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INSPER
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
Preferências temporais – estudo de caso comparando Brasil e Suíça
Aluna: Renata Serson
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Dias de Oliveira Brito
SÃO PAULO
2018
2
Serson, Renata
Preferências temporais – estudo de caso comparando Brasil e Suíça
Renata Serson – São Paulo, 2018, 65 páginas
Monografia (Bacharel em Economia) – Insper, 2018.
Orientador: Ricardo Dias de Oliveira Brito
1. Economia 2. Poupança 3. Racionalidade 4. Irracionalidade
5. Comparação 6. Países
3
RENATA SERSON
PREFERÊNCIAS TEMPORAIS – ESTUDO DE CASO COMPARANDO
BRASIL E SUÍÇA
Monografia apresentada ao curso de Ciências
Econômicas, como requisito parcial para a obtenção
do Grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e
Pesquisa
Data de Aprovação: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Ricardo Dias de Oliveira Brito
Professor Doutor
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa
_______________________________________
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa
4
AGRADECIMENTOS
Registro aqui meus sinceros agradecimentos aos professores do Insper. No caso
específico deste trabalho, Adriana Bruscato e Ricardo Brito recebem minha gratidão
pela acessibilidade e grande competência em conduzirem o processo de criação de
um trabalho científico. Sinto-me privilegiada por ter aprendido com eles. Ao
orientador e incentivador Ricardo Brito, direciono agradecimento especial pela
transmissão de conhecimento, paciência e confiança.
O esforço de pesquisa internacional aqui reportado não teria sido possível se eu
não tivesse vivido a oportunidade de passar um semestre como intercambista na
Universidade de St Gallen. Neste caso, não posso deixar de agradecer à Fundação
Lemann pela generosidade. A vontade da instituição de mudar a educação no país me
inspira e passo a compartilhar deste objetivo.
5
RESUMO
O presente trabalho busca entender em que medida indivíduos brasileiros e suíços
são racionais em suas decisões intertemporais sobre poupança, testando a hipótese de
que diferenças culturais se traduzem em diferenças de comportamento financeiro. Foi
elaborada uma pesquisa com 235 estudantes do Insper (São Paulo, Brasil) e da
Universidade de St Gallen (St Gallen, Suiça), e os resultados do questionário
permitiram que construíssemos uma estatística que mensura, em certa medida,
desvios de racionalidade em decisões financeiras. Como resultado, obtivemos que em
nossa amostra, a despeito de evidências contrárias na literatura, o impacto da cultura
é praticamente inexistente: muitas das variáveis relacionadas ao país de origem, grupo
de coleta e identificação com grupo cultural são estatisticamente insignificantes para
explicar tal irracionalidade, e os resultados significantes não são sustentáveis após um
refinamento da amostra. Ainda assim, a conclusão é relevante – mostra-se o impacto
do gênero e da percepção de educação financeira na construção de racionalidade
financeira. As mulheres em geral tomam decisões menos racionais, enquanto
indivíduos que tenham percepção de que conhecem instrumentos de educação
financeira de fato têm maior score de racionalidade. Argumentamos que essa última
variável é passível de aprendizado: seria possível desenvolver, então, racionalidade
financeira num país, aumentando seus níveis de poupança independentemente de sua
localização ou origem cultural.
1. Economia 2. Poupança 3. Racionalidade 4. Irracionalidade 5. Comparação 6. Países
6
ABSTRACT
This essay seeks to understand to what extent Brazilian and Swiss individuals are
rational in their intertemporal savings decisions, testing the hypothesis that cultural
differences translate themselves into differences in financial behavior. A survey was
carried out among 235 students from Insper (São Paulo, Brazil) and from the
University of St Gallen (St Gallen, Switzerland), and the results of the questionnaire
allowed us to devise a statistic tool that measures, to some extent, deviations from
rationality in financial decisions. As a result, we found out that in our sample, despite
contrary evidence published in scientific literature, the impact of culture is practically
non-existent: many of the variables related to the country of origin, collection group
and identification with cultural background are statistically insignificant to explain
such irrationality, and significant results are not sustainable after sample refinement.
Nevertheless, the conclusion is relevant - it shows the impact of gender and the
perception of financial education in the construction of financial rationality. Women
generally make less rational decisions, while individuals who perceive themselves as
financially educated actually have a higher rationality score. We argue that the latter
variable is prone of learning: it would be possible to develop financial rationality in a
country, increasing its levels of savings autonomously from its location or its cultural
background.
1. Economics 2. Savings 3. Rationality 4. Irrationality 5. Comparison 6. Countries
7
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Ciclo de vida versus desconto hiperbólico – função de desconto ao longo do
tempo ...................................................................................................................... pag 17
Gráfico 2 – Perfil da amostra: distribuição da idade .............................................. pag 27
Gráfico 3 – Perfil da amostra: semestre, idade e β médios por nível de estudo – todos os
grupos ..................................................................................................................... pag 28
Gráfico 4 – Perfil da amostra: semestre, idade e β médios por gênero
– todos os grupos .................................................................................................... pag 28
Gráfico 5 – Perfil da amostra: gênero por nível de estudo, % em relação à amostra total
– todos os grupos .................................................................................................... pag 29
Gráfico 6 – Contagem de respondentes por cultura – alunos Insper ...................... pag 30
Gráfico 7 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo
– alunos Insper ........................................................................................................ pag 30
Gráfico 8 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – alunos Insper ..................................................................................... pag 31
Gráfico 9 – Contagem de respondentes por país – intercambistas Insper .............. pag 32
Gráfico 10 – Contagem de respondentes por cultura – intercambistas Insper ....... pag 32
Gráfico 11 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo – intercambistas
Insper ...................................................................................................................... pag 32
Gráfico 12 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – intercambistas Insper ........................................................................ pag 33
Gráfico 13 – Contagem de respondentes por país de origem – alunos St Gallen ... pag 34
Gráfico 14 – Contagem de respondentes por cultura – alunos St Gallen ............... pag 34
Gráfico 15 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo
– St Gallen .............................................................................................................. pag 35
Gráfico 16 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – alunos St Gallen ................................................................................ pag 36
Gráfico 17 – Contagem de respondentes por país – intercambistas St Gallen ....... pag 37
Gráfico 18 – Contagem de respondentes por cultura – intercambistas St Gallen ... pag 37
8
Gráfico 19 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo – intercambistas
St Gallen ................................................................................................................. pag 38
Gráfico 20 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – intercambistas St Gallen ................................................................... pag 38
Gráfico 21 – Histograma: contagem de respostas por intervalo de beta ................ pag 40
Gráfico 22 – β média e desvio padrão por país ....................................................... pag 42
Gráfico 23 – β média e desvio padrão por grupo cultural ...................................... pag 43
Gráfico 24 – β média e desvio padrão por região ................................................... pag 43
Gráfico 25 – β média e desvio padrão por faixa etária ........................................... pag 43
Gráfico 26 – β média e desvio padrão por gênero .................................................. pag 43
Gráfico 27 – β média e desvio padrão por nível de estudo, comparação entre início do
curso e outros períodos ........................................................................................... pag 44
Gráfico 28 – β média e desvio padrão por declaração de educação financeira, divisão
por curso ................................................................................................................. pag 44
Gráfico 29 – β média e desvio padrão por curso e grupo ....................................... pag 45
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Perfil da amostra: contagem de respondentes por grupo e gênero ........ pag 29
Tabela 2 – Taxas de desconto – alunos Insper ........................................................ pag 31
Tabela 3 – Taxas de desconto – intercambistas Insper ........................................... pag 33
Tabela 3 – Taxas de desconto – alunos St Gallen ................................................... pag 36
Tabela 4 – Taxas de desconto – intercambistas St Gallen ...................................... pag 39
Tabela 5 – Distribuição de β – percentis, máximo, mínimo, média e moda ........... pag 40
Tabela 6 – regressões com amostra base ................................................................ pag 47
Tabela 7 – regressões com exclusão de valores aberrantes .................................... pag 48
Tabela 8 – regressões com exclusão de comportamento anormal .......................... pag 49
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. pag 11
2. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... pag 15
3. METODOLOGIA ............................................................................................... pag 19
4. DESCRIÇÃO DA AMOSTRA .......................................................................... pag 27
5. RESULTADOS .................................................................................................. pag 46
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. pag 52
ANEXOS ................................................................................................................ pag 54
11
1. INTRODUÇÃO
A forma com que indivíduos avaliam seu bem estar ao longo do tempo pode
representar objeto de debate para economistas, já que por vezes as escolhas
intertemporais desafiam a racionalidade microeconômica. As escolhas entre presente
e futuro, que envolvem comparação entre custos e benefícios dispersos ao longo do
tempo, fazem parte das tomadas de decisão de interesse para a vida econômica:
comportamentos de consumo, poupança e investimento dependem de preferências
entre os diferentes tempos e impactam o bem estar. Diversos estudos já foram
desenvolvidos com objetivo de entender a alocação intertemporal de recursos e
mostrou-se importante compreender de que maneira os agentes descontam o bem
estar futuro. Taxa de desconto é um conceito fundamental para finanças e para a
economia em geral, e suas aplicações são diversas: precificação de ativos, avaliação
de projetos, decisão de investimento e poupança, entre outros. Será do interesse deste
trabalho entender como esta taxa de desconto se comporta no que diz respeito à
poupança dos indivíduos.
Num modelo de consumo que tem como premissa a racionalidade nas tomadas de
decisão, a taxa de desconto é constante ao longo do tempo. Uma divergência nessa
invariabilidade em geral gera uma menor poupança e pode indicar três coisas:
1. Incentivos externos que distorcem a escolha ótima racional (a garantia de uma
generosa previdência e uma instabilidade e incerteza muito grande em relação ao
futuro são exemplos desse tipo de incentivos).
2. Falta de informação sobre instrumentos financeiros que viabilizam a poupança –
falta de educação financeira. Isso resulta em inconsistência intertemporal –
indivíduos planejam e desejam um comportamento financeiro, mas não
conseguem implementá-lo.
3. Rejeição da hipótese de racionalidade – as decisões de consumo e poupança são
permeadas pela irracionalidade dos agentes econômicos. Isso também resulta em
inconsistência intertemporal, sendo que agora não conseguem o fazer não por fata
de acesso aos instrumentos, mas sim por vieses cognitivos.
Mostra-se importante então que incentivos, disseminação de informação e
racionalidade estejam alinhados para que se atinja a plena poupança. A hipótese aqui
12
testada será a de que indivíduos não são inteiramente racionais, e por isso as taxas de
desconto para diferentes tempos não é a mesma e existe inconsistência intertemporal
resultante de contradição entre desejos de curto prazo e comportamento de longo
prazo. É de interesse entender em que medida essa irracionalidade (e,
consequentemente, o comportamento da taxa de desconto) responde a mudanças de
ambiente, comparando dois países notavelmente com histórico e cultura diferentes:
Brasil e Suíça. Esse entendimento é dado a partir de uma pesquisa feita com alunos
de ensino superior e que tenta entender como é a taxa de desconto ótima deles em dois
tempos distintos.
Os alunos em questão são de escolas de elite dos dois países, respectivamente
Universidade de St Gallen na Suíça e Insper no Brasil, sendo majoritariamente das
escolas de administração, economia e finanças. Por isso, podemos assumir com
confiança que o nível de conhecimento de instrumentos financeiros é igualmente alto,
não sendo esta a fonte de disparidade. Também, por se tratarem das classes altas dos
dois países, os incentivos também são próximos, apesar de sabermos que os ambientes
externos brasileiro e suíço são muito divergentes. As classes mais altas não dependem
da previdência social (apesar de que os mais ricos recebem mais previdência no
Brasil), tendo respaldo de um sistema financeiro bastante globalizado para construção
de suas previdências privadas. Isso diminui as incertezas e a instabilidade de cada país
é menos relevante para esse grupo em específico, restando então como fator para a
não poupança ótima justamente um desvio de racionalidade. Isso pode ser melhor
entendido no caso da Suíça, em que mesmo num ambiente admitido como estável e
com incentivos não problemáticos, com pleno conhecimento dos instrumentos
financeiros, ainda assim no agregado o resultado encontrado é de que um aluno médio
de St Gallen tem uma taxa de poupança diferente para os horizontes de 1 ano e 10
anos (essas taxas são respectivamente 72,28% e 19,50% em nossa amostra). Sendo a
taxa de menor prazo maior, o desconto é chamado de hiperbólico. A amostra também
indica este tipo de desconto no Brasil, onde as taxas para 1 e 10 anos são 107,73% e
21,40%.
Wang, Rieger e Hens (2016) conduziram essa pesquisa de forma ampliada no
mundo, entrevistando alunos de 53 países distintos. A conclusão que chegaram é de
que a taxa de desconto de um ano é sempre muito mais alta do que para 10 anos: o
desconto hiperbólico é um fenômeno global. Com a compilação dessa base de dados,
13
foram capazes de fazer comparações entre os países e medir o impacto de cultura na
variável de interesse. Fatores culturais foram capturados pelas dimensões de Hofstede
(Hofstede, 1991) e revelou-se que níveis mais altos de aversão à incerteza são
associados com um desconto hiperbólico mais forte, enquanto maiores níveis de
individualismo e de orientação de longo prazo preveem uma tendência de mais
paciência, suavizando a diferença entre as taxas de desconto para diferentes tempos.
Os dados coletados sobre preferência de tempo e desconto de tempo contribuíram
com algumas aplicações interessantes, principalmente em finanças comportamentais.
Uma delas foi a ajuda na construção de uma das hipóteses que solucionaria o “equity
risk premium puzzle” (Rieger et al 2015). Instituições que lidam com política
econômica também veem muito valor nesse tipo de pesquisa.
Esta monografia busca reproduzir, de forma reduzida, a comparação entre países
publicada em 2016 e está dividida em seis partes. Após exposição da relevância do
assunto poupança que concluirá a introdução, segue revisão de literatura, onde se
encontra a diferença entre o desconto do modelo de ciclo de vida e hiperbólico e mais
sobre o método usado por Wang, Rieger e Hans. A terceira parte é um capítulo sobre
a metodologia a ser adotada e, na sequência, apresentam-se a descrição da amostra e
os resultados obtidos. Por fim, as considerações finais e conclusão.
Relevância de estudar a poupança
Independentemente de flutuações de curto prazo, entende-se que a economia que
não poupa se acomodará eventualmente num equilíbrio em que o produto é menor do
que aquela cuja taxa de poupança é maior. Esse resultado advém de um modelo da
economia neoclássica primeiro desenhado por Solow (1956) que iguala a taxa de
poupança à taxa de reposição de capital depreciado. Mesmo em modelos mais
recentes em que outras variáveis ganham espaço, como em Aghion, Comin e
Howitt (2006) onde enfatiza-se a importância de investimento direto estrangeiro
(IED) e grau de abertura da economia como fatores determinantes do crescimento de
longo prazo, a poupança não deixa de ser de grande interessei. Aprender por qual
processo indivíduos passam ao tomarem uma decisão de poupança ou consumo faz
parte de uma agenda macroeconômica, pois envolve por exemplo o entendimento do
problema de sub poupança. O entendimento da miopia temporal e quais os chamados
14
de “mecanismos de comprometimento” para corrigi-la é de grande interesse do
âmbito da política pública que tem interesse no ajuste da poupança agregada nacional.
No caso brasileiro, o tema é muito relevante. O Brasil tem histórico de baixa
poupança, tanto que em 2017 o Banco Mundial apontou que o país é composto por
72% de não poupadoresii. Isso faz com que aqui se guarde menos dinheiro do que em
países vizinhos com menor renda per capta e leva à insustentabilidade financeira. Em
tempos em que se discute a reforma da Previdência, o tema ganha ainda mais
relevância. O impacto da não poupança brasileira pode então ser entendido como um
menor potencial econômico de longo prazo da economia.
15
2. REVISÃO DA LITERATURA
Os determinantes da taxa de desconto individual são objeto de estudos recorrentes
de economistas. No quesito poupança e consumo ao longo da vida, modelos de ciclo
de vida foram sugeridos como formas de estruturar o consumo de indivíduos que
nascem e passam sua infância como dependentes, trabalham quando adultos e voltam
após a aposentadoria como dependentes de sua poupança nos anos de ganho. O
modelo prevê que as pessoas devem suavizar o consumo para manutenção da utilidade
marginal constante em todos os estágios. Isso se dá por meio de empréstimos
antecedentes à entrada no mercado de trabalho, acumulação de riqueza durante a vida
ativa e pela despoupança durante a aposentadoria. Browning e Crossley (2001)
sugerem que até recentemente dados em painel suficientes para estudo empírico desta
abordagem não estavam amplamente disponíveis e por isso os estudos analíticos são
restritos. A previsão deles é de que a área de pesquisa tem muito a crescer,
principalmente quando se une o estudo do consumo a outras decisões individuais,
como educação e fertilidade e que estudos empíricos podem inclusive negar essa
abordagem “clássica”. Isso porque a hipótese do modelo de desconto de utilidade é
de que a taxa de desconto é sempre constante, e nem sempre isso é realístico. Pessoas
não são dotadas de informação perfeita (não sabem o que vai acontecer no futuro) e
suas decisões podem não ser 100% racionais, o que compromete as premissas dessa
abordagem.
Gourinchas e Parker (2002) conseguem, com algum sucesso, usar modelos de
ciclo de vida, porém eles mesmos reiteram que o feito só foi possível com o uso de
um painel estimado pelo uso do método de momentos em que características
individuais, como o tamanho da família e idade dos indivíduos, impactam na utilidade
marginal e no resultado de poupança. Por isso, pode se mostrar impreciso extrapolar
os resultados micro em dados agregados para a economia. Mesmo com alguma
indicação de sucesso como a apresentada, a abordagem vem sendo muito criticada.
Deaton (1986) aponta que “testes usando séries temporais de dados agregados
sugerem que o consumidor representativo de um modelo de ciclo de vida terá
dificuldades em explicar as evidências de movimentos da taxa de juros e mudanças
no consumo”. O autor vai mais longe ainda ao questionar a relevância de se empenhar
16
em tentar salvar esse tipo de abordagem, que ele chama de descaradamente em
desacordo com os dados puros e não tratados.
O modelo de Desconto Hiperbólico data da década de 1960 e tem como hipótese
uma taxa de desconto decrescente ao longo do tempo. Isso faz com que o padrão de
desconto de utilidade seja hiperbólico. Angeletos et al. (2001) exemplifica parte da
inconsistência do modelo de ciclo de vida afirmando que as preferências para o longo
prazo são conflitantes com o comportamento de curto prazo dos indivíduos. Isso
acontece porque a gratificação de longo prazo advém de abdicação de consumo no
curto prazo, e existe grande tentação para a gratificação instantânea. O problema de
autocontrole faz com que a abordagem dada ao consumo ao longo da vida seja,
idealmente, comportamental, se referindo ao comportamento de consumo.
Consumidores hiperbólicos terão uma disparidade entre os objetivos de longo prazo
e o comportamento de curto prazo, o que faz com que não atinjam o nível desejado
de poupança (“target savings”), já que as gratificações instantâneas subestimam os
esforços de implementação de paciência para gratificações futuras.
O gráfico abaixo compara as funções de desconto do modelo básico de ciclo de
vida (desconto constante representado por uma função exponencial) e do modelo de
desconto hiperbólico (desconto não constante representado por uma função
hiperbólica). O modelo de desconto de ciclo de vida indica que a escolha dos agentes
racionais exibe consistência intertemporal já que o padrão de ordenação das
preferências no presente e futuro se mantém ao longo do tempo. No caso de desconto
hiperbólico, por sua vez, o indivíduo exibe padrão de escolha marcado pela
impaciência já que a taxa de desconto decai com o tempo. A taxa é relativamente alta
em curtos horizontes de tempo e relativamente baixa para prazos estendidos de tempo.
17
Gráfico 1 – Ciclo de vida versus desconto hiperbólico – função de desconto ao longo
do tempo
Taxa de desconto e fatores culturais
Sabendo que o interesse aqui será comparar Brasil e Suíça, é propício abordar
como fatores culturais afetam o encadeamento da taxa de desconto, mesmo assumindo
que o comportamento dela será sempre hiperbólico. Este é o objetivo do estudo de
Wang, Rieger e Hens (2016), que concluiu que o desconto hiperbólico é um fenômeno
global ao coletarem dados de 53 países. Para abordarem essa variabilidade da taxa de
desconto para diferentes períodos característica do modelo hiperbólico, eles
construíram estatísticas que mensuram a diferença de taxas de desconto de dois
períodos distintos: 1 ano e 10 anos. A metodologia deste estudo será parecida e por
isso mais detalhes sobre a construção destas estatísticas podem ser encontrados no
capítulo de metodologia.
A seguir, usaram essa construção como variável explicativa de regressões cujas
variáveis respostas eram de três categorias: características econômicas do país (log do
PIB per capta, log da taxa de crescimento do PIB, inflação, nível de abertura
econômica), características culturais do país (score de individualismo, aversão à
incerteza e orientação de longo prazo das dimensões de Hofstede (Hofstede, 1991)) e
características pessoais dos respondentes (sexo, idade, o fato de ser graduando de
economia ou não, o fato de ser aluno nativo ou não, identificação cultural com um
dos sete clusters culturais segundo a classificação de Chhokar, Brodbeck, and House
(2008)).
Retirado de “Economia e psicologia na explicação da escolha intertemporal”
Muramutso, Roberta; Fonseca, Patrícia
18
Os resultados encontrados referentes aos fatores culturais são:
Quanto maior o nível de aversão à incerteza do país, menor a estatística de diferença
de taxa de desconto entre os períodos, e consequentemente maior a tendência à
impaciência e maior desconto hiperbólico.
Quanto maior o nível de individualismo do país, maior a estatística de diferença de
taxa de desconto entre os períodos, e consequentemente maior a tendência à paciência
e menor o desconto hiperbólico.
Quanto maior o nível de orientação de longo do país, maior a estatística de diferença
de taxa de desconto entre os períodos, e consequentemente maior a tendência à
paciência e menor o desconto hiperbólico.
Além dos resultados numéricos, os autores referem outros estudos com mesmo
escopo, como o de Robert Levine (Levine, 1997) que definiu e mensurou o conceito
de “passagem do tempo” e o estudou em 31 países a partir de dados sobre velocidade
de caminhada da população, velocidade dos serviços de correio e precisão dos
relógios. Mostra-se que essa “passagem do tempo” está positivamente correlacionada
com um comportamento de mais paciência, em que há maior disposição de esperar
para benefícios de longo prazo. Citam também forte correlação entre a impaciência e
curto prazismo com comportamentos de procrastinação (Benzion et al., 1989).
19
3. METODOLOGIA
3.1 Coleta de Dados
Pesquisa Piloto
Como forma de antecipar desafios relacionados à pesquisa e conseguir desenhar
a melhor forma de abordagem, rodou-se um piloto durante o curso “Educação
financeira, bem-estar e desigualdade” ministrado pelo professor Ricardo Brito. Nesta,
os alunos que se inscreveram voluntariamente (o que pode ter levado a um viés de
seleção – pessoas que já têm interesse no tema de educação financeira) foram
convidadas a responder presencialmente a quatro experimentos, sendo um deles
justamente as indagações que levam à construção das estatísticas construídas por
Wang, Rieger e Hens (2016), β e δ (ver item 3.2 – o modelo). Das 31 respostas
computadas, apenas 12 foram numéricas e permitiram de fato o cálculo do tipo de
desconto em questão – a média do β foi de 0,7133, valor menor do que 1, o que indica
a prevalência do desconto hiperbólico como forma de modelagem do raciocínio de
poupança destes respondentes. As outras 19 respostas representam o desafio para as
próximas pesquisas: como engajar e fazer-se claro para que todos respondam números
que façam sentido e representem de fato suas propensões a poupar. A solução
encontrada, por estes e outros motivos, foi um formulário eletrônico, no google forms,
que força o respondente a preencher respostas numéricas quando necessário.
Os outros três experimentos também serão uteis como fonte de conhecimento de
pesquisa e representam potenciais controles a serem usados no questionário final:
Perguntas múltipla escolha básicas referentes à educação financeira, que controlaria
o nível desse tipo de conhecimento a pessoa tem;
Cognitive Reflection Test (CRT) – teste de controle cognitivo, Frederick (2005).
Basicamente apresentam-se três perguntas que fazem os dois sistemas cerebrais de
respostas se confrontarem – o sistema 1 e o sistema 2, responsáveis por,
respectivamente, respostas dadas pelo raciocínio instintivo (mais rápido e, por vezes,
irracional) e raciocínio logico (demorado e racional);
Teste de superconfiança – mensura a propensão do individuo tomar decisões com
base em mecanismos irracionais, como a crença de que tem-se mais conhecimento do
que na realidade.
20
Questionário Final
Montou-se então um formulário no Google Forms que pode ser facilmente
respondido em qualquer lugar do mundo. Alunos da Universidade de St Gallen e do
Insper o preencheram em inglês (língua estrangeira para ambos) e com isso foi feita
a coleta de dados.
Em anexo, encontra-se o formulário original. O importante é que se enfatizou que
os respondentes deveriam preenchê-lo sozinhos e sem consulta a nenhuma outra parte
e que o objetivo era coletar informação sobre preferências e atitudes, não havendo
respostas certas ou erradas.
As perguntas que constroem as estatísticas de análise são:
01. Por favor considere as seguintes alternativas:
A. Pagamento de $100 agora
B. Pagamento de $X em um ano
X tem que ser pelo menos ___ para que B seja tão atrativo quanto A
02. Por favor considere as seguintes alternativas:
A. Pagamento de $100 agora
B. Pagamento de $X em dez anos
X tem que ser pelo menos ___ para que B seja tão atrativo quanto A
21
3.2 O modelo
Variável Resposta
Será β:
𝛽 = 100
𝛿𝐹1𝑎𝑛𝑜
𝛿 = (𝐹1𝑎𝑛𝑜
𝐹10𝑎𝑛𝑜𝑠)1 9⁄
Em que 𝐹1𝑎𝑛𝑜é o montante que faz com que o indivíduo aceite trocar 100 reais
agora pela promessa de recebê-lo após 1 ano (resposta da pergunta 01) e 𝐹10𝑎𝑛𝑜𝑠 é o
montante que faz com que o indivíduo aceite trocar 100 reais agora pela promessa de
recebê-lo após 10 anos (resposta da pergunta 02).
A análise se dá na medida em que a taxa de desconto entre hoje e o próximo
período é de (1 − 𝛽𝛿)/𝛽𝛿 e a taxa de desconto entre dois quaisquer períodos futuros
é de (1 − 𝛿)/𝛿, sendo que a taxa de desconto futura é sempre diferente da taxa de
desconto entre hoje e o próximo período, a não ser que 𝛽 = 1. Por isso, se for
constatado que beta é significativamente menor que 1, o modelo de ciclo da vida
(desconto exponencial) é rejeitado em favor do modelo de desconto hiperbólico.
A distância entre β e 1 é um mensurador do desvio de racionalidade (já que
consideramos que o que causa a prevalência do desconto hiperbólico é a rejeição da
hipótese de racionalidade nas preferencias temporais). Por isso usar os fatores
individuais dos entrevistados para explicar o β é também entender como estes fatores
moldam a irracionalidade dos grupos estudados.
Variável Explicativa – grupo (aluno Insper, aluno St Gallen,
intercambista Insper e intercambista St Gallen)
Visando comparar Brasil e Suíça, serão construídas variáveis binárias que indicam
em que grupo o respondente se encontra. Vale ressaltar que a base de comparação
será então a do grupo não contemplado pelas dummies – alunos regulares do Insper.
StGallen: assume valor 1 se o respondente for aluno de St Gallen. Assumindo
que a Suiça apresenta maiores níveis de aversão à incerteza, menores níveis
22
de individualismo e de orientação de longo prazo do que o Brasil, é esperado
que os indivíduos que estudem no país sejam mais pacientes e apresentem
descontos menos hiperbólicos, portanto o sinal esperado do parâmetro que
acompanha a variável aluno St Gallen numa regressão que explica β e em que
o grupo de comparação é de alunos brasileiros é positivo, e ser aluno de St
Gallen aumentaria, então, o valor de β e representaria menores níveis de
desvios de racionalidade.
InterInsper: assume valor 1 se o respondente tiver feito pelo menos um
semestre de intercambio no Insper. Não existe expectativa em relação a estar
neste grupo, já que o grupo provavelmente será heterogêneo em seus níveis de
aversão à incerteza, individualismo e orientação de longo prazo, já que os
entrevistados podem ser de países e culturas muito divergentes. O que se busca
investigar com a variável é se a decisão de vir para o Brasil num intercâmbio,
o que pode indicar maior abertura para novas experiências e curiosidade, gera
algum padrão nas decisões financeiras e de consumo.
InterStGallen: assume valor 1 se o respondente tiver feito pelo menos um
semestre de intercambio na Universidade de St Gallen. Mais uma vez não se
tem expectativa sobre o sinal do parâmetro que acompanha a variável. O
intercambista que esta aqui, uma vez ainda curioso e aberto a mudanças e
novas experiências, pode ser mais conservador em suas escolhas, por ter ido
para um país mais confortável e organizado neste semestre de suas vidas.
Variável Explicativa – Continente/País de origem
A nacionalidade pode guardar correlação com traços culturais e usando como base
o trabalho de Hans et al (2016), esta é forte candidata como variável no modelo.
Porém, nos grupos de intercambistas a variabilidade e pouca representatividade das
nacionalidades apresenta um entrave para sua aplicação. Ao invés disso, agruparam-
nas por grandes regiões, que resultaram na construção de três variáveis binarias, de
acordo com a amostra, mais um quarto grupo que representa a base de comparação e
é a América do Sul.
AmNorte: assume o valor 1 se o país de origem do respondente for Estados
Unidos, Canada ou México. O sinal esperado do parâmetro que a acompanha
23
num modelo econométrico que explica o β é positivo, pois ser desta região
levaria, em media, a um menor desvio de racionalidade relativo à região sul-
americana.
Ásia: assume o valor 1 se o país de origem do respondente fizer parte do
continente asiático. A cultura asiática é marcada por estereótipos de algumas
nacionalidades, como a calma e organização japonesa. Isso faz com que
estipulemos que haverá menos imediatismo na região e o sinal esperado para
o parâmetro que acompanha “Ásia” na regressão que explica β também é
positivo.
Europa: assume o valor 1 se o país de origem do respondente estiver
localizado na Europa. O maior nível de desenvolvimento destes países faz com
que a expectativa seja de maior racionalidade econômica nas decisões
financeiras e por isso, relativo à América do Sul, o beta esperado é maior.
Variável Explicativa – Cultura
Outra forma de estratificar a cultura é pela declaração do entrevistado sobre qual
grupo cultural ele se identifica dentre grupos étnicos. Neste trabalho, utilizaram-se
sete clusters baseados na classificação de Chhokar, Brodbeck & House (2007). São
eles: cultura anglo/americana, asiática, germânica/nórdica, latino americana, latino
europeia, leste europeia e médio oriental. Usando como base de comparação à cultura
latino americana, foram construídas as seguintes seis variáveis binárias:
Anglo/americana: assume valor 1 quando o respondente se declara
pertencente a este grupo cultural.
Asiática: assume valor 1 quando o respondente se declara pertencente a
este grupo cultural.
Germânico/nórdica: assume valor 1 quando o respondente se declara
pertencente a este grupo cultural.
Latino Europeia: assume valor 1 quando o respondente se declara
pertencente a este grupo cultural.
Leste Europeia: assume valor 1 quando o respondente se declara
pertencente a este grupo cultural.
24
Médio Oriental: assume valor 1 quando o respondente se declara
pertencente a este grupo cultural.
Variável Explicativa – Gênero
Variável binária que assume valor 1 se o respondente tiver se declarado mulher
no formulário preenchido. Em geral, na literatura, muitas vezes o sinal reportado para
o parâmetro que acompanha a variável gênero numa função que explica resultados
financeiros é negativo. Isso é explicado pela disparidade de funções, objetivos e
expectativas atribuídas aos diferentes gêneros, que resultam em diferentes formações
da racionalidade financeira. No caso deste estudo, entretanto, as formações são, a
priori, similares, além de que estamos controlando por outros fatores individuais. Em
se tratando de um grupo específico de universitários do século XXI, não há
expectativa sobre como o gênero afeta as decisões intertemporais, e pode-se mostrar
estatisticamente irrelevante numa regressão que explica o β, mensurador de desvios
em relação ao modelo de ciclo de vida.
Variável Explicativa – Idade
Idade preenchida pelos entrevistados. Espera-se que, conforme os anos passem,
os indivíduos tornem-se mais maduros e tenham mais propriedade e racionalidade nas
decisões, e por isso o sinal esperado do parâmetro que acompanha a variável idade
numa regressão que explica desvios de racionalidade (𝛽) é positivo.
Variável Explicativa – Curso/Aluno de economia
Ter curso como preditor do comportamento financeiro é válido na medida em que
alunos que tenham estudado finanças terão maior preparação para tomar decisões
racionais. Estudar economia comportamental também é uma maneira de antecipar
desvios e manter o comportamento de acordo com o modelo de ciclo de vida (β igual
a 1). Para denotar o grupo que tiveram acesso a esse tipo de informação, e portanto
espera-se que tenham maior probabilidade de um maior beta (o sinal que acompanham
estas variáveis numa regressão que explica beta é, portanto, esperado ser positivo),
25
criou-se a variável admecofin que assume valor 1 se o entrevistado cursar
administração, economia ou finanças. A base de comparação deste será alunos que
cursam quaisquer outras áreas de estudo presentes na base de dados.
Variável Explicativa – Nível de Estudo
Os alunos entrevistados podem ser alunos dos seguintes níveis de estudo:
graduação, pós-graduação/mestrado e doutorado/phd. Para comparar os βs dos níveis,
em relação à base graduação, estará presente no modelo a variável pós, uma dummy
que recebe o valor de 1 quando o respondente faz parte dos níveis de estudo pós-
graduação/mestrado ou doutorado. O esperado é que se um indivíduo “subir” de nível,
ganhará também mais assertividade em suas preferências temporais, sendo esperado
que a previsão de beta também se aproxime de 1 com esta mudança de graduação para
pós.
Variável Explicativa – Semestre
Da mesma forma que mudar de nível pode representar melhora na racionalidade
financeira, avanços no curso também podem fazê-lo. Para medir estes avanços, a
variável semestre indicará em que semestre o aluno cursava ao responder a pesquisa.
Além disso, construíram-se as dummies iníciocurso e iníciocursograd (a segunda
dada pela interação entre a primeira e a variável binária que assume o valor 1 se o
aluno cursar graduação no momento em que preencheu o formulário indicando suas
preferências financeiras temporais), que indicarão se o aluno estiver nos primeiro,
segundo, terceiro ou quarto semestres e se estiver nos primeiro, segundo, terceiro ou
quarto semestres de graduação.
Variável Explicativa - Declaração sobre educação financeira
Uma das perguntas do formulário diz respeito à percepção do entrevistado sobre
sua formação em matemática financeira. A variável educfin assume o valor de 1 se o
entrevistado considerar já ter feito curso de matemática financeira ou equivalente e 0
caso contrário. É assumido como verdade que o nível de conhecimento de
26
instrumentos financeiros dos alunos aqui entrevistados é sempre alto, principalmente
relativo ao restante da população (que não é estudante de escolas de elite tendo acesso
à fronteira do conhecimento). Por isso, essa variável na verdade mede a auto
percepção que o indivíduo tem de seu nível de educação financeira.
Regressão
A partir de coleta de dados e construção das variáveis listadas, diversos
modelos podem ser pensados para explicar o comportamento de β. A proposta
será considerar três tipos de modelos:
Grupos explicando β:
𝜷𝒊 = ∁ + 𝜽𝟏𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓𝒊 + 𝜽𝟐𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒊 + 𝜽𝟑𝒆𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒊 + 𝜽𝟒𝒑ó𝒔𝒊 + 𝜽𝟓𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒐𝒈𝒓𝒂𝒅𝒖𝒂çã𝒐𝒊
+ 𝜽𝟔𝒆𝒅𝒖𝒄𝒇𝒊𝒏𝒊 + 𝜽𝟕𝑺𝒕𝑮𝒂𝒍𝒍𝒆𝒏𝒊 + 𝜽𝟖𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓𝑺𝒕𝑮𝒂𝒍𝒍𝒆𝒏𝒊 + 𝜽𝟗𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓𝑰𝒏𝒔𝒑𝒆𝒓𝒊
+ 𝜺𝒊
Continentes explicando β:
𝜷𝒊 = ∁ + 𝜽𝟏𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓𝒊 + 𝜽𝟐𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒊 + 𝜽𝟑𝒆𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒊 + 𝜽𝟒𝒑ó𝒔𝒊 + 𝜽𝟓𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒐𝒈𝒓𝒂𝒅𝒖𝒂çã𝒐𝒊
+ 𝜽𝟔𝒆𝒅𝒖𝒄𝒇𝒊𝒏𝒊 + 𝜽𝟕𝑨𝒎𝑵𝒐𝒓𝒕𝒆𝒊 + 𝜽𝟖𝑨𝒔𝒊𝒂𝒊 + 𝜽𝟗𝑬𝒖𝒓𝒐𝒑𝒂𝒊 + 𝜺𝒊
Clusters culturais explicando β:
𝜷𝒊 = ∁ + 𝜽𝟏𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓𝒊 + 𝜽𝟐𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒊 + 𝜽𝟑𝒆𝒄𝒐𝒏𝒐𝒎𝒊𝒂𝒊 + 𝜽𝟒𝒑ó𝒔𝒊 + 𝜽𝟓𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒐𝒈𝒓𝒂𝒅𝒖𝒂çã𝒐𝒊
+ 𝜽𝟔𝒆𝒅𝒖𝒄𝒇𝒊𝒏𝒊 + 𝜽𝟕𝒂𝒏𝒈𝒍𝒐𝒂𝒎𝒆𝒓𝒊𝒄𝒂𝒏𝒂𝒊 + 𝜽𝟖𝒂𝒔𝒊𝒂𝒕𝒊𝒄𝒂𝒊
+ 𝜽𝟗𝒍𝒆𝒔𝒕𝒆𝒆𝒖𝒓𝒐𝒑𝒆𝒊𝒂𝒊 + 𝜽𝟏𝟎𝒈𝒆𝒓𝒎𝒂𝒏𝒊𝒄𝒂𝒏𝒐𝒓𝒅𝒊𝒄𝒂𝒊
+ 𝜽𝟏𝟏𝒍𝒂𝒕𝒊𝒏𝒐𝒆𝒖𝒓𝒐𝒑𝒆𝒊𝒓𝒂𝒊 + 𝜽𝟏𝟐𝒎𝒆𝒅𝒊𝒐𝒐𝒓𝒊𝒆𝒏𝒕𝒂𝒍𝒊 + 𝜺𝒊
27
4. DESCRIÇÂO DA AMOSTRA
Responderam ao formulário 235 alunos. Destes, 92 são alunos regulares do Insper
e todos brasileiros; 69 alunos regulares de St Gallen cujas nacionalidades diferem
entre 7 países distintos, apesar da maioria (77%, aproximadamente) serem de fato
suíços. A amostra apresenta características fidedignas da realidade: existe maior
integração entre os países europeus, e a facilidade da língua (os cursos regulares lá
são oferecidos tanto em suíço-alemão, língua oficial da região, quanto em inglês) faz
com que St Gallen receba muitos alunos não suíços em seus cursos regulares. A
faculdade também recebe mais intercambistas do que o Insper. Por semestre, em
média, St Gallen recebe 200 alunos de universidades parceiras, enquanto este número
varia entre 20 e 30 no Insper, segundo dados coletados com os respectivos
departamentos de relações internacionais de ambas as faculdades. Isso também é
refletido na amostra apurada, em que foi mais fácil coletar dados de intercambistas da
faculdade europeia. Apenas 22 dos respondentes são alunos intercambistas que
estudaram por pelo menos um semestre no Insper e suas nacionalidades variam entre
16 países diferentes enquanto 52 são intercambistas de St Gallen cujas origens estão
distribuídas entre 21 países. Totalizando, então, existem quatro grupos de estudo:
alunos Insper, alunos St Gallen, intercambistas Insper e intercambistas St Gallen.
Após um panorama geral da amostra e análise descritiva dos respondentes por grupo
de estudo, segue empenho em detalhar o comportamento da variável de interesse (β).
Panorama da Amostra
Gráfico 2 – Perfil da amostra: distribuição da idade
0
10
20
30
40
50
60
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 37 38 55
Idade - todos os grupos
28
Por abordar tanto alunos de graduação quanto de doutorado/phd, as idades dos
entrevistados apresentam grande variabilidade (entre 17 e 55 anos). A maior
concentração se dá em pessoas de 21, 22 e 23 anos, cuja representatividade é de
59,15% perante a amostra total.
Nenhuma entrada de sumário foi encontrada.os grupos
*sem o valor aberrante (explicado à frente) esta média passa a ser 0,8578
Observa-se que os alunos médios entrevistados de graduação e pós
graduação/mestrado estão mais no final do curso do que o aluno médio de
doutorado/phd. Além disso, a média dos primeiros níveis de ensino geram idades e
βs similares, sendo que o aluno médio de doutorado/phd é mais velho e mais racional
em suas tomadas de decisões relativas a preferências temporais (β mais próximo de
1).
Gráfico 4 – Perfil da amostra: semestre, idade e β médios por gênero – todos os grupos
5,90 5,37 2,85
21,6424,53
33,92
0,8532 0,8403* 0,9299
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO 3. DOUTORADO/PHD
Média de semestre Média de idade Média de beta
*sem valor aberrante (explicado à frente) a média passa a ser 0,9183
5,38 6,58
22,31 22,27
0,9067* 0,7790H O M E M M U L H E R
Média de semestre Média de idade Média de beta
29
Tabela 1 – Perfil da amostra: contagem de respondentes por grupo e gênero
No total, 55,31% da amostra é de homens. No âmbito Insper (somatória do grupo
alunos Insper e intercambistas Insper), a representatividade masculina é de 57,89%
enquanto em St Gallen (alunos e intercambistas) esta é de 52,89%.
Além disso, é interessante observar a composição de gênero por nível de estudo,
como é feito no gráfico abaixo. Em anexo, essa mesma decomposição é apresentada
pelos grupos de alunos, e o resultado é que no Insper a maior parte de alunos de pós-
graduação/mestrado ou doutorado é de homens, enquanto em St Gallen essa
proporção se investe (mais mulheres do que homens entrevistadas nos níveis de pós
graduação).
Gráfico 5 – Perfil da amostra: gênero por nível de estudo, % em relação à amostra
total – todos os grupos
Insper 92
homem 53
mulher 39
Intercambista Insper 22
homem 13
mulher 9
St Gallen 69
homem 38
mulher 31
Intercambista St Gallen 52
homem 26
mulher 26
Total 235
41,70%
8,94%4,68%
31,91%
11,91%
0,85%
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO 3. DOUTORADO/PHD
homem mulher
30
4.1 Análise descritiva por grupo de estudo
Insper
Por se concentrarem exclusivamente no Brasil, consequentemente a amostra
proveniente do grupo de alunos do Insper é exclusiva da América do Sul. Mesmo
assim, há uma divisão cultural entre os entrevistados deste grupo.
Gráfico 6 – Contagem de respondentes por cultura – alunos Insper
Todos os grupos culturais baseados na classificação de Chhokar, Brodbeck &
House (2007) estão presentes na amostra de alunos do Insper, apesar de uma evidente
concentração na identificação com a cultura latino-americana.
Gráfico 7 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo – alunos Insper
O grupo de alunos Insper apresenta a maior concentração de alunos nas áreas de
administração, economia e finanças: 96,7% dos entrevistados cursam um ou a
combinação de dois destes cursos. Isso se reflete numa maior percepção por parte dos
46,74%
34,78%
6,52%
1,09%
1,09%
3,26%
4,35% 2,17%
0%5%
10%15%20%25%30%35%40%45%50%
graduação pós-graduação
4 3 3
73
6 2 1
31
entrevistados de que eles tiveram contato com matemática financeira ou similar
durante seu período de estudos.
Gráfico 8 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – alunos Insper
Tabela 2 – Taxas de desconto – alunos Insper
A observação sobre as taxas de desconto médias para diferentes períodos já é um
indício das preferências e comportamentos dos indivíduos, já que conforme explicado
taxas diferentes para diferentes horizontes de tempo anulam a possibilidade do
modelo de ciclo de vida como explicação do consumo e investimento. Neste caso, as
estatísticas da amostra sinalizam para o modelo de desconto hiperbólico já que,
independente do nível de estudo, o aluno médio do Insper tem a taxa de desconto do
primeiro período maior do que a do décimo.
9,78%
90,22%
considera nunca ter feitocurso de matemáticafinanceira ou equivalente
considera já ter feito cursode matemática financeiraou equivalente
1. graduação2. pós-
graduação/mestrado3. doutorado/phd
Média de %1ano 118,95% 28,50% 12,63%
Média de %10anos 22,85% 9,58% 9,56%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
140,00%
%aa
32
Insper - intercambistas
Gráfico 9 – Contagem de respondentes por país – intercambistas Insper
Em se tratando de intercambistas, a variabilidade de nacionalidades já era
esperada. Compõe este grupo amostral representantes da Ásia, América do Norte,
América do Sul e Europa.
Gráfico 10 – Contagem de respondentes por cultura – intercambistas Insper
Cinco dos sete grupos culturais são aqui contemplados. Neste grupo amostral, os
intercambistas do Insper não se identificam com a cultura leste europeia e do Oriente
Médio, mas dividem-se entre estes outros 5 agrupamentos listados.
Gráfico 11 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo –
intercambistas Insper
3
2
4
9
4
A N G L O / A M E R I C A N A A S I Á T I C A G E R M Â N I C A / N Ó R D I C A L A T I N O A M E R I C A N A L A T I N O E U R O P E I A
1
4
1 1 1 1 1
3
1 1 1
2 2
1 1
27,27%
4,55%9,09%
4,55%
9,09%
4,55%
4,55%
9,09%
9,09%4,55%
4,55%4,55% 4,55%
0%10%20%30%40%50%
graduação pós-graduação
33
63,6% dos intercambistas do Insper, nesta amostra, estudam economia,
administração ou finanças. Mesmo assim, a grande maioria (90,9% do total) afirma
ter tido algum contato com matemática financeira ou similar, resultado que pode ser
encontrado visualmente no gráfico 12.
Gráfico 12 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – intercambistas Insper
Tabela 3 – Taxas de desconto – intercambistas Insper
No caso dos intercambistas do Insper, uma única resposta fez as taxas de desconto
média do grupo de pós graduação serem expressivamente atípicas, principalmente a
de 1 ano. Por isso, aqui pode-se comparar os grupos com e sem a presença desta
resposta muito fora da média. Mais à frente, investiga-se a presença desta resposta e
de maneira critica argumenta-se para a retirada deste respondente da base de dados.
De qualquer jeito, os descontos de 1 ano são sempre menores do que os de 10.
9,09%
90,91%
considera nunca ter feitocurso de matemáticafinanceira ou equivalente
considera já ter feito cursode matemática financeiraou equivalente
1. graduação2. pós-
graduação/mestrado
3.doutorado/phd
Média de %1ano 144,29% 2010,20% 40,00%
Média de %1ano sem outlier 144,29% 46,73% 40,00%
Média de %10anos 29,89% 46,38% 32,44%
Média de %10anos sem outlier 29,89% 30,88% 32,44%
-100,00%
400,00%
900,00%
1400,00%
1900,00%
2400,00%
%aa
34
St Gallen
Gráfico 13 – Contagem de respondentes por país de origem – alunos St Gallen
Na amostra de alunos de St Gallen, encontram-se 58 europeus e 1 latino-americano.
Gráfico 14 – Contagem de respondentes por cultura – alunos St Gallen
Diversidade cultural é marca registrada da Suíça, que além de ser dividida em 26
cantões apresenta 4 “regiões” de influência francesa, italiana, alemã e retoromana
(sendo responsáveis pelas quatro línguas oficiais do país: francês, alemão, italiano e
romanche, respectivamente). Não é surpresa que os alunos de St Gallen difiram em
suas identificações culturais, e na amostra coletada a maior parte dos entrevistados
mais sente que pertence aos grupos de cultura germânica/nórdica (68,11%) e latino
europeia (20,28%).
5
1 1 2 1 1 1
57
A L E M A N H A Á U S T R I A B R A S I L F R A N Ç A I T Á L I A R E P Ú B L I C A C H E C A
R Ú S S I A S U Í Ç A
1
47
1
14
5
1
35
Gráfico 15 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo – St Gallen
A universidade de St Gallen oferece cinco cursos de graduação: administração,
direito, economia, direito&economia e relações internacionais. No curso de
administração, oferece especializações em logística, finanças e em marketing. Por
isso, ao compilar os alunos que fazem parte do grupo de interesse “estudantes de
administração, economia e finanças”, também foi levado em conta o aluno de
graduação que declarou estudar logística (apesar da especialização, o curso em
questão é administração. Além disso, outras pessoas com a mesma especialização
podem ter respondido simplesmente administração, então como a informação não é
completa, foi decidido contemplá-lo como parte do grupo com diploma relacionado a
finanças também). Somam, então, 38 alunos com essas formações que representam
55% do total. Coincidentemente, é a mesma proporção de alunos que declarou ter
formação em matemática financeira ou similar. A justaposição numérica não passa
disso, pois a correlação entre as duas variáveis binárias (ter formação nos cursos
mencionados e ter declarado já ter feito curso de matemática financeira ou
equivalente) é baixa (para o grupo de alunos de St Gallen, é de 0,3160).
24,64%
8,70%13,04%
1,45% 1,45%
10,14%
5,80%
1,45% 1,45%
10,14%2,90%
5,80%4,35% 1,45% 1,45% 1,45% 1,45%
2,90%
0%5%
10%15%20%25%30%35%40%
graduação pós-graduação
36
Gráfico 16 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – alunos St Gallen
Tabela 3 – Taxas de desconto – alunos St Gallen
Mais uma vez a análise das taxas de desconto resulta no aparente desconto
hiperbólico para todos os níveis, sendo que a maior diferença entre as taxas é a do
grupo de pós-graduação/mestrado.
43,48%56,52%
considera nunca ter feitocurso de matemáticafinanceira ou equivalente
considera já ter feito cursode matemática financeiraou equivalente
1. graduação2. pós-
graduação/mestrado3. doutorado/phd
Média de %1ano 48,80% 107,15% 100,00%
Média de %10anos 18,75% 18,94% 42,19%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
%aa
37
St Gallen - intercambistas
Gráfico 17 – Contagem de respondentes por país – intercambistas St Gallen
As diferentes nacionalidades do grupo de intercambistas de St Gallen resultam em
acréscimos para os grupos de respondentes provenientes da Ásia, América do Norte,
América do Sul e Europa. Além disso, os sete grupos étnico-culturais são
identificados, e a respectiva representatividade de cada pode ser conferida no gráfico
abaixo.
Gráfico 18 – Contagem de respondentes por cultura – intercambistas St Gallen
5 4
7
27
5
3
1
2
6
16
3
1 1 1
3
1
4
1 1 1 1
3
1 1 1 1 1
2
38
Gráfico 19 – Porcentagem de respondentes por curso e nível de estudo –
intercambistas St Gallen
Intercambistas de St Gallen se dividem entre os seis cursos acima, sendo que na
amostra coletada nenhum cursa doutorado/phd. A maioria cursa administração e
finanças, o que e condizente com o fato de que a maioria afirma ter tido treinamento
prévio em matemática financeira ou similar, conforme gráfico abaixo.
Gráfico 20 – Declaração sobre conhecimento prévio em matemática financeira ou
equivalente – intercambistas St Gallen
26,92%3,85% 23,08%
7,69%7,69%
15,38%
3,85%
7,69%
3,85%
0%5%
10%15%20%25%30%35%40%45%50%
graduação pós-graduação
9,62%
90,38%
considera nunca ter feitocurso de matemáticafinanceira ou equivalente
considera já ter feito cursode matemática financeiraou equivalente
39
Tabela 4 – Taxas de desconto – intercambistas St Gallen
A manutenção, para o grupo de intercambistas do Insper, da taxa de desconto
superior para o período de 1 ano relativo à taxa de 10 anos é um indício de que padecer
de desvios de racionalidade é também uma característica deste grupo.
1. graduação 2. pós-graduação/mestrado
Média de %1ano 75,14% 37,16%
Média de %10anos 27,08% 19,07%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%%
aa
40
4.2 Análise descritiva do β
Gráfico 21 – Histograma: contagem de respostas por intervalo de beta
Tabela 5 – Distribuição de β – percentis, máximo, mínimo, média e moda
O parâmetro β apresenta grande variabilidade entre os indivíduos, com variação
de 1,5567 entre os valores máximo e mínimo e desvio padrão de 0,2563.
Os valores muito altos de β (acima de 1) são resultantes de pessoas que indicaram
valorizar mais o dinheiro futuro do que o de agora. A taxa de desconto anualizada
para o período de 10 anos é superior à taxa de 1 ano para estes indivíduos. Para
exemplificar, peguemos o maior β reportado, de 1,56. Este número foi gerado a partir
máximo 1,5696
99º percentil 1,3814
98º percentil 1,2407
95º percentil 1,1537
9º decil 1,0757
3º quartil 1,0003
2º quartil (mediana) 0,9524
1º quartil 0,7238
1º decil 0,5214
5º percentil 0,3086
2º percentil 0,1629
1º percentil 0,1130
mínimo 0,0129
média 0,9523
mediana 0,5979
41
de respostas que também geraram a taxa de 10%aa para o período de 1 ano (aceita
trocar 100 unidades monetárias hoje por 110 no final de um ano) e de 65%aa para o
período de 10 anos (aceita trocar 100 unidades monetárias hoje por 15.000 no final de
dez anos). Esse descasamento também gera inconsistência intertemporal, mas pelo
menos não desincentiva a poupança ou gera infelicidade (aceita realmente reduzir o
consumo hoje por dinheiro futuro e acaba repetindo esse comportamento).
Em contraparte, aqueles indivíduos que responderam taxas para 1 ano muito
superiores do que a do período maior acabam tendo um β muito próximo de zero. Por
exemplo, o respondente com β mínimo de 0,01 diz aceitar uma taxa de 9.900%aa
quando a pergunta se referia a 1 ano e de 99,53% quando a pergunta seguinte se referia
ao período de 10 anos. Em termos absolutos significa que esse respondente diz aceitar
trocar 100 unidades monetárias hoje por 10.000 destas ao final de 1 ano e 100.000
unidades destas ao final de 10 anos. Este é um caso estremo pois representa
claramente um outlier, porém o que se tira dessa situação é a infelicidade gerada por
indivíduos com esse tipo de comportamento: a cada período ele prefere uma menor
poupança em nome do curto prazo em detrimento do longo prazo. Num período
futuro, ao não realizar a poupança planejada, o indivíduo se frustra. Isso gera
infelicidade, na medida em que as expectativas dele seriam de eventualmente chegar
no nível de consumo mais alto, mas não há planejamento (o que aqui significa que
não há abertura de mão de consumo presente) para isso.
Nesta amostra, o indivíduo médio tem β de 0,86 e taxas médias para 1 e 10 anos
de respectivamente 129,31% e 22,73% (aceita trocar 100 unidades monetárias hoje
por 229,31 ao final de um ano e por 2.676,62 ao final de dez anos).
Investiga-se a seguir como, do ponto de vista amostral, este resultado pode ser
interferido pelas diversas estratificações aqui construídas. Atenção para o fato de que
quando o desvio padrão é inexistente (a linha que o representaria é um ponto) isso
significa que não há representatividade nesta amostra para este grupo, pois este é
construído apenas com este único valor individual. Sabendo disso, as variáveis das
regressões têm o cuidado de agrupá-los e isto não é um problema para a análise final.
42
Gráfico 22 – β média e desvio padrão por país
0,0129
0,1292
0,5000
0,5979
0,6458
0,6978
0,7295
0,7722
0,7735
0,7959
0,8188
0,8449
0,8664
0,8761
0,8923
0,9091
0,9524
0,9710
0,9731
0,9786
0,9945
0,9963
0,9981
0,9999
1,0014
1,0231
1,0747
1,1065
1,1618
1,1618
1,3622
Dinamarca
Japão
Turquia
Áustria
Rússia
Estados Unidos
Argentina
Bélgica
França
Canada
Suíça
Uruguai
Brasil
Suécia
Singapura
México
Chile
República Checa
Noruega
Itália
Finlândia
Israel
Portugal
Croácia
Indonésia
Polônia
Alemanha
Equador
Tailândia
Venezuela
China
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
43
Gráfico 23 – β média e desvio padrão por grupo cultural
Gráfico 24 – β média e desvio padrão por região
Gráfico 25 – β média e desvio padrão por faixa etária
Gráfico 26 – β média e desvio padrão por gênero
0,6883
0,7558
0,8099
0,8518
0,8669
0,8694
0,9808
Anglo/Americana
Médio Oriental
Leste Europeia
Germânica/Nórdica
Latino Europeia
Latino Americana
Asiática
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
0,7649
0,8644
0,8522
0,8510
America do Norte
America do Sul
Asia
Europa
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
0,7582
0,8596
0,9860
entre 26 e 30 anos
até 25 anos
acima de 30 anos
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
0,7847
0,9184
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4
mulher
homem
44
Gráfico 27 – β média e desvio padrão por nível de estudo, comparação entre início do
curso e outros períodos
Gráfico 28 – β média e desvio padrão por declaração de educação financeira, divisão
por curso
1,0003
0,9241
0,8414
0,8397
0,8619
0,8190
terceiro ano em diante
primeiro e segundo anos (início do curso)
terceiro ano em diante
primeiro e segundo anos (início do curso)
terceiro ano em diante
primeiro e segundo anos (início do curso)
3. d
ou
tora
do
/ph
d2
. pó
s-gr
adu
ação
/mes
trad
o1
. gra
du
ação
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
0,6846
0,8526
0,7984
0,8928
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4
não
sim
não
sim
ou
tro
adm
inis
traç
ão,
eco
no
mia
ou
fin
ança
s
45
Gráfico 29 – β média e desvio padrão por curso e grupo
0,7024
0,7432
0,7981
0,8960
0,9094
1,0360
0,1046
0,5536
0,5979
0,7311
0,7675
0,8156
0,8720
0,8722
0,9226
0,9317
1,0102
1,0757
0,3327
0,4826
0,7722
0,8376
0,9618
0,9719
0,9935
0,9939
0,2583
0,8533
0,8573
0,9422
0,9615
0,9814
direito
relações internacionais
administração
economia
finanças
MBA
marketing
pedagogia
cultura organizacional
inovação de negócios
direito
relações internacionais
administração
economia
contabilidade
finanças
logística
MBA
psicologia
relações internacionais
engenharia
administração
economia
sistema de informações
finanças
marketing
engenharia
administração
economia&administração
economia
microeconomia
finanças
St G
alle
n in
terc
amb
ista
St G
alle
nIn
spe
r in
terc
amb
ista
Insp
er
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
46
5. RESULTADOS
As regressões efetuadas neste trabalho são todas cross-sections (representam uma
realidade de um único período, eximindo os efeitos do tempo nos resultados obtidos).
Decidiu-se por não usar os estimadores robustos de White pois, quando estes foram
aplicados (e pode-se conferir isto no anexo VI), devido ao pequeno tamanho da
amostra, os testes-t foram menos apurados, e rejeitou-se menos vezes a hipótese de
igualdade das estatísticas a zero. Buscando maior conservadorismo, optou-se pelos
modelos em que esta decisão era mais dificultada. Todas as variáveis são exógenas:
ou refletem fatores que não passam pela decisão do indivíduo (idade, gênero, origem
e cultura) ou, no caso do curso, a decisão é defasada, sendo que o passado não pode
ser endógeno ao presente.
Numa primeira leva de modelos, a amostra não foi tratada de nenhuma forma,
incluindo inclusive respostas que resultam em valores aberrantes. Em anexo, gráficos
boxplot exemplificam a existência destes. É por isso que numa segunda leva,
consideramos apenas indivíduos com as taxas de desconto (seja de 1 ou de 10 anos)
anualizadas iguais ou inferiores à 50%. Sabendo que os juros brasileiro e suíço são,
respectivamente, 6,5% e -0,75% (ver anexo I para mais detalhes), considerar 50%
como parâmetro não é inteiramente conservador, e como um estudo futuro existe a
proposta de filtrar ainda mais a amostra. Porém, o crivo de 50% já foi suficiente para
excluir todos os valores considerados aberrantes e aproximar (mesmo que de forma
limitada) o ímpeto de poupança dos indivíduos a realidade. Pelo fato desta análise
com exclusão dos fatores aberrantes ser assim limitada, a sua interpretação é sujeita a
críticas (a maior dela, neste estudo, é desconsiderar a relevância da variável
“educfinanceira”, como será revisitado mais à frente).
O terceiro conjunto de modelos objetiva filtrar a amostra em relação a respostas
consideradas “estranhas” e, por construção e análise de comportamento real, raras –
que são os indivíduos que valoram o futuro mais do que o presente, tendo um β
superior a 1. A hipótese é de que os formulários com esse tipo de resposta foram
preenchidos de forma indolente. Mesmo que este não seja o caso, a exclusão não
representaria objeto de preocupação, já que o indivíduo não apresentaria sub-
poupança nem um comportamento que o traria infelicidade e por isso estudar os
fatores que levam a este estado foge do escopo deste trabalho. Além disso, filtrar a
amostra com este critério é mais uma forma de dar qualidade aos resultados – se estes
47
conservarem-se após os cortes amostrais, são bons resultados que não dependem de
valores extremos para serem válidos.
Tabela 6 – regressões com amostra base
modelo 1 modelo 2 modelo 3 modelo 4
mulher -.1127481*** -.1114825*** -.1118744*** -.1124222***
(0.001) (0.001) (0.001) (0.001)
idade -.0012754 -.001267 -.000929 -.0016135
(0.779) (0.786) (0.839) (0.722)
ecoadmfin .071909** .0688631* .0891059** .0742072**
(0.099) (0.137) (0.053) (0.101)
pós .0381297 .0415158 .0259847 .030185
(0.383) (0.364) (0.562) (0.500)
início graduação -.00633 -.0104995 -.0127533 -.0098027
(0.884) (0.811) (0.770) (0.821)
educfinanceira .1063392*** .1182433*** .1186905*** .1048507***
(0.014) (0.010) (0.007) (0.017)
StGallen .0036911
(0.937)
interStGallen -.0387832
(0.380)
interInsper -.0611157
(0.315)
AmNorte -.1318299*
(0.120)
Ásia .0041872
(0.966)
Europa .0389165
(0.300)
anglo/americana -.1638831***
(0.024)
asiática .1104845
(0.195)
germânica/nórdica .139742
(0.739)
latino europeia .0195321
(0.708)
leste europeia .0124662
(0.880)
constante .783612*** .7887025*** .7453753*** .7915668***
(0.000) (0.000) (0.000) (0.000)
Número de
observações235 235 235 235
Rquadrado ajustado 0.0895 0.0851 0.0935 0.1017
*valor-p<0,15 **valor-p<0,10 ***valor-p<0,05
β
48
Tabela 7 – regressões com exclusão de valores aberrantes
modelo 1 modelo 2 modelo 3 modelo 4
mulher -.0384746*** -.0380363*** -.0393594*** -.0446098***
(0.034) (0.038) (0.032) (0.016)
idade -.0018489 -.0020775 -.002002 -.0020781
(0.390) (0.352) (0.361) (0.337)
ecoadmfin .0071677 .0091091 .0097202 -.0042216
(0.777) (0.730) (0.725) (0.874)
pós .0369548* .0373002* .0379157* .04399278**
(0.116) (0.129) (0.117) (0.062)
início graduação .0153382 .0132986 .0152788 .0183208
(0.516) (0.579) (0.524) (0.442)
educfinanceira .0182111 .0148233 .0168632 .01112
(0.484) (0.609) (0.541) (0.682)
StGallen .0006068
(0.981)
interStGallen -.0015814
(0.948)
interInsper .0344652
(0.300)
AmNorte -.0356623
(0.535)
Ásia .0216412
(0.661)
Europa -.0014582
(0.945)
anglo/americana -.0168976
((0.743))
asiática .0078859
(0.861)
germânica/nórdica -37652**
(0.097)
latino europeia -.0296883
(0.293)
leste europeia .0445982
(0.393)
constante .9891353*** .9929916*** .9924681*** 1023568***
(0.000) (0.000) (0.000) (0.000)
Número de
observações164 164 164 164
Rquadrado ajustado 0.0114 0.0000 -0.0038 0.0104
*valor-p<0,15 **valor-p<0,10 ***valor-p<0,05 *valor-p<0,15 **valor-p<0,10 ***valor-p<0,05
β - taxas anualizadas<=50%
49
Tabela 8 – regressões com exclusão de comportamento anormal
modelo 1 modelo 2 modelo 3 modelo 4
mulher -.0742745*** -.069543** -.0710047** -.069391**
(0.043) (0.062) (0.052) (0.061)
idade .0093861 .0107241 .0116871 .0085724
(0.240) (0.204) (0.153) (0.287)
ecoadmfin .0272123 .0356122 .0574391 .0421795
(0.562) (0.483) (0.243) (0.390)
pós -.0284013 -.0371782 -.0540485 -.0436132
(0.611) (0.529) (0.343) (0.446)
início graduação -.007534 -.0137799 -.0176907 -.011286
(0.870) (0.772) (0.700) (0.808)
educfinanceira .1080433*** .1186107*** .1214243*** .1104841***
(0.022) (0.016) (0.011) (0.022)
StGallen .0284544
(0.582)
interStGallen -.0197447
(0.684)
interInsper -.0210971
(0.761)
AmNorte -.0619344
(0.460)
Ásia -.04403
(0.683)
Europa .0800112**
(0.052)
anglo/americana -.0889808
(0.241)
asiática .0995868
(0.307)
germânica/nórdica .0672163*
(0.149)
latino europeia .0603322
(0.305)
leste europeia .0511075
(0.553)
constante .4978052*** .4516566*** .3898632*** .4799967***
(0.009) (0.028) (0.047) (0.013)
Número de
observações167 167 167 167
Rquadrado ajustado 0.0983 0.1039 0.0783 0.0722
*valor-p<0,15 **valor-p<0,10 ***valor-p<0,05 *valor-p<0,15 **valor-p<0,10 ***valor-p<0,05
β<=1
50
O modelo 1 mostra os efeitos de gênero, idade, curso de economia finanças ou
administração, pós-graduação ou doutorado e da percepção de educação financeira no
parâmetro β. No modelo 2, adiciona-se a isso as variáveis de grupo de respondente,
que para nenhuma das amostras estudadas revelaram-se significativas, para nenhum
dos níveis estabelecidos de significância. Sendo assim, ser aluno do Insper, de St
Gallen ou intercambista não adiciona nenhuma expectativa sobre as decisões de
poupança e consumo.
No modelo 3, adiciona-se à base variáveis de região geográfica do país de
nacionalidade. Num primeiro momento, entende-se que ter Estados Unidos, Canada
ou México como país de origem (e por isso fazer parte do grupo que recebe valor 1
para variável “AmNorte”) teria um impacto negativo no β esperado (confiança de
85%). Porém, este resultado não se mantém com o refinamento da amostra. Inclusive,
para a amostra de β igual ou inferior a 1, “Europa” passa a ser a única variável de
região geográfica estatisticamente significativa (confiança de 10%). Como
percebemos uma instabilidade no resultado, o temos como incerto. Não foi possível
identificar aqui quais as regiões geográficas com maior racionalidade financeira e, no
melhor de nosso entendimento, não será esta a determinante principal da estatística β.
O mesmo acontece ao analisarmos o modelo 4, que contempla as variáveis de
identificação cultural. Na análise de amostra base, identificar-se com a cultura anglo-
americana tem impacto redutor de β (ao nível de significância de 5%). Para as
amostras filtradas, o impacto de identificação cultural passa exclusivamente para o
grupo de alunos que se identifica com a cultura germânica/nórdica, sendo que para a
amostra com taxas de desconto anualizadas entre 0 e 50%, este impacto é negativo
com significância de 10% e para a amostra com βs iguais ou inferiores a 1 este passa
a ser positivo com significância de 5%. Podemos mais uma vez perceber a
instabilidade e incerteza de resultados, que nos indicam mais uma vez que, aqui, a
identificação cultural não é determinante principal da variável estudada.
Resta a análise das variáveis do modelo 1. Com a amostra inicial, as variáveis
estatisticamente significativas são “mulher”, com parâmetro negativo e nível de
confiança de 99%, “ecoadmfin” com parâmetro positivo e nível de confiança de 85%
e “educfinanceira” com parâmetro positivo e nível confiança de 95%. O impacto
negativo do gênero feminino é evidente em todas as amostras subsequentes e por isso
este efeito foi validado. Uma mulher, em média, apresentará β 0,11 unidades inferior
51
ao de um homem. Isso é substancial, mas suavizado nos modelos de validação (com
a amostra filtrada para valores aberrantes, o efeito é estimado em -0,03 e com a
amostra de respostas dentro do intervalo esperado em -0,07). Já a variável referente
ao pertencimento aos cursos de economia, administração e finanças não tem seu efeito
validado pelo crivo das amostras, deixando de ser considerada como fonte de maior
racionalidade. No caso da educação financeira, o efeito positivo se mantém também
para as amostras de β entre 0 e 1 com confiança de 95%, mas seu parâmetro, mesmo
conservando o sinal positivo esperado, deixa de ser estatisticamente significativo com
a amostra de taxas anualizadas inferiores à 50,1%. Nesta última amostra, ganha
relevância estatística a variável “pos”. Argumenta-se que, neste ponto, a seleção de
valores aberrantes falha, e não será desconsiderado o efeito significativo da variável.
Como foi dito anteriormente, o valor 50% foi escolhido de forma arbitrária, e sem
estudos mais aprofundados com exclusão de valores extremos fica precipitado
desconsiderar o efeito da auto percepção da educação financeira. Conclui-se, assim,
que ter perdurado a uma das triagens amostrais é razoável neste caso, e o fato da
pessoa ter preenchido “sim” à pergunta sobre ter tido cursos de educação financeira
adiciona 0,10 unidades à expectativa de seu β.
52
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta monografia buscou medir e explicar desvios de racionalidade em decisões
financeiras, preliminarmente os atribuindo a variáveis de grupo de aluno, região de
origem e identificação cultural. Mesmo constatado que relações desta natureza são
imprecisas para os dados coletados, o estudo se mostrou relevante na medida em que
foi possível identificar dois fatores que justificam um maior desvio de racionalidade:
pertencer ao gênero feminino e não ter a percepção de que já se aprendeu sobre
conceitos de educação financeira.
Uma mulher, em média, apresentará β 0,11 unidades inferior ao de um homem.
Em geral, na literatura, muitas vezes o gênero é evidenciado como fator que explica
resultados financeiros. Porém, dado o perfil da amostra aqui coletada, a relevância
estatística desta variável foi recebida com surpresa. Em se tratando de um grupo
específico de universitários do século XXI, não há, a princípio, discrepância de
funções, objetivos e expectativas atribuídas aos diferentes gêneros, e por isso é difícil
interpretar a disparidade de formações da racionalidade financeira. Podemos supor
que todo o avanço feito em relação à posição das mulheres na sociedade ainda não foi
absorvido ou não se mostrou suficiente, ou admitir como hipótese causas psicológicas
a serem investigadas. Sugere-se aprofundamento dos fatores que levam a este
corolário, porém estes não serão aqui discutidos.
Um indivíduo que respondeu “sim” à pergunta sobre ter tido cursos de educação
financeira, em média, terá β 0,10 unidades superior ao de alguém que respondeu a
mesma pergunta com um “não”. Essa indagação foi inserida no questionário como
forma de controlar a percepção dos alunos sobre seu nível de educação financeira,
porém temos como hipótese que o nível de conhecimento de instrumentos financeiros
dos alunos aqui entrevistados é sempre alto, principalmente relativo ao restante da
população que não é estudante de escolas de elite e não têm acesso à fronteira do
conhecimento. É interessante então verificar que a auto percepção sobre seu nível de
educação financeira determina suas preferências intertemporais.
Sem aprofundamento das causas que levam mulheres a ter comportamento
hiperbólico mais vigoroso, poucas são as sugestões de como aumentar a poupança de
um país atacando esta frente, afinal mulheres continuaram mulheres. Porém, ao
53
entendermos que a percepção de educação financeira também é fator determinante,
ganham prioridade os seguintes aspectos:
Garantir acesso à educação financeira. Aqui, assumimos que os
entrevistados todos tinham este privilégio, mas isso está longe de
representar uma verdade generalizada, especialmente no Brasil. Ter a
educação financeira é condição inicial para que se possa identificar como
alguém que é financeiramente educado.
Garantir que aqueles que tiveram a devida instrução a realizem.
Idealmente, seria desejado que a transmissão do conhecimento, desde a
matemática básica que é pré-requisito num vestibular, por exemplo, fosse
suficiente para gerar melhoras significativas, na medida em que uma
pessoa mais informada tomará melhores decisões sempre. Porém, é
estudado em psicologia comportamental a necessidade manter como
reforço de comportamento um reforço oral contínuo sempre que os
benefícios forem de longo prazo (Skinner, 1989). Por isso, fica como
sugestão que reforcem positiva, verbal e continuamente o comportamento
de poupança dos indivíduos.
54
ANEXO I – juros Brasil e Suíça
Fonte
http://www.worldgovernmentbonds.com/country-comparison/switzerland-vs-brazil/
62
ANEXO V – Composição de gênero por nível de estudo, % em relação à amostra
de alunos do Insper
1. Alunos Insper
2. Intercambistas Insper
3. Alunos St Gallen
4. Intercambistas St Gallen
48,91%
0,00%8,70%
40,22%
2,17% 0,00%
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO
3. DOUTORADO/PHD
homem
mulher
37,68%
17,39%
0,00%
21,74% 20,29%
2,90%
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO
3. DOUTORADO/PHD
homem
mulher
36,36%
9,09%13,64%
27,27%
13,64%
0,00%
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO 3. DOUTORADO/PHD
homem
mulher
36,54%
13,46%
32,69%
17,31%
1. GRADUAÇÃO 2. PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO
homem
mulher
63
ANEXO VI – tabela de regressões amostra base com estimadores de White
legend: b/p
N 235 235 235 235
0.0000 0.0000 0.0000 0.0000
_cons .783612 .78870246 .74537529 .75317482
0.7126
lesteeurop~a .03051856
0.4773
latinoeuro~a .03705977
0.4312
germanican~a .03273777
0.1295
asiatica .12983536
0.3005
Europa .03891648
0.9656
Asia .00418717
0.1203
AmNorte -.1318299
0.3146
interInsper -.06111572
0.3800
interStGal~n -.03878316
0.9368
StGallen .00369108
0.0293 0.0096 0.0072 0.0143
educfinanc~a .10633923 .11824334 .11869045 .10860304
0.8846 0.8113 0.7696 0.9281
iniciograd~o -.00632998 -.01049951 -.01275333 -.00394736
0.3233 0.3637 0.5619 0.4393
pós .03812969 .04151583 .0259847 .03486676
0.1472 0.1374 0.0533 0.0673
ecoadmfin .07190902 .06886313 .08910588 .08331035
0.6338 0.7864 0.8389 0.7715
idade -.00127537 -.00126704 -.00092904 -.00132943
0.0008 0.0010 0.0008 0.0014
mulher -.11274815 -.11148248 -.11187438 -.10817894
Variable r1 r2 r3 r4
. estimates table r1 r2 r3 r4, p stats(N)
64
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