View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
1/32
\
Editora Record
ROBERTO SEABRA VIVAlDO DE SOUSA ORG.
JORN LISMO
POLTICO
6
T e o
r-ia.c.Hj
s t z i a
e
T c n i c
as
Ningum perde tempo em analisar se
a mdia impressa, aprounda mais do,
que a mdia eletrnica, se a veloci-
da de da Internet atropela Ou no o
peridico, Pelo contrrio, nessa Babl
de acontecimentos, os fatos jornalisti-
cos vo se sedimentandocom a cola-
borao multimdia. No Brasil, a im-
prensa tida como um poder fiscal,
mas no nesse sentido da auditagem
das polticas pblicas, n~m ~o sentido
de valorizar como noticias os resul-
tados positivos eventualmente obtidos,
Xlesmo o fracasso das polticas pbli-
cas no noticiado com nfase, a no
ser que haja alguma denncia de im-
pacto a ser feita, A nova Cmara, en-
tretanto, no admitia violaes
Constituio, que apesar de prornul-
gada tinha entre seus princpios a
liberdade de imprensa. Os jornais
continuaram a criticar o poder real e,
em 7 de abril de 1831, D. Pedro I
abdicou c partiu para Portugal. Era a
imprensa firmando-se como porta-
voz da opinio pblica da poca. A
primeir regra bsica do oficio de
cmrevistadr, portanto, deve nascer
da compreenso de que, por maiores
que sejam as convergncias, lealdades
O simpatias pessoais, jornalista e
entre. istado esto em lados diferentes ~
do balco, Tm, em essncia, obje-
tivos diversos. L m. obter informao
de interesse da sociedade e. unindo o
til ao agradvel, matria-prima para
uma bela reportagem. Outro, vender
o seu peixe que, certas vezes, pode
realmente ser muito bom, mas cm
outras estar deteriorado, O Jornalista
no pode e no deve se comentar
apenas com a primeira verso. nem
mesmo quando e,la a oficial. Todos
os fatos tm yrias verses e todas
con;m um fragmento da verdade,
Cada poltico, ao repassar informa-
es para os jornalistas. com certeza
j ter feito uma avaliao preliminar
das conseqncias No existe infor-
mao que venha de graa. Descon-
fie quando isso acontece. H.; uma
dificuldade dos juizes em compreen-
der a atividade jornalistica e dos jor-
nalistas em entender o processo judi-
cial
Esse estranhamcnto mtuo, mais
do que atrapalhar a produo de no-
tcias pclo~ jornalistas, ou a formula-
o de sentenas pelos juizes, preju-
dica, sobreiudo, o cidado. Tanto o
jornalista quanto o homem pblico
tem um compromisso comum, a infor-
mao da sociedade, O jornalista tra-
balha com o exerccio da verificao
da informao, para apresentar, um
relato veraz dos acontecimentos de
interesse pblico, J? agente pblico
,est originalmente ligado
necessidade
de prestar eonta de seus atos. a partir
dos princpios do ireito administra-
tivo e de sua responsabilidade social.
lvaro Pereira
Cremil da Mdi na
Ellane
Cantanhde
Helena Chagas
Jorge Duarte
Juliano
Basile
luiz Martins
Mauro Santayana
Roberto Seabra
Rudolfo lago
Tereza Cruvinel
.
Viva Ido de Sousa
Wladimir Gramacho
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
2/32
alismo poltico: histria e processo
RO BE RT O S EA BR A
~~ SEABRA nas ceu em B raslia . jo rn alis ta e p ro fe ss or d e Comunica-
=: eprter do Corr eio B raz ilie nse , assessorde im prensa em vrios
- ; vernamentais e ch efe d e re po rtagem da A g nc ia B ra slia - por-
- - das do G overno do D istrito Federal. Desde 1998 jornalis ta da
: os Deputados, onde j desem penhou as funes de reprter,
= . . ire tor do Jo rn al da C m ara . mestre em Com unicao pela Uni-
:e
de Bras l ia e professor do Ce ntro U nive rsitrio de B raslia
- = . - - ) .
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
3/32
Um parntese
importncia - para quem exerce a profisso [ornalstca -
de se conhecer os fatos e personagens histricos j virou
trusmo. Talvez mais do que qualquer outra atividade profs-
.onal, o jornalismo exige das pessoas que lidam diariamente
m a coleta e a seleo de irl~ormaes um tipo de conhecmen-
horizontal e multifacetado, que d condies ao reprter, ed-
- r ou redator de avaliar a qualidade e a veracidade do aconteci-
mento, antes de decidir pela sua divulgao. Isso no impede,
claro, que o profissional de comunicao se especialize em deter-
mnada rea e aprofunde conhecimentos especficos. Entretanto,
~uando o assunto jornalismo poltico a especializao requer
zienos um saber tcnico - ao contrrio, por exemplo, do [orna-
Ismo econmico - e mais um saber plural - o que envolve
brigatoriamente conhecer a histria do pas.
Ou seja, jornalista que cobre poltica, que necessita produ-
zir ou editar notcias todos os dias sobre este tema para seu ve-
culo de comunicao no pode desconhecer a histria do pas
da mais remota atual) e a do mundo, pelo menos a contem-
ornea.
111
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
4/32
Jornalismo poltico
Portanto, este artigo pretende apresentar de forma didtica, mas
sem qualquer pretenso de substituir a literatura histrica, os prin-
cipais acontecimentos polticos que ocorreram no Brasil nestes
quase dois sculos de nao livre, e ver de que forma esta histria
moldou o jornalismo poltico que foi sendo desenvolvido no pas.
ro c es s o d ialt ic o
Francisco
Ig le sa s
em seu estudo
Trajetria poltica do Brasil
1500-1964 , nota que a histria do pas ao longo de quase 500
anos foi marcada pela dicotomia centralzao-descentralzao.
Segundo ele, haveria um processo dialtico na alternncia do
predomnio do centro sobre o todo ou em concesses por vezes
bem determinadas s vrias partes. liA centralizao corrige os
possveis excessos da descentralzao, como esta exigida para
evitar ou diminuir os daquela (lGLESIAS,1993, p. 295).
opo descentralizadora das capitanias hereditrias segue-
se a centralizao do Governo Geral.
monarquia parlamenta-
rista segue-se uma Repblica das Espadas , que por sua vez cede
espao a uma Poltica dos Governadores, etc. Tal dicotomia mar-
cou o carter da poltica nacional e influenciou certamente o tipo
de jornalismo forjado no pas a partir de 1808, quando da vinda
da Famlia Real para c e a criao da Imprensa Rgia. Se antes
dessa data havia organizao poltica no Brasil, no existiam, en-
tretanto, poder constitudo e condies materiais que permitis-
sem aos poucos letrados da Colnia produzirem alguma coisa que
poderia ser chamada de jornalismo poltico ou mesmo uma im-
prensa que relatasse os fatos polticos ocorridos nessas terras.
Do incio do sculo XIX aos dias atuais decorreram quase
duzentos anos de histria poltica e de evoluo do que podera-
112
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
5/32
Jornalismo poltic o: h is t ria e p ro cesso
mos chamar de imprensa brasileira. E se 1808 foi o ano em que
pela primeira vez na histria do continente americano um mo-
narca da metrpole pisava as terras de uma de suas colnias -
anda que por razes alheias sua vontade' -, foi tambm na-
quele ano, e no por coincidncia, que nascia o primeiro jornal
:rrasileiro: o Correio Braziliense - Armazm Literrio, editado por
Hplito Jos da Costa, em Londres. O fato de aquele jornal ter
'do produzido em outro pas e por um brasileiro que nasceu no
-ruguai e viveu boa parte de sua vida nos Estados Unidos e na
Europa torna ainda mais interessante o nascimento da imprensa
nactonal. Para uma colnia a quem foi sonegada durante mais
...e trs sculos a liberdade de imprensa e a possibilidade de ter
tm v e rsd a d e s - ao contrrio dos vizinhos da Amrica do Sul -,
restavam poucas opes alm dessa: a de contar com o
voluntarsmo de um visionrio, que, em 1
de junho daquele ano,
.anara o primeiro jornal brasileiro. '
verdade que um ms antes de circular a primeira edio do
orreio de Hiplito, um decreto real criou a Imprensa Rgia no
Brasil, na qual, conforme explica o texto na primeira pessoa e
assinado por D. Joo VI,
se
imprimiam exclusivamente toda a
.egslao, e Papis Diplomticos, que emanarem de qualquer
:epartio do meu Real Servio .
ApudMELO,
2003, p. 88.)
Hiplito Jos da Costa defendia uma transformao profun-
da de Portugal e do Brasil e achava que a presena da corte por-
:' guesa na principal colnia era a grande oportunidade para os
ais pases sarem do marasmo econmico, poltico e social em
~ue se encontravam. Segundo Isabel Lustosa:
,
. .
bloqueio continental imposto por Napoleo Bonaparte ao comrcio entre a Inglaterra
_ continente europeu teve em Portugal uma brecha . Em novembro de 1807 tropas
=cesas avanaram em direo a Lisboa, obrigando a Famlia Real portuguesa a transfe-
zr-se para o Brasil, sob a proteo da frota inglesa.
113
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
6/32
Jornalismo poltico
A forma que Hiplito achou para trabalhar pela mudana foi a
palavra impressa e livre de censuras, tal como ele via ser a prtica
no pas que o acolhera. A Inglaterra era um pas livre, onde a
monarquia constitucional era um fato; onde o Parlamento real-
mente funcionava e limitava o poder do rei; onde havia uma
imprensa livre. (LUSTOSA,2003, p. 13 e 14.)
Tomemos ento o aparecimento do Correio Braziliense como
marco do nascimento da imprensa brasileira e incio de um pro-
cesso que levaria ao surgimento do jornalismo poltico nacional.
Mas que rumos tomou o jornalismo brasileiro nesses quase du-
zentos anos de histria?
Primeira fase 1808-1831)
o
primeiro momento da poltica nacional marcado pela ins-
talao da corte portuguesa no Rio de Janeiro e as conseqncias
desta deciso: abertura dos portos s naes amigas, implantao
do ensino superior e da imprensa, etc., o que levou o pas a um
surto de desenvolvimento econmico e cultural. O momento tor-
nou-se to interessante que D. Joo VI decidiu ficar por aqui mes-
mo, para desespero dos portugueses, que queriam seu rei de volta.
A lua-de-mel da Coroa portuguesa com o Brasil acaba em 1820,
quando nobres e comerciantes portugueses fazem a Revoluo
Constitucionalista do Porto e exigem a volta do rei metrpole.
Mas o que aconteceu com a imprensa brasileira entre 1808 e
1831? Assim como as demais atividades, tambm passou por um
rpido florescimento. Surgiram dezenas de jornais, quase todos
amparados pela Coroa. Foi a fase da imprensa ulica, como mos-
tra Nelson Werneck Sodr:
114
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
7/32
Jornalismo poltico: histria e processo
Pela necessidade de enfrentar e neutralizar a ao do Correio
Braziliense,
[D. Joo VI] estimulou algumas tentativas de
periodismo, comeando pelos folhetos de tipo panfletrio e
complementando-se, logo depois, com rgos especficos do jor-
nalismo. (SODR, 1999, p. 30.)
Seguindo os passos da oficial
G azeta do R io de Janeiro ,
de 1808,
surgiram publicaes como
Idade de O uro do B rasil
(Salvador, 1811),
que trazia em sua epgrafe a promessa de oferecer aos leitores
l ias
notcias polticas sempre da maneira mais singela , ou O
Investiga-
dor Po rtu gu s
(1818), que, assim como o
Correio Bra zil ien se,
era
publicado em Londres, mas distribudo no Brasil e usado inicial-
mente para responder aos ataques do jornal de
Hplto.
A Revoluo do Porto (1820) acelera o processo de autono-
mia do Brasil em relao a Portugal. D. Joo VI obrigado a
retomar e comeam os trabalhos de uma Assemblia Constitu-
. te que reunia representantes portugueses (maioria) e brasilei-
ros (minoria). Para a imprensa brasileira o perodo de dilogo
com o
Correio Braz i l iense .
Como mostra Isabel Lustosa: Hplto
saudou os primeiros jornais e jornalistas independentes que emer-
. .am na cena impressa brasileira finalmente tornada livre .
USTOSA, op. c it., p. 19.)
O processo de independncia, que tomou fora a partir de
:821, portanto, permitiu o surgimento dos primeiros jornais li-
. es. Ironicamente, o primeiro jornal, a
G azeta do R io de Janeiro ,
.em a ser editado pelo antigo diretor da censura, o baiano Jos
:: a
Silva Lisboa. Conservador, Lisboa usava sua folha inclusive
a condenar a liberdade de imprensa.
, .
c
~ um segundo momento, a Coroa portuguesa perdeu o controle sobre O
Invest igador
gus, que passou a ser perseguido pelo embaixador luso em Londres e proibido de
zzcular no Brasil. (VerNelson Werneck Sodr, o p . c it , p. 3234.)
115
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
8/32
Jornalismo poltico
Expoentes do movimento manico lanaram no mesmo ano
o
Rev r ber o Co n stitu cio na l F lum in en se,
este sim considerado o pri-
meiro jornal livre editado no Brasil a tratar de assuntos polticos
e que defendia as idias da Revoluo Francesa. Meses antes, sur-
giu o D irio do R io de Janeiro , considerado por Sodr o primeiro
jornal informativo a circular no Brasil. Destaque deve ser dado
ao
Dir io Cons tit uc iona l,
editado na Bahia, e que provavelmente
foi um dos primeiros jornais a defender os interesses polticos do
Brasil contra Portugal.
Os conflitos de interesses nos trabalhos das cortes portugue-
sas levam a Coroa a exigir, em dezembro de 1821, o retorno ime-
diato de D. Pedro I. A imprensa nascente v nessa deciso uma
tentativa de reatar os laos coloniais e comea o movimento do
Fico . So desse perodo jornais como o
Desper tado r Bra z ili en se
e
A Ma la gu eta ,
que lideraram o movimento de permanncia do
prncipe regente no Brasil. No ano seguinte aparece o Co rr eio d o
R io d e Ja neiro , citado por Isabel Lustosa como, talvez, o mais po-
pular jornal da cidade - e portanto do pas, j que nesse perodo
os nicos jornais a circular no pas so do Rio de Janeiro - e que
vai atacar as primeiras medidas centralizadoras de Pedro I.
A Independncia, como se sabe, consumou-se em setembro
de 1822. As disputas polticas que marcaram os primeiros anos
do Brasil livre refletiram-se na imprensa poltica. A separao
definitiva de Portugal exigia uma imprensa atuante. Entretanto,
foras antagnicas, tendo de um lado o grupo de Bonifcio de
Andrada e, de outro, o de Gonalves Ledo, foraram uma guerra
ideolgica que transformou os jornais da poca em verdadeiras
trincheiras. Foi um perodo violento, marcado por agresses fsi-
cas a donos de jornais, queda do gabinete Andrada e dissoluo
da Assemblia Constituinte convocada por D. Pedro I.
116
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
9/32
Jornalismo poltic o: h is t ria e p ro cesso
o
imperador outorga a Constituio de 1824, que, apesar de
imposta, duraria at o fim do reinado de seu filho D. Pedro Il,
em 1889. Entre a Carta constitucional e a abdicao de Pedro I, em
1831, a imprensa brasileira passou por um momento de afirma-
o. Contou para isso a impopularidade de Pedro ., a Guerra
Cisplatina (vista pela populao como um conflito sem senti-
do), conflitos regionais de emancipao poltica, nos quais se
destaca a Confederao do Equador, e o incio do funcionamen-
to regular do Parlamento, em 1826. No Legislativo, situao e
oposio travam verdadeiras batalhas usando a tribuna e a im-
prensa. Um acontecimento que ilustra bem o acirramento des-
sa disputa o assassinato, em 1830, em So Paulo, do mdico e
jornalista italiano Lbero B a d a r redator do Observador Consti-
tucional,
publicao que no poupava ningum, hostilizando
bispo, o ouvidor e o presidente . (SODR, 1999, p. 112.) Outros
dois personagens simbolizam bem esse perodo: Luis Augusto
M ay editor de A
Malagueta,
perseguido e espancado a mando
do prprio imperador, segundo algumas fontes; e Cipriano Ba-
rata, editor do
Sentinela da Liberdade,
e que passou mais tempo
preso do que em liberdade, o que no o impedia de escrever seus
libelos contra o poder.
Os conflitos no Parlamento e nos jornais levariam ao Sete de
Abril, que marca o fim do reinado de D. Pedro I. Meses antes, na
Fala do Trono com que abriu a segunda Iegislatura, o imperador
j pedia medidas enrgicas contra a imprensa. A nova Cmara,
entretanto, no admitia violaes Constituio, que apesar de
promulgada tinha entre seus princpios a liberdade de imprensa.
Os jornais continuaram a criticar o poder real e, em 7 de abril de
1831, D. Pedro I abdica e parte para Portugal. Era a imprensa fir-
mando-se como porta-voz da opinio pblica da poca.
117
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
10/32
Jornalismo poltico
Perodo reqenclal,
Iglesias afirma que a renncia de D. Pedro I pode ser vista
como a consolidao da independncia. O perodo regencial, que
se segue, ser marcado pela nitidez ideolgica de dois grandes gru-
pos polticos: liberais e conservadores, cada qual com seus res-
pectivos jornais. Ser tambm um perodo onde o poder real
desaparece temporariamente: de 1831 a 1840 a Repblica foi
experimentada em nosso pas. (...) A Regncia foi a Repblica de
fato, a Repblica provisria . (Ioaqum Nabuco, apud IGLESIAS,
1993, p. 145.)
No existiam ainda no Brasil partidos polticos, mas sim gru-
pos que representavam trs grandes faces: os exaltados (libe-
rais radicais tambm conhecidos por farroupilhas ou [urujubas),
os moderados (grupo de centro cujos adeptos so chamados de
chimangos) e os restauradores, ou caramurus (polticos conser-
vadores que defendem a volta de Pedro I).
O perodo regencial marcado pela multiplicao de jornais
e folhas. Em 1832, segundo Sodr, havia mais de cinqenta jor-
nais no pas, quase todos I/agressivos, injuriosos, menos preocu-
pados com os problemas gerais do que com as pessoas, espalhando
a confuso e sem o menor respeito pela vida privada de ningum .
(Otvio Tarqunio de Sousa,
apud
SODR, 1999, p. 122.)
Essa imprensa marrom de variado matiz ideolgico no ir
poupar ningum. Como lembra Sodr, tudo repercutia na Cmara
e na imprensa. So desse perodo jornais como C a ramuru, T rom -
be ta , C la rim , D irio d o R io e Au ro ra F lum i nense , sendo este ltimo
dirigido por Evaristo da Veiga, poltico chimango que sofreria um
atentado promovido por pessoas ligadas ao jornal Caramuru , por-
ta-voz dos restauradores. Esse caso ilustra bem o clima de dispu-
118
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
11/32
Jornalismo poltico: histria e processo
ta da poca. A maioria das publicaes na verdade era composta
por pasquins que tinham uma vida breve e que lanavam mo
de um tipo de humor violento.
Alm de participar das disputas no centro do poder, a imprensa
brasileira daquele perodo teve um papel relevante nos conflitos
regionais. As revoltas provinciais mais importantes (Cabanagem,
no Par; Sabinada, na Bahia; e a Farroupilha, no Rio Grande do
Sul) tiveram a participao de uma imprensa revolucionria. S
para ilustrar: o jornal
Novo Dirio da Bahia,
lanado por Sabino
Vieira em 1837, seria no apenas o motor da revolta baiana, mas
emprestaria o nome de seu autor ao movimento. A nica exce-
o talvez tenha sido a mais sangrenta das revoltas: a Balaiada,
no Maranho, onde a imprensa praticamente no existiu, por se
tratar de movimento genuinamente popular, da plebe contra os
potentados do Maranho , como explicou Capistrano de Abreu
(SODR, 1999, p. 135). Mas at essa lacuna talvez explique o pa-
pel da imprensa poltica naquele perodo.
As disputas polticas no centro e as rebelies nas provn-
cias moldaram o perodo regencial e cristalizaram dois gran-
des grupos polticos e que seriam, segundo Boris Fausto, os
germes dos dois grandes partidos polticos do Segundo Reina-
do: o Conservador e o Liberal. Seria tambm a cristalizao da
imprensa liberal e da imprensa conservadora, com seus respec-
tivos jornais.
Nada mais conservador ...
A consolidao do poder entre dois grandes grupos daria ao
Segundo Reinado uma certa estabilidade. Como se dizia na po-
ca nada mais liberal que um conservador na oposio, nada mais
119
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
12/32
Jornalismo poltico
conservador que um liberal no governo , ou seja, ambos os grupos
representavam uma s classe: a aristocracia. Reaes liberais acon-
teceram em Minas Gerais e So Paulo, mas lideradas por grandes
latifundirios que se rebelavam contra a cobrana de impostos.
A verdadeira imprensa lberal atuaria ainda em Pernambuco,
em 1848, durante a Revoluo Praieira. Os revolucionrios apoia-
vam o federalismo e tinham como porta-voz o Jornal Novo,
sediado na Rua da Praia, de onde derivou o nome do movimen-
to. O nome da publicao opunha-se ao que consideravam o [or-
nal velho , o Dirio de Pernambuco, surgido em 1825 (e em
circulao at os dias atuais) e que representava, naquela poca,
o pensamento conservador. A Praieira, como lembra Bor s Fausto,
foi a ltima das rebelies provinciais.
A imprensa durante as dcadas de 50 e 60 do sculo XIX vai
refletir o clima de conciliao poltica e acordo entre as elites.
Para os donos do poder, a imprensa deve, segundo o historiador
Nelson Werneck Sodr, contrbur para a consolidao da estru-
tura escravista e feudal que repousa no latifndio e no admite
resistncia op. cit., p. 182).
Segundo Sodr, ser, portanto, um perodo de declnio do
jornalismo poltico:
Na fase posterior
Maioridade, poucos foram os jornais que sus-
tentaram a luta, nesse terreno; os ltimos apareceriam em Per-
nambuco, com a Praieira (...) Nos fins da primeira metade do
sculo XIX, os pasquins haviam desaparecido, praticamente.
(Idem, p. 185.)
3 A frase original
atribuda ao poltico pernambucano Holanda Cavalcanti: Nada se as-
semelha mais a um 'saquarema' do que um 'luzia' no poder . Saquarema era como os
conservadores eram conhecidos, em aluso ao municpio fluminense onde os principais
chefes do partido possuam terras; e luzia era o apelido do liberais e uma referncia
Vila de Santa Luzia, em Minas Gerais, bero da revolta liberal de 1842. (Ver
Bors
Fausto,
1999, p. 180.)
120
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
13/32
Abusca pela modernizao capitalista teria um grande
mpul-
so com a economia cafeeira, primeiro no Rio de]aneiro e em se-
guida no oeste paulista. Para atender ao forte mercado produtor
interno, foi preciso modernizar o sistema de transportes, com a
abertura de estradas e ferrovias. Transporte naquele tempo tam-
bm significava comunicao.
O trem de ferro passou a transportar no s mercadorias, mas
tambm informaes. Como lembra Cremilda Medina, jornais
tradicionais G a ze ta d e No tc ia s, J orn a l d o Com rc io modernizam-
se e surgem novos rgos de imprensa que iriam marcar a segun-
da metade do sculo XIX e a primeira metade do sculo seguinte.
Entre estes podemos citar o J orn a l d o B ra sil, O Esta do d e S. Paulo ,
o Cor re io Pau lis tano , O Pas e o Co rre io d a Ma nh , entre outros.
No plano poltico, vemos o pas deixar o perodo da calmaria
da dcada de 1850 e ingressar em uma fase de incertezas. Em 1864
estoura a Guerra do
Pa r a g u a
que vai se arrastar at 1870. No
Jo rnalismo poltic o: h is t ria e p ro cesso
A conciliao poltica permitiu um princpio de moderniza-
o do pas, com a extino do trfico negreiro, atendendo a pres-
ses externas, a promulgao da Lei de Terras, a criao da Guarda
Nacional e a aprovao do primeiro Cdigo Comercial. Tudo ao
mesmo tempo e no mesmo ano de 1850. Essas decises afetari-
am profundamente o pas e, como veremos mais frente, a im-
prensa brasileira.
A liberao de capitais resultante do fim da importao de escra-
vos deu origem a uma intensa atividade de negcios e de especu-
lao. Sugiram bancos, indstrias, empresas de navegao a vapor,
etc. Graas a um aumento nas tarifas dos produtos importados,
decretado em meados da dcada anterior (1844), as rendas go-
vernamentais cresceram. (FAUSTO, 1999, p. 197.)
121
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
14/32
Jornalismo poltico
por acaso, neste mesmo ano surge o Manifesto Republicano. Em
dezembro comea a circular
A Repblic a ,
primeiro jornal a defen-
der abertamente o fim da monarquia.
Res sur gi men to po lt ic o
A aventura do desenvolvimento industrial vai contaminar a
imprensa. Como lembra Iuarez Bahia,
l
tipografia perde o seu
contedo artesanal, para conquistar a posio de indstria grfi-
ca de definida capacidade econmica . (BAHIA, 1990, p. 46.)
Enquanto isso, dois grandes temas ganham espao no imagin-
rio da populao e nas pginas dos jornais: a campanha abolicionista,
que com o fim da Guerra do Paraguai em 1870 ganha impulso; e a
campanha republicana. As duas voltam a exigir um jornalismo
engajado, menos panfletrio do que aquele feito nas primeiras d-
cadas do sculo, mas com a mesma capacidade de mobilizao.
nesse contexto que surgem nomes que marcariam a impren-
sa e o debate poltico. Quintino Bocaiva, Rui Barbosa, Jos do
Patrocnio, Joaquim Nabuco, Andr Rebouas, J. Clapp, Silva Jar-
dim, Joaquim Serra e Jos Verssimo, entre outros, fundam ou
dirigem jornais que abraam a causa da libertao dos escravos
e, em seguida, da implantao da Repblica.
Uma questo importante a se notar a aproximao, nesse
perodo, entre jornalismo e literatura. Se antes os jornais eram
espao para a polmica e a denncia, em um primeiro plano, e
para a divulgao de idias e informaes, em espao menor, na
era da mprensa industrial os escritores vo encontrar nos gran-
des jornais que surgem um espao privilegiado para a publicao
de seus escritos, alm da possibilidade de emprego como redator
ou revisor. Como lembra o crtico Slvio Romero:
122
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
15/32
Jornalismo poltico: histria e processo
No Brasil, mais ainda do que noutros pases, a literatura conduz
ao jornalismo e este poltica que, no regime parlamentar e at
no simplesmente representativo, exige que seus adeptos sejam
oradores. Quase sempre as quatro qualidades andam juntas: o
literato jornalista, orador, e poltico. Apud SODR, 1999,
p.184.)
o que hoje seria impensvel- um jornalista da grande im-
prensa cobrindo a cena poltica, participando dela como tr-
buno e, nas horas vagas, escrevendo romances, crnicas, contos
e poemas para estes mesmos jornais - naquele tempo eram
qualidades requeridas. Um personagem exemplar do perodo
foi Jos de Alencar, que comeou por escrever artigos na seo
forense do Correio Mercantil, passou a cronista, em seguida ini-
ciou a publicao de folhetins literrios na imprensa, entre os
quais o estrondoso sucesso O
Guarani,
e chegou a ocupar uma
cadeira no Senado.
Outro personagem do perodo e que estreou timidamente em
1855 escrevendo crnicas em homenagem ao jovem imperador
D. Pedro foi Machado de Assis.Na dcada seguinte ele far parte
de uma nascente reportagem poltica que fazia a cobertura dos
discursos e negociaes no Senado do Imprio. Machado era re-
dator do Dirio do Rio deJaneiro e cobria o que acontecia nas c-
maras na companhia do tambm escritor Bernardo Guimares,
que representava o tradicional Iornal do Comrcio, e Pedro Lus,
do Correio Mercantil. Aos 39 anos Machado de Assis sofre uma
estafa (naquele tempo no existiam crises de stress ,o que o afas-
ta do jornalismo, para felicidade da literatura brasileira.
Essa aproximao entre literatura, jornalismo e poltica ir
marcar o jornalismo brasileiro pelas prximas dcadas, at que
uma revoluo surgida dentro das redaes, j em meados do s-
,
.
123
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
16/32
Jornalismo poltico
culo XX, far a separao do que historicamente nunca deixo
de andar junto.
A espada era a lei
Iniciada a Repblica, aqueles grandes tribunos e jornalistas
que marcaram as dcadas de setenta e oitenta do sculo XIX en-
contraram pela frente uma barreira. Os militares que assumiram
o poder na implantao do sistema republicano defendiam um
regime de fora.
Para eles, a Repblica deveria ser dotada de um Poder Executivo
forte, ou pas sar por uma fase mais ou menos prolongada de di-
tadura. A autonomia das provncias tinha um sentido suspeito,
no s6 por servir aos interesses dos grandes proprietrios rurais
como por incorrer no risco de fragmentar o pas. (FAUSTO,
p
cit., p. 246.)
O
perodo conhecido por Repblica das Espadas, ou Rep-
blicas dos Marechais, que cobre os anos de 1889 a 1894. Nestes
seis anos os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto
adotam o regime republicano federativo (as provncias passam a
ser estados), alteram a simbologia ligada monarquia (bandei-
ras, hinos, brases) e impem a censura imprensa, para com-
bater os ditos jornais monarquistas . Isso no impediu que
alguns nomes que brilharam no jornalismo das dcadas anterio-
res assumissem postos importantes no perodo republicano, como
Rui Barbosa, que escreveu as primeiras leis, e Quintino Bocaiva,
que comps o ministrio de Deodoro.
124
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
17/32
A partir de 1894 at 1930 o perodo da chamada poltica
dos governadores . como lembra Francisco Iglesias, lia volta
das oligarquias , que mandavam no pas desde a independncia
e perderam poder apenas no perodo de ascenso dos militares.
A imprensa desse perodo, tambm denominado Repblica
Velha, marcada pela coexistncia de dois grandes grupos, o que
ser novamente um reflexo das disputas que ocorrem pelo poder
central e nos estados. Dois grandes jornais simbolizavam bem o
que pretendemos explicar: O Pais, veculo tradicionalista ligado
elite agroexportadora, e o C orre io d a M an h, jornal que repre-
sentava as camadas mdias da sociedade e fazia uma oposio
feroz poltica do caf com leite . Os dois veculos assumiam o
que os demais jornais tentavam esconder: naquele tempo impren-
sa tinha que tomar partido, ou corria o risco de desaparecer. Como
lembra Nelson Werneck Sodr, era muito mais fcil comprar que
fundar um jornal; e ainda mais prtico comprar a opinio do jor-
nal do que comprar o jornal. Ainda segundo o historiador, lia
imprensa, embora apresente agora estrutura capitalista, fora-
da a acomodar-se ao poder poltico que no tem ainda contedo
capitalista .
Op.
cit.,
p. 276.)
Entre o servilismo e o oposicionismo, no sobrava espao para
quem quisesse fazer uma imprensa independente. Nos ltimos
anos do sculo XIX, por exemplo, o conflito armado de Canu-
dos, no serto da Bahia, teve uma cobertura extremamente ofi-
cial por parte da imprensa do Rio de janeiro e de So Paulo. Tanto
que os textos escritos por um reprter enviado pelo O
E sta do d e
S. Paulo ao
ftont
da guerra, o engenheiro militar Euclides da Cu-
nha, dariam uma bela pea publicitria do governo de Prudente
de Morais. Felizmente, Euclides da Cunha pde reescrever sobre
Jornalismo poltic o: h is t ria e p ro ce sso
A volta dos donos do poder
.,
125
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
18/32
,~I
Jorna lismo po l tico
o que viu em Canudos e lanar em livro a verdadeira histria so-
bre o conflito. Esta obra, Os
Sertes,
ainda carece de um estudo
mais aprofundado conquanto exemplo de reportagem poltica.
A partir de 1922, uma srie de acontecimentos comea a mu-
dar a face poltica do pas. A crise militar ocasionada pela repres-
so a um conflito armado em Pernambuco e que redundou, entre
outros acontecimentos, na revolta do Forte de Copacabana: a cria-
o do Partido Comunista Brasileiro e a realizao, em So Pau-
lo, da Semana de Arte Moderna, mostram que a poltica dos
governadores comea a esgotar-se como modelo de equilbrio po-
ltico. No ano seguinte promulgada a Lei de Imprensa, em ple-
na vigncia do Estado de Stio. O texto instalava a censura prvia
e responsabilizava diretamente os jornalistas pelas ofensas
publicadas pelos jornais.
A censura mirava os grandes jornais, mas atingia tambm os
jornais alternativos, especialmente a chamada imprensa oper-
ria e as publicaes dos grupos anarco-sndcalstas. Influencia-
da pelos imigrantes, especialmente os de origem italiana, a classe
trabalhadora produziu um jornalismo panfletrio e mobilizador,
como se exigia na poca, que incomodava as elites urbanas e as-
sombrava o governo federal, eleito com o apoio das elites rurais.'
A Revoluo de 1930, que levou Getlio Vargas e os tenentes
ao poder, impe o fechamento do Legislativo e a censura im-
prensa. A Constituio de 1934 vai repor alguns princpios libe-
rais, mas ser logo soterrada pela fundao do Estado Novo em
1937, instalando no pas uma ditadura civil de trao populista,
criando um regime antidemocrtico, mas com grandes realiza-
es sociais e administrativas.
4 P a ra s ab e r m a is v e r
H is t ria d a im p re ns a no B rasil,
d e N elso n W e rn ec k S od r .
126
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
19/32
J ornalismo poltic o: h is t ria e p ro ce ss o
Nos oito anos que durou, o Estado Novo manteve a impren-
sa sob total controle. de 1939 a criao do temido Departamento
de Imprensa e Propaganda, o DIP. Nesse perodo o jornalismo
poltico, mantido sob controle nas dcadas anteriores, pratica-
mente deixar de existir.
O fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota dos pases do
Eixo (Alemanha, Itlia e Japo) apressaro o fim do Estado Novo,
mas no de Getlio Vargas, como se ver. O Estado Novo acaba
em outubro de 1945, mas meses antes uma entrevista dada pelo
escritor e poltico Jos Amrico de Almeida a Carlos Lacerda, pe-
dindo o fim da ditadura Vargas, marca o fim da censura e a reto-
mada do jornalismo poltico brasileiro.
Anos de ouro
De 1945 a abril de 1964, quando o pas retomar a viver sob
um regime de exceo, a imprensa brasileira viveu seu auge. A
redemocratizao e a nova Constituio de 1946 inauguram um
novo perodo de ouro para o pas, marcado pelo desenvolvimen-
to econmico, social e cultural. Os jornais e revistas brasileiros
entram em nova fase, sob forte influncia do modelo norte-ame-
ricano de jornalismo objetivo. O D irio C a rio ca inaugura no pas
o uso do lead S surge nas redaes a figura do copidesque, que
pretende homogeneizar os textos, a cobertura poltica ganha nova
dimenso com as eleies presidenciais de 1945, que elege Eurico
Gaspar Dutra, e a de 1950, que consagra Getlio Vargas nas ur-
SExpresso em ingls que designa o pargrafo inicial de um texto jornalstico, que deve
trazer as informaes mais importantes da matria, em resposta s seguintes perguntas:
quem,
fez o
q u, o nd e, q ua nd o, co mo
e
por qu .
No Brasil, o
lead
foi implantado por Pompeu
de Sousa e Danton ]obim, na imprensa carioca nos anos 1950.
127
I r
~
~
L
,
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
20/32
Jornalismo poltico
nas. No ano seguinte surge a ltima Hora, de Samuel Wainer, que
vai revolucionar o leito de fazer jornal. A idia simples e genial:
fazer um jornal com contedo poltico em linguagem popular,
com diagramao inovadora e grandes nomes do jornalismo na-
cional, pagos a peso de ouro, e que divulgasse sem oficialismo as
realizaes do governo Vargas. Dois anos antes Carlos Lacerda
havia lanado a Tribuna da Imprensa, que faria forte oposio ao
getulismo. Esses dois jornais representaram durante um perodo
da histria do Brasil o que havia de melhor e de pior no jornalis-
mo poltico brasileiro.
Enquanto
lt ima
Hora e a Tribuna da Imprensa faziam a guer-
ra suja entre governo e oposio, outros jornais trataram de se
mexer. O Jornal do Brasil fez uma grande reforma grfica e edito-
rial que lanou as bases para outras reformas que vieram nos anos
seguintes na imprensa. O Correio da Manh esmerava-se na co-
bertura do Poder Legislativo, que voltou a ser o grande centro
dos debates e das decises.
nesse perodo rico do jornalismo que surgem os grandes
nomes da crnica poltica brasileira. Villas-Bas Corra, reprter
que nasceu junto com a redemocratizao ps-Estado Novo, conta
em seu livro Conversa com a memria - A histria de meio sculo
dejornalismo poltico, como surgiu naquele momento um mode-
lo que juntava anlise e informao poltica, onde se destacava
Herc1io Assis de Salles, na opinio dele
maior reprter da
histria do Congresso . Nos textos de Herc1io, relembra Villas-
Bas, o leitor, ao mesmo tempo que se informava sobre os de-
bates, as votaes, os projetos apresentados, era conduzido
anlise interpretativa de cada episdio que se destacasse da roti-
na . (CORRtA, 2002, p. 52.)
Mas a crnica poltica alcanaria o grande pblico pelas p-
ginas da maior revista do pas, O Cruzeiro, que em meados da d-
128
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
21/32
Jornalismo poltico: histria e processo
cada de 1950 abre duas pginas semanais para as anlises polti-
cas de Carlos Castello Branco, o Castellinho, apontado por to-
dos os jornalistas como o maior reprter poltico brasileiro de
todos os tempos. Vllas-Boas Corra quem resume de forma
exemplar a escola criada por Castellinho e de como o jornalista
conseguia driblar o paradoxo de ter que fazer uma crnica sema-
nal sobre um assunto to quente quanto a poltica:
o grande reprter resolveu o embarao aventurando-se
prospeco poltica com ampla margem de risco. Mestre do esti-
lo, soltou-se no exame panormico, descendo ao encadeamento
lgico do que parecia o contraditrio catico das tramas impro-
visadas e ajudando o leitor a entender o raciocnio ordenado pela
coerncia que flua com a naturalidade da conversa de expositor.
Partiu das preliminares que ajudara a firmar e alargou as dimen-
ses da interpretao do jogo poltico, como peas que se mo-
viam em tabuleiro de xadrez, com as suas regras e os lances
imprevistos. (Idem, p. 77.)
Naquele tempo, como hoje, valia a frase do poltico mineiro
Magalhes Pinto, para quem a poltica como nuvem: voc olha
e v um formato, mas quando olha de novo j v outro. Mesmo
assim, Castellinho e outros conseguiram domesticar o m-
previsvel e levar o jornalismo poltico para outro patamar, o da
anlise e interpretao dos fatos. Essa nova reportagem poltica
acompanhou o suicdio de Getlio em 1954, a era lk, a mudana
do Poder para Brasla, a surpresa e a decepo com Jnio Qua-
dros, as tentativas frustradas de Joo Goulart de implantar as re-
formas de base e o fim do intervalo democrtico. Foram quase
vinte anos de completa liberdade para o trabalho da imprensa.
Seguir-se-iam quase vinte an~s onde a liberdade de imprensa foi
solapada pelo poder das foras armadas.
129
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
22/32
Jornalismo poltico
Anos de chumbo
Essa mesma imprensa que em duas dcadas construiu um
novo modelo de jornalismo poltico, juntando informao, an-
lise e interpretao dos acontecimentos, no conseguiu se livrar
completamente do jogo poltico dos interesses privados. A pesa-
da campanha que alguns dos maiores jornais do Rio e So Paulo
fizeram contra o ex-dtador e depois presidente eleito pelo voto
Getlio Vargas, denunciando um suposto mar de lama no Pa-
lcio do Catete, encaixa-se naquilo que nio Silveira chamava de
jornalismo instigativo . Esse mesmo tipo de jornalismo tentou
desmoralizar o governo de Juscelino Kubitschek e jogou muita
gua no moinho da intolerncia e do golpismo que, juntos, for-
aram o afastamento de Iango da Presidncia da Repblica. Para
esse tipo de jornalismo, a verso mais importante que os fatos,
confirmando a mxima de Ios Maria Alkmin, uma velha raposa
, mnera.
Portanto, o golpe militar de 1964 no surpreendeu a grande
imprensa, que durante muitos anos dizia ter apoiado uma revo-
luo militar que veio para acabar com a baderna dos esquer-
distas que estavam no poder .
Mas, como em outros momentos da Histria do Brasil, os que
vieram em nome do povo para restabelecer a ordem acabaram
estabelecendo um regime de perpetuao no poder. E, para isso,
foi preciso, em um primeiro momento, boicotar os veculos de
comunicao que no concordavam com o novo regime, para
em seguida lanar mo da censura de forma indiscriminada. O
6No filme O
hom em qu e m ato u
o
[ac inora ,
de John Ford, o personagem interpretado por
Edmond O'Bren, um jornalista, fala a clebre frase: Quando a lenda mais interessante
do que a realidade, imprima-se a lenda.
130
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
23/32
Jornalismo poltic o: h is t ria e p ro cesso
AI-5, editado em dezembro de 1968, cassou os direitos polticos
de parlamentares da oposio e permitiu a censura prvia im-
prensa e espetculos.
O jornalismo poltico sofreu um duro golpe nesse perodo.
Tornou-se proibido escrever ou falar sobre qualquer coisa que ti-
vesse relao com aqueles que faziam oposio Revoluo . O
pas crescia a taxas mdias de 11 ao ano e para que o milagre
brasileiro fosse completo era preciso calar os adversrios do regi-
me. Jornais como a ltim a H o ra , por exemplo, foram minguan-
do at desaparecer. Outros, que souberam respeitar a nova ordem,
conseguiram atravessar a procela e sobreviver.
As revistas semanais de informao aparecem justamente no
perodo de crise do jornalismo poltico:
Veja , I s to
e
Afinal ,
entre
outras, formaro um espao novo para a reportagem e a anlise
polticas, mesmo sob forte censura. Veja, comandada por Mino
Carta, vai trazer a clebre capa sobre a tortura, publicada em ple-
no Governo
Mdc,?
Com o declnio da cobertura poltica, por razes bvias, a gran-
de imprensa acabou apostando em um novo segmento: o jorna-
lismo econmico. A forte expanso econmica que ocorreu entre
1969 e 1973, a crise do petrleo que se seguiu e a retomada do ci-
clo inflacionrio a partir de meados da dcada de 1970 acabou por
exigir dos jornalistas um conhecimento mais tcnico e menos
emprico sobre as notcias que afetavam o bolso dos cidados. No
que antes tais assuntos no fossem importantes, mas que agora
a economia desvencilhava-se da poltica, ganhando espao nobre
nos jornais e revistas, quando no em publicaes especializadas.
'
1 1 1 : '
I~
I
I .
7Em 1969, em entrevista ao jornalista Dirceu Brlsola, da Veja , o ento ministro da justia
de Mdici, Alfredo Buzaid, declarou que se comprometia, no caso de denncias de tortu-
ra, a intervir dentro dos seus limites para preservar a ordem jurdica Interna . Mino Carta
decidiu ento pela capa com a chamada O presidente no admite torturas . A censura
proibiu que os jornais repercutissem a capa da revista
in
CONTI, 1999, p. 73-75).
131
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
24/32
Jornalismo poltico
Imprensa alternativa
Se o jornalismo poltico brasileiro sobreviveu aos vinte anos
de arbtrio militar isso se deve, em grande parte, ao trabalho fei-
to pela chamada imprensa nanica. Como analisa Perseu Abramo,
difcil caracterizar com preciso o papel da imprensa alternati-
va da dcada de 1960.
(...) o carter real da imprensa chamada alternativa
o de que,
na verdade, tratava-se muito mais de fazer um contraponto
imprensa burguesa do que efetivamente substitu-Ia. como se,
na Era da Ditadura, houvesse necessidade de colocar no papel o
substrato de um movimento de contracultura, disperso e fragmen-
tado sim, mas inegavelmente existente nos anos 60 e 70.
(ABRAMO, 1988.)
li
Jornais como P if-pa f, O pin io , M ovim en to , Em Tem po , Versu s,
Bond inho , O So l e O Pasqu im , entre tantos outros, tentavam fazer
o contraponto grande imprensa, publicar no a notcia em si,
pois os pequenos jornais no tinham acesso aos meandros da
chamada grande poltica, mas podiam publicar a verso da opo-
sio . Isso permitiu manter aceso o debate poltico, mesmo que
entre uma elite de letores.
Os donos do poder temiam esse poder paralelo da impren-
sa alternativa e tentavam minar seu trabalho. E nesse processo
cometiam absurdos, como explodir bancas de jornais que
comercializavam os ditos jornais alternativos.
Mesmo os jornalistas que no estavam envolvidos diretamen-
te com a imprensa de oposio sofreram perseguies da linha
'Para saber mais, veja J o rn a li st as e r ev o lu ci on rio s: n o s temp o s d a impr en sa a lter n at iv a , de B.
Kucinski. .
132
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
25/32
Jornalismo poltico: histria e processo
dura do regime militar. Em outubro de 1975, o jornalista Vladimir
Herzog, chefe do Departamento de Jornalismo da TV Cultura de
So Paulo, morre nas celas do DOI-CODI paulista, aps seguidas
sesses de tortura. Herzog era simpatizante do Partido Comunis-
ta Brasileiro (PCB), o velho Partido, mas nunca esteve envolvi-
do com aes armadas contra o governo e sempre trabalhou na
grande imprensa. Sua morte causou comoo e mobilizou milha-
res de pessoas em um ato pblico em So Paulo, o primeiro de-
pois de decretado o AI-5.
Quando a censura acabou, no final da dcada de 1970, e os
jornalistas puderam voltar a escrever e falar abertamente sobre a
situao poltica do pas, muitos daqueles profissionais que atua-
ram na imprensa alternativa aproveitaram a experincia para
levar para as redaes um jornalismo politizado, no neces-
sariamente partidrio, mas certamente comprometido com o res-
tabelecimento da ordem democrtica.
Entre o final da dcada de 1970 e meados da de 1980, ou seja,
da abertura poltica ao fim do ciclo de presidentes militares, a
classe jornalstica foi pea fundamental para o processo de re-
democratizao. Os jornalistas, e no exatamente os jornais,
ensaiaram os primeiros passos rumo
liberdade de escrever o que
pensavam.
Em 1977, o sargento Slvio Delmar Hollembach morreu no
Zoolgico de Braslia, aps ter pulado no cercado das ariranhas
para salvar uma criana. O jornalista Loureno Diafria, do jor-
nal Fo lha de S . P aulo , elogiou em sua crnica o gesto de coragem
de Hollembach e disse preferir esse sargento heri ao Duque
de Caxias, patrono do Exrcito.
0
povo est cansado de espadas
e de cavalos. O povo urina nos heris de pedestal
Fo lha de S .
P aulo , a pud
GASPARI,2004, p. 452), escreveu Diafria. O general
Sylvio Frota, ministro do Exrcito e candidato da linha dura
133
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
26/32
Jornalismo poltico
1 11
li
sucesso do presidente Ernesto Geisel, mandou prender o jorna-
lista. A
Folha
protestou e decidiu circular com o espao da crni-
ca em branco. O governo ameaou o jornal com a Lei de
Segurana Nacional. A Fo lha d e S.Paulo teve que recuar e demitir
Cludio Abramo, diretor de redao. Isso aconteceu em setem-
bro. Em 12 de outubro de 1977 Sylvio Frota demitido.
Tambm comearam a surgir as primeiras reportagens que
denunciavam os desmandos do poder. Em 1976, uma srie de
reportagens publicadas pelo jornal O
E sta do d e
S.
Paulo ,
assina-
das pelo jornalista Ricardo Kotscho, denunciava o escndalo das
mordomias entre ministros e altos funcionrios do governo.
Como lembra Kotscho em seu livro
A prtica da re po rta gem ,
lia srie de reportagens sobre as mordomias foi apenas uma esp-
cie de aperitivo do banquete de denncias de corrupo que se-
ria servido ao Pas, medida que, sem censura prvia, a imprensa
ia retomando suas funes . (KOTSCHO, 1995, p. 55.)
A imprensa tambm teve papel decisivo quando desmasca-
rou a farsa do atentado a bomba no Riocentro, em 1981. Reme-
morando: na vspera do 1
0
de Maio daquele ano, uma bomba
explodiu no colo de dois militares, dentro de um Puma no es-
tacionamento do Riocentro, na cidade do Rio de Janeiro, onde o
Cebrade (Centro Brasil Democrtico) promovia um show em ho-
menagem aos trabalhadores. Um dos homens morreu e o outro
teve a perna amputada. O atentado terrorista frustrado, promo-
vido pela direita, pretendia jogar a culpa na oposio e atrapa-
lhar o processo de abertura.
Sufocado durante anos, o jornalismo poltico retoma sua im-
portncia ao denunciar os equvocos da Ditadura e de seus alia-
dos, mas tambm ao dar voz a uma nascente oposio. Primeiro,
acompanhando os passos dos anistiados polticos que comea-
ram a voltar ao Brasil a partir de 1979, com a aprovao da Lei
1 1
l i
1 1 1
1 1
1 1 1
,l i
1 1
I :
1 1
1 1
I 1
I
I I I
134
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
27/32
Jornalismo poltico: histria e processo
da Anistia. Depois em 1984, quando milhes de pessoas toma-
ram as ruas das grandes cidades para pedir eleies diretas para
presidente. A imprensa, inicialmente apenas alguns jornais, em
especial a Folha de S. Paulo, mas depois praticamente toda ela,
anunciou o grande movmento das Diretas
J
9
Um ano depois,
essa mesma imprensa assumiu sem disfarces a preferncia por
Tancredo Neves nas disputa com Paulo Maluf pelos votos do
Colgio Eleitoral que elegeu o primeiro presidente civil depois
de 21 anos de regime militar.
Redemocratizao e momento atual
o jornalismo poltico viveria outros momentos importantes
a partir de 1985, com a posse de Jos Sarney, vice de Tancredo
Neves.Amorte do presidente eleito frustrou o pas, mas foi um
grande teste para a imprensa poltica que renascia das cinzas. Es-
tudante de Jornalismo na Universidade de Braslia(UnB),assisti
ao rpido amadurecimento da nossa reportagem poltica, que
aprendeu a entender de economia para acompanhar a era dos
planos econmicos. E que tambm especializou-se em diversos
assuntos para entender os debates tcnicos durante os trabalhos
da AssembliaNacional Constituinte. Em 1989, a primeira elei-
o direta para presidente dividiu o pas, mas no as redaes.
Na chamada grande imprensa, sediada nas capitais, os jornalis-
tas em peso apoiavam Lula da Silva, candidato do PT,mas os
muito lembrado o episdio envolvendo a TV Globo durante a campanha das Diretas
J .
Compromissada com o regime militar, a maior emissora do pas ignorou o movimen-
to, at que populares comearam a cobrar, em praa pblica, a divulgao das manifesta-
es, que chegaram a reunir mais de um milho de pessoas em um s dia. O
slog an O
povo no bobo, abaixo a Rede Globo , correu os comcios de norte a sul do pas.
135
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
28/32
Jornalismo poltico
patres penderam a gangorra para a candidatura de Fernando
ColIor. Em seguida, um novo teste: o primeiro presidente eleito
pelo voto direto obrigado a renunciar para tentar escapar de
um processo de
impeachment ,
depois que a imprensa denunciou
as ligaes perigosas entre ele e o empresrio Paulo Csar Farias.
Apenas sete anos depois da redemocratizao, o jornalismo pol-
tico brasileiro viveu seu Watergate.'?
A posse do vice-presidente Itamar Franco no lugar de Collor
levou o pas a uma nova guinada poltica. Em 1994 o jornalismo
poltico precisaria novamente se reciclar para acompanhar as
novidades na economia, com a adoo do Plano Real, e a eleio
de Fernando Henrique Cardoso, ex-ministro da Fazenda do go-
verno Itamar Franco. Quatro anos depois os jornalistas assisti-
ram reeleio de FHC, graas a uma mudana da Constituio
que pela primeira vez na histria republicana permitiu a
reconduo de um presidente pelo voto direto.
Nosso captulo histrico encerra-se com as eleies de 2002,
com a vitria de Lula da Silva, do PT, que disputou com o ex-
ministro da Sade de FHC Jos Serra, do PSDB, o segundo turno
das eleies. A ampla cobertura jornalstica realizada em 2002 e
o equilbrio com que a imprensa tratou os candidatos fizeram des-
ta eleio um modelo de atuao para o jornalismo poltico. Em
quase dois sculos de histria, o pleito de 2002 foi a primeira vez
em que vimos uma coincidncia total entre poltica e jornalis-
mo. Pois, antes, se havia equilbrio poltico, como em 1955, na
acirrada disputa vencida por J K havia tambm uma imprensa
JOPressionado por seu envolvmento no Caso Watergate, em 8 de agosto de 1974 o presi-
dente norte-americano Rchard Nixon renunciava ao cargo. O caso Watergate foi um
episdio de escuta ilegal na sede do Partido Democrata por elementos ligados ao gover-
no, e foi desvendado pelo trabalho de dois reprteres do jornal Washington Post, Bob
Woodward e Carl Bernstein.
136
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
29/32
Jornalismo poltico: histria e processo
_ sicionada e que agia claramente em defesa de grupos. Nada
5Mante, entretanto, que as prximas eleies mantero o padro
ze comportamento de 2002.
Para encer rar
No incio do sculo XXI alguns estudiosos detectaram uma
:rise no jornalismo poltico. Estudo realizado na Inglaterra e apre-
sentado pelo professor Nelson Traquna' durante congresso que
reuniu jornalistas brasileiros e portugueses mostrou que os gran-
_e5 jornais ingleses vm reduzindo a cada dcada o espao dedi-
:ado ao que acontece no Parlamento britnico.
As novas tecnologias, por sua vez, geraram um processo ace-
_ITcidode obteno de informaes, o que em geral resultou no
zumento quantitativo da oferta de noticirio, sem garantias de
alidade deste material ofertado. Uma cobertura mais extensi-
va, mais abrangente, mas no imune ao erro.
Em fevereiro de 2005, o Brasil surpreendeu-se com a eleio
o deputado Severino Cavalcanti para a Presidncia da Cmara
Federal. Muitos se perguntaram na poca por que a imprensa no
_reviu essa zebra nas eleies do Parlamento Nesse caso a
prensa cometeu o erro de fazer uma cobertura burocrtica da
- e o
na Cmara, sem atentar para as novidades daquela dis-
s: ~ .
Abusou do fontismo , ou seja, da confiana excessiva nas
- tes oficiais, e se esqueceu de olhar para o que acontecia nos
terrneos da poltica. Meses depois essa mesma imprensa aju-
a abreviar o mandato de Severino Cavalcanti, ao denunciar
esquema de propinas na Cmara.
Congresso Luso-Brasileiro de]ornalismo. Porto, abril de 2003. Anotaes do autor.
137
t-
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
30/32
Jornalismo poltico
-I
Nelson Traquina, autor de diversos estudos importantes so-
bre o jornalismo contemporneo, lembra que a teoria democr-
tica prev trs grandes papis para o jornalismo: 1) o jornalismo
deve dar aos cidados as informaes que so teis, que so ne-
cessrias para que eles possam cumprir os seus papis de pessoas
interessadas na vida social e na governao do pas; 2) o jorna-
lismo deve ser o espao do contraditrio e da pluralidade de opi-
nies, ser uma espcie de mercado de idias; e 3) o jornalismo
tem o papel de ser o watchdog (co de guarda) da sociedade, pro-
teger os cidados contra os abusos do poder.
Estas trs grandes funes resumem bem os papis do jorna-
lismo poltico: informar, formar opinio e fiscalizar. Mas as per-
guntas que devem ser feitas hoje so as seguintes: a imprensa tem
conseguido informar com credibilidade e qualidade sobre o que
acontece no mundo da poltica? Ou ser que o excesso de infor-
maes vem confundindo mais do que esclarecendo? A grande
mdia tem conseguido ser imparcial e equilibrada ao disponibilizar
fatos e opinies sobre os diferentes segmentos polticos? E, por
ltimo, ao desempenhar o papel de fiscal do poder, o jornalismo
poltico no corre o risco de cometer excessos e frustrar expecta-
tivas, justamente por no poder cumprir as duas premissas bsi-
cas anteriores? Ou seja, como fiscalizar com iseno e eficincia
se no h qualidade na informao que se oferece e no se ga-
rante a pluralidade de opinies divergentes?
Em quase duzentos anos de histria, o jornalismo poltico bra-
sileiro acompanhou o roteiro traado pelos grupos dominantes
que pretenderam assegurar o poder, ora aderindo a este modelo,
,
I
i
,
. '
I
1
I
I
' I
I
I
1
I
' I
I
i i
I
,
12Entrevista ao
Observatrio da Imprensa
n 225, em 20 de maio de 2003
(www.observatoriodaimprensa.br).
138
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
31/32
Jornalismo poltico: histria e processo
ABRAMO, Perseu. Um traba lhador da nottcia . So Paulo: Editora Fundao
Perseu Abramo, 1997.
mp re ns a a lte rn ativa : a lc an ce s e lim ite s. Verso eletrnica (fpa.org.brl
fpa/perseu/imprensa-alternativa.htm). Fundao Perseu Abramo,
1988.
BAHIA,
juarez
J orn al, h is t6ria e tc nic a.
4
a
ed. So Paulo: tica, 1990.
CHAGAS, Carlos. O
B ra sil se m re to que 1808-1964 : a H is t6ria con tada por
jo rna is e jo rna lis tas - vo lum es I e lI Rio de Janeiro: Record, 2001.
CONTI, Mrio Srgio.
No tfc ia s d o P la na lto : a im prensa e Pem ano C ollo r.
So
Paulo: Companhia das Letras, 1999.
CORRA, Villas-Bas. C onversa com a m em 6ria . Rio de Janeiro: Objetiva,
2002.
FAUSTO, Boris.
H ist6ria do B ras il.
So Paulo: Edusp/Fundao para o De-
senvolvimento da Educao, 1999.
GASPARI,lio.
A s ilus e s a rm a da s
(2 vols.:
A d ita dura e nve rg on ha da
e
A d ita -
dur a e s can ca rada .
So Paulo: Companhia das Letras, 2001.
ora denunciando-o. Aderiu quando apoiou o Golpe Militar de
1964. Denunciou quando mostrou asmanifestaes de rua pelas
Diretas
J .
Hoje, a popularizao de novos meios de eletrnicos de co-
municao (especialmente a internet e o telefone celular) vem
promovendo novas transformaes no jornalismo poltico. Os
b logs
e
sites
de notcia nos fazem lembrar a imprensa brasileira
em seusprimrdios, quando uma profuso de folhas alimentava
o debate poltico e desancava a segurana dos poderosos.
Aderir ao modelo tornou-se tarefa mais arriscada, mas nem
por isso afastada. Denunciar o modelo, sim, deve ser uma ta-
refa permanente. Mas este papel, hoje, no cabe apenas ao jor-
nalismo.
Referncias bibliogrficas
139
7/23/2019 140827 Jornalismopoliticohistoriaeprocesso 140827112253 Phpapp01
32/32
'
Jornalismo poltico
-. O sa cerd ote e o feiticeiro (2 vols.: A d ita du ra d erro ta da e A d ita du ra
encurralada) .
So Paulo: Companhia das Letras, 2003-2004.
IGLSIAS, Francisco.
T ra jet6 ria p oltica d o B ra sil: 1 50 0-1 96 4.
So Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
KOTSCHO, Ricardo. A pr tica d a r ep or ta gem . So Paulo: tica, 1995.
KUCINSKI, Bernardo. J or na lista s e r ev olu cio n rio s: n os tem p os d a im p ren sa
alternativa. So Paulo: Pgina Aberta, 1991.
LUSTOSA, Isabel. O n a sc imen to d a imp ren sa b ra sileir a. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2003.
MARTINS, Franklin.
Jorna l ismo po l t ico.
So Paulo: Contexto, 2005.
MEDINA, Cremilda. N otcia , u m pro du to ven da : jo rn alism o n a so cied ad e
u rb an a e in d ustr ia l. 2 ed. So Paulo: Summus, 1988.
MELO, Jos Marques de.
Hist r ia so c ia l d a impren sa .
Porto Alegre: EdPUCRS,
2003.
SODR, Nelson Werneck.
H ist ria d a im p ren sa n o B ra sil.
4 ed. Rio de Janei-
ro. Mauad, 1999.
WAINER, Samuel. M inha ra zo de viver: m em ria s d e u m rep rter . 6 ed. Rio
de Janeiro: Record, 1988.