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Religio cordis brasilienses e espaço público: entre a rejei- ção, a dinamização e a indiferença diante de um projeto de um cristianismo cidadã Helmut Renders Resumo A religião cordis é uma expressão transconfessional da fé cristã que marcou Brasil desde a época colonial (Jesuítas, Carmelitas) até a fase ultramontanista (Sagrado co- ração de Jesus) e que ganhou seus adeptos protestantes e, especialmente, evangéli- cos (reprodução do livro emblemático do autor católico Johann Evangelista Gossner por Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Luteranos e Pentecostais; uso do coração em logotipos da Igreja Metodista Wesleyana e da Igreja Universal do Reino de Deus).Todos estes movimentos eram em território brasileiro ou defensores da escravi- dão, ou inimigos da Republica ou ficaram longe das lutas sociais da segunda parte do século 20, senão até colaboraram com a ditadura. Toda esta conclusão me levou a a- firmação que a religio cordis brasilenses poderia chamada religião cordial, no sentido de uma expressão religiosa do “`homem´ cordial , segundo o uso de S. Buarque de Holanda, com outras palavras: trata-se de uma religiosidade antipública. Por outro lado, há uma linha da religio cordis pouco explorada no Brasil.. Nos séculos 12 e 13, surge uma forma feminina da religio cordis na base do canto dos trovadores, cujas proponentes se tornaram pessoas públicas; na reforma criou-se uma vertente não misticista da religio cordis. Isso começa com os brasões de Lutero e Calvino e e- videncia-se especialmente pelos livros emblemáticos da calvinista Georgette de Mon- tenay e do luterano Daniel Cramer, como no século 18 pela forma como John Wesley reconecta afetividade e presença profética, por exemplo, na sua luta contra a abolição. Finalmente, houve no século 20 no Brasil tentativas protestantes e católicas sérias de reler a religio cordis como modelo para um engajamento cristã não tecnocrata nem bu- rocrata, mas, solidária.

RENDERS, Helmut. "Religio cordis brasilienses e espaço público: entre a rejeição, a dinamização e a indiferença diante de um projeto de um cristianismo cidadã" [Comunicação]

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Religio cordis brasilienses e espaço público: entre a rejei-ção, a dinamização e a indiferença diante de um projeto de um cristianismo cidadã

Helmut Renders

Resumo

A religião cordis é uma expressão transconfessional da fé cristã que marcou Brasil desde a época colonial (Jesuítas, Carmelitas) até a fase ultramontanista (Sagrado co-ração de Jesus) e que ganhou seus adeptos protestantes e, especialmente, evangéli-cos (reprodução do livro emblemático do autor católico Johann Evangelista Gossner por Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Luteranos e Pentecostais; uso do coração em logotipos da Igreja Metodista Wesleyana e da Igreja Universal do Reino de Deus).Todos estes movimentos eram em território brasileiro ou defensores da escravi-dão, ou inimigos da Republica ou ficaram longe das lutas sociais da segunda parte do século 20, senão até colaboraram com a ditadura. Toda esta conclusão me levou a a-firmação que a religio cordis brasilenses poderia chamada religião cordial, no sentido de uma expressão religiosa do “`homem´ cordial”, segundo o uso de S. Buarque de Holanda, com outras palavras: trata-se de uma religiosidade antipública. Por outro lado, há uma linha da religio cordis pouco explorada no Brasil.. Nos séculos 12 e 13, surge uma forma feminina da religio cordis na base do canto dos trovadores, cujas proponentes se tornaram pessoas públicas; na reforma criou-se uma vertente não misticista da religio cordis. Isso começa com os brasões de Lutero e Calvino e e-videncia-se especialmente pelos livros emblemáticos da calvinista Georgette de Mon-tenay e do luterano Daniel Cramer, como no século 18 pela forma como John Wesley reconecta afetividade e presença profética, por exemplo, na sua luta contra a abolição. Finalmente, houve no século 20 no Brasil tentativas protestantes e católicas sérias de reler a religio cordis como modelo para um engajamento cristã não tecnocrata nem bu-rocrata, mas, solidária.

Introdução

O primeiro impulso para discutir a relação entre religio cordis e o espaço pú-

blico vem da obra Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (1937). Se-

gundo a sua tipologia, o “`homem´cordial” e o antítipo de um cidadão moderno,

um sujeito que funde o privado com o público e que reproduz uma cosmovisão

dicotômica.

Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o “homem cordial”. [...] Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tu-do expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. (HOLANDA, 2008, p. 147)

Holanda fala da religião, mas, apesar de até mencionar a carmelita Teresa

de Lisieux (HOLANDA, 2008 [1ª ed. 1937], p. 149), não explora a religio cordis.

Holanda propõe e analisa este tipo sociológico a partir do seu interesse de en-

tender as chances de que o modelo do estado moderno seja aceito em solo

brasileiro. O “`homem´ cordial” é, para ele, um sujeito cheio de paixão e pouco

preparado para os novos tempos:

Nas formas da vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos de aven-tureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares mani-festam-se eles, [...] na distinção [...] entre os povos caçadores e coletores e os povos lavradores. Para uns [...] seu ideal será colher fruto sem plantar a Árvore. Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e, onde quer que se erija um obstáculo a seus pro-pósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em tram-polim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos ho-rizontes distantes. O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcan-çar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, que, no entanto, mede todas as possibilidades (HOLANDA, 2008, p. 44)

Transferimos agora esta distinção do campo da política para o campo da re-

ligião. Em termos religiosos, o “tipo humano [que] ignora as fronteiras” e que

“Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes” se-

ria certamente o místico. Assim, o metodista Guaracy Silveira (1943, p. 219)

entende Loyola: “Loyola enveredou pela estrada dos cavaleiros andantes, do

romance, da lenda e do misticismo”. Em vez desse cavaleiro aventureiro, Gua-

racy Silveira favorece o modelo de Lutero que se aproxima aos traços que Ho-

landa reserva para o trabalhador: “realidades e fatos”. “Na mesma encruzilhada

de Loyola, o monge de Wittenberg não se deixou levar pelas fantasias. Enve-

redou pela estrada mais positiva, e mais de acordo com a realidade dos fatos”

(SILVEIRA, 1943, p. 221). Assim, fica evidente que uma parte do protestantis-

mo clássico não fechou com um discurso místicista1. Entre aqueles/as que vi-

vem sua profissão no mundo e aqueles/as que vivem de experiências místicis-

tas existe uma diferença até abismo, que se reflete em cosmovisões, percep-

ções do mundo e formas de se relacionar com o mundo distintas e pouco acei-

tas pelo grupo oposto. Isso já Holanda observou:

Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventu-ra. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor mo-ral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversa-mente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, insta-bilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam estabilidade, paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material pas-sam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para ele. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do tra-balhador (HOLANDA, 2008, p. 44).

Chamamos a atenção que a ênfase na “recompensa imediata” segundo Ho-

landa, tem raízes antigas, baseadas nas estratégias das conquistas:

a obra da conquista e colonização dos novos mundos coube ao “trabalhador”, no sentido aqui compreendido, papel muito limi-tado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grande voo. (HO-LANDA, 2008, p. 45)

E como poderíamos descrever melhor místicos/as senão como mulheres e

“... homens de grande voo”?

1 Veja também o metodista Buyers (1945, p. 9) e sua distinção entre mística e aquele misticis-mo: “... da união com Deus que priva o homem da sua personalidade” e declaração “O misti-cismo isolado da Sociedade indiferente aos sofrimentos do homem não serve para o mundo moderno. O Evangelho que nós pregamos é uma força social transformadora” (IGREJA ME-TODISTA DO BRASIL, 1934, p. 96). Assim, aplicam estes autores metodistas a distinção ale-mã entre Mystik e Mystizismus “reservando, para a primeira palavra, a possibilidade de síntese de jure com a religião e teologia cristãs, e identificando a segunda, nível metafísico, com o pan-teísmo acósmico, para o qual, a rigor, o mundo e o eu nada são, postulando- se uma síntese ou `confusão de substâncias´ onde o divino devora o mundo e o eu humano” (DREHER, 2004, p. 205).

Concordamos com Holanda, que tudo isso não seja uma base sólida para

um estado laico moderno, sua razão maior ao fazer toda esta sua reflexão:

Assim, nenhuma elaboração política seria possível senão fora dela, fora do culto que só apelava para os sentimentos e os sentidos e quase nunca para a razão e a vontade. Não admira, pois, que a nossa República tenha sido feita por positivistas, ou agnósticos, e nossa Independência fosse obra de maçons (HOLANDA, 2008, p. 150).

Perguntamos o que a observação de Holanda significa para a proposta do

desenvolvimento de igrejas modernas na qualidade de instituições modernas.

Certamente seria também muito difícil criar administrações eclesiásticas trans-

parentes na base do mero apelo “... para o sentimentos e os sentidos e quase

nunca para a razão e a vontade”. O que Holanda, entretanto, não aprofunda é

que entre estes positivistas e maçons e além deles houve católicos gaélicos ou

liberais e protestantes, e que estes religiosos e religiosas não eram agnósti-

cos/as. Ou seja, Holanda não enxerga o possível papel da religião na constru-

ção de um estado moderno. De fato, a esperança de Holanda parte da ideia

weberiana do desencantamento e conta como uma crescente tendência de se-

cularização. Um pouco mais adiante, porém, Holanda descreve a “... exaltação

dos valores cordiais” à luz do “... catolicismo tridentino...” como “... exigência do

esforço da reconquista espiritual”, ou seja, ele descreve o tipo do “`homem´

cordial” como resultado específico do projeto do catolicismo tridentino:

A exaltação dos valores cordiais e das formas concretas e sen-síveis da religião que no catolicismo tridentino parecem repre-sentar uma exigência do esforço de reconquista espiritual e da propaganda da fé perante a ofensiva da Reforma, encontraram entre nós um terreno de eleição e acomodaram-se bem a ou-tros aspectos típicos de nosso comportamento social. (HO-LANDA, 2008, p. 151)

O que em Holanda parece quase descrever um encontro feliz entre a pers-

pectiva católica e uma tal “disposição geral” de “brasileiros” e “brasileiras” era,

segundo a perspectiva protestante da época, um projeto questionado: “[...] Lo-

yola via na Igreja tudo quanto era puro, tudo quanto era santo, tudo quanto era

nobre, e se entregou de corpo e alma a defendê-la, como era, e sem qualquer

pretensão de reformá-la ou modificá-la” (Guaracy SILVEIRA, 1943, p. 219-220).

Finalmente, concluiu Holanda que o futuro do protestantismo dependeria da

sua capacidade de se inculturar e assumir uma atitude menos austera e mais

fervorosa (HOLANDA, 2008, p. 151). Com esta última previsão, Holanda ante-

cipou uma tendência nas clássicas igrejas protestantes brasileiras que come-

çavam somente a aparecer na década de 50 do século passado.

Em nossa discussão sobre a relação entre a religião do coração de fato de-

senvolvida e o tipo “`homem´cordial” chamam-nos a atenção as seguintes ca-

racterísticas do homem cordial:

A combinação de um forte aspecto emotivo juntamente com uma

perspectiva dicotômica do mundo, com pouca disposição para favore-

cer a alteridade;

Pouca disposição para construir um mundo, inclusive um mundo reli-

gioso, passo a passo, por diálogo e segundo o ideal da unidade em

diferença.

Dessa forma, resta ao “homem” cordial ou uma conformidade com o mundo

real, ou a luta, normalmente quando a própria família esteja em perigo. Religio-

samente, isso corresponde de fato a um misticismo que espera ou milagres na

história ou a recompensa na eternidade.

Em seguida exploramos então as articulações da relação entre a religião e o

espaço público em uma das linguagens da religião a religio cordis. É uma lin-

guagem que transcende as confissões, que se expressa metafórica- e imageti-

camente e é uma linguagem cristã constitutiva no Brasil desde a chegada dos

Jesuítas, até a romanização ou fase ultramontanista. E, quando o catolicismo

aparentemente – no mínimo, por enquanto – tinha encerrado a sua contínua re-

leitura do tema, protestantismo e pentecostalismo brasileiro deram continuida-

de. A religio cordis é culturamente tão enraizada, que ele não chama mais mui-

ta atenção como fenômeno o que sua vez favorece a sua apropriação pelo pro-

testantismo ou pelos[as] evangélicos[as] brasileiros[as].

Nosso texto foca em três aspectos da construção da relação entre a religião

e o espaço público, no sujeito religioso, na visão do mundo e no grupo social.

No primeiro capítulo apresentamos como a religio cordis descreve o sujeito re-

ligioso em relação a Deus e o mundo. No segundo capítulo exploramos a sua

cosmovisão, no terceiro capítulo focamos nos grupos sociais “preveligiados”

pela religio cordis e no quarto capítulo nas orientações explicitas quanto à

construção da relação entre o sujeito religioso e a sociedade.

1. Entre a promoção e a aniquilação do sujeito religioso: a diferença

entre textos e imagens de representantes da religio cordis

A relação entre religião e espaço público é sentida e construída por sujeitos

religiosos. Isso fica muito evidente quando estudamos a relação entre sujeito

religioso e espaço público a partir da religio cordis. A investigação dessa rela-

ção enfrenta, porém, logo um obstáculo severa: ou um saudosismo acrítica em

relação a experiências religiosas místicas, ou sua rejeição generalista como pe-

rigosas e entusiastas. Conceitualmente, ajudaria nesta questão em parte uma

mais rigorosa distinção entre mística e misticismo. Tecnicamente, precisa-se di-

ferenciar mais claramente entre experiências e ideias originais expostos em

textos e as representações imagéticas dessas experiências e ideias. Citamos,

em seguida, como exemplos, as contribuições de Mechthild und Gertrud von

Helfta e suas releituras imagéticas oficiais.

Sob influência de Gregório, São Bernardo de Clairvaux e Hildegard von Bin-

gen, Mechthild de Magdeburgo produziu o texto místico mais antigo preservado

em língua alemã: A luz fluente da divindade. Sendo de origem de uma família

da corte de cavaleiros, teve sua primeira experiência mística com doze anos

(cf. VOLLMANN-PROFE 1990, p. 581- 582). Viveu 30 anos segundo as regras

dos Dominicanos em Magdeburgo e morreu no mosteiro cisterciense de Hefta,

para onde ela tinha se retirada por causa do impacto da sua obra.

Sell (2006, p. 50) contextualiza a entrada dessa mulher culta numa ordem

religiosa da seguinte forma:

... na segunda metade do século XIII, muitas viúvas e órfas en-traram nas ordens cristãs, especialmente na ordem dos domi-nicanos, uma consequência da grande perda de cavaleiros nas cruzadas. Estas mulheres cultas e oriundas das camadas altas eram um chão fértil para a teologia mística que correspondia, em muitos casos, a uma disposição para uma emocionalidade excêntrica. Esta emocionalidade ainda não tinha sofrido sua domesticação pelo crescente processo de controle dos afetos, resultado da racionalização que acompanha o processo civili-zatório na Europa...

Assim, não surpreende que nos encontramos dois acentos chaves nos tex-

tos místicos de Mechthild: as ênfases na sabedoria e no amor apaixonado.

Deste modo, esta mística relaciona, por um lado, amor com sabedoria, fato lido

como expressão libertadora dessa nova mística: “A sabedoria sempre acompa-

nha o amor, / ela é a mestre de todas as virgens (sentidos) / Ela guarda o que o

amor contribui, / e transforma aquilo que o ser humano lê ou ensina em algo ú-

til”.2 Por outro lado, a mística de Mechthild vincula a linguagem de amor – par-

cialmente inspirada pelo livro bíblico dos Cânticos – com o ideário da união

mística:

Ó tu montanha em chamas, / Ó tu sol escolhido, / Otu lua chei-a, / Ó tu poço sem fundo, / Ó tu altura inatingível, / Ó tu clareza ilimitada, / Ó sabedoria sem fim, / Ó misericórdia sem impedi-mento / Ó poder irresistível / Ó coroa de toda a honra, / Tu és louvado pelo menor já criado por ti. // Eu estou em você e você em mim, / Não podemos estar mais próximos, / pois somos dois confluídos / e postos num só molde, / e assim devemos permanecer incólumes para sempre. // Quando meu Senhor vi-er, / eu saio de mim mesmo, / Ele me traz um som tão doce das cordas, / Que me liberta da inconstância da minha carne, / E seu toque de cordas é tão repleto de doçura, que ele me liberta de todas as tristezas do coração.3

Em outros textos, o coração divino ao qual a mística está se “encostando” é

descrito como “abrasado” (glühend) (WEISS, 2004, p. 2005 e 2006). Segundo

Schneider (2007, p. 184-185) Mechthild se refere da seguinte forma ao coração

de Jesus:

Em primeiro lugar ela se refere a um amor íntimo para com o Senhor, que se dirige mais e mais ao seu coração e deságua na troca dos corações. O coração de Jesus mostra-se a ela em uma de suas visões como em chamas e ferido, e em qual toda vida cheio do amor do interior do Senhor tomou morada. [...] Ela quer participar em todas as suas dores e todos os seus so-frimentos, e dessa forma responder ao seu amor.

Em termos formais – “Ele me traz um som tão doce das cordas” – Mechthild

se apropria religiosamente do canto da Minne (KEUL, 1998, p. 97-111), expres-

são clássica medieval da canção do amado para a sua amada, também enten-

dido como uma fase protorromântica e altamente prestigiado pelo romantismo

2 Veja Magdeburg (1995 [1ª ed. 1260], vol. 7, p. 48) Die Weisheit ist immer bei der Liebe, / ist Meisterin aller Jungfrauen (Sinne). / Sie behält, was immer die Liebe gewährt, / macht nützlich, was der Mensch liest oder lehrt.“ 3 Texto original confira Schmidt (2001, p. 75): “O du brennender Berg, / O du auserwählte Sonne, / o du voller Mond, / o du grundloser Brunnen, / o du unerreichbare Höhe, / o du maßlose Klarheit, / o Weisheit ohne Boden, / o Barmherzigkeit ohne Hinderung, / o Stärke ohne Widerstand, / o Krone aller Ehren dich lobt der Geringste, den je du schufest. // Ich bin in dir und du bist in mir, / wir können uns näher nicht sein, / denn wir zwei sind in eins geflossen / und sind in eine Form gegossen, / und so sollen wir ewig bleiben unverdrossen. // Wenn mein Herr kommt, / dann komme ich aus mir selbst, / er bringt mir so manchen süßen Saitenklang, / der mich befreit von dem Wankelmut meines Fleisches, / und sein Saitenspiel ist so voller Süßigkeit, / so dass er mich befreit von allem Herzeleid”.

europeu nos meados do século 19.4 Além disso, Mechthild integra ao canto da

Minne a mística da noiva, motivo conhecido já desde a patrística. Facilmente

percebe-se a proximidade deste genre com textos de Teresa de Ávila e da mís-

tica da noiva moraviana (FEIL, 2007, p. 185-187).

Segundo Mechthild, o coração de Jesus bate diferente dos corações huma-

nos. Seus batimentos cardíacos são compostos por quatro momentos:

Como o seu coração bate tão fortemente desde o início, ele quebra na cruz com rapidez. O Primeiro batimento vem de seu amor todo-poderoso com o qual ele tem carregado todo sofri-mento pacientemente. O segundo batimento se origina no seu amor sábio, por meio do qual ele dirige e organiza tudo de for-ma maravilhosa. A terceira tem a sua origem no seu doce a-mor, através dele: ele transcende até a amargura em algo ami-gável. O quarto batimento é cheio de ternura e representa a bondade humana do Senhor por meio da qual se torna tão a-migável para nós (WEISS apud SCHNEIDER, 2007, p. 186).

Assim, a religião do coração carrega desde o seu início o imaginário da pro-

ximidade e intimidade entre Cristo e o fiel até a ideia de uma união mística com

ele. Ela parte de modelos do relacionamento não por obrigação, mas marcados

pelo caráter amoroso, pela paixão e pela escolha livre. Por causa disso, encon-

tramos, com frequência, imagens e discursos que consideraríamos no cotidiano

como discursos eróticos.

Gertrude contribuiu para o gênero e imaginário da transverberação do cora-

ção, que transforma em imagem a experiência da inscrição das feridas de Je-

sus no coração humano (MAÇANEIRO, 2002):

O lado aberto de Jesus – porta de acesso ao segredo interior do Coração – era uma imagem muito presente às beneditinas de Helfta, como testemunham Matilde de Magdeburgo e Matil-de de Hackeborn, do mesmo mosteiro. Gertrudes se insere neste contexto e bebe desta percepção mística que, por sua vez, remonta à antiga tradição patrística. Os elementos que a distinguem são: 1 a intensidade psico-afetiva da experiência; 2. sua explicitação como processo pessoal de união e conforma-ção com o Coração de Jesus; [...] Logo depois, Gertrudes ma-nifesta um desejo particular, que merece nossa atenção de lei-tores: Ó Senhor misericordioso, inscreve tuas feridas no meu coração!.

4 Confira, por exemplo, a “restauração histórica” da sala dos cantores na Wartburg, castelo a-lemão conhecido pela presença de Lutero. A restauração histórica é obra do século 19 e repre-senta uma releitura romântica da época da Minne.

Trata-se, portanto, de uma variação do motivo da recepção de estigmas,

com influências diretas nos séculos 16 (Teresa de Ávila) e 17/18 (João Eudes,

Margarida Maria Alacocque). Como veremos, prevalece até Teresa de Ávila um

discurso de prosa e de poesia. A transformação das experiências religiosas de

aparições de Cristo articuladas como religio cordis em imagens occorre não an-

tes do início do século 15. Schneider (2007, p. 187) comenta que Gertrude,

bem como Mechthild, “não adoraram Jesus Cristo tanto como homem de dores,

mas como rei, de acordo com a imagem litúrgica de Cristo”. Esta ênfase no

Cristo rei iremos ainda encontrar muito entre os místicos e as místicas do cora-

ção.

As vidas de Mechthild e Gertrude abrangeram as épocas da quinta (1217–

1221) até a sétima cruzada (1270). Este ciclo encerrou-se com a perda da últi-

ma fortaleza em Akkon no ano 1291 e, por acaso ou não, com isso termina

também esta primeira ênfase numa mística da união por meio das metáforas e

das imagens da religião do coração de origem alemã mediante de textos. Con-

tinuidade dariam a italiana Catarina de Siena (1347-1380) e, quase 200 anos

depois, a espanhola Teresa de Ávila (1515-1582). Porém, justamente no inter-

valo entre a morte de Catarina de Siena e o retorno do tema em Teresa de Ávi-

la, aconteceu uma ampla difusão da mística do coração, e isso por dois movi-

mentos distintos. Cronologicamente falando, primeiro, articulou o tema como

Herzensanliegen do discípulo amado de Jesus, João. O outro movimento se

dedicou à popularização das obras das místicas de Helfta por meio da arte sa-

cra através de esculturas e pinturas. Compare as suas contribuições para o

discurso da religião do coração e os discursos imagéticos das próximas três

gravuras ou pinturas da Mechthild (figura 1 e 34) e de Gertrude (figura 2 e 3).

Figura 1: Mechtild de Helfta, século 18 Figura 2: Gertrude de Helfta, séc. 18, Peru

As representações iconográficas dessas duas pioneiras da religio cordis não

destacam as suas contribuições específicas ou originárias. Elas são agora in-

tegradas em dois outros discursos: o da troca do coração (figura 1) e o do ter

Cristo em seu coração (figura 2).5 No tempo do barroco (figura 3) é a vez do re-

trato de Gertrude com um coração em chamas:

5 Iremos ver mais adiante (figuras 143 e 144, p. 142 dessa tese) que a iconografia aplicada as esculturas ou pinturas da Gertrude já no século 17(!) o coração oco,com Cristo morando nela.

Figura 3: Gertrude de Helfta com o coração em chamas [esquerda, abaixo] e Mechthild de Helfta [direita abaixo];

1722, Alemanha

Fica claro que as imagens reproduzem somente um aspecto dos discursos

dessas duas carmelitas, a radicalidade da experiência mística, representada

pelo motivo da troca completo (do coração) ou pelo coração em chamas.

Dessa forma, desaparece a riqueza dos discursos desses dois sujeitos reli-

giosos e com isso também o seu significado para os discursos distintos do seu

cotidiano. No mesmo momento que elas começaram anotar as suas visões en-

traram em choque com as autoridades religiosas. Especialmente, Mechthild,

também chamada de Magdeburgo, saiu do castelo onde ela foi criada e viveu

como Begine, isso como uma freira que não mora em um monastério. Sua au-

tonomia e suas visões acumulam em um debate público com o bispo de Mag-

deburgo e uma luta para restringir o espaço desses grupo, que pela sua ênfase

radical no maor de Deus se relaciona de uma forma diferente com o mundo .

2. Entre o desaparecimento do e da insistência no mundo: os livros

emblemáticos de Aton Wierix, Georgette de Montenay e Daniel Cramer

Comparamos, em seguida, como o mundo aparece em três livros emblemá-

ticos da religo cordis: o mais antigo, com o título Emblèmes ou devises chresti-

ennes (1567-1571), é da calvinista Georgette de Montenay (1540-1581). Segue

a obra Cor Iesv amanti sacrvm (1586/87) do jesuíta Anton Wierix (1555-1604) e

Emblematica Sacrav(1624), escrito pelo luterano Daniel Cramer (1568-1637).

O gênero dos livros emblemáticos surge na renascença com o italiano Andre

Alciati (1492-1550). Eles misturam as linguagens de textos e imagens pela

combinação de inscriptio, pictura e suscriptio e se inspiraram nos hieróglifos

envolvendo o[a] leitor[a] no próprio jogo de interpretação. Cabe a francesa Ge-

orgette de Montenay (Cf. MATHEWS-GRIECO 1994, p. 283-370) de ser a pri-

meira que usou esta forma na propagação da fé cristão e segundo o formato da

religio cordis.6 Terminado ao redor de 1561, porém lançado somente depois da

paz cedida pelo Edito de Saint-Germain em 1570 (ADAMS, 2003, p. 10) – e um

ano antes da noite de São Bartolomeu, o massacre entre protestantes em Paris

em 1572 –, tornou-se popular em toda a Europa. Em seguida, mostramos o

emblema 5 do seu livro, com o inscriptio – ou lema non tuis vireus (não [pela]

sua força).

6 Ele tinha acesso aos textos de Metchthild e Gertrude, porém, talvez seja tão relevante que os brasões de Calvino e Lutero contiveram corações.

Figura 4 – Montenay (1570, p. 5). Emblema “Non tuis vireus”

(“Não a sua força”)

A pictura é composta por um ímã – que ocupa o centro –, um coração maci-

ço, uma paisagem com montanhas, campos e árvores e partes de uma cidade.

Segundo a autora, o protestante move-se nesse mundo pela graça de Deus e

pela mesma graça o transforma. O suscriptio afirma essa interpretação: “O fer-

ro é atraído pela força do ímã, e o ser humano, através da compaixão de Deus,

é atraído a Cristo. Então você não deve esperar viver por sua própria força,

mas aprender que a vida foi sendo concedida a você através do dom de Deus”.

Observe a representação do ser humano pelo coração e do divino, pelo ímã, ou

seja, como força atraente, a qual corresponde o evangelho. Na linguagem ico-

nográfica da autora o coração sempre é maciço e representa o ser humano

como tudo, movido por Deus, no mundo. Em tudo livro aparece o diabo somen-

te uma vez. Na cosmovisão da autora, são Deus e o ser humano que dominam

a terra. E mais. Montenay é dama de honra de Jeanne d’Albret, a Rainha de

Navarra. Ela apresenta para os círculos humanistas e aristocratas da época as

ênfases protestantes no momento em que a sociedade francesa estava discu-

tindo seu futuro religioso.Ela é uma mulher moderna, assume seu papel na his-

tória, domina novas técnicas de comunicação e é clara na sua articulação e

posição teológica.

Anton Wierix junto aos três irmãos torna-se um dos gravuristas mais impor-

tantes da promoção da fé jesuíta e da reforma católica, com imenso impacto na

América Latina. Em sua obra Wierix cita aspectos iconográficos desenvolvidos

no século anterior, mas, aperfeicionou e popularizou uma das linguagens da re-

ligio cordis mais emblemáticas e relidas, inclusive, pelo protestantismo.7

Figura 5: WIERIX, Cor Iesv amanti sacrvm, 1586/87

Wierix foca no aspecto interior da vida humana e cristã. Lá ocorre o realmen-

te importante. Nas suas gravuras, Cristo bate na porta do coração, limpa e ilu-

mine o coração, toma morada e reino no coração. O mundo, não é tema das

suas gravuras, não cita a natureza, nem a cultura. Em suas imagens aparece o

7 Isso vale no sentido literal – há obras luteranas que simplesmente copiam Wierix - como sen-tido indireto (Gossner, 1812).

diabo como contraente de Deus que briga pelo coração humano, mas, nunca

dentro do coração.

No texto de Cramer, os emblemas não são mais enigmas e não pretendem

acrescer sentido, eles somente ilustram a palavra. “Cramer baseia-se menos

na tradição emblemática, mas, dá mais consideração à metafórica bíblica”

(WARNKE, 2008, p. 122). Com isso, Cramer representa a prevalência da pala-

vra sobre a imagem. Em outras palavras, a imagem conduz ao texto bíblico e

fica sem o conhecimento do texto bíblico incompreensível.

Figura 6: Cramer, Emblematica Sacra, 1624, p. 16

Figura 7: Cramer, Emblematica Sacra, 1624, p. 17

Mas, também na forma como se retrata o coração, encontramos em Cramer

uma linguagem emblemática bem distinta de Wierix e mais próxima de Monte-

nay. O emblema do coração nunca é oco e sempre maciço como representante

do ser humano na sua totalidade que responde a Deus sem ser tirado do mun-

do. Como em Lutero, o coração representa o ser humano vivo em sua totalida-

de e jamais seria identificado com o coração de Jesus Cristo. Novamente, é o

diabo uma figura parcial que aparece, num total de 50 emblemas, somente du-

as vezes nos emblemas 3 e 46. Daniel Cramer não somente contempla o mun-

do na sua arte. Em duas obras, Areteugenia de 1592 e Plagium de 1593, ele

articulou o mal trata dos camponeses e a vida difícil dos carboneros.

Assim, podemos identificar discursos diferentes quanto a integração do

mundo no discurso da religio cordis. Mais uma vez chegamos na conclusão

que não uma interpretação generalista, mas, somente um investigação deta-

lhista faz justiça quanto à relação entre o religio cordis e o espaço público.

3. Entre a defesa do povo e a defesa do rei: a religião de coração e vida

de John Wesley e a devoção do sagrado coração de Jesus

Nesta terceira abordagem focamos no grupo social especificamente favore-

cido ou promovido pelo religio cordis. Apresentamos para isso a relação entre

religio cordis e opção política de jesuítas franceses no fim do século 18 e, do

mesmo século da opção pelo povo entre o anglicano inglês John Wesley.

A devoção do sagrado coração de Jesus não recebeu meramente pleno a-

poio pelos Jesuítas, eles também a politizaram. No decorrer dos próximos cem

anos transformaram a devoção em devoção ao rei, ou seja, uma devoção em

defesa da monarquia absolutista do tipo católico. Edmunds (2006, p. 550-577)

comenta a reafirmação da proximidade entre a corte e os Jesuítas a partir da

construção da capela do sagrado coração de Jesus em Versailes, em 1765,

ano também “de uma manifestação papal benévola em relação à nova devo-

ção” (GIUMBELLI, 2008, p. 86). Isso significou a universalização da devoção

em toda a Igreja Católica pelo Papa Clemente III.8 Consequentemente tornou-

se o emblema do sagrado coração de Jesus na época da revolução francesa,

emblema daqueles que defenderam a monarquia (figura 8).

8 Schneider (2007, p. 198) comenta: “Não deve ser subestimado que a Companhia de Jesus, que tentou hibernar durante os anos de sua proibição, entre 1773-1814, na sociedade do Sa-grado Coração, atribuiu a sua restauração à graça do coração de Jesus. Em gratidão, consa-grou-se, então, em 1872, a ordem inteira ao sagrado coração de Jesus.” Esta consagração a-conteceu no ano que a França perdeu a guerra contra a Prússia.

Figura 8: Dieu le Roi (Deus rei),

França, séc. 18

Wesley não ensina que a felicidade seja alcançada, principalmente, por meio

do contentamento ou da obediência aos priores das ordens, mas, como uma a-

titude aberta ao outro e em contato com o mundo, na base da liberdade da

consciência e anota em seu diário no dia 18 de maio de 1788:

Somente os metodistas não insistem em ter esta ou aquela o-pinião, mas eles pensam e deixam pensar. Nem eles impõem uma forma particular de culto, diferente, você pode continuar a celebrar o culto na forma anterior, qualquer que seja. Então, eu não conheci nenhuma sociedade religiosa, seja na antiguidade ou na modernidade, onde esta liberdade de consciência é per-mitida ou tenha sido permitida, desde a época dos Apóstolos. Aquilo é nossa glória, uma glória particularmente nossa. Qual sociedade compartilha-a conosco? (WESLEY, 1788)

Segundo Wesley, Deus, “pelo seu próprio bom prazer, criou uma criatura

como o ser humano, um espírito incorporado, e, como consequência da sua

natureza espiritual, foram providenciadas compreensão, vontade e liberdade”

(WESLEY, 1777b, §6). Com outras palavras, “liberdade, vontade e compreen-

são” fazem, segundo Wesley, parte do prazer divino na humanidade e da sua

“natureza espiritual”.

Um raro exemplo de um emblema da religião do coração wesleyano encon-

trada numa capa de um panfleto publicado por John Wesley em 1748 (figura 9).

Nele, uma águia está pousada acima de um coração. Gravada é ou o momento

da partida ou o momento da chegada.

Figura 9: WESLEY, John. Uma palavra para

um bêbado, 1748 [capa]. Figura 10: ibidem, detalhe.

Com clareza podemos identificar as chamas acima do coração (figura 10)

encontrado em emblemas puritanos (por exemplo, no brasão da cidade de

Plymouth, de 1629), mais, porém, em emblemas jesuítas. Interessante é que

se trata de fato de um emblema no sentido mais clássico, cujo significado so-

mente se revela a quem conhece o texto bíblico. A combinação de um águia

com um coração remete a textos como Êxodo 19.4 e Isaias 40.31 que se refe-

rem a misericórdia de Deus que dá a força para se reerguer. Se for isso a ideia,

seria uma representação que sinalizasse bem o objetivo do panfleto a qual per-

tence, por se direcionar a pessoas em crise por abusarem do álcool, chamadas

para reagir em resposta à graça universal de Deus, sua misericórdia e amor.9

Certamente constrói a maioria dos/as metodistas brasileiros/as a relação en-

tre a religião do coração e John Wesley a partir da descrição de uma experiên-

cia religiosa, ocorrida no dia 24 de maio de 1738. Ela foi, posteriormente, com-

partilhada por Wesley no seu diário, publicado pela primeira vez em 1741.

À noite fui sem grande vontade a uma reunião na Rua Alders-gate, onde alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola aos Ro-manos. Cerca de um quarto para as nove, enquanto ele des-crevia a mudança que Deus realiza no coração pela fé em Cris-to, senti meu coração estranhamente aquecido. Senti que con-fiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação; e uma segurança foi-me dada, de que Ele havia perdoado os meus

9 Assim modificamos a nossa primeira impressão que se tratasse de um aspecto meramente i-lustrativo ou melhor ainda, estético, talvez mais segundo o costume da gráfica que imprimiu o texto do que resultado de uma ação consciente do autor. Apesar da singularidade do fenômeno entendemos que John Wesley aqui aplica as regras clássicas renascentistas da construção de emblemas, porém com uma transposição da cultura clássica grega para o mundo “clássico” bí-blico.

pecados, sim os meus pecados, e salvou-me do pecado e da morte.

Antes de interpretar o texto, discutimos a sua divulgação. Com cada reim-

pressão do diário, o relato de Aldersgate também foi novamente divulgado e

reafirmado como momento importante da vida espiritual de John Wesley. Entre-

tanto, somos confrontados pelo surpreendente fato que Wesley, quando falava

da história do metodismo e seus momentos marcantes em si, nunca mencionou

novamente essa sua experiência pessoal (WESLEY, 1777a; HAMPSON,

1791). Interpretamos esse duplo resultado da seguinte forma: Wesley nunca

negou a importância dessa experiência para ele mesmo, porém jamais a en-

tendia como modelo único ou padrão para o movimento metodista em geral

(assim também HEITZENRATER, 1990, p. 91).10

O próximo elemento da retórica do coração em John Wesley tem outra reso-

nância cultural, ainda não mencionada. Na discussão da parte final dos Pen-

samentos sobre a escravidão refere-se Carey (2003, p. 269-284) a “retórica

sentimental” de Wesley e sua

... ideia da simpatia. Quase todas as argumentações genuina-mente sentimentais nos textos do século 18 tornam ao redor do relacionamento central entre a sensibilidade, a capacidade de sentir, e a simpatia, a capacidade de imaginar os sentimentos de outro como seus próprios. De fato, uma definição importante da palavra “simpatia” – no Dicionário de Samuel Johnson (1755) – a descreve como “sensibilidade mútua” (CAREY, 2003, p. 284).

Entendemos que esta sensibilidade mútua era tanto importante para as so-

ciedades metodistas em sim (chamado por Wesley “religião social”) como pela

sua relação com o mundo ao seu redor (chamado por Wesley em sua qualida-

de como “santidade social”). Veja, por exemplo, a passagem do sermão conhe-

cido chamado originalmente Catholic Spirit, que pode ser traduzido por espírito

“católico”, “ecumênico” ou até, num sentido menos literal, “Espírito amplo” ou

Espírito aberto” (negrito pelo autor).

Mas, embora a diferença de opiniões ou de formas de culto possa obstar a completa união orgânica, deve tal diferença im-pedir nossa unidade de sentimentos? Embora nos não pos-samos pensar do mesmo modo, não podemos amar a maneira

10 Isso quer dizer que a ênfase do metodismo brasileiro no “coração aquecido”, como experiên-cia religiosa “tipo” Aldersgate, não tem muito respaldo de ponto de vista do próprio Wesley.

igual? Não podemos ter um só coração, ainda que não te-nhamos uma opinião só? Sem dúvida alguma que o pode-mos. Nisto todos os filhos de Deus podem unir-se, não obstan-te aquelas diferenças secundárias. Permaneçam estas como estão, e ainda os crentes podem-se acompanhar uns aos ou-tros no amor e nas boas obras. (WESLEY, 1985, p. 254 [§5]).

Nesta passagem, “ter coração” significa saber-se relacionar com pessoas di-

ferentes. A expressão “unidade de sentimentos”, porém, requer um comentário.

Wesley fala, literalmente, da union in affection. A palavra articula que uma pes-

soa é aberta para outra pessoa, capaz de reagir às suas alegações de forma

respeitosa é sob uma intenção positiva,11 ou de forma solidária e profética:

V.3. Você é um homem? Então você deve ter um coração hu-mano. Mas você tem realmente? De que é feito o seu coração? Será que não se encontra nele um princípio como o da com-paixão? Você nunca sente a dor do outro? Você não tem sim-patia com ninguém? Nenhuma percepção da dor humana? Nenhuma pena para com o miserável? [...] Quando você aper-tou as criaturas agonizantes para entra nos fundos do navio, ou quando você jogou seus pobres restos destroçados no mar, você não se compadeceu? Não houve uma só gota de lágrima em seu olho, não escapou nenhum suspiro do seu peito? (Wesley, 1774, 46-47 apud MAIA RENDRS, 2013, p. 175).

Aqui “ter um coração” significa desenvolver uma afetividade que supera in-

justiças, mesmo que eles seja a base da sua própria existência econômica. A

“religião do coração e da vida”, representa então, o exercício de uma “Espiritua-

lidade comprometida” que relaciona “... santidade interior e exterior, santidade

de coração e santidade de vida, vida cristã pessoal e reciprocidade cristã co-

munitária, santidade pessoal e santidade social” (JOSGRILBERG, 1993, p. 52).

4. O mundo entre um lugar a ser construído por seres humanos e que destrói seres humanos: os temas da sedução ou perseguição pelo mun-

do e da caridade em Huby e Gossner e o ideal do compromisso de cora-ção em uma publicação de Miguez-Bonino

Neste último passo procuramos evidência ainda mais diretas nos livros em-

blemáticos, logotipos etc. investigados. Para isso, comparamos a linguagem

emblemática de Johann Evangelista Gossner (1773-1858) com uma arte de

uma capa de um livro metodista.

11 Quanto a compreensão de afetos em Wesley veja especialmente Randy Maddox (1996, p. 151-172; 2001, p. 3–31)

A iconografia de Wierix foi traduzida pelo dominicano Michel Nobletz (1577-

1652) e jesuíta Vincent Huby (1608-1693) em pinturas e usada pelos dois fran-

ceses, na missão de classes populares na Bretanha, França (cf. RENAUD,

1954). Huby acresceu acima do coração uma face que serviria como “espelho

da alma” ou do interior representado pelo coração. Mediante de uma versão

impressa de doze emblemas, criada no fim da sua vida, que sua vez foi tradu-

zida no fim do século 18 para o alemão, os emblemas foram reeditadas em

1812 por Johann Evangelista Gossner no seu Livrinho do coração. No Brasil, a

versão de Huby foi provavelmente propagada durante o século 18, e a versão

de Gossner durante tudo século 20 até hoje em edições presbiterianas, lutera-

nas, metodistas, pentecostais e batistas.

Figura 11: Vincent Huby, O homem no es-tado da perseverança Daniel Liebsohn

Collection, Mexico City: [1780-1820]

Figura 12: E. B. Gossner. O coração do ho-mem [9ª edição ]. São Paulo: Vida Nova,

2007, p. 40

Neste emblema – as versões do jesuíta Huby e do luterano Gossner são ba-

sicamente idênticas – a relação entre o cristão e o mundo é três vezes descrita.

Primeiro, é o mundo representado por dois homens. Um segura um copo de vi-

nho, representando a sedução pelo mundo, ou outro, segura uma faca, que si-

naliza a perseguição pelo mundo. Segundo este conceito, o mundo representa

um lugar de um perigo total. A sacola com dinheiro se refere a caridade, ele-

mento importante já na espiritualidade medieval. Nesta versão da religião do

coração, não há espaço para articular a transformação do mundo.

Finalmente, gostaria de compartilhar, mais uma vez um discurso alternativo

ao anterior. Trata-se de uma capa de um livro que mistura a linguagem da reli-

gião do coração com uma citação da pintura da criação da Capela Cistina.

Figura 13: Miguez-Bonino. Ama e fazes o

que quiseres, 1982, capa.

Aqui, é o encontro entre as mãos de Deus e de Adão que constrói “amor”.

Definitivamente, este discurso não articula um misticismo encurvado em si

mesmo ou um teocentrismo que mina a responsabilidade humana. Em diferen-

te lembrado discurso do Evangelho social, como, por exemplo de Edwards (cf.

RENDERS, 2009, p. 43-65). Para o autor, a “religião do coração ardente / a-

brasado (burning)” representa um entre sete elementos da religião, todos vistos

com aspectos complementares da vida cristã. Bem diferente do que no Livrinho

do coração, Edward (1919, p. 47, 49-50) descreve “a religião do coração abra-

sado” como

... obrigação social: a experiência cristã é ambos individual e social, ela pertence a nós, mas pertence também aos outros. [...] Pouco percebemos como os nossos caprichos são cons-tantemente corrigidos pela saudável atmosfera da comunhão cristã. O misticismo seria transformado em mero vapor, excen-tricidades seriam insuportáveis [...] Nossa experiência, portan-to, pertence aos outros para o bem comum de todos. Em seu último livro antes de sua morte prematura, professor Raus-chenbusch coloca o pensamento com estas pala-vras:m"Qualquer experiência ou pensamento religiosos em que nossos companheiros não têm parte não parece ser uma expe-riência especificamente cristã.

Anota-se que o autor relaciona a religião do coração ardente com uma expe-

riência religiosa declaradamente distinta do misticismo e obrigatoriamente

comprometida com o “bem comum de todos”, ainda mediante uma citação dire-

ta do livro Teologia do evangelho social de Walter Rauschenbusch (1917).

Considerações finais

A relação entre a religião, melhor, o sujeito religioso e o espaço público é ar-

ticulada por diversas linguagens religiosas, entre elas, a linguagem do religio

cordis. Já desde as suas origens desenvolvem-se linguagens alternativas para

focar no interior do ser humano, valorizar, mas também, controlar das emoções

internas do ser humano. Não encontramos somente um só modelo ou um só

posicionamento. Mesmo assim, podemos concluir que sistemas católicos e pro-

testantes têm abordagens distintas e preferenciais, especialmente, depois da

reforma católica e até o segundo Vaticano.

Quanto à presença pública das pessoas apresentadas, destacam-se certa-

mente Mechthild de Helfta (ou de Magdeburgo), Georgette de Montenay e John

Wesley. Todos enfatizam o amor de Deus, assumem seu papel na história e na

vida pública, Montenay, eventualmente, mais restrito aos seus círculos, porém,

não com menos destaque e impacto.

A relação com o mundo parece ser diretamente relacionado com a compre-

ensão da relação de Deus com estes sujeitos religiosos. Todos[as] enfatizam o

amor de Deus. Isso os[as] coloca no mundo de uma forma que não permite to-

lerar restrições sociais da época. Eles[as] se dedicam com afeto aos excluídos

dos seus tempos.

Porém, não todas as formas de religio cordis tinha esta pretensão e este e-

feito. Existem formas da religio cordis que reduzem a êxtase religiosa ao nível

da experiência privada e individualista, dentro dos padrões estabelecidos pela

igreja oficial e, no caso do Brasil colonial, dentro da lógica de uma sociedade

escravagista. Não é por acaso que a ordem da Teresa de Ávila no Brasil – as

carmelitas descalçadas – unia a elite da sociedade colonial e propagava uma

mística do coração transverberado em sintonia com o sistema colonial.

Quanto à relação entre religião e vida pública no Brasil, o religio cordis re-

quer mais diferenciação e merece mais interesse, pela sua importância históri-

ca como parte do projeto religioso colonial e pela a sua capacidade única de

trazer para esta relação o impacto da afetividade, ou alienadora, ou libertadora.

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Figura 5 WIERIX, Anton. Cor Iesv amanti sacrvm, 1586/87 Figura 6 CRAMER, Daniel. Emblematica Sacra, 1624, p. 16 Figura 7 CRAMER, Daniel. Emblematica Sacra, 1624, p. 17 Figura 8 Dieu le Roi (Deus rei), França, séc. 18. Disponível em: <

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Figura 13: MIGUEZ BONINO, José. Ama e faze o que quiseres: uma ética para o novo homem. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodis-ta, 1982, capa (foto H. Renders).