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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
A DENDEICULTURA E A SUA EXPANSÃO NOESTADO DO PARÁ: UMA INTERPRETAÇÃO
GEOGRAFICA DO EVENTO1
Ana Cláudia Alves de Carvalho
Mestranda pelo PPGEO/ UFPA
Elvecia Noleto Nascimento
Graduanda pela UFPA/Bolsista PIBIC
João Santos Nahum
Prof. Dr. em UFGC/PPGEO/UFPA
INTRODUÇÃO
A expansão da monocultura do dendê no Pará vem se desenvolvendo desde a
década de 1970, há dois principais marcos que contribuíram para os avanços desta
expansão, o primeiro deles é a implantação do Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel (PNPB) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que almeja o uso
dos produtos agrícolas para a produção de energia renovável, desenvolvendo e transferindo
tecnologia para uma produção sustentável.
O segundo marco é a instalação dos “Pólos de Produção de Biodiesel”, criados
pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com a
intenção de favorecer a inclusão dos agricultores familiares na produção, no Pará o pólo 1
alcança 37 municípios. As paisagens rurais do estado são modificadas pelo emergir de
técnicas modernas, que contam com o apoio de pesquisas de instituições publicas e
privadas, grupos como Agropalma e Marborges Agroindústria S/A se destacam na produção
1 Este trabalho é resultado do projeto DENDEICULTURA, COMUNIDADES TRADICIONAIS E SEGURANÇA ALIMENTAR NAAMAZÔNIA PARAENSE , coordenado pelo professor Dr. João Santos Nahum e contando com o trabalho das bolsistasde iniciação cientifica. O projeto conta com auxílio financeiro do CNPQ.
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de óleo de palma, estabelecendo-se em diversos municípios do estado. Um dos motivos que
proporcionaram ao Pará tornar-se cenário de loção do dendê foi o Zoneamento
agroecológico, que identificou no Brasil quais áreas seriam mais aptas para o plantio do
dendê. Sendo alguns municípios de Pará ideais para tal cultura.
Este trabalho busca inicialmente uma breve discussão sobre os conceitos de
periodização e período geográfico trabalhados por Milton Santos (2006), que se utiliza do
conceito de evento para determinar as mudanças ocorridas em determinados períodos,
vemos a dendeicultura como um evento que ao acontecer em determinado território traz
mudanças, onde se instala cria novas relações. Destacamos aqui alguns dos eventos que
mais influenciaram e possibilitaram a entrada da cultura do dendê no Pará. Acreditamos
que seja necessário um olhar geográfico deste evento, pois a maioria dos trabalhos
analisados durante nossa revisão bibliografica apresenta a expansão da dendeicultura de
maneira técnica e cronológica, buscamos analisar as condições técnicas, políticas e
territoriais que permitiram a introdução do dendê em nosso Estado, almejando construir
uma analise geográfica.
OBJETIVOS
O trabalho consiste em apresentar as condições técnicas, políticas e territoriais
que permitiram a introdução do dendê no Pará, pontuando as políticas de estado e as
dinâmicas de mercado que contribuíram para sua expansão, bem como os grupos e
empresas que mais de destacam neste ramo. Partimos do conceito de período geográfico,
tal como trabalhado por Milton Santos e concebemos que a dendeicultura representa um
evento para o lugar, pois reorganiza a dinâmica territorial não só das comunidades
próximas aos empreendimentos, mas também influencia a criação de políticas de estado.
METODOLOGIAS
Metodologicamente realizamos investigação sobre a noção de evento, conceito
usado por Milton Santos, além da formação de referencial teórico sobre as políticas de
Estado para a agricultura familiar, o programa nacional de biodiesel e a dendeicultura. Além
de pesquisa de campo e entrevistas com representantes de grupos e empresas da atividade
da dendeicultura.
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RESULTADOS PRELIMINARES
Os caminhos da dendeicultura: a produção no Brasil
O cultivo em escala comercial no Pará iniciou-se em 1967, quando ainda esse
plantio era uma experiência feita pela SUDAM no município de Benevides. Os
empreendedores do agronegócio subsidiam-se em pesquisas sobre as vantagens
competitivas da dendeicultura na Amazônia. Estudo da SUFRAMA/FGV (2003), mostra o
cultivo do dendê como atividade produtiva em condições de preservar o meio ambiente sem
fortes agressões à floresta nativa porque pode ser plantado em áreas degradadas,
possibilitando um perfeito recobrimento dessas áreas quando adulto e, na fase jovem, pode
ser associado à leguminosas de cobertura de solo. Por isso, o dendê pode ser enquadrado
dentro do chamado desenvolvimento sustentável, sendo mais uma oportunidade de
negócios na Amazônia. Desse modo, por meio da integração da agricultora familiar à cadeia
do agronegócio do dendê, os empreendedores da dendeicultura buscam terra, mão de obra
e unidades produtivas familiares para desenvolver o cultivo dessa oleaginosa.
Vemos aqui parte da configuração em que a dendeicultura se insere, e ganha
força buscando sua expansão nos demais municípios do Pará, esse movimento quero
chamá-lo de “evento” desde já, um conceito usado por Santos que tratarei mais á frente.
Para entender melhor como essa expansão deu-se proponho aqui uma periodização da
dendeicultura no Pará, como forma de encontrar quais elementos possibilitaram tal cultura
se desenvolver ganhando cada vez mais eficácia.
Santos e Silveira (2001, p.23) fazem uma periodização para mostrar como se deu
a formação do território brasileiro, eles apontam que para se entender o processo de
formação do território brasileiro, apresenta-se a necessidade de se fazer uma periodização,
devido sua imensa diversidade, e suas historias regionais. O espaço possui diversas
superposições do trabalho, sendo estas sociais e territoriais criam a difícil tarefa de
entendê-las.
Segundo eles a questão é escolher a variável chave que, em cada pedaço de
tempo irá comandar o sistema de variáveis, esse sistema de eventos que denominamos
período. Eis o principio a partir do qual podemos valorizar os processos e reconhecer as
novidades da historia do território. É importante levar em consideração que os elementos
evoluem em um movimento global.
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A base das periodizações não são só as relações sociais, pois elas não ocorrem
no vácuo, deve-se dar atenção ao papel da técnica que são formas de regular a vida, que
cristaliza-se em objetos geográficos, pois estes também exercem seu papel de controle,
devido seu próprio tempo de modular os demais tempos Santos (2006, p.24).
Dessa forma, periodizar significa analisar as condições técnicas, políticas e
territoriais que permitem a introdução do dendê no Pará, ainda na década de 1950 quando
se iniciaram as pesquisas, pontuando as políticas de estado e as dinâmicas de mercado que
contribuíram para sua expansão, bem como os grupos e empresas que mais de destacam.
A partir disso, vemos que o desenvolvimento harmônico das cadeias produtiva e
industrial do dendê acontece baseado em um tripé de fatores, ação política somada ao
apoio da técnica, essa relação se dá sobre uma base territorial que influência e modela tais
relações. Com base nisso apresentaremos os período do dendê, faremos uma periodização
dividida em três períodos, para assim mostrar que fatores influenciaram na formação da
atual configuração de produção do dendê no Pará.
Período de especulação e implantação: da SPVEA à criação da SUDAM
Com base na discussão acima, entendemos que um período é produzido e
construído a partir da soma de determinados fatores, como a técnica, as ações políticas e o
território. Veremos passo a passo tal construção, que proporcionou a expansão da cultura
do dendê no Pará. A soma dessas ações reflete-se em um processo constante de
transformação do espaço, com momentos mais intensos que outros, pois a produção do
evento como um todo se dá período por período, ou seja cada período contribui para que o
evento expanda-se cada vez mais. A técnica neste primeiro período foi determinante, por
volta de 1950 um amplo programa de pesquisa foi desenvolvido pelo Institut de
RecherchesPour Lês Huiles et LesOleagineux– IRHO em parceria entre o governo brasileiro,
representado pelo Ministério da Agricultura, e o governo francês, representado pelo IRHO,
em todo o território brasileiro, procedeu-se a identificação e definição das áreas com as
melhores condições edafoclimáticas para o desenvolvimento do cultivo do dendê em escala
agroindustrial. A entrada dos estudos para implantação da técnica inicia-se aqui como fator
fundamental sem a qual os resultados não seriam os mesmos.
Do ponto de vista edafoclimático, no Brasil existiam algumas áreas dentro da
região amazônica e no sul da Bahia que ofereciam condições de solo e de clima semelhantes
ás da África e da Ásia, áreas em que o dendê é produzido, e que poderiam assim como na
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África e Ásia apresentar boa produtividade, caso fosse aplicado as mesmas técnicas de
manejo e adubação. Desse modo achou-se viável a implantação dos projetos de
dendeicultura no Brasil. Além disso, esses lugares possuíam maior acesso á mão-de-obra e
ao mercado consumidor, devido seus portos e rodovias, vantagens territoriais que não são
presentes em todas os lugares, sendo estas vantagens importantes para a implantação de
qualquer empreendimento econômico (CRUZ, B. E. 2006). Outro fator importante que
tornava o cultivo do dendê na Amazônia viável economicamente, era a demanda de
mercado que crescia a nível mundial, e o Brasil poderia prover seu próprio mercado interno,
nesse sentido representava uma alternativa socioeconômica, para o país e para a Amazônia.
O instituto também prestou assistência técnica ao projeto piloto implantada pela
Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA no Estado do Pará. Após
a extinção da SPVEA o projeto foi assumido pela Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia – SUDAM.
O cultivo em escala comercial foi iniciado em 1967, por meio desse convênio, o
projeto contemplou o plantio de 3.000 hectares, dos quais foram implantados, inicialmente,
1.500 hectares no município de Benevides, sendo os outros 1.500 hectares em núcleos
pilotos de pequenos produtores residentes em áreas próximas à sede do projeto, nos anos
seguintes. (SANTOS, M. A. 1999). Em 1974, o Projeto Dendê que antes era controlado pela
Sudam passou a formar o consórcio HVA International (Holanda), Cotia Trading e a Dendê
do Pará Ltda. nascendo assim a Denpal, que se transformou mais tarde em Dendê do Pará
S.A. Denpasa.
Como podemos notar até meados da década de 70, todos os projetos com a
cultura do dendê no Estado do Pará tinham participação ativa de órgãos governamentais,
neste caso a Sudam e com a criação da Denpasa a iniciativa privada se incorporou à
exploração econômica da cultura, atribuindo maior dinâmica à atividade.
Por volta de 1973, o Projeto de Plantações Satélites de Dendê foi implantado
pelo Governador Fernando Guilhon, com a finalidade de implantar 1.500 ha com pequenas
plantações no entorno da Denpasa. Em 1975, a Cooperativa Agrícola Mista Paraense
(Cooparaense), deu início à implantação desse projeto com a plantação de 50.000
dendezeiros, abrangendo os municípios de Santa Izabel do Pará, Santo Antônio do Tauá,
Benevides e Ananindeua. Ao entrarem na fase produtiva, os agricultores passaram a
entregar os cachos para a Denpasa. Em seguida a Cooparaense passa a se chamar de
Companhia Dendê Norte Paraense (Codenpa), possuindo uma usina de processamento de
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cachos, utilizando a matéria-prima produzida pelos seus agricultores familiares. (EMBRAPA,
2006)
Mesmo com a entrada da iniciativa privada o desenvolvimento do dendê na
Amazônia em escala agroindustrial se dá a partir de um projeto de Estado que como todos
os outros projetos econômicos implantados na Amazônia possuem uma matriz de
incentivos fiscais e de créditos, objetivando o investimento de empresas na região. A SUDAM
responsabilizava-se pela análise dos projetos e o BASA juntamente com o Banco do Brasil
tratavam do financiamento para a dendeicultura. Vemos aqui o Estado como incentivador e
agente transformador do território. Precisamos perceber que as pesquisas da Embrapa
criaram condições técnicas para a expansão do biodiesel, as políticas de estado criaram as
condições políticas para o biodiesel, a cultura do dendê, desenvolvida na nordeste paraense
desde a década de 1960, associada aos territórios rurais deprimidos onde ela se encontra,
criaram as condições territoriais para o biodiesel.
O resultado desse período é o inicio do cultivo da dendeicultura,
estabelecendo-se nos municípios de Benevides a Denpasa que era estatal, em Santa Izabel
do Pará, Santo Antônio do Tauá, Benevides e Ananindeua a Codenpa que também era
estatal, e em Tailândia a Agropalma, iniciando suas atividades já vinculadas aos pequenos
produtores. É importante também enfatizarmos a idéia de evento proposta por Santos,
outros autores o chamam de “momento”, ou de “instante”, para Eddington um evento é “um
instante do tempo dando-se em um ponto do espaço”. Os eventos ocorrem todos no
presente, acontecem em um instante, uma porção de tempo que eles qualificam, outra
característica é que eles não se repetem, as circunstâncias não são as mesmas duas vezes,
tornando os eventos todos novos, e ao surgirem propõe uma nova historia.
A eficácia do evento funda uma presença absoluta, onde ele se instala há
mudança, a cada novo acontecer as coisas preexistentes mudam o seu conteúdo e também
mudam a sua significação. C. Diano, 1994, citado por Santos, nos fala que os eventos
dissolvem as coisas, eles dissolvem as identidades, propondo-nos outras, mostrando que
não há fixas. Diz-nos também, que não há evento sem sujeito, assim temos que toda teoria
da ação é também uma teoria do evento e vice-versa.
Com base nisto, este primeiro período pode ser caracterizado pelo papel
fundador dos sujeitos que influenciaram e deram o ponta pé inicial neste empreendimento,
desde que iniciou-se as pesquisas no ramo de melhoramento genético, a dendeicultura já se
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implantava como uma lógica de fora, que deu certo em outros países e que poderia vir a ser
bem sucedida também no Pará.
Período de transformações: da SUDAM até o lançamento do PNPB
O segundo período surge já estruturado pelo primeiro, as políticas públicas já
aparecem com mais destaque, e o evento (a dendeicultura) ganha força a cada ação. A partir
da década de 80, com o surgimento de anomalias em dendezeiros como a Guia Podre e em
seguida a AF nos plantios da empresa Dendê do Pará S.A. (Denpasa), foi criado o Programa
Nacional de Pesquisa do Dendê e o antes chamado de Centro Nacional de Pesquisa de
Seringueira passou a ser o Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dendê (CNPSD),
localizado no Amazonas. Em 1982, cria-se a Estação Experimental do Rio Urubu (EERU),
também no Amazonas.
O Brasil, por meio de um trabalho cooperativo com a França, recebeu material
dos tipos Pisifera (P) e Dura (D), possibilitou produzir sementes do tipo comercial Tenera
(híbrido intraespecífico entre D x P). Esse campo de produção de sementes foi instalado na
EERU, junto com o Banco de Germoplasma de Dendê, que possibilitou o desenvolvimento
de um programa de melhoramento genético dessa espécie, incorporando as melhores
linhagens no programa de produção de sementes. (EMBRAPA, 2006)
Através da Assessoria de Agro-energia do Ministério da Agricultura, o Programa
Nacional para o Dendê – PRONADEM. Em seguida o CNPSD implantou dois campos
experimentais de pesquisa, um com 3.000 hectares de plantio localizados às margens do rio
Urubu, no distrito Agropecuário da SUFRAMA, a 140 KM de Manaus; e outro em Tefé, com
uma área de 1.200 hectares. Em 1989 o CNPSD foi reestruturado e passou a se chamar
Centro de Pesquisa Agro-florestal da Amazônia Ocidental, e o PRONADEM estabeleceu
metas de ação para a cultura do dendê, como: o estabelecimento de campo de produção de
muda de alto valor genético; prospecção e coleta de germoplasma da Elaeisoleifra(Caiaurê)
na Amazônia e ElaeisGuineensisem dendezais da Bahia; o controle de pragas; a propagação
vegetativa através da reprodução de reprodução assexuada; levantamento edafoclimático
microrregional; definição de fórmulas de adubação e manejo; estudo de consorciação e/ou
intercalação de cultura; e a formação e capacitação de mão-de-obra (CRUZ, 2006). Tais
metas geraram grande expansão da cultura no Pará ano após ano.
Na gestão do governador Almir Gabriel de 1996 a 2003 houve a implantação do
projeto de agricultura familiar do dendê e o estímulo a verticalização desta cadeia produtiva
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que através dos PPA’s estaduais (1996/1999 e 2000/2003) passa a implementar reformas no
Estado objetivando a construção de um “Novo Pará”, assim como a expansão da base
produtiva. A partir desse momento uma serie de mudanças estruturais tomam forma,
visando a produtividade no setor extrativista mineral e vegetal. Na mesorregião do nordeste
paraense foram criadas obras que beneficiam os projetos instalados na área de abrangência
do pólo de dendê. Mais uma vez a ação do Estado tem sido de fundamental importância na
consolidação da cadeia produtiva do dendê, como justificativa para a implantação do
projeto de agricultura familiar, usa o discurso de que os projetos visam à recuperação de
áreas degradadas e a introdução dos agricultores numa atividade econômica que lhe
permita aumentar sua renda, além de ser uma atividade que demanda processo de
industrialização, possibilitando ao Estado incentivar sua política de verticalização produtiva.
Um grande marco que vem impulsionar ainda mais é a criação do Programa
Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) lançado em 2004, este possuía como uma
de suas metas a integração da agricultura familiar em culturas como mamona e dendê na
produção de combustível, dando as empresas benefícios fiscais a partir da compra de
matéria-prima produzida por agricultores familiares.
Em analise ao programa nacional de Produção Uso e Biodiesel por parte dos
agricultores familiares mostra que o programa já rendeu avanços, porem ainda poucos,
seus principais desejos são maior autonomia e participação nas decisões e etapas da cadeia
produtiva, maior diversificação nas matérias-primas, maior diferenciação entre o modelo
adotado por eles e pelas grandes empresas e maior apoio do governo e da iniciativa privada
(ONG Repórter Brasil, 2010).
Como resultado deste período podemos notar que a associação das unidades
familiares ao agronegócio do biodiesel, por meio da produção de dendê, transformou os
camponeses em trabalhadores para o capital. Uma tática que contribuiu imensamente para
a expansão do dendê, pois utiliza-se do território moldando-o á lógica do agronegócio,
assim como estabelecendo novas relações, a cada novo acontecer as coisas preexistentes
mudam o seu conteúdo e também mudam a sua significação, a dendeicultura que é o
evento transformador chega e impõe uma presença absoluta. Destacamos a presença da
empresa Marboges nos municípios do Acará e Mojú, e a Agroindústria Palmasa S.A em
Igarapé-Açu.
Segundo Santos (2006) os eventos podem ser naturais ou históricos e sociais,
podem ser idéias e não só fatos, ao considerarmos o acontecer como um conjunto de
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numerosos eventos, cuja ordem e duração não são os mesmos, vemos que eles se
sobrepõe. Assim o conjunto de eventos também é um evento, não é apenas uma
sobreposição e sim uma combinação. É através do evento que podemos rever a constituição
atual de cada lugar e a evolução conjunta dos diversos lugares, num resultado da mudança
paralela da sociedade e do espaço.
Observamos que as mudanças na configuração espacial do Estado já são
facilmente percebidas, mudanças estruturais que são advindas da lógica do dendê, a
locação de agricultores familiares nesse empreendimento buscava dar um ar de
preocupação social ás empresas, porem o que acontece é o contrario, o agricultor familiar
deixa de ser agricultor, pois não produz mais alimentos e passa a ser apenas trabalhador
rural. Assim, assistimos as transformações causadas por este evento, não só no espaço,
mas também nas relações sociais que regem a sociedade. Por isso denominei este período
de “Período das transformações” pois nele ocorrem as transformações que servirão de base
para o futuro desenvolvimento da dendeicultura, sem elas os processos dar-se-iam em
outra velocidade.
Expansão da dendeicultura: do PNPB até os dias atuais
O projeto de agricultura familiar do dendê foi inicialmente implantado no
município de Concórdia do Pará, teve problemas relacionados à distância da usina
processadora, o que levou o governo a escolher outra área no município do Mojú para
implantação do projeto. Assim, os pequenos produtores passam a associar-se as grandes
empresas, como a Agropalma.
O grupo Agropalma iniciou suas atividades de produção e extração de óleo de
palma e óleo de palmiste em 1982 no município de Tailândia, a 150 km de Belém, e
tornou-se o maior produtor de óleo de palma da América Latina, dominando todo o ciclo de
produção, da semente ao óleo refinado, gorduras vegetais e margarina. O grupo Marborges,
outra grande empresa entrou em atividades em julho de 1991, sua indústria foi inaugurada
em 1992; está composto por duas empresas: Marborges Agroindústria S.A e a
Reflorestadora Mojú Acará Ltda.
A partir de 2006 a Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário adotou a instalação de “Pólos de Produção de Biodiesel” como
principal estratégia para contribuir em nível microrregional ou territorial com a organização
da base produtiva de oleaginosas na agricultura familiar, e, conseqüentemente promover a
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inclusão de agricultores familiares na cadeia de produção do biodiesel. No Pará o Pólo1
abrange 37 municípios.
A questão fundiária tem sido um dos principais problemas quanto as parcerias
com os agricultura familiar, a falta de documentação dos lotes dos pequenos agricultores
impede o acesso ao credito do Pronaf que é essencial para o financiamento da produção do
dendê. Com isso o MDA assim como o ITERPA e a SEMA vem cedendo titulação e
regularização fundiária e ambiental para regiões e áreas de potenciais parceiros.
Atualmente empresas já instaladas investem na sua ampliação, surgem novos
investidores estrangeiros, deixando movimentado o mercado imobiliário de aquisição de
áreas rurais nos pólos de produção tradicional, a Agropalma continua se destacando na
produção hoje faz parte do conglomerado financeiro Alfa, possuindo a maior parcela de
produção no estado, sendo seguida pela Biopalma, que é por sua vez parceira de um grupo
canadense com empresários brasileiros, e foi recentemente comprada pela Vale,
pretendendo expandir ainda mais.
Levando-se em consideração que o dendê deva ser plantado em áreas já
desmatadas ele aumenta a procura por parte das empresas, esgotando assim essas áreas.
Se atentarmos para a chegada das multinacionais, somado a expansão das empresas que
aqui já estavam, do lançamento do PNPB até os dias atuais, as áreas de cultivo do dendê
cresceram de maneira surpreendente, somado a esse processo aconteceram compras de
terras da agricultura familiar, outras áreas da pecuária já degradadas, todas elas passaram a
ser incorporadas na plantação de dendê. Sendo importante destacar nesse contexto a
dificuldade de se encontrar em números a quantidade real de hectares de cada empresa,
sendo esses dados quase que sigilosos. No mapa 1 é possível visualizarmos a expansão das
empresas, abrangendo demais municípios do nordeste paraense, destacando-se no ramo
da dendeicultura cerca de dez empresas que mais se destacam BIOPALMA, ADM,
AGROPALMA, DENPASA, PETROBRAS/GALP, DENTAUÁ, MARBORGES, PALMASA, YOSSAM e
PBIO.
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Mapa 1- Mapa de localização das empresas de dendeicultura no Pará até o ano de 2013.
Fonte: GDEA, 2013
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A DENDEICULTURA E A SUA EXPANSÃO NO ESTADO DO PARÁ: UMAINTERPRETAÇÃO GEOGRAFICA DO EVENTO
EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural
RESUMO
A expansão da monocultura de dendê no Pará vem ganhando força desde a década
de 60, grandes empresas aumentam a cada dia suas áreas de produção
transformando a espaço e a dinâmica territorial de determinados lugares. As
paisagens rurais do estado são modificadas pelo emergir de técnicas modernas, que
contam com o apoio de pesquisas de instituições publicas e privadas, grupos como
Agropalma e Marborges Agroindústria S/A se destacam na produção de óleo de
palma, estabelecendo-se em municípios do estado. O trabalho consiste em
apresentar as condições técnicas, políticas e territoriais que permitem a introdução do
dendê no Pará, pontuando as políticas de estado e as dinâmicas de mercado que
contribuíram para sua expansão, bem como os grupos e empresas que mais de
destacam. Partimos do conceito de período geográfico, tal como trabalhado por
Milton Santos e concebemos que a dendeicultura representa um evento para o lugar,
pois reorganiza a dinâmica territorial das comunidades próximas aos
empreendimentos.
Palavras-chave: Dendeicultura, empresa, território e Estado.
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