Upload
iscte-iul
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2327
O Papel da Confiança Organizacional Antes e Depois da Mudança
Organizacional
Vítor Hugo Silva
1, Susana Santos
2 & António Caetano
3
1Doutorando em Psicologia, ISCTE-IUL
2Doutoranda em Gestão de Recursos Humanos, ISCTE-IUL
3Professor Associado com Agregação, ISCTE-IUL
O presente estudo aborda o papel mediador da confiança organizacional na relação
do o contrato psicológico e da troca líder-membro (LMX) com a satisfação com o
trabalho, em dois momentos diferentes, antes e depois de uma mudança
organizacional, numa mesma organização (N 2003 = 214; N 2007 = 370). Existem
diferenças estatisticamente significativas entre a satisfação com o trabalho, o
contrato psicológico, a LMX, e a confiança organizacional entre 2003 e 2007. Os
dados evidenciam uma mediação parcial da confiança organizacional na relação
entre o contracto psicológico e a satisfação com o trabalho em ambos os momentos
de análise, enquanto que a LMX constitui uma variável preditora na mediação em
2007 (R2adj2003 = .581; R
2adj2007 = .561). Os resultados são discutidos à luz da
importância das práticas de gestão enquanto promotoras da confiança na
organização e das atitudes e comportamentos dos colaboradores.
Palavras-chave: Confiança organizacional, Satisfação com o trabalho, Contrato
psicológico, LMX, Mudança Organizacional.
1. INTRODUÇÃO
O actual contexto económico e financeiro introduz no mercado variáveis de
competição e forte concorrência que obrigam as organizações a uma maior capacidade
de resposta às exigências da envolvente. Esta necessidade implica mudanças e uma
atenção particular às práticas de gestão de recursos humanos e suas repercussões nas
atitudes e comportamentos dos colaboradores.
A satisfação com o trabalho, amplamente reconhecida como um dos mais fiáveis
preditores das atitudes dos colaboradores em resposta à qualidade das experiências
laborais (Lapierre, Spector, & Leck, 2005), trata-se de um estado emocional positivo
que se traduz em sentimentos de bem-estar, resultante de experiências laborais ou
avaliações pessoais entre as condições e/ou resultados actuais e os desejados ou
percepcionados como merecidos (Madamba & De Jong, 1997; Cranny, Smith, & Stone,
1992).
Não se tendo verificado até à data uma tentativa de entender a dinâmica ao longo
do tempo entre alguns dos antecedentes e consequentes da satisfação com o trabalho
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2328
evidenciados na literatura, o presente estudo pretende contribuir para o desvanecimento
dessa lacuna teórica e empírica.
Tomando a teoria da troca social (Blau, 1964) como abordagem explicativa e de
análise das relações entre as diferentes variáveis, apresenta-se um modelo teórico
focalizado em dois dos principais preditores da satisfação com o trabalho – contrato
psicológico e a relação entre a chefia e os subordinados. Este modelo sugere ainda o
papel mediador da confiança organizacional testado em dois momentos temporais
diferentes permitindo desta forma, não só a validação da sua estabilidade mas também,
aferindo as transformações no seu padrão de relações quando uma organização é alvo de
mudança nomeadamente na implementação de estratégias de desenvolvimento dos seus
recursos humanos.
2. SATISFAÇÃO COM O TRABALHO
A satisfação com o trabalho surge como um elemento central da vida
organizacional, notando-se claramente que a estrutura organizacional, as práticas de
gestão e sistemas de recompensas (Churchill, Ford, & Walker, 1976), participação,
envolvimento e partilha de valores (Brown & Peterson, 1993), suporte organizacional
(Babakus, Cravens, Johnston, & Moncrief, 1996) constituem importantes preditores que
influenciam de forma única os comportamentos, quer a nível individual quer a nível
organizacional e relacional (Spector, 1997), pelo que o seu estudo tem despertado as
mais diversas abordagens.
Focando-se inicialmente em variáveis individuais como a idade, género, estado
civil, raça, cultura e educação (White & Spector, 1987), características do próprio
trabalho (Hackman & Oldham, 1976) e os processos de ajustamento entre a formação e
as tarefas desempenhadas pelos indivíduos (Nguyen, Taylor, & Bradley, 2003),
actualmente a investigação caminha no estudo dos contextos relacionais e diferentes
variáveis da vida organizacional como a relação dos subordinados com as suas chefias,
autonomia e implicação do indivíduo com as tarefas que desempenha (Kochar, 2008).
A importância do estudo e compreensão dos processos e factores que conduzem a
níveis mais ou menos elevados de satisfação com o trabalho justifica-se porventura no
poder preditivo e influência da satisfação com o trabalho no bem-estar físico e
psicológico dos indivíduos (Diaz-Serrano & Cabral-Vieira, 2005) o que por sua vez se
reflecte naturalmente nas medidas de performance – aumento da produtividade, da
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2329
qualidade do trabalho e diminuição das intenções de saída (Jones, Jones, Latreille &
Sloane, 2009).
3. CONTRATO PSICOLÓGICO
Definido como o conjunto de crenças individuais relacionadas com obrigações
recíprocas e benefícios estabelecidos na relação entre os indivíduos e as suas
organizações (Rousseau, 1995), a importância do estudo do contrato psicológico reside
no facto deste interferir na forma como as pessoas actuam na sua organização. Ao sentir
que as suas expectativas são cumpridas e respeitadas, os indivíduos poderão demonstrar
comportamentos de cidadania organizacional, incrementar a sua implicação com a
organização, e aumentar a confiança na organização.
Por outro lado, perante a violação dessas expectativas, os indivíduos poderão
reverter o contrato psicológico enquanto enquadramento relacional com a organização,
para uma postura meramente transaccional substituindo a lealdade pelo simples
cumprimento de obrigações contratuais. A quebra ou violação deste contrato refere-se à
experiência subjectiva referente à percepção que uma das partes envolvidas no contrato
tem da falha da outra parte no cumprimento daquilo que eram consideradas as suas
obrigações (Cantisano, Dominguez, & Depolo, 2008).
Esta situação vai para além da mera quebra das expectativas relativas a
recompensas, influencia um conjunto mais alargado de crenças individuais a respeito da
organização e determina o tipo de confiança que o indivíduo tem na organização assim
como a sua percepção de justiça na relação laboral. O aspecto crítico do contrato não
passa pela relação entre colaboradores e empregador relativamente ao que acontece
(acontecimento objectivo) mas sim, acerca da interpretação que cada um faz do mesmo
acontecimento (cognição subjectiva) e é resultado de factores situacionais que moldam
as interacções entre membros organizacionais, incluindo a natureza, nível e frequência
da interacção. Usualmente, variáveis como a satisfação com o trabalho, implicação
organizacional, intenções de saída, comportamentos de cidadania organizacional e
confiança organizacional têm sido associados ao contrato psicológico (Cantisano et al.,
2008).
Sob a perspectiva da teoria da troca social (Blau, 1964) que assume como
premissa o facto do processo relacional entre os indivíduos gerar mais benefícios que
custos, permitindo o fortalecimento da confiança entre os protagonistas da relação a
percepção de um tratamento justo, o contrato psicológico vai para além dos requisitos
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2330
formais do trabalho podendo promover o incremento de comportamentos voluntários a
favor da organização (Deluga, 1994).
4. RELAÇÃO ENTRE CHEFIA E SUBORDINADOS
Com raízes na teoria da troca social (Blau, 1964) o conceito de relação entre a
chefia e subordinados ou LMX (leader-member exchange) refere-se ao conjunto de
benefícios materiais e recompensas psicológicas (Yukl, 1994), fornecidos pela chefia ou
supervisor ao seu subordinado e que supõem da parte deste último o empenho e
experiência nas tarefas que realiza (Deluga, 1994).
Referindo-se essencialmente ao conjunto de trocas relacionais de elevada
qualidade (Graen, 1976), o LMX é caracterizado pela existência de ligações mútuas,
lealdade, respeito profissional e comportamentos que visam contribuir para alcançar
objectivos comuns (Erdogan, Kraimer, & Linden, 2002).
Como foi sugerido por Howell e Shamir (2005), o modelo conceptual que
enquadra o LMX revela que as chefias diferenciam os subordinados no que respeita ao
suporte, autonomia e oportunidades de crescimento profissional. Neste sentido, relações
de elevada qualidade promovem um tratamento preferencial, maior autonomia e
consequentemente maior satisfação com o trabalho.
Como já foi referido, os processos de troca social, mecanismo que se encontra
na génese dos processos de LMX, incluí a satisfação com o trabalho na sua
conceptualização (Moorman & Harland, 2002). Neste sentido, são várias as referências
à relação entre LMX e satisfação com o trabalho (Reid, Riemenshneider, Allen, &
Armstrong, 2008).
5. CONFIANÇA ORGANIZACIONAL
Segundo Bhattacharya, Devinney e Pillutla (1998) a confiança organizacional
enquadra-se no domínio da relação entre duas partes e trata da expectativa com
determinado nível de incerteza, que uma das partes tem na obtenção de resultados
positivos gerados através da relação com a outra parte. Envolve a predisposição para a
vulnerabilidade e dependência de uma parte relativamente a outra (Whitener, Brodt,
Korsgaard, & Werner, 1998).
Torna-se pertinente observar o fenómeno do ponto de vista da teoria da troca
social (Blau, 1964) que sugere que um indivíduo, de forma voluntária fornece a outro
um benefício, invocando a obrigação de reciprocidade por parte da outra parte, pelo que
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2331
a confiança, segundo esta abordagem poderá ser desenvolvida através do cumprimento
regular das obrigações (reciprocidade) e da expansão dessas trocas ao logo do tempo.
Encarado como um aspecto essencial da interacção entre os actores
organizacionais e da sua estabilidade (Robinson, 1996; Blau, 1964), a confiança
organizacional encontra-se intimamente relacionada com a manutenção do contrato
psicológico (Robinson, 1996).
Outro foco da investigação sobre confiança situa-se no estudo do papel da
liderança no desenvolvimento da relação de confiança. Neste contexto, da relação de
entre a chefia e o subordinado, a assimetria de informação e as diferenças hierárquicas
terão importantes implicações no desenvolvimento da relação (Schoorman, Mayer, &
Davis, 2007) e por sua vez nos níveis de satisfação apresentados (Tallman, 2007).
6. O PAPEL DA CONFIANÇA ORGANIZACIONAL ANTES E DEPOIS DA
MUDANÇA ORGANIZACIONAL
O presente estudo propõe a análise da relação entre o contrato psicológico e LMX
e a satisfação com o trabalho, quando mediada pela confiança organizacional num
contexto de mudança organizacional. A implementação de estratégias que visem o
desenvolvimento da organização e seus colaboradores reflecte-se no aumento dos níveis
de incerteza dos indivíduos sendo as expectativas, acerca do impacto das mudanças,
determinantes nos níveis de satisfação com o trabalho e por conseguinte no empenho no
cumprimento dos objectivos definidos (Rafferty & Griffin, 2006).
Quer o contrato psicológico, amplamente estudado do ponto de vista da ruptura ou
violação e a sua influência negativa nos níveis de satisfação com o trabalho (Cantisano
& Domínguez, 2007), quer o LMX, enquanto elo entre a estratégia organizacional e o
desbloqueamento de determinadas crenças acerca da mudança (Furst & Cable, 2008),
carecem de uma observação relativa à sua estabilidade quando avaliamos a satisfação
com o trabalho após a implementação de estratégias de mudança organizacional. Neste
sentido, propõem-se as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: O contrato psicológico é uma variável preditora da satisfação
com o trabalho antes e depois da mudança organizacional.
Hipótese 2: O LMX é uma variável preditora da satisfação com o trabalho
antes e depois da mudança organizacional.
É possível observar um conjunto de evidências que suportam a existência de
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2332
relações entre o contrato psicológico, a confiança organizacional e a satisfação com o
trabalho (Suazo, Turnley, & Mai-Dalton, 2008). Esta evidência reforça a tese de
Robinson (1996) de que a confiança organizacional desempenha o papel mediador entre
a violação do contrato psicológico e os subsequentes resultados ao nível da performance
dos trabalhadores. Apesar da confiança na organização poder ser abalada pela quebra ou
violação do contrato psicológico, esta relação de troca social não se esgota no
cumprimento do contrato psicológico. Sendo assim, o cumprimento de obrigações
assentes exclusivamente numa troca económica poderão ser mais resistentes às
mudanças ocorridas na gestão e por isso, contribuir para o aumento ou manutenção da
confiança organizacional apesar do eventual incumprimento de determinados aspectos
do contrato psicológico.
Hipótese 3: A relação entre contrato psicológico e satisfação com o trabalho é
mediada pela confiança organizacional antes e depois da mudança organizacional.
Tallman (2007) sugere que a confiança organizacional media a relação entre a
relação do supervisor e seus subordinados e os níveis de satisfação com o trabalho.
Como anteriormente referimos a propósito da troca social, na realização de transacções
assentes na interdependência e no auto-interesse (Lawler & Thye, 1999), a confiança
surge como elemento-chave no conjunto de crenças que suportam o LMX (Deluga,
1994) esperando-se que a relação existente entre o LMX e os níveis de satisfação com o
trabalho (Reid et al., 2008) seja mediado pela confiança organizacional no contexto de
mudança organizacional.
Hipótese 4: A relação entre LMX e satisfação com o trabalho é mediada pela
confiança organizacional antes e depois da mudança organizacional.
7. MÉTODO
7.1 Análise estatística
Tendo por base a aplicação de modelos de regressão linear hierárquica, o presente
estudo pretende determinar em dois momentos temporais distintos a influência das duas
variáveis preditoras (contrato psicológico e LMX) na variável critério (satisfação com o
trabalho). Sugere-se ainda a presença do efeito de mediação da confiança
organizacional na relação entre contrato psicológico, LMX e a satisfação com o
trabalho. No sentido de se proceder aos testes de mediação, foram seguidos os
procedimentos sugeridos por Baron e Kenny (1986).
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2333
7.2 Procedimento e amostra
O presente estudo foi realizado com base nos dados recolhidos anónima e
voluntariamente, através de um protocolo de investigação preenchido pelos
respondentes e aplicado em dois momentos distintos. Os indivíduos constituintes da
amostra são colaboradores de uma organização do sector público na área da gestão de
infra-estruturas. Participaram neste estudo uma amostra de conveniência com um total
de 214 indivíduos em 2003 que corresponde ao primeiro momento de avaliação, e de
270 indivíduos no segundo momento de avaliação que decorreu no ano de 2007.
As características sócio demográficas da amostra evidenciam uma prevalência de
indivíduos do sexo masculino nos dois momentos de avaliação.
7.3 Medidas
Variável critério
Satisfação com o trabalho. Esta variável foi operacionalizada tendo por base
quarto itens adaptados de Spector (1997) e permitem aferir a satisfação do indivíduo
com aspectos globais do seu trabalho. Tendo como questão introdutória “Em que
medida se encontra satisfeito com os seguintes aspectos do seu trabalho?”, um exemplo
dos itens utilizados era “As acções tomadas para modernizar a empresa.” A escala de
satisfação de 5 pontos, tipo Likert de nada satisfeito (=1) a bastante satisfeito (=5). Os
resultados mais elevados significavam um nível mais elevado de satisfação com o
trabalho; os valores de consistência interna obtidos foram de 0.75 em 2003 e de 0.72 em
2007.
Variáveis preditoras e mediadoras
Contrato psicológico. Para o contrato psicológico foram utilizados um conjunto
de três itens que avaliavam a percepção dos respondentes relativamente ao cumprimento
por parte da organização dos compromissos (Rousseau, 1990). Um exemplo dos itens
era “A empresa tem cumprido as suas obrigações relativamente à minha carreira
profissional.” As respostas foram cotadas numa escala de concordância de 5 pontos,
tipo Likert de discordo completamente (=1) a concordo completamente (=5). Os
resultados mais elevados significavam um nível mais elevado de percepção de
cumprimento do contrato psicológico; os valores de consistência interna obtidos foram
de 0.60 em 2003 e de 0.71 em 2007.
LMX. No que respeita à percepção da qualidade da relação com a chefia foram
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2334
utilizados um conjunto de cinco itens adaptados de Scandura e Graen (1984). A título de
exemplo, um dos itens era “A minha chefia directa compreende os meus problemas e
necessidades.” As respostas foram cotadas numa escala de concordância de 5 pontos,
tipo Likert de discordo completamente (=1) a concordo completamente (=5). Os
resultados mais elevados significavam um nível mais elevado de qualidade da relação
da chefia com o subordinado; os valores de consistência interna obtidos foram de 0.91
em 2003 e em 2007.
Confiança organizacional. A confiança organizacional foi medida com base em
quatro itens adaptados de Gabarro e Athos (1978). Um exemplo dos itens era “Há total
confiança na administração.” As respostas foram cotadas numa escala de concordância
de 5 pontos, tipo Likert de discordo completamente (=1) a concordo completamente
(=5). Os resultados mais elevados significavam um nível mais elevado de confiança; os
valores de consistência interna obtidos foram de 0.82 em 2003 e de 0.90 em 2007.
8. RESULTADOS
Todas as variáveis em estudo encontram-se significativamente relacionadas entre
si. Existem diferenças estatisticamente significativas entre os valores médios da
satisfação com o trabalho em 2003 e 2007 (t(gl) = 5,14 p < .001), entre o contrato
psicológico em 2003 e 2007 (t(gl) = 1,99 p < .001), entre o LMX em 2003 e 2008 (t(gl)
= 6,97 p < .001) e entre a confiança organizacional em 2003 e 2007 (t(gl) = 2,14 p <
.001). Apesar das médias das variáveis em estudo se manterem aparentemente estáveis
entre 2003 e 2007 os valores apresentados para o Teste t suportam a existência de
efeitos resultantes da implementação das estratégias de mudança organizacional. Assim
sendo, o objectivo do estudo ou seja, a observação do comportamento das variáveis
antes e depois da mudança organizacional encontra-se assegurado.
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2335
Tabela 1
Médias, desvios-padrão, valores do Teste t e correlações entre variáveis antes e depois da
mudança organizacional.
2003 2007
Variável Média DP t 1 2 3 Média DP t 1 2 3
1. Satisfação com o trabalho
2.66 .67 57.96** -- 2.66 .69 63.10** --
2. Contrato
psicológico 3.19 .73 63.61** .644** -- 3.27 .82 65.60** .639** --
3. LMX 3.32 .86 56.12** .392** .486** -- 3.37 .87 63.09** .491** .443** --
4. Confiança
organizacional 2.64 .80 48.01** .730** .612** .416** 2.68 .88 50.15** .660** .558** .413**
Os resultados indicam a existência de uma relação positiva estatisticamente
significativa entre contrato psicológico e satisfação com o trabalho em 2003 (β = 0.594,
p < 0.001) e em 2007 (β = 0.524, p < 0.001), corroborando a hipótese 1.
A relação do LMX com a satisfação com o trabalho apresenta-se em 2003 como
não estatisticamente significativa (β = 0.103, p < 0.086). Todavia, este resultado não se
verifica na observação correspondente ao ano de 2007, em que o LMX se encontra
positivamente relacionado com a satisfação com o trabalho (β = 0.259, p < 0.001). No
que se refere à hipótese 2, esta é parcialmente confirmada uma vez que a existência de
uma relação estatisticamente significativa entre LMX e satisfação com o trabalho só é
verificável no ano de 2007.
Quando introduzida a variável mediadora – confiança organizacional, a relação do
contrato psicológico permanece estável em 2003 e em 2007 sendo no entanto de referir
que decresce o seu poder preditivo em 2003 e em 2007 (β2003 = 0.308 p2003 < 0.001;
β2007 = 0.338, p2007< 0.001) verificando-se a existência de uma mediação parcial em
ambos os anos de observação. Neste sentido, a hipótese 1 é verificada.
No que respeita à relação do LMX com a satisfação com o trabalho quando
mediada pela confiança organizacional, apresenta-se em 2003 como seria de esperar,
estatisticamente não significativa (β = 0.020, p < 0.688). Em 2007, a mediação da
confiança organizacional na relação entre LMX e a satisfação com o trabalho é
estatisticamente significativa (β = 0.176, p < 0.001. Assim, é possível aceitar mesmo
que parcialmente, a hipótese 4 uma vez que no ano de 2003 esta relação não é
estatisticamente significativa e em 2007 temos presente uma mediação parcial.
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2336
Tabela 2
Análise do efeito mediador da confiança organizacional na relação entre o contrato
psicológico, LMX e a satisfação com o trabalho em 2003 e em 2007.
2003 2007
Beta R2adj. Beta R2adj.
BLOCO 1 Contrato psicológico .594**
.417 .524**
.458 LMX .103(ns) .259**
∆R2 = .423 ∆R2 = .462 F (2,211) = 77.282** F (2,262) = 112.449**
BLOCO 2
Contrato psicológico .308**
.589
.338**
.561 LMX .020(ns) .176**
Confiança organizacional .533** .398**
∆R2 = .172 ∆R2 = .104 F (1,210) = 89.323** F (1,261) = 62.300**
** p < 0.001
9. DISCUSSÃO
O presente estudo permite deduzir que o contrato psicológico não se esgota no
cumprimento dos aspectos formalizados ou contratualizados entre o empregado e a sua
organização. Existem determinados parâmetros informais e não contratualizados,
relacionados com o conjunto de expectativas que o indivíduo constrói acerca de como a
sua organização se deve comportar. A sua influência nos níveis de satisfação com o
trabalho não é indiferente quando consideramos os aspectos relacionados com a
confiança organizacional.
A confiança organizacional poderá subsistir e contribuir para a manutenção ou
incremento da satisfação com o trabalho mesmo quando determinados aspectos do
contrato psicológico não são cumpridos. A existência do efeito mediador, ainda que
parcial da confiança organizacional na relação entre o contrato psicológico e a
satisfação com o trabalho nos dois momentos em que ocorreu a avaliação indica-nos a
consistência do modelo preditivo proposto e reforça a ideia de que perante uma
mudança na gestão organizacional, apesar da satisfação poder vir a ser abalada por
aspectos referente ao incumprimento de expectativas do empregado relativamente à
organização, poderão existir factores, que contribuirão de alguma forma para a
manutenção da confiança organizacional e consequentemente para a manutenção ou
incremento da satisfação com o trabalho. Desta forma, poderemos concluir que a
percepção de cumprimento do contrato psicológico aumenta a disponibilidade para a
vulnerabilidade.
No que se refere à relação do supervisor com os seus subordinados, a confiança
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2337
organizacional surge enquanto aspecto promotor da disponibilidade dos colaboradores
para manter certa vulnerabilidade no que respeita à satisfação de determinadas
necessidades pessoais. Neste caso, a confiança organizacional poderá desempenhar um
papel crucial no aumento ou manutenção da satisfação com o trabalho através da
promoção da percepção do LMX de elevada qualidade uma vez que este inclui
expectativas pessoais de cumprimento e satisfação de necessidades por parte do
supervisor.
A verificação das hipótese colocadas, ainda que parcialmente no caso do LMX,
remete-nos essencialmente para a importância da implementação de determinadas
mudanças organizacionais como promotores da satisfação com aspectos específicos da
vida organizacional que conduzem ao aumento dos níveis de satisfação com o trabalho.
Isto é, por um lado, a sugestão de que a relação entre contrato psicológico,
satisfação com o trabalho é mediada pela confiança organizacional, indica-nos que a
percepção que os colaboradores têm acerca da capacidade da organização em cumprir o
contrato psicológico aumenta nos colaboradores a disponibilidade para a
vulnerabilidade ou seja, mantém elevadas as expectativas de verem cumpridos os seus
objectivos e necessidades por parte da organização promovendo a satisfação com a
organização e com o trabalho.
Por outro lado, a análise da relação entre LMX e satisfação com o trabalho
mediada pela confiança organizacional remete para uma abordagem necessariamente
relacionada com os aspectos relacionais do trabalho e a sua alteração motivada pela
mudança organizacional.
Segundo Levinson (1965) o comportamento das chefias podem ser percebidos
como intenções da própria organização e a relação entre supervisor e subordinados pode
assumir uma importância extrema nos processos de identificação dos colaboradores
com os valores e objectivos organizacionais (van Knippenberg & Sleebos, 2006).
Uma vez que se encontram salvaguardados os aspectos relacionados com a
multicolinariedade, a explicação dos resultados reside na mudança organizacional
operada entre 2003 e 2007 e a definição dos processos de liderança através do
fortalecimento do papel do supervisor junto dos seus subordinados.
O LMX em 2003 deveria revestir-se de características que ao permitirem uma
“diluição” do papel do chefe enquanto actor organizacional poderão ter contribuído para
a indiferenciação dos aspectos relacionais com as chefias enquanto aspecto essencial da
satisfação com o trabalho. Após a mudança organizacional, os dados recolhidos
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2338
indicam uma definição mais objectiva do papel do supervisor o que se traduz numa
melhor diferenciação do LMX relativamente ao contrato psicológico tornando possível
a distinção entre o que respeita à organização e aquilo que depende da relação com o
supervisor
Figura 3
Confiança organizacional como mediador na relação entre contrato psicológico, LMX e
satisfação com o trabalho nos dois momentos de avaliação.
10. CONCLUSÃO
O estudo da satisfação com o trabalho reveste-se de elevada importância uma vez
que dela dependem muitos dos factores de sucesso de uma organização. A compreensão
de como os seus diferentes antecedentes interagem, contribuindo para o seu
fortalecimento é essencial na promoção da utilização de estratégias e mecanismos de
gestão optimizados que visem a produtividade e performance elevadas e enquadradas
com os objectivos organizacionais.
A mudança organizacional acarreta sempre níveis elevados de incerteza dando
origem muitas vezes a comportamentos negativos nos colaboradores com repercussões
nefastas para a gestão e equilíbrio da organização.
A confiança organizacional poderá desempenhar um papel de extrema
importância na manutenção das expectativas dos colaboradores contribuindo para a o
aumento da capacidade destes em manter uma ligação estreita aos objectivos
estratégicos da organização.
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2339
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Babakus, E., Cravens, D. W., Johnston, M., & Moncrief, W. C. (1996). Examining the
role of organizational variables in the salesperson job satisfaction model. Journal
of Personal Selling & Sales Management, 16(3), 33 - 46.
Baron, R. M., & Kenny, D. A. (1986). The moderator-mediator variable distinction in
social psychological research: Conceptual, strategic, and statistical considerations.
Journal of Personality and Social Psychology, 51(6), 1173 - 1182.
Bhattacharya, R., Devinney, T. M., & Pillutla, M. M. (1998). A formal model of trust
based on outcomes. Academy of Management Review, 23(3), 459 - 472.
Blau, P. M. (1964). Exchange and power in social life. New York: Wiley.
Brown, S. P., & Peterson, R. A. (1993). Antecedents and consequents of salesperson job
satisfaction: Meta-analysis and assessment of causal effects. Journal of Marketing
Research, 30, 63 - 77.
Cantisano, G. T., Dominguez, J. F. M., & Depolo, M. (2008). Psychological contract
breach and outcomes: Combining meta-analysis and structural equation models.
Psicothema, 20(3), 487 - 496.
Cantisano, G. T., & Dominguez, J. F. M. (2007). Identificación organizacional y ruptura
de contracto psicológico: Sus influencias sobre la satisfacción de los empleados.
International Journal of Psychology and Psychological Therapy, 7(3), 365 - 379.
Churchill, G. A., Ford, N. M., & Walker, O. C. (1976). Organizational climate and job
satisfaction in the salesforce. Journal of Marketing Research, 13, 323 - 332.
Cranny, C. J., Smith, P. C., & Stone, E. F. (1992). Job satisfaction: How people feel
about their jobs and how it affects their performance. New York: Lexington
Press.
Deluga, R. J. (1994). Supervisor trust building, leader-member exchange and
organizational citizenship behavior. Journal of Occupational and Organizational
Psychology, 67, 315 - 326.
Diaz-Serrano, L., & Cabral-Vieira, J. A. (2005). Low pay, higher pay and job
satisfaction within the European Union: Empirical evidence from fourteen
countries, IZA Discussion Papers No. 1558, April, disponível em
http://ssrn.com/abstract=702889, acedido em 14 de Janeiro de 2008.
Erdogan, B., Kraimer, M. L., & Linden, R. C. (2002). Person-organization fit and work
attitudes: The moderating role of leader-member exchange. Academy of
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2340
Management Proceedings, F1 - F6.
Furst, S. A., & Cable, D. M. (2008). Employee resistance to organizational change:
Managerial influence tactics and leader-member exchange. Journal of Applied
Psychology, 93(2), 453 – 462.
Gabarro, A., & Athos, P. (1978). Interpersonal relations and communication. New
York: Prentice-Hall.
Graen, G. (1976). Role-making processes within complex organizations, In M. D.
Dunnete (Ed.), Handbook of Industrial and Organizational Psychology. Chicago:
Rand McNally.
Hackman, J. R., & Oldham, G. R. (1976). Motivation through the design of work: Test
a theory. Organizational Behavior and Human Performance, 16, 250 - 279.
Howell, J. M., & Shamir, B. (2005). The role of followers in the charismatic leadership
process: Relationships and their consequences. Academy of Management Review,
30, 96 - 112.
Jones, M. K., Jones, R. J., Latreille, P. L., & Sloane, P. J. (2009). Training, job
satisfaction, and workplace performance in Britain: Evidence from WERS 2004.
LABOUR: Review of Labour Economics & Industrial Relations, 23, 139 - 175.
Kochar, B. (2008). Job satisfaction among academics. ICFAI University Journal of
Organizational Behavior, 7(4), 54 - 60.
Lapierre, L. M., Spector, P. E., & Leck, J. D. (2005). Sexual versus nonsexual
workplace aggression and victims overall job satisfaction: A meta-analysis.
Journal of Occupational Health Psychology, 10(2), 155 - 169.
Lawer, E. J., & Thye, S. R. (1999). Bringing emotions into social exchange theory.
Annual Review of Sociology, 25, 217 - 244.
Levinson, H. (1965). Reciprocation: The relationship between man and organization.
Administrative Science Quarterly, 9, 370 - 390.
Madamba, A. B., & De Jong, G. F. (1997). Job mismatch among Asians in the United
States: Ethnic group comparisons. Social Science Quarterly, 78(2), 524 - 542.
Moorman, R. H., & Harland, L. K. (2002). Temporary employees as good citizens:
Factors influencing their OCB performance. Journal of Business and Psychology,
17, 171 - 187.
Nguyen, A. N., Taylor, J., & Bradley, S. (2003). Job autonomy and job satisfaction:
New evidence. Working Paper 050, Department of Economics, Lancaster
University Management School, UK.
Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010
2341
Rafferty, A. E., & Griffin, M. A. (2006). Perceptions of organizational change: A stress
and coping perspective. Journal of Applied Psychology, 91(5), 1154 – 1162.
Reid, M. F., Riemenshneider, C. K., Allen, M. W., & Armstrong, D. J. (2008).
Information technology employees in state government: A study of affective
organizational commitment, job involvement and job satisfaction. The American
Review of Public Administration, 38(1), 41 - 61.
Robinson, S. L. (1996). Trust breach of the psychological contract. Administrative
Science Quarterly, 41, 574 - 599.
Rousseau, D. M. (1990). New hire perceptions of their own and their employer's
obligations: A study of psychological contracts. Journal of Organizational
Behavior, 11, 389 - 400.
Rousseau, D. M. (1995). Psychological contracts in organizations: Understanding
written and unwritten agreements. London: Sage.
Scandura, T. A., & Graen, G. B. (1984). Moderating effects of initial leader-member
exchange status on the effects of a leadership intervention, Journal of Applied
Psychology, 69, 428 – 436.
Shoorman, F. D., Mayer, R. C., & Davis, J. H. (2007). An integrative model of
organizational trust: Past, present and future. Academy of Management Review,
32(2), 344 - 354.
Spector, P. E. (1997). Job satisfaction: Application, assessment, causes and
consequences. California: Sage Publications.
Suazo, M. M., Turnley, W. H., & Mai-Dalton, R. (2008). Characteristics of the
supervisor-subordinate as predictors of psychological contract breach. Journal of
Management Issues, 20(3), 295 - 312.
Tallman, R. (2007). Does trust matter? Perceptions, trust, and job satisfaction of
hospital nurses. International Journal of Business Research, 7, 166 - 174.
van Knippenberg, D., & Sleebos, E. (2006). Organizational identification versus
organizational commitment: Self-definition, social exchange, and job attitudes.
Journal of Organizational Behavior, 27, 571 - 584.
White, A. T., & Spector, P. E. (1987). An investigation of age-related factors in the age-
job-satisfaction relationship. Psychology and Aging, 2(3), 261 - 265.
Whitener, E. M., Brodt, S. E., Korsgaard, M. A., & Werner, J. M. (1998). Managers as
initiators of trust: An exchange relationship framework for understanding
managerial trustworthy behavior. Academy of Management Review, 23(3), 513 -