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7/25/2019 A Historiografia No Direito: Enunciados Construdos e Desnaturalizaes Conceituais
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A historiografia no direito: enunciados construdos e
desnaturalizaes conceituais
1. Apresentao
Quando refletimos sobre: o que Histria? O senso comum nos oferece
algumas ideias gerais, designando fortemente as obras com a narrativa dos
acontecimentos histricos, a prpria dimenso temporal da vida humana, a sucesso
temporal dos acontecimentos considerada materialmente, e mais especificamente, a
cincia que estuda essa sucesso !m todas essas vis"es, patente a ideia de que
algo sucede no tempo, uma dimenso de muta#o onde o suceder o mudar, o surgir
e o desaparecer $orm a disperso de tais acontecimentos no tempo, torna comple%a
a cria#o desse conhecimento
& da disciplina, aceitar o desafio de acessar tal conhecimento, onde a
comple%idade consiste na impossibilidade de acessar o ob'eto de estudo diretamente
(a e%perincia brasileira recente, o ensino de histria tem seguido a rigor a
metodologia positivista, naturali)ando desde muito cedo o car*ter dogm*tico da histria
+que meramente nos informa, negando sua capacidade de transformar e criticar e seu
vis sacrali)ador do presente, que consagra todos os fatos conhecidos a marcharem
gloriosamente para o nosso ho'e O leg-timo e .nico presente poss-vel, a verdade
monol-tica sobre o passado O passado, que desenhado imagem e semelhan#a do
interesse daqueles que controlam esse discurso /egitimando0o se'a pela tradi#o, se'a
pela evolu#o
1 forma#o que nos imputada precocemente leva0nos a naturali)ar a viso
2dita positivista3, e devido a desinforma#o, o senso comum se perpetua, chegando at
os 'uristas (os cabe problemati)ar tal processo de tomada de conscincia, utili)ando
as propostas metodolgicas que o movimento dos 1nnales vem propondo h* dcadas,
transmigrando0o do vis historiogr*fico at o 'ur-dico 4ua estrutura, inten#"es e
contrapropostas
2. A naturalizao pelo historicismo: A escola dita positivista
(o sculo 565, fortemente influenciado por 7omte, se buscar* nas cincias
humanos o conhecimento positivo +tal qual '* se fa)ia nas cincias e%atas !ste
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2esp-rito positivo3, que visou superar a metaf-sica e a racionalidade em troca do
conhecimento emp-rico, far* que sur'a um antagonismo protagoni)ado pela filosofia da
histria e a cincia da histria O pro'eto historicista, no geral, ir* negar os
conhecimentos a priori, negar que histria uma cincia sobre leis universais,
negando a e%istncia de modelos supra histricos !mbora a completa separa#o entre
filosofia da cincia e cincia histrica, nunca tenha logrado %ito, as trs disposi#"es da
histria cient-fica compartilham tal caracter-stica: 8an9e, ilthe; e aishistoriadores, podem ser classificados enquanto positivos, pois afastam0se do a priori
se apro%imando do a posteriori, com perspectiva otimista e progressista 4egundo
7hartier e 8evel +CDED, o car*ter positivo est* em trs elementos: +C o modelo de
conhecimento ob'etivo, +@ o ideal de conhecimento verdadeiro e +F a sua heran#a
+cr-tica ao te%to G verifica#o de autenticidade e decifra#o do sentido $or esse
motivo, chamaremos tal movimento de !scola
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contivesse todos os fatos, dispondo0os de forma cronolgica e modo que, ao final ter0
se0ia a Jerdade histrica Jerdade que e%iste em si +res gestae), logo no criadaK
mas e%tra-da de sua forma 2bruta3 nos documentos, o historiador acreditava resgatar
o passado tal qual ocorreu
1 preciso cient-fica que deveria ser buscada no discurso histrico, segundo
pretendia /eopold von 8an9e na 1lemanha +e%atido que gerou o termo historicismo,
foi levada para a =ran#a, onde historiadores como =ustel de 7olanges enunciaro que
a histria uma cincia pura +portanto autossuficiente e que deveria buscar a
compreenso do fato de forma e%ata, por meio da observa#o rigorosa dos te%tos
$ara ele, esta observa#o conferia certe)a, tal qual a e%perimenta#o na qu-mica
Os metdicos iro se deter ao fato enquanto unidade +curta dura#o, segundo=ernand Iraudel O foco ser* os grandes eventos pol-ticos onde os personagens so
os heris +histria dos vencedores, '* que a fonte que recorrem so os documentos
escritos estatais, a narrativa constru-da se confundir* com a prpria memria do
estado >omando emprestado o darLinismo da biologia, se passar* a di)er que h*
sociedades mais ou menos evolu-das Onde o *pice , evidentemente, o estado0
nacional europeu, uma declara#o aberta de etnocentrismo 1 busca por rela#"es de
causa e efeito ir* buscar a liga#o entre fatos descone%os, da- surge a interpreta#oteleolgica +telos G ordem ! a prpria viso atemporal que se assume nesse modelo,
fomenta interpreta#"es anacrMnicas >ais v-cios metodolgicos e suas consequncias
sero trabalhados agora
. !ist"ria: uma construo inocente#
esde o primeiro contato com a disciplina Histria, nas escolas prim*riasbrasileiras, fomos apresentados a histria dita 2positivista3, a corrente ma'orit*ria
$assamos a naturali)ar a histria como, uma constru#o narrativa da memria humana
de outras eras, como se tal disciplina fosse um enorme acervo fatos apod-ticos, que
esto organi)ados de um 2.nico modo poss-vel3, pois comp"e o que se chama de
2verdade histrica3 !ssa viso romanti)ada, preponderante no senso comum, vista
por muitos enquanto uma estrutura monol-tica, que neutralmente e inocentemente nos
d* a un-voca interpreta#o do passado 1 forma#o positivista subsiste at a academia,
tornando0se servi#al do dogmatismo >udo isso pelo mesmo motivo: os v-cios
metodolgicos do modelo metdico de historiografia
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restringe a uma fornecedora de informa#"es? Ou enga'a0se de forma at subliminar
para naturali)ar opini"es? 1 segunda op#o mais adequada, considerando as
percep#"es que aparecerem a partir da escola dos 1nnales, denunciando
naturali)a#"es for#adas na poca dos metdicos 1 fim de uma melhor did*tica, irei
nomear tal forma de organi)ar os fatos +a fim naturali)ar determinadas ideia pela
legitimidade histrica, de 2constru#"es interessadas3 >rabalhando trs e%emplos de
constru#"es interessadas: a periodi)a#o eurocntrica, a naturali)a#o do estado e a
legitima#o do nosso direito pelo direito romano
O primeiro caso a periodi)a#o da Histria Neral Quando estudamos tal
disciplina encontramos, que a estrutura#o da histria mundial, concentra0se somente
na histria da !uropa 1 periodi)a#o cl*ssica consiste em: $r0histria +a pr%imaconstru#o interessada a ser desconstru-da, Histria 1ntiga, Histria
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1 segunda constru#o interessada o estado enquanto elemento natural,
buscando0se mostrar onipresente desde os mais remotos tempos (esse conte%to, a
polis grega passou a ser chamadas paralelamente de cidade0estado 1 denomina#o
estado surge enquanto estrutura pol-tica, apenas com (icolau odos os !stados, todos os governos que tiveram e tm autoridade sobre
os homens, foram e so ou rep.blicas ou principados 1 renomea#o daquilo que
houve antes da inven#o do !stado
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contem problemas srios $ara come#ar, aquilo que chamamos direito romano, trata0se
dos documentos escritos, que subsistiram as pilhagens e saques T cidade de 8oma
estes documentos foram selecionados apenas os pareceres +apenas uma das fontes
de direito da poca de prudentes romanos, que foram produ)idos entre os sculos 66
a7 e 666 d7 este contingente, foram selecionados apenas os pareceres
mencionados na /ei das 7ita#"es de U@B d7 para, por critrio de interesse, ser
composta a mando de ustiniano +imperador bi)antino do sc J6 uma compila#o que
se tornasse a legisla#o do imprio 7om isso, o 'urista >riboniano estava autori)ado a
fa)er interpola#"es para que a lei mante0se viva, o que acabou por mudar
completamente estrutura e significado do te%to original !nquanto o digesto ser*
continuamente modificado em novas compila#"es no oriente, como a Iasili9* deIas-lio 6, no ocidente permanece adormecido at seu suposto renascimento nos
sculos 566 e 56J (as universidades desse per-odo, todos as inten#"es originais so
e%trapoladas $assa0se a buscar os valores universais e atemporais que 'ulgavam estar
contidos nas normas, valores metaf-sicos divinos que foram revelados aos prudentes
7om o passar o tempo esses valores 2dei%aram de ser3 divinos para serem valores
racionais e portanto naturalmente natural, era o 'us naturalismo do sculo 5J66 (os
sculos 5J666 e 565, com o fortalecimento do 'us positivismo a autoridade 'ur-dica semateriali)a na lei em si, onde se inicia um movimento de positiva#o das leis em
cdigos escritos 7omo o 7digo 7ivil (apoleMnico em CVAU, que inspirar* o 7digo
7ivil Irasileiro i)er que nosso direito civil advm linearmente do direito romano, no
m-nimo um devaneio
$. A historiografia dos Annales e suas possi%ilidades
O modelo da escola metdica francesa, estava carregado de equ-vocos
!%tremamente vinculado a interesses pol-ticos, estava impedido de ser neutro +algo
que afirmavam ser 1 requisito de documentos escritos oficiais, acabou por representar
a memria do estado 1 viso atemporal gerou o evolucionismo, anacronismo e
teleologia, dando gnese ao efeito naturali)ador do status quo
7ontemporneo a escola metdica, a historiografia relativista, com o historicismo
presentista de Ienedetto 7roce e 7ollingLood, ou o pragmatismo da escola
progressiva com ohn eLe;, no entendimento dos relativistas, o passado uma
constru#o do presente Onde busca0se narrar os fatos de acordo com o ponto de vista
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e interesses +da poca, escola historiogr*fica ou pessoal $osteriormente, os 1nnales
sero em parte influenciados por esse pensamento, no sentido em que, o passado
uma constru#o problemati)ada no presente
a rea#o contra a escola metdica, Henri Ierr funda em CDAA a 2Revue de
synthse historique3 +8evista de 4-ntese Histrica, em tradu!o livre, uma base para a
funda#o de 1nnales alguns anos depois (esta revista, o economista =ran#ois
4imiand escreve em CDAF, um artigo denominado 2"#thode historique et science
sociale3 +
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de busca da narrativa histrica, onde na escola metdica buscava0se a e%plica#o na
curta dura#o atravs do recorte do fato, se buscar* em 1nnales no s o fato mas
tambm as influncia que habitam a longa dura#o, todo o ambiente de significa#o
contemporneo ao fato 1o assumir que o fato indissoci*vel de seu conte%to, com a
proposta de analisar os condicionantes gerais do fato
(a terceira gera#o, h* a 2revolu#o documental3 onde o documento escrito
oficial dei%a de ser a .nica fonte histrica 4endo colocado no mesmo n-vel de outras
fontes materiais +pinturas, esculturas, ob'etos em geral e at imateriais +l-ngua, dan#a,
costumes, quaisquer fonte que contenha ind-cios da a#o humana
(o geral, 1nnales vem para renovar o mtodo de produ#o do conhecimento
histrico 1nalisando no apenas o fato, mas tambm os condicionantes na longadura#o 6ncorporando outras cincias nesse estudo 6ncorporando novas fontes, o que
permitiu a abertura a novos temas >ais incorpora#"es, nos permitem construir a cr-tica
ao modelo metdico e seus v-cios metodolgicos entre eles: evolucionismo,
anacronismo, teleologia
!nquanto a escola metdica trabalhara com a concep#o de um passado
imut*vel, onde se valori)a as dimens"es pol-ticas e seus grandes personagens Os
1nnales iro ampliar a narrativa para abarcar outros elementos envolvidos nosprocessos histricos $ara
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algumas fun#"es da disciplina por diferentes estudiosos 4egundo Helmut 7oing,
consiste em Rcompreender esse ordenamento como solu#o de um problema de
ordena#o da sua prpria pocaS 8eiterando essa viso, =rit) 4chult) em %rin&ipien
des rmischen Rechts +%rinc(pios do ireito Romano, fala que na forma#o do direito
tanto sentimentos econMmicos e pol-ticos quanto concep#"es de costume e
moralidadeK tais elementos subsidiam a rela#o 2quase gentica3 entre ordem 'ur-dica e
ordem social, entender esta rela#o n3outras pocas primordial dentro desta
concep#o ! tambm ressaltar a importncia da vastido da pesquisa da disciplina
m servi#o T compreenso das polissemias, que nos apresentam no cada ve) mais, no
campo da cultura 'ur-dica
!m *ist+ria do ireito rasileiro, problemati)ado uma interessanteoposi#o na estrutura do tempo Onde o tempo, enquanto 2for#a incoerc-vel de
corroso3 dos significados, contraposta pela inten#o da abstra#o ordenadora
tipicamente humana 1 s-ntese que parece estar proposta, seria a autonomia do
passado, uma resposta aos 2golpes oriundos da pr*tica3 que representam a mudan#a
dos significados dos conceitos com passar do tempo, o que deforma a compreenso
desses termos >al inten#o de um passado autMnomo aparenta ser compartilhada
pelos 1nnales, se'a pela cr-tica T teleologia e anacronismos, se'a pelo entendimento dehistria fraturada e descont-nua que
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distintivo 7om a metodologia de 1nnales, podemos ver que o documento embora se'a
mais firme que o sub'etivismo da oralidade, a prpria sele#o dos fatos a serem
narrados e as prprias 2perguntas que sero feitas ao documento3 anunciam presen#a
e influncia do historiador
1ntnio al conscincia significa: compreender o car*ter artificial daquilo que reali)ado na
atividade historiogr*fica +no a verdade, tal qual aconteceuK compreender o car*ter
poitico +criador do historiadorK e compreender a influncia de suas ra-)es
socioculturais na produ#o dessa narrativa +impossibilidade da neutralidade
7ompreender os v-cios metodolgicos, que estamos condicionados a sequer detectar,que servem a diversos fins $or e%emplo, fa)endo que o discurso histrico sobre o
direito se reali)e em fun#o do prprio direito, o que um forte anseio do
'uspositivismo
7oncluindo cito *ist+ria do direitode