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SEQÜÊNCIAS SERIADAS DE SÍTIOS ITARARÉ NO VALE DO RIO RIBERIA Igor Chmyz* Eliane Maria Sganzerla* Jonas Elias Volcov* Introdução Os estudos de impacto ambiental patrocinados pela Companhia Brasileira de Alumínio – CBA, do Grupo Votorantin, em decorrência do projeto para a construção da UHE Tijuco Alto, evidenciaram numerosos sítios arqueológicos nas margens dos estados do Paraná e São Paulo banhadas pelo rio Ribeira. Anteriormente, no espaço paranaense da bacia do rio Ribeira compreendido pelos seus formadores no planalto curitibano até a área do empreendimento hidrelétrico, os poucos sítios conhecidos referiam-se às tradições arqueológicas Umbu (PR-RB-4), Itararé (PR-RB-1) e Neobrasileira (PR- RB-2), PR-RB-3 e PR-RB-5); estes foram registrados pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – CEPA/UFPR, entre 1964 e 1966 (CHMYZ, 1995:5) (Fig. 1). Em 1991, durante os estudos iniciais para uma avaliação do patrimônio arqueológico existente nas áreas das UHE’s Itaóca, Funil e Batatal, projetadas pela Companhia Energética de São Paulo no rio Ribeira, o CEPA/UFPR localizou, a jusante do projetado eixo da barragem da UHE Tijuco Alto, o sítio PR-BS-1, de Tradição Neobrasileira. Figura 1. Bacia hidrográfica do rio Ribeira com a localização dos sítios arqueológicos registrados no seu alto curso, anteriormente às pesquisas na área da UHE Tijuco Alto (Fonte: CHMYZ et alii, 1999:5). * Pesquisadores Associados do CEPA/UFPR.

SEQÜÊNCIAS SERIADAS DE SÍTIOS ITARARÉ NO VALE DO RIO RIBEIRA

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SEQÜÊNCIAS SERIADAS DE SÍTIOS ITARARÉ NO VALE DO RIO RIBERIA

Igor Chmyz*

Eliane Maria Sganzerla* Jonas Elias Volcov*

Introdução

Os estudos de impacto ambiental patrocinados pela Companhia Brasileira de Alumínio – CBA, do Grupo Votorantin, em decorrência do projeto para a construção da UHE Tijuco Alto, evidenciaram numerosos sítios arqueológicos nas margens dos estados do Paraná e São Paulo banhadas pelo rio Ribeira. Anteriormente, no espaço paranaense da bacia do rio Ribeira compreendido pelos seus formadores no planalto curitibano até a área do empreendimento hidrelétrico, os poucos sítios conhecidos referiam-se às tradições arqueológicas Umbu (PR-RB-4), Itararé (PR-RB-1) e Neobrasileira (PR-RB-2), PR-RB-3 e PR-RB-5); estes foram registrados pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – CEPA/UFPR, entre 1964 e 1966 (CHMYZ, 1995:5) (Fig. 1). Em 1991, durante os estudos iniciais para uma avaliação do patrimônio arqueológico existente nas áreas das UHE’s Itaóca, Funil e Batatal, projetadas pela Companhia Energética de São Paulo no rio Ribeira, o CEPA/UFPR localizou, a jusante do projetado eixo da barragem da UHE Tijuco Alto, o sítio PR-BS-1, de Tradição Neobrasileira.

Figura 1. Bacia hidrográfica do rio Ribeira com a localização dos sítios arqueológicos registrados no seu alto curso, anteriormente às pesquisas na área da UHE Tijuco Alto (Fonte: CHMYZ et alii, 1999:5).

* Pesquisadores Associados do CEPA/UFPR.

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Um primeiro diagnóstico de ocorrências arqueológicas em áreas de influência direta e indireta da UHE Tijuco Alto foi realizado por Paulo Dantas de Blasis e Paulo Jobim de Campos Mello, integrando os mencionados estudos de impacto ambiental (CBA, 1991: 434). Em 1994, a CBA solicitou ao CEPA/UFPR uma pesquisa para localização de sítios arqueológicos nas áreas prioritárias do empreendimento, que seriam impactadas pelas obras logo após a aprovação da hidrelétrica pelos órgãos governamentais.

Os sítios encontrados foram escavados entre 1994 e 1995. A análise e interpretação do material arqueológico obtido, por exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, transcorreram em 1997, delas resultando uma monografia publicada (CHMYZ et alii, 1999). Paralelamente, também encomendado pelo empreendedor, foi estruturado um programa de seis anos para o salvamento das evidências arqueológicas na área da UHE Tijuco Alto. Em 2004, o Centro participou de novo estudo de impacto ambiental, concentrando as atividades em porções do projetado reservatório carentes de dados arqueológicos.

O ambiente O Ribeira é o único rio paranaense que, nascendo no planalto, penetra no

Estado de São Paulo e deságua no Oceano Atlântico. Formado a noroeste de Curitiba, principalmente pelos rios Açungui e Ribeirinha, o Ribeira toma rumo nordeste até a divisa daquele estado, infletindo para leste a seguir. No planalto curitibano percorre a região serrana do Açungui, caracterizada por profundos vales; antes de atingir a planície litorânea paulista, atravessa as serras do Mar e Paranapiacaba.

Com um relevo complexo, talhado por ciclos erosivos recentes que formaram vales encaixados, profundos e estreitos, o alto Ribeira mostra uma topografia com espigões alongados, encostas íngremes, solo delgado e cascalheira nas partes mais baixas, refletindo a litologia diversificada da região.

O clima na área da pesquisa é do tipo Subtropical Úmido, com alto índice de pluviosidade. A vegetação, conforme Reinhard Maack (1968:212), é de mata pluvial tropical. O índice pluviométrico anual varia de 1.100 a 1.600 mm e, a temperatura média anual, de 20º a 21ºC.

Historicamente, o vale do rio Ribeira foi utilizado como via de acesso e ligação entre o litoral e o planalto. Desde a primeira metade do século XVI, exploradores, preadores, bandeirantes, missionários e mineradores por ele se movimentaram valendo-se, também, de trilhas indígenas. Referências a índios, entretanto, somente existem para a faixa litorânea e o planalto curitibano.

Esgotado o ouro de aluvião, a região permaneceu economicamente estagnada desde o final do século XVII, mantendo-se como área influenciada pela passagem de tropas. Dos agrupamentos surgidos em apoio à mineração originaram-se, nos séculos seguintes, as poucas cidades do vale; algumas resultaram de projetos governamentais de colonização.

Dificuldades de acesso, relevo acidentado e a baixa fertilidade do solo contribuíram para o isolamento da região; sua população manteve-se ligada a uma economia de subsistência.

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As pesquisas arqueológicas Realizadas em ritmo de salvamento, as pesquisas abrangeram as margens

do rio Ribeira situadas nos estados do Paraná e São Paulo. As abordagens foram pontuais, restringindo-se aos canteiros de obras da projetada UHE Tijuco Alto. O acesso aos espaços estudados foi através de estradas que acompanham ambas as margens do rio. As estradas marginais limitam-se à área influenciada pelas cidades de Ribeira (SP) e Adrianópolis (PR). No espaço previsto para formação do reservatório elas não existem. O rio, de pequena profundidade e repleto de corredeiras e cachoeiras, permite apenas a navegação com canoas.

A localização dos sítios foi tarefa relativamente fácil devido às características do relevo da área. Embora dominada por terrenos acidentados, em certos trechos das margens do rio as encostas íngremes davam lugar a extensos terraços; junto aos terraços, também, as encostas das elevações tornavam-se mais suaves. Nesses terrenos planos ou de pequena declividade a população atual constrói suas casas, cria animais e pratica a agricultura de subsistência.

Entre os trechos prospeccionados, as evidências arqueológicas somente foram encontradas naqueles que apresentavam pequena declividade coincidindo, as de origem indígena, com instalações neobrasileiras ou modernas.

As pesquisas evidenciaram seis ocupações relacionadas à Tradição Itararé e cinco à Tradição Neobrasileira (Fig. 2).

Figura 2. Localização dos sítios indígenas SP-RI: Ilha Rasa, PR-BS-2: Morro dos Anjos, PR-BS-5: Lodaçal, PR-BS-6: Vila Operária-2 e PR-BS-7: Maricá-2, dos sítios históricos PR-BS-3: Vila Operária-1 e PR-BS-4: Maricá-1 e, dos Indícios Líticos PR-BS L-1 e, Indícios Cerâmicos PR-BS C-1, PR-BS C-2 e PR-BS C-3, na Área Prioritária da UHE Tijuco Alto.

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Os sítios da Tradição Itararé Cinco sítios foram localizados em terraços fluviais, em terreno areno-argiloso

e, um, na baixa-encosta de elevação, em solo coluvial argiloso. Distavam entre 29 e 93 m da margem do rio principal, ocupando pontos situados entre 9 e 19 m acima do nível de suas águas (entre 167 e 185 m sobre o nível médio do mar).

Foto 1. Implantação de sítios da Tradição Itararé no vale do rio Ribeira: em primeiro plano, SP-RI: Ilha Rosa e, em segundo plano PR-BS-5: Lodaçal.

Foto 2. Vista parcial das escavações do sito da Tradição Itararé PR-BS-2: Morro dos Anjos. Apresentavam áreas elípticas, com dimensões variando de 15 x 13m

(153,07m²) e 60 x 38,50m (1.183,35m²). Três estendiam-se paralelamente ao curso do rio e, dois, perpendicularmente.

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Com exceção do maior (SP-RI), que estava muito perturbado pelas continuadas práticas agrícolas e que, por isso, não possibilitou a verificação de eventuais espaços internos com adensamento de material arqueológico, os demais sítios eram constituídos por concentração única. Um deles (PR-BS-2) tinha, porém, pequena concentração de cerâmica nas suas proximidades. Artefatos líticos foram encontrados isoladamente, um pouco distantes de outro (PR-BS-5).

Os pisos das ocupações foram constatados aos 25 cm de profundidade em dois casos (PR- BS-5 e SP-RI), em torno de 36 cm em outros dois (PR-BS-6 e 7) e, aos 40cm no último (PR-BS-2). Aprofundamentos dos pisos, geralmente representando depressões como fossas e fogões, foram registrados em três sítios (PR-BS-2, 5 e SP-RI). Outras feições, ligadas a fornos, buracos de estacas e enterros, somente ocorreram no PR-BS-2.

Restos faunísticos concentraram-se em três sítios (PR-BS-2, 5 e SP-RI), relacionando-se à alimentação e à produção de artefatos.

Em todos os sítios foram praticados cortes-estratigráficos; em um deles realizou-se, também, coletas superficiais não seletivas.

As práticas funerárias No sítio PR-BS-2 foram encontrados enterros relacionados a quatro

indivíduos adultos. Dois deles situavam-se na metade sul do sítio e, outros dois, na metade norte (Fig. 3). Eram enterros primários; os corpos foram depositados em covas preenchidas com sedimentos. Os esqueletos do lado sul apresentavam-se estendidos, em decúbito dorsal e, os do norte, fletidos, em decúbito lateral direito e decúbito lateral esquerdo, respectivamente. Os primeiros orientavam-se do SE para o NO e do NO para o SE e, os últimos, do NE para o SO e do SE para o NO.

Pequenos blocos de rochas ocorreram dispersamente nas covas, assim como, com exceção do enterro número 2, conchas de moluscos terrestres e aquáticos, ossos de animais e fragmentos de cerâmica. É possível que a cerâmica constatada de forma mais concentrada junto ao crânio e à bacia de um dos esqueletos estendidos (nº 1) tenha relação com a prática funerária; sobre a bacia desse esqueleto havia, ainda, ossos de pequeno animal.

Um dos esqueletos estendidos não pôde ser definido quanto ao sexo; os demais eram femininos. A faixa etária de três indivíduos foi calculada entre 20 e 40 anos e, de 40 a 50, no quarto.1

__________ 1 Os esqueletos do sítio PR-BS-2 foram analisados por Walter A. Neves, do Laboratório de Estudos

Evolutivos da Universidade de São Paulo (1999:166).

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Figura 3. Disposição das trincheiras e cortes-estratigráficos na área do sítio cerâmico PR-BS-2: Morro dos Anjos; localização dos enterros e incidência dos solos diferenciados. O hachurado central corresponde ao solo cinza-escuro com abundantes restos alimentares; o circunscrito pela linha tracejada refere-se ao solo marrom-escuro com poucos restos alimentares; o englobado pela linha cheia indica o solo marrom-claro com ausência de restos alimentares.

Foto 3. Enterro número 1 no sítio PR-BS-2: Morro dos Anjos. O esqueleto está orientado no sentido sudeste-nordeste.

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Foto 3. Enterro número 3 no sítio PR-BS-2: Morro dos Anjos. O esqueleto está orientado no sentido noroeste-sudeste.

O material arqueológico No acervo reunido, os fragmentos de recipientes cerâmicos predominaram.

Após a preparação, as várias coleções somaram 6.755 fragmentos. Os recipientes são de pequenas e médias dimensões, confeccionados por repuxamento, alguns por acordelamento e raros por modelagem. Correspondem a pratos, tigelas e jarros e, poucas vezes, a panelas. Os bojos são em meia-calota, hemisféricos, globulares, cilíndricos e elipsóides. As bases são convexas, planas e côncavas. As bordas apresentam-se diretas, reforçadas externa e internamente, expandidas, inclinadas externa e internamente e, extrovertidas. Os lábios mostram-se arredondados, em bisel e, esporadicamente, planos e apontados (Fig. 4).

O quartzo foi utilizado como tempero da pasta, apresentando-se na forma de grânulos grossos em 78,12% da amostragem e de grânulos finos, em 21,88%. Em cerca da metade dos exemplares ocorreram, também, grânulos de hematita.

As vasilhas têm acabamento simples mostrando, algumas das bem conservadas, película superficial cinza-escuro ou preta. Cinco, apenas, receberam engobo vermelho em ambas as faces ou só na interna.

As espessuras verificadas na parede do bojo dos recipientes variam de 2 a 8 mm, predominando de 3 a 5 mm.

Como modelagens, além dos fragmentos de pasta queimada, ocorrem esfera e pequenos recipientes.

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Figura 4. Perfis de bordas e formas reconstruídas da cerâmica nos sítios da Tradição Itararé.

O material lítico está representado por 1.602 peças, a maioria referente a

resíduos de lascamento e pedras gretadas e atípicas. Poucas lascas, microlascas, lâminas e núcleos (6,56%) mostram sinais de utilização como facas, raspadores, alisadores, percutores, trituradores e talhadores; um dos núcleos, de óxido de ferro, tem sinais de raspagem para a retirada de pigmentos.

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Lasca retocada como raspador de bico e núcleos retocados como lâminas de machados petalóides, mãos de pilões cilíndricas, virote e possível tembetá, correspondem a 7,98% da coleção (Fig. 5).

Figura 5. Material lítico dos sítios da Tradição Itararé. a-f, núcleos utilizados; g-i, núcleos retocados. a, Raspador Lateral; b, Talhador; c-d, Trituradores; e-f, Alisadores; g, Lâmina de Machado; h, fragmentos de Mão de Pilão; i, fragmento de Virote (nos destaques h-i, reconstituição dos artefatos.

Entre os ossos de mamíferos e pássaros, foram registrados alguns utilizados

como raspadores, furadores e pontas de flechas. Ocorreram ossos com marcas de esquartejamento e, outros, com início de seccionamento para a obtenção de tubos. Dentes foram usados como raspadores e furadores.

Conchas de lamelibrânquios e gastrópodes, estes da fauna terrestre, foram freqüentes em dois sítios. Perfurações de algumas conchas de gastrópodes podem ser resultantes da sua utilização como raspadores ou zumbidores.

As seqüências seriadas A cerâmica simples foi classificada em dois tipos, conforme a presença de

antiplásticos grossos e finos na pasta. A cerâmica que recebeu engobo vermelho representou o terceiro tipo. A seriação foi construída, inicialmente, com coleções do sítio PR-BS-2, respeitando-se a disposição estratigráfica dos vários cortes (Fig. 6, parte superior). As tendências mostradas pelo tipo Simples Grosso, de grande popularidade nas porções inferiores da coluna, com diminuição gradativa para as superiores e, de pouca popularidade embaixo, com aumento gradativo para cima, do tipo Simples Fino, apresentam uma discrepância causada por coleções provenientes de quatro cortes.

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Figura 6. Seqüências seriadas de coleções dos sítios da Tradição Itararé, baseada nas mudanças de freqüência relativa dos tipos cerâmicos.

A seriação praticada com as coleções obtidas estratigráfica e

superficialmente nos sítios PR-BS-5 e SP-RI (Fig. 6, parte inferior), configuram uma tendência diferente da anterior. O tipo Simples Grosso, embora seja popular, é menos expressivo nas porções inferiores da coluna, aumentando gradativamente para as superiores. O tipo Simples Fino é mais representado embaixo, diminuindo gradativamente para cima. Estas tendências estão de acordo com aquelas apresentadas pelas coleções discrepantes na seriação da parte superior.

O tipo Engobo Vermelho está presente em duas coleções da parte inferior e uma na superior, entre as coleções discrepantes.

Transferindo-se as coleções discrepantes do sítio PR-BS-2 para a porção inferior da seriação construída com os outros sítios manteve-se, em harmonia com esta, a tendência de crescimento no tipo Simples Grosso e de decréscimo no tipo Simples Fino. O tipo Engobo Vermelho restringe-se a este arranjo (Fig. 7).

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Figura 7. Seqüência seriada de coleções dos sítios SP-RI, PR-BS-2 e PR-BS-5, da Tradição Itararé, baseada nas mudanças de freqüência relativa dos tipos cerâmicos (Fase A).

As coleções restantes do sítio PR-BS-2 constituíram uma seriação cujo tipo

Simples Grosso mostra uma tendência decrescente de baixo para cima e de crescimento, no mesmo sentido, no tipo Simples Fino (Fig. 8).

Figura 8. Seqüência seriada de coleções do sítio PR-BS-2, da Tradição Itararé, baseada nas mudanças de freqüência relativa dos tipos cerâmicos (Fase B).

Essas seqüências seriadas representam duas fases da mesma tradição.

Como datações radiométricas não existissem na época de sua elaboração, não se sabia se as fases eram contemporâneas.2 Quando a monografia foi publicada, em 1999, considerou-se ser provável que a Fase A, a formada pelas coleções

__________ 2 As datações, providenciadas por gentileza de Betty J. Meggers, foram liberadas pelo laboratório Beta

Analytic Inc., em janeiro de 2007.

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discrepantes do sítio PR-BS-2 e, as dos sítios PR-BS-5 e SP-RI, fosse mais antiga. As coleções que figuram nas porções inferiores da sua seqüência seriada (cortes 1, 4, 8 e 15) procedem do nível mais profundo do sítio PR-BS-2. Elas pertencem, portanto, a um sítio da Fase A, instalado em parte do espaço posteriormente ocupado pelos formadores do sítio da Fase B. As datações convencionais recentemente conseguidas contemplaram unicamente a Fase A. A de 890 ± 60 d.C. (BETA 224.255) encaixou-se próxima aos níveis inferiores da seqüência seriada e, a de 1020 ± 60 d.C. (BETA 224.256), próxima aos seus níveis superiores.

As coleções procedentes dos níveis mais superficiais dos cortes 1, 4, 8, e 15 do sítio PR-BS-2 compõem a seriação da Fase B.

Nos sítios PR-BS-6 e 7, cujas áreas foram reocupadas e muito danificadas por neobrasileiros, os cortes não forneceram cerâmica em quantidade suficiente para a seriação.

Nas duas fases verifica-se que as tendências dos tipos mostram “saltos” em certos trechos das seriações, refletindo lacunas na informação. Como o espaço não foi pesquisado continuamente, os sítios que forneceriam amostras para amenizar os “saltos” não foram estudados. A disposição das coleções procedentes dos vários cortes evidenciam também, em ambas as fases, ocupações descontínuas nos sítios.

Entre as formas cerâmicas, somente a que foi classificada como 13 (tigela funda de borda introvertida) é exclusiva da Fase B; as outras são comuns às duas fases. Outros traços, como os apontados pela forma 13 e o engobo vermelho, poderiam indicar exclusividade: recipiente com borda ondulada, da Fase A; virote e recipientes com lábio inciso e cabo, da Fase B.

Considerações finais Quando os enterros estavam sendo expostos no sítio PR-BS-2, constatou-se que os situados na parte norte (nos 3 e 4) dispunham-se em posição fletida e, os da parte sul (nos 1 e 2), em posição estendida. Pensou-se, na ocasião, que as diferentes formas de deposição refletissem práticas funerárias próprias das metades clânicas do grupo. A forma diferenciada de enterro conforme o sexo do indivíduo chegou a ser também considerada, mas, a análise posteriormente realizada por Neves, identificando três esqueletos femininos (nos 1, 3 e 4), tornou inválida essa suposição. O esqueleto nº 2, devido ao estado precário de conservação, não pôde ser determinado quanto ao sexo. A definição dos espaços ocupados pelas Fases A e B na área do sítio PR-BS-2, permite novas considerações em torno dos enterros podendo, as diferentes posições, estar relacionadas a cada uma delas. Os enterros fletidos associavam-se às coleções da Fase B. Um dos estendidos (nº 1) encontrava-se no espaço ocupado pelas amostras mais profundas da Fase A. O outro estendido (nº 2), entretanto, estava no espaço ocupado pela Fase B. Grande parte desse esqueleto dispunha-se na quadra 6, aberta conforme o planejamento da escavação. Um corte complementar (9) foi praticado ao lado para expô-lo inteiramente. O crânio e os ossos dos pés começaram a ser evidenciados aos 25 e 27 cm de profundidade, respectivamente, os demais estavam em profundidades maiores. As coleções cerâmicas da quadra 6, representadas por dois níveis até 20 cm de profundidade, integram a seriação da Fase B. As do corte complementar, retirados em níveis de 20 cm, proporcionaram 151 fragmentos no

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primeiro e 41 no segundo, embora quase todos do segundo nível estivessem pouco abaixo do limite do primeiro (de 20 a 23 cm); nenhum fragmento cerâmico foi encontrado junto aos ossos do enterro. É possível, por isso, que as duas coleções desse corte não se liguem ao esqueleto nº 2, que pertenceria à Fase A. Conforme o planejamento original da UHE Tijuco Alto, o restante do sítio PR-BS-2 seria impactado pela obra. Tendo em vista o resultado das pesquisas, um remanejamento foi realizado pelo empreendedor e o local será preservado, integrando-se a uma praça de conjunto habitacional. Escavações complementares nele poderão ser feitas posteriormente.

Referências CBA (Companhia Brasileira de Alumínio). Aproveitamento hidrelétrico Tijuco Alto. Rio Ribeira de Iguape. Relatório de Impacto Ambiental, Consórcio Intertechne-Engemin-Ipec. São Paulo. 1991. CHMYZ, Igor; SGANZERLA, Eliane M.; VOLCOV, Jonas E. Arqueologia da Área Prioritária do Projeto Hidroelétrico Tijuco Alto. Rio Ribeira, São Paulo-Paraná. Curitiba: CEPA/UFPR. 187p. 1999. CHMYZ, Igor. Arqueologia de Curitiba. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba, v. 21, n. 105, p. 5-54. 1995. NEVES, Walter A. Os remanescentes ósseos humanos do sítio PR-BS-2: Morro dos Anjos. Cura, caracterização geral e afinidades biológicas regionais. In: CHMYZ, Igor; SGANZERLA, Eliane M.; VOLCOV, Jonas E. Arqueologia da Área Prioritária do Projeto Hidroelétrico Tijuco Alto. Rio Ribeira, São Paulo-Paraná. Curitiba: CEPA/UFPR. p. 166-179. 1999. MAACK, Reinhard. Geografia Física do Estado do Paraná. Curitiba: Banco do Desenvolvimento do Paraná-UFPR-IBPT. 350 p. 1968.