Click here to load reader
Upload
luis-antonio-monteiro
View
23
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Pesquisa de Clima Organizacional: Metodologia Proposta para
uma Instituio de Ensino Superior da Serra Gacha
Juliana Raquel de Souza Luchesi (PPGA/UCS) - [email protected]
Kelly Menezes Crespi (PPGA/UCS) - [email protected]
Maria Emilia Camargo (PPGA/UCS) [email protected]
RESUMO
As organizaes so diferenciadas pelas pessoas que as formam e por isso a competitividade se d
acirradamente na atualidade. As instituies de ensino so organizaes que existem em funo da
gerao de conhecimento e da difuso do mesmo na sociedade. So locais de criao, discusso,
descobertas e redescobertas, por isso, os profissionais que as compem precisam conhecer a
importncia do seu trabalho e estarem motivados para interagir constantemente com a mudana. A
pesquisa de clima organizacional um mtodo formal de se avaliar o clima de uma empresa e um
instrumento importante para fornecer subsdios que permitam aprimoramento constante do ambiente
de trabalho. Assim sendo, propem-se o estudo do clima organizacional, atravs da construo de um instrumento de pesquisa aplicada ao corpo docente do Departamento de Administrao de uma
Instituio de Ensino Superior da Serra Gacha. O objetivo identificar aspectos relacionados com o
comprometimento na realizao do trabalho e a melhoria na qualidade dos servios prestados e
verificar se a pontuao dos fatores diferem entre si. Aps a aplicao do questionrio, pode-se
observar com a aplicao do teste da mediana para um nvel de significncia de 5%, que existe
diferena entre a pontuao mediana dos fatores Imagem Institucional, Polticas Institucionais,
Sistema de Assistncia e Benefcios, Estrutura Organizacional, Organizao e Condies de
Trabalho, Relacionamento Interpessoal, Comportamento das Chefias, Satisfao Pessoal,
Planejamento Institucional, Processo Decisrio, Autonomia Universitria e Avaliao Institucional.
Palavras-Chave: Clima Organizacional; Cultura Organizacional; Motivao; Instituio de
Ensino Superior.
1. INTRODUO
Um dos compromissos das instituies de ensino o de fomentar o questionamento
evolutivo do homem e de sua interao com o ambiente em todas as suas dimenses. Como
em toda a empresa, as pessoas so responsveis pela qualidade dos servios ou dos bens
oferecidos ao mercado em grande parte, cabe aos professores a qualidade do ensino oferecido
aos acadmicos. Ento, importante analisar a motivao e a percepo destes profissionais
no desempenho de suas atividades, sendo a pesquisa de clima organizacional uma eficaz
ferramenta para este fim. Neste sentindo, cabe salientar que, o clima organizacional produto
de inmeros conjuntos de aspectos motivacionais correlacionados, principalmente, de atitudes
e de comportamentos.
Um dos conceitos de clima organizacional so as atitudes das pessoas em relao ao
seu trabalho. Para o autor Robbins (2005) o estudo deste tema abrange as atitudes que
envolvem componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. As atitudes so afirmaes
avaliadoras favorveis ou desfavorveis em relao a objetos, pessoas ou eventos. Refletem como um indivduo se sente em relao a alguma coisa. O mesmo autor tambm
salienta, que no mbito de ambiente de trabalho que os trs principais tipos de atitudes
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 2
analisados so satisfao com o trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento
organizacional.
Em seus estudos, os autores Wagner III e Hollenbeck (2003), mencionam a
insatisfao como uma causa de declnio do compromisso organizacional, sendo o grau com
que as pessoas se identificam com a organizao que as determinam. O compromisso, por sua
vez, implica na vontade de investir uma grande dose de esforo em favor da organizao e a
inteno de ficar muito tempo na empresa.
Desta forma, o estudo de clima organizacional um instrumento potencialmente forte
para a melhoria da qualidade nas organizaes. Assim sendo, propem-se o estudo do clima
organizacional, atravs da construo de um instrumento de pesquisa aplicada ao corpo
docente do Departamento de Administrao de uma Instituio de Ensino Superior da Serra
Gacha. O objetivo identificar aspectos relacionados com o comprometimento na realizao
do trabalho e a melhoria na qualidade dos servios prestados.
2. FUNDAMENTAO TERICA
2.1 MOTIVAO
A motivao para o trabalho um estado psicolgico de disposio, interesse ou
vontade de perseguir ou realizar uma tarefa ou meta. Essa motivao resultante de uma
interao complexa entre os motivos internos das pessoas e os estmulos da situao ou
ambiente. Existem motivos internos tais como: necessidades, aptides, interesses, valores e
habilidades das pessoas. Esses motivos individualizam cada pessoa e as fazem diferente uma
das outras. H tambm os motivos externos que so os estmulos que a empresa oferece.
Podem satisfazer necessidades, despertar sentimentos de interesse ou representar recompensas
desejadas. O salrio e os benefcios, os colegas e o estilo de liderana do chefe so aspectos
considerados nesta categoria (MAXIMIANO, 2006).
J para Robbins (2005a) motivao o processo responsvel pela intensidade, direo
e persistncia dos esforos de uma pessoa para o alcance de uma determinada meta, embora a
motivao, de maneira geral se relacione ao esforo para atingir qualquer objetivo. Segue o
pensamento de Griffin (2005) que conceitua motivao de forma mais ampla, afirmando que
motivao um conjunto de foras que levam as pessoas a se comportar de determinada
maneira. O desempenho individual geralmente determinado por trs fatores: motivao
(desejo de trabalhar), habilidade (capacidade para trabalhar) e ambiente de trabalho (recursos
necessrios para se trabalhar).
Soto (2002) define motivao como uma presso interna surgida de uma necessidade,
tambm interna, que excitando atravs da eletroqumica as estruturas nervosas, origina um
estado energizador que impulsiona o organismo atividade iniciando, guiando e mantendo a
conduta at que alguma meta (objetivo, incentivo) seja conseguida ou a resposta seja
bloqueada.
O cenrio atual enfrentado pelas empresas mostra que o enfoque motivacional implica
um estmulo interno capaz de criar uma atitude mental positiva ou uma mudana de atitude automotivao com efeitos de natureza permanente. Assim sendo, a definio bsica de motivao seria possibilitar s pessoas os seus prprios motivos para a ao, que sempre sero
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 3
internos e profundamente convictos. prudente e proveitoso voltar os olhos novamente para a
tentativa de compreenso do ser humano em sua totalidade (PALOMINOS, 1997).
Tambm dentro do assunto motivao encontra-se a Teoria das Expectativas. A
mesma foi elaborada por Vroom em 1964. uma teoria cognitiva e admite existir uma
relao entre o esforo que se realiza e o rendimento do trabalho. A Teoria das Expectativas
se sustenta em cinco conceitos bsicos, sendo eles: resultados no trabalho, valncia
(atribuio de resultado ao trabalho de desejabilidade ou no), expectativa,
instrumentabilidade e fora motivacional. Schermerhorn Jr.; Hunt e Osborn (1999) enfatizam
que a Teoria da Expectativa de Victor Vroom, de motivao no trabalho, conduz a uma
questo bsica: o que determina a boa vontade de um indivduo para despender esforo
pessoal para trabalhar em tarefas que contribuem para o desempenho de uma unidade de
trabalho e da organizao? A resposta, de acordo com a teoria encontrada nas crenas de um
indivduo considerando as relaes esforo-desempenho e os resultados potencialmente
associados com os diferentes nveis de alcance de desempenho.
2.2 FRUSTRAO
Frustrao pode ser conceituada como um bloqueio que uma pessoa sofre diante de
uma meta ou objetivo (SOTO, 2002a). A frustrao um conceito importante para o estudo
dos problemas humanos no mbito das organizaes e o desenho de aes que reduzam essa
problemtica. precisamente de trabalho, ou o seu prprio desenho, o fator com maior
influncia negativa no rendimento, constituindo o principal obstculo ao desenvolvimento
pessoal, origem permanente de frustraes e tenses negativas na empresa.
A frustrao causa diferentes tipos de comportamento no ambiente de trabalho,
conforme cita o autor Maximiano (2006a):
a) fuga ou compensao: a procura de outro emprego ou profisso, quando no h possibilidade de progresso no emprego atual; associao profissional ou sindicato
para a defesa de interesses no atendidos pelo empregador;
b) resignao: ocorre quando um grupo ou uma pessoa se deixa abater pela frustrao e se entrega a um estado de desnimo ou fatalidade. A pessoa se rende. A
resignao no ambiente de trabalho se manifesta por meio da apatia, da depresso
e do desinteresse pela empresa e seus objetivos;
c) agresso: representa uma forma de ataque fsico ou verbal, associado a um sentimento de ira e hostilidade. Pode ser um palavro, um chute na parede ou uma
ferramenta que jogada dentro de uma engrenagem de equipamento. Neste caso
pode ser tambm adotada um comportamento de deslocamento.
2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL
Wagner III e Hollenbeck (2003a) abordam o conceito de cultura organizacional como
uma maneira informal e compartilhada de perceber a vida e a participao da organizao,
que mantm os seus membros unidos e influencia o que pensam sobre si mesmos e seu
trabalho. No processo de ajudar a criar um entendimento mtuo da vida da organizao, a
cultura organizacional desempenha quatro funes bsicas: d aos membros uma identidade
organizacional, facilita o compromisso coletivo, promove a estabilidade organizacional e
molda o comportamento ao ajudar os membros a dar sentido aos seus ambientes.
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 4
Vrias foras moldam a cultura de uma empresa. Freqentemente, sua origem est nos
valores, nas prticas administrativas e na personalidade do fundador ou fundadores. A viso
do lder tambm exerce forte impacto sobre a cultura. A cultura organizacional responde e
reflete s escolhas conscientes e inconscientes, aos padres de comportamento e aos
preconceitos dos gerentes e executivos. importante mencionar a forma de aprendizado da
cultura organizacional, que se d principalmente por meio da socializao. Este o processo
pelo qual se d o entendimento dos valores, normas e hbitos essenciais para que ocorra a
adaptao empresa. O processo de socializao ocorre, principalmente, por meio da
aprendizagem por imitao e observao. Outra forma, ainda destacada, se d por meio dos
ensinamentos dos lderes, como implcito na dimenso cultural da alocao de recursos e
recompensas (Dubrin, 2003).
Compondo o conceito de cultura o autor Mintzberg (2000) faz uma associao com
cognio coletiva, representando a fora vital da organizao, a alma do seu corpo fsico.
Quanto mais fechada a trama unindo interpretaes e atividades, mais profundamente
enraizada a cultura.
Outra conceituao interessante feita por Chiavenato (1999), que explica que a
cultura reflete um iceberg, pois apenas 10% a 20% ficam acima do nvel da gua e constituem
a parte visvel. A maior parte permanece sob as guas e fora da viso das pessoas.
Diante deste contexto, estudos sobre downsizing, gerenciamento para a qualidade total
e reengenharia descobriram que, quando intervenes desse gnero so implementadas sem
uma correspondente mudana da cultura, no raro se malogram porque, os valores e as
orientaes, as definies e as metas da organizao permanecem constantes, mesmo quando
seus procedimentos e estratgias so alterados, ela no demora a retornar ao status quo (QUIN
ET AL., 2003).
2.4 CLIMA ORGANIZACIONAL
Para Vsquez (1996) apud Johann (2004), o clima organizacional formado pelo
somatrio de influncia de fatores to diferentes como salrio, relacionamento e comunicao
entre a chefia e os funcionrios, convnio mdico, condies de salubridade, reconhecimento
(ou falta dele). Estes e outros aspectos podem proporcionar, assim, uma viso do estado
emocional da organizao e do impacto ou da receptividade que a interveno ter sobre esse
clima, possibilitando o ajuste das necessidades individuais e coletivas, embora sejam escassos
os programas que buscam expressa e deliberadamente mudanas acentuadas nesse estado de
coisas.
Em outras palavras, o clima organizacional a atmosfera psicolgica que envolve,
num dado momento, a relao entre a empresa e seus funcionrios. Evidencia-se que a partir
dos conceitos de diversos autores sobre clima organizacional, pode-se encontrar pelo menos
trs palavras que esto quase sempre presentes: satisfao (dos funcionrios), percepo (dos
funcionrios) e cultura (da organizao) (LUZ, 2003).
As pesquisas de clima organizacional vm sendo estudadas h bastante tempo por
muitos tericos em todo o mundo. A relevncia do tema indiscutvel.
Coda (1997) caracteriza a Pesquisa de Clima Organizacional como um canal de
comunicao entre a direo e o corpo de empregados da organizao, representa um modo
constante de obter e de fornecer feedback, mantendo o foco voltado para as necessidades dos
empregados. Orienta e democratiza a participao dos funcionrios no processo de gesto,
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 5
uma vez que as decises passam a incluir tambm as tendncias e os pontos de vista dos
empregados que foram manifestados atravs da pesquisa.
Para uma pesquisa de clima organizacional ser bem sucedida necessrio um amplo
envolvimento das pessoas nas etapas de estruturao. Por essa razo, o autor Johann (2004a)
sugere que os seguintes tpicos sejam focados:
a) escolha do padrinho: de suma importncia que um diretor assuma a idia e incentive sua implementao, dando-lhe credibilidade e apoio poltico;
b) objetivos/dimenses da pesquisa: a formatao de objetivos claros ajuda a definir as dimenses a serem alvo da pesquisa, bem como o tipo e a quantidade de questes em
cada uma delas. Geralmente, so aceitas como essenciais: i) atuao das chefias como
modelos sociais da mudana; ii) interao chefias/subordinados; iii) grau de
autonomia/delegao; iv) sistemtica de reconhecimento/recompensas; v) qualidade de
vida no trabalho; vi) oportunidades de crescimento profissional; vii) imagem
institucional e viii) orgulho em trabalhar na empresa;
c) preparao das chefias/coleta de sugestes: uma apresentao da idia inicial para as chefias ajuda a minimizar eventuais resistncias e desconfianas por aqueles que
detm o poder;
d) populao-alvo/amostra: em empresas de pequeno porte, normal aplicar os instrumentos em todos os colaboradores; na definio do tamanho da amostra so
necessrios alguns cuidados estatsticos;
e) instrumento da coleta de dados: o questionrio o mais empregados pelas organizaes em geral, pois permite uma coleta de dados mais gil, alm de
possibilitar o processamento com o auxlio de recursos facilitadores da TI;
f) montagem do instrumento: um bom questionrio deve ser claro e objetivo, pode oferecer variadas verses, conforme o nvel dos respondentes. As questes podem ser
fechadas ou abertas e o anonimato dos respondestes recomendvel, visto que os
deixa mais vontade para respond-lo;
g) aplicao e coleta: o questionrio pode ser enviado aos participantes acompanhado de uma carta com instrues e prazo de devoluo;
h) tabulao/tratamento estatstico: recolhidas as respostas, os dados devem ser trabalhados por meios estatsticos, como planilhas ou softwares especiais;
i) designao de equipes matriciais: os resultados da pesquisa podem ser agrupados por categorias de assuntos, cuja resoluo ser confiada a equipes autogerenciveis, com
representantes de vrias reas da empresa;
j) divulgao dos resultados/plano de ao: jornal, murais, reunies, publicaes especiais so alguns dos mecanismos de comunicao que devem ser utilizados para
dar o retorno sobre os resultados da pesquisa e sobre o andamento dos trabalhos das
equipes matriciais criadas para encontrar e implementar solues.
O modelo de Litwin e Stinger (1968) refere-se ao estudo emprico para medir o clima
atravs da estrutura, responsabilidade, riscos, recompensa, calor e apoio e conflito.
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 6
J a pesquisa de Kolb et al. (1978) aborda o clima organizacional em uma escala de sete
fatores, sendo eles: conformismo, responsabilidade, padres, recompensas, clareza
organizacional, calor e apoio e liderana.
Do ponto de vista do autor Sbragia (1983) a pesquisa deve ser mais ampla. Seu modelo
conta com vinte fatores, considerado relevantes: estado de tenso, conformidade exigida,
nfase na participao, proximidade da superviso, considerao humana, adequao da
estrutura, autonomia presente, recompensas proporcionais, prestgio obtido, cooperao
existente, padres enfatizados, atitude frente a conflitos, sentimento de identidade, tolerncia
existente, clareza percebida, justia predominante, condies de progresso, apoio logstico
proporcionado, reconhecimento proporcionado e forma de controle.
Com respeito ao modelo de Rizzatti (1995) foi proposto um modelo que foi aplicado em
uma Universidade Federal, considerando os seguintes aspectos: imagem e avaliao,
desenvolvimento de recursos humanos, benefcios e incentivos, organizao e condies de
trabalho, relacionamento interpessoal, sucesso poltico-administrativa e comportamento das
chefias e satisfao pessoal. Rizzatti (2002) aprofundou os estudos propostos em 1995, com
insero de novas categorias a serem consideradas em uma pesquisa de clima organizacional
em instituies de ensino, que abrange: imagem institucional, poltica de Recursos Humanos,
sistema de assistncia e benefcios, estrutura organizacional, organizao e condies de
trabalho, relacionamento interpessoal, comportamento das chefias, satisfao pessoal,
planejamento institucional, processo decisrio, autonomia universitria e avaliao
institucional.
Por ltimo, o autor Martins (2000) prope a aplicao de uma escala de clima
organizacional que contempla as seguintes denominaes: apoio da chefia e da organizao,
recompensa, conforto fsico, controle/presso e coeso entre colegas.
A pesquisa de clima no se prope a solucionar todos os problemas internos de uma
empresa, da mesma forma que uma pesquisa de satisfao do cliente externo no assegura o
sucesso da empresa perante seus concorrentes. Assim, a empresa que decidir realizar uma
pesquisa-ao de clima, a alta direo deve estar consciente dos riscos que poder correr,
entre eles: o no-comprometimento com as melhorias dos aspectos deficientes apontados o
que acaba gerando mais insatisfao, decepo com os resultados, especialmente com a baixa
receptividade da mudana proposta, gerao de falsas expectativas nos funcionrios,
comunicao inadequada ao longo das vrias etapas e descontinuidade do processo
(JOHANN, 2004b).
3. METODOLOGIA
Segundo Churchill Jr. e Petter (2000), os dados primrios so aqueles coletados
especificamente para o propsito da investigao. Hair Jr. et al. (2005) complementam o
pensamento ao afirmar que, sob o contexto de uma pesquisa com dados primrios, o
pesquisador est envolvido em todos os aspectos da transformao de dados em
conhecimento, sendo que, qualquer projeto de pesquisa que exija a criao e implementao
de um survey dar origem a dados primrios.
Por suas caractersticas, esta proposta de pesquisa de clima organizacional, a ser
estruturada para a aplicao no Departamento de Administrao de uma Instituio de Ensino
Superior da Serra Gacha, contar com a tipologia de dados primrios.
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 7
A pesquisa contou com uma fase qualitativa onde ocorreu a coleta de dados e foi
estruturado um instrumento, direcionado captao do parecer de experts1 na rea de
comportamento organizacional a fim de que o modelo escolhido fosse a base para a
construo do questionrio de clima organizacional a ser aplicado. A etapa constou da breve
explanao dos propsitos do estudo e aps a apresentao dos atributos dos estudos dos
autores Litwin e Stinger, Kolb et al., Sbragia, Rizzatti e Martins. Cada professor consultado
identificou um dos modelos e justificou a escolha a partir de seus conhecimentos e julgamento
de aplicabilidade e coerncia. Na figura 1, pode-se observar os resultados obtidos nesta etapa
da pesquisa.
Professor A Professor B Professor C Professor D Professor E
Modelo I:
Litwin e
Stinger (1968)
Modelo II:
Kolb et al.
(1978)
Modelo III:
Sbragia
(1983)
XXX
Modelo IV:
Rizzatti
(2002)
XXX
XXX
XXX
XXX
Modelo V:
Martins
(2000)
Justificativa
para a escolha
mede com mais propriedade,
considerando o
tipo de pessoa
que responder a
mesma coerncia e
aplicabilidade.
melhor aplicao, visto a
facilidade em que
o docente teria
para entend-lo e
respond-lo.
Aplica-se mais s
instituies
educacionais.
entendo que o modelo escolhido
oferece maior
riqueza de
informaes sobre os
atributos que
influenciam o clima
do Departamento de
Administrao. O
modelo de Rizzatti
parece direcionar os
atributos ao
planejamento geral
da instituio, no
necessariamente ao
sentimento
individual do
docente.
o modelo elaborado compreende algumas
dimenses que
perpassam o
ambiente
organizacional do
Departamento de
Administrao,
quando devidamente
analisadas e
investigadas,
fornecem uma viso
dos diversos
processos que se
desenvolvem no
mbito da
organizao.
considerando o momento atual do
Departamento de
Administrao,
este modelo o
mais completo...
sugiro que seja
pensada a forma de
aplicao para no
surgirem
interpretaes
dbias sobre o
tema, j que os
atributos incluem
vrias idias.
Figura 1 - Escolha dos experts sobre o tipo de estudo a ser realizada Fase Qualitativa.
Fonte: Elaborao prpria.
1 Todos os professores qualificados como experts ministram a disciplina de Comportamento Organizacional.
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 8
4. APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS
Na fase quantitativa da pesquisa foi utilizada uma amostra no-probabilstica por
convenincia formada de 10 docentes do Departamento de Administrao da IES.
Os dados referentes ao perfil dos professores pesquisados apresentaram os seguintes
resultados:
Quanto lotao do professor 90% est vinculado diretamente ao Departamento de Administrao e 10% ministra disciplinas de Administrao, mas est lotado em outro campi
da Instituio de Ensino Superior.
Quanto formao acadmica - 80% so mestres e 20% especialistas.
Quanto ao tempo de trabalho na Instituio de Ensino Superior menos de 5 anos 30%, de 5 a 10 anos 0%, de 11 a 15 anos 30%, de 16 a 20 anos 10% e mais de 20 anos 30%. Quanto ao sexo 60% masculino e 40% feminino.
Quanto a faixa etria at 30 anos 0%, de 31 a 40 anos 40% , de 41 a 50 anos 30%, de 51 a 60 anos 20% e acima de 60 anos 10%.
Quanto ao turno de trabalho no Departamento de Administrao 40% s noite, 20% vespertino e noite e 40% manh, vespertino e noite.
Quanto as disciplinas ministradas no semestre 2 disciplinas 20%, 3 disciplinas 20%, 4 disciplinas 20%, 5 disciplinas 30% e 6 disciplinas 10%.
Quanto ao vnculo com Grupo de Pesquisa 50% respondem Sim e 50% No.
Alm das questes acima mencionadas, o instrumento de coleta de dados contou com
quarenta questes constitudas atravs do estudo de Rizzatti (2002). Os entrevistados
responderam um regime mensurado numa escala tipo Likert.
Para uma anlise descritiva, foi obtido a mdia aritmtica e a mediana por categoria e
a mdia para cada questo associadas aos 10 entrevistados.
Categorias Pesquisadas e Questes Estruturadas
Mdia das
Respostas
1 mnimo 5 mximo
Imagem Institucional Mdia = 4,43
Mediana = 4,55
1) sinto-me satisfeito por fazer parte deste departamento. 4,80
2) percebo a satisfao dos alunos quanto a qualidade do ensino no curso
de Administrao.
3,80
3) me identifico com o departamento, bem como com a instituio e desejo
continuar participando do seu desenvolvimento.
4,40
4) sou reconhecido na sociedade pelo fato de trabalhar como docente deste
Instituio de Ensino Superior.
4,70
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 9
Polticas Institucionais Mdia = 3,17
Mediana = 3,30
5) as polticas organizacionais permitem que eu seja valorizado
profissionalmente.
3,30
6) as polticas organizacionais promovem a integrao do corpo docente. 2,60
7) as polticas organizacionais me incentivam ou despertam em mim a
necessidade de aprendizagem contnua.
3,60
Sistema de Assistncia e Benefcios Mdia = 3,43
Mediana = 3,30
8) os benefcios oferecidos pela instituio trazem qualidade de vida para a
realizao do meu trabalho.
3,30
9) as recompensas financeiras que recebo so fatores motivacionais para o
meu trabalho.
3,30
10) a qualidade das recompensas financeiras que eu recebo atende s
minhas expectativas.
3,70
Estrutura Organizacional Mdia = 3,36
Mediana = 3,20
11) existe adequao da estrutura institucional s necessidades do
Departamento de Administrao.
2,50
12) h uma boa relao e comunicao entre os nveis hierrquicos do
departamento.
3,60
13) os objetivos e metas departamentais esto claros e relacionados com o
trabalho que realizo.
3,00
14) tenho boas condies tecnolgicas disponveis para a realizao do
meu trabalho.
3,40
15) tenho conhecimento pleno das tarefas e responsabilidades do meu
trabalho.
4,30
Organizao e Condies de Trabalho Mdia = 3,37
Mediana = 3,30
16) as condies ergonmicas atendem s minhas necessidades, tais como:
temperatura, ventilao, iluminao, limpeza e mobilirio.
3,20
17) disponho de tempo suficiente para executar as tarefas relativas ao
desempenho de um bom trabalho.
3,30
18) encontro espao fsico no Departamento de Administrao para
executar as minhas tarefas como docente.
3,60
Relacionamento Interpessoal Mdia = 3,24
Mediana = 3,10
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 10
19) conheo a estrutura de chefia existente e identifico o papel de cada um
no dia-a-dia.
4,30
20) existe cooperao intensa e ativa entre os docentes do Departamento de
Administrao.
2,70
21) a cooperao existente entre as reas que compem o Departamento de
Administrao (secretaria, xrox, segurana, laboratrios...) suficiente.
3,10
22) existe reconhecimento da competncia profissional entre os colegas.* 3,30
23) h incentivo entre os colegas para a melhoria do desempenho da
docncia.*
2,80
Comportamento das Chefias Mdia = 3,60
Mediana = 3,70
24) confio e acredito no trabalho realizado pelas chefias de departamento e
centro.
4,10
25) as chefias despertam o clima para o desenvolvimento humano dos
docentes.
3,70
26) as chefias proporcionam os recursos adequados para o
desenvolvimento do trabalho.
3,80
27) as chefias aceitam e aplicam as sugestes dadas pelos docentes no
Departamento de Administrao.
3,60
28) o grau de acompanhamento do trabalho, realizado pelas chefias, est
adequado.
2,80
Satisfao Pessoal Mdia = 4,30
Mediana = 4,30
29) estou satisfeito com o trabalho que realizo como docente. 4,50
30) sinto-me motivado a exercer a docncia e com as condies de trabalho
que tenho.
4,10
31) sei que a responsabilidade atribuda ao cargo de docente coerente
com as minhas capacidades intelectuais e emocionais.
4,30
Planejamento Institucional Mdia = 3,90
Mediana = 3,90
32) me sinto motivado a participar do planejamento institucional. 3,90
33) recebo informaes atualizadas sobre o planejamento e pretenses
institucionais.
3,20
34) contribuo para a melhoria dos servios prestados pela Instituio de
Ensino Superior.
4,40
Processo Decisrio Mdia = 2,93
Mediana = 2,70
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 11
35) as decises departamentais, que impactam no trabalho docente, so
repassadas em tempo hbil e de forma clara.
2,70
36) a quantidade de reunies departamentais suficiente e possibilita aos
docentes manterem-se informados.
2,50
37) percebo que no departamento no existe a prevalncia de idias e
interesses de alguns grupos de docentes sobre outros.*
3,60
Autonomia Universitria Mdia = 3,00
Mediana = 3,00
38) acredito que as estratgias institucionais atendem as necessidades
departamentais e contribuem para a melhoria da qualidade dos servios
prestados no Departamento de Administrao.
3,00
Avaliao Institucional Mdia = 3,35
Mediana = 3,35
39) percebo que os valores pessoais dos discentes tm influncia no
processo de avaliao institucional dos docentes.
4,00
40) o modelo de avaliao institucional vigente identifica os problemas do
Departamento de Administrao.
2,70
* Itens com contagem inversa.
Figura 2 Mdias Aritmticas obtidas com as respostas dos 10 docentes.
Fonte: Elaborao prpria.
Foi aplicado o teste da mediana com um nvel de significncia de 5%, para verificar se
havia diferena entre a mediana dos fatores Imagem Institucional, Polticas Institucionais,
Sistema de Assistncia e Benefcios, Estrutura Organizacional, Organizao e Condies de
Trabalho, Relacionamento Interpessoal, Comportamento das Chefias, Satisfao Pessoal,
Planejamento Institucional, Processo Decisrio, Autonomia Universitria e Avaliao
Institucional, sendo que o teste indicou diferena significativa entre a mediana das pontuaes
entre todos os fatores com um valor descritivo p = 0,0341. A mediana geral foi de 3,6.
5. CONSIDERAES FINAIS
Para gerir tantos talentos, principalmente dos docentes das Instituies de Ensino
Superior, suas motivaes e satisfaes, se faz necessrio monitorar seus anseios e
comportamentos, pois so estes profissionais que interagem continuamente com os discentes,
estes, clientes das instituies.
Temas como motivao, comprometimento e frustrao no ambiente de trabalho
sempre denotam estudos desafiadores, em funo da amplitude e da subjetividade nas aes
humanas, mas cada pargrafo construdo a partir das leituras e dos estudos realizados ajuda a
construir um novo olhar sobre o cotidiano, sobre a importncia das relaes humanas e do
valor dado ao trabalho.
Atravs deste estudo, criou-se um instrumento para pesquisa de clima organizacional
direcionado ao corpo de docentes do Departamento de Administrao de uma Instituio de
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 12
Ensino Superior da Serra Gacha. Pode-se concluir atravs dos resultados da pesquisa, que o
instrumento aderente finalidade proposta e pode facilmente ser adaptado para aplicao
em outros departamentos ou Instituies de Ensino Superior.
Quanto ao contexto da amostra pesquisada, os docentes tm satisfao de fazerem
parte da IES e do departamento que atuam. Tambm se constatou que os entrevistados esto
satisfeitos com seu trabalho como docente. Em contra partida, os docentes apontaram que no
existe cooperao ativa e intensa entre o corpo docente e no se sentem motivados a participar
do planejamento da IES. Essas divergncias foram comprovadas atravs do teste da mediana
que indicou diferena significativa entre as categorias pesquisadas.
6. REFERNCIAS
BERGAMINI, Ceclia W.; CODA, Roberto. Psicodinmica da vida organizacional: motivao e liderana. 2.
ed. So Paulo: Atlas, 1997.
CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinmica do sucesso das organizaes. 2. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
_____. Gesto de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizaes. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
COHEN, Allan R. Comportamento organizacional: conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
COSTA, Eliezer Arantes da. Gesto estratgica. So Paulo: Saraiva, 2005.
DUBRIN, Andrew J. Fundamentos do comportamento organizacional. So Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2003.
FERNANDES, Bruno Henrique Rocha. Administrao estratgica: da competncia empreendedora
avaliao de desempenho. So Paulo: Saraiva, 2005.
GRIFFIN, Ricky W. Introduo administrao. So Paulo: tica, 2007.
HAIR JR., Joseph F. et al. Fundamentos de mtodos de pesquisa em administrao. Porto Alegre: Bookman,
2005.
JOHANN, Slvio Luiz. Gesto da cultura corporativa: como as organizaes de alto desempenho gerenciam sua
cultura organizacional. So Paulo: Saraiva, 2004.
KATZ, Daniel; KAHN, Robert. Psicologia social das organizaes. So Paulo: Atlas, 1978.
KOLB, D. A; RUBIN, I. R.: McINTYRE, J. M. Psicologia organizacional: uma abordagem vivencial. So
Paulo: Atlas, 1978.
LITWIN, G. H., STRINGER, R. A. Motivation and organizational climate. Cambridge: Harvard University
Press, 1968.
LUZ, Ricardo. Gesto do clima organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientao aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,
2001.
MALHOTRA, Naresh K. et al. Introduo pesquisa de marketing. So Paulo: Prentice Hall, 2005.
MARTINS, M.C.F. Clima organizacional: o estado da arte. Revista da Sociedade de Psicologia do Tringulo
Mineiro, n.3, p. 12-18, jan/jun, 2000.
MAXIMIANO, Antnio Csar Amaru. Administrao para empreendedores: fundamentos da criao e da
gesto de novos negcios. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
MINTZBERG, Henry. Safri de estratgia: um roteiro pela selva do planejamento estratgico. Porto Alegre:
Bookman, 2000.
MORGAN, Gareth. Imagens da organizao. So Paulo: Atlas, 1996.
VII SEGeT Simpsio de Excelncia em Gesto e Tecnologia 2010 13
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouas de. Planejamento estratgico: conceitos, metodologias e prticas. 12.
ed. So Paulo: Atlas, 1998.
OLIVEIRA, Marco Antonio. Pesquisas de clima interno nas empresas: o caso dos desconfimetros avariados.
So Paulo: Nobel, 1995.
PALOMINOS, Roberto. Nem acaso, nem milagre: a gesto do compromisso. So Paulo: Editora Gente, 1997.
QUINN, Robert E. et al. Competncias gerenciais: princpios e aplicaes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
RIZZATTI, Gerson. Categorias de anlise de clima organizacional em universidades federais brasileiras.
Florianpolis, 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produo) Programa de ps-graduao em Engenharia
de Produo e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina.
ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 11. ed. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
SBRAGIA, Robert. Um estudo emprico sobre clima organizacional em instituies de pesquisa. Revista de
Administrao. So Paulo, V. 18, n.2, p. 30-9, abr/jun., 1983.
SCHERMERHORN Jr., John R.; HUNT, James G.; OSBORN, Richard N. Fundamentos do
comportamento organizacional. Porto Alegre: Bookman, 1999.
SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Medidas do comportamento organizacional: ferramentas de diagnstico e
de gesto. Porto Alegre: Artmed, 2008.
SOTO, Eduardo. Comportamento organizacional: o impacto das emoes. So Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002.
SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizaes. So Paulo: Saraiva, 2002.
VASCONCELLOS FILHO, Paulo de; PAGNONCELLI, Dernizo. Construindo estratgias para competir no
sculo XXI. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
WAGNER III, John A.; HOLLENBECK, John R. Comportamento organizacional. So Paulo: Saraiva, 2003.