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CONCURSO DE POESIA -ZILA MAMEDE-

3º Concurso de Poesias

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Zila Mamede

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3º CONCURSO DE POESIA

-ZILA MAMEDE-

PROJETO EDITORIAL:José Pinto JúniorCefas Carvalho

PROJETO GRÁFICO E CAPA:Davi Othon

REVISÃO:Luiz Augusto

IMPRESSÃO:Opção Gráfica

AGOSTO DE 2007

Iniciativa vitoriosa

Livio Oliveira

Tive a honrosa oportunidade de coordenar, no anode 2006, o júri do Terceiro Concurso de Poesia ZilaMamede. Uni-me, nessa tarefa, com os importantes poe-tas potiguares Antoniel Campos e Plínio Sanderson,demais membros da equipe do júri, que exerceram suamissão com denodo, zelo e correção.

O excelente evento foi organizado pelo jornalPotiguar Notícias, que tem, no seu Diretor, José PintoJúnior, um dos dínamos do jornalismo e da cultura donosso Estado. Cefas Carvalho, outro batalhador incansá-vel pela causa da cultura desta terra, desdobrou-se tam-bém em esforços no sentido da realização de um aconteci-mento cultural de altíssima qualidade. É de se lembrar,ainda, que o Município de Parnamirim apoiou a ótima ini-ciativa, juntamente com diversas empresas e instituiçõesque tiveram inteligente análise acerca da importância daefeméride para o desenvolvimento do povo de Parnamirime do Rio Grande do Norte.

Confesso que fiquei, de certa forma, surpreso com oelevado nível dos participantes. Posso afirmar, hoje, deforma cabal - a partir da condição de quem compôs, tam-bém, os júris de outros dois importantes prêmios literáriosdo RN (o prêmio Othoniel Menezes e o prêmio Luís CarlosGuimarães): pela quantidade dos concorrentes e pela qua-lidade dos poemas e poetas premiados, o Concurso ZilaMamede é, juntamente com esses dois, um dos três maisimportantes prêmios literários do Estado.

Fiquei contente em me deparar com poetas doquilate de Iara Carvalho (a grande vencedora e que temrecebido destaque no cenário literário potiguar), MárcioRodrigo Simões (2º Lugar) e Fabiana Oliveira (3º Lugar);além de Adriano Gray Caldas, Anne Guimarães, Bianor

Paulino, Gustavo Henrique Medeiros, Ismael Pimenta,Izaías Gomes de Assis, José Delfino Neto, Manoel AzevedoJúnior, Marcos Ferreira, Maria Vergilie Neta, Pilar Fazitoe Ronne Grey Freitas de Souza (que receberam, devida-mente, menções honrosas). Poesia de excelência, trabalha-da com sentimento e apuro estético!

Os cantares desses poetas nos recobram os liamescom o universo, mundo dotado de riquezas e sentimentos,angústias e sofrimentos, elementos físicos e abstrações,que nos impõem, a todo instante, contemplações, reflexõese perplexidades.

E é nesse campo, o das perplexidades que surge atentativa de explicação do mundo a partir de uma missãoética e estética: a do fazer poético, linguagem de signos,símbolos e ritmos, musicalidade da palavra. Aí é queassentaram suas convicções humanas as mulheres ehomens que firmaram a sua lavra na poesia, presentenesta obra que se apresenta a um público sedento dabeleza poética que dá cores múltiplas ao pensamento.

Não tenho dúvidas de que a homenageada perma-nente desta obra coletiva, a poetisa (prefiro tal designaçãopara a mulher que produz poesia) Zila Mamede, sentiria-se realizada e dignificada com os resultados aqui de-monstrados, poemas do mais alto teor estético, colhendo oritmo da vida e do mundo. Todos, poetas imbuídos do com-promisso certo com as suas obras iniciadas, mostrando-se,aqui, um dos seus passos mais importantes.

Nesse sentido é que se percebe a importância dainiciativa de pessoas empreendedoras e sensíveis, dentreos quais pontifica sua relevância o meu amigo José PintoJúnior, haja vista seu empenho renovado e apaixonado (éde se lembrar que o nosso amigo também é poeta!) pelatarefa a que tem se dedicado: a de fazer resplandecer a cul-tura e a arte em nosso Rio Grande do Norte, permitindo atodos os participantes do Concurso de Poesia Zila Mamedea demonstração de que temos, em nosso Estado, poten-cialidades - as mais diversas - também nessa área da cul-tura e do saber humanos.

O raio caiu pela terceira vez...

José Pinto JuniorCefas Carvalho

Reza o ditado popular que um raio não cai duasvezes no mesmo lugar. E quando este raio cai três vezes nomesmo lugar? O leitor há de perdoar o fraco trocadilho,mas ele ajuda a ilustrar a satisfação da coordenação doConcurso de Poesia Zila Mamede com a publicação desteterceiro livro com as poesias vencedoras e que tiverammenção honrosa no concurso de 2006. Publicar um livronão é fácil, visto os custos gráficos e os baixos índices devenda de livros no país. Beira à loucura fazer como fizemosem 2006, lançar um livro com as poesias do 2º Concursoem uma tiragem de mil exemplares com maciça doaçãopara entidades culturais e escolas publicas de Natal eParnamirim. Uma loucura, talvez, que serve de com-bustível para empreitadas como estas, a de publicar livrose divulgar a nova poesia potiguar. Poesia de gente como aprofessora curraisnovense Iara Maria Carvalho, vencedo-ra da terceira edição do concurso e que vem há anos sedestacando nos concursos estaduais. Ou a poesia deMárcio Rodrigo Xavier - 2º colocado - caudalosa, verbor-rágica, em contraposição à obra de Fabiana Oliveira - ter-ceira colocada - minimalista, sintética. Entre os poetasque obtiveram menção honrosa, temos a delicadeza deAnne Guimarães, a experimentação de Bianor Paulino, ossonetos de Marcos Ferreira, a poesia popular de IsaíasGomes e muito mais. Uma parcela considerável do melhorque se produz hoje na nova poesia norte-riograndense, deobras recém-saídas do forno por parte de poetas quasetodos inéditos em livro. Que o leitor saboreie este livro coma mesma paixão com que os poetas escreveram suas poe-sias. Provando que um raio - quando poético, talvez - caisim três vezes no mesmo lugar.

-Sumário-

Iara Maria Carvalho

Márcio Rodrigo Xavier

Fabiana Oliveira

Manoel Azevedo Júnior

Izaias Gomes

Adriano Gray Caldas

Marcos Ferreira

Anne Guimarães

Maria Vergílie Neta

Pilar Fazito

Ronne Grey Freitas

Ismael Pimenta

Bianor Paulino

Gustavo Henrique Medeiros

José Delfino Neto

“Entre a ânsiae a distânciaonde me ocultar?

(Zila Mamede em “Onde”)

Iara MarIa CarvalhO

1ª Colocada

NNOO jOIOjOIO aa fuNdOfuNdO

têm um jeito de ásiameus olhos quase ateus

(graças a deus)

meus olhos têm confusaraiz continental

funda afunda profunda

olhos de água baldeada

mareta migrando convulsa írisno limo da revência plantada

tem um jeito de ásiaminha córnea mutilada

o mundo é um cacoum oco

(um pouco de tudo sozinho)

desde fundada a cegueirasó creio nas flores que espinho

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Iara Maria Carvalho

CCartazartaz

(um risco vermelhono imperativo desse sol)

ameríndio é o grito.

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Iara Maria Carvalho

ffatalISMOatalISMO

com a ressaca da praiaveio-me a infânciae o seu limoembotou-me a vista

agora a muralha é grande

19

Iara Maria Carvalho

ttrajetOrajetO

fui acontecidadesde a noite de natalquando no cimo da árvorecravaram espinho

pedra e mel

morri no nomequando não pude nadar

cantar então é um enormecactona garganta

21

Iara Maria Carvalho

CCIClOIClO

irrigaram melna minha veia

mês passadomenstruei formigas.

23

Iara Maria Carvalho

MárCIO rOdrIgO XavIer

2º colocado

CCINCOINCO palavraSpalavraS parapara OO SIlêNCIOSIlêNCIO

II

Não sou eu o único a ver o propósito rítmico das coisas Engalhado dum saco arrastado no vento,Nem a ver sozinho a proporção assentada num movimentoSe balançar pelo cimo da serra,Nem a comparar desacompanhado as medidas,As desmesuras descompassadasCom que me caem as gotas soltas das nuvens quando chovem,Com que me monta um quadro algébrico e antigo A despencada dos barrancos Com o que se lhes fica na cara depois que caem,Com o que me assegura com o giro do seu corpoOs restos das árvores a voltear (suas folhas soltas a volver)E voar - ser folha - é variar no vento,Subir-lhe quando ele pedirE pulando dum súbito em cima deleAgarrar-se-lhe em volteadas tontas e às loucasE celebrar com ele uma dança e uma músicaQue ele diz tê-la encarnado no corpo soltoQue é estar a alma livre por toda parte.

Quando eu vejo isso,Tudo isso também me vê.E me olha de sua altura descomparadaE me diz de seu mistério de não haver, havendo...E que na verdade isso de haver e de não haver

É que não existe...Nem essa cegueira surda que é estar-se triste e sozinho...E que quando, no seu olhar para isso,Isso olha para você, não há ninguém se olhando.O que há é como alguém que se abaixa curioso entre a folhagemE sem querer se vê refletido numa gota de orvalho iluminado do sol,E se vê assim tão distraído e comum

Continua...

27

Márcio rodrigo Xavier

Que depois nem se dá conta...Corriqueiro como o riacho que corre,Ou o animal que pasta, desocupado...Com a mesma desocupação das estrelas,Que só se ocupam em ser desocupadasE olhar sem ver para o homem,E dizer no silêncioComo é alegre e bom estar-se desocupado e sozinho e pleno de si...Esquecido até do que se é... dormindo...E que isso de olhar sem vêExiste tanto como isso de ver olhando...

IIII

Quando me deito na grama,E subitamente dou conta delaMe espinhando as costas,E ligeiro arranco um punhado e o olho,Sei que há tanto mais por trás deleComo há dele a me tocar as costas;E sinto numa presençaTudo o que passou e mudou-sePra ser agora ali aquela grama que arranquei à terra -Que arranquei num impulso e sem pensar -E me sinto assim um pouco como deve ser deusA desmoronar, trovejar e explodir,Nos arrancando e nos fazendo mortosAssim tão de súbitoE sem se dar por conta...(e isso é pra ele do mesmo modo comum e sem motivocomo é pra gente arrancar um punhado de grama)

- arremesso o tufo de grama ao vento -

Mas essa grama que eu matei arrancando à terraEu mesmo devolvo à terra, E a terra a vai acolher, como antes a fazia brotar,E o mesmo saber que ela tinha antes, ela vai saber agora,E vai me dizer olhando pra ela, o mesmo que ela dizia antes;Que se fez de morta, pra dar mais de comer à vida,Que se fez de muda, pra dar mais a gente de ouvir as coisas,Que se fez de surda, pra dar mais a gente de não perguntar aos outrosPra se saber de certeza, e que achar por siÉ melhor do que achar sem o sensoQue descobrir as coisas sozinho ensina...E que se fez muito, porque é só uma...

É por isso que eu também quero um dia ser terraNuma colina alta tendo por cima uma árvore com grama ao rés,E esperar num silêncio tranqüilo algum menino afoito e sozinhoVir sentar-se um dia ao pé da árvoreE atirar distraído ao vento um tufo extraído da grama.

29

Márcio rodrigo Xavier

IIIIII

Um dia ao crepúsculoEnquanto caminhava ligeiro a subir uma rua,E como viesse conversando ria bem alto e gesticulava,Vi subitamente uma velha senhora a olhar-me nos olhos,E notei que olhava para mimComo olhava para tudo,Apenas com a diferença que agora Era a mim que notava...

E via-me, como se vê a um jovem Animal que passa fazendo alarde,Tão corriqueiro e comum como ela mesma sentada naquela calçada...Olhou-me do mesmo modo como se olha para as coisas mais simples,Sem precisar pensar muito mas reparando bastante...E me viu assim sem discriminar os meus trajes puídos,Nem a minha barba grande ou meus cabelos assanhados...Olhava-me simples como penso que sou, A me largar livrementeApós me haver tocado com os olhos...

Olhou-me sem esse olhar de gana, enredado,De quem deseja alguma coisa quando olha outro;Olhou e me deixou, como quem não quer nada.E por isso, por me olhar do modo de quem repara para o céuComo quem espia pra chuva que cai e cessa(Que desejo pode haver em se olhar para as nuvens? Ou as estrelas?Olha-se-lhes simplesmente)Sua visão era boa e certa e verdadeira.

Olhou-me com seu olhar desinteressadoE me viu com um olho que eraTodo um sorriso e uma satisfação de ver -Por isso cumprimentei-a num susto,Num impulso espontâneo e com a cabeça: 'olá!'

Continua...

31

Márcio rodrigo Xavier

Mas, ah minha avó, como pude sentir ao cumprimentá-laSua solidão amarga sentada sozinhaNa calçada esperando o crepúsculo!Sua solidão mundana de quem se despede cotidianamente!De quem tem já mais intimidade com as pedrasE coisas caídas que com os homens...E rouba-lhes já um pouco do peso,E senta-se já tomada emprestada de sua imobilidade...

E como tive impulso de virar-me,E sentar-me suavemente aos seus pés,E pegar-lhe a mão para dizer-lhe que nunca houveNem haverá mais solidão alguma,E que algo que as coisas não nos permitem é estarmos sozinhos,E que tudo repercute num perene canto e uma música,E que o tempo da solidão é o mesmo de isolar-se consigo mesmo,E fechar os olhos e tapar os ouvidos,E só ouvir um eco, e vê menos que uma sombra,E isso é que é triste...

Mas antes, entendi que foi de você que eu sabia disso.Que foi do seu silêncio e da sua solidão que eu ouvi essas coisas.E que foi a sua presença sentada naquela calçadaE seu olhar simples e correto que me ensinaram.(do mesmo modo silencioso que as coisas ensinam)Por isso não voltei-me, velha mãe aparentada das pedras,Por isso segui e não voltei-me...

(sei que em breve se apagarás, como eu também sumirei um dia,para voltarmos a vala antiga e comum - mas antes disso veremos o sol, a terra, as pessoas e os dias a passarem em suasucessão contínua...e depois disso estaremos com a terra, o sol, os dias e as estrelasvoando em disparadas certeiras...)

IvIv

Quando vejo o aberto...E ver o aberto é olhar pra fora.É olhar pra essas casas com suas árvoresPlantadas pelo terreiro da frente e as Pessoas a entrarem e saírem delas,Com o fato presente de terem já entrado e saído e passado,E sabendo de antemão que tudo nunca mais voltaPorque se renova sempre...

Eu, por exemplo, nunca estou o mesmo.Estou mais como as casas com suas plantas e pessoas,Sou algo espalhado e muito, me ambientalizo,Sou um lar com ares de personalidade a insinuar-se,Estou solto, mudado da novidadeDe olhar muito e de notar a mudança,Alterado substancialmente por conhecer e reconhecer -E digo: não sei de nenhum conhecimento que se adquira, Só que se experimenta...

E posso ver qualquer coisa.Posso ver toda coisa até o que não está na minha frente...Miro a linha do horizonte e vou adianteMais longe do que se me movesseMais ligeiro do que na mais possante das máquinas!Dou um salto e não paro!...

Isso porque olhar para as coisas é mais do que observá-las e notá-las,É mais do que poder achá-las boas ou más,É mais do que pensar sobre elas...É simples como vê-las, e para issoNem é preciso estar de verdade diante delas(quem disse que há aqui casas e pessoas e árvores?)Pode-se ouvir seu murmúrio, adivinhar sua presença,Como quando você sabe de súbito que há alguém as suascostas mesmo antes de virar-se,Como quando de repente você se volta e olha no meio da multidão,

Continua...

33

Márcio rodrigo Xavier

Nos olhos, pra única pessoa que observava você,E com isso descobria que ela lhe olhava...

E isso é do mesmo modo descobrir o que te fez virarComo saber sem ver das coisas que desejam o seu olhar,E vê-las vivas e vibrantes de quererem se amostrar e encantar...E afastar o cansaço dos olhos... e acabar o fastio de ver...

vv

Ando livre e solto.Sou um homem da multidão.Espalho meu corpo por tudo que vejo,Seja grande ou pequeno.Quando olho caminhando logo cedo uma florE cumprimento-a com os olhos,Falo não só a ela,Mas digo também um bom e sonoro 'olá!'E mim mesmo e sigo contente.Sou um pouco de tudo que posso ver,E tudo que não posso ver é também um pouco de mim.

Eu ando pelas manhãsCom a mesma presença espalhada de quem sentado,No batente de sua casa,Só por assim o desejar(como quem quer ficar quieto e não fazer nada)Anda e corre e sabe solto do mundo todo,Com essa sabedoria quietaBem calada e muda de quem soube...E aprendeu com tempo que pra saber tudoNem precisa saber muito...Que pra saber tudo nem se precisa saber nada...Nem de estudo, nem de viajar, nem de conversar...Só muito de buscar e querer, De querência bem verdadeira...(como quem para andar se levanta primeiro)...

Por isso eu dou minha volta, e ando do meu passo largo;E cumprimento de ver tudo,Com um aceno que é mais de verdade do que de gesto.E essa calma contente com que vouNão é alegria não...É mais como não fazer nada...É estar presente e atento pelo caminho...É olhar sem estar cego de tarefas e emoções...

Continua...

35

Márcio rodrigo Xavier

E pensar muito atrapalha(é como olhar para o outro lado)...

Agora vou... vendo...

fabIaNa OlIveIra

3ª colocada

ppeIXeSeIXeS SOlareSSOlareS, , fIleteSfIleteS luNareSluNareS

II

Dentro de mimtem um ratoque toda noitequando adormeçofaz barulhono tetoganha as ruasos lixeiros eé devorado por um gato...Só então eu acordocom gosto de sanguena boca.

39

fabiana Oliveira

IIII

É detrás da cortina que digoNão te amoE você sorrindo para mimlá do outro lado,me chamando com o garfoe eu rindo de mim,e eu te digo:É desse lado da portae da cortinaque fielmente penso:Não te amo.E você rindoolhando sua desgraçaaté o momentoem que não há sentido nenhumpara que eu permaneçasustentando a recíprocade um sorriso que é só seu.Meu doce.

41

fabiana Oliveira

IIIIII

Ao 1º sofrimentovieram as lágrimasao 2º a calmaao 3º entrou para um conventoao 4º saiuao 5º disse:É que amei...

43

fabiana Oliveira

IvIv

E morreu porque jáera bem velhinha.Não me queira agorapelo menos nesteinstante.Pois estou tãofina e superfícieque só faço mesmo

é ondular de leveessas águas minhas.

45

fabiana Oliveira

vv

Esquecer as páginas anterioresnada de palavras que se procuram.Extasiar-se mudacomo uma maréde lua crescenteA medida exatade todas as forças quequase mortasnão edificam -Apenas dizem - vindo devagarinho -Aqui estouE é assimquase como aquilo que nãose pegae quando menos se espera -Existe.Até os ventos se dobramÉ talvez a plenitudeA chama imóvelde uma velavivendo no aposento.É sequer pensar e não reter entremãostão doce forçaAbre-se então a janelae deixa-se suspensoInfiltrar-se de suavecalmariaE é também impossívelque não adentre coraçãoE é quandotudo o que contéma força do queselvagemente se acreditadesvanece

Continua...

47

fabiana Oliveira

Fragilmentedomestica-seetorna-se quasenada.Longilíneacomo uma lembrançaObscuro coração de um Bosque.Flama de sensações.

MaNOel azevedO júNIOr

Menção Honrosa

II

Navegar versos é preciso!O poeta é preciso,Quando ao leme da nau-poema,Circunavegando,Conduz-te a périplos Sublimes e deleitosos.

51

Manoel azevedo júnior

IIII

Ave,Verso!

Qual ave mais livre Revoa meu universo?

Maria.Ave-Poesia,Fez seu ninhoOnde, quando e como,Eu mais queria...

53

Manoel azevedo júnior

IIIIII

Tantos plenilúniosConto só, os sóis a fio,Colhendo infortúnios.

55

Manoel azevedo júnior

IvIv

Sala de jantar vazia...Petisqueira,Cheiro de brejeiro esquecido,Acende lembranças de avôBaforando memórias.

Cadeira de balanço,Pausas e contratempos.

Cinzas de um tempoFeito fênix, Revoa pela porta da cozinha,E se aninha no braseiro adormecido De um velho fogareiro.

57

Manoel azevedo júnior

vv

Insufla-me ventoQue alimenta fogoQue traga madeira.

Auto inquisição,Fogueira ardente.

Sou tora de madeira,Véspera de cinzaDispersa à ventania.

59

Manoel azevedo júnior

IzaIaS gOMeS

Menção Honrosa

a pa perereCaerereCa

A menina, que é sapeca,Pegou uma perereca

Que pulou lá na caneca.

A perereca escorregou,Pulou da mão da moleca.Veja só pra onde saltou.

Ela, aquela perereca,Pulou na careca do vovô.

Hô, hô, hô!

Depois a perereca pulouE caiu numa meleca.

Eca!

Ela saiu da meleca,A pequena perereca,Pulou fora e escapou.

Ôh!

63

Izaias gomes

CCaçadOraçadOr peNSatIvOpeNSatIvO

Um caçador pensando...Debaixo duma árvore,

Perto de algum lugar por lá.

-Ah! Bom seria que as vacas voassem!Dizia ele:

-E os passarinhos vivessem nos currais.

Plaf! Um cocozinho dum passarinhoCai bem na cabeça dele,

Como que por um propósito do Divino.

-Vixe Maria! Se fosse uma vaca?

65

Izaias gomes

ffObIaObIa aNIMalaNIMal

Olha só o ratoMorre de medo

Das unhas do gato.

Já o gato entãoCorre com medo

Do seu inimigo: o cão.

Mas, o bravo cãoSe péla de medoDo felídeo leão.

O leão tão possante,Ele não se tromba

Com o forte elefante.

E o elefante, pacato,Esse foge com medo,Com medo do rato.

67

Izaias gomes

O O gg rr II ll OO

O grilo tão magro,Coitado!

Porque canta?Será que espanta

A solidão?Ou será de fome?Ou outra razão?

Coitadinho do griloSe não for isso

Ou aquilo?Porque canta então?

69

Izaias gomes

QQueMueM MeMe deradera

Ah! Quem me dera seu AssisEstares aqui pra contar-me

Aquelas estórias de Trancoso.

Quem me dera ouvi de novoOs contos de Quingalaquingu

Ou as presepadas do Malazarte.

Quem me dera ter você comigoSó um pouquinho pra descascar canaE fazer aqueles roletes pra eu chupar.

Quem me dera ficar assombradoCom aquelas estórias de lobisomens

E dormi enroladinho como se tivesse frio.

Quem me dera voltar a ser criançaE sentar na calçada lá de casaE ouvi tua voz mais uma vez.

Ah! Quem me dera.

71

Izaias gomes

adrIaNO gray CaldaS

Menção Honrosa

SSObraSObraS

Sigo o caminho sob o silêncio.Afasto o vaziocambaleante, temerário.

Trago bem junto a mimum resto de esperança docesó a usarei aos poucos,no compasso justo de uma vida,sem glórias nem encantos.

Arrasto-me neste pó secoque a tudo macula.Entre a areia dos astrose os dejetos do homem.Sobras da morte.

75

adriano gray Caldas

NNetuNOetuNO

Somente um lento torporentre as cinzasde antigas glórias,que se espalham em vãopela casa velha.

Caminhos traçadosem giz e sonhosa relva cobre agoraa boca do deus marítimo.Netuno não cospe maiso rubro jato de luz e sangue.

Todo o mistério se esvainaquele jardim de sombrasdas alvoradas claras, perfumadasde almíscar e jasmim,trago apenas o tilintar dos sinos,a musicalidade dos gestos e formas.

Só o lento torpor,entre as cinzas de tão tristes glórias.

77

adriano gray Caldas

CCOlherOlher eStrelaSeStrelaS

Costumava sair a ver estrelascom os pés descalços,passos largos,confiantes,em direção ao abismo.

Buscava o caminhoentre os astrosantigo cemitério astral.

Gostava da noiteda brisa marinha,da presença inquietadas ondas face aos meus pensamentos.

Costumava ser felizna hora mágicadeste estranho víciode noites tão solitárias.Costumava sair a colher estrelas.

79

adriano gray Caldas

CCarrOSSelarrOSSel

O diaagoniza.Veia impura,mendiga inútildas migalhas de luz.Reflexos dosamantes.

Sob suas sombrastrêmulas,escondem-se os gritos,habilmentesufocados.A noite enfim,evoca suasorquídeas negras.

Mergulho nestevazio úmidoda criação.Carrossel de sentidosopostos.

Medo e astúcia,ódio e sangue.Código inscritona pele.Encontro mudodas almas.

81

adriano gray Caldas

vvertIgeMertIgeM

Uma réstia de luzreacende o instante.Som de outras fontesembargam de lágrimasa memória.

Emerge o que está adormecidofogo vivo, animal inquieto,retorcendo-se nas sombras.Sob seu corpo, a vertigem da quedagirando ao redor do abismo.

Por tanto tempo estive distanteque não reconheço mais estas veias gastas.Mergulho indeciso na imensidão noturna.

Onde não há dor ou angústiaapenas um leve torporarrastado de sono.

83

adriano gray Caldas

MarCOS ferreIra

Menção Honrosa

ddIaNteIaNte dOdO eSpelhOeSpelhO

Não sou eu este homem que divisona moldura do espelho à minha frente,sem a mínima sombra de um sorrisoa pender-lhe do lábio descontente.

Não são meus estes olhos de granizo,que me encaram completa e friamente,nem o queixo rotundo e tão concisosob os fios da barba intermitente.

Não são meus estes lóbulos caídoscomo estranhos e lânguidos badalosna capela insondável dos ouvidos.

Pois não sou este espírito a esmo, que me busca entre sombras e abalosna infinita procura de si mesmo.

87

Marcos ferreira

eeXtreMaXtreMa--uNçãOuNçãO

Arde em teus graves olhos a tristonha e muda exposição do amor desfeito - esse encanto fugaz que a gente sonha conservar toda a vida em nosso peito.

É que o mundo é este antro de peçonhaque adultera o que é puro e o que é perfeito.A ventura mais longa e mais risonha morre sob os lençóis do próprio leito.

Entretanto prossegue, não desiste;fecha logo o caixão dos sonhos mortos e sepulta isso tudo quanto é triste!

Não te afogues no amor que se desfez - ser feliz é seguir por muitos portos e morrer por amor mais de uma vez.

89

Marcos ferreira

OOfíCIOfíCIO pOétICOpOétICO

Sentado sobre a cama, a luz da veladuplica a solidão que o penaliza.Escreve num papel, que se amarelaao foco dessa luz tão imprecisa.

Levanta e vai fumar junto à janela- o peito aberto à esmola de uma brisa.Recorda com desgosto o beijo dela,ainda no batom preso à camisa.

Apóia os cotovelos no batente.Inclina-se um bocado, espreita a rua,e cospe na roseira à sua frente.

É tarde. Um galo canta no vizinho.Então ele retorna e continuaos versos que deixou pelo caminho.

91

Marcos ferreira

aauSêNCIauSêNCIa

É Noite de Natal... O mundo se alumia. Sentamo-nos tranqüilos em redor da mesa. Alguém sugere um brinde, com delicadeza. As taças se entrechocam em desarmonia.

Remoto um galo tece uma oração baldia, e aqui nos irmanamos sob a luz acesa.Há vírgulas de pranto, olhos de incerteza, perante esta cadeira agora assim vazia.

Já quase meia-noite, o vinho tinto exalaum cheiro de saudade que percorre a salae vem se amotinar no coração da gente.

É Noite de Natal, é meia-noite e meia,e todos contemplamos, junto à Santa Ceia,a foto na parede de meu pai ausente.

93

Marcos ferreira

pprOfISSãOrOfISSãO dede féfé

Este é um momento que me dá muita alegria,apesar dos pesares e do pouco apreçoem torno de quem lida com a Poesiae teima em conduzi-la sem saber seu preço.

Pois sigo indiferente a muita gente fria,avesso à voz avessa do meu próprio avesso,que diz que eu não prossiga nesta litania,que tanto não tem fim, como não tem começo.

Mas este é o grande prêmio que me recompensa:a luz deste minuto... a minha voz suspensanas sílabas do verso que se faz canção...

O resto?!... É só um resumo do meu grande vício- os ossos deste velho e tão querido ofícioque exerço na oficina do meu coração.

95

Marcos ferreira

aNNe guIMarãeS

Menção Honrosa

ddeSeNCONtrOSeSeNCONtrOS

Foram tantos beijos, medosForam tantos porresTantos arrependimentos.Olhares sedentos de amorAdeuses sedentos de amorE encontros com desejosEscorrendo pela almaSeiva de coração escoando...Esperança verde de amarcomo se nunca tivesse amadoAnseio de outros jardins,outras flores, outras cores e paz.Foram tantas tentativase ainda somos os mesmoscom mãos vazias

99

anne guimarães

pperdIçãOerdIçãO

Enquanto ele não vemeu finjo ter alegriaE até danço de vermelho- Para outros olhos tristes -Como quem morre de amorpra renascer...

101

anne guimarães

ddIaIa eStraNhOeStraNhO

Não importa a épocatudo aqui é outono-invernoÉ verão lá fora e em meu peito só chove.Vendavais em minh'alma...Aqui dentro é tudo cinza, folhas caemSó águas de solidão.Aqui em mim é sempre junhoÉ sempre espera, é tudo saudade:O domingo amanhece frio,já nasce noiteé tudo vazio sem amorNão há estrelas.

103

anne guimarães

a a OutraOutra COrCOr

Ouvir sua voze arder de desejos púrpurosEnquanto a canção toca pela casa e enfeita o coração com luzesA alma se aquece escarlatepara ser amor até doer...A pele rubraOs disfarces coraisO deleite por fim vinhopra recomeçar com risose rosas vermelhas.

105

anne guimarães

IINQuIetudeNQuIetude

Todas as dores acumuladasNo espelhoTodas as sombras e o silêncioTodos os sonhosque negaste de olhos fechadosNo atalhoTodas as cenasTodas as súplicas e o amor:Todos os sinos perdidos.

107

anne guimarães

MarIa vergílIe Neta

Menção Honrosa

llábIOSábIOS SSedeNtOSedeNtOS

Momentos ausentesFlores artificiais,

Pele no surto da alma,Lágrimas cortantes.

Não esperes um dilúvio,Serei teu orvalho,Singelo e infinito.

Não hesites em afagarMeus seios com sua boca,

Pois a solidão tortura.

Anseio a loucuraLíquida do teu fruto

Derramando em meus lábios sedentos.

111

Maria vergílie Neta

vverSOerSO aabaNdONadObaNdONadO

No meu verso só a tristezaÉ infinita.

O que brilha são lágrimas,O que rima é melancolia.

Falta vida,Ausente alegria,

Falta amor na minha poesia.

No meu verso não há beleza,Só uma tristeza,

Uma tristeza infinita.

113

Maria vergílie Neta

vvINagreINagre

A febre não passa,A dor é tamanha,

Solidão na enfermidadeParece convite para a morte.

Entre as telhas vejo risos,Parecem gargalharem

De minha desgraça mórbida.

Logo agora que saboreavaA loucura em meus seios,

Cálices de vinho e orgasmosTransformaram-se em vinagre.

115

Maria vergílie Neta

ddeSgrudaeSgruda

Não me procureAmanhã perguntando

Por ontem.

Não me pergunteSe amanhã irei procurar.

Aliás, não procure,Não pergunte, não apareça.

Deixe a porta aberta,Estarei na janela esperando outro dia.

117

Maria vergílie Neta

aaCOrdeCOrde ffINalINal

Só há uma idaSem despedida,

Sua última remada.

Último olhar,Único abraço,

Ontem ouvia suas risadas...

Pranto, revolta, loucura,Verso, orgasmo, passos,

Pedido negado, último pedido,Conselho, mentira, verdade.

Dúvida e certeza só na morte,Antes e depois da ilusão da vida.

119

Maria vergílie Neta

pIlar fazItO

Menção Honrosa

CCaNtOSaNtOS

Surpreenda-mePelos cantos da bocaPelos cantos dos olhosPelo canto da voz.

Apreenda-mePelos contos de fadas ePelos contos de réis.

E possua-mePelos cantos da casa...

123

pilar fazito

lleveeve lavaNdalavaNda

Essas águas turvas e plácidasUm dia desaguarãoNa velhice da minha vida.

Sem pressa.

As águas turvasOutonais do RhôneTestemunhamMinha transmutação.

Num lugar algumConfrontada comigo mesmaDesejosa de levezaAinda hei de serLavandaLevemente levadaPelo ar de Provença.

125

pilar fazito

MMeMórIaeMórIa

Teu rostorasgado

amarrotadona minha história

Tua voz loucainvade meus poros

acende e inibeenquanto traga

a nicotinaque me evapora:

tua.

Em teus olhos me percoem tuas veias me deito

e te poso:nua.

127

pilar fazito

ppOrOr tráStráS dede..

Minhas palavrasSoltas ao vento...

Palavras umasQue me expõem,Palavras outrasQue se me impõem.

A forma,Se não me importa,Exporta-sePelo fútil conteúdoContidoE pela consistênciaDo que estáPor trásDe.

129

pilar fazito

QQueIMaueIMa OO CarvãOCarvãO

Queima o carvão, menino!A cor da tua infânciaEstampada em teu rostoEnvelhecido antes do tempo

O corpo franzinoAbriga o esforço descomunalIncapaz de satisfazerO desejo do teu dono

Queima o carvão, menino!Queima a tua infânciaE a tua juventudeQueima o teu futuroNos fornos da injustiça.

131

pilar fazito

rONNe grey freItaS

Menção Honrosa

eejaCulaçãOjaCulaçãO

Sob que máscaraAparecerá esse palhaço?

Em riso engoliu o próprioVômito.

Sufocando gritou:Poeta que pariu!

Versos ejaculam,O óbvio não.

Poesia delira, delira...

135

ronne grey freitas

hhIStórIaIStórIa MalMal CCONtadaONtada

Faltam-me canetas que não falhem,Poetas que não se calem.

Onde esconderam os revolucionários?Não acredito nessa história de heróis maquiados,

Meus ancestrais foram massacrados.

Pai ensina-me a ser índio,Não acreditei na mentira,Chamaram-me de louco.

Em que século surgirá um novo lampião?

Prestes no verso que resta,Esqueceram de zumbi.

Pai debaixo de que tapete esconderam os índios?Faltaram com a verdade.

Sou poeta e não fingidor....

137

ronne grey freitas

eelItelIte llIXOIXO

Insônia de versos sonolentos,Onde sussurros são gritos,

Nessa noite de tantas horas,Que se misturam pensamentos e versos.

Procuro palavras queQueiram ser livres

De tempo e espaço...O silêncio rima.

Os sábios são humildes!Gritei esperando resposta,

Nem eco nessa noite se ouviu,Nem vira latas vagueiam...

Elite lixo,Não suporto tuas vaidades.

139

ronne grey freitas

IIMageNSMageNS NNOvaSOvaS

Imagine novas ilusões,Sonhando no cáliceDe uma vagabunda.

Procure a poesiaQue acordou na tua insônia.

Plante árvores irrigandoCom as lágrimas do

Tempo que perdestesAcumulando vaidades.

Fique balançandoNa rede quando

Disserem que és louco.

141

ronne grey freitas

SSuSpIreIuSpIreI

Escapastes entre meus dedos,Mas não queria prendê-la.

O vinho tirou meu disfarce,Não consegui permanecer contido.

Aos meus olhos estavasDespida.

Palavras eram gotas,O silêncio.

Um rio corrente de veneração.

Escapastes entre meus olhos,Mas não queria cegá-la,

Partistes e apenas suspirei.

143

ronne grey freitas

ISMael pIMeNta

Menção Honrosa

ddevaSSaevaSSa

Na tênue linha Que nos perpassaO amor ditouEm profeciaVersos inumadosEm rude oráculoQue o sol expôsÀ luz do dia.

Desde entãoEm praça públicaSomos vistos E comentados:Dois amantesEntranhados,Sol e luaEntrelaçados.

Na tênue linhaQue nos devassaA paixão pariuIntermitente sina:Tu és o portoQue me abarca,O apocalipseQue me termina.

147

Ismael pimenta

aaMeNdOIMMeNdOIM

Quebro O casulo crocanteDo teu vestuárioE tua liberdadeTermina aí.

Desnudo nasciAo contrário de ti.

Vestido serei sepultadoEnquanto nuTu morres em mim.

149

Ismael pimenta

bbOrbOletaOrbOleta

Não vês o intransponívelNa vidraça que te detém?Almejas o clima saturadoDo meu quartoE eu a liberdade do teu vôo.

Vai-te, beleza frágil,Que eu tenho um gatoQue nada perdoa:Sofás, tapetes e bichos,Principalmente os que voam!

151

Ismael pimenta

ppaIOlaIOl dede leMbraNçaSleMbraNçaS

O ex-menino revê a velha casaDe histórias revestidaE de ancestrais lavradaNo calcário da memória polida.

Reconstrói crepúsculosAnoitecidos na poeira vencidaE no silêncio-sepulcroDécadas desnudam-se em horas.

No espelho enrugado do tempoA criança entretecidaÀ luz de vétero candeeiroBusca a sacra teta guarnecida.

E sobrevive à profecia -Sinistra aniquilação -E ao pó do decrépito destinoDa terra sem neos horizontes.

O ex-menino sitiou o mundoMas a velha casa -Paiol de lembranças e ritos,Amálgama de santos e mitos -Esta sempre teve consigo.

153

Ismael pimenta

vveStígIOSeStígIOS

Ondas clarasDo mar de Ponta NegraOnde te viUmedecer teu rosto de porcelana.Qual delasBeijou tua tez?Qual delasUngiu-te os pés? Nesse código engarrafadoNo delírio da paixãoNenhum corsário desalmadoPoderá ater as mãos.A ti somente tenhoVasto mar de Ponta Negra,Novelo de calmas brisas,Como cálida testemunhaDos vestígios do meu amor.Em tuas ondas emudecidas,Espumas que a praia sugou,O tempo lavrou felicidadeTendo o céu por cobertor.

155

Ismael pimenta

bIaNOr paulINO

Menção Honrosa

CCajueIrOajueIrO

Nas dunas o solVerdes sombreirosFrutos virgulados

159

bianor paulino

CChuvahuva

Cabelos manhãsMarejam no marLágrimas do céu

161

bianor paulino

MMINguaNteINguaNte

LuanaLuna

LuaNua

A céu aberto

163

bianor paulino

O O jOgadOrjOgadOr

NoCírculo verdeCarteio incertoDesfilam

ValetesRei

DamaBeijo sem sexoDiscretoGesto convexo:Ele ama

Dasnove

165

bianor paulino

NNONadaONada

RevôoDo novo ovoNonadaDo mesmo vôoMedula e ossoÓculos no lodo do cosmo ocoQue nonadoa nonadoa nonadoaNo pluriuno do logosGula e eloE revôo do demo - momo gozoDo zero vôoSem sul

Sem salSem sol

VácuoVerbo no multisolo do óvuloSem poros nem glóbulosSem uva nem Eva

Sem avo nem ovaSem ave nem ovoO marco-mar e arcoNada mais da covaO olho do corvo no inóvuloRe-vôo yin yang

167

bianor paulino

guStavO heNrIQue MedeIrOS

Menção Honrosa

aaMONíaCOMONíaCO

Vapor sinuoso de amoníaco,Que exala sensações grotescasE imagens de caráter bestial,Atingindo meu cérebro, hipocondríaco,Invertendo-me as atitudes, simiescas,E revoltando, em mim, o animal,O entre das trevas, demoníaco,Que com a humanidade tem parentescoE geme em voz lasciva e gutural;Vapor sibilante, afrodisíaco,Tentador, viperino, carnavalesco,Eis-me aqui ao seu beijo glacial!

171

gustavo henrique Medeiros

rrrr

A água rola barrenta e abundanteSobre o asfalto, a tarde já ia

Longe.Só você não sorria.

Desce de minha peleA alma revoltada, incontida,

Muda.Foge de sua própria vida.

Todos os séculos contorcidos,Em brandas chamas se banhavam.

Fechados;Só seus olhos não olhavam.

173

gustavo henrique Medeiros

NNOO MarMar

Sob imenso azul,Rasgando azuis,Segue em meus passos e meu limbo,Intermezzo para silenciar os ouvidos,Água fria,Frio toque de seda em sedaQue resvala, tomba, cambaleia...E segue...Bailarinas sonâmbulas se equilibrando sobre lâmina de machado,Carícia de pétala baça e perfume doce de amêndoa;E ele segue a espalmar seu casco ríspido,As hélices a girar, heliantos em catracas,Serras raspando sal...

Sob imenso azul,Rasgando azuis,Segue em meus sonhos,Imenso dragão de fogo,Monstro marinho de citrino incandescente a reluzir,A divino sal e sal, gotículas marejadas na extensão do metal rútiloArrancam frêmitos no azul derramando, escorrido;Rajas de serpentes a progredir sobre a superfície frouxa,Carretéis a desenrolar, loucos, riscando fatias,E meus sonhos a se enlearTraçando-se com fantasias e lágrimas, acalantos, tombos, delírios...E braços a se abrir, mágicos, solícitos,Sequiosos de lampejosQue falem na mesma língua,Tinindo, grunhindo, sorrindo...

175

gustavo henrique Medeiros

eeNtregaNtrega eSpeCIaleSpeCIal

Que entre o vento pra varrerAs folhas secas deste meu coraçãoQue agora pulsa;

Que, entre a cor da tardeQue o perfume da noiteSurjam cantilenas que embalem a alma;

Pois, Dos teus olhos,Estrelas se perdemAqui dentro

E se apagam aquecidasPor beijosQue teus braços revelam.

177

gustavo henrique Medeiros

CCaNçãOaNçãO dede aMOraMOr NãONãO--CaNtadOCaNtadO

Foges de mim como gota d´água no mármore,A escorrer/ a escorrer;És mancha que se apagaAos poucos em mimComo uma vibração esculpida em marfimQue os carunchos roem,E como me doemAs têmporas por pensar em ti...

...Por pensar em ti como páginas rabiscadasQue o vento leva,Como papel grudento que se amassaE não quer mais se abrir,Como gota de tinta no mármoreE escorrer/ a escorrer,Como um tiro em minha testaQue sangra após eu morrer.

179

gustavo henrique Medeiros

jOSé delfINO NetO

Menção Honrosa

úúltIMaltIMa fOrMafOrMa

Não mais oceano,não mais o Tejo,nem as ondas,que enchem meu marde desejo.Não os reinvento mais,o cais, o mar...não mais os vejo,às vezes, o rio,e rio, às vezes,e sinto o cheiroque vem do ar.

183

josé delfino Neto

CCaféafé

Amargo excita,doce, açula,como a noite,de mar e lua,cavando o escuro,o fundo do poço,e dele o som e a luzcom gula.

185

josé delfino Neto

SSíNteSeíNteSe

Oh! Desvario do meu afeto.Minha forma de amarà tua fôrma de amorentrego.E em desviosme integro,aos quatro ventos,aos gritos do silêncio,a todos os arrepios.

187

josé delfino Neto

este livro foi viabilizado graças àsseguintes instituições e empresas:

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NOVO NORDESTE

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arezarez

CCââmmaarraa MMuu nn iicc iipp aa lldd ee MM aacc aa ííbbaa

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Agosto de 2007