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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
Por: Ana Cristina Pereira da Silva Quintela
Orientador:
Prof.: Carlos Alberto Cereja de Barros
Rio de Janeiro
2006
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
Apresentação de Monografia à Universidade
Cândido Mendes como condição prévia para
conclusão do Curso de Pós - Graduação “Lato
Senso” em Psicopedagogia. Tendo como
objetivo fundamental um melhor
relacionamento entre educando e educador, a
fim de que o processo educacional aconteça de
maneira mais proveitosa e duradoura,
buscando a formação de pessoas íntegras,
criativas e autônomas que tenham a
capacidade de enfrentar os problemas de seu
cotidiano.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer à Deus, que me deu forças, saúde e
sabedoria suficientes para que eu pudesse formular e concluir este trabalho
com sucesso.
Ao meu marido que me apoiou e incentivou durante todo o curso, sabendo
entender a minha ausência em tantos momentos importantes.
Ao meu filho que a cada dia, com seu olhar e sorriso, renovava minhas
esperanças e me enchia de forças para continuar a trilhar meu caminho.
Aos meus pais, por me ensinarem a viver a vida com dignidade e pela
excelente educação que me foi dada, pela base e estrutura familiar que me
proporcionaram, pois sem eles eu não seria ninguém.
Ao meu irmão pela importante colaboração e paciência durante a digitação
desse trabalho, acreditando sempre no meu potencial profissional.
Às minhas colegas de trabalho pela ajuda, confiança, apoio e reflexões críticas
que muitas vezes, amenizaram os momentos difíceis dessa jornada.
DEDICATÓRIA
Dedico essa pesquisa ao meu filho, como incentivo ao estudo contínuo, que sempre nos aprimora e engrandece como indivíduo, dentro de uma sociedade cada vez mais competitiva. Que esse trabalho possa estimulá-lo a busca constante do saber.
Ana Cristina P.S. Quintela
RESUMO
O tema escolhido para este estudo trata da afetividade no processo
ensino-aprendizagem. Quando há um relacionamento de troca e afeto, o
aprendizado se torna mais proveitoso e duradouro, tornando o indivíduo um ser
crítico, reflexivo e atuante dentro da sociedade em que vive. Considerando
estas reflexões, surgiu a questão para este trabalho: até que ponto a ausência
da afetividade entre professor e aluno interfere no processo de ensino-
aprendizagem? A escolha desta questão deu-se pelo fato da pesquisadora
considerar e vivenciar a afetividade numa instituição de rede privada como fator
primordial no relacionamento educando e educador. Sendo assim, este
trabalho teve por objetivo investigar a importância do afeto no processo
educacional, entre alunos do primeiro segmento do ensino fundamental, com o
intuito de saber a sua contribuição para a melhoria da qualidade do ensino. O
referencial teórico deste estudo foi baseado em Saltini (1999) que enfatiza em
sua obra a preocupação com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas
e amorosas, que tenham a capacidade de enfrentar os problemas presentes
em seu cotidiano. Para elaboração desse trabalho realizou-se uma pesquisa
bibliográfica e um estudo de caso, onde foi aplicada uma entrevista que
facilitou a investigação do tema abordado. Concluiu-se que a afetividade deve
caminhar junto do aspecto cognitivo, a fim de criar uma relação favorável ao
processo educacional.
METODOLOGIA
Para elaboração desse trabalho realizou-se uma pesquisa bibliográfica
desenvolvida através de livros e artigos científicos, foi também realizada uma
pesquisa de campo exploratória, cujo objetivo primordial era observar a
situação em questão, a fim de proporcionar maior familiaridade com o
problema, tornando-o mais explícito, buscando um complexo conhecimento da
realidade.
O tipo de pesquisa realizada foi estudo de caso que, por sua
flexibilidade, facilitou a investigação de um tema tão complexo, estimulando a
pesquisadora na realização de novas descobertas e focalizando sua questão
como um todo.
A estratégia utilizada para a construção dessa pesquisa foi observação
ativa e natural, que contou com a participação da pesquisadora como parte
integrante do grupo a ser investigado durante o decorrer do estudo. A mesma
se utilizou de entrevista informal, a fim de obter uma visão geral do problema a
ser pesquisado.
"Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo,
quem não ama, não aceita os seres inacabados e portanto, não pode educar."
(Paulo Freire)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA 12
CAPÍTULO II
O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM 24
CAPÍTULO III
DEFASAGEM INTELECTIVA 28
CAPÍTULO IV
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS 34
CONCLUSÃO 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42
ANEXO 43
ÍNDICE 44
9
INTRODUÇÃO
Durante o processo de ensino-aprendizagem, a afetividade é fator
determinante para um resultado positivo, onde as partes envolvidas (professor
e aluno) desenvolvem um trabalho significativo para o progresso desse
aprendizado.
O tema afetividade tem um valor social que necessita sempre ser
discutido, no curso de Pedagogia, pois é de extrema importância ao processo
ensino-aprendizagem. Percebe-se que quando existe um relacionamento de
troca e afeto, todo o aprendizado se torna mais proveitoso. No momento, em
que o processo aceita a vivência do aluno e o incentiva de forma afetuosa, ele
se sente seguro e capaz de transformar suas experiências em um
conhecimento duradouro, que o tornará um indivíduo crítico, reflexivo e atuante
dentro da sociedade em que vive.
A afetividade é um fator primordial para a transformação do educando,
que desenvolve suas reflexões alcançando um resultado positivo com a
consciência de que o estado emocional favorável é uma condição fundamental
para que isso ocorra. A afetividade leva os professores a proporcionarem
mudanças no campo pedagógico, metodológico e social no processo ensino-
aprendizagem, a fim de que a aquisição do conhecimento aconteça de forma
estimulante e duradoura.
Considerando estas reflexões, surgiu a questão para esta pesquisa: até
que ponto a ausência da afetividade entre professor e aluno interfere no
processo de ensino- aprendizagem? A escolha desta questão deu-se pelo fato
de esta pesquisadora considerar e vivenciar a afetividade numa instituição da
rede privada como o fator que prioriza o relacionamento do educando e
educador, evidenciando a necessidade desse sentimento, visando integrar o
aluno à instituição, potencializando a formação do indivíduo como cidadão
singular, responsável e solidário. Além disso, valorizando a própria vida e
comprometendo-se com uma sociedade mais justa e democrática.
10Sendo assim, este trabalho teve por objetivo investigar a importância da
afetividade no processo de ensino-aprendizagem, entre alunos do primeiro
segmento do ensino fundamental, com o intuito de saber a sua contribuição
para a melhoria da qualidade educacional.
Segundo Saltini (1999) a educação escolar deve estar compromissada
com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas e amorosas, cuja vida
seja pautada nos princípios de igualdade, justiça e cooperação, em que
conhecer é pensar, é inventar, é descobrir e conectar as qualidades e atributos,
recompondo com a capacidade criadora o real externo dentro da mente.
Saltini (ibid) enfatiza em sua obra, a preocupação com o processo de
aquisição de conhecimento e seu aprimoramento, a capacitação do aluno para
enfrentar os problemas presentes e a construção de um espírito crítico e
criativo, visando a formação de um homem feliz.
A escola precisa estar preparada para que os alunos face à necessidade
de lidarem com situações e pessoas, possam desenvolver um sentido de
conjunto e cooperação, porém não perdendo de vista a transmissão de valores
fundamentais desenvolvidos pelo homem e que podem, se considerados
verdadeiramente, estabelecer uma relação harmônica entre as pessoas.
O afeto, quando alcança todos os membros da escola proporciona a
participação nas discussões sobre tudo que lhe diz respeito, desperta a
consciência de todos acerca da importância da formação de uma sociedade
mais justa e igualitária.
É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no
funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem
necessidade, nem motivação; e consequentemente, perguntas ou problemas
nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma
condição necessária na constituição da inteligência, porém não é suficiente.
11Na relação entre inteligência e afeto, podemos afirmar que o afeto faz ou
pode causar a formação de estruturas cognitivas, sendo a emoção a grande
fonte do conhecimento.
Desta forma, é importante ressaltar uma educação pautada no respeito e
no amor ao educando, o que exige um educador competente, sensível e
humanamente preparado; um educador com autonomia profissional, que lhe
permita tomar decisões e compreenda a necessidade de sua participação
efetiva e afetiva na transformação de nossa sociedade, para que esta se torne
cada vez mais humana e feliz; um educador que seja aberto às mudanças que
refletem sua busca constante de aperfeiçoamento e harmonia. Um educador
que creia no poder da educação, sem contudo acreditar que esse poder é
limitado, contribuindo assim, para a compreensão do homem e para a luta de
um mundo melhor.
Esta monografia foi dividida em dois capítulos, o primeiro tratará a
Afetividade no Contexto Social e na Escola e o segundo abordará a Defasagem
Intelectiva, considerando a dificuldade de aprendizagem que o aluno
apresenta, envolvendo diversos fatores, dentre eles: os problemas
pedagógicos e emocionais que surgem na relação professor-aluno.
12
CAPÍTULO I
A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA
A escola não pode mais se atribuir o papel de mera transmissora de
conhecimentos, local onde se prepara os alunos para, unicamente,
responderem aos anseios imediatistas da sociedade, mas sobretudo, deve
despertar para a necessidade de estar, ela mesma, aberta às mudanças no
campo pedagógico, metodológico e social, estimulando o aprimoramento dos
seus profissionais, sendo capaz também de perceber as freqüentes
modificações que ocorrem na relação entre as pessoas. Ela pode, então,
preparar o aluno para essa nova sociedade que se modifica intensamente, que
tem mais incertezas que certezas, onde os alunos terão que tomar decisões
permanentemente, terão que resolver problemas a todo instante, terão que
reestruturar seu modo de pensar e de ver as coisas.
A escola não deve, simplesmente, responder passivamente aos
reclamos impessoais da sociedade, mas despertar para seu papel
desencadeante, propiciador de mudanças reais, de estar à frente da grande
caminhada evolutiva a que está destinado o homem. Ela tem que oferecer
condições ao aluno de se tornar autônomo, participante real do processo
ensino-aprendizagem, onde ele tenha prazer em ir à escola, em estar na
escola, em vê-la como algo significativamente bom que possibilite a formação
integral do cidadão.
Segundo Saltini (1999), a escola não deve esperar que as crianças
façam tudo o que querem, mas que elas queiram tudo o que fazem e não
sejam forçadas a ação. A escola deve estar atenta ao fato de que o educando,
além do domínio básico do conhecimento, se sinta participante dos destinos de
sua comunidade, de seu país e de seu planeta e que ele possa interferir nas
decisões que lhe digam respeito, expressando seus interesses, sendo capaz
13de ter necessidades satisfeitas, ou que possa sempre lutar para que isso
aconteça.
A escola, muitas vezes, ignora esta questão, preocupando-se apenas
com o repasse de conteúdos e técnicas. No entanto, na instituição educacional
deve-se trabalhar no sentido de organização dos sistemas afetivos e
cognitivos. As relações conflituosas, enfrentadas no dia-a-dia do processo
educacional, acabam interferindo na atividade intelectual, ocasionando
dificuldades na formação de um cidadão pleno. O relacionamento afetivo
pressupõe interação, respeito pelas idéias, pelas opiniões do outro, dedicação,
troca e vontade por parte dos envolvidos.
Atuando de forma afetiva a escola será o espaço privilegiado, onde a
existência humana possa desenhar-se com toda a sua riqueza, complexidade e
dramaticidade, permitindo ao homem desenvolver o sentimento inquestionável
e irredutível de dignidade, de auto-estima, de consideração e respeito.
A escola, algumas vezes, é vista como especialista em tirar a coragem
das crianças, pois mostra constantemente que quem tem idéias é o professor e
não o aluno. Dessa forma, a criança acaba acreditando em tais concepções e
se desvalorizando ao longo dos seus estudos.
Saltini (ibid), em sua obra, enfatiza a visão de Sócrates (400 a.C) que
descobriu uma forma de educar a maiêutica, que é a arte de trazer à luz às
crianças, ou seja, a arte de ser parteiro.
Na Grécia antiga a mãe de Sócrates era parteira e quando este na sua
adolescência dizia que ao crescer seria parteiro, sua mãe o desaconselhava,
pois na Grécia só as mulheres podiam ser. Mas perseverante, ele afirmava:
Serei um parteiro especial. Um parteiro de idéias e pensamentos.
Como uma criança se origina de uma célula, um embrião, e aos
poucos é gestada e transformada em um bebê, todos nós
concebemos e fecundamos idéias que ao serem gestadas se
transformam. Mas, não há auxílio no sentido de nos ajudar a
exteriorizar tais idéias e a mostrar a beleza de nossas criações.
14Todo o mundo quer mostrar suas idéias e ninguém nos auxilia em
trazê-las à luz.
(SALTINI 1999, p. 60)
Sócrates fez isso durante toda a sua vida e com essa forma de educar
formou sábios e filósofos, como Platão e outros pertencentes à escola
socrática.
Esta simples metáfora mostra que, assim como uma mulher produz o
filho no ventre, o homem (ser) produz idéias e necessita de alguém para
auxiliá-lo nesse parto – papel este que nos cabe como educadores.
O educador não pode ser aquele indivíduo que fala horas a fio a seu
aluno, mas aquele que estabelece uma relação e um diálogo íntimo com ele,
bem como uma afetividade que busca mobilizar sua energia interna. É aquele
que acredita que o aluno tem essa capacidade de gerar idéias e colocá-las ao
serviço de sua vida.
A escola será tanto melhor quanto puder propiciar também ao seu
quadro funcional atualização constante, participação nas discussões sobre
tudo que lhe diz respeito, para que possa ter despertada a sua consciência
acerca da importância de seu papel pessoal e profissional no processo de
formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Entende-se que se deva incluir no currículo de formação e
aperfeiçoamento dos educadores disciplinas que lhes permitam desenvolver a
sensibilidade, que agucem a sua percepção e compreensão sobre os seres
sob sua responsabilidade, tornando-as pessoas sensíveis e harmonizadas.
O treinamento constante é primordial para um desempenho qualificado
e renovado, pois permite às pessoas envolvidas comprometerem-se
internamente com o processo, adquirindo responsabilidades cada vez
maiores por suas próprias ações, entendendo assim, que ele mesmo deve ser
um exemplo vivo daquilo que procura transmitir.
15É possível concordar com Saltini quando ele afirma que a escola dentro
de um contexto social deve eliminar toda e qualquer ameaça, opressão ou
castigo, sob qualquer rótulo, pois que todo ser humilhado terá muitas
dificuldades em se tornar um cidadão completo todo oprimido, provavelmente,
abrigará dentro de si um opressor, não por um ditame da natureza, mas por
uma aprendizagem sócio-histórica, perpetuando e agravando cada vez mais
esse estado de desigualdade que caracteriza as relações sociais.
1.1 - A Relação da Afetividade com a Aprendizagem
Saltini (1999) considera em sua obra que é incontestável afirmar que o
afeto desempenha um papel essencial na formação da aprendizagem. Sem
afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação, e
consequentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não
haveria aprendizagem.
O primeiro estímulo do conhecimento, assim como a inteligência da
criança se dá na relação afetiva. O contato com a mãe é a primeira forma de
aprendizagem e a partir de toques físicos inicia-se a construção do “EU”,
originando registros emocionais e cognitivos fundamentais que potencializam
a inteligência quando o lado afetivo está bem desenvolvido.
Quando nasce uma criança, é facilmente reconhecível sua situação de
desamparo e dependência para a sobrevivência. Ela precisa de um adulto
que lhe dê alimento, agasalho e que preencha suas necessidades biológicas
básicas. Todas as atitudes realizadas visam satisfazer o bebê e o ajuda na
construção das formações cognitivas.
Na visão de Saltini (ibid) os primeiros interesses e impulsos da criança
se dirigem para os corpos de seus pais e para o seu próprio; e são estes
objetos e impulsos existindo no inconsciente que fazem surgir todos os outros
16interesses pela via da simbolização. Portanto, a afetividade demonstra
emoção e a razão nasce desse sentimento. No início da vida, a emoção
predomina. Conforme a criança vai desenvolvendo-se, as emoções vão sendo
subordinadas ao controle da razão. Por toda a vida, razão e emoção vão se
alternando, numa relação de filiação, e ao mesmo tempo de oposição.
Sendo assim, é importante que na construção da aprendizagem seja
enfatizado o fator afetivo na relação educador e educando, pois uma criança
que recebe afeto tem sua auto-estima elevada, sente-se amada e mais
segura. Essa segurança é fundamental para que ela não se iniba perante os
insucessos que fatalmente aparecerão no transcurso de sua vida.
Na opinião de Tiba (2002) a auto-estima, fator primordial na construção
do saber, começa a se desenvolver numa pessoa quando ela é ainda um
bebê. Os cuidados e os carinhos vão mostrando à criança que ela é amada e
cuidada. Nesse começo de vida, ela está aprendendo como é o mundo a sua
volta e conforme se desenvolve, vai descobrindo seu valor a partir do valor
que os outros lhe dão.
É quando se forma a auto-estima essencial para a iniciação do
processo ensino-aprendizagem. O aspecto afetivo tem uma profunda
influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele poderia acelerar ou
diminuir o ritmo do desenvolvimento, portanto crianças estimuladas com
afetividade, desde a primeira infância, podem ter maior probabilidade de
inteligência.
A criança aprende por um processo que não separa o conhecimento do
sentimento, do afeto que é visto como o principio norteador da auto-estima
que mantém uma estreita relação com a satisfação que as crianças têm
consigo mesmas, facilitando o interesse e a disposição para aprender.
Assim quando a criança deixa a sua família para ir à escola, isto
significa que doravante passará boa parte do seu tempo fora da família.
Portanto, conceitos de afetividade devem ser levados para o ambiente
17escolar, proporcionando estímulos contínuos de afeto. A partir do momento
que uma criança vai para uma escola, não vai apenas para aprender, mas
também para vivenciar o aprendizado como um todo e quem assim a percebe
poderá então orientá-la rumo ao amanhã.
O professor (educador) obviamente precisa conhecer a criança. Mas
deve conhecê-la não apenas na sua estrutura biofisiológica e
psicossocial, mas também na sua interioridade afetiva, na sua
necessidade de criatura que chora, ri, dorme, sofre e busca
constantemente compreender o mundo que a cerca, bem como o
que ela faz ali na escola.
(SALTINI, 1999, p. 70)
É importante salientar, também, que no ato de ensino-aprendizagem,
aspectos emocionais se referem aos vínculos, com as normas de disciplinas,
dentro do conceito escolar. No entanto esse vínculo não deve ter
características de seleção afetiva por determinados alunos, como também
ligações maternas ou paternas, pois a relação do professor é com o grupo.
Considerando o exposto até aqui é possível validar que de acordo com
Saltini na educação o aluno é obrigado a fazer, e, fazer sem o menor
interesse, sendo que os seus interesses nunca são considerados. Durante
mais ou menos 25 anos de sua vida é obrigado a fazer o que lhe é mandado.
O homem tende a ser escravo de um senhor que tem o poder do saber nas
mãos, ficando sempre na posição de senhor ou de escravo; quando a
construção da aprendizagem é feita sem o sentimento afetivo um ideal
rancoroso é construído e o aluno busca um dia tornar-se senhor a fim de
escravizar os outros.
Freire (1980) diz ser necessária uma reflexão sobre o homem e uma
análise profunda do meio concreto, deste homem concreto a quem desejamos
educar, ou melhor, a quem desejamos ajudar a educar-se.
18Nós não educamos, ajudamos as pessoas a se educarem e ao
ajudarmos, educamo-nos também. Assim como não existe educador
e educando (o sábio e o idiota), pois ambos estão na mesma tarefa,
assim também não temos a certeza de onde começa o
conhecimento, no professor ou no aluno, pois nenhuma estrutura de
conhecimento está terminada.
(SALTINI, 1999, p. 57)
Dessa forma a relação do aspecto afetivo e do aspecto cognitivo deve
ser uma constante, a fim de se obter um amplo conhecimento, tentando
encorajar a criança a descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos
prontos buscando trilhar, durante o processo ensino-aprendizagem, um
caminho onde o afeto se transforme em conhecimento.
1.1.1 - Afetividade na Escola: Condicionantes Sócio-Teórico
Saltini (1999) destaca uma abordagem histórica da expressão da
afetividade na “velha sociedade tradicional” mostrando que a criança, nessa
sociedade, era criada numa família que não tinha função afetiva nem
educativa. Durante séculos, a socialização da criança, a transmissão dos
valores e dos conhecimentos não eram assegurados pelas famílias e sua
educação estava restrita a uma aprendizagem através da convivência com
adultos. Nessa época, as famílias conjugais se diluíam em meio amplo, de
intensa sociabilidade. Composto de vizinhos, amigos, criados, velhos, etc.,
onde ocorriam as trocas afetivas e as comunicações sociais e onde as
crianças eram tratadas com indiferença, havendo alta mortalidade infantil e
até práticas ocultas de infanticídio. Portanto, até o século XVI, eram tratadas
como adultos em miniatura, sendo o ensino voltado à instrução de habilidades
pragmáticas, como ler e escrever ou aprender algum ofício, em ambientes
onde não havia diferenciação por idade, exigindo-se das crianças um
desempenho semelhante ao dos adulto.
19Com o surgimento da escola no fim do século XVI, destacou-se o papel
desta instituição como mediadora de transformações, ocorrendo a partir
dessa época uma mudança considerável no modo de vida da sociedade
ocidental, dando um novo lugar à criança e à família nas sociedades
industriais. A escola veio substituir a aprendizagem direta, feita através do
contato com os adultos e a partir de então as crianças foram através dela
separadas do mundo e mantidas em quarentena. Começou então, um longo
processo de enclausuramento, onde as crianças eram colocadas em recinto
fechado, como conventos na qual os religiosos não podiam sair e os
estranhos não podiam entrar, buscando desta forma a construção do saber.
As primeiras iniciativas de focalizar a educação afetiva na escola foi de
caráter doutrinário, visando um padrão de comportamento talhado em um
modelo religioso, através de regras disciplinares, com funções de vigilância e
enquadramento. No século XX, todo o processo de educação afetiva nas
escolas ficou restrito à orientação religiosa, embora alguns filósofos em
séculos anteriores, já apresentassem reflexões críticas e sugestões para uma
educação mais comprometida com o ser humano integral.
Refletindo sobre Saltini (ibid), observa-se que no resgate de um
passado pleno, o mundo hoje torna-se significativo. Então, faz-se necessário
advertir que o investimento afetivo nas inúmeras relações que se
estabelecem, tais como: adulto/criança, professor/aluno, mestre/discípulo,
mãe/bebê, construirão não somente o físico deste ser humano, mas acima de
tudo o homem ser, capaz de inventar, criar, renovar e descobrir.
A educação deve ser pensada não através de métodos que promovam
a inteligência, mas principalmente como um meio de promover a própria vida,
apropriando-se dela com as próprias mãos, buscando uma iniciação a crítica,
a interpretação e a transformação do mundo, inovando-o.
O verdadeiro objeto da educação é formar o julgamento e a
consciência, o resto é acessório. Ora, sufoca-se o julgamento sob
um amontoado de conhecimentos, tornando servil e covarde.
Quanto a virtude, quem pensa nela? Acreditam implantá-la a alma
20da criança mediante insípidas lições de moral? Acreditam que
bastem discursos para desenvolver a vontade, a coragem, a
paciência a temperança, o domínio sobre si mesmo, qualidades viris
por excelência, e também a bondade, a lealdade, a sinceridade, a
retidão?
(WEIBER, 1991, p. 535)
É preciso considerar que cada tempo exige adaptações a quaisquer
teorias e métodos. Mas a educação cabe manter o desafio da crítica e do
avanço.
Sendo assim, pode-se afirmar que se a criança fosse privada de
educação, ela permaneceria em um estado totalmente primitivo, pois a
educação, quando praticada com sentimento afetivo leva o ser humano do
estado primitivo a forma atualizada de civilização e cultura. Ao nascer, a
criança encontra-se em estado animal, evidentemente com a estrutura
biofisiológica bem mais desenvolvida e complexa que a do animal irracional,
porém ainda não é um ser humano completo, pois não possui o conhecimento
de forma ampla e transformadora.
Desta forma, a educação não deve ser vista como mera transmissão
de conhecimento, de um saber e até de uma conduta, mas, sobretudo uma
iniciação à vida.
1.1.2 - Ciclo Vital: Aluno X Família X Escola
O aluno? Quem é essa criança?
Na visão de Saltini (1999), um conhecimento do modo de ser criança,
uma compreensão de como a criança vai construindo o seu conhecimento,
interagindo com outras crianças, pessoas e com seu próprio ambiente, tudo é
fator primordial na formação das pessoas que lidam com crianças.
21Portanto, é possível aceitar a visão de Saltini (ibid), quando ele afirma
que há necessidade de afeto e carinho por parte do governo, dos dirigentes
de escolas, dos professores que atuam diretamente com os alunos, como da
sociedade e familiares que muitas das vezes falta motivação e assim
desmotiva os alunos colocando-os em oposição à escola, denegrindo-a e
desvalorizando-a constantemente
É importante a preocupação com relação à qualidade do vínculo
estabelecido, pois ele determinará a natureza do vínculo futuro. A parceria
entre a família e escola é de fundamental importância ao processo ensino-
aprendizagem do aluno, pois para ser válida toda educação, todo ato
educativo, deve necessariamente estar precedido de uma reflexão sobre o
homem, compreendendo-o em sua totalidade.
Tiba (2002) em sua obra, destaca que o conteúdo afetivo deve ser
considerado como essência pedagógica para realização das atividades,
estimulando a criatividade do aluno, através de artimanhas, que contribuam
prazerosamente nas situações de ensino-aprendizagem.
As idéias acima descritas por Saltini (1999) enfatizam que a criança
quando nasce é dotada apenas de funções psicológicas elementares, como
os reflexos e a atenção involuntária, presente em todos os seres humanos e
animais mais desenvolvidos, quando recebe o aprendizado cultural, no
entanto, parte destas funções básicas transforma-se em funções psicológicas
superiores, com a consciência, o planejamento, a memória. Essa evolução
acontece pela elaboração das informações recebidas do meio em que
convive. Enquanto mais acesso a cultura e ambientes propícios, mais se
favorecerá seu conhecimento. Os ambientes estimulados desenvolve mais o
cérebro. Assim os ambientes pobres de estímulos e afetos, como por exemplo
em orfanatos, crianças podem ter déficits cognitivos irreversíveis. É evidente
que o equilíbrio afetivo da família desempenha papel fundamental,
construindo de forma motivadora o rendimento social, afetivo e também
escolar.
22Portanto, há a necessidade de discutir-se o papel da escola na
sociedade e suas formas de mudança, questionando os resultados de
atuação e apontando as ineficácias da escola brasileira. Muitas vezes a
escola prima pela capacidade de nos convencer de que não temos idéias, que
devemos assimilar as idéias por ela difundida, as idéias sedimentadas pelos
livros, pela cultura. É preciso reverter esses princípios arraigados, abrindo,
cada vez mais, novos espaços para o campo das idéias originais.
Saltini (ibid) enfatiza em sua obra que a escola deve ser o continente
de um desenvolvimento da organização dos sistemas afetivos e cognitivos,
pois quem está aprendendo e amadurecendo não é somente o intelectual e
sim um indivíduo em constante processo de conhecimento que
posteriormente se transformará em sabedoria.
A relação afetiva professor - aluno ganhou peso nos últimos anos, já
que a escola tem dividido com a família cada vez mais cedo a tarefa de cuidar
das crianças, além disso, os laços criados no ambiente escolar torna essa
relação especial, pois não tem as mesmas possessividades das ligações
familiares.
No entanto, se a preocupação em cativar o carinho dos alunos é
positiva, por outro lado o professor não deve esconder os sentimentos
negativos com relação a eles; e assim trabalhar essa questão com mais
eficácia. É preciso realmente, juntar a humanidade e amorosidade não
apenas em prol do sonho democrático, mas em respeito ao ser em formação,
pois se aluno e professor não se gostam, aprender fica difícil, porque
afetividade e aprendizagem caminham juntos, portanto quando existe um
relacionamento de troca e afeto entre aluno, família e escola o aprendizado se
torna mais proveitoso e duradouro.
Dessa forma Saltini (1999), destaca que as famílias e as escolas
deveriam entender mais os seres humanos e de amor do que de conteúdos e
técnicas educativas, pois ambas têm contribuído para a construção de
neuróticos por não entenderem de sentimentos, de sonhos, de fantasias, de
23símbolos e de dores. As crianças precisam sentir que pertencem a uma
família e que esta está profundamente ligada a escola a fim de defendê-las
dos males da sociedade moderna, buscando a capacitação para a superação
de obstáculos e tornando-os autônomos e seguros.
Os jovens que são determinados, criativos e empreendedores
sobreviverão no sistema competitivo. Os que não têm metas nem ousadia
para materializar seus projetos poderão viver à sombra dos pais e engrossar
a massa de pessoas desqualificadas intelectualmente, prejudicando o futuro
de uma nação.
Àqueles que perdem a esperança têm enormes dificuldades para
superar seus conflitos. Portanto, não importa o tamanho dos obstáculos, mas
o tamanho da motivação que se têm para superá-los.
Desta forma, no momento em que o processo aceita a vivência do
aluno e o incentiva de maneira afetuosa, ele se sente convicto e capaz de
transformar suas experiências em um conhecimento significativo, que o fará
um indivíduo crítico, reflexivo e atuante dentro da sociedade em que vive.
24
CAPÍTULO II
O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
“Ai de nós educadores se não sonharmos o sonho impossível.”1
Saltini em sua obra (1999) demonstra estatísticas internacionais que
põem xeque a educação brasileira. Um dos pontos que têm sido repetido no
exterior é o de que no Brasil cerca de 18 milhões de brasileiros não são
alfabetizados, o que representa uma das maiores taxas de analfabetismo da
América Latina. Em nível docente, há, ainda, 12 mil professores espalhados
no país que não concluíram a 8ª série do Ensino Fundamental.
O professor deve ser um apaixonado pela educação e se juntar aos
que têm fome de esperança, aos que necessitam acreditar na evolução e
aprimoramento do sistema educacional.
Saltini (ibid) afirma também que o professor necessita de salários
dignos, materiais pedagógicos adequados e conteúdos curriculares que
assegurem a aquisição de conhecimento e compreensão das idéias. A
formação profissional para o magistério requer uma sólida formação teórico–
prático, muitas vezes acredita-se que o desempenho satisfatório do professor
na sala de aula depende da vocação natural, mas não só de gosto pela
profissão, mas amor, desejo, ousadia para atingir os objetivos; gratidão por
realização nas atividades práticas e consciência de necessidade de
atualização.
Considerando o exposto até aqui o autor reafirma que em relação ao
papel do professor no processo ensino–aprendizagem, alguns pontos
merecem reflexão. Apesar de esforços e estudos, metodologias inovadoras,
1 FREIRE, P. 1980. Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra. Rio de Janeiro.
25renovação da prática didática, melhor formação dos professores, evidências
ainda alertam para o fantasma do fracasso escolar e para o desinteresse de
muitos alunos em freqüentarem as salas de aula. O aluno continua em
destaque como o principal responsável por esse maus resultados, ora
culpado, ora vítima, quando outros enfoques merecem ser analisados.
Na escola do século XXI o mérito está em resgatar o aluno e apoiar o
professor para que cumpra bem sua tarefa. Segundo Saltini (1999) os
objetivos atuais são bem diferentes do passado: um deles é o desafio em dar
conta do triângulo afetivo professor-aluno-saber, que se trava no contexto da
sala de aula. Um outro é a reavaliação de ritmos próprios individuais em
relação aos grupais, cabendo aos professores, verdadeiros educadores e
mediadores do saber, despertar em seus alunos os bons sentimentos e a
formação da auto-estima, fazendo-os acreditar em si mesmos, pois as
crianças aprendem melhor quando estão satisfeitas com elas mesmas,
sentindo-se amada, aceita, valorizada, respeitada dentro do contexto escolar,
buscando o despertar da curiosidade e também do aprendizado.
O papel do professor é específico e diferenciado do das crianças. Ele
prepara e organiza o microuniverso onde as crianças buscam e se
interessam. A postura desse profissional se manifesta na percepção e na
sensibilidade aos rendimentos das crianças que em cada idade diferem em
seu pensamento e modo de sentir o mundo.
É importante que o educador tenha um planejamento de situacões-
problema para cada objeto da sala de aula e de todo ambiente escolar, locais
onde se faz educação: “Mas para isso é necessário que o educador seja
antes de tudo um curioso, um pesquisador, possibilitando assim a criança
descobrir verdades, ao invés de impor conteúdos.” (Saltini, 1999, p. 88).
Portanto, para que a aprendizagem seja significativa precisa ter
sentido, ser funcional, coerente e clara; é necessário que se estabeleça um
vínculo professor - aluno onde ambos façam parte do processo de
conhecimento compartilhado, tornando-o uma via de mão–dupla, onde o
26educando tem a sua tarefa de aprendizagem facilitada, e o educador, por sua
vez, possui o interesse retro-alimentado pela resposta significativa que lhe e
dada a partir do momento em que, verdadeiramente se estabelece um elo
afetivo entre ambos.
O educador é aquele que abraça a causa com vontade, que tem paixão
pelo que faz. Ele busca motivar seus alunos, encorajando-os a descobrir e
inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos, construindo constantemente
novos saberes e os contagiando com afetividade.
Saltini cita Piaget num discurso feito em 1972:
O papel do mestre deve ser o de incitar a pesquisa e de fazer tomar
consciência dos problemas, e não o de ditar a verdade. De fato, é
preciso não esquecer que uma verdade imposta deixa de ser uma
verdade: compreender é inventar ou reinventar e “dar uma lição”
prematuramente é impedir a criança de encontrar ou redescobrir as
soluções por si mesma.
(PIAGET apud SALTINI, 1999, p. 88)
Saltini (ibid) destaca ainda que as relações afetivas nas salas de aula,
dependem muito das atitudes do professor, se o mesmo se manter indiferente
ou expressar raiva em relação aos alunos, a tendência e que estas atitudes
causem reações recíprocas nos alunos, gerando um ambiente conflituoso que
dificultará a aquisição do conhecimento. Todavia, se o professor agir de forma
que expresse o seu interesse pelo “crescimento” dos alunos, respeitando
suas individualidades, criará um ambiente mais agradável e propício para a
aprendizagem.
Tiba (2002) concorda com o autor citado anteriormente quando afirma
que o verdadeiro educador não deve se questionar “o porque as crianças não
aprendem”, mas deve se perguntar por que os educadores se negam tanto a
“educar”, pois existe uma profunda presunção em todo educador, como se
27este fosse uma pessoa que tivesse a resposta para tudo e dotado, na maioria
das vezes, do poder da cura, tornando o educar um ato natural.
As relações afetivas estabelecidas não podem ser ignoradas, pois
estão presentes no desenvolvimento, fazem parte do ser humano e podem
interferir de forma negativa ou positiva nos processos cognitivos. Conhecendo
seus alunos, escolhendo a melhor forma de trabalhar com eles, o educador
propiciará excelentes oportunidades para elevar o rendimento escolar dos
educandos elevando também o auto-conceito destes, tornando a
aprendizagem mais agradável e produtiva.
Sendo assim, o que se propõe a mudar não é a busca de uma nova
maneira de educar, mas sim, uma transformação quase completa sobre o
conceito e a significação de educação, pois esta vai além do simples repasse
de conhecimentos prontos, do saber e até mesmo de uma conduta a ser
praticada, e sobretudo uma iniciação à vida, buscando atitudes críticas que
procure transformar a sociedade e tudo que esteja ao alcance de sua
compreensão.
28
CAPÍTULO III
DEFASAGEM INTELECTIVA
Saltini (1999) reforça a todo instante que a dificuldade de
aprendizagem é a defasagem entre a capacidade intelectual de um indivíduo
e o seu rendimento escolar, que podem ser acentuados por diversos fatores,
dentre eles: os problemas pedagógicos que surgem da relação professor -
aluno, problemas psicológicos, neurológicos e emocionais.
A identificação das dificuldades de aprendizagem deve ser feita o mais
precocemente possível, contribuindo para este fato uma observação cuidada
dos comportamentos da criança. Assim, os educadores e os pais devem estar
atentos a um conjunto de sinais, que a criança exiba, contínua e
freqüentemente, uma vez que não existem indicadores isolados para a
identificação dessas deficiências de aprendizagem.
As idéias acima descritas por Saltini (ibid) confirmam que a falta de
afetividade é outro fator que dificulta a aprendizagem, acarretando
insegurança, infantilidade e desinteresse, levando ao sentimento de
inferioridade e auto–desvalorização pessoal, e deve ser trabalhado para que o
aluno perca o medo do professor, permitindo que o aluno atinja o sentido de
cognição, que e a capacidade de pensar, concluir, analisar e resolver
problemas. Contar histórias, levando o aluno a fantasiar situações, facilita o
desbloqueio de suas potencialidades. As dificuldades de aprendizagem
provocam conseqüências emocionais que manifestam-se na escola através
do fracasso da criança frente ao aprendizado, e, mais especificamente, da
leitura e da escrita. Sem a maneira certa de incentivo e de apoio, essas
crianças deixam rapidamente de crer em si mesmas e em suas possibilidades
de sucesso.
29Voltando ao que o autor afirma anteriormente é possível concordar
quando o mesmo destaca que a autoconfiança é o ingrediente mágico que
nem sempre é oferecido, entretanto a escola deve permitir ao aluno
expressar-se através de atividades como a música, dança, poesia, teatro e,
assim exprimir corpórea e afetivamente suas capacidades. Visando sanar a
dificuldade de aprendizagem de alguns alunos, a educação escolar deve estar
compromissada com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas e
amorosas, cuja vida seja pautada nos princípios de igualdade, justiça e
cooperação, tentando aliviar o sofrimento do homem moderno, buscando
sempre a essência pedagógica que estimule o interesse dos alunos e
proporcione um conflito cognitivo para que novos conhecimentos sejam
produzidos na experiência, construindo a autonomia moral e respeitando o
nível de desenvolvimento da criança. Sendo assim, Saltini em todo momento
se questiona:
Será que somos capazes de ter idéias? Não, a escola prima pela
capacidade de nos convencer de que não temos idéias, que
devemos assimilar as idéias por ela difundidas, as idéias
sedimentadas mais, novos espaços para o campo das idéias
originais. pelos livros, pela cultura. É preciso reverter esses
princípios arraigados, abrindo, cada vez mais, novos espaços para o
campo das idéias originais.
(SALTINI, 1999, p.19)
Portanto, a educação não deveria ter como objetivo o conhecimento
pelo conhecimento, ou mesmo, o conhecimento como cultura geral, ou
mesmo com vistas a uma profissão qualquer totalmente desligada de nós
mesmos e de nossa cultura. A educação deveria fazer compreender, já
durante a escola, que o conhecimento deveria colocar-se sempre a serviço do
homem, isto é, um conhecimento a ser transformado em sabedoria.
Pode-se, então, concluir que a paciência, o apoio e o encorajamento
prestado pelo professor serão, com certeza, os impulsionadores do sucesso
escolar do aluno, abrindo-lhe novas perspectivas para o futuro. Como diz
30Platão (IV a. C) “Aquele que, no corpo onde não existe amor, sabe fazê-lo
nascer, esse será o médico mais hábil.”
3.1 - Educar para a Realização
Vive-se um momento em que instituições como as famílias parecem
estar se deteriorando com muita rapidez, em que o egoísmo, a violência e a
mesquinhez estão banindo a bondade nas relações sociais. Os efeitos disso
podem ser devastadores na vida de crianças e adolescentes em idade
escolar.
No entanto, para uma completa realização é necessário buscar a
compreensão e a afetividade durante todo o processo ensino- aprendizagem.
A afetividade é sinônimo do cuidado que devemos ter com todos os
elementos que partilham conosco de situações existenciais, e não é algo que
se possa vincular, unicamente à razão, mas que pode ser desenvolvida no ser
humano desde que ele tenha tido oportunidade de experienciar esse
sentimento através de pessoas que, de alguma forma, lhes tenha despertado
essa percepção, e que lhes tenha dedicado afeto.
Quando, numa relação existe amor, a obediência e o interesse são
espontâneos, gestos de carinho rompem laços de solidão. Refletindo sobre
Saltini (1999) o aluno só vai desejar aquilo que já conheceu, isto é, só se
deseja o que um dia já foi nosso. Se ele nunca viu, nunca sentiu, não saberá
o que desejar, tornando-se um pessimista, um marginal, um ser não social.
Ele só poderá construir um paraíso se já o tiver habitado algum dia. Se nunca
teve acesso a um bem, não terá sequer referencial para estruturar este
mundo social, construindo-o a partir de sentimentos afetivos. Esse sentimento
possibilita conhecer melhor tudo que a vida puser ao seu alcance, pois na
verdade, o real conhecimento do homem só acontece quando ele nutre afeto
e se sente envolvido com aquilo que se pretende que ele conheça. O afeto e
31fundamental ao ato de existir no mundo, pois só ele possibilita coexistir e
conviver de maneira harmoniosa com diversas realidades de cada ser.
Sendo assim, considerando a visão de Saltini (1999) pode-se afirmar
que o afeto não é só pensamento e raciocínio, vai além, pois é acrescido de
sensibilidade e intuição que, juntos, possibilitam ao homem dar-se um
significado pleno, que lhe estimula a participar de todo o processo do
desenvolvimento humano, despendendo energia e tempo em busca do
aprimoramento para a construção de uma realidade comum e satisfatória a
todos.
Esse sentimento cria uma relação de cumplicidade entre os seres, fator
primordial que lhes dá o sentido de humanidade, observando-se que não se
refere ao aspecto restrito da emotividade, que apresenta momentos
antagônicos, e leva a atitudes e comportamentos oscilantes, ora
extremamente violentos.
A afetividade no relacionamento entre professor e aluno cria uma
esfera de solidariedade, enriquecendo a emoção e resgatando o sentido da
vida, de maneira que um mundo mais igualitário seja construído por todos.
A relação afetuosa permite ao ser humano captar a dimensão e o valor
presentes nas coisas e pessoas, elementos que não poderiam ser percebidos
internamente sem essa intimidade que cada um estabelece com o outro, a
partir dessa relação significativamente boa. Sendo assim, o decisivo na vida
das pessoas não são os fatos e conhecimentos em si, mas o que eles
produzem de significações em cada um, enriquecendo-o e transformando-o
para melhor. Relacionando-se dessa forma, ao homem é possibilitado
enxergar em tudo e em todos um pouco de si, levando-o a entender que tudo,
de alguma forma, lhe pertence e é de sua responsabilidade, que tudo precisa
ser cuidado e trabalhado com um caráter de universalidade.
Considerando a visão de Saltini (1999), pode-se afirmar que a
educação tem por objetivo formar o homem para que ele possa satisfazer as
32suas necessidades, ser capaz de executar uma atividade e contribuir
socialmente.
Um dizer já conhecido e repetitivo é que não basta ao homem completo
que precisa, sim, de algo mais, necessita de um realizar educativo que o leve
também, e, sobretudo, a usufruir prazerosamente da própria vida. O homem
precisa de tempo livre e estar consciente de que tem esse direito. Para isso, é
preciso que a escola desperte nele essa consciência e interesse, que lhe
mostre a importância dos bens materiais, mas que eles não são um fim em si
mesmos, e que não é a riqueza, a todo custo, que lhe dará a alegria de viver.
Pobre não é somente aquele que pede esmolas, mas todo aquele
que não percebe o outro, não tendo competência para construir um
mundo para ambos. A falta que marca a existência humana jamais
será preenchida com objetos comprados mas com os sujeitos
amados.
(SALTINI, 1999, p. 117)
É importante que sejam transmitidos aos alunos valores éticos e morais
que lhes propiciem essa descoberta, e, para isso, a escola deve dar-lhe
espaço para o livre pensar, para o criativo, dizendo-lhe sempre que a
capacidade de trabalho, isoladamente, não basta, pois na vida, lidamos, a
todo tempo, com o trabalho, o estudo e o lazer, e grande parte das situações
vivenciadas pelo homem conjugam esses aspectos e exigem dele uma
tomada de decisão com todas essas vertentes de experimentação pessoal,
quando, então, ele estará mais apto a lidar com elas. A escola precisa
valorizar a subjetividade, e não a competitividade acirrada, e ao mesmo
tempo, trabalhar o sentido do coletivo, fazendo o homem acreditar que não
está sozinho, com isso diminuindo sua angústia e sua tristeza, encurtando,
assim, as diferenças sociais e lhe permitindo encontrar-se verdadeiramente
na vida.
É possível aceitar a colocação de Saltini, quando ele afirma que a
escola não cabe ocupar-se mais do cérebro do que coração. O principal fim
33do ensino não é poder sobrecarregar a mente de conhecimentos, mas de
desenvolver e intensificar as forças da inteligência e do sentimento. Portanto,
aquele que se propõe a transmitir qualquer forma de conteúdo deve fazê-lo
observando o caráter de afetuosidade nessa transmissão, para que, então,
seja capaz de despertar um interesse verdadeiro em aprender por parte
daquele que recebe a informação, e essa informação que chega até ele
penetra-lhe não só a consciência, mas também passar a fazer parte de suas
verdades, permitindo vivenciá-la, pois só o poder da verdade interior é capaz
de se manifestar de modo a criar e transformar o mundo em que vivemos.
O afeto permitirá que todas as pessoas se unam um dia, e deve ser
cultivado na condição de experiência nova que o exercício converterá em um
hábito, em um estado normal do espírito. A sua força restaurará a confiança
nos homens e na vida, portanto a sua presença produz estímulos que
revigoram. Através de sua ótica, os acontecimentos apresentam angulações
não percebidas, permitindo que as emoções não se entorpeçam, nem se
exalem, ao mesmo tempo em que predispõe o indivíduo a solidariedade com
tudo e todos.
Sendo assim, o sentimento de afeto no processo ensino- aprendizagem
oferece ao educando condições não só de ter, e sim de ser capaz, tendo-lhe a
nortear o caminho e a certeza de que, ainda que se domine todas as
tecnologias científicas, todo o conhecimento cultural, sem afeto, sentimento
que aproxima os homens, que da sentido à vida, levando ao respeito,
dignidade e igualdade, o homem nada será.
Todo conhecimento começa com o sonho. Mas sonhar é coisa que
não se ensina. Brota das profundezas do corpo. Como a água brota
das profundezas da terra. E das pulsões, dos desejos, das faltas e
ausências que cada ser humano é levado a ter vontade de buscar e,
para tanto, pensar.
(SALTINI 1999, p. 18)
34
CAPÍTULO IV
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
As entrevistas realizadas durante a pesquisa foram aplicadas numa
instituição privada que atende a uma clientela de nível médio e médio alto. Os
funcionários dessa escola têm funções bem definidas, facilitando o
desempenho e a prática de todos os envolvidos no processo educacional.
Na entrevista aplicada (ver anexo 1) foram considerados professores,
coordenadora e diretora pedagógica, cujas respostas puderam evidenciar em
comum a importância que todos vêem na afetividade durante o processo
ensino-aprendizagem.
Dos entrevistados que participaram dessa pesquisa, a maioria acredita
que o desenvolvimento afetivo pode ser considerado semelhante ao cognitivo,
pois o crescimento intelectual se faz presente de forma positiva quando o afeto
atua de modo intermediário na evolução do conhecimento.
Pode-se analisar a primeira pergunta focalizando a afetividade como
meio para se alcançar uma educação libertadora, cuja ação não pode estar
centrada apenas em aspectos cognitivos, mas integrá-los ao domínio das
emoções, de modo que, através do afeto, possa aflorar a consciência crítica,
capaz de permitir ao homem a apropriação de sua realidade, a fim de
transformar o contexto social.
Isso fica explicitado na fala dos seguintes entrevistados:
A afetividade é fundamental para que possa
acontecer, uma relação professor e aluno, pois a partir do
momento que o aluno se sente querido e vê o professor
como um amigo que está disposto a ajudar, ele terá mais
facilidade para aprender porque confia, e o professor
35quando se vê respeitado e valorizado, busca sempre a
melhor forma de ensinar. Desta maneira ambos aprendem
e ensinam.
(Professora A)
O diálogo, o elogio e o afeto, quando realizados de
forma verdadeira, fazem com que as crianças criem e
cresçam! Por meio dessas atitudes é construído um clima
de confiança e amizade entre educandos, educadores e
outros profissionais da escola.
Desta forma é fundamental ao processo educativo
que aconteça, na sala de aula, uma harmonia, tornando a
aprendizagem mais dinâmica e duradoura.
(Professora B)
A professora C ressaltou também que:
Não se ensina conteúdos apenas em livros ou por
meio de aulas expositivas. O aluno aprende,
verdadeiramente, quando se encontra num ambiente em
que são dadas oportunidades de viver democraticamente.
Isso implica em gestos de compreensão e afeto que
favorecem a aquisição de conhecimentos e o melhor
desempenho do aluno diante de situações-problema.
Através de entrevistas pôde-se perceber a importância da afetividade no
processo ensino-aprendizagem, pois essa afetividade direciona o educador a
utilizar artimanhas para seduzir seus alunos com relação ao que está sendo
36estudado, usando recursos que favoreçam e tornem a aula prazerosa,
participativa e interessante.
Essa questão mostrou-se marcante nas palavras dos seguintes
entrevistados:
A afetividade é de extrema importância ao processo
cognitivo e os educadores precisam reinventar a escola
brasileira, buscando soluções necessárias para que a
verdadeira aprendizagem de alunos ocorra. Não existe
um só caminho a seguir nesta conquista, cada um de nós
temos que descobrir, junto aos alunos, o melhor caminho
para atingirmos nossos objetivos.
(Coordenadora)
A sala de aula pode ser um permanente círculo de
cultura, desde que haja afeto; onde professor e alunos
constróem juntos os novos conhecimentos e valores,
numa atitude questionadora, solidária e libertadora.
(Diretora Pedagógica)
Cabe-se observar que as análises desta pesquisa entraram em
concordância com as idéias de Freire (1994, p. 35) quando o mesmo se refere
a educação como: “um ato de amor e que sem amorosidade fica comprometida
a relação professor-aluno.”
Esse amor, segundo Freire (ibid) deve ser bem direcionado, fazendo
dele um meio de libertação e não uma prática de opressão. Esse amor que
impulsionará o educando para o caminho certo, buscando uma sociedade
justa, democrática e igualitária.
37Sendo assim, dentre os entrevistados houve o predomínio de opinião
que ressalta o afeto como estímulo fundamental para o desenvolvimento da
inteligência, pois sem afetividade não há relação, nem troca e para que o
pensamento aconteça é necessário existir desafios, incentivo e muito amor.
38
CONCLUSÃO
“Na ausência do outro, o homem não se constrói homem”.2
Voltando à introdução desta pesquisa, o tema deste trabalho
monográfico foi a afetividade no processo ensino-aprendizagem, conforme
descrito no início deste estudo, a temática proposta foi a que definiu a questão
da afetividade escolar como foco fundamental da pesquisa.
Retornando a essa questão-problema, pôde-se constatar que ela foi
respondida, pois com base nas análises das entrevistas que afirmam em sua
maioria, a importância do afeto, o compromisso pedagógico e a melhoria da
formação de professores, de modo a superar o caráter reprodutivo da escola.
A afetividade faz com que professores busquem mudanças no campo
pedagógico, metodológico e social, portanto, a aprendizagem começa pela
área afetiva para se consolidar na cognitiva, onde a forma de ensinar muda a
relação professor-aluno, no qual as emoções são a exteriorização da
afetividade que provocam modificações durante o processo educacional.
O referencial teórico utilizado nesse estudo serviu para confirmar que o
professor é capaz de integrar diferentes recursos de aprendizagem, de acordo
com a sua compreensão, visando a mais efetiva para a realidade das crianças
no dado momento em que se ensina.
O conteúdo afetivo promovido pelo professor pode proporcionar
melhoria, no qual a aprendizagem e a afetividade caminham juntas, sendo
consideradas como essência pedagógica para as atividades que estimulam a
criatividade do aluno.
2 VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994
39Sendo assim, aquele que se propõe a transmitir qualquer forma de
conteúdo deve fazê-lo observando o caráter de afetuosidade nessa
transmissão, para que então, seja capaz de despertar um interesse verdadeiro
em aprender por parte daquele que recebe a informação, e essa informação
que chega até ele penetra-lhe não só a consciência, mas também fazer parte
de suas verdades, permitindo-lhe vivenciá-la, pois só o poder da verdade
interior é capaz de se manifestar de modo a transformar o mundo.
A escola, para melhor atingir seus objetivos, pode e deve trabalhar junto
às famílias, pois o equilíbrio afetivo da família desempenha papel fundamental,
contribuindo de forma motivadora para o rendimento social, afetivo e escolar.
Portanto, é essencial a predominância marcante e exclusiva da família junto
com a escola no desenvolvimento dos valores da criança.
No núcleo familiar, a criança inicia a tomada de consciência das
diferentes relações existentes, e já participa, manifestando seus desejos. De
posse dessas aquisições, a criança já chega até a escola, trazendo uma
bagagem social, moral e afetiva, que ainda reflete o egocentrismo e a
dependência, precisando que isso seja conhecido e considerado pelos
profissionais da educação. É na escola que surge a oportunidade de se
relacionar mais diretamente com crianças da mesma faixa etária e com adultos
que não sejam necessariamente seus familiares, alargando assim, seu
universo, livrando-se do egocentrismo e adquirindo iniciativa e independência.
Em uma sala de aula deve haver emoção, o quê facilita a transmissão
das informações que deverão ser absorvidas, pois quando não há preocupação
com a área afetiva, pode acontecer a dispersão nos alunos, em vez de prazer e
concentração. Outra sugestão, bastante positiva, é o uso de música ambiente
dentro da sala de aula, de preferência música suave, que geralmente alivia o
pensamento acelerado e facilita a assimilação da informações.
Os efeitos de música ambiente em sala de aula são espetaculares,
porque relaxam mestres e animam os alunos. Desta forma a música deveria
ser usada no ambiente escolar desde a mais tenra infância, buscando um elo
40de afeto e estimulando a criança a, cada vez mais, gostar da instituição
escolar.
A escola clássica gera conflitos nos alunos sem perceber, além de
bloquear a capacidade de argumentar e expor suas idéias, pois não dá
liberdade para que seus educandos discutam assuntos de seus interesses,
temas que sejam agradáveis e de acordo com a faixa etária de cada turma. Por
isso é de fundamental importância que o professor, ao realizar o seu
planejamento, tenha a sensibilidade de adaptar os seus conteúdos aos
interesses particulares de cada turma, procurando resgatar a vontade de
aprender e o prazer em estar naquele local, priorizando um clima agradável e a
interação social.
Essa pesquisa monográfica mostrou que, quanto maior a preocupação
do educador em atingir, de forma positiva, o seu aluno melhor será seu
resultado em busca de seres emancipados, livres e atuantes dentro da nossa
sociedade.
O tipo de pesquisa aplicada foi estudo de caso que serviu para focalizar
o professor como um mediador, onde junto com os alunos pode descobrir o
melhor caminho para alcançar os objetivos. Seu papel como elemento
facilitador consiste que desafie com responsável comprometimento a relação
professor-aluno, buscando que esse elo possa refletir diretamente no processo
ensino-aprendizagem, realizando na educação aspectos afetivos, de modo a
possibilitar a formação integral do cidadão, visando soluções, descobrindo os
limites e os mecanismos para que a verdadeira aprendizagem do aluno
aconteça. Através da afetividade e da interação professor-aluno um conflito
cognitivo ocorrerá, proporcionando a que novos conhecimentos sejam
produzidos na experiência, construindo a autonomia moral e respeitando o
nível de desenvolvimento da criança.
O número de entrevistas aplicadas foram suficientes para fazer uma
análise mais detalhada sobre o tema proposto, chegando-se à conclusão de
que a escola tem como objetivo integrar o indivíduo à sociedade. Cabe a ela
41reproduzir valores da sociedade e buscar harmonia no processo ensino-
aprendizagem, para que os alunos desenvolvam o senso crítico diante dos
acontecimentos transmitidos, onde o gestor e o docente possam tomar
medidas que melhorem o padrão de ensino ou que modifiquem aspectos
conservadores da escola, visando estarem sempre bem atualizados sobre
aspectos subjetivos da criança e sensibilidade com abertura para aprender.
É preciso que professores repensem a prática docente, sabendo que na
verdade eles tampouco são culpados pela atual crise do ensino. Se os
professores igualmente são vítimas desse processo de ensino, isto não
significa que não haja nada a ser feito. Ao contrário, é importante que os
professores reflitam sobre os limites e as possibilidades para a criação de
novos caminhos, quebrar uma postura autoritária, criando propostas
democráticas, pensar novas metodologias de aula, trocar experiências,
questionar, mas também ouvir os alunos. Trabalhar de maneira planejada e
contínua nas escolas, respeitando o desenvolvimento afetivo-cognitivo dos
alunos, onde poderá resultar em um processo educativo muito mais abrangente
e eficaz. Enfim, criar uma nova prática docente em conjunto com os alunos e
não contra eles, para assim, criar uma escola nova.
Com a participação e interação de todos nesse processo, com a
consciência de que só a partir da experiência vivida, cada aluno poderá
construir um saber real e operante, será possível trazer a alegria à escola,
comprometidos com a justiça social, respeito aos princípios básicos da
cidadania, lutando por fazer valer as leis, só assim será despertado o interesse,
a criatividade, o senso crítico, o prazer e a inteligência de todos os indivíduos
no processo ensino-aprendizagem.
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez
Autores Associados, 1981.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1980.
_____________ Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do
oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
GADOTTI, Moacir. Educação e Poder: Introdução à Pedagogia do Conflito. São
Paulo: Cortez Autores Associados, 1989
MARCHAND, Max. A Afetividade do Educador. (Tradução de Maria Lúcia
Spedo Hildorf Barbanti, Antonieta Barini): Summus Editorial, 1985.
PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência da Criança. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1987.
____________ A Relação da Afetividade com a Inteligência no
Desenvolvimento Mental da Criança. (Tradução de Magda Medeiros Schul).
Disponível em: http//www.google.com.br. Acesso em:09/11/2002.
SALTINI, Cláudio J. P. A Afetividade Inteligência: a emoção na educação, 4ª
edição. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
TIBA, Içami. Quem Ama Educa,70ª edição. Rio de Janeiro: Gente, 2002.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,
1994
43
ANEXO
ANEXO 1
ENTREVISTA
Formação:
Função:
Há quanto tempo atua?
1) Como você vê a afetividade entre professor e aluno na sua escola?
2) E entre toda a equipe de sua escola (professor, monitores, serventes,
auxiliares administrativos)?
3) Você acha que o grau de afetividade numa relação melhora o processo
ensino- aprendizagem? Como?
4) Como são encaminhados os casos que envolvem problemas de
relacionamento afetivo na sua escola?
5) Você acha que existe alguma relação entre o desenvolvimento da
inteligência e a afetividade? Por quê?
44
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 12
A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA 12
1.1 – A Relação da Afetividade com a Aprendizagem 15
1.1.1 – A Afetividade na Escola: Condicionantes Sócio-Teórico 18
1.1.2 – Ciclo Vital: Aluno x Família x Escola 20
CAPÍTULO II 24
O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 24
CAPÍTULO III 28
DEFASAGEM INTELECTIVA 28
3.1 – Educar para a Realização 30
CAPÍTULO IV 34
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS 34
CONCLUSÃO 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42
45ANEXO 43
ÍNDICE 44