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1 Oração da Manhã A MÍSTICA FRANCISCANA NO Mês da Bíblia

A MÍSTICA FRANCISCANA NO Mês da Bíblia · 2 parÓquia sÃo francisco de assis provÍncia franciscana da imaculada conceiÇÃo - regiÃo episcopal ipiranga rua borges lagoa, 1209

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Oração da Manhã

A MÍSTICA FRANCISCANA NO Mês da Bíblia

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PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSISPROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO - REGIÃO EPISCOPAL IPIRANGARua Borges Lagoa, 1209 - Vila ClementinoTelefone: (11) 5576-7960. Fax: (11) 5576-7961 Email: [email protected] SITE: www.paroquiavila.com.brPÁROCO: Frei Djalmo Fuck Imagem capa: Frei Dito

Mês de setembro, mês da Bíblia. Não dá para falar de São Francisco de Assis sem associá-lo à Palavra de Deus. A Igreja

deu a ele o título merecido de “Homo Totus Evangelicus” e Frei Hugo Baggio escreve: “Ele soube verdadeiramente sentir a Palavra, não como um conjunto de símbolos ou uma transcrição escrita de uma fala de Jesus, mas como um ser vivo, palpitante, que podia ser tocado e cujo toque provocava calafrios e

cujo som como que enchia os ares. Tocar no livro que continha a Palavra de Deus era como tocar no próprio Cristo”. Frei Hugo lembra ainda que a relação Evangelho-Francisco, por todos os autores de seu tempo aos nossos dias, foi percebida como uma verdadeira revolução. “Se de um lado causa admiração como o Evangelho estava marginalizado pela Igreja, melhor dito, pelos homens da Igreja, do outro lado, causa admiração como Francisco, numa simplicidade comovente, faz com que o Evangelho volte ao centro da vida cristã e faça com que a mensagem de Cristo se transforme em vida”. Neste Livreto,

oferecemos alguns textos que mostram como o Evangelho pautou a vida de Francisco e serviu para fundamentar a Regra da Ordem dos Frades Menores. Como diz Elói Leclerc, no livro “Francisco de Assis, o Retorno do Evangelho”, o que dá à experiência evangélica franciscana sua verdadeira dimensão e seu poder de sedução é, precisamente, esse encontro entre o Evangelho e as aspirações profundas do homem, entre a mensagem de Jesus e as forças criativas da história”. Para

complementar, textos da Bíblia Sagrada, da Editora Vozes, são didáticos e ajudam a entender melhor o Livro dos Livros.

Apresentação

«NA DIVERSIDADE DE MINISTÉRIOS, TODOS OS CRISTÃOS SÃO CHAMADOS A RESPONDER À PALAVRA DO SENHOR QUE ENVIA A ANUNCIAR A BOA NOVA DO REINO. »(Documento da Ordem Franciscana)

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Francisco, 'Homo totus Evangelicus'

Francisco entrou na intimidade do Evangelho e percebeu-o puro e sem retoques. Por isso, a Igreja o chamará de Homo totus Evangelicus, quer dizer, que “se

evangelizou” na totalidade do ser e na radicalidade das exigências.

E mostrou, ao mesmo tempo, que o Evangelho, no seu todo, é algo possível de ser traduzido em vida.

O próprio Papa Inocêndo III observara que a norma de vida da primitiva comunidade era por demais árdua para compor um programa de vida, mas a tempo foi advertido que não poderia declará-la impossível, pois declararia impossível o Evangelho de Cristo.

Para Francisco, a afirmação do Papa significava a impossibilidade de seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois vinham eles retraçados, concretamente, nas páginas do Evangelho.

Esta concreteza com que percebia o Evangelho fazia com que Francisco a ele recorresse com a simplicidade e a confiança de quem recorre a um “diretor espiritual”.

Com naturalidade, colocava os livros dos Evangelhos à sua frente e os abria, a esmo, encontrando exatamente a Palavra que lhe servia de resposta. Não argumentava, não discutia, não duvidava.

Deus acabara de lhe falar. E feliz

partia para executar as ordens que acabara de ler.

Assim fala Celano, na vida I (n° 92-93): abrindo o Evangelho, Francisco pôs-se de joelhos e pediu a Deus que lhe revelasse qual a sua vontade. “Levantando-se, fez o sinal da cruz, tomou o livro do altar e o abriu com reverência e temor. A primeira coisa que deparou, ao abrir o livro, foi a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no ponto em que anunciava as tribulações por que haveria de passar. Mas, para que ninguém pudesse suspeitar de que isso tivesse acontecido por acaso, abriu o livro mais duas vezes e o resultado foi o mesmo. Compreendeu, então, aquele homem cheio do espírito de Deus, que deveria entrar no reino de Deus depois de passar por muitas tribulações, muitas angústias e muitas lutas…”

Texto de Frei Hugo Baggio (extraído do livro “São Francisco Vida e Ideal, da Editora Vozes).

«SE NÓS AMAMOS JESUS CRISTO E BUSCAMOS SEMPRE A UNIÃO COM ELE, O QUE É DIFÍCIL NOS PARECERÁ FÁCIL»(São Jerônimo)

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O profeta e o seu Evangelho

Francisco teve com o Evangelho uma intimidade difícil de se compreen-der. Amava o Evangelho, mas ele não teria sido Francisco se seu amor não tivesse desejado possuir o pró-

prio livro. A magnífica Bíblia da Idade Média, com os maravilhosos textos desenhados em elegantes letras, tinha para ele algo de sagra-do. Manifesta-se aqui uma forma de respeito que, em nosso tempo, impregnado de obras tipográficas, se tomou impossível: o respeito pela palavra manuscrita. Com isso, adquirem um sentido mais profundo certas ações apa-rentemente mágicas. Nas cartas que ditava, não permitia Francisco que se riscasse uma letra, mesmo que fosse um erro de ortografia. Perguntaram-lhe, certa vez, por que tinha tan-to cuidado até mesmo com obras de autores pagãos. A resposta tem um quê de surpreen-dente: “Porque nelas se encontram as letras que compõem o glorioso nome do Senhor”. Francisco sentia o alcance psicológico desse simbolismo. “Devemos cuidar de tudo que encerra Sua Palavra sagrada. Assim ficamos profundamente compenetrados da sublimida-de do nosso Criador e de nossa dependência em relação a Ele”, escreverá mais tarde ao Capítulo de seus irmãos.

A verdadeira dificuldade de se com-preender como Francisco lia a Bíblia, não se encontra na cultura medieval. O que é difícil compreender é o fato raro de a Bíblia ser lida

aqui por um homem que era como ela o dese-java. Ele não tinha necessidade dum comentá-rio que a suavizasse. Com heróica abertura, Francisco aceitava o texto ao pé da letra, pois este já de há muito o havia empolgado. Talvez tenha ele, alguma vez, explicado a Bíblia de uma maneira por demais rigorosa – nunca, porém, branda demais. Devemos perguntar se a concepção de Francisco a respeito da Bíblia ainda vale para nós. Em cada mudança reli-giosa na história, encontra-se o homem diante da pergunta: que é propriamente autêntico na Bíblia e que é que se conseguiu descobrir com o correr do tempo?

E em cada período são sempre os gran-des cristãos que, da forma mais pura, reconhe-cem a autenticidade. Não se requer uma visão genial para se descobrir o que corrigir num texto ou apontar alguns cantos carcomidos numa estrutura eclesiástica antiquada.

Quando se trata, porém, de valores eternos, é absolutamente necessária uma visão de fé. Não é tão estranho que um ho-mem como Francisco, que se afastara, por assim dizer, da própria cultura para viver o Evangelho até às últimas consequências – te-nha descoberto algo que sobrepuja qualquer cultura. As grandes personalidades não es-tão à frente de seu tempo, estão acima dele.

Textodo livro “Francisco de Assis, Profeta de Nosso Tempo”, de N.G. Van Doornik, Vozes.

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A mensagem central da Bíblia

Qual é, em poucas palavras, a mensagem central da Bíblia? A resposta não é fácil, pois depende da vivência. Se você gosta de uma pessoa

e alguém lhe pergunta: “Qual é, em poucas palavras, a mensagem desta pessoa para você?”, aí não é fácil responder. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta você ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para você. Não é assim? Pois bem, o resumo da Bíblia, a sua mensagem central, é o Nome de Deus! O Nome de Deus é Javé, cujo sentido Ele mesmo revelou e explicou ao povo (cf. Ex 3,14). Javé significa Emanuel, isto é, Deus conosco. Deus presente no meio do seu povo para libertá-lo.

Deus quer ser Javé para nós, quer ser presença libertadora no meio de nós! E Ele deu provas bem concretas de que esta é a sua vontade. A primeira prova foi a libertação do Egito. A última prova está sendo, até hoje, a ressurreição de Jesus, chamado Emanuel (cf. Mt 1,23). Pela ressurreição de Jesus, Deus venceu as forças da morte e abriu para nós o caminho da vida. Por tudo isso é difícil resumir em poucas palavras aquilo que o Nome de Deus evocava na mente, no coração e na memória do povo por Ele libertado.

Só mesmo o povo que vive e celebra

a presença libertadora de Deus no seu meio, pode avaliá-lo. Na nossa Bíblia, o Nome Javé foi traduzido por Senhor. É a palavra que mais ocorre na Bíblia. Milhares de vezes! Pois o próprio Deus falou: “Este é o meu Nome para sempre! Sob este Nome quero ser invocado, de geração em geração!” (Ex 3,15).

Faz um bem tão grande você ouvir, lembrar ou pronunciar o nome da pessoa amada. Aquilo ajuda tanto na vida! Dá força e coragem, consola e orienta, corrige e confirma. Um Nome assim não pode ser usado em vão! Seria uma blasfêmia usar o Nome de Deus para justificar a opressão do povo, pois

Javé significa Deus libertador!O Nome Javé é o centro de tudo. Tantas

vezes Deus o afirma: “Eu quero ser Javé para vocês, e vocês devem ser o meu povo!” Ser o povo de Javé significa: ser um povo onde não há opressão como no Egito; onde o irmão não explora o irmão; onde reinam a justiça, o direito, a verdade e a lei dos dez mandamentos; onde o amor a Deus é igual ao amor ao próximo. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o Nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo.

Texto da “Bíblia Sagrada”, da Editora Vozes

«IGNORAR AS ESCRITURAS É IGNORAR CRISTO» (São Jerônimo)

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O adubo que fez crescer a semente da Bíblia

Não é qualquer chão que serve para que uma árvore possa crescer. O canteiro, onde a semente da Bíblia criou raízes e de onde

lançou os seus 73 galhos em todos os setores da vida, foi a celebração do povo oprimido, ansioso de se libertar.

A maior parte da Bíblia começou a ser decorada para poder ser usada nas celebrações, e foi escrita ou colecionada por sacerdotes e levitas, os responsáveis pela celebração do povo.

Além disso, as romarias e as peregrinações, os santuários com as suas procissões, as festas e as grandes celebrações da aliança, o templo e as casas de oração (sinagogas), os sacrifícios e os ritos, os salmos e os cânticos, a catequese em família e o culto semanal, a oração e a vivência da fé, tudo isso marca a Bíblia, do começo ao fim!

O coração da Bíblia é o culto do povo! Mas não qualquer culto. É o culto ligado à vida do povo, onde este se reunia para ouvir a palavra de Deus e cantar as suas maravilhas; onde ele tomava consciência da opressão em que vivia ou que ele mesmo impunha aos irmãos; onde ele fazia penitência, mudava de mentalidade e renovava o seu compromisso de viver como um povo irmão; onde reabastecia a sua fé e

alimentava a sua esperança; onde celebrava as suas vitórias e agradecia a Deus pelo dom da vida.

É também no culto que deve estar o coração da interpretação da Bíblia. Sem este ambiente de fé e de oração e sem esta consciência bem viva da opressão que existe no mundo, não é possível agarrar a raiz de onde brotou a Bíblia, nem é possível descobrir a sua mensagem central.

Trecho da “Bíblia Sagrada”, da Editora Vozes.

«AMA A SAGRADA ESCRITURA E A SABEDORIA TE AMARÁ; AMA-A TERNAMENTE, E TE CUSTODIARÁ, HONRA-A E RECEBERÁS SUAS CARÍCIAS. QUE SEJA PARA TI COMO TEUS COLARES E TEUS BRINCOS» (São Jerônimo)

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A Bíblia foi escrita em três línguas

A Bíblia não foi escrita numa única língua, mas em três línguas diferentes. A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico. Era a

língua que se falava na Palestina antes do cativeiro. Depois do cativeiro, o povo de lá começou a falar o aramaico.

Mas a Bíblia continuou a ser escrita, copiada e lida em hebraico. Para que o povo pudesse ter acesso à Bíblia, foram criadas escolinhas em toda a parte. Jesus deve ter frequentado a escolinha de Nazaré para aprender o hebraico. Só uma parte bem pequena do Antigo Testamento foi escrita em aramaico.

Um único livro do Antigo Testamento, o livro da Sabedoria, e todo o Novo Testamento foram escritos em grego. O grego era a nova língua do comércio que invadiu o mundo daquele tempo, depois das conquistas de Alexandre Magno, no século IV antes de Cristo. Assim, no tempo de Jesus, o povo da Palestina falava o aramaico em casa, usava o hebraico na leitura da Bíblia, e o grego no comércio e na política.

Quando os apóstolos saíram da Palestina para pregar o Evangelho aos outros povos, eles adotaram uma tradução grega do

Antigo Testamento, feita no Egito no século III antes de Cristo para os judeus imigrantes que já não entendiam mais o hebraico nem o aramaico.

Esta tradução grega é chamada Septuaginta ou Setenta. Na época em que ela foi feita, a lista (cânon) dos livros sagrados ainda não estava concluída. E assim aconteceu que a lista dos livros desta tradução grega ficou mais comprida do que a lista dos livros da Bíblia hebraica.

É desta diferença entre a Bíblia hebraica da Palestina e a Bíblia grega do Egito, que veio a diferença entre a Bíblia dos protestantes e a Bíblia dos católicos.

Os protestantes preferiram a lista mais

curta e mais antiga da Bíblia hebraica, e os católicos, seguindo o exemplo dos apóstolos, ficaram com a lista mais comprida da tradução grega dos Setenta.

Há sete livros a mais na Bíblia dos católicos: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, os dois livros dos Macabeus, além de algumas partes de Daniel e de Ester. São chamados “deuterocanônicos”, isto é, são da segunda (deutero) lista (cânon).

Texto da “Bíblia Sagrada”, da Editora Vozes

«AMA A CIÊNCIA DA ESCRITURA, E NÃO AMARÁS OS VÍCIOS DA CARNE» (São Jerônimo)

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1 Nunca achar que somos os primeiros que leram a Santa Escritura. Muitos, muitíssimos, através dos séculos, a

leram, meditaram, viveram e transmitiram.

2 A Escritura é o livro da comunidade eclesial. Nossa leitura, ainda que seja em solidão, jamais poderá ser solitária. Para lê-la com proveito, é

preciso inserir-se na grande corrente eclesial que é conduzida e guiada pelo Espírito Santo.

3 A Bíblia é “Alguém”. Por isso, é lida e celebrada ao mesmo tempo. A melhor leitura da Bíblia é a que se

faz na Liturgia.

4 O centro da Sagrada Escritura é Cristo; por isso, tudo deve ser lido sob o olhar de Cristo e buscando

n’Ele seu cumprimento. Cristo é a chave interpretativa da Sagrada Escritura.

5 Nunca esquecer de que na Bíblia encontramos fatos e frases, obras e palavras intimamente unidos uns aos

outros; as palavras anunciam e iluminam os fatos.

6 Uma maneira prática e proveitosa de ler a Escritura é começar com os Santos Evangelhos, continuar com

Os dez mandamentos para

ler a Bíbliaos Atos dos Apóstolos e Cartas e ir misturando com algum livro do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Juízes, Samuel etc. Não querer ler o livro do Levítico de uma só vez, por exemplo.

7 A Bíblia é conquistada como a cidade de Jericó: “dando voltas”. Por isso, é bom ler os lugares paralelos.

É um método interessante e muito proveitoso. Um texto esclarece o outro, segundo o que diz Santo Agostinho: “O Antigo Testamento fica patente no Novo e o Novo está latente no Antigo”.

8 A Bíblia deve ser lida e meditada com o mesmo espírito com que foi escrita. O Espírito Santo é o seu

principal autor e intérprete.

9 A Santa Bíblia nunca deve ser utilizada para criticar e condenar os demais.

1 Todo texto bíblico tem um contexto histórico em que se originou e um contexto literário em que foi escrito.

Um texto bíblico, fora do sue contexto histórico e literário, é um pretexto para manipular a Palavra de Deus. + Mario de GasperínBispo de Querétaro – México

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