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Edited by Thereza Christina Bahia Coelho
Coelho, Thereza Christina Bahia Do zero ao infinito. Feira de Santana, Universidade Estadual de Feira de Santana: 2014. 20 p.
1. Filosofia. 2. Ética. 3. Poesia. 4. Ciência I. Núcleo de Saúde Coletiva II. Departamento de Saúde. III. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. IV. Universidade Estadual de Feira de Santana
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MAIS OU MENOS
Foram anos de gestação e um parto muito rápido, que durou uma manhã. Depois vieram dois
anos de pequenos retoques até eu descobrir de onde viera o título, antes pretensamente
original. Falsas memórias são recorrentes embora não nos apercebamos. Trata-se de um texto
de Alain Badiou sobre ontologia. De similar, fora o título, apenas o recurso à matemática
elementar para pensar o complexo. Sem qualquer compromisso com os rigores acadêmicos
esse livreto busca integrar saberes no alcance de uma compreensão multirracional, intuitiva e
reflexiva do sentido da vida. Da minha vida, diga-se de passagem. Mas talvez interrogue algo
da sua.
Poderia ser um ditirambo, uma coleção de aforismos, mas trata-se de um ovo. Uma vez posto,
lá se vai ele ciscar em outros terreiros, assim espero, caso não esteja sendo excessivamente
pretensiosa.
Ocorre que, ao colocar meu ovo senti uma paz muito grande e queria compartilhá-la com
outras pessoas. Mas, talvez, essa paz não seja comunicável, nem faça qualquer sentido para
outrem as conexões e desconexões aqui postas. Quem sabe as angústias que habitam cada
UM?
Uma vez feitas essas considerações, dou início às operações de análise (estraçalhamento) e
síntese (mosaicos) em direção ao um lugar sem fim... Do preto, no branco, para o multicor...
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ZERO
A representação do Nada talvez seja um dos maiores desafios que a psique humana
tem encontrado desde que se tornou consciência autônoma. Em geral, imaginamos o
Nada como um fundo preto, uma superfície negra ou, simplesmente, a noite escura e
sem estrelas – ausência de luz.
Entretanto, mesmo quando estamos sozinhos, na completa escuridão, ainda somos
capazes de sentir alguma presença proveniente da sensação auditiva de um ruído, ou
tátil, do ar que se esbarra em seu movimento contra nossa pele, sempre à espreita.
Podemos sentir ainda a atividade interna do nosso corpo e mente, mesmo se formos
um astronauta do lado de fora de uma nave em órbita no planeta.
De maneira que, essa presença, esse algo, essa coisa que se opõe ao Nada, e ao
mesmo tempo o denuncia, se chama movimento. Não é à toa que os antigos definiam
o ser vivo como aquele que anda, se mexe. Vivo é aquele que é animado. Mas tudo,
na verdade, está em movimento. Mesmo o cadáver, a pedra, se mexe, lentamente. E o
que se move a si mesmo é a alma: anima. A imobilidade pertence ao nada. O que é,
emerge, contra essa ausência. Daí que o Nada, embora pareça ser anterior ao Algo,
termine sempre submetido à lógica deste UM (algo) que lhe sucede.
Falar no Nada como um fundo, uma parede, uma superfície negra, ou espaço negro e
vazio de matéria ainda é insuficiente. Porque uma superfície ou um espaço vazio ainda
são algo, são anteparo e continente. O Nada, nem isso é. O Nada não é.
Ora, isto já tem sido muito dito. Grandes filósofos se debruçaram sobre essa questão:
o que é o Nada? De Parmênides a Sartre.
“É necessário dizer e pensar que o ser seja, pois o ser é, e o nada não é”.
Esse texto não pretende construir uma história do pensamento ocidental sobre o
Nada, nem ousar uma ontologia, mas apenas definir uma posição, de simples pessoa
com direito ao pensamento especulativo, em relação a algo deste pensamento
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coletivo encadeado em diálogos intergeracionais. Porque esse texto é uma expressão
do meu (mas nosso, deles, de todo mundo) pensamento que, em algum momento de
luta e obscuridade, procurou apoio, tentou, no desespero de cada dúvida, se iluminar
e pongar no rastro destes cometas humanos, os sábios.
Mas, a dificuldade permaneceu e permanece, seja nas aproximações com a psicologia,
a fisiologia, a física ou a filosofia. Talvez, seja uma dificuldade condenada à eternidade,
mas sinto que pensar o Nada, de alguma forma, torna-se cada vez mais, menos, e
menos, hostil. Tomemos uma narrativa:
“No início, era só lama e insetos”.
Com esta frase, um grupo de Agentes Comunitárias de Saúde descreveu o surgimento
da comunidade onde trabalhava e morava. Tratava-se de uma vila operária nascida no
meio do pântano. Essa descrição que logo nos remete à Bíblia – No início era o verbo –
me intrigou sobremaneira. Foram três situações representadas na proximidade de um
tempo curto.
A primeira veio em uma conversa (onde ouvi a história do nascimento de uma
comunidade), a segunda, por meio de um documentário televisivo, e a terceira e
derradeira, em um filme. A narrativa do senso comum mostrando que do nada algo se
fez. Algo que o homem fez. A narrativa bíblica contando a criação de Deus. E a
narrativa científica descrevendo o big bang como evento de extrema violência
geradora do tempo e da luz, do processo frio-quente-frio, contração-expansão,
instabilidade extrema de partículas-energia e aquisição progressiva de estabilidade
com surgimento da matéria.
Então, estava eu lá, na minha condição passiva de ouvinte buscante da luz, quando o
físico nos convidou, tele-espectadores, a pensar sobre o Nada, o que era anterior à
explosão cósmica como evento gerador do universo, a pensar sobre a sopa energética
(tela) que se antepõe entre a explosão e o lançamento dos fragmentos que irão
constituir nossa abóbada celeste e Tudo o mais.
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O convite lançado era ainda mais tentador, pois se fazia contra a premissa número um
da filosofia que até hoje nunca se pôs por terra e se enuncia: nada vem do nada. O
criacionismo foi uma das hipóteses mais combativas e combatentes, pois para fazer
surgir Algo do Nada, e aí já temos dois elementos, algo e nada, se necessitaria de uma
força adicional, terceira, centelha que fosse, e de preferência, divina.
Hoje a intervenção divina é, outra vez, recrutada para explicar a coesão do Algo
(Bóson), agora na forma de uma cola (beijo) de partículas, se bem entendo esta
complexidade. Algo que se insinua, exatamente, da violência que produz arremesso e
choque, fusão, estabilidade.
Mas...
Como da violência pode vir a estabilidade? Este pensamento é quase enlouquecedor.
Daí que, a questão do surgimento da coisa, vinda do nada, foi considerada até pouco
tempo como ABSURDO. Sendo a redução ao absurdo uma das formas de
argumentação lógica contrária à dada tese. AB surdo pode muito bem significar que
ficarei surda à sua argumentação porque ela não me diz nada. Mas não é absurdo
pensar que havia, não o nada, mas uma coisa tão pequena quanto poderosa que se
expandiu-explodiu em energia, e que a união (beijo) de partículas de energia fez surgir
a matéria. O que me parece significar que o algo sempre existiu, apenas era um algo
de um jeito que ficou de outro jeito. Criada a matéria, e com ela, o movimento, fez-se,
aí, o tempo. O presente (uma vez criado o tempo), deixando-se a tese do absurdo de
lado, trouxe Tudo com ele. Trouxe tudo a partir da unidade (união).
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UM
Aqui estamos UM(A). Quando meus então colegas da psicanálise tratavam da lógica
onírica, que é tributária da lógica inconsciente, onde a fusão e a ambiguidade
predominam, tratava-se então esta “realidade” como estética ou ética, nada de
ciência, nada de real. Explico: cada representação mental em um sonho (imagem,
pensamento ou sensação) podia “ser” ou “não ser” algo. Ser algo e ser outro algo,
simultaneamente. Pois, essa polissemia própria da linguagem também faz parte da
lógica inconsciente, contrária à lógica da realidade, dicotômica, que diz que uma coisa
é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Então, quando a psicanálise já havia aberto mão de ser ciência, para ser prática técnica
inserida no âmbito da ética, havia dificuldade nossa em legitimar esse conhecimento,
tão experimentado, tão certo e tão tranquilo para aquele que trabalha e pensa o
funcionamento mental. Havia uma barreira, alguns diriam, positivista, outros
chamariam apenas de ignorância. Havia e ainda há. Mas, eis que, a instabilidade do ser
e não ser bate à porta da física, a mais científica das ciências, que agora, inclusive, não
apenas produz constructos teóricos, mas experimentos sofisticadíssimos como uma
câmara fotográfica de 5 andares, ou algo do gênero. Ideias novas se arvoram, de forma
que a velocidade da luz não é mais o limite e o limite se estica e se contorce abrindo
um espaço de possibilidade para nós, poetas, e estudiosos da vida.
Talvez, talvez, agora, nos seja permitido falar sobre os mistérios multisondáveis da
existência. Abriu-se uma pequena janela.
Ora, de que maneira? No Um está contido o Zero e o Múltiplo. Primeiro, vimos como o
Um surge do Nada. Se é que surge. Se é que não sempre esteve aí. Heidegger adoraria
falar disso.
Mas o fato é que no UM já se encontram embutidos todos os outros uns, que serão
dois (um + um), três (um + um + um), and so one. E não é engraçado que a língua
inglesa utilize esta expressão and so one, que literalmente traduziríamos por “e, então,
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um”, para dizermos “e por aí lá vai”? Expressão de continuidade, caminho para o
infinito. Pois bem! Olhemos para o ponto a seguir:
É um ponto grande. Se comparado a um ponto parágrafo. Mas esse ponto nada mais é
do que um milhão de pontos (falo um milhão para tratar de um número incerto,
poderia ser também um zilhão). Logo, um, dois, três ou zilhões, é TUDO A MESMA
COISA.
Existe uma cratera aberta para o mundo. Um ponto quadrado, insiste minha
representação modelar que pensa as janelas, obrigatoriamente, com ângulos retos.
Dela, da janela, tantas luzes, sons, cheiros e perigos. Ou um ponto oval. Uma cratera
paulista que suga carros e pessoas. Pode ser uma cave cheia de vinhos. Ou uma
caverna, que é ainda nosso abrigo mais secreto contra a guerra e a ignorância.
Nela pintamos a caça, o rito. A partir dela construímos o mito do saber essencial, eidos
(εηδορ), forma além da física.
E AGORA PEÇO... humildemente, sem caixa alta. Peço licença para um fato pessoal. O
fato pessoal, mais do que uma ilustração é um pedido de re-conhecimento. Existe para
resgatar a atenção do OUTRO. Como eu disse antes, se olho pela janela, da janela, ou
da rua, não importa, me olham.
Sem a janela do alter olhar só existem sombras e sussurros. Ou talvez não exista
mesmo Nada. Ou nem o Nada exista. Eita expressão complicadinha, essa, do nosso
amado português. Eu olho e vejo o que o outro talvez veja. Talvez é uma expressão de
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possibilidade que a lógica não reconhece. Para a lógica existe o “e”, conectivo (adição)
e o “ou”, que é exclusivo. Mas, o que é exclusivo pode ser alternativo. Não é esquisito
isso da lógica? Mas tem sua razão de ser essa exclusão das possibilidades, das
probabilidades. O que interessa é que sou muito, senão Tudo, por meio dessa imagem
contida no olhar de quem me olha.
Dessa forma, o fato despertador se insere na adolescência alegre dos carnavais de rua,
quando, na embriaguez exógena dos sentidos, quando o Afoxé Filhos de Gandhi
invadia o bloco Eva quebrando com a separação das classes, das raças, dos ritmos, de
forma surpreendentemente pacífica, em um daqueles momentos, o pensamento-
revelação leve, risonho, feliz se fez no meu pensamento com esta frase: é tudo a
mesma coisa.
Daí por diante, muitas vezes pensei aquela frase. Sempre com aquele tom profético
das experiências apofânicas ou dos êxtases religiosos. E depois, em sã consciência, e
sob o exercício sóbrio da racionalidade continuei a suspeitar (para não dizer, acreditar)
que tudo é, de fato, a mesma coisa. E que irei, quando morrer, me integrar
(desintegrar) ao mundo da energia ou, de maneira mais antiga, à natureza. Serei mil
fragmentos, e serei PARTE do UM.
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DOIS
Mas isso demora ainda, eu espero, pelo menos o tempo de você me ler. Por isso,
chego de novo na borda da janela. Não se trata mais de uma janela. Contemplo aquele
círculo negro anterior e descubro que o seu interior é oco. É um túnel. Penetro nesse
túnel e escorrego como em um filme de ação-ficção. Escorro em curvas e retas,
completamente ignorante para onde vou. E seu interior, seu percurso e seu final, é
vida. A imagem final deste ponto, que eu quero manter é esta: a incerteza. A
vulnerabilidade, a precariedade, a fugacidade, o medo.
Dizem os fisiologistas, que o medo é uma proteção. Sem estas reações naturais do
organismo, do medo e da dor, estaríamos perigosamente expostos à violência do
mundo e não teríamos parâmetros para medir o bem e o mal. O que nos mata e nos
deixa vivos por mais um tempo. O medo, portanto, é aliado da vida. Mas, pode matar
também. Como a violência do big bang, que cria e descria, matéria e antimatéria, tudo
e nada, o medo gera sua própria e inesgotável violência, sob “n” justificativas. Então,
eu sou obrigada a com-viver com o medo, esse outro especular que faz caretas e lança
dardos, o tempo todo da minha breve existência. Não quero te olhar, capeta! Foge de
mim! Prefiro a morte precoce a você, sondando e prevenindo: olha a violência do
mundo. Ela vem. Cedo ou tarde.
Mas, como médica, eu sei que enquanto se está vivo sempre se dá um jeito, tem-se
uma saída, uma escapada desse (ou nesse) tobogã. Posso usar a escada. Para que me
atirar e me afogar na adrenalina? Deixa isso para os afoitos e temerários (os que não
temem). Não. Nada de coração palpitante. Nada de taquicardia sem controle. Quero
uma rota de fuga para o silêncio. Quantos momentos tranquilos, ilusões de perenidade
infinita e segura somos capazes de criar? Esse e outros pensamentos são como abrigo.
Abrigos mentais nos auxiliam contra o frio da tristeza, da separação sem volta, da dor
inútil que não cessamos de invocar em pensamentos antecipatórios, ou recordatórios.
Nos abriguemos, então, nesses doces cobertores mentais. Eu na minha rede, tecido
amigo a me envolver. Você nos braços da amada. Nós, no escurinho do cinema
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contemplando um céu de estrelas plácidas e benevolentes. Quantas memórias e
sorrisos a montar guarda em nosso castelo vital.
Desde Platão, o dois, que era um, e virou três, é aquilo que faz VALER A PENA. E o valor
sou eu, e eu sou os Outros que me fizeram ser assim, quem sou. Sou eu a medida e a
pena, o peso que marca com a palavra SIM. O número dois quer dizer SIM, com três
letras. Conectivo do desejo. Eu quero! Vos quero, amores da minha vida.
De novo, navegamos na ambiguidade. O dois surge da divisão do um. Ou da sua
multiplicação.
O dois te pega em aconchego e te larga em uma encruzilhada. Você pra lá, ele para cá.
O DOIS é o número perfeito dos seres imperfeitos.
Dói-S.
Dói ser sem.
Dói estar sem.
Você.
Outro Eu.
Existe na nossa socialidade milenar uma coisa bacana. A gente senta, fuma um
cachimbo e sorri. Isso é um convite.
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... TRÊS
As reticências são uma mensagem de pudor. É uma expressão do limite e do ilimitado.
É nosso limite no nomear, enumerar, ou explicar. Três pontos fazem uma fila indiana.
Indicam a possibilidade de mais pontos. Multiplicação. Sugerem também um caminho.
E muita conversa. Conversa animada entre amigos, colegas, filhos e irmãos. Pessoas do
N OSSO universo. Para um cão, o universo pode ser um osso. Para um humano, a casa
é o continente, o chão.
O SS O
Colocando-se dois sujeitos plenos (não barrados) entre dois zeros nós obtemos uma
imagem de completude e, ao mesmo tempo, como tudo nesse discurso, de
descontinuidade. Porque? Os dois sujeitos remetem à cópula (S e S). Entre o sujeito e o
zero está o vazio, pois o zero de que falo é representação. Os espaços separam os
sujeitos unidos do ZERO QUE NÃO OS CONTÉM. São outros zeros. Não possuem
significado. Tudo que possui significado, na perspectiva da psicanálise lacaniana que
por sua vez bebe na semiologia, barra o sujeito no sentido de limitar a plena
significação das coisas, porque a linguagem possui um limite e o inconsciente é
instituído como linguagem e o sujeito também.
O terceiro é uma barra. Um corte entre eu e tu.
(Ou seria uma ponte?)
Logo, ser sujeito, ser falante ou objeto de quem se fala algo, se afirma ou nega, implica
se inscrever em um universo imperfeito que se exprime por um “S” cortado por UM
traço inclinado - S. Ser sujeito barrado significa, para quem acredita nessa história, ser
sujeito de linguagem e a ela estar sujeito. Ser cortado por duas barras verticais é outra
coisa. É barra pesada . É ser escravo.
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Voltando ao osso e à subversão.
Os zeros... óo... podem muito bem formar dois olhos a perscrutar e interrogar por
significantes seriais para uso em momentos precisos: zero-um-zero/SOS. Sujeito-
objeto-sujeito. Com essa tríade, chegamos para além do humano. Pois, com três
dimensões e quatro níveis de empilhamento obtemos uma pirâmide que nos
maravilha e horroriza (o massacre do topo sobre as bases).
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QUATRO...
O quatro é dois, duas vezes. O dois no espelho. Ou UM quatro vezes. O quatro é o
pilar da perfeição. Se tomarmos a representação de uma pirâmide invertida e
colocarmos, no alto, quatro pontos, e depois três, e depois dois, e depois UM, teremos
o número dez, o número da perfeição (ou, um símbolo do feminino... ahh... é tudo a
mesma coisa). Pitágoras fez isso. Ele amava os números. Eu nasci no dia 10 de dez-
embro, de 1959 (1 + 9 = 10; 5 + 9 = 10 + 4), mas continuo imperfeita. Não tem
cabalística certa. Talvez, por isso, ao começar a estudar os filósofos modernos eu
tenha me impulsionado cada vez mais para trás, para a origem do pensamento,
buscando entender o presente pelo conhecimento do passado, e fui indo até chegar na
civilização minóica pretensamente destruída pelo tsunami provocado pela erupção de
Thera. Quanto Thera implodiu, levou consigo uma época, um mundo. Criou um zero
em seu interior. Criou múltiplas ilhas, belas, solitárias. E aqui, novo pedido de
desculpas, pois minha atividade vulcânica metal foi despertada por Olavo Bilac.
Quando Ismália (Island) enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu uma lua no mar
Eu tinha 9 anos quando li esse poema e tive pesadelos com ele. Um trem ia passando e
de repente fazia um desvio de 90 graus e me pegava. Minha alma subia até perto do
céu, e de lá despencava... Eu estudava em Salvador e morava na fazenda em Dias
D’Ávila. Almoçava às 11 horas e jantava depois das 9:00 da noite. Sem TV, ia logo para
a cama. Meu sono era cheio de pesadelos, por má digestão, vermes ou culpas
recalcadas que cobravam expiação (instigada por outros meninos, havia colocado
pedras em um trilho de trem, que não descarrilara, ainda bem). Mas, um dia,
chegando na fazenda, meu pai desligou o Jipe, aumentou o rádio e pudemos ouvir “e o
homem acaba de pousar na lua”. Olhamos para o céu hiperestrelado e ficamos
parados, imaginando o imaginável, procurando a lua. Ainda éramos cinco.
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... IN-FINITO...
De um núcleo familiar de cinco, dois se foram, e nove chegaram, resultantes da união
de três com mais três, para compor uma rede de consangüinidade e afetos que se
estende, captura, esgarça, e vai... mar vivo, adentro e afora. São 12 organismos
pulsantes (fora os três doadores de DNA e afetos) que caminham para o infinito do ser.
Ora, entre dois pontos existe, mesmo, o infinito. Várias aporias tratam disso (a da
flecha, a da tartaruga). Entre 12 pontos, mais infinito não se pode dizer. Pois um
infinito não pode ser maior que outro infinito.
O infinito pode ser tomado enquanto totalidade. O artigo que o qualifica,
quantitativamente, é singular. A palavra portuguesa para descrever esta realidade
impalpável tem duas partes. A parte central, o finito, o que tem fim alcançável e
conhecido, e o prefixo “in”, que pode significar privação, negação ou movimento para
dentro.
Claro que, no caso aqui em estudo, trata-se de uma negação. A negativa do que tem
fim. Mas também pode ser privação. O infinito como falta de um guarda que estenda a
mão e diga: pare. Pare tudo! A ausência de terminação, a ação de distanciamento
rumo ao caos, ao acaso, ao aleatório, ao in-de-terminado é privação de ordem. A
liberdade é privação de ordem. Ein?
E, se o in do fim fosse movimento para dentro, o infinito encolheria até chegar perto
do nada, dele nunca se acercando, realmente. O movimento para dentro pode gerar
um colapso. Enquanto pequenos lapsos de tempo se acumulam na eternidade. É pra lá
que eu vou.
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O que é Arte? Filosofia? Ciência? Ética?
De que sujeito-objeto falamos? Eu, você, nós ou eles?
Para onde quero ir com toda essa conversa, pedido, convite?
Você está interessado em ir viajar comigo, com a gente, sozinho?
Você está aí.
Eu estou aqui.
Nós lá, Eles acolá.
Ainda existimos. Que bom!
Que nossa vida seja boa e plena de interrogações e constatações.
Nota: O que foi aquilo lá em cima da página? Uma mensagem de paz? Ou um
cogumelo atômico. Uma superexplosão. A transformação do um, em nenhum. O
aniquilamento que devemos manter perto da memória o suficiente para não ser
experiência perdida, nem reativada.
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Brincadeirinha. Era uma flor selvagem de Salvador com perguntas no topo e felicidade
na raiz. Felizes são as árvores dos campus que podem contemplar anos a fio a
construção tranqüila e protegida do conhecimento sem se afetar por sua violência
oblíqua.
objetivo central desta numerologia fraseada é questionar, colocar sob
interrogação, inquérito, a separação artificial dos saberes e modos de pensar.
A finalidade deste trabalho é também colocar em xeque, ou em parênteses, a
normatividade cansativa dos domínios (campos) estabelecidos e dos valores com os
quais nos chicoteiam sem cessar.
Ex-iste uma equação. Foi. Será. Está indo divagar. É circular.
A explosão de todos nossos irmãos, o corte abrupto da vida, o traço entre palavras que
não mais serão ditas. A equação nos toma e exige soluções difíceis. Muito difíceis.
Exige coragem. Muita coragem. Um punhado de força interna e externa para o
lançamento inaugural e monumental. Quando daremos este passo (não o primeiro,
nem último, só o necessário) em direção a nossas raízes, à nossa verdadeira e de-
finitiva vocação?
A filosofia é tudo.
A ciência, solução? Sim e não.
A ética, meio prudência, meio justiça.
A estética é gozo em (dis)curso e ação.
Eu lancei um convite. Ou era um Pedido de Socorro (me salve de mim) em um drama
desenvolvido em quatro atos e oito tons com infinitas modulações: Dó, Ré, Mí, Fá, Sei,
Lá, Se, Dó
O
A beleza fugaz que invadiu um dia os meus olhos, que história conta? Pedaços de vida bem (ou mal) vivida que se restam em rastros de cor... Cada imagem em texto, fotografia ou pintura fala: o azul daqueles olhos disse TUDO.
A casa esmaecida e bruxelante, eu pintei em um dia possivelmente triste. A água
refletindo as construções bucólicas é caldo social que atravessa folhas e nuvens em
espaços inominados. Um quadro pintado em um exílio voluntário dá luz a desejos de
simplicidade: minha casa sou eu. Vértice vermelho, sangue que toca o céu, gota a gota,
suor a suor. Acumulam-se dizeres, profecias e indignações naquele telhado. Não
compreendo. Os números não batem. As contas não fecham. A dúvida é a única
violência necessária. Estimativas sem estima de nada valem. Simbologia vazia.
O quantum só tem sentido no amor. Quando se diz assim: te amo tanto.
Tanto, que corrói. Corre aqui. Já!
Encoste UMA mão, na OUTRA mão.
Pegue a água dessa fonte,
e traga um pouco pra mim.
Merci, ma mère (mer)...
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE SAÚDE
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Núcleo de Saúde Coletiva (NUSC)