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CAPA (TRABALHAR A CAPA COM ESTA FOTO)
EU JÁ NÃO SOUO QUE ERA...
1
EU JÁ NÃO
SOU O QUE
ERA
Obra publicada pelo Programa “CATALÃO EM PROSA E
VERSO”, instituído pelo Município de Catalão através do
Decreto nº 1.978, de 30 de abril de 2008. Seleção dos
trabalhos publicados sob a responsabilidade da Academia
Catalana de Letras.
2
IVAN CORRÊA
EU JÁ NÃO
SOU O QUE
ERA
3
Copyright...
ORELHA DO LIVRO:
Nasceu no Distrito Administrativo de Pires Belo, Município
de Catalão, Estado de Goiás, no dia 28 de dezembro de
1965, tendo passado a infância na Zona Rural de Catalão,
onde iniciou os estudos no Grupo Escolar de Pires Belo. Fez
o antigo segundo grau no Colégio Estadual João Netto de
Campos, logo após, cursou Direito no Centro de Ensino
Superior de Catalão – CESUC, sendo formando da primeira
turma (27 de junho de 1989) daquela entidade de ensino. Há
aproximadamente 25 (vinte e cinco) anos é servidor público
municipal, ocupando o cargo de Assessor Jurídico do
Município de Catalão desde o ano de 1989. É membro da
Academia Catalana de Letras – www.acletras.org.br .
Lançou em 2008 o seu primeiro livro de poesia com o título
HORA DE POESIA. Contato com o autor:
4
Trabalhar para a Quarta Capa – Eliminar este “foto Zaga”
5
Para não haver escolhidos e excluídos não citarei nomes.
Agradeço a Deus, a minha família e a todos que, direta ou
indiretamente contribuíram para a realização de mais este
trabalho, a concretização de mais este sonho.
Agradeço, ainda, àqueles que leram e manifestaram sobre o
meu primeiro livro, “Hora de Poesia”. Este segundo,
abrolhou, talvez, do entusiasmo que recebi dos leitores do
meu primeiro.
O autor
6
Prefácio
Quando escrevo tenho uma alma contraditória, que não é
minha em determinados momentos, e, em outros, deixa
escancarada a pessoa que sou.
Se não tenho e nunca tive um amor que partiu, invento.
Idealizo somente para vivenciar situações e sentir novas e
desconhecidas sensações.
Escrevendo, experimento centenas de sentimentos. Todos os
encantos do mundo aportam em mim quando nasce um
verso perfeito, se é que existe.
Sou de todos os lugares e de nenhum. Não me lembro do
ponto de partida nem onde existe parada.
Escrevendo sou irrequieto, navego em todas as águas, das
mais calmas às mais indômitas.
Sou, antes de tudo, apaixonado pela poesia. Muito mais pela
vida. Dar luz às palavras me faz um ser mais feliz ainda.
7
SUMÁRIO
- Eu já não sou o que era
- Comboio de gente
- O patrão e o empregado sabido
- Virei poesia
- Como se bulisse com a mão de Deus
- Quando se perde um amor
- O silêncio
- Andarilho do mundo
- Delirante espera
- Dessemelhante
- Homens duros
- Insensatez noturna
- Tempo vazio
- Assim que se mata um amor
- Se o mármore estilhaçar...
- Amo-te como a mim mesmo
- Armadilhas...
- Moça que passa
- Desejos
- No amor não há meio termo
8
- O amor que por ti eu sentia
- Mulher volúpia
- Mundo de semideuses e heróis
- Vivendo mais leve
- Persuasão
- Não tenho álibi
- Perdas e danos
- Valendo-se da poesia
- Roceiro aguerrido
- Um amor de verdade
- Uma carga de pesares
- O amor é sempre surpreendente
- O meu outro Eu
- Que seria dos poetas?
- Procuro uma paixão
- Batalhas da vida
- Seu segundo amor
- Vivendo sonhos
- Amor, ódio e insensatez
- Você ainda é o meu amor
- Em outras vidas
- Falará por mim a poesia
9
- Eu a amo tanto
- Na sombra do mundo
- Não me tente
- Depois de cinco whiskies sem gelo
- Depois da nossa despedida
- O escuro não mascara a amargura
- Quem me dera!
- Bem aquém
- Perdi o bonde da vida
- Valeu à pena
- Onde estará agora o meu amor?
10
EU JÁ NÃO SOU O QUE ERA
"Eu já não sou o que era: devo ser o que me tornei."
Coco Chanel
Na Catalão dos meus ascendentes,
das competentes armas de fogo,
das carabinas de papo amarelo,
dos jagunços e dos muitos coronéis,
dos bárbaros crimes e dos “heróis” cavaleiros...
Três dias depois do natal de 1965,
nascia eu, para uma vida singela,
numa casinha simples
cercada de roça de milho.
No meu quintal tinha um rego d’água
e um pé de carambola,
aonde um bem-te-vi,
a cada amanhecer,
vinha alegrar minhas manhãs.
Era um pequeno sítio
no interior de Goiás,
município de Catalão.
11
Foi a mulher parteira
quem me arrancou
do conforto daquele útero.
Considero-a, até hoje,
uma verdadeira carnífice.
Meu pai carpia chão,
minha mãe socava pilão.
Meu pai pedia chuva,
minha mãe pedia não.
Meu pai, calos nas mãos,
minha mãe, na alma,
reclamava de tudo.
Meu pai,
sem acompanhamento de
qualquer instrumento musical,
entoava algumas modas caipiras.
E, eu, ficava idealizando o cenário
das estórias daquelas músicas.
Era o menino caçador
que foi morto pela onça feroz,
12
que mesmo ferida veio pela fumaça...
E, eu, miúdo ainda, imaginava a mata,
o bicho, o ataque e a morte do guri.
Era feliz além da conta e nem sabia.
A cada anoitecer eu recebia
divertindo nas minhas divagações,
as primeiras lições da vida.
Quem as ditavam não sabia,
que estavam lapidando aquele pequeno;
que estava formando o cidadão de hoje.
Era a cultura e os costumes do meu povo
bailando na minha frente e deixando marcas
permanentes nos porões desta minha mente.
Hoje em dia, para a minha tristeza ou alegria, não sei;
“eu já não sou o que era, devo ser o que me tornei.”
Assim era assim o lugarejo alegre da minha infância...
Quando pensava estar entediado,
divertia-me afogando pintainhos
no rego-d'água, montando a cavalo,
fugindo de vacas, atravessando pinguela
13
ou socando os irmãos mais novos e fracos.
Vivia feliz correndo à toa de pés no chão,
a emoção solta e louca corria no meu coração.
Cresci assim:
sem videogame e sem aula de inglês.
Não fiz natação, nem karatê,
nem assistia à televisão.
Fui deparar-me com uma
sessão de desenho animado
com onze ou doze anos,
mesma época em que
experimentei coca-cola,
na época minha droga predileta.
Mesmo assim era feliz.
Aos domingos arraial, amigos,
avós, almoços, futebol, brigas,
alvoroços, e, de novo, coca-cola.
nas segundas-feiras mutirão para lavrar o chão.
Era gente de todos os jeitos e manias.
Uma companheirada boa a limpar
14
roça de milho e feijão e mais tudo
que a terra nos dava.
Coração generoso o daquele chão.
Às dez horas em ponto,
sentados nos barrancos,
nos calcanhares ou no cabo da enxada,
comíamos arroz, feijão, macarrão,
galinha ao molho de açafrão preparada
em fogão à lenha e panela de ferro.
Que saudade, daquele tempero e daquele tempo!
Quando chovia naquelas tardes de calor,
era a pescaria que nos alegrava.
Aqueles bagres eram troféus valiosos
retirados do nosso corregozinho.
Era o êxtase da vida!
Naquele tempo não invejava
nem o Presidente dos Estados Unidos,
Aliás, nem sabia que existia a América.
Não sabia da copa do mundo,
nem que o Brasil já era tricampeão mundial de futebol.
15
Era tanta ilusão e distanciamento de tudo,
que nem sabia que no Brasil os militares
haviam tomado o Poder.
Que AI-5 que nada!
Pensava somente em matar
pássaros com o estilingue
e tomar banho no poço azul
que tinha nos fundos da minha casa.
Censura e repressão
naquele meu mundo não existiam.
Porão, somente debaixo da minha
casa assoalhada, e, não servia para nada
além de habitação para incontáveis
e assombrosos morcegos.
Tortura maior que eu me deparava,
era somente quando meu pai matava
um suíno com faca afiada enfiada bem no coração.
Ou frango caipira destroncando o pescoço do bicho.
Mas, maldade, eu juro, não havia mesmo,
era somente para saciar a fome da prole.
AI-5, era simplesmente a forma errada de dizer cinco ais,
quando era surrado, sempre de maneira injusta,
16
pela minha mãe, nada mais.
Mas, eu já a perdoei. Setenta vezes sete. Amém, amém.
Andava quilômetros até a escola.
Não tinha biblioteca nem livros,
nem guarda, diretora ou merenda.
Era um professor magricela que vinha
de uma estrada de chão vermelho,
montado numa bicicleta velha.
Tinha, porém, cuidados de sobra
com aqueles meninos-bichos.
E, como que por milagre,
ainda conseguia lhes ensinar algumas coisas.
Alguns, mais aventureiros, no futuro
tentariam até serem escritores,
relatando, às vezes, a própria história
do mestre e seus pupilos sonhadores.
Os vizinhos...
Ah! Esses eram umas figuras!
Tinha o Nego baixinho,
irmão do Zeca lelé,
que era irmão do Antônio ladrão.
17
Havia, ainda, o Eurípedes e seu filho Astério,
que para qualquer moléstia
vinha logo a receitar:
“fumo no imbigo é bão.”
Tinha gente que acreditava
e até acatava esse exótico remédio.
Se curava, até hoje não sei. Matar também não matava.
Meus pais,
que jamais deixaram faltar-me o básico,
dando-me sustento, carinho,
discernimento e responsabilidade.
Com o passar dos anos
viram crescer um homem comum,
responsável e prático, forjado nas dificuldades,
curtido nas virtudes e nos exemplos de vida que teve.
Lapidado pelo tempo, não deu brilho forte,
também não se ofuscou, nem tão pouco se dilacerou,
simplesmente vingou, vingou, simplesmente. Aleluia!
18
COMBOIO DE GENTE
Meu peito é um circo,
coberto com lona
imunda e rasgada...
Uns vêem a alegria,
outros apenas a tristeza.
Eu já não ando vendo nada.
Meu peito é um céu
nublado e distante,
mundo ilusório...
Uns vêem esboços de anjos,
outros, um cinza de chumbo,
Eu vejo um céu conspiratório.
Meu peito é uma rua deserta,
com domicílios fictícios,
num beco sem saída...
Uns desistem e ficam,
Outros batalham e tombam,
Eu me escondo nessa casa caída.
19
Meu peito é árido, ora úbere.
Sei fazer a guerra de tiros,
sei lutar com os vocábulos...
Aonde uns ouvem os tiros,
outros plantam seus mortos
ocultos em taciturnos óculos.
Meu peito é terreno de mangue,
serpentes d'água e caranguejo,
ilhado por paredões barreados...
Uns achegam e enfiam a mão,
Outros não acham mais os vãos,
e todos em comboio, ajoelhados.
20
O PATRÃO E O EMPREGADO SABIDO
Seu moço me conta agora
como é que se faz para
domar um coração?
-- Coração redomão,
meu patrão,
num doma não;
é ele que “faiz" a direção.
Seu moço me conta então,
como é que se cura a dor
de quem perdeu seu amor?
--Cura fácil, meu patrão,
é só abrir o coração
a uma nova paixão
e fisgar logo outro“peixão”.
Seu moço diga depressa,
como é que ela, que parecia
feliz, de repente foi-se embora?
21
-- Se partiu, assim, à-toa,
deve ser que a patroa,
num era assim, gente boa!
Fazia uma outra pessoa.
O senhor, que parece
ser o dono da razão,
diz agora o que eu faço?
--Faça nada patrãozinho...
Pra evitar o burburinho.
Tem língua quente esse povinho,
“tulera” a sua dor bem “suzinho.”
Não brinca assim com a dor,
isso golpeia e esfola sem dó
o peito da gente.
-- eu sei bem, “inté” provei.
Também amei, já chorei,
e até hoje eu me escapei,
O senhor se “sarvará”,
inté eu me “sarvei”.
22
Bobagem ficar dando ouvido
a quem não sabe nada
desta vida de meu Deus!
-- Seu doutor ta de novo iludido,
eu e todo esse povo “inxerido”,
já sabia dos “favor” indevido,
que a patroa fazia escondido,
e o senhor que pensa que é tão sabido,
num sabia, e, “óia” que era o único ofendido.
Vou parar com essa prosa...
Vou entrar e beber
um bom trago que talvez melhore a dor.
-- Agora o senhor falou uma coisa acertada,
num tem nada que uma boa talagada
Num “resorve” numa fria madrugada.
Ppois, um trago, tira lá de dentro da gente,
as “quiçaça” e os “restoio” de enchente
das tempestades desta nossa vida dolente.
E, o peito do doutor, ”vortará” a fica leve,
feito uma “pruma” no vento, e muito breve,
a cabeça fica fria “qui” nem uma chuva de neve...
23
VIREI POESIA
Já fui o pó da estrada que a boiada pisou.
A estrela que o boiadeiro no alto apontou.
Já fui a lua de prata que enfeitava o mundo,
E, ainda, o sol morno das manhãs de junho...
Já fui céu de poeta, já fui luar de lua cheia.
Já fui chuva na seca do sertão, já fui oração
na boca de benzedeira, já fui fogo de graveto
esquentando janta magra, já fui leite de mãe...
Já fui ladainha nas rezas e festas dos sertanejos,
Já fui capim de pasto, fui pisado, nasci de novo.
Já fui passarinho fraco no forte sol de setembro,
galho seco de ninho vivo, nasci ovo, tornei ave...
Já fui de tudo na vida: já fui anjo e melodia, dia
quente e noite fria. Já fui bom de poesia e ruim
de caligrafia. Já cantei a matemática e decorei a
geografia. Já fui Deus, já fui o guia, virei poesia...
24
COMO SE BULISSE COM A MÃO DE DEUS
"Espera do teu filho o mesmo que fizeste a teu pai."
Tales de Mileto
Inocentemente seguro sua mão miúda.
Busco no além o sono da sua noite.
Rogo aos deuses a sua proteção.
Que seus sonhos sejam leves,
breves seus pesadelos.
Inocentemente seguro sua mão miúda.
Se eu lhe passo paz, passa-me vida.
Se lhe dou força, de onde a retiro?
Que jamais saiba meus medos,
segredos que guardarei.
Inocentemente seguro sua mão miúda.
Como se bulisse com a mão de Deus.
25
QUANDO SE PERDE UM AMOR
Por amor
não se morre de repente.
Morre-se, a cada dia, invariavelmente.
Quem perde quem ama,
morre-se aos poucos, mas, constantemente...
Em cada ser e momento, uma morte diferente.
Quando se perde um amor,
Vai-se aos poucos se sentindo descontente...
Inesperadamente o prazer de viver se faz ausente.
Quando se perde um amor,
O peito fica dormente, a alma se perpetua descrente...
Somente a dor se mostra renitente e fere impiedosamente.
Por amor
Já fiquei convalescente, morri assustadoramente...
Por outro amor renasci mais intenso e experiente.
26
Por amor
tudo se faz, tudo é possível, até mesmo o incoerente,
desde que se ame excessivamente e inexplicavelmente...
27
O SILÊNCIO
"O som aniquila a grande beleza do silêncio."
Charles Chaplin
O silêncio não raras vezes,
fala por si só, e diz mais
que várias palavras vazias.
Em silêncio
entendemos sempre
as falas do coração;
deciframos a mensagem
que transmite cada olhar;
no silêncio a mão de Deus
nos acaricia o corpo e a alma.
Mil vezes quisera eu ouvir
o silêncio ao invés de palavras vazias.
Mil vezes ouvi o que não queria
sem dizer que preferiria o silêncio.
Tinha eu motivos para enlouquecer;
mas, a cada noite o silêncio me trazia a paz
que me livraria para sempre da demência.
28
Quando o silêncio fizer
o tempo parecer parado,
esta será exatamente
a hora da calma e do
refazimento de nós mesmos;
Nesta hora o irreal tornará real,
o impossível tornará possível,
tudo se fará por si só
e saciará tua alma
e também o teu corpo.
Tudo ficará farto de vida e paz...
O silêncio dita aos homens
as palavras que fazem parte
apenas da linguagem dos anjos.
O silêncio vale muito mais
do que parece valer,
no silêncio encontramos
até os caminhos perdidos;
e quando tudo parecer sem saída;
fiquemos em silêncio e novamente
a mão de Deus nos mostrará a direção a seguir...
29
ANDARILHO DO MUNDO
Sou andarilho do mundo.
Possuo, para minha alegria, apenas a noite e o dia...
Sigo a estrada da vida de mãos dadas com a saudade.
Vou brincando de ser criança, vou embalando sonhos,
Todas as manhãs acordo nos braços da mãe santíssima.
Sou andarilho do mundo.
Nenhum Porto me aguarda para sossegar...
Vou escoltado no balanço das águas do mar,
Acaloro-me na quentura do forte sol matutinal,
Ancorarei, um dia, se Iemanjá vier a me chamar.
Sou andarilho do mundo.
Vou pro lado que o vento vai...
Sigo cantando a música do tempo.
Segurando nas asas lindas de um anjo,
Voltarei, um dia, quando aqui Deus me chamar.
30
DELIRANTE ESPERA
Esperei por ela a minha vida inteira,
e chega assim: sem aviso e cerimônia.
O tempo todo, eu sabia que existia;
porque brincava nos meus sonhos,
dormia na minha cama, acariciava
meus cabelos e era seu o meu amor.
Sempre tive ânimo para prosseguir
mesmo que hostil fosse o caminho,
pois sentia que não andava sozinho.
Jamais com ela me deparei, minha
vida inteira a esperei, apenas em
sonhos a avistei - e como sonhei!
Mas, há muito tempo já a conhecia;
parece que sempre permanecia
sob meus olhos, sob o meu teto,
sempre tão repleto daquela bela
e meiga extraordinária figura dela.
31
Minha vida inteira a esperei
e sempre soube que chegaria;
nosso amor antes mesmo de
existirmos há muito já existia...
Surgira no tempo dos faraós
para reinar por toda eternidade
e bailar feliz na dança do tempo.
Esperei a vida toda por esse sorriso
esperei a vida toda por essa carícia,
ímpar e pura como nada no mundo,
mesmo que dure apenas um segundo,
que seja puro, único e somente meu
como nada fora até agora além dos
meus sonhos loucos e desvairados.
Esperei por ela a minha vida inteira,
e chega assim: sem aviso e cerimônia.
32
DESSEMELHANTE
Preciso de um outro Eu...
E, de um minuto seu,
de sua atenção,
de sua mão...
Talvez, eu de novo,
não serei eu integralmente,
e, quiçá, da parte dessemelhante,
você venha a gostar um pouquinho mais.
E, assim: eu serei mar,
e bicho, e serei ar,
pedra e chão,
até seu cão...
Serei amor,
adoração...
33
HOMENS DUROS
Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás
os dias passavam sem pressa nenhuma...
Eram iguais, afora quando tinha velório.
Todos pensavam apenas em suas tarefas,
batalhavam com a terra e com o gado...
Homens duros, pareciam feitos de ferro.
As mulheres enfrentavam fogões quentes,
lavavam em águas demasiadamente frias...
Pariam e criavam na precariedade das lonjuras.
No trabalho os dias nem eram notados,
apesar da paciência com que passavam...
A não ser pelas precoces rugas das mulheres.
A vida era feita de dores e pavores,
mulheres já eram velhas aos quarenta...
Também, com doze ou mais filhos!
34
De vez em quando corria notícia de algum terrorista
que matava, partia em pedaços famílias inteiras...
Meses sem sair à noite, dormiam com um olho aberto.
Cachorro latia, lá vem o bandido, homens a postos.
Graças a Deus! Alarme falso. Raposa apanhando galinha...
Notícias que mataram o sujeito lá pras bandas de Minas.
A paz volta a reinar, tornam os bailinhos de final de semana.
Causos pra contar por uma década sobre os mais medrosos...
Inda bem! Senão os dias passariam ainda mais arrastados.
Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás os dias passavam
sem pressa nenhuma... E, eu ali, crescendo sem perceber...
Escapando de serpentes, correndo de vacas... Sendo feliz.
35
INSENSATEZ NOTURNA
Caso eu soubesse o caminho
penetraria no teu dormir
e desvendaria
os teus sonhos.
Participaria deles,
entusiasmaria os finais
e patentearia o direito
de sempre estar
no teu sonho.
Daria a cada noite a você
uma nova emoção;
forte o bastante
para fazer-te delirar.
Em cada canto do teu sonhar
estaria eu,
parte inerte de
um mundo-delírio,
fantasioso e fantástico.
36
Com o andar do tempo
você passaria a confundir
teus delírios com a realidade,
e, à noite, ao dormir,
teríamos um mundo à parte,
somente nosso,
impenetrável e desvairado...
E, nós, a sós,
num delirante mundo próprio
a curtir cada minuto de uma
íntima insensatez noturna.
37
TEMPO VAZIO
"À beira de um precipício só há uma maneira de
andar para frente: é dar um passo atrás."
Michel de Montaigne
Cadê o dia calmo que me prometeram?
Onde está aquele amor que era meu?
Onde está o tempo bom que eu tivera?
Hoje, meu tempo é vazio...
Tenho saudade da saudade que sentia outrora,
e da época que ainda existia amor e palpitação.
Agora, estou fora do prumo...
Desvairado pelos atalhos da vida.
Saí do rumo, perdi a bússola, findou a trilha.
Hoje, meu tempo é vazio.
Falta-me o ar de antes e a sede da busca,
Furtaram-me até a cobiça de persistir na vida...
38
ASSIM QUE SE MATA UM AMOR
Pirraça, desfeita o meu coração,
brinca com o amor, faça pouco...
Daqui a precário tempo
meu coração se acostuma
a buscar em outros braços,
novos carinhos, outros rumos.
Pirraça, desfeita meu coração,
é assim que se mata um amor
forte e enraizado feito o meu.
Vá que ele se cansa de tolerar,
vá que ele se cansa de esperar
um tempo novo e de bonança.
Pirraça, desfeita meu coração,
Numa noite fria e qualquer
sentirá falta do meu beijo.
E será um tempo distante,
eu serei outro, você também,
e o amor não mais existirá...
39
SE O MÁRMORE ESTILHAÇAR...
Se o dia demorar a surgir
se a roseira não mais florir
se o bombeiro não impedir
que o fogo destrua a poesia...
Se o silêncio e a calma
explodir os tímpanos,
se a gaiola não se abrir
se o mármore estilhaçar...
Se o débil não se queixar
se a corda não se afrouxar,
se o astro-além escurecer,
se o homem não funcionar...
Se o amor tornar saudade
se o sofrimento imperar
se o doce tornar amargo
se o canto virar lamento...
40
se o livro se desfolhar
se o cantor emudecer
se a serpente golpear
se a noite se extenuar.
Se a cor se desbotar
se o belo tornar-se feio
se a dama não for fértil...
Se a maré enfurecer
Se o barco afundar
se o peixe tiver fome
se o vizinho fizer festa.
Se a menina for virgem
se à tarde não anoitecer
se a estrela não brilhar.
Se Deus não nos iluminar
seremos os últimos
malfeitores de
um mundo
impróprio
ao uso.
41
AMO-TE COMO A MIM MESMO
Amo-te como amo a mim mesmo.
Choro em bicas se te vejo chorar.
Com tua felicidade eu sorrio feliz
Tu és a fina flor deste meu jardim...
Quando zombam de ti,
meu rosto fica num rubro carmim,
viro fera indócil; pronto a desaforar
quem brincou de zombar, de zombar de ti.
Assombro-me com o tamanho deste amor.
Tu és o ar que eu respiro. O chão que piso...
Perco o fôlego e a coragem
se penso que posso perder-te.
Este amor é maior que o mundo,
é fecundo e cresce a cada segundo.
Esta idolatria passou a ser a minha vida,
e meu coração pulsa no pulsar deste amor.
Sei... Amo-te muito mais do que a mim mesmo.
42
ARMADILHAS...
Quando é noite
meu amor é mais amor.
Levanto bandeira branca, ajoelho,
Se antes brigamos, não me lembro mais.
Agora quero colo, calo-me, emudeço, pareço santo,
Espero que não resista e insista para que eu te ame.
Quando é noite
meu amor é mais amor.
E quando tudo se mostra sereno,
nas minhas entranhas berra o amor,
Eu enlouqueço, perco o passo e o compasso,
pasto a relva da solidão, faço juras, peço perdão...
Quando é noite
meu amor é mais amor.
E, você sabe disso e me enfeitiça,
eu, atraído, caio no laço das suas armadilhas...
E o amor se faz como da primeira vez de nossos corpos,
O amor se faz, como se fosse à última vez desses amantes.
43
MOÇA QUE PASSA
“Teus olhos deixam marcas esculpidas
na minha alma de homem. ”
Ivan Corrêa
Moça que passa
dê-me uma frase que
eu lhe darei um poema.
Meus versos são brancos,
sem enfeites e sem rima,
são frágeis e sem metrificação.
Combinam, porém,
com seu olhar de mulher
acriançada e desprotegida...
Moça que passa quem a enlaça nos braços?
Moça que passa
de sorriso e graça e pele aveludada.
Seus cabelos são cor de mel,
seus passos são divinais...
Seu olhar enfeitiça e atiça...
44
Quando você passa
faz sofrer todas mulheres
dos viventes inominados
dessa minha rua sem cor.
Moça que passa
fala-me onde se oculta
quando não passa.
Minha deusa da beleza,
leve este mísero poema,
desse perdido poeta louco,
que voltou a ser menino,
depois que viu passar,
a moça que passa
todo santo dia na minha rua.
45
DESEJOS
“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o
vento passar, vale a pena ter nascido.”
Fernando Pessoa
Do vento a lânguida carícia,
dos seus lábios os beijos
quentes, molhados e loucos,
do seu olhar a doce ternura.
Do vento a íntima leveza,
do seu corpo todo o desejo
e tenros afagos da paixão,
do seu dormir o sossego.
Do vento a pura liberdade,
de você o amor que pulsa
carente e real no seu peito,
do seu sorrir a calma e paz.
46
Do vento a falta de rumos,
de você o incerto e o lógico,
todo querer bem e meiguice,
do seu sonhar toda a fantasia.
Do vento o balançar das folhas,
do seu corpo o calor nas noites
e toda sua avidez em saciar-se...
É sua hora de amar e ser feliz.
47
NO AMOR NÃO HÁ MEIO-TERMO
Quem falou
sobre
o amor
não relatou
uma parte
essencial...
Não falou
que o amor total
é para sempre
sem medida,
nem se tem cura
a ulceração de um desprezo.
Também não falou
se quem ama e cai...
Torna na vida
a reequilibrar,
para outra vez
buscar o amor.
48
Quem relatou
sobre
o amor
omitiu
várias respostas
que eu vivo a buscar...
Sei apenas
que no amor não há meio termo.
49
O AMOR QUE POR TI EU SENTIA
"O homem não morre quando deixa de viver,
mas sim quando deixa de amar."
Charles Chaplin
Adormecera em mim todo amor que por ti eu sentia.
De repente você não era mais importante,
podia desaparecer para sempre!
Até mesmo a angústia que se via
neste peito não mais permanecia.
E, seu colo, antes aconchegante,
Agora era ninharia, esmola cara.
Aquele beijo que açucarava a boca
você perdeu e já não há mais em ti.
O amor serenou-se, fez-se fraco e feneceu.
Hoje, em mim, o forte afeto de antes
cedera espaço a uma descrença fatal.
50
Adormecera em mim o amor que por ti eu sentia.
De repente você não era mais admirável,
podia desaparecer para sempre!
O amor fez-se areia fina,
fugiu por entre os dedos,
desfez-se acabrunhado...
Igual ao perfume, perdera a fragrância,
submerso no aroma que nunca houvera.
Adormecera em mim todo amor que por ti eu sentia,
assim: do nada e de repente.
51
MULHER VOLÚPIA
Aquela mulher
de tão formidável
era a própria perfeição.
- Era carne e cheiro de sexo.
Aquele homem
fraco e encantador
igual a uma estrela cadente...
- Era ideia e ponderação.
Aquela mulher
tão cheia de vida
e esperanças mil.
Aquele homem
puro e perfeito
igual a um poema divinal
Aquele encontro
improvável como
o do sol e da lua.
Aquela mulher e aquele homem
52
unidos para sempre
como num eclipse eterno.
Um sonho
lindo e infinito
como o arco íris.
Era o amor,
grande, forte e impetuoso
igual ao mar.
Aquela mulher volúpia,
aquele homem razão...
Juntos inventaram
o amor perfeito,
carne e mente
unidos para
sempre.
53
MUNDO DE SEMIDEUSES E HERÓIS
Tem ocasiões na vida que,
tudo que se fez resta inútil.
O correto se torna ordinário e vulgar.
Por uma cratera aberta no meu peito,
esguicha, agora, um sangue meio cáustico,
de um vermelho intenso que não anestesia dor.
Tem ocasiões na vida que,
fosse melhor, não passar por alguns capítulos.
Quem sabe, ter o comando e congelar o tempo...
Ficar no antes, sendo tocado por uma brisa breve,
como fosse um sopro de Deus no nosso semblante.
Assim: como quem possui a alma pura, meio santa.
Tem ocasiões na vida que,
o soco não dói na carne, mas, na alma da gente.
E, é tão forte, que atinge mais os que amamos...
Tem horas, que feito uma implosão de um prédio
desabamos sem merecer, morremos, sem ser a hora.
54
Ao meio dia põe-se o sol e pronto. Noites tenebrosas...
Tem ocasiões na vida que,
como muito bem disse Rui Barbosa:
“o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Sobretudo, quando todos que nos cercam são santos,
vestais da honestidade, virgens de pecados e falcatruas.
Tem ocasiões na vida que,
Dão-nos náuseas tantos semideuses, trajados de modernos
ditadores, donos absolutos da verdade e de toda a situação...
Tem ocasiões na vida que, fosse melhor, adormecer
para não ver gloriar-se as inverdades, para não ver
comemorar-se as injustiças e penalizar os inocentes.
Tem ocasiões na vida que,
fosse melhor fechar os olhos
e pensar que tudo foi um sonho.
Um sonho muito ruim de se sonhar...
Aos: 07/08/2007.
55
VIVENDO MAIS LEVE
"Guardar ressentimento é como tomar veneno e
esperar que a outra pessoa morra."
William Shakespeare
Quando sou ultrajado com palavras
por quem eu amo ou não, e,
as quais sei que não mereço,
cerro os meus ouvidos e deixo que
o vento as leve para bem longe de mim...
Depois, refeito do sobressalto,
ainda me lembro de abrandar
as que teimosas ainda ficam.
Assim: vou vivendo mais leve,
e, quando quero chego a flutuar no espaço.
De maléfico,
que fique comigo apenas e tão somente o inevitável.
56
PERSUASÃO
Poema meu...
Sou seu criador e senhor,
lembre noite e dia e sempre.
E, responda se eu chamo,
Cale-se, se perco o juízo.
Poema meu...
Quero que vá com pura meiguice e tato
até aos ouvidos daquela linda mulher...
E, convença-a, com o aroma do bálsamo
e a força do amor, que a amo tanto e tanto.
Poema meu...
Atue com jeito, persista, se necessário for.
Se falhar, sussurre, se faça um poema épico.
Mas, não volte jamais sem tê-la convencido.
Ponha nos lábios dela um sorriso, faça-a feliz.
57
Poema meu...
Eu ficarei vendo daqui a sua persuasão.
Se falhar, não falharei. Destruo-o por inteiro.
De ti não restará nem a lembrança da sua existência.
Apenas um silêncio de morte ante o seu fracasso na vida.
Poema meu...
Decida você, se perecerá
ou tornará admirável no mundo das letras.
Eu, seu criador, dono e amo, já sentenciei:
convença-a me amar, ou adeus poema anêmico.
58
NÃO TENHO ÁLIBI
Noticiaram através do rádio
que na última antemanhã.
assassinaram o Amor.
Não sei o porquê, mas, vieram
até a minha casa e disseram-me
que sou um dos suspeitos do crime.
Inquiriram-me onde eu estava
na última noite, indagaram-me
com quem passei a madrugada.
Perguntaram-me quais meus álibis,
e, quando disse que passei a noite
sozinho, condenaram-me de pronto.
Não fui o responsável pelo crime,
mas, nem dei importância pela
infração que eles me imputaram.
59
Pior que ser um suspeito do crime,
mais terrível até que ser condenado,
foi admitir que sou na vida um solitário.
60
PERDAS E DANOS
Nesta vida de duelos e lutos,
aleivosias, iras e inverdades,
de idas e vindas e saudades,
de pacatos, insanos e brutos...
De esperas certas e erradas,
de noites longas, infindas,
de faces encarnadas e lindas,
tão ignoradas ou marcadas...
Nesta vida tudo parece tarde,
e, não há mais tempo, ocasião,
tudo é segredo, dor e solidão,
não saio de cena sem alarde...
Nesta vida de perdas e danos,
de senhoris e donos, de fracos,
de negros e brancos velhacos,
de falhas, "acertos" e enganos...
61
É um tempo covarde, passageiro,
e vale mais os brilhos e câmeras,
e pessoas artificiais e adúlteras,
e, eu, desvairado neste atoleiro...
Neste tempo de medo e abandono,
onde a vida não vale um centavo,
caio de pé, mas não faço conchavo,
não calo. Eu grito, urro e questiono.
62
VALENDO-SE DA POESIA
Preciso,
com versos perfeitos,
romper as portas do seu coração...
E, após,
você já extasiada de poesias,
pediria para eu deixar de compor...
E, depois,
invés de fazer poemas,
faríamos, por horas a fio, apenas amor.
63
ROCEIRO AGUERRIDO
Nasceu com cheiro de chão.
Cresceu sentindo o gosto
da terra rubra na boca.
É parte deste bendito pó.
Foi forjado no tempo,
sol a pino ou chuva fria.
Lavrou sempre aquele chão
como quem buscava ouro.
Plantou todas as sementes
como quem plantava sonhos;
colheu todos aqueles grãos
como fossem troféus da vida.
Combateu aquelas ervas
como numa louca guerra.
Afrontou aquelas pragas
como disputa de ringue.
Venceu a todos e a tudo
como um exímio campeão.
64
Cravou exemplos no chão
do peito de quem amava.
Rogou a chuva bendita
que os fizessem enflorar.
Colheu fina flor nos atos
de vida de cada filho seu.
Cresceu no conceito de Deus
como fosse um pregador.
Percorreu cada caminho
como fosse a única trilha;
brincou com a sua dor como
se não doesse e nada fosse.
Pôs-se de pé a cada tropeço,
tirou proveito de cada lição.
Absolveu-nos a cada falta.
Viveu como quem brincava,
sofreu como quem gostava,
venceu como quem merecia.
65
UM AMOR DE VERDADE
Um amor de verdade,
é afeto que dura
no peito e na alma
e na calma dos anos...
O amor é feito
a branca lua no céu...
De tão alva é prata e
sempre salva o poeta.
Ao amante, maltrata,
pois, no céu da vida,
e na mente do homem
se insinua meio nua...
Nesse louco enleio da vida
vai abusando de seduzir...
Fazendo da dor ternura,
encobrindo a amargura,
que no peito ainda restará.
66
Um amor pra ter sido
amor verdadeiro,
não pode ter
sobejado o desgosto.
Se ainda existe uma dor,
o que parecia amor,
amor jamais foi.
Um amor de verdade
vivo permanece
no peito e na alma
e na calma dos anos.
67
UMA CARGA DE PESARES
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
Cecília Meireles
Aqui neste caminho
curvo e de chão batido,
vou eu mudando passos...
Carregando às costas
uma carga de pesares.
Neste mesmo caminho
outrora passei menino,
montado no cavalo de pau...
No alforje, no lombo criança,
transportava sonhos e ilusões.
68
Neste mesmo caminho
rastros ficam na poeira,
lembranças na memória...
As dores vão ficando
num canto do peito.
Neste mesmo caminho
tudo ainda está igual,
As árvores e as flores
ainda estão como antes...
Somente o caminhante,
já não é mais o de ontem.
Neste mesmo caminho
hoje com passos trôpegos
caminha apenas a sombra
daquele menino verde...
E, já não há mais sonhos,
já não há mais sonhador.
69
O AMOR É SEMPRE SURPREENDENTE
O amor é sempre surpreendente.
Numa hora qualquer
e em qualquer lugar,
passa à nossa frente...
Numa hora dessas
haja serenamente,
sem nenhuma pressa,
a sua única hora será essa.
Faça-o parar e ficar
e com um jeito
meigo no olhar,
comece a amar...
70
Jamais renuncie ao amor,
vista-o e saia por aí
a surpreender
quem não ama.
Pois,
o amor é sempre surpreendente.
71
O MEU OUTRO EU
Às vezes caminha comigo
um sujeito estranho,
de pensamentos impuros
e tantos desejos loucos.
Às vezes, este sujeito
confunde-se comigo,
e, na dúvida não sei,
se eu ainda sou eu;
ou, se agora sou ele.
Às vezes caminha ao meu lado
a sombra de um indivíduo;
em ocasiões tão diverso de mim,
noutras tão parecido comigo.
...Às vezes caminha comigo
o meu outro Eu.
72
QUE SERIA DOS POETAS?
Que seria dos pobres poetas
não fossem os mistérios
do corpo da mulher?
- retrocederiam mudos.
Se os bardos compõem seus versos
são graças a criaturas como tu...
Graciosas e belas,
deusas do mundo!
Se habilidade os céus me concedessem
queria te compor um admirável poema.
Desses capazes de cruzarem fronteiras
e se perpetuarem entre todos os homens.
Faria com que fosse exclusivo:
feito a branca lua de São Jorge.
Belo como Sonata de Beethoven,
Perturbador feito verso de Drummond.
73
PROCURO UMA PAIXÃO
Para que nasça de mim
a poesia mais perfeita,
procuro uma paixão...
Uma paixão que me
altere a consciência,
e sorva minhas energias,
que traga uma emoção,
que espelhe a felicidade,
que seja sonho e realidade.
Procuro uma paixão
em que o meu ser amado
seja apenas graça e prazer,
que seja envolvimento,
entrega e sedução,
que seja uma paixão
pura como eu e
que me aceite
como sou.
74
Procuro uma paixão
que recrie meus melhores
momentos, que seja
maiores que os já vividos,
busco uma paixão que
seja apenas encantamento,
procuro uma paixão real
recheada de sonhos...
Procuro uma paixão
em que nos mostramos
soltos de todas as amarras,
em que sejamos
sempre nós mesmos,
sem medos e sem traumas;
procuro uma paixão
para ser vivida por inteira,
sem eira nem beira...
Procuro uma paixão
que não tenha tempos
de crise e melancolia,
75
busco uma paixão
em que a espontaneidade
seja regra e seja guia;
que seja de intimidades
e emoções diversas...
Procuro uma paixão
que seja companhia,
que seja ato e contato,
que seja vida e poesia,
que seja noite e seja dia,
que não seja distância
e que a ânsia de agradar
seja natural, etc. e tal...
Procuro uma paixão
que seja um presente divino,
que crie vínculos ou não,
mas que seja
enquanto perdurar
uma desvairada
paixão...
76
BATALHAS DA VIDA
"Engraçado, costumam dizer que tenho sorte. Só eu sei que
quanto mais eu me preparo mais sorte eu tenho.”
Anthony Robbins
Nada na vida eu ganhei no grito.
Tudo veio da batalha do dia a dia,
Sei a hora de lutar e jamais hesito...
Abro o peito e busco o que acredito.
Se pesar o fardo, redobro a energia,
E, com pujança, perder nem cogito...
Sozinho, sei me tornar um exército.
No meu glossário não há covardia,
Se cair, caio de pé, puro e inaudito...
Nada é mais magnífico que o infinito.
Viver já é uma dádiva, uma honraria,
Cada passo que eu dou a Deus felicito...
77
SEU SEGUNDO AMOR
Serei sempre o seu segundo amor...
No seu mundo,
viverei à sombra de tudo.
Serei sempre o seu segundo amor...
E, mesmo assim, me satisfaz.
Serei seu apenas quando tiver fome.
Serei sempre o seu segundo amor...
Quando faltar-lhe carinho,
no meu corpo estará à comida do seu corpo.
Serei sempre o seu segundo amor.
E, a força do meu amor,
deixará que me goste do jeito que puder...
Serei sempre o seu segundo amor.
E a hora que desejar,
serei sua água, seu mar e seu porto...
78
Serei sempre o seu segundo amor.
Não quero nem ter nome.
Serei o seu amor perfeito na imperfeição dessa vida...
Serei sempre o seu segundo amor.
E, isto me basta.
Na vida, quero apenas, sem ordem alguma, ser o seu amor.
79
VIVENDO SONHOS
Não te amei
como merecia:
passei a vida
fazendo planos,
vivendo sonhos...
Não te amei
como devia amar:
levei a vida
plantando flores,
colhendo poesias...
Eu te amei
de um jeito
covarde;
agora arde
no peito meu este pesar...
80
Não te amei
quando podia.
Agora é tarde:
passou a vida,
ficou saudade.
81
AMOR, ÓDIO E INSENSATEZ
"Para Adão, o paraíso era onde estava Eva."
Mark Twain
Aquele homem assassinou
a serenidade do seu sexo.
Ele era bruto, forte e feio.
E, você gostou da ferocidade,
você cedeu àquela fortaleza.
Você chegou a ver encanto
onde nem havia beleza.
Aquele homem furtou
a pureza de suas entranhas.
Ele te fez mulher...
Você se contorceu, gemeu,
você se entregou e gostou.
Sentiu um prazer assustador
que nem ele mostrou que sentiu.
82
Aquele homem jamais saiu
de sua memória. Ele a persegue.
Você ainda ouve aquela voz,
você ainda sonha com a cena.
Você sozinha ainda
se contorce e geme,
sente a mesma dor,
goza o mesmo gozo.
Incrível! Você ainda faz amor com ele,
mesmo com ele ausente fisicamente.
Aquele homem deixou
em você um pouco dele.
Você se lava, mas não se limpa,
e nunca se livra daqueles restos.
Ele é o espectro do seu pesadelo.
Ele é a imagem que surge hoje
quando você fecha os olhos.
Ele é miragem e lembrança,
seu passado e seu presente.
Estranhamente ele é o homem
de quando você faz amor sozinha.
83
O que você sente por ele,
é alguma coisa que se situa
no ínfimo território
que existe entre o
amor, ódio e a insensatez.
84
VOCÊ AINDA É O MEU AMOR
Talvez eu não me exponha,
nem admito que me desvende.
Mas, você ainda é o meu amor...
Hoje, sempre e para a eternidade.
Nos meus olhares
o amor ainda queima,
faço rimas, trovas,
e tento compor poemas...
Tudo em seu louvor.
Somente tu ainda
move este poeta
triste rumo à poesia.
85
EM OUTRAS VIDAS
Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido
senhor de escravos, sacerdote talvez.
Quem sabe sádico, um demente ou rei.
Quem sabe, eu, noutras vida, tenha sido
simples escravo ou servo de Deus.
Quem sabe santo, médico ou súdito
ou o renegado oficial da província.
Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido
cobrador de impostos do reino, o guarda, talvez.
Quem sabe, prostituta, mendigo ou alto policial.
Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido
um extorquido contribuinte ou um carrasco.
Quem sabe o homem que pagava amores,
quem sabe o homem que negava um pão,
quem sabe o maior entre os maiores ladrões.
86
Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido
o curandeiro da tribo ou o feiticeiro da vila.
Um caminhante cansado ou a mulher do véu.
Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido
o doente da aldeia ou o preso pela magia.
O guia do cego, o olheiro do caminho...
Quem sabe, eu, noutras vidas,
tenha sido simplesmente
o maior dos pecadores
que no mundo pisou.
87
FALARÁ POR MIM A POESIA
Minha melhor poesia é a que eu nunca registrei.
Esta, que jaz sonolenta, silente no meu coração...
Cada dia mostra uma face diferente, é camaleão,
Mas, nem por isso com ela jamais me indisporei.
No meu silêncio e sofrer, só ela me faz sentir rei,
É meu barco, é o meu leme e sabe bem a direção...
Faz-me adorar o caminho e me ostenta a floração.
É assim: livre e solta, faça chuva ou sol, é sem lei.
Um dia, no meu melhor momento a apresentarei,
e será uma festa, uma ocasião. Bem dela falarão...
Cruzará confins, outras línguas, marcará geração.
Somente eu serei o mesmo e discreto me calarei.
Falará por mim minha melhor poesia, mudo serei.
Baterei continência, e, a bela em total imensidão...
Será história, literatura, dissertação e doutoração.
E, ela a mim superará, vencido, de pé a aplaudirei.
88
EU A AMO TANTO
Eu a amo tanto...
É tão grande
o meu amor,
que eu descobri:
no mundo nunca
houvera amor assim.
Se existe na literatura,
bem soubestes o autor
a fazer entender o mundo
que assim amaram antes de mim.
89
NA SOMBRA DO MUNDO
Na sombra do mundo
escondo o meu rosto...
Deixo apenas exposto
O meu Eu vagabundo.
Este, enigma profundo...
Faz festa no desgosto.
E, é de mim, o oposto,
Um ser nauseabundo.
Assim, num segundo,
eu busco o seu posto,
eu recolho o imposto:
e surjo livre, fecundo.
90
Agora, vivo, abundo...
E me torno disposto.
Logo me transposto,
Volta o moribundo.
Na sombra do mundo
disfarço o meu rosto...
91
NÃO ME TENTE
Ah! amor, não me tente,
não me fale em saudade,
não me fale em vontade,
não diga que me espera.
Ah! não fale em abraços,
não me lembre de beijos,
não me fale de dengos,
não me peças carinhos.
Não vê que não posso
tê-la em meus braços,
rememorar é penar,
não poder é morrer.
Viver assim é padecer,
é exaltar a dor e pisar
no amor. É estar sempre
a marchar sobre o risco.
92
Ah! amor, não me tente,
não vê que sou fraco,
que não tolero tortura,
que não aturo o charme.
Ah! amor, não me tente,
não me teste; não fique
pedindo colo. Não peças,
se não te dou e te acolho.
93
DEPOIS DE CINCO WHISKIES SEM GELO...
Na madrugada passada
depois de três badaladas
daquele relógio da matriz,
de cinco whiskies sem gelo
e de quatro CDs românticos...
Não agüentei a dor que doía
e abandonado chorei por você.
Meu telefone não tocou
a internet não me salvou
meus amigos esvaeceram.
Esse whisky está anêmico,
essa música me importuna.
Essa dor eu sei que suporto.
Nem é por você que pranteio.
As mentiras não me salvaram.
Esse telefone é sempre mudo,
esse computador vive travando
94
e o whisky me embriagou.
Foi essa música que atiçou
e o meu coração disparou a
chorar pelo amor que findou.
Na madrugada passada
eu fiquei foi de porre
e compreendi que
ainda te amava.
95
DEPOIS DA NOSSA DESPEDIDA
Não te via
por detrás da porta,
mas parece que eu ouvia
as batidas do seu coração...
Não te via
gemendo de dor,
mas, a olhos vistos
percebia toda sua paixão...
Não te via
dilacerar-se por amor,
mas, o olhar que eu conhecia
revelava mais que todas as palavras...
96
Não te via
por detrás da porta,
mas eu ainda a tinha
dentro desse peito meu...
E, assim:
eu te tudo sabia,
eu mais que te via.
porque bem a conhecia
e muito mais ainda te amava e queria...
97
O ESCURO NÃO MASCARA A AMARGURA
Por que passou o tempo,
o tempo bom que tivemos?
Éramos dois corações na mesma palpitação,
tínhamos no beijo o sabor da louca paixão,
nossos caminhos pareciam uma só estrada...
Por que passou o tempo,
o tempo bom que tivemos?
O seu olhar refletia raios de felicidade,
nossas noites de amor acordavam os deuses,
nossos corpos formavam um só corpo ao amarmos...
Por que passou o tempo,
o tempo bom que tivemos?
A noite é a hora em que meu peito mais dói,
e tudo fica cinza e os clamores ficam roucos.
O escuro não mascara a amargura que restou...
98
Por que passou o tempo,
o tempo bom que tivemos?
Hoje exausto o tempo para no tempo de antes,
impregnado de medo, respirando lembranças,
permanece o pássaro no ninho, agora sozinho...
Por que passou o tempo,
o tempo bom que tivemos?
Em vão busca-se na noite o sono, a analgesia total,
e o tempo de outrora colado nas coisas e em mim,
modificaram a rua, mudou-se o tempo, mudara eu?
99
QUEM ME DERA!
Quem me dera
ter pelo menos a chance
de impedir que exista
o seu choro, seu tédio, sua angústia...
Quem me dera
ser seus mistérios, seus sonhos
ou simplesmente o homem
de quando você se adultera nos seus delírios.
Quem me dera
poder acariciar o seu rosto,
espantar seu desgosto,
levar-lhe a calma no corpo e na alma.
Quem me dera ser sua companhia,
seu guia e sua festa...
Espantar sua rotina
ser o Deus que a ilumina.
100
Quem me dera
ser seu troféu, seu apogeu,
compartilhar do seu fogo,
seu jogo, sua febre, sua magia.
Quem me dera
ser o que você mais combina.
Quem me dera!
101
BEM AQUÉM
Quando criança
muito desejava ser adulto.
Tornei-me adulto e
criança queria
tornar a ser.
De certo sou alguém
que não passa
de um vulto,
procurando no oculto
a razão para viver.
Quando poeta
tentava ser,
descobri que
minhas rimas
são por demais pobres,
não são para ouvidos nobres.
Também não sou nenhum Drummond,
muito menos sou um Fernando Pessoa.
102
PERDI O BONDE DA VIDA
“Se eu tombei de amor foi que o peso da dor inventou-se de
aninhar sobre os meus ombros.”
Ivan Corrêa
Nada indaguei,
não procurei
saber quem era,
de onde era,
de onde viera,
nem por que viera.
Quando aproximou
dei boas vindas;
vibrei com a chegada
de quem nem conhecia,
displicentemente
baixei a guarda.
103
Foi chegando e abrigou,
ficou onde não devia,
sem nem se dar conta
dei guarida e carinho,
dei até o que não tinha.
Afeiçoei-me demais
àquela desconhecida,
doei a ela um amor
louco, puro e pleno,
às vezes, brando, sereno...
Assim como chegou partiu,
partiu sem dizer aonde ia,
nem por que partia;
fiquei de peito aberto
sentindo a dor do amor.
...brincando de amar, amei,
amei e perdi o bonde da vida.
104
VALEU À PENA
“Não procure em mim um ponto final. Jamais encontrará.
No máximo deparará com um ponto e vírgula;
já um tanto afoito querendo prosseguir...”
Ivan Corrêa
Meu corpo crivado de estanho
caído no chão preto do asfalto...
No vermelho do sangue banho
e entrego meu corpo no assalto.
A vida acabou e a dor eu apanho,
conto estórias, invento e ressalto
que valeu à pena. E eu estranho
este artifício, e num sobressalto,
saio do drama, num dia tacanho...
Deus me chama e eu não falto,
vou... Seu grito eu acompanho.
105
ONDE ESTARÁ AGORA O MEU AMOR?
Onde estará agora o meu amor?
Será que onde está se lembra de mim?
Será que ainda sente desejo de me amar?
Quem, nas noites frias, beija sua boca?
Quem desfruta do seu meigo sorriso?
Quem acorda o seu corpo para o amor?
Quem, depois de amar você, para tudo
para te ouvir ponderar sobre a vida...?
Quem fala de MPB com você?
Quem ouve aquele CD romântico
segurando firme na sua mão?
Devo estar fazendo falta na sua vida.
Você partiu como se nada houvesse entre nós,
Mas, quem te teve como eu, sabe que era amor.
Sabe que a emoção corria solta no seu coração...
Sabe que o brilho nos olhos dizia mais que palavras.
106
Onde estará agora o meu amor?
Se eu soubesse, correria até ela e diria
que jamais deixou de ser o meu amor...
Mesmo ausente, você ainda é importante.
Diria a ela que eu a espero desde que foi embora,
todos os dias de minha vida a esperei e esperarei,
um amor igual ao nosso não é assim que se acaba.
Estou no mesmo lugar, ainda sou a mesma pessoa.
O meu beijo ainda tem o mesmo sabor,
meu corpo ainda possui o mesmo calor.
Porque você ainda é o meu amor,
hoje e sempre e para a eternidade...
107