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Análise do projeto VerdeSinos sob a ótica dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) Sylvio Antonio Kappes 1 Tiago Wickstrom Alves 2 Resumo Os serviços ambientais gerados pelo meio ambiente são externalidades positivas que, em geral, não são internalizadas através das forças de mercado devido ao caráter de bem público destes serviços. Os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) são instrumentos de incentivos econômicos utilizados para efetuar tal processo. Para que um PSA seja constituído, é necessário o atendimento de alguns requisitos, como a definição de um serviço ambiental a ser negociado entre compradores e vendedores de tal serviço, a escolha da forma de pagamento pela entrega dos mesmos, o modo pelo qual os serviços serão entregues, o monitoramento dos resultados, entre outros. O objetivo deste trabalho é verificar se o projeto VerdeSinos pode ser considerado um PSA, através do atendimento ou não dos postulados teóricos. Para atingir tal desígnio, foi elaborado um questionário aberto, aplicado à coordenação do projeto. Conclui-se que o VerdeSinos, apesar de apresentar diversas características de um PSA, não pode ser considerado como tal, ao menos não como um plenamente estabelecido. Isso porque falta ao projeto o ponto central dos PSA, que é a base mercadológica. Palavras-Chave: Externalidades positivas. Pagamentos por serviços ambientais. Projeto VerdeSinos. Abstract The environmental services generated by the nature are positive externalities that, in general, are not internalized by the market forces because they have a public good characteristic. The Payments for Environmental Services (PES) are instruments of economic incentives utilized to effectuate such a process. To a PES being constituted, is necessary the attendance of some requisites, such the definition of the environmental service to be negotiated, the choice of the form of payment, how the services will be delivered, the monitoring of the results, and so on. The objective of this paper is verify if the VerdeSinos project can be considered a PES, through the attendance or not of the theoric postulates. To meet such desiderate, an open questionnaire were elaborated and applied to the heads of the project. It’s concluded that the VerdeSinos, despite presenting a lot of PES characteristics, cannot be considerate such one, at least not as one fully established. This is so because the project lack the central point of PES: the marketing basis. Keywords: Positive externalities. Payments for Environmental Services. VerdeSinos Project. Área 4: Economia Agrária e Ambiental. JEL: D62, Q 25, Q57. 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGE- UFRGS), com ênfase em Economia do Desenvolvimento. E-mail: [email protected] 2 Professor Titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). E-mail: [email protected]

Análise do projeto VerdeSinos sob a ótica dos Pagamentos por Serviços Ambientais

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Análise do projeto VerdeSinos sob a ótica dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA)

Sylvio Antonio Kappes 1

Tiago Wickstrom Alves 2

Resumo

Os serviços ambientais gerados pelo meio ambiente são externalidades positivas que, em geral, não

são internalizadas através das forças de mercado devido ao caráter de bem público destes serviços.

Os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) são instrumentos de incentivos econômicos

utilizados para efetuar tal processo. Para que um PSA seja constituído, é necessário o atendimento

de alguns requisitos, como a definição de um serviço ambiental a ser negociado entre compradores

e vendedores de tal serviço, a escolha da forma de pagamento pela entrega dos mesmos, o modo

pelo qual os serviços serão entregues, o monitoramento dos resultados, entre outros. O objetivo

deste trabalho é verificar se o projeto VerdeSinos pode ser considerado um PSA, através do

atendimento ou não dos postulados teóricos. Para atingir tal desígnio, foi elaborado um questionário

aberto, aplicado à coordenação do projeto. Conclui-se que o VerdeSinos, apesar de apresentar

diversas características de um PSA, não pode ser considerado como tal, ao menos não como um

plenamente estabelecido. Isso porque falta ao projeto o ponto central dos PSA, que é a base

mercadológica.

Palavras-Chave: Externalidades positivas. Pagamentos por serviços ambientais. Projeto

VerdeSinos.

Abstract

The environmental services generated by the nature are positive externalities that, in general, are not

internalized by the market forces because they have a public good characteristic. The Payments for

Environmental Services (PES) are instruments of economic incentives utilized to effectuate such a

process. To a PES being constituted, is necessary the attendance of some requisites, such the

definition of the environmental service to be negotiated, the choice of the form of payment, how the

services will be delivered, the monitoring of the results, and so on. The objective of this paper is

verify if the VerdeSinos project can be considered a PES, through the attendance or not of the

theoric postulates. To meet such desiderate, an open questionnaire were elaborated and applied to

the heads of the project. It’s concluded that the VerdeSinos, despite presenting a lot of PES

characteristics, cannot be considerate such one, at least not as one fully established. This is so

because the project lack the central point of PES: the marketing basis.

Keywords: Positive externalities. Payments for Environmental Services. VerdeSinos Project.

Área 4: Economia Agrária e Ambiental.

JEL: D62, Q 25, Q57.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGE-

UFRGS), com ênfase em Economia do Desenvolvimento. E-mail: [email protected] 2 Professor Titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). E-mail: [email protected]

1 Introdução

A degradação ambiental, resultante da ação humana, deve-se, em primeiro lugar, à característica de

bem público dos biomas. A teoria econômica classifica um bem como público se este possuir duas

características fundamentais: a não-rivalidade e a não-excludência. A primeira delas refere-se ao

caso em que o consumo de um bem não reduz sua disponibilidade para outros consumidores; a

segunda, por sua vez, ocorre quando não se tem a capacidade de impedir que um indivíduo qualquer

usufrua de um bem (VARIAN, 2003; FISHER et al. 2009). Vatn (2010) argumenta que a junção de

não-rivalidade e não-excludência gera uma dificuldade em especificar os direitos de propriedade de

um bem que possua ambas as características.

Em consequência, a natureza acaba sendo alvo de externalidades, que são os impactos das decisões

de um agente no bem-estar de outro, que não toma parte da ação (MANKIW, 2005). Dessa forma,

há uma discrepância entre o equilibrio de preço e quantidade que reflete os custos e benefícios

privados com o equilibrio em termos sociais (STIGLITZ, 1997). As externalidades são classificadas

como negativas caso os custos privados da produção de um bem qualquer sejam menores que os

custos sociais desta mesma produção, acarretando, assim, em uma quantidade acima do ótimo

social. Uma externalidade é positiva caso os benefícios privados sejam menores que os sociais, o

que resulta em uma produção abaixo do ótimo social (PINDYCK; RUBINFELD, 2010).

Um exemplo de bem público sofrendo externalidades é a atmosfera. Seguindo a argumentação de

Vatn (2010), ela é um bem público, pois não há um agente que tenha direitos de propriedade sobre

ela. Assim, se uma refinaria de petróleo poluir o ar, causando um prejuízo a todos os seres vivos,

então, os custos de sua produção irão além dos custos privados da fábrica. Se a atmosfera fosse um

bem privado, esse problema seria de simples solução, uma vez que o seu proprietário poderia mover

ações judiciais contra a refinaria, por exemplo.

Ainda neste exemplo, fica evidente que a dificuldade está em fazer a empresa poluente arcar com os

custos decorrentes da poluição, ou seja, fazê-la “internalizar” os custos que ela socializou. Uma

solução para esse problema foi dada por Pigou (1932), que propôs uma ação estatal via impostos e

subsídios, levando os preços dos produtos ao nível que garanta o ótimo social. Outra solução é a de

Coase (1960). Segundo este autor, a livre negociação entre os agentes faz surgirem respostas

eficientes aos problemas. Seguindo o exemplo da refinaria, a empresa pagaria às pessoas afetadas

pelo direito de poluir o ar, compensando-as pelas perdas que sofressem.

Neste sentido, os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) buscam na contribuição de Coase

(1960) a sua fundamentação teórica. Como os agentes computam somente seus custos privados ao

tomarem suas decisões, é necessário que haja uma negociação para garantir que a externalidade

negativa deixe de ser gerada. Contudo, os PSAs são focados nas externalidades positivas, como, por

exemplo, o caso de um apicultor cujas abelhas polinizam as macieiras de seu vizinho. Nesse caso, a

atividade de um agente foi benéfica a outro e, para que ela continue ocorrendo, seria necessário que

o apicultor fosse compensado pelo benefício que gerou (PAGIOLA et al, 2005). Tal benefício é um

Serviço Ambiental, que, neste exemplo, é a polinização feita pelas abelhas. Neste trabalho, será

utilizado o conceito de Serviço Ambiental de Muradian et al. (2010), para os quais um Serviço

Ambiental é uma externalidade positiva gerada tanto pelos ecossistemas em sua forma preservada

quanto por locais modificados pelo homem, como sistemas agroflorestais.

Em termos mais específicos, um PSA é

uma transação voluntária, onde um serviço ambiental bem definido é comprado por

(pelo menos) um comprador de serviço ambiental de (pelo menos) um vendedor de

serviço ambiental se, e apenas se, o vendedor de fato entregar o serviço

(WUNDER, 2005, p. 9).

Na Bacia do Rio dos Sinos, há um projeto ambiental que, em uma primeira análise, cumpre alguns

requisitos para ser considerado um PSA, mas, no entanto, não se autodeclara como tal. É o projeto

VerdeSinos, organizado pelo Comitesinos, em parceria com o Ministério Público. Seu objetivo é

restaurar a mata ciliar da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, com o intento de melhorar a

qualidade de suas águas. Para isso, são doados aos participantes do projeto o material necessário à

recuperação da vegetação nativa, como mourões, arame e mudas de árvores. Os recursos

necessários a tais doações são obtidos com as empresas e entidades parceiras do projeto, e

distribuídos pelo Comitesinos.

Assim, o projeto VerdeSinos possui objetivos que estão vinculados ao pagamento por serviços

ambientais. Desta forma, surge o questionamento: estaria ele cumprindo as condições, apontadas

pela literatura, para ser classificado como um PSA? Responder a esta questão é o objetivo deste

trabalho. Para tanto, foi realizada uma análise documental de publicações do Comitesinos, bem

como uma entrevista presencial feita com Viviane Nabinger, secretária executiva do Comitesinos,

entrevista essa elaborada conforme um roteiro de pesquisa.

O trabalho está dividido da forma como segue: a segunda seção apresenta os elementos

constituintes de um PSA, trazendo informações que servirão de base ao estudo de caso. a terceira

seção aborda o histórico e funcionamento atual do Projeto VerdeSinos. A quarta seção analisa o

VerdeSinos à luz das teorias apresentadas no capítulo 2. A quinta e última seção faz as

considerações finais.

2 PSA – Elementos constituintes, classificações e fatores institucionais

A definição de Wunder (2005) apresentada anteriormente merece uma análise mais acurada. O

primeiro item dessa definição revela um conceito fundamental: o fato de a transação ser voluntária.

Isso diferencia o PSA de outros instrumentos econômicos de proteção ao meio ambiente, como as

multas, por exemplo, que têm caráter impositivo. O segundo item evidencia que o Pagamento

obrigatoriamente se relaciona a um serviço ambiental específico, ou seja, a algum fluxo de

externalidades positivas bem definidas; assim, o PSA não pode ter como objetivo a simples

restauração da mata nativa de uma região, mas, sim, algum benefício que esta gere, como a

absorção de carbono ou a redução do assoreamento dos rios. O terceiro e o quarto itens da definição

estabelecem a base mercadológica do pagamento por serviços ambientais, até então ausente; ou

seja, estabelece a necessidade da existência de compradores e vendedores. No caso de PSAs

relacionados à água, os compradores dos serviços são agentes que se beneficiam com a melhora de

algum atributo desta, como, por exemplo, companhias hidroelétricas e de abastecimento de água; os

vendedores são proprietários de terras cujo uso do solo gera as externalidades positivas que, em

última instância, melhoram os atributos da água. O último item da definição traz a condicionalidade

do pagamento, ou seja, o pagamento só ocorre se os serviços forem realmente entregues. Tal

condicionalidade é relevante no contexto dos PSA, uma vez que muitos vendedores de serviços

ambientais se encontram em áreas remotas, tornando difícil o monitoramento de suas atividades

(BRACER et al., 2007).

A definição de Wunder (2005), embora traga os principais elementos constituintes de um esquema3

de PSA, não aborda algumas questões importantes que surgem na montagem de um mercado desse

3 Conforme argumentam Martin-Ortega, Ojea e Roux (2013), não há um consenso na literatura entre o uso dos termos

esquema, programa ou projeto de PSA. Segundo estes autores, os termos são, em geral, utilizados indiscriminadamente.

Neste trabalho, os conceitos serão tratados como sinônimos, no intuito de deixar a leitura mais fluída.

tipo. Segundo Vatn (2010), a existência de custos de transação elevados faz com que a consecução

de acordos entre compradores e vendedores seja inviável, criando a necessidade de intermediários

nas negociações, que seriam responsáveis por organizar o ambiente de negócios. Em geral, esse

papel é desempenhado por agências governamentais, ONGs e universidades (LANDELL-MILLS;

PORRAS, 2002).

Powell, White e Landell-Mills (2002) elaboraram uma classificação de PSAs que leva em

consideração a atuação de intermediários. Para estes autores, os esquemas podem existir em três

formas básicas. A primeira seria a de Acordos Privados Auto-organizados, que são os casos em que

compradores e vendedores chegam a um acordo sem a intervenção de uma terceira parte. A segunda

forma é a dos Esquemas de Negociação Aberta, nos quais há uma terceira parte que organiza o

mercado de serviço ambiental. Por fim, existem os Pagamentos Públicos, nos quais o comprador do

serviço é o governo.

Para que as negociações corram bem, é necessário, como já foi dito, que o Serviço Ambiental

transacionado esteja bem definido. Em se tratando de esquemas de PSA relacionados à água,

existem quatro serviços comumente utilizados. O primeiro deles é a regulação do ciclo hídrico, que

é a manutenção de um fluxo constante de água no período das secas e a prevenção de enchentes no

período das chuvas. O segundo serviço é o da qualidade da água, obtido através do controle da

erosão do solo e dos assoreamentos, além do controle da salinidade e acidez da água. O terceiro

serviço é o da regulação dos níveis dos lençóis freáticos. Por fim, tem-se a manutenção dos habitats

aquáticos, permitindo a reprodução adequada dos cardumes. (PAGIOLA, 2005; BRACER et al.,

2007; POWELL; WHITE; LANDELL-MILLS, 2002).

Um dos problemas relacionados aos PSAs de água é a falta de conhecimentos científicos sobre

quais ações podem gerar os Serviços Ambientais desejados. Por exemplo, acredita-se que a

presença de florestas às margens de um rio garanta que a erosão será baixa. Entretanto, estudos

apontam que a presença ou não da mata é um fator de menor importância, e que as variáveis-chave

são a composição do solo, sua inclinação e a força das chuvas. (LANDELL-MILLS; PORRAS,

2002). Da mesma forma, a regulação do fluxo hídrico depende de fatores específicos de cada

localidade e não apenas da presença ou não de cobertura florestal. Entre esses fatores estão a idade

da floresta, a altitude em que ela se encontra e a composição do solo (BISHOP; LANDELL-

MILLS, 2005; BRACER et al., 2007; LANDELL-MILLS; PORRAS, 2002). Pagiola (2005)

argumenta que os estudos da relação floresta-água devem ser feitos em cada localidade, pois é

difícil fazer generalizações, uma vez que os fatores mais influentes são específicos de cada local.

Ainda na questão organizacional, existem fatores institucionais que afetam o desempenho ambiental

de um PSA, identificados por Escobar, Hollaender e Weffer (2013). Para estes autores, a existência

de experiências organizacionais anteriores à implantação de um PSA em uma dada região faz com

que este seja mais efetivo ao alcançar seus objetivos ambientais. Além disso, contratos de fácil

entendimento entre as partes também influenciam no resultado de forma positiva. Mais ainda, a

confiança no cumprimento do que foi acordado também afeta o desempenho de um PSA.

Assim que compradores e vendedores se organizam, é necessário definir o modo pelo qual os

serviços ambientais transacionados serão entregues. Pode-se distinguir cinco formas diferentes

(WUNDER, 2005; ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). A primeira delas é pela manutenção de

uma floresta de pé, ou seja, preserva-se um remanescente florestal que já existe. A segunda forma é

a adoção de um sistema agroflorestal, que é um modo de produção amigável ao meio ambiente,

como a produção de café de sombra. A terceira forma é o cercamento e abandono de uma área

degradada, deixando que ela se recupere sozinha. A quarta maneira é o reflorestamento com

espécies nativas. A última é o reflorestamento de árvores comerciais, como o pinus e o eucalipto.

Uma questão essencial que permeia a entrega dos serviços ambientais é o quanto esta melhora a

oferta do serviço ambiental em questão, ou seja, o quanto desse serviço é adicionado, comparando-

se com outros cenários. Esse é o conceito da adicionalidade. (WUNDER, 2005). Para determinar a

adicionalidade de um esquema de PSA, ou seja, o quanto ele gera de oferta adicional do serviço, é

necessário criar as linhas de base. (WUNDER, 2005; 2007). Os gráficos a seguir ilustram três

diferentes padrões de linha de base.

Gráfico 1 – Linhas de base

Fonte: adaptado de Wunder (2007).

Em todos os gráficos, o eixo horizontal mede o tempo, ao passo que o eixo vertical corresponde à

quantidade disponível de um determinado serviço ambiental. No gráfico 1A, a linha contínua é a

linha de base, que representa a provisão do serviço na ausência dos pagamentos. Neste caso, supõe-

se um ecossistema que está em fase de recuperação, o que justifica a linha ascendente. O PSA, para

ter adicionalidade, teria que superar a melhoria ambiental já em curso, o que é representado pela

linha pontilhada. No gráfico 1B, o cenário é de deterioração ambiental: com o passar do tempo, a

oferta de serviços ambientais se reduz. A introdução dos pagamentos reduz a velocidade com que

essa deterioração acontece, configurando, então, uma adicionalidade. Por fim, no gráfico 1C, supõe-

se que a oferta do serviço ambiental se manteria constante. Assim, um esquema de PSA teria

adicionalidade na medida em que eleva a provisão do serviço.

A importância de se determinar as linhas de base é evitar que ocorra um desperdício de recursos.

Numa linha de base como a do gráfico 1C, por exemplo, se o PSA não gerasse adicionalidade, o

melhor seria utilizar os recursos do programa em outras ações, interrompendo as transferências aos

proprietários de terras. Numa linha de base como a do gráfico 1A, o cenário é de melhora ambiental

mesmo sem um esquema de PSA. Dessa forma, o dinheiro pode ser mais efetivo se for gasto em

outra região que não esta.

Daniels et al. (2010), em uma revisão de diversos trabalhos que estimavam os impactos dos PSA na

Costa Rica, chegaram à conclusão de que, em muitas regiões, os pagamentos não geram

adicionalidade, pois as projeções indicaram que não ocorreria nenhuma degradação ambiental na

ausência do PSA. Segundo esses autores, há duas explicações para esse resultado: a primeira é que a

existência de uma política pública de incentivo à proteção das florestas antes do surgimento dos

esquemas de PSA teria conscientizado os proprietários da importância de se preservar a vegetação

nativa. Uma segunda explicação é que existem muitos sítios de recreação, cujos donos não

produzem nada e, por isso, não desmatam.

Portanto, um esquema de PSA pode ser considerado efetivo se gerar adicionalidade. Para que isso

aconteça, deve-se determinar as linhas de base de cada local e verificar se os pagamentos mudarão o

cenário.

Outra questão importante relacionada à entrega dos serviços ambientais negociados em um PSA é o

monitoramento. Em diversos esquemas, é comum a participação de proprietários de terras que

vivem em áreas remotas. Isso cria a necessidade de se monitorar periodicamente os usos de solo que

eles praticam, para se ter certeza de que o ofertante está, de fato, entregando o serviço (WUNDER,

2005).

A questão das formas de entrega dos serviços ambientais está relacionada ao lado da oferta de um

PSA. O lado da demanda também possui suas peculiaridades, a começar pelas formas de pagamento

pelos serviços. O mais comum são transações feitas em dinheiro. Entretanto, diversos esquemas

realizam pagamentos em espécie (BRACER et al., 2007).

Um caso seminal é o de Los Negros, na Bolívia. Neste esquema, são vendidos dois tipos de

serviços ambientais a dois compradores diferentes pelos mesmos proprietários de terras. Um serviço

é o de proteção do território de aves migratórias, comprado pelo U.S. Fish and Wildlife Service,

uma agência federal dos Estados Unidos, interessada em garantir o hábitat de 11 espécies

migratórias. A contribuição deste agente ao projeto foi no sentido de financiar os gastos iniciais do

esquema. A ONG Fundación Natura Bolívia, de posse desses recursos, organizou as negociações

entre irrigadores a jusante e proprietários de terras a montante, além de manter o PSA em

funcionamento após a fase inicial. Os pagamentos feitos pelos irrigadores são transferidos à ONG,

que os repassa aos prestadores dos serviços ambientais. Estes recebem as compensações na forma

de cercas de arame farpado, colmeias e treinamento para manuseá-las (ASQUITH; VARGAS;

WUNDER, 2008).

Uma questão relacionada ao lado da demanda é Seleção Espacial, que consiste na definição,

seguindo determinados critérios, de quais propriedades receberão os pagamentos e quais ficarão de

fora do programa. Esses critérios, em geral, consideram os serviços ambientais prestados pelo

agente, os custos envolvidos e um componente de risco de deflorestamento em dado local

(BABCOCK et al., 1997).

A intenção de usar a Seleção Espacial é aumentar a adicionalidade gerada por unidade monetária

despendida. Isso pode ser feito tanto pela escolha das propriedades mais degradadas e que, portanto,

têm um maior potencial de adicionalidade, quanto por aquelas cujo custo de oportunidade seja mais

baixo, resultando em gastos menores no esquema como um todo (WÜNSCHER; ENGEL;

WUNDER, 2008). Esses autores criaram uma metodologia de seleção espacial que combina a

provisão de serviços, o risco de desmatamento e os custos de oportunidade de cada participante em

potencial, aplicando-a a um programa já existente na península de Nicoya, na Costa Rica. Pelos

resultados obtidos, eles chegaram a uma relação custo-benefício mais alta do que a que ocorre no

esquema de PSA, devido, principalmente, ao foco nas áreas com menor custo de oportunidade e, em

segundo lugar, com maior potencial de gerar adicionalidade.

Uma terceira questão envolvida nas formas de pagamento são os pagamentos por desempenho, que

são um tipo de PSA cuja remuneração está atrelada não apenas ao custo de oportunidade do

provedor do serviço, mas também à quantidade de serviços entregue por ele (ZABEL; ROE, 2009).

Estas autoras fizeram um levantamento bibliográfico de vários pagamentos vinculados ao

desempenho. Dos 23 casos analisados, 17 estão relacionados à proteção de uma única espécie

animal ou de um pequeno grupo de espécies, 3 estão relacionados à redução de sedimentos em rios

e 3 remuneram os produtores rurais para que adotem práticas agroecológicas em áreas de alta

biodiversidade. Esta modalidade de PSA é menos utilizada em programas relacionados à água

devido à dificuldade de se mensurar a variação na quantidade ou qualidade dos recursos hídricos

decorrente da proteção de uma determinada área. O mesmo não ocorre com pagamentos

relacionados ao carbono, pois é possível estimar a quantidade absorvida deste elemento pelo

crescimento da vegetação; tampouco com os programas relacionados à biodiversidade, uma vez que

é possível calcular a população de uma determinada espécie que seja alvo do esquema (ZABEL;

ENGEL, 2010).

O Quadro 1, a seguir, resume as características discutidas ao longo desta seção.

Quadro 1 – Elementos de um PSA

Elemento Autores de referência Descrição

Transação voluntária Wunder (2005) Caráter não-impositivo

Serviço ambiental específico Wunder (2005)

Podem ser: regulação do ciclo

hídrico, qualidade da água,

regulação dos níveis dos lençóis

freáticos e manutenção dos

habitats aquáticos.

Base mercadológica Wunder (2005) Presença de compradores e

vendedores

Presença de intermediários

Vatn (2010); Landell-Mills e

Porras (2002); Powell, White e

Landell-Mills (2002)

Conforme o grau de

envolvimento, podem ser

classificados como:Acordos

Privados Auto-organizados,

Esquemas de Negociação Aberta

ou Pagamentos Públicos

Estudos da relação floresta-água Pagiola (2005)

Conforme o autor, devem ser

feitos considerando as

especificidades de cada local

Fatores institucionais Escobar, Hollaender e Weffer

(2013)

Experiências organizacionais

prévias, contratos de fácil

entendimento e confiança

Formas de entrega dos serviços Wunder (2005); Engel, Pagiola e

Wunder (2008)

Manutenção de uma floresta de

pé, sistema agroflorestal,

cercamento e abandono,

reflorestamento com espécies

nativas ou exóticas

Adicionalidade e linha de base Wunder (2005; 2007) Determinam a efetividade de PSA

Monitoramento Wunder (2005) Garante a entrega dos serviços

Formas de pagamento Bracer et al. (2007) Em dinheiro ou espécie

Seleção Espacial Babcock et al. (1997)

Consideram os serviços

ambientais prestados pelo agente,

os custos envolvidos e um

componente de risco de

deflorestamento

Pagamentos por desempenho Zabel e Roe (2009) Pagamento relacionado à

quantidade de serviços entregues

Fonte: elaborado pelos autores.

3 O projeto VerdeSinos

As bases do VerdeSinos foram lançadas em 2006, com a apresentação dos resultados do Monalisa,

nome pelo qual ficou conhecido o Projeto de Identificação dos Pontos de Impacto da Bacia

Hidrográfica do Rio dos Sinos. Este projeto, coordenado pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia

Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), mapeou 1,2 mil quilômetros de córregos, rios e

arroios da bacia, identificando pontos de impacto como escoamento de esgoto não tratado e

ausência de mata ciliar (BECKER JÚNIOR, 2006). Os resultados foram preocupantes. A mata ciliar

está em desacordo com a legislação ambiental em 88% da área mapeada. Em 53,8% da área sequer

existe vegetação nativa às margens dos corpos d’água (HUPFFER, 2013).

A partir do Monalisa, o Comitesinos iniciou diálogos para recuperar a mata ciliar da bacia. As

primeiras tratativas foram feitas com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater),

com o Instituto Rio-grandense do Arroz (IRGA), com sindicatos rurais e prefeituras, com o objetivo

de criar uma estratégia para recomposição dos pontos em que não havia vegetação nativa (BECKER

JÚNIOR, 2013).

Em paralelo a essas ações, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) criou a Rede

Ambiental do Rio dos Sinos, órgão que congrega, além do próprio MPRS, diversas promotorias da

região. Seu objetivo era fazer com que o Código Florestal fosse cumprido e que as Áreas de

Proteção Permanente (APPs) fossem recuperadas (BECKER JÚNIOR,2013).

Em 2008, foi assinado um convênio entre o Comitesinos e a Rede Ambiental do Rio dos Sinos,

parceria que visava unir os esforços das duas instituições. A partir do convênio, foi criado o Projeto

Piloto de Recomposição da Mata Ciliar, que é considerado o embrião do VerdeSinos (BECKER

JÚNIOR, 2013).

A primeira etapa do projeto foi conduzida pelo Comitesinos, com apoio das entidades parceiras

(Emater, IRGA, sindicatos rurais e prefeituras). Nesta, identificaram-se as propriedades rurais que

estavam em desacordo com a legislação ambiental e apresentou-se o projeto de recuperação a cada

uma delas. Os proprietários que concordaram em participar assinaram Termos de Adesão

Voluntária e se comprometeram a reflorestar pelo menos 15 metros junto às margens dos rios. O

Comitesinos, em seguida, acionava empresas parceiras que doavam mudas de árvores, mourões de

cerca, arames e grampos. Na sequência, coordenava os mutirões de plantio. O Ministério Público

atua no sentido de dar endosso legal à adequação gradual dos proprietários à legislação ambiental

(BECKER JÚNIOR, 2013).

A figura 1 resume a atuação do Comitesinos na organização das atividades de recomposição da

mata ciliar.

Figura 1 – Funcionamento das atividades de recomposição da mata ciliar

Fonte: elaborado pelos autores.

Em 2009, o Projeto Piloto conseguiu patrocínio da Petrobrás, através do Programa Petrobrás

Ambiental. Nascia, assim, o VerdeSinos. Com o aporte de mais de 1,3 milhões de reais, o projeto

assumiu novas frentes: pesquisa científica, com o intuito de verificar as relações entre a mata ciliar

e a qualidade da água; educação ambiental, atuando junto às escolas da rede pública; e a

continuidade do processo de restauração da mata ciliar (BECKER JÚNIOR, 2013).

A adesão ao Programa Petrobrás Ambiental durou até 2012. A meta do projeto, que era de

recuperação de 330 hectares, foi cumprida: recuperaram-se 331,7 ha, com o plantio de 5,2 mil

mudas e 114,6 mil metros de arame cercando as áreas recuperadas (BECKER JÚNIOR, 2013).

Desde 2013, o VerdeSinos está em sua fase permanente. A gestão continua a cargo do Comitesinos,

enquanto os recursos para seu funcionamento provêm das doações de empresas parceiras do projeto.

A figura 2 resume o histórico do projeto.

Figura 2 – Histórico do projeto VerdeSinos

Fonte: elaborado pelos autores.

4 Análise

A presente seção tem como objetivo analisar as respostas das questões do roteiro de pesquisa,

obtidas através de publicações do Comitesinos e, também, por meio de uma entrevista presencial

com Viviane Nabinger, secretária executiva do Comitesinos.

O projeto VerdeSinos tem como objetivo tanto o aumento da quantidade de água na bacia quanto a

melhoria de sua qualidade. Isso é obtido através de um uso de solo que gera o serviço. Pode-se

identificar agentes que cumprem os papeis de compradores e vendedores no projeto VerdeSinos,

embora eles não se identifiquem como tal. Atuando como compradores, existem diversas empresas

que fazem doações de mudas, mourões, arames e outros materiais às ações de reflorestamento. Há

ainda empresas que precisam realizar compensações ambientais na forma de plantio de árvores.

Através do projeto, elas encontram uma forma de destinar seus esforços de compensação. Por fim,

pode-se considerar o Ministério Público como um comprador por ter demonstrado interesse em

promover melhorias ambientais na bacia de uma forma viável aos proprietários de terras.

Do lado dos vendedores, estão os proprietários de terras. Estes se comprometem em reflorestar pelo

menos 15 metros em cada margem do corpo d’água, “vendendo”, assim, os serviços ambientais

providos pela área recuperada. Tal ação não é uma venda propriamente dita, pois não é efetivada

com a intenção de se receber uma compensação financeira mas, sim, de se adequar à legislação

ambiental de forma viável. O monitoramento das ações dos proprietários de terras é feito pelas

entidades parceiras (IRGA, EMATER, etc.)

Conforme a tipologia utilizada por Bracer et al. (2007) e por Powell, White e Landell-Mills (2002),

o VerdeSinos pode ser classificado tanto como um esquema de negociação aberta, pois os agentes

privados realizam suas transações sob a supervisão de uma terceira parte, quanto como um esquema

de pagamentos públicos, dada a presença do Ministério Público no projeto.

Cabe ressaltar que a base mercadológica das negociações é fundamental para que um projeto

ambiental qualquer possa ser considerado um PSA. Uma vez que os materiais utilizados na

restauração da mata ciliar são doados pelos “compradores”, e não entregues enquanto uma compra,

põe-se em cheque a base mercadológica.

Toda a organização do processo é feita pelo Comitesinos. Entre suas atribuições, estão a

mobilização dos parceiros de campo (Emater, IRGA, sindicatos rurais e prefeituras), que, por sua

vez, auxiliam nas negociações com os proprietários; recebimento e repasse das doações das

empresas; organização dos mutirões de plantio das mudas e instalação das cercas.

Estudos prévios ao VerdeSinos criaram embasamentos que podem ser considerados como uma

Linha de Base. O projeto Monalisa, por exemplo, identificou diversos pontos de impacto ambiental

ao longo da bacia, além de fazer um diagnóstico do estado das águas. Seguindo os critérios de

Wunder (2005; 2007) para linhas de base, o cenário da bacia do Rio dos Sinos era de uma linha de

base declinante.

A adicionalidade, entretanto, é de difícil mensuração. Uma das causas dessa dificuldade é o fato de

os plantios terem sido feitos há pouco tempo, não dando tempo para que os resultados ambientais

fossem plenamente alcançados. Além disso, a extensão territorial da bacia supera em muito a

abrangência do projeto, de modo que qualquer alteração substancial das águas dificilmente seria

gerada pelas ações do VerdeSinos.

Ainda no campo dos estudos, o VerdeSinos, como dito anteriormente, engloba também projetos de

pesquisa. Entre eles, Crossetti, Peresin e Malabarba (2013) estudaram os impactos da mata ciliar na

quantidade de nutrientes presentes na água. As autoras concluíram que áreas com mata ciliar

degradada ou ausente possuem nutrientes além do recomendável ao consumo humano. Esse estudo

vai ao encontro da recomendação de Pagiola (2005), citada na seção 2, de que os estudos da relação

floresta-água devem ser feitas localmente, evitando a generalização de trabalhos feitos em outras

regiões.

Em termos institucionais, alguns dos aspectos positivos ressaltados por Escobar, Hollaender e

Weffer (2013) são encontrados no VerdeSinos. O primeiro deles é a confiança no contrato (Termo

de Adesão, nesse caso), que foi reforçada pela presença de parceiros como a Emater e o IRGA.

Além disso, ele é simples: Para participar do projeto, os proprietários devem preencher uma ficha

de identificação simples, com 3 páginas, e o Termo de Adesão, de apenas uma página. As

experiências organizacionais prévias também se mostraram importantes, dada a atuação dos

sindicatos rurais, que são instituições existentes muito antes do projeto ser iniciado. A presença de

tais fatores institucionais, relacionados a um melhor desempenho ambiental de um PSA, indicam

que o VerdeSinos possui características que potencializarão seus resultados.

O Quadro 2, a seguir, resume a discussão, trazendo informações sobre a presença ou não dos

elementos apresentados no Quadro 1

Quadro 2 – Elementos presentes no VerdeSinos

Elemento Presença Descrição

Transação voluntária X

Tanto vendedores quanto

compradores participam

voluntariamente do projeto

Serviço ambiental específico X

Aumento da quantidade de água

na bacia e melhoria de sua

qualidade

Base mercadológica

Embora existam figuras que

possam ser consideradas como

compradores e vendedores, as

transações não são feitas seguindo

uma lógica de mercado

Presença de intermediários X

Além do Comitesinos, atuam

como intermediadores: IRGA,

EMATER, sindicatos rurais e

prefeituras

Estudos da relação floresta-água X

Elaborados a partir do

financiamento do programa

Petrobrás Ambiental

Fatores institucionais X

Termo de Adesão simples, de

confiança endossada pelos

intermediários. Presença de

experiências organizacionais

prévias, como os sindicatos rurais

Formas de entrega dos serviços X Reflorestamento com árvores

nativas

Adicionalidade e linha de base X

Linha de base elaborada no

âmbito do Projeto Monalisa.

Adicionalidade não verificada em

nível de bacia.

Monitoramento X

Realizado pelas entidades

parceiras (IRGA, EMATER,

sindicatos rurais e prefeituras)

Formas de pagamento X Em espécie, na forma de mourões,

arames e mudas de árvores

Seleção Espacial Não é feita

Pagamentos por desempenho Não é feito

Fonte: elaborado pelos autores, com base em documentos do Projeto e entrevista presencial.

5 Conclusões

Conforme apresentado na primeira seção, os PSA são programas que internalizam as externalidades

positivas geradas pelo meio ambiente. Esse processo não ocorre naturalmente através das forças de

mercado devido ao caráter de bem público dos serviços ambientais. Na seção 2, foram apresentados

os aspectos constituintes de um esquema de PSA, como a negociação de um serviço ambiental entre

compradores e vendedores, as formas de entrega dos serviços e as formas de pagamento. A terceira

seção levantou o histórico do projeto VerdeSinos, enquanto a quarta fez uma análise do mesmo à

luz das teorias revisadas.

Conclui-se que o VerdeSinos, apesar de apresentar diversas características de um PSA, não pode ser

considerado como tal, ao menos não como um plenamente estabelecido. Isso porque falta ao projeto

o ponto central dos PSA, que é a base mercadológica. Sem esta, não faz sentido falar de

internalização de externalidades.

Entretanto, não ser considerado como um PSA não torna o VerdeSinos menos efetivo na

consecução de seus objetivos, fazendo com que ele não seja, apenas, um mecanismo de

internalização de externalidades positivas. Se este for um dos objetivos elencados pelos

coordenadores do projeto, então sim, a falta da base mercadológica se fará sentir.

Algumas potencialidades do VerdeSinos podem ser elencadas a partir da análise dos dados. A

primeira delas é a grande rede de contatos construída ao longo do projeto, englobando desde órgãos

governamentais (Emater e IRGA) a associações rurais, bem como empresas. Uma segunda

potencialidade é o caráter voluntário da participação de todos os agentes. Por fim, a grande

quantidade de estudos científicos realizados no âmbito do VerdeSinos dão respaldo científico e

acadêmico às intervenções do projeto.

Todavia, restam alguns desafios. Um deles é o fato de que os proprietários que cumpriam a

legislação ambiental antes do projeto não receberam benefício algum do VerdeSinos, embora eles

também prestem os serviços ambientais de proteção à água. Para garantir uma melhoria substancial

na qualidade dos recursos hídricos da bacia, deve-se dar incentivos, também, a esses proprietários.

Outro desafio, provavelmente o maior deles, é o de potencializar o ambiente de negócios, trazendo

mais participantes, tanto do lado da demanda quanto do lado da oferta, para impulsionar a geração

de serviços ambientais na bacia.

Uma limitação deste trabalho é o fato de o estudo de caso ter sido feito apenas com a coordenação

do VerdeSinos. Ao longo dos estudos e análises, percebeu-se que a realização de entrevistas com o

MPRS, empresas doadoras e proprietários de terras teria engrandecido as conclusões e dado mais

robustez à análise.

Quanto à continuidade dos estudos do tema, três sugestões são feitas. A primeira é uma análise

específica dos incentivos que os proprietários de terras recebem para participar de um PSA. Tal

entendimento é fundamental para a construção de novos esquemas de PSA. Uma segunda sugestão

é o estudo dos custos de transação envolvidos nas negociações entre compradores e vendedores,

estimando o valor da atuação de intermediários, como o Comitesinos. Por fim, um estudo dos

benefícios marginais gerados pelo VerdeSinos, face aos seus custos marginais, traria novas

conclusões quanto à efetividade do projeto na melhoria dos serviços ambientais na bacia do Rio dos

Sinos.

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