Upload
juciaramp
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 1/36
José de Alencar , Cinco Minutos Texto proveniente da Virtual Bookstore - (www.vbookstore.co.br! - a livraria virtualda "nternet Brasileira.
# ua $ist%ria curiosa a &ue l$e vou contar, in$a pria. Mas é ua $ist%ria e n'o u roance. ) ais de dois anos, seria seis $oras da tarde, diri*i-e ao +ocio para toar onibus de Andara. abe &ue sou o $oe enos pontual &ue $) neste undo/ entre os eus iensosde0eitos e as in$as poucas &ualidades, n'o conto a pontualidade, essa virtude dos reis eesse au costue dos in*leses. 1ntusiasta da liberdade, n'o posso aditir de odo al*u&ue u $oe seescravi2e ao seu rel%*io e re*ule as suas a34es pelo oviento de ua pe&uena a*ul$ade a3o ou pelas oscila34es de ua p5ndula.
Tudo isto &uer di2er &ue, c$e*ando ao +ocio, n'o vi ais nibus al*u/ oepre*ado a &ue e diri*i respondeu6 - 7artiu $) cinco inutos. +esi*nei-e e esperei pelo nibus de sete $oras. Anoiteceu. 8a2ia ua noite de inverno 0resca e 9ida/ o céu estava calo, as se estrelas. A $ora arcada c$e*ou o nibus e apressei-e a ir toar o eu lu*ar. 7rocurei, coo costuo, o 0undo do carro, a 0i de 0icar livre das conversason%tonas dos recebedores, &ue de ordin)rio t5 sepre ua anedota inspida a contarouua &ueixa a 0a2er sobre o au estado dos cain$os. : canto ;) estava ocupado por u onte de sedas, &ue deixou escapar-se uli*eiro0ar0al$ar, conc$e*ando-se para dar-e lu*ar. entei-e/ pre0iro sepre o contato da seda < vi2in$an3a da casiira ou do pano. : eu prieiro cuidado 0oi ver se conse*uia descobrir o rosto e as 0oras &ue seescondia nessas nuvens de seda e de rendas. 1ra ipossvel. Alé de a noite estar escura, u aldito véu &ue caa de u c$apeu2in$o de pal$an'o e deixava a enor esperan3a. +esi*nei-e e assentei &ue o el$or era cuidar de outra coisa. J) o eu pensaento tin$a-se lan3ado a *alope pelo undo da 0antasia, &uando de
repente 0ui obri*ado a voltar por ua circunst=ncia be siples. enti no eu bra3o o contato suave de u outro bra3o, &ue e parecia acio eaveludado coo ua 0ol$a de rosa. >uis recuar, as n'o tive =nio/ deixei-e 0icar na esa posi3'o e cisei &ueestavasentado perto de ua ul$er &ue e aava e &ue se apoiava sobre i. 7ouco a pouco 0ui cedendo <&uela atra3'o irresistvel e reclinando-einsensivelente/ a press'o tornou-se ais 0orte/ senti o seu obro tocar de leve o eu
peito/e a in$a 'o ipaciente encontrou ua 'o2in$a delicada e iosa, &ue se deixouapertar
a edo.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 2/36
Assi, 0ascinado ao eso tepo pela in$a ilus'o e por este contatovoluptuoso,es&ueci-e, a ponto &ue, se saber o &ue 0a2ia, inclinei a cabe3a e colei os eus l)biosardentes nesse obro, &ue estreecia de eo3'o. 1la soltou u *rito, &ue 0oi toado naturalente coo susto causado pelos
solavancos do nibus, e re0u*iou-se no canto. Meio arrependido do &ue tin$a 0eito, voltei-e coo para ol$ar pela portin$ola docarro, e, aproxiando-e dela, disse-l$e &uase ao ouvido 6 - 7erd'o? @'o respondeu/ conc$e*ou-se ainda ais ao canto. Toei ua resolu3'o $er%ica. - Vou descer, n'o a incoodarei ais. itas estas palavras rapidaente, de odo &ue s% ela ouvisse, inclinei-e paraandar
parar. Mas senti outra ve2 a sua 'o2in$a, &ue apertava doceente a in$a, coo para
ipedir-e de sair. 1st) entendido &ue n'o resisti e &ue e deixei 0icar / ela conservava-se seprelon*ede i, as tin$a-e abandonado a 'o, &ue eu bei;ava respeitosaente. e repente veio-e ua idéia. e 0osse 0eia? se 0osse vel$a? se 0osse ua e outracoisa? 8i&uei 0rio e coecei a re0letir. 1sta ul$er, &ue se e con$ecer e peritia o &ue s% se perite ao $oe &ueseaa, n'o podia deixar co e0eito de ser 0eia e uito 0eia. @'o l$e sendo 0)cil ac$ar u naorado de dia, ao enos a*arrava-se a este, &ue denoite e <s ce*as l$e proporcionara o acaso. # verdade &ue essa 'o delicada, essa esp)dua aveludada... "lus'o? 1ra adisposi3'oe &ue eu estava? A ia*ina3'o é capa2 de aiores es0or3os ainda. @esta arc$a, o eu espirito e al*uns instantes tin$a c$e*ado a uaconvic3'o inabal)vel sobre a 0ealdade de in$a vi2in$a. 7ara ad&uirir a certe2a renovei o exae &ue tentara a princpio6 poré, aindadesta ve2, 0oi baldado/ estava t'o be envolvida no seu antelete e no seu véu, &uene u tra3o do rosto traa o seu inc%*nito.
Mais ua prova? a ul$er bonita deixa-se adirar e n'o se esconde coo ua pérola dentro da sua ostra. ecididaente era 0eia, enoreente 0eia? @isto ela 0e2 u oviento, entreabrindo o seu antelete, e u ba0e;o suave dearoa de s=ndalo exalou-se. Aspirei voluptuosaente essa onda de per0ue, &ue se in0iltrou e in$a alacoou e0l9vio celeste. @'o se adire, in$a pria/ ten$o ua teoria a respeito dos per0ues. A ul$er é ua lor &ue se estuda, coo a 0lor do capo, pelas suas cores, pelassuas
0ol$as e sobretudo pelo seu per0ue. ada a cor predileta de ua ul$er descon$ecida, o seu odo de tra;ar e o seu
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 3/36
per0ue 0avorito, vou descobrir co a esa exatid'o de u problea al*ébrico se elaé
bonita ou 0eia. e todos estes indcios, poré, o ais se*uro é o per0ue/ e isto por u se*redoda
nature2a, por ua lei isteriosa da cria3'o, &ue n'o sei explicar. 7or &ue é &ue eus deu o aroa ais delicado < rosa, ao $eliotr%pio, < violeta, ao ;asi, e n'o a essas 0lores se*ra3a e se bele2a, &ue s% serve para real3ar as suasir's # decerto por esta esa ra2'o &ue eus s% d) < ul$er linda esse tato delicado esutil, esse *osto apurado, &ue sabe distin*uir o aroa ais per0eito... J) v5, in$a pria, por&ue esse odor de s=ndalo 0oi para i coo uarevela3'o. % ua ul$er distinta, ua ul$er de sentiento, sabe copreender toda a
poesiadesse per0ue oriental, desse $atc$iss do ol0ato, &ue nos ebala nos son$os bril$antes
dasMil e ua @oites, &ue nos 0ala da Dndia, da C$ina, da 7érsia, dos esplendores da Esia edosistérios do ber3o do sol. : s=ndalo é o per0ue das odaliscas de tabul e das $uris do pro0eta/ coo as
borboletas &ue se alienta de el, a ul$er do :riente vive co as *otas dessaess5nciadivina. eu ber3o é de s=ndalo / seus colares, suas pulseiras, o seu le&ue, s'o de s=ndalo/e,&uando a orte ve &uebrar o 0io dessa exist5ncia 0eli2, é ainda e ua urna des=ndalo &ueo aor *uarda as suas cin2as &ueridas. Tudo isto e passou pelo pensaento coo u son$o, en&uanto eu aspiravaardenteente essa exala3'o 0ascinadora, &ue 0oi a pouco e pouco desvanecendo-se. 1ra bela? Tin$a toda a certe2a/ desta ve2 era ua convic3'o pro0unda e inabal)vel. Co e0eito, ua ul$er de distin3'o, ua ul$er de ala elevada, se 0osse 0eia,n'odava sua 'o a bei;ar a u $oe &ue podia repeli-la &uando a con$ecesse/ n'o seexpun$a
ao esc)rnio e ao despre2o. 1ra bela? Mas n'o a podia ver, por ais es0or3os &ue 0i2esse. : nibus parou/ ua outra sen$ora er*ueu-se e saiu. enti a sua 'o apertar a in$a ais estreitaente/ vi ua sobra passar diantedeeus ol$os no eio do ru*e-ru*e de u vestido, e &uando dei acordo de i, o carrorodavae eu tin$a perdido a in$a vis'o. +essoava-e ainda ao ouvido ua palavra ururada, ou antes suspirada &uaseiperceptivelente6
-- @on ti scordar di e? ...
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 4/36
Fancei-e 0ora do nibus/ cain$ei < direita e < es&uerda andei coo u loucoaténove $oras da noite. @ada?
""
>"@G1 dias se passara depois de in$a aventura. urante este tepo é escusado di2er-l$e as extrava*=ncias &ue 0i2. 8ui todos os dias a Andara no nibus das sete $oras, para ver se encontrava ain$adescon$ecida/ inda*uei de todos os passa*eiros se a con$ecia e n'o obtive a enor in0ora3'o.
1stava a bra3os co ua paix'o, in$a pria, e co ua paix'o de prieira0or3a ede alta press'o, capa2 de 0a2er vinte il$as por $ora. >uando saa, n'o via ao lon*e u vestido de seda preta e u c$apéu de pal$a &uen'ol$e desse ca3a, até 0a25-lo c$e*ar < aborda*e. @o 0i descobria al*ua vel$a ou al*ua costureira des;eitosa e continuavatristeente o eu cain$o, atr)s dessa sobra ipalp)vel, &ue eu procurava $avia&uin2elon*os dias, isto é, u século para o pensaento de u aante. dia estava e u baile, triste e pensativo, coo u $oe &ue aa uaul$er e &ue n'o con$ece a ul$er &ue aa. +ecostei-e a ua porta e dai via passar diante de i ua irade bril$ante eespl5ndida, pedindo a todos a&ueles rostos indi0erentes u ol$ar, u sorriso, &ue edesse acon$ecer a&uela &ue eu procurava. Assi preocupado, &uase n'o dava 0é do &ue se passava ;unto de i, &uandosentiu le&ue tocar eu bra3o, e ua vo2 &ue vivia no eu cora3'o, ua vo2 &ue cantavadentro
de in$a ala, ururou6 -- @on ti scordar di e?... Voltei-e. Corri u ol$ar pelas pessoas &ue estava ;unto de i, e apenas vi ua vel$a&ue
passeava pelo bra3o de seu caval$eiro, abanando-se co u le&ue. -- er) ela, eu eus pensei $orrori2ado. 1, por ais &ue 0i2esse, os eus ol$os n'o se podia destacar da&uele rosto c$eioderu*as. A vel$a tin$a ua express'o de bondade e de sentiento &ue devia atrair a
sipatia/as na&uele oento essa bele2a oral, &ue iluinava a&uela 0isionoia inteli*ente,
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 5/36
pareceu-e $orrvel e até repu*nante. Aar &uin2e dias ua sobra, son$)-la bela coo u an;o, e por 0i encontraruavel$a de cabelos brancos, ua vel$a co&uette e naoradeira? @'o, era ipossvel? @aturalente a in$a descon$ecida tin$a 0u*ido antes &ue
eutivesse tepo de v5-la. 1ssa esperan3a consolou-e / as durou apenas u se*undo. A vel$a 0alou e na sua vo2 eu recon$eci, apesar de tudo, apesar de i eso, otibre doce e aveludado &ue ouvira duas ve2es. 1 0ace da evid5ncia n'o $avia ais &ue duvidar. 1u tin$a aado ua vel$a,tin$a
bei;ado a sua 'o enru*ada co delrio, tin$a vivido &uin2e dias de sua lebran3a. 1ra para 0a2er-e enlou&uecer ou rir/ n'o e ri ne enlou&ueci, as 0i&uei coutal tédio e u aborreciento de i eso &ue n'o posso expriir.
>ue peripécias, &ue lances, poré, n'o e reservava ainda esse draa, t'osiples eobscuro? @'o distin*ui as prieiras palavras da vel$a lo*o &ue ouvi a sua vo2/ 0oi s%
passado o prieiro espanto &ue percebi o &ue di2ia. - 1la n'o *osta de bailes. - 7ois adira, replicou o caval$eiro / na sua idade? - >ue &uer? n'o ac$a pra2er nestas 0estas ruidosas e nisto ostra be &ue é in$a0il$a. A vel$a tin$a ua 0il$a e isto podia explicar a seel$an3a extraordin)ria da vo2.A*arrei-e a esta sobra, coo u $oe &ue cain$a no escuro. +esolvi-e a se*uir a vel$a toda a noite, até &ue ela se encontrasse co sua 0il$a 6desde este oento era o eu 0anal, a in$a estrela polar. A sen$ora e o seu caval$eiro entrara na saleta da escada. eparado dela uinstante
pela ultid'o, ia se*ui-la. @isto ou3o ua vo2 ale*re di2er da saleta6 - Vaos, a'? Corri, e apenas tive tepo de perceber os 0ol$os de u vestido preto, envolto nular*o burnous de seda branca, &ue desapareceu li*eiraente na escada.
Atravessei a saleta t'o depressa coo e peritiu a ultid'o, e, pisando calos,dandoencontr4es < direita e < es&uerda, c$e*uei en0i < porta da sada. : eu vestido preto suiu-se pela portin$ola de u cup5, &ue partiu a trote lar*o. Voltei ao baile desaniado/ a in$a 9nica esperan3a era a vel$a/ por ela podiatoar in0ora34es, saber &ue era a in$a descon$ecida, inda*ar o seu noe e a sua orada,acabar en0i co este eni*a, &ue e atava de eo34es violentas e contr)rias. "nda*uei dela. Mas coo era possvel desi*nar ua vel$a da &ual eu s% sabia pouco ais ouenos a
idade Todos os eus ai*os tin$a visto uitas vel$as, poré n'o tin$a ol$ado para
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 6/36
elas. +etirei-e triste e abatido, coo u $oe &ue se v5 e luta contra o ipossvel. e duas ve2es &ue a in$a vis'o e tin$a aparecido, s% e restava ualebran3a,u per0ue e ua palavra?
@e se&uer u noe? A todo oento parecia-e ouvir na brisa da noite essa 0rase do Trovador, t'oc$eiade elancolia e de sentiento, &ue resuia para i toda ua $ist%ria. esde ent'o n'o se representava ua s% ve2 esta %pera &ue eu n'o 0osse ao teatro,aoenos para ter o pra2er de ouvi-la repetir. A princpio, por ua intui3'o natural, ;ul*uei &ue ela devia, coo eu, adirar essasublie $aronia de Verdi, &ue devia tabé ir sepre ao teatro. : eu bin%culo exainava todos os caarotes co ua aten3'o eticulosa/ viao3as bonitas ou 0eias, as nen$ua delas e 0a2ia palpitar o cora3'o.
1ntrando ua ve2 no teatro e passando a in$a revista costuada, descobri0inalente na terceira orde sua 'e, a in$a estrela, o 0io de Ariadne &ue e podia*uiar neste labirinto de d9vidas. A vel$a estava s%, na 0rente do caarote, e de ve2 e &uando voltava-se paratrocar ua palavra co al*ué sentado no 0undo. enti ua ale*ria ine0)vel. : caarote pr%xio estava va2io/ perdi &uase todo o espet)culo a procurar ocabistaincubido de vend5-lo. 7or 0i ac$ei-o e subi de u pulo as tr5s escadas. : cora3'o &ueria saltar-e &uando abri a porta do caarote e entrei. @'o e tin$a en*anado/ ;unto da vel$a vi u c$apeu2in$o de pal$a co u véu
pretoroce*ado, &ue n'o e deixava ver o rosto da pessoa a &ue pertencia. Mas eu tin$a adivin$ado &ue era ela/ e sentia u pra2er inde0invel e ol$ara&uelasrendas e 0itas, &ue e ipedia de con$ec5-la, as &ue ao enos l$e pertencia. a das 0itas do c$apéu tin$a cado do lado do eu caarote, e, e risco de servisto,n'o pude suster-e e bei;ei-a a 0urto.
+epresentava-se a Traviata e era o 9ltio ato/ o espet)culo ia acabar, e eu 0icarianoeso estado de incerte2a. Arrastei as cadeiras do caarote, tossi, deixei cair o bin%culo, 0i2 u barul$oinsuport)vel, para ver se ela voltava o rosto. A platéia pediu sil5ncio/ todos os ol$os procurara con$ecer a causa. do ruor/
poré ela n'o se oveu/ co a cabe3a eio inclinada sobre a coluna, e ua l=n*uidain0lex'o, parecia toda entre*ue ao encanto da 9sica. Toei u partido. 1ncostei-e < esa coluna e, e vo2 baixa, balbuciei estas palavras6 - @'o e es&ue3o?
1streeceu e, baixando rapidaente o véu, conc$e*ou ainda ais o lar*o burnousde
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 7/36
ceti branco. Cuidei &ue ia voltar-se, as en*anei-e / esperei uito tepo, e debalde. Tive ent'o u oviento de despeito e &uase de raiva/ depois de u 5s &ue euaava se esperan3a, &ue eu *uardava a aior 0idelidade < sua sobra, ela e recebia0riaente.
+evoltei-e. - Copreendo a*ora, disse eu e vo2 baixa e coo 0alando a u ai*o &ueestivessea eu lado, copreendo por &ue ela e 0o*e, por &ue conserva esse istério / tudo iston'o
passa de ua 2obaria cruel, de ua coédia, e &ue eu 0a3o o papel de aanteridculo.+ealente é ua lebran3a en*en$osa? Fan3ar e u cora3'o o *ere de u aor
pro0undo / alient)-lo de tepos a tepos co ua palavra, excitar a ia*ina3'o peloistério/ e depois, &uando esse naorado de ua sobra, de u son$o, de ua ilus'o,
passear pelo sal'o a sua 0i*ura triste e abatida, ostr)-lo a suas ai*as coo ua
vtiaiolada aos seus capric$os e escarnecer do louco? # espirituoso? : or*ul$o da aisvaidosaul$er deve 0icar satis0eito? 1n&uanto eu pro0eria estas palavras, repassadas de todo o 0el &ue tin$a no cora3'o,aC$arton odulava co a sua vo2 sentiental essa linda )ria 0inal da Traviata,interropida
por li*eiros acessos de ua tosse seca. 1la tin$a curvado a cabe3a e n'o sei se ouvia o &ue eu l$e di2ia ou o &ue a C$artoncantava/ de ve2 e &uando as suas esp)duas se a*itava co u treor convulsivo,&ue eutoei in;ustaente por u oviento de ipaci5ncia. : espet)culo terinou, as pessoas do caarote sara e ela, levantando sobre oc$apéu o capu2 de seu anto, acopan$ou-as lentaente. epois, 0in*indo &ue se tin$a es&uecido de al*ua coisa, tornou a entrar nocaarotee estendeu-e a 'o. -- @'o saber) nunca o &ue e 0e2 so0rer, disse-e co a vo2 tr5ula. @'o pude ver-l$e o rosto/ 0u*iu, deixando-e o seu len3o ipre*nado desseeso
per0ue de s=ndalo e todo ol$ado de l)*rias ainda &uentes. >uis se*ui-la/ as ela 0e2 u *esto t'o suplicante &ue n'o tive =nio dedesobedecer-l$e. 1stava coo dantes/ n'o a con$ecia, n'o sabia nada a seu respeito/ poré aoenos
possua al*ua coisa dela/ o seu len3o era para i ua rel&uia sa*rada. Mas as l)*rias A&uele so0riento de &ue ela 0alava : &ue &ueria di2er tudoisto @'o copreendia/ se eu tin$a sido in;usto, era ua ra2'o para n'o continuar aesconder-se de i. >ue &ueria di2er este istério, &ue parecia obri*ada a conservar Todas estas per*untas e as con;eturas a &ue elas dava lu*ar n'o e deixara
dorir. 7assei ua noite de vi*lia a 0a2er suposi34es, cada &ual ais desarra2oada.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 8/36
"""
+1C:F1@:-M1 no dia se*uinte, ac$ei e casa ua carta. Antes de abri-la con$eci &ue era dela, por&ue l$e tin$a ipriido esse suave
per0ue&ue a cercava coo ua auréola. 1is o &ue di2ia 6 HJul*a al de i, eu ai*o / nen$ua ul$er pode escarnecer de u nobrecora3'o coo o seu. He e oculto, se 0u;o, é por&ue $) ua 0atalidade &ue a isto e obri*a. 1 s% eussabe &uanto e custa este sacri0cio, por&ue o ao? HMas n'o devo ser e*osta e trocar sua 0elicidade por u aor des*ra3ado. H1s&ue3a-e. +eli n'o sei &uantas ve2es esta carta, e, apesar da delicade2a de sentiento &ue
parecia
ter ditado suas palavras, o &ue para i se tornava be claro é &ue ela continuava a0u*ir-e. 1ssa assinatura era a esa letra &ue arcava o seu len3o e < &ual eu, desde avéspera, pedia debalde u noe? 8osse &ual 0osse esse otivo &ue ela c$aava ua 0atalidade e &ue eu supun$a ser apenas escr9pulo, sen'o ua 2obaria, o el$or era aceitar o seu consel$o e 0a2er por es&uec5-la. +e0leti ent'o 0riaente sobre a extrava*=ncia da in$a paix'o e assentei &ue coe0eito precisava toar ua resolu3'o decidida. @'o era possvel &ue continuasse a correr atr)s de u 0antasa &ue se esvaecia&uando ia toc)-lo. Aos *randes ales os *randes reédios, coo di2 ip%crates. +esolvi 0a2er uavia*e. Mandei selar o eu cavalo, eti al*ua roupa e u saco de via*e, ebrul$ei-eno eu capote e sa, se e iportar co a an$' de c$uva &ue 0a2ia. @'o sabia para onde iria. : eu cavalo levou-e para o 1n*en$o-Vel$o e eu daeencain$ei para a Ti;uca, onde c$e*uei ao eio-dia, todo ol$ado e 0ati*ado pelosauscain$os.
e al*u dia se apaixonar, in$a pria, aconsel$o-l$e as via*ens coo ureédiosoberano e talve2 o 9nico e0ica2. era-e u excelente alo3o no $otel/ 0uei u c$aruto e dori do2e $oras,seter u son$o, se udar de lu*ar. >uando acordei, o dia despontava sobre as ontan$as da Ti;uca. a bela an$', 0resca e rociada das *otas de orval$o, desdobrava o seu anto dea2ul por entre a cerra3'o, &ue se desvanecia aos raios do sol. : aspecto desta nature2a &uase vir*e, esse céu bril$ante, essa lu2 espl5ndida,caindo
e cascatas de ouro sobre as encostas dos roc$edos, serenou-e copletaente oesprito.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 9/36
8i&uei ale*re, o &ue $avia uito tepo n'o e sucedia. : eu $%spede, u in*l5s 0ranco e caval$eiro, convidou-e para acopan$)-lo <ca3a/ *astaos todo o dia a correr atr)s de duas ou tr5s arrecas e a bater as ar*ens da+estin*a. Assi passei nove dias na Ti;uca, vivendo ua vida est9pida &uanto pode ser6
dorindo, ca3ando e ;o*ando bil$ar. @a tarde do décio dia, &uando ;) e supun$a per0eitaente curado e estavaconteplando o sol, &ue se escondia por detr)s dos ontes, e a lua, &ue derraava noespa3oa sua lu2 doce e acetinada, 0i&uei triste de repente. @'o sei &ue cain$o toava as in$as idéias/ o caso é &ue da a pouco descia aserra no eu cavalo, laentando esses nove dias, &ue talve2 e tivesse 0eito perder
parasepre a in$a descon$ecida. Acusava-e de in0idelidade, de trai3'o/ a in$a 0atuidade di2ia-e &ue eu deviaao
enos ter-l$e dado o pra2er de ver-e. >ue iportava &ue ela e ordenasse &ue a es&uecesse @'o e tin$a con0essado &ue e aava, e n'o devia eu resistir e vencer essa0atalidade, contra a &ual ela, 0raca ul$er, n'o podia lutar Tin$a ver*on$a de i eso/ ac$ava-e e*osta, cobarde, irre0letido, erevoltava-e contra tudo, contra o eu cavalo &ue e levara < Ti;uca, e o eu $%spede,cu;aaabilidade ali e $avia deorado. Co esta disposi3'o de esprito c$e*uei < cidade, udei de tra;e e ia sair, &uando oeu ole&ue e deu ua carta. 1ra dela. Causou-e ua surpresa isturada de ale*ria e de reorso6 HMeu ai*o. Hinto-e co cora*e de sacri0icar o eu aor < sua 0elicidade/ as ao enosdeixe-e o consolo de a)-lo. H) dois dias &ue espero debalde v5-lo passar e acopan$)-lo de lon*e co uol$ar?
@'o e &ueixo/ n'o sabe ne deve saber e &ue ponto de seu cain$o o so de seus passos0a2 palpitar u cora3'o ai*o. H7arto $o;e para 7etr%polis, donde voltarei breve/ n'o l$e pe3o &ue e acopan$e,
por&ue devo ser-l$e sepre ua descon$ecida, ua sobra escura &ue passou u dia pelosson$os dourados de sua vida. H1ntretanto eu dese;ava v5-lo ainda ua ve2, apertar a sua 'o e di2er-l$e adeus
parasepre.
HC.H
A carta tin$a a data de I/ n%s est)vaos a K/ $avia oito dias &ue ela partira para7etr%polis e &ue e esperava.
@o dia se*uinte ebar&uei na 7rain$a e 0i2 essa via*e da baa, t'o pitoresca, t'oa*rad)vel e ainda t'o pouco apreciada.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 10/36
Mas ent'o a a;estade dessas ontan$as de *ranito, a poesia desse vasto seio dear,sepre alisado coo u espel$o, os *rupos de il$otas *raciosas &ue borda a baa,nadadisto e preocupava.
% tin$a ua idéia... c$e*ar/ e o vapor cain$ava enos r)pido do &ue eu pensaento. urante a via*e pensava nessa circunst=ncia &ue a sua carta e revelara, e 0a2ia-e
por lebrar de todas as ruas por onde costuava passar, para ver se adivin$ava a&uelaondeela orava e donde todos os dias e via se &ue eu suspeitasse. 7ara u $oe coo eu, &ue andava todo o dia desde a an$' até a noite, a
pontode erecer &ue a sen$ora, in$a pria, e apelidasse de Judeu 1rrante, este trabal$oera
ipro0cuo. >uando c$e*uei a 7etr%polis, era cinco $oras da tarde/ estava &uase noite. 1ntrei nesse $otel su3o, ao &ual nunca ais voltei, e en&uanto e servia ua*ro
;antar, &ue era o eu alo3o, toei in0ora34es. - T5 subido estes dias uitas 0alias per*untei eu ao criado. - @'o, sen$or. - Mas, $) coisa de oito dias n'o viera da cidade duas sen$oras - @'o estou certo. - 7ois inda*ue, &ue preciso saber e ;) / isto o a;udar) a obter in0ora34es. A 0isionoia sisuda do criado expandiu-se ao tinir da oeda e a ln*ua ad&uiriu asuaelasticidade natural. - Talve2 o sen$or &ueira 0alar de ua sen$ora ;) idosa &ue veio acopan$ada desua0il$a - # isso eso. - A o3a parece-e doente/ nunca a ve;o sair. - :nde est) orando - A&ui perto, na rua de... - @'o con$e3o as ruas de 7etr%polis/ o el$or é acopan$ar-e e vir ostrar-e a
casa. - i sen$or. : criado se*uiu-e e toaos por ua das ruas a*restes da cidade ale'.
"V
A noite estava escura. 1ra ua dessas noites de 7etr%polis, envoltas e nevoeiro e cerra3'o. Cain$)vaos ais pelo tato do &ue pela vista, di0icilente distin*uaos osob;etosa ua pe&uena dist=ncia/ e uitas ve2es, &uando o eu *uia se apressava, o seu vulto
perdia-se nas trevas. 1 al*uns inutos c$e*aos e 0ace de u pe&ueno edi0cio construdo a al*uns
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 11/36
passos do alin$aento, e cu;as ;anelas estava esclarecidas por ua lu2 interior. # ali. - :bri*ado. : criado voltou e eu 0i&uei ;unto dessa casa, se saber o &ue ia 0a2er. A idéia de &ue estava perto dela, &ue via a lu2 &ue a esclarecia, &ue tocava a relva
&ueela pisara, 0a2ia-e 0eli2. # coisa sin*ular, in$a pria? : aor &ue é insaci)vel e exi*ente e n'o se satis0a2co tudo &uanto ua ul$er pode dar, &ue dese;a o ipossvel, <s ve2es contenta-seco usiples *o2o dLala, co ua dessas eo34es delicadas, co u desses nadas, dos&uais ocora3'o 0a2 u undo novo e descon$ecido. @'o pense, poré, &ue eu 0ui a 7etr%polis s% para conteplar co enlevo as
;anelas deu c$alé/ n'o/ ao passo &ue sentia esse pra2er, re0letia no eio de v5-la e 0alar-l$e.
Mas coo... e soubesse todos os expedientes, cada &ual ais extrava*ante, &ue inventou ain$aia*ina3'o? e visse a elaborac'o tena2 a &ue se entre*ava o eu esprito paradescobrir ueio de di2er-l$e &ue eu estava ali e a esperava? 7or 0i ac$ei u/ se n'o era o el$or, era o ais pronto. esde &ue c$e*ara, tin$a ouvido uns prel9dios de piano, as t'o débeis &ue
pareciaantes tirados por ua 'o distrada &ue ro3ava o teclado, do &ue por ua pessoa &uetocasse. "sto e 0e2 lebrar &ue ao eu aor se prendia a recorda3'o de ua bela 9sicadeVerdi/ e 0oi &uanto bastou. Cantei, in$a pria, ou antes assassinei a&uela linda roan2a/ os &ue eouvissetoar-e-ia por al*u 0urioso/ as ela e copreenderia. 1 de 0ato, &uando eu acabei de estropiar esse trec$o a*n0ico de $aronia esentiento, o piano, &ue $avia eudecido, soltou u trilo bril$ante e sonoro, &ueacordou osecos adorecidos no sil5ncio da noite.
epois da&uela cascata de sons a;estosos, &ue se precipitava e ondas de$aronia do seio da&uele turbil$'o de notas &ue se cru2ava, desli2ou plan*ente, suaveeelanc%lica ua vo2 &ue sentia e palpitava, expriindo todo o aor &ue respira aelodiasublie de Verdi. 1ra ela &ue cantava? :$? n'o posso pintar-l$e, in$a pria, a express'o pro0undaente triste, aan*9stiade &ue ela repassou a&uela 0rase de despedida 6
@on ti scordar di e.
Addio?...
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 12/36
7artia-e a ala. Apenas acabou de cantar, vi desen$ar-se ua sobra e ua das ;anelas/ saltei a*rade do ;ardi/ as as vene2ianas descidas n'o e peritia ver o &ue se passava nasala. entei-e sobre ua pedra e esperei.
@'o se ria, ... / estava resolvido a passar ali a noite ao relento, ol$ando paraa&uelacasa e alientando a esperan3a de &ue ela viria ao enos co ua palavra copensar oeusacri0cio. @'o e en*anei. avia eia $ora &ue a lu2 da sala tin$a desaparecido e &ue toda a casa pareciadorir,&uando se abriu ua das portas do ;ardi e eu vi ou antes pressenti a sua sobra nasala. +ecebeu-e co surpresa, se teor, naturalente, e coo se eu 0osse seu ir'o
ouseu arido. # por&ue o aor puro te bastante delicade2a e bastante con0ian3a paradispensar o 0also pe;o, o pudor de conven3'o de &ue <s ve2es costua cerc)-lo. - 1u sabia &ue sepre $avias de vir, disse-e ela. - :$? n'o e culpes? se soubesses? - 1u culpar-te >uando eso n'o viesses, n'o tin$a o direito de &ueixar-e. - 7or &ue n'o e aas? - 7ensas isto disse-e co ua vo2 c$eia de l)*rias. - @'o? n'o?... 7erdoa? 7erdo-te, eu ai*o, coo ;) te perdoei ua ve2/ ;ul*as &ue te 0u;o, &ue eocultode ti, por&ue n'o te ao e, entretanto, n'o sabes &ue a aior 0elicidade para i seria
poder dar-te a in$a vida. - Mas ent'o por &ue esse istério - 1sse istério, be sabes, n'o é ua coisa criada por i e si pelo acaso / se oconservo, é por&ue, eu ai*o..., tu n'o e deves aar. - @'o te devo aar? Mas eu ao-te?... 1la recostou a cabe3a ao eu obro e eu senti ua l)*ria cair sobre eu seio. 1stava t'o perturbado, t'o coovido dessa situa3'o incopreensvel, &ue e senti
vacilar e deixei-e cair sobre o so0). 1la sentou-se ;unto de i/ e, toando-e as duas 'os, disse-e u poucoaiscala6 - Tu di2es &ue e aas? - Juro-te? - @'o te iludes talve2 - e a vida n'o é ua ilus'o, respondi, penso &ue n'o, por&ue a in$a vida a*oraéstu, ou antes, a tua sobra. - Muitas ve2es toa-se u capric$o por aor/ tu n'o con$eces de i, coo
di2es,sen'o a in$a sobra?...
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 13/36
- >ue e iporta.. - 1 se eu 0osse 0eia disse ela, rindo. - Tu és bela coo u an;o? Ten$o toda a certe2a. - >ue sabe - 7ois be/ convence-e, disse eu, passando-l$e o bra3o pela cintura e
procurandolev)-la para ua sala vi2in$a, donde 0iltrava os raios de ua lu2. 1la desprendeu-se do eu bra3o. A sua vo2 tornou-se *rave e triste. - 1scuta, eu ai*o / 0aleos seriaente. Tu di2es &ue e aas / eu o creio, eu osabia antes eso &ue e dissesses. As alas coo as nossas &uando se encontra, serecon$ece e se copreende. Mas ainda é tepo/ n'o ;ul*as &ue ais vale conservaruadoce recorda3'o do &ue entre*ar-se a u aor se esperan3a e se 0uturo... - @'o, il ve2es n'o? @'o entendo o &ue &ueres di2er/ o eu aor, o eu, n'o
precisa
de 0uturo e de esperan3a, por&ue o te e si, por&ue viver) sepre?... - 1is o &ue eu teia/ e, entretanto, eu sabia &ue assi $avia de acontecer / &uandosete a tua ala, aa-se ua s% ve2. -- 1nt'o por &ue exi*es de i u sacri0cio &ue sabes ser ipossvel -- 7or&ue, disse ela co exalta3'o, por&ue, se $) ua 0elicidade inde0invel eduasalas &ue li*a sua vida, &ue se con0unde na esa exist5ncia, &ue s% t5 u
passado eu 0uturo para abas, &ue desde a 0lor da idade até < vel$ice cain$a ;untas para oeso$ori2onte, partil$ando os seus pra2eres e as suas )*oas, revendo-se ua na outra até ooento e &ue bate as asas e v'o abri*ar-se no seio de eus, deve ser cruel, becruel,eu ai*o, &uando, tendo-se apenas encontrado, ua dessas duas alas ir's 0u*irdesteundo, e a outra, vi9va e triste, 0or condenada a levar sepre no seu seio ua idéia deorte,a tra2er essa recorda3'o, &ue, coo u crepe de luto, envolver) a sua bela ocidade, a0a2er do seu cora3'o, c$eio de vida e de aor, u t9ulo para *uardar as cin2as do passado?
:$?deve ser $orrvel?... A exalta3'o co &ue 0alava tin$a-se tornado ua espécie de delrio/ sua vo2,sepret'o doce e aveludada, parecia al&uebrada pelo cansa3o da respira3'o. 1la caiu sobre o eu seio, a*itando-se convulsivaente e u acesso de tosse.
V
A"M 0icaos uito tepo i%veis, ela, co a 0ronte apoiada sobre o eu peito,
eu, sob a ipress'o triste de suas palavras.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 14/36
7or 0i er*ueu a cabe3a/ e, recobrando a sua serenidade disse-e co u todoce eelanc%lico6 -- @'o pensas &ue el$or é es&uecer do &ue aar assi -- @'o? Aar, sentir-se aado, é sepre u *o2o ienso e u *rande consolo
para ades*ra3a. : &ue é triste, o &ue é cruel, n'o é essa viuve2 da ala separada de sua ir',n'o/ a$) u sentiento &ue vive, apesar da orte, apesar do tepo. #, si, esse v)cuo docora3'o&ue n'o te ua a0ei3'o no undo e &ue passa coo u estran$o por entre os pra2eres&ue ocerca. -- >ue santo aor, eu eus? 1ra assi &ue eu son$ava ser aada? ... -- 1 e pedias &ue te es&uecesse?... -- @'o? n'o? Aa-e/ &uero &ue e aes ao enos...
-- @'o e 0u*ir)s ais -- @'o. -- 1 e deixar)s ver a&uela &ue eu ao e &ue n'o con$e3o per*untei, sorrindo. -- ese;as -- uplico-te? -- @'o sou eu tua... Fancei-e para a saleta onde $avia lu2 e colo&uei o lapi'o sobre a esa do*abinetee &ue est)vaos. 7ara i, in$a pria, era u oento solene/ toda essa paix'o violenta,incopreensvel, todo esse aor ardente por u vulto de ul$er, ia depender talve2 deuol$ar. 1 tin$a edo de ver esvaecer-se, coo u 0antasa e 0ace da realidade, essavis'o
poética de in$a ia*ina3'o, essa cria3'o &ue resuia todos os tipos. 8oi, portanto, co ua eo3'o extraordin)ria &ue, depois de colocar a lu2, voltei-e. A$?... 1u sabia &ue era bela/ as a in$a ia*ina3'o apenas tin$a esbo3ado o &ue euscriara.
1la ol$ava-e e sorria. 1ra u li*eiro sorriso, ua 0lor &ue se des0ol$ava nos seus l)bios, u re0lexo &ueiluinava o seu lindo rosto. eus *randes ol$os ne*ros 0itava e i u desses ol$ares l=n*uidos eaveludados&ue a0a*a os seios dLala. anel de cabelos ne*ros brincava-l$e sobre o obro, 0a2endo sobressair a alvuradi)0ana de seu colo *racioso. Tudo &uanto a arte te son$ado de belo e de voluptuoso desen$ava-se na&uelas0oras soberbas, na&ueles contornos $aroniosos &ue se destacava entre as ondas decabraia de seu roup'o branco.
Vi tudo isto de u s% ol$ar, r)pido, ardente e 0ascinado? depois 0ui a;oel$ar-ediante
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 15/36
dela e es&ueci-e a contepl)-la. 1la e sorria sepre e se deixava adirar. 7or 0i toou-e a cabe3a entre as 'os e seus l)bios 0ec$ara-e os ol$os cou
bei;o.
-- Aa-e, disse. : son$o esvaeceu-se. A porta da sala 0ec$ou-se sobre ela, tin$a-e 0u*ido. Voltei ao $otel. Abri a in$a ;anela e sentei-e ao relento. A brisa da noite tra2ia-e de ve2 e &uando u aroa de plantas a*restes &ue ecausava ntio pra2er. 8a2ia lebrar-e da vida capestre, dessa exist5ncia doce e tran&ila &ue se passalon*e das cidades, &uase no seio da nature2a. 7ensava coo seria 0eli2, vivendo co ela e al*u canto isolado, onde
pudésseos
abri*ar o nosso aor e u leito de 0lores e de relva. 8a2ia na ia*ina3'o u idlio encantador e sentia-e t'o 0eli2 &ue n'o trocaria ain$a cabana pelo ais rico pal)cio da terra. 1la e aava. % essa idéia ebele2ava tudo para i/ a noite escura de 7etr%polis parecia-e
poética e o urure;ar triste das )*uas do canal tornava-se-e a*rad)vel. a coisa, poré, perturbava essa 0elicidade/ era u ponto ne*ro, ua nuveescura&ue toldava o céu da in$a noite de aor. Febrava-e da&uelas palavras t'o c$eias de an*9stia e t'o sentidas, &ue pareciaexplicar a causa de sua reserva para coi*o6 $avia nisto u &uer &ue se;a &ue eu n'ocopreendia. Mas esta lebran3a desaparecia lo*o sob a ipress'o de seu sorriso, &ue eu tin$aein$Lala, de seu ol$ar, &ue eu *uardava no cora3'o, e de seus l)bios, cu;o contatoaindasentia. ori ebalado por estes son$os e s% acordei &uando u raio de sol, ale*re etravesso, veio bater-e nas p)lpebras e dar-e o bo dia. : eu prieiro pensaento 0oi ir saudar a in$a casin$a/ estava 0ec$ada. 1ra oito $oras.
+esolvi dar u passeio para dis0ar3ar a in$a ipaci5ncia/ voltando ao $otel, ocriadodisse-e tere tra2ido u ob;eto &ue recoendara e 0osse entre*ue lo*o. 1 7etr%polis n'o con$ecia nin*ué/ devia ser dela. Corri ao eu &uarto e ac$ei sobre a esa ua caixin$a de pau-ceti/ natapa $avia duas letras de tartaru*a incrustadas 6 C. F. A c$ave estava 0ec$ada e ua sobrecarta co endere3o a i/ dispus-e a abriracaixa co a 'o tr5ula e toado por u triste pressentiento. 7arecia-e &ue na&uele co0re per0uado estava encerrada a in$a vida, o euaor,
toda a in$a 0elicidade. Abri.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 16/36
Contin$a o seu retrato, al*uns 0ios de cabelos e duas 0ol$as de papel escritas porela e&ue li de surpresa e surpresa.
V"
1" o &ue ela e di2ia6 Hevo-te ua explica3'o, eu ai*o. H1sta explica3'o é a $ist%ria da in$a vida, breve $ist%ria, da &ual escreveste aais
bela p)*ina. HCinco eses antes do nosso prieiro encontro copletava eu os eus de2esseisanos, a vida coe3ava a sorrir-e. HA educa3'o ri*orosa &ue e dera in$a 'e, e conservara enina até <&uela
idade,e 0oi s% &uando ela ;ul*ou dever correr o véu &ue ocultava o undo aos eus ol$os, &ueeu
perdi as in$as idéias de in0=ncia e as in$as inocentes ilus4es. HA prieira ve2 &ue 0ui a u baile, 0i&uei deslubrada no eio da&uele turbil$'odecaval$eiros e daas, &ue *irava e torno de i sob ua atos0era de lu2, de 9sica,de
per0ues. HTudo e causava adira3'o/ esse abandono co &ue as ul$eres se entre*avaaoseu par de valsa, esse sorriso constante e se express'o &ue ua o3a parece toar na
portada entrada para s% deix)-lo < sada, esses *alanteios sepre os esos e sepre sobreutea banal, ao passo &ue e excitava a curiosidade, 0a2ia desvanecer o entusiasoco&ue tin$a acol$ido a notcia &ue in$a 'e e dera da in$a entrada nos sal4es. H1stavas nesse baile/ 0oi a prieira ve2 &ue te vi. H+eparei &ue nessa ultid'o ale*re e ruidosa tu s% n'o dan3avas ne *alanteavas,e
passeavas pelo sal'o coo u espectador udo e indi0erente, ou talve2 coo u$oe &ue procurava ua ul$er e s% via toilettes. HCopreendi-te e, durante uito tepo, se*ui-te co os ol$os/ ainda $o;e elebrodos teus enores *estos, da express'o do teu rosto e do sorriso de 0ina ironia &ue <sve2es0u*ia-te pelos l)bios. H8oi a 9nica recorda3'o &ue trouxe dessa noite, e &uando adoreci, os eus docesson$os de in0=ncia, &ue, apesar do baile, viera de novo pousar nas alvas cortinas deeu
leito, apenas 0ora interropidos u instante pela tua ia*e, &ue e sorria.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 17/36
H@o dia se*uinte reatei o 0io de in$a exist5ncia, 0eli2, tran&ila e descuidosa,coocostua ser a exist5ncia de ua o3a aos de2esseis anos. HAl*u tepo depois 0ui a outros bailes e ao teatro, por&ue in$a 'e, &ue*uardara
a in$a in0=ncia, coo u avaro esconde o seu tesouro, &ueria 0a2er bril$ar a in$aocidade. H>uando cedia ao seu pedido e e ia aprontar, en&uanto preparava o eu siplestra;e, ururava6 -- Talve2 ele este;a. H1 esta lebran3a, n'o s% e tornava ale*re, as 0a2ia co &ue procurasse parecer
bela, para te erecer u prieiro ol$ar. Hltiaente era eu &ue, cedendo a u sentiento &ue n'o sabia explicar, pediaain$a 'e para iros a u divertiento, s% na esperan3a de encontrar-te. H@e suspeitavas ent'o &ue, entre todos a&ueles vultos indi0erentes, $avia uol$ar
&ue te se*uia sepre e u cora3'o &ue adivin$ava os teus pensaentos, &ue seexpandia&uando te via sorrir e contraa-se &uando ua sobra de elancolia anuviava o teuseblante. He pronunciava o teu noe diante de i, corava e na in$a perturba3'o
;ul*ava&ue tin$a lido esse noe nos eus ol$os ou dentro de in$Lala, onde eu be sabia&ue eleestava escrito. H1, entretanto, ne se&uer ainda e tin$as visto/ se teus ol$os $avia passadoal*uave2 por i, tin$a sido e u desses oentos e &ue a lu2 se volta para o ntio, eseol$a, as n'o se v5. HConsolava-e, poré, &ue al*u dia o acaso nos reuniria, e ent'o n'o sei o &ueedi2ia &ue era ipossvel n'o e aares. H: acaso deu-se, as &uando a in$a exist5ncia ;) se tin$a copletaentetrans0orado. HAo sair de u desses bailes, apan$ei ua pe&uena constipa3'o, de &ue n'o 0i2caso.
Min$a 'e teiava &ue eu estava doente, e eu ac$ava-e apenas u pouco p)lida esentia <sve2es u li*eiro cala0rio, &ue eu curava, sentando-e ao piano e tocando al*ua9sica de
bravura. H dia, poré, ac$ei-e ais abatida/ tin$a as 'os e os l)bios ardentes, arespira3'o era di0cil, e ao enor es0or3o uedecia-se-e a pele co ua transpira3'o&uee parecia *elada. HAtirei-e sobre u so0) e, co a cabe3a recostada ao colo de in$a 'e, ca eu
letar*o &ue n'o sei &uanto tepo durou. Febro-e soente &ue, no oento esoe
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 18/36
&ue ia despertando dessa sonol5ncia &ue se apoderara de i, vi in$a 'e, sentada <cabeceira de eu leito, c$orando, e u $oe di2ia-l$e al*uas palavras de consolo,&ue euouvi coo e son$o6 H-- @'o desespere, in$a sen$ora/ a ci5ncia n'o é in0alvel, ne os eus
dia*n%sticoss'o senten3as irrevo*)veis. 7ode ser &ue a nature2a e as via*ens a salve. Mas é preciso n'o perder tepo. H: $oe partiu. H@'o tin$a copreendido as suas palavras, <s &uais n'o li*ava o enor sentido. H7assando u instante, er*ui tran&ilaente os ol$os para in$a 'e, &ueescondeu olen3o e tra*ou e sil5ncio o seu pranto e os seus solu3os. H-- Tu c$oras, a'e H-- @'o, in$a 0il$a... n'o... n'o é nada.
H-- Mas tu est)s co os ol$os c$eios de l)*rias?... disse eu assustada. H-- A$? si?... ua notcia triste &ue e contara $) pouco... sobre ua pessoa...&uetu n'o con$eces. H-- >ue é este sen$or &ue estava a&ui H-- # o r. Valad'o, &ue te veio visitar. H-- 1nt'o eu estou uito doente, boa a'e H-- @'o, in$a 0il$a, ele asse*urou &ue n'o tens nada/ é apenas u incodonervoso. H1 in$a &uerida 'e, n'o podendo ais conter as l)*rias &ue saltava dosol$os,0u*iu, pretextando ua orde a dar. H1nt'o, < edida &ue a in$a inteli*5ncia ia saindo do letar*o, coecei a re0letir sobre o &ue se tin$a passado. HA&uele desaio t'o lon*o, a&uelas palavras &ue eu ouvira ainda entre as névoasdeu sono a*itado, as l)*rias de in$a 'e e a sua repentina a0li3'o, o to condodoco &ueo édico l$e 0alara. H raio de lu2 esclareceu de repente o eu esprito. 1stava desen*anada.
- : poder da ci5ncia, o ol$ar pro0undo, se*uro, in0alvel, desse $oe &ue l5 nocorpo$uano coo e u livro aberto, tin$a visto no eu seio u )too iperceptvel. H1 esse )too era o vere &ue devia destruir as 0ontes da vida, apesar dos eusde2esseis anos, apesar de in$a or*ani2a3'o, apesar de in$a bele2a e dos eus son$osde0elicidade?H A&ui terinava a prieira 0ol$a, &ue eu acabei de ler entre as l)*rias &ue einundava as 0aces e caa sobre o papel. 1ra este o se*redo de sua estran$a reserva/ era a ra2'o por &ue e 0u*ia, por &ue seocultava, por &ue ainda na véspera di2ia &ue se tin$a iposto o sacri0cio de nunca ser
aada por i.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 19/36
>ue sublie abne*a3'o, in$a pria? 1, coo eu e sentia pe&ueno e es&uin$o<vista desse aor t'o nobre?
V""
C:@T"@1" a ler 6 Hi, eu ai*o?... H1stava condenada a orrer/ estava atacada dessa oléstia 0atal e trai3oeira, cu;odedodescarnado nos toca no eio dos pra2eres e dos risos, nos arrasta ao leito, e do leito aot9ulo, depois de ter escarnecido da nature2a, trans0i*urando as suas belas cria34es e9ias aniadas. H# ipossvel descrever-te o &ue se passou ent'o e i/ 0oi u desespero udo
econcentrado, as &ue e prostrou e ua atonia pro0unda/ 0oi ua an*9stia pun*enteecruel. HAs rosas da in$a vida apenas se entreabria e ;) era ba0e;adas por u $)litoin0etado/ ;) tin$a no seio o *ere de orte &ue devia 0a25-las urc$ar? HMeus son$os de 0uturo, in$as t'o rison$as esperan3as, eu puro aor, &ue nese&uer ainda tin$a col$ido o prieiro sorriso, este $ori2onte, &ue $) pouco e pareciat'o
bril$ante, tudo isto era ua vis'o &ue ia suir-se, ua lu2 &ue lape;ava prestes aextin*uir-se. H8oi preciso u es0or3o sobre-$uano para esconder de in$a 'e a certe2a &ueeutin$a sobre o eu estado e para *race;ar dos seus teores, &ue eu c$aava ia*in)rios. HBoa 'e? esde ent'o s% viveu para consa*rar-se exclusivaente < sua 0il$a, paraenvolv5-la co esse desvelo e essa prote3'o &ue eus deu ao cora3'o aterno, paraabri*ar-e co suas preces, sua solicitude e seus carin$os, para lutar < 0or3a de aor edededica3'o contra o destino. HFo*o no dia se*uinte 0oos para Andara, onde ela alu*ara ua c$)cara, e a,*ra3as
a seus cuidados, ad&uiri tanta sa9de, tanta 0or3a, &ue e ;ul*aria boa se n'o 0osse asenten3a0atal &ue pesava sobre i. H>ue tesouro de sentiento e de delicade2a &ue é u cora3'o de 'e, eu ai*o?>ue tato delicado, &ue sensibilidade apurada, possui esse aor sublie? H@os prieiros dias, &uando ainda estava uito abatida e era obri*ada a a*asal$ar-e,se visses coo ela pressentia as ra;adas de u vento 0rio antes &ue ele a*itasse osrenovos doscedros do ;ardi, coo adivin$ava a enor neblina antes &ue a prieira *otauedecesse a
la;e do nosso terra3o?
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 20/36
H8a2ia tudo por distrair-e/ brincava coi*o coo ua caarada de colé*io/ac$ava
pra2er nas enores coisas para excitar-e a iit)-la/ tornava-se enina e obri*ava-ea ter capric$os.
H1n0i, eu ai*o, se 0osse a di2er-te tudo, escreveria u livro e esse livro devester lido no cora3'o de tua 'e, por&ue todas as 'es se parece. HAo cabo de u 5s tin$a recobrado a sa9de para todos, exceto para i, &ue <sve2es sentia u &uer &ue se;a coo ua contra3'o, &ue n'o era dor, as &ue e di2ia&ue oal estava ali, e doria apenas. H8oi nesta ocasi'o &ue te encontrei no nibus de Andara/ &uando entravas, a lu2dolapi'o iluinou-te o rosto e eu te recon$eci. H8a2e idéia &ue eo3'o sentira &uando te sentaste ;unto de i.
H: ais tu sabes/ eu te aava e era t'o 0eli2 de ter-te ao eu lado, de apertar a tua'o, &ue ne e lebrava coo te devia parecer ridcula ua ul$er &ue, se tecon$ecer,te peritia tanto. H>uando nos separaos, arrependi-e do &ue tin$a 0eito. HCo &ue direito ia eu perturbar a tua 0elicidade, condenar-te a u aor in0eli2 eobri*ar-te a associar tua vida a ua exist5ncia triste, &ue talve2 n'o te pudesse dar sen'oostorentos de seu lon*o artrio? H1u te aava/ as, ;) &ue eus n'o e tin$a concedido a *ra3a de ser tuacopan$eira neste undo, n'o devia ir roubar ao teu lado e no teu cora3'o o lu*ar &ueoutraais 0eli2, poré enos dedicada, teria de ocupar. HContinuei a aar-te, as ipus-e a i esa o sacri0cio de nunca seraada,
por ti. HV5s, eu ai*o, &ue n'o era e*osta e pre0eria a tua < in$a 0elicidade. Tu 0ariasoeso, estou certa. HAproveitei o istério do nosso prieiro encontro e esperei &ue al*uns dias te0i2esse es&uecer essa aventura e &uebrasse o 9nico e be 0r)*il la3o &ue te prendia a
i. Heus n'o &uis &ue acontecesse assi/ vendo-te s% e u baile, t'o triste, t'o pensativo, procurando u ser invisvel, ua sobra e &uerendo descobrir os seusvest*iose al*u dos rostos &ue passava diante de ti, senti u pra2er ienso. HCon$eci &ue tu e aavas/ e, perdoa, 0i&uei or*ul$osa dessa paix'o ardente, &ueuas% palavra in$a $avia criado, desse poder do eu aor, &ue, por ua 0or3a de atra3'oinexplic)vel, tin$a-te li*ado < in$a sobra. H@'o pude resistir. HAproxiei-e, disse-te ua palavra se &ue tivesses tepo de ver-e/ 0oi essa
esa palavra &ue resue todo o poea do nosso aor e &ue, depois do prieiroencontro,
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 21/36
era, coo ainda $o;e, a in$a prece de todas as noites. Hepre &ue e a;oel$o diante do eu cruci0ixo de ar0i, depois de in$aora3'o,ainda co os ol$os na cru2 e o pensaento e eus, c$ao a tua ia*e para pedir-te&ue
n'o te es&ue3as de i. H>uando tu te voltaste ao so da in$a vo2, eu tin$a entrado no toilette/ e poucodepois sa desse baile, onde apenas acabava de entrar, treendo da in$a iprud5ncia,asale*re e 0eli2 por te ter visto ainda ua ve2. Heves a*ora copreender o &ue e 0i2este so0rer no teatro &uando e diri*iasa&uelaacusa3'o t'o in;usta, no oento eso e &ue a C$arton cantava a )ria da Traviata. H@'o sei coo n'o e tra na&uele oento e n'o te disse tudo/ o teu 0uturo,
poré,era sa*rado para i, e eu n'o devia destru-lo para satis0a3'o de eu aor pr%prio
o0endido. H@o dia se*uinte escrevi-te/ e assi, se e trair, pude ao enos reabilitar-e natuaestia/ doa-e uito &ue, ainda eso n'o e con$ecendo, tivesses sobre i uaidéiat'o in;usta e t'o 0alsa. HA&ui é preciso di2er-te &ue no dia se*uinte ao do nosso prieiro encontro,tn$aosvoltado < cidade, e eu te via passar todos os dias diante de in$a ;anela, &uando 0a2ias oteu
passeio costuado < Nl%ria. H7or detr)s das cortinas, se*uia-te co o ol$ar, até &ue desaparecias no 0i da rua,eeste pra2er, r)pido coo era, alientava o eu aor, $abituado a viver de t'o pouco. Hepois da in$a carta tu deixaste de passar dois dias, estava eu a partir para a&ui,donde devia voltar unicaente para ebarcar no pa&uete in*l5s. HMin$a 'e, incans)vel nos seus desvelos, &uer levar-e < 1uropa e 0a2er-evia;ar
pela "t)lia, pela Nrécia, por todos os pases de u clia doce. H1la di2 &ue é para - ostrar-e os *randes odelos de arte e cultivar o euesprito,
as eu sei &ue essa via*e é a sua 9nica esperan3a, &ue n'o podendo nada contra ain$aen0eridade, &uer ao enos disputar-l$e a sua vtia durante ais al*u tepo. HJul*a &ue 0a2endo-e via;ar, sepre e dar) ais al*uns dias de exist5ncia,coo seestes sobe;os de vida valesse al*ua coisa para &ue ;) perdeu a sua ocidade e oseu0uturo. H>uando ia ebarcar para a&ui, lebrei-e de &ue talve2 n'o te visse ais e,diantedessa derradeira provan3a, sucubi. Ao enos o consolo de di2er-te adeus?...
H1ra o 9ltio? H1screvi-te se*unda ve2/ adirava-e da tua deora, as tin$a ua &uase certe2a
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 22/36
de &ue $avias de vir. H@'o e en*anei. HVieste, e toda a in$a resolu3'o, toda a in$a cora*e cedeu, por&ue, sobra ouul$er, con$eci &ue e aavas coo eu te ao. H: al estava 0eito.
HA*ora, eu ai*o, pe3o-te por i, pelo aor &ue e tens, &ue re0litas no &ue tevou di2er, as &ue re0litas co cala e tran&ilidade. H7ara isto parti $o;e de 7etr%polis, se prevenir-te, e colo&uei entre n%s o espa3odevinte e &uatro $oras e ua dist=ncia de uitas lé*uas. Hese;o &ue n'o procedas precipitadaente e &ue, antes de di2er-e ua palavra,ten$as edido todo o alcance &ue ela deve ter sobre o teu 0uturo. Habes o eu destino, sabes &ue sou ua vtia, cu;a $ora est) arcada, e &uetodo oeu aor, ienso, pro0undo, n'o te pode dar talve2 dentro e be pouco sen'o osorriso
contrado pela tosse, o ol$ar desvairado pela 0ebre e carcias roubadas aos so0rientos. H# triste/ e n'o deves iolar assi a tua bela ocidade, &ue ainda te reserva tantasventuras e talve2 u aor coo o &ue eu te consa*ro. Heixo-te, pois, eu retrato, eus cabelos e in$a $ist%ria/ *uarda-os coo ualebran3a e pensa al*uas ve2es e i6 bei;a esta 0ol$a uda, onde os eus l)biosdeixara-te o adeus extreo. H1ntretanto, eu ai*o, se, coo tu di2ias onte, a 0elicidade é aar e sentir-seaado/ se te ac$as co 0or3as de partil$ar essa curta exist5ncia, esses poucos dias &ueeresta a passar sobre a terra, se e &ueres dar esse consolo supreo, 9nico &ue aindaebele2aria in$a vida, ve? Hi, ve? ireos pedir ao belo céu da "t)lia ais al*uns dias de vida para nossoaor/ ireos aonde tu &uiseres, ou aonde nos levar a 7rovid5ncia. H1rrantes pelas vastas solid4es dos ares ou pelos cios elevados das ontan$as,lon*e do undo, sob o ol$ar protetor de eus, < sobra dos cuidados de nossa 'e,vivereos tanto u coo outro, enc$ereos de tanta a0ei3'o os nossos dias, as nossas$oras,os nossos instantes, &ue, por curta &ue se;a a in$a exist5ncia, tereos vivido por cadainuto séculos de aor e de 0elicidade. H1u espero/ as teo. H1spero-te coo a 0lor des0alecida espera o raio de sol &ue deve a&uec5-la, a *ota
deorval$o &ue pode ani)-la, o $)lito da brisa &ue ve ba0e;)-la. 7or&ue para i o9nico céu&ue $o;e e sorri, s'o teus ol$os/ o calor &ue pode e 0a2er viver, é o do teu seio. H1ntretanto teo, teo por ti, e &uase pe3o a eus &ue te inspire e te salve de usacri0cio talve2 in9til? HAdeus para sepre, ou até aan$'?H
CA+F:TA
V"""
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 23/36
1V:+1" toda esta carta de u lan3o de ol$os. Min$a vista corria sobre o papel coo o eu pensaento, se parar, se $esitar,
poderia até di2er se respirar. >uando acabei de ler, s% tin$a u dese;o6 era o de ir a;oel$ar-e a seus pés ereceber
coo ua b5n3'o do céu esse aor sublie e santo. Coo sua 'e, lutaria contra o destino, cerc)-la-ia de tanto a0eto e de tantaadora3'o,tornaria sua vida t'o bela e t'o tran&ila, prenderia tanto sua ala < terra, &ue l$e seriaipossvel deix)-la. Criaria para ela co o eu cora3'o u undo novo, se as isérias e as l)*riasdeste undo e &ue viveos/ u undo s% de ventura, onde a dor e o so0riento n'o
pudesse penetrar. 7ensava &ue devia $aver no universo al*u lu*ar descon$ecido, al*u canto deterraainda puro do $)lito do $oe, onde a nature2a vir*e conservaria o per0ue dos
prieirostepos da cria3'o e o contato das 'os de eus &uando a 0orara. A era ipossvel &ue o ar n'o desse vida/ &ue o raio do sol n'o viesse ipre*nadodeu )too de 0o*o celeste/ &ue a )*ua, as )rvores, a terra, c$eia de tanta seiva e de tantovi*or,n'o inoculasse na criatura essa vitalidade poderosa da nature2a no seu priitivoesplendor. "raos, pois, a ua dessas solid4es descon$ecidas/ o undo abria-se diante den%s eeu sentia-e co bastante 0or3a e bastante cora*e para levar o eu tesouro alé dosarese das ontan$as, até ac$ar u retiro onde esconder a nossa 0elicidade. @esses desertos, t'o vastos, t'o extensos, n'o $averia se&uer vida bastante paraduascriaturas &ue apenas pedia u palo de terra e u sopro de ar, a 0i de podereelevar aeus, coo ua prece constante, o seu aor t'o puro 1la dava-e vinte e &uatro $oras para re0letir e eu n'o &ueria ne u inuto, neuse*undo.
>ue e iportava o eu 0uturo e a in$a exist5ncia se eu os sacri0icaria de bo*rado para dar-l$e ais u dia de vida Todas estas idéias, in$a pria, cru2ava-se no eu espirito, r)pidas e con0usas,en&uanto eu 0ec$ava na caixin$a de pau-ceti os ob;etos preciosos &ue ela encerrava,copiavana in$a carteira a sua orada, escrita no 0i da carta, e atravessava o espa3o &ue eseparava da porta do $otel. A encontrei o criado da véspera. -- A &ue $oras parte a barca da 1strela -- Ao eio-dia. 1ra on2e $oras/ no espa3o de ua $ora eu 0aria as &uatro lé*uas &ue e
separavada&uele porto.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 24/36
Fancei os ol$os e torno de i co ua espécie de desvario. @'o tin$a u trono, coo +icardo """, para o0erecer e troca de u cavalo/ astin$aa reale2a do nosso século, tin$a din$eiro. A dois passos da porta do $otel estava u cavalo, &ue o seu dono tin$a pela rédea.
-- Copro-l$e este cavalo, disse eu, cain$ando para ele, se eso perdertepoe cuprient)-lo. -- @'o pretendia vend5-lo, respondeu-e o $oe cortesente/ as, se o sen$orest)disposto a dar o pre3o &ue ele vale. -- @'o &uestiono sobre o pre3o/ copro-l$e o cavalo arreado coo est). : su;eito ol$ou-e adirado/ por&ue, a 0alar a verdade, os seus arreios nadavalia. >uanto a i, ;) l$e tin$a toado as rédeas da 'o/ e, sentado no seli, esperava&ue
e dissesse &uanto tin$a de pa*ar-l$e. -- @'o repare, 0i2 ua aposta e preciso de u cavalo para *an$)-la. "sto deu-l$e a copreender a sin*ularidade do eu ato e a pressa &ue eu tin$a/recebeusorrindo o pre3o do seu anial e disse, saudando-e co a 'o, de lon*e, por&ue ;) eudobrava a rua6 -- 1stio &ue *an$e a aposta/ o anial é excelente? @a verdade era ua aposta &ue eu tin$a 0eito coi*o eso, ou antes co ain$ara2'o, a &ual e di2ia &ue era ipossvel apan$ar a barca, e &ue eu 0a2ia uaextrava*=nciase necessidade, pois bastava ter paci5ncia por vinte e &uatro $oras. Mas o aor n'o copreende esses c)lculos e esses raciocnios pr%prios da0ra&ue2a$uana/ criado co ua partcula do 0o*o divino, ele eleva o $oe acia da terra,desprende-o da ar*ila &ue o envolve e d)-l$e 0or3a para doinar todos os obst)culos,
para&uerer o ipossvel. 1sperar tran&ilaente u dia para di2er-l$e &ue eu a aava e &ueria a)-la cotodo o culto e adira3'o &ue e inspirava a sua nobre abne*a3'o, e parecia &uaseua
in0=ia. eria di2er-l$e &ue tin$a re0letido 0riaente, &ue tin$a pesado todos os pr%s e oscontras do passo &ue ia dar, &ue $avia calculado coo u e*osta a 0elicidade &ue elaeo0erecia. @'o s% a in$a ala se revoltava contra esta idéia/ as parecia-e &ue ela, co asuaextrea delicade2a de sentiento, ebora n'o se &ueixasse, sentiria ver-se o ob;eto deuc)lculo e o alvo de u pro;eto de 0uturo. A in$a via*e 0oi ua corrida louca, desvairada, delirante. @ovo Ma22eppa,
passava por entre a cerra3'o da an$', &ue cobria os pncaros da serrania, coo uasobra
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 25/36
&ue 0u*ia r)pida e velo2. ir-se-ia &ue al*ua roc$a colocada e u dos cabe3os da ontan$a tin$a-sedespreendido de seu alvéolo secular e, precipitando-se co todo o peso, rolavasurdaente
pelas encostas.
: *alopar do eu cavalo 0orava u 9nico so, &ue ia reboando pelas *rutas ecavernas e con0undia-se co o ruor das torrentes. As )rvores, cercadas de névoa, 0u*ia diante de i coo 0antasas/ o c$'odesaparecia sob os pés do anial/ <s ve2es parecia-e &ue a terra ia 0altar-e e &ue ocavalo ecavaleiro rolava por al*u desses abisos iensos e pro0undos, &ue deve terservido det9ulos tit=nicos. Mas, de repente, entre ua aberta de nevoeiro, eu via a lin$a a2ulada do ar e0ec$avaos ol$os e atirava-e sobre o eu cavalo, *ritando-l$e ao ouvido a palavra de BOron6 --
AwaO? 1le parecia entender-e e precipitava essa corrida desesperada/ n'o *alopava,voava/seus pés, coo ipelidos por &uatro olas de a3o, ne tocava a terra. Assi, in$a pria, devorando o espa3o e a dist=ncia, 0oi ele, o nobre anial,abater-se a al*uns passos apenas da praia/ a cora*e e as 0or3as s% o tin$aabandonado coa vida e no tero da via*e. 1 pé, ainda sobre o cad)ver desse copan$eiro leal, via a coisa de ua il$a ovapor &ue sin*rava li*eiraente para a cidade. A 0i&uei, perto de ua $ora, se*uindo co os ol$os essa barca &ue a condu2ia/ e&uando o casco desapareceu, ol$ei os 0rocos de 0ua3a do vapor, &ue se enovelara noar e&ue o vento des0a2ia a pouco e pouco. 7or 0i, &uando tudo desapareceu e &ue nada e 0alava dela, ol$ei ainda o ar por onde $avia passado e o $ori2onte &ue a ocultava aos eus ol$os. : sol darde;ava raios de 0o*o/ as eu ne e iportava co o sol/ todo o euesprito e os eus sentidos se concentrava e u 9nico pensaento/ v5-la, v5-la eua$ora, e u oento, se possvel 0osse. vel$o pescador arrastava nesse oento a sua canoa < praia.
Aproxiei-e e disse-l$e6 -- Meu ai*o, preciso ir < cidade, perdi a barca e dese;ava &ue voc5 e condu2issenasua canoa. -- Mas se eu a*ora eso é &ue c$e*o? -- @'o iporta/ pa*arei o seu trabal$o, tabé o inc5odo &ue isto l$e causa. -- @'o posso, n'o, sen$or, n'o é l) pela pa*a &ue eu di*o &ue estou c$e*ando/ asé&ue passar a noite no ar se dorir n'o é l) das el$ores coisas/ e estou caindo desono. -- 1scute, eu ai*o...
-- @'o se canse, sen$or/ &uando eu di*o n'o, é n'o/ e est) dito. 1 o vel$o continuou a arrastar a sua canoa.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 26/36
-- Be, n'o 0aleos ais nisto/ as converseos. -- F) isto coo o sen$or &uiser. -- A sua pesca rende-l$e bastante -- >ual? rende nada?... -- :ra di*a-e? e $ouvesse u eio de 0a2er-l$e *an$ar e u s% dia o &ue pode
*an$ar e u 5s, n'o en;eitaria decerto -- "sto é coisa &ue se per*unte -- >uando eso 0osse preciso ebarcar depois de passar ua noite e claro noar -- Ainda &ue devesse rear tr5s dias co tr5s noites, se dorir ne coer. -- @esse caso, eu ai*o, prepare-se, &ue vai *an$ar o seu 5s de pescaria/ leve-e <cidade. -- A$? isto ;) é outro 0alar / por &ue n'o disse lo*o... -- 1ra preciso explicar-e? -- Be di2 o ditado &ue é 0alando &ue a *ente se entende.
-- Assi, é ne*%cio decidido. Vaos ebarcar -- Co licen3a/ preciso de u instantin$o para prevenir a ul$er / as é u passol) eoutro c). -- :l$e, n'o se deore / ten$o uita pressa. -- # e u 0ec$ar de ol$os, disse ele, correndo na dire3'o da vila. Mal tin$a 0eito vinte passos, parou, $esitou, e por 0i voltou lentaente peloesocain$o. 1u treia/ ;ul*ava &ue se tin$a arrependido, &ue vin$a apresentar-e al*ua novadi0iculdade. C$e*ou-se para i de ol$os baixos e co3ando a cabe3a. -- : &ue teos, eu ai*o per*untei-l$e co ua vo2 &ue es0or3ava por tercala. - # &ue... o sen$or disse &ue pa*ava u 5s... -- ecerto/ e, se duvida, disse, levando a 'o ao bolso. -- @'o, sen$or, eus e de0enda de descon0iar do sen$or? Mas é &ue... si, n'ov5, o5s a*ora te enos u dia &ue os outros? @'o pude deixar de sorrir-e do teor do vel$o/ n%s estivaos co e0eito, no5s de0evereiro.
-- @'o se iporte co isto/ est) entendido &ue, &uando eu di*o u 5s, é u 5sdetrinta e u dias/ os outros s'o eses alei;ados, e n'o se conta. -- # isso eso, disse o vel$o, rindo-se da in$a idéia/ assi coo &ue di2, u$oe se u bra3o. A$?... a$?... 1, continuando a rir-se, toou o cain$o de casa e desapareceu. >uanto a i, estava t'o contente co a idéia de c$e*ar < cidade e al*uas$oras,&ue n'o pude deixar tabé de rir-e do car)ter ori*inal do pescador. Conto-l$e estas cenas e as outras &ue se l$e se*uira co todas as suascircunst=ncias
por duas ra24es, in$a pria. A prieira é por&ue dese;o &ue copreenda be o draa siples &ue e propus
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 27/36
tra3ar-l$e / a se*unda é por&ue ten$o tantas ve2es repassado na e%ria as enores particularidades dessa $ist%ria, ten$o li*ado de tal aneira o eu pensaento a essasreinisc5ncias, &ue n'o e anio a destacar delas a ais insi*ni0icante circunst=ncia/
parece-e &ue se o 0i2esse, separaria ua parcela de in$a vida. epois de duas $oras de espera e de ipaci5ncia, ebar&uei nessa cas&uin$a de
no2,&ue saltou sobre as ondas, ipelida pelo bra3o ainda 0orte e )*il do vel$o pescador. Antes de partir 0i2 enterrar o eu pobre cavalo/ n'o podia deixar assi exposto <saves de rapina o corpo desse nobre anial, &ue eu tin$a roubado < a0ei3'o do seu dono,
paraiol)-lo < satis0a3'o de u capric$o eu. Talve2 l$e pare3a isto ua puerilidade/ as a sen$ora é ul$er, in$a pria, edevesaber &ue, &uando se aa coo eu aava, te-se o cora3'o t'o c$eio de a0ei3'o, &ueespal$aua atos0era de sentiento e torno de n%s e inunda até os ob;etos inaniados,
&uantoais as criaturas, ainda irracionais, &ue u oento se li*ara < nossa exist5ncia parareali2a3'o de u dese;o.
"P
1+AM seis $oras da tarde. : sol declinava rapidaente e a noite, descendo do céu, envolvia a terra nassobrasdesaiadas &ue acopan$ava o ocaso. oprava ua 0orte vira3'o de sudoeste, &ue desde o oento da partida retardavaanossa via*e/ lut)vaos contra o ar e o vento. : vel$o pescador, orto de 0adi*a e de sono, estava exausto de 0or3as/ a sua p),&ue a
princpio 0a2ia saltar sobre as ondas coo u peixe o 0r)*il bar&uin$o, apenas 0eriaa*ora a0lor da )*ua. 1u, recostado na popa, e co os ol$os 0itos na lin$a a2ulada do $ori2onte,esperando acada oento ver desen$ar-se o per0il do eu belo +io de Janeiro, coe3ava
seriaente ain&uietar-e na in$a extrava*=ncia e loucura. Q propor3'o &ue declinava o dia e &ue as sobras cobria o céu, esse va*oinexprivel da noite no eio das ondas, a triste2a e elancolia &ue in0unde osentiento da0ra&ue2a do $oe e 0ace dessa solid'o iensa de )*ua e de céu, se apoderava doeuesprito. 7ensava ent'o &ue teria sido ais prudente esperar o dia se*uinte e 0a2er uavia*e
breve e r)pida, do &ue su;eitar-e a il contratepos e il ebara3os, &ue no 0i de
contasnada adiantava.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 28/36
Co e0eito ;) tin$a anoitecido/ e, ainda &ue conse*usseos c$e*ar < cidade porvoltade nove ou de2 $oras, s% no dia se*uinte poderia ver Carlota e 0alar-l$e. e &ue $avia servido, pois, todo o eu arrebataento, toda a in$a ipaci5nciaTin$a orto u anial, tin$a incoodado u pobre vel$o, tin$a atirado <s 'os c$eias
din$eiro, &ue poderia el$or epre*ar socorrendo al*u in0ort9nio e cobrindo estaobra decaridade co o noe e a lebran3a dela. Concebia ua triste idéia de i/ no eu odo de ver ent'o as coisas, parecia-e&ue eu tin$a 0eito do aor, &ue é ua sublie paix'o, apenas ua est9pida ania/ edi2iainteriorente &ue o $oe &ue n'o doina os seus sentientos, é u escravo, &ue n'ote oenor ereciento &uando pratica u ato de dedica3'o. Tin$a-e tornado 0il%so0o, in$a pria, e decerto copreender) a ra2'o. @o eio da baa, etido e ua canoa, < erc5 do vento e do ar, n'o podendo
dar lar*as < in$a ipaci5ncia de c$e*ar, n'o $avia sen'o u odo de sair desta situa3'o,e esteera arrepender-e do &ue tin$a 0eito. e eu pudesse 0a2er al*ua nova loucura, creio piaente &ue adiaria oarrependiento
para ais tarde, poré era ipossvel. Tive u oento a idéia de atirar-e < )*ua e procurar vencer a nado a dist=ncia&uee separava dela/ as era noite, n'o tin$a a lu2 de ero para *uiar-e, e e perderianessenovo elesponto. 8oi decerto ua inspira3'o do céu ou o eu an;o da *uarda &ue e veio advertir&uena&uela ocasi'o eu ne sabia eso de &ue lado 0icava a cidade. +esi*nei-e, pois, e arrependi-e sinceraente. ividi co o eu copan$eiro al*uas provis4es &ue tn$aos tra2ido/ e 0i2eosua verdadeira cola3'o de contrabandistas ou piratas. Ca na asneira de obri*)-lo a beber ua *arra0a de vin$o do 7orto, bebendo euoutra
para acopan$)-lo e 0a2er-l$e as $onras da $ospitalidade. Jul*ava &ue deste odo ele
restabeleceria as 0or3as e c$e*araos ais depressa. Tin$a-e es&uecido de &ue a sabedoria das na34es, ou a ci5ncia dos provérbios,consa*ra o princpio de &ue deva*ar se vai ao lon*e. Acabada a nossa a*ra cola3'o, o pescador coe3ou a rear co ua 0or3a e uvi*or &ue e reaniara a esperan3a. Assi, doceente ebalado pela idéia de v5-la e pelo arul$o das ondas, co osol$os 0itos na estrela da tarde, &ue se ia suindo no $ori2onte e e sorria coo paraconsolar-e, senti a pouco e pouco 0ec$are-se-e as p)lpebras, e dori. >uando acordei, in$a pria, o sol derraava seus raios de ouro sobre o antoa2ulado das ondas6 era dia claro. @'o sei onde est)vaos/ via ao lon*e al*uas il$as/ o pescador doria na proa, e
ressonava coo u boto.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 29/36
A canoa tin$a vo*ado < erc5 da corrente/ e o reo, &ue cara naturalente das'osdo vel$o, no oento e &ue ele cedera < 0or3a invencvel do sono, tin$adesaparecido.1st)vaos no eio da baa, se poder dar u passo, se poder over-nos.
Aposto, in$a pria, &ue a sen$ora acaba de dar ua risada, pensando na cica posi3'o e &ue e ac$ava/ as seria ua in;usti3a 2obar de ua dor pro0unda, deuaan*9stia cruel coo a &ue so0ri ent'o. :s instantes, as $oras, corria de decep3'o e decep3'o/ al*uns barcos &ue
passara perto, apesar dos nossos *ritos, se*uira o seu cain$o, n'o podendo supor &ue co otepocalo e sereno &ue 0a2ia, $ouvesse sobra de peri*o para ua canoa &ue boiava t'oleveente sobre as ondas. : vel$o, &ue tin$a acordado, ne se desculpava/ as a sua a0li3'o era t'o *rande
&ue&uase e cooveu/ o pobre $oe arrancava os cabelos e ordia os bei3os de raiva. As $oras correra assi nessa atonia do desespero. entidos e 0ace u do outro,talve2 culpando-nos utuaente do &ue sucedia, n'o pro0eraos ua palavra, n'o0a2aosu *esto. 7or 0i veio a noite. @'o sei coo n'o 0i&uei louco, lebrando-e de &ueest)vaosa R, e &ue o pa&uete devia partir no dia se*uinte. @'o era unicaente a idéia de ua aus5ncia &ue e a0li*ia/ era tabé alebran3ado al &ue ia causar-l$e, a ela, &ue, i*norando o &ue se passava, e ;ul*aria e*osta,suporia&ue a $avia abandonado e &ue 0icara e 7etr%polis, divertindo-e. Aterrava-e co as conse&5ncias &ue poderia ter esse 0ato sobre a sua sa9de t'o0r)*il, sobre a sua vida, e e condenava ;) coo assassino. Fancei u ol$ar alucinado sobre o pescador e tive petos de abra3)-lo e atirar-eco ele ao ar. :$? coo sentia ent'o o nada do $oe e a 0ra&ue2a da nossa ra3a, t'o or*ul$osade
sua superioridade e do seu poder? e &ue e servia a inteli*5ncia, a vontade e essa 0or3a invencvel do aor, &ueeipelia e e dava cora*e para arrostar vinte ve2es a orte Al*uas bra3as dL)*ua e ua pe&uena dist=ncia e retin$a e e encadeavana&uele lu*ar coo a u poste/ a 0alta de u reo, isto é, de tr5s palos de adeira,criava
para i o ipossvel/ u crculo de 0erro e cin*ia, e para &uebrar essa pris'o, contraa&ual toda a in$a ra2'o era ipotente, bastava-e &ue 0osse u ente irracional. A *aivota, &ue 0risava as ondas co a ponta de suas asas brancas/ o peixe, &ue
0a2ia
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 30/36
cintilar u oento seu dorso de escaas < lu2 das estrelas/ o inseto, &ue vivia no seiodas)*uas e plantas arin$as, era reis dessa solid'o, na &ual o $oe n'o podia se&uerdar u
passo.
Assi, blas0eando contra eus e sua obra, se saber o &ue 0a2ia ne o &ue pensava, entre*uei-e < 7rovid5ncia/ ebrul$ei-e no eu capote, deitei-e e 0ec$eiosol$os, para n'o ver a noite adiantar-se, as estrelas epalidecere e o dia raiar. Tudo estava sereno e tran&ilo/ as )*uas ne se ovia/ apenas sobre a 0ace lisadoar passava, ua ara*e t5nue, &ue se diria $)lito das ondas adorecidas. e repente, pareceu-e sentir &ue a canoa deixara de boiar < discri3'o e sin*ravalentaente/ ;ul*ando &ue 0osse ilus'o in$a, n'o e iportei, até &ue u ovientocontnuo e re*ular convenceu-e. A0astei a aba do capote e ol$ei, receando ainda iludir-e/ n'o vi o pescador/ as a
al*uns passos da proa percebi os rolos de espua &ue 0orava u corpo, a*itando-senasondas. Aproxiei-e e distin*ui o vel$o pescador, &ue nadava, puxando a canoa por eiodeua corda &ue aarrara < cintura, para deixar-l$e os ovientos livres. Adirei essa dedica3'o do pobre vel$o, &ue procurava reediar a sua 0alta por usacri0cio &ue eu supun$a in9til6 n'o era possvel &ue u $oe nadasse assi poruitotepo. Co e0eito, passados al*uns instantes, vi-o parar e saltar li*eiraente na canoacooteendo acordar-e/ a sua respira3'o 0a2ia ua espécie de burburin$o no seu peitolar*o e0orte. Bebeu u tra*o de vin$o e co o eso cuidado deixou-se cair nL)*ua econtinuou a
puxar a canoa. 1ra alta noite &uando nesta arc$a c$e*aos a ua espécie de praia, &ue teria&uandouito duas bra3as. : vel$o saltou e desapareceu.
8itando a vista nas trevas, vi ua claridade, &ue n'o pude distin*uir se era 0o*o, selu2, sen'o &uando ua porta, abrindo-se, deixou-e ver o interior de ua cabana. : vel$o voltou co u outro $oe, sentara-se sobre ua pedra e coe3araa0alar e vo2 baixa. enti ua *rande in&uieta3'o/ na verdade, in$a pria, s% e0altava,
para copletar a in$a aventura, ua $ist%ria de ladr4es. A in$a suspeita, poré, era in;usta/ os dois pescadores estava < espera de doisreos &ue l$es trouxe ua ul$er, e iediataente ebarcara e coe3ara a rearcoua 0or3a espantosa.
A canoa resvalou sobre as ondas, )*il e velo2 coo u desses peixes de &ue $avia pouco inve;ava a rapide2.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 31/36
1r*ui-e para a*radecer a eus, ao céu, <s estrelas, <s )*uas, a toda a nature2aen0i,o raio de esperan3a &ue e enviava. a 0aixa escarlate ;) se desen$ava no $ori2onte/ o oriente 0oi-se esclarecendo de*rada3'o e *rada3'o, até &ue deixou ver o disco luinoso do sol.
A cidade coe3ou a er*uer-se do seio das ondas, linda e *raciosa, coo uadon2ela&ue, recostada sobre u onte de relva, ban$asse os pés na corrente lpida de u rio. A cada oviento de ipaci5ncia &ue eu 0a2ia, os dois pescadores dobrava-sesobreos reos e a canoa voava. Assi nos aproxiaos da cidade, passaos entre osnavios, e nosdiri*ios < Nl%ria, onde pretendia desebarcar, para 0icar ais pr%xio de sua casa. 1 u se*undo tin$a toado a in$a resolu3'o/ c$e*ar, v5-la, di2er-l$e &ue ase*uia,e ebarcar-e nesse eso pa&uete e &ue ela ia partir.
@'o sabia &ue $oras era/ as $) pouco $avia aan$ecido/ tin$a tepo para tudo,tanto ais &ue eu s% precisava de ua $ora. crédito sobre Fondres e a in$a aladevia*e era todos os eus preparativos/ podia acopan$)-la ao 0i do undo. J) via tudo cor-de-rosa, sorria < in$a ventura e *o2ava da ale*re surpresa &ue iacausar-l$e, a ela &ue ;) n'o e esperava. A surpresa, poré, 0oi in$a. >uando passava diante de Ville*ai*non, descobri de repente o pa&uete in*l5s 6 as
p)sse ovia indolenteente e ipriia ao navio essa arc$a va*arosa do vapor, &ue
pareceexperientar as suas 0or3as, para precipitar-se a toda a carreira. Carlota estava sentada sob a tolda, co a cabe3a encostada ao obro de sua 'e eco os ol$os en*ol0ados no $ori2onte, &ue ocultava o lu*ar onde tn$aos passado a
prieirae 9ltia $ora de 0elicidade. >uando e viu, 0e2 u oviento coo se &uisesse lan3ar-se para i/ asconteve-se, sorriu-se para sua 'e, e, cru2ando as 'os no peito, er*ueu os ol$os aocéu,coo para a*radecer a eus, ou para diri*ir-l$e ua prece. Trocaos u lon*o ol$ar, u desses ol$ares &ue leva toda a nossa ala e a
tra2eainda palpitante das eo34es &ue sentiu noutro cora3'o/ ua dessas correntes elétricas&ueli*a duas vidas e u s% 0io. : vapor soltou u *eido surdo/ as rodas 0endera as )*uas/ e o onstroarin$o,ru*indo corno ua cratera, voitando 0uo e devorando o espa3o co os seus 0lancosne*ros, lan3ou-se. 7or uito tepo ainda vi o seu len3o branco a*itar-se ao lon*e, coo as asas
brancasdo eu aor, &ue 0u*ia e voava ao céu.
: pa&uete suiu-se no $ori2onte.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 32/36
P
: resto desta $ist%ria, in$a pria, a sen$ora con$ece, co exce3'o de al*uas particularidades. Vivi u 5s, contando os dias, as $oras e os inutos/ e tepo corria
va*arosaente para i, &ue dese;ava poder devor)-lo. >uando tin$a durante ua an$' inteira ol$ado o seu retrato, conversado co ele,el$e contado a in$a ipaci5ncia e o eu so0riento, coe3ava a calcular as $oras &ue0altava para acabar o dia, os dias &ue 0altava para acabar a seana e as seanas &ueainda0altava para acabar o 5s. @o eio da triste2a &ue e causara a sua aus5ncia, o &ue e deu u *randeconsolo0oi ua carta &ue ela e $avia deixado e &ue e 0oi entre*ue no dia se*uinte ao da sua
partida. HBe v5s, eu ai*o, di2ia-e ela, &ue eus n'o &uer aceitar o teu sacri0cio.Apesar de todo o teu aor, apesar de tua ala, ele ipediu a nossa uni'o/ poupou-te uso0riento e a i talve2 u reorso. Hei tudo &uanto 0i2este por in$a causa e adivin$o o resto/ parto triste por n'o tever,as be 0eli2 por sentir-e aada, coo nen$ua ul$er talve2 o se;a neste undo.H 1sta carta tin$a sido escrita na véspera da sada do pa&uete/ u criado &ue viera de7etr%polis e a &ue ela incubira de entre*ar-e a caixin$a co o seu retrato, contou-l$eetade das extrava*=ncias &ue eu praticara para c$e*ar < cidade no eso dia. isse-l$e &ue e tin$a visto partir para a 1strela, depois de per*untar a $ora dasadado vapor/ e &ue ebaixo da serra re0erira-l$e coo eu tin$a orto u cavalo paraalcan3ar a barca e coo e ebarcara e ua canoa. @'o e vendo c$e*ar, ela adivin$ara &ue al*ua di0iculdade invencvel eretin$a, eatribua isto < vontade de eus, &ue n'o consentia no eu aor. 1ntretanto, lendo e relendo a sua carta, ua coisa e adirou/ ela n'o e di2iau
adeus, apesar de sua aus5ncia e apesar da oléstia, &ue podia tornar essa aus5nciaeterna. Tin$a-e adivin$ado? Ao eso tepo &ue 0a2ia por e dissuadir, estavaconvencida de &ue a acopan$aria. Co e0eito parti no pa&uete se*uinte para a 1uropa. ) de ter ouvido 0alar, in$a pria, se é &ue ainda n'o o sentiu, da 0or3a dos
pressentientos do aor, ou da se*unda vista &ue te a ala nas suas *randes a0ei34es. Vou contar-l$e ua circunst=ncia &ue con0ira este 0ato. @o prieiro lu*ar onde desebar&uei, n'o sei &ue instinto, &ue revela3'o, e 0e2correr iediataente ao correio/ parecia-e ipossvel &ue ela n'o tivesse deixadoal*ua
lebran3a para i. 1 de 0ato e todos os portos da escala do vapor $avia, ua carta &ue contin$a duas
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 33/36
palavras apenas6 Hei &ue tu e se*ues. Até lo*o.H 1n0i c$e*uei < 1uropa e vi-a. Todas as in$as loucuras e os eus so0rientos0ora copensados pelo sorriso de inexprivel *o2o co &ue e acol$eu. ua 'e di2ia-l$e &ue eu 0icaria no +io de Janeiro, as ela nunca duvidara de
i?1sperava-e coo se a tivesse deixado na véspera, proetendo voltar. 1ncontrei-a uito abatida da via*e/ n'o so0ria, as estava p)lida e branca coouadessas Madonas de +a0ael, &ue vi depois e +oa. Qs ve2es ua lan*uide2 invencvel a prostrava/ nesses oentos u &uer &ue se;adeceleste e vaporoso a cercava, coo se a ala exalando-se envolvesse o seu corpo. entado ao seu lado, ou de ;oel$os a seus pés, passava os dias a conteplar essaa*onia lenta/ sentia-e orrer *radualente, < seel$an3a de u $oe &ue v5 os9ltios
clar4es da lu2 &ue vai extin*uir-se e deix)-lo nas trevas. a tarde e &ue ela estava ainda ais 0raca, tn$ao-nos c$e*ado para avaranda. A nossa casa e @)poles dava sobre o ar/ o sol, transontando, escondia-se nasondas/ u raio p)lido e descorado veio en0iar-se pela nossa ;anela e brincar sobre orosto deCarlota, sentada ou antes deitada e ua conversadeira. 1la abriu os ol$os u oento e &uis sorrir / seus l)bios ne tin$a 0or3a parades0ol$ar o sorriso. As l)*rias saltara-e dos ol$os/ $avia uito &ue eu tin$a perdido a 0é, asconservava ainda a esperan3a/ esta desvaneceu-se co a&uele re0lexo do ocaso, &ue e
parecia o seu adeus < vida. entindo as in$as l)*rias ol$are as suas 'os, &ue eu bei;ava, ela voltou-see0ixou-e co os seus *randes ol$os l=n*uidos. epois, 0a2endo u es0or3o, reclinou-se para i e apoiou as 'os sobre o euobro. -- Meu ai*o, disse ela co vo2 débil, vou pedir-te ua coisa, a 9ltia/ tu e
proetes cuprir -- Juro, respondi-l$e eu, co a vo2 cortada pelos solu3os. -- a&ui a be pouco tepo... da&ui a al*uas $oras talve2... i? sinto 0altar-e
oar?... -- Carlota?... -- o0res, eu ai*o? A$? se n'o 0osse isto eu orreria 0eli2. -- @'o 0ales e orrer? -- 7obre ai*o, e &ue deverei 0alar ent'o @a vida...Mas n'o v5s &ue a in$a vida é apenas u sopro... u instante &ue breve ter) passado -- Tu te iludes, in$a Carlota. 1la sorriu tristeente. -- 1scuta/ &uando sentires a in$a 'o *elada, &uando as palpita34es do eucora3'o
cessare, proetes receber nos l)bios a in$a ala -- Meu eus?...
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 34/36
-- 7roetes si... -- i. 1la tornou-se lvida/ sua vo2 suspirou apenas6 -- A*ora? Apertei-a ao peito e colei os eus l)bios aos seus. 1ra o prieiro bei;o de nosso
aor, bei;o casto e puro, &ue a orte ia santi0icar. ua 0ronte se tin$a *elado, n'o sentia a sua respira3'o ne as pulsa34es de seuseio. e repente ela er*ueu a cabe3a. e visse, in$a pria, &ue re0lexo de 0elicidade eale*ria iluinava nesse oento o seu rosto p)lido? -- :$? &uero viver? exclaou ela. 1 co os l)bios entreabertos aspirou co delcia a aura ipre*nada de per0ues&uenos enviava o *ol0o de "sc$ia. esde esse dia 0oi pouco a pouco restabelecendo-se, *an$ando as 0or3as e a sa9de/
sua bele2a. reaniava-se e expandia-se coo u bot'o &ue por uito tepo privado de sol,seabre e 0lor vi3osa. 1sse ila*re, &ue ela, sorrindo e corando, atribua ao eu aor, 0oi-nos u diaexplicado be prosaicaente por u édico ale'o &ue nos 0e2 ua lon*a disserta3'oarespeito da edicina. e*undo ele di2ia, a via*e tin$a sido o 9nico reédio e o &ue n%s to)vaos por u estado ortal n'o era sen'o a crise &ue se operava, crise peri*osa, &ue podia at)-la, as&ue 0eli2ente a salvou. Casao-nos e 8loren3a na i*re;a de anta Maria @ovella. 7ercorreos a Alean$a, a 8ran3a, a "t)lia e a Nrécia/ passaos u ano nessavidaerrante e nade, vivendo do nosso aor e alientando-nos de 9sica, de recorda34es$ist%ricas, de contepla34es de arte. Criaos assi u pe&ueno undo, unicaente nosso/ depositaos nele todas as
belas reinisc5ncias de nossas via*ens, toda a poesia dessas runas seculares e &ue as*era34es &ue orrera, 0ala ao 0uturo pela vo2 do sil5ncio/ todo o enlevo dessasvastas e
iensas solid4es do ar, e &ue a ala, dilatando-se no in0inito, sente-se ais perto deeus. Trouxeos das nossas pere*rina34es u raio de sol do :riente, u re0lexo de luade
@)poles, ua nes*a do céu da Nrécia, al*uas 0lores, al*uns per0ues, e co istoenc$eoso nosso pe&ueno universo. epois, coo as andorin$as &ue volta co a priavera para 0abricar o seu nin$onocapan)rio da capelin$a e &ue nascera, apenas ela recobrou a sa9de e as suas belascores,
vieos procurar e nossa terra u cantin$o para esconder esse undo &ue $avaoscriado.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 35/36
Ac$aos na &uebrada de ua ontan$a u lindo retiro, u verdadeiro ber3o derelvasuspenso entre o céu e a terra por ua ponta de roc$edo. A abri*aos o nosso aor e viveos t'o 0eli2es &ue s% pedios a eus &ue nosconserve o &ue nos deu/ a nossa exist5ncia é u lon*o dia, calo e tran&ilo, &ue
coe3ouonte, as &ue n'o te aan$'. a linda casa, toda alva e lou3', u pe&ueno rio saltitando entre as pedras,al*uas
bra3as de terra, sol, ar puro, )rvores, sobras, ...eis toda a nossa ri&ue2a. >uando nos sentios 0ati*ados de tanta 0elicidade, ela arvora-se e dona de casaouvai cuidar de suas 0lores/ eu 0ec$o-e co os eus livros e passo o dia a trabal$ar. 'oos9nicos oentos e &ue n'o nos veos. Assi, in$a pria, coo parece &ue neste undo n'o pode $aver u aor se
oseu receio e a sua in&uieta3'o, n%s n'o estaos isentos dessa 0ra&ue2a. 1la te ci9es de eus livros, coo eu ten$o de suas 0lores. 1la di2 &ue aes&ue3o
para trabal$ar/ eu &ueixo-e de &ue ela aa as suas violetas ais do &ue a i. "sto dura &uando uito u dia/ depois ve sentar-se ao eu lado e di2er-e aoouvido a prieira palavra &ue balbuciou o nosso aor6 -- @on ti scordar di e. :l$ao-nos, sorrios e recoe3aos esta $ist%ria &ue l$e acabo de contar e &ue éaoeso tepo o nosso roance, o nosso draa e o nosso poea. 1is, in$a pria, a resposta < sua per*unta/ eis por &ue esse o3o ele*ante, cootevea bondade de c$aar-e, 0e2-se provinciano e retirou-se da sociedade, depois de ter
passadou ano na 1uropa. 7odia dar-l$e outra resposta ais breve e di2er-l$e siplesente &ue tudo istosucedeu por&ue e atrasei cinco inutos. esta pe&uena causa, desse *r'o de areia, nasceu a in$a 0elicidade/ dele podiaresultar a in$a des*ra3a. e tivesse sido pontual coo u in*l5s, n'o teria tido ua
paix'one 0eito ua via*e/ as ainda $o;e estaria perdendo o eu tepo a passear pela rua
do:uvidor e a ouvir 0alar de poltica e teatro. "sto prova &ue a pontualidade é ua excelente virtude para ua )&uina/ as u*rave de0eito para u $oe. Adeus, in$a pria. Carlota ipacienta-se, por&ue $) uitas $oras &ue l$eescrevo/n'o &uero &ue ela ten$a ci9es desta carta e &ue e prive de envi)-la.
Minas, S de a*osto.
Abaixo da assinatura $avia u pe&ueno post-scriptu de ua letra 0ina e
delicada 6 H7. . -- Tudo isto é verdade, ..., enos ua coisa.
8/19/2019 5 Minutos - Jose de Alencar
http://slidepdf.com/reader/full/5-minutos-jose-de-alencar 36/36
H1le n'o te ci9es de in$as 0lores, ne podia ter, por&ue sabe &ue s% &uandoseus ol$os n'o e procura é &ue vou visit)-las e pedir-l$es &ue e ensine a 0a2er-e
bela para a*rad)-lo. H@isto en*anou-a / as eu vin*o-e, roubando-l$e u dos eus bei;os, &ue l$e
envio nesta carta. H@'o o deixe 0u*ir, pria/ iria talve2 revelar a nossa 0elicidade ao undoinve;oso.H CA+F:TA