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Arthur Miller A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE Título do original: Death of a Salesman Copyright 1948, 1949, 1951, 1952 e 1975 by Arthur Miller A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE 1.a edição setembro de 1976 Copyright desta edição, 1976, Abril S. A. Cultural e Industrial - São Paulo Tradução publicada com a licença de Flávio Rangel. Esta peça, na presente tradução, só poderá ser representada ou utilizada, no todo ou em parte, seja por que processo for. mediante autorização expressa da SBAT - SOCIEDADE BRASILEIRA DE AUTORES TEATRAIS - Av. Almirante Barroso, 97, 3.° andar, Rio de Janeiro. Todo abuso será considerado violação da propriedade intelectual, nos termos dos Códigos Civil e Penal. PERSONAGENS WILLY LOMAN, caixeiro-viajante LINDA, sua mulher seus filhos HAPPY CHARLEY, vizinho dos Loman BERNARD, filho de Charley TIO BEN, irmão de Willy HOWARD WAGNER, patrão de Willy A MULHER JENNY, secretária de Charley STANLEY, empregado do restaurante SENHORITA FORSYTHE jovens LETTA 5 Ouve-se o som de uma flauta. É uma melodia leve e delicada, que fala de relva, árvores e horizontes. Sobe o pano. Diante de nós está a casa do caixeiro-viajante. Uma sugestão deformas angulares e de torres que a cercam, pelos lados e por trás. Uma suave luz azul-celeste cai sobre a casa e sobre a frente do palco; as outras áreas são cobertas por uma luz

A Morte Do Caixeiro Viajante

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  • Arthur Miller

    A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE

    Ttulo do original:

    Death of a Salesman

    Copyright 1948, 1949, 1951, 1952 e 1975

    by Arthur Miller

    A MORTE DO

    CAIXEIRO VIAJANTE

    1.a edio setembro de 1976

    Copyright desta edio, 1976,

    Abril S. A. Cultural e Industrial - So Paulo

    Traduo publicada com a licena de

    Flvio Rangel.

    Esta pea, na presente traduo, s poder ser representada

    ou utilizada, no todo ou em parte, seja por que processo for.

    mediante autorizao expressa da SBAT -

    SOCIEDADE BRASILEIRA DE AUTORES TEATRAIS

    - Av. Almirante Barroso, 97, 3. andar, Rio de Janeiro.

    Todo abuso ser considerado violao da

    propriedade intelectual, nos termos dos Cdigos Civil e Penal.

    PERSONAGENS

    WILLY LOMAN, caixeiro-viajante

    LINDA, sua mulher

    seus filhos

    HAPPY

    CHARLEY, vizinho dos Loman

    BERNARD, filho de Charley

    TIO BEN, irmo de Willy

    HOWARD WAGNER, patro de Willy

    A MULHER

    JENNY, secretria de Charley

    STANLEY, empregado do restaurante

    SENHORITA FORSYTHE

    jovens

    LETTA

    5

    Ouve-se o som de uma flauta. uma melodia leve e delicada, que fala de relva, rvores

    e horizontes. Sobe o pano.

    Diante de ns est a casa do caixeiro-viajante. Uma sugesto deformas angulares e de

    torres que a cercam, pelos lados e

    por trs. Uma suave luz azul-celeste cai sobre a casa e sobre a frente do palco; as outras

    reas so cobertas por uma luz

  • alaranjada e spera. medida que a luz cresce, vemos um macio bloco de prdios de

    apartamentos, como se estivessem

    esmagando a frgil casinha. O lugar sugere uma atmosfera de um sonho que emergisse

    da realidade. Mas a cozinha, ao

    centro, parece bastante real, pois h nela uma mesa, trs cadeiras e uma geladeira. Mas

    s. No fundo da cozinha, h

    uma porta com cortina que conduz sala. direita, num nvel mais alto, um quarto de

    dormir, com uma cama de ferro e

    uma cadeira. Numa estante acima da cama existe um trofu esportivo, uma taa de

    prata. A, uma janela se abre para o

    prdio vizinho.

    Atrs da cozinha, num nvel dois metros mais alto, est o quarto dos rapazes, por

    enquanto apenas sugerido. Vem-se

    vagamente duas camas e, no fundo do quarto, uma gua-furtada. (Este quarto est em

    cima da sala que no se v.) A

    esquerda, uma escada em curva liga o quarto cozinha.

    O cenrio transparente (no todo ou em parte). O telhado unidmensional; acima e

    abaixo dele, vem-se os prdivs de

    apartamentos. Na frente da

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    casa existe um praticvel que chega at o proscnio; essa rea serve tanto como quintal

    de Willy como o local onde ele

    imagina suas cenas e tambm as cenas de cidade. Quando a ao se desenrola no

    presente, os atores devem respeitar as

    linhas imaginrias do cenrio e entrar na casa apenas atravs da porta esquerda Mas,

    nas cenas do passado, estas

    convenes so quebradas, e os personagens entram ou saem de um quarto "atravs "

    das paredes.

    Willy Loman, o caixeiro-viajante, entra da direita, com duas grandes maletas de

    amostras. Ouve-se a flauta. Willy no se d

    conta dela. Ele tem mais de sessenta anos e veste-se sobriamente. Seu cansao

    evidente, o que se nota pelo modo como

    caminha. Abre a porta, vai cozinha, e abandona sua pesada carga, sentindo as palmas

    das mos doloridas. No meio de um

    suspiro, deixa escapar uma palavra, que pode ser "Oh, meu Deus ". Fecha a porta e leva

    as maletas para a sala atravs da

    porta com cortina.

    Linda, sua mulher,faz um movimento na cama, direita. Levanta-se e pe um roupo;

    escuta. uma mulher naturalmente

    alegre, que reprime, com vontade de ferro, suas restries ao comportamento de Willy.

    Ela o ama muito e, mais do que isso,

    ela o admira, como se a natureza agitada de Willy, seu temperamento, seus sonhos

    grandiosos e suas pequenas misrias

    compusessem o painel das lembranas profundas das nsias turbulentas que existem

    dentro dele, as quais ela compartilha,

    mas sem viv-las em toda a sua extenso.

    LINDA (ouvindo os pequenos rudos de WilIy, chama com ligeira angstia)

    Willy!

    WILLY

    Est tudo bem. Eu voltei.

  • LINDA

    Por qu? O que houve? (Ligeira pausa.) Aconteceu alguma coisa, Willy?

    WILLY No, nada.

    LINDA

    Voc bateu com o carro?

    WILLY (um pouco irritado)

    Eu j disse que no aconteceu nada. Voc no ouviu no?

    LINDA

    Voc est se sentindo bem?

    WILLY

    Estou morto de cansao. (A flauta sumiu. Ele se senta na cama ao lado dela, meio

    entorpecido.) Eu no consegui.

    Simplesmente eu no consegui, Linda.

    LINDA (muito cuidadosa e delicadamente)

    Onde que voc andou o dia inteiro? Voc est com uma cara horrvel.

    WILLY

    Cheguei at um pouco alm de Yonkers. Parei num bar pra tomar um caf. Acho que foi

    o caf.

    LINDA

    O qu?

    WILLY (depois de uma pausa)

    De repente eu no conseguia mais guiar o carro. Eu no controlava mais o carro,

    entende?

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    LINDA (querendo ajudar)

    Ah, deve ter sido essa direo de novo. Acho que o ngelo no entende nada de

    Studebaker.

    WILLY

    No, sou eu, sou eu. De repente percebo que estou indo a cem por hora, e no consigo

    me lembrar do que aconteceu h

    cinco minutos. Eu... eu acho que... no consigo mais me concentrar em nada...

    LINDA

    Devem ser seus culos novos. Voc no gostou nunca desses culos novos.

    WILLY

    No, eu vejo bem. Voltei bem devagarinho, a quinze por hora. Demorei mais de quatro

    horas para chegar aqui.

    LINDA (resignada)

    Voc tem que descansar, Willy. Voc no pode continuar as-

    sim.

    WILLY

    Mas eu acabei de voltar da Flrida.

    LINDA

    Mas no descansou a cabea, querido. Essa cabea trabalha muito e a cabea que a

    gente precisa descansar.

    WILLY

    Amanh eu vou sair de manh. Quem sabe eu me sinto melhor de manh? (Linda est

    tirando os sapatos dele.) Ah, como

    me doem os ps.

    LINDA

  • Voc quer uma aspirina? Quer? Eu vou buscar para voc.

    WILLY (pensando)

    Eu estava l guiando o carro. . . e at me sentia bem. Estava olhando a paisagem. Voc

    pode imaginar isso? Um homem como eu,

    que passou sua vida inteira nas estradas, ainda olhando a paisagem? Mas to bonito

    aquilo, Linda, rvores por todo lado, e to

    cheio de sol. . . Abri o pra-brisa e deixei o vento batendo no meu rosto... E de repente,

    eu sa da estrada! Eu estou lhe dizendo, eu

    esqueci completamente que estava guiando! Se eu tivesse virado para o outro lado,

    podia ter matado algum. Voltei para a

    estrada, mas cinco minutos depois estava sonhando de novo, e quase que eu. . . (Aperta

    os olhos com os dedos.) Eu penso cada

    coisa, cada coisa to estranha...

    LINDA

    Willy, meu querido. Fale com eles de novo. No h razo para voc no trabalhar aqui

    mesmo em Nova York.

    WILLY

    Eles no precisam de mim em Nova York. Sou o homem da Nova Inglaterra. l que

    eu sou importante.

    LINDA

    Mas voc tem sessenta anos. Eles no podem querer que voc continue viajando todas

    as semanas.

    WILLY

    Tenho que mandar um telegrama a Portland. Brown & Morrison esto me.esperando

    amanh s dez da manh para ver os

    artigos. Puxa, eu posso fazer uma boa venda! (Comea a colocar o palet.)

    LINDA (tirando-lhe o palet)

    Por que voc no vai amanh ao escritrio e diz claramente a Howard que voc quer

    trabalhar aqui em Nova York? Voc se

    conforma demais com as coisas, meu amor.

    r

    e

    12

    13

    WILLY

    Se o velho Wagner fosse vivo, hoje eu teria um lugar de diretor, e aqui em Nova York!

    Esse homem sim, era um prncipe,

    um homem de verdade. Mas esse menino, esse Howard, esse no sabe de nada. Quando

    eu resolvi ir para o norte pela

    primeira vez, a Companhia Wagner no sabia nem onde ficava a Nova Inglaterra!

    LINDA

    Ento, meu querido, por que voc no diz tudo isso a Howard?

    WILLY (animado)

    Eu vou dizer. isso mesmo, pronto: vou dizer tudo. Ser que sobrou um pedao de

    queijo?

    LINDA

    Eu vou fazer um sanduche para voc.

    WILLY

    No, v dormir. Vou tomar um pouco de leite. Leite me faz bem. Os meninos esto em

    casa?

  • LINDA

    Esto dormindo. Happy levou Biff a uma festinha.

    WILLY (interessado) mesmo?

    LINDA

    Foi to bonito ver os dois fazendo a barba juntos no banheiro. E saindo juntos. Voc

    no est sentindo? A casa inteira est

    cheirando a loo de barba.

    WILLY

    Pois . A gente trabalha a vida inteira para comprar uma casa e, quando a casa da

    gente, no h ningum para morar nela.

    LINDA

    Mas meu amor, a vida assim mesmo. Sempre foi assim. A vida uma derrota.

    WILLY

    No, h pessoas. . . h pessoas que conseguem sucesso, BifT falou alguma coisa, depois

    que eu sa hoje de manh?

    LINDA

    Voc no devia ter criticado as atitudes de Biff, especialmente logo depois que ele

    chegou. Voc no deve perder a calma

    com

    ele.

    WILLY

    Quem que perdeu a calma com ele? Eu s perguntei se ele estava ganhando algum

    dinheiro. Isso criticar?

    LINDA

    Mas, meu querido, como que ele podia ter ganho algum dinheiro?

    WILLY (preocupado e zangado)

    Ele tem uma tendncia a ficar por baixo. Ficou uma pessoa esquisita, sempre irritado.

    Pediu desculpas depois que eu sa?

    LINDA

    Ele ficou abatido, Willy. Voc sabe o quanto ele admira voc. Eu acho que no dia em

    que Biff se encontrar, vocs dois vo

    ficar mais felizes e no vo brigar mais.

    WILLY

    Como que ele pode encontrar a si mesmo numa fazenda? Isso l vida? Vai ser o que,

    vaqueiro? No comeo, quando ele

    era mais moo, eu pensei: est certo, no h mal algum em um rapaz pular de emprego

    pra emprego at decidir o que quer.

    Mas isso j faz mais de dez anos e ele no ganha nem trinta e cinco dlares por semana!

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    15

    LINDA

    Ele est procurando o caminho dele, Willy.

    WILLY

    Pois j devia ter achado. No saber o que se quer da vida, com trinta e quatro anos,

    uma desgraa!

    LINDA

    Psst.

    WILLY

    O problema que ele preguioso, isso sim!

    LINDA

  • Willy, por favor.

    WILLY

    Meu filho um vagabundo preguioso!

    LINDA

    Eles esto dormindo. V comer qualquer coisa, v.

    WILLY

    Por que que ele veio pra c? Eu s queria saber o que que ele veio fazer aqui.

    LINDA

    No sei. Acho que ele ainda est desorientado, Willy. Acho que est muito

    desorientado.

    WILLY

    Biff Loman est desorientado. No maior pas do mundo, um jovem com tanto. . . com

    tanto charme, est desorientado. E com a

    capacidade de trabalho que ele tem! Porque Biff tem uma coisa: ele no preguioso.

    LINDA

    Claro que no.

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    WILLY (piedoso e decidido)

    Eu vou falar com ele amanh de manh. Uma conversa calma e tranqila. Vou arranjar

    para ele um emprego de caixeiro-

    viajante. Ele teria sucesso nm instante! Meu Deus! Lembra como todo mundo vivia

    volta dele no tempo do ginsio? Bastava

    ele sorrir para algum e pronto! Todo mundo ficava radiante! Quando ele andava pela

    rua. . . (Perde-se nos prprios

    pensamentos.)

    LINDA (procurando traz-lo realidade)

    Willy, querido, eu comprei hoje um tipo novo de queijo, sabe? Queijo batido.

    WILLY

    Suo?

    LINDA

    No, americano.

    WILLY

    Por que voc compra queijo americano, quando sabe que eu s gosto de queijo suo?

    LINDA

    Eu pensei que voc gostasse de variar.

    WILLY

    No quero variar nada! Quero queijo suo! Por que voc vive me contrariando?

    LINDA (num sorriso meio falso)

    Queria fazer-lhe uma surpresa.

    WILLY

    Por que que voc no abre a janela? Pelo amor de Deus!

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    LINDA (com infinita pacincia)

    Esto todas abertas, meu querido.

    WILLY

    O jeito que eles prenderam a gente aqui dentro. Janela e tijolo, tijolo e janela.

    LINDA

    Foi uma bobagem no termos comprado o terreno vizinho.

    WILLY

  • A rua est cheia de carros. No se respira um pingo de ar fresco por aqui. A grama no

    cresce mais e a gente no consegue

    plantar nem uma cenoura no quintal. Deviam fazer uma lei proibindo edifcios de

    apartamentos. Voc se lembra daquelas

    duas rvores lindas que havia aqui? Lembra? Quando Biff e eu penduramos o balano

    entre elas?

    LINDA

    Era como se a gente morasse a quilmetros de distncia da cidade.

    WILLY

    Deviam botar na cadeia o construtor que derrubou essas rvores. Destruram o bairro

    inteiro. (Perdido) Cada vez penso

    mais naqueles tempos, Linda. Nesta poca do ano, havia lilazes e glicnias. Depois, era

    a vez das penias e dos narcisos.

    Como este quarto vivia perfumado!

    LINDA

    Bom, a verdade que as pessoas tm que morar em algum lugar.

    WILLY

    No isso; que agora h mais gente.

    LINDA

    No, no que haja mais gente, que.

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    WILLY

    H mais gente! isso que est destruindo este pas! Ningum controla mais a

    populao. A competio terrvel! Voc

    no sente o mau cheiro que vem desse prdio da? E do outro, ali do outro lado? Como

    possvel bater um queijo?

    (Na ltima frase de Willy, BifJ e Happy levantam-se de suas camas e prestam ateno.)

    LINDA

    V provar o queijo. E no faa barulho.

    WILLY (virando-separa ela, com um sentimento de culpa) Voc no est preocupada

    comigo, no , meu bem?

    BIFF

    O que ?

    HAPPY

    Escuta!

    LINDA

    voc que se preocupa demais.

    WILLY

    Voc a base na qual me apio, Linda.

    LINDA

    Voc tem que descansar, meu querido. Voc se preocupa demais.

    WILLY

    Eu no vou mais brigar com ele. Se ele quiser voltar pro Texas, ele que v.

    LINDA

    Ele vai encontrar o seu caminho.

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    WILLY

    Eu sei disso. Alguns homens s fazem sucesso mais tarde na vida. Como Thomas

    Edison, eu acho. Ou B. F. Goodrich. Um

    deles era surdo. (Dirige-se porta.) Eu confio em Biff; aposto qualquer coisa nele.

  • LINDA

    E, Willy,... se domingo fizer um dia bonito, vamos passear um pouco. Podemos abrir o

    pra-brisa, depois fazer um pique-

    nique.

    WILLY

    No, os pra-brisas desses carros modernos no abrem.

    LINDA

    Mas voc o abriu hoje.

    WILLY

    Eu? Eu no. (Pra.) Que coisa mais estranha! Mas no notvel? (Interrompe-se

    perplexo e alarmado. O som da flauta

    surge distante.)

    LINDA

    O que foi, querido?

    WILLY

    Mas uma coisa notvel.

    LINDA

    O que, meu bem?

    WILLY

    Eu estava pensando no Chevrolet. . . (Pequena pausa.) Mil novecentos e vinte e oito. . .

    quando eu tinha aquele Chevrolezinho

    vermelho. .. (Pra.) No engraado? Eu podia jurar que hoje eu estava guiando o

    Chevrolet.

    LINDA

    No tem nada de mais. Alguma coisa fez voc se lembrar dele.

    WILLY

    formidvel. .. Voc se lembra daquele tempo? Como Biff cuidava daquele carro? O

    homem da agncia nem acreditou que o

    carro j tinha rodado mais de cem mil quilmetros! (Balana a cabea.) Heh! (Para

    Linda) Pode ir dormindo, j volto j.

    (Saido quarto.)

    HAPPY(aBUJ)

    Meu Deus, acho que ele bateu com o carro de novo!

    LINDA (falando com Willy)

    Cuidado com as escadas, querido! O queijo est na prateleira

    do meio! (Ela se volta, vai cama, apanha o palet dele e

    sai do quarto.)

    (A luz cresce no quarto dos rapazes. Sem que se possa v-lo, ouve-se a voz de Willy

    murmurando "mais de cem mil

    quilmetros" e uma risadinha. Bj/J sai da cama, vem um pouco frente e presta ateno.

    Bj/J dois anos mais velho que

    seu irmo Happy. Tem boa aparncia, mas est meio abatido e parece inseguro. No

    teve muito sucesso, e seus sonhos

    so maiores e menos aceitveis que os de Happy. Happy alto e forte. Nele a

    sexualidade como urna cor visvel, ou

    como um aroma que muitas mulheres sentiram. Assim como seu irmo, ele est meio

    perdido, mas como nunca se

    permitiu encarar o fracasso cara a cara, est mais confuso, embora pare a mais

    contente.)

    HAPPY (saindo da cama)

  • Se ele continua assim, vo acabar cassando a licena dele. Ele est me deixando

    nervoso, sabe, Biff.

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    BIFF

    Est perdendo a viso.

    HAPPY

    No, outro dia eu sa com ele no carro. Ele v muito bem.

    que ele se distrai, entende? Pra quando o sinal est verde

    e atravessa com o sinal vermelho. (Ri um pouco.)

    BIFF

    Talvez seja daltnico.

    HAPPY

    No, que isso? Ele distingue muito bem as cores. Voc sabe disso.

    BIFF (sentando-se na cama) Bom, vou tratar de dormir.

    HAPPY

    Voc no est mais chateado com ele, est, Biff'?

    BIFF

    Acho que ele est bem.

    WILLY (abaixo deles, na sala)

    Sim senhor, cento e trinta mil quilmetros! Centro e trinta e trs!

    BIFF

    Voc est fumando?

    L-IAPPY (apresentando um mao) Quer um?

    BIFF (pegando um)

    No consigo dormir com cheiro de sarro.

    W 1 LLY

    Como ele fazia aquele carro brilhar!

    HAPPY (muito emocionado)

    No bacana, Biff? Ns dois dormindo aqui de novo neste quarto? Nessas velhas

    camas? (D um tapa na cama.) Quanta

    conversa a gente j teve aqui? Toda a nossa vida.

    BIFF

    . Um monto de sonhos e projetos.

    HAPPY (numa risada forte e masculina)

    Umas quinhentas mulheres gostariam de saber o que a gente conversou aqui. (Os dois

    riem um pouco.)

    BIFF

    Lembra daquela tal Betsy no sei das quantas? Aquela grandona.. . como era o nome

    dela mesmo?

    HAPPY (penteando o cabelo) Aquela do cachorrinho?

    BIFF

    Essa mesma. Fui eu que o levei l, lembra?

    HAPPY

    Claro, foi a minha primeira vez. Rapaz, era uma festa! (Riem muito.) Voc me ensinou

    tudo que eu sei sobre mulher. No

    duro mesmo.

    BIFF

    Voc era meio tmido. Especialmente com as garotas.

    HAPPY

  • Ainda sou, Biff.

    BIFF

    Ora, o que isso.

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    23

    HAPPY

    sim, que eu me controlo, s isso. Acho que eu fiquei menos tmido e voc ficou

    mais. O que aconteceu, Biff? Cad

    aquela alegria, aquela confiana que voc tinha? (Bate no joelho de Bj/J Este se levanta

    e caminha pelo quarto.) O que foi?

    BIFF

    Por que o papai fica me gozando o tempo todo, bem?

    Ele no goza voc, ele.

    BIFF

    Tudo que eu digo ele recebe com um ar de gozao. No posso nem chegar perto dele.

    HAPPY

    Ele s quer que voc tenha sucesso, s isso. H muito tempo que eu queria falar com

    voc a respeito dele, Biff. Alguma

    coisa est acontecendo com ele. Ele anda falando sozinho.

    BIFF

    Eu percebi hoje de manh. Mas acho que ele sempre foi um pouco assim.

    HAPPY

    Mas no tanto como agora. Fiquei to preocupado que mandei-o descansar na Flrida. E

    quer saber de uma coisa? A maior

    parte do tempo ele est falando com voc.

    BIFF

    Que que ele diz de mim?

    HAPPY

    No d pra perceber.

    HAPPY

    Acho que porque ele v voc assim, sem um emprego fixo, meio no ar.

    81FF

    H outras coisas que o deprimem, Happy.

    HAPPY

    Como assim?

    BIFF

    Nada, nada. Mas no jogue toda a culpa em mim.

    HAPPY

    Mas acho que se voc comeasse a trabalhar mesmo. . . quer dizer, voc acha que tem

    algum futuro nessa fazenda?

    BIFF

    Quer saber de uma coisa, Happy? Eu no sei o que quer dizer o futuro. Eu no sei o que

    que eu deveria querer.

    HAPPY

    Como assim?

    BIFF

    Depois que eu sa do ginsio, eu passei seis ou sete anos procurando encontrar a mim

    mesmo. Fui balconista, caixeiro-

    viajante, vendedor disso ou daquilo. E uma vida sem sentido. Entrar naquele metr

    num dia de sol. Devotar uma vida

  • inteira a verificar o estoque, telefonar, vender ou comprar. Sofrer durartte onze meses e

    meio num ano pra depois ter

    quinze dias de frias, quando tudo que voc deseja viver ao ar livre, sem camisa. E ser

    obrigado a passar pra trs o sujeito

    que est na tua frente. E assim que se constri um futuro.

    BI FF

    Que que ele diz de mim?

    HAPPY

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    25

    HAPPY

    BIFF

    E voc gosta dessa fazenda? Est contente l?

    BIFF (em crescente agitao)

    Happy, desde que eu sa de casa, antes da guerra, tive uns vinte ou trinta empregos

    diferentes, e s depois eu percebia que era

    tudo a mesma coisa. Cuidei de gado em Nebraska, andei por Dakota, Arizona, e agora o

    Texas. Acho que por isso que agora eu

    voltei pra casa, porque eu percebi. Essa fazenda em que eu trabalho. . . agora l

    primavera. E eles tm uns quinze potrinhos

    novos. Acho que no h nada mais bonito ou com tanta ternura do que ver uma gua

    com seu potrinho que acabou de nascer. E

    agora est meio frio por l. Est frio e primavera. E sempre que a primavera chega at

    mim, meu Deus do cu, eu tenho a

    impresso de que no estou caminhando pra lugar nenhum! Que vida essa, ficar

    brincando com cavalos, ganhando vinte e oito

    dlares por semana? Eu tenho trinta e quatro anos de idade, devia estar cuidando de meu

    futuro. E a que eu volto correndo

    para casa. E agora que estou aqui, no sei o que fazer da minha vida. (Uma pausa.) Eu

    sempre fiz questo de no desperdiar a

    minha vida e, toda vez que eu venho pra c, eu penso que exatamente isso que eu

    estou fazendo.

    HAPPY

    Voc um poeta, Biff. Voc um idealista!

    BIFF

    No, eu sou muito confuso. Acho que eu devia me casar, sei l. Ser mais responsvel.

    Acho que esse o meu problema. Sou

    como uma criana. No sou casado, no tenho um emprego fixo, eu sou. . . sou como

    um menino. E voc, Happy? Voc vai bem,

    no vai? Voc est contente?

    HAPPY

    Eu? Eu no!

    Mas por qu? Voc est ganhando dinheiro, no est?

    HAPPY (caminhando com energia)

    Minha nica esperana que o chefe da seo morra. E vamos supor que eu fique sendo

    o chefe da seo. Eu at que gosto

    dele, ele acaba de construir uma casa formidvel em Long Island. Viveu l dois meses,

    vendeu, e j est construindo outra.

    Depois que uma casa fica pronta, ele no consegue viver nela. E eu sei que isso que

    aconteceria comigo. Eu no sei para

  • que ou por que eu estou trabalhando. De vez em quando eu fico sentado no meu

    apartamento, sozinho. E penso no aluguel

    que eu pago. E tudo uma loucura. Mas tudo que eu sempre quis. Um apartamento,

    um carro, uma poro de garotas. E

    mesmo assim, eu me sinto solitrio.

    BIFF (com entusiasmo)

    Escute, por que voc no vem comigo pro Texas?

    HAPPY

    Ns dois juntos, hein?

    BIFF

    Claro, quem sabe a gente no podia comprar uma fazendola? Criar gado, usar os

    msculos. Gente como ns devia trabalhar

    ao ar livre.

    HAPPY (avidamente)

    "Os Irmos Loman", hein? Que tal?

    BIFF (cheio de afeio)

    Claro, a gente seria conhecido em toda a regio!

    H APPY (encantado)

    Eu vivo sonhando com isso, Bif. s vezes eu tenho vontade de tirar o palet naquela

    loja e dar umas porradas no chefe da

    seo. Eu sei que sou mais forte do que qualquer cara por

    26

    27

    ali, sou capaz de correr mais, de saltar mais alto, e ainda assim HAPPY

    tenho que ficar recebendo ordens daqueles cachorros filhos da , mas, quando ele entra

    na loja, todo mundo abre alas. So

    puta, at um ponto em que eu no agento mais!

    cinquenta e dois mil dlares por ano que entram por aquela

    81FF porta giratria, e mesmo assim eu tenho mais valor no meu

    dedo mindinho do que ele na cabea.

    Escuta, rapaz, eu sei que se voc viesse comigo eu ficaria feliz

    por l.

    BIFF

    Mas voc acabou de dizer.

    HAPPY (cheio de entusiasmo)

    Sabe o que Biff, eu vivo rodeado de uma gente to falsa, HAPPY

    que at os meus ideais ficam menores. Eu tenho que mostrar pra esses chefes de seo,

    diretores, exe cutivos que Hap Loman

    vale mais do que eles. Eu quero entrar

    BIFF na loja do jeito que eles entram. Depois disso, eu vou com

    Menino, ns dois juntos amos apoiar um ao outro, amos con- voc. Eu juro que ns

    dois ainda vamos ficar juntos. Mas veja

    fiar um no outro. s as duas desta noite. No eram espetaculares?

    BIFF

    HAPPY

    Eram. As melhores que eu tive em muitos anos.

    Poxa, se eu ficasse do seu lado. . .

    HAPPY

    Eu as consigo na hora que eu quero. Toda vez que estou chateado. O nico problema

    que como jogar boliche, eu acho.

  • BIF o problema que ns dois no fomos feitos para ga- Vou com uma, vou com outra,

    e no significam nada para

    nhar dinheiro. Eu no sei como fazer isso.

    mim. E voc? Tambm tem uma poro?

    HAPPY

    Nem eu! BIFF

    No.. . eu queria encontrar uma garota bacana... com ai BIFF guma coisa por dentro.

    Ento vamos embora!

    HAPPY

    HAPPY com isso que eu sonho.

    O nico problema o seguinte: o que que a gente pode fazer

    l? BIFF

    Voc? Que isso! Voc no ia nem aparecer em casa.

    BIFF

    Mas veja o seu amigo. Constri uma casa e no tem paz de HAPPY

    esprito para viver nela. Ia, sim! Mas eu quero algum de carter, de substncia. Que

    28 29

    nem mame, sabe? Voc vai me achar um canalha quando eu lhe disser isso. Essa

    garota que ficou comigo hoje, a Charlotte,

    vai se casar no ms que vem. (Experimenta seu chapu novo.)

    BJFF

    No brinca!

    HAPPY

    No duro! O sujeito t na bica pra ser vice-presidente da empresa. Eu no sei o que me

    d, acho que um senso de

    competio muito desenvolvido, mas eu dei em cima dela, comi a menina e ela agora

    no larga do meu p. E o terceiro

    executivo que eu passo pra trs. No esquisito? E ainda por cima, eu vou ao

    casamento deles! (Com alguma indignao,

    mas rindo) como essa questo de suborno. De vez em quando os fabricantes me

    oferecem uma nota de cem dlares pra

    fazer um pedido qualquer de mercadoria. Voc sabe como eu sou honesto, mas que

    nem essa garota. Eu fico at com raiva

    de mim mesmo. Porque eu no quero nada com ela, mas mesmo assim eu dou em cima,

    apanho... e no fundo eu gosto disso.

    BJFF

    HAPPY

    No fim das contas, no decidimos nada, no ?

    BIFF

    Acabei de ter uma idia do que eu vou tentar.

    HAPPY

    O que ?

    BI FF

    Lembra do BilI Oliver?

    HAPPY

    Claro. Ele agora importante. Voc quer trabalhar pra ele de novo?

    BIFF

    No, mas quando eu sa de l, ele me disse uma coisa. Botou a mo no meu ombro e

    disse: "Biff, se um dia voc precisar de

    mim, me procure".

  • HAPPY

    Eu me lembro. Isso bom.

    Acho que eu vou falar com ele. Eu acho que se arranjasse dez mil dlares, ou mesmo

    sete ou oito mil, eu poderia comprar

    uma bela fazendinha.

    HAPPY

    Aposto que ele vai ajud-lo. Porque ele tinha a maior considerao por voc, Biff. Alis,

    todo mundo tem. Quem que no

    gosta de voc? Por isso que eu digo pra voc voltar pra c. A gente racha o

    apartamento. E qualquer garota que voc

    quiser, j sabe.

    BIFF

    No, se eu tivesse uma fazendinha eu faria aquilo que gosto e ainda seria algum. Mas

    eu fico pensando: ser que Oliver

    ainda acha qie fui eu quem roubou aquelas bolas de basquete?

    HAPPY

    Ah, ele j deve ter se esquecido disso h muito tempo. J faz quase dez anos. Voc

    muito sensvel. E alm do mais, ele

    no chegou a despedir voc.

    BIFF

    Mas acho que ele ia me despedir. Acho que foi por isso que eu pedi demisso antes. Eu

    nunca tive certeza se ele sabia ou

    BIFF

    Vamos dormir.

    o

    30

    31

    no. Mas a verdade que ele tinha muita confiana em mim. Eu era o nico que tinha a

    chave da loja.

    WILLY (embaixo)

    Voc vai lavar o motor, Biff?

    HAPPY

    Pssiu! (Bjff olha para Happy, que olha para baixo, prestando ateno. Willy est

    murmurando na sala.) Ouviu? (Prestam

    ateno. Willy ri alegremente.)

    BIFF (zangado)

    Ser que ele no percebe que mame pode escutar?

    WILLY

    Cuidado pra no sujar o suter, BifT! (Uma expresso dolorosa perpassa no rosto de

    BjIJ.)

    HAPPY

    horrvel! Por isso que eu queria que voc ficasse em casa. Por favor! Voc arranja

    um trabalho por aqui. Voc tem que

    ficar por aqui, eu no sei mais o que fazer com ele. Est ficandQ cada dia mais difcil.

    WILLY

    Como brilha esse carro!

    81FF

    Mame est ouvindo!

    WILLY

    No me diga, Biff, voc vai sair com uma garota? timo!

  • HAPPY

    BIFF (indo relutantemenle para a cama) Com mame em casa!

    HAPPY (deitando-se)

    Voc devia ter uma boa conversa com ele. (A luz do quarto deles comea a se apagar.)

    81FF (para si mesmo,j na cama) Esse velho estpido, egosta.

    (A luz do quarto deles se apaga. Antes que tenham acabado de falar, percebe-se

    vagamente a forma de Willy, na cozinha

    s escuras. Ele abre a geladeira e retira de l uma garrafa de leite. Os prdios de

    apartamentos desaparecem, e toda a

    casa e tudo que a rodeia se cobre de folhas. A msica se insinua enquanto as folhas

    aparecem.)

    Mas cuidado com essas garotas, BifE S lhe digo isso. Cuidado. No prometa nada.

    Nada de promessas. Porque uma garota

    sempre acredita naquilo que os homens dizem para ela e voc muito moo, Biff. Voc

    muito moo para falar a srio com

    uma garota.

    (Luz na cozinha. Enquanto fala, Willv vai fe- chando a porta da geladeira e vem at a

    mesa da cozinha. Pe leite num

    copo. Est totalmente imerso em seus pensamentos, sorrindo suave-

    Muito moo. Primeiro voc tem que estudar. Depois que voc estiver formado, vai

    haver um monte de garotas para um

    rapaz como voc. (Sorri para uma das cadeiras.) Mas mesmo? As garotas pagam para

    ir com voc? (Ri.) Rapaz, voc

    deve estar fazendo um sucesso!

    (Aos poucos, Willy vai se dirigindo fisicamente para um ponto no palco,falando atravs

    da parede da cozinha, e sua voz

    vai subindo de volume at o tom normal de conversa.)

    WILLY

    mente.)

    Vamos dormir. Mas voc fala com ele amanh, est bem?

    32

    33

    Eu estava s pensando por que que voc limpa esse carro HAPPY

    com tanto cuidado. Ah, no se esqueam das calotas. As calo- & Cad a surpresa,

    papai?

    tas devem ser limpas com camura. l-lappy, para os vidros

    melhor usar jornal. Mostra pra ele como que se faz, Biff! WILLY

    Aprendeu, Happy? Faz uma almofada com o jornal. Isso! No banco de trs do carro.

    isso mesmo, est muito bom. Muito bom, Happy. (Faz uma

    pausa, aprova com a cabea durante alguns segundos, depois HAPPY

    levanta a cabea.) Biff, assim que a gente tiver tempo, temos 1 Oba! (Sai correndo.)

    que cortar esse ramo de rvore a em cima da casa. Num dia

    de temporal ele pode cair em cima do telhado. Vou lhe ensinar BIFF

    como. A gente passa uma corda em volta dele, depois sobe o que , papai? Diga-me, o

    que foi que voc comprou?

    l com um serrote e acaba com ele. Quando vocs acabarem

    de limpar o carro, venham para c que eu trouxe uma surpresa. WILLY (brincando de

    lutar boxe com ele)

    Nada, nada. E uma coisa que eu quero que voc tenha.

    BIFF (fora de cena)

  • O que , papai? BIFF (vira efaz como se fosse sair)

    O que , Hap?

    WILLY

    No, primeiro acabem de limpar o carro. Nunca se deve aban- , HAPPY (fora de cena)

    donar um trabalho antes de termin-lo; nunca se esqueam um saco de boxe!

    disso. (Olhando para "as grandes rvores') Biff, nessa ltima

    viagem eu vi uma rede linda l em Albany. Na prxima vez BIFF

    eu vou comprar e depois a gente a instala a entre essas duas Oh, papai!

    rvores. No timo? A gente fica se balanando debaixo do

    arvoredo... WILLY

    E tem a assinatura de Gene Tunney!

    (Os jovens Bj/J e Happy surgem do lugar para

    onde Willy estava falando. Happy traz uns trapos (Happy entra correndo no palco com o

    saco.)

    e um balde de gua. Bj/J usando um bluso com

    um grande "S" costurado, traz uma bola defute- BIFF

    boI.) Puxa, como que voc sabia que a gente queria isso?

    BIFF (apontando o carro) WILLY

    Que tal, papai? No parece coisa de profissional? Bem, pra exerccio no pode ser

    melhor.

    WILLY HAPPY (com as costas no cho epedalando)

    Formidvel. Formidvel, meninos. Lindo trabalho, Biff. J reparou como eu estou

    perdendo peso, papai?

    34 35

    WILLY ( Happy)

    Pular corda tambm muito bom.

    BIFF

    Voc j viu a bola de futebol que eu arranjei?

    WILLY (examinando a bola)

    Onde que voc arranjou isso?

    BIFF

    O treinador disse que eu precisava praticar os passes.

    WILLY

    Ah, ? Ento foi ele que lhe deu a bola?

    BIFF

    Bem, eu tirei l do vestirio. (Ri, cmplice.)

    WILLY (rindo com ele do roubo)

    Mas voc tem que devolver.

    HAPPY

    Eu lhe disse que ele no ia gostar.

    BIFF (zangado)

    T bom, vou devolver!

    WILLY (interrompendo o incio da discusso)

    Bom, ele tem que treinar com uma bola oficial, no ? (A BjfJ) O treinador vai at dar-

    lhe parabns pela sua iniciativa.

    BIFF

    Ah, ele vive me dando parabns o tempo todo, papai.

    WILLY

    porque ele gosta de voc. Se fosse outra pessoa que tirasse

    36

  • a bola, ia haver a maior confuso. Qual a lio que a gente tira disso?

    81FF

    Onde que voc foi dessa vez, papai? Ns sentimos a sua falta.

    WILLY (satisfeito, pe um brao ao redor do ombro de cada rapaz e vem frente)

    Sentiram a minha falta, hein?

    81FF

    O tempo todo.

    WILLY

    mesmo? Bom, eu vou lhes contar um segredo, meninos. Mas no digam pra ningum.

    Qualquer dia vou ter o meu

    prprio negcio e no vou mais sair de casa.

    I-IAPPY

    Como o tio Charley, no ?

    WILLY

    Maior que o tio Charley. Porque o tio Charley no estimado. Quer dizer, ele querido,

    mas no muito querido.

    BIFF

    Onde que voc foi dessa vez, papai?

    WILLY

    Eu entrei na estrada e segui para o norte. Fui at Providence. Encontrei o prefeito.

    BIFF

    O prefeito de Providence!

    WILLY

    Estava l sentado no saguo do meu hotel.

    37

    r

    BIFF

    E o que foi que ele disse?

    WILLY

    Ele disse: "Bom dia !" e eu disse: "O senhor tem aqui uma bela cidade, prefeito". E a

    ele tomou caf comigo. Depois eu fui a

    Waterbury. Bela cidade. Tem l um relgio grande, o famoso relgio de Waterbury.

    Vendi bastante por l. Depois, Boston.

    Boston o bero da Revoluo. Bela cidade. Depois visitei umas outras cidades do

    Massachusetts, depois Portland, depois

    Bangor e da pra casa!

    BIFF

    Puxa, seria bacana se eu fosse com voc uma vez, papai.

    WILLY

    No prximo vero.

    HAPPY

    No duro?

    WILLY

    Vamos ns trs e eu vou mostrar todas as cidades. Os Estados Unidos esto cheios de

    belas cidades e pessoas agradveis. E todo

    mundo me conhece, meus filhos; todo mundo me conhece em todos os lugares. As

    pessoas mais importantes. E quando vocs

    forem comigo, vo perceber que todas as portas se abrem para ns, por causa de uma

    coisa, meus filhos: eu tenho amigos. Posso

  • estacionar em qualquer rua da Nova Inglaterra e os guardas tratam do meu carro como

    se fosse deles. No vero que vem,

    combinado?

    BIFF E HAPPY (juntos)

    Combinado!

    WILLY

    Vamos levar roupa de banho.

    38

    HAPPY

    E ns carregamos os seus mostrurios, papai!

    WILLY

    Isso vai ser fantstico. Eu, entrando pelas lojas de Boston, com meus filhos carregando

    meus mostrurios! Sensacional!

    (B/Jse movimenta, treinando uns passes.)

    WILLY

    Voc est nervoso com esse jogo, Biff?

    BI FF

    Se voc for, no.

    WILLY

    Que que se diz de voc no colgio, agora que voc o capito do time?

    HAPPY

    H sempre um monto de garotas atrs dele.

    BIFF (pegando a mo de Willy)

    Este sbado, papai, vou fazer um lindo gol em sua homenagem.

    WILLY (dando um beUo em BW)

    Puxa, isso eu tenho que contar em Boston!

    (Entra Bernard, de bombachas. mais jovem que BiJe um rapaz srio, leal e

    preocupado.)

    BERNARD

    Biff, onde que voc se meteu? Voc tinha que estudar comigo hoje.

    WILLY

    Hei, olha s pro Bernard. Por que voc est to anmico, rapaz?

    39

    BERNARD

    Ele tem que estudar, tio Willy. O exame na semana que vem.

    HAPPY (pulando volta de Bernard e tocando-o)

    Vamos lutar um pouco de boxe, Bernard!

    BERNARD

    BifT! (Afasta-se de Happy.) Escuta, Biff, eu ouvi o professor dizer que, se voc no

    estudar matemtica, ele vai reprov-lo

    e voc no vai se formar. Eu ouvi!

    WILLY

    melhor voc ir estudar com ele, BifT. V, v.

    BERNARD

    O professor disse!

    81FF

    Ah, papai! Voc ainda no viu minhas chuteiras! (Levanta um p para que Willy veja.)

    WILLY

    Puxa, como as letras esto bem feitas!

    BERNARD (limpando os culos)

  • S porque est escrito "Universidade de Virginia" no quer dizer que vo dar o diploma

    a ele, tio Willy!

    WILLY (zangado)

    Que conversa essa? Ele tem bolsa pra trs universidades e no vo dar o diploma a

    ele?

    BERNARD

    Mas eu ouvi o professor dizer.

    WILLY

    No seja chato, Bernard. (A os filhos) Olhem s que sujeitinho anmico!

    40

    BERNARD

    T bem, eu espero voc em casa, BifT.

    (Bernard sai. Os trs riem.)

    WILLY

    Bernard no muito querido, ?

    BIFF

    Ele querido, mas no muito querido.

    HAPPY

    isso mesmo, papai.

    WILLY

    isso que eu digo. Bernard pode tirar as melhores notas no colgio, mas quando entrar

    no mundo dos negcios, vocs vo

    ficar cinco vezes na frente. por isso que eu agradeo a Deus Todo-Poderoso vocs

    parecerem dois Adnis. Porque, no

    mundo dos negcios, o homem que tem boa aparncia, o homem que desperta interesse

    o homem que faz sucesso. Sejam

    queridos e vocs nunca fracassaro. Vejam o meu caso, por exemplo. Eu nunca tenho

    que ficar numa fila para ver um

    comprador. "Willy Loman est aqui", e pronto. Entro logo.

    BIFF

    Voc acabou com eles, papai?

    WILLY

    Deixei todo mundo besta em Providence e conquistei Boston.

    HAPPY (de Costas, pedalando de novo)

    Eu estou perdendo peso, percebeu, papai?

    (Linda entra, como era antes, com uma fita no cabelo, trazendo uma cesta de roupa.)

    41

    LINDA (com energia juvenil)

    Como vai, querido?

    WILLY

    Como vai, meu anjo?

    LINDA

    E o Chevrolet?

    WILLY

    Linda, o Chevrolet o melhor carro que jamais se construiu. (Aos meninos) Desde

    quando sua me carrega a cesta de

    roupa?

    BIFF

    Pegue desse lado, rapaz!

    HAPPY

  • Onde pra pr, mame?

    LINDA

    Pendurem no varal. E depois v ver os seus amigos, Biff. O poro est cheio de meninos

    sem saber o que fazer.

    BIFF

    O papai chegou, eles que esperem.

    WILLY (rindo satisfeito)

    melhor voc ir l e dizer a eles o que fazer, Biff.

    BIFF

    Acho que vou mandar que eles limpem o forno.

    WILLY

    Boa idia.

    42

    BI FF ("atravessa" a parede da cozinha, vai a uma porta do fundo e chama os amigos)

    Pessoal, todo mundo limpando o forno! Eu j deso j.

    VOZES

    0K! T legal! Certo!

    BIFF

    Vamos l, l-Iappy, segure a. (Saem com a cesta.)

    LINDA

    Como obedecem!

    WILLY

    Bom, ele um lder. Olhe, eu estava vendendo milhares de dlares, mas tive que voltar

    para casa.

    LINDA

    Claro, todo mundo vai ver esse jogo. Voc vendeu alguma coisa?

    WILLY

    Vendi um bruto de quinhentos em Providence e setecentos em Boston.

    LINDA

    No! Espera um pouco, eu tenho um lpis. (Tira papel e lpis do bolso do avental.)

    Ento, sua comisso de.. . duzentos. . .

    Nossa! Duzentos e doze dlares!

    WILLY

    Bom, eu ainda no calculei direito, mas. .

    LINDA

    Quanto voc fez?

    WILLY

    Bom, eu fiz. . . acho que uns cento e oitenta em Providence.

    43

    No, no chegou a... mais ou menos duzentos dlares na viagem toda.

    LINDA (sem vacilar)

    Duzentos bruto. Isso faz. . . (Calcula.)

    WILLY

    O problema que trs lojas estavam fechadas para balano. Seno eu teria batido todos

    os recordes.

    LINDA

    Bom,.so setenta dlares e pouco. Est muito bom.

    WILLY

    Quanto que estamos devendo?

    LINDA

  • Bom, primeiro tem dezesseis dlares da geladeira.

    WILLY

    Por que dezesseis?

    LINDA

    Rompeu-se a correia do ventilador; custou um dlar e oitenta.

    WILLY

    Mas essa geladeira nova.

    LINDA

    O homem disse que assim mesmo. Tem que trocar a correia de vez em quando.

    (Passam "atravs "da parede para a cozinha.)

    WILLY

    Tomara que eles no tenham enganado a gente.

    LINDA

    a geladeira mais anunciada de todas!

    WILLY

    Eu sei, uma boa geladeira. Que mais?

    LINDA

    Nove dlares e sessenta para a mquina de lavar. E no dia quinze vence a prestao do

    aspirador. Trs e meio. E faltam

    pagar vinte e um dlares do conserto do telhado.

    WILLY

    Acabaram-se as goteiras?

    LINDA

    Claro, eles fizeram um trabalho timo. E voc ainda tem que pagar o carburador para

    Frank.

    WILLY

    Eu no vou pagar a esse sujeito! Essa porcaria de Chevrolet, deviam proibir a fabricao

    desse carro!

    LINDA

    Bom, a gente deve a ele trs dlares e meio. Ao todo, mais ou menos cento e vinte

    dlares at o dia quinze.

    WILLY

    Cento e vinte dlares! Meu Deus, se os negcios no melhorarem, eu no sei o que vou

    fazer!

    LINDA

    Ora, na semana que vem voc vender mais.

    WILLY

    Ah, na semana que vem eu acabo com eles! Eu vou a Hartford.

    45

    44

    Sou muito querido em Hartford. Sabe qual o problema, Linda? Acho que as pessoas

    no me levam a srio.

    (Vem para afrente.)

    LINDA

    Ora, o que isso.

    WILLY

    Percebo assim que eu entro numa loja. Parece que eles esto rindo de mim.

    LINDA

    Mas por qu? Por que razo eles iriam rir de voc? No diga uma coisa dessas, WilIy.

    (Willy vem ao proscnio. Linda entra na cozinha e comea a serzir meias.)

  • WILLY

    No sei por que razo, mas ningum me liga. Ningum presta ateno em mim.

    LINDA

    Mas voc est indo to bem, meu querido. Voc est ganhando entre setenta e cem

    dlares toda semana.

    WILLY

    Mas tenho que trabalhar dez, doze horas por dia. Outros homens. . . no sei. . .

    conseguem muito mais facilmente. Eu no sei

    porque. . . no consigo me controlar. . . eu falo demais. Um homem deve falar pouco, ir

    direto ao assunto. O Charley, por exemplo.

    um homem de poucas palavras, e todo mundo o respeita.

    LINDA

    Voc no fala demais. Voc mais animado, s isso.

    46

    WILLY (sorrindo)

    Bom, eu penso: que diabo, a vida curta, umas piadinhas no fazem mal a ningum.

    (Para si mesmo) Eu brinco demais. (O

    sorriso desaparece.)

    LINDA

    Mas por qu? Voc..

    WILLY

    Eu sou grosso. Acho que tenho um aspecto risvel. Eu no lhe disse nada, mas pelo

    Natal, quando fui visitar F. H. Stewarte. . .

    havia um vendedor l na sala de espera, e quando eu ia entrando ouvi-o dizer alguma

    coisa como "cavalo marinho". Eu dei uma

    bofetada nele. Eu no admito uma coisa dessas. No posso admitir. Mas as pessoas riem

    de mim. Eu sei disso.

    LINDA

    Meu querido.

    WILLY

    Eu tenho que superar isso. Eu sei que tenho que superar isso. Acho que eu me visto fora

    de moda.

    LINDA

    Willy, meu querido, voc o homem mais atraente do mundo...

    WILLY

    No, Linda, eu. .

    LINDA

    Para mim voc . (Pequena pausa.) O mais atraente.

    (Do escuro, ouve-se uma risada de mulher. Willy no se volta, mas a risada continua

    enquanto Linda fala.)

    47

    E os meninos, Willy. Poucos homens so to queridos pelos filhos como voc.

    (Ouve-se msica, enquanto, atrs de uma cortina, esquerda, v-se vagamente uma

    mulher se vestindo.)

    WILLY (com grande sentimento)

    VQc a melhor mulher do mundo, Linda. Voc uma companheira. s vezes, na

    estrada, eu tenho vontade de abra-la, de

    apert-la, de beij-la at a morte.

    (A risada agora mais alta, e ele caminha para uma rea iluminada, esquerda, onde a

    mulher surgiu atrs da cortina e

  • est de p, pondo o chapu, olhando para um "espelho "e rindo.)

    Porque eu me sinto to sozinho - especialmente quando os negcios vo mal e eu no

    tenho ningum para conversar. Eu fico

    pensando que eu nunca mais vou vender nada, que no vou conseguir montar um

    negcio para os meninos. (Ele fala enquanto a

    mulher continua rindo. Ela se observa diante do "espelho ") H tantas coisas eu eu

    queria conseguir.

    A MULHER

    A mim? Mas voc no me conseguiu, Willy. Eu que peguei

    voc.

    WILLY (satisfeito)

    Ah, voc me pegou?

    A MULHER (que tem a idade de Willy e bastante bonita)

    Eu mesma. Eu ficava sentada naquela mesa vendo todo dia os vendedores entrando e

    saindo. Mas voc tem tanto senso de

    humor! E a gente se d muito bem, no ?

    WILLY

    Claro, claro. . . (Abraa a mulher.) Por que que voc j vai?

    A MULHER

    J so duas horas.

    WILLY

    No, fica aqui. (Atrai a mulher para si.)

    A MULHER

    minhas irms vo ficar escandalizadas. Quando que voc vai voltar?

    WILLY

    Daqui a uns quinze dias. Voc vem comigo de novo?

    A MULHER

    Claro que sim. Voc me faz rir. E me faz bem. (Belisca o brao dele e o bejja.) Voc

    maravilhoso.

    WILLY

    Quer dizer que foi voc que me pegou, no ?

    A MULHER

    Claro. Porque voc to carinhoso. E brincalho.

    WILLY

    Bom, a gente se v na prxima vez que eu vier a Boston.

    A MULHER

    E eu ponho voc em contato com os compradores.

    WILLY (dando um tapinha nas ndegas dela) Sade!

    A MULHER (d:lhe um tapinha e ri)

    Voc me mata, Willy! (Ele de repente a agarra e bea com paixo.) Voc me mata. E

    obrigada pelas meias. Gosto

    muito de meias. Boa noite.

    48

    49

    WILLY

    Boa noite. E cuida bem disso tudo!

    A MULHER

    Oh, Willy!

    (A mulher sai rindo muito e seu riso se confunde com a risada de Linda. A mulher

    desaparece no escuro; a rea da

  • cozinha se acende. Linda est sentada na mesa, mas agora est remendando umas meias

    de seda.)

    LINDA

    Voc mesmo, Willy. O homem mais atraente do mundo. No h razo para voc se

    sentir.

    WILLY (saindo da rea da mulher e dirigindo-se a Linda) Eu vou resolver tudo, Linda,

    eu.

    LINDA

    Mas no h nada a resolver, querido. Voc est indo muito bem, muito melhor que.

    WILLY (vendo as meias)

    O que que voc est fazendo?

    LINDA

    Estou remendando minhas meias. Custam to caro.

    WILLY (zangado, tirando as meias dela)

    No quero ver voc remendando meias nesta casa! Joga isso fora!

    (Linda guarda as meias no bolso do avental.)

    BERNARD (entra correndo)

    Onde que ele est? Se ele no estudar!

    50

    WILLY (vindo uifrente do palco, muito agitado) Voc passa as respostas para ele!

    BERNARD

    Eu sempre fao isso nas provas, mas no num exame! H fiscalizao! Posso at ser

    preso!

    WILLY

    Onde que ele est? Vou bater nele! Vou bater!

    LINDA

    melhor ele devolver essa bola que tirou, Willy! Isso no bonito!

    WILLY

    BifT! Onde que ele se meteu? Por que que ele tirou essa bola?

    LINDA

    Ele muito atrevido com as meninas, WiIly. Todas as mes se queixam dele!

    WILLY

    Eu vou bater nele de chicote!

    BERNARD

    Est guiando o carro sem carteira!

    (Ouve-se a risada da mulher.)

    WILLY

    Cale aboca!

    LINDA

    As mes das meninas dizem. .

    WILLY

    Cale a boca!

    51

    BERNARD (saindo)

    O professor disse que ele muito convencido.

    WILLY

    V embora daqui!

    BERNARD

    Se ele no se corrige, vai ser reprovado em matemtica! (Sai.)

    LINDA

  • Ele tem razo, Willy, voc precisa.

    WILLY (explodindo com ela)

    No tem nada de errado com meu filho! Voc quer que ele seja um verme igual a

    Bernard? Biff tem esprito, personali dade..

    (Enquanto ele fala, Linda, quase em lgrimas, sai para a sala. Willy est sozinho na

    cozinha, deprimido e com os olhos

    muito abertos. As folhas desapareceram. noite novamente, e os prdios de

    apartamento surgem de novo.)

    Estou cheio disso. Cheio! O que que ele roubou? Ele vai devolver, no vai? Por que

    que ele est roubando? Que foi que

    eu fiz errado? Em toda a minha vida, eu s ensinei a ele o caminho do bem.

    (Happv, de pama, desceu as escadas. Willv subitamente se apercebe da presena dele.)

    HAPPY

    Vamos agora, venha.

    WILLY (sentando-se na cadeira da mesa da cozinha)

    Por que que ela tem que encerar o cho sozinha? Cada vez que encera o cho fica

    exausta. Ela sabe disso.

    HAPPY

    Psss. . . Calma, papai. Por que voc voltou hoje?

    WILLY

    Fiquei morrendo de medo. Quase atropelei um garoto em Yonkers. Meu Deus! Por que

    eu no fui para o Alaska com o meu

    irmo Ben daquela vez? Ben! Aquele homem era um gnio! Era o sucesso em pessoa!

    Que erro! Ele me implorou que fosse

    com ele.

    HAPPY

    Bom, no adianta nada...

    WILLY

    Vocs, moleques! Era um homem que comeou com a roupa do corpo e terminou com

    minas de diamantes!

    HAPPY

    S gostaria de saber como ele conseguiu.

    WILLY

    Qual o mistrio? O homem sabia o que queria e pronto! Conseguiu! Entrou no meio

    da selva e quando saiu, com vinte e

    um anos, estava rico! O mundo uma ostra, mas no se quebra uma ostra com punho de

    renda!

    HAPPY

    Papai, eu j disse que vou sustentar voc. No quero que voc trabalhe mais.

    WILLY

    Voc vai me sustentar, ganhando setenta dlares por semana? Com suas mulheres, seu

    carro, seu apartamento, e voc vai

    me sustentar? Meu Deus do cu, hoje eu no consegui nem ir ali adiante! Onde que

    vocs moleques esto com a cabea?

    A casa est caindo! Eu no consigo mais guiar um carro!

    (Charley apareceu na porta. um homem corpulento, de fala lenta, lacnico e

    impassvel. Em tudo o que diz, seja o que

    for, h uma nota de piedade. Tem um rbe sobre o pjjama e usa chinelos. Entra na

    cozinha.)

    52

  • 53

    CHARLEY

    Tudo bem?

    HAPPY

    Tudo, Charley, tudo bem.

    WILLY

    O que ?

    C HARLEY

    Ouvi barulho. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. Ser que no se pode fazer

    nada com essas paredes? Se algum

    espirra aqui, na minha casa fica tudo voando.

    HAPPY

    Vamos pra cama, papai. Venha.

    (Charley faz um sinal para que Happy se v.)

    WILLY

    V voc, eu no estou cansado agora. (Happy sqi.) (A Charley) Que que voc est

    fazendo de p a essa hora?

    CHARLEY (sentando-se do outro lado da mesa, em frente a Willy)

    No pude dormir. Estou com azia.

    WILLY

    , voc no sabe comer.

    C HARLEY

    Eu como com a boca.

    WILLY

    Nada, voc muito ignorante. Voc devia se instruir sobre vitaminas e coisas assim.

    C HARLEY

    Vamos jogar um pouco. Quem sabe voc se cansa?

    54

    WILLY (hesitante)

    Est bem. Tem o baralho a?

    C HARLEY (tirando um baralho do bolso)

    Tenho. Que que tm as vitaminas?

    WILLY (embaralhando)

    Fortificam os ossos. Qumica.

    CHARLEY

    Bom, mas azia no tem osso.

    WILLY

    Que que voc sabe de qumica? Voc no sabe nada de nada.

    C HARLEY

    Calma.

    WILLY

    No fale de um assunto que voc no conhece.

    (Estao jogando. Pausa.)

    C HARLEY

    Por que voc est em casa?

    WILLY

    O carro. Enguiou.

    C HARLEY

    Ah. (Pausa.) Eu gostaria de ir at a Califrnia.

    WILLY

  • Sei.

    C HARLEY

    Quer um emprego?

    55

    1 II

    WILLY CHARLEY

    Eu tenho um emprego. Voc sabe disso. (Pausa.) Mas por que Voc leva tudo muito a

    srio. Que v pro inferno! Se a gente

    merda voc est me oferecendo um emprego? 4

    quebra uma garrafa ningum devolve o depsito.

    CHARLEY WILLY

    No se ofenda. Isso fcil de voc dizer.

    WILLY CHARLEY

    No me ofenda. No fcil para eu dizer.

    CHARLEY WILLY

    Isso no tem sentido. Voc no precisa continuar assim. Voc viu o forro que eu pus no

    teto da sala?

    WILLY CHARLEY

    Eu tenho um bom emprego. (Pausa.) Por que que voc vem Vi, uma beleza. Pra mim

    um mistrio. Como que se pe

    aqui, hein? um forro?

    CHARLEY WILLY

    Voc quer que eu v embora? O que importa?

    WILLY (depois de uma pausa, murcho) C HARLEY

    Eu no compreendo. Ele vai voltar de novo pro Texas. O que Bom, me explica.

    quer dizer isso?

    WILLY

    CHARLEY Voc est querendo pr um forro?

    Deixe-o ir.

    CHARLEY

    WILLY Como que eu posso pr um forro?

    Eu no tenho nada para dar a ele, Charley. Absolutamente

    nada.

    WILLY

    Ento pra que que est me enchendo com isso?

    C HARLEY

    Ele no vai morrer de fome. Nenhum deles morre de fome. CHARLEY

    J se ofendeu de novo.

    Esquea esse rapaz.

    WILLY

    WILLY Um homem que no sabe trabalhar com uma ferramenta no

    E o que terei ento para recordar? um homem. Voc um chato.

    56

    C HARLEY

    CHARLEY Ah.

    No me chame de chato, WilIy.

    BEN (com um risinho)

    (Tio Ben, carregando uma maleta e um guarda- Ento isso que o Brooklin!

    chuva, entra no palco, vindo do canto direito da

    casa. um homem impassvel, sessento, de bigo- C HARLEY

  • des. Tem um ar autoritrio. Est seguro a respeito Quem sabe voc no vai receber uma

    parte da herana?

    de seu destino e h uma aura de lugares distantes

    que o envolve. Entra exatamente enquanto Willy WILLY

    fala.) Nao, ele deixou sete filhos. Tive uma oportunidade unica com

    esse homem.

    WILLY

    Estou ficando muito cansado, Ben. BEN

    Tenho que pegar o trem, William. Ha muitos terrenos que eu

    - . tenho que ver no Alaska.

    (Ouve-se a musica de Ben. Ele olha tudo a sua

    volta.) WILLY

    Claro! Se eu tivesse ido com ele para o Alaska, tudo teria sido

    C HARLEY diferente.

    timo, jogue um pouco mais. Voc vai dormir melhor. Voc

    me chamou de Ben? C HARLEY

    Ora, voc ia morrer de frio por l.

    (Ben olha para seu relgio.)

    WILLY

    WILLY Ora, no diga bobagens.

    engraado. Por um instante voc me lembrou meu irmo

    Ben. BEN

    As oportunidades so imensas no Alaska, William. No en

    BEN tendo como voc no est l.

    Tenho muito pouco tempo. (Passeia pelo lugar, inspecionando. WILLY

    Willy e Charley continuam jogando.)

    Eu sei, imensas.

    CHARLEY CFIARLEY

    Voc nunca mais ouviu falar dele? Desde aquele tempo? O.qu?

    WILLY WILLY

    Linda no lhe contou? H uns quinze dias recebemos da frica Foi o nico homem que

    eu encontrei que sabia as respostas.

    uma carta da mulher dele. Ele morreu.

    59

    58

    1

    C HARLEY C HARLEY (recolhendo a aposta)

    Quem? O que foi que voc disse?

    BEN BEN (olhando o relgio)

    Como vo vocs? William,j so oito e meia!

    WILLY (recolhendo uma aposta e sorrindo) WILLY (como que para safr da confuso,

    pega a mo de Char Muit bem,

    muito bem. ley)

    Quem ganhou fui eu!

    CHARLEY

    Voc est com sorte hoje. CHARLEY

    Mas eu que baixei o s.

    BEN

    E mame? Mora com voc? WILLY

    WILLY Se voc no sabe jogar, aprenda!

  • No, ela j morreu h muito tempo.

    C HARLEY (levantando)

    C HARLEY Mas o s era meu!

    Quem?

    WILLY

    BEN J estou cheio! Cheio!

    Que pena! Mame era uma senhora finssima.

    BEN

    WILLY (a Charley) Quando foi que mame morreu?

    O qu?

    WILLY

    BEN Faz tempo. Voc nunca soube jogar.

    Tinha esperana de v-la.

    C HARLEY (apanha as cartas e vai porta)

    CHARLEY Est bem! A prxima vez eu trago um baralho com cinco car Que morreu?

    tas.

    BEN WILLY

    E papai? Que fim levou? Eu no jogo essa espcie de jogo!

    WILLY (enervado) C HARLEY (virando-separa ele)

    Que conversa essa, quem morreu? Voc devia ter vergonha!

    60 61

    WILLY

    Ah,?

    C HARLEY

    sim! (Sai.)

    WILLY (batendo aporta atrs dele)

    Ignoran to!

    BEN (enquanto Willy vem a ele atravs da parede da cozinha) Ento voc William.

    WILLY (apertando a mo de Ben)

    Ben! Estou esperando voc h tanto tempo! Qual a resposta? Como foi que voc

    conseguiu?

    BEN

    Ah, existe uma histria atrs disso.

    (Linda entra no palco, como antigamente, carregando a cesta de roupa.)

    LINDA

    Esse Ben?

    BEN (galantemente)

    Como est, minha querida?

    LINDA

    Onde voc esteve estes anos todos? Willy sempre perguntava se voc.

    WILLY (afastando impacientemente Ben de Linda)

    Onde est papai? Voc no foi com ele? Como que voc comeou?

    BEN

    Bem, eu no sei o quanto voc se lembra.

    62

    WILLY

    Ben, eu era um garotinho, eu tinha trs ou quatro anos.

    BEN

    Trs anos e onze meses.

    WILLY

  • Que memria!

    BEN

    Tenho muitos negcios e nenhum livro.

    WILLY

    Eu lembro de mim sentado debaixo de um vago em. . . era Nebraska?

    BEN

    Era na Dakota do Sul, e eu dei a voc um ramo de flores.

    WILLY

    Eu me lembro de voc caminhando numa larga estrada.

    BEN (rindo)

    Eu ia procurar papai no Alaska.

    WILLY

    E onde est ele?

    BEN

    Nessa ocasio eu tinha uma deficiente viso da geografia, Wilijam. Depois de alguns

    dias eu percebi que estava me dirigindo para

    o sul e, assim, em vez de Alaska, eu terminei na frica.

    LINDA

    frica!

    63

    WILLY

    WILLY

    A Costa do Ouro!

    BEN

    Minas de diamante.

    LINDA

    Minas de diamante!

    BEN

    Isso, minha querida. Mas eu tenho muito pouco tempo.

    WILLY

    No! Meninos! Meninos! (Aparecem os jovens Bj/Je Happy.) Prestem ateno: este

    seu tio Ben, um grande homem!

    Conte a eles, Ben!

    BEN

    Muito bem, meninos, quando eu tinha dezessete anos entrei na selva e, quando eu tinha

    vinte e um, sa dela. (Ri.) E estava

    podre de rico.

    WILLY (aos meninos)

    Esto vendo o que eu vivo dizendo? Tudo pode acontecer!

    BEN (olhando o relgio) Tenho encontros marcados.

    WILLY

    No, Ben! Por favor, fale de papai. Quero que meus filhos saibam de que estirpe

    descendem. S me lembro de um homem

    com uma barba grande, eu estava no colo de mame, volta de uma fogueira e se ouvia

    msica.

    BEN

    A flauta. Papai tocava flauta.

    isso, a flauta, isso mesmo!

    BEN

    (Ouve-se uma outra msica.)

  • Papai era um grande homem, um homem de corao selvagem. Partamos de Boston,

    ele botava a famlia toda dentro de um

    vago e todo mundo viajava atravs do pas: Ohio, Indiana, Michigan, Illinois e todos os

    Estados do leste. A gente parava

    nas cidades e vendia as flautas que ele ia construindo pelo caminho. Grande inventor,

    nosso pai. Com uma bugiganga

    ganhava mais dinheiro numa semana do que um homem como voc pode ganhar a vida

    inteira.

    WILLY

    exatamente assim que eu estou educando meus filhos, Ben. Inflexveis e simpticos.

    Homens de verdade.

    BEN

    mesmo? (A Bj/J,) D um soco aqui, menino. Com toda a fora. (Mostra o estmago.)

    BIFF

    Oh, no, senhor.

    BEN (tomando posio de boxe) Vamos, ataque. (Ri.)

    WILLY

    Vamos l, Biff! V em frente! Mostre a ele!

    BIFF

    0K! (Fecha os punhos e comea.)

    LINDA (a Willy)

    Por que que ele tem de lutar, querido?

    64

    65

    BEN(lutandocomBtjJ)

    Bom menino, bom menino!

    WILLY

    Que tal, Ben?

    HAPPY

    D uma esquerda nele, Biff!

    LINDA

    Por que esto lutando?

    BEN

    Bom menino! (Subitamente avana, d uma rasteira em B1/J derruba-o e coloca a ponta

    do guarda-chuva no olho dele.)

    LINDA

    Cuidado!

    BIFF

    Ei!

    BEN (batendo no joelho de Bifi)

    Nunca jogue limpo com um estranho, menino. Desse jeito voc nunca vai conseguir sair

    da selva. (Toma a mo de Linda e faz

    uma reverncia.) Foi um prazer e uma honra conhecer voc, Linda.

    LINDA (rei irando a mo friamente, amedrontada)

    Boa viagem, Ben.

    BEN (a Willy)

    E boa sorte com o seu. . . o que que voc faz mesmo?

    WILLY

    Sou caixeiro-viajante.

    66

  • BEN

    Hum. Adeus. .. (Levanta a mo, dando adeus a todos.)

    WILLY

    No, Ben, no quero que voc pense... (Pega no brao de Ben para mostrar.) Isto o

    Brooklin, mas aqui tambm se caa.

    BEN

    Sei.

    WILLY

    Aqui tambm h serpentes e coelhos. . . foi por isso que ns mudamos para c. Ora, Biff

    pode derrubar qualquer dessas rvores

    num instantinho. Vo j construo a em frente e tragam um pouco de areia. Vamos

    reconstruir toda a varanda agora

    mesmo! Olhe s para isto, Ben!

    81FF

    pra j! Vamos embora, Hap!

    HAPPY (enquanto sai com Bfj)

    Reparou como eu perdi peso, papai?

    (Charley entra de bombachas, antes que os rapazes saiam.)

    C HARLEY

    Escute, se eles roubarem mais alguma coisa daquele prdio, o vigia vai chamar a

    polcia!

    LINDA (para Willy)

    No deixe BiIT...

    (Ben ri ruidosamente.)

    67

    WILLY

    Voc precisa ver a madeira que eles trouxeram pra casa semana passada. Uma dzia de

    tbuas valendo um dinheiro.

    CHARLEY

    Olhe aqui, se aquele vigia.

    WILLY

    Eu tratei-os com rigor, mas o resultado que esses dois no tm medo de nada.

    C HARLEY

    Willy, as cadeias esto cheias de gente que no tem medo de nada.

    BEN (dando um tapinha em Willy e rindo-se de Charley) E a Bolsa de Valores tambm!

    WILLY (rindo com Ben)

    Cad o resto das tuas calas?

    C HARLEY

    Foi minha mulher que comprou.

    WILLY

    Agora voc s precisa de um clube de golfe e, depois, de uma caminha pra descansar do

    esforo. (A Ben) Grande atleta! Ele

    e o filho Bernard, juntos, no tm fora pra pregar um prego!

    BERNARD (entrando)

    O vigia est perseguindo Biff!

    WILLY (zangado)

    Cale essa boca! Ele no est roubando nada!

    LINDA (alarmada, correndo e saindo)

    Onde que ele est!? Biff! Biff!

    68

  • WILLY (caminhando um pouco atrs dela)

    No h nada de errado. O que h com voc?

    BEN

    Esse menino tem nervo.

    WILLY (rindo)

    Oh, Bifi' tem nervos de ao!

    C HARLEY

    No sei o que que h. O meu vendedor da Nova Inglaterra voltou de viagem sem

    vender nada. Est arrasado!

    WILLY

    O importante ter prestgio, Charley; eu tenho muito prestgio!

    C HARLEY (sarcstico)

    Parabns. Passa l em casa mais tarde pra gente jogar um pouco. Quero tirar um pouco

    desse dinheiro que voc est ganhando.

    (Ri de Willy e sai.)

    WILLY (virando-separa Ben)

    Os negcios vo muito mal, vo cada vez pior. Mas pra mim no, claro.

    BEN

    Antes de voltar para a frica, eu passo aqui novamente.

    WILLY (ansioso)

    Voc no pode ficar aqui uns dias? Preciso tanto de voc, Ben. Eu tenho uma boa

    posio aqui, mas que papai foi embora

    quando eu ainda era menino, eu nunca pude falar com ele e. .

    eu no me sinto muito seguro.

    BEN

    Eu vou perder meu trem.

    (Esto em pontos afastados do palco.)

    69

    WILLY

    Ben... os meus filhos.. . ser que a gente no podia conversar? Eles so capazes de se

    atirar no fogo por mim, mas.

    BEN

    William, voc est dando a eles uma educao primorosa! So rapazes formidveis,

    viris.

    WILLY (segurando-se s palavras dele)

    Que bom que voc disse isso, Ben! Porque de vez em quando eu penso que no estou

    ensinando direito a eles. . . Ben, o que que

    devo ensinar a eles?

    BEN (dando muito peso a cada palavra, e com uma espcie de viciosa audcia)

    William, quando eu entrei na selva eu tinha dezessete anos. Quando eu sa, tinha vinte e

    um. E estava rico! (Sai, entrando

    na escurido do lado direito da casa.)

    WILLY

    estava rico! Esse esprito que eu quero incutir neles! Eu estava certo! Eu estava certo! Eu estava certo!

    (Ben j foi embora, mas Willy continua falando com ele, enquanto Linda, de camisola e

    roupo, entra na cozinha, procura

    por Willy e vai depois porta da casa, olha para fora e o v. Vem at ele. Ele a olha.)

    LINDA

    Willy, querido! Willy!

  • WILLY

    Eu estava certo!

    LINDA

    Voc comeu o queijo? (Ele no consegue responder.) J muito tarde, meu bem. Venha

    dormir

    WILLY (olhando para cima)

    A gente precisa quebrar o pescoo para conseguir ver uma estrela deste quintal.

    LINDA

    Vem!

    WILLY

    Que fim levou aquela corrente de relgio com um diamante? Lembra? Quando Ben

    voltou da frica daquela vez? Ele no

    me deu uma corrente de relgio com um diamante?

    LINDA

    Voc a penhorou, querido. H uns doze ou treze anos. Para pagar o curso de rdio por

    correspondncia de Biti'.

    WILLY

    Aquela corrente era to linda. Vou dar um passeio.

    LINDA

    Mas voc est de chinelos.

    WILLY (comeando a caminhar em volta da casa, pela esquerda) Eu tinha razo. Eu

    tinha razo! (Um pouco para Linda,

    enquanto sai, sacudindo a cabea.) Que homem! Aquele sim, valia a pena conversar

    com ele. Eu tinha razo!

    LINDA (chamando)

    Mas voc est de chinelos, Willy.

    BIFF

    (Willy quase j se foi quando Bjff de pama, desce as escadas e entra na cozinha.)

    Que que ele est fazendo l fora?

    LINDA

    Psst.

    70

    71

    81FF

    81FF

    Meu Deus, mame, h quanto tempo ele anda assim?

    LINDA

    Cuidado que ele pode escutar.

    BIFF

    Mas o que que que h com ele?

    LINDA

    De manh passa.

    BIFF

    No se pode fazer nada?

    LINDA

    Oh, meu querido, voc podia ter feito uma poro de coisas, mas no h mais nada a

    fazer, portanto v dormir.

    HAPPY

    (Happy desce as escadas e se senta nos degraus.)

    Ele nunca falou to alto assim, mame.

  • LINDA

    Aparea por aqui mais vezes que voc o ouvir. (Senta-se na mesa e remenda oforro do

    palet de Willy.)

    BIFF

    Por que voc nunca me escreveu contando isso, mame?

    LINDA

    E como que eu podia? Voc passou mais de trs meses sem um endereo.

    Eu estava viajando. Mas voc sabe que eu pensei em voc o tempo todo. Voc sabe

    disso, no sabe, mame?

    LINDA

    Eu sei, meu bem, eu sei. Mas ele gosta de receber uma carta. Apenas para saber que

    ainda existe uma possibilidade de

    alguma coisa boa.

    81FF

    Ele no assim o tempo todo, ?

    LINDA

    Ele piora quando voc vem para casa.

    81FF

    Quando eu venho para c?

    LINDA

    Quando voc escreve dizendo que vem, ele fica todo alegre, fala do futuro, fica

    maravilhoso. Depois, medida que vai chegando

    o dia, ele vai ficando agitado, at que, quando voc chega, ele s fica discutindo e

    parece zangado com voc. Acho que isso que

    o transtorna. . . ele no consegue se entender com voc. Por que vocs tm tanto dio?

    Por que isso?

    81FF (evasivo)

    Eu no tenho dio dele, mame.

    LINDA

    Mas, assim que voc abre a porta, os dois j esto brigando!

    BIFF

    No sei por qu. Eu quero mudar. Estou tentando, mame.

    LINDA

    Voc vai ficar em casa desta vez?

    72

    73

    BIFF

    No sei. Quero dar uma espiada por a, ver como que as coisas vo.

    LINDA

    Biff, voc no pode passar a sua vida espiando como que as coisas vo, no ?

    BIFF

    que eu no consigo me fixar em nada, mame. No consigo me encontrar na vida.

    LINDA

    Biff, um homem no um passarinho que vai e volta conforme a primavera.

    BIFF

    Seu cabelo. . . (Toca o cabelo dela.) Seu cabelo ficou to grisalho...

    LINDA

    Oh, grisalho desde o seu tempo de ginsio. S que eu parei de tingir, s isso.

    BI FF

  • Ento tinja de novo, est bem? No quero ver minha amiga parecendo uma velha.

    (Sorri.)

    LINDA

    Voc uma criancinha! Voc acha que pode sumir por mais de um ano e. . . voc

    precisa botar na cabea que um dia desses,

    quando voc bater na porta, vai encontrar gente estranha morando aqui.

    BIFF

    Que isso, mame. Voc no tem nem sessenta anos.

    74

    LINDA

    E seu pai?

    BIFF (sem entusiasmo)

    Eu falava dele tambm.

    HAPPY

    Ele admira papai.

    LINDA

    Biff, meu filho, se voc no sente nada por seu pai, tambm no pode sentir por mim.

    BIFF

    Claro que posso, mame.

    LINDA

    No. Voc no pode vir aqui s pra me visitar, porque eu amo seu pai. (Com uma

    ameaa de lgrimas, mas s uma ameaa.)

    Para mim ele o melhor homem do mundo e eu no quero que ningum o faa sentir-se

    triste, abatido ou indesejado. Voc tem

    que se decidir agora, meu querido, porque no haver mais contemplao. Ou bem ele

    seu pai e voc o respeita, ou eu no

    quero mais que voc venha aqui. Eu sei que ele dificil.

    ningum sabe disso melhor do que eu. . . mas.

    WILLY (da esquerda, com uma risadinha)

    Ei, Bifi!

    BIFF (comeando a sair)

    Mas o que que h com ele? (Happy o segura.)

    LINDA

    No chegue perto dele!

    BIFF

    Chega de arranjar desculpas para ele! Ele nunca na vida ligou pra voc! Nunca teve um

    tiquinho de respeito por voc.

    75

    1

    HAPPY

    Ele sempre teve o maior respeito por.

    se requer muita inteligncia para perceber o que que h com ele. O homem est

    exausto.

    BIFF

    Ora, que merda voc sabe disso?!

    HAPPY

    Claro!

    HAPPY (spero)

    No diga que ele louco!

    BIFF

  • Ele no tem carter! Charley no faria uma coisa dessas! Na sua prpria casa! Ficar

    vomitando por a o que tem nessa

    cabea suja!

    HAPPY

    Charley nunca teve que enfrentar os problemas de papai.

    BIFF

    Conheo gente mais angustiada que Willy Loman. Eu sei porque vi!

    LINDA

    Ento faa de Charley o seu pai, Biff. No possvel, ? Eu no digo que ele seja um

    grande homem. Willy Loman jamais

    ganhou muito dinheiro. Seu nome nunca saiu nos jornais. No o melhor carter que j

    viveu. Mas um ser humano, e

    uma coisa terrvel est acontecendo com ele. preciso prestar ateno nele. No se

    pode permitir que ele baixe sepultura

    como um cachorro velho. preciso, necessrio prestar ateno a uma pessoa assim.

    Voc disse que ele era louco.

    BIFF

    Eu no quis dizer.

    LINDA

    No, muita gente acha que ele est desequilibrado. Mas no

    LINDA

    Um homem comum pode ficar to cansado quanto um grande homem. Agora em maro

    vai fazer trinta e seis anos que ele

    trabalha para essa companhia, para a qual ele abriu novos mercados em lugares de quem

    nunca ningum tinha ouvido falar, e

    agora, na velhice, eles cortam o salrio.

    HAPPY (indignado) Eu no sabia disso, mame!

    LINDA

    Voc nunca perguntou, meu querido! Agora que voc apanha em outro lugar o dinheiro

    de que precisa, voc no se

    preocupa mais com ele.

    HAPPY

    Mas eu dei dinheiro a vocs no ltimo.

    LINDA

    No ltimo Natal. Cinqenta dlares. S para consertar o aquecedor pagamos noventa e

    sete! H dois meses que seu pai

    trabalha s ganhando comisso, como um principiante, como um desconhecido!

    BIFF

    Esses canalhas ingratos!

    LINDA

    Sero piores que os prprios filhos dele? Quando ele era jovem e trazia novos negcios

    para a companhia, todo mundo

    vivia contente. Mas agora os seus velhos amigos, os velhos compra-

    76

    77

    dores que gostavam dele e sempre encontravam um jeito de arranjar um pedido, esto

    todos mortos ou aposentados. Ele

    costumava fazer seis, sete visitas dirias em Boston. Agora ele tira os mostrurios do

    carro, traz de volta, tira de novo e est

  • exausto. Agora, em vez de andar, ele fala. Dirige por mais de mil quilmetros, e quando

    chega a seu destino, ningum mais o

    conhece e ningum lhe d as boas-vindas. E o que que passa pela cabea de um

    homem que viaja mais mil quilmetros voltando

    para casa, sem ter ganho um tosto? Por que que no pode falar sozinho? Por qu? Se

    ele tem que pedir emprestado a Charley

    cinqenta dlares toda semana e fingir para mim que o pagamento dele? At quando

    isso pode continuar assim? At quando?

    Voc compreende agora por que eu sento aqui e espero? E voc vem me dizer que ele

    no tem carter! Um homem que

    trabalhou todos os dias de sua vida para voc? Quando que ele vai receber uma

    medalha por isso? O prmio dele este: chegar

    idade de sessenta e trs anos e ver os dois filhos que ele amou mais que a prpria vida.

    . . um, mulherengo vulgar.

    HAPPY Mame!

    LINDA

    o que voc , meu filho! (A Bjff) E voc? Que fim levou

    o amor que voc tinha por ele? Vocs eram to amigos! S

    o jeito que vocs falavam ao telefone toda noite! Ele se sentia

    to solitrio at que pudesse voltar para casa e ver voc!

    BIFF

    Muito bem, mame. Eu vou viver aqui no meu quarto e arranjar um emprego. S no

    quero conversa com ele, s isso.

    LINDA

    No, BifY. Voc no pode viver aqui e ficar brigando com ele o tempo todo.

    BIFF

    Ele me expulsou de casa, lembre-se disso.

    LINDA

    Por que ele fez isso? Nunca entendi por qu.

    BIFF

    Por que eu sei que ele um falso e ele no gosta que ningum por perto saiba disso.

    LINDA

    Por que falso? Como assim?

    BIFF

    A culpa no s minha, no. um assunto entre mim e ele,

    pronto. De agora em diante eu vou contribuir. Metade do meu

    salrio dele. E vai ficar tudo bem. Eu vou dormir. (Comea

    a subir as escadas.)

    LINDA

    No vai ficar tudo bem.

    BIFF (voltando-se da escada,furioso)

    Eu odeio esta cidade e vou ficar aqui. O que mais que voc

    quer?

    LINDA

    Ele est morrendo, Biff.

    (Happy vira-se rapidamente para ela, chocado.)

    BIFF (depois de uma pausa) Por que que ele est morrendo?

    LINDA

    Ele est tentando se suicidar.

    BIFF (horrorizado) Como?

  • 78

    79

    LINDA LINDA

    Vivo em O que foi que voc disse?

    BIFF BIFF

    Mas o que isso? Nada. Eu disse apenas "que mulher"?

    LINDA HAPPY

    Lembra que eu lhe escrevi quando ele bateu com o carro de Que que tem ela?

    novo? Em fevereiro?

    LINDA

    BIFF Parece que ela estava andando pela estrada e viu o carro dele.

    Sei. Disse que no estava correndo muito e que no derrapou.

    Disse que quando ele chegou naquela pontezinha, jogou o

    LINDA carro contra a mureta de propsito, e que s no morreu por inspetor da

    companhia de seguros veio aqui. Disse que eles

    que a profundidade da gua era pequena.

    tinham provas de que todos os acidentes do ano passado no

    eram. . . no eram. . . acidentes. BIFF

    No, vai ver que ele dormiu na direo.

    HAPPY

    Como que podem dizer uma coisa dessas? mentira! LINDA

    No acredito nisso.

    LINDA

    Parece que h uma mulher. . . BIFF

    (Linda e Bj/Jfalam ao mesmo tempo.) Por qu?

    LINDA LINDA

    e essa mulher... No ms passado. .. (Com grande d(flculdade) Oh, meus fi lhos to

    difcil para mim dizer isso! Para vocs ele

    no passa

    BIFF de um velho estpido, mas eu digo que ele melhor que muitos

    Que mulher? outros. (Solua e limpa os olhos.) Eu estava procurando um

    fusvel. A luz da casa tinha se apagado e eu desci at o poro.

    LINDA E atrs da caixa de fusveis, tinha cado o pedacinho de um

    O qu? tubo de borracha.

    BIFF HAPPY

    Nada. Continue. E mesmo?

    80 81

    LINDA HAPPY

    Tem uma conexo na ponta. Percebi na hora. E lgico que, Como no tempo em que

    voc trabalhava no Harrison's. Bob

    na base do aquecedor, havia uma nova torneirinha no tubo de Harrison dizia que voc

    era o mximo e a voc fazia uma

    gs. besteira qualquer, como ficar assobiando o tempo inteiro no

    elevador.

    HAPPY (zangado)

    Esse... bobo. BIFF (contra Happy)

    BIFF E da? Eu gosto de assobiar de vez em quando.

    E voc tirou o tubo? HAPPY

    LINDA Ningum d um cargo importante a um sujeito que assobia

  • no elevador!

    Tenho vergonha. . . Como e que eu vou falar nisso com ele?

    Todo dia eu deso e tiro o tubinho de borracha. Mas, quando LINDA

    ele chega em casa, eu ponho de novo no lugar. Como que

    - . . Nao discutam isso agora.

    eu posso insulta-lo desse Jeito? Eu nao sei o que fazer. Vivo

    em pnico. Sei que pode parecer fora de moda, uma frase feita,

    mas ele dedicou sua vida inteira a vocs e vocs agora lhe do HAPPY

    as costas. (Inclina-se na cadeira, chorando, o rosto entre as Como nos dias em que voc

    saa no meio do expediente e ia

    mos.) Biff, juro por Deus! A vida dele est nas suas mos! nadar.

    HAPPY (a BW) BIFF (com crescente ressentimento)

    Que que voc me diz desse palhao? Bom, voc nunca sai? De vez em quando voc

    sai, no sai?

    Num dia bonito?

    BIFF (beUando a me)

    Est bem, mezinha, est bem. Est tudo acertado agora. Eu

    tenho sido negligente. Eu sei disso, mame. Mas agora eu vou HAPPY .

    ficar aqui e juro que vou me corrigir. (Ajoelhando-se diante Saio, mas eu me cuido pra

    ninguem perceber!

    dela, cheio de remorso) que. .. sabe, me, eu no me dou L

    bem no mundo dos negcios. No que eu no v tentar. Eu INDA

    vou tentar e vou conseguir. eninos.

    HAPPY HAPPY

    Claro que vai, O seu problema que voc nunca se preocupou Se eu vou dar uma

    escapada, o patro pode chamar qualquer

    em agradar as pessoas. telefone da loja que todo mundo vai jurar pra ele que eu sa

    de l naquele momento. E chato o que eu vou lhe dizer, Biff,

    BIFF mas no mundo dos negcios h muita gente que acha voc bi E sei, eu. . . ruta.

    82 83

    81FF

    Dane-se o mundo dos negcios!

    HAPPY

    T bem, que se dane. Mas v se voc se cuida!

    LINDA

    Hap,Hap!

    81FF

    No me importa o que eles acham! Eles riram de papai durante anos, e sabe por qu?

    Porque ns no temos nada com a porcaria

    desta cidade! A gente devia estar misturando cimento ao ar livre ou ser. . . carpinteiro.

    Um carpinteiro pode assobiar!

    WILLY

    (Willy surge na entrada da casa, esquerda.)

    At o seu av era melhor que um carpinteiro. (Pausa. Eles o contemplam.) Voc nunca

    ficou adulto. Bernard no assobia

    num elevador, isso eu lhe garanto.

    81FF (tentando levar na brincadeira) Mas voc assobia, papai.

    WILLY

    Nunca na minha vida assobiei num elevador. E quem, no mundo dos negcios, acha que

    eu sou louco?

  • 81FF

    Eu estava s brincando, papai. No precisa fazer um drama.

    WILLY

    Volte pro oeste! V ser carpinteiro, vaqueiro, divirta-se!

    LINDA

    Willy, ele s estava dizendo.

    WILLY

    u ouvi o que ele disse!

    HAPPY (tentando acalmar Willy) Escute aqui, papai.

    WILLY (continuando, em cima da frase de Happy)

    Eles riem de mim, hein? V ao Filene, v ao Hub, v ao Slattery, v a Boston inteira!

    Pronuncie o nome de Willy Loman e

    veja o que acontece! Um prestgio imenso!

    81FF

    Est bem, papai.

    WILLY

    Imenso!

    81FF

    Est bem!

    WILLY

    Por que que voc vive me insultando?

    BIFF

    Eu no disse nada. (A Linda) Eu disse alguma coisa?

    LINDA

    Ele no disse nada, Willy.

    WILLY (indo porta da sala) Est bem, boa noite, boa noite.

    LINDA

    Willy, querido, ele acaba de decidir. .

    WILLY (a BjfJ)

    Se amanh voc ficar cansado de no fazer nada, procure pintar o forro novo que eu pus

    no teto da sala.

    84

    85

    BIFF

    Amanh eu vou sair bem cedo.

    HAPPY

    Ele vai falar com BilI Oliver, papai.

    WILLY (interessado) Oliver? Para qu?

    BIFF (cauteloso, mas esforando-se)

    Ele sempre disse que me ajudaria. Eu queria entrar num negcio, quem sabe se ele me

    apia?

    LINDA

    No formidvel?

    WILLY

    No interrompa. Que que tem isso de formidvel? H pelo menos cinqenta pessoas

    em Nova York que o ajudariam. (A

    Bj/J) Artigos de esporte?

    BIFF

    Acho que sim. Eu conheo alguma coisa do ramo e.

    WILLY

  • Conhece alguma coisa do ramo! Voc conhece artigos de esporte mais do que ningum!

    Quanto que ele vai lhe dar?

    BIFF

    No sei, eu ainda nem falei com ele, eu.

    WILLY

    Ento, que conversa essa?

    BIFF (ficando zangado)

    Bom, eu s disse que ia falar com ele, s isso.

    WILLY (dando-lhe as costas)

    Ah, sei. Voc j est de novo contando com o ovo no cu da galinha.

    BIFF (saindo em direo escada) Oh, merda, eu vou dormir!

    WILLY

    E no diga paI avres nesta casa!

    BIFF (parando)

    Desde quando voc ficou to delicado?

    HAPPY (tentando parar a discusso) Esperem um pouco, escutem.

    WILLY

    No fale assim comigo! No admito isso!

    HAPPY (segurando Bjff grita)

    Espere um pouco! Tive uma idia. Fcil de realizar. Venha c, Biff, vamos conversar

    com a cabea fria. A ltima vez que eu

    estive na Flrida, tive uma grande idia para a venda de artigos de esporte. Agora pensei

    nela de novo. Voc e eu, Biff, temos

    um estilo. . . o estilo Loman. A gente treina uns quinze dias e faz umas exibies,

    compreende?

    WILLY

    uma boa idia.

    HAPPY

    Espere! Fazemos dois times de basquete, compreende? Dois times de plo aqutico! E

    jogamos um contra o outro. Vale

    um milho de dlares em publicidade. Dois irmos, compreende? Os Irmos Loman.

    Anncios em todas as avenidas, em

    todos os hotis. E estandartes nas quadras, nos ringues:

    86

    87

    "Os Irmos Loman". Rapaz, voc vai ver s como a gente vai vender artigos de esporte!

    WILLY

    Essa idia vale um milho!

    LINDA

    maravilhoso!

    BIFF

    Bem, eu estou em forma.

    HAPPY

    E a beleza que existe nisso, Biff, no seria s uma coisa comercial. A gente estaria

    jogando de novo.

    BIFF (entusiasmando-se)

    Puxa, isso .

    WILLY

    Vale um milho.

    HAPPY

  • E voc no ia se chatear com isso, Biff. Vai ser de novo a

    famlia, a velha honra, a camaradagem. E se voc quiser dar

    uma escapadela pra nadar, voc vai! Sem se preocupar com

    o canalha que quer pass-lo pra trs!

    WILLY

    Conquistar o mundo! Vocs dois juntos podem conquistar todo o mundo civilizado!

    BIFF

    Vou falar com Oliver amanh. Happy, se a gente conseguir fazer iss