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ANÁLISE DA QUALIDADE ACÚSTICA DE SALAS PARA O ENSINO
MUSICAL EM MACEIÓ/AL
SILVA, Eduardo H¹.; OLIVEIRA, Nícolas 2; OITICICA, Maria Lúcia G. R.³ (1) Universidade Federal de Alagoas-UFAL, Campus A. C. Simões. Av. Lourival Melo Mota, S/N, Tabuleiro
do Martins, Maceió – AL, [email protected]
(2) Centro Universitário Cesmac, Rua da Harmônia - Farol, Maceió – AL, [email protected]
(3) Universidade Federal de Alagoas-UFAL, Campus A. C. Simões. Av. Lourival Melo Mota, S/N, Tabuleiro do
Martins, Maceió – AL, [email protected].
RESUMO
No Brasil, é comum encontrar escolas de música instaladas em espaços que não foram projetados para
essa finalidade, gerando uma série de consequências que interferem no desenvolvimento do aprendizado
do aluno. Este artigo objetiva analisar o comportamento acústico de salas de música em diferentes
instituições de ensino; público e privado na cidade de Maceió/AL. A metodologia aplicada pretende
verificar parâmetros acústicos através de medições in situ, através da norma ISO 3382, de duas salas de
cada estabelecimento, relacionando os dados obtidos à geometria, dimensões, materiais e mobiliário. Os
resultados obtidos permitiram uma profunda análise quantitativa e qualitativa das condições de ambas
as salas e mostram que, tanto nos âmbitos público e privado, a qualidade acústica das salas interfere no
nível de aprendizado do aluno. Foram encontradas desconformidades no tempo de reverberação,
predominância de ressonâncias que causam mascaramentos e induzem a desconcentração, entre outros
fenômenos. A conclusão do trabalho propõe que exista maior rigor nos regulamentos técnicos a partir
da inserção de mais parâmetros de avaliação acústica como: clareza (C80), EDT, cálculo de tempo de
reverberação em banda larga de terços de oitava e modos acústicos, a fim de adequar as salas aos níveis
ideais.
Palavras-chave: Comportamento acústico, Qualidade acústica, Tempo de reverberação, Clareza,
Cálculo Modal.
ABSTRACT
In Brazil, is common to find music schools adapted in spaces that were not designed for this purpose,
generating consequences that affect the development of student’s learning process. This article aims to
analyze the acoustic behavior of music rooms in different educational institutions; public and private, in
the city of Maceió / AL. The methodology applied intends to verify acoustic parameters by in situ
measurements, through the ISO 3382 of two rooms of each establishment, analyzing the results of and
measurements to the geometry, dimensions, materials and furniture. The results allowed a profound
quantitative and qualitative analysis of the conditions of both rooms and show that in both situations,
the public and private spheres, the acoustic quality of the room interferes on the student's learning level.
Nonconformities in the reverberation time and the predominance of resonances were found, inducing
deconcentration, among other phenomena. The conclusion of this work proposes to have a greater rigor
in the technical regulations for music rooms, including more acoustic parameters to analyze, such as
clarity (C80), EDT, reverberation time calculation in third octave bands and modal resonances in order to adapt rooms to recommended levels.
Keywords: Acoustic behavior, Acoustic quality, Reverberation time, Clarity, Modal calculation
DOI: 10.17648/sobrac-87119
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, é comum encontrar espaços de ensino de música adaptados em cômodos residenciais
ou comerciais de pequeno e médio porte sem serem projetados e construídos para tal finalidade.
Uma série de fatores nas características da construção afetam sua qualidade acústica, fatores
que vão desde a proporção de cada uma das três dimensões do espaço (comprimento x largura
x altura), quanto às características dos materiais usados no recinto. Leventhall et. al. [10] mostra
que os efeitos no aprendizado do usuário variam pelo fato da condição acústica estar
diretamente ligada ao processo de ensino-aprendizagem. Assim, se um espaço não apresenta
acústica favorável, acarreta num ensino-aprendizagem sem fundamentação [13].
Nesse contexto, foram analisadas duas tipologias de salas de ensino musical existentes de
diferentes instituições de ensino: público e privado – sala de prática/ensaio individual e sala de
prática/ensaio em conjunto –. Uma sala de performance individual (pequeno porte) caracteriza-
se pela predominância de um único instrumento no espaço, e a sala de performance em conjunto
(médio porte) caracteriza-se pela predominância de dois ou mais instrumentos dentro do espaço.
Esses recintos foram caracterizados acusticamente com uma avaliação qualitativa mediante
medições acústicas com o uso da técnica de resposta impulsiva, conforme diretrizes da norma
ISO 3382 [8]. Desta forma, este trabalho visa relacionar os parâmetros acústicos determinados
em norma com os resultados in situ a fim de propor melhoras acústicas para estas salas. O
presente trabalho tem como objetivo analisar a qualidade acústica de salas para o ensino musical
em instituição pública e privada na cidade de Maceió-AL, afim de serem identificados as
semelhanças e diferenças existentes nesses espaços.
2. PARÂMETROS ACÚSTICOS
A fim de adequar as salas às condições desejáveis de conforto acústico, faz-se necessário o
entendimento dos parâmetros acústicos. Um deles é o diagrama de Bolt [1], que define
proporções dimensionais em metros (1 m : X m : Y m), para salas retangulares. O número 1
equivale ao pé direito dividido por ele mesmo e as outras dimensões da sala são divididas
também pelo valor da altura. Dessa forma, descobre-se a relação proporcional da sala e sabe-se
se está enquadrada na chamada “área de Bolt” (figura 1).
Figura 1: O diagrama de Bolt.
Fonte: Adaptado de Everest, 2001 [4].
Outro parâmetro é o tempo de reverberação, configurado como o tempo necessário o nível de
pressão sonora decaia 60 dB, depois que a fonte interrompe a emissão [3]. O Tempo de
Decaimento Inicial (ou EDT – Early Decay Time) é o tempo necessário para que o nível de
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intensidade sonora decaia 10 dB após interrompida a emissão [12]. Sugerida inicialmente por
Bolt e Schroeder, como parâmetro que melhor correlaciona a experiência subjetiva de
reverberação.
A Clareza (C80) consiste no quociente entre a energia sonora recebida por um ouvinte entre 0
e 80 milissegundos decorridos da audição da primeira frente de onda e a energia sonora recebida
de 80 ms até o final da reverberação [11]. É um parâmetro que quantifica um som límpido e
preciso, independente do andamento da música. A fórmula de C80 em função das características
acústicas do recinto é dada por:
(1)
onde: Q é a diretividade da fonte sonora; Dc é distância crítica (m); D é a distância máxima que
permite boa articulação das consoantes; e a é constante multiplicadora (aproximadamente 2,72)
e T60 é o tempo de reverberação da sala [14].
Modos acústicos são fenômenos gerados por ondas estacionárias, comumente encontrados em
espaços fechados e não extensos, onde os comprimentos das ondas sonoras de determinadas
frequências são equivalentes às dimensões dos ambientes. Em salas sem condicionamento
acústico, esse fenômeno é comumente percebido na zona de baixas frequências. O efeito prático
percebido pelo ouvinte é que em alguns pontos da sala, as frequências graves são ouvidas com
muita intensidade – zona de alta pressão – e em outras regiões ela não será percebida, ou sentida
com baixa intensidade – zona de baixa pressão – [2], causando desconforto e prejudicando o
usuário na percepção de detalhes na execução musical. Essas zonas são geradas pelo padrão
(modo) em que essas ondas se comportam, podendo ser classificados como axial, tangencial e
oblíquo, dependendo dos eixos em que essas ondas atuem (figura 2).
Figura 2: modos axial, tangencial e oblíquo, respectivamente. Fonte: acervo pessoal, 2016.
Segundo Valle [14], fórmula geral para descobrir os modos ressonantes é:
𝑭𝒙𝒚𝒛 =𝐜
𝟐√(
𝒎
𝒙)
𝟐
+ (𝒏
𝒚)
𝟐
+ (𝒑
𝒛)
𝟐
(2)
onde: c é a velocidade do som; m, n, p são inteiros positivos; e x ,y ,z são as dimensões da sala.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
As etapas metodológicas do trabalho foram desenvolvidas na seguinte ordem:
3.1 Etapa 1: seleção do objeto de estudo
A Escola Técnica de Artes (ETA), pública, vinculada a Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), atua nas seguintes modalidades: arte dramática, dança, produção da moda, canto e
3 Eixos: xyz
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instrumento musical. A Escola Villa Lobos (VL), particular, atua na formação em música,
sendo as duas instituições as mais conhecidas para a formação musical em Maceió (figura 3).
Figura 3: Escolar Técnica de Artes (ETA) e Escola Villa Lobos. Fonte: acervo pessoal, 2016.
O critério de seleção das salas foi baseado em função do tipo de atividade musical e do volume
interno aproximado (individual e em conjunto para cada instituição) (figura 4).
Figura 4: Escola Técnica de Artes (ETA) Salas 1 e 3 / Escola Villa Lobos, Sala 2 e 4, respectivamente. Fonte:
acervo pessoal, 2016.
3.2 Etapa 2: levantamento de dados do objeto de estudo
As dimensões dos espaços fechados são determinantes para a distribuição do som e estão
apresentadas na tabela 1 a seguir. Observou-se que as salas 1 e 2 não possuem nenhum material
para condicionamento acústico, já as salas 3 e 4 possuem alguns materiais comumente usados,
como forro mineral (sala 3) e paliativos – tapetes e cortinas (sala 4). É notório que nenhuma
das quatro salas possui adequado sistema de condicionamento acústico.
Tabela 1: áreas, volumes e materiais das paredes internas das salas de performance individual e coletiva.
Sala Compr.
(X - m)
Largura
(Y - m)
Altura
(m)
Área
Piso/Teto
Volume
da sala
Parede de
Alvenaria
Teto
(forro)
Janela
(m²)
Porta
(m²)
Sala 1 (ETA) 3,47 3,20 3,66 11,1 m² 40,64m³ 46,61m² Concreto - 1,98
Sala 2 (VL) 4,00 2,50 2,90 10,0 m² 29,0 m³ 36** m² Concreto - 1,68
Sala 3 (ETA) 6,87 4,20 2,70 27,69 m² 74,73 m³ 52,1 m² Mineral 5,5 1,95
Sala 4 (VL) 7,41 5,50 2,37-2,55* 41,24 m² 106,4 m³ 43,56 m² Gesso -
inclinado
9,9 1,68
Nota: *Teto inclinado / ** 7,27 m² de parede de gesso
Fonte: acervo pessoal, 2016
3.3 Etapa 3: procedimentos de medições
Para avaliar o comportamento acústico de salas de música, foi empregado o método descrito na
norma ISO 3382-2 [8] com o procedimento da ISO 18233-SS [9]: swept sine technique. A
análise da resposta impulsiva, composta pela relação do caminho direto entre a fonte sonora e
o receptor, permite a extração de diversos parâmetros acústicos como: Tempo de reverberação
(T60) em banda larga – de 50Hz a 8kHz, Clareza (C80), EDT (Early Decay Time), como também
a identificação dos modos acústicos. A figura 5, a seguir, mostra os equipamentos utilizados
com as respectivas conexões.
DOI: 10.17648/sobrac-87119
Figura 5: Equipamentos e esquema do sistema de medição. Fonte: Acervo pessoal, 2016
Os dados foram obtidos através do software gratuito Room EQ Wizard, analisador de espectro
acústico baseado na Transformada Rápida de Fourrier (FFT – Fourrier Fast Transform),
instalado em um notebook. Para realizar uma medição acústica, o programa emite o sinal
“sweep”, um estímulo de onda pura gradual que estimula (”varre”) a sala de 20Hz a 20kHz com
a mesma amplitude [5]. Esse estímulo é captado pelo microfone e processado em gráficos no
REW. A tabela 2, a seguir, mostra os pontos das medições acústicas.
Tabela 2: distribuição dos pontos de medições acústicas e dimensões das salas selecionadas
Sala Medições Corte Planta baixa
Sala 1
ETA
(Individ.)
Fonte 1
Microfones
1,2,3 e 4
Sala 2
VL
(Individ.)
Fonte 1 e 2
Microfones
1 e 2
Sala 3
ETA
(Coletivo)
Fonte 1
Microfones
1,2,3,4,
5,6 e 7
Sala 4
VL
(Coletivo)
Fonte 1
Microfones
1,2,3,4,
5,6,7e 8
Fonte: acervo pessoal, 2016
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Para as medições e análise das salas foi necessário seguir a norma ISO 3382-2:2008 [8], que
indica para um processo de medição de inspeção, as combinações entre fonte sonora e o
microfone devem ser posicionados em pelo menos em dois pontos da sala. Nas salas 3 e 4, a
fonte sonora foi posicionada no centro da sala, onde os microfones foram distribuídos em maior
quantidade de pontos para estudar o comportamento sonoro em diferentes pontos da sala em
uma única emissão. Manteve-se o mobiliário para obter dados de resposta acústica quando a
sala é estimulada em condições normais de uso.
O software Room EQ Wizard permite identificar o comportamento modal através dos picos
apresentados no gráfico de decaimento (figura 6, a seguir). A recorrência dos picos encontrados
nos pontos de medições indica qual(is) a(s) frequência(s) ressonante(s) na sala. Unindo os dados
obtidos nos cálculos com o gráfico obtido nas medições in situ, é possível deduzir a natureza
do modo ressonante, podendo assim classifica-lo entre os 3 tipos existentes.
Figura 6: gráfico de decaimento de um ponto de medição da sala 1.
Fonte: acervo pessoal, 2016.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para analisar como as salas se enquadravam mediante suas dimensões, o primeiro parâmetro
analisado foi referente ao diagrama de Bolt.
Relação
proporcional
1 X Y
Sala 1 1 0,95 0,87
Sala 2 1 1,14 0,86
Sala 3 1 2,54 1,55
Sala 4 1 3,01 2,24
Figura 7: As 4 salas no diagrama de Bolt e seus respectivos valores.
Fonte: Adaptado de Everest, [4].
Observou-se que todas as salas estão fora da área de Bolt. Ao dividir os valores das dimensões
de comprimento e largura de cada sala pelo valor da altura, ficaram todas fora da área amarela
Frequência (Hz)
Pressão
Sonora
(dB)
Decaimento:
Azul – som após 160ms
(OBS: o intervalo de tempo pode ser
modificado), mas 160ms é tempo suficiente para
o ouvido humano distinguir dois sons distintos).
Resposta acústica imediata:
Vermelho – som instantâneo
Comportamento modal: picos com baixa
variação da energia acústica após 160ms
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indicada como a proporção ideal para a adequada propagação do som. Após as medições, cada
parâmetro acústico foi calculado e analisado para cada sala. É comum analisar o tempo de
reverberação de salas em uma curta banda de frequências (125 Hz a 4 kHz) por ser a região
onde a voz humana atua. Contudo, Hopkins [6] recomenda que a análise de frequências abranja
de 50 Hz até 8 kHz, uma vez que o ambiente musical responde a estímulos sonoros de diversos
tipos de instrumentos musicais que alcançam faixas mais extensas.
A Figura 8 mostra os resultados médios obtidos para o tempo de reverberação (T60). As salas 1
e 2 apresentam valores de T60 entre 2,66 s e 0,57 s na faixa de frequência entre 50 a 8.000 Hz e
as curvas do tempo de reverberação apresentam tendências a cair com o aumento de frequência.
Figura 8: tempo de reverberação (T60) das salas de música individual e conjunta. Fonte: Acervo pessoal, 2016
As salas 3 e 4 apresentam valores de T60 entre 1,32 s e 0,32 s na faixa de frequências entre 50 a
8.000 Hz, e as curvas desse parâmetro apresentam variações com o aumento da frequência.
Os dados da média do tempo de decaimento inicial (EDT) em cada banda de frequência das
salas são apresentados na Figura 9. Considerando as bandas de terços de oitava entre 50 a 8.000
Hz As Salas 1 e 2 apresentam valores entre 0,62 s e 1,65 s, enquanto as Salas 3 e 4 apresentam
valores entre 0,27 s a 1,12 s, onde os tempos de EDT medidos permanecem em média aceitável
na faixa típica de análise, estando próximos de 1,2 s.
Figura 9: tempo de decaimento inicial (EDT) das salas 1 a 4.
Fonte: acervo pessoal, 2016
O parâmetro Clareza está associado à distinção clara de notas musicais sucessivas identificadas
pelos ouvintes. De acordo com a ISO 3382-1 [7], a faixa típica varia entre -5 dB e +5 dB em
LEGENDA: Faixas
recomendadas segundo CARVALHO
(2006) correspondentes aos
volumes das salas:
LEGENDA: Valores encontrados
Faixa típica de análise (voz)
LEGENDA: Valores encontrados
TEMPO DE DECAIMENTO INICIAL (EDT) Faixa típica de análise
LEGENDA: Faixas recomendadas
GRAVE MÉDIO AGUDO
GRAVE MÉDIO AGUDO
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faixas de frequência média de 500 Hz a 1.000 Hz. Os resultados apresentados na Figura 10, a
seguir, referem-se à Clareza (C80) entre de cada sala, apresentando valores em bandas de terços
de oitava de 50 Hz a 8.000 Hz, permitindo uma análise além da faixa típica.
Assim, de acordo com Brandão [2], valores positivos indicam salas com forte incidência de
primeiras reflexões. As salas 1 e 2 apresentam valores entre -2,47 e +8,41 dB, o que mostra que
a clareza a partir de 6.3 kHz está fora da faixa aceitável. As Salas 3 e 4 apresentam variação de
valores entre +2,75 e +18 dB, o que mostra que a clareza para a Sala 3 a partir de 100 Hz e para
a Sala 4 a partir de 400 Hz possuem forte incidência de reflexões primárias, causando
dificuldade na inteligibilidade da definição do som produzido no recinto. Já nas faixas de
frequência típicas de análise (entre 500 Hz e 1.000 Hz), pode-se dizer que as salas 1 e 2
encontram-se nos valores recomendados de inteligibilidade, ao contrário das salas 3 e 4.
Figura 10: clareza (C80) das salas de ensaio/prática individual e conjunta.
Fonte: Acervo pessoal, 2016
Os cálculos modais são recomendados para salas plenamente retangulares [4], embora seja
recomendável o uso de softwares de medição acústica para um melhor diagnóstico do
comportamento acústico real da sala. A tabela 3, a seguir, mostra as frequências modais
encontradas em cada uma das salas tanto no processo do cálculo, quanto os picos dos gráficos
de resposta acústica obtidos no processo de medições in situ.
Tabela 3: Cruzamento dos dados obtidos nos cálculos modais e nas medições in situ.
Natureza
do modo
Sala 1 ETA
(Indiv.)
Sala 2 VL
(Indiv.)
Sala 3 ETA (Col.) Sala 4 VL
(Coletivo)
Frequências fundamentais
obtidas no cálculo modal
Axial:
49.5 Hz, 53.7 Hz,
46.9 Hz
43 Hz, 68.8 Hz, 59.31
Hz
25 Hz, 40.9 Hz, 63.7 Hz 23.2 Hz, 31.27 Hz,
69.9 Hz
Tangencial:
73.1 Hz, 68.3 Hz,
71.3 Hz
81.1 Hz, 73.2 Hz,
90.8 Hz
48 Hz, 68.4 Hz,
75.7 Hz
38.9 Hz, 73.6 Hz,
76.5 Hz
Oblíquo: 86.91 Hz 100,5Hz 79.76Hz 80.03Hz
Picos destacados nos
gráficos de decaimento de
resposta acústica obtidos
no procedimento de
medições acústicas in situ
e suas supostas naturezas
modais.
Axial:
45,1 Hz, 107,5 Hz
(Harmônico de
53,75Hz)
43,8 Hz, 59,3 Hz,
68,8 Hz
50 Hz e 150 Hz
(Harm. de 25.03 Hz), 130
Hz (Harm. de 63,70 Hz)
21 Hz, 25 Hz, 32 Hz,
70,1 Hz, 95,4 Hz
(Harm. de 31,27 Hz)
Tangencial:
- 146Hz
(Harm. de 73,25 Hz) -
73,25Hz, 147Hz
(Harm. de 73,67Hz)
Oblíquo: 173 Hz (Harmônico
de 86,91 Hz) - - -
Fonte: acervo pessoal, 2016
Através da análise dos gráficos de decaimento, desenvolveu-se a tabela 4, a seguir, onde é
possível afirmar que a única sala que possui uma resposta acústica menos prejudicial para as
frequências baixas é a sala 3. Mesmo que o T60 ainda esteja acima do nível ideal e que esta sala
esteja fora da área de Bolt, é possível creditar ao forro mineral um maior decaimento em todas
as frequências. As salas 1 e 2 estão completamente em desacordo com um adequado
Faixa típica de análise
Faixa recomendada para qualquer tipo de sala
GRAVE MÉDIO AGUDO
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condicionamento acústico para o ensino musical necessitando de dispositivos acústicos para
conter os fenômenos constatados. Já a sala 4, mesmo possuindo cortinas e tapetes, elementos
decorativos e considerados como paliativos para o condicionamento acústico, foi a que
apresentou pior comportamento modal, com grande variação em diversas frequências baixas.
O grande número de modos acústicos (picos nos gráficos de decaimento) encontrados nas salas
evidencia a grande ocorrência de mascaramentos, ou seja, em salas ressonantes, as
características tonais de um instrumento musical que definem seu timbre são modificadas em
função da sala, que amplifica frequências indesejadas, prejudicando a percepção dos detalhes
do som que é executado. A tabela 4 classifica as salas nos parâmetros acústicos.
Tabela 4: classificação das salas em função dos parâmetros acústicos
Parâmetro Sala 1 ETA (Indiv.) Sala 2 VL (Indiv.) Sala 3 ETA (Colet.) Sala 4 VL (Colet.)
Frequência G* M* A* G* M* A* G* M* A* G* M* A*
T60 * * * *
EDT * * * * *
C80
MODOS
Atende Bolt:
Atende Bolt:
Atende Bolt:
Atende Bolt:
Axial Tang. Ob. Axial Tang. Ob. Axial Tang. Ob. Axial Tang. Ob.
2 0 1 3 1 0 3 0 0 5** 2 0
Nota* G=Grave (50Hz a 200Hz) / M= Médio (250Hz a 2kHz) / A=Agudo (2,5kHz a 8kHz).
Nota** Modos acústicos gerados por harmônicos da frequência fundamental de dois dos três eixos da sala.
Nota * Valor aferido está abaixo da margem recomendável. Nota - EDT considera apenas as frequências médias (500 Hz a 1000 Hz).
Fonte: acervo pessoal, 2016
5. CONCLUSÃO
O T60 obtido nos 4 ambientes mostra que as salas 1 e 2, de menor volume, são muito mais reverberantes que as salas de maior volume (3 e 4), pois as maiores contam com mobiliário
existente e, no caso da sala 3 da ETA, ainda possui condicionamento acústico proporcionado
por placas em fibra mineral no forro, que gerou elevada absorção sonora em apenas uma face
interna, maior que o necessário para seu volume. Mesmo assim, qualquer som ali produzido é
amplificado pelas reflexões entre as paredes de baixo coeficiente de absorção acústica, trazendo
ao usuário grande sensação de desconforto e prejuízo ao aprendizado.
No grupo de normas ISO 3382, o EDT é citado apenas na parte 1, referente às grandes salas de
concerto s[7], presumindo-se a aplicação deste parâmetro a salas de grande volume interno.
Para salas ordinárias aplicadas à música, é importante que os valores de EDT sejam
aproximados aos de T60 a fim de favorecer a compreensão do som executado e, em se tratando
de fontes sonoras com abrangência maior que a voz humana, acredita-se ser recomendável uma
análise espectral em terços de oitava em uma banda além da convencional (125 Hz – 4 kHz),
ampliando-a entre 50 Hz e 8 kHz. As 4 salas possuem valores correspondentes entre EDT e T60.
No que se refere à Clareza (80), as salas 1 e 2 apresentaram valores nas faixas de frequências
recomendados pelo fato de que salas com dimensões curtas favorecem a compreensão do som
direto, mesmo possuindo alto T60. As salas 3 e 4, contam com T60 controlado, porém são vítimas
de mascaramentos que prejudicam a plena compreensão do som por conta dos modos acústicos
(sala 3), juntamente com a geometria interna (salas 3 e 4), que não possuem superfícies que
promovam difusão sonora nas médias e altas frequências. É importante frisar que o cálculo
modal fornece pistas para a classificação dos modos encontrados nas medições, entretanto ainda
DOI: 10.17648/sobrac-87119
não existe uma ferramenta assertiva para a classificação do tipo de comportamento modal de
frequências ressonantes em uma sala.
Considerando os valores obtidos nos procedimentos de medição aplicados para a obtenção dos
parâmetros acústicos objetivos, e apesar das salas em algum momento atingirem níveis médios
em frequências recomendados por norma, todas as salas estudadas apresentaram deficiências
no condicionamento acústico para o desenvolvimento de atividades musicais. A fim de resolver
estes problemas, deve-se aplicar ressonadores para atuar nas zonas de alta pressão das salas,
preferencialmente modificando seu volume interno, juntamente com absorvedores e difusores
em pontos específicos das mesmas. Conclui-se, também, que independentemente de natureza
(pública ou privada), as instituições com atividades relacionadas à música em Maceió não têm
o cuidado devido com o conforto acústico para seus usuários e adotam medidas sem
aprofundamento técnico que resultam no desequilíbrio de seus desempenhos acústicos.
REFERÊNCIAS
[1] Bolt, R. H. Note on the normal frequency statistics in rectangular rooms. Journal of the Acoustical Society of
America-JASA, v. 18, p. 130-133, 1946.
[2] Brandão, E. Acústica de Salas: Projeto e Modelagem. 1ª ed. São Paulo: Blucher, 2016.
[3] Carvalho, R. P. Acústica arquitetônica. 2ª ed. – Brasília: Thesaurus, 2010.
[4] Everest, F.A. Master handbook of acoustics. 4.ed. Melville, New York, USA: McGraw-Hill: 2001. 616p.
[5] Farina, A. Simultaneous measurement of impulse response and distortion with a swept-sine technique. In:
108th AES Convention, Paris 18-22 February 2000. Disponível em:
<http://pcfarina.eng.unipr.it/Public/Papers/134-AES00.PDF>. Acesso em: 31 out 2015.
[6] Hopkins, Carl. Sound Insulation. Slovenia: Elsevier Ltda, 2007. 622p.
[7] ISO 3382-1 Acoustics – Measurement of room acoustic parameters – Part 1: Performance spaces. Genebra,
2008.
[8] ISO 3382-2 Acoustics – Measurement of room acoustic parameters – Part 2: Reverberation time in ordinary
rooms. Genebra, 2008.
[9] ISO 18233: Acoustics — Application of new measurement methods in building and room acoustics Geneva,
Switzerland. 1ed. 2006. 26p.
[10] Leventhall G.; Benton, S. A Review of Published Research on Low Frequency Noise and its Effects London:
Crown, 2003.
[11] Rossing, Thomas D. Springer handbook acoustics – 1ª ed. – New York: Springer, 2007.
[12] Schimid, Aloisio Leoni, org. Espaços para aprender ensinar música: construção e adequação. Ministério da
Cultura e Ministério da Educação, Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior - CAPES,
Programa Pró-Cultura, Pacto Ambiental, 2013. 32 f., 53 il.
[13] TEixeira, J.S. Influência de configurações das aberturas na qualidade acústica de salas de aula naturalmente
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do Espaço Habitado – DEHA – Grupo Dinâmicas do Espaço Habitado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –
FAU. Maceió-AL – Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado).
[14] Valle, Sólon do. Manual prático de acústica – 3.ed. – Rio de Janeiro: Música & Tecnologia, 2009.
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