voltou aps o almoo. Est bem, obrigado.Desligou o telefone:Ela deve ter ficado to envergonhada que no teve coragem de

    voltar para o trabalho. Ser que foi para casa? Vou telefonar e descobrir.Ia discar os nmeros, mas pensou:Acho melhor no telefonar e conversar com ela pessoalmente.

    Deve estar nervosa e pode no atender o telefone.Voltou para o carro e dirigiu em direo casa de Julia. Ele conhecia muito bem o caminho, pois era ali que uma ou duas vezes porsemana passava momentos felizes.

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    Julia, envergonhada e chorando, saiu do restaurante. Caminhouat a esquina, onde acenou para um txi. Assim que ele parou, elaentrou e continuou chorando. Chorava sem parar. Com tanto desespe

    ro que o motorista, um senhor, preocupado, perguntou: Aconteceu algo grave, moa? Algum da sua famlia est doente?Ela se deu conta de onde estava e, secando os olhos com as mos,

    sem saber o que responder, mentiu: Estou bem, somente um problema no trabalho. Fui despedida.Ele comeou a rir; Isso no motivo para chorar dessa maneira. Existe muito

    trabalho por a e logo vai encontrar outro e, s vezes vai ser melhor doque esse que perdeu. No existe problema sem soluo. Sempre huma sada. A vida, s vezes, nos prega algumas peas, acho que paratestar a gente, mas logo tudo se resolve.

    Ela, voltando a chorar, disse: Para minha vida no existe soluo. No sei como vou continuar vivendo. Est tudo acabado. Estou muito triste.

    Estou percebendo que foi muito magoada, mas deixe para l.Confie em Deus, ele sempre nos mostra um caminho a seguir.

    Deus nada tem a ver com o que me aconteceu. Eu sou umaboba, acreditei em quem no merecia. Cometi um grande erro!

    Moa, pela minha experincia, no est chorando por causa detrabalho.

    Ela, tentando parar de chorar e no sabendo por que confiavanaquele homem que poderia ser seu pai, disse:

    O senhor tem razo. No fui despedida, o que aconteceu comigo foi muito pior. E eu fui a nica culpada. Embora soubesse quepoderia acontecer, acreditei que era diferente de todas as outras mulheres, mas no sou!

    Est se culpando, mas no deve se culpar. Por que no existem erros ou acertos. Existem apenas aprendizados que dia a dia va-

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    mos vivendo. Isso faz parte do nosso crescimento. Quando passamospor momentos difceis, sentimos e pensamos que o mundo vai acabar,mas no bem assim. Mais tarde, l na frente, vamos ver que aquiloque parecia ser to ruim, o fim do mundo, foi o melhor que poderia ternos acontecido e, quase sempre rimos de tanto sofrimento toa.

    Ela voltou a secar os olhos. Olhou para aquele homem estranhoque parecia saber o que ela estava sentindo. Perguntou:

    O senhor acredita, mesmo, nisso que est dizendo? Acredito, sim. J vivi muito e passei por muitas coisas. Hoje,

    quando me lembro de tudo, vejo que sempre em que pensei estar tudoperdido, acontecia alguma coisa ou aparecia algum para me ajudar,naquele momento difcil. Entendi que nunca estamos ss, moa. Temos sempre, ao nosso lado, amigos, que nem sabemos que existem,que nos ajudam a caminhar por esta terra de Deus. Acho que Deussempre encontra uma maneira de nos mandar um recado e, para isso,usa pessoas que nem conhecemos.

    Assim como est acontecendo agora com o senhor? Acha queest sendo usado por Deus para me ajudar?

    Ele comeou a rir: No, moa! Quem sou eu para ser usado por Deus? Sou apenas

    um motorista de txi. Tudo o que falei foi somente para acalmar voc!Os vultos, ao ouvirem aquilo, sorriram e jogaram luzes sobre os

    dois. Ele continuou: Quem sempre nos ajuda, so nossos amigos espirituais. Amigos espirituais? Sim. No estou entendendo o que est dizendo... muito complicado... No complicado. Pena que no podemos continuar conver

    sando. Chegamos ao seu endereo. Quem sabe, algum dia ns noscruzaremos por a e poderemos continuar essa nossa conversa.

    Gostaria muito de continuar conversando com o senhor, mas,

    como disse, cheguei.Ela pagou e desceu. Depois de descer, sorrindo, disse: Obrigada, senhor. A nossa conversa me ajudou muito.O homem, tambm sorrindo, falou: Deus a abenoe, moa. Espero que tudo d certo em sua vida.Acelerou o carro e se afastou.

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    Julia ficou olhando o carro se afastar e pensou:Que homem estranho esse? Parecia saber o que estava se

    passando comigo.Entrou no edifcio onde morava e tomou o elevador. Desceu no

    quinto andar, tirou da bolsa, um chaveiro, escolheu uma chave, abriu aporta e entrou.

    Assim que entrou, encontrou Sueli, uma amiga que dividia o apartamento com ela. Sueli, assim que viu Julia entrando, assustada, perguntou:

    Julia, o que aconteceu para estar a esta hora em casa?Julia, tentando disfarar, respondeu: Nada aconteceu, Sueli. Como nada aconteceu? Voc est com os olhos vermelhos.

    Esteve chorando?Sem responder, Julia voltou a chorar. Sueli, intrigada e preocupada,

    perguntou: O que aconteceu, Julia? Por que no est no trabalho? Nunca mais voltarei ao trabalho... Por qu? Foi despedida?Julia foi para o quarto e sentou-se na cama.

    Est bem, Sueli. Sei que no vai me dar sossego enquanto nosouber o que aconteceu. Sente-se aqui na cama. Vou contar o queaconteceu. Depois, voc vai me dizer se tenho razo por estar desesperada e se posso voltar ao trabalho...

    Sueli, assustada pela expresso do rosto da amiga, sentou-se eficou esperando.

    Julia contou tudo o que havia acontecido e terminou dizendo: Ele me enganou, Sueli! Nunca teve inteno de deixar a mulher!

    um canalha!Ao ouvir aquilo, Sueli levantou-se da cama e, olhando firme para a

    amiga, disse: Espere a, Julia! Eu conheo o incio desse romance e Anselmo

    sempre disse, desde o incio, que nunca abandonaria o filho, pelo fatode seu pai ter abandonado a sua me com quatro crianas pequenas.

    sempre disse que teve uma infncia muito difcil e que no queria queo mesmo acontecesse com seu filho! Voc no pode culp-lo por querer ficar com o filho, por no querer desmanchar a famlia!

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    Voc est contra mim, Sueli? No, Julia. Estou do lado da verdade. Ele nunca enganou voc.

    Sempre foi muito claro! Ele dizia isso, mas, quando estvamos juntos, nos nossos mo

    mentos de amor, sempre dizia que eu era uma mulher perfeita. Que oentendia e que o deixava feliz! Dizia que no havia outra igual a mim!Embora no falasse, dava a entender que, um dia, ficaria comigo. Eutinha esperana, mas, diante do que aconteceu hoje, vejo que no hesperana alguma. Fui uma burra mesmo! Hoje vejo que perdi um

    tempo enorme esperando que ele a abandonasse, que ficasse comigopara sempre.

    Voc fantasiou, imaginou algo que nunca existiu, Julia. Ele nuncadisse que faria isso. Quanto ao emprego, por que disse que nunca maisvai voltar?

    Depois de tudo o que contei, acha que posso voltar ao trabalho? Por que, no? Voc gosta do que faz e o salrio muito bom.

    Dificilmente encontrar outro trabalho igual. Sueli! Voc no ouviu o que eu disse? Claro que ouvi, mas ainda no entendo por que voc no pode

    voltar ao trabalho.

    Tudo o que contei, aconteceu na hora do almoo e no restaurante onde quase todos os meus colegas de trabalho estavam almoando e os que no estavam, a esta hora, j devem estar sabendo. Todosesto rindo de mim! Como posso voltar, Sueli?

    Voltando como se nada tivesse acontecido. Voc acha que anica mulher que fez a burrice de namorar um homem casado? Garanto que no . Muitas j fizeram isso e outras tantas faro.

    No posso encar-los... Claro que pode. Amanh, v trabalhar e, quando chegar, cum

    primente todos, d um sorriso como se nada tivesse acontecido. Garanto que, mesmo que estejam pensando algo, no tero como falarcom voc.

    Mesmo que no falem comigo, com certeza, estaro pensando. E da? Voc apenas uma funcionria, ningum tem nada a

    ver com sua vida particular. Entre e somente pense: quem nunca errouque atire a primeira pedra. Garanto a voc que todos escondero muitobem as mos. Voc no deve satisfao a ningum.

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    Tambm sempre pensei assim, mas agora vejo que no eraverdade. A opinio dos outros importa, sim. Estou envergonhada.

    No tem do que se envergonhar, como j disse; voc no aprimeira nem ser a ltima que deixou ou se deixar envolver por umhomem casado.

    Eu sempre soube disso, mas com ele era diferente. Pareciaque ele gostava mesmo de mim. Agora, que tudo terminou, no seicomo vou continuar vivendo sem ele! No sei, Sueli! Ele a razo daminha vida. Durante esses dois anos que estivemos juntos, vivi somen

    te para ele. Minha vida sem ele no tem sentido... prefiro morrer...desesperada, voltou a chorar.Ao v-la chorando, Sueli comeou a rir. Julia, indignada, perguntou: Por que est rindo, Sueli? Est feliz com o meu desespero? No, Julia! No estou feliz com seu desespero, s estou me

    vendo em voc. No entendi, me vendo em voc? Isso mesmo. Moramos juntas h muito tempo. J conversamos

    sobre muitas coisas, mas nunca sobre o meu passado. Tem razo. Nunca conversamos sobre o passado, voc tem

    alguma histria no seu passado?

    Sueli voltou a rir: Claro que tenho, Julia e quem no tem?Julia parou de chorar: Quer falar sobre isso? Querer, no quero, mas sinto que este o momento. Estou ansiosa. Est bem, vou contar a voc o que aconteceu comigo, mas

    antes, vamos tomar um ch. Voc est muito nervosa.Julia sorriu: Acho que voc tem razo. Estou precisando mesmo de um

    ch.Sueli, sorrindo, disse: Vamos para a cozinha e, enquanto eu fao o ch e tomamos,

    vou contar a minha vida.

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    Uma histria incrvel

    Na cozinha, Sueli colocou gua em uma panela, levou-a ao fogo esentando-se, comeou a falar.

    Hoje, voc me v feliz com o Eduardo, mas nem sempre foiassim. Eu morava no Rio de Janeiro com meus pais e dois irmos.

    Era a princesa da casa. Todos cuidavam de mim e faziam as minhas vontades. Era feliz. Meus pais so maravilhosos, porm sempre se preocuparam com a moral e a decncia das pessoas. Comdezoito anos terminei o colegial, queria muito ir para uma faculdade. No sabia bem o que queria ser, mas, fosse o que fosse euprecisava estar preparada para enfrentar um vestibular. Para isso,precisava continuar estudando. Embora no fosse pobre, meus paisno tinham como me manter em uma faculdade. Eu precisava tentar uma Federal. Ao mesmo tempo em que queria continuar os estudos, sentia uma vontade imensa de ter o meu prprio dinheiro,resolvi que trabalharia e estudaria tambm. princpio, meu pai

    no aceitou a idia e disse: Voc no precisa trabalhar fora, Sueli. Tem tudo o que precisa

    para continuar estudando. Sua me nunca trabalhou e voc, quando secasar, no vai trabalhar tambm. Vai ter que cuidar da sua famlia.

    Aquilo era tudo o que no queria, Julia. Sem pensar, falei: Preciso trabalhar fora. No quero passar o resto da mi

    nha vida em casa, cuidando da famlia. No quer, por qu? um trabalho sem valor, me. Voc acha que, cuidar de uma famlia, criar e educar os filhos,

    um trabalho sem valor?

    No, me, claro que criar um filho algo maravilhoso, masacho que a mulher precisa de algo mais. Quero trabalhar fora, ter meuprprio dinheiro. No quero ficar em casa trabalhando muito, sem receber salrio.

    Sabia que minha me estava magoada, Julia, mas pensei:

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    No, eu no quero ser como a senhora! Quero ter a minhaprpria vida, ser dona de mim! No quero viver em funo dosoutros.

    Pensei isso, mas no falei. No queria magoar minha me,Julia. Com muito custo consegui convenc-los. Meu pai e meus irmosaceitaram, mas minha me imps uma condio:

    Pode trabalhar fora, mas s se continuar estudando. Como posso trabalhar e estudar ao mesmo tempo, me? No sei como vai fazer, mas essa a minha condio. Voc

    disse que no quer cuidar da casa e da famlia, pois bem, para que issoacontea, ter de ter uma profisso para poder ter a liberdade de escolher se quer ficar em casa ou no. Quero que saiba que no me arrependo de ter ficado em casa, cuidando de vocs. Por isso mesmo,quero que estude e tenha opo de escolher a vida que quiser.

    Ao ouvir aquilo, fiquei envergonhada, Julia, pois percebi queminha me sabia o que eu sentia em relao a ela. Senti que estavamagoada e desvalorizada e isso era o que menos eu queria. Apenassorri e beijando-a fui para meu quarto.

    No pode negar que sua me foi sbia. Hoje, voc umachefe de cozinha respeitada. No se esquea que essa uma profis

    so de homens! verdade, mas isso, com o tempo, vai mudar. Acredito quebreve, a mulher estar exercendo as mesmas funes que o homem.Estou dando os primeiros passos. Porm, no sobre minha me queestamos falando, estamos falando do meu passado, da minha histria.

    Tem razo, continue. Depois de muito procurar, consegui um emprego em um res

    taurante como auxiliar. Minha me concordou, pois eu trabalharia noite e teria todo o dia para estudar. Comecei como auxiliar, mas, empouco tempo, me dedicando muito, deram-me a chance e me torneigaronete. Gostava muito de atender as pessoas, por isso, as gorjetaseram altas. Com o tempo, me apaixonei por tudo aquilo e me convencide que queria trabalhar em um restaurante por toda a minha vida. Chegava mais cedo ao trabalho para ajudar o cozinheiro e aprender comopreparar e apresentar os pratos. Descobri que havia uma Faculdadeque preparava as pessoas para trabalharem em hotis e restaurantes.Resolvi que estudaria naquela escola. Procurei me informar e descobri

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    que as vagas eram limitadas, por isso, estudava a tarde e trabalhava noite. Tinha as manhs para descansar. Estudei e trabalhei muito. Emmenos de um ano, eu estava pronta para tentar a escola. Ela ficava emoutra cidade, distante daquela em que eu morava, por isso precisavater dinheiro no s para pagar a escola e comprar o material necessrio, mas, tambm para me manter. Sabia que minha famlia me ajudaria, mas no poderia arcar com todas as despesas. Por isso, sabendodas dificuldades que teria, escrevi uma carta escola contando a minha situao e a imensa vontade que eu tinha de estudar. No final, pedi

    uma bolsa de estudos. Sabia que seria difcil, mas no custava tentar.Enviei a carta e fiquei esperando uma resposta.

    Voc conseguiu a bolsa, Sueli? Fiquei esperando a resposta, Julia, mas a vida nem sempre

    da maneira como imaginamos. O que aconteceu? Em uma noite, ao entrar no salo, onde eram servidas as refei

    es, notei que vrios homens entraram e sentaram-se em uma dasmesas que ficavam no meu setor. Fiquei feliz, pois, pelo porte dos homens, sabia que a gorjeta seria alta. Servi a mesa da melhor maneirapossvel. Eles comeram, beberam e conversaram. Quando terminaram

    de comer, eu apresentei a conta e, como previra, a gorjeta foi alta o queme deixou muito feliz. Todos se levantaram e eu fiquei esperando quese afastassem. Todos saram, porm, um dos homens ficou para trs,me deu um carto, dizendo:

    Voc muito bonita, gostaria de poder voltar a v-la em outrolugar para podermos conversar. Neste carto tem o meu nome e onmero do meu telefone. Quando tiver um tempo, telefone e poderemos nos encontrar.

    Peguei o carto e, assim que ele saiu, sorri e joguei fora. Por que fez isso? No posso negar que fiquei impressionada com ele. Alto, mo

    reno, com mais ou menos trinta anos e um sorriso lindo, mas eu jestava acostumada com aquilo. Muitos clientes haviam me dado cartes ou simplesmente escreviam em papis o nmero do telefone, maseu nunca telefonava e eles nunca voltavam ao restaurante. Passaram-se alguns dias e eu j havia me esquecido dele, quando, em uma noite,para minha surpresa, ele voltou sozinho e sentou-se novamente em

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    uma das mesas do meu setor. Estranhei por v-lo de volta e como eraminha obrigao, aproximei-me e, sorrindo, entreguei-lhe o cardpio.Ele pegou, olhou e em poucos minutos fez o seu pedido. Servi a comidae me afastei para atender as outras mesas. Quando ele terminou decomer, fez um sinal para que eu me aproximasse. Assim que me aproximei, sorrindo ele disse:

    A comida estava muito boa. Pode me trazer a conta, porfavor?

    Tambm sorrindo, me afastei e voltei alguns minutos depois,

    trazendo-lhe a conta dentro de uma caderneta prpria. Ele olhou ecolocou o dinheiro: Pode ficar com o troco. Obrigada, senhor. Estava me afastando, quando ele falou:

    Espere um momento. Olhei para ele, intrigada. Ele perguntou:

    Como o seu nome? Sueli , respondi constrangida. Tem namorado? casada? No! Isso muito bom, pois a partir desta noite voc vai ser minha

    namorada e depois minha mulher. Ao ouvir aquilo, pensando ser uma piada, comecei a rir. Ele

    continuou: Por que est rindo, acha que estou brincando? S pode estar brincando. Nunca falei to srio em toda minha vida. Continuei achando graa e fui atender a outra mesa, Julia.

    Depois de atender a mesa, voltei a olhar para aquela em que ele estava. Ele havia sado. Era um pouco mais da meia noite, quando eu euma amiga, tambm garonete, samos. Para minha surpresa, ele estava ali, dentro de um carro, me esperando. Assim que me viu, saiu do

    carro, se aproximou e, sorrindo, disse: Como est a minha futura esposa ? No consegui conter uma risada, Julia. Ele, parecendo bravo,

    perguntou: Por que est rindo? No acredita no que estou falando?

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    Uma histria incrvel

    Pelo seu tom de voz, acreditei que estava sendo sincero erespondi:

    No sei se o que est dizendo verdade, mas hoje, nopodemos conversar. Est tarde e preciso ir para casa. Quem sabeoutro dia, em outra hora.

    Entre no carro, posso lev-la at a sua casa. Fiquei perturbada, sem saber o que fazer. Ele insistiu: Entre no carro, no tenha medo. Minhas intenes com voc

    so as melhores possveis. Quero mesmo que seja minha esposa!

    Olhei para minha colega, Dbora. Ela tambm me olhava comos olhos arregalados. Com a voz trmula, respondi: No, obrigada. Eu e minha colega, todas as noites, dividimos o

    txi. Moramos aqui perto. Tudo bem. Posso levar as duas. Entrem! No, obrigada. Olhe, l vem um txi. Um txi se aproximou. Com a mo dei um sinal e ele parou.

    Quando estvamos entrando, ele, segurando em meu brao, disse: Est bem. Entendo que hoje tarde, que voc no me conhe

    ce e que precisa ir para sua casa. Quero que saiba que estou sendosincero. Precisamos conversar, nos conhecermos melhor. Por isso,amanh, s duas horas da tarde, estarei esperando por voc ali nanaquela praa.

    Sem saber o que fazer ou falar, Julia, entrei no txi e Dborame seguiu. Assim que entramos, Dbora rindo perguntou:

    O que foi aquilo, Sueli? Esse homem parece estar apaixonado mesmo!

    Eu estava nervosa e tremendo, Julia. Meu corao batia forte.Nervosa, disse:

    Apaixonado? Ele parece um louco, Dbora! No, Sueli! Ele est mesmo interessado em voc e, tambm,

    no pode negar que ele muito bonito. Voc vai se encontrar com ele,amanh tarde?

    Est louca, Sueli? Claro que no! Eu no o conheo! Por isso mesmo deve ir. Eu no! Estou com medo! Medo do que? O que acha que ele pode fazer com voc em

    uma praa no meio do dia? V se encontrar e descubra se o que ele est

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    Anenas comeando

    dizendo srio mesmo. No tem nada a perder. Ele, alm de bonito, pelocarro que tem, parece ser rico. Eu no pensaria um minuto.

    No sei, no. Estou confusa. No pense muito! V se encontrar com ele s para vermos at

    onde vai tudo isso. Se quiser, eu fico de longe olhando vocs e, se elefizer qualquer coisa diferente, me aproximo e salvo voc. No podeperder essa chance de encontrar algum, Sueli. Voc s pensa no trabalho e no estudo. jovem, precisa pensar em outras coisas tambm.

    Olhei para ela e sorri. Ela morava uma rua antes da minha.

    Assim que o txi parou em frente sua casa, antes de descer, elasorrindo disse:

    At amanh, Sueli. No deixe passar essa chance. At amanh, Dbora. Vou pensar. Assim que o txi parou em frente minha casa, a porta da sala

    se abriu, Julia. Era minha me que nunca dormia antes de eu chegar.Desci do txi e entrei em casa.

    Boa-noite, Sueli. Est tudo bem? Boa-noite, mame. Est tudo bem, como sempre. Ainda bem. Tome o seu ch e v se deitar. No consigo me

    conformar com voc trabalhando at to tarde. Precisa arrumar outro

    emprego. Fomos para a cozinha. Todas as noites, ela preparava ch com

    torradas para eu comer antes de me deitar. Tomei o ch, comi as torradas e fui para a cama. Assim que me deitei comecei a pensar naquelehomem estranho:

    Dbora tem razo, ele mesmo muito bonito. Ser que no estsomente querendo brincar? No sei, ele me pareceu sincero. No seise vou me encontrar com ele... se eu for e ele no estiver l? Por outrolado, no custa ir para ver o que acontece. No sei o que fazer.

    Julia que ouvia com ateno, pegou mais um pouco de ch e, ansiosa,perguntou:

    O que voc fez, Sueli, foi se encontrar com ele?Sueli comeou a rir. Est mesmo curiosa, no , Julia? Claro que estou! Nunca ouvi uma histria como essa! Vou continuar, Julia. No dia seguinte, assim que acordei, voltei

    a pensar nele. Em seu rosto, seu sorriso, mas principalmente em seus

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    olhos que eram lindos. Passei toda manh pensando no que fazer. Depois do almoo, me troquei e sa. Minha me no estranhou, pois todosos dias eu saa para ir escola. Como morava perto da praa e dorestaurante em que trabalhava e por ser durante o dia, eu ia caminhando. Durante todo o caminho, pensava se ia para a escola ou para apraa. Finalmente, decidi:

    Vou at a praa e, se ele no estiver l, ainda d tempo de eu irpara a escola.

    Continuei andando e, assim que cheguei praa, vi que ele

    estava sentado em um dos bancos. Comecei a tremer e tentei me afastar, mas j era tarde. Ele tambm me viu e, levantando-se, caminhouem minha direo. Eu estava apavorada, sem saber o que iria dizerquando ele chegasse. Ele se aproximou:

    Que bom que voc veio, Sueli! Fiquei com medo de que noviesse!

    Eu, tremendo, calada, peguei a mo que ele me estendia. Sente-se aqui, temos muito que conversar. Nada sei sobre voc,

    somente que linda e que trabalha naquele restaurante. O que maisvoc faz?

    Sentei-me e, sem saber o porqu, senti-me bem e comecei a

    falar. Contei da escola e dos meus planos para o futuro. Gostava detrabalhar no restaurante e que queria, um dia, ser uma cozinheira deprestgio. Ele sorriu e disse:

    Fico feliz em saber que gosta de cozinhar, porque eu gosto decomer. Mesmo que no seja uma cozinheira de prestgio, vai cozinharpara mim e para nossos filhos.

    Voc no est indo depressa demais? No! Assim que a vi, soube que voc era a mulher da minha

    vida. Aquela com quem quero passar o resto dos meus dias. Comecei a rir, Julia. Fomos at a uma lanchonete e, enquanto

    comiamos um lanche e tomvamos um refrigerante, ele me contou queera dono de uma fbrica de calados e que tinha quarenta funcionri-

    os. Que ela fora iniciada por seu av, passada para os filhos e depoispara os netos. Que estavam no mercado h muito tempo, por isso tinham uma boa clientela. Conversamos muito. Quando samos da lanchonete, vi Dbora que estava sentada em um dos bancos da praa eque sorriu para mim. Tambm sorri e continuamos andando. Passamos

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    Apenas comeando

    a tarde toda conversando. Quando estava na hora de eu ir para o restaurante, ele disse:

    Como voc trabalha noite, o melhor que temos a fazer nos encontrarmos tarde.

    No posso, preciso ir escola. Pode faltar uma ou duas vezes por semana. No sei... preciso estudar... Ele, beijou minha testa e disse: O que voc precisa, ser minha mulher!

    Comecei a rir novamente: Voc s pode estar brincando. No estou brincando e vou demonstrar isso a voc! Daquele dia em diante, Jlia, comeamos a nos encontrar duas

    ou trs vezes por semana. Sempre em que vinha me ver, trazia ummao de rosas amarelas e, quando no nos vamos , ele mandava entregar no restaurante. Passevamos, amos ao cinema, lanchonete ousimplesmente ficvamos sentados em um banco na praa, apenas conversando ou amos, com o carro at uma rua deserta, dvamos beijos etrocvamos carcias, nada, alm disso. Aos poucos fui me apaixonandopor ele e em pouco tempo s queria estar ao seu lado o tempo todo.

    Saamos durante a semana. Durante os fins de semana, ele sempretinha uma desculpa para no vir me ver, porque precisava trabalhar,viajar para visitar clientes ou ir a um almoo de famlia que no podiafaltar. Eu estava to apaixonada que no me importava. Nunca desconfiei do que ele falava.

    No desconfiou mesmo, Sueli? No, Julia. Voc j no ouviu dizer que, quando estamos apai

    xonados , no enxergamos um palmo diante do nosso nariz? Hoje posso garantir que isso verdade. Para mim, tudo o que ele fazia e diziaera o certo e a verdade.

    Depois, o que aconteceu?

    Fazia quase seis meses que estvamos nos encontrando, quando em uma tarde, na praa, ele tirou do bolso um chaveiro com vriaschaves e me deu.

    Que chaves so essas, Nilson? perguntei intrigada. So suas. Minhas? No estou entendendo.

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    Uma histria incrvel

    Comprei uma casa para termos onde morar, depois quenos casarmos. Quero que voc v at l para ver e poder escolheros mveis que quer comprar.

    Casa? Sim, qual a surpresa, eu sempre no disse que amos nos

    casar? Disse, mas no pensei que fosse to rpido. Nem contei

    minha famlia que estou namorando. Acho melhor, por enquanto, no contar. Quando a casa

    estiver pronta, vou falar com eles e posso levar seus pais paraconhecer a casa, assim eles no tero como no consentir o nosso namoro e, depois o nosso casamento.

    Ele fez isso, Sueli? Ele fez. Por isso, disse a voc que Anselmo nunca a enganou.

    Voc sempre soube que ele era casado.Os olhos de Julia voltaram a ficar molhados e uma lgrima se

    formou. Ao ver aquilo, Sueli, nervosa, disse: Se voc for chorar outra vez, eu paro de contar o que aconte

    ceu comigo!Julia, rapidamente, secou a lgrima que se formara:

    No vou chorar. O que voc fez, Sueli? O que acha que fiz? Foi o dia mais feliz da minha. A nicacoisa que queria era conhecer a casa que seria minha! Ele abriu os

    braos e eu o abracei com toda a fora. Depois do abrao, ele, sorrindo perguntou:

    Vamos at a casa? Claro que sim! Entramos no carro e ele saiu dirigindo. A casa ficava em um

    bairro prximo quele em que eu morava. Entramos em uma rua ondehavia casas muito bonitas e todas possuam um jard im. Eu estava cada vez

    mais encantada. Ele parou o carro em frente a uma casa pintadade verde bem claro com as janelas pintadas em branco. Do lado es-

    querdo, havia um corredor largo e no final dele, podia-se ver uma gara-gem que tinha porta grande de madeira. Olhei para casa e perguntei:

    essa? Sim. Gostou? Ela linda!

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    Ainda no viu por dentro! Vamos entrar? Vamos! respondi, alucinada. Entramos pela porta da sala e eu fiquei mais impressionada

    ainda, Julia, pois a sala era imensa, bem maior do que aquela que eumorava com minha famlia. A casa tinha s dois quartos, mas eramamplos. Ele me pegou pela mo e me levou para que eu visse o quartoque seria o nosso. Entusiasmada e curiosa, segui-o. Ele abriu uma porta e pude ver um quarto, enorme! Senti que meus olhos brilharam defelicidade. Fomos ver a cozinha o banheiro e o quintal. Entramos nova

    mente na casa. Ele me abraando, perguntou: Que tal, gostou? Eu estava to emocionada que no conseguia responder. L

    grimas correram pelo meu rosto. Ele me abraou e beijou com carinho: No precisa chorar. Esta casa nossa e vamos ser muito

    felizes aqui. Samos do quarto e ele abriu outra porta. Outro quarto surgiu.

    Um pouco menor que o anterior, mas ainda assim grande. Com osbraos sobre o meu ombro, ele rindo disse:

    Voc vai escolher os mveis para toda a casa, menos para este. Por qu? Porque este vai ser o quarto do nosso filho. Como no sabemos

    se vai ser menino ou menina, precisamos esperar a criana nascer.Julia no se conteve: Nossa, Sueli, que bonito! Nossa mesmo, Julia! Eu no conseguia acreditar que aquilo

    estava acontecendo. Ele me deixou alucinada de tanta felicidade, masme deixe continuar, pois, se demorar mais um pouco no vou ter condies de terminar. Essas lembranas me fazem muito mal.

    Tem razo, Sueli. Voc deve ter sofrido muito, mas como descobriu que ele era casado?

    Voltamos para a sala. Embora a casa toda estivesse vazia, nasala havia um sof usado. Ele olhou para o sof, depois para mim e

    disse: O antigo dono deixou esse sof, mas disse que vem buscar

    logo mais. No tem importncia, Nilson. Estou to feliz que seria ca

    paz de ficar com ele aqui.

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    Ele sorriu e me abraando novamente, fez com que me sentasse. Comeou a me beijar e abraar com o mesmo carinho que eu jestava acostumada. As carcias foram ficando mais fortes e em poucos minutos me entreguei a ele com muita felicidade. Embora tenhasido a minha primeira vez, eu me senti muito bem, pois o amava e tinhaa certeza de que amos nos casar.

    Julia, que estava com a xcara na mo, tomou o ch de uma svez. No se conteve e disse:

    Ele era um ator, Sueli!

    Era, sim, Julia, e, felizmente, para ele, conseguiu o que queria. O que aconteceu depois, Sueli? Ele desapareceu? No, Julia. Depois daquele dia, comeamos a nos encontrar na

    casa e fomos comprar os mveis. Escolhi todos que queria e em poucotempo a casa estava linda, com os mveis, e at cortinas. Compramosroupas de cama, de mesa e toalhas. Eu era a mulher mais feliz destemundo. Tinha uma casa linda que seria s minha e um homem que euamava por quem era amada tambm.

    Julia suspirou fundo: Voc viveu momentos incrveis e felizes, no viveu, Sueli? Sim, vivi, mas, no final no compensou, pois os momentos de

    tristeza, tambm foram incrveis e no desejo a ningum nem ao meupior inimigo, o que passei.

    O que aconteceu, depois? Em uma tarde, eu estava na casa, quando ele chegou. Como

    sempre, ns nos abraamos, nos beijamos e acabamos no quarto e nosentregamos ao amor. Quando terminamos, perguntei:

    Quando vamos nos casar, Nilson? Naquele dia no percebi, Julia, mas depois, ao lembrar-me de

    tudo, lembrei-me tambm de que ele empalideceu e que levou algumtempo para responder:

    Por enquanto no possvel...

    Por que no?Amo voc, mas tenho alguns problemas para resolver. Outro

    dia, voltaremos a falar sobre isso. Como sempre, acreditei no que ele disse e no toquei mais no

    assunto. Mais algum tempo se passou. Continuamos a nos encontrarduas ou trs vezes por semana. Eu estava esperando que ele dissesse

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    que queria conhecer a minha famlia para podermos marcar o casamento, mas isso no acontecia. Sempre que eu tocava no assunto, eledesconversava. Aquilo comeou a me incomodar. Por isso, algum tempo depois, insisti:

    No podemos continuar assim, Nilson. A casa est pronta,j podemos marcar o casamento. No aguento mais ficar sem contar a minha famlia como estou feliz. Vou marcar para o prximodomingo, voc vai at l em casa e conversa com todos. Tenhocerteza de que apesar do susto, da surpresa, eles ficaro conten

    tes em saber que j temos at uma casa. Ele ficou me olhando, calado, Julia. Depois de algum tempo, vi

    que seus olhos ficaram vermelhos, cheios de gua e uma lgrima escorreu pelo seu rosto. Assustada, perguntei:

    O que est acontecendo, Nilson? Por que est chorando? Ele me abraou e deixou que os soluos se soltassem da sua

    garganta. Voltei a perguntar: O que est acontecendo, Nilson? Ele no respondeu e continuou chorando. Afastei-me de seus

    braos, segurei suas mos e, olhando firme em seus olhos, perguntei: Vai me contar o motivo desse choro?

    Ele sentou-se no sof, abaixou a cabea sobre o colo e, semme olhar, disse:

    Sei que nunca vai me perdoar, Sueli, mas tudo o que fiz foiporque a amo muito e no queria perder voc...

    Me perder, por qu? Levante a cabea, Nilson! Olhe para mim! Eu no quis enganar voc, mas, assim que a vi, senti que

    era a mulher da minha vida, aquela que estive procurando portanto tempo. No queria perder voc!

    Pare de repetir isso, Nilson e conte o que est acontecendo! Com a voz trmula e entre soluos, falou: No posso ir at a sua casa para falar com seus pais,

    porque no posso me casar com voc. No pode, por qu? J sou casado... Ao ouvir aquilo, larguei sua mo, me afastei e gritei:

    Casado ? Como pde fazer isso comigo ? Como pde meenganar dessa maneira?

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    Eu fiquei com medo de contar e voc me abandonar! Seisso acontecesse, no sei o que seria da minha vida!

    Sua vida? O que vai acontecer da minha, Nilson? O quevoc fez comigo ?

    Perdo, Sueli, mas no posso perder voc, me perdoa, porfavor.

    Perdoar? Como posso perdoar depois de ter sido enganada dessa maneira?

    Voc tem razo de estar to nervosa e eu mereo tudo que

    falar e pensar a meu respeito, mas, por favor, escute o motivo deeu ter escondido de voc a minha condio. Sua condio? No h condio! Voc casado e ponto

    final! No sou casado, estou casado, mas isso vai ser por pouco

    tempo. Eu estava nervosa e comecei a sair da casa, Julia. Ele me

    segurou pelo brao: No v embora, Sueli! Deixe-me contar o motivo de eu ter

    ficado calado. Voc precisa saber toda a verdade... Ele me segurou firme e fez com que eu me sentasse, Julia.

    Continuou falando: Sou casado h cinco anos. Tenho um menino com quatroanos. Tudo corria bem, at um ano atrs. Minha mulher sentiu muita dor no estmago, fomos ao mdico e foi constatado que ela tinhacncer em um estado avanado. O mdico me chamou, disse queela teria no mximo um ano de vida. Perguntou se eu queria quecontasse para ela. Eu disse que no, pois ela sofreria muito comessa notcia. Resolvi ficar ao seu lado, dando todo conforto possvel. Foi o que fiz e estou fazendo. No tenho como abandon-la.Foi nesse meio tempo que conheci voc. Eu logo percebi que voc

    poderia ser minha mulher e, me do meu filho. Ele lindo e, assimque conhec-lo, vai se apaixonar por ele. Ela est muito mal. O

    mdico disse que no h mais o que fazer que sua morte acontecera qualquer momento. Pode ser em um dia, uma semana, mas queno passa de seis meses. No posso abandon-la, Sueli. Eu amovoc e quero que seja minha mulher, mas tambm amo e respeito ame do meu filho, a mulher com quem passei momentos maravilho-

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    sos. Tenha pacincia, espere mais um pouco. Logo poderemos noscasar e comearmos uma vida de felicidade e sem mentiras...

    Julia estava boquiaberta: Depois de tudo isso que ele contou, voc teve coragem de

    abandon-lo, Sueli? No, Julia. Ele me pareceu to sincero que no tive como me

    afastar. Estava to apaixonada que no podia imaginar a minha vidasem ele.

    Sueli percebeu que Julia ia comear a chorar novamente, falou

    rpido: Ele abriu os braos e eu, chorando, me aconcheguei. De

    pois de me abraar e beijar, vrias vezes, ele disse: No vai se arrepender de ter me perdoado, Sueli. Vou fa

    zer de voc, a mulher mais feliz deste mundo! O que deu errado, Sueli? Por que vocs no esto juntos? Porque aprendi que, quando estamos no caminho errado, a

    vida se encarrega de nos trazer de volta. No estou entendendo... Daquele dia em diante tudo voltou a ser como antes. Alguns

    dias, durante a semana, ns nos encontrvamos naquela casa. Ele pe

    diu que eu no fosse mais escola, pois, por causa da doena da mulher no sabia quando poderia vir me ver. Eu, apaixonada e burra, aceitei tudo o que ele dizia. Deixei de frequentar a escola e ficava todas astardes, na casa, esperando que ele aparecesse a qualquer momento.Isso levou meses. Sempre que nos encontrvamos ele me falava damulher do quanto ela estava sofrendo e de como ele sofria por v-ladaquela maneira, que ela no merecia tanto sofrimento.

    Coitado... Tambm achava isso e muitas vezes pedi a Deus que a levasse

    logo, no s para ela parar de sofrer, mas para que eu pudesse mecasar com ele e completar a minha felicidade.

    Voc pensou isso, Sueli? Que horror!Sueli comeou a rir. Tem razo foi um horror mesmo e me arrependo muito, s no

    estou entendendo. Por que voc est fazendo essa cara de acusao,Julia?

    Desejar a morte de algum horrvel, Sueli.

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    Sueli continuou rindo. Do que est rindo? Da falsidade das pessoas. No entendo o que est dizendo. muito simples, Julia. Pode jurar que nunca desejou que a

    mulher de Anselmo morresse para poder ficar com ele para sempre?Julia olhou para Sueli como se no estivesse entendendo: O que est falando, Sueli? Vou repetir a pergunta: nunca desejou a morte da esposa de

    Anselmo para poder ficar com ele para sempre? Seja honesta nocomigo, mas com voc mesma. No se preocupe em ter desejado, poisisso acontece com todas as amantes. A nica esperana de ficaremcom o homem que amam que a sua mulher morra e posso garantirque todas, sem exceo, j pensaram isso, mesmo que seja s uma veze por um s minuto.

    Voc est sendo muito dura, Sueli! Ser, Julia? Ser que s no estou sendo honesta? Pode mes

    mo jurar que nunca teve esse pensamento?Julia ficou calada, apenas pensando.Sueli voltou a rir: Est vendo como no pode responder de imediato, Julia? Por

    que voc teve, sim, esse pensamento, nem que tenha sido apenas umanica vez.

    No sei o que dizer... No se preocupe com isso. No foi a primeira nem ser a

    ltima. Est certa, Sueli, mas ainda no entendi, o porqu de no estar

    com ele at hoje... Como eu disse, a vida se encarrega de nos mostrar o que preci

    samos ver e de nos trazer de volta ao rumo certo. Eu fiquei a cada dia,mais dependente dele e vivia em funo de tudo o que me dizia e pedia.Nos fins de semana, eu sabia que ele no viria me ver. No Natal, ano

    novo e todos os feriados prolongados acontecia a mesma coisa, eu pas-sava sozinha pensando nele, em como deveria estar sofrendo por estarlonge de mim. Em um sbado, antes de sair do restaurante, Dbora,minha amiga, me convidou para ir almoar na sua casa, pois era o ani-

    versriode sua me e seria um almoo especial. Por no ter o que fazer

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    e saber que Nilson no viria, aceitei. Ela me deu o endereo e, no domingo, bem cedo, sa de casa e fui me encontrar com Dbora. Ela era casada e morava perto da minha casa, com sua famlia em um bairro prximo. Seu marido trabalhava como motorista em uma empresa de nibus,por isso, naquele dia estaria trabalhando e no poderia ir almoar. Encontrei-me com ela e, juntas, tomamos um nibus. Enquanto o nibusandava, fomos conversando. Eu falei mais, contando de Nilson e da doena da sua mulher. O nibus parou em uma praa. Descemos. O diaestava ensolarado, por isso, muitos pais passeavam e brincavam com

    seus filhos. Assim que desci do nibus, vi a uns quarenta metros, Nilsoncom uma bola nas mos, parecia que ele ia jog-la para algum. Olheicom ateno e vi que, diante dele havia um menininho que sorria, esperando a bola. Nilson jogou a bola e o menino correu para peg-la. Sorri efiquei feliz por v-lo brincando com o filho. Aquela era uma oportunidadede eu conhecer o menino. Caminhei em sua direo. Quando estava meaproximando e, antes que Nilson me visse, o menino correu para o outrolado. Acompanhei-o com os olhos e, estarrecida, parei. Ele foi ao encontro de uma moa que, com os braos abertos, esperava que ele se aproximasse. Nilson tambm foi at ela. Assim que chegou, deu-lhe um beijono rosto e os trs sairam andando em minha direo. Eu estava petrifica

    da, paralisada, no s por ele estar com a mulher e o filho, mas, muitomais, por ela estar grvida. Assim que ele me viu, notei que empalideceu,mas fingiu no me ver. Passou por mim, sem me olhar e se encaminhoupara um restaurante que havia ali. Eu no sabia o que fazer. Fiquei l,parada, at que Dbora se aproximou:

    O que foi aquilo, Dbora ? O que o Nilson estava fazendocom aquela mulher? Ele no disse que ela estava doente?

    Vamos embora, Sueli. Est na hora do almoo. Meus paisesto esperando.

    Desculpe-me, Dbora, mas no estou em condies de almoar nem de ficar junto com outras pessoas. Preciso ficar sozinha e pensar em tudo o que aconteceu.

    No pode ficar sozinha, Sueli. Vamos l para casa, minha famlia muito animada e voc vai se distrair.

    No posso, Dbora. Preciso ficar sozinha. Leve este presente para sua me, pea desculpas e diga que um dia desses euvou almoar com ela.

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    Est bem, se assim que deseja vou fazer isso, mas tomecuidado com o que vai fazer. No faa nenhuma loucura.

    No se preocupe, s vou pensar no que vou fazer, daqui

    para frente, com a minha vida. V almoar e divirta-se. Preocupada, ela saiu e eu fiquei ali, parada, olhando para orestaurante.

    Como ele pde fazer isso com voc, Sueli? Julia, boquiaberta, perguntou.

    Fez porque eu permiti. Acreditei em tudo o que ele disse semme preocupar se era verdade ou no e me entreguei totalmente.

    O que voc fez? Foi at o restaurante? Minha vontade foi a de ir at l e desmascar-lo, Julia, mas

    pensei na mulher e no menino que nada tinham a ver com aquilo nemcom o mau carter de dele. Olhei minha volta e vi um banco ondepoderia me sentar e ver a porta do restaurante por onde Nilson haviaentrado. Sabia que, quando ele sasse no poderia me ver. Fiquei aliesperando, por muito tempo, at que finalmente eles saram. Assimque apareceu na porta, notei que ele olhou para todos os lados, prova-

    velmente me procurando. Quando achou que eu no estava por ali,passou um dos braos sobre os ombros da mulher e com a outra mosegurou a do menino e caminharam em direo ao carro, que, s ento,eu vi que estava estacionado do lado oposto ao que eu estava. Entraram no carro, e eu fiquei ali sem saber o que fazer com a minha vida.A nica coisa que eu queria, era morrer.

    Nossa! Imagino o que voc sentiu, Sueli! Imagino porque omesmo que estou sentindo em relao a Anselmo...

    No, Julia, no pode imaginar, porque Anselmo nunca enganouvoc da maneira como Nilson fez comigo. Sempre soube que ele eracasado Teve a opo de aceitar ou no. Resolveu aceitar. Eu no tiveessa opo.

    Julia ficou calada. Sueli continuou: Fiquei sentada naquele banco por muito tempo. Desesperada e

    inconformada no conseguia acreditar nem aceitar que ele tivesse feitoaquilo comigo. Comecei a delirar:

    No, ele no fez isso. Aquela mulher no sua esposa. Deveser sua irm ou amiga.

    Assim pensando, fui para nossa casa na esperana que ele

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    viesse para podermos conversar. Chorei o tempo todo. Eu faria qualquer coisa para no perd-lo, Julia. Fiquei ali o resto do dia, at quechegou a hora de ir para o trabalho. No sentia vontade alguma de ir,mas, por ser domingo, sabia que haveria muitos clientes para o jantar.Apesar de tudo, eu era e sou uma boa profissional. Fui para o restaurante e, como previra, houve muitos clientes. Dbora percebeu que euno estava bem, mas ficou calada, apenas me ajudou. Aquilo foi bompara mim, pois com tanto trabalho, no tive tempo para pensar. Algunsminutos que eu ficava parada esperando uma mesa vagar, eu pensava:

    Tudo isso um grande engano, um mal entendido. Quando eusair, sei que ele vai estar a fora me esperando como fazia no comeo.

    Quando sa, olhei para o lugar onde ele ficava me esperando,mas ele no estava l. Chorando, tomei o txi ao lado de Dbora e fuipara casa. Antes de entrar em casa, sequei os olhos para que minhame no notasse que eu havia chorado, mas foi em vo. Ela notou epreocupada, perguntou:

    Esteve chorando, Sueli? Sim, mas no se preocupe. Estou bem apenas problema

    no trabalho. Sabe o quanto brigo com o cozinheiro por ele demorar em preparar os meus pedidos.

    No entendo por que voc continua trabalhando com essehomem. No precisa trabalhar, seu pai e seus irmos ganham osuficiente para que fique em casa.

    Gosto do meu trabalho. Eu no queria continuar aquela conversa, por isso, disse:

    No vou tomar ch, estou muito cansada. Vou tomar umbanho e me deitar. V se deitar tambm, me. Quantas vezes eudisse para a senhora no me esperar? No precisa. Eu venho detxi, no h perigo algum.

    Ela no estranhou, porque s vezes, quando estava muito cansada, no tomava ch. Entrei no banheiro e enquanto me banhava, deixeique as lgrimas se misturassem com a gua e cassem pelo meu rosto.Aps o banho fui me deitar e chorei at que o sono me dominasse.

    Conseguiu dormir, Sueli? Sim, Julia. Embora no entenda como, adormeci. Acordei, olhei

    para as frestas da janela e vi que havia amanhecido. Continuei deitada,pensando em tudo o que havia acontecido. Ao me relembrar, recome-

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    cei a chorar. Iludida como estava, no conseguia acreditar nem enxergar a verdade diante de mim, pensei:

    Aquela moa no pode ser a mulher dele! Ela est doente eno poderia estar grvida! Ele disse que tem uma irm, deve serela. Vou telefonar. Sei que ele deve ter uma explicao.

    Levantei-me, disse minha me que ia estudar na casa deuma amiga. Sa, fui at a esquina e de um telefone pblico telefoneipara a sua empresa. Uma moa atendeu e, depois de alguns segundos,disse que ele no estava l. Acreditei no que ela disse, tomei um nibus

    e fui para a nossa casa, esperando que ele aparecesse. Durante essaespera, limpei tudo, troquei e lavei lenis e toalhas. Queria que, quando ele chegasse, encontrasse tudo em ordem. Porm, a espera foi emvo. Ele no veio. Fiquei l at a hora de ir para o trabalho. Todos osdias eu telefonava e ele nunca estava ou no podia me atender porestar em reunio. Mesmo assim, eu me recusava a acreditar que tudohavia terminado. O fim de semana chegou. Sabia que no poderia v-lo. mas, mesmo assim fui para a casa e fiquei esperando.

    Mesmo aps passar uma semana, voc ainda continuou esperando?

    Continuei. No concebia minha vida sem ele, Julia. Na segun

    da-feira, para que minha me no desconfiasse, no sa pela manh. tarde, na hora em que devia ir para a escola, fui at a casa, aindaesperando que, a qualquer momento, ele viesse. Quando cheguei frente da casa, parei. Havia uma grande placa de venda. O portoestava aberto. Abri e entrei por ele. Coloquei a chave na porta da sala,mas a ela no abriu. Olhei pelo vitr da sala e vi que ela estava vazia.Fui at os fundos e tentei abrir a porta da cozinha, mas tambm noabriu. Olhei para a garagem e vi uma poro de caixas de papelo. Fuiat l e, incrdula, vi o meu nome escrito, em letras grandes. Abri umae. para meu desespero, dentro dela estavam os lenis que eu haviacomprado com tanto carinho. Abri as outras e, nelas, estavam as toalhas, escova de dentes, pentes e todos os meus objetos pessoais. S a,entendi e aceitei o que havia acontecido, que tudo estava terminado.Que ele, realmente, durante todo aquele tempo me enganara...

    Sueli terminou de falar, chorando. Julia se comoveu: Sinto muito, Sueli. Realmente no deve ter sido fcil.Sueli secou os olhos, com as mos e continuou:

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    Sentei-me no cho da garagem e chorei como nunca haviachorado em minha vida. Mais at que quando vi Nilson com a esposa.Depois de muito chorar, fui tomada de uma raiva incontrolvel:

    Ele vai me pagar por tudo o que fez! No sei onde mora, nemonde fica a empresa, s tenho o nmero do telefone, mas vou descobrir os dois endereos e vou desmascar-lo. Vou contar a suaesposa tudo o que ele fez comigo! Minha vida est destruda, masvou destruir a dele tambm!

    Sabia que por ser domingo, no teria como descobrir o seu

    endereo. Fiquei ali, sentada at a hora de ir para o restaurante. Nessedia, agradeci a Deus por ter um trabalho. No restaurante, me concentrei no trabalho e atendi aos clientes da melhor maneira possvel. Quandosa, no olhei para o lugar em que ele sempre me esperava. Sabia queno estaria ali. Com muita raiva e no chorando mais, fui para casa.Entrei, tomei o ch com minha me e fui para o meu quarto. Nuncalamentei tanto no ter telefone em casa. No que eu fosse telefonardali, mas poderia consultar a lista telefnica. Naquela noite no dormi,Julia. A raiva era tanta que eu, por mais que quisesse que a noite passasse rpido, ela no passou. Fiquei o tempo todo pensando como fazer para me vingar. Pela manh, tinha um plano e o colocaria em ao.

    Menti outra vez para minha me, dizendo que precisa estudar na casada minha amiga. Ela no desconfiou e eu sa, sabendo que ia fazer.

    O que voc fez, Sueli? Como no conseguia dormir, levantei-me, peguei um caderno o

    escrevi uma longa carta, endereada a esposa de Nilson. Contei tudo oque ele havia feito comigo e com ela. Para que comprovasse que o queeu estava dizendo era verdade, escrevi o endereo da casa que serianossa. Peguei um envelope, coloquei na bolsa, sai de casa e fui para orestaurante. Quando cheguei l a porta ainda estava fechada. Eu sabiaque seria assim. Entrei pela porta dos fundos e, quem passasse porfora, no imaginaria o movimento que havia l dentro. Algumas pesso

    as limpavam e arrumavam as mesas. Outros, na cozinha, preparavamo almoo que seria servido na hora do almoo. Por ter sempre trabalhado noite, no conhecia funcionrio algum a no ser o gerente, poisele s ia embora quando o meu gerente, do horrio noturno chegasse.Assim que o vi caminhei at ele. Depois de nos cumprimentarmos,pedi que me emprestasse a lista telefnica. Ele no imaginava por que

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    Apenax comeando

    mentira! Vai ver que da mesma maneira que gostei dele, agora oodeio e quero que seja destrudo, que sofra!

    Julia se levantou e foi at o fogo pegar mais um pouco de ch.Com a xcara na mo, voltou a se sentar. Perguntou:

    Voc no se importou de ela estar grvida, de perder o beb,Sueli?

    At que pensei, mas pensei, tambm:Sei que ela pode perder o beb, mas depois de tudo o que ele

    me fez, o que sua mulher possa sentir, sua culpa, portanto, seu

    problema, no meu! Atravessei a rua e entrei na agncia dos correios. Esperei em

    uma fila para ser atendida. Quando estava quase chegando minha vez,pensei:

    Pelo correio vai demorar muito para chegar e eu no vousaber se ela recebeu. Se o Nilson pegar antes dela? Se isso acontecer, ele vai destruir a carta. No, no vou mandar por aqui, vou

    pessoalmente. Sei que a mulher dele no est em casa. Vou at le entrego nas mos da empregada. S assim, terei certeza de quetudo deu certo. No posso me arriscar a deixar que ele se safe!

    Pensou nisso, Sueli? Pensou em ir pessoalmente? No era

    muito arriscado? A mulher dele j poderia estar em casa. Se ela vissevoc, o que ia fazer?

    Nem pensei na possibilidade de encontr-la, mas se isso acontecesse, seria bom, pois entregaria a carta a ela e iria embora. Assim,ela saberia que eu existia realmente.

    Voc foi muito corajosa, Sueli... No foi coragem, Julia, foi a raiva, o dio. Antes de continuar,

    preciso tomar um pouco de ch. Falei sem parar e estou com a garganta seca.

    Sueli colocou ch na xcara, adoou e tomou um gole. Depois,continuou falando:

    Fui at a calada, esperei um pouco e um txi surgiu. Acenei eele parou. Entrei, mostrei o endereo para o motorista. Ele colocou ocarro em movimento. A lgum tempo depois, chegamos rua onde ficava a casa. Estremeci e falei:

    Pode parar, por favor. Vou descer aqui. Ele falou o valor da corrida, paguei e desci. Olhei o nmero

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    que estava escrito no papel, depois o nmero da casa. Precisava andaralguns metros. Comecei a caminhar, olhando os nmeros. Estava qua-se chegando, quando um txi passou por mim e parou na frente dacasa. O motorista desceu e abriu a porta. Por ela desceu uma mulher.O motorista entregou-lhe algumas sacolas e pacotes. Assim que a vi,reconheci. Era a mulher de Nilson. Ela sorriu, pagou ao motorista eentrou em casa. Durante todo esse tempo, fiquei parada, nervosa, sempoder caminhar e a pensar:

    No posso fazer o que estou pretendendo. Pelo tamanho da

    barriga, parece que a criana est para nascer. Ela me pareceu tofeliz. No posso envolver uma inocente naquilo que me aconteceu.O culpado foi o Nilson, no ela. Assim como eu, ela vtima dele.

    no quero ser a responsvel pela vida dela ou da criana. Noposso. Nilson me envolveu, enganou e com certeza um dia vai serdesmascarado, mas no agora, nem por mim. No posso arriscarduas vidas.

    Cabisbaixa e com passos lentos, voltei-me e comecei a andar.No sei explicar o que estava acontecendo comigo, Julia, mas eu esta-

    va bem. Senti como se um grande peso sasse dos meus ombros. Andeiat a esquina e fiquei esperando outro txi passar. Acenei, ele parou.

    Entrei nele e voltei para casa.

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    O recomeo

    Sueli tomou um gole de ch. Julia fez o mesmo.A entidade que estava acompanhando Julia, sorriu e olhou para

    uma outra entidade que tinha chegado um pouco antes de Sueli pararde falar:

    Como ela est, Alzira?

    Agora, bem, Ciro. Chegou arrasada, mas, enquanto estavaouvindo a histria de Sueli, esqueceu-se, por algum tempo, de seusproblemas.

    Foi muito bom, voc ter incentivado Sueli a contar sua histria.Julia, a partir de agora, ter muito no que pensar.

    Ciro olhou para Julia, sorriu e disse: Tem razo. A curiosidade nos acompanha para sempre, mes

    mo depois da morte.Realmente, Julia estava curiosa para saber o que havia acontecido.

    Sentou-se novamente e incrdula olhou nos olhos de Sueli, perguntou: Voc desistiu, Sueli?

    Desisti, Julia. Enquanto o txi ia para minha casa, no chorei,apenas lembrei-me de tudo o que havia acontecido. Das vrias vezesque sinais apareceram, de como gostei de me deixar enganar e decomo aceitei uma iluso. Entendi que Nilson me enganou porque eupermiti. No final s me restou uma certeza, precisava tirar aquele homem da minha cabea e, principalmente da minha vida. No conseguiria se permanecesse ali. Precisava ir para bem longe e tentar reconstruir minha vida.

    Assim como aconteceu comigo. Tambm me deixei levar pelailuso de que, um dia, Anselmo deixaria a mulher para ficar comigo.Mesmo ele nunca tendo me enganado e dito vrias vezes que nuncaabandonaria o filho.

    Ainda bem que entendeu isso, Julia. Por experincia prpria,posso dizer que romance com homem casado, na maioria das vezes ouquase sempre, nunca d certo. A mulher sempre quem sofre mais.

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    Sei disso. Neste momento estou sofrendo muito... Esse sofrimento vai passar e l na frente voc vai perceber o

    quanto foi bom isso ter acontecido. Voc, agora livre para seguir oseu caminho. No est mais presa a uma iluso.

    No sei como vou conseguir viver sem ele... Vai conseguir. Todas conseguem. Como voc conseguiu?Sueli comeou a rir. No fui eu, Julia. Foi a vida, algum anjo da guarda ou o prprio

    Deus que se encarregou de mudar tudo. No estou entendendo... Quando desci do txi, vi que minha me estava no porto. Ela

    estranhou por me ver chegar: J voltou, Sueli? Pensei que fosse fazer como antes. Fazer o que, me? Sempre que vai estudar na casa da sua amiga, no volta para

    casa. Vai para a escola e depois para o restaurante. verdade, mas ela no est passando bem. Est com muita dor

    de cabea. Por isso no pudemos estudar. Vou fazer isso, sozinha. Est bem, o almoo est quase pronto.

    O que a senhora est fazendo aqui fora? Hoje dia do correio que vem sempre pela, manh, estou estranhando por ele no ter vindo ainda.

    Por que est esperando aqui fora? Hoje o dia de receber a conta de luz. Estou ansiosa para ver

    quanto gastamos. Est um absurdo! Todo ms gastamos mais. No seimais o que fazer para gastarmos menos.

    Comecei a rir: No se preocupe com isso, me. Vamos ter dinheiro para

    pagar a conta. Vamos entrar? No, vou esperar mais um pouco. Ele deve chegar a qual

    quer momento. Est bem. Vou para o meu quarto estudar. Rindo, entrei e fui para meu quarto. Sentei em frente a uma

    penteadeira e fiquei olhando meu rosto e pensando no quanto eu haviasido burra em acreditar em tudo o que ele dizia. Em tudo o que fiz paraficar ao lado dele e no quanto eu estava disposta a fazer. No chorei.

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    Fiquei ali me olhando por um bom tempo. Depois, peguei um caderno efui para minha cama. Eu havia parado de estudar, precisava recuperaro tempo perdido. Pensei tambm em uma maneira de ir embora, massabia que seria difcil, pois para isso teria de ter dinheiro, coisa que euno tinha. Durante o tempo em que estive com Nilson, todo o dinheiroque sobrava eu gastava comprando roupas e sapatos para ficar maisbonita para ele e coisas para a casa ficar agradvel. Minha me veiome avisar que o almoo estava pronto e que meu pai havia chegado.Levantei-me e fui para a cozinha. Meu pai, como fazia todos os dias,

    estava sentado mesa. Sentei-me ao seu lado e, mesmo sem fome,comi alguma coisa. Minha me ainda estava nervosa com a demora docorreio.

    Deve ter acontecido alguma coisa que fez com que ele seatrasasse, me, daqui a pouco ele vai chegar.

    Sei disso, mas logo hoje, ele tinha de se atrasar? Nuncaaconteceu isso. Ele muito pontual!

    Olhei para meu pai que estava rindo do nervosismo de minhame e voltei para meu quarto. Estava deitada tentando estudar, quandominha me entrou. Trazia em sua mo um envelope:

    para voc. Sabe do que se trata? Levei um susto, no tinha a menor ideia. Peguei a carta, abri e

    comecei a correr pela casa e a gritar. Minha me se assustou: Pare de correr e gritar, Sueli! O que est escrito nessa carta? Fui aceita, me! Aceita para o que? Nesta carta est escrito que ganhei uma bolsa de estudo para

    aquela escola que eu queria ir! Ganhou? Ganhei, me! Agora posso estudar e me tornar uma cozinheira

    de prestgio! Que bom, minha filha! Voc merece e garanto que essa escola

    no vai se arrepender e vo ter muito orgulho de voc, como eu tenho!

    Nossa, Sueli! Voc conseguiu mesmo? Julia perguntou, rindo. Consegui, sim, Julia. Algumas horas antes, eu estava desespe

    rada, achando que minha vida havia terminado e sem saber como con-tinuar e de repente meus problemas haviam terminado. Tudo haviamudado para melhor.

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    Voc no teve medo de sair de casa e ir para um lugar desconhecido? No disse tambm que no tinha muito dinheiro? Como fez?

    No tive medo, Julia, pois a nica coisa que eu queria, naquelemomento, era ficar o mais longe possvel de Nilson. Quanto ao dinheiro, peguei o pouco que me restou. Minha famlia tambm tinha algumdinheiro guardado e me deu. O mais importante era que eu tinha umaprofisso e que em qualquer lugar do mundo, sempre h um restaurante, por isso eu no ficaria sem trabalho.

    Que maravilha, Sueli! O que acha que aconteceu para que a

    escola desse a voc uma bolsa de estudos? Naquele tempo eu no sabia. Quando mandei a carta para a

    escola pedindo uma bolsa, fiz sem muita esperana de ser atendida.Depois durante todo o tempo em que passei com Nilson, me esquecicompletamente da carta e da escola. De qualquer maneira, o que haviaacontecido no me importava. O que importava era que eu poderia irembora e realizar o grande sonho da minha vida. Foi assim que vimpara c e para a escola.

    Voc disse que naquele tempo no sabia. Hoje j sabe? Comovoc sabe hoje o que no sabia naquele tempo? No estou entendendo,Sueli.

    Sei, sim, Julia. Como no sabia onde ia ficar, tomei um nibus noite. Chegaria pela manh, bem cedo. Fui direto para a escola fazer aminha matrcula. Quando estava l, perguntei como faria para encontrar um lugar para morar. A moa que estava me atendendo, disse:

    Ali naquela parede, tem anncios de casas e apartamentospara alugar. Alguns alunos dividem a moradia e o aluguel.

    Olhei para a parede e de longe, vi vrios papis colados. Deonde estava no dava para ler. Depois de feita a matrcula, fui at aparede. Realmente havia vrios anncios. Eu sabia que no poderiaalugar sozinha, pois no tinha, ainda, um emprego. O dinheiro que troux