606

aelrev n. senhor

Embed Size (px)

Citation preview

A E L R E VN. S E N H O R

S O N E T O

E s t e Pinto, S en h o r, que Confiado •aqui vivco, de penna prezumido; também morreo, de graça deicahido, c fo y n o cfquccim ento íepultado:

Agora tac alu/., rcflucitado no epíteto dc Pinto renafado, que a voffos pes íc poftra, arrependido do mai comquc athe aqui tinha voado.

Praza aDeos (pois à nova vida paffa) que nos voos o abfolva o que o condena- porque ao Real favor também renaíca,

E, fcempennapeccou,fraca,e pequena,rebata a ína culpa, pela graça,e alcaníe a voffa gloria, pela penna.

F I N T ORENASCIDO.

EMPETSNADO, E DESEMPENNADOt

P I N T O

RENASCIDO.E M P E N N A D O , E DESEMPE NHADO:

P R I M E I R O V O O »IX â g kk m Excdkm il/!m Snihr

DOM LUIZ JOZEL E O N A R D O D E C A S T R O

NORONHA AT A IDE E SOUSA,VnJxcimo Conde Je Mo>d cr,to,

C O M P O S T O P O R

T H O M A Z PI N T OB R A N D A M.

LISBOA OCCIDENTAL»NA OFFICINA DA M U S I C A ,

M.DCC.XXX1I.Com todas at licenças nmjjitt ia .

EXCELLENTISSIMOS E N H O R.

_____ S T A m inha primeira ameta-de, digo, parte primeira do Pinto renai-

* iiij cidos

eido, que agora fe levanta das cinzas da fua chaminé a buícar a luz de V. Excel­lenda , he o q por hora lhe pòde oflfere- ccr o meu anedio, em quanto nad aca­bo a outra ametade» para a incorporar

. . ,.A , . Kaf-il a tninVn fahePren- tUlll WlLcl ♦ ~ *........ ^cia, que nem poll o darme todo por hüa vez a quem mil vezes me dedico todo.

Meyo Pinto! E com taõ pouca fubftá- cia, que nem para quem toma frangos tem íervintia, que vergonha 1 Pezame naò fer inteiro, e mayor; p orque fe fof- fe gallo, poderia acordar a V. Excellen­da» para que a mim, outro me cantara-- mas ainda aífim efta ametade he a par­te da cabeça , das azas, e do peito 5 com que já temos cabeça,para abaixar aos pòs de V.Excellencia;azas,para voar àsfuas mãos; epeito , paradefeobrir aos íeus olhos , porque o coraçaó me lea.

Eylo vay » naò foy tao má a fahida defta ametade; íe for aceita,lerá 0 meyo para a entrada d» outra,

Sirvae (latambém de feda à milagro- fa refurreiçaó de feu Pay, o Excellentif- funo Senhor Marquez deCafeaes ,que também renafceu das lavaredas de hüa maligna, que o hia fazédo em cinza,ou pó ; permitia quem lhe deu a vida, que feja para voar à gloria; eque me ache lá fazendo-lhe preftes, para moftrar que atè no outro Mundo odefejo fervir

Tornemos ao filho: meu Amo, e meu fenhor; eu bem quizera neíta occa- fiaõ faber hum mar de elogios, para o cfprayar em feuslouvores; mas ainda que muitos (oubera ,eraô poucas partes para tantas prendas; quem as quizer ver com admitaçaõ , e com eleganda ouvir, olhe para V.Excellencia, e ouça-o, que naótem mais que ou v ir, nem ver: bea' za-o Deos he huma flor! Ma:; fc he flor, íeja Nardo, que unida ao feu timbre, lá vay dar em L u do vicos i s o b - t ir d u s ■ nof- íò Senhot dcyxc vivera V. Lxceiíenck

na

na companhia de feus Paes largos annos, (em mais Coyto, que o da fua grande ,e nobiliíTima Caza.EmLisboa aos i<5. de Dezembro de 1728.

Criado» ou renaícidoaot pbs de V.Excellencia,

AO

!£hcm*Zj Tinto.

AO BENEVOLOEU Leytor, eu bem quizera darte hum epitheto novo; porcm fempre ha defer pio,

que efte em hit Pinto he muy proprio.Meu Pioteconfidero,

e teu Pinto mefupponho; falta fó, para o meu canto, conhecer cu o teu folgo.

Suppon hamos que es benigno, magnanimo, generozo, grave , bizarro, e dif'ereto, que be o que bafta.- ifto fuppoilo,

Se em meus equivocos vires algum fentidoviciofo, modeftamente porelle deixa efeorregar os olhos

No

N o que da arte tropeçares,apega-te ao meu jocozo; e naõ te detenhas muito no que vay a dizer pouco.

Alguma palavra immunda nciõ tc meta muito nojo; que a Mufa he carne dc vaca;leve hum bocado de porco.

Se aos modernos mais tc inclinas, e em Sylvas tiveres voto, deixame paílar o agudo, indaqueotomes em groíío.

Se no que componho achares palavra, cm que defeomponho, lá na tuaidéaariíca, que cu no meu conceito a borro.

Calla-tc, pois te naõ eufta; c antes farás bom negocio emdiífimular meus erros, que niíTo moftras fer douto.

Se na compra defte livro achas que te défte ao logro,

deixa

deixa enet avar mais Penates, para que tenhas mais íocios.

Porque o Rico ha de tragallo; ha de bebello o curiofo, o Fidalgo ha de engolillo, e ha de remoello o Povo.

Eftas quatro Hades acima? daõmc à boca quatro voos; que inda naó ley como, e quando, mas (abercy quando como.

Dize-lhes que tem muita alma efte pequenino corpo; porque aííltn dás vida ao livro, e alentas com iííb ao dono.

E eíte Pinto renafeido, cm chammas de fome morto, que até aqui picou na calca» por ti entrará em miollo.

Ficarey continuando a eferíta, por darte gofto; fe me dis no alento defte, torças ao fegundo tomo.

Bem

Betnpodes, Leitor, ler pio; -porque eu fçgurartc poíío, que nao vou mais que a agradarte: perdo ame, fe íou tollo.

Mas fe ifto-tc uao obriga, • CCS hum I eitor taõ teimoío. que comtigo nada vale; vale» irada que fejas torto.

Ao Senhor Thomas Pinto Brandao, imprimindo asfuas obras poeticas com o tituh de Pinto

Renafcido, ' 1

ROMANCE HEROICO JOCOSERIO,

do Conde da Ericeira.(Pindo,

P Into,que ao nafcer pinto, eu pinto ao Cifne eo voz mais leda, q ode Ledas

Porque a tua.no ovo íòa clara,Para qúe a fu a fo na morte ge ma.

Naõ naiceftc emplumado, porq Apollo Naõ quer,netn por equivoco, que tenha Pennas quem, renafcendo,tireao Mundo Com a penna de Pinto muitas pennas.

RiofeApoll o,e Te rio o Ceo,e 0 Müdo, Pois quando oSolíeri> tudo le alegra,E porque tudo efteja mais rifonho,Te transformou de paffaroem Poeta,

; Triplicando a tres Graças ■ nove MuíaSí So Melpomene foge macilenta,

I

Ecahto; ttopeifandoiio cothurno,1

Com que cxtinguio a funcbrc tragédia.Calçou oíoeo a Comica Thalia,

r ao tomarte nos braços jocofetia, Enfaxando os burleicos penfamentôs;"D nryr* C& t7 f* n pfti Mufahe nuem te oenfa.jutimv. ; J '. ,

Deu-te o feu leite, e ainda que ialgado, Tanto o dulcificou a tua veya,Que o fal fó lhe ficou, para que as graças Por ti confervem todo o fal de Athenas.

Bern temo, que algü Critico me argua Fazer ama a Thalia,que hedonzella,E que he dizer, que já fe proftituem Até as nove Mufas nefta era.

Talnaôdirey, q u e efte divino leite He alimento candido da idea,Que naò tendo ferraó, formou em Hibla Defle enxame de Apollo a Abelha meftra.

Nunca chorafte, e nunca te chorafte» Achando do Parnafo nas riquezas,^Senão as M i r ia s , que fó tens na Mui a,Mais ouro, que do Tejo nas areas.

iuv-

\

Engcitadona rodada fortuna Ter ficore quiz fer tua ama icca,Algumas travciluras te caftiga,A las ca.ftigadas, as divulga impreflas.

Fogem dc ri os Satyros, que tt iit es Fogem de quanto alegre os lifongea.As Satyras naõ fogem , mas no cilylo As moderou a graça na prudência.

Scalgunsdcti ierim,tuterisdcllcs.Se íc ri m para t i, tu os alegras,Quando lc rim com tigo, os acompanhas Senaô fe querem rir, os ahigentas.

Rio-ie oPegafb, c hoje por rifivcl ]á ficou racional, e lie conia certa,(Que íc, rindoíea bd.Fi, ficou homem,A quem n-aô fazes rir, hc homem b e í b .

Triftc Inverno he quê fempre cftá cho- E qucmíc ri at£po,he Primavera, (urdo, Hum ao Parnaíò cm lagrimas inunde,E o teu engenho no Helicon floreça.

D o o.l a rre , e lo u ro D e c s . o v e rd e lou ro Às fo n te s te co ro e d a cabeça,

**■ S endo

Sendo a teus melancólicos contrarios E ra outras fontes im m ortal a era.

CaOaris com a Feniz renafeida,O P in to renafeido, porque veja Nafcer o T ejo osC ifnes do C aiftro} E aa lm ad eQ u ev ed o em U ly fléa .

Cartd

Carta anonyms, c Soneto em louvor do A uthor,

t r f é

QVern encobre e feu nomi quando fan bum obfeqmo i confefja o merecimento de quem e

recebe, porque mo efferando agradecimento, tnoft r a q u e he d ru id a o q u e n a o pode fe r reeompenfa ­do ; n e m / e dentejuppor rcccofo dc r e n iu m q u em e f i r e r e a n o n y m o , fo r q u e o rd in a ria m en te m a is m s i n a ta a f o n a , que efperam os a lcançar pelas tu f a s com pofifoes, do que nos reprim e o tem or d elias fe - re v i reprehendtdas, E a ffin i en tendendo tu , que o lo u v o r , que f,e d e v e a V . m . pe la j mgtd.arid.ade, cc q u e fe d ifh n g u r n e fe genero de P o d ia , he ju flo q ia ô J tide ncqarm c a concorrer p a ra o f cu a p p lm lo , v a ­le n d o m ed o fo m do m etro , e d a conf onancia das r i ­m a s defte Soneto, p a ra a u g m e n t a r a ru id e fa accia- tn açao , que depots de im pre ffa s, h .w de exp erim en ­ta r rjhis obras de V .m , O u tra s exaggcradoas clara- m e n te , pertenderao a lcançar p a ra f o m e fm o lo u -

que lhe daõ, p o rh n n itr a r quero p a r tid p ir d g lo ria a ig iiu ia , f c que c o r /i.ic ro y ju e nesh h v , ■ ■

**ü a b a te .

aV .rn , fe hade M tribu irto ia . E u fempre-recebonefte offerecimento que faço a V .m . hum eftim avel prêmio na fatisfaçaÕ , com que f ia > de lhedarnefle Soneto huma prova, daeftm .tçao ,qu e faço do [eu enrenho, e V .m . new pode deixar de mo agradecer, ft fi R am inha Poefia augment a o numero dos"vencidos pelas le K m . N aíhe/ocoferio om euefi tylo , porque efie da-o Deos a quem he fervido , e l in d a que V .m . he o M ejlre delle, neVta m .itena ■mo haíta a doutrina, he também necefiana a natu­r e z a , e a arte fó et aperfeiçoa , e nao a forma de n o vo ; alem de que os panegyricos nao adm ittem as ironias, nem as galantarias, de quefecom poem as obrasjocofcnas',e eu quando louvo aV'.m. fallo muy verdadeira , e fienamente, e d o m e f mo modo obra- reyfempre emtodasasoccafioes, que fe meofferect- rem d eferv ir a V .m. Guarde Deos a V .m . Caja}. s em Lisboa 9 • de Liovembro de 17 31 •

Servidor de V.m.OVocta femufo.

Em

Em louvor do SenhortfhomazJP into Brandao de hum sAnonymo,

S O N E T O .

r Qm tal circunfpecça5,cõ tal nobreza, Âpolio vos inflamma, e vos infpira,

que com applaufo feu cm vòsíe admira fcr a arteemulaçaó da natureza,

A novidade em vos, íem eítranheza, he apice, a que lobe a voiTa lyra; e a cadencia iuave> em que rcipira, he doce deiafogo da agudeza.

Na voíía diícriçaó iempre elegante, hum enfàíi das Muías Te referva, que occulto refplandece omais brilhante;

Eaovoffbnorae Apollo lá referva hum certo fal de graça muy galante, que incorrupto às idades o preferva.

J0 Senhor T h o m a s V into B randao, im prim indo as fuas o k a s poeitcas com o titulo deV in to

Renafcido.

ROMANCE HEROICO JOCOSERIO,dejoao [onceiro Je A v re u c Caftro.

P in to , que rcnafccndoexcedeis tanto Da natureza as forças limitadas,

Renaícey fem morrer, porque naótenha Juriídiçaõem vòsacrucl Parca.

Sc he verdade, que ha Fenix renaíeida, Primeiro morre cm chammas abrazada > Primeiro apenna lhedefereve a morte, Do que da cinza a vida lhe renalça.

Mas vós, q (em fentir daParca o golpe, Renalceis de vos mcímo cm vida larga, Mais gloria do que a Fenix tem no Míido, Tereis noscoraçocns da gente grata.

Foy fempre a voííavidataõ difereta, Taò alegre, aprazivcl, e engraçada,Que buícando outra vida, nos naõ defies Da perda da primeira a pena amarga.

He

He o voflò genio divertir as gentes Das penas, dos defgoftos, das deígraças. Deos vos dé vida paranoflb alivio,Que quem nos amotine, nunca falta.

Algum alivio hade ter a Corte,Porque fem elle muito mal fe paíía; Faltem osbayleS) faltem as Comedias, Nao faltem voflas obras celebradas.

Authorcs íerios temos, etao ienes, Que cada qual por ferio nosenfrda. jecoferios ló temos a Florinda,A Alivio de Trifles, Criftaes d'Alma.

A razaò defta falta taõ notoria,Meu Furto ( íc o juízo naó m e engana) Ho que Deos da diícurío, engenho,e arte A muitos homens, mas a poucos graça.

As fatyrasgcracs contra os defeitos Sempre no Mundo foraõ decantadas, Pois tem dizer a quem faõ dirigidas,Nao faó fatyras, laó doutrinas iantas,

Lucilho, }u\ enai, Horacio, Feriio, As compuzeraócom prudência tanta.

Que reformando a muitos noscoftumes, De feu nome deixaraõ eterna fama.

Bem vejo que dirão, que íois picante,, E que as graças a alguns ícraõ pezadas, Mas muitas vezes naõ he culpa vofla,He do juiz, que as peza na balança.

Receitais brandamente para a queixa O remedio, (a que o Mundo chama farias) Porém a dor naõ nafee da receita,De quem a applica fim, que ás vezes mata,

Como Pinto, picais muy brandamctc com rebuço, pois naõ picais às claras > Naõ fazeis íanguc, porque ovoííopico Para viver íópica pela calca.

Dá voílb pico aífumpto ás voííàs penas.. Para eíereveres obras engraçadas,Com tanto chifte, com tanta novidade, Como de hum Pinto faõ as novas azas.

Eícrevcy,ccantay, já que naõrendcs Pevide nefia lingua, que retalha Os viciospara bem de noffa vida,E para complacência da voíla alma.

Es

Emapplaufo do Senhor‘IhotnA&VintoBntndao.

S O N E T O, («a;

0 Enafccs, douto Pinto, à excelia glo-1 v (í confesjuc immortal feu íàcro alcto; e a voos do mais alto entendimentotc remontasao Templodamemoria.

Rcuafees a dar alma à douta hiftoria, que cíTc monftro veloz dc bocas cento, por campos de Zafir com doce acento publicará clarim defta vitoria.

Voa, que íem q a força ao voo abatas ncílas, que concebefte immenías luzes, pay dc ti proprio, cfiiho tc retratas.

Que muito! ic inflamando te conduzes mayor Fcbo nos rayos, que dilatas, melhor Fenix nas chammas q produzes.

D e M a n o e l V e r e m da Cofia,

Em louvor do Pinto Rem/cido.d e c i m a s .

N Elies voos queemprendcis, canoro Pinto,moftrais,

que a luz a Apollo elgotais, queenveja à Fama meteis; taó veloz rncntc bateis as azas, que remontado no diícuríivo,c abrazado, vos oft entais ao fentido,Pinto em Fenix convertido.Pinto em Aguia transformado.

Renafceis, e nas idéas,que produzis harmoniofo, _ moftrais, aempenho gloriola que bebeis chammas Febcas; fagrado incendio das veas nos dais, etn rafgos diftintos; íendo,em termos, naò fuccintos, por voos, c acentos graves,Aguia na esfera das aves,Cilhe no coro dos Finn as

D cSlanocl Pereira da Co/h.Fi»;JLt’1&

'Em louvor do Senhor Ehoma&Vinto Bmdat

S O N E T O ,

POr te ver cm teu nome renaíado , íolícita agitou azas a Fama,

íobre i acros tiOicos uâ vcr^c íaíija> cm q a Apollo inflamou oDeos dcGnido,

}a feras immortal,pois tens bebido cfpiritos vitaes da cthcrca chamma; affim teu peito o moftra, affim o acclama, fempre abrazado, e nunca confumido,

Faifcas defle incendio luminoío os Metros faó, que verte a fértil véa, com que ao Pindo o criftal fecafte undoio,

Fcnix te quiz tornar tua ardente idéa; naas para eternizarte mais gloriofo , transíormoule em ti mefrno a luz Fcbea,

T)o B enefic iadoVrancifco L eitão F errara ,

J iv

/ l ê m t f mo Jffumpto, alludindoaf\r o Gallo con- {agrado ao Sol. Nat. Com. Mytholo-

giar.lib. 5.cap. 17■

EPIGRAMMA JOCOSERia

M" "Eu Pinto, quando em vòsfallOi Digo que fey, e que finto,

Que dos Brandoens fois o Pinto, Edos Poetas o Gallo.

Mas que ao Mundo deixaõ tollo As transformaçoens confuías;Com que íois Pinto das Mufas5 Depois de Gallo de Apollo.

Do Beneficiado Francif:o Lettao Ferreira,

LICENCAS-ò

D O S A N T O O F F I C I O .A L-T? jmprim’f f m»nrw n rifr-idfOn livro infirnlíiríp Pinto Re* naicEIr>, de que he Author Thomaz Pinto Brandao, e depcis

de imprcTa tornará para fc conferir, e dar licença que corra, íem a qual na5 correrá. Lisboa Occidental, 4. de Março de 1729«

Jfy. R. Lancajire. Cunha. Teixeira. 8)lva.%Cakdo»

DO ORDINARIO.

PO le-íe imprimir n livro intitulado Pinto Renafcido, e depois de i npreíío tornará para fe conferir, e dar licença que corra,fero a qual naõcarrerà. Lisboa Occidental, 8. de Março de 1729.

D . J . A . L .

DO PAG,O.A p r o v a ç ã o d e j o f f p h 5 nr net d a S y l v / t , A c a d ê m i c o d a A c o d e

m i a R e a l , è r c .

SENHOR,

E Stelivto. que V. Maqeftade foy fervido mandarnte ver, como, as luas pt incipaes obras por ferem as q fe diripem a V.Maqeda,

de, trazem jü a íua tacit\ approvaçtó no indulto, ou beneplacito de chegarem à fua Real prcíença, na5 nae fica nellas que ceni urar,e mui»

/

to tneno* quãndoèm algúas delias a douta penna do Revedor,aquem pritnciro foraé, teve mayor trabalho em rilcar.que em efcrever, tiran- dome a mimo de as arguir; e naõ fó neftas que fe elevaraõ a taó <b- bcrano aflumpto, mas em outras de affumptos particulares, em que o picante genio de feu Author algumas vezes degenerava em morda, cidade, com que expurgadas todaslde qualquer genero Je maledicen. cia foflem na esfera de galantaria , que em muitas delias fenaó ne. rar ao Author, que nefta fórma naõ defmeircc a licença que pede. Htle he o m;u parecer. Lisboa Occidental,is. dc Março de 17:9«

Jofeph Stuns da Silva,

OUe fe poffa imprim r, v id a s as licenças do S an to O fficio , c O r . dinario,e depois de im prelTo to rnara àMefa, para l e c o n lu i r , e taxar, que íem ilTo naõ corr.rá. L isboa O cc id en ta l, í 5. de

Março de 17*9.

Pereira. Galvao. Teixeira. Rego.

TOTASsVMPTO ACADEMICO AMOR-te da Emperalriz» M aj da Rainha N. Senho­

ra , e Sogra de S. Magejlade cj; Deos guarde.

S O N E T O .Efta perda geral, magoacommua» iSua Magcftade dar queria rum pezame, q fora huma alegria»

aferde rainha Sogra, e naó daíua.Se a minha naó ha m orte que a conclua*

a fua, crer devem os com fé pia , que vcftida, e calçada ao C co hiria, com o a minha ao Inferno n u a , e crua.

E pois,ainda q pobre ,eu tam bém entro na magoa uni verial deit a Senhora, que tenho impreífa da alma bem no cetro.,

Eftimara queE IR ey fizcíTeagora, c o m q u e c f te d ò , q u e t r a g o c á p o r d e n t r o , , cana bem fe me enxergaílc cá por fóra.

2.m e m o r i a l n á t à l i c :o «j s v jt T ilf ig e H a d e .

S O N E T O .

-bt % t ? _. »»««/-\ n n n Ití» fulfill f f* m cr id íid c tI # XUI 7 - 113 ou louco atrev im en to , íem iCgunuo> dar hú Poeta indigno, c o mais im mundo, boas feftas a V oílaMageftade.

Porém , Senhor, baixay da D ivindade, im itando ao M y fterio mais profundo ro is Dcos hü alegraò dá hoje ao M undo, em m im podeis dar outro a eua Cidade.

M üdo pequeno fou, p o rém no intento dc fcftejar hum Bxy D. joaô o Q uinto , naô poffo fubir mais de penfamento.

P orvòs por Dcos m e m orro de famm-c p o is d c C h r i f t o h erd a is o M a n d a m e n t o ,o Q uin to hc naó matar a T h o m az Pinto.

A hurviá

RENASCI DO. j

<iA huma Vtorfngular, que meyo por lo as mãos aparar na melhor da Serenijjma Infanta, a Senho­ra T>. FRANClSCA , e querendo-a prender­ão paio lhe cahirao asfolhas.

SONETO 3.

T Aõ pompoza clía Flor na louzarm s tie maõ cm maõ, as palmas ie levava*

que vendo a eílimaçaõ que íe lhe dava } cuidou que muito mais fe lhe devia ( ^ as flores afpirou à Monarquia, 5

fó porque de fermoza arrebentava; m;ts vedo outra melhor, no que infetava deímuyou , vio-fe morta, e ficou fria :

Ddfoihoufe do adorno có que efteve na gala mais florida dc feusMayos, mas à gloria chegou a que fe atreve j ’

E he certo que ficou por taes defmayos. fria, da quellas mãos na pura neve, morta, da quelle Sol nos bei los rayos,

B

'4 P I NT OFd&enclo Annos huma, grande, efermozA Se­

nhora.

SONETO 4 .(bora,

I J U m Anno tem mais Fills!Tenha cm) 1 ^-q talvez q dc hü menos mais íe preze; com tudo, naó he bem que fe de (preze damos hum anno, e dia, mais de Aurora

Cá pelas minhas contas, ne hum hora tem mais Filis; e he jufto que me peze, que vendo-a ainda hontemnos feus treze, medigaó, que dezoito faz agora :

Digaô q tem de Bella os feus quinhetos, qfaõ outros quinhentos mais de ingrata; ou que fem conto íao feus luzimentos>

Mas dizer q Annos cumpre,he patarata; que Filis nunca foy de comprimentos... nem faz Annos, nem vive; qucío mata,

A huma

RENASCI DO. ' j<iA htíma Fonte, que j>arou com m eio ie hu Le­

no, que Ina a beber nella: foy afiumpt o Acadêmico,

S O N E T O s

c . Ora bramidos os ares confundindo „ as agoas com íczoõs ameaçando f

o f o g o com os olhos fuperando, e contra a terra as garras efgrimindo

Dizem, que efteLeaòvinhaíahindo} c para certa Fonte caminhando; a qual, de medo foy, arrecuando, í c rne do pòdc ter quem fc cfta rindo:

Eu,pois , do talLeao fazendoeftudo, acho que afluihria, andando, ou quedo» a ter ra, o fógo, c o ar , no carrancudo;

Mas que a agoa o temeílè,naó concedo, e com a mefma Fonte provo tudo,porque U naó correu, naõ teve medo,

Bii debit

<5 PINTO<sA chegada do (ardeal da Cunha ,que foy no did

em que'fazja 3 3 . annos LlRey

SONETO 6

Ermoza pompa! Grave bizarria! Nunca o Tcjo ie vio taò Oceano!

Porem fe o cruza Portugucz Romano, e C ardeal da Cunha, que feria ?

Seria hum mare magno de alegria; dando-nos o Monarca Luzitano , no dia vinte c dois do melhor anno, do Anno trinta e tres o melhor Dia:

Mãdou-oa Ro ma ,e foy correípódcncía, defpedindo o com tal capacidade, recebello com tal magnificência:

Viva mil Annos S. Mageftade,c tenha graça tal fu.iEminencia . que à gloria o leve íüa Santidade.

RENASCI DO. ' jVendo cirande Cabello louro, e igualbelle&a da

Senhora çJSCarque&a de Tavora,

SONETO 7.(lo

n ous extremos vi hoje,a qual tnaisbeí-( em huma(bcza-aDcos)vivapintura;

porque no bom Cabcilo, e boa figura _ mõ ha do Sol mais louro parallelo!

Bem podia cegar quem pode vello, por naõ ter mais que ver, nc mais ventura» bc couza grande a lua fermozura!Porem naõ he mayor queo leu C abcllo

Defte marde bellezadcfcendia, por mmadelcubcrta ,hum Rio douro, que com ondas as coftas lhe cubria;

A os mais quilates ferve de deídouro jc orque fe o So! a todo o ouro cria, cú.uodu hehúSol, todo die he hit Ouro.

Bin £/-

8 P I NT OE Jlan do o Conego d a P a tr ia r c a l D. F ra n c if -

co da C a m e ra n a P c r ta r ia d a s D a m a s com a Senho­ra D . Iç n a c ia de R a u a n f ta i r m a , e f ia v a ta m b é m SD. L u i z , de P o r tu g a l a fif tf.indo às v e f p eras dc N o t- •voj e c a & u a lm en te f e a ch o u a ln o A u to r

SONETO 8

H Ontem vi, quando menos o efperava, o Ceo aberto, em huma Portaria;

aonde íummas graças concedia húBifpo, q em tal teplo então le achava:

Vi que Lifio também dalli bifpava. neffe altar que adorava, o que queria; porque do templo o adro permittia, o que a face da Igreja dilatava:

OBifpo difpenfava no parente, que afuaobrigaçaõ fizefie Lifio, rezando à fua Imagem, mudamente:

Eu, que acolyto era ao beneficio, deilheosamens, louvando reterente, Bifpo, Imagem, f Irar, e Sacnhcio.

J o f t t -

R E N A S C I D O . I

Ao Funeral do Conego Joseph Diony&io na Igreja dos Pauli ft as alumeada toda de (dveir as c toda vejlida de Lunges.

SONETO 9.

T Anta°bra fojeita a hum fo còrte!A Tanta maquina a nada dirigida!

ja vcjo, neftamortecnnobrecida, quctudo nefta vida he defla forte,

Ainda naõ vi Igrcja nefta C ortc, de luzes, edeíombrastaò veftida!T anta morte fe dá a huma C o Vida i 1 anta honra fe faz a hu ma Có M orte!

Naõ invejes, ò pobre, efle ornamento; que honra melhor terás na Eternidade, vcilindo íó da Igreja o documento ;

Ella te cílá pregando de verdade ;lembra-te, homem, q avida he hú ló veto,< tu doo mais ícrà ventofidade.

B üij Q u a -

I O P I NT OQueixam-fe todos os Defuntos, que houve na•

Epidem ia , quepadeceo Lisboa o Anno de 1723»

SONETO 1 0 ,

XT Os a baixo affinados pela terra,clamamos,de q cm tanta mortandade

naÔ tenha entrado Medico, nem Frade, e que fó faça a morte aos pobres guerra!

Dirà a Morte, que pouco, ou nada erra, em deíviar de toda a enfermidade adous , quefaõdafuafaculdade; porque o Medico mata, eoLTadc enterra:

Replicamos; q as Tubas có frequecias, andaõ cá por eftreitos peccadores, fem fubirem às largas conciendas:

Dirà tambè, que os taes Ía5 matadores 3c he precizo que tenha dependências a Morte com Miniftros, e Senhores.

Paciência, hd-

RENASCI DO. ,,, Na mcfma Epidemia todos fepegàrao co S .Se­is ajhao can grandes ef molas; efquecendo-fe de S. Antonio; e he o A (sumpto.

SONETO ii .

N 0vidadc mc fãZ,> q cm ma! tamanho e a PK1UC de ícr jà contagiozo,

prenra nos milagres prodigiozo, a llum Sant0 P°rtuguez hü Sãto eftranhoí

^ endo da morte eíle cruel gadanho pata quando guardais o milagrozo ?Ulhay> meu Santo Antonio gloriozo, que S. Scbaftiao vos tira o ganho l

Se a Portugal nas guerras defendeftes. e nas fomes, das guerras procedidas 5 vaW he tambémncftas,quafi peftcs;

, teemeoufas furta das, ou perdidasav! vogado (omenteierqidzcííes qvc m a y o r perda, ou r o u b o , qo cias vidasé

d,. f 'rAEJ OfS*'

II P I NTOAo Conk de Vnhao , no deungano que teve,

de nao herdar a Ca&a de Aveiro.

S O N E T O i2,(mos;

n U e he iffo.IlluftreCódc,cfmorece-(- • 1 ----v<-Ammo,qainaa viveu vunu

bem vemos que era ter mais hum Ducado;mas que era para o dar também labemos;

Se aefperãça morreu,naõ nos matemos; tudo decima vem determinado;Deos que aííim o difpoz íeja louvado, c ou poríim,ou pornaó,graças lhe demos,

Se a luzida ambiçao q em vós íe efeonde era toda dc terdes mais dinheiro, nada à voffa grandeza correípondc;

Bem fabc dcLisboa o Mundo inteiroq fó por mais moftrarvos deUnhaó Code,he que queríeis ier Duque de Aveiro.

1 ‘ . A hunt

R E N A S C I D O .

A hu qua ft diluvio, que hou ve em Lisboa a 19,

de Novembro, cm que fcperderao totalmente qua- > enla Navios no Tejo, e naufragarao todos as em­barcações, que nelle j e achavaõ, com muita min a", tinha havido poucos dias antes hum Terremoto,

SONETO 13,

H ° m,Cra ficl ChníEiõ , pio, c devoto, que dizes a taõ rápido portento ?

Viíte na tua vida tanto vento?Lede no teu moral cazotaõ roto?

Osl;ii rações que vès, de Lede, c Noto, avizosíaõpara mayor lamento;■lontcm hum Terremoto taõ violento! elojc taõ furibundo hum ventimoto!

O tu Baixel humano, que imprudente ao mar temetes, da ambiçaó levado, a v‘dado cipeélaculoprezente,, Naõ tequeixes, le fores derrotado,

d ' r ■■cofta 110 fogo eterna mente 5 F'-Ur de Agoa, Terra, e Arfoile avizndo.

A o A.Las-

14 P I NTOAo Maufc'oleo do Papa Clemente X/. na Ma­

triarcal de Lisboa.

SONETO 14.| 7 Sfa pompa, que ves mortal feitio;

^ r n m o n m r»,-l« /-1 .1 U J .W U i j . j w u i u c i u J L ^ U U V r t U a J

de pinturas antigas adornada, tudo de morte cór , tudo íombrio;

De hum V araõ ta5 Clemente como pio muito apenas a cinza tem guardada, quc a Morte a todos mede por hum nada, quea Parca a todos corta por hum fio:

Por mais q hoje em brocados fe enthefou-( húa Caveira hc fó, q honté foy Papa, (ra,( porque a verdade aclara o q a arte doura)

Alerta, pois, o tu da Magna Capa, que também a navalha roçadouraC o r o a s , M i t r a s , e T ia ra s rapa.

X i 1 ■ ■ /' -

R E N A S C I D O J -A 'víZjOSparafolt*eiros, q u e q u i s e r e m v i v e r .

SONETO i S

T *odoo Solteiro quecfteMundo loera' e porcazarje, aílczoado berra, " *

confidere,queV efte,Fome, e Guerra, o Diabo i he dà, em darlhe Sogra >

A doce liberdade fe mallogra „ de todo o Paraizo fe dcíterra 5 c de viver em fim, os termos erra, porque em vida fe enterra, fe íe Enfogra

lerá Sogra , a b w i t io , & ante bruxa ? iu a Sogra, a d p erpe tua m rei taraíca;^°Sra5 p er o m n ia / e c u la proluxa ;

Que hcPcfte, no Contagio q lhe enafeajhe Fome , na Mizcria que lheembuxa jneGuerra. no r. u.. -

16 P i N T 0Carlos Quinto, afiU nâo at f ms mef mas Ex­

équias :foy a jjtmpto Academico.

SONETO i6,

V ? r o leu Funeral a M agcftade,1 legundo a opinião da douta gente ,

fby büa.em C arlosQ uinto,acçaó prudéte, tm sbem podia fer tam bém vaidade;

Para m im foy pequena novidade, v e rv iv o o íe u R e a lC o rp o p rezen te ; fe acazo o viíTe, eftando da Alma auzente, entaò feria grande habilidade:

Defta fu nebre acçaò ifto he o que Onto,; e fefor nas heroycas celebrado, cm todas v e n h o , c nefta nao confi n t o ;

A ntes tenho por cazo bem trilhado V cr feu enterro em vida C arlos Qui n to . que o meímo pode ver hum Enforcado.

A ,

E E N A 5 C i 0 0 . ijA Sè Patriarcal pelos confoantes do Soneto ,

Fermo&o 7 e/o m at, quad differente,SONETO i 7.

P Ermoza minha Sc, quaó diferente., 1 daSè V dhatcvès,agora, cviíhd Tu may a-egre eíhàs, cila rnuy trilhe; cila com bem pezar, tu bemeontente;

,A tifertilizouteagroílit enchente da qucllc braço,a quem nimgucm rciiftc; a c i l a deuihe à breca, em que confide ficar de pe quebrado, e dcícontcntc:

TeusConegos, jà íaô participantes dos bens, qqué lhos deu, tambéos dera a cs outros, ie os acbára íèmelhantcs;

Mas cites formão câtal Primavera,que vemos a Capella, que era dantes, crecer raais.. que a Sc, que dantes era.

!§ P I NT OA o Conde da Ene eira, que deu hum Relcgio

ao Autor por prêmio de hum Romance que fez , no Çertamen Pal et arcai.

S O N E T O i s

r Ao horas, íabio Conde,no meu prazo, ^ dadas peio Reiogro recebido, de que íe moftre, cm tanto, agradecido, cfte triftc Poeta, em tudo razo;

Juiz recto, c piedozo, em todoo cazo, jfoisdelmpuíheta avifta bem metido; por dar cfmola, a tempo conhecido, ahum pobreEnxotacaens deffe Parnazo.

A ttento irey na corda permittida, que fenaò defconccrte, dentro ou forà, oMoftrador davolla acçaô luzida;

Para que em deferevervos ícm demora , ( fc a Mufa a cada canto, me convida ) o Rologio mo diga , a cada Hora.

M e m o -

RENAS CI DO/ I pCMemorial em fe de off cios, ao Secretario Ber-

tholameo de Sou&a Mexia,

S O N E T O i o

/ \ 117.0 annos c mcyo cm mar. c ferra . ^ fcm interpolação, baixa,nem nota, tenho fervido ao Rey, com fé devota, como confta date , que o mais enferra;

Mil fomes, que venci, por vale, e ferra; duas viagens, conduzindo Frota, huma Batalha, naõ de Algibarrota, porque dia foy com pás, c dia com guerra

Efte o Serviço he, que tenho feito > porque o Habito peílo, e andonífto há tres annos e meyo, fem efteito;

Sempre efpero o Mexia, para ifto;mas naõ cuidem , que iou na fé íoípesfo, a quedel-llcy, deípacheme, porChriflo.

C ' 1 M t-

2 3 P I N T O

z J í l iJ f a o M i h t á n t e . '

SONETO 20.

H vos q iois no mundo per duiarios, ^ fe he que quereis falvarvos Pcnitétcs, con tellaivos hum anno per tendentes con iultanda a dois doutos Secretários;

Havers de jejuar des pachos varios, pondo-vos arraftados, naõcorrentes; que neífa diciplinadeabílinentes,ao Ceo vos levaraõ taes Miílionarios;

Hide atrás delles, femprecom gemidos, reconciliando, a os poucos, nas cicadas aquillo que vos pregaõ nos ouvidos;

Porque offreccdo a Deos tãtas paffadas, creyo que là no fim, de arrependidos,haveis de dar em vos rail bofetadas

RENASCI DO. 21A os que lhe fedem <verfis,j>or diante, e dtum

mal dellesfor detrás.

so meto 2i.(lais-

^ T An mo A iroic t \ h ™ Ac :«, L\I ^ 3 * Wv»3 vj V11J 11J1JLU let-

■ Caensj para q ladrais, fc naõ mordeis?Bellas, porque atirais, ícm que acertais? Porcos, fern que íòfleis, porque roncais ?

S c hc porque \ críòs faço , raives mais, ou melhores, talvcs, que os que fazeis; Brutos, para que delles mal dizeis,«c os quereis, fe os pediz, e os trcskdais ?

Eu crcyo, que o motivo he, hü de dois, ou cnveja,deverquenaôluzis, ou rcccyo, de arder nos meus faroes,

„ PoiSjCacnSjíb vos naõ dou ,porcj latiz ■A P;1S ’ “ vos i»õpico, porque o íbis ? o. Porcos, íc comeis porque grunhiz?

M Impa*

22 1* 1 N T OImpaciente de lhe nab darem o Habito de Chrif-

to ) e arependtdo dos reqeurimentos.

SONETO 2i.

"DOisavida prezenteefta perdida,1 formemos a fatura da paífada ; a pertençaõ acabe, bera fundada, fobreaqueüa medalha mal fundida;

Eu que eftava também na minha vida 3 paífando a muito alegre, com meu nada, quem me meteu a andar com papellada, que naõ he lida nunca, c íempre he Lida >

Mas, que fazes,Thomaz, té pacieníTia.; c confolatc aqu i con tanto focio, mais antigos, que tu , na im pertincncia»

A guarda hú pouco mais.fufpéde o ocio, porque Habito melhor,por confequencia teras aa concluzao defte negocio,

Subvenite A mgr .

RENASCI DO. 23A morte da Junta do comercio, emterradana

Coroa.

SONETO 23.

T N Eu fima vida, e juftamcnte a atroa, aqucíia mai criada, cbem naícida;

que dava a tanta gente a alma, c vida, c por quem hoje tanta íc dezalma;

No enterro geral nao levou palma, por fer nos fêns defmanchos conhecida, mas coróa levou ,bcm merecida:K eqniefcat in p a c e , fempre em calma:

Bem a pezar dos Pays, por que foy feita, paílou a outra vidacfta defunta ip.de já tera dado conta cftrcita;

O mal de que morreo,naó íe pregunta;pois todos a huma voz , foy bem desfeitaTe tu .■ nu uezaò, que íet mal Junta

Cui i t u .

24 P I N T O

A hum.i Dama co duas Efpadas, na Prociçao dcs Pafsos }foy oAjJumpto A cademico.

S O N E T O 2+.

M Ovida da devota concurrenda," ' ~ cm feus paifos, vay r iles tao gaiante. que atheveftidadcDefiplinante tem graça, tendo culpa na aparcncia;

Cuidara alguém que o fezdec5cicnaa; ou que fe confbffou talvez de amante j e naó foy fe naò íó de extravagante, para fazer fermoza a penitencia:

Em boa proporção ,deefpadanua - decorpo ayroza, e recta de paííadas hia ferindo as almas pela rua;

E a naõ levar, cmtaô, em bainhadas as de fcus olhos, p o r piedade íiia, m a t a r a t o d o o m u a u o , a s c f t a c a d a s

% ■

E E N a S C I D O 2 $

Difpeclidít dos Bayles}em Quarta Feira de Cin&a,

SONETO 25

A Dcos PJumasGaloens Gallas, eSedas, a deoi Sayas, Donaires, vans Arpias;

adeos Mâícaras más, boas e trias» adeos Mudanças,Saltos, Voltas, Quedas:

A Dcos Carne, que tanto nos enredas, deixandote comer por tantas vias ; adeos Bailes, athc quarenta dias; c para nunca mais, a Dcos Moedas;

Adeos tanto iadraõ ferra morenas adeos outra melhoríerra nevada que de aturar a buxu nao tem pena 5

A deos D.Thcreza traquejada, c adeos todas, cm fim, grande, e pequena,q fois Cinza, lots Pó, foisSõbra,e Nada.

Ciiii A!m-

2Ó P I Í T O

A h u m a D a m a q u e traeeia h u m a M e m o r ia no dedo, c u ja p ed ra era h u m a C a v e ir in h a ,

SONETO 26.(tona

A Morte cm mãos de aneis? He boa mb - ' Parece que ao morai Filis fe indura, feni ver que fe defmente de Divina, na lembrança da vida tranzitoria;

DeCaveira na maõ, couzahe notoria, que apregar de Mi (Tao fe detremina; porem como lhe efqueífe o fer benigna, trazendo fempre a morte na memoria r

Oh naõ vedes; que Filis nefta Corte a todos faz cm cinza, e quer ingrata. dati he hum M e m e n to hom o - dcila lortc J

Masnao, que de matar fomente trata-; e a Memoria no dodo, com aM o; te he 10 para lcmbrarie,dequc mata.

' A D.

R E N A S C I D O . £ *jjjfi D r jiz x to da 5; Orientai,

S Q N L T O 27,

Q U eierá iftc Os Sinos comcnlcyo í . 0 Povo com noticias queefneciilla!

A nobreza com vivas, que articuíla ?A Se nova logrando u yelha em chcyo 1

(LembremeDeosembem) Hccj jà veyo 0 Poftilhaõ, que corre, voa, c pulla, coin efla dezejade Breve Buliaque parre]a Se anrigua pcllo meyo ;

Ma Sc da Corte, íua Santidade , certo que tem obrado maravilhas, por mudanças que fez à da Cidade;

■bras acomodou ambas, como filhas, pondo a velha, na Ruadaamctadc,

eu- . oemna 1\<>z 1 d a s p irnlhas

aS P I NT OÂa Governador Luiz, Cezar de Menczer,

na Rabia, e fando o Autor Rco [>rezc.

SONETO 2 8 .

II? Ortcmentc, Senhor, tem conipirado L contra o pobre Thomaz a Sorte dura., pois naô pode alcançar lua Soltura, por mais que tem pedido, c tem chorado1

Pedro pcccou , mais bem afortunado ( que tambem hà peccados com ventura) pois bailou velo Chrifto com brandura, para logo o tirar daquclle citado:

Pcccou Thomazjmas chorabê fentidoi c pois coníiftem fó luas melhoras cm que o vejais, Senhor, enternecido;

Ponde, naô permitais paííc mais horas,osvofios olhos neíle arrependido , e veja em Si, q uai Pedroo egrcffm firm,

A 9

R E N A S C I D O .

Ao mtfmo Governador nmozjo m otar.

29naofoí~

SONETO 29

P Onera mim tem oodio acomulísdo ^ culpas, queinda naõ tenho cometido, rnas aindaaílim, proftrado carrependido me acolho a voííos pes, como a iagrado c

Confeílando, porem , o haver errado, tereis, por mim, òCezar, conccguido hum poder, ao Divino parecido, íe for de vósabfolto omeupeccado:

O crer que vivirey corn mais foltura naõembaraíle odarmea liberdade, que entaõ fica mais preza, c mais íegura;

. Pois ninguem negar pode, cõ verdade,q hems is torte a prized, 01,d to mais dura, • fica com o favor picxa a vontade

Ç jte i'

30 P I NTOOívjx.itnfedons v.tltnus, dstÇrohibiçaodas A-

d.t? is') compena de Asoytes.

SONETO 30.

nr* ( J auc mevcs afim, oh Caminhante, 1 fern a filha da May quc foy donzclla;

k acazo vas brigar, iiado ncila arecua, naõ palies adiante;

Efc a trazes, talvez, para quc cipante , cm feita parte podes cfcondela; cj com qualquer verdugo, outro fern eíla tc farà dar à íbla, extravagante ;

Ella he boar Sc hc ferto cíTe recado, raorreo ( Dcos lhe perdoe ) efte v alente > a Deos rYd.vz,ii o Alundo eita acabado

Valha o Diabo o medo impertinente .pis por naõ hi r em P a fios açoytado , tleixo de ler de eipadas Pemtcnte ! ^

RENASCI DO. 31A huma Dama que tinha Saudades de Si foj

Afumpto Academico.

SONETO 31 .

t"' Qm n •a r\"t•1 mia /-?/vt7rJn n/i rr-r'i -i ■ i Liii» ju>uiiJU vjv»v. uv^j u u j..tm.via j' f pois que tantodc Siie defcuidava , e tanto de Saudades fe matava, que íua May cuidava que morria: }

Dizem que em Si cuidando todo odia, taô Narciza dc Si fe namorava, que dc perdida, em Si fe naõ achava, fc dentro no eípelho fe naõ via:

Porem querer por Sí tomar a morte, io huma molher louca tal fizera, nem íe vio outra ainda deita forte:

AíTentemos que a Dama, doyda era;pois nenhuma teria .. nefta Corte. Saudades de Si, ícemileítívera.

3 i P I NT OFatendo Annos o Conde de Sao Vicente.

SONETO 32,

| 3 Ois faz Annoso Marte Luzitano ,* hp mny jnflv) CjUC O 1TÍCL1. SoilCtO tCchcl i pofto que feja aflurapto, eraq íc empenha o Reverendo Apollo, e tal Caetano:

(no,Emvòs,mcuCõde,mais, ou menos An-

naohe couza, Senhor, q và, ncra venha ; q hum S. Vicente Cabo, he huma penha, que reziite do tempo oiinpulfo humano;

Muitos Annos fazey, fempre valente, ( apezat das invejas eio Diabo) e voiTo Pay que os veja, alegremente;

Porque o tal Reverendo, c cu q 0 gabo, vejamos fempre Cabo, ao S. Vicente,iem ver do S. Vicente nunca o Cabo

RENASCI DO. 33Ao Senhor Manoel Helles Marques de Ale­

grete, traduzindo, de Frances emPortugtiezAm Tratado de Cavai lar ia, que Dedicou ao Dttqm D. Jajme,

SONETOin cn, .4 ;/n,. T... .).• j|_| lJí^ vm ^is-Lam ciUC 1 UiUiIAIUU

* porvós Marquez Iiluilrc , acreditado,naó ío agora Hca bc ra tratado,mas também icu Autor mais entendido:

Ache fendo a D. Jayrae offerccido, creyo que o Livro vai mais hum Ducado, porque hum pode correr, ncíle cilribado, outro pode montar , dellc iníhuhido :

Oh quem de meu aílecto a íingoacerta poderá Traduzir, como mc toca, nefta,era q hoje vos louvo,cõ tal mingua.

Mas fe perde por curta-e pouco experta,vos* que duas trazeis, numa íd boca..•» feitas fupureis de huraa raà Jingoa.

Q u e -

34 P I N T OQuexao-fe os Cavalherc Portuguefes, de lhe

çrohibirem os Tabacos Ca .lhanos.

SONETO h -

E Ste fero Edita! ,que era aitavoz ,

nospregaò nos Narizes derevez , he papel dc Tabaco Portuguez, que farà efpirrar qualquer de nòs;

Deu hum afiopro tal> quem tal propoz, que os f u m o s Caftelhanos nos desfez , de tal forte, que jà por huma vez, fó Mementos feraó os ditos poz:

Mas venha muito embora eífe cartaz, que fe nos cheira mal o bem que diz > a alguém íabera bem, omalque faz,

Venha ,qqucm naó tomaodosBrazis, tomar pode eicondido eífe que traz, e ficar muy Senhor do feu Nariz.

AU-

R E N A S C I D O .

[A EIRey Seleuco, tirando hum olho aJ?, porque nao tirafim dois afeu filho; joy Afíimpt o Acade~ mico.

SONETO 35.

T - x r \ „ T ____ . ._______ T T -.r tL - ..-__ 1 1i tu s iuciLus, pui iiiiLuuiivtTUíiucra, * ' nos proponed Aí1üpto,de importu- para quien baze veríbs, en ayuno, (no; no íe que mayor mal darfe pudiera,

Dize,que un Rcy,un ojo à un hijo dicra? por nò querer mirarlc íin ninguno; quando bay Hijo, que a íí facarà uno . íblo por ver al Padre con dós íücra:

Yó difeurí fobrecllo; masporChrifto, que dei mal dc ojo ya me huviera mu eito, à no eftar de dós Higas bien previfto:

Pero no tengo elcafo por muy cierro;q hijo de Rey,(in ojo, aim no leneviftíx, Padre ú , Coronado ,alguno hay Tucrto.

D A !m

36 P I N T OA huma D m t cfue cortou os feus Cabellos

Quartet Feira de Cinz>a) foy afumpto Academico,

SONETO 36 .

^ OitarCloriosCabellos, cm faude ,— lie muito, pois cum elks nos prendia;

mas fe q uer, em virtude do tal dia, toiquiarpeniamentos, Dcos a ajude:

Que julgando-fe p ò , dc vida mude, t r a n f e a t : mas foy tudo hipoeryiia, porque todooCabello lhecahia, c da neccílidade fez virtude:

Entendeu que íe Cinza lhe puzera , oCabello de todo fe hia embora , e fendo Calva, outro Memento era;

Inda lhe digo mais,fe neífa hora, o Paire com polvilho a cinza dera, eu fio delia , que em Cabello fora.

Aos

RENASCI DO. 37A os Fl dalgos que Je n&o IcmbràraÕ do Author

em hums doeu f a .

SONETO 37.( xanue,

MEiis Fidalgos , por força hcidcquei-___no. : ___1. A j . ...... ..... :__

- c V U Ü U i 1111 VJK JU Clc ld 1 m u U C ULI V 11 U i Ç j

dcmma licença , pois, de dcípcdimie,(mas nem me darao ill o, por naôdarme)

(me!Tao promptos,no feu bem,para chamar-

Taõ tardos,no meu mal para acodirme! Irra; querem lograrme , eperfuadirme! Arre; c nao quero eu dezenganarme!

Bem conheço q alguns honra mederaõ, neíTa pontualidade que moftràraõ, quando noticia do meu mal tiveraõ ;

Mas eu nau culpo aqui os que faltàraó, antes de algums me queixo que vieraõ,pois muito meihoi fora, que mandàraò.

D ij Ao

38 P I NTOAo dcfpenho de Pbaetontejfoy Ajfumpto Aca­

demico.

SONETO 38.

|7 Ste Filho do Sol, cite Morgado,“ de andar era Carruagé, preíumido; cfte por força de Aftro, muy luzido; e muy cego, também por dezaítrado;

Efte, como là dizem, mil fadado, ecomo por ca contaó, bem naíeido; boje feacha apagado ,e deleahido; mas tudovay, de íer mal governado;

Meteu-fea andar em Coche, cójaétãcia de governar fogozos, fem prudência, foltando a redea à fua extravagancia;

Mas dou cos Burros na agoa, da imtni- e do baque abrazou taro a íubítãcia( nécia; que lhe na6 labem de outra dcráendcncia.

Def-

k e n a s c i b o 3j2Defer eve as Qutntas dc Bellas, fan embargo

de achar as frutas awda ner des, ca grane Quinta do Conde de Pomi)aro.

SONETO í 9A S terras canto fartas, c famintas,

nnopnMv knic o p t~r\f~1 *..... *.'v.iwjviihw evoviar» íau JBellas Peras por verdes, c amarcllas! Bellas gottas, por brancas, e por tinta s !

Bellas uvas provadas peias pintas! Bellas Caças,' por càens, e por cadellas! Bellas Cazas por portas, c jancllas!Bellas Agoas,por Quartas, e por Quintas:

Em fim, por vir de Bellas namorado, logo ( mais por amor, que convenienda) cora huma que lá vi,fiqucy cazado;

Declaro que era Quinta,em concienda mas dc talferinozura , e tat agrado ,que [fade fer das imis a Q uinta Eilcncia ..

F m k t r o , D jjj J f )

40 P I NT ©Ao TeMpiO Ail FfftWi#} Arfmriàdo pOr'rJM '1 (t’-:

rmoto>foy Ajjumpto Academico,

S O N E T O 40.

/"^Uerendo a terra verfe aliviada '^Ldeffa fuDerfticaõ . aae dezatina,' . L > * X

q u an d o , ora levanta, ora declina, a gente, bem , ou mal afortunada;

H u m dia que fe achou mais carregada dos flatos que entranhados predom ina, a rro to u , com tal fo rça , huma ru m a, que deu com a F o rtu n a , em tudo nada:

O s veosdaquelle T ép lo q u iz ver rotos,

a ie a D eoza taõ falfa,eim portuna, ouveffe quemfoíTe offerecer votos»

Saiba agora, no mal, o bem q im pugna, e crea, j i lugeita a T errem otos,que ha Fortuna, tambe contra .1 Fortuna,

A Z m •

R E N A S C I D O . 41A Z tufis in [igne Pinter ,quep finja degra

ens foy AjjttmptoAcademico.

SONETO 4 1 .

•SJ Aò he obra muy pia, fe ailim pafia, puntar Zcuíis de graça, por deftreza •:

que ailim , o naõ ter preço tal riqueza,L podo que com mialma ipunhaem praça,

Se acazo eite GentioachaíTe traça, (imitando ao Pintor da natureza] de dar à fua fombra mais clareza pintaria com alma, e bem de graça:

(dos,Aqui eftou cu, q em rafgos, e emapò-

por obras, por palavras, por acenos, Retratos fiz de graça , por mil modos;

(quenos,Ou bons, ou maos,ou grandes ou pe-

Chriftanmenre acabados os dey todos •accptQ humíó,qucfoy cum olito menos,

Dili]

41 P 1 N T 0Ahum a Dama qui hindo a efcrevtr ao f t m -

mante burnt carta de desenganos, f t? lhe queimou 4penna na L us'.foy affumpto Academico,

SONETO +2.F Efta pobre mulher, fermoza ,ou.tea,

/ q papeis dezenganos embrulhava alguns que apayxaõ propria lhe dictava, outros que lhe dizia a pena alheya;

Em huma noite, jà depois dc cea, foy aeodir à luz, que íc apagava; mas como amor então hc que atiçava, lez-lhe queimar a penna na candea:

Porem íe,eomo eu ouço, ella fingia dezenganos, morrendo decioza, e vivendo tambem do que morria,

Fenix era; c nao deve eftar queixoza, fe acabando da penna que lhe ardia,renafcia com outra mais fogoza.

Ff»»

ii F; N A S C "i D 0 . '43Venio Alexandre que him Soldado e fava

tremendo de frio, o levem para a feta barraca, e o mndem afenrarjunto a Stjfy afhplo Academico.

SONETO +?.

T Inha Alexandro o exei\ ito acampadotui nuujit uvatmuii i iiMiivOlLa jonde corria hum frio ,Jaoaneira, que faria tremer ao mor Soldado ,

Vendo , pois, tiritar hum ma! íaruad y toy bufcallo, o Monarca, de carreiras c na tenda Real lire deu cadeira; que capa, era o favor mais atlentado ;

Alas oli, que ifib naõ deve avaliarfe por falta, antes do pobre piezumiríe que podia, na honra agazalbarfe;

Edo Inverno também pudera rirle; pois quem jüto d’ ElR cy chega a aííct;iti c•Hc de crcr qt>c tniibcm pode tub do.

A IT

44 P I NTOA Pericles, que ele fendeu hum.i fermoza Da­

ma , f i com defcubrirlhe a car a a os mats odMdnif- t-'cs j que eflavao para dar-lbcjoitcncade snorte, joy oAffumpto Academic,\

S O N E T O 4+, T ’E tnm ao, Pericles; olha,antes q obres,

Ó olT'l !17J h e l i ' - l l l m c l i n n ' . i . S J . , .4 --------------------3 - ' ~ -*»*•..»«.-» w v u u v iU il)

c lendo pelas partes re q u e r id a ,Ecarà mars culpada, is a d d co b res;

Suppofto q os M iniilros fejaõ nobres, Jiao lhes des v'.fta em cauzaappetecida; q nc eu vi mai autuadas, nefta v id a , por íerem defci bertas, muitas po b res:

Mas qiu v m ? N aõ temos feito nada; porque cuide) qu o cazo era cm L isb o a , ond he fó 'fanmda , a mais tapada;

M oílra, Pericles, cífa cara b o a ; que fc, v irgem , for mal fentenciada,Mártir nppdlará para a Coroa,

A Ei-

RENAS CI DO.A ElRey de Jragaõ, que vindo da Çmrra,

Í eri do co hum a Sett a her vada, ordtnáraó os cEtic- duos, que lhe chupajjt™ lew o Sangue 5 emo que­rendo ninguem fa&cllo, com undo do veneruq a Retinha fu.t mulher o fc&, tie qtse rez.ulton (arar elle , e nan perigar eld' '• foj E j t, V ; to Jtcackmico.

SONETO 45.Ç'- Hu pat Sangue, a veneno reduzido, ^ foy huma , bom Rea! temeridade ; ò.h Mulher, òh Amor, òhDivindade, que pia, amante ,e Milagroza has fido I

Ficar viva , depois de o íeí bebido . he prodigio, he vaJcr, e he raridade! Suppoíloq ha Mulher rxíT C idade, que beberá o Sangue aí eu Marido:

O chupadora fina, com efíeito, que hoje do odica Setta, em mortal ancias mudas,Frecha de Amor para teu Feito;

Poílo q ha Sogra aqui. de tal ccnflãfio, que hum Sao Sebaftiaõ, genro tem leito íó p a ia Uk c h u p a r to d a a íu íta n c ia .

O r a íh u p a , D r f

4 6 P I N T oDeJptiefei.« Academus.

SONETO 4 6 .

A Deos Aulas,Lições, Cadeiras,Letes,1 bancos, tripeça, atientos, cforfuras >

a Dcos graves, jocoxas, vans figuras. cm vetíosbons , cmaos, Lios, equentes

 Dcos papeis em proza, impertinétes, que a fé perdeis, por grandesefcrituras, c aDeos Frade Poeta,que às eícuras, iá moftras de Camões huns accidentes ;

A Deos minha tarabem pobre Thalia, vaite; c fe perguntar o Irmaõ Apollo como fjça C.m Lisboa a Poezia?

Refponde-lhe (Salvandoalgum miolo; que he como Santarém a Academia, donde quem tolo vay, também vem tolo.

A r. e-

K E N A S C I D O .

o A z ' i f cs d o jcg o d a k á n c â ,

O I T A V A Sí

/■“Y H tu pobre novato , que ncíía arte foiiias quarenta eo ito , buícas ícitesj

tem m aó; que quero niílo aconklbarte; porque no mar do Jogo defta C orte , iócu mais que n inguém , pofío guiarte, pofto que me pcide flc por tal n o rte : mas para Cartear bem acívertido, pilloto exprim entado, he o perdido.

2Para que nunca ptagas, à alguém rogues?

por hum Santo que leja ,ten aõ rejas; k for Banca , m õ digo que m o jogues, jegar he que te peço que naô v ejas; q vendo,haz de jogar;mas naô te affogues, m tn , íêdo menos que cu, mais A fno lejas: porque ie entrares Ponto P orfiado , lahnas dclcoíldo , c mais quebrado.

CXiá-

48 P I N T O

3

Q U a tro caftasdcbeftasfazem P o n to ,dos quaes quero que fiques av ifado ;

o p rim eiro , he hum Afno,m uy apon to , ~ h,___ r~ . . C , mU i t ' Z U U U W j U U 1 1 U 1 1 1 1 \ J U L V J L U L iy a u u u f

o que por maò alhcya Ponta, hc tonto , terceiro A í no, in te iro , e entregado: o q em parelha,he o quarto, A fno elcondi- que de meyas ícvay, P onto C orrido , (do,

4-

N ao tc té tcsjp o r ver ganhar Banqueiros, que p o ies em alguns achar abrigos; porque defies, ha m u ito s , taõ m atreiros, que Deíbancaríe deixaõ, fèm perigos; olha, quchaílzudiílim os Folheiros; dos quaes haz de encótrar m uitos amigos, que dois Q uirto s te de n , na fu a B anca, q he darte,em todos quatro,eoluuna trãca

Se

R r N a s c i a o. 49

S

C E vires favoravcl a Cartada,^ c a nice dar quizeres teu dinheiro, fegueas Cartas do defiro camarada, e taze te, como ciie, Catoneiro; o Parol l i da paz, da guerra nada , que íó com iflo matas o Banqueiro; e fe queres dcixallo como hum fogo, acabada a Cartada , vai-te logo.

6

Veras armadas eftas cfparrellas à maneira de Altares, e affentados os taes fervos de Deos, com duas vellas, em Sacrifícios de ouro , e de cruzados 5 entraõ os taralhóes, e vaõ-ft a ell as, da negaça dos trocos enganados ; e tanto daõ às azas, f o r lens cofies,■]uc a t e la r g a r a p e n a , a l l i e f ta õ p o i t o s

Ve>

p P I NTO

7

V 7 Eras hú defies,pondo em hurm Carta ’ q perde, econtinua a melmaafncira 5

pcrdcfegundavcz, c naó a aparta,_ „ . _ _ J - 11____1. _a n te i u u u i d a, i a iauii luxperde também, c quatropcya a quarta que morde,rafga,e deita na' trazeira; por fina!, que entre t i , diz o do Bolo ,, he grande ponto cfte, e grande tolo,

8

Se eftes caíbs levares eftudados, c aprendefte talvez Nominativos, pelas Artes das Bancas Declinados os olheiros verás Accufativos; os Socios, Ablativos disfarçados; os Pontos de mentira, Vocativos: mas eu, que Mufa tenho, para a eícufa, smciando nefies c a l o s , naó fey Muza.

]c

R E N A S C Í B O , S '

9 -

joguinho, dode eu podo haver levado fcfíenta, por hum íb, que haja metido; joguinho, ondeo furtarna5 he peccado, e aonde o ler velhaco hepermirtido; joguinho , que no hm , eftá bem jogado,, (dizem ellcs) por mal que tenha fido; ha de caiar com elle o mais íizudo; que os Banqueiros tem Bulias para tudo.

IO

He finalmente tal efta cfparrella, que, fuppofta de tantos a ignoranda, até muitos Banqueiros cahem nella. coma ifca,na carta daobfervancia; e íe algum virtuofo entrails a vella, do ieffenta levar vendo afubílancia, creyo que nella hora cahiria, comocahc qualquer Santo no ícu dia

t , lÂVÍjOS,

£2 P I NT OÁvifos ipara os Brafileiros chamados v ia n ­

dus , cjue ’vierem à Corte a requerer.

O I T A V A S1

U 1 Ha o tempo,cm que pallido retrata hum Mandú, comopaffa a noite fina

)á quando a pobre bolça naõ defata, porfazello ao paò nollo,cada dia; já quando,em fim,trocado o ou ro,e prata naquclla funeral defeortezia, que a todos os Mandüs faz ver eftrellas; e em tao, para os Brails largaõ as vellas.

2Oh tu , quem quer que es, ( dizia, nu

porqueíendo Mandú, feras quem quer; fe hc que do Rio vens, rico Mandú , aeftemardeLisboa requerer, nada,nada;ereparanefte, oh tu, principio de Epitáfio; que a meu ver. a pouco bracejar, te affogarás, ie aos mares te meteres contum às.

Puík

R E N A S C I D O . JfS

3Pofto que em cifra,aqui,Pintooq íou,

outro td como tu , tal vez, me v i; c podes crer, na morte cor que eftou, ouc quando me deferevo, eferevo a t i ; suas, pois tal eícarmcntoatodos dou, vorfiores, appended, Mandlts , de mi, cjue aper fttè maravilla mi grandeza , y oy Joio es perpetua rm pobreza.

4No Rio de janeiro ,o Riodouro

moftrcy quedefeobria ,em varias cavas; diftribuindo a mil oitavas dc ouro, que me cuftaraõ mais , que eftas Oitavas; mas como humas de outras faó agouro, em tal termo me poem as que íao bravas, que vindo à Corte, a cafos muy diverfos, por meus peccados vim a fazer verfos..

Eij Eain-

P I NTOJ4

5

E aindaqucconvcrfo neftes tratos , na5 me ouviras fentenças,nem conceitos, i'ofto que no proceffo de meus fados mereçaô bem íentençasos meus feitos; conceitos dircy, iim, de mcntccatos, porque os naó faças tu de taes fogeitos; taó pouco me ouvirás humanidades, que fabulas naó diz, qué quer verdades,

6

Primeiramente, entrando pela barra , defviados cachopos,que há na terra, feja tudo vigia, tudo amarra, porque nos cafcosdaõ a quem naõ ferra; e ainda a quem maisdellesfedefgarra, com fortaleza, ao longe, fazem guerra; mas íefiinduras buícas fem perigo ; leva, por íondereza, o que te d igo

Em

R E N A S C I D O . S)

7

Entrando para d e n t ro , poemtcá capa, nue pela proa tens muita cachopa; cits quaes, iá fem talen to , a nadoefeapa, quem a taõ roins baixos, naõ dá a p o p a ; i;'io os maisperigofos que há no mapa, o n d e , por cs i cu b a t e s ,quem quer to p a ; e íe íe lança a elles, de braçada , hade íah irde íp ido , quando nada.

s

N em a hints, nem a outras, elo q trazes parte d es , nem de rico des d iz e n h o ; que íe íenhorde engenho lá te fazes, haóde fazer cá canas, defle engenho; C ájás, C a ju s , Bananas, c A nanazes> fobejaó a inculcar oteti empenho; e affim evitarás outros perigos, que procedem de ter muitos amigos.

Eüj Eífc

$6 P I NT O

9

Eítetevem dizer, ediftc aqucllc, que te nao fies deite , nem de citoutro ; que farás tu entaó, fete diz dclle também que te naó fies, aquelloutro ? dc todos ,o melhor, he que nem elle, nem cfte, nem aquclle, nem o outro a tua cala vaõ ; pois por tais modos, hum bom naÒ acharás, achando todos

10

Quem cá vem a gaitar, para comer , nemíó para comer hade gaitar; e fe favor requer, o que requer, muito melhor do queir, lerá mandar; que logo alcançará quanto quizer, fe nefte fegredinho fouber dar; e ferá como pede ,o que pedir; que a refpeitos naò ha que deferir.

De

R E N A S C I D O , 57

11

De luis, q ve empenhar pedas de prata, olha bem ie rem 1 iga as fuas pedas; que h á , dedas prendas, m uito patarara, que m orrendo por outras, vivem dedas; e entaõ, íe preílh dás ao que as rcigata, com eílc mcirno he força verte em preffas; pois todo o feu empenho he fabricado, a que por peffa fiques empenhado.

12

A q ui,com atteçao mais prõpta,eícuta; íc com d padachins tam bém te enganas, em valente naõ des, com m anhaaftuta, por livrar de venidasdeshumanas; c vé como te metes nefta fru ta , porque há valentes cá, também bananas; q u e querendo-os com prar, dealgüavcs, nunca virás a dar, por ma isque des

Eiiij Eíc

5« P I NT O

13

Efecom prefunçóes entras, ufanas, ou para D ivindades mais te inclinas filhas de A cn íio s , acharás, hum anas, e Júpiter lerás, íe vens das m inas; c itas, chovendo o u ro , íaõ muy lhanas, mas cm pailandoa chuva, perigrinas, porque efgotada a b o lça , a caía n u a , hade chover em t i , como na rua,

i +

Se quizeres m ontar a toda a redea , com o lá no Braíil a todo o trote . hum dia íó naó percas de com edia, ganhando a introdução de hum iidaígote; que quãdo tudo,em fim,pare en tragédia, ficate a inculcaçaõ do cam arote, alem da que 11a entrada perigrina,' on mi Scfíora Dona Catalina,

M a s

R B N A S C I D O . S 9

is

Mas tern maó.e tem pé,oh caminhante, q he bem ,q o p c ,e a mao ,aqu i te im p k?a; porque o p e , fem ter m aó , já vay errante, como a m aó , fem ter p è , já vem perdida; íé íua mãy for m o rta , paífa avante, quando naó, naóváslá , portua vida; olha q ueteadm oefto , meu M andu , que encontras hum cruel furucucu.

16

EíTa que repreíenta com o m ata , eíTa que ves m ulher, em Sol m entida, nas tab las, verdadeira patarata, nos en íay o s, verdade mal veftida; eíTa, em fim,que,de tarde,he bella ingrata, íe de tnanhaã, cruel deíconhecida s he o d iab o , em carne; ve tu agora como entregas a alma a tal fenhora.

Mas

do P I NT O

17

Mas olha queCaftella he quail Franç a, Ga llonaó queiras íe r , como eu fuy Pinto; queentrar bem C aftelhano, fc íe alcança, he fahir mal F rancez, fegundo cu fi n t o ; e aifim ,G allo te c a n to , em confiança, de que ao choro te negues bem fuccinto , que quizá hoje P in to naó chorara, fe dantes o u tro G allo me cantara.

18

Porem lá toca o bronze a em barcar, tendo pouco de leva o meu N avio ; a D e o s , M a n d ü , a D eo s, até v o lta r , Crvate de exemplar o meu defv io ; pois quando os rios todos vaõ ao m a r , fó e u , mar de m iíèria , vou ao R io ; q he barra de ou ro em fim jtedo entendido que quem deixa tal barra, vay perdido.

A gr an-

R E N A S C I D O . 6 lA g ra n d e , e r i m car r e m da e m b a ix a d a de '7? em a , m i r a n d i

p e h T e r r e ir o do Taco , depo is d e t e r p a j j a i o a T m ijf a ó é C a p u s ,

O I T A V A SI

F ) Epois de já paíTiida a bizarria da Prociflaô deCorpus celebrada

{pile outra tal nem em Romaic faria) v eyo a grande carroça da embaixada; por final, que eu cuidey, fegundo o dia, que era a íerpe, que vinha retratada 5 mas também fe enganou muy boa gente, quando lhe vio em fima huma ferpente.

2Nas Crónicas dos mais Embaixadores,

ou de Roma, ou de Frãça, ou deCaftella, já Marquezes, já Condes, já fenhores, muitas carroças houve, a qual mais bella, mas taõ grande,tato ouro,e taes primores, até aqui fenaó viraõ, como nella, mais breve, outra de Roma , fim viria» mas mais grande deHefpanha, nao podia

Por-

P I NTO6 z

3

Porque carrodo Sol bem parece íTe* vinha dc rayos de ouro rodeada, c porque o giro natural fizcíl e, para o Occidental veyo embarcada; que no mar, era bem que íe rntcclTe, aque tanto á do Sol he iemelhada; para hum quarto Planeta capaz era; poílo que pata o Quinto hc curta e!p i r a

R e ” n A S C I D 0 . 6 5

Faster tres annos 0 SereniÇijfmo Principe 0 Se­nhor D. Jof ’ph, foy afjumpto Academico,

fendo Secretario 0 Conde da Encara.

R O M A N C E E S D R U X U L O ,

í TrílOmp Çí»nhntv>cR I T----------« w i w i v j v im iu ,U 5 }

^ que he paíTo bera celeberri mo embutirme aferdifcipulo de Meftres paripatcticos.

Nefte ado cminentiffimo, preclariflimo, e integerrimo, íópòde ferefcholaítico hum cípirito profético.

Com ferhum Poeta Anonymo, confeffolhe que vou tremulo, receando dos meus,fídruxulos, que algum me cortem por reprobo.

Ainda faltando o jubilo de hum Secretario benevolo; que he para todos pacifico, x iú para mim foy regulo;

K

64 PI NTO. J ufti« iro andou no thalamo

hum Romance, d o racu Loureiro proterito;fatoahurnUu, tmncan({0lJ1Cj para tumulo?

os ram os, de que foy emulo ; N em (endo hü tronco A pollineo ,

que lograva o foro D elph ico , fe pode livrar de hu m jupiter, q u eo p ô z ,co m h u m rayo, territo:

D eugofto niffo ao m ecânico, que he meu inim igo acerrimo; mas eu tenho o nobiiiíllm o, to d o em m eu favor authentico;.

N aò m eh aõ d e faltar acolytos, entre os fabios d o meu fequito, pararefiltir aos impetos dos declarados maléficos;

T enhao paciência os C ritico s , que m e had de aturar p o e tico ; porque tantos doutos proximos me hao de fuppor benemerito:

H eyde engolir o fatyrico , m u i to a p e z a r d o c o lé r ic o ;

mas

R E N A S C I D O . 6 ^mas que mo naõ coza o eftomago, mas que o naõ queiraõ os medicos;

De hoje hade íer o meu vomito, puro em tudo , cm nada fetido; e 1c ate agora foy languido, agora veraõ que he lepido •

E deme licencan l v r i mi - - j ------->de que eftava bem famelico; q u e me importa aqui o heroico, ainda que com pouco preftimo;

Cego de luz j entro timido nefte labyrintho Cretico, por tanto Sol, a fer ícaro, por nenhum fio, a fer Dedalc ;

Oh quem achara hum vocabu ío, ainda quefofle de erapreftimo;( que em mandamentos harmonicos naõ quero peccar no íetimo.)

Empreftemo algum Catholico, ainda que lhe pague redditos; ou íuppra ao meu pobre cantico, delta iníignc Aula o methodo;

O s

66 P I NT OOs annos do Augufto Principe

fa5 hoje aflurapto Academico;Deos me acuda comErpirito, que he também filho Unigenito;

Se em regra de tres hc o numero, nos tenros annos de Angelico, paíle ás Eílrellasocomputo, ieja oSol i eu arithmetico.

Creíça,atèque contra o Barbara tanto embrace o efcudo Celico, que fe regale o Auftriaco, que pafme de enveja o Celtico;

Para invafaõ do Judaico, para extirpação do Eleretico; para caftigo do indomito; c para applaulo do intrepido;

Viva, e creíça a taõ magnanimos quenaó caiba em todo oesferico, Principe, que nafceo U nico, em nome, em calo, e em genero;

Jofeph, hoc e f t , cultos ‘Domini; nao ley mais texto Euangelico,

nem

R E N A S C I D O . £■-nem poíTo hirbufcallo ao Gentfis y porqueLatim ,^ m e l l i g o 5

Ponhaólhe profpcros práticos, Socrates, Satrapas, Cênicos; digaolhe dociles difticos, maximos, muíkos, metricos;

E leu Pav. Mnnarrliii inrWr.J J --- ---------- —-- j iv ?

fem que chegue a íer decrepito„ tantos viva annos frutíferos, que íe numerem por íeailos;

Para immortal, no hiftorico; parainvencivel, no bellico; para gloria, no politico; c pa ra prêmio, no merito;

Humilhandofelhe o incognito Africo, Ethiopico,Perfico; tributandolhe o riquiffimo Indico, Arabico, Américo;

E aceitemc efte bom animo, quehenafcido, bemdometfico, dehumaífvdo o mais intriníeco» dc hum Poeta 0 mais pauperrimo.

.P " 1 D t f i *

68 P I NT O'Difpo/icao para o Author ter humveftidg, que

quer deitar no dia, em que faZj annos o Se­nhor Infante ‘Z). Antonio.

D:ECIM AS.

D iz T hom az P in to B randão, no Picadeiro affiftcnte.

que elle, a quinze d o corren te , pe tende hir ao beija m ao ; c por quanto á tal funçaõ também vaõ homens de p b ; pede a V offa Al teza, que m ande, pelo leu V e d o r , ao lupplicante com por, e receberá libré.

Bem fcy que para a vencer, me he neceflario eftudar; que he o trabalho vulgar com que a poíío m erecer; mas bem p ò d e , fe q u ize r, o Principe íbberano chegar o meu ao leu anno .

por

R F N A S C I D a . 6 9

porque entaó, com gala, e brio, conhecerá no meu fio, queíou homem do íeupano.

H n A c a d e m ia , q u e (e ce leb ro u >;o P a ç o , p e r a n ­

te as A U g c fL id t s j ia fc' t m d a O t tu v a d o E it-

í in e e l / fh í jo y a fj t .-m p to ^ d if a e v e r e x -

c d k n c ta s elo r e m e de j o a o ,D i ­

v i n o , e h u m a n o .

R O M A N C E .

Q U e Cafa hc c fta , Senhores?ifto hc coufajfoberana ?

mas para pobres Poetas naõ accomm cda cfta Cafa,

Sem duvida que a A cadem ia, como em Natal ha mudança, para m elhor nafeim ento,Ic mudou da Annunciada;

E aílim hs, porque aqui Vejo, como de cafa m u d a d a ,

I: í) ic

70 P I NTOde A pollo toda a familia, metida a palaciana:

Bizarra eleiçaò fizeraó! porque tem fermoía fala, tem muito boa cofinha, etem Real vifinhança!

Porem antes que me efqueça a principal circunftancia: tenhaõ voílas merces todos muitas Natalicias Pafchoas:

E o que haverá de poefias, talvez de pouca fubftancia! pois quando algum mais fe apura , he quando menos fe apara!

Quantos, mendigando verbos, porque Portuguez lhe falta, virão com Joaó, veftido de folhages Caftelhanas !

Quantos iraõ, pornaõterem do Euangeliíta a fubftancia, bater aporta Latina, a que outro Joaó lhe abra!

Se

VR E N A S C I D O .

Se eu lera , ou feconíhuira por, GarcillaíTo > cu Petrarca, íó agora ladraó fora, como he muita gente honrada,

Porque ainda que algum defies co furto na maõ íe apanha, eu havia de fazello, mas que Apollo me enforcara:

ConfeíTo que eftou tremendo: poremnaofcy que lhe laça; vá de Romance ( íuppollo que o dia feja de outavas:)

Meu Secretario, meu Meftre , aílimDeos cedo lhe traga taõ boas novas da índia, que a s veja com luminárias;

Que efte pobre Romancinho , feito do affefto á inftancia, vifto a pouca alma que leva, me lea com alguma alma;

Item , que acouta das coplas me naó feja cerceada•,

r ui

71 P I NT Opois vay jufto ( íalvo erro) com o que devo atai Caía:

Ora vamos com o aíTumpto, que fao excellendas gratas do nome de hum Joaò Santo, cde outro, que niíTo anda:

Joaò foy grande valido de Dcos, com tanta efficacia, queo deixou feu íubftituto, claim ReyiiO lhe deu por graça

Joaò, por graça de Dcos» Rcy de Portugal fe acclama, cujo valimento chega à America , à Africa, cà Afia:

Joaò bom elcrivaõ era, ou foy, de letra Sagrada; pofto que no que eferevia alguma paixaó moftrava;

Joaò faz taõ boa letra, que muita gente a tomara; cpara mim heEuangelho, em decretos rubricada:

7 3r e n a s c i d o .A Joaõ deu Deos as letras

nas leys Divinas, e humanas, para advogado de todos os que com Chriílo tem caufa;

Deos, porque a Ley defendeíTc Joa5, da furia Othoniana, naõlhe da íómente as letras, que também lhe deu as armas

Joaó da Cruz, joaõ Damaíceno» joaõ de Deos, e joaó da Mata, todos tinhaõ Senhoria, que Excellenda» fó Joaõ dcAguiaa

Osquatro Joaêsquc houve, antes do Quinto Monarcha; tiveraõ muita Exccllencia, mas naõ Mageftade tanta:

Mais ditlera, fe loubera; porem entendo quebafta; pois quem diz Joaõ,diz tudo, e quem mais diz, naõ diz nada:

Arrezoey o que pude por huma, e por outra banda

I üil como

74 PINTOcomo Letrado do tempo, quede ambos efpcropaga.

P a i f ao} que f e z , a E I R e y , v e n d o qu e lhe retard . ; v .w a m erce do hab ito .

S E N H O R .

F j Iz Thomaz Pinto Brandaò, ^ ba mil annos pertendente, por habito impertinente, e por natureza naõique na muita dilaçaõ, muito defengano vè; e pois tudo habito he, pede a Voíía Mageftadc, lhe mande dar hum de Frade,€ receberá merce.

RENASCI DO. f fVendo o Author sque lhe naS rendia nada o Off cio

dc Efcrivao de defuntos, e auft?ntes, de que EIRey lhe fez, merce.

P E T I C, A d

n l z Thomaz Pinto Erandaõ, i —' morador ncfta Cidade, a quem Voíla Mageftadc fez dos mortos Elcrivaõ; que, por naõ haver Chriflaõs que aqui morra por ta! fè; pede lhe concedaõ, que troque em outro dc alegria cfte officio da agonia, e receberá mcrce :

Queixafe dos Secret anos , por fever defpachado para a outra vida..

D E C I M A S.

Ef Ntre o Eftado, c as Merces■-5 h i ú o amos contumaz,

cruel

<j6 P I NT Ocruel hum vaivem me traz arraftado, em que me pez: já por huma, e outra vez , comi diffo, e tive nome; mastropcffey como home, e fiqucy taõatrazado, nuc tendo Merces, cEffiido, eilou morrendo de fome.

Peio ferviço de EIRey hum habito coníegui i porem tenho para mi, que com cllc me enterrey; porque quando procurcy para avida outro conforto , foy taõ terrível o aborto do DefpachO) e feus Adjuntos, que hum officio de Defuntos mederaô, com quceftou morto.

Eraõ defuntos, e aufentes osdcqnemfuy Efcrivaói ( que la bons officios (ao, lendo de corpos prcíentes}

Pa

R E N A S C I D O , 77

paguey moedas correntes antes queorenunciaffe ; e efperando quechegaílc o procedido de preík;foy a primeira reinei!a hum requiescat in pace.

Lido o Rcfponío finai, me lembrou, quando mo deraô, a agonia, que tiveraò tantos do officio mortal; porem a en veja he tal, que atè fie vé envejada a lbrte,que vem trocada; c aonde eu íou o primeiro, que dou por nada dinheiro, c meto enveja de nada.

Nefla afflicçaõ bem podia de vivo aflentarme praça o Mendonça, na Ileai graça, pela fua Ave Maria; que com cila alcançaria outro officio demais U

78 P I NT Odc quem impoffivel he tornar a palavraatraz; que aflim, defcançava cm paz, e rcccbercy merce.

A R I A .Pois vivo nefte Eftado,

porgirigonça; íenaóachoao Mendonça, voumcao Furtado.

]S!o Certamen Patriarchal, onde os premies for an Livros j entra 0 Author com efle Romance > no

afjumpto, em que era preceito ferem oito Oi­tavas: f mdo toda a materia a Troeif faõflue aquifepintajmf e def :reve,

R O M A N C E .

17 U , que ao prêmio naõ afpiro, mayormcnre tendo a tax a

defer toda a Livrariapara mim bem efeufadaj

De-

R E N A S C I D O . 79Dem ais, que por boas obras

nunca havia de levalla; pois le y , quando vou á fon te, o q u e a minha infula alcança:

C onfdT o) bem. ficlmente , que do L atim naõ íey n ad a ; de Caftelhano, muy p o u co > do P o rtu g u ez , o que baft a ;

Nelle elcrever bem podia; mas naó quiz ver mal pezada tanta coufa em huma o n ç a , que eraoas o ito Oitavas:

Tam bém hum tal Rom ancinho as ProciíTbens acompanha; faça agora papel nefta, m asque nunca em outraofaça;

O s dias atraz fiz o u tro } que fahio logo nas ancas da Prociflaõ, ou no couce , que he o que mc daò de entrada.

Fazer efte agora im porta, quefe naó encontre em nada;

So ’ P I NT Oporque osCriticos naó tenhaó mais razaõ, que afua raiva ;

Mas quem me defeobre affeêtos, bem me pòde encobrir faltas > e perdoemme por p o b re , ou deixemme em m inha caf.r

Ora.Senhor Secretario, a occaliao he chegada, cm queV oíT a Senhoria aV o íía mercê me laiba.

Eftc pobre papelinho leacom toda aquella alma. com que lia as fuas obras nas Academias paíladas.-

H um bam boleyo á cabeça, dc copla em copla me faça ; porque vay a dizer m uito, ainda que naó diga nada;

Que os que ficaó longe difto, enaò lheouvem aíubftancia, fó julgtó por boa obra a que vay cabeceada:

RENASCI DO, frlDigo,pois, quedotaldia

foya tarde mais galharda, que íe vioem Fevereiro; porque mais de hum Sol rayava.

Das jancllas, no fermoío, das frentes, na matinada,O ■'era hum Mundo cada rua. hum Cco era cada caía;

De junco amacuberta, aterra toda areada, naõ era brinco de junco, nem poeira levantada;

La no Terreiro do Paço he que o Mundo fc acabava ; mas antes que acabe o Mundo, quero dizer o que falta:

Dava principio aoconcurfo o Senado, em cujas capas AiWeaoStmb Santarém foy hum cominho; c tudo ficou dc banda * com capas bldadas

Vinhaaprimeira bandeira, "J“ lamenttt p o r S Joícph defpregada ,

pubi t*

82 PI NTOpublicando o que a traz vinha, que era outro Patriarcha;

As demais, que eraõ de menos, vinhaocomo reformadas, bandeiras fcm companhia, quatro officiaes íèm praça

Chegaraõ as regateiras, vendendo de muito caras para darem duas voltas; porque tudo era apreíTallas:

Henrique Dias.foy O T erçode Henrique DiasMeftre jc Campo qLias hlejras formava ,dos negros cm lJcr- . Jnambu». para nllas, fortes bichos!

para as minas, bellas alas!Mil homens todos de berne,

por IrmaÕs de hum graó Monarcha, infantes me pareciao, fim, pela hoftia i agrada :

Muito menino íem pay, efem mãy, vinha, em voz alta, cantando, entendo que os vivas daquellc, que lhe dá a mama;

Vi-

r e n a s c i d o . 83Vinha entrando, em F radaria ,

todo o M u n d o , excepto a Afia ; c ainda là do Oriente alguns nos fizeraõ graça:

Duas alas da coroa,Patriarchal ordenança, íorm avaó viftofa huma reverenda encamifada.-

Seguro íe hum corpo de Cruzes, O ccidental V iafacra, bem vcftida, quando apenas tinha pano para m angas:

A tropa dos Cavallciros, conhecidos pela gala, foy a coufa mais luzida de L isboa, ou A lem anha;

Grande íoldo merecia! mas n a ò ; porque íò lhe baila , na V èdoria dos olhos verfe cabal mente paga.

H um teve mais queda, que outros > m ilagrofa, m asnaó fanta?

G pois

§ 4 P I N T O

poisnaõ cahiono feu dia , cahio no do Patriarcha:

Huns brancos como hüs arminhos, quceu ei de longe bifpava , nuncios eraõ, defer breve do Patriarcha a chegada.

V in ha em huma mulla ruíTa, tao leluda, clocegada , quea gente fe efpantou muito, do pouco que fe efpantava;

Nenhum adio de vivente moUrou a branca alimária, c fc o myfterio diífera, mais que a de Balaó fallara 5

Se quando entrou pelas porta», talvez lhe deitaífem palmas, geroglyfico teria de Hyerufalem a entrada;Era hum Ca* O que puchava por cila ‘UnlU fiador ^ tanta prat.a ^

hialhe abrindo o caminhocom huma chave dourada.

O*

r e n a s c i d o . gy Os dous moços da Eftribcíra,

que podiaó íer ilhargas, craõcriados, Senhores dc Belmonte, e Villamaya

Os mais que levava adjuntos» era gente abençoada, quenaõ fo aennobrecia , mas também a palliava:

Concluo, em fim,com dous verbos a quem tal folio montava; que por congruo, e por condigno íoy elegido; e ifto bafta:

No mais, de que me naõ lembro, remettome ás cem Oitavas; íchequchâ da boca á orelha esfera em que tanto caiba;

Se quem palmando íe admira , lie quem melhor fe declara, pode-o dizer todo o Mundo, porque todo o Mundo palma.

Ele do Mundo alguma parte h i , que cita verdade cftranha

G I i I ;■

86 P I NTOhe povo ; e fenaõ pergunto, refponda a parte que falia:

Quem fez ifto? quem podia: teve vontade.? e com alma: que nome tem ? Alexandre; he Portugucz ? e Monarcha:

Pois fe pode, quer3 c tem , e he Portuguez; que te dpantas > naõíb Patriarcha dera, mas podeme a mim dar papa;

E com razaõ; que eu , de golfo, neífe dia, em certa caía, onde jantey realmentc, me fiz como hum Patriarcha

Ilíonaõmcrccc livro; mas dc eímola enquadernada, demme hum Alivio de trifles, que he para mim Criftacs dalma,

Naõ lho peílo de juftiça > que quercrào, quando nada , porrne a Ordenaçaõ às coifas, que he fò o que rnc faltava.

Levou premo; t bom, Mo; í

R E N A S C I D O .

M O T E .'Depois pv.eft; fahou Dimas

na c r t t Z j, antes d r morrer *■odns, ne[h Mundo , ejper.w tie DecSyti mejma merer

G L O S S A

O H tii l a d r a o .q u c n o m a r

dos furtos, andas á luz dos tres pàos feitos cm cruz, o n d e te eíperas falvan ve,que te pode faltar cflíi taboa a que te arrimas, e vê ( fe exemplos eftimas) que cm taes pàos jà íc affogaraô muitos,que fc condemnaraõ depois ejue fe faívou Dimas.

Adagio em todos communi he , que de cem affogados, hum fe naõ falva; e enforcados, que íc naó perde nenhum;

G tij

8$ P I NT Omas que mal guiado algum vay, íèvay a ladraô fer, fiado cm que virá a ter na forca aquelle perdão, que lá teve o Bom Ladraô, na cru --O J antes de morrer\

Muita gente, feni demora, ciaramente, ou efeondida, anda , neftamefma vida , eíperando a mefma hora: e atè deraõ niíTo agora muitos dos que em Chrifto deraô; de que infiro (feofizeraõ fiados nas redempçoens) que Judeos, cmais ladroens, todos, neste Mundo, efperaõ,

Furta muita gente nobre, toda a noite; e efeapa á alva 5 mas nenhum defies fe falva , quefó íè enforca algum pobre; naõ duvido, que algum obre com piedade; e c imolas dc

ao -

r e n a s c i d o , 89aos pobres 5 fiado em que também bom ladraõ fera; mas naó íey fe alcançaráde ‘Deos a mefrna merce,

J o S a r jn to m o r F ra m tjco Ferreira d a C m ih a ...

prefidindo rut tcricadcnna this u u i n a s , cm nue m ijlroif-, rjlic c d l th io has h ira s era o

mcj'moy íjise odds arm as,

R O M A N C E.

A Ntes que toque nas armas, ounas letras, que ambas toco

poisde ambas tive exercido,, mda que manejo pouco ;

Para entrar bem no difeurfo, avós, Lente , a venia tomo; peflb a alma ao Secretario, eaqraça , a vòs auditorio.

Ou vime Douto Franciíco,q u e cfta p e n d e n d a b e c o m v o fc o ;

U nij u s a s

JO P I NTOmas metendo maó áefpada, os bicos da penna corto :

Que íabeis liçaó, he certo; que lois foldado ,hcnotorio; pelejando com eftudo, c ferindo bem o ponto.

Sois hum valente Eftudantc, na cipada, e na penna prompto ; de ambas apurando o agudo , e de ambas o fio expondo:

Vos íbmarchaftes, nefta Aula a unir, de hum lado , e de outro , adiícriçaò ao valente, e a valentia ao douto ..

Na fuavidade das letras, formais das armas oeftrondo, guerra fazendo ao trabalho deífe cftudo laboriofo;

Fazeis das armas eftudo, por dar ás letras íòccorro; Soldado velho de Marte > novo auxiliar de Apollo

Dt

R E N A S C I D O . <JI

De folhas vindes armado; c também dearmas frondoío; porque vos coroe a hum tempo, a da d pada ,e a do louro,

fendo hum \ ulto raõ pequeno, como ctlamos vendo todos ;(ois grande corpo de livro; íbis de guarda grande corpo

Sois c itan tee Sois cabide de letras s e armas encofto; c como he e m folha tudo, íbis a hum tempo eípada, c forno

Alcntcm-fe pois os Sábios appliqucm-íe os valcroíos , nciíe militar cftudo, ncíle literal esforço;

Porque em mais corpos íc veja, iflo j que íe acha no voflo; que he, fer Soldado coro arfe , fendo Eftudante com foldo.

Pi íc algum , pelo vencreo, enh rmat no bell! :oi >

92 P I NT Oo regimento da falia, que he ovoííb, tom e logo :

E m fim , caíafies as armas corn as letras, dctal m odo , que nem a inveja fe atreve a annullar tal matrimonio.

A hnma Comedia domeílica, intitulada, Oppn aerie a las Eftrellas, rj, fe reprefentm m ca-

f adejo.w Correa Manoel, toda de m ofais graves j e bonitas,

D E C I M A S,

H O n tem , por boas M atinas ,

fu y , a horas íoberanas, v e r,p o r direcçoens hum anas, reprefentaçoens D iv inas; eraõm oílas, c meninas, mas comediantas velhas> porque com iguaes parelhas, ranto de ponto ibbiaó.

que

93RENASCI DO.que em luzimcnto podiaõOpprmrfe a las Eflrdlas.

Comedia taõ natu ral, repreícntaçaõ taõbcila, naõ fcy que a hajacm Caílella ■ emenos cm Portugal; com manejo taõ formal, e com alma taõfkl, fez cada qual íeu papel, que fomente íer podia Author de tal Companhia Joaó Correa Manoel

4 huma queda > que na Sala dosEuief'cos Acu t Senhora Infanta D. Erancifca,t»do pars

a Novena do S a n to Xavier

D E C I M A 5,

D isfarçado de mulhero melhor Sol do Occidente ,

hia a outro do Orientehuma Vilia lazer

qUíiiido

94 P I NTOquando hum milagre Xavier obrou nella, tao jucundo , que outro fe naô vio feg u n d o , pelo prodígio que encerra ; pois baixou o Sol á terra, ícm que íc abrazaííe o M undo.

Achavaõ-íe Damas bcllas, pelo T udcíco arrebo l; que lie fo rça , cahindo o S o l, apparecerem Eftrellas: queria ter qualquer delias queda com elle efle d ia ; mas com o qualquer vivia da luz que fe lhe em preitava, n o C e o q u e oSoloccupava nenhum a Eftrclla cabia.

H um a delias, com fe rv o r, m ovidadc propria m agoa, lhe applicou hum vidro de agoa, com o berrufo de am o r; íe efta logra o refplandor do S o l. como precurlora

nau

R F N A S C I D O . J J

naõ foy muito, que a tal hora, vendo o fcu Sol com defmayo, lhe acudifle, como hum ray o , a dar rocio eíla Aurora.

Se o milagre toy do Santo, a habihelade foy lua, pois de taó pequena rua fez esfera para tanto; buícou, com fermofo cfpanto, donde caberia alli tal grandeza; c como ahi naô viife cabal esfera, cahiocntaô no que era , porque cahio muito em fi

A verdade, cm confciencia? hc, que indo a fazer na Sala, cora bem donaire, e mais gala,, ao Chrifto huma reverencia» por bifar ra confequcncia, Chriftãmente tropeflou; c porque quando paffou, em hum nicho o tinha v ifto 4

ícx

96 P I NT Ofez huma mifura ao C h r iilo , ccomeila ajoelhou.

Repo fla a hum T itulos de Comedias, que aqui [a- hiraõ, em huma folha de papel, apphcados

mal as Senhoras de Lisboa, que alguma o attnbuhw a obra de TbomaZj Pint off e-

ja pelo amor de Deos,

D E C I M A S,pelos mifmos, e outros ‘Titulos.

O H tu , tollo, que as bellczas maltratas com groflarias;

eáquellas, qucatè podias boTanjfti Offender com las finesas 5aqui venho em fuas defczas; mas minto, naò venho ta l; que ellas nada lhes faz mal; venho fó, por teu caftigo,

nau mais que a apurar comtigol i f e notu La berra ,-if/ H iit HT.il.menefter * 11'.-arrftas,

91R E N A S C I D O ,Fu nunca o decoro nego ,

nr.6 digo eu a huma Senhora, mas a outra, ainda que fora La mugir contra el confejo; ás Senhoras, digno emprego de todo o affcdo jucundo ; a aqucllas, que no fecundo tanto luftrc ao Reynoderaò . que crcyo, que ate tizeraõ Vevtr d amor d Mundo,.

Com Senhoras? boas bichas bufeafte, para teu mal; c empurravas o panai Al Ganapan de def dichas • algumas eftavao fichas,, que era minha, obra taò brava < mas também na rodacftava quem nifíb me defendeu. ele aíTentaõ qucíoueu? P m e fid o e ju e e ^ a .

Brutamente te aconfelhas «ísttn fos neíta matem, cm que.ignores

q V K -

La Hija del Ay re.

Fu ego At- Dio?.

Prifflef©íby yo»

9® PI NTOquehcarrojat-fe a Senhoras,

EI ®™° Ojiponerf ? a las Eflrellas ; facri lego te aparel has, ncíTe ten caniado zclo, a ham diabolico defvelo; porque com tem eridades, íú(e atreve ás Divindadesa benefiet. El Renegado dei Ciclo.

Das Senhoras o arrufado, a foberba, a ty rann ia , e atè o fey o , íe devia -A>nar P°y raZj0n de efladoi

' quanto mais,que tudo hc agrado nellas, tudo hecom poüura, tudo am o r, tudo doçura; epara render paixões, confervaó nos feus brazoês Mujer li»'Lu armas de labermofnra.

fi’sy ,tn' c N em zom bando, ucm de veras,falíbs titulos fe daó ás Senhoras, que naò faõ

No ay bur- L is Condeffas v .m d o lera s ■las com las mugeres. quem

ill

99r e n a s c i d o .quem era, entender poderás, huma Senhora illuftrada, o u t - para fer venerada, hiatos privilégios tem; mõ íb ella , mas também /.,! Se "ora , y L im a d a .

Sem reípcko ultrajar queres, o que (b deve eltirmulc?srao ves, que para vingade,Dj.élos [ou Lis mugeres ? íomentepor te atreveres aprotanarlhe o (agrado, merecias enforcado, como quem pena vil tinha ; e fora, por vida minha,El garrote más Licit d.tJo,

Eu havia de offender, nem por peníamento leve , aqueilas, a quem íedeve. Querer por ('olo querer : eu, que mal as chego a ver ,' quer de longe quer de perto

í a I u , y ia i obrina.

i r d oja

A e.ran iia» no gr v.n rt> nrcúio.

À lo qobH*gaeiboiW»

1 0 0 r 1 N T o

já me ponho defeuberto ; refpondendo, em voz commua a quern mediz mal dc alguma,

v,jr” crccr S o fic m p r c h p c o r es c in to .Eu naó Unto quo ha ja a'qui

homem ,quetaóbruto feja, que otianda o que mais deíejaQ id a uno ju r a ft i

Hu,t-re' l e r á ; porem quanto a mi, digo que o naó poiTo crer: fem duvida foy mulher, que aílim pertendeo curar algum achaque vulgar s

Sn™"0 porque homem, S o tmede fer .Com homem encorporada

naó duvido que ofizcffe; mas bom fora que eftiveíTe

La mifnu E fcotid ido , y la T a p a d a :ella herá muito honrada; mas elle de toda a iorte he homem de pouco porte; e pelo que dá a entender,

R E N A S C I D O . 10 !

naòpòde deixar de íerF . r i n * TrampaEl yncnttroj o en la Lorte. adcUme.Porem faz mal, ie íe fia

no favor da tal Senhora; porque íe o -abraça agora,Madar/a (era otroJiai ~g;“;rpois paíTadaaalcivolia, "-“O-nem nclla hade achar abngo antes íc expõem a o p e r i g o depor ellaíelaber, que nenhuma hade querer Amparar al inmuip. ‘g Vgò ''

Naóacho aquem p o f f a i m p o r dta velhaca maldade r (alvo íe foy algum Frade , ^E! Diablo Predicador; Haze event®.

e talvez que o meu íuppor dentro dc caminho vá, pois nefta terra algum há „ que ditlo indicio aigimgdc com que, ie mulher naõ lx ,* / f r , u k l h í r o n !e> a • V g '

II li Lit." '

102

El blafon òe las mu- geres.

i-.i fiera,el rayo , y la pedra.

P I NTOEm fim , tollo, pois vcs tantos

exemplos, e pareceres, de naô negar ás mulherestlfocor>'o de los mantos;c ás Senhoras, também, quantos tributaó ler, alma, c vida ; íulpcnde a penna atrevida, porque Te alguma ofonhara, cu tc affirmo,que tacara Vcngada antes, que offendi da.

Na morte de huma filha do Author, chamada Ifa hei, muito bonita.

M O T E.Que pertende afermofura,

cuidando que f e etermf i , fe ano a minha Belifa ir parar na ff'epultura ?

G L O S S A ,

J A. a meu íentir, ea meu ver, a que, honte ra, a meu cegar> v s-

R E N A S C ! D 0. 10 3

vivia para matar, morte hoje para viver! efta, que a ícu parecer, era huma viva pintura , jade morte cor figura, na minha magoa ,1 contemplo, naóicycom taó claro exemplo , que pertende a ferm^ura ?

Na vivente primavera, quando maisdilpofla a v i. por maravilha entendi, que perpetua ferpoderá; foy engano , e foy chimera da minha afteiçaõ prcciía; e quanto efta morte aviía, no deíengano que dá, a toda a que cm flor cftâ cuidando que / e ttcrnkA

Hoje arrancada por li , no exemplo que em folhada, a todas dizendo eftâ: nbrcndul fores de mi;

H iij ca

104 P I NTOeu cora lagrimas o l i , e entendo, no bem que aviía , que a que mais (e íertilila, deliaíd pode aprender 5 porque naõ tem mais que ver, je vio a minhaRehfa.

Alerta , pois. Divindades, defmen tidas cm mulheres; que caducados prazeres, na melhor flor das idades; as pompas, c as mageflades, que o Mundo vosaffegura , íaò mentiras; c hc loucura naõ crer na mais verdadeira; que he, acabando a carreira, ir parar na (epultura.

t io primeiro dia dos fete de ‘Touros da Camera, de que era Prefidente 0 Conde da Ribeira, tou­

reou Bento Antonio.$ Y L V A.

I A labem q fou eu, que a pouco cftudo, nada poíío fallar, e digo tudo, a pc-

r e n a s c i d o . _ i°5a pezar de quem fa lia , c naõ diz nada,que tudo quer fazer pela callada,mas folie oque quizer ,a pouco eferito , que cu fallo , eferevo, d ig o , e tenho duo:‘ Quero cantar agora,

o que a Camera o b rou , minha ienhora; deme licença o Frade , que Shapetlo com bem ncceíiidade, c começo com tem po a minha liiílona} por fer Iru rn tanto cutto de memotia j derem muy compridos touros cm fete talhos repartidos.

M uita coufa contara, íc cu das melhores delias naó pafmara; porem como também oculo tinha > digo que nunca v i , por vida minha, c m hum O utono tanta 1 íim avcta, nem tanto Sol cm huma tó esfera, onde ficava o quarto muy fuceinto; que o que rayava entaô , ló era o Quinto

He certo que em tal dia fc Vio do M undo todo a bizarria;

H iiij cm

I0f) P I NTOcm cuja viva rodaandava, cdefandava a Corte toda;e rambem trefandavaalburn, que decorrente mal cheirava;mas aceitado fora , que em tal diaf o l k também peona a Fidalguia.

Orávamos attento com ifto que fe fegue, que he vidrento; nem eu hidorias quero com o Senado, pois de camaras fou ameaçado; demais, que o Prefidentc he meu amigo, c lie íatyra aqui tudo o que eu digo , porem hc, porq ha aequi taes Fftudantes, que fe lhe pega a tinha de ignorantes:

Com invenção bé freica,e bc primeira, íevio n o Corro de agua huma Ribeira; com que a pezar da Camera atrazada, o,car,a, fieou cftacoiu louros coroada;

de huma pintura alegre veftio tudo, <Wra> por melhor, e mais razo, q velludo;

tudo de huma libre, bem innovado,$u!k\ c tudo para alli vinha pintado.

A

r e n a s c i d o . i oyA Mourilca , no accyo , e no valente, certoque cativava toda a gente; taõ natural, que eflive equivocado, fe da Camera era , ou de Belgrado; ebempodieô íer, pelo mcdcllo, todos A racist que o Rcy era murzello.Atraz da dança nova , com fadiga, ■»,«> vinha outra dança velha , e bem antiga; porque eraõ quatro velhos, etnó velhos, que cm camaras podiaò dar conlclhos, com becas atè o pc feitos Collegiaes de fuflic.

As Siganas,por certoqueeraó bellas; mas ganharaolhe a eh aça as duas pellas, jogadas com donofos rcbolliços, a quem naô davaò faltas os íerviços;( porque a qualquer lhe toca da Camera fazer ferviço à boca) porem là para a porta,de elevada, v i huma a hum bolleo bem arriícada: o juiz, mepermitta a faculdade; e tique em m im > fe m i n t o , na verdade.

Veyo

I08 P I NTOVeyoa cavallo hú homem bem felcto,

que era muito bom filho,mas mao N eto; porque à Camera dando bum menofcabo, aos Touros limpamente davaorabo; he verdade, queas ordens naõouvia, e polio que gritava quem podia,a iiiiiii mv mu*»*» * “ jmò o que v é b ouvia, o que gritava; e o que mais fe lentio j f o y q u e correndo tanto, naocahio; mas para o outro dia cu o apeno, quenaõpòdeefcapar delle icteno:

O Conde, com cortejos (oberanos, fez o mefmo, que faz todos os annos; e fazendo mais galas, diz o Povo, que fez muito , porem nada de novo; masquemquizer pintar humCavallciro, peífa os moldes ao Conde de Pombeiro.

Sahioo Cavalleiro galanaífo a terreiro, de paffo, onde com valentia recuava, taó cortczaó, corno íei tao ou Java ,

te-

R E N A S C I D O . i 0 9

fecund0 ouvi a gra ndes,e pequenos;(nos: mas queira Deos, q os inais naó façaõ mc- para mina, quanto obrou,toy hü portéto; e quernae parecer, que he home in Bento; que o livrar das caludas do demonio, foy por fer muy chegado aBcatoAntonio; c le murmuraçaõ houver interna, cu fico que ninguem lhecaya à perna; pots na ici la mold ton , c mais i m area, q u e naõ ió monta hem , mas bcmfeapca:

HumTourinho inhio, de pouca conta, que naõíabia bem jogar de ponta ; vay húCapinha efperto,e poelhe à ilharga da banda efquerda huma cípada larga, c porque boldrié não tinha o 1 ouro, o Capinha lho tez no proprio couro, moítrando naeftacada, a choupa

que tarnbem "I ouros ha de capa,e efpada; die do Roncaõ era pela pinta, mas dc Freixo ficou dcEípadaa Cinta; c rompendo por chuços, ebaonetas, fe foy pòr,hombtoa hombro,cuns baetas,

,]j,e

H O P I N T O

que apertados fc virao do enchimento; mas elle, a todo o riico , Fez a (Tento; cfem qucalguem o m anque, v io T o u ro s , com o gen te , de pedlanquc -• trepar bois por cicadas, nunca v i, agora fobir beítas, il lo í i ;

n «Ao..' {•/s'7'11'w'-n-i omillM (TíTlfí*H M . l j | - ' W i i l l LI j L C . r . u i v ‘ ?

que o matou: e m o rre o honradam ente .H um garrayo ia h io , taõ endiabrado,

que a hum Forcado,no ar,teve enforcado e queria açoutai lo , ao que m oidrou, pois os calçoés abaixo lhedeitou , por fin a l, que indo a EIRcy o tal villaò, citou a todos cos calções na maô; ecom o o requereo com teftem unhas, venceo ao b o y , que lhe cahio nas unhas. ° Ma'* O M urriaò co T o u ro teve graça, hnur a braços hum com outro pela p iaça; ;;r™y em cuja porca guerra, que fora a queda ds ambos, diz a terra , íoftendo em íi viventes duas m uralhas,qera hum butro ,e húT ouro de cangalho;

mas

I l lr e n a s c i d o . mas querme parecer no valentaó, que tem peito eípaidar u Murriao; dó pode em contendas ícmelhantes * (cu competidor então de A br ante;.Entre tantos ailumpms, ^fov novo o doCcxhciiO dos deínn- IC, rumbeiro de avraítaoos, {ios,e piloto de bois, por leuspeccados; ninguem entraacavaüo nos taesdias, ícm que na praça taça as coitezias 5 picada a mulla dellc as nao ter feito,0 obrigou, com tal manha, e tal effcito} que andando cllc, mais qucella , cortesão, cila as fez de pc atras, cllc ate o chaõ.Naó mclembra mais nada-, com que cita tarde dou por acabada; voflas merces perdoem , que outro dia, algum paííb haverá, de que íc ria.

L\Q

112 P I NTOT h qu in to d ia de 7 o v o s , que foy o prim eiro d a fe f

ta de N o ji.i Senhora d a P ie l a lc , toureou D, H e n r iq u e , por f in a l que calvo ; h o u v e h u m

T o u ro d l fogo,co>n E uropa ja u a d a n c líe

S Y L Y A,

H E a fegund a jornada ( v a d ude Sylva , que íe expõem u ícr í) I-

daquellas mas venturas,Poetas mofqucteiros, e forçaras, que da nobreza, cm cima , leguros tenho , Sylva, Ramo, e Rima; và cite ramo, ao outro e m b a r a ç a d o ,cfaremosdeSylvas hum vallado.-

Varrida a praça jà, de ambos os lados pela verde vaçoura dos íoldados, vcyo entrando huma rua dos odieiios, de duzentos vifmhos aguadeiros, com tantas, que ja hoje íenaõ acha, nem para huma mchnha, hu ma borrac.n naas cortemos o r a m o d c c a r r e i r a .

antes que diga alguma borracheira. í e

115R E N A S C 1 D 0.

Pela terra vi danças militares, etambem in ft rumen tes pelos ares; lunnaarpafeitaadufe,aliiie via , que hum Foliaóyom aiçnniy bem tangia; era bêbado cm íòrmaotal bizouro, porque arpa para o ar, ío a de couro; mas por bem nova a fella , dircy delia, q u e ate teve hum a arpa feita pella.* Outras danças bonitas conto o ouro fthiraõ;mas que importa? Saya o l o u r o ,

vcyo efte com tal fogo, e por tal arte, que do Mundo abrazou a melhor parte; mas ie no cftrondo o luzimento topa, arda afanta, arda obturo, carda Europa; fobre o Touro lahio taõ inquieta , como quando partia para Creta; vinha taõ enfeitado o negro Touro, c cm hm taõ abrazado que naõera ode ]ove taõfcimofo, nem toy o de Perillo mais fogofo.

Entrou o Cavalleiro,Cfuro. como fernprc no Ferreiro

U j ÍÍÜ

114 P I NTOe como fempre , mal afrortunado, trazendo fempre a forte annexa ao facto ., m uita galantariafez, por fazer dos T ouros zomoauasc de h u m a, c outra lo r te ,f e z , zom bando zom bando,m uita morte

j .r — nn.Mfnnlrnm' ; i:■ateque ua uei^uuja, ,conheceo, q quem zomba, também mor naó m orreo, porem viole neílcs termos, por lin a l, que eu ouvi nalguns enfermos daquellc meffno achaque, que nunca virão dar tamanho baque, ja fabem de quem toy toda aPiedade, q u e o livrou de mayor f atalidade; eà minha conta to m o ,que fique para o anno por M ordom o: da lua queda antiga havia p rova, mas hoje tem com tedos queda nova ; due era o que lhe faltava» to d av ia , pata m jf tn r no m uito cm que cahias c com o de 1 outeiro faz cftudo »c ih io m i l o , q u e h e b c m q c a y a e m t u d .

poreie

R E M A S C I D 0, I ! 5

potem algucra, que cntaõ dcirava 0olho, deitou tambcai as barbas dercmolho.Nas gavrochas ,a pcixes icraclha d as, (d as,

.,.,0fomentc houve choupas, masocuia- houvchü asar delias,sic hüa,c outra parte,-

largo, como o braço que as reparte j íjneefta ici.lanoe.ceyo , c na nqucza , joy como de Piedade ,ücgrandeza, mas nada toy violento, que ha fempre, em feita de Arcos,luzime c naò digo que tez o que dev sa, porque fcy que f agou 0 que fazia; quando efte a campoíaya, queira a Dona da fefta, quenaocaya; c fenaõ cahc o Conde no leu dia, fica borrada mu ita profecia > porem cu lhe prometi0, quer caya, quer naò caya, 0 meu Soneto.

, db

n 6 P I NTO

N o fe x to It i , r /n w e to u re o u G o m es F re ire hou-

~jp o ff!ftj '7 l u ' o <lt fo g o 3 c o m j4jy ic a c m cnu-ti,

S Y L V A.

m Í m \ 7 o f - r t n f r i c i l r v r n ^ i ’p n f n

A V í v vyunwj *.v* j ?‘u m i» iw ‘

onde.por mais Piedade,foy mats go c alguc,na fcfta,aosTouros deu pataca,! te; que a naõ poderá dar iabbado a vaca; mas ha brio da gente do lugar, que faltàõ a corner, por naô faltar: c com razaó; que hc força m anitefta, o ter mayor jejum a mayor fefta.

Foy m uito bom o dia, por naó ler Sol intenío o que fazia,* epoisefte me chama, a bons reclamos, bem pòde íer tambem dia dc ram o s; e bem podem bradar eftes, c aqueiles, que eu na paixao dc Sylvas, tenho Telle >, para me defender de quem me afflige; que he hú homem Longuiohc», crucirig

Lagn-

117■RENASCI DOLagrimijada a praça dos profetas

em procifíaõ, por duas linhas rectas 3 e muito devagar, que gaftataó tres horas em chegar, lendo tempo ostaes bêbados garnachas, para vaiarem trinta mil borrachas, viftofíiíim, porem muito ronceira, foyefta prociílaõda fcíla feira, vindo no coice as tranças coftumadas, que dc tanto dançar fora6 cançadas ' Sahio de Africa a negra fermofura, pofta em hum negro boy,rara figura/ sfte, no muito accelo, molhou logo, que Africa, mais que Europa, tinha fogo; eíeporhuma ardia ooutio barbado, site tambem por cila andava afiado; e a cachorra tambem andava ardida, bem defavergonhada, e bem corrida, que por iflb he que o I ouro dava berros, eporiílo tambem fedeu a perros.Entrou, (enhor dc fi , o C .avalleiro, uie '.ono moftrou í;'>' hsue rotirciro ?I íj iOiiieu-

I I 8 P I N T O

i u nente hum crroteve, (! cheque err a C;uc toy nut> dur hum alegito .11ci 1 v , comobyu. si'cito tern > porém nat) quizcahir, tez minto bem com liocnço deb outros,que Deos guaru cilo f. I. mui o boa a (ua tarde.

Nao ;í ic \ 'O u: cíClUCCCr O pa.iCP.tC P0y,(.|i!c mori v o por culpas de innocem niuy vayavoío 0 animal cateno , os olhos abaixou aoCavallciro , como quem lhe dizia la entre li:$ f í h r C o r n e s A n o s , à u c i a i c , l c n n :

nem para aflbuguc prcltimo tivera, porque nem era hoy , nem vaca cra

Só o Neto nau quer damos o agrado de baixar da pottura do Senado; foy rntry bem fuccedido nas correiras, mas nao por oraçoés das Regatciras, e talvez que por illo 0 livre Deos, fenaó he que o diabo ajuda aos ícus mas porque tenho occupaçaó caieira : Deos, St uhorem te icyunda feira

Nt

R E N A S r. 5 D O. Í 1

j j j t t s Touros botra p.inellas ài fcmb. s , qtit r.i fiah/una lev.tv* fen mete dchrxo M a.ca

c/Lisfc hi An metre let lot r.vn trek; /I v t ■V IS - O': pel's r.ffeMns /V I’AIX'I '■ i d m iH .1

tot i t’tr.ir n . t ' i ett : t.i Is - ai

M O i I. S.i

A Qíu me tuzmmiiapi n com baft a me Sobreiiihu

pouijiK quail vea mats alto i nuis quccía íc cuudeivu ki

( [m \ test,dr tOiii>oaiicboi, ticpois quea prizai; bam \ pimibaciiae-b:eraearcc, e \puuiobi aeíMiu:.

I upi de queni nu u uiltv uu , c o m i n t e n t 0*5 J c i o b i r

e, flame que va * ah’.r'■ i Mum paiinii i

I \ i i • Q ■ 5

f 20 P I NTO4-

Fosindo venho a meu mal;eícondame,por quern he, debaixo do guardapé; queo donaire he hum p o m b a l

5- x T ... .iMMlCa HVC ^L iuuu^^

dcentiar emtaò n o b re s cazas porem amor me deu azas para tanto atrev imento.

6 .

Deixemme eieoiidcr aqui, mas queleia eni hum buiacir .pa a vem correndo I rum v c * m. ■5 dc hum Capinha, a traz de cm

7Ncftc Cgrado me meto,

corno quem mais i e acautela que j pois livrey da panda , naõ quero cahir no cfpeto

«tu eluero ver cmque topa

i odaefta mmha bollanda

R E N A S C I D O . l i t

porem fe hum Touro me manda, 'devo de v ir para E uropa

9Sem q ue paiíc aquella raya,

i ta! id p e i to d e v id a ,aquieldarey eícondivEd e b a o o de a lguma ia \a

i ■Eueieapcy eteeie p< m

i.vvey d e q u e m ma: ■> me enlaça len tircv tu g u d a c a ç a , c v ir a dar e m baet a.

11Eu tinha num pnzãô

c quede bond cape y! mas i|u c ditoia ia <■’ ■ , íe tor dar em et vta tv. -.ò.

3 aR e m i t y que v c u m a lg u iad a

•porem ,in lvo ta l l u g a r .!.i anelo aíladapov ckgir

r.nrx e ía athuh:

j , j P I N T O

13S en h o ra s , eíle papel

pc r carta de crença d ou , pa a ejiic vejaõ que lo u h u m a co u lin h a icm lei,

H.T? r.'i/w 'sy. r\~\ .a v k o m M 7 1 (TC\ J u i j - ' ^* u t i i u i u v / K .

nas m aos do aig um cstvu riu do q u e íe n a õ t iv e r ja n ta d o , i e i n p re c c a r a c o n a i g o ,

ivA g o ra da m in h a m o rte

tícu p ey , po r v id a m in in c pois í; v rcy de C a p inha , d e faya q u e ro te r íorcc

1 6,O ra jàe fto u d e fc a n ç a d a ;

e le h e y de m o rre re m fim , D e o s ,q u e o d e te rm in a a íllm , m e m ate co m gen te h on rada ,

17C o m padeçaõ -tc a rneu vog

(]ue b u ic o aq u i m e lh o r vida

R E N A S C Í I! 0 123

c fclou nifto atrevida, asazas me cortar, logo.

18.V ei hio aqui.com bcm vont ade

nilini Dcos rnc dc iaudc ; pofto que a minha virtude 1 vireca liccellidade.

T 9Eu venho tugindo aos combos

do:, que pot matarnic raorrero; que aqui ..quandoTouros a >o cm, também querem correr pombos

2 0

Pot gofto a voat me lanço, dcSdc hum Poloa outre folo, to power ic ncllecoio polio achar 0 meu dcicanço

21.

De huns alarves do diabo, que me queriaó comer, aqui me venho valerpepucrnnu" w 1 no rabo

114 PI NTOT e n d o n o t ic ia o A h tb o r , que o S e r m i j jm o T r u e

p e o S en h o r D . fo jep h d i ü a , q u e q u e r ia ler v e r -

fo s de T h o m a z , P in t o , e s U m lo a in d a m

ten ra id a d e de f e i s a n n o s , lhe . t - e.u

v e r fos de A , B , C ,

r \ r \ \ i \ VT T?IV K J i V l jrv IAS

M eu Príncipe, e racu Senhor, dizcmme,naõ ley fe he aíhm,

q u e na lua R eal b o ca e n t r e y , p o fto q u e fahi ?

R a z o e s para o d u v id a r t in h a eu trezen ta s m i l , d as q u aes ib q u e r o d iz e r d u a s , q u e íaõ para o u v ir :

M a s antes d e as a p o n ta r , h e n ece fla r io m ed ir o q u e v a y d o C e o a terra, q u e h e d e V o t l a A lt e z a a m im .

VoíTa Alteza he li hum Aftro que pode cá ii.tluir- ,

I 2ÇR E N A S C l D 0.

noTejo hum novo P-adôlo, na terra outro PotoiTi;

Qiief dizer ulo, Senhor, quecom mais ouroqueOfir, ixxic fazer D, joieph, max do quo hz D. Dimz.

Vivaó le.us Pays muitos annos, re>r íueeellaò taò feliz ■ c cu queos vejano C ico Rcjnar ilej[’lies dc won -

Eli, era iumma,iou burn pobre, palavra, que inclue emu quantas conias ha no Mundo por natureza ruins;

Elle appcllido jà otrouxe do meu materno Paiz; e lobre ifto , fou Poeta veja iehacouía mais vil?

Ecu rcccyo que nem tenha,I obre que morto cahm mas que bom fora imitar : o Sem o po! se do A. 11; ■

i S d Ü

12Ó P I NTONaô ley que fiz ás fortunas, porque ío( triftc de mim) quando as naò poíTo lograr >

hc qu c as c h ego aconi c gr 11 r.Su!a netla idade de ouro huma mina defcobri, que era por certo Keai,porem hoje, nem ietrilMais que defapego proprio, ler dtor vo alheyo cri;(que para me interromper nunca me faltou hum git)

Lá também pelo U1 tramar de honra, e proveito me enchi; mas, por meus peceados, dey com tudo cm vala banis.Hum officio de Defuntos (fetal fe pode íervit) alcancey para viver, e de agonia olotri;Eu entendo que foy IbnnO epezido. amcuíemu;

' 1 PCÍ

12-7E E N A S C I D 0.

pois nas minas me ueitiy, c un carvões amanheci.

Tenho molh ado o que ion > ouche indo nada ate aequi» agora vamos ao calo 3 íc a a lo podei mos ir

Caindo me d ill era õ ta! .. lup i u7 eu , que en tao naici e que na calca picava, parabém pintolahir;

Logo na paina cuidcy j c logo, em menos de hum m s . ao meu polleiro mc tuy , ca cantar mc rcíoivi;

Eraõ dez horas da noite, quando entrar á obra qu\z .. cparafahiraluz , o meu Brandaó accendi.

Enrrcy com grande vontade > mas também he dc advert ir, que naõ tinha que cear; c o o t q u e . so b re d l o d <n m

Âuu*

U8 P I NTOAmanheceo, puzme a banca,

(por ter pouco queveftir) batinatefta, occorreome, puxey papel, eefcrevi.

Mas naõíey c o m que p re tex tome quer Voíla Alteza ouvir ? que pòde hum pinto cantai , iemoforquiquiriqui?

Aqui ha gallos Poetas, que terao, para ellrugir, veríosde cácaracà, cnaòos meus depipi.

Salvo me déffc Deos graça, por eftc cftylo pueril > com que podefle piar, paraVoffa Alteza rir.^

Vamos á outra razaoiehe, que eu íèmpre preíunu ? que para hum Principe let, feria o verío i nfantil.

tatfimqu rro ’cr fc polio dar com alguns |U veins,

r e n a s c i d o , npa ver fe acha mufa,,mufcDominus, Dominiytva mim.

l i l o h ide ler ; v á de v e r íò s ,com poftü s de q u i s , w I q M i

b o n u s , bona , boiitiw , IMO m e u s ,wcã ,mmn , Um.

H e m P r i n c i p e , q u e tn.6 c e d o

acorda ao m e t r o í u b t i i ,

Poetas quer levantar, que agora eftao a do rm ir

P o r boca de h u m late Lite ,j a o c o r a ç a ò m e d iz ,que a p o d ia , ern ícus te m p o s ,hade áo rcccr aqui.

H u m A p o l lo p e q u e n in o , já com luz tau v a r o n i l , as M ulas hade accendet aos d o z e d o feu Z e n i th

O h quern m e agora podere q u a re n ta d im in u ir , fó p a r a e n t r a r . defta con ta , mi miK !a• apreinh>

sH ad, c.

vi

Vjo PI NTOSenaò chegaffe taoalco, cantaria feni lubir; que aos Poetas dc matomatambemtsm conta, arlequi-.i.Tenha mao , Sen hora < v í t: I a que nao vou bem por aqui > c podcrey tropeçar cm quern naõ quero cann-

Nem tambem quero cntauai a q n c m v o u a d i v c v tin caffim, era bom Portuguez ■,(que he mclhor que cm mao Latin> Di<ro,quetcmVofla Alteza hum Pinto para o iervir; e fe o quer ver bem cria do, deitelhe grab do Brail!.Deos a vi la lhe prolpere > para que toy nando, cm iuu, depois da gnça eio Í mpe, alcance a gloria do Impl.

, Amo>-

r e n a s c i d o . *3lfcottnlt carta de <uer(os de J,B>CS para leroju-

bredito Senhor.

R O M A N C E.

S Enhor , jà que a Voíía Alteza por graça, a carta compuz

Jo (eu primeiro A,B,( , cuet a do A,X,B,U

Em nome deDcos, Anicu,5 cja o ponteiro hurna criiz , porque para me tentar. nunca falta hum Bclzebu

Graças a nofio Senhor, que a tal graça me conduz quefoude Principes Meftre, c ('em í aliar io nenhum 1

Mas naõcra lingular» leeu folle Meftre communi» eu i failat ern pagamento}Icíus , nome dejefm!

Eu nunca aípirty a tal s nem 1.0» fome * tal me cxpU7

! 3 1 P I NTO' antes para fazer verfos

acho que he bom em jejum.OsÀldlrcs tem humtoftaô

cada mez,de cada hum; a mim b.tlhme o Real exercício,a que me hiy.

Aílim creyo que vou bem; c íey que hade haver algum, que envejeapenna do Pinto, porque a fua hc de Abeftruz.

A propolito do caio já na terra anda hum rum, rum. que heide fobir alcatraz , para baixar alcatruz.

Mas Dcos fobre tudo; c vamos., pois naõ vou dc razaò nú, onde cegopoílo entrar, fc hum Príncipe me da luz

Enaó repito outra vez o que a pobreza produz ; porque as laftimas enfadao, e fedem mais que a bodum.

l)env

RENASCI DO. 13}Dome attençaõ V oíla Alteza,

jh que a amallo me difpuz, que aqui lho quero moílrar,comroçarlhcbemalguin.

Xanri) os ieus braços fe eílcndaò, que naòíó do Norte ao Sul,,b„,, toinlimi df T .efteaOcftc.JüftJ «.in»*----'---- -fie vcjaòpoftos em cruz,

Para que defeubra 11a A lia mais terras que Calecú, mais riquezas que Mogoi, c mais Praças do que ünmiz.

Porque na America veja da Bahia ate o Peru, que íaô tudo pontos dc ouroas Bananas, cos Cajus

Povquc pela Africa entre nofeufoberbo Andaluz, de quem asjMou 1 iícas í ropes fiijaó, qual gado vacum.

E porque cm fim veja Europa,- ;,e aoíeu Pmjerrai; aduz .

11 - ui

jjjj. P I NT Onão ( 6 o grande de Hcipanha » pore m de F rança o Monfieu r:

Tanto o paò de munição ercíçaemícu Chrillaópaul, que nas Mcuriícas cearas naõ comao outro cuícús.

....... ..... i~ ~ , i..JL' I c p a i c, d L i u U i L , 1 c uArmadas, como Corfu, Torres, como Babylonia ; Caftellos,como Emaús.

E em fim, contra Inficis íe|a •. com a cfpada, e o arcabuz, o primeiro D. jofcph, íegundo D. Pedro Cru,

Bafta,Senhor; porque temo, que a Mula diga, ora íris; por lerem neutros, e poucos todos os nomes cm u.

Sc talvez por ifto, á graça de leu Pay me reconduz, eu prometto dar hum ay , com que todos digaô; u y '

Guard.

RE NASCIDO. 135GiiardeDeos a Vofla Alteza,

e a mim, porque tenha jus ele me ver,onde a feus pés mceftenda como hum Atum.

A /V a m r a t n v a f w , ejtsc os F r a n c e s e s f z j t r a on ’. f 'T - /_ L . rz ... - . rv-* ;

no i \ ! u a c j a n c t r u ^ s iu n a t vu n c-tf a u go ja j lU 'ia jl-

I s , r os p re to s , a d c H m l h s ; porque 0 T erço da h i f i n t a r i a , que la ( e a c h a m , e f la v a no

cam po i pe quedo, no tem po cm que 0 in i­m igo e n tr a v a pela Cidade: n eH a fu n ç ã o ohrarao os P a dres d a C om panh ia como / e m p re ; e as m a is Religiões fug irão

com 0 B ifpo .

D E C I M A S.C Anto doBraíil o eftado,

logs iro a tanto Bogio, que nas invaíóes do Rio fògio de fèr affogado; item canto o negregado valor dc tanto rateiro,

K ui que

I 36 P I N T Oque maos gozos do dinheiro Faz ver a quem , fcm agouro , buíca ío por barra de ouro a do Rio de janeiroCom primores bem (eletos andaraõ cqu 1 v ocad os os pretos, como íoidados , os toldados, como pretos; no campo eftavaò quietos , quando os pretos, corn bem preços cortavaò tantas cabeças, que qualquer, naquelle dia , fobre hum Franccz, parecia humS. Miguel ás aveças.DaOrdenançaobom Prelado, fiando pouco de fi, por nao fer biípadoalli, toy butear outro (agrado s das ovelhas o trilhado íeguio,combaftante empenho- mas eu louvolhe o defenho, porque era 0 que lhe convinha ,

(cu

r e n a s c i d o . 137fendo, pois força naô tinha, força o vaktfe de engenho.Aexcepçaõ dos negros eraò outros Bentos no que obraraô, como Trades naô andaraó , como pretos o fizeraô; iá i, comligoderaõ. fmns ao remo , outros à \ \ !a ■ e nallha, a mor cautela, rodos,com iguaesab-aUos, correrão como cavallos, que tmhaô largado a fella.Quem então, com valentia, fez, contra o Franccz adycrfo, de huma companhia hum 1 crço, lèmpaflarde Companhia > foy dos Padres a ouladia, deixando nefta funçaô là folta a antiga qucílaõ > pois moftraraõ eminentes,

que lendo as letras valentes, nvus nobre; rmeas armas íaos, Ul| Us

, 3g PI NTO ^OsEfludantcsprovarao

cmcomo íoldiulos etaõ,e a co :iclufaò defenderãodas armas, que nuõcuríaraõ ;a Minerva dedicarãodclfclona a plataforma;1 • 1 - •-

U C l X i U U l u p u i u n u w i i í t 5

como melhor (e penetra , as armas em boa letra, e as letras cm boa fôrma.

De alguns Paiíanos te crê, qucosdamnos forao communs; porem morrerão alguns, que le naõ fabe de que; o que a mim me cheira, he, que o que me fede feria; porque huma velha, que via por hum buraco o flagello , diz que era fangue amarello oque por dies corria.

Hum, que em caía fe meteo. e huma gallinha matou,

de

139RENASCI DO.decujo fangue (c untou, pormoftrar bcin queeralcu; com a mulher íe cozeu, fem agulhas ,eicm linhas; c quando, cm horas mefquinhas, os negros, por intcrvallos» tratavaõ de matar gallos, tratou de matargallinhas.

Em fim, podcm-pôrefcola, c enfinar pontos de guerra,os tigres filhos da terra,e os leoês filhos de Angola ? fe por huma igual v itola medem ícu valor invicto, em memoria do conflicto, dous lampadarios poraõ, hum aS. Sebaftiaõ, e outro a S. Benedicto

Si foro.

140 p i n t oA entrada, que faeraõ Suas Mageflades cm ' Santarém , feftas com que a Camera os recebeoy

e retiro para Sah a terra, ojj'er e eida aoMon- teiro rn>r< que ajjisha nacafa dascotu-

ças, com tres camaradas,

^ x r t X T \M L V A ,

A M igos, o s da caía encortiçadu, (radu gente do monte, altim,mas gete hon-

fegundo oque alcanccy n a s quatro canis, ritonWas, racionaes, neas, e raras, dos quatro camaradas taõ benignos, feiticeiros,fataes, fortes, c finos;/ va5 com tf. e RR. mas paciência, que o nao pude efcufar em confcicncia ;> ouvime da jornada ofuccedido, por nao faltar a mim, eaopromettido; que inda que do caminho moleltado, eu fatey por naó (er muito cançado.

Naò pude pelo mal q em mim fc emt >ir ( (alva tal lugar a Salvatena• cv ioK

r e n a s c i d o . 141 e viofc muito bem, one por milagre hiy a Santarém; porque irera íozuo ;K[ondc por milagres todos vau; muito, tem da tal terra os Santuários, e muitos mais lá craò neceflarios;_ l .m w p A k f*v7 TVn<i fn n n r íc V eivinj-'n-vv---—---- 7 - _ . ,naqueilc Povo adonde ha menos tc ; eeilaacauíaierâde haver em Santarcm tantosque há.

ChegouSuaMageftade/] Deos guarde, e na fegunda tarde quiz dar a lua entrada,porque ficaíka Vdia authorizada; tez todo aquelle Povo 0 que devia, cm demonftraçocs vanas dc alegria; dandolhe aquella falva, quedá todoocrcadoaoSol, eaÀlva-. onde a Camera obrou íamoíamente f porque deu , fez, e poz tudo corrente

Fizeraó là entre ís varios confelhos, para alu&arcm hun* volantes veld og.

a >m

com que bem fe calçaííe, ou íe veíhfíeaporta, que cu cu idey íenaóabnlle >porclla foy a entrada,que lhe faltava ló o efiar fcc;..iua,por huns, que a entupiaô deshumanos,oiro Scr/.uaí Populus R o m a no s.Chegou EIRey; ehuradeiies, rcíoiuto, lhe empurrou huma Decima em tubuto da qual, por mais (eleto, cm memoriadeixey eftc quarteto.

Os defla fileira , ou fila ,que parecem Vereadores,naõ íàòíenaó íervidoresda Camera defta Villa.

Tanto diíle o Poeta defenvolto ,que da Camera foy hum verío íolto;e por ter na cabeça hum taó bom dito,na copa do chapeo o tinhaefcrito;motivo foy de rizo a toda a gente;no que EIRey reparando, muy prudente,parece que dizia, cm vozes graves,dav ca V illaó num, as minhas chaves,

1 quaii

» 4 3RENASCI DO.quando todos nas varas agarrando,0 forao para dentro palliando.

Hia EIRey ,Dcos o guarde,taõ ayrofo,1 a o guapo, taó benigno , e mageíloio, uiwnaòacho a quem poííá comparallo, jfènaô a elle mdino, a bem pintallo.

A Senhora Rainha quiz também entrar pela tal porta em Santarém; no que eu reparo hz, pois vendo tal, naò ley como tal quiz • mas a razaó he ciara, c manifefta , labendo q entra o Sol por qualquer frclk Na gente, que por vella 1c matava, parecia que o Mundo íe acabava; c eu, que o Sol, c as Eftrellas vi rodando cuidey que fehia o Cco delpovoando; mas íaó de Santarém taes os vinagres, quenaõ conlervaòeftes por milagres! Parou também lá junto áVereaçao; ehumdelles desfechou nafta Oraçaô;

Efte Povo,Senhora,cftá alcançado;■ ‘.os, que lhe feryiteos k Senado

oarú

144 !. 1 N T 0para forrar as capas delta cor)ainda o eftamos devendo ao mercador; cm tempo,que qualquer de nos tomara ter muito melhor íhdam melhov cara; mas os tempos correrão de tal íorte, que nos deraõ ele vollo com tal corte ; pelo que,deve V olla iVíagcitacie, fazemos clia Villa ja Cidade , para floria dc alguns V dlocs agreltes; e naorepare em nos, que fomos eltes, oito fomos, cora hum maisordinano, queda Camera he, bem ncceflario; c porque veja bem da Villaotoko, _ por nos fazer mcrcc, hade ir com nok°> verá fe pòdc haver terra mais peca , ainda que delia corra 1 eca, e meca, fó folgará de ver (que hc o que tem ) clles quatro olivaes dc Santarém; mas perdoando a noffa confiança,U dentro naõ hade hir fcm cfta dança; c fonnandofe os oiro muy depretia. foy a dança dos páos a lua pena,

r e n a s c i d o . 145

eu cuidcy que algum baile vinha guapo, no cabo a dança toy de Manoel 1 rapo.

Kftavaó moç as bellas c0!ll todo o teu tra pinho nas janellas,anv. olhos taõdevctos aos reípcitos,one lhe faltava to bater nos peitos.[1; oia vi eu chegar m u y de lam peira . d ’ /e n d o a ou tra íua companheira:Mana, deixaime ver bem a Rainha 1 olbay como vay rica, em cadeirinha > benza a Deos, cicyo q anda jà occupada ; c nos aqui metidas (em ver nada.' nolTos pays íaõ, ícm duvida, daquclles, que a maldiçao dos filhoslhe vemdelles) he alva, comoa Aurora; ta fer de Santarém» milagretora.Ao que outra diílc: appello eu por cila, que milagre íerá, íahir bem delia 1 etodas acompaflo, em voz fcüiva, viva a noíTa Rainha, viva, viva.

Para luzirem mais,-ie fogo, neíía uoitc . houve (iiuusj

iun

euovijpo i ppint'-ntraques.doasfoguetesdera^o c i . u ^Paflou cmhma none d o p ^ >

„ ~ m, imnnheceo, quetoy ai. 1 pa. .POT'parecerem T ouros de vcrdaüc,

quemoftroufada Camera Meirinho,pOTslogofezlimpczanoTe aro ,

í i i foy- A imitando a Antoni o A ntu ncs, vivo earà ruso, olnÊmrcSimaoNuner, cm W a alii faltando á corteja queoaaó fazia mal, quando a Touros matou de boa , c de ma mor ,

nr tcr cm hús delgraça,c em outros 1Stam ,q,,cdcgo!lMm a o p o í,ofo>

|U r ore v ezes deu f ai v o lo > tacs U h i -voue também nclles entrava qucui ui u ) i io oTouroeLiava;agente, que agauau - ffias

r e n a s c i d o . 147mas poc naõ offender a quem lhe acode, cortou porfi o homem quanto pode; n«m. a0 que eu diíTc(pois botta naõ havia) *£ quefenaõ iora o loro, apcrnahia ; c feria, por certo, a vez primeira, ouefe perdefle perna ,c dlnheira.

PvCtir ouíe , deitando defle dia ,i tarde, na fua íalta, hum tanto h ia; mas logo fc aquentou __ com hum Touro, 011 Leao, que íe f oltou , a quem tez toda agente o campo banco, dizendo a gritos, guarda do Boy branco! O Povo foy daGuavda o agoureiro, nara oTouro enveftu com hum Archeiro; porem, ainda que bruto, bem labia a attencaõ, que a tal Guarda íc devia; c íe nos cornos o ergueo , da rua, foy íõ para plantallo nos da Lua, e tanto o levantou ,por v ida minha, diíbncta.q cu cuidey ,aocahir,q doCeo vinha.

Era o branco animal tneyo manchauo-V nomasmolcas; ( para alü pintado)

1. mas

,48 P I NT Omas idem das quc tin-ha a pelle tofca, nos arrancos rnoftrava inda maismofca. O Netobcm qucriacom tremores, elconderic no cá dos Vereadores, q u e defronte aíMinõ, porque fobreclle Camera fariaõ;

nnr mnim nnç 3 HYp (Ta era chamadn■-1'”*------ a í , T------- 3naò laia , de outras preflas obrigado ; rica figura andava, quando fazia que liia, c recuava; tile foy o entremez deft a comedia , de quc o Povo íe ria a toda a redia ; graça o s Touros tiveraõ; mas atraca toy do Conde de Unhaõ, q lhe fez graça

Tratarao de irfe embora no outro dia as pefloas Reacs, e a Fidalguia; por final que eu me fuy bufear poftura, para ver da palfagem a fermofura; aonde difie, admirando a clara enchente fermofo Tejo meu, quam differente; por cfta he que íc diíle, em outra era, nus la virá a frefea Primavera -

rn-T

R E N A S C I D O . 1 4 9

mas ay que brevemente nasvafantes tu tornarás a fer quem eras dantes!Affim foy, e ainda mal que foy affim . pois tudo fe paliou para Almeirim: para lá foy EIRey á caça groffa, com todo o principal de C ,arago(la:na^falfnn nnp mcifar t>nç------ ~---------- r -J------------~ ~ ~ ^ v -v .^ v ^ W ,

porque lá hiaó muitos matadores, que eu de longe qu iz v e r , e naõ dc perto, porque o dar lá por erro,diz que hc acerto.

Dizcmm e q Diana caçadora y Á Rainha

fcguindoaEndimiao,ao boíque fora, & JL- e que por comprazer á lua gente, matara hu ma R a pofa real m ente: caça groila naò quiz, nem tal a inclina, pois todo o (cu emprego he caça fina.O h ditofa Rapoía,que hutna m orte lograílc, a mais fermofa, que até aqui le tem vifto nos annaes dc tantos façanhofos animaes/Por hum M onteiro m ôr folie batida ,para ter neíla morte a melhor vida;

L ij ‘ que

,-0 P I NTOque eSTe fanguc p e rd id o , ou derram ado, brevemente o verás recuperado na vea inexgotavel, eligcira do noflo grande A pollo da Ericeira, q u e he quern cm Salvaterra tem Parnaio , tern fonte , tem T h a lia , c tem Pegdlo;. inm r dm. vorlhs he nue.m in----------- 1-- _com ninguem quer trocar, porq tern Cro

N c ila m o rte ,Rapoia, em fim , terás tam bem meu epitáfio de A qui jàs huma Rapoia,em Pheniz traduzida, que por meyo do fogo teve Vida; e hade icr nas Eftrellas collocada, entre animacs Celeftesalvcrgada; porque nefía coitada luminola he bem , pois Lead há, que haja Rapoia t}uc Aftrologo haverá, lendo efía lauda, que Com eta te julgue, pela cauda ; influindo a Almeirim fatalidades, cm grandes, de R apolas, m ortandades, m õ por lograrem m orte com ocffa, mas por morrerem, f im , de inveja delia

Aqv;

R E N A S C I D O . I f I

Aqui feagacha a Aí u i a, c mais naò can- que outro valor mais alto íe levanta; (ta, que a minha tofca pluma íó íeafíbuta, quando muito, a meter os cãcsna mouta: mas fugindo da pena asoccatiòes, vou para 0 paraiío dos Chavões; c* neício heide chamar. norler prcciío. i quem lhe naó chamar o paraiío; íd hutna couía tem differençada, quehenaõ haver al li fruta vedada; antes notorio he por varios modos, queaquelleMontalvaõ he para todos; eporíer paraiío inteiramente, atchumaDona vi, queeraierpente; he paraiío, cm hm, de hum bom ladraó,^ nem hi couía melhor, que iílo de Unhao.

Loj  S m

, p P I NTOA Sua tMagtfladeemftfla deRejs, pedindolhos.

D E C I M A S,

M onarcha heroico, Do leys entre todos mani feitas,

aflim como aos Reys dat idles, achar nos Principes Reys; clTes quero que mc deis, porrncrcc tao icnhoril, queapczavda inveja v il, tenha o Mundo que admirar, de eu vir a tres Reys buicar, e levar trezentos mil.

Os que em levantado coro com voz de metal clpantaõ, id por tres Reys he que cantão, e eu fó por quatro reis choro; nefta miferia onde moto, ha dez annos, por meu mal, ouço dizer cada qual, que a iom que mais lhe convem com voíco Real voz tem . eu ío nem voz, nem real

r e ' s a s c i d o . i f 3

Se quereis hoje imitaraos cres,que offertas a Dcosdaô , por decreto dos Ccos .por decreto podeis dar;podeis cora ouro iíèntarpuem de mirrhavos iíenta;i ' i n n o m r u r p r m o infvnM ~ ” ~l r-------------- -a Deos, corn vofco, eftc dia pois, na vofla Epiphania hum pobre a Deos rcpreícnta

i) menos que dais aos mais, quero eu que por mais me deis; que merces feitas por Reys de força hackle fer Reais; ellesbuíco Orientais, nelTdmaõpropicia,e bcíia, confiado de achar relia o que mais luz do Oriente, que para o meu occidente lerá foberana Fftrclh.

Pois logo na appariçao deec)nfbd]:!CJntaõS';elb

1 „ m j em

154 PI NT ocm mim Tenti, por Eftrella, influxo, dc hum Key D. Joaó: hcdc Piutarco opinião, que os Principes faò Planetas; c aílim , livres de dietas, feraóporvòs abadados, sw tinidos .VOO >

lc íois Atiro de Poetas.Sc o muito pedir enfada,

ja, Senhor, lhe abaixo o preço; nada peço, c tudo peço, que o que eu peço,he tudo nada mas fe o dar tambem agrada, porque o pledtro va cabal, a vós offerto efte ta!, humilhado, e reverente , dedicando-o realmente á vofla mente Real

h i 'i

r e n a s c i d o . i 55j Jo 1J. ’f 3 da Gama para a Índia, la em ta! al•

ti-r.i tremto o rn.tr o que os Marinheiros tive- ran a mao agouro , que lho defvanecto o dito Conde Almirante, dizendo, que ornar tremia deli f. He de (al>eryfte na Academia antecedeic (cdwha dtjeurfado f obre a Pedra Filofofaljar- d,ia teimofamente dizendo, que havia em Ve­neza h it prego, ametade ouro, e arnetaàc ferro,

R O M A N C E.

O Uercm meterme cm funduras, porem pouco le me dá,

fc o grande Valeo da Gama hc com quem me meto ao mar,

Oh que bem cabia aqui o que Camões meteo lá nos V arões aííinalados; fe cu foubera accommodar.

Naõ era taõ mao principio , nem fora dedueçaó má; porem paííe mal, le pode bem íem oitavas paliar. í am-

1 6 P I NTOTambem pertendo fer breve,

porque quero dar lugar a ler os papeis em proía, que por força vem a traz.

Navegava o Gama inviclo pelas aguas Orientaes;( ( m i/ii {-VxiTAMV* .TC H r \ T r \ n\ l^LIl V-jUV. IWUVÍU ^quedo Oriente Hojà. )

Hia cite, como digo, e como a fama dirá, navegando vento cm popa ,( quenao ha mais navegar. )

Em certa noite, daqucllas, que entre os Poetas naò há , que he huma tormenta, todas as quccoftumaó pintar.

Era clara, como o dia , bella, como de luar, alegre, como de Agofto, e como dc Veraõ, tal.

Era no quarto da prima, corria hum vento freícal.

r e n a s c i d o . i 5 7

taõ brando, e taó lifongeiro, como o que agora nao faz.

Na altura do Promontorio, qui nhentas léguas ao mar, naó vendo final dc terra , da terra viraõ fmacs.

Pois comem raõasamias> " *fora do feu natural,com mais cólera, que, fleuma ,entre fia murmurar

Os do caftello da proa, i comíeu medo, tal, ou qual, dc que algum baixo feria comcçaraõ a gritar.

Acodio o Contrameft rc, elogoíem mais, nem mais, váa fondereça abaixo > vá, diíferaõ todos, vá.

Foy; ea fctcccntas braças ícntiraõ em fundo dar, pucharaõ muito depreda , e vur.1.6 caio fatal!

Qut

I j 8 P I N T OQae a chumbada duas cores

trazia ,dcdous metais, amarelo, e vercienegro > que nao era verdemar.

Acharaò -que dei a cm pedra ; e rodos, (cm mais cuidar,

mm rloriodLi'willeuavj- , ^viV. %-...... -na Pedra Filolofal.

O Contrameftrc affinnava, que era aflim; porque ieu pa\ , já naquella mclma altura, deitando huma linha aoroai,

Hum peixe trouxera acima (deque teftemunhas ha) que dentro tinha no bucho hum prego de ouro terral.

Por final, que então lhe diílehum Marinheiro íagaz,prego dourado? íena para mentiras pregar.

Ao que relpondeo hum moço,do Gama lamihar,

que

RENASCI DO. IJ9que p ou viva a (cu amo arguir de pedra tal.

"Pois fe o amo o diz, diffe outro, ninguem tem que argumentar; que o Senhor V aíco da Gama, o quenaõ dclcobriráí

irra Vaíco, dizia hum; outro gritava, arre lá; valha o diabo tal pedra» que aqui nos hade matar.

OMcftrc a encolher os hombros t o Piloto, outro que tal, ospalTagcirosanr, o Contrameftrc a ainear.

poy força , com tanto eftrond©, Vaíco da Gama acordar, vir fora, bater o pè, e dizer: que he itTolá?

Nada, reípondeo o Piloto , jà tudo acabado eftá; deu o mar hu ma fervura, com mais, *>u cxnu menos fal

Jfc P I NTOSenhor, diíle o Contrameftre,

nifto eu id poíTo fallar; omartremeoaindaagora; aqui, o que quer que he, ha.

OGeneral, por ouvir, ou para langue criar, lhe diíle: á Senhor noftramo, contemediíTo; ande cá:

Senhor, os mares tremerão, como quando hum homem vay diante dc muita gente íer algum papel, que faz.

V inde cá, V illaó ruim,( lhe diífe o Gama,) cuidais, que effe cafo he efpantoío ? pois he couía natural.

Da forte que em terra ha aguas, ha terras também no mar; eaíTimcomo haterremotos, aquemotos haverá.

Demais, que (e o mar tremeo, eo viftes; que mais fina!

qu,:

RENASCI DO. l6lquereis, para conhecer, que o haveis de conquiftar ?

Mar, que nunca foy trilhado, era preciibeftranharo pezo dos Portuguczes, que muitos pezados ha.

Dffvanecev «s agouros:--- - - - j - Dinça de gavea, orça mais; ponde a proa logo a Índia, bêbado, andaylogo, c jà

Eile he o caio, e! por cl; nem tenho que dizer jà, porque o melhor fica dito lá nos Sonetos a traz.

Fri'ds

i 6 i - " p i n t oFcftasde fu tu ro , na Q iBanheira, o anno paffado

em claro J tn d o fu iz , D. Tboma&B f condede P o n te de Lima, Mordomo, D 7 uo.naZj Con­de dot Areos, E foivahD . V b m tz . Conde dos Citucntertos; Aloraotnos p'tr ( h . i dcjoç.io 2 +. Ibomist.is. Lie dc (alter,qw fupparm o A

i A*v v> .ic A itsu Fplhas * am : ifucjuc rjcvvic* on,j - / 'nadfw .ro , fendo as de major estrondo.

S Y L V A.

O RaDeos vá comigo,q a Sylva de hoje corre mais perigo,

pois na raiz (c eipinhao, com it folho , os que devem pegarlhe pelo olho mas eulhe corto os picos dc maneira, que enlace , enaóarranhe aCaftanhcui, cujas Madres fermofas faraó a minha Sylva (cr dc roías.

Ea,pois, lindos Aftros, Mufas belb, hum influxo m: day , como de Eíl i cilas • Alvas íois no crepulcui o dc h u m v c o > e tenho por milagre dcLle Cco,

1Ó5R E N A S C I D O .

que etn tranfparcncias raras m o í l r c i s , po r tal c f c u r o , que fois Claras; c ]uz m e podeis dar > com que mais arda, fc he cada b u m s Irã Sol de nuvem, p a rd a , o q ue fu p p o f to ,c v i í t o , com d i e tal h iv o r , vamo-, a ifto

Fellas de cavalhadas iàõ is d o s Santos m u i to ícmcíhadas ; p o rque por mais m ilag res , q hu m. n lkga minprc o o u t r o te m mais de q u ê k prega :,i, la que i m m S .C h n f to v s õ fofle aqueiic, eite he m a y o r , po rque ie prega delle; caíli tn ío fraõm e agora o s m a is T e f te i r o s , q u e os Santos de boje íaó o s C a v ü lc iro s o p o n to cila q ue c a y a õ n o (cu dm s lendo eu o p re g a d o r ; alvcrgaria. _

A t e aqui peras, d igo , ate aqui left as! nem ou tras íc tem v i l lo a f f im c o m o dias. E u as v i cos ouv idos; c t o y m ylle r io o t ro c o dos íe n t id o s ; po rque íc c o m os o lhos as log ra f lc , de p a ím a d o era íor<a que as callall a

Ái ' , a ms

,64 P I NTOhuma Mufa de ouvida bem íev , que hetefteraunha menos crida mas em teiha taõ alta, também ta z tc ,haver dc villa falta , feja pois quem me guia, e me aconíclii mais que dos olhos l u z , cera da oreilu a r d a a fantA em tal caio; h a i a ta mbe m ou te iro co m P a r na t o da melma fo rm a, que Coimbra eitila mas antes de ir ao monte , chego á V ií la Q uando (bnhatle tu,o Callanhcira, lograr taes Povos 5 ter taò tranca t a r a 5? crcs dias fo lk F ranca, e com aballos, huma fermoía feira de cavai los, taõ vendáveis a villa nos primores, que té os ouvidos julgaó de taes cores de hoje Villa , ditofa por teu dono, eporquem tanto falia cm teu abono • lerás em Portugal,Villa de C onde naó , Villa R eal

Agora tubo ao monte de repente d.cyi a m iOhuma Muía tao v ilenvc

E E N A S C I D 0, l 6 j

que naó io me Ibccorra nos louvores, ivus que tumbem me anime nos furores :{os Poeticos Poios que regifto, A n tá r t ic o , em Belem,eaqui, C .111 i itoquero ve: .tque lal* oicr Apollo;,;; 1 c ro 11! i ere 11 r i e r , j .iq u e i' e y t o l lo i n to íu b ire y taõ a l t o , mas ean tarev c o m m e n o s ! o b re i alt< ■■ que p o l io q m a is m a g ro ,e m c n o s m q iio , iV qalo ta m b é m h a ,q u e eos re c m o í i 0 X iu m e m m e louco em bo ra edes, q o íàó p o r d e n tro , e a lg un s p o r hora q eu r e tp o n d o a d íc s m u i to s , c eiles p ou e n fro n h a d o s cm v i lU s c irc ú lp e ta s j eo

que to d o s os Poetas ícraõ lo u co s , m as nem to d o s os loucos íao P o e ta s A p o lio s cam bem ha defte ta m a n h o s c ! c lo u ro n aõ f o r , fercy c a íla n h o , íjuc jo g u e de p in o te ; íS ro . m in h a s Senhoras 1 \ en üa m o te ,

166 PI NTOM O T E.

A ion. i , jo ,1 C .iu .in lje ir .i.JjoJio, Moira <i rd.,norcm de caça bella; v e i a m o s o coelho que iahc della; dando primeiro as cmco.ou leas palma natcftu,e truis nas mãos,que íaòloicada

A h i t . i , i' ' Qijt.itibcir.r-

G 1 . O S S A

O Atirador, que o caminho da Venerea caça atura,

íaiba( fc patas procura) que lhe importa fer paunho - caça groíla > e icm alinho terá s de toda a manei ra» cm matos, onde a carreira ddcubra cervas baratas, mas de coelhos com patas,M o n a , (o ,t C .ifl .in h à r .t.

s Ip. V iclor gloffàdechou com bes1\ niq) ■G; i.dcm debcbcraoqloílj :

R E N A S C I D O . 1 6 7

que merece bom trato, pois fcruô levantou , batco ornato Venha mote mais grave, ou mais agudo, oorqise temos Poetas para tudo

M o r i i

A l t i c i i ' p i 'd.; , a m ,1 vr t

M i.ira palmaria rx tmaí de gio la , vav , da im e a ttençau , m m ba íctííioíx

Á;iíS;.í í c f l ra , q m . n m

Ci L 0 > 5 A A Queila pedra, que lá

i V k deu agloíkeq or dura, ul<d!oule a Does, e á ventura,O v rc í > mel mo hriaõ ca; d li deule Ui,por má de gloílàt í egundoouvi r porem fendo ( emquanto a m i 1 os lapidarios iguais» naõ brilharia lá mais

> u ( íh /e s (, :;íK ■ of òio,

1(58 p i s t ojpol. Dcmlhc depretia a iua timballada, antes que feja a glofla apedrejada: cvenhrhum mote em quente.que feja as notias Madrcs congruente

M O T E

Í.JI i IFyci Yivio hc r a r *

Jpol. itio he q he bom, editio he qq ae palmadas na anca damos,e daremos. ,m< -

E (Ia F re ira na ti he E r are,.

G L O S S A

17 StaFreira ,quc aqui cita -J neftajanella decima,

( que me parece,que he ptnna daquclla,que eftá acolá) mais pnmoroíá a nao há dentro em toda a Caftanheira c íe ha quem negallo queira, venhaõ dias, e aquelloutras;- c v e r ã o , q u e c o rn o as o u tr a 1 ELt freira nao he Freva

r e n a s c i d o , 3 fig,4poI. GloíTou a feu favor,e tudo em cheyo; pois euidcy queapartifíc pelo meyo. V c u h a o outros que taes, e íe ja e m q u e n t e , o n e f e r v a d o s P o e t a s a t o r r e n t e ,

M O f Yhíí i Fiju n.ió loy k>.i

'o / O mote find i hc peov nus a i f o í l a o r a r a iahiv m e lh o r

/'/A; Fej! i /o i w G L O S S A

Q U e m n o í e f t e jo íe m e t e ,q e í l r i b a c m q u a t r o q u a d r i l h a s ,

fará q u a t r o m a r a v i l h a s , í a l t a õ l h e t r e s p a r a í e t c e a o e n g a n o íe r e m e t e o m o t e , p e l o q u e t o a ; p o i s pelas q u e v i cm L i s b o a , n a ó f e y q u e o u t r a m e l h o r í e j a ;( a l v o íe l o p a r a a e n v e j a? ,■ Fc;l .i ' !'■>■( ''■■■■ i

!

I "jo P I N T O

Aj>ol. Eylo vay.tem dcfculpa, qne os c rros dc repente fao iera culpa; e porque nos repentes iaó cançados os Poetas, que aqui iaõ mal penlados baile agora de outeiro , que temos mais a quem fazer terreiro onde trovar naõ quero dc repente , porque he muito má gente a boa gem e

Bella Ca vallaria! Deos te guarde:, graves cores! bom ar! termoia tarde* eyloscntraô correndo, pareccmc de cá , que oscilou vendo ! Humas pérolas bcllas iaó a cavaílo os quatro fios delias; c atè algum, q no cílranho, ou no dcívic: parece que o tem mao,la tem bom rio que ainda que puchado, nem quebraria pelo mais delgado prole rias houveraõinfelizes, quchuns quebranao noutros os narizes mas nos erros fundadas, furão as os ofcaas f ó as erradas.

RENASCI DO. 17?nas paflagensíim houve alguma village > mas ilTo roy hum erro de paíTagc; que errar outro caminho naó podia nenhu m novato, tendo taò boa guia:meça das cabeças toy bem rara, que a todas enveítindo cara à cara, ate o mais bilonho, que começa, labia aqui 11o tudo de cabeça. ;(onas dearamuças Aincanas, ver brigar hüs com outros, foraõ canas mas todos aceitaraò , rodos correrão bem, e bem andaraó; icm embargo que callo a queda, que podia dar aballo, k a cafoíc virafíe de remate -

porem ellccuidou que hia no hyate} a queda foy fermofa, mdaque parcceffe deíayrola porem cahio muy bem , mais eftirado lá, naõ vi ninguet n A. outra queda dogma,

em hora mingu ela lo - ü ds s

i 7 5. P I N T O

mó póde fcr agora,efpcro deicrevcllaem melhor hora:may poucas quedas houve na funçaó,porque todos cahiraó na razaó:mohillonoeftatermo,q idu há muito emLisboa,ccm Seu termo,j f-,r -4.-» ív H-nn-i flij rAIlffldoS *L V lV - V .^ .v . ------

que podem de rapazes ícr corridos 5 c fe há T ouros, de rizo íu capazes, bemhc que haja eftatermos de rapazes

Saõ chegados os Touros» mas conlu i que os cícreva da lortc q mos pintatv. ta< eylo vem muy de palio o Cavallcrro, que já em outro paço fez terreiro:mas já da fua gala fiz eferito , ^reportome ao que delia tenho dito > cateafcftaprelentc em pouco a aclio á outra dift crente, Tupooilo que ambas manaó de hüa fonte que a outra de Arcos foy, c cfta dc Pont taóelevada acima,õ nor cues arc;>3 correi cncncute atT..un

! i 11 '

173R F. N A S C I D 0.

i t to naò vay m uy c la ro ; mas naò im p o r ta , íaçaô ícu r e p a r o , e acharàó ( ( ic hc que a d i c e ) q ue o que cu hia a d ize r , naò h e p a iv o ia c aí ncira f o y , em fer h í i ta r ia , pois mais claro, e m elhor d ize r pod ia ,, le 0 tal C o n d e ao Bilconde td tc ja v a que em tacs A rcos a P o n te le huuhvs a , pequey , mas íem tencao > o r i ro í im to y b o m , o a c c u o n a ò .

HumCavallciroa pc alegra a praça c aflina foy; mas cxpozfc a huma deígraça, naquclle negro 1 ouro do roncaõ, que o fez tyrannamente vir a o c h a ò o primeiro, que as mãos le foy a elle |u e m havia de ler, íenaõ aquelle , que |a determinado cita do C eo , que leve cm toda a tefta o leu bollco!O boy era hú leaó.mas lem quartãas, eporiííbfefoybuícar terçãas 1 Í«crí. bufeava quem trcmeífe . d ó a c h o u . lu cm m aiso  co m ctd íc

■ji.a iVf

174 P I NTOoutra tanta fauclefoy pata clica queda: Deos o n jude,„um com cftrclh melhor noò lavquezado,

doqaiiitaultado 1 ourouoCociudo li ih: Depois que cftc io toy ,["Iu- dizcmmc que viera hum rente boy runo mic:inCnv;i!lciro loco arremeteu.Terra. ~1----------- ,,ru a» e que bravo nzera, c acontecera = t u concluindo ahiftom.emqomatou CÓJl‘ c queporquatro brutosíe enterrou Os carros faó açougues , por íeus modos ondeatlnn,ou aliados,morrem todos o ponto cftá, cm ter o cortador dcftrcza, fio, maõ, gala , e valor; e pois que tudo ifto junto íe acha no Conde i'6 , pòde correr lem tacha: efta he a pura verdade; o que fuppoíio, naõ quero ver mais Touros, por meu gol-

Naô me efqueça a grandeza ( to. dc hum, que li a tanta gente poz a meza guapo a ndou o Marquez , minto mais do que cm outr is . deft i i

t|UC

R E N A S C I D O . I 7 5

q cm outra, a mcyo Mundo foy fecundo,c nelf a encheo a barriga a todo o Mundo: smeu , que naõfuy atai fartura,J ;1 ic cl p:ro comer tom mais vcntlira; ivor uie ctbíodalma oícu conforto,I 1 _ _ 'ii mc 11,0 ie razor lem,depois dc cu morto.Vemh i o e n h o r ] iu z ,que fez de rodos tu d o q u an to q u iz ••ecu c itou e m p e n h a d o ,cm que diei, jaomeu juizlouvudade hoje cm diante a toda a Feita aíMmjuiz, que a tantas partes quer dar viftaícm que nenhuma faça petição,c fuiz,dc quem cu íbuElcrivuõ;.c ] u e co roo 1 ia d a cn í e 1 tofiinguem poderá darme por íuíp eito .aos autos junto quanto a razaõ dita,e por 1ÍÍ0 ninguém me paga a cicuta,porem eu ihc dou iílo de barato...por ter menos razaõ de ier ingrato;R azaõ nao tem . nem os que tem razaõ

n í u p p o i e m dc m o n mura i : : m

576 P I NTOos que a tem, por naõ terem que arguir , com quem lhe di motivos de luzir; eos qa naõ tem, porlcr hum g ra n d e v u k0 dar ingratidaõ icm beneficio; c n :m eu tòu cauazde pagar mal 0 bem que fe me iaz1 Umbu; ra reeerev n u e o deim ere co“ “*o*.. r,—;' ‘ /porem naõ low aquifio que parecinv e r b t > jtm u , damehum o f c u to l f a õ c depois dillo dame hum bofe taõ fc cu com a dor gritcy, ingrato tuy, porque m c n a ò c a l lc y ; pois valhatcodiabo, por hum toftaò te hcydc beijar n o rabo por hum pequeno bem que mc fizeftc em rofto me has de dar, p orque me doth quem aqui, por feição, for a d m i t t i d o , naõ peça nada , porque vay perdido • pois naõ fó lhe naõ daõ, porem também lhe borrão a feiçaõ ; que hc infelicidade, iizem jirumoe mentem na ■■ m l ideU

i?:/RENASCI DO.que eu fim fou infe liz , mas dcfta v e z tu m e faz m a l , íer pobre P o r t u g u c z ; c cuidar o c o n t r a r io , lie parvo íce 5que o m a i s , o u he m i la g re , o u he fofice alguns n a ò ; p o re m d ie s ião c o n ta d o s , eiuc eu os porey em autos apartados G ra c a a c h o e u m n u d l í x} ' - t - jque d iz e m mal de m im , entes C] cuddles,; íuppondo,e]ue eu lhes p in to o ie u ienaò, d.ióme o caiHgo m u i to dc an te m a ó . p o n d o m e de in f o lc n te , ptie ia ty r iz o a to d o s gc ra lm cn tc 1 •quando i í íò fo í le ,oh h o m e s d o dem om o., eao vedes q d i e ardil he h u m in t i m o n ú > para q u e eu la n c e , em v o m ito s f in a is ,

m ‘ds d o q u c í c y , p o rq u e íey m ais? |.a q u e í abeis q u e o í c y ,- íllaivos, b ru to s , que cu m e callarcy nas na5 p o l io eícapar d e taes perigos .

• tue te n h o defies, m uitos inimigos,.t t o r n a n d o ao ju iz . , q he h o m e m hon

'■ '>’■ íerpos mim lm .z n-óixooado , o d •

178 P I NTOelle andou tao corrente , quenaôló foy juiz, mas Prefídentc de hum taó nobre Senado, que nenhum dos Miiteres toy borrado . craó os vinte e quatro taó Scnhores, qucpodiaõ fervirde Vereadores; c em hm. da Caftnnheira no theatro, a fuaFcfta foy dc v intee quatro.- bem toy que muita gente naò d iz nada, eeftá na Feita muda,de, paímada; mas aqui naõ he novo o levar o Bifconde a voz do Povo ■ fóeucallarnao pude; fenaõ parecer bem, haja faude.

Defpediclts díFe/ldS do futuro, tia Cap nb:ira,pelo mofino Author,tambemj

R O M A N C E

E U fou o que 0 mez paílad; > cantey nunca vittas t cíiaz.

tazendome, em prole ria,Bandarra da Caítanhara

R E N A S C > D 0. 17 9

Sana tei ro de hi tu ro, roais á banca, cue á trípcça , ícnao medre de tiíòura, official de íòvclh.

Prokti/.cy muitas couías que algumas íahirao carar. outras qmffi fucecdidaí, eeípera,ias asmais delta

He verdade, que era cm vh o que em verdade naõcra cera força, que por arte arranhalíea naturez i„

Hoje,que vay em -d <imana Apollo da Syív a qnen e. ia que entre) proreta mao, quelaya melhor Poeta,

E como em obras he íorça pòr no frontiípicio a era,[ conto íe foílem os cantos fontes, ou paredes velhas,)

Era nomezde Setembro , v m c : . cs cm Aço tio et i ■■

N ma>

> Bo F ! o T 0mas nern ainda era agolto,;■ oo.ioefoy hum mez ,a punas,

C - mezes íc confundirão O.HTJ razao ■ pois nas tics Felias c a.! u a Ci v V a o Unto; v w i ' . :do de Prunavera.

Fit is Eivvoes Evvet av; n : ; . s v . . . . . ■ ;n . l!

r;ov k<3> . .. ovs ,kivW ? ,bill- IV, a, E H C j r'iN o jogodos a i n s . e a m V,

do: piJJVi? su'pv ,i a ■_vH'.'ni At .'O nan:ones-m : V: : , to V

' V Fee a3 V Iv ,. - k.k ; V'l: > fV.W ‘V V :v ;,.V hliv VOlakalVCV VOaV >! < - . F a t V ' V V . i i V , : : ;

.F'Ci .v V ’ i i v r: a v v v ; < k :■ V i a ea * MliktV a VU:E,

" v c o o i v i a . E v a r o s i a

íí 'f W Í S r i D 0., ■! S i

blh Vcrdndc ío n h a d a on meriora. verdadeira,,'Urii■!!;!;’ :o r ,,•J1 ii" - i f. . i ■ ; ■' 1 1 ; V

■■ : :-b . i ■; ■ : ;■Ka i ■' 1 .áa ■ ■;

: ■ 'aX■ t:'n h r- 'xh . ..:I -i: 'U; H -• ;; ■■ .

X ' V ■ ‘. ' 0 ? p : ; K ‘í . » : V , f ■

ÍX ív,':‘ ■ 'i .Ü' 1

i.

1 Si P I N T Oque aqucllcs paraõ cm nada, c lá lorao dar aquellas.

Cavalhadas tao difuntas jà mais íc vino naterra; que outras á carreira acabaõ , ccftas foraó fem carreira.

Todos n fizeraó limpa , nenhum fe mijou na cella , lahindo co’ as luas galas, como íe foliem em peila.

Naô vi Fertas de embrião, que foliem com mais grandeza: íabeDeosquem chegará a lograr outras como cilas.

Oeja cllc muito louvado , que noz cm paz tanta guerra; porque craócontendas tudo, e naò toy nada contenda;

Mas jà que tanto repizo , naõ ferá bem que me cfqucça dc outras couías mais lalgadas, que nara mim íaõmuy frcícas

Lesm

RENASCI DO. I 8}Lembraomc as cabeças caras,

onde vimos, por dcfpcza, que crao mais as carapuças,.lo que foraõ as cabeças.

Lembraõnie as galantes voít.u da cícaramuça Turquclca, com tal engenho formadas , que eraõ canas as carreira?,

Lembramc o grande dtafcnv.o, fuppoílo que cm vaô me lembra; nem he digno de memória o que fortija mo era.

Lembramc, nos fins das tardes, os rcfreícos das merendas, onde houve montes de neve, mais do que ferras de Eítrella.

Lembrame o guapo Toureiro, empenhado a todaa redea; que vendo perdido tudo, quiz perder as eftribeiras.

Lembraômeos Touros, querendo Íaítar para oCeoda tetra,

M

i84 p i n t oou a bufcar melhor forte, ou ater melhor eftrella.

Lembrame affogado cm obra o Juiz, numa tormenta; e no cabo, tudo nada> com a tormenta desfeita, _

T-I 1 t - 1 /T n i l l l Y l H I AH lemurauiuc dc queifto fedcfvaneça; naõ por galócsdeftruirem, mas para pouparem rendas.

Naó me lembra mais, Senhores; mas, como quem fe confeffa, pezame do que me falta, que he do que a dies lhe peza

Em fim, Deos ajude a todos, para que eu com elles tenha, neftavida muita graça, na outra melhores feitas.

Pro, K

RENASCI DO. if?}*Procurando de EIRcy huma Remiffao com effato,

para httma Confulta de hum f ’.u amigo, o duo Senhor lhe nfeo/t a petição com hum gilvaz,

de poma fero,

D E C I M A Sao Secretario

JV] Efta petição riícada , i- ^ S enhor M endonças a ílen tcy , q u e ninguém melhor q u e E IR cy elcrcve, aqui, depennada: por corrida, e bem lançada, naquelle riíco perfeito, inculcava hum tal reípeito, que ainda queoutra me borre, ja íey o riíco, que corre a R em iffaó c o m effcito.

Moltra EIRey (como íc entende no dcfpacho, que me poem) que he o riíco, a que fe expõem quem naõ íabe o que pertende; b e n t f e y .q u e m e re p re h e n d e

N ill! dc

186 P I NT Ocie andar mal; mas também íey, que confolado tiquey cio íeu impulfo ralgado; poisfuy por EIRey rifcado, mas naó dos livros cie EIRey.

Sc da graça me rifcou , nefte chirloque me deu . muito a culpa me doeu , mas a pena me matou; certo i que queixofo cftou de fortuna taó contraria, que hoje faz, impropria, e varia, por crime de remiífaó, ler hum rifeo de tal maõ, golpe de pena ordinaria.

Os que a RemiíTaó queriaó, verão quanto fe enganavaô; c que as luvas, que me davaõ, na minha maó naõlerviaõ: naefperança em queviviaó, jà agora fe enterrarão - ecu, que da petição

187r e n a s c i d o . cfperavaos meus cruzados, jà também dos meus peccados ió bufearey remiilaõ.

Ao RipolhoCaJlclhano^uefirton emcafadoDt:- que vinte c tantas moedas, e as foj e(cornier em

Uuvn. PYIYPYff/lnà> °

D £ C I M A S.

R Epolho colhido á maò, eu jà por hem o comi;

mas por pallia, agora o vi cozido em hum enxergão; com palha, eftc mao kdraõ, a panclíinha fazia 5

c que bem me faberia,( inda que o compraffe a olho) íe íc cozelTe o Repolho com os bofes da enxovia!

Repol ho cm carne taõ crua, quctod,i.K:olmhaaaaza

t o

I

l 8 8 P I N T O

fóra da olha da caza, logonoolhoda rua; e tc he tal verdura a fua, quepuxapor mais dinheiro , enxeitelc em limoeiro, para que íeque, c cad u q u e viciosda horta doDuoue,• - - - - j.

no quental do Conde A n d e iro.Fez taò pouco caio diílb,

que zombando dc que houvcfíe quem com o furto lhe dèífe, dormindo eftavafobre iíío; taõ gordo, como rollifTo, no mefmo enxergão deitado, o apanhou , bem deícuidado ? hum Alcaide taò matreiro, que pode ver o dinheiro, que elle ló tinha enxergado.

Para meter tudo a faco, ou tacar mais da algibeira, a fua entrada primeira e r a , o f t 'recendotabacr*»c o m pesdfc to l lo ,e ve lhaco , 5 ]«

189R E N A S C I D O .

( que eu na5 vi mais torpes pés) entrava huma , e outra ves;epefcava, com o anzol, do íeu tabaco Hefpanhol, o pó de ouroPortuguez.

O Repolho,com má traça,1WJU » w iiuuv iwi | Wyi c*»uvua jporem achou todavia, tronga, que aqui lhe fez praça: torto, indigefto, fem graça, hediondo, eimpertinente, andava matando gente; e ainda affim, com tal olho, houve quern dcfteRepolho quiz a velhaca íemente.

Toda a mela a que chegava, alimpava, fem demoras; e para faber as horas, ate rclogios furtava: efte requifito eftava encuberto na incerteza; agora, com tal cW m

atran-

IJO P I NT Oarancallo ao Duque im porta , naô id a tem p o , da h o rta , porem a horas, da meia.

E S T R I E I L H O

P e q u e n o , grande, ou mayor, todo o repolho tem pé > mas maõ, íó ncfte íe vé 5 6 com u n h a , que he o peor,

A morte doConde de Monfanto,cau( a da da agua de Solimao, que hum Boticário lhe deu , em lu­

gar de álmetrao.

D E C I M A S.

A L g u m mal futuro encerra efte taõ prefente mah

fc atè dentro em Portugal oG raó T u r ro nos faz gucrra> profírados íé vem por terra O 'V a r \ adimi:çaó , a gala, e boa icrcao u

R E N A S C t D O . J9 1

do foldado mais fiel; entregue,por hum Argel, ao rigor de hum Solimaõ.

Cruel fado! dura forte!1ÍI0 ao Conde de Moníanf 0, cm quem era 0 primor tanto, quanto he fen tido na Corte5 Foy diícrcto ate na morte, como cm íeu termo fc v ê , ao Mundo moftrando, que n a5 fó v i vco bo m C h riftaò, mas também, por Sol 1 maõ, morreo martyr pela Fc.

A certo Conde,íídverlindolhe h/ima jrromeffa, (jue !eu P-iy tinha fato ao Author: hum criado do dito Conde fe^j,como criado,que jenao deffe à execução,

R O M A N C E .

J A ’ que por força de fado nic vejo enforcado, ou morto:

quero ver, fenefta terracncontroalíum Santo Antomo.

Mütv

?5> P 1 N T 0Milagre, que <iey com eije .

cn reproduzido, on poiio , come cm Lisboa , e cmImd ;. co. V dcn ci, e cm V m -

dd:mm'Ov:cdmo. uo doa.■ ermdomd-ord c:. c -r dicieuuciim .

di; c do (,• m.o \ j ! - ppcid u ro c ; pm,

e m OP * pi nc0..mOTK: hum pomm c

occo my mv dm dU: o ■ no d K u Co .-ode ... p; mm o .m

o o id o Iv. u ac ;o .ÍC outroi'ciidcc rmm modc ode m,o pm memo h m: ■lJ

F (undo do od p; y . d, > , he p ci; m am pi " mo' o « - de vc , demp'o 03 - .0

doe id,' -00 C- ■' o;o

r K A S C I D 0qae crabs hum maduro homera dcaLTu cm hum Ihdaiqo moço:

j-deqac . m v o s reniso v mo ..rprhsqium SSA AA.ASO

■ : ’ 0 q u A A A i . , i O A P : ! ^ P a

iso v ssco;■ ra o * uob >a a a : i r ?. ■ : _ a : ' a

, A ; : [..;■< a, ■■ SU ,■ ■ S; A SA ' lAAS. .Ai A A A ;

" A :s A . ■ , .

A A a ; ; ; s, A O : : : AS, A i . , 1 , j

A s ’ . A" AsAAf A s s ■' ■ a Á a ' as a v : o ! r> m i . :■

' 'A.; a A- aa.a

A 1 A a a a ; AA h a . A s A i A

A'A .A- ' ... AS a Ass. ;

' :: ! a: . Hile OC Ai scá’A SA a: A. A Axporju s

a ’ ' : (o> . A A > i h ? r m A .

s . .AAAA: SAS ' :.AS . A , . ■

■A A 'A :A o h ' ! , ! . A A • A.:" S.

>94 P I NTOElies dizem o que querem;

porem eu faço o que polio; muitas vezes falto a ufo, mas ao tempo rac accommodo.

Nada do feitio pagaS, e cu por força tudo cozo;

~C( & t»r\] rrAP mnl-A1 1 I U 3 I l C i l ' » ' í v.*!. v v a j u a u l i m i n / ?

p o f to q u e a gala v os o b ro .A vofio pay h u m a o b t in h a

fiz eu já , p o n t o p o r p o n t o ; que me prometteo, em hum anno. decada dia opaõ noíTo.

He verdade,que por junto me mandava pagar logo; mas pozlhe afortuna embargos, ou a minha cftrella cftorvos.

Remetteome a hu m tal criado, o qual, nos adagios prompto, chorou lagrimas defervo, pelas grandezas do dono.

Seis mczcSjdedia em dia, me fez ir, evir aos tombos ■

R E N A S C I D 0, , p ç

ate q u e j a de cançado, a i lcn tcy cm que eradr^ro .

Se he d iv id a o p r d u ie t t id o ,nos F ida lgos g c n c ro io s ,e lk o b r ig o u a palavra, c cu nella me penhoro.

D em ais , que cu, claíua letra te n h o h u m lin i! in iu F r m c ío , que p o r d e n r o a p p r d a i t o , e p o r a e d ic o recolho.

M a n o e l daS y iva Tclles,V,- V a íco Fernandes L o b o , faó as boas td ie m u n h a s , ou . no leu ju ízo apon to .

L u raid o u ío a exccu ta l lo ; mas a penhora llo o u í o , pois (eas prendas lhe p u b l ic o , os bens cm praça lhe p o n h o

Se clle por aggravo o leva , aos pes d o Hiho me b o t o ; c da hi me naô l e v a n to , i c in q u t d ív u ó m c d e .e em bo lco .

O T e n h o

196 P I NT OT e n h o f e i t a a d i l i g e n c i a ,

c a m i n h o d o s a ; cruuroios: e d a e i h f p s g < i v b m R o m a n c e ,

i o n o p o r c e r t i d ã o p o r t o .

' Q u e a p o b r e > e V i l l a õ n a o d e v a s ,

n e m p r o m e t i a s , d i z o P o v o ;

c u c o m o p o b r e , p c r í i g o ,

m a s c o m o V i l l a õ , n a õ c o n r o .

E vós,b o m C o n d e , a q u e m b u í a • para amparo, e p a r a a b o n o ,

vede, que a divida p e í l b ,

c que a voilagraça imploro.Com ifto, naõ fou mais l a r g o

quero dizer, enfadonho: hoje em cinco deQnareíma;Pinto, jà na clpinha polio.

K p

RENASCI DO» I97Rcfoflhcm nome do Bar ao de Afi erga deus Ro­mances, cm Por;nj!iicz>.c cairo cm Cd.ííe- I'jm.’o, /jiie hmu.t D .w i . i Ihcm.irJ/.ti „ ctdf.vi- ib-osh ■■' /-; 1 rr.i■ >,pciv,iu• v,t■ /.///,-{0 0 dl. 1.die-

1 ICC i 1 i . l h / . h ,7 ,;.y e l u d i Cl l i e l e e O o j c Z j J W )

l ' 0 Ç : d e n e . : I . e d i o o , 7 0 7 7 ; e s t . u f R a c e d -

' ; l e ' c e d c c d (■■■■<.?, /0777■! 'dileni O' ' 1.' ■■ !r l v ' ' O ■ 7 cccir.u ; .•77''

:7 . ,7 /; / '•ílCC-i.' í J

’l Ü M A N C ti

O I i v: .’í: q u e v e s ro ò c o n h e ç o , d n a ü n o r í^r.uides doeras,

íegumJo me ha in fo rm ad o tn i n ! 01 d l r a n h a in te l l ig e n t ia.

A gvadeçovos a m i l a n a u ,,.i d m iro v o s a a g u d e z a ; mas lou v a n d o v o s a r d r m a , c í l ran h o v o s a matéria.

D u as M uías perigrinas , oso t ! h u m i í o c r tn n g e i r a ,

Ol!

198 PI N T Ohe querer jogar as armas, mais do que medir as pennas.

Dous a hum ( iegundo explica certo adagio deita terra) id me coubera ns boot, o quel he fazem , Jillcia.

Enarccc tyranni.!,( quando outra conia nad íc;a tleícniar o ini mi go, biiícando-o p e l a fraqueza

Echos dons grandes PvOítrance.'. quell dsapaipadcllaí, conheço o que í aò mas línguas Caíldhana, c Portugueza.

Mas íe rei ponder hc forca, e natural a defenia , contra as Poituguczas Mulas juvocarey hums Ingleza.

Pois com tao fermoía ajuda, tercy a vitoria certa ; baila (d que os olhos abra> para por todos porcetra

*99RENASCI DO.A A iiiíka, e a Podia

entendo que íaó parentas; mas agora a minha folha hade ir contra a votlli letra.

Efcutemme dias Senhoris, c ou viràõ a difference, nua vav d.i rl.iulnla minhai ; j ■” .......................?a tlcícompoíiçaõ delias:

Nego,primeiro que tu d o , em m im as partes , e as prendas * que me accumulais; iuppoílo, que a III on ja vos conceda.

Também ncíla Divindade0 haverem pernas íe nega, que ío íaõ duas columnas cl ; tem p lo de tal belleza.

A cu jo altar eu proítrado, com devida reverencia. modrcyd viíla cias outras, quanto ajoelhava a cila.

E do Poeta me efpanta1 l i e v u a o n i l l u n e / . a :

id us i eu-

200 P I NT Ofendo d \s fagradas luzes ate asattençoensoffenfas.

Bemvique juntas eftavaò da fermofura tres Deoias; mas fe cu entaò Paris fora, fó a cila a macia dera.

Th Íp ' J m i p m nmpt* o r c r m r m p *-* — 1 --------” * D ” ................ ' 3

naòfecançc ; que em bellezas, fempee hade fer mais fermofa a que melhor me pareça.

Ella he a minha vontade; e defperfuadirmc della, quando quizefle, naòpoíTo; nem quero, inda que poderá.

V e d e ie córta a theíoura, ou fefura, como aquella de Madama, a quem por filis, groíleiros, cahisá perna?

Os alicerces faò feitos á proporçaódas grandezas • e a obra, que he de fi fina , naò requer planta erode)ra

‘ ' v M

R E N A S C I D O , 20 1

M a s fc o u tra , por te rm a is carne, chama a M a d a m a Quarefma ; q u e m po rc l la mais jejua, m ais D iv in d a d e a con tem p la

N a m iu in a m a n te vig ília , l i n t o , c padeço por ei!,)", o to r m e n to mais tcn r .o ío , c a m o r te mais liíongeira.

Q u e he 1 ai Sol q u a iq u e r ; la:; outra;, d iz e i s , eu q u e r o q u e o lisa » mas c o m o o u t r o no r te ligo, q u e ro a cfta p o r eftrella,

E quando daqui feíiga, cm c o n J u íà õ , má í b i p e i t a , lera p ro p o íiçaò falia; c nego lhe a antecedenda,

d rir í Bali’a , cj<te veyo dar d cofia no rio ''Tejo,

D E C I M A S.

i.O t r c u d o vay pela p o d ahoje lo d o Portuga!

O ill]

20Í PI NTOa ver a Bicha Real Dona Balleada Cofta; porem como o Povo gofta da novidade; he de crer, que a hade tornar a ver no dia que íe partir;

r-Am pAf-nn li a rir* i rt v o a i l u u i v i m u v 3

pela pofta hade correr.2.

De donaire o mulherio com mais raziõ foy bulcalla; pois dc quem lhe dava agalhq queria vero feitio;vio hum calco de navio, com a quilha para 0 a r ; pelo qual tudoapuxar, quanto o Provedor encerra,, cuidou vir hum calco i terra, mais que deitar dous ao mar.

3 •A gente, que por capricho

ab.diou d:lh Cidade ,í'0'

20 JRENASCI DO.foy huma monítruofidade, mayor ainda que o Bicho; os rapazes,que a pé ficho fe atoliavaó pela arca, naó he couía que ic crca, pois por todos os caminhas.nnon r» rArnraf toI fi nKr»cm anja r na boa Ballca

4-»A certa porta vedada

vi eu chegar valentoens, que entrarão aos boíetoens, cíahiraõ á pancada; algum,que era peixe cfpada, em peixe pao, de carreira, ie volrou , de tal maneira, que eu tive porcafo novo, ver que íe matava o Povo, cm ir por peixe á Ribeira.

$■Da poftema , ou ferimento

que a anu ou, a todo o t rote,correo

£04 P I NTOcorrco dcpreíTa Eliote, a tomar conhecimento; do nariz fez inftrumento, tenteandolhe a podndaõ; e fe viva a achava entaõ, certamcnte, a Panacea mandava dar á Bailei. como feadélfe a algum can.

ó.Por tres paos cftava inçado ,

fendo, bem criminalmente, o primeiro padecente , depois de morto , enforcado; mas tudo bem empregado naquellc corpo íe via; e mais penas merecia eftede culpas aborto, porque atè depois de morto matava, no que fedia.7-E p o rq u e alli, d o H o í p i t a l ,certo Medico íe achou ,

20JR E N A S C Í D O .

logo na BalSea entrou areconhecerlhe o mal; tacteou todo o animal, fem nojo das humidades •• e ainda que as calidadcs implicadas conhecia,Cm A ____ 1___Jl^ C j j u i / t i U ) U t Vim*; I J d V i a

nos peixes carnofidades.8.

N a õ fcy fe fo y lá o b r i g a d o ; porem folie como folie, ic ha Medicos de agua doíle, haja-os também do íalgado; hc jufto que do cícamado fe con heça o bom, e o mao; cjàpòde algum marao c u r a r , por cite roteiro, as ventrexas, que tem cheiro, ou fedem a bacalhao.

9-D e fd c q u e na C o r te affifto 5

n iò v : animal caleiro ,nem

P I NTOnem inda bichoeftrangciio, de Senhores taõbem vifto; mas de eftarem pagos difto, e com a barriga chea de verem hnma Ballea, merioeu; porque via

r l r f c í - À i f - n o n i R í l l l l í l .lUU WtJAWHHU >í luz de qualquer candea.

zA hum a Dim: a, que dej ma) ou ;!e om 'ir m::>> njao. Foy affumpto Acadcmtco.

r o m a n c e .

J A’ fey que por mimefperaó, pois nao fou quem menos andas

mas o Senhor Secretario por feu regalo me atraza.

A minha pobre con fulta fempreli no fundo fc acha » c naÓhe porque ella o tenha, ícnaó por fer caudataria,

Mas andar, vamos corn ifto, brevcmentCjCm duas palavras.

207RENASCI DO.que ic a materia he de eftonro, ja le íabc como acaba.

Alguma Aíuía ferena. que tempcíbdes aplaca , com alua luz me acuda, neílc trovaõ : Santa Barbara ‘

n r n Mrn mn nrrrlrv*, “ ----íc no eMruxulo separa ,c íenaõ, laça jiilliça ,e man acme a conta a caía.

Ida naò laço o meu conceitoa medida dc quem falia;á vontade cie quem ouvehe que digo a minha graça,

Écuida alguém, que cftá o pontoom trazer a aitc cftudada ;íem laber, que a naturezahe a m e m ó r ia defta alma

Algum Poeta (ey eu ,de Muía relampeada,que agora diz lá comfigo:h o m e m . má rayote paita

Meile

2 o 8 P I NT ONclle tudobem affenta;

mas naó fey quetenha cau'a, laivo o rncu relogto o cbnga a dar tanta badciada. liens- E queira Deos lhe naó veni ÍE|“ a memona o qua lhe ,0 ita ;•*h- otic entaõdc vellir me corta,

no mais de que eu laço gai Algum chuveiro de trovas,

ou trovões, ou tro voadas ( íe o medo lho permittira) í obre m i m deíc arrgara,

Mas deite Tonante o ray o nem me chega, nem me abiaza » que eu tenho aqui muito louro, cuja lombra jame ampara.

E eíla Mui a, de cícabcxc íempre hade ferconfcrvada, para as faltas de quem peica conceitos a enxutas bragas.

May longe vou da materia; vallia 0 demo mo a ma alma,

R E N A S C I D O, 2 0 9quc femprc iaz, com quc fóra dc mim, e do ailumpto iaya.

Era hum dia, quad noite , dc hurna tarde enfirruicada, e iioia tnivc, cm quc ic vinha oMniacio abamo com aqua

Filis, quc cm tem dc merenda< com iuacomadre oil iva hum Domingo , s' c hementira, i]ue naò toy ícnaò a quarfn;

Mas quero que ic preiuma, quc cila Dam a jejuava ao menos meyaQuarcfma; qucacomadrc tinliacauia.)

Sc fora ver a Folhinha oque neile dia dava , taivez quc naò folic tom. mctcndoic tocla cm caía

Acccndera afua vela, que para tacs calos guarda a may, fchc filha pcona,.ni a Dona, ic he I ulataa

I v' 0 L

210 P I N T O

T alvez que foíTc Senhora; q u eo affumpto naó declara , íenaõ que he F ilis ; c filisquem mais, que as Senhoras Dam m

Algumas iaotaomedroías, que Ira ma veia lhe naó baila ; acceiulern todo hum Sepulchre,com Ladainha cantada.

Epoem tantas candeinhas a tal Santa esdruxulada, que parece que a leite jab; porque querem que arda a Santa

Quanéio nifto hum parto occulto a negra nuvem prenhada esborrachou , com tal grito, que a comadre ficou parva.

F ilis , com o era mais filis , ficou toda trefpaflada, dc m orte c o r , fria toda, fendo toda viva braza,

Acudio.como hum coriíco, amãy, ou Dona taralca,

R E N A S C I D O . 2 I I

feita ferviço da pela: naõ hc nada, naõ he nada.

Aílim como no tal jogo i que á porta vay tirada,naõ he. uadr, dizem todos, muito antes do que ellacaya

Aílim í nnhre da mnr i------ 'I " * ' 7porque naõ defanimara, gritavaó delia manara , mas tovaili mefmoachaca

Pois no chaõ cahio redonda» cm hum deimayo gafada,( com licença dos Juizes, que aqui me podem dar falta.)

Ella pois, Dama caluda, noícyo tinha huma carta, para os trovões coufa boa. íegundo a fè de quem anu.

Declaro, que pela letra erade huma íua mana, que nas prcílas lhe acudia; mas mo lhe vako de nad ■

I

2 12 P I NTOSc Jupiter fora vivo ,

e a Filis galanteara, dcuiàva chuva de ouro , baldava hum trovaõ de prata.

1 o\ lérenando a tormenta , tornou em li a tal Dama, dÍ7.í'ndo: nunca mais bodas íc me haó de artiar taõ caras.

Ecom todoaquellc Irrito,, ta mbe m aílomb rat I a e li a va, quenoíulilar dos olhos tinha dilúvios de graças.

Como era couía divina,Jo trovaõ a matinada , feria alguma cadeira, que no Ccofe lhe arraiirava

Mandou chegar a carroça,( fe a caio a tanto chegava, ) c foyfe com o Efcudciro, que entaó aparou dobradas

Acabouíe cita tormenta = aMimle.n abara a agua •

E E N A S C I D 0. 2 i j

que a terra eftá, fobre polle, bebendo ha quatro iemanas.

A Dsm Quixote, cnveflmdo a hum Moinho v I'ento. toy d[juml>io Ac.nlanico,

R O M A N C E.i ..v A nirff dr ! )nm Qjiivote

entra hum novo aventureiro, aindaqtid.rya no atiumpto moído olea pobre emprego

Dorn Quixote era homem branco, conhecido nclle Reyno; c ncíl.iCorte audaómuitos, e]uc íaò teus primos direitos,

Làno Oriente medizem, que teve o feu naí cimento; mas illo naó hz o caio que a fer na Alhma, era o meímo.

O ícr Fidalgo,eftá Vítto o ter que comer, he certo , que eu íempreo v i a cavallo, e tie lain oi í it oít iro

í > i ía i i -

214 P I NTOErn acudir a humabulha

andou como Cavalheiro; quo naõ he pouca, a que £iz qualquer Moinho de vento.

Se cuidou que eraó G igantes , ahi foy mayor o empenho; pois para meterle em roda , efcolheoaquelle meyo.

Demais, que cá em Lisboa muitos Dons Quixotes vemos que naõenveílem Moinhos, por temerem aos Moleiros,

Ido naõ quer dizer nada, mas hebuicar enximento para o vaõ de quinze coplas, que he para alguns catorzeno.

Porem, cozido ao aíTumpto ,, cm quatro difcurfos, quero moftrar, que vcnceo Quixote a todos quatro elementos,

No mar, valerofos cabos, em qualquer borraíca, vejo ,

RENASCI DO. 2 IJque de duas velas fogem; c clle cnvcftio quatro a hum tempo,

Na terra (como hum Moinho li tem forma deCaftello) terra ganhou , mais que muitos em i cus callellos de vent o.

No a r obrou m a r a v i l h a s ,

p o i s n a q u e l l e s t a e s p i n g u e l l o s

c a h i O j C o m o a p a ü a r o l a

d e Bartholomcu L o u i c n ç o .

No fogo ha muitos que fazem dc humafaiíca hum incêndio; eclle matou, ío de hum lopro, de quatro velas o accezo.

Pois icem taõpouco fez tudo, dizer que andou mal ,foy erro era Cavalleiro Andante, quiz for pedante veleiro,

Sc ficou embaraçado, a muitos fucccdc omclmo; que por furtarem maquias» moem a torto, ca direito

ni lenho

21 6 PINTOTenhodito; c heo quebafta:

fe me naó derem o prcmio,nmcci mas fetroal molino; ca dc fora ladraremos.

A hk‘.ma (Dam.t na Prociljf.to dos Pafjos, com dim elPadas. Foi afumpto Academico.

R O M A N C E

L n ’tom:.lo Al not.ice ..11 limpet i Orient.il

Q Uero contar huma hiftoria ?taõ verdadeira, e tao facta,

queob.iga a fazer a muitos boas obras por lua alma.

Foy o cafo,que no dia de fefta feira pailada ,( depois de varrer as ruas, por donde o concurfo paila;

Que etdes fao os bons ferviços, com que a Camera defpacha ) quiz ir ver a Prociílaõ, efuy com a minha vara

i.. ,■

RENASCI DO. 2 \rjLá por Tuas dependências,

alguns mefizeraÓ praça, dos que me fazem monturo por cierraz; em fim, canalha!

C h e g o u p r im e iro que tudo, o troço dos e lpadanas , o i r a h r- nnra r r i v if---- -------- > " ! ->

p o r hum.i, e p o r o u t r a banda,Eu vi correr letc vezes,

os Pailbs hum patarata; que cá pelas minhas contas, craõ fete mil paliadas.

Por final, que cm pes, c porco, taóatollado hia cm lama ; que cftivc cm fazer limpeza nolle, mandando-o á pray a.

Vinha entrando a penitencia, para muitos cículada ; porque poucos vaóá Gloria, chegando todos á Graça.

Antes os leva aos infernos s c a r a z a ò difto h c t . ò c l a r a .

P mi torno

2 16 P I NTOTenho dito ; c he o que baila:

fe mc naõ derem o premio,n u n e s m a s p e r r o s i m o h n o \

cá de fora ladraremos.

A h u m s D s m s na P r o c i f f s o dos P a ijo s , co m d n .

cjjfad 'a i. Fuji a ij'tim jn o A c a d tm ic o .

R O M A N C Ek m 7o n i;d o A ! n it .tce 1 1 li.n p cm t O r ie n t s l

Q Uero contar huma hildoria , taó verdadeira , e taó lanta,

queobdga a fazer a muitos boas obras por lua alma.

Foyo calo,que no dia deleita feira paliada ,(depois de varrer as ruas, por donde o concurfo palia;

Que cldcs íao os bons ferviços, com que a Camera defpacha ) quizirvcraProciíIaõ, efuy com a minha vara

La

RENASCIDO. 2 j ,JLá por fuas dependendas,

alguns me fizeraó praça, dos que me fazem monturopordeírraz; em hm. canalha!

C h e g o u p r im e iro que tudo , o t ro ç o dos e ipadanas, para b a ix o , c para c im a , porhuma • e p o r outra banda,

Eu vi correr lete vezes os Pados hum patarata; que cá pelas minhas contas, craõ fete mil paliadas.

Por final, que cm pés, e porco, taòatollado hia cm lama ; que cftivc cm fazer limpeza nolle, mandando-o á prava.

Vinha entrando a penitencia, para muitos cícuíada ; porque poucos vaóá Gloria 3 chegando todos á Graça

A n te s o s leva aos in fernos , e a iazaò dun 1 e t ud.ua,

P mi como

2 i8 P I NTOcomofe védadiviía ,no feu peccado, encarnada.

Ecftamos no-noíToaííumpto;agora he quo cu defejavapara elk' paflo a limpeza,i]uceraaqui bem necefiaria.

....-*• v i a ^ i w u u i a u a j a u i i u j

pela grandeza da pata, a mulher me pared i homem deei'pada, eadaga; i>- Mas no redondo do vulto ‘.aim* fufpeitey quo era a Bugalha; p-™' ou feria a Sota de ouros,

feira manilha de eípadas.Sc o era, foy penitencia;

mas nao 1c eu a confeíTara; que em lugar de elpadas nuas, lhe dera hum a boa tranca.

Porém íe era outra, que eu cuido duvido que dèílc caula para lhe darem tal pezo : íalvofoy por fobrccaraa

R E N A S C I D O , 2 I fE fe o bem qucrer he culpa,

a penitencia he mal dada; que naõ peccou dcam orofa, feria talvez de ingrata.

Eípadas levava em folha , cem folha tambemenagoas; á 'em das boas bainhas, queiobre tudo levava

Mas ou folTe Dama, ou Y h w U ; que tudoíaóarraftradas..

ou de botadas por portas, ou de metidas por caías.)

Eoy a que fedeu no aííumpto delia Donnnga paliada, a primeira daQuarcíma: e acabouíedantas Pafchoas,

Ao fehz,e primeiro parto da Rainha Ab/D Senho- r a , que foy as nove horas do dia, e nos quatro

do mez, deSDeZjemln o.

R O M A N C E.J Elus nornede !cfu

quantos Poetas agora . com

220 P I NT Ocom pejo das íiias Mufas, daraõdo feu parto moftras ?

Todosa Apolio pedindo, que íhcdé hmna hora boa ; no que andaò muy acertados,(im , porque tudo quer horas.Quantos, aos seus Madrigacs,( que vem de molde em tal obi' idaraõmuita badelada,que eílas nos partos íaò próprias;

Quantos cltaò abicados a parir rauita lilbnja , com preces, de que a luz íisya o que deíejao que mova;

Quantos, vendo que o íeu frutss fahe mal, de pés para tóra, buícaraõalgum parteiro, que dé niffo alguma volta ?

Quantos viraô musto inchados. comfuas prenhadas coplas, que cm vento íc nao desfaça, ciprimida aquclla couia?

Qp

221RENASCI DO,Quantos, muito antes do parto,

tcriaòobras na forja, ou dc veríbs machafcmeas , ou de Iierrnafodritas profits?

Quantos, com partos eíeuros, quetalnaó lia, nem por íontbras'

andaràõ quebrando aguas, quefaõ de Aganipe borras ?

Quantos vuaõengeitados, que Sc a peito ííio ulgucrn toma , corraõ tab boa fortuna , que alcancem a lua roda?

Quantos, com partos occultos viraõ fingindo vergonha; naõ porque dilTofe pejem. mas que fuípcitarfc poíTa ?

E quantos, algum Soneto geradoem Petrarca , ouGongra, por feu viràõ bautizallo, com te, cora firma, e com forma >

Ora cm fim, Deos os ojude; que m . íegm.íKu > out .c. derroi: s,

ro>

222 P I NTOpor naõ mc encontrar corn d ie s , vou cá pela rua nova.

Para o que favor naõ pcíTo mais qaD eo s ( que A polio he dreg.v porque ha mifter muita graça quem fc mete em tanta gloria.i. ^

Lyio vay , yd Cuou cui campo $ íaya o to u ro ; fóra, fo ra , arda aíanta, ferva a Mufa, pes ao verío , maõsáobra.

L á lay hum todo admirado, e d i z : que tfor taò fermof a brota ao R cyno aPrimavera! e mente,que o Inverno a brota.

D iz o u t ro , todo folhagem „ que d ia producçaõde F lo ra , para a terra hc maravilha; c mente, porque ella he roía.

O utro lá lay de m ergulho. ediz , que a concha Alemoa trouxe efta Pérola Neta ; c ella he filha da tal concha.

í )utn

2 2 XRENASCI DO.O u t r o , íem outro conceito y

dirá, que hc grande Senhora; mas cu , vendo que tem am a , digo que hc criada , emolia.

h o que 1 hc poraõ de nom es , de Etfrclla, de A lva , de Aurora, deivíine-iva, de Diana, de Flora, Pullas, Latona'

Porem tudo illo hc mentira a;Hm Deos mede boa hora; íjue eu nao ícy que nome tenha , antes que íeu pay lho ponha.

O u tro dirá,que os Fidalgos em galas, p l u ma s e joyas , todos fazem o que devem: ecu nao digo nada agora

Finalmente digaõ ellcs , tudo quanto dizer poffaõ , q u ecu ,em taõ alta materia, ío digo em rafteira forma,

Q u e gloria ao C e o , p az d terra f' íAiettc , ■ nos ua por »ovas

í

224 P I NTOparir no mez que Dcos nafcc a Rainha noffa Senhora.

E rezando nove d ias , ja que ofaz as nove hours, de que o faça aos nove mezes, nove annos , faço conta.

E que mais annos nos yivaó todas as Rcacs peflbas, dos que vive F.IRcy de França, que hcMatuialem da Europa

Itfo dille, e mais dülera hum pobre, que em fazer trovas, vcraòquc naó anda inchado; porem para cada hora.

J A l e x a n d r e , a ta n d o a fe n d a th L ifim aco n , . o f cu D ia d e m a . F o j affunipto o  cadcm ico .

R O M A N C E.

N Efte aííumpto, ou nefta cura, bem p o d ia , íc eu quizera

picar á minha vontade; que a ferida da matei ia.

Pore -

R E N A S C I D O , 22 f

Porem devagar com if lo , naõ acorde o mcu Pocta ; que da latyra pailadaainda cfti aferida frefca.

Entrou pois, íein mais folhagem por cila claíTe primeira, nofib amigo Quinto Cu riso . com huma hittona íellccta.

Que Fihppc de Macedo teve hum filho dc taes prendas,1 juc nuò í o era Alexandre, ruas cambem çurgiaóera.

Lite lá nefia campanha, que fazia contra o Perla , vendo hum amigo fendo - 1 íupponho que na cabeça, s

E íe a calo toy no braço era da parte direita; que da cfqucrda naõ podia cm reípeito da rode lia.

Mas tfk.i naõ fa. t nocriío c“lo;, Çjiie i'o'le r;, pm ia ;

2 l 6 P I NTO' que a rodelia do joelho naõ tem nenhuma defenia.)

A lèm dillo,em Macedonia naõ (eulavaõ joelheiras; c a trazer b o t t a , naõ ley fe o adagio lhe valera.

Porem foííe donde fo l ie ,ícy que a ferida foy certa ; porque affim o teuificaô trinta moííos da Eftribeira.

De hum Bucefalo em que vinha A lexandre, a toda a prefla, fc apeou, e partio logo a curalio de carreira.

Para repararlheo langue, de que tinha asRcacs veas, pouca purpura dourando, cfmaltou muito Diadema.

Quer dizer ifto,quc o braço lhe atou com elle ,oucom ella; que era o lenço, que trazia m a i s a m a u ,, o u á c a b e ç a

E q i t

RENASCI DO. 227E que exemplo para muitos,

que andaò cá pelas fronteiras; quando ao arar das feridaschcgaõ, fc a tanto algum chega!

-Acção fovjbcm comoíua, grandiofa, quanto difercta; mas que cfpcrar fc po d ia de cabeça como aquella?

Ficou bizarro o Monarch;.., ainda mais íem 0 Diadema ; pois íó daqucllas fendas veil ia a fu a grandeza.

'D a r io (odo , y no d a r n a d a , íe pòdc dizer por cila; pois tem direito á Coroa rodo aque!le,quc a fuftcnta.

Era Lifimaco hum moífo de conhecida nobreza, que Alexandre venerava com indicações paternas.

N e m do Medico o fiava 5 :0111o que fc já tivera

Q leílx

Í2.S P I NTOdefte traidor Galcnifta, a vencnofa experienda.)

Muitos C,urgióes havia, que lhe cahiffera á perna, daquclles demãos untadas, e também, dos de mãos chcas.

Furem quenalnc nunto, e cm tinas cortefpondencias, fó com pontos de amizade cozia de amor doenças.

Também ihe naõ faltaria alguma camifa velha, que alli, d: panos, ou fios, íervilíe á cura primeira.

Mas a hum homem do feupano. ou do t eu fio, qu e o era , quiz cm ti moirar a liga, no delgado da fineza.

Porque he também de advertir, que te na dita pendência Àlcxmdrc fé arranhara,Liii d 1:0 íe ronvoera.

Pcre r

229RENASCIDO.Forem mõ fcy todavia,

lc como o digo, o fizera ; porque reynar intentava, o hemao curador quem herda.

Mas íe Alexandre o íonhara, talvez que por mais deftreza. carrapato na Ferida, como Cjurgiaó fizera

Em fimaquclla atadura, depois do braço, ou da perna, por achaques de Coroai she íervio para a cabeça

E baila jà de Romance nau quero que lhe fucceda. o que ás profits dilatadas iiiccedc nas Academias,

Nao ha quem contente a todos; c fe a fallar vay de veras,A profafaz boa praça; porem a gente deferta.

A (Tentemos que Alexandre ou ja na paz, ou na "ucrra.

Qt na

23° P I NT Oera cm tudo hum grande homem; porem também torto era.

A h u m a D am a,que tra z ia humRclogio ,com ljn;r, C upido por moílrador. Foy a/iumpto A c a d e m ic o

D A X I A \1 - n-AY V / XVI A n Vj H ,

Y ) Iz ,que na outra Academia alguns mefizeraó honra

de julgar certas palavras por quaíi licenciofas.

Andaraõdifcretamentc; «agradeçolhe alifonja, para que em outra naò caya, fe he que a tenção naõfoy o u tra

Eu também fizera o mcímo-. le aqui jogara de fora ; que os mirones tem licença de emendar todas as obras.

Oaílumpto teve a culpa eu rahir em taes vergonhas

mas

' RENASCI DO. ajjmas agora heideem endarme, porque tudo vay a horas.

L o u v o ao Sen!ior Secretariooatrazarme neíla hifloria; que he mao Relogio o dianteiro na hora de que le golfa.

Sc algu íü Pot ta api'end ylde Rclogios, nelfa d cola - achar que oi eu he mais certo, e entender que o meu dcldoura

Faz mal,porque mecaftiga 11 que o Meífrc mc perdoa; c para que aqui nao pare, autora S he dou ma is corda.

lho he jà parte do aflumpto e porque melhor o exponha, digo. que tinhahuma Dama,( hade fer Filis, por força.)

Tinha F d is, como digo, que lho mandaraóde fora,.(ui ii 111 cl ogio ,cou ía g ra nde p o i i c r m u v p e p u e n ■ ; iúU

Um di m

P I N T O

A fabrica era do tempo, e da fortuna era a forma; qus aqucllc !hc deu o curio, c dia lhc empreftou a roda.

Omoilrador lhe faltava; e porque a vio defgoflofa .arnnr IlioHeii Immi ti-.v,----- -- ------ ‘ 1 U,Afl5

que trazia dc maópolfa.Como vioqueella rendia

mais quo elle, por muv fèrmof quiz andar por maõ alhea ,frexando todas as horas,

E por Filis repartidas, ícriaõ deliciolas; que nella o tempo, que palla hepallatempo, que volta

Elia também lá teria luas horas de amorofa , que no regaço, ou no ieyo ; amor 1 has mollraíle todas.

O rapaz andou galante p-tque lutn>uxe em odloa

R F. N A S C I D 0. 25 j

quo cm tudo o quo coca a F i l i s , cíhí prompto a toda a hora.

(guando hum, ou outro queria ufur t !c horas matadoras, buicando o tempo de trexcu com ellc andava de ponta,

Ptiia os amanics úo tempo -ta m i n t o boa bolça , que aiidaòdeamor naaigihcu i namorando ,edando horas

Mas huma duvida tenho que pôr uodono ,ou ádona d o R elogio, ou do ailumpto ; e argumento nelia forma.

D iz oS enhor Secretario,• puc iuuna frexa as horas molhai; bem , logo para os minutos era neceilano outra.

Se a naõ tun , heerro craílo; íe and\ errado , lie humadrogat e imporia tl n lhe huma emenda qiu : am -.Ion i ÍR, impo1 a;i

( M i ] V o r p U e

234 P I NT OPorn quando o ponha era venda,

ninguem duvida lhe ponha; antes veja, no argumento, que he hum Relogiode prova.

Eíta he a minha pergunta, tornara ver a repofta ;nnrn nnn íi frpç Parufini ---- i ; ------no Relogio, a mira, eá moça

Diganos muito depreíln, quem os minutos lhe aponta: cie me differ que hum chuço eftou íatisfeito; he boa!

Porque ha minutos taõ trifles, filhos de minguadas horas, que merecem por ponteiro hum chuço, c huraa cachaporra

Porem ie Filisquizera de frexas fazer efeolha, cinco dafuamaõ tinha, naquelle carcax dc alcorça,

Quem duvida que ícriaò Í! 1ras por tal maódifpoftas.

1"

2 35RENASCI DO,para os males aprefladas,para os goftos vagaroías.

Mas íintolhc bem trabalho, que hade andar a pobre moçaem movimento contino, fempre com o Relogio ás voltas,

Era feiLu nu Gccidenuc> raõ moderno , etaòda moda , que Filis íempre o trazia judo com o da Sé Nova.

Se na mao fempre o trouxera , chuma foucinha na outra, g e r og ly fi c o notável ! cria de minha fogra.

O Relogio he coufa linda; mas eu já vi melhor obra da mao de hum Meftrc excellente „ q ue al 1 i na Ericeira mora.

Deuíe naquelie Certamen, que mc teve muita conta; le repetição naócra;

porem 3Íi< ■ a n nn mc tocaNcile,

2 3 6 P I NT ONcftc, por mais empenhadas,

jejuaó muitas pefloas; naquellc, miando Haia empenho laõ horas de jantar todas.

Eunaõrenho mais quediga a cftc Relogio por hora;l à m i P r » r v r h /-V A n o v . i t l A1'V). 11‘7 ! U J ' Hl CIVI V !

para que mais nos naò moa

í A h u m a m iç o , cfnc lhe m .i th lo n Im u iu é : d e u v a s , c h m n . i , . in c c .id e v in h o de

D E C I M A.

C U , meu Gonçalo , preíunu> ' que citais a darme Aiípotro ,

em bandejas, íummo goilo, em canecas, goilo íummo: íeguir de tal ramo o rumo me faz o voffo carinho; epois que com tanto alinho andais nos mimos frequente par.i o futuro prefente, feia pretérito o vinho

R E N A S C I » 0. 2 3 7

Ao n o v o invento de andar pelos arcs

D E C I M A S.

Í..' &«i rnaroma efeondida ,-J que abala a roda a Cidade

cila mentida verdade ,00 cita duvida crida; o;r.)! shalaçaònaícida no Foituguez 1" irmamente; die nunca villo invento do Padre Bartholomcu , aílim fora íanto eu, comocllehe couía de vento

Eíta fera Paílarola, que leva, porque mais brame trezentos mil reis de arame fomente para agayola; eftaurdida paviola ,011 eftc tecido enredo, dia das mulheres medo, c em dm dea homens c fpnnto■’iurn eu U a ■>, r j() í mf;;;* òiiioíc hade acabar ccd<».

238 P I NTO.AJulio Cefar chorando, quando ido em Cadiz,

huma Ejlatua de Alexandre. Foj ajjumpto Acadêmico.

R O M A N C E

M U i to deve Júlio Cefar — • ■“ ao nono 0 0 fú jccrctdiio que íao poucos os Certam es, em que clle naò laya a campo.

Porem também Alexandre lhe hade dever outro tanto; porque entra na mel ma conta, jà repartindo,ou jà armando.

Mortos, donde quer que eílcjaò. lhe vivem muy obrigados; quo he feu amigo nos oííos, c vem mefmo em carne a honrallos.

Queira Deos q naó i'e encontrem no outro Mundo poracaío; porque íb cm comprimentos haódc gaftar leu par de annos

C a por certa experiência . que todas as horas faço-

R E N A S C I D O . 2 3 9

de Alexandre muita coufa notai Secretario acho.

De Júlio Ceíar tambémlhe vejo feu par de laivos; que he, pelas letras, valente, e pelas armas, bizarro.

Aqui vinha bem o city lo do noíTo aíTumpto paflado ; porque também eíerevendo ocnvcftem cmulos varios.

Podem atirarlhe á vifta, porem naó haõde matai lo; que tem vida de fobejo. na memoria dc feu lauro.

Naó fcy que tem os aííumptos, que fempre dcllesmeaftafto; mas ifto em mim he hiftoria: agora vamos ao cafo:

Cançado otaljuíio Cefar de muito andar embarcado, bufeou de Cadiz oporto , pararefrda•, :ddcauco.

Vio

24° P I NT OV io, quando faltou cm term s

humaEftatua; c perguntando quem era aquellc Colloffo?lhc diilcrao, que era o Mag no.

Otaiduro relativo, a efte íubftantivo brando ioy Iiuiu^ij^e ,(] iio d de pedra ,, muito malm, mala , malum.

Porque á memoria lhe trouxe alguns cafos atrazados,'D *que naõ ferviraò de exemplo a ninguermantes dc efpanto.

Eatèa nos outros Poetas vem hoje a fetvir de enfado; que aílim como cm ferro frio, cm pedra dura malhamos,

He poífivel, Alexandre,(lhe dizia o velho honrado, tremendo, e dando á cabeça, erguendo, e cruzando os braços.

He poílivcl, que te encontro - hepoilivcl, quetc acho..

' lIuai

24 íR E N A S C I D O .

(quando tc bufcava tenro) de coraçao empedrado?

He poílivci, que re vejo ? he poílivci, que te apanho ao rigor do tempo expofto, tendo lido dei le oeftrago?

t l ; rs a ________ _________jL/inu;c u mais 3 i[uu Liiniii picz,u>delatou logo ern tal pranto > que ate cu já me envergonho dc ver chorar hum barbado.

Alexandre mudamente lhe rcípondeo ( porque o paiíb faria choraras pedras) ncíla fôrma,em Caftclhano:

Jnlio amido , a ius primores vrJ. t Efiat a J fo y de mar mol; mas t tempo ave a , en que titf cas depiedra mi eombidado.

Vete en paz,, queen ono Mundo filiaremos mas deejpacio:: naô diíTc mais o verfo;ucm fey eo no diífctau to’

Qne

242 P I NTOQiic as pedras fallavaó dantes,

me tinha meu pay contado ; c feria neíTe tempo a vida dcftc padrafto.

Alguns dos íeus lifongeiros, junto com elle chorando, tinhao íiia dor cic pedra, porque naõ mijavaò claro,

] á dc outra Éftatua ic conta, que houvera outro namorado e alguma defeulpa tinha, fendo o corpo hum alabaftro.

Lagrimas fobre penedo, íòraõde faudades canto, como fc diz cm Coimbra de huma Dona Ignez de C aftro ,

Porem era chorar fobre cftc, nao andou Julio acertado .; porque, g u tta cava t lapidem , ciílo feria arruinallo.

Tanto Alexandre, como elle ,, reyo i]uc craõ choiócs atnbos

hunt

E E N A S C I D 0. ' j , -hum por naò haver mais Mundos : outro de o v e r defies falto,

Mas eu promerti ferbreve; tenho o Romance acabado, íenao for perfeito, viva fulioCefar muitos annos.

lo b u li, ejfic r o Anthoi a Qjiuit.t (L hrv.m- ílo fojcpb fj.i H u tu ,!é fcn vchum n!’o í kmaioPijcoy(í!!c !he cntrav.iprht/ i- nclLi âo quarto cm quceflava, e fcjtmha /i juz,er galíntijjimas vifstgm a hí cfyelho cm que je zut.Coufa no!azei,e todos os dus

R O M A N C E.P Or deitar duas cans fóra

de tantas, que cm caía crio; ou por verfeás minhas penas ddeobria algum ai ivio.

H uma manhãa de Dezt mbro, que o Sol convidava ano fahi de I .isbo.i ú vida ,

íley no Oi. x 11. a >í inqo

24+ P I NTONa Quinta do amigo Gama

foy onde achcy tal abrigo, tal fartura, ctal grandeza, queeículado he refcrillo.

Pois vemos, que para todoscito Montalvaó benigno,/1. ' ; \ ^ J Cll;i co as pernas aoaLus,e c’os braços etlcndidos.

Elbe Gama he nos embarques ao outro ta5 parecido, que tudo quanto deícobre, luõ índias para os amigos.

E que mal alguns lhe pagaõ a amilade, ou beneficio; íem embargo defer moda, a ingratidão neíle íiglol

Também cu entro na conta mas hc por outro caminho , quefou ingrato chamado, e dies íaò os eícolhidos.

Ha tres an nos que o conheço ~ nolles naõ tem havido

b u a

R E N A S C I D O , hum dia, em que naó diíIcíTe o que neftahora digo;

P o r e m ,c o m o vou c o n ta n d o dello fuy bem re c e b id o . ne fc fh fe ira , pois tive h u m mar d e ja e ix e , e marifco

H u m palTarinho , q u e en trava P ° r h m n p e q u e n o poíti«>o. a reverie e m h u m e f p e ih o de'Sip ro p r io a m a n te h n o

Pela caia confiado, andava aquelle i n d i v i d u o ,Peito h u m animal caleiro, lendo a penas b icho v ivo .

N a ó tinha da natureza o p o b re d o paííàrinho nsais c o rp o , que hum a Fullofa , nem mais carne d o que h u m Pi/bo

H u m Piico era , dc verdade , q a e o fado qu iz , por capricho

h o u v e h u m N a r c i ío e m f o lh a , i ; em penna hum iN au iiq

R n \

245'

24<$ P I NTONarcifofc arremeçava

aotal tanque criftalino, do leu canto , c do leu ecco defprczando o exercido.

Do leu amor enganado, andava em moto continuo,U.,f, _1 ........ 'u u t w n u U j Ljuai í i iu i í p u i a ,

a luz docriftal ,em gyros.Dc naõ penetraro eípelho,

fente, amante opobreíinho, no peito hum aótivo fogo, que naõ chegava a paífivo.

Ditou vendo quando acaba, dos rapazes períeguido, mais a tropeços dc hum laço, do que aos treípaflos de hum vidro

L á andava outro pifco á caca h 'Z { : racfma carne, e feitio;10 mj- e fó tinha a differença br°' nas pernas de Maçarico,

Ao ar tiro naõ errava; taziadochaõ hum crivo

porqt

247E E V A S c I D O,porquc era fodo oieu ponto bu fear hum alvo infinito;

L íeaquelles grãos federão naquelle dprayado (Itio, legundo o que iemeava, muitofe houvera colludo,

t 'tu, c! a o guapo Sylve i i a amigo bem divertido, parente meu ímiy chegado, poi unha do grau A Ligneo.

Daíli rorao a Almofcira eu naó, que fog! do trio 7

aos gaJleiróeiis da Allagoa, glue iaõpara os pobres, ricos

La me dizem que o Sy] veiru i natata os Í cus quatro,ou cnico, nao dos em que punha o ponto, que cílcs zombavaò do tiro

.Mas como andavao aos pares, duas varas divididos,]ue era i diltanci idocrn monui ha n do ddtino

fo Deu

248 P I NTODeu fim do Domingo a fcfta;

'om na íegunda nos partimos * Eyi. para Lisboa; ondeeftamosdcrnia. . 1 /'a ver tumbas, e ouvir imos,

E pois a morte anda á caça , almas em pena, ao auxilio;f r 1 t"-! (* 11 O IT ATI* A rvirtniiouvu uv v uoi u. ia yque a morte naò erra tiro,

he certo,

A o parto f tl tz , das duas H m I ttç fc z jts , oufm >Velo JngleZ/j que ambas je h.mtvmavao . oit

for ao ao mar juntas em hum dia,

D E C ! M A S.P Erantc vós, bom Marquez.

as irmans quero louvar, que fe foraó bautizar, bem como filhas dolnglez; d leem Portugal as fez em leito de íobro, c pinho; tins dale 0 bom caminho

í! F N A S C 1 D O. Oif>

íofc deve a vós, Senhor,que foliesfeucriador, leu parteiro, e (eu padrinho.

Ambas, a qual mais corria., comtigo no banho deraõ, ca(nm , Ingiezascomocraò roraõporíeu pcápia;‘-otii o nome de Afaria ambas tomaraõa te • eElRcy lhes fez amerce . por nomeaçaó cícolhída „ cie Senhoras, numa vida . d.i Oliveira, c Nazarc

Lind.imlobii.wasra/.zn dc fares a km # fm m _ r l rjuelhaspedio

D E C 1 M A.\ J ivc 11 rcMayofioridc>.

* ]l5C at]ul>com fragrnncias írul ‘- ens íetnpre o fecundo Abriloio prezo, coeio con idohmnOuroi:! p í-icüdido

II i n i ' i -

2,$0 P I NT Oíc confeíTa a teus primores, osbensderaiz melhores, que logra, em pobrezas tantas , offcrecc ás tuas plantas, porque a teus pés fayaõ flores,

L í l . t v . t cerro Fi.-M çn hu '/li/1. WQlfP ds [jP7/M j illa n d o da n i i , com h u m a m o ç a , m / .im lla ■ a c jt i .i lc u n U iit i q u e era outro,cone q u em and.i- ■v.ipara ca f a r ; m as deu h u m reU m paeo , aclarou tudo . Foy a ffu m p to n a A ca d e m ia d i 11.

p a r te ,p r e fid m d o o m e fm o Fulalço

R O M A N C E

p Rahuma vez hum amante ■*—' dc noite pelo efeuro; e na5 era o cada canto s pofto que fabia tudo.

Filho de muito bons pays (que he muito fer bons, e muitos > taó morgado, que naõ tinha í ícgundo o que ouvi íegundo

RENASCI DO. 25De prendas muy bem d o tad o ,

bem fornecido de impulfos, muito liberal nas artes,muy contino nos eftudos.

fazia osíeus quatroverfos, compciitos graves ,eagudos; dançava oíeu minuete n como o Meftrc de Hamburgo;

1 ocavaoíeuoitavado . como toca qualqucrXulo; dava a lua cabriola também, oumelhorqueo llmvo.

Hra pelo grandiofo, largo cm tudo ,cm nada curto C finalmente muy deftro ,

pes, mãos, e mais miúdos Mas deu cm andar de noite

tanto,com huns vagamundos, que degenerou era langue, ou dc morcego, ou de bufo

Dec! >rf que Ire hs fo m d r o iiichuioMuc ;ív onus íujo

pol.Ã

3 .^1 P I NTOc pois naõ he cada canto, naõ fcja cada monturo.

Com dias mas companhias tanto íc deípio de tudo, que ficou tai, qual cantcy nolle atrazado nocturno.

Kite tal vio huma moiTa; mal ditle: vio hum debuxt> •. porem pata que mecanço com apodos importunos?

Scnaó ha melhor retrato, nem mais rico, apouco culto, do que fermoía, alva, c loura , íèm nenhum gencro de unto

Traz cm li taõ matadores huns dous fermoíos carbuncos, que naõ ha outro remedio, íenaò o cahir defunto.

Mataõ mais neltaCidade, que os Medicos todos juntos; nem Bernardes, nem Palmei la o i il.li,C ü Xavier, C u r v o

R e n a s c i d o. 2 nF.in parte deículpo a Fabio,

i, que heo nome que andaintrufo ) cai naô íinaríc dc todo,porquererihe mais que muito

Ellon hade ler ícinpre i naõpor aquclle turno, porem por aquella parte’ l ,lJi donde a tabiodeículpo

Morava la para A lhm a, adondo) ern hum marabuto tinh;i os olhos empregados • que fora melhor dous murros

Fabio, que na difterenç 3 ímha certo oícreícuíò , determinou de levaüa r or aflalto, e por infulto

E como tinha alcançado do tal negocio o refumo, por meyodc huma vifinhu , t]ue era terceira ao íefudo

Ei ido em que d la cuiddie.■jLK tsl; iVí.í a o kuanum o..

«IA

2J4 p ! N T Oquiz, do dia o privilegio trocar, da noite ao indulto,

Eem humndas mais medonha, que pintaò Poetas brufeos, le toy direito ao leu beco, a pc, íem motlo , e lem ruço

1> t_ . _____ í \ J 1*i V L U U l j U U U ' U C U l U C j l l C l ,

cncoftoulc de verdugo; e cm bocejo de valente , deu íeu elcarro , e ícu culpo.

Cuidou cila, que aquelleera o final do íeu Branduíio, e abriode manfo o poftigo, dizendo ( em vozdeluíurro.

Es tu Manoel? Eu fou ,( lhe diílcellc em voz dc burro ) chegate mais d parede, que fazes muy grande vulto.

Ecfpcra , que eu logo venho, naò tardo nenhum minuto; quea mãy jàfe eftádcípindo e t! pay cila bebendo tum

R E N A S C I DwO. 2 J-Foiíc Clorí para dentro;

eis aqui Fabio confuíò, dando por feito o negocio}e o ca fam en to p o r nullo. *

T a n to aílim , q u e ja tra tava de r d í i t u i r l h e o fu r to ; p o n d o a d o í ecu lo fora „ depo is de logralla o iuftro.

Meftc te m p o ch eg o u cila, em te rm o s jam ais ju c u n d o s , d ize n d o : Aqui cífou,am ores; os velhos jà cftaõ íegutos.

Graças a D e o s , que podemos fallar hum pouco íem íu f to , NiftOjhum re lam pago d av a , com que ambos hcaraô mudos.

E r a h u m a n u v e m p re n h a d a , q u e e sb o rrach o u c o m tal p u x o ' q u e d e u à lu z to d o o parto q u e a t è e n ta ó cftava occulto

' -H.a vendo clammenrciui íUíOluIO O d o xcbljco ,

peiõ

2$& P I NTOpelo berne do capote, e do barrete o veludo.

J.i tornada áfua voz, com flato aílaz iracundo, lhe dülcrOh meu C avalheiro, bufquc cações, ou cachuchos,

bvT.-w-\ o r n -> o• - i-, 1-,^ .i.>mvev,ui V-U Nj eiv, ai t ttu iu n )

porque para meu conjugo , ou hum furo mais abaixo , ou aqui atraz hum furo.

Vaie embora, antes que venha quem o fará ir de pulo,DiíTe: c batendo a jancila, vay, e viralhe o rabuncio.

Naõ achcy outro toante; mas minto, que antes o bulco, com licença domodefto, por tapar a boca ao Mundo.

Nem tem muito falo verío , que naõ leva defte adubo; que he fó no que daõ dentada os Cnncos furibundo::

!:

257RENASCI DO.Eu conheço algum dos ditos,

tollo, envejofo, perluxo, que diz mal das minhas obras,c d e l i a s faz ícu p e c u l i o .

M as q u e tem cita m a te r ia ca c o n : o n o f lo diícurío, itivcií ' o em m eu fa v o r d o u t o s „ pat 'i h ;X.rar eftultos >

Vas n o s ver c o m o eíta F a b io que ficaria p rc íu m o , nauy a lu m b ra d o , e m u y cego. nauy m o lh a d o , e m u y e n x u to .

M as que m a o f o y para ellc o r d a m p n g o , p e r g u n t o ,1 o g r a n d o , a o í u m e d e r a y o s ,

d o u s olhos, c o m o d o u s punhos?T iroulhe o ufo da falia,

■"os deulhe da villa o ufo; de naõ fallar teve perda, p o r e m de ver teve lucro.

- o ico ím eíta íilanter na ílk: v e y o , c u u t lu ico lu ico „

nao

2j8 p i n t o 'nao a ier de furtafogo, mas aeftorvarfogo , e furto.

Ja vejo quc o Prefidente me eftrauha ( vindo efte aiiumpto derelampago) vircu dc vcrfos com hum diluvio.

A huma Damd, que fc queixou de fen Antãnte Kvtefcrcverem rJirJo. Foj ajjumpto Acadtrt ■

R O M A N C E.O RaSenhor Secretario.

por vida lua lhe pcíTo: mas logo odirey ; quc agora quero peitallo primeiro.

jà que por graça de Apollo, ou por feus merecimentos, hum lugar eftá occupando, quc he na Corte o que labemos

Como verifica o faco, em que vay honra, e proveito;■queate m entirofos fazem osmfallivcis provérbios ,

Ali

E E N A S C ] D O,A ff im ta l propriedade

lhe chegue a filhos, e netos; eaílimatè aíepukura lhe dure oaco m p an h arn en tm

Q u e eífes meus fracos fer v iços me meta neííe c o n l d h o , em cuja Secretaria

259

in d ig n o official eferevo.I t e m , pois no introduzido

taõ m al confu ltado v e n h o , q u e o S enhor Fiícal m e íuppra as faltas d o reg im en to .

Bera ley , q u e officiacs m ayorcs tem para a i í u m p to s íu p r e m o s ; e o m o le tem v i l lo em la u d a s , de que cif a 6 os livros cheyos.

P o r e m íe á fo m b ra de h u m grande a v u 11 a q u a 1 q u e r p e q ue n o ; nelle nao p ò d e fer m a is ; em mina nao p ò d e fer menos,

NoprdcntePn fidente íailo i porem taòconveríò •

S miíí

6 o P I X T O

q u :venho para o íuturo )a de pretérito alheyo.

Eu naõ ley fe mc declaro, porque cílamos em tal tempo ... q u e a t e dos tres fob reditos me podem pedir comento.

rv.— __•_ _ _ r i _U í^K J p u i b 5 E JU L 'C U ilU d U U

nel!e,e no nobre Congreflfo, venho, dc que me naõ chamem ííTo , que digo que venho.

E pois foy difcrcto arbítrio o Academico preceito, dc ícr em Portugucz tudo ; muito hade haver cftrangeiro,

Eu naõ ley outro idioma., c ailaílarmc defle mcímo, em que quizcra, naõ podo, c ern que podcíTe,naõ quero.

Que hc muy falto de vocablos, dizem huns mudosdifetetos; edizem mal, fenao fabem data ra/aòde rlizeiio

U

R r N A S C I I! O. 261Mas que tem iito co’ níTumpto,

perguntara cu a mim meímo? íiísra os Anjos mc reípondaõj duc Cl1 mm hem goílo do alhcyo

M a s oíá,mnníò com iílo í oao nos oep \ ;dgumCou'iiciro,

porcmcpínuj mcagauc , c pc! i. regra va prezo

■ /VÍ Vienne no Romance,, c vim com dies roeicyos, por parecer couia grande,0 qne id hc enchimento.

Hora em hm vamos a jíl o , aeyo.qucnaohc preu noda ■■ oivlcn;!Ci, 1 erc>0 j ernjn e radio, eClori nomes caros,.

!U t] u e v 1 í l o, c a u f u a d t;, ei colher dous nomes quero, que ou me hrvaÕ deafloanfes, oi; mc ajudem nos conceitos

■onro ignra,: ,■ ,h,?r,;% icpitiieuncui\i,u!. ia Pedro

2&1 P I NTOjà que amante lhe eferevia, porque o naõ fazia cm veríò;

E lá vay oaíTumpto em claro: ao Orador me encomendo; a Pedro a entrada imploro, e a Maria a graça peílb.

t - « ' C f „ I ‘ ^ „vj vjui LCL úc sermão icus tái v os, nem por itlo hade ir ao prelo; e antes que largo mo taxem, vamos aílim diícorrendo,

Sc amante naõ ha taõ pobres que para gaftos cafeiros naõ tenha ao menos de Mula os leus quatro reis e meyo,

Tem muita razaõ Maria; pois, fendo linda cm extremo, le Pedro he amante fino, bade andar louco, ífto he certo.

Se he louco, hade fer Poeta s ; ícgimdo affirmaó talentos, que por fentença otomarao,.nus nunca o deraõ por feito. .

R E N a s c: i n o. 263Sc h e P oe ta , c o m o d i g o ,

Maria hade fer ameímo', pelo prealo contractio1 ‘ e trans 1 o rmaçe o d e c bjee ros

SiippoPa a idh.igc acima,Pocta a Maria temos;>c nc l'oeta, bade icr pobre,•chi pobre, nao tern remedio.

Emnadaja fahe provida, ig g ra v a d o e m t u d o h e Pedro; e a m b o s ícjao a ç o u ta d o s , p o r fa be rem fazer veríos.

Mas com Maria , ainda allini s ;ivho que Pedro andou nefcio. iabendo que rilaiabia de Crililacs d alma dons dedos

E barato lho fazia; porque eu Marias conheço, que quando verfos lhe 1 nandaõ, refpondcm.- he bom dinheiro.

Far Hm- Senhora Maria í o m e « g o r e . m e u c o i i i d l i o .

Me; íe

2 6 4 P I N T Oíc Pedro teimar era profa, mandeo bugiarem verio. -

F°y tollo cm naopcrfuadilla.ao mcnos com h im quarteto •• i'O's com quatropes,tic-ava i m i s befta , mas mais aceito

T? r-rvn IV-J.mC* — I -‘ -'VVUÍVU.iV, till E d u lii )

c]u5 ‘'ic'iitcnca, ao quo cu enrci 1J0, haode ciaila a leu fav or m ais dc quatro, a fo lhas verio.

N o R io ,U J a n e ir o n u n d o t t p re n d e r ao A u t! .. G o z .m t .u lo r ,p o r f t z j r m ijo a v o n ta d e a b u m

v . t ! u io / j , [ e q i t i i x a v a do d i to A u t h o r - c j f o n e ■

K O M A N C E

eraeccos

P RczO entre quatro Caboclo* aie tem fua Senhoria,

por huma taifa verdade, que de harm mentira tira.

Mas fede veras me apeftaõ por huma galantaria •

K e N A S C I D 0 . 265que fizeraõ/e aqu i fora oquern Bahiahia?

Ador.de o Governadoroutra mais brava Thalia coalentia que corrdle ; pois quando corria , ria,

de inea cenavaócom dads o i i ' . j lo go o jog o arriba; e todo 0 anno ganhava . porque naõ perdia d ia

Qyand0 em barquey , du vuia v. que o Rio corrente tinha; porifto clcrevendoámargem. o que naõ convinha, vinha

1 uy bulir na Caía de Auibia • e a 1 ía be r,p o r v id; 1 m inh a , que cite Conde Liicanor ca de valia, valia.

Além do tonto aínaval,diz que também me 11 lalqu illh u m ca bei leiva fo rc adoúyez p sugo-: mha info.

u n

266 P I NT OSc eu me vira agora folto,

talvez que pouco íentira, dequcelle a Beüía amara, que tu amaria a Maria.

Hchuma linda muchacha, por certo, a mn.ha Mancas; ' c íç n.,1.0 hc tció íermof* he mais que Beií f a , liíj,

Tem já por habito a moça ícr mais que agua benta, pia; mas o lá, ter maõ na manta que o centeyo efpirra; irra,

Ifto fó Fabio cantava ao íom de huma guitarnlha, callando lá para fora o que na enxovia via.

O h ^ W íU-

R E N A S C I D O . 267O u v in d o c a n ta r 0 ^ A u th o r h u m a de duas irm a n s , m a is fe r m o fa h u m a qu e o u tr a , lhe pergun tou como f e c h a m a v a s . e lhe der ao os nom es n e f lc Adote

J o fe j ’ha • q u a n d o l u z j a ,

G L O S S A j V j A õ pode negar ninguém ,I ^ c o m t a ó b c l l a s con je& uras , que cilas m ulas fermofuras iermofura irmãa naõ tem ; oh quem ponderara bem naquellc goiloio dia_5 o candor, c a m elod ia , c o m que as almas elevava,Luzia, quando cantava,Jo jepba , quando L u z j a .

A o Senado â a C a m era d a B a h ia ,q u e m a n dou p rC 4 t:r a h u m h j 'c r i v a i , cham ado por a lcu n h a 0

P ila to s , efíando 0 A u th o r forego,

T> F C I M A S

V i v a o n o r m C c m i i d o n odo Senado C am araõ. que

268 P I N T 0que nos convcrrc a prizaodc Pilatos no Pretorio;he bem publico , e notorioq u a n to a to d o s nos atíiicç,e pois a nós ie d ir igebrancos , p re tos , e mulatos; aim r \

rria /itJe , C r n a fo e .T o d a a caía le a í lu t to u ,

i m u lh e r íe l a m e n ta v a , P ila to s tal naõ í o n h a v a , n e m a m u lh e r tal f o n h o u fe c o rn o íe m e c o n to u , cru em t u d o o A d ia n ta d o , j à f i c a t a õ a f r a z a d o , q u e t e m o lavaríc po lia , pois pela C a m e ra nolla rica P ila tos b o rrad o .A M as cu fem pre p re íü m i durar m u y p o u c o cila guerra , q u e Pilatos nefta terna tem numa gente p.>ríi lo g o neíie d ia o v i

R F N A S C I D O. t 6 <J

ir f o l r o , c livre cntrcos l o o s ; v j lh a o d iabo aos S a n d e o s ,cm quea íua força eftribajp o r e m n a ò f o r a c ü e Efcriba, naõ ad ia ra F a n ic o s

\ i í \ -*T ri v i. V / .1. xi-,

A , í À f u m an tyranno cjjato,W*c padeça , e c iti,ir . n r < p a ra fa tia r ,

' ? c í 5 falLtr por re(peito.

G 1 O S 8 A ,

dando o A u th o r de cam inho para An go ia, dc p o te n c y

i.

Q U cr h o i f ,á fo rç a ,o m eu fado , e in G o v e rn a d o r e n v o l to ,

que por le rna l í n g u a í o l t o .. ieia n o d i icu rfo a t a d o ;cd h aca rn en íc in fo rm a d ooiu.oi, uc íí ui, iai amei íuj,

p o re m P A o o í c u rc lpc ito A

m

2 ] 0 P I NTOfa z c r m e ú d c fe z a p a u ia , h a v e n d o m e n t id a c a u ía ,hm ha nun tyranno ejfeito.

2.fa n a õ f i l l o , e b e m c o n h e ç o .,

q u e n d t e p r c íe n te a b a llo~, -i :.. j 11

p clU C Ç u L1ÜU3 U U LJLIC C iil lÜ 3

c a llo 0 m a is d o q u e p a d e ç o ; m a s ,S e n h o r e s , f e e u m e r e ç o n o s d o u s e x tr e m o s v o t a r , íc q u a lq u e r m e h a d e u ltrajar, te n h o a m e lh o r p a r e c e r , a n tes fa lla r , e m o r r e r , qw padecer, c caliar.

3.E u t e n h o a l ín g u a e m b a r g a d a

a q u i, q u e fe a n a ó t i v e r a , c o u ía b o a n a õ diíTcra s f iz e r a c o u fa f iilla d a : t u d o d ig o n e f ie n ad a ; n a d a f a ç o em m e explicar, e a í l i i i í q u e r o m e cal ia,,

RENASCI DO. ' 3171porque ,nopreíente anno, íó pòde qualquer maganoter boca para [aliar,

4-Sercy qual mellaõ letrado:

com bem cftranhoíentido , quehcyde íèr mais entendido, quandodliver mais callado ■ mandcmmc jà degradado por íentença, ou por conceito, ao mar largo, ou ao eftreko, donde os campos de Zatir com rcfpcito me haodc ouvir,t nao fallar, por refpeito.

Ao Mcftrc de Campo foeto dc Àraujo,ejuelhe man dou da Bahia hum fei xo dc a, jfuçar / bum a c ar­ta,que fó fervia de capa ao (onheemento.Jew

mais letras,R O M A N C E.

M Eu Mcílrepneu grande amigodc cujG tiüaSgo termo

trill 10

2'J1 P I NTOtenho, ror capa dccarta, ballantc conhccimcnto.

Irfpemy.que cu rac declaro, digo, que acafa mcvtvo huii i conhecimento voiío, conda, cm fim, dc voílo engenho

A f u c n m r ! ' i o n n i «->.-< ?-> ~ CL I -•* ' uau ClUÍ ;.i UULilídigo . ícm outros rodeyos, que tive carta fechada, ícm mais letras do q ue o fe ixo

C uidando fer da Bahia, a abrillafuy m uy ligeiro ; e nenhuma vi de Roma, mans breve, nem dc mais p e z o

Primeira via, dizia; emandey logo ao coney o > que foy o fegundo chaíco, mais leve lim , que o primeiro.

Pois nem hum vintém pezava íeu breve, ou nenhumeompendio por demais era a primara . c íoy cana de menos

RENASCI DO.Duas frefcas cartas t iv e ,

por mar huma, outra por vento ; e nas mcí mas qual idadesrei pon d o, £ i ia n d o í rd co.

Sc a quem cm branco ícaííina poílb eíerever quanto quero; eyio vay ; guarda deí am o ; n i n g u c n) i c í à ça a ma rc! 1 <).

Huma verde, outra madura, como o vedo companheiro, levareis, do que cu apanho em novidades do tempo.

Ca me dizem ,que lá íoraò carregados huns enredos contra vós, de marca grande , poilo que de pouco preço.

Mas mentem cíTes vinagres, ou do Braíil, ou do Reyno; que eu naó vi homem mais puro i 1c bara a. barra; ifto he certo

Do Senhor V oro* t cípauro-í . ... i . . . - ‘ . : . ; L , : .

^74 P I NTOdeíconfkr dos amigos,

O J

aquemdcve maisafíeétos.Da vofla, edu minhacaufa

( que he tudo hnm mefmo proccfld foy ieuirmao feltemunha, pclos Santos Euangelhos,

( ' r ii ^oeaus lcus oinos, porventura ,

chegarem cites meus veri b s , nellcs verá que lhe digo, que no outro Mundooeípero.

Ido íc entende, fuppondo, que eu vá para lá primeiro; pois pòde feroefpcrado o que a Deos he encoberto.

Vos folies de cá bem qiuílo s de la vidles o mclmo> cu, por huma, e outra parte vos tirey os depoimentos.

V ós, cuido que naó íbis rico, porque ícy que naõ fois neíc io ; íempre folies muvcallado c 'i:> cartas o eltao dizendo

RENASCI DO.Pois de que fois envejado ;

qual he acaufa dcíTceftcito> mas jà le y ; creisvalido, cconvalido vos creyo.

A lg u é m d i r á ,q u e i l lo heaííucan c talvez quem eiifofpcito; lüaS Gíiça 5goi':i O rei ui nO 'era íe í ou liíongeiro

A verde íefegue agora, ba veis de tragalla em che y« >: ta lvez c o z e n d o t u d o , q u e vos faça b o m proveito.

C á m ecnche ítes as m e d id a s , t ia ta m b é m ; de que e n te n d o , q u e íbis am igo dc l o n g e , taõ igual , c o m o d e perto

Á m e u favor carrcaaftes,O ”fa z e n d o h u m fatal em prego , e ja v e j o , pe lo t i ro , true n a o íois d u ro dos fechos

M as ao illucar .amigo,

1, ; ÍVO iCí

2 *j 6 p i M T Oe tantos de toncllada, digo, o que d iz o Arrieiro :

Arre, e que caro elle cufta! irra.ecomo elle iahe azcdo! perdoay mc,amigo,a fraic, porque ifto he força de genio

Por memoria, £ m j nnQ y Q (1 q dentro n alma o agradeço; mas naõ ganho nada niflb,€;intcs mais do que ido perco.

Porque dous toftoensdc buf'ea e tres, que ini p orta o carreto, pago, alcm dofobredito, queilloíao outros quinhentos.

M.mdayraeantes dc mellaço hum barril, mais fedorento, que aquelledo amigo Cancer, comquem eu quiz ler Que vedo.

Pois comido mimos faço a quem galanteyos peíTo; que inda que aili jà naõ como s o u i u d o m eta i a m b o os dedo ;

•' i :

K 1' N A S C 1 D O. Z 'J I

On mandayme hum papagayo, fc podcr ferdosfinzentos; e ícnaõ ferve o toante,Ceja amarelío, ou vermelho,

E íe morrer no caminho»( que he o caminho mais certo ) íempre a cabeça me trazem c nae me levaõ dinheiro.

Ou de humas contas de coco, de que fazem cá myfterio, podeis haverme huns Roíanos de alguns íoldados dos Terços

Alguma couía na caía nade haver, das que nome vo e em falta das ditas, venha deMangaba hum camareiro

Ofobredito toante, que naó cheira bem ,confeilo ; mas tem omcfmo feitio o do fedor, que o do cheiro.

he huma rede me mandafleis „k m vo- U> ouíníxin

í j

2 7 8 P I N T O

cu vos perdoara o mais, c defeançaria ao menos;

Alas fem eíTas macaquices, fera eíTe mel de fendeiros, ícm concas, rede, eíemdoee, boa farinha faremos.

F , O n , m r l n n“ í AUW X IClJcl }> que a tudo iflbeftou foge iro ' nada importe; haja faude; venha a carta, e íeja em fcco.■■ Naõ vos aílincis cm branco, tomando de mimo exemplo, que agora me cílendo cm Pinto aquali que punha cm preto.

M e m o r i a l a E l R c y p a r a a c o m m im h a õ ,,

d e c i m a s .Eu Senhor, meu Rey,eu venho

1 ▼ 1 por natureza, e por arte,Jas vinte Dobras dar parte, do que a penas parte tenho ;

dLm. todo o meu empenho

R F. N A S C Í 0 o. 279h c moiiuir pobrcrendido, nuc hum animado vertido icm. enianchas, 011 fern iobras, cm 3 he deitnnnchando as dobras.nea do todo ertendido.

b is vinte tonho id tres, o; is iiid.i uue nuns riven, ícopre hiimiioz ames vicra; e is vezes nem harta hu m me'-: todas as Reacs merces, oene alcanço por obras pias , me levai) quarenta dias ■■ 3 c preciías diligencias ;•apse la o dez em audienous e trinta em Secretarias.

Porem nefta contíiiài efpero, livre de pena , que fem atai quarentena, me roo de dar a communhaõ toda a mmha tcntaeaõ ■000 Padre Secreta00

'.z.zOzztO.Or o

28o P I NTOvou (em materia nenhuma, donde tire forma alguma o meu Penitenciário.

T e n h o , S e n h o r , pa r te dado d e tu d o o q u e m c c o n v e m ; e d e y a ra z a ó ta m b é mdenedir onrirlmrl^. r -------------.fa ltam e eftar in te i r a d o , de que fe te m e n t e n d i d o , q u e d o d a d o , c d o p e d id o c f t a h e a p u r a verdade; e c n ta õ V o f ía M agcftadc fará o q u e fo r fe rv ido .

Valendo annos Sua M age flacky x S

D E C I M A S

I-j Stas feftas, c alegriasa hum anno,q Eliley mais tem.

f 1 he tem conta,cu tambémvou ujuilandoosmeus dias;c í [u f o , ‘*m p o b i v e p o d i a s ,

RENASCI DO. ’Sihum quarto efcrever fefteiro, pois naõ polio o livro inteiro da íua vida Real; que dc razaõ natural, eiiheide morrer primeiro.

Porem quem me ditlea mi-__r lD __ 1 rijuu^iiuy 3 puimetisucicnganos nie naó tonta c os feus annos aos dias cm que nalci? pois dá vidas, pode aqui darme huma mais dilatada > c antes da conta ajudada, vi ver polio ou tros feflenta; que hum Rey a Decs reprefènta, quando faz homens dc nada.

Eu lhe dou o parabém dos trinta, c oitocabaes; e fendo como eft cs taes, conte os de Mathufalem; bloque a tantos convem eao Reyno he bem ncccflario.

mm p. 'i m.usoniifuno,T up., i ■-

- 0 2 P I N T O

mass m e im port;) ,p o r q u e e ib e r o , q u e m e d e vida > c ló q u e r o , q u e me m ate h u m Secret.ino.

‘D/.e a ElRey}m pe tie jo , o qv„V,olhecnjl.to /><•,hr

D E C I M A

D iz T h o m a z P in to B r a n d a n , p ed in te , que aos mais excede,

que jà, p o rq u e m u i to pede , nem fabe c o m o lho d a õ ; c pois q u e r haver á m aò o c o m o , te m o p o r q u e ; pede a u n e m lh o d á , l h e d c , para m enos m al íe n t i r , rem ed io d e n a ò p e d i r , e receberá merce.

n e N a s c i n o, : 81/ i h u m a k n n o f / i m o c . i , c u t e n u n I o n n o b v

Cl F ife v o í lo Paraiío d taõ Ix i la a fruta cheg o u ,

M a r u n m , q u e m e ten tou . c o comcü.i to y precito : c i t a me ferve de aviío que lerá bem extrem ada ou tra fru ta re íc rv ad a , que guardais d il c r e t a , e aftuta ; mas tende m aò, que em tal f ru ta n in g u em p o d e dar den tada ,

ò e o s vo ílos favores juntos m e v e m com todos os Santos , e i icyde rei p o n d e r a t a n t o s , v i com todo? os d e f u n t o s , p i» rd ie s j r •?.a tro sa jp .m ros .

i o u u c e j l o d e n i e i c u n s a i . i d e t o d o s o s S . . m : ; o. r/f n o d i n I n n e í í i i e i n n n c e o r u j n u n : ,

i o d £ h o l l o s .

D E C I fr! A S

2®4 PINTOhojc as maos levanto aos C e o s ; e por eilcs bollos m eos, fie lC hriftao vos av ifo , que afru tadoP ara iio , fc come com pao por D ecs

 ü Senhor eh. A lc m d.i Q J a d e do <Pnrtn^ kernel h u m a Procijja d n a r o a l , a te n hurra

S . j o . i o , comojcmpre fiz,cm , quando querem ohm :a.

d e c i m a s

E* hontem á barra o Senhor; A e eu naõ v i , nem ver podia frota de mais b izarria , nem C abo com tal valor; pegado ao maftro mayor hia o Senhor Capitaô;" cuja barca, hum galeaõ dc rc( gate fer poderá; porem com tal Cabo, era N a v i o de r c d c m p ç a d

ô f

RENASCI DO- 285A taô Divino farol

foy feguindo efte, e aquelle, que querendo a chuva dd!e „ ncllctomavaóo Sol; pelo dourado arrebol, que entuô era hum mar Sagrado, rua também navegado. que da terra, cm varios modos vi eu, que o falvaraõ todos osquecllc tinha faivado.

De graça fèz chover fontes,, para remir noííos males ; abrio regalos aos vaies,, e deu favores aos montes 5 nos rios tez fazer pontes, para poderem paílar os frutos, que nos quer dar c inda a mais íe deícncerra s pois para dar paõ a terra,•agua vay buicaraomar

! à ,c a n m a v o re s p e z a rm' a . S >101 i .i.-. U - a! a I ; l:is

pdas

2-86 P I NTOpelas quaes correo ss ruas, e agora cruzou os mares; goras ele íItng lio a milhares fu ou por noil o refpeito; mas hoje, cirichuvofo cfteito, íuavizi a noíla magoa; porque darnos langue,eagoa, he finczaàe íen peito.

A lu.ro paó logo haver a , inuiro f i g o , c muita uva; í. graças ao Senhor da chuva , q u e tal rcfreíco nosda) n o Senhor da Além tudo h:í ■ ena.ò duvide ninguém, que outro Scnhorda A q u é m valentes milagres tenha; mas eíte, quando íe empenha deita a barra mais além.

Em fim, á barra chegou, e la , corno a m i g o teo,S. j o a o o recebeo, e o n ch uv a o b a r t / «ai dalii ao E o r t o v o l t o u

RENASCI» O. 287com todo o acompanhamento eípiritual; que iícnto do temporal toy ícucanto; mas quem leva o C orpo Santo , lempre chega a íalvamcnto.

Cnifurandofe ao A u th o r , 0 d izer pouco cm hum Sonetos que fez, a morte do D uque de C aiU vai

D E C I M A S

N Efie grande funeral,que a toda a C orte chegou,

hum Soneto meu en trou , que naõ fahio muy cabal; dizemme, que 0 tragoumaí quem para tudo tem b o jo ; mas roy da paixaõ arrojo , dcfprczallo por nojento, e ncgarlhc o íentimento quem lhe concedia o nojo

Maschegou a citado ta)■■'m i ie to a i t r c S e n h o re s ,

e

2^8 P I NT Oque teve hum par de Ceníoresdos da Academia R eal;íoylhe ao couro cadaqual;elcgundo mc diíleraõ.tanto que o dono íouberaó ,i i ii ___ i r. iIÜU,U U C iR í u a i i c m a a u ,

pois to d o s jun tos o abrirão,e eu entendo que o naõ kraõ.

D o jo illo , porque entaóli outro antes do meu chegou , que a todos os allombrou, íómente por coufa mi; do meu , aíTentaraõ cá, ondeíoy fem paixaò lido, que por ir menos fentido em nojo taõ magoado „ naõ era muy levantado, mas que eftava bem cahido.

Delles a queixarme venho, que além de pouco voar. nula. m e querem cortat na pouca pena que tenho* b e m íey,q o íacu fraco eng :uho.

289R E N A S C 1 D O,

era m ateria r e m o n t a d a ,e fp r im id o n a ó dá n a d a ;e aílim nefta taô f o b i d e ,lcvcy apcna encolhidaio por parecer dobrada.

A mi n hi nobre, (da mena ----------- !hc de hu m P in to ! em efludo, que tem penas para tudo, c para nada tem pena; injuftamente a condena quem a julga como m in h a ; que cu bem. ícy que me convinha, para ícntsr tanta falta, procurar pena mais alta; mas voey com a que tinha

Em morte taõ lamentada naó fentir nada, hc m ifena»( pois em taõ valla matéria dizem que naô ditíc nada) mas cu . cá pela a l ia d a ,

i i g o , • jue em nadadim r áiííem uito , com razor

hm

2 n O p I N’ 1 0hum Soncto m udo,em ao; porque ad o r em fummograo também faz emmudecer.

Senhor Duque, a vós me humilho-, e li com volco allcntay,____- An p .u ;V.JUL a ía i t a v.iw- v u u v /

fen ticucom oía i filho; c em hm nau me maravilho, que neílc concurío grave o funeral lenaõ gabe, que no Soneto le encerra; porque cadaqual enterra teu pay como p o d e , ouíabe,

j i o a m k o M u c a r , j . t r c fi tm d o m Sen vir.s’n f to de o iten ta re is , por B I R e jN o j fo Senhor,

D E C I M A S

O Rafcjarnuybcm vindoo meu doce amado auíente,

l i v r e iádcílc accidente,que inda o faz andar cahindo;n 0 H e v n o , e n t f a n d o , c f a h i n d o .

'

295R E N A S C I D O .

pòdc , por terra, e por mar,o li c o r r e r , ou navegar; c p ò d c jü d i v e r t i r ,(e ra m a is aií u r a i o b i r , vara m a y o r queda dar.

A mim me ciou parabéns de o ver ei n bera preço pofto; e j i mótlircy , que hum godo vai mais q u e quatro vinténs > rogando lempre mi! bens aquém he ley que íe gabe; pois cora modo taô ltiave n o s tapa a boca, que obriga,

a q u e 11 rni hum pobre diga, caro culta o que bem fabc.

Q u e m t a l fez , f o lT c q u c m f o í i c , c o m p i e d a d e , c c o m a b r i g o , b e r a ín o i r r a íer n o f l b a m i g o , p o is n o s f a z a b o c a d o í l c ; e p o r n o s m e te r na p o d e , o u c o lie- a ■ i íte bem , c la r ih e a vicia nos c o n v e m -

V pois

2Ç2 P I NTOpois fica (quando íucceda) pago na mcíma moeda, que a vida he doce também.

R o m a n c e de fu p e r U tiv o s , cm que pede á \ m h a U o n a A n r ia á e L o ren a h u m s v a r a d r A ir ,m ie . que o h x c e l ie n t i j fm o f eu p a y apprefcn ta na <i

daek do Porto .

A V ós, illuftre Lorena,que moflrais, benigna, a todos

exccllentiilimo agrado no exccllentiilimo todo.

A vos he que eu também 1 ;u í co e á voíla íombra me acolho, cxcellcntiffima rama de exccllentiflimos troncos.

A vós, que flor de eíperança defles, da qual vereis logo exccllentiilimo fruto de exccllentiilimo goflo.

Avós,queas Fontes correntes, como voiias, hides pondo ,

293RENASCI DO.dccxcellentiífimas aguas cxcelientiffimos tornos.

A vós, que nos cafamentosíbis a cxcepçao dos agouros, excclientiílima íogra d o excelienníliínOnoivo.

A vos5 que nelle eílais vendo irmaõ, genro, tio .ccipo!o,excellent illimo parto de excelIcTitiiíimo logro.

A vos. que da is a tal filha tal genro,lendo ambos moços de cxcellentiflimas caras, e execllenriílimos corpos.

A vós, filha de tal pay, que lie da lira neta logro , excclientiílima parte de excellent illimo todo.

Avós, filhadeflemcfmo, que fia7 nosReacs C'oníorc ios cxcdlennílimos gallos de excellent ill imos goílos,

V ij Ad -s

2Ç)4 P I NTOA vós, que fois da pintura, cda fclfahum vivoaflbmbro; excdlcntiffimo raígo, c cxcdlentiffimo ponto.

A vós, que tantos avós a vós naó iaó enfadonhos, exccllcntiffimas cinzas, c cxcellentiífimos oílos.

Avós, pois, deftePoeta, ou defte pobre , que he o proprio, cxccllcntiffimo amparo, e cxcdlentiffimo abono,

Pcllb mc deis (pois ao remo andar no Tejo nao poílo) aexcellentiffima vara do cxcdlentiffimo Douro.

Com cllc pode valerme, avoffbs piedoíbs rogos, o cxcdlentiffimo Alcaide do cxcdlentiffimo Porto.

Por cila prezo, e cativo fkarey; c andatcy folto,

r e n a s c i d o ; 295"excellentiffimo efcravo, c excellentiffimo forro.

fiací íric a h l R e ) h i m F o rte , f ju e h a n .t Ciciado d$

F orro , c k m id o F o rm i \ o v s ,

D E C I M A S.

I/ hura fraco pertendente oppofto a hum fracoFoi tc,

que fó buíca para a morte algum quartel de vivente; e pois no Porto, ao prelcnte, vago o tal Forte fe ve, pede ao feu Rcy que lho de , com algum íoldo ajuftado, a praça deeftropeado, c receberá mercc.

Niíio, de nenhuma forte a***cabe o Marcial confdho,po< fe! 1 cate muito velhn ciado a hum velho pouco torre; para a vida, e para a moAtc

V Uí Çye.VrV

296 P i N T Oprocura o Pinto huma cova, onde enterre a fn a trova, e onde cftenda a fu a aza; porque inda que he velha cafa „ip m n rp h fm a P n r fn n n v a* v. ----------------- - -

£5- EIRey. com odcfpach.iv , ** naõfú o ajuda a viver,“s' mas íc no Forte morrer,

também íe pode falvar; limais eípera durar, fe o que efpera lhe iuccede pois mais vida lhe concede quem mais á boca lhe acode , pondolhe aqui, como pódc, num dcfpachojcomo pede

RENASCI DO, 2 9?Q u a n d o chegou a n o tic ia das C a n o n iz a ç õ e s de S.

J a t i z G o n z a g a , e S .S ta n i j la o , f z c r a õ os R R . P P M C otnj).in h ia tu d o p u a n tn ( c pod ia f a z e r

de [ '[ fi v id .a d c s ; c n e ífem e fn to tem p o chegou o u ­

ra de outros dons C a n o m z i h , a ç a fc /L i Ll~

,'’rv/' m / o n a f i i tc o m t , e ; t f c í A e o <]ttcfaria„

/,, ,õ CL: ruais, S. 'I ortbw s t ,V F tr ig rn to

R O M A N C E

N O meu Fios Sanítorum acl 1 0 ,

que tiveraó niaisfeftcjos os quatro Santos tie Agofto > que Todos os de Novembro.

C a to , quceftá bem achado; ias. com devido rei peito,

he dm o , que os Santos novos raçaó el’qucceros velhos.

Tenha lantapaciência oCslvnde.no ; poisvernos ,, q ciíi quanto de hum novo iut M mas,. n jlum v dho nem há mementos-

V i i i j ' 5-

2 'g8 P I NTOOs dous Santos Jeftiitas,

que forao grandes he cerro, e talvez que S.Chriftovaó folie mais alto dous dedos.

Mayor foy entre os nafcidos S. Joaõ; eeftamos vendo, que os Pregadores, por outros, odeixaõ mais que em defeito

Porem do pulpito abaixo qualquer Santo prefenteiro nos parece mais comprido, indo atado ao Euangclho.

Santo Antaõ, e mais S. Roque tem moílrado grande empenho pelos dous; mas Santo Ignacio mais pelos quatro tem feito.

Ate nos Santos he achaque a velhice; e diz Galeno (capitulo naolcy donde > m o r b u s c jl i p f d ( n c i ia s

Eu provarcy o que d i g o daqui x bem pouco tempt:>;

i

RENASCI DO-mss temo que cay .i o Carmo ?com feftas de tanto pezo.

D o u s com Santo I g n a c io fo rn o , agora vaõ c o m S. P e d r o os ou tros dous Santos P a d re s , q u e aos Padres Santos d ev em o s

Eftes d itos Padres n o v e s entre os Padres no ílo s ve lhos t iveraó mais c o m p a n h i a , p o r fe rd e Real C o l le g io

D e L u i z , e S tanislao re z o u E lR c y pelos dedos; de T o r ib io hz tal c o n t a , q u e chegou a fer ex trem o,

O outro era Perigrino, digno de hum Real emprego e como na conta entrava, também delle fez mylfer 10.

N a õ nos confta , que cm í nftcli; ; esles dous Sai tos medi. r n o s , ien d u p a ) í a n o s , e a m ig o s , Ihcs-hzdlem t a n to o b l u \uk>

299'• Juló 5 Ciuz

P I NTOMas como o que he Semitanto

naõ pode ir ao C e o d ire ito , icmtroíTer ao Purgatorio por algum leve tropeço.

Aíiitn para ter maisgloria aquclk.que he Santo inteiro ... trollepclo Paraifo de Portugal; e he mass peito?

E!ta verdade em Lisboa cada hora a citamos vendo ; porque para todo o Mundo he (eu porto hum Ceo aberto.

Pov tal do azeite a fart ura nas laminarias, que entendo, querenaõ Santos pobres deites ricos osfobejos.

Santo Antonio nos depare outro Portugucz ; que quero ver lc meefpeto no adagio que ha na caia de ferreiro .

Se algum vier de ü a l h z a .. terá certo o meu Soneto;

peeieee

RE NASCI DO,porque já eftou coitu mado a fazer íefta a Gallegos.

Eu naòme tenho por Santo, porem por martyr me tenho; e íe os da palma naò logro, os bens daCoroaelpcro.

No C i m i ter i o o 11 d e ai ! i ft o ,

por milagre me luílento; pois ha tantos annos morto, ainda mc julgaõ inteiro.

Às dividas contrahidas entre mim, c Deos, naò nego; mas entre as dos homens acho que mais pago do que devo.

Etornando ao nolle allumpto ., a cada qual o (cu demos; que para veftir buns Santos, deljpir outros hc mal feito.

E ate ouvir lo u v a r o u t r o s , fi iSann js p o d e m íoh d lo ; que hc doença em Caik lhano.), t em Poítuguezc-s \ cneno.

301

Ns:

3-02 P I NTON o Ceo na5 ha invejofos,

íuppofto que houve foberbos 5 que aliás, os Oita varios haviaõdc ferSetenos.

Na vidade S. Perigrino ha prodígios eftupcndos; he verdade, que cm trinta annos dizem quenaõ tcveaílento;

Porque os levou (caio raro!) íèmprc cm pé, ou de joelhos § deitoufe fondle initante 5 quelhefízcraócnterro.

E ainda depois dc morto fe poz cm pc; c defle exccfio foy teftemunha de villa, como caufa delle, hum cego.

Outra conta de Toribio dera cu ; mas íe mal rezo, iuppra fua Santidade a v ir tu d e o n d e cu naó chegoCf

OZimborio me eíquecia, c as T o rres , q u e craõ , a rd e n d o .

de

r e n a s c i d o . 30$dc Eftrcllas hum Promontorio, dc finos dous Mongibellos.

No cmbrexado, c no tecido me fez paímar o architedo, bordador de luminárias, para mim foy o primeiro.

No ouro,e prata,a T ribuna dos dous Santos reverendos, era huma Real Capella, hum Salamonico T emplo.

E como as ultimas honras íaõ as do acompanhamentos emProciíIòes os levaraõ, formadas com primor Rcgio,

As bandeiras pregoavaõ milagres que haviaòfeito, naõ íò da primeira clafle, mas da nona, quando menos.Hiaó mais, em boas ordens , m u i t o s , ta l mcfcla fazendo , q u e era h u m louva r a Deos t u d o ; p o rq u e « a tu d o h u m Te Deum.

De-

504 P I NT O,rc- Dezafeis por ceremonia»!ado>, j 1c.-a. c também por comprimento,

cada andor levava,que eraó de conta, medida, e pezo.

Mas cornier ounnla 11 ío fanro---- j l j ,quanto cabia no ei noenho, ainda aílim naõ toy bom tudo, por (creu o que o deterevo.

E por i(To aos Predadores deixo em dobrado íilcncio; pois naò poílo, do que ouço , faliar, como do que vejo.

Do ouvir fazia cu vontade, mas ío , como pobre leigo, do ver, com pouca memoria , fiz algum entendimento.

Quem a penas fez eftudo de huns inúteis rudimentos, naópòde uivar mais alto, c ainda hum Pinto rafteiro.

Mas com tres nominativos"S r \ c n r n A nl a v a u w u i u u . v. lwv.u v

Ellvq

r e n A S C I D O . 305ElRey , cu, c 0 Pregador,que he, 'D o m in u s , M u [ 0 , e S erm o ,

Mandando huma vara de fta a huma fcrmoja moça , me lha linha pedido,

D E C I M A

P Ois rauco me ianshrço defer vo flo a roda a hora,

lá v ayaiiu ,Senhora, para meu , e vofTo laço 5 atada no votlo hi aço dirá bem , c he bc nr que o d iga; mas quando a perna a configa, que eítá melhor, cu o direy; por íer mais prata de ley , com eílataò pouca liga.

3-0 6 P I NT OA Irma barquinha de couro, em cfue navegam

niTejohim Insist,, qua aqui vcyocsmclla , ca tr.ivaiibrathdcb.iixo do cc.ro-c ,c:;i quan­to a mo open lia na ama, fendo o feu adjcruo n.i

i>oh i bum odre. am enchia do vento.1 i ' I

I ) E C I M A S.

T O d o o Povo cftá pafmado,

e muitos, que naõ iaò Povo, dever eide inventa novo , do Horte agora chegado; com hum baixel carregado anda, e corre toda a E u ro p a , que tudo cm hum cafco topa dc couro cozido ,ou cru, chum odre, em que aíTentaocu, por andar com vento cm popa.

Quando eu vi a tal barquinha , navegante corri o) a , me lembrou a Pallaroia de quem Deos tem, que nao í uiha; o ln g íez informado vinha

.1® ?U E N A S C I D 0 .

dotal malogrado intento; c achou que da agua o inventoera melhor, que o do ar; mas naõ tem que íc canfar, one Para mim tudo he vento.i I

Mas fc quer nadar em ouro,, vade ao Rio de Janeiro •( que nao feria o primeiro, que para lá foílc era couro;) ío neftedefaguadouro lhe accommodou dar entrada ern huma barca aíToprada por hum odre , a pouco eftudo; porque aqui navega tudo, c para mim tudo nada.

Do Tejo correndo as polias, pode abordar lèus lugares; e pode meteríe aos mares, pois traz o navio ás coíbas;V: m feito varias apodas, que por barras de ouro» cmchcyo, hade entrar; o que cu naòcrcyo;

X pens

V

JOS P I NT Opois, com rumo extraordinario, já abordou ao Secretario, mas achou-o cocorreyo.

Zs4o Conde de tUnhdo «que eajiumanda mandar Author hum porco por feflas, nefia o fez., com

huma leitoa.

D E C I M A ,

M U la to ,a Xabregas vay , < e ao C o n d e , da parte minha

dirás, que a leitoa vinha grunhindo por fua mãy ; mas que de leitões hum pay íupprir pode a falta deita 5 eíev icrefte , o u e í t a , fóra da fefta outro dia , ainda fendo porcaria, kmpredircy bem da feita

A Se nth

RENASCI DO. 305nA' Senhora Marianna Kubim, a primeira ws

que a vio, e ouvio cantar,

R O M A N C E,. f Ucmquizcr faber qualhe V 4 huma 5 que cu ouvi, c vi > como nenhuma cantar, c mais que todas luzir.

Naõ f e canfe cm ir mats longe? eíc iefiar dc mim , delia os finacs lhe darey, como elía mos deu de fi.

Seus olhos (Jefus mc valha!) muito cm vellos padeci; que olhos foraõ,a meu vcr> e rayos, a meu íbntir.

Veja lá como íe affoa com o ícu todo o nariz, que mata, por viare&a , f mda de mcyo perfil

A.s mais, a vííta daíua, naõ podem aboca alara;

X fi que

J I ô P I N T Oque pode a todas vender ambir, coral, e marfim.

A cara vai mais que muitas, porque eu muitas vejo aqui, carinhas de oito toftóes; c efta, nem de dobroes mil.

O mais apanhado ás mãos, ou aos pés,que encobrir quiz , naohe nada; tudo he alma, pois he toda hum Serafim.

Se talvez applica ao cravo aquelles íeus dez jafmins, he dos ouvidos, e oihos hum harmoniofo matiz,

Ella he, no Italiano mais que todas varonil 5 que as outrasaprendem momos , e 0 Momo he della aprendiz,

Seu canto he quail Divino; etem, para fer affim, H,,toques do Efpirko Santo, £ ‘qque hojchefcu tncftre feliz,

Qqan

3i íR E N A S C I D O .

Quando com graça íe move ao chamado de hum violin,as almas nas voltas mete. cnenhuma íalic dalli.

Tanto a r nas cabriollnsmoítra o leu corpo gentil , quedo aballo -de (cuspes tremeraõ os meus quadris.

Para enfeitiçar as almas, engenho tem taóíutil, que quem a chegar a ver, o meu mal hadcíentir,

Hehuma preciola pedra s que leu pay í ou be polii c na officina de lua may; mais que Diamante, he Rubim

He pedra de tal valor, que eu em memória a meti; co coração para engafte :.lu: dar; v íe lhe let vir

■He ínuuSüi, que quem pcaenüc bnícaíía no leu Z.enith

’ ! na< ’

3 1 ’ P 1 N T Cl

m o fb m e n te ao ba ir ro A l t o , m ash gloria hade fobir.

Se ainda naõ labem q u e m h e , cquerem ièu n o m e o u v i r , mó h: Maria, nem Anna; e o que naõ he. he em hm.

F a z e n d o a n n o s a T x c e l k n t i j f m t Sen-, r a M . q i t r ^ . i de M m 'u i/ v j , b o n v c C o .n c d u i r .n j u

c i f a j e d a n ç a s coai b i z a r r o ejiror. I ’

R O Aí A H C F

G Rendedu i ate aqui íel.ius * grande híh! ate aqui dam as

g r a n d e noite ! ate aqui luzes; arando edura' ate aqui ia li aí

V i n t e e dons anno;-, hz hot.; a S enhora M aria aivu; corn q u e a. íua P n m a \ era.m 11 - hum i du; F: iun;

Set . b . l L u M u j \ i!irm> i-H >õa í.uerih. ’ quadr \

B F N A S C 1 D 0 . 315

e outras flores, que as mais delias craõ do jardim de caía,

A í a!la era h u na Ceo a b e r t o , o n o m u i t o q u e b r i l h a va , cada lu z c r a h u m s F,ftre!h ; h u m d ;' ; u o u u cada | lm a

Id ti , v e n d o roías, e luzes, de c o n t i d o , d u v i d a v a , íi o (deo era 0 f l o r e c i d o , o u í c era a terra acíl relLxia

F i d a l g o s c o m o as Eltrci las > pot tuas altas proíap ias, í o r a ò d 'flics A í l t o s g u i a s . í endo de faes N o r t e s guardas

A luz qucaía lLi expe d ia era comra l cf l icana, q u e cetros p o d i a õ v e Ha e io a ’í <>rtos cegara,

de 16 h"*v po íS ive i , d o; doces: l.n , ■; a nil; ita ab: u ■•taiiv.:.:-.

i \ nn.i cair q u e o> ■, i c i c r e v e i a ,, : u ue e n i b r N l u r a

hl vm

3 > 4 P I NT OMoendo a todas as horas

eraô, cm caixas de prata, huns rdogios dcconferva, cuja roda na5 parava.

Porem, com íualicença, o doce demais fubftancia,

pot confervcl fins, o que junto a mim ficava.

Corno do Cco da Comedia já a cortina fc fechava, abrio Pedro a mayor gloria caminho, para a folgança.

Tirou, com mil bizarrias, Madama Mallô á balha;; que ate cara le vendia, cate ai li negociava,)

t f t a , com bizarra ei colha , porque com galóes lidava, fez que o mais gaían fahiíle;(pcrdoemme os das mais galas ;

Mjn- Eiic o fcz com taes primores que ate quem metida dUva

3 * 5R E N A S C I D O .

dentro na fuamodcftia, foy a fahir obrigada.

Eylavcm todaporabinha, arraftando a branca cauda para o pombo , que a rodeya- e também a aza lhe arrafta

C > K i / \ r»íT i f-»-iu a i UV V* l l .4 l UU tv J IVZUVj

ctaò linda, que eu jurara , como nos íeus treze vinha 5 que a vinte e dous naõ chegava,

O Marquez pay, vendo a tan to s Filhos das fu as entranhas, íe remoçava em refrefeos, cm deleites íe banhava.

E u com paímos íb p o d e r t dar d i f to p ro v a mais clara; n em ha mais difereta l íngua . q u e adm iraçaô q u a n d o t a lh

P I NTO'5i6

Á R e a l f l ír ic a n o v a doe V idro;,

D E C I M A S

Uça, e vá comigo attendouciu pam vcríot- urcati ; <

que a matéria hc quebradiça u ) Poeta o mais vidrento; mas hoje de hum ibpro intento molhar o que traz comíigo tal materia; c como amigo tiílarcy hoje cm commum • que eu nao quebro com nenhum íemelie quebrar corrugo,

Dc alguém íou apedrejado , mas hc porque cuida alguém , que por mais rico mó tem também dc vidro otelhado; conkílò. que o íer quebrado metem n go íurdo. e mudo -mm m õ meo Pm ' m u ;u

R E N A S C 1 D 0 . 3 17

íu por naõ tentar a Chrifto; c o one digo acima, c iito, dc telhasabaixo hetudo.

Agora, entrando na prova doquc dlamateria cnccrra, d i g o , que temos na terra dc Vidros hbrica nova:ja icy , quc alguém me rcprov.i dc naõ porlhe , com empenho o Real ; quc crao difenho para a fabrica , que exponho , mas ie o Real Ihc nao ponho , he, rai vcz, porque o nao tenho.

Algum diaopoilo tcv e quando eife cá chegai, vidros poderey comprai , que me naò farta de os ver consome cauia praxes: da fabrica a perfeição, lempre quc tenho occaílaõ,S \ \ on ; mas por ma:$ que cSco'ho

moev'd. !m mhoe m: n ; ■> ■ ecu Son 10 <

3 18 PI NTOQuebrada ellá a melhor aza

do de Veneza; e jà agora naõ virá vidro de fora tirarnosouro decaza; hoje aos mais Reynos atraza o luzido Portugal, que do precioíb metal nos login periiiaijciiicsi c naõ íó de ouro correntes mas enchentes de criilal.

E que enganados vivemos os que nefta lida andamos, pois de barro o ler tomamos, ede vidro nos frizemos! eu peque}’ nos dous extremi is, mas ao barro jà me inclino; porque do Oleiro Divino o forno rcceyo eterno; que a cílar vidrento no Inferne * antes noCco cnífalino.

r e n a s c i d o . 3ludo h u m a nao p a ra a In d ia , loop m prim eiro d ia

de - jia o c rn a b r w co m agua de forte , (juc a r n - h . i m b a d A l g a r v e , d m fu n d o em I npos, dona,' a foy h n f car a fr a p a ta N A . no R o ja r to ; a d tu i yj io e m H oll.rndcm .i l a qua tro , (fue F .IR c j m andou ia com pt n , que todas le v a ra o m a n

c a m i n h o ; d i a joy lopo a encalhar , p a r a (e i i f j -. 1 J ,,, A lr r . lv e - r \n ■ r U ,1 VH , ' l . n iA l P3 t t l c j ( , 0 t r r t £ U i v t * v *-»*>,"' <■'- ■ - ....... - - j -

4 Boa v tagem ,

ft O M A N C E

O Ra venha voile embora, Senhora Dona Hollander,

c o m e flas enfermidades, qUCandaóaos annos annexas.

Da fé dos bautiimos confla , que naõ paflaõ dc quarenta; mas afua hydropiiia he que afaz pareccr vclha.

S e h c c e r t o que p e ia s agnas llic Id.f. obrera a doença .

3 2 0 P I N T S

oícu mal nao he antigo, pois tem a ferida frcíca.

Vem na fragata cncoftada. que lhe ferve de molleta; c fará bem á Coroa, íc ao Rofario íe encomenda.

Naõ lhe rcpicaõ as Chagas, venuoasfuas uefcuuertas > porque o repicarlhc agora , feria dobrarlhe a pena.

Venha deícançar hum pouco no cemitério da arca, onde íuppraafuaolTada algumas faltas de lenha.

Cheguefc cá para a pray a., deitefe aqui na ribeira; ddápcrte lá eflas cintas, Vejamos eflas cavernas.

Toda eftá podre por baixo ; e ! te muito, fendo Eftrangeira! porem também as de Hollaada o mal de F ra n ç a fc pega

p t N A S C I D 0. 325

T o d a s tivera© d d m a n c h o s as q u a tr o in n a n s H o l la n d e z a s ; q u e agu a as ab re , v e n t o as v ir a ,terra as mata, c fogo as queima.

Como eftaràõ de it pagos os que fizeraô a venda 1 mas £) mal nao toy da compra» que o damno eiteve nu entrega

Ir com a proa ao Algarve: ,R>y menos mal, pois podera, allim como deu em Lagos •. dar cfos narizes em terra.

E como virá paliada,( por molhada ,naòpor íeca} efla fazenda da índia ,, quando do Algarve venha!

La creyo que eícapari<a5 alguns dos filhos de Hevas íuppofto que neQ.es lagos haviaò também koneiras.

Nefta ida do Oriente , finto Li a errante cftrclh

^22 P I NT OTresnesros, daquelles tres Belchioresqaquieltive .1 . , x TnóporPrin- Principes da Noruega.li( cS Porcm de figos, e paíTas

traraò as barrigas cheas, clhe fiaraõ companhia os Padres, por natureza

Da Nao fioy breve a v íagen i, mas Boa viagem era; c podem mandar ao Norte comprar outra como aquella,

Na vida naò íoraõ nada cftas quatro pobres velhas, que na carreira da índia acabaraõ a carreira,

A dons jantares, bum faminto , outro farto deH ao Author M a im * Mantelle.

R O M A N C E

O U vitnCjMonfieur de Aftor e conhecereis, por eftc,

queíao rodos milagroíos quanto» calos me lucebat ir

r e n a s c i d o . 3: 3Q u iz n o p r im eiro de M n y o ,

U.u- a i n i n h a f e m e hum v e rd e , o u i a n o v a i n l o m e e m í a i i d c ,ou canvpandomc cm leve.

là tiiyme direito a hum pafto , q-i,;aRemirares pertence; não era de A: oem;ur ona, irurs tie Madann né-imma

] A Ai tal, rjiie cm todo o are. e h: de Mayo íiot vivente, me rcecbeo com red praças, q ue he como a todos recebe.

Chepou o dono da cala, rndea meia, e logo em quente ", v o primeiro iviiiaprcde vinco pães, c dous peixes

Minto, que eme man pe; sonti'is;I ;y m d a p r e e v i d e n t e , i e m e f c ; p a r p e l a m d i u }

haver para, a q u i l i o rede.Em culitlov e icondidos,

an c ud lnum h pat', p.tes ,

2 4 P I NTOvinhaótaes, que cada folha rebuçava leis, ou (etc.

E ra hum cardume cm pouca agu a , de tal fôrma pequenetes, que cu naó afogara a fome, inda que fora hum mar dellcs.

M as ainda -aílim, foraõ ifcas para que bem le bebeüe do vinho, que íoberano era hum milagre florcncc.

Bem fartamente jantamos, e eu o hz bem lantamentc , poisfuydalliatè cafa graças a D e o s dando fcinprc

Porem o íeguinte dia defeulpou o antecedente, onde era jufto que eu folie, para que farto vieífe:

O primor das iguarias, compofto em varias eípeeses, era huma coula muy grande, c ailentada c m h u m ban q u e te

í OtT0

r e n a s c i d o . 325-L ogo da primeira entrada

veyo hum taó foberbo peixe , que me parcceoícr filho da Balea , que aquieftcve.

Foe humfmgul-ar milagre, porque baftava íó e!lc, por muita .que a tome fofife, a turrar minta mais gente

Houve muitos mais regalos eo bocado ma is celellc , toy lec tudo repartido por aqueüa maõdencvc.

Vem tanto a pedir de boca íeus olhos, entre os comeres, que naõ ha cor, que mais tarte, acravito , que mais lullcnte.

Saõ olhos taócomctinhos, que Se amor dera banquetes,, tora o mais luzido prato, code quo mais íecomeífe

Eu prometto, que por gofto vala rerctidas vezes}

Yu

3 2 6 P i M T O

abafcarazuis ávifta, mais que a ciar d fome verdes.

A n . m i o s ele E I R e y , n o d ia c m q u e (? b a n i r a 0 S e n h o r I n fa m e D. A 'r x e in e lr c , q u e 11 ■:[ 1 1:> r ■ i l i . i d e N . S . d is A l a r e s ; e fo y o f e x io n r cjHej.i t .r r d v v . t \p o r f i n . v , q u e c jl.i v a 0 A m L

doe m e , q u .v i ao fez.- e f e

R O M A N C E

Rande hc da fefta o induito . v J que ate permitte aos enfermos, odarays, com quereípirem, em vez de magoas,alentos.

A y , graças a Deos, que ao dia , pofto que de cama, chego, taõ grande, que tem por grande hum anno de comprimento.

A y , ouçame todo o Mundo , que hoje por meu goíto que.ro ícr Poeta de bautifmo, fc 0 na5 fuy dc nafei mento

R E N A S C I D » . 327

A o nafcimento naô h iy , mas foy porque tive m edo de que lá foflc engeitado 0 que agora em roda meto.

ííix) dos partos quer horas, e íaó poucas as que eu tenho, em que nas dé badelladas,

foMa s as ora, todaviaO 7 '

fe me naò engana o metro, poreftafonte da graça, obra, e mais pia faremos.

Graças a Deos, que nos bota tantos Principes ao Reyno, e fe a fallar vay verdade, já hia tardando o fexto.

Porem como a natureza pintou os outros taò bellos, cuidando em perfeições novas, gaftou com eite mais tempo.

Também na Secretaria do Ceo, dilações íofremos;

Y ü j mas

328 P i N T O

mas com taô feliz defpacho, que as iMcrccs oeftaò dizendo.

In tante em Merces envolto he filho cle pay ; c entendo, que o i'iahir taõ parecido , toy da Senhora myfterio.

Do bem temporal a graça,m i --------- M

l: d uuu us,iii titi uv_/,

hoje, por graça de Deos, celebra todo cite Rcyno.

A gloria do filho he grande, a graça do pay he o mefmo; que annos juntos com bautifmo , he feda com Sacramento.

Masfeas lleaes officinas ir,da eftaõ em íeus Reaes termos, inda eípero mais Reaes partos, cmais reais ainda eípero.

Arda pois aterra em luzes, em logos ie abraze o Tejo; golfem as bocas do bronze , edigaõ vivas os cccos.

r e n a s c i d o . _ 329

P e ti i 'a õ , q u e fe Z j 0 A u th o r da C .v le a d a B ah ia ao G o v e r n a d o r , que fc Iria d e f cu idando n a fo Itu ra .

D E C I M A.

D iz T h o m a z P i n t o B r a n d a õ , eftranqctro m B a h i a ,

a q u e m vofla Senhoria {■ iz, natural d a p r iz a o , n o t q u a n to eila len rreçao , c o m o t o d o o M u n d o , c ,( D a ca!o crime n a ò h c q u e r e t a M m c n a a t •, 11 pede lhe d e m de jan ta i , c receberá nterce.

A h a m a C o m r d m m .iq h .m .v l t RoJ.i , rp o r outro n o w . i G - d l e ^ t ^ o n f a fr u m lm il j iw a n e í g r u a com que ca n t.i , on Is M i.m o , ou C a f k w a m , on

PcrtUViCZ*.

D E C í M A .T u , ío R o ía J a s f l o r e s ,q u e d o í ’aftcUa a rraucaüa .

330 P I NTOe em Portugal já plantada, produzes quatro primores: quatro nações das melhores, por arte, por natureza, por graça, e por agudeza, moílras neíla forma humana, que hcsGallega, Italiana, Caftelhana, c Portugucza

Vrimciro dia de louros, que mandou vir Sua Al- fez# de CafhILi, nafcfta de N. S. do Cabo, que l'c celebrou no Terreiro do Taco.Toureou Bento Antonio,c outro,que por{obre nome nadpara.

S Y L V A

O Ra graças a Deos,q inda citou vivo;c íuppofto, que jáco’ pé no eftrivo,

para a dura carreira, c termo brabo, chegar podo, antes deite, aaquelleCabo, de que he cabal Senhora a que roga por nós hora , c na hor j

cr 2’

33»R E N A S C I D O .

c pczarmehia muito, fe morreíle, antes que alua fcfta deícreveíTe; que ou bem, ou mal cantandodeftaíorte3 lüavizo o caminho para a morte;e quero , antes daquellc, que heprecizo , ver fe tenho algum dia de juizo;(ó por tapar a boca com miollo aos companheiros, que me enamaõ touü.- agora dcmme a maó, por caridade, fe efeorregar era parte da verdade, que hc mentira nos Touros permittida, c a primeira que digo cm minha vida, que mu ferá cftranhada entre osScnhores} digoaquellcs Senhores trovadores, que leguem dos modernos os eftudos, c grollciros me culpaô nos agudos; mas cu perdoo as luas íingilezas, fe me naóculpaò mais que as agudezas; Camões as diile; digaõ dcllc mal; cfte hc o primeiro agudo, e natural: vamos agora á fcfta, q he o que importa, enaõendireitar agente torta.

331 P I NTOAqui aflenta bem o ate aqui feftas;

que dirá a Caftanheira á vida deftas í d irá , quefóafuafoyfallada; mas fó bailada foy, c nada obrada j íem principio, invitlvel, querer chegar ao Gabo, era impoflivcl, confcíío, que naõ vi outra raô boi coiiioeíla j eaíféiilcmos, que em L i s b a naó ha mais ProcilTaó, nem mais ftftejus do que a de Corpus [ bnfli, Cf Muter e/tis,Vpume aos Touros,á pre(Ta,dig o á praçamas itdo dc carreira naó tem graça:difeorramos primeiron a gente, que andi a paíTo n o T e r r e i r o ;aredeas menos íoltaslá vejo todoo M u n d o d a n d o voltas;.no pedeílre, c rodado vejo também muito lugar trocado; c também vejo no alto, c no profundo, quefao eftasas voltas, que dá o Mundo pois vejo que a fortuna tollcirona nos m e t e c m roda mullas de a ta fo na '

3»RENASCI DO.mas íe permitte Deos efta m udança, quem contra if to f o r , em vaõ fe cança.

E m h íi v a õ vi eu osTouros da outra ves, c fem p re e m v a õ m e f a z e m as merces; p o r e m agora n a õ ,p o r q u e n a õ q u iz ,q a lg u m ía ltaffe ern v a õ ,c m e p iz a llc cm c h e y o ;ijlic Cu h o je uC ViVCE ÍO b llícG ínCyO «c a í l i m , d c v ãos i i e n t o .ern ver d e ta m b o r e te f iz a ffe n to ;q u ero ta m b é m g a b a r m e , c o m o a lg u é m ,q io pé d e E í l l c y o s T o u r o s v i ta m b ém ;c p o í lo m e gabar,p o r q u e n a õ p o d e h a v er m e lh o r lu g a r ; id h ü d e fe o n to tem ( m as c o m q c u p o í í o } q ri c he n o l l e t para tra z fem p re o p e le o f lo ; p o r e m , a to d a a le y , q u e m íe n a õ tr o f le r i p e lo feu R ey?

L á correm a co r tin a ;U s u s , q u e h u m a n id a d e taô D iv in a ! b em d iz e m , q u e na terra rep reíen ta ; D , os o R e y ,q u e c o r a ç õ e s a le n ta ;

3J4 P I NT Oalii faz o papel com tal fortuna j que todos o adoramos em tribuna; allio imita tanto no apparente > qu.e atè de nada eftá fazendo gente; o que eu provar poderá comigo m efm o, feviverfoubera; naoha na praça hum fó , que com agrado;

a r \ c /%1 l i n e ^m rv fv * rr< irlr» i11C.UW u a v c v u im u j v/ i u v o v u jj / í ^ h m v ,

todos o eftaõ louvando aeftahora;tanto affim, que fe aqui paliara agora talvez de quis quis,quid quid 0 ablativo, g J naQÍora para a India vocativo; o Qçíxpi) e naó declinaria aquelle fó , (quó p“\tdi°porq defla arte ha aqui muito Quó* A h ,íe affim com o o Rey dos feus V aflal- hehúefpelho fiel,para avivallos, (losforao os leus Vaflallos neftedia também efpelho áfua bizarria, vendo em nós qualefiava, certamente de fi fenamorava; e que bem (feeu tivera mais juizo) a fabula aqui vinha de N arcizo!

3 3 5R E N~A S C I B 0.mas com tal naõ viera, que a fabula he mentira, e ifto nao era 5 porem que Portuguez ha,que naõ feja jefpelho, em que o feu Rey fempre íe veja? Vcjafe em nós, verá, íe bem repara, que todos lhe fazemos boa cara. Êoquelávayde luzes! orahc certo, que corrida a cortina, he hum Ceo aberto: naõ quero mais olhar, pois ley que tanto Sol me hade cegar; efóbem para lá olhara agora, fecomo Pinto lou , huma Aguiafora: voemos cáporefta redondeza; onde ufarey da minha natureza: valente fermofura! tanto creado! tanta creatura! tantas caras, e bellas! ora louvado feja o Feitor delias.Hum pedaço de Ceo, no que luzia, qualquer dos Camarotes parecia; fuppoífo que por falta de aparelho, lá havia algum pedaço de Ceo velho,

mas

35« r i n t omasifíòquetne importa? vejamos o que vem la pela porta; faó danças,entre carros baralhadas; temos divertimentos ás carradas: carros deDeofes nobres ,c luzidos merecem mais cantados» que tangidos. Com modo extraordinario ( perdoeme Camões, e o Commentario) hiaô as mullas a pezar de ]unoV in h a õ o3 banhandoíe co’pezo dc Neptuno, c“roSaT agua deitando em ta5 miudo fio , rociado ° q o Terreiro doPaço era hú Rocio;

e cm taes tornos trocado pela praça, É” '%. q m ais do q agua,entaó chovia agra- bera- Bons tempos alcançarao [ça. os que eftas nobres feftas celebrarão; pois que por vários modos, lhe vimos affiftir os tempos todos; vinhaõ também rodando, c bem a tempo chuva á terra dando; porq, ainda, na Eíxaçaô da ardente fragoa >liaó vem fora de tempo efta vez a agoa >

c naõ

RENASCI DO. 3 7e naõ ficar o curro hum Oceano j foy milagre, chovendo to d o o anuo; mas também por milagre fe avalia o verfe todo o an no em hu m fó dia.

Vafia a praça, eem fórma vafculhada pela verde vaíToura mal atada, entraõ os Cavalieiros, Deos os guarde, que naõ caya nenhum em toda a tarde; nemtentaçaó nenhuma d o d e m o n io haveráem que caya Bento A n to n ia lá vaõa E IR ey ; valentes bizarrias! e bem arrecuadas cortezias! rcalmcnte dosdous qualquer as fez- mas niffb nadafaz quem he cortez.

Tem os dousCavalieiros, quãdo nada; everemos a forte emparelhada, quecrcyofcráta l,como as que me (ahiraô no Hofpital 5 mas nem todas em branco lhe prom etto , que alguma fahirá em T o u ro preto: ats aqui T o u ro s , fortes, e fa ta is!eu naõ vi mais fermofos animais!

p i n t ojá agora aos Portuguczes com enganos naòteraó que dizer os Caftelhanos; pofto que tenhaõ c&es por afrontas, ou por fraquezas , o terrarlheas pontas; fcm verem que he dcftreza, no perigo, apanhar já cortado ao inimigo; mas ou fracos, ou fortes, _ ^foraõ mais dc defgraças, que de lortes. H ita Ü Touro Caftelhano antecedente, ti o fcitnu fcz a todo o trote rir a gente,do curro, ,c cnveflio fqOÍIlQU ÍCT, COffl DCiil tíCtâj4 ourou maisqucdeçaragoça> dc baeta, t c ™ pois alui, de hü arranco repeti no, t!iX,Í fcz húa hora eftar tomando o pino;opaflofoy goftoío, porque valente o homem, c animolo, como hum Sanlaó queria acometcllo, mas fraqucou, faltandolhe o cabello, omroTou- O Boy da lança grade andou tata , ■o a quem c n li ,1 d o nadaatrcs tratou bem mal;jregaraóliu i r r-ma Unçano ITUS CalO IlOVO lOy•S fe pcícar anzol de choupa,peixe boy. ^ísriolium Kd*

RENASCI DO. 339Pelo beiço osToureiros o apanharaõ,1011 ■

I -«-i * * 3 reiromas os pobres rorcados o pagarao 5 eperj nem quererá mais molho aquelle pobre, que o comprou a olho.- o boy era com força bem manhofa, fo™ mais que dc Salamanca, dc Tortofa: 4 arreia co'a preftcza do tourinho, “fazendo tres mãdados de hü caminho! a™ deliro andou em tres peças, pois corrcoTouros, lanças, ccabeças.

O Neto, c os Forcados, Tâbem»correrão na deígraça emparelhados, era muito bomNeto efte Calquilho, í<mhum; mas tãbem o Forcado era bom filho: luia perna

deígraça foy,e foraó também canas, l vero Neto arraftando partazanas j faparafó-

*- ra com 2nem 1 e vioate agora mefmairfe por huma vez o Neto embora, pois dava,e promettia com efpeiãça ter pé de cavalgar; mas foy de lança. ( fos,

Porém tornado aos dous lá atraz famo- ai m ó vi Gavallciros mais teinaofos,

Z q u e

3+0 p 1 N T ®que em nenhuma occauaonos fizeraõ merce devir ao chaõ:na5 ha ninguem, na esfera do Terreiro,que nao queira eftendido o Cavalleiro ;e ainda a (cr Fidalgo o tal montado,todos o quereriaõ eftirado.

Tenho a tarde acabadaja Deos Senhores,pios, e impios, bons, e maos reitores.

Segundo dia de Touros (afie lhanos,a mefma lejhi

S Y L V A.

C Om perdaõ da primeira,efta legunda tarde, quinta feira ,

naõfoytao aziaga, como a terça , nem teve tanta praga 5 e ate eu , em razaó das outras vezes, naófuy no adivinhar muito Menezes; mas de neceífidade hoje emendo a mentira na verdade.

Efqucceome pintar naquellediadoC apitaó da G uarda a bizarria;

F fendo

RENASCI DO. 341fendo que era eícufado > o que já para alli vinha pintado; porem como o pintey nas outras Feitas, fó me bailava retocalio neftas.O guapo, que entra agora,(que também lhe chegou a fua hora) he a primeira vez, queveyo á praça, e queroihe dizer alguma graça; que naõ polio deixallas cm filcncio, Lin. pois graças me cóccde cftelnnocécio; 'g,occn* c naõ íey fe terey tinta baftante, para hum Capitaõ, e hum Almirante. Entrou cuberto de ouro, bem cuílofo , bem Senhor, bem valente, e bem ayrofo, bufeando da Tribuna 0 arrebol aquclle, entre valverdes,gyrafol; naõ quero mais pintallo, nem polío a melhor côraccommodallo.

Se a falta de memoria me condemna, também meefcorrcgaraõ pela penna Q os tres dormentes mais agigantados, tes fahi- quceftiveraõ tres annos entaipados; ndre

Zij cie

34* P I NT Oefedefconheciaópor hum callo de mais, que ao pé traziaõ; erahumannão tenente, grande vifagem, em taõ pouca gente; fó a Gigantaj com untura tanta.Era ima lá íe me pareceo com a Giganta,

qle arruma mais vezes no Oriente; mas naõ nos aífauemos do Oca-

que algunsdos feus amantes (dente,naô quero que me arrumem os gigantes.

T ouros naò vi mais nobres animaes; e pouco lhe faltou para Reaes; faltoulhefó hum triz para ferem R ea eS ) fendo Infantiz, Odafylva natefta, boyfeleto, era, mais quede Sylva, de Soneto; e affim o deixo lá para os que os fazem, Toetas de rigor, que fempre trazem por hum cabrefto o roubador de Europa, e o outro animal; moílo de copa; que íempre, para Touro, e Cavalleiro, ostemeíles Poetas em viveiro;

h u m

R E N A C 1 D 0. 34J.hum boy detantoagrado foy laftima ficar eípadoadó; mas no ultimo arranco, ainda cpxo, moftrou fer Salamanco. Outro do Salamanca fez eftudo de pôr naquclla claíTe razo tudo; fogio aos ignorantes,- T T 7/i., v iu Uctliaa, juii^UU-^5 JJAlUUrUULCi>>foyic a dies dc pullo,e affim aos trã cos ?“ correo,a bo deípacho, quatro bancos y a irin- defpachoufe de prcça, ’c todos lhe abaixaraô a cabeça; p°" 4-de*

. . . i graos, e.pi*abraços deu a muitos, por acerto, zou bé so

mas o doM orno foy cò mais aperto; porque gemeotaó alto, nw-que deu pontos de tiple efte contralto, íem temer efte Touro depravado, que também poderia fercapado.Sc humdemonio no corpo naõ trazia, algum Deos dos que eu fey talvez feria, pois por hum mar degente navegando, levantado de proa, eforcejando

X iij contra

3 4 4 . J P 1 N T 0 contra tola a mareta, cuideyqae o rurno indite itava a Creta; e c o n o iá affuftou certa cachopa,Tupitero fuppuzdaquella Europa, mas ay ; naõ me lembrava do que lá atraz aos outros motejava; nincruem diga , nem eu já mais direy, da chuva defte Deos naõ be bare y : efte galante Touro (coufabrab a) morreo em fim, que tudo o bo m acaba;maseu áíua morte efte Epitáfio dou , também por íorte. Aquijaz hum valente Touro , q u e d e palanque quiz vergente; porem com taes agouros, que a gente já de lá naõ q u e r ver Touros, do Terreiro do Paço fez viftofo, rua dos Cavalleiros, Boy fermofo.Em carneiro naõ foy, nem he enterrado, miSem vaca no aftougue transformado, rendco no melhor cabo os íeus alentos, no anno vinte c tres, com íetecentos.

H o u v e

R E N A S C I D 0, 34JHouve h ü N e tá o diabo do Euagelho,

poism udo,cego, íu rd o , fobre velho, '" naófó a paciência ao Duque apura, que a mim também me tenta na deritura ; também cuidou q o Duque ouvia menos, pois lhe fallava ás vezes por acenos; quando a ordem d iz ia , que o foltaffetn,

„ XT.,— — n r ----- ------------- nr__V.UÍ l l d KJ n t i u clX» X U U L U , VJUC U L l l c U c U J Ç l U Í

c ao contrario, morria o innocente, r ficava com vida o delinquente.Arre lá co’ M eirinho!Irra com tal N e tin h o !Tom em os mais exemplo em tal ob je to ,' q u e antes filho da puta, do que N eto ; fe a tarde fe dilata mais hum pouco, o Duque certamente fica rouco; c provará que o N eto era tao fro x o , que ate fogio com medo do Boy moxo.’

Ora faya o Boy Femea deftoucada, fem pentes, nem correta celebrada; que parece, que fó para efta empreza de propofitoo fez a natureza;'

Z i i i j e c o r a

346 P i n ' t oecotn manhas tenazesbem podia tombar dez mil rapazes,íem que nenhum morreííe,por mais que fobre aterra os eftendeffe;em grandes forças, e em grandezas feas,parecia huma torre fem ameas 5enoistacs tombos deu , de pontas rombo,bem pode fer dos Bois Torre de Tombo;boafoy paraoCaboaquella tefta,pois que lem armaçaõ brincou a fefta.

E acabouíe efte dia, que he o legundo; no outro efpero, que fe acabe o Mundo, pois diz que vem á praça Poetas de Setuval, com tal graça, queelgotaraõda terra todo ofal; mas á frota de Hollarida faraó mal; no que lhe eu acho graça (como füa) he, quando o meu verfmho fahe á rua,vendo elles, que o fefte jaóos Doutos, e que os nobres o cortejaó, naó dizerem do aflumpto nada ( hecazo!) efófevaóamira, pondo me razo!

R E N A S C I ' D O. 3 4 7

he finalevidente,queeftes Poetas vema matar gente; a mim naô,q ou me tratem,ou maltratem, heydeeícrevellos, ainda que me matem ; pois todo o meu intento naohemais que ir a dar divertimento.

1Terceiro dia de Touros, em que tourearaõ o Con­de dos aJrcos , e D. tíenrique: houve muito Fidalgo aos tombos: houve huma morte de ea­rn alio ,(em haver Touro, que envejlijfe ao Ca-

valle iro', e também houve chuva.

M A I S S Y L V A ,

N Eíte terceiro dia lerey breve, a graça concedendo,que fe deve,

ao meu pio auditorio, a quem naõnego' os bons, ou maos diícurfos que lhe prego, ecom verdades cuidò que lhe pago a attençaõ, fe he Euangelho o q lhe trago, a vénia íó tomando neftedia ao famofoMcndonça; AvcMaria. N ao

3 4 8 P I N T ,0Naó teuho que contar dosCavalleiros,

que nab he novo 0 ferem bons Toureiros; e porque o meu dizer bem juftifique, foy dos Arcos o Conde ,.e D. Henrique; no que he bom gofto,o Conde faz eftudo de fazer com acerto fempre tudo; tudo fizeraó bem, com muito alinho , c mataraó também feu cavallumO.

Ei cu fado he também contaragente, que a ver correr os Touros foy fomente; nem tem que me arguir, pois nao ha mais correr, do que fogir;fó então foy difereto, em íer aveííb, e furdo o trifte Neto; pois quando lá diziaó que os picaticm, corria elle entaô a que os mataífem; eno erro acertou, pois ma S1 0 nem podia fervir para picado; tudo carne de rabo, nada peito , e tudo que nos façabom proveito.

Pois eflava viftofa a praça toda, com muita bizarria, tuao moda

mint

R E N A S C I D O . 3 4 9

muita couia do Ceo, tudo eftrellado ; e atè do Ceo o corro foy aguado; alguns pelos cabellos lá eftiveraõ, pofto que a pello as chuvas lhe vierao; por final, neftesTouros, queeufolgucy de os naô ter vifto entaó ao pé de EIRcy.

Todos folgamos, antes que chovcíle , de ver a nuvem negra, qu.e apparefle, esborrachar prenhada de Fidalgos, q a húT ouro íe íançaraô como hõs galgos; eu creyo, que o cahirlhe entaó a cfpada, foydeftreza no Conde, fófundada, cm ver andar aos tombos no Terreiro tanto baeta, c tanto Cavalheiro; que todos, aqui cahc,acollá topa, queriaõ) bem, ou mal, molhar a iopa; quem primeiro faltou, eo queenveftio, foy o Viilar Mayor, como levio, que a todos quiz moftrar,bem denodado, feroFidalgo alli mais eítirado; forte boléo levou! mas naó foy nada, que iílo he- menos, ou mais huma cuada;

fo

p I N T O •IS fc pòdc fentir, ícndoo primeiro, que foffe caftigado por trazeiro; oPovo goftou muito, eaPidaiguia * poispara todos foy huma alegria; exceptuando algum ,que lhe compete, fem embargo que o vimos Alegrete.O fegundo boleo fobio taõ alto, que ió o igualou meu íobreuúiu.Deos permittio, por Cabo may valente, que fe nao ville o cabo ao S. Vicente.Todos nos regalamos dos boléos,e eu que os pedia com as mãos aos Ceos.

Foy huma coufa grande a fefta toda; c lá tinha também couías de boda s que houve carnes aífadas, vacas de molho,choupas, e douradas; houve bem cabedellas, houve varias panellasde padaros, de pombos, c coelhos, e d e gato por lebre perros velhos; emíím , tudo picado,de que já cftava o Povo enfaftiado.

O u-

R E N A S G I D 0 . 3 j i

Outros Touros vieraõ neffe dia; mas eu tornar naõ quero á vaca fria. Thomaz, aDeos tnnxeira, guarda delia, que vem faltando os Touros de Caftclla para o dia íeguinte, que mandaraÓ bufcar feílenta ás vinte ; eeu tomara, fogindo aos feus agouros, do Zimborio do Forte ver tacs Touros.

Quarto dia de Touros, na mefma Feffa de N. S ,

do CaboFToureou -iAntonio Antunes Tortuga!, ja com mais de TO.annos.

M A I S S Y L V A.

A C de Apollo, acudame emtalcafo a Mufa mais pintora do Parnafo;

etragafem demora, ainda que me falte em outra hora, pincéis de aparo, pen nas de aparelho, para pintar a Portugal o velho; porque em tacs valentias feraó froxos os pinceisj q hoje campao dos dous coxos.

He

K S P I K T Oíóíepòdc fentir, íendoo primeiro, que foffe caftigado portrazeiro; oPovo goftou muito, eaFidalguia, poispara todos foy hutna alegria; exceptuandoalgum,que lhe compete, fern embargo que o vimos Alegrete.O fegundo boléo fobio taõ alto,

ÍÁ s-\ m n u ln n i-\-\oil 1VJ y j j . g j U a i v j v » t i jN - v * i w %-/*.

Decs permittio, por Cabo muy valente, que fe naò viíle o cabo ao S. V icente.T odos nos regalamosdos boleos, e eu que os pedia com as mãos aos Ceos.

Foy huma coufa grande afefta toda; c lá tinha também coufas de boda, que houve carnes aíTadas, vacas de molho,choupas, e douradas; houve bem cabedellas, houve varias panellas de paflaros, de pombos, e coelhos, e de gato por lebre perros velhos; em fim ,tudo picado, de que já cftava o Povo enfaftiado.

Ou-

R E N A S G I D 0.Outros Touros vieraô neíTedia;

mas eu tornar naõ quero á vaca fria. Thomaz, aDeos trinxeira, guarda delia, que vem faltando os Touros de Caftella para o dia íeguinte, que roandarao bufcar feílenta ás vinte ; eeu tomara, fogindo aos feus agouros, do Zimboao dororte vertaes Touros.

Quarto dia de'Touros, na mefma Fejla de N. S ,.

do Cabo.Toureou <iAntonio Antunes Tortuga!, ja com mais de 70 .annos.

M A I S S I L V A ,

A C de Apollo, acudame emtalcafo a Mufa mais pintora do Parnafo;

etragafem demora, ai nda que me falte em outra hora, pincéis d s aparo, pen nas de aparelho, para pintar a Portugal o velho; porque em taes valentias feraó froxos os pincéis, q hoje campaõ dos dous coxos.

He

3J2 TI NTOHe velho oPortugabmas quãdo mõta,

dos annos diminue tanto a conta, que na esfera daquelle anfitheatro vem,cornfctentaetres,de vinte e quatro; VejaÕlá no principio que faria, quem Hz no Cabo tanta bizarria! atè alli tourear, que mais naõ ha; e naõ íó até ai li, que ate acolá toureou, onde he mais a força dcllcs, e fóbem de Caftella faõ aquclles.

Bem íey que alguém dirá, fe lho notou, que iílo gotas de íangue lhecuftou, poralgum, que lhe vio correr em fio,( fe ndo o vermelho gala de mais brio) porem quãdo do T ouro he forte o atraco. antes vermelho, que fazeríe branco; e os melhores da Corte 1 he invejaó corpo, perna, braço, e forte. Porque oosTourosfcnaõ viíleem prcíla, diz queícconfeílcu, eelleotonfeíía; mas fem iífo poderá entrar na praça, pois por galau m orria íempre em g r a ç a ;

RENASCI DO. - 30tudo lhe foy a popa neíTe dia, ajudado do ar com que corria; e mais, favoneado lá do Auílral, Trtk«-que hc viraça5,que aíTopraa Portugal; era dos lenços taõ geral o abano , qnefoy força correr com todo o pano; e ate eu, com ter roto o meu traquete, tanto acima o iniey, que foy joanete. Guardete Deos Antonio, que em tentaçaò naõ cayasdodemonio-, pois a todos cahifte tanto cm graça, que nenhum te quer ver cahir em praça, Qtie eraõ leões osTouros naõ he engano

nem mentio D. Joícph o Caftelhano; porém íerpentes houve Portuguezes, que na praça naõ eraõ fracas rezes 5 jàpiíes} tenemos <vifio los fie comian gente, boto a Chriflo;

e nenhücomeo gcnte,( ainda a mais fraca) antes efi a ufou delles como vaca; viriaõ do caminho moleftados, aílim foy, porque alguns eraõ canfados.

S o

354 p i n t oSóhmníe menaõtiradofentido,'

porque na praça andou taóatrevido, que por tanta alabarda entrou , atè que em fim rompeo a guarda? por final,que lá dentro todos viraraõ caras para o centro; naõ digo bera, pois antes apreíTados, todos viraraõ caras para os lados, e praça lhe fizeraõ no dilatado camoo que lhe deraô.Como picado hia, dizem,que deu comfigona Oxaria, e de lá áeícadinha impertinente, como íe foííe Touro pertendente; lá fobio, e lá foy mal confultado, porque baixou á morte defpachado; com hum cordaô de gente veyo á praça amarrado o delinquente s e por força de Touro,ou de delgraça, quanto aos íoldados fez,pagou em praça.

Outro veyo inclinado aos Militares, queiáfoy aíícntaríc pelos ares,

e arre-

r e n a s c i d o . e arrebatadamente, • 5como vio tal exercito degente, nos do corno eíquerdo, e os do direito que, fegundofe conta, a tres ferio, com quem jogou de ponta; e como por malvado o naõ queria nenhum Caoo na fua Companhia, por ioccorro que entrou na mefma hora, Jogo lhe deraò baixa para fóra, ondefoy juftiçado, piezo, ferido, morto, earraítado.

O Neto me efquccia, epara nada aSylvapreftaria, íe o naó arranharana cabeça, nas mãos, nos pés, e cara; vejamos de carreira cah;0ihe t &o que lhe defeobrio a cabelleira: ^ pareceo no primeiro,e fraco aballo, Eftatua,que a queimar hia acavallo; t Z T ceititico de cara , e de pefcoílo , que em cavallo de pao, corria em oílo.

E t!

jj6 P i n i oEucreyo, que moftrarlh e nao convinha oqueencuberto na cabeç ati nha; pois fe deícobrio Frade, fendo hum creca, queo era de verdade; odo Senado nunca a feztaôboa; efte pódefer Neto da coroa.Ouvio dizer, á efpada 5 e a toda a pre ç apés para que re quero, e mais cabeça,meteo mao ao ferrolho,c no Boy pondo o olho,logo fe poz, correndo como hum rayo ,a pés juntos o Bento co’garrayo,onde a íopa naõ molha ,porque erade papel a meya folha ,queayroío manejava;e tudo era hum ar quanto cortava;voltou, todo marao ,no arenque em que montava carapao,alinpando da folhaoíujofio,que indafez obra , dando lá em vafío.Galante andou dos pés até a cabeça,bem pode vir á praça, porque he peça;

e pois

357R E N A S C I Bo . e pois toy duas vezes taõfeleto, no Senado íè aceite por Bifneto.

Tudc efteve galante, muy grave tudo, e muy extravagante; c fobretudo acharfe no Terreiro com Touros bravos, bravo Cavalleiro, mas já que a Fefla fòy em tudo brava, lerá jufto q u e tenha a íua Oitava.

o i t a v a .

\ 7 Alentes Touros! altos por eftrella,v por natureza a Fcftafoy Real j

Soberano, por timbre, o juiz delia por graça,a feftejada Celeftial; ele quem difle Bois,difleCaftellj quem diíTe Cavalleiro, Portugal! mas viva Sua Alteza, a quem mais gabo, muitos annos, que vá co‘ a íua ao Cabo.

jQ uiíxa fe

358 P I N T OQuàxafe a ElRey, de nao ter de que pagar quatro e Ytieyo porcento} no tempo em que todos ofazjao.

d e c i m a ,

D Iz Thomaz Pinto Brandaó, morador inda em Lisboa ,

onde come da Coroa alguns bens, por comunhão; que, pois de graças aaccaõ em Decima fe nao cré, pede ao íeu Rey, que lhe dé outro exercicio, ou meneyo de que pague o quatro e meyo, e receberá mercé.

Mandoulhe ElRey dar vinte Dobras de ouro por defpacho da petição acima,ao que vao asfeguintes

D E C I M A S ,S Eaqucm cfmolerfe oftenta ^

Dcos 3 por hum, hum cento dá;3 p °

RENASCI DO.por quatro e m eyo dará quatro centos e cincoenta; nao fómcnte os bens lhe augmenta para o temporal m cneyo; mas no efpiritual creyo, que os quatro e meyo feraò de verdadeiro perdaõ quatro mil annos e meyo.

Que he milagroío o quilate das fuas Dobras entendo; porque eu no gaito as eítendo, melhor do que quem as bate; to d o s , menos o alfayate, comem deitas vinte Dobras; e ainda me ficaóíobras para papel, tinta, e penna, porque também Deos me ordena que por huma dé cem obras.

Aa lij 2vtí

j6o P I NT ONo Certamen Eucharittico /"? celebroana Gra­

ça, forao cinco os a fum ptos, que con/iaraõ das anco palavras da ConJ agraçao, Hoceft.fjV.

ROM A N C E , T A M B É M .

N ' ifta Igreja he o Certamen?- - g raça l c í ü , c corri aceito* pois pelo rneyo da graça he que vem o Sacramento.

Eu,por naõ vir a concuríò, tarde vim; e agora vejo, pois por tanta gente rompo, queemmais concnrfo me meto.

No Certamen, que ha feis annos, lá na Trindade tivemos, por milagre dos juizes, tive eu hum bom provimento.

Agora a graça feria, que iffo ferviíTe de arefto, e lograífe eu dous milagres, em Trindade, e Sacramento.

Entaõ

^ R E N A S C I D O . J g jEntaõfoy prêmio hum Relogio;

e agora feria o m eim o,( ai nda que outra coufa foíTe) por vir a horas, e a tempo.

E que olho me deitaria quem naõ tem mais que eíle aberto ! eucreyo ,que entaõ, detodo ficaria, od e que he meyo.

Valhame D eos, que naõpoíla livrarmedefte tropeílo! porem como a carga he muita, fòu peccador, efcorrego.

Bem ícy, q ifto em mim he graçamas naõ cabe nefte Templo, aonde eu Poeta immundo he juíto, que entre converío.

Bons papeis de preto, e branco por eítas paredes vejo; tudo íaõ pinturas vivas, todas fallaõ de myílerio.

Comoaqui cada qual julgaP ° t melhores os feus verfos,

Aa iiij ha

$<52 P I NTOhade haver queixas baftantes ao difttibuir dos premios.

Eu confeilb, que naó fora ( inda que podefle fello) de taes premios, e mordomos, nem Juiz, nem Theloureiro.

O erro da obra, e o tofco dos officiaes modernos, pagallo o Juiz do officio, fern comello, nem bebello.

He huma ley, que naòcabe nemfe permitte em direito; mas he já caio julgado na ordenaçao dos nefcios.

Vejamos outra pintura, que tenha, em melhores termos, de Poeta alguma fombra, e algum longe de difcreto.

T odas faõ, por vida minha, dos olhos bizarro emprego! eíeraó, em corpo, ealma, para alguns de honra, c proveito.

Eu

R E N A S C I D O . i g y

Eu também pintar queria sporm eueftylo rafteiro; epois la dentro naõ caibo, ponhomeaqui de joelhos.

Daqui a oraçaô faço? e ílippofto que fou leigo, ajudar á Mifla poíTo a quem dar os amens devo.

Bem fcy, que o Latim naõ bafta defies dous dedos que entendo; mas por ter maõ para a coufa,Verey fe acho mais tres dedos*

Pelos dedos faço conta de rezar devoto, e attento, eofterecer os cinco aílumptos, hoc d l , os cinco myfterios. ’

Mas os Senhores Juizes naó façao conta dos erros; nem attendaõ ao que eu digo, íenaõ ao que dizer quero.

E fehade ícrláemcima o meu papel mal aceito,

melhor

3&J. P I NT Omelhor he queo Secretario diga, que eftá co’correyo.

E ferey nefta coníulta o pertendente primeiro, que defejo retardado odelpacho, quedefejo.

De mais, que íem Theologia lerá iouco atrevimento, difeorrer íobre palavras que nem pronunciadas devo.

As palavras, que ao Ceo íobem, e trazem de lá a Deos Verbo, nem da lingua ao ceo da boca chegar com ellas me atrevo.

Em outro qualquer aíTumpto, que me maodao fazer verfos, pontual na tefta bato, nefte heyde bater nos peitos.

Mo he o mais acertado; e pois como a traz confeflo, para hum myfterio taõ fundo capacidade naõ tenho.

Com

r e n a s c i d o .L / O m Domine non fum dignus, 3

ut intres fub teãummeum}aosaflumptos fatisfaço, e a fagrado rne fommeto.

Tenho dito o mais quepoíTo; ele prêmio naõmereço,Deos) pelo meyo da çrraça . me dará da gloria o prêmio.

A Fabrica nova daPohora, de que foj Author Antonio Cr amen,

D E C I M A S .

Q Uem fequizcr divertir , a Alcantara vá parar;

e pedreira hade bufear , para melhor poder ir j euopudcconfeguir,iem me valer defle empenho;e no primeiro diflenho logo vi, e entendi logo, que para agua, e para fogotinha Cramen muito engenho,,

Com

366 p i n t oConfefío que nunca v i

junta tanta coufa boa , nem dentro em toda Lisboa ie vé o que fe acha a lli; primores lá percebi» que aqui naõ íey explicar; masfe era para admirar tudo o que lá íe hia ver, ío o poderá dizer quem melhor íouberpafmar.

Sobre hum grande poço ergueo huma nora, que a naõ logra cá ninguem; mas também íogra ninguem a tem cá com o eu ; duas rodas lhe m eteo , queambas voltaõ de huma vez, por engenho, que lhe f e z , com direcções com o fuas; mas fe a nora vai por duas,minha fogra vai por trez.

Para o Reyno ,e mais conquiftasque podeOTe achar naõ íey

melhoi

K E N A S C I B o . 1(57melhor Polvorifta EiRey, queefte, Rcydos Polvonftas; ande em fuasRcaesliftas hnm homem taõ lingular, que atè nos Tabe agradar com o que nos quer moer 5 e nos obriga a querer o que he fó para matar.

Em fim, tem tal condição que ate que lhe furtem fofre ora lalitre,ora enxofre, e algum fe fuja cm carvaõ 5 os mais dclles, que lá vaõ, com fuas migalhas vem ; e pois todos dizem bem da fefta; he Antonio Gramem digno de que todos o amem, * e todos diga5 Amem,

Amm.

j68 P I NT OAo Marquez, de Cafcaes, pedindolhe continue a

piedade do az-eite com que o foe corria.

D E C I M A .L A torno, Senhor Marquez,

porque feveja, efeconte, quedo voflb azeite a fonte naohefo para huma vez; com eíta agora faõ trez > que ievo as medidas cheas, para os jantares, e ceas; efe porDeos forem mais, quanto mais azeite dais, pondes no Ceo mais candeas.

aA huma pendenda, que os tres negros Prncipes tiver ao com hum criado do Secretario de EBacfo, fohre quererem entrará força na Secretaria, deqw ref ’t Itou fahir hum dos Principes rotate arranhado.

D E C I M A S .P Or negros duelos, ou leis,

dc hao de étrar,naó haõ de entrar,tres

. . * E N A s C 1 D 6.tres Príncipes v i brigar, 9que nab valiab tres reis; mas outro , que val porfeis em fechar, e abrir cancellas de forte lhes teve as pellas, q ue le expoz em guerra dura por dar huma• j ‘u u u a u u ic t .aievar tresmordedellas.

Hum defies, quealli jurado foy Principe com defgoífo acho, que ficou mal pofto * íuppofto queandou rafgadoj masomofiobem criado fèza fua obrigaçaõ; íendo que por milagraõ. ivrou de hum furor protervo >

•porque inda que era bom fervo ,o Príncipe era má caõ.

■A. porto de falvamento iodem ir li vres , efãos,>ois de Principes Chriftãosevaomais hum Sacramento,

com bizarro tratamento aqüj

370 P I NT O ' *aqui foraõ regalados; e para bera bautizados entrarão na Compan hia; mas íó d a Secretaria he que íahiraò chrifmados,

huma Senhora a o u tr a fuamana hum gallo; efoy affumpto Academico , prefldindo

o D o u t o Lmz de Abreu.

r o m a n c e .

P Rimeiro que o gallo cante, quero eu piar hum pouco

ao Prefidente, em quem temos melhor ave, edemaisgofto.

Vam os cora elle primeiro, porque fera termo improprio , que de huma Aguia ao remontado prefiradehumgalloovoo.

E l l e aqui também he gallodc barba, c bico revolto,

grave

R E N A S C I D O . , - j

grave penna,e bem fobida! claro peito ,e canto prompto!

Atècom aíua vinda foy efte aílumpto ditoío; e nos cantará outro gallo, fe elle cá tornar em outros.

Bem ícy,que he canto de Pifitocfte, com que humilde o louvo; mas affim lhe arrafto a aza, jà que voar mais naõpoííb.

Agora vamos ao gallo , naõ como menino afouto, mas como quem no polleiro canta, fó por ouvir outros.

Foy ocafo , que huma Mana com outra hum laço amoroío quiz apertar com affe&os; porém naõ fabiacomo., Intentou fazerlhe hum mimo

a medida do feu gofto; mas como era moíla pobre, todo o feu mimo foy momo,

Bb Deu

3 1 P I NT ODeu balanço ao com eftivel,

e lá foy achar dous o v o s , que alii poreiquecimento eícaparaó de hum almoço.

E íuppofto que o tal mimo era hum affecto redondo ,

ella o achava mal fe ito , ainda que foífe bem pofto.

E affim q u iz , por boa induftria, dar aos taes ovos mais corpo, e mais alma; o que veremos niíto , que ouviremos lo g o ;

Tinha a viíinha debaixo huma gallinha de choco; que fez ella, pegou nelies, foyfe ao n inho, e encaixoulhos.

Jà fefuppoem , quelevavaò ambos fuacruz aoshom bros, por final muito bem feita, que era com carvaódefobro.

Por horas contava os dias; e em todos, a Santo A ntonio

hum

E E N A S C I b O.hum Padre noifo rezava, i

que lhe naõ fahifíem goros.Tirou, em fim , agallinha,

com fucceífo taõpenofo, que ambos 1 he faniraõ machos da liteira do feu nojo.

Mas CHrm.nc.olv»-- --------- V/WJMkV IV1WIU

final de barba norofto , de lórte que á fua Mana ferviíle de algum conforto.

Tratados com todo o m im o, foraõ creícendo de m od o, que eraõ jà gallos caleiros, ambos negros, mas crioulos.

Deixou ficar para gallo da caía, hum de chrifta rom bo; queinda que era Romanifco, naõ feria Capadocio.

E vendo, que era jà tempo de pôr feu defejo em logro, elerevendo áfua Mana, mandoulhehum , e ficoulhe outro,

Bbij Eíle

374 p i n t oEfte fo y , em duas noites,

defte gallo o meu acordo; deltas Manas apoftura; e em fim defte Pinto o choco.

Eftando aSerenijJma Infanta a Senhora D.Fran- ciíca.em huma ianella.brincando com hu Samim.

j j j j a *

mandarao ao Author, que fi&effe a tal ajfumpto hum Romancinho.

R O M A N C I N H O .

H Ojeahuma tal janella, fe me naõ engano, vi

hum bichinho taó galante, que mepareceo Saguim.

Saguim era de verdade; fuppofto queo S o l, dalli bem podia, no cegar, eftorvarme o diftinguir.

Hum quali individuo era, porque era tamanho, affim s

e bem

r e n a s c i d o . ebem podia fer grande, que realmente o vi cobrir.

E como o Sol dalli era taõaddvo, he de advertir, que pelo nao abrazar, cobriüo de neve quiz

T~T,,............... - 1x iiiuja uiHu, que nacaDeça Ine vi, me fez prefumir, que para bicho Real tinha muito de Infantil.

Tinha duas brancas patas, que lhe davaõgraçasmil; e de maõ pofta hum toucado de cinco bellos jafmins.

Brincado pela cintura com aperto carmezi,mais que á prizaõ, procurava a liberdade fugir.

Oh ditoía fevandija, que viefte doBrafi!, a lograr em Portugal afftgos de hum Serafim!

Bbiij Lá

jjS P I NT ®L i pobre, natua terra

naô comias mais que A y pins, Pitom bas, Cajuz, Bananas, dadas por mao de bum Colmim,

Cá id comes papos de A n jo , chupas ambrofta fubtil, latnbes cctu ellòes de alcorça. dados por maos de alfenim.

Oraem fim logra a tu a dita,, regalate,meu Saguim» continuamente ao Sol p o fto ; e pofto no ieu Zenith.

J 0 MárqueZj de Alegrete-moço ,q u e dtu-ao Au­thor humtreslado de letra m arav ilh o ja , feito peU Jzxcellentijjma Senhora ‘D ona M a rg a rita , com

condição de lho agradecer em. hum Romance.A inda era Conde de Villar M ayor.

R O M A N C E .

M Eu C o n d c , apertadocafo!confeito, que jà me peza

de

R E N A S C I B O . 9 * 7

de vos ter dado palavra de íatisfaçaõ porJetra.

Eu a Bacharel metido! eu a dar regras era regras, onde. íeeftá vendo, que a arte u i liçõesá natureza!

Que em Cavaiiarias altas nunca falte quem me meta onde o montar he impoílivel,1'em que as eftribeiras perca!

Porforçahade ir muy de paflo aMuía, áredea fogeita, í ein nunca jogar de lombo 5 eeiíaqui aMuía beíta.

Nem me pòde fahir limpa obra, que he com medo feita 5 íalvofe for por milagre da tal Senhora da penna.

Ora a ella recorramos, pòdefer,que mo conceda; e fera huma das gra ças, dada por huma das Deofas,

Bb iiij Eylo

3 7 8 P I N T O

Eylovayjà eftou entrado? eu naofey quem ellaíeja ; dizemme que he muy fermoía ; mas que labe muita letra.

Se he como dizem taó linda, eás letras tanto feentrega 5fnvi n rlífrrírrirv fp r m n fíi■i-Ui. i* «. *•*» *•-*■»-----J

ea fcrmofura diícreta.Dizem, que fe léo feu nome

em huma preciofa pedra, donde o toma; potto que outros digaõ, que huma flor lho dera.

Item, que com hum arminho, por ordem da natureza, a teve o pay, quali hum anno, metida em huma Condefla.

O pay, le me naõ engano, creyo que agora fe alegra; que o avo, eu lhe feguro que mais Alegrete etteja.

Folgo, que ande taó valida cftapalavra, eítupenda,

rodando

RENASCI DO. 372rodando por tantas partes, ' 'porque caya em tantas prendas.

Purgatorio appetecido he dos olhos efta penna Te quantos por ella pafíaõ, he certo que á gloria chegaõ.

V n l l ,» p m c i lU c l t ü J

e o que leva quem te leva! tem maõMufa, quenaôfabes qual he a tua maõ direita.

Iftofoy hum Serafim, que no ar da íua belleza para mais gala das azas, quizaíloaihar as pennas.

Cahiolhe efta pordefcuido; e niíFome deu matéria, ou de quedeícreva pafmòs, ou de que admirações lea.

Pafmado fico , e admirado,, que nifto o louvor íeencerra; e pois jà faõ vinte coplas, meu Conde, aííentemos nefta,

Que.

j8o P I NT OQue fe era taes rafgos a Mufa

fecompuzera de pennas, e todas aqui largara, fó de pennada efcrevera.

Ao Duque pay , ejfando em (Intra, efr reve o Au-.1 u l . j r . . , . I ................/. . J„ í .... D............w o r , t tfjepi'CMj m u a ut-urt tn u r ja u v f (.i* j. i u iv ia -

dor da Cidade do Porto.

D E C I M A S .

S Enhordecá,ede lá, que lá vos venera a fé ,

como cá, porque naó cré no adagio de lá, e cá 5 más fadas em vós nao ha, por mais que o tempo as trabuque; e quando a forte caduque vindo dalli, para aqui, mais fè tenho aqui,que alli, que Ali he Mouro,e aquiDuque.

Tudo aqui acha quem pede; alli naó ha quem naó tome;

OpO'

RENASCI DO; jgjo pobre aqui naõ tem fo m e;o rico alli tem mais fede;com vofco nenhum íe mede, nem dá no que tendes dado; e etn fim , eu naõ tenho achado, affim Deos me de faude, xiOmem de mayor virtude, nem Portuguez mais honrado»

Mas por fer jà muitos vós ,Ia embainho a confiança, e canto de menos chança, abaixando mais a vos; porem ,que, que fomos nós? naõ luõ do roefmo barreiro o Principe, e oCamereiro? fim , que affim o determina omeffie defta officina, que he maravilhofo Oleiro.

O que fuppofto, fabey, que eu tenho hum cunhado irmão, que he no Porto Cidadaõ, com privilegi o de E IR ey;’ muito mais tem , que direy afeu

M I

jSz P I NT Oa feu tempo, ecom verdade,’ quc he do Porto utilidade; e aífim > fe quereis, Senhor, ter hum bom Procurador, fazey-o da tal Cidade.

ál . ... //.-yi num cego 3 c 'ucmjui n»j ^ wr* uvu*™» *r ig a , chamada sMagdalena ds tal, e die 'Tedro do

mefmo. Foj afsumpto /Icadonico,

R O M A N C E .

AL to,Senhores Poetas,q hoje hü grande affumpto temos

no velho cegocafado, por fer materia do tempo.

Eu, como cego apalpando, como velho diícorrendo, irey tocando o que poíío, eaconfelhando o que quero.

Huma coufa ao lente eftranho, que foy deixar em filcncio,

fc

RENAS CI DO. 8,íc era tal panella a noiva, 3 3que lhe íerviíTetal tefto?

Ou fe o cego era taõ rico, como alguns pobres que vemos, em piolhos rexeado s e cozidos em dinheiro S

Oi i n / , „ . 1 n iwuirtu, qualquer arraitada s ou defcozida, em extremo, quereria ás íiias fomes deitar aquelles remendos.

E como acharia logo (voltando em gala o defeito) que o que foy velho mal vifto, era jà com luz mancebo./ Nao ter nada, enaõ ver nada,

lá tem algum parentefco j mas cafar pòde hum com outro vindo papa nefle incefto.

Bem fey que fe fora torto, fena do mal o menos ; mas leria mal cafado, ícnaõ andaííe direito,,

Melhor

584 P I NTOMelhor foy cego de todo, para a noiva, ao que eu entendo ■ porque menos fè teria,Te viíTe em tal Sacramento.

No cego leva a tal noiva hum marido muy attento,rlartmnr hnm »?plhr> frpsladn .u v a u i v / 4 ) i < u i i « * *

defè, hum amigo velho.Ella,para divertirfe,

temnelle dous inftrumentos, que he fer cego (anfonifta, e também velho gaiteiro.

Elle,no governo delia, foíTe bem feito, ou mal feito, fuppofto que nada vira, também nada achara menos.

Penadenaô ver a noiva teria ; mas tinha certo o alivio de naò ver nunca dafogra o tyranno objeíto.

Poremafogca, emtalcafo, taesgritosdaria ao genro,

que

R E N A S C I E O. j S jque o deixaria iurdo; e eylo ahi com tres defeitos.

Ocomo fe namoraraó, na5 alcanço; mas fofpeito, que lhe hia rezar á porta leusavinagrados verfos.

E vendn n mpf-ol m, I™L JU llirt

na voz, c mais no mialheiro, namoroufe do ieu canto, e caíouíe de nócego.

Mas hade fer feu encofto a noiva; naõ tem remedio, pois quiz pela maõ levallo, pela maõ hade trazello. *

Podem cegos rezar ambos, emcahindo nos íeus erros a Magdalena contrita, e as lagrimas de Saõ Pedro.

Porem que he ifto que digoí eu louvo tal cafamento, donde fómente o diabo pode fer cafamenteiro ?

Tenta»

j 8 á P I N. T 0Tentaçaõfoy do inimigo 5

porque a hum pobre velho> e cego íó leva por eícrituras o diabo do Euangelho.

E deu fim o antigo aífumpto, pois, fegundo eftamos vendo, cegar mofias, naõ he novo ; caiar cegos,ifio hc velho.

<iA huma Borboleta,ou Maripofa, que indo a ron­dar a luZjy cahio em hum vaj0 de agua, e ajjogouje.

Foj afíumpto Academico.

r o m a n c e .

A Gora que jà mentidas fe teraõ dito proezas

defta, que do fogo á agua quiz medir a differença.

Defta, que em fogir das luzes crcyo, que fez huma afneira; mas nao faltará quem diga:Oh, deixay, que andou difereta 5

Porem

R E N A S C l b Ó . j g yPorem eu , que delles fu jo ,

feguir quero outra vereda por differente caminho; e íeos encontrar,paciência.

Apoftarey ,que muy poucos lhe chamarão Borboleta ? que aquiíio deMaripoia he folhage á boca chea.

Masqueteraõ ellesdito melhor do que eu o diíTera ?Borboleta he alguma equíà, que á minha luz fenaõvejaí

Eunaó tenho etn minha cafa brandaõ, garabato, e véla ? naõmeentraõ nella bizouros/1 naõ mecahcm nas panellas?

Sirmpois porque,ao lume dagua, encoftado á minha mefa, nao bizourearey no aflurnpto, como outro borbolctea ?

Digo, que efta tudo nada, cita mentira de veras,

Cc efte

j 8 8 P t N T 0efteefpirito coraíórma, c forma, que mal fc enxerga.

Elk das kizes manjuba, c e m f i m comer dos Poetas, jà enfaftiava affada, agora enfopada venha.

Iftoate aqui vay direito;( i n r n n p n r v i i c r \ 7 P t " ij i c i i i i v j v | v * v m u i o w

outro contrapofto a iiTo, por força da natureza.

Dirà,queaffogarfe emagua foy bom; que também poderá affogarfe em outra coula, que lhe déffe mais materia.

Dirá, que affogarle em vinho fora melhor; que naô queima, earde; e também ha muitos maripofos de taverna.

Dirá, com bem propriedade, que alguma, na fua mefa, gyrandolhe a luz dos olhos, feaffbgarâ nas remeUas.

Mas

3®9R E N A S C I D O .

Mas tal vez que tal naõ diga; e que ignorando as exequias, enterre efta tal defunta fem nenhuma reverencia.

Eu também alguma coufa dircy, com fua licença; e Se naõ for taô Salgada,o n m *-*»•>n o f o f i a v . r t i r Í - — * / '— -

***v i .í v ^ * i v i a l u c i l o i l C i C i l ,

D ig o , que, como íeguia o farol da vela acceza, cuidou que era oirfe à agua, om efm o, que andaríe à vela.

E para fallar mais claro, digo, que a agua efpelho era da luz ; e vendo lá outra, enganouíe, e foyfe aella.

Iíto he , que junto da luz eílava alguma tigella, onde fe entrou de mergulho, namorada de íi mefma.

D ig o , que era algum moíquito dos que cantaõ às orelhas,

C cij que

390 P I NT Oque em agua quiz morrer Cifne, mais que Feniz em candea.

Digo, (do ar declinando à bicharia da terra) que por naõ fer Salamandra, ran quiz eftender as pernas.

Digo, que defta mà morteii__ Í j __ *.—llJCpUUCLdU L i luvvjaas que a tiveraõ luzida; porque mais clara foy efta.

Digo, em fim , que diminuta teve de morte a fentença; e quizdecriftal garrote, mais que de alambre fogueira.

E aqui jaz efta aboyada,(caminhante, olha depreda, antes que fe vá ao fundo) que morreo fem huma vela.

Aos

RENAS CI DO. m

eJos Dejpâfirios do Secretario de Ettado, o Senhor Diogo de <EM.cndonça, com hnma Senhora,

flha do Conde de Avintcs.

R O M A N C E .A Efla ímta conjuntura,

-** Senhor Diogo de Mendonçai mil parabéns dar quizera, pois tinha de que, mil coufas.

Mas perdoem novecentas e noventa e nove agoras porque hoje ha defer íóhuma a de que hey de fazer conta.

Deixo à parte onoyoeífado, ou lecretaria nova, onde vos defpachais fino, porconfultas amoroías.

Deixo, quedefta bollada armaftes os paos deforma, que acertaftes bem avintes, como quem fabe o que joga.

C ciii Deixo

?9Z P I NT ODeixo o Padre, e o Padrinho,

que hao de ir, de Mitra, e Coroa, maisaexpor doamor aliga, que a apertar o nò da Eftolla.

Deixo, que no fazer Cafa fois Architeófo dc prova, tanto no lançar das linhas, como no augmentar as obras.

Deixo o Condado em tal parte? que vos daõ certas pefíoas, levantando profecia no que dos meritos confia.

Deixo alguma invejafinha, fem a qual nada fe logra, que hadeeftar onde íe veja, porém donde fenaóouça.

Deixo, que até os pertendentes já agora teraõ mais folga; porque naõ hao de ir taõcedo amanheeervos à porta.

Deixo, que, fe em meu amparo nas voflas Armas envolta

tinha

RENASCI DO. 393tinha eu huma A ve Maria, tenho agora outra Senhora.

Deixo o eftares parentacio hoje com a Corte toda, que até aqui fidalga era, e he Corte-Real agora.

D eixo o deitar neíTe dia muita gente gala nova, que he bem queafaçaócmpeça, corno cu , que lho d ig o , cm folha,

Deixoaboaferenata, í q«e elTa noite ha de fer boa) aos ouvintes tao precifa, como aos noivos enfadonha.

. D eixo , o de caiares tarde, circunftancia proveitoía, fendo que no que Deos manda, íey eu que tempo vos fobra.

Já parece muita deixa, íuppofto que inda faó poucasj mas dirá que he teftamento, quem minhas verbas naõgofta*

C ciiij Ya.

5 0 4 P I N f 9 1V amos à coufa feleób,

que todas as mais encova* c he oque eftá delejando de íaber o lente agora.

H e : mas ay , que aqui naó acho, fendo a couía mais viftofa, donaire com que adefcreva, difcriçao com que a componha!

Mas fe hey de vir a dizella, e he jufto que o M undo a ouça;, và nua, já que he verdade, và clara, pois naó heGongra.

H e , que tiveftes tal dita, tal bem , tal graça, e tal glorias que lograítes o milagre de achar huma logra boa.

Milagre.

Â

R E N A S C t t> a m

A c marte de M anoel Pim entel, ( o f '-nografo már do Reyno, e nofio amado Academico'-, havia

poucos dias que era morto, outro.

d e c i m a s ,

\ J Io-fe mayor tyrannia!V ha caio mais fcyo, e forte!

fenhores, que tema morte com a noíla Academia?Que vieíle em hum fó dia a enlutamos os aíTumptos, made in pace; masdous juntos, fem duvida faz tençaõ, que feja toda a Jiçaõ hum Officio de Defuntos,

Nefte,que prefente tem, dobrado o golpe'moftrou; pois naõ fó Meftre levou, porém Piloto também: todos a íèu pezar vem

quan»

39*5 p i n t oquantos navegaó no Mundo, que oguariímo mais fecundo em huma cifra íe encerra; e em fim fe vè pouca terra, onde havia tanto fundo.

Epitáfio.

AQui jaz quem nos intima, que a morte he pequeno mal,

por muito que a vida opprima; pois o Sabio em Portugal, fó quando falta ,fe eftima;

he verdade.

397'R E N A S C I D 0.

Na Academia, em que foy Lente o R, P. T>. Ra­fael, eem que tinha ref pondido a huas cartas, que à dita Academia haviaõ mandado fern nome, f em nomes, e com ’verbos maljoantes, derao por af-

(umpto, fe a Efperança era mal, ou bem>.

R O M A N C E .

ESte correyo paifado, que o Senhor Dom Rafael

reipondeo a aquellas cartas, que fe naõíoube dequem.

Sim orou difcretamente,, e tab Grammatico, que até fem nominativos foube a oraçaõ fazer.

Efte tal nos deu o alTumptc, ou a pergunta nos fez, fe deíle Mundo a Efperança era mal, ou fe era bem ?

Eu, que já mais nunca ative,, môfoubera refponder i

p o r é n a

jç8 P I NTO'poré mna cabeça alhea alguma coufadirey.

A Eíperança quafi em todos, he íempre de que lhe dem; e virtude eftafadeira naõ he nenhuma das tres.

Já aqui temos a Eíperança fem caridade > nem fé; e eyla ahi hum maltaógrande, que nenhum remedio tem.

A Eíperança fempre mora muy longe do que fequeri tanto, que a mim me amofina o ir à Eíperança a pé.

Quem efpera, defefpera, e em pertendentes fe vé, ficarlhes fempre a Eíperança muito longe das Merces.

A Efperança verde mar, he dos que eíperaò mare, para ferem defpachados, mal de que vem a morrer.

R E N A S C I D O . j p jA Eíperança verdinegra,

he dos que querem guinés, que hé num mal de Cabo Verde, que fe eftende a S. Thomè.

A Efpe rança papagaya ( verdegaya quiz dizer) he dos que pertendem minas, e íe achao com ouropel.

Huma verde defmayada, he titulo em Vice-Reys; porem como em peça morre,Cabo de Efperança he.

Ate aqui fòy Ultramar; ouçao agora a da aquem; que Efperança ha para tudo, porque ha verde atutiplè.

He id hum vento a Efperança, com que o humano baixel navega fem fundamento, a pique de íè perder.

A Efperança nos que adoraohum foberano defdem,

he

|oo H i mhe huma afneira,aque elles chamaô querer porfilo querer.

Dizem que alenta a Eíperança a quem deveras quer bem, e que alguma vez dá vida; mas mentem por huma v e z .

Se de quem vem, a Eíperança he muito má de fofrcr; que mal ferá ( Deos nos livre) efperar por quem naõ vem:

A Eíperança em homens ricos he verde na madurez; pois tendo a vida que fobra, naó vem a morte que tem.

A Eíperança nos caiados, he de algum filhinho ter; mas até eíla lhe eftorva da fogra o acdelRey.

A Eíperança nos folteiros he de achar boa mulher; porém na terra he impoílivel, que a boa fó do Ceo vem.

R E N A S C I D O . 43 jA Efperança de alguns Frades,

ou a mayor de qualquer, he fer Confèffor de Freiras, que he fer papa a toda a ley. ’

AEÍperança em Freiras pobres, hlhas dejemlalem, hedecmehaia mmi-nef-niia / - • “ • " “ w I u m ; ) )e he mal, que os degrada EIRey.

A Efperança naò he nada; e fe acaío chega a fer, he poíTe j e apenas he iífo, torna ao nada, que naõhe.

A Efperança fó he coufa, quando fe toma ao revez; que muitas coufas fe alcançaõ pelomeyo de as perder.

Atè o verde, que eu goftava aqui de certa libré, he hoje mal para mim,porque Eíperança quiz fer.

Verdes fófaõ bonsdous olhosa meu, e a leu parecer;

cam-

402 P I NTOe ainda que hum fó houvera, fora porelle a Belem.

Eftasíaóas Efperanças, ou os males de que eu ley; naô digo mais, nem me fica eíperança de o dizer.

Toj affumpto Acadêmico hmna í'eni& de ejmeral- das; com preceito de fenaõ fallar em efperança.

R O M A N C E .

EStaprefente materia certamente que me enfada,

naô íó no eftranho do aífumpto» mas na condição eftranha.

De forte que fem preceito, creyo que nem me lembrara delía, que anda annexa ao verde, (pornaò dizer eíperança.)

Mas com a condiçaõíinha, a taldoaífumpto privada,

tan to

RENASCI DO. 40:3tanto íe me vem à boca, queeftou para vomitalla.

Bom foy ter lido huma hiftoria, que para aqui vem pintada;porque ícm día noticia, cu no caio jejuava.

Era huma vez huma moca, muito Bilis, muito Dama, ’ toda doçura da vida, e eíperança noíla.nada,

Agora hia eu cabindo ; mas em nada tropeçava; porque o preceito naÓ entra, ícnaõ quando a Feniz faya.

Feniz fe chamava a moça, nome, que bem lhe aíTentava, por unica cm luzimentos, e ignorarfelhe a proíapia.

Tinha íido engeitadinha para ferem tudo rara; porque bonita, alva, e loura, he muito, para engeitada!

Dd Eíta

404 P I NTOEfta tal tinha huma joya,

com que o peito abotoava, toda de efmeraldas feita; ■.,* por Manoel Leal vafada.

Eu fupponho, que era própria, porque às vezes a empreftava; fendo força o defpir numa, paravdtir outra tanta.

Também fe valia delia, quando era força empenhalla;( porque primeiro eftà a boca, do que o peito ,ou a garganta)

Era nella taò continua, que já, por antonomafia, lhe chamava» nefta Corte a Feniz das efmeraldas.

Ejá aqui temos a Feniz verde; que foy muito achalla; porque na Arabia ha fó huma, mas efla he lambinitada..

Era verde, mas madura; era honeíla, mas bifarra; .

nunca

r e n a s c i d o . 40-rnunca donaire trazia, Je fem pre com elle andava

A caridade, e a f é , nellà eraõ m uy continuadas 5 naó lhe ponho a outra v ir tu d e , po rque o lente hade tirarlha.

Alas diacom o que o adivinhara, determinouíe a fer Freira deíTa virtude vedada.

Eu me explico: he huma clauíura, que hca aqui defta banda, paflado o Poço dos Negros, mais para cà das Bernardas.

E porque inda haverá gente, que o tal Convento naòfaiba: ne donde fe fazem bolos, que nunca a poíle os alcança.

La íè meteo, ou por Freira ou por pupilk , ou criada;Tendo que de pequenina logo andou buícandoama.

D'Jij Def-

406 PI NTODcícobrialhe o feu peito

alguma mais inclinada; que quem fua mãy ignora, nunca huma amiga lhe falta.

E naó diz mais nada a hiftoria, por mim mefmo authorizada, que efta fora a fua vida, e que morrera huma Santa.

Efta,íenhor Secretario, fe o diícurfo naó me engana, he de eímeraldas aFeniz, renafcida nefta Arabia.

Ao defpenbo de Faetonte. Foy aflumplo Academico.

R O M A N C E .

G Rande exemplo, na verdade, nefte affumpto haó de verhoje

os que apenas tendo fege, fe abrazaó porpacabotes.

Eitej

4°7K E N A S C I D o.Eftc,que boje vem à balha,

era, por mais que o abonem,íoberbo comoo diabo,que he o mefmo, queFaetonte., $eu pay era bem nafeido,

Ja vinha dc Tivz dos Montes,P l d a l a n r m i t 11.

O " — - a o J _ x i i t j j a j j 5

nco corno nenhum homem.A mãy, no que me contaraõ,

Mile fabuia , ou naõ fofle, diz que feu afíento tinha n o Theatro de losDiojes,

O tai filho era o primeiro, que íegundo nunca o houve; porém para fer rodado, baftou que morgado fofle,

O pay, para defafnallo ' cm exercício algum nobre mandavalhe tocar finos, excepto o melhor dos doze., Mas o filho, que queria

í ó efle para feu toque,Ddiij 'lhe

4o8 p i n t olhe dide: PoriíTo mefmo hey de ir, c hade fer em coche.

Menino,naõ fejasafno,( lhe diífe o pay) naõ te botes a alcançar o que eu naõ pude; porque mais corre quem foge;

De mais, que eflas quatro beftas, que tenho para meu trotc> bem fabes tu que trabalhaõ todo o dia, e toda a noite.

Se comem algum bocado, hum fobre outro he que o comem; poderáó paíTar fem verde > porém íemazul naõ podem.

Aílim quiz defperfuadillo; maselle teimou deíorte, que o pay lhe diífe: Ora vay te, e praza a Deos que te emborques.

Pelas ruas dezafir partio a todo o galope, por final que o pay fe eftava de gofto babando ao longe.

Po-

4°9R E N A S C I D O .Porém, fogoíbs os brutos,

elleachegarlhes o açoute, rotos das rodas os rayos, fora dos eixos Faetonte:

Já fevè o que íeria; mas como he força que o conte, indo a naílar nnrhnne Afl-n-.c|_ -- J - ----- 4.ALV1 V/O ||

deu num I ropico, e tomboufc;Pegou o fogo no Mundo;

ardiaõ caías, e torres; mandou o pay tocar finos; cboveo rayos, eapagouíe.

Em fim defta alegre vida, cfta foy a trifte morte; e a minhahiftoriaacabada, manda EIRcy, que outra me contem

Dd iiij jornais

410 P I NT O

Jornaia, ojuefez a Az,iitaS , corn feu (fompadre Luiz, C e far de Meneses, a feftejarem Santo

Antonio,fahindo de Santo Amaro em hu­ma fragata toldada de lona.

R O M A N C E .

E Sta he a terceira vez , e a ultima, que íou tollo

com meu compadre em jornadas j mas cayolhe com retornos.

Apanhoume terça feira lá em íua cafa, o c io ío , e diOfeme: Quer, compadre, ir a Azeitaõ rir hum pouco?

Sou là Juiz de huma fefta, os meus netos faõ Mordomos, a mufica he de lá m eim o, o Pregador he cá noííb.

Irá ver a minha Quinta, que por aquelles contornos

naõ

RENASCI DO. 4 1 ,

nao ha outra de mais lucro,nem também de menos d on o;

E em fim dos Duques de Aveirovera os Paços hunolos, iobre os quaes dura a demandatn Jacula faculoTuvyi.

"Eli. nnr T»*.---- /. i • tumaue n iocomo ná mil annos que choro,lhe refponJi logo: Vamos,prepara monos, e fomos.

O Tcjoeftava huma prata e também o Sol hum ourojo vento algum tanto cfperto; porem tudo pelo olho.

Pelo olho vir podia,e mais ferme mais viftofo;mas fo para meu compadre he queíervia o talfopro.

E foy efta vez a primeira queíe vio fervir de eítorvoe meter aos naveganteso vento da popa nojo.

O

4Ü P I NTOO Eícaller ( que tal naÒ era)

levava hum fermofo to ld o , daquelle mefmo damalco dos da ProcifTaó de Corpus.

N aõ me atrevo a nomeallo; mas o que fegurar poflo ,

m i m a Kí1 í l p I K í A í l l f f !i IV. ? w 11V U 1V *■»'-' *.v.w —-/

inda que de baixo bordo.Ora delta vez o digo,

ícmufar dc outros apodos; era huma fragata a quatro, com fete maífins a rodo.

Sahimos de Santo Amaro, eàforçaaCaffilhas fomos; tudo de màs bordos era, que nada foy de bombordo.

Em fim , com muita canfeira, com o digo do meu conto, chegamos por mar a quatro, e fomos por terra a oito.

M in to , que fomos a íeis; mas hum pallafrem do trofío

valia

r e n a s c i d o . 4! 3valia por dous em carga, e eraõ dos íete os mais gordos.

Embacalhao albardado, fob re hum arenque de molho caminhando, em íuor frito, cheguey aliado ao Sol pofto.

A O o /u rm n ~ £ * \ /~\ •a v^uinca*que he por aguas, e por pom os,hum galante Paraifo;ruas lem H eva, e com demonio.

Hum diabode hum Qu inteiro., de corpo o mais fero monítro, de cara o mais feyo b icho, que ha em todo o territorio.

Nclla vive meu compadre, com todo aquelle feu bojo, empenhado fartamente, eaiegremente queixoíb.

Chegou o dia dafcífa, a que acudio todo o P ovo , donaires da Fancaria, c o m arcos d c pregos to r to s .

Apat-

414 P I NTOApartada toda a bulha

- da gritaria do Coro, foyfe ao pulpito Frey Pedro com o Sermaô ao peicoiTo.

Logo a duas palhetadas deu a entender, que era Douto, nue entrou dizendo milanres. mas craó de Santo Antonio.

Houve outro Sermaõ de tarde, que na verdade foy outro; porqueainda fendo o mefmo, cuido, que naó era proprio.

A ProciíTaó fe compunha de huns quatro Anjos piolhofos, c hum Rey David Cruz diabo, com íaltos de pés de porco.

Com que efta foy toda a feita; porém dá o Reportorio em Azeitaõ, para o anno, muito vinagraõ Mordomo.

Também fomos ver os Frades, junto aos Paços dos feis d o n o s ;

que

RENASCI DO.que fora hü guapo Coriven to, fetiveíTe Refeitório.

Em fim ,vafíos,e fartos de Azcitaõ, e íeus contornos, foy precifo deípedirnos, cretirarnosforçofo.

Com bem trabalho viemos em mais barco, e menos toldo; co perdido Santo Amaro nos deparou Santo Antonio.

415

Naó lheoífe» rtceraó ià nada»

A Senhora D on ajofefa , e a (eu marido 0 Capi­tão M artm , que pedirão ao A . lhe m andaf

(e a fita vida em v e r f 1,

r o m a n c e .

A Gora he com vofco a bulha, J * fenhoraDonajofefa,à Portugueza Madama,0L1 adamada à f ranceza.

Ycrfos

4i<> p i yj T o

V er-fos me pediftes hontern, lifongeandome a penna; mas quem como pinto a larga, tambcm como pato a dera.

Oh fc eu hoje Apollo fora, que à tal Senhora fizera com toda a minha Irmandade huma devota novena!

Mas àquillo, que naó pòde chegar a minha pobreza, íupprir pòde eíía abundanda dc fermofa, e de difereta.

E oh quem também fora Paris, para que à Venus mais bella s bem à flor das do feu rofto duas maçans offrecera!

Mas, pois naó poífo dar nada a quem tudo dar quizera} ahivay a minha vida, íe vos quereis fervir delia.

Se algum veríb for picante, bem o podeis ler ifenta;

p o r -

R E K T A S C f D O .porque a quem he toda rofa naó ha efpinho que aoffenda,

N aó me culpeis licenciofo, culpay a voíla licença; que indecenda nuncà iria, fenao fora obediencia.

E ieddla mno-nfl-iMo----------- — W j

ovo ifo M arim, que a lea ; que o Portuguez na iua lingua , vai o mefmo que na Grega.

Quem a vida vos dá toda, nem hum hora vos referva; e fe cá fica algum quarto, irá, em vindo clareza.

4i8 p i n t o

A buma Senhora muito ÇermoJa,que Atiçou as fuas criadas a queimarem o A. ou a picar em

nolle,par a o ouvir.

r o m a n c e .r \ Ra Senhora Amarili,

hc chegada a conjuntura, dc que eu, picado, lhe faça humaduzia de perguntas.

Aparelhe de repoíias, quando menos, outra duzia, que íejaô de conta, e pezo; e veja como as ajufta.

No que moflra à flor do roílo, já eftou vendo quefeturba; ora naó fe fobrefalte, que aqui mefmo ha quem lhe acuda,

Socegue minha Senhora, naõ tome paixaô nenhuma, que e u afeus fermofos erros darcy galantes deículpas.

RENASCI DO, P l a'Hade levar temperadas

huma verde, outra madura;

de forte, que ao agro defla o doec daquella encubra.

E dando principio à conta, digame, por vida fua,n p l ' 3 n i l / 3 í a r > c l r \ c u t t- - ... j—J ” ' r v ) ÍUJUUV.U «-UliclIilC 5

le mete comigo a xulla ?Ou, porque, tendolhe eu dito,

que para as minhas minutas era incentivo o ameaço, com elle tanto me apura?

Dirá ( de íi muy fenhora, ou de m im ) que eftá fegura, dc que com odio a retrate, quem com affedto a debuxa.

Para que velho me chama, quando cu , emendando a furia, a poíTò morder fem dentes, e apoffo arranhar fem unhas >

D irá, que naõ lente donde lhe polia pôr dente a Mula;

Es nem

420 P I NT O .nem taó pouco onde lhe faça a menor arranhadura.

E porque, quando me atira, em outras pedras fe funda; tendo eílas fafiras bellas, com que mata , e com que cura?

D irá 5cjuccniprcgcir ícusolhos naó quer na minha figura; e tem razuõ, por minha alma; mas faça-o, por vida fua,

E porque, quando da terra a efle Ceo me diz que fuba, intenta conceder graça, a quem hade arguir culpas?

Dirá, que a galantaria, e urbanidade commua foy íempre o de que fez gala, e he a moda de que uía.

E porque, lendo encontradas diícriçaõ> e fermofura, quer voíla merce natefta ahum tempo ter ambas juntas?

D irá

H N A S C [ D O. 4JJD ira , que n inguem lh ec ítran h c

q u e ded ifere ta p re fu m a ; p o rq u e fabe m uita letra, n o q u e dc ferm oiaeftuda.

E para que doEfcarlate, quando o nobre cravo pulfa, alguma lição naõ toma deílas ,quc die dar coftuma?

D irá , q ue delica deftreza toda a liçaõ difficulta, por ferem ideas varias, e ligeirezas coníufas.

E porque mete nas voltas, q u an d o os minuetes pulla, a tantas almas,que piza, íem que fe doa de alguma*

Dirá, que almasatropella, c qualquer por favor julga, ler przada de hum donaire de barbas ate a cintura.

E para que, quando à Quinta vay por g o íio , o u porcfturdia,

Eeij ao

4 2 2 M N T O

ao pobre Jofeph Damafio o doce do almario furta?

Dirá, rindo-fe, quefempre, ou já no campo, ou na rua, foy roubadora das almas, porém dosalmarios,nunca.

E para que, com maôlarga, tendoa tao breve, ou taô curta, a todos na íuamefa trata com tanta fartura ?

Dirá, que be fó manjar branco quanto a fua maó inculca; e que também, por ler breve, nos concede graças íummas.

Eu me dou poríatisfeito; e porque melhor conclua, porey, na feguinte copla, termo à minha traveílura.

H um diluvio de primores de(TeCeo,a terra inunda; na luz dos o lh os, em rayos, na graça da boca, cm chuvas.

Logre

r e n a s c i d o . 42J Logre a feu gofto quem logra

toda a vida eíla ventura; e porque a morte os naõ veja, a bcnçaõ de Deos os cubra.

J certa Senhora, cjue compadeci da de hum f e ub u r r o n u p d d, a i

3 7 ” ' y 4* • " ■ j w i j M w t tu i j n e u e u a -

tçs j e j a dctíãdo a margem 3 lhe m andou

dar hum bocado de cevada»

d e c i m a s .

Ç Enhora, em buícar faude O j para hum aího, fazeis mal, porque ha peccado beftial, e naõ ha beftial virtude; ofazerlhe no ataúde a manjedoura, faz crer, que alentos para viver lhe applicais, por obra pia; reftame, que na agonia o ajudeis a bem morrer.

Eeiij Que

4 * 4 P í N T O

Que dehum cavallo a manqueira curaficis, mais importava; e naõ dehum burro, que eftava para acabar a carreira; mas naõ íoisvòsa primeira, que guardaftes para o cabo o rcmcdio; antes vos gabo chcgarlhe à boca o conforto; que muitas,depois de morto, lhe poem a cevada ao rabo.

Hu ma Senhora taõ bclla alentos a hum bruto dá! ora o certo he, que há burros também com eílrella; cavallos vi já com ella na tefta, e bem defeftrados; mas ha donos taó malvados, que fe a morte lhos íuffbca, em vez de darlhos à boca, tiraòlhe delia os bocados.

Se a caio fó com jumentos repartis os voííos frutos,

por

R E N A S C [ D 0 . 4 2 ?

porque entendeis que nos brutos na mais agradecimentos, ji louvo os v o ílb s intentos; q u c h a h o m e m , que coices d i p o r fru to s j e efia fera a cauía , que vos m o tiv a íe t com beílâScOiiipailrmi, e o c ra h o m e n s , arre lá.

o / ic ç M d e g r , , ç j s a ccr ís F i l i l g o . q u e She deu h u m

1 ' c j h d o , í l h e ped ia} ftefisufe h u m r t t r a to

a b u m m u la to , c h a m a d o R o ld a õ sq « e

h : fined ) do C onde du. R ib e ir a .

R O M A N C E .

J A que o Senhor Dom Duarte , üiuftre Conde de Aveiras, anda bizarro comigo,

galante he bem que lhe efereva.Sc até agora o mõfazia,

f orqje obrigado naõera,Ee iiij ■ hoje,

42 6 P I NTOhoje, que fou do feu pano, quero que o meu fio veja.

E porque do pano he jufto agradeccrlhe a fineza > iflo de que faço gala, quero, que libré pareça.

Quero metcrme a lacayo, ou graciofo, de maneira, que galante a gala rompa , querafgado a libré vença.

E pois que he fó bem criado o filho da obedicncia; ferá j ufto, que lhe faça o ferviço, que me ordena.

Serviço diífe ,c he verdade, pois quefahio dehuma negra, he o R oldaõ, tenho dito; mas para entrar na matéria,

A todo o nobre auditorio, pefíb a graça, e tom o a venia» para poder, de alegria, íahir fóra da moddlia.

O

RENASCI DO. 43,7O affumpto he coufa muy pouca;

mas quero, que o Mundo entenda, fc ha Poetas para tudo, que para nada ha Poetas.

Roldaõ, flihe cà para fora, que es o nada do meu thema;p r u n h p i n f t r , r>m t-ol rlí-._ —— wii.4 u 11. v u a

cftar debaixo da meia.Ora fahc, em quanto eu tiro

os oculos da algibeira; mas ainda com quatro olhos receyo que te naõ veja.

Eu jà vi de hum pingo de agua formarfe hum Sapo na tetra, e andar como coufa viva faltando por cima delia.

Mas para a tal formatura diípofta eftava a matéria; io lhe faltava a humidade, que fenaõ vive íem cila.

Cheya de ventofidades, abortou a natureza

aefle

42$ P I N T O

a eíle Roldaõ, animado dc íóhtima mijadclla.

E aflim naterracfteoada, bullindo de mãos, e pernas, como materia difpofta, conferva a meima vivcza.

.Sn nrnirj n a lanm m n m .......o ........r--------- --- v

tomando o Sol eftivera, poftura dc homem ferio; mas feita com muita prcíla.

Sea negra mãy o levara aos peitos, ou á cabeça, quem duvida, que o caminho mais direito à prava craj

Efte pequenino monílrOj cu jurara que naícera de cachorro com bugia, ou de mono com cadella.

Quando corre pela íala, parece, todo em cambetas» hum cagalhaõ de gatinhas, que palia para a íecrcta.

Naõ

RENASCI DO. i 2gNaÓ fey, pois Roldaõ fe chama

cioiide tal nome lhe venha; porque ifib he hum appellido t que fc acha fo em Comedias ?

Salvo em alguma roldana de m o, que correo tormentap í r o n n n ,-,A~ t----- • 5VJLlt u u g i o 9

c vcyo a dar na Ribeira.Senhor Conde, cfta he a pintura*

e leem nada fe femelha, em tudo ha de eflar conforme que a coufa nenhuma he feita, *

Perdceme a demaíia, a que o dia da licença; e era precito que entralFe muito porco cm tanta meia.

43° P I NTO

Quando oSerenijJimo Infante D. Alexandre frZj o primeiro anno, Ibo celebrou huma Dona do Pa­po com hum Romance elevado, ao qualrcfpon­

de o A. em nome do fobredito Senhor, ef cri- to pelo Padre leipro Alemão 3 que ajjí-

(ha no Paro,

R O M A N C E ,

C ET amem li o Padre André, que me rdponda a cila carta ,

em que pinte a minha Dona, que pareça minha Dama.

Eu bem ley o muito longe, que he da minha alua caía» mas (e he fina nas firmezas, eu diípenfo nas diftancias.

Padre Andre, pegue na penna» e pois materia naò falta, mãos à obra, pés ao verfo, ferva a Mula, c arda a Santa.

Sanor,

R E N A S C 1 B Ò. 4 j iSenior, eu efar eilranjuroy

t non faber bem palabras de Portiguea, ; tfe r força âar na dfcterf o otro falta.

Pois vá pondo o que lhe eudi&Osc fcrá a carta mais rarar«r»rl^> ^ T»___ ________

a cik.1 UctX'UI t u g u c z a 5

Per a penna de Alemanha.Diga: minha bellaDona5

e minha aííuíTena branca, na folha reverdecida de cinco varas de caça.

Quando a voíía carta em verfo ouvi ler à minha Aya3 hquey com gofto taõ íummo, que logo larguey a mama.

Naõ cuidey, que effa cabeça amortalhada em hollanda, poeticos peníamentos tinha j que he peor que farm."

Também defeonheço aMufa, que vos íopra, ou que vos canta,

faíyq

43* p i s t ofalvo fe as nove Apollineas tem alguma irrma baftarda.

Com tanta Filofofia, hum Diogenes com faya efte Alexandre vos julga, e cflii luz fó vos tomara.

T Anrt r.nmmfnf» rnmvnirnX/V/liU J ^ *»* i —

Alexandre me moftrara com as minhas amarellas, a terdes vòs menos brancas.

Porém tal vez que eu benigno, minha Diogenes brava, ao Sol de meu pay vos ponha, em pipas de ouro, ou de prata.

E por ora, no que poíTo, hey por bem fazervos graça, de Matufalem das Donas, Melchifedech das Beatas.

Mim , que ef rever ejle, digne, eílar e/ie coZÁ rara di dar parabém íi Dona. i pedir Perdoa di falta.

A

R E N A S C I D O .

AhumaBollatinamuyfermofa, e may honrada 1

que aqm v e jo , e dançou na maromaprodi. 3 giofamente.

d e c i m a s .D Dr coufa aliás perigrina,A venha ver toda Lisboa o A n jo , que melhor voa* a E I rei la , que mais inclina, humamulher, que domina em todo o homem queavê* humaBollatina,que por alta, fermofa, ebella, em baixando de Anjo a Eílrella, a Eílrella de Venus he.

Deos te defenda da queda que te ameaça a maroma; e outra, que em boca fe toma de muita mental moeda, masquem lá de outravareda mais alta íoube fahir,

s ifíf-

4 3 4 p i n t o

e inteira chegou a vir; aqui pelos mefmòs modos, com cahir em graça a todos', a nenhum hade cahir.

Sendo a melhor Companhia, que tem vindo a Portugal,

n ofl-n /S. PTnífMfnl iw a v n a v/

naõ deu guantes, toda via; fuppofto que bem podia, pormuy branca aquella maõ, no mar delles, que fe daó, tomar de luva também; porque perigo naõ tem taõ fermofa cmbarcaçaõ.

Aos annos trim a e fe te de Sua M agefade.

R O M A N C E .

OUça VoíTaMageftade, vifto fer de annos a fefta,

que aos íeus trinta e fete he jufto entrar eu c’os meus ícíienta.

R E NASCI DO.E pois me permittee) dia

huma velhice gaiteira) v ifta-fe aq u i de verdu ra toda a minha madureza.

Efta he a minha ferenata, que em vinte coplas fe encerra,í}lnrnt-v>/-» L . r . t rV4V, ^iiiauua íuira 5 nias todas da minha letra.

O ponto eilá, que no Paço lhes dem Real audiência; e mandem deftas dar vifta aquemneceffita delia.

Mas tornando ao que mc toca»Tem tocar em otra tecla, o meu cantocbaõ profígo cm voz alta, que fe entenda.

Y iva V offa Mageftademuitos annos;porémíejacom cila mefma figura, que agora nosrepreíenta.

Vivafempregenerofo;íe A lexandre v iv e ra ,

Ff * fó

* P I N T O

íb de Vofla Mageftade podia aprender grandezas.

Viva fempre exercitado nas armas, como nas letras; pois vemos que humas anima, ao tempo que outras augmenta.

\ l iya fcrnprc imperiofoj pois Rey nenhum na, que tenha nem mais quilates defanguc, nem de ouro melhores veas.

Vivaíemprc venturofo, íem que pare a correnteza do R io de barra à barra, com que o M undo fe embebeda,

O vinho dacopla acima, porque a melhor luz fe veja, he o ouro puro, que ao quinto tributa o quarto Planeta.

Viva fempre na igualdade dos termos com que governa; pois a humildade levanta, quando depõem a foberba.

Vi.va

ft E N A S C I B 0 . 437V iva fempre vendo tudo

quanto noR eyno aconteça;

que parece que adivinha, ou he também Rcy Proféta,

V iva íempre, e nunca cance de viver; para que veja o que todos defejamos de Portugal, c Caftella.

V iva também íempre dando efmola aos pobres Poetas; que he força alentarJhe as Mufas, pois he íeu Real Mecenas.

Viva fcmpre bem com igo; que eu vivirey de maneira, que me vejaõ em Lisboa darduas figas à inveja.

V iva íempre com D eos, viva; e para ter vida eterna, viva com o minha fogra; mas naõmate como ella.

Em fim para gloria iua, viva, ereyne cana terra,

Ffij a t e

43® PI NTOatè que na paz deícance com quem no Ceo vive, e rey na.

e / í hum Roxinol, que indo a beber em hum a fonte, feafjogou no tanque delia. Aflumçto

Acadêmico.

R O M A N C E .

ACudameaqui, pela alma do defunto Roxinol,

toda a trindade Apollinea,Pintor, Poeta, Cantor.

Eouviráõhum folo tercio, com vozes de hum trino fó; que eu bem fey que tudo he hum, mas com diftinçaõ he bom.

Hecoftume nos Poetas, taòantigos, como nbs, o ufar de muita folhage, para eftender, ou compor.

Porem

4 3 ?r e n a s c i d o .

10rem cu naó cayo ncíTapor ora; vá como for,que já por eíTa verdura alguém me íatyrizou.

Aquilio de Ave fragrante,hio de canora flororgaõ flautado dc plumas c lamalhece com voz

Icm dito já mil PÒetas. c tal vez com mais primor ; razaÒ porque o naó repizo c bufco divcrfo tom. *

Q ue calla de pallaro era ninguem o fabc melhor ’ quehuma tribuna de freixo onde quem era cantou;

Era pegado a huma fontedc cuja corrente ao fom * quanto queria cantava; * hm, porque tudo era amor.

A acompanhallo nafalvá, que dava ao primeiro albor,

Ffiij mui-

440- r i N T amuitos quetiaó chegar; nvas alii nenhum chegou.

Os íeus tonilhos naó eraó deftts de rè , m i, fa, fol; erao arias naturaes de fuas compofiçoens.

Tudo bens patrimoniaes, que por baronia herdou; porfemeas nao eracoufa; por machos nenhum tal foy.

Naletra mal fecxplicava, porfer na folfa veloz;(mas outros mais racionaes fazem o meímo, ou peor.)

Eainda affim, no exprimido doí eu patético íom, lá dava a entender nas falias, da amada auíente o rigor.

Huma tarde, em que íobia mais de pontoem feu ardor, de corrida veyo abaixo, c o cantochaõ o matou.

Qucru

RENASCI DO.Queria compor mais claro,

e taò corrente compoz, que huma fraca eípiraçaõ foy meyodafuador.

Bem poderá algum peixinho, na agonia em que piou,fpftnr rl» nmíoA TV* 1C***a eftc emplumado Amphion.

Mas ha horas tao mingoadas como efta, em que lhe faltou quem naquelle grande aperto acudifle a tanta voz.

Morrendo eftou por dizer, que o PaíTaro era huma flor; foy beber, vioíe no tanque, e Narcifo fe affogou.

Já o diífe, fendo folhage, que em partido nao entrou; porém defla ninguem diga o que diz hum bebedor.

Morrer affogado em vinho, já em muficos fe achou;

Ffiiij

44 *

que

442 PI NTOque eíle paflfo de garganta tem mais corredio o nò.

Mas affogarfe em pouca agua he laftimoíb rigor; iflo hum Meftre, quando muito, quando nada, hum Roxinol.

A paflarinha viuva tanto ao defunto chorou, que fe a dor lhe dera a vida morrera da fua dor.

Aqui deu fim, e aqui jaz do valle o melhor cantor, d Alva o melhor chamariz, e o melhor nuncio do Sol.

Que-

K E N A S C I D o.' . . .4 4 3

Q uennà° htm as Freiras de 0 divellas mudar hu­ma Imagem do Senhor dosPaflos para outra par­

te, humas, que Unhao as fellas mais vifm hds* dita Imagem,mandardõ pedir ao A m e lhes

p u jje h m s verfmhos faudofos, em m ,Je defpedifiem do dito Senhor. *

D E C I M A S

E tantas íaudades tem do Senhor, que entregar vaõ

certas Freirinhas, que faõninas de Jerufalem, naõlhe eftranhará ninguem as lagrimas comoíuas, pois lendo no amor taó cruas para o Senhor de Odi vellas, lolpeitaõ, que vay por cilas outra vez correr as ruas.

Humas fe eftaõ apurando pata a xarolk enfeitar;

e aqui

4-!4 P I NT Oeaqui fo neftelugar, vaõ as mulheres chorando; outras o vaô alimpando compadecidas também; eeu conheço muito bem huma> bella em demafia,............ r ____q u e paiaici u i u m u p i»

boa veronica tem.Efta me mandou dizer,

que o Senhor a feu pezar,para cila o menear,o havia eu de mover;mas eu na5 lhe ley fazera vontade > mais que niílo;e em quanto naõ vay fobre iíto,outro, que tal vez naõ prefte,remedeemíe com efte,e deípeffaõfe do Chrifto.

íA

R E N A S C I D O . 4 4 5

A primeira Proci/ao Jo Corpo de D m dm P atri­archal , para o que fe toldarao as ruas ,e fe le­

vantou buma fermopt columnata, que hoje exijíe. Adorava o A , em Santo Amaro.

V I L H A N G IC O .

SEnhores meus do Occidente, Plcbeyos, Palacianos,

amigos, ou inimigos, que eu aqui de tudo gafto.

Attençaò,que ao Sacrament© hoje hum Vilhancico canto; íè pode a taõ alto ponto chegar omeurecitado.

Recitado. (claroDivino Enigma, expofto, occulto, e

que aos olhos vos negais, e oftentais raro; Sol, que hoje no Occidente os rayos encobris, por accidente; fahi, porque adorarvos quero tanto como a D cos homem,Santo,Santo,San to.

Aria.

44-6 p i n t oAm . Deos,homem,Divino, e humano,

daynos o pam noffò, e voffo; íedccadadiaonoflo, o voíTo de cada anno.

Coplas i. Paraquenolicencioío me naó tente aqui o diabo,Í p i o r \ m p n h w r,,p « « » m Cw tr'**-)* v *■*«-«* fW SS! 50 voflo cTe‘Deum laudamus.

Senhor, o que mais me move a fazer em vòs reparo, he vervos hoje muy rico, depois de pobre arraftrado.

Ha males que vem por bens, porque eu fey muito bem quando vos levaraó em cuftodia huns miniftros de Pilatos;

Hoje da parte de EIRey vos prendem por ir bizarro; e enraõ por ir abatido, foftes em cuftodia atado.

Porque vades bem cuberto, bem rico, e authorizado,

h o je

447RENASCI DO.hoje de todas as ruas todas as arias faõ Pallios.

Tudo vejo huma Capella, tudo hum debaixo dos arcos, tudo huma rua Fermofa, annexa à rua dos Maftros.

T -----1______________ i . i .ijuiiuiavui quanuueiiitai rerra vos negaraó agafalho, ifto fendo vòs já homem.Senhor dc tanto criado?

Vede agora os alvoroços com que vos recebem tantos, que naõ fó vem às janellas, porem vay à rua o fato.

Reparay neíTas columnas, íe íaõ porfeu primor raro, como huma, que vos deu eíTe, que merecia açoutadoí

Cà muitas ricas bandeiras levais do Povo, e Senado; e là a penas vos deu huma,Senado,e Povo Romano,

Ia

44« U N T OJàhumDragao, ou Serpente

fe vos atreveo oufadoj e aqui por vòs, deitaò fora a huma Serpe, e a hum Adrago.

Cà correis mais grave as ruas, porque íbis alcatifado de toda a cafta de íloresi c là apenas foraò Cravos.

Por Chriílo, que hoje vos vejo Senhor de grande Palacio, íem embargo que, por Chriíto, jà foíles Senhor de bafios.

Cà, Divino Sacramento, todos íaò voffos vaflallos; voílo Pam querem os homens, q u e o podem comer os Anjos.

Coplas 2 . Haverá mil fete centos com mais dezanove annos, que eftavais íem mais veftido, que hum fobre todo encarnados

p. aqui vaõ as voílas ordens tantos de berne, e de branco,

como

R E N A S C I B 0 .como em voflbs Irmãos vejo e em voíTos Padres reparo.

Aqui, por mar de coroas, c tambem dc altos, e baixos, todos vem correndo à véla, e o Sol em vòs vaó tomando.

Lá no voíío mar vermelho Sol vos viraòecliplado, correndo muitos tormenta, a pczar do Corpo Santo.

Lá vos levaraõ em tropa cavalleiros de Calvários, comvoíco lanças correndo, canas comvofco jogando.

Cà dc nobres Cavalleiros, porChrifto,e por Santiago, que hum Rey levais por Gram Meftre, e hum S. Jorge por Gram Cabo.

Eu bem fcy, que gente nobre do Oriente veyo bufcarvos, que inccnfo, e ouro vos deraó; porem com mirrha apurado.

E

4jo i t u r oEcà no voflb Occidente,

do Monarcha Lufitano> que naõ tem nada de mirrha, íois com mais ouro incenfado.

Day lhe pois tal graça aelle, e a mim jococerio tanto,

_ rC. . ___ it]U C CU p u n a lUUltAL d lu a ,

como elle ao meu tem tornado.Para que a gloria, por graça)

comvofco alcancemos ambos> elle reynando, c eu vivendo Ermitaõ de Santo Amaro.

A hm Dama, ojue trazia em hu Relogio hm Ca­vei rinha por moflrador. Afumpto ri cade mico.

r o m a n c e .

CY Ra andar, ifto ha de fer,* elcuteme quem me foírre,

callefc quem me naõ falia, c entendame quem me ouve

Dizem

R E N A S C I D O. '

Dizem que ha aquihumaDama,( tal naó ha, porém fuppoemfe) que os feus favores queria dar pela hora da morte.

Em hum Relogio, que tinha havido por certo alborque, que me naõ convem dizelloj porém foíTe o porque foíTc.

Prantoulhe huma caveirinha por moftrador; de tal forte, que a todas horas olhava o que em nenhuma ver pode.

Nao lhe gabo a extravagancia; fe ha de ouvir> íe ao ver íe moc, hum tare tafe às orelhas, e aos olhos hum foge foge.

Para jantar (naõ ouvindo o Relogio de S. Roque) ícntirá, que a morte venha às horas em que fe come.

Para Relogio do tempo, o moftrador he disforme 5

G S que

4J2 r 1 M T 0que a morte anda mal às vezes, e o tempo igualmcnte corre.

De cinza huma quarta feira verá a gente a quem fe moftre; porque hade darc’os narizes íempreem hum lembrate homem.

Reftame que haja quem diga, todo moral até os bofes, que era Dama penitente, naquelles delpertadores.

Mas eu digolhe que mente, e peííò que me perdoe; pois das horas mal palfadas he moftrador humaçoute.

E que bom efte feria para os Relogios, que ha hoje, a quem dá corda o diabo a toda a hora da noite!

Se quer imitar a aquella, que em nenhuma hora dorme> e com Rclogio íe pinta, moftrador leja huma fouce.

R E N A S C i D 0 . 4 » ,

Eemfim, fehorasdefalvaríe procura, asderezârtome;que he bom moftrador, agora, e na hora da fua morte.

Mandando E l Key dar ao A. zmie moedas por hum Soneto, que fez., ao najamento do Serenif - fimo Infante quinto^encomendou também ao

Secretario,que lhas déffe por duas addifSes.

D E C I M A S .I.

P Ntendendo fico agora, mais íatisfeitoque farto,

que cm havendo algum Real parto* tenho eu huma boa hora; fim fofro alguma demora naquelle puxo primeiro; mas logo corre ligeiro, fem no pejo haver perigo; porque me agarro ao am igo Mendonça, que he bom parteiro!

G gij V iv s

454 : ' f f S T O

•2 .

Viva quem com altivezesnefte nafcimentofezdarme duas vezes dez, por naódar vinte duas vezes 5 mas fe de hoje a nove mezes for taó duples a funçaô, que a Real propagaçaò dous de hum ío parto nos pinte , entaõ duas vezes vinte quatro vezes dez feraõ.

Na Profifio àe Ifabel Xamarra/epref,entantefa- mof * quefoj neíia Corte, e primeira Dama.

D E C I M A .

DE feguir melhoreftrella daó hoje em diftinta voz3

El juramento ante Dios Las Jirme&as de Ifabela)

4WK E K A U I D 0.no theatro de huma fella com Deos fe qucr defpofar, eem melhor papel moftrar, que foy todo o feu viverQuerer por f do querer >

Caer para levantar.

Ouvindo a huma Cantarina, 0 s ao mef me temp» ao celebrado Mod , hum duo} bom, e bem.

D E C I M A ,quafi de improvifo.

TAo iguàes prodigios fois, logrando applaufo commum,

que os dous me pareceis hum, mas cada hum valpordois: naõ vi antes, nem depois quem vos podefle igualar, fe atè me fazeis pafmar no numero, e nos primores; pois fendo hum par de Cantores, fois dous Cantores lem par.

Giij Mote,

4 J.6 P I NTO

M ote, que lhe mandaraõ gloíTar:

Fofic meu bem, mas ja agora.

GLOSSA.G Raças aDeos, que me v i ,

menina,livre alguns annos daquelles doces enganos, que tantas vezes te ouvi: he verdade que eu íenti teus rigores algum hora 5 e muitas vezes a Aurora me achou por ti íufpirando; porem foy no tempo, quando Fojie meu bem, masjà agora.

Tetl■

R E N A S C I D O .

Tetiçao, que fez, o A. à Rainha M Senhora fa- ra lhe mandar recolher jua figra nas Con­

vertidas . por brava, e defcompojla.

d e c i m a s

F \ Iz Thomaz Pinto Brandaõ, bem conhecido na praça,

que he tal a íiia deígraça , que tem por logra hum Dragaój e por quanto efta objecçaó hoje todo o feu mal he, pede, que hoje íe lhe dê (por ver fe faude logra) remedio a efte mal de logra, e receberá mercé.

Defpacho.Vifto o notorio deígarro'»

e a trifle vida, que logra quem lofre em carne huma logra, pois dizem, que nem de barro;-giiij hey

4 5 ? t t N T Ohey por bem, que vá em hum carro i e com juftíça ballante, it converter de infamante' no dito Recolhimento} que efte he o unico unguento para o mal do fupplicante.

fogio.A Dom Ç kCartinho Mafearenhas,que promet te»

ao A. hum veftido, por lhe gabar hum Por­tico novo j que feZj nafua antiga cafa.

D E C I M A.

COmo todo o Portu gal o voffo portal foy ver,

eu, Senhor meu, lá fuy ter, porque o naõ tinha por tal j graças ao louvor ,tal qual, que lhe dey com pouco alinho; porque iíTo meabrio caminho a tirarvos ,de cortez, ochapeOjComo aMarquez, e a capa, como a Martinho.

R E ÍJ A S C I D O. 451

A hum Cupido, feito de huma efmeralda. Deu-fe por afumptona aJcaiemia j ejà fe tinha

dado em outra.

R O M A N C E.Q Lhe, Senhor Secretario,^ que efíe papel, que lhe entrego, leva embrulhado hum menino de efmeralda, que he ja vclhô.

Já aqui fe deu por aíTumpto cfte, fegundò me lembro; porém naó fey das taes obras nada, fegundo me eíqueço.

He velho; mas eu por novo, e por meu quero vendello; íuppoíto que diminua o leu valor no meu verfo.

Mas ainda aílim, corra a rua até o cabo; e veremos, pois o vendo íem feitio, fe mo compraò pelo pczo.

E

460 PI NTOE entrando à íegunda parte,

ou fegundo quebradeiro de cabeças nefies cantos, fendo que he fino o tropeço.

Hum Cupido de efmeralda fe acha, por joya, no peito de huma Dama, que com ilTo hum verde nos d a ; e eu o creyo.

Se o formaííe de fafiras, dera mais luz aos enredos-, íuppoftoque menos ardaõ as efperanças, que os zelos.

Mas nemeflaslhe accommodaõ; porque o amor defte tempo he muito mais aos diamantes, que às outras pedras fogeito.

Amor nunca foy maduro; agora mais verde o temos; e a pique de acharie falfo, que também he menos preço,Se fua mãy fora viva, que diria a pobre Venus,

vendo

4 6R E N A S C I D O , vendo o íeu bello muchacho verde menino de freixo?

Quem vir aquelle feitio de longe, verde, evidrento, dirá que he feito nas Caldas’, por algum Vulcano Oileiro

Aquella eor fim he grave; masnoCupido eftou vendo parecer couve fem olho, pelo verde,e peloccgo.

Declaro,que naõ applico a nenhum efte quarteto; c affim pelo olho verde, ninguem fe faça amarello.

Fique o Cupido em romance empedernido; que quero hum pouco mais lapidallo na roda deite Soneto.

Í 5 J

í I N T 04<íj

Joy affumpto Academico, em 'Domingo Cordo, Venus jogando as laranjas com feuftlho.

r o m a n c e »

COm licença do modefto, demme attençaò ao jocofo;

que quero jogar o entrudo com eftes fenhores todos.

Porém das minhas laranjas nenhum ficará queixofo; que tudo he de Venus mimo., tudo de Cupido he momo.

Aqui a te mos em carne, e a elle também em couro, hum para o outro eíguichando, e entrudando hum ao outro.

Elle rapaz de olhos cego, e ella menina dos olhos, entre amor, e fermofura, ferá o entrudo viftolo.

Term

R E j W - A i S C l D O. 4 6 j

Tem maõ, rapaz, co’as laranjas,' olha que he tua may, doudo, que naò gofta deffa fruta, pofto que tenha cor douro.

Joga o entrudo com ella fem atirar para o rofto; que pòdes muy facilmente por brinco vafarlhe hum olho.

Porém vá o jogo arriba cà para o noífo auditorio; deita ahi quatro laranjas aos Lentes, e aos curioíos.

No Senhor Lu iz de Abreu peípega hum tiro fermofo; mas naõ lhe quebres a fege, que eu já tive della hum logro.

Foy hum bem galante paífo? íendo muitos os penofos que eu fuy dando até 0 fundo, que he dó Borratem no poço.

Onde entaõ ao meu eíguicho dc raiva quiz darhumíoryo,

para

464 P I NT Opara enfoparlhe ocavallo dc quern he am igo nos oiTos.

Que tenha faltas de befta hum homem d Hereto j e douto, pela primeira lhe paííb; a fegunda eu lha perdoo.

Ao Meftre do iado eiquerdo vá outra laranja a ponto, defpedida como hum rayo, mas naó, que o Carvalho he louro.

Pega antes no teu eíguicho, enche-o de agua, e dalhe fogo, burrifandolhe as noticias, e afogandolhe os exordios.

Alli ao lado direito atira a alguns receofos, que eftaõ dizendo comfigo, agora aquillo he comnofco.

Ao prezado de prudente, que chama aos Poetas loucos, laranja naõ, pedra fim ; que nada fazes de novo.

A

R E N A S ' C I B O .A aquelle, que efconde os verfos,

e me condemna os que cu moftro, atiralhe comhumbomtanho, mas que lhe abras os miollos. *

Aos demais, que naõ alcanças, por ignorante, ou por froxo. podes atirarlhe o mefmo, como lhe acertes o proprio.

Temos o entrudo acabado» agora, fieis devotos, demos a lavage às almas, e naõ feja tudo aos corpos.

Devemos enfarinhamos também c o Memento homo; porque c’o feu rabo leva nos naó entrude o demonio.

EíTa Venus naõ he nada; effe Cupido he humfopro; nòs naõ fomos lenaõ cinza, e leremos o que íòmos.

A

p i n t o4M

A huma Senhora muitofermofk, que adoeceo de ir ao rio.

Dialogo, cm que fallaõ Eabio da Sylva, e Sylvio do Vallc.

R O M A N C E .Tab. X /[ Edicos àfua porta!

I V 1 Sylvio, que ne ifto por càí por ventura efte prodigio terá paixoens naturaes ?

Sylv. Terça feira foy aos Loyos, e como merendou lá, diz, que de muito comer a quer Bernardes purgar.

Tab. As divindades naó comem, mente o homem, tal nao has emais que elledelia, eu delle poderá deíconfiar.

Sjh . Tal vez que o Tejo lhe deífeolhado algum decriftab

° Tab.

R E N A 5 ' C I D O ,Fab. Muitas figas para o Tejo; 4 ?

que ella o mandará lecar.Syl Naõ, que já leva muita agua

c tao preíumiclo eftá, 5depois que o pé lhe beijouquefe tem mpfírlr. ,* ' —‘ v-ív-’ » ilJCU .

Fm . As Divindades tem pés,homem, que dizendoeftais >

Syl. Aíiimtiveraisvòs boca, para lhos poder beijar.

Fab, Olhay vòs naõ foíle o Solque íequizeíTe vingar delia; que o naõ faz luzir todas as vezes qucíahe.

¥• O Sol naõ podia fer, ea razaõ bem clara eftá, porque dous podem mais que hum, e ella dous valentes traz.

Fab. Se Domingo for à Miíía he certo, que boa eftá. *

¥■ E taõ boa, meu amigo, que melhor naõ fe ha de achar»

UI, ' _ .AAU F é.

4(58 ■ r i N T ° .Fab. Supponhamos que he Domingo,

e que a eftamos vendo la > masde taliorte, que over, cm nòs id feja admirar.

Olhay aquellccabellol ha ca ftanho à aquelle igual, em comprimento, cm fartura, cem cor? naõ; claroeliá.

Olhay os olhos, que luz a toda efta Igreja daôl viltes cm todo o Occidente couía mais Oriental?

Vede aquella eftremadura! pode haver em Portugal coufa, que a íèu nariz chegue, de Hollanda, nem de Cambray?

A’ vifta daquellas faces, quem naó dirà, fim dirá, que as mais laó huma vergonha, por mais que o queira corar ?

Reparay naquella boca > já aberta,, ou lacrada já»

R E N A S C í D o. 4 <$aha mais miudo marfim? viftes maisgroflbcotai?

Vede o dedo, que na boca agora poem, com tal ar! naõ vos parece huma véh, que alliaaccender-fe yay?

V- A film naõ fora de neve, como acceza efiava já; que dc boca tal o alento era a brazasafloprar,

F d . Naõ vos parece a garganta collo deílecaftiçal, °c°ra duas luzes, que podem ao rncfmo amor abrazar?

Syi. Ocaftiçal naõfoycoufà, aqui para nos; mas và, para que os Críticos tenhaõ também em que eípivit rr.

T a b . Pda fua he que íe d i fie, querendo das mãos fallar, mò lerem iguaes os dedos; que cu naõ vi dedos iguaes.

H h ij" V ede

470 P I NT OYede os dous nevados alpes;

porém naõ, naó olheis mais; queonde naõ ha mais que ver > por força le ha de cegar.

Syl. E o pé ficou no tinteiro* porhumapennada,vá hum conceito nefle ponto, que aqui virá a fer final.

Tab. Jádiífe que pè naõ tinha, e pado naõ dou atraz:

Syl. Viífo iflb, tem mais doença, pois aleijada ferá.

Tab. Naõ, porque íe tem em muito, efobreiífoheque hade andar,

Sjl. Dizey a efie pouco, ou nada K algum conceito mental.Tab. Se a fé mo obriga a dizer,

hu m ponto de fé lerá.Syl. OraDeosvosdéfaude,

que eu, amigo, eílava já em pontos de me romper, íéacafo eííe naõ atais.

T a l.

RE rr A s c I’D 0. ->*Fa-j. Sylvio, vamoiios embora

que incyo dia dora. * 3 S jL Domingo viremos cedo

3 ver, ouvir, e eu liar.

D ; ' :í A Uítlí-Â í(í' m n v . . . . . . . . / r -c r , - . i 5"" V> TU / » r u v o ,m

' i a in cen d io . A jju m p to A c a d e m ic o .

R O M A N C E.

1- U novidade nenhuma ^ acho naEíiatua desfeita; que atéqui riaõ temos viílo amor, qucfenaõ derreta.

_E o queiraarfe hoje cm Eíiatua, naõ fey que de naçaõ feja; quefua avòfoy fagrada, cíeu pay tal qual Deoscra.

E Deos do fogo, que he outra; pois, íem elle dar licença, nem huma parva fcintilla ao filho íelhe atrevera.

Hhiij Qiiei-

4 7 2 P I N T O

Queimarfepor diminuto nao he coufa que ie crea; que amor na fe fe agiganta, quando menos íe confeíla.

DaíTc caíb, que o padrafto, que a ferro, e fogo faz guerra, com zelos do Dav. ao filho,L J 'quizeífe cahir à perna?

Seria tal vez defcuido de alguma íacriftaa velha, que deixaífe mais bugias no Templo do Amor accezas ?

Muitas vezes he inviíivcl achamma, que amoratea; e fó fe vem os eftragos depois que a cafa fe queima.

Ou feria 0 meímo Amor, que como todo he pobreza, quiz ver correr feu retrato em termos de ir à moeda?

Ou amor, que alguém teria ao que a fortuna lhe nega;

por-

r e n a s c i d o . 47?porque a hum retrato de ouro qualquer ladraõ íe atrevera.

Ou íeria huma inimiga da mãy, prezada de honeíta,de dia muy recatada, e de noite muy andeja?

Ella fi'iu r> nonJ J .xMvy W l iu a j

que já do amor nas f o g u e i r a s

o mayor tiffaó do Inferno le vioabrazar por cila.

Em fim efteamor foy Troya, em que n a ò entrou Helena; queldEilippa Ferraz por amor de ouro fe queima.

A mor deu no fogo às azas, c oxalá naõ renaícera; que eftc Feniz, para muitos, por donde acaba> começa.

Amor com ouro íe apura; amor com amor íè aperta; amor com neve fc apaga, e amor de fumos fe apega.

Hhiilj Toy

4 7 4P I NTO

Toyafumpta tAcademico murcharem-fe as flo­res ele hum jardim, por onde hia pafan-

do o corpo defunto da Infanta PDona Joanna.

R O M A N C R

CEgamente a minha Muia hojc dcfta Santa reza,

affim romodc outras canta, de copias huuia novena.

Eu nas nove lhe acho conta; c fe cm dez myfterio encerra, por mais cinco dolorofas, íejaõ quinze as que offersça.

Mas a devoçaõ perdoe, que a obrigaçao he primeira» c antes que toque na Santa, bcllifcarey na Academia.

Fazer quero huma pergunta no enterro defta bellcza;

c he.

R E N A S C ! O O.c he, que caminho faziaõ pelo tal jardim com ellaí

Se lá tivera o jaz ig o , fora direcção difereta, darem fepulchrodeflores a quem foy a vida delias.

Masiá vnin nnom. J ) -_-------U 1Í.C I11,

que era ju ílo (e eu o diílcra) aicatifaríe de rolas quem hia apizar eflrellas.

E era acerto , pois em vida eífe o íeu paffeyo era, que pelo mcfmo caminho foile acabar a carreira.

Defta natural deígraça era confequencia certa o defmayarem as flores, vendo morta a Primavera.

M oftraraõ , que noinfenfivd tambem cabe a reverencia, pois paífando a mais fermofa, abaixaraó a cabeça.

47J

E

P I N T O ^E fc todas íc fccharaó,

iík> he jáu fo n a terra, que morta a D ona da cafa, fechao-fe logo as janellas;

N a gallaria das florcs ella era a fua Princeza; e o feu no jo , n^o podiíió tom allo de outra maneira.

D o jardim as campainhas tocarao; c logo à preffa deitou íeu capello abaixo a Dona Branca AíTucena.

Ficaraô daquellc fu f to , c daquella dor funefta, amarellas as coradas, defuntas as amarellas.

E até das mais perduráveis, cm razao da natu reza , vendo m orta a M aravilha, nenhum a quiz fer Perpetua.

Por fer republica fu a , era preciía obediência,

que

r e n a s c i d o . 4~7que feu corpo acompanhaííe do jardim toda a nobreza.

E como as tinha criado, tiveraõ por couía certa o acabarfelhe o feu m u n d o , cahido o feu Sol à terra.

s \ r \ 1— - ~ v ™ ,vl4LV ao v ju t , u a v iU iS

roraõ íuas com panheiras, o foraõtambem na morte; morreraõ; requiem eternam.

AhumaDama desfolhando hum Gyrafol.Foj afumfto Academico.

r o m a n c e .

Ra já aqui efta rád ita ,^ e eferita a fabula toda da prefente desfolhada D ona Clicie, e bella Dona.

Jà também viria à balha aquelloutra a cila oppofta;

íeni

jj'8 • U N T O' fem embargoque adore efta

o que defdenha aquelloutra.Huns dilcretas as fariaõ,

outros lhe chamarão tollas, por verde huma todo o anuo, outra todo o dia loura.

T? l!..'. .X m m fA CXj UII litU lülHütu* iuwílv jmudando de vida, e forma, que,íc fòraó convertidas, fòraó tambcm peccadoras.

Porém cu > ou por faftio, ou por vir com coufa nova,Gyrafol, Clicie, nem Daphne quero que me entrem na boca.

Vá deaffumptò, ou de argumento ícm queftaó de nome agora, i anto o da planta Apollinea, t omo o da flor Apollonia.

Cá verey outro epitheto, que ao tal cafo correfponda; naõ irá t a m b é m veftido, porémícrnpre hade ir em folha.

O

RENASCI DO, 4»*O monftro da Guadiana,

dos junquilhos a arromba; gigante dos malmequeres; e o Prometheo das eíponjas.

O fugareo com mais rayos> que alguns da Mifericordia, rwiuau, Ljuc vay acuante» na prociílao das papoulas,

O corredor a pé quedo, peaõ, que de mayor joga; que dorme íerenamente,e ao íahirdoSoI acorda.

O Ándador na Irmandade das flores; e nas galhofas, o amarello vay nà dança, que dá a mais luzi da volta;

Piloto em floridos mappas 9 que de contino o Sol toma, bufcando amayor altura para onde íempre emproa.

O refplandor dos canteiros, das flores a palmatória. ;

*8® P I NT ®e dosbravos de defuntoo tumbeiro,que os encova.

Deixo outros muitos rebuços; que fe a defcobr illos fora, tinha pano para mangas? mas baftaõ eftas amoftns.

Em huma manháa de xvíayo, indoaDama acolher rojas (fe he que a dobrailas naô hia com as íuas plantas proprias.)

Deu ofeutiro de viftaa aquella quadra fermofa,e achou, que a amarella eftava com mais cuidado ao Sol polia.

Cbegoufe a ver o motivos e vendo a pouca vergonha, arrancoulhe a confiança, deitoulhea prefumpçao fora.

Colheo-a affim porelcarneo; mas de veras caftigou-a, porque a hum Sol ícguia> tendo nella dous àeicolha.

Po-

R E N A S C I » Ó. 481Poderá reparar nelles,

que eraõ de luz mais viftofa» nem fey como a outro via, fazendolhe eftes dousfombra.

O certo he que eftá cega quem fempre para o Sol olhasP n r V f n n c r n I k o ~ v v ^ a l u v ^ í u w j

que o nao faria por torta.Em fim, efta A guia das flores,

que mais ao Sol le remonta, ícaro aos olhos de Filis já íe defaza, e fe proftra.

Pegou nelle a dita Filis, e diíTe, puxando em roda, mal me queres, bem me queres, mal me queres í vayte embora.

Foyfe, e comclíe o affumpto;, dando fim aqui a hiftoria defle alarve, que ao Sol gyra, e da Dama, que o desfolha.

Menina, quando com flores, quizcr cílarociofa,

ponham

, P I NTOponha-fe a romper hum cravo, ou rafgar huma viola.

Toy afiumpto Academico eflarem hum Mintjlm la cm talparte para fenunciarem d. morte a huma

Dama, que ejiava com o rojio cuberto, e hum deiies que a conhecia por muyfermoja, cha­

mado Pericles lhe defcobrio a cara, que hafiou para todos lhe perdoarem.

r o m a n c e .

D Emme licença, fenhores, que efte calo me provoca,

antesde entrar na materia, aqueixarme nefta forma.

Todos fabem que fou leigo, como dos meus autos confta, falto de muita noticia, para fazer duas trovas.

Se o affumpto n a ò declara o íücceiio, e ló o aponta.

cu

K E If A S C I O 0.cu, que naqpenetro livros, heide adevinharhiftorias? ' ;

En, que aqui muy por meu gofto venho com a minha obra, heide bufear, tendo a alhea, exemplo em cabeça propria ?

r n n rm r» n . io -1A«W IJUV C lU d lll lC lll

que extraordinario difeorra; pois quem naõ fabe o caminho, he precifo andar à roda.

Dá hum M eftre poraílum pto, verbi gratia, huma fermofa, a quem defende Pericles, com lhe deitar o vèo fora.

E u nem fey que culpas tinha cíTa bella matadora; nem o defeargo que dava, nem quem lhe fazia força.

Dizem que com darlhe vifta, todo o proceffo foy droga; e mais me obriga eífe term o a que duvidas lhe ponha.

l i Sei

4$ 4 - P 1 K T ®Secomavifta matava

effa Dama por fermofa, tambcm mataria gcnte devifta.fefoífè torta,

Naô foy graò coufa o aífoante» valhame Deos, que naõ poffa eu ufar do entendimento fcm taõ velhaca memoria!

Mas tenho alguma deículpa, que como ha em quem me exorta» também menina cuberta» cuido que ao affumpto toca.

Efta Dama por ventura furtaria alguma couíaí que ha muitas, como das almas, dos almarios roubadoras.

Andaria algum cafado por ella fóra da conta, e que. vieíle íobre cila algum efquadraõ de fograsí

Fugiria ao pay de cafa, por traveíluraamorofai

í i ip -

R E N A S C I 0 9.fuppofto que a boa filha femprcparaeafa torna.

Calcaria bofetada em rofto algum de vergonha?(que as mãos brancas deíTe tempo inda faziaó afronta.)

te™ ~ ~ w i ~JUV-lll p u u iü i^ L IUUU lllU jmas nada difto me toa; aqui ha carta cuberta, e naõ hc de ouros a fota.

Se elía levava donaire, fabida eftá toda a hiftoria;(porque com elleaté asfeas, por vida minha, faó boas.)

Foraò alguns pataratas, que por fidalguia moça correrão atraz daquella, por ver íe era como as outras.

Ella entaò, puxando o manto, valeofe daquella porta, que era a cafa de Pericles, c foyfe entrando até a alcova.

li ij Elks;

■ 485 p i N T o _ .Elies, faltando ao refpeito,

de que a caía era acrédora, a traz della febotaraó a quatro pés, pelapoíta.

Pericles todo afluftado, cuidando que era outra coufa, foy a defcobrirlhe a cara, e fez humaafneiraboa.

Porque aííim que dies a virão, cviraó que era rafcoa, derao todos ao chichello, e el la também deu à folia.

Bem fey que era o defcobrilla cm tal calo maò forçofa, porém íempre fcarrifcava a perdella, com repolla.

Se lhe tirara o donaire, antes que o véo, melhor fora; que fem elle naõ he nada, a que com elle he mais fofa.

O diabo trouxe ao Mundo as quatro varas em roda

deíla

R E R A S C ! B f tdelta tentaçao de barbas, até à cinta corriola.

If to he luppoíiçaó m inha, que golfo de fazer coplas; porque por muitas que faça» íèm pre me parecem poucas.

\ / í l C Cf* o í-vi r s~> t v » J

era Sol, era Alva, e A urora, andou Pericles diícreto emdeívanccerlhe afom bra.

P orque com feus bellos rayos, ou cegaífe aquellas gorras, ou clemências lhe influiíle, que naò votaffem de forca.

A s armas da fermofura baftaraó, naquella hora, para vencer toda a gente, que por cila ficou morta.

4 ® 7

Iiiij rà 9

4 88 P T N T O

Jo R(J Seleuco,quando mandou tirar hum olho d feu filho, e outro a fi, por nao violar a lej.

^fiumpto Academico.

r o m a n c e .

SEnhores meus, aqui venho, nunca como hoje taò prompto,

de clous impulíòs movido, que abaixo feraó notorios.

O primeiro he confeíTarme do quanto andey ociofo, iem aprender a Poeta,tendo principios de doudo.

Que andey muito mal contetlo, mas de andar melhor proponho 5 porque da aufencia o repuxo me farácreícer o arrojo.

Tudo foy por minha culpa, e por tanto peííb, e rogoa vòs,Padre Lente, agraça,e a vòs, Meítre leigo, o abono.

R E N A S C I D O .Oiegundo impulfo healheyo,

dc que eu faço affecto proprio, nafcido em outra vontade, e criado no meu gofto.

tílc fez com que eu vicíle fallar ncíteaíFumptoheroico, que íica a perder de vifta com os mais, por /er dc tortos.

Já vejo ( pois eíte cafo vem para o que eu quero proprio) que hade eftar alguém tremendo, cuidando que lho accommodo.

Alas ein materias de aggravo, he taõ fidalgo o meu odio, queíe ralho quando quero, naõ me vingo quando poífo.

E porque eííe tal objedo, nefta pintura que formo, coin a caul a me naõ tente, demeyoperfil oponho.

Naõ me bulia co’ a cabeça, deixc-íc eftar dclíc modoj

li iiij que

49® P I N T 0Jque eíTa rua da ametade na rua direita a efcondo.

Agora que já naõvejo effe tal, que íempre ouço, livre eftá de que lhe metaa hiftoria por hum olho.

Diz que era numa vez Seleuco, Rey, por força M acedon io > como confta do affoante, a folhas verfo jocofo.

Efte tal Rey tinha hum filho, taõ travefio, como moço, adúltero em todo o cafo, e a toda a ley deícompofto.

Paffavalhe o pay por muitas; até que de huma raivofo, mandou que fe lhe tiraífem, falva tal lugar, os olhos.

Pedio vifta da fentença, requerendo-a pelo povo; o pay já queria darlha, mas punhalhe a ley cftorvos.

Coíü

R E N A S C I B Õ i i jp jCom tudo, ou já por livrarfe

do tumulto populoío, ou para moítrar a hum tempo o jufticeiro, e o piedoío.

Ordenou ( como peíToa, que faz, e padece) logo,nnplinm n11k«VAUIU au 11UJU LUdUCUJje a elle vaíàflem outro.

Que aífim ficava a ley fixa , os vaífallos fem iobroço, o Reycom hum olho menos, c o filho emfim fem hum olho.

Notável caio, a íer certo 1 mas creyoque he fabulofò? porque Rey fó Alexandre me lembra que fofle torto.

A hiftoria naõ diz mais nadai eeu a ella me reporto, com medo de algum Seleuco, que citará neíte auditorio.

R i

4 9 2 P I S T O

N a mefma A cadem ia fedeu tam bcm fo r affim fto, que indo E lK ey D . Ajfonfo H en rique fa r a San­

ta ré m , aonde efiavados Mouros, affare- cera huma Eflrella nova no Cto.

T? r* T u a c i / L C I 1VJ. X&. cj.

EU já fiz ao outro Rey hum Romance tal, ou qual,

agora ao de Portugal com maisrazaoíervirey;Decimas tribu tarey de caía, e com mais maneyo; fem embargo, que rcceyo, que as taes, e o Romance junto, com terem dous Reys de affumpto, naõvalhaòreale mcyo,

Que lá no Campo de Ourique fobre aC,arçade huma Cruz aviilaííc a m elhor luz EIRey D, Aftbnío Henrique,

baila-

R E N A S C I D O .baftamc que o juftifique o ettrago de cinco Reys; mas da Academia os papeis dizerem, fem mais cautela, que cm Santarém teve Eftrella; am im naõ; aos infiéis.

Contra cerra como aqueiia, p o r mais que foffc opportuna, hum Rcy dc tanta fortuna efcufava ter Eftrella; nem podia naícer nella A ftro de boa feiçaõ; eíc com adivifaò me arguir o Senhor Lente, eu lhe concedo o Oriente» mas negolhe a appariçaó,

49?

Â

494 p i n t o

A hutna D a m a n o iv a , que eft ando para fe rece­ber, naoquizj deitar hum vc ttid o n o vo ,que

’ tinha fe ito para ijfo. Aftum pto Academ ico.

r o m a n c e ,

EU já fiz o meu Sonetodefte aftumpto, mas naó baila,

porque quero dizer muito, inda que naó diga nada.

H e verdade que em poefias ( fendo o cabedal de cafa) dous Romances me naõ levaó o que hum Soneto me gafta.

Porém bufco nefta ordemregra menos apertada,donde, a pezar dos Miniftros 9 fem vénia,vá,entre, eíaya.

Já aqui teraõ defte aftumptoas orelhas mart ciladas;

mas

r e n a s c i d 0.' mas ao menos quinze coplas poragora haõ de aturallas.

Cortar, pois, de veítir quero a cita noiva, ou eíla Dama,que naõ achou a feu goíto Iem duvida a outra gala.

Jáfeíuppoem nnç teria eflè dote que bailava, para hirà face da Igreja bem prendida, aíeratada.

uppocmíe também, qUe 0 noivo nao era tao patarata,que quando faltaffem fedasnao foile empenhar as barbas.

Com tudo achou-a deípidaj mas nao a apanhou defcalça;nao quiz o veílido feitoporquerer íó feita a cama5.

OgibaÕ tinha efpartilho, barbas de balea a fayaj aquelle com muito apertoe a outra com muita larga,5

Eila

49Í

.0(5 P I NT 0Etta em leis varas de roda, •'

aquelle ero cinco de ataca, que gaftava hu m dia inteiro* e horas da noite levava.

Com o ifto decafamentos diz que hum anno fó tem graça, ella naõ quiz, perder dia, porque lhe faria falta.

Pois todo o mais tempo he culpa que a mulher, e a fogra cava ao pobre marido, e genro> em naó goftar paõ de cala.

A mãy bem quiz perfuadilla, dizendolhe: Marianna, naõ deis que fallar a o Mundo n o examinar das caufas.

Deitay o voííbvcftido,(aya o f a t o à rua ,íàya, olhay, olhay para o noivo, benzaoDeos, he huma prata!

Se vedes nellc algum geitode faltar ao que Deos manda,

R E N A S C I D 6.eu graças a Dcos fou foèra, Wbemfeycomofedeicafa.

A iftp acodio a filhai roay, eu na5 eftou amuada;tenho üm muita vergonha,eíodiíTofaçogaJa. &

-B e lli Íp v m i o rt Mi i «... - i. t

bem % , qncos olhos convida-porem naõfcy que lhe faça

Etdmouemnaõveflíríe, no que andou bem acertada-queemtaldianaófevefte antesfedefpequemcafa. *

Era demais o artificio em quem natural moíh-ava com mil donaires hum corpoe huma gala com mil almas *

Onoivoaífinia cozia, eie a queria adubada era íó pelos da boda/que por fi corrente èftava,

J í

4 9 S ’ P I NTOJá eftou vendo qne me argúem,

faltar das quinze à palavra; porém perdoarme podem os fobejos, com o faltas.

Efe naõ y ao bem veftidas, ind oco’ affumpto cafadas, tenhaô, como a nolTa noiva, recebimento íèm gala.

Ahuma noiva ,que indo a beber apiia diAnte do

noivo, fe perturbou d e f me, que lhe cahio o púcaro. Afumpto nAcademico em occa-

(laõ,que o A . tinha feito hua aufencia.

r o m a n c e .

SEnhores meus, aqui venho mefmo de meu motu proprio,

como bom filho,que fujo, porém para cafa torno.

Bemfey que fuy hum velhaco cm haó querer, pteguiçoío,

aprcrn

R E N A S C I D O. A0Ü

aprender a íer difere to; 499mas defculpcmeo Ter tollo.

Já aqiii me hia deijfnando a lotTcadas dos doutos; já aqui era introduzido cm materias de mioilo.

Aqui ETranneev o mifTAp c nenhum era de hum olho, hizcndome todos graca de que as graças rendo a todos., Ecmfimncftamefmadaflc a vifta defte auditorio, foy a donde levcy prêmio, t â õ certo como hum llclogio.

Poi em íe eu nao íbííe inurato naõ podia fer ditofo; b 3 que anda efte àquelie annexo» e he hum do outro acceílorio,, Mas também daqui, meus amos, v que tudo tem feu diíconto)faquey hunstaesinimigos,que me podem dar dous roncos

Kk E

goo P I N T OE metc-íe ao mar comigo

qualquer Poeta do troço, que pofto que nada nada, com tudo, eu também me affogo.

Mas o paffado paffado; já a mim meímo me recolho, já pazes com todos quero, perdoem-me, que eu perdoo.

E entrando agora no aílumpto, diz, que era huma vez hum noivo; efte noivo eftava à vifta da noivaem certo eferitorio.

(Nem era fenaõ em falia, mas oaffoante he forçoío; e eu nunca reparo muito no que vay a dizer pouco.)

Hum em outro transformado, embasbacado hum no outro, fem peftanejar eftavaõ affeáando o vergonhofo.

Ambos lá por dentro ouvindo o que fiúlavaõ os olhos.

ambos

RENASCI DO.ambos de cíperança cheyos * e dc poíTeícquioíos.

Pedio a noiva cm fim agua e deu lha huma Dona logo, com duas toalhas feras, humanas mãos, outra ao rofto.

—tzem-mc que era de vidro o púcaro, que eu naõ cozo; íalvo^o Romaõ naõ cozia, ou naõ fiava o feu forno. ’

Pt gou nellc com melindre, por final que entaõ o copo, pofto que tudo era prata em melhor íalva o vi pofto.

Ifto acima foy folhage, dc que nenhum fruto colho; pois íaõ de mais cinco dedos, em quatro pés ociofos.

Sim tinha a fegunda íalva feitio mais primoroío, prata batida era aquella, mas eíla era feita ao torno.

KKij

JOI

Hlo

, f t l ■ P T N T OIfto eftá mais comizinho,

com naõ ter nada de novo, mais que acharfe na tal prata, pouca liga para-noivos.

Foy a beber; porém vendo,que era para tanto fogonnnra aouplla aoriíi. de raiva 1---------------- a - — 'deu no chaò com agua, e copo.

Eníòpou todo o donaire, para mayor defconfolo; í iippofto que muy enxuta ficou de fazer íeu gofto.

Seefta tal moça erafea, e fe vio na agua, bem poffo lupporque quebrou o eípelho, que lhe fazia mao rofto.

E também, fe era bonita, quereria ver,lupponho, antes o rofto quebrado, do que engollido o fermolo.

Porém o mais acertado (com ifto concluo) e provo,)

R E N A S C I D ô,he que a noiva íede tinha» jmas era de matrimonio.

A hum*fonte, que fecott, tendo em cima hua ET- tatua de Cupido. Foyajjumpto Academ ics.

R O M \ TVT T7— - — A*. %_J | ^ (

A Y de ti pobre Cupido,f * 30 rigor de hum Lente expoílo! letnpre a ruinas aíTumpto, fempre a Poetas deftroço!

E ylo huma eftatua de pedra, eylo huma figura de ouro, eylo decriftal buhido, eylo de pao carunchofo.

Eylo logo arruinado, eylo derretido logo, eylo quebrado, de parte, . eylo queimado, de todo.

Eylo quente, eylo fiambre, eylo fcco,eylo de molho,

KK iij eylo

£04 P I NT Oeylo de oíTofem tutano, eylodecarnefemoffo.

Eylo nü,eylocuberto, eylo vcftido, eylo roto, eylo pobre, e eylo rico, eylo cego, e eylo torto.

Emmilvifages ovejo , fo à abatinaonaó topo; que eu bem quizera capallo', aver fe lhe punhaoolhos.

Tudo ifto por elle paffa; agora temos de novo, depois de fome abrazado, moftrarfe de fede morto.

Vendo pois, que a correnteza era exercicio ociofo, fufpendeo-a, por fer pouca agua para tanto fogo.

Masconfole-fe C upido, que tem niílo outro Deos focio; pois no Terreiro do Paço o mcimofuccede a Apollo,.

I f t o

R E N A S C 1 D Ò. ; o f

lítoheõquefeydocaío; Jperdoemme fe foy pouco, quetambemiou fbntefeca, ondeha de Jetras hum poço.

Em outra íerey mais frefco, que haõ d e dar como fupponho,“;gu 115 C upido efgu ichando *E para D om ingo Gordo.

A h u m a y ue aP ag ™ W luZ i com b u r n t■Roja. Afbumpto Academico,

R O M A N C E .

C Ortecafo! raroaffumpto!* fer0 affom bro! CnRe hiftoria i eomiieravcleftado, a que chegou huma rofai

Que feviffe desfolhada,rota, e botada por portas,arrem eçodehum bafculhoj 'deíprczo de huma vaçoura.

K K i i i i Q u e

$ a 6 H S T oQue foffc deitada à rua,

que cahiífe em hutna poça, que a nao ergueffe hum m oxilla, que a pizaíle hum mariolla.

E depois defta immundice,que alevaífe, mal cheirofa,nn humaranderanoans mares.— . - D — -------------- -

ou hum ribeirinho às coitas.Y á , pois tudo em roías fe achas

porém nenhuma atègora foy gyraíol da candea, fendo de murraòefponja.

Se defmayada eftivera, queimarafe muito emboras mas fendo roía encarnada, foy muito pouca vergonha.

Eu bem íey, que diraõ muitos, pois para tudo ha lifonjas, que efta rofa apaga velas, foy hum aííopro de Flora.

E que também terá dito alguma Mufa j ocofa.

R E N A S c I a o. f 0 ,quearofafoym aõde judas, J /deixando em trevas a Dona.

Mas eu toldande a materia, iiquidarcy noutra fórma; eque affogarie em azeite, direy, que he morte de borra.

ManHuraíUtio ___,: •-----i j u i i i v.dUUiCUOa Cita Dama, coufa boa;.(ifto he íuppofiçaô minha, quetalnaõha, nem poríombras.)

Tinha-o em cima da mefa cheyo de azeite até aborda; por finai que entaõ eftava brincando com huma roía.

Quiz efpivitar com ella,c quiz por candea nova , porihe com galantaria, hum atiflador em folha.

Vendo que nem hum mofqifitohavia que andaílèà roda,quiz que ella foílè nas luzes,das flores a maripoía,

jo8 P I NT ONa cafa onde a murraô cheira,

queimar alecrim he força; ella, hum fedor antevendo, anticipoulhe hum aroma.

O que era do ver de pezo, quiz a Dama neíTa hora, fazer azeite rofado; que heboticariafamofa.

Que a Dama huma luz perdeíTe, ehuma rofa pouco importa, fe em feus olhos, e fuas faces tinha diífo muita coufa.

Mas efta Dama onde haviao roías, e luzes de fobra, porque as fuas íó brilhaífem, fez bem deitar outras fóra.

Cor de rofa naõ queria, porque a tinha em íi fermofa, • variou em cor de fogo, ou rofa feca a efla hora.

E bem pòde íer que a Dama fofle alguma pobertona,

que

R E N A S C I © g;cjue mais o cheiro quizeflè do murraõ, doquedaroíà.

Que por naõter xtiais azeite, roíle a poupar efla gota, que fe deitaíTeásefcuras, e coni arofanaboca.

Tenhaaoa?ado o rliirm-rx baila de canclea agora, *que outro farol íc levanta, a quem muíaem flor aiíòpra.

A° Padre Bartholomeu Lourenço, lendo m Academia.

D E C I M A S .

X /f Eu Padre Bartholomeu, A»-ieu,fegundo o meu fentirna5 vi outro maisTobirde quantos vi voar cu: o conceito he como meu,que o naõ pude achar melhor;:

porém

í j \0 P I NTOporem fe com o Orador tanto fabeis levantar; jaaõ.me deveis eftranhar que vos chame Voador.

Tanto ao ar vos remontais, que com delgadas ideas fazeis de alcunhas plebeas antenomafias reais; e pois vos avifinhais mais aocelefte fulgor , ferá tyranno rigor, que eu também no arnaõ falle, e que na terra fe calle que he huma Aguia o Voad or.

Quem mais voe fe naô vé, e fe na quem diffo íe gabe, atégorafenaõíabe, que caftadepaflaro he; íó vòs, de vifta, e de fé, fois quem logra efle primor; e pois taõ alto louvor naò ha outro a quem fe applique,

RENASCI DO.fera força, que eu publique, queíovòs íbis Voador.

Por força do voflbeftudo,porgeito do voífo eftado, para tudo fois azado, tendo penna para tudo; eaíTim i_— .. . j lv_, 1Jclu muuuno eftranho do meu louvor 5 ecntendcy do meu amor,(íe o naõ tomais por labeo )que até chegares ao Ceo, ’haveis defer Voador,

i n

TM a n i. %. J.

J12 PI NTO

C iCandott huma Freira o Motefeguinti,.

Mote.

Duas noites ha que f who,auc Portas de nacar auebroi 1 * 1e com ehoneiros de aljofres campinas de rubis rego.

Gloíla ao Divino,

HE tempo de levantardo erro em que quiz cahir;

que fe na culpa dormir, poflo na pena acordar; oquemefazeípertar em lethargo taô medonho» he, que dormindo me exponho a ficar em lono eterno; porque co’ as penas do Inferno d u a s noites ha que Sonho.

Nm-

r e n a s c i d o ; , , ,Ninguem me queira arguir á

de que em fònhos fe naó crè;porque cfte tal de crer hequepòdc certo íahir;e aflim mc importa acodirao perdaó, que em Deos celebro tendn e m r*™,, _.v_ _ . *™ pwiuurcqucDrocom que a fua ira abato;pois íey, íe nos peitos bato, que portas de nacar quebro.

S e o que nos homens fe encerra iaofonhos de prata, eouro do Ceo bufeando o theíouro ja deixo a mina da terra;e fe o que cava quem erra íaõ íò mincraes enxofres, rompao-fe logo os dous cofresde meus olhos em dous fiosde pérolas, com rocios,e c°m choveiros de aljofres

Voumebufcar, porfagrado,ctrxmcus enormes delitos

a mi*

,514 . . P I N T Oa tniíerícordia a gritos, de C h r i íb Crucificado: meu Senhor, meu Deos amado, de meus olhos doce emprego, chorofa a voílbs pés chego, íó por ver, em íanguc tanto, íe com dilúvios de pranto campinas de rubis rego.

Toy ajfumpto zAcademico huma moça, tp vindolhe noticias de que era morto hum amantç, que tinha

no Brafil > fe vejlio de luto com capello; e che­gando-lhe outra noticia mais certa, deque

era vivo 0 tal, cahio morta, e morreo para fempre,

R O M A N C E .

A Q ui venho, Senhor M e lire, quero d izer, aqui to m o ;

naõ a ouvir o que d ig o ,mas a fazer 0 que ouço.

Ouço

n E E N A S C 1 D 0. . . .'-Juço, que eftaõ neftaclaíTe * 3

poi hum Meftre, em tudo douto equívocos prohibidosj ’

nemuy bem fcitoj eu iholouvo

imsm a 8UnS|hcPenircnciaimascucomtalpaixaÔfoleo;Puuiao vero s arraílados~ u n i q u e a cada paflo topò.

tq u iv o c o fo y ; mas paíTc,cupromcttonaõdaroutroic te nao cah io de fraco, efcorregou deforçofo.

Nao fallarcy quanto quero,pore tu direy o que podo; ura, que temos para iflo m uito bom aíTumpto, cnovo.

-c°y o caio, que humaDamanamorava a hum pobre moçoque nao u n h a mais officio, ’ queaquelledoí, ociofos.

Ella toda era bizarra, toda dc m anto luftrofõ,

roda

,1<5 P I NT, Otoda em feu garbo vethda, toda calçada em feu ponto. ;

Os pays queriaõ cafalla, mas naõ levavao a gofto, que foíTe com tal fogeito, porque achavao que era hum doudo.

Ellc era muy bem prendado; íb lá moftrava em hum olho hum quafi nada dc geito, que naó chegava a fer torto.

Mas, fehey de dizer verdade, deftes amantes oeftorvo foy como dos de Tervel, fem tirar, nem pôr, o proprio.

Porque também cà a pobreza, mas que feja em alvo, elouro, firve de efealon obf :uro aàonàe trofieçan todos.

Pedio que lhe deíTem tempo de andar pelo Mundo hum pouco, ou a morrer decançado, ou a viver de gottofo.

R E N A S C I D O .

D eratnlho, de hum a viagem ao Braíilj c foíTelogo cavar com o hum negro às M inas nas lavras, ou quintais de ouro.

Embarcouíe odefgraçado, atando os íeus pobres m olhosem íepaiir r!n m 1 f-rr\nO v uuaildjque eci todo o feu negocio.

I üic n v in d o dahi ah u m anno noticia de que o tal no ivo , cavando na fua m ina, íe enterrara no feu fo ílb ,

f o y na m oça tal o pranto , que diz que chorara em tom os; ao que m il duvidas tenho; mas ainda lhas naõ ponho.

D em onftrou o fen tim ento , com o quem perdera efpo ío , com toalha de v iu v a , m uito de bico revolto.

Sahio deíaya de rabo, com duas varas de rodo;

Eli] efeu

£lS P I S T Oe feu donaire de barbas até a cintura de bordos.

M as, dandolhe outra noticia hum feu vifinho piloto,(•que o tinha a elle levado) de que era v ivo o tal morto.

Sorrio taõ contrario cffeito nefta Dama, que o fupponho mais accidente de raiva, do que eftocada de gofto.

Cahio no chaõ de repente, e eftrebuchou de tal m o d o , que por mais que a defumaraô, naò deu de fi nada o corpo.

Paradifcorrer nocafo, oqoeentendo m uito , ou pouco; a Frey Frade a graça p e íío , e a meu Meftre a vénia tom o.

Da-fe caio, queeftaDamativeffe acenado a outro, por divorcio de futuro,dc prelènte ou tro conforcio*

Sena

RENASCI DO.Seria paixaõ que teve, y

por ver que andava o tal tollo pafíeando de morgado, com longes de m atrim onio ?

Sentiria deftoalharfe, porque o efpelho enganofo lhe diíleíle nnr* n mnolUlhe fazia melhor roftoí

Teria algumas cofturas efta moça no pefcoííò, onde tal vez a toalha lhe tomaria eíles pontos?

C ontarlhehiao marinheiro,, que noBraíil tinha o noivo algum emprego mulato, quando naõfoíTe crioulo? ,

M as ifto para ma talla naõerataóvenenoío; >fuppofto morraõ algumas de indícios menos fuppoftos.

Porem naõ foy nada difto, que amor nclla era extretnofo;

L liq cie

510 P I NTOe íe ha goftos que daó vida, tam bém ha que mataõ goftos.

Chegoulhe a amada noticia , fobiolhc o flato am orofo, afogandolhc a alma cm fum os defl e am or no purgatorio.

Q uiz m oftrar Filis aufente, naquelle pafmo faudofo, como por Fabio m o rria ; e m orta m oftrou o com o.

Iflo he o que me parece; íalvo outro melhor miollo dos que com nome hoje exiftem nefte A nonym o auditorio.

Ahum Cego notavel, que foy Lente neílamefma Academia dos sAnonjmos.

D E C I M A .

I Efus nom edejefus!ifto hc coufa que íe crear

q u e

RENASCI DO. f z ique homemfem livros lea! que hum cego tenha talluz! jurovos porefta* que aos mais dos Lentes dais mate; e Orador mõ he, he orate, quem naõ confeílar propicio,nno »-»->oio i * • •lí,a‘3 '-fgu ao in itio , f o i s D o u to à na tiv ita te .

Abam Fidalgo, Cjue lhe mandou meja ekz.u m melões letrados,

D E C í M A.

A S graÇas vos podem dar J 1 eftes í eis, meu Dom Rodrigo, porque fabem: mas que digo, lè mais me importa ca liar? *outros íeis podeis mandar, taõ letrados como eu vi; earrezoaraô por mi, autuando o termo voíTo

Lliiij o que

f l i P I N T U

o que eu fallando naõ poflo, ecallados elleSjfi.

Mote.

'Defgracas , que me quereis>

vjiuucn

DEfgraças, fe o voffo intento naó he matarme de todo,

e quereis por effe m odoapurarme ofofrimento;creyoque do meu talento muy pouco, ou nadafabeis; vinde muitas, fe o fazeis para de todo acabar me; e fenaô quereis matarme,Defgrafas, que me quereisí

R E N A S C I D 0. y j j

'Ahum Relogio de area, que efta era das cinzjts de hum Bafaljf :o; e foj afiumpto Academico.

e p i g r a m m a .

r ? S t e a cinza reduzido,^ Fenixembafalyfcado,5 feria a tempo queimado, que a horas foy renafcido.

E he juflo que feitoem pò fe veja Relogio aqui; porem moftrando de fi ahoradamortefó.

p 4 '■■■: P i n t o

Mandando ahutna filhafua , que ajjijlu etncafà da Excellentijjima Conde (fa de Vnbao, 'bum

brincos} e hum manto, que a (enhora fogra lhe tinha fobnegado.

T \ T7 r ' T A* AL / i : V J 1 AVX X I.

F ilha, vay o manto io, os brincos iraô outra hora;

que naô foraõ atégora, por brincos de voíTa avò: eu de vòs naô tenho do, que eftais à voíTa vontade, logrando de ouro a idade com brincos de mais conceito; e eu fó da joya do peito logro o fino dafaudade.

qA

E E Jt A S C I D Õ.’

'4 bum amigo, a quem mandou pedir huma bella empreflada-, e porque lhe efcremo emtpoucopL pel,t•menos aceado, o tal amigo lhe refpon-

deo em duas maos delle, f lhe mandou a bejla.

E> E C I M A.

A / f Eu Fernando, agora vi J-▼ 1 taõ cJaro como o moftrais nas duas, que me mandais, que tendes maõ para mi; ’Santo Amaro íbis aqui defte aleijado efta vés, fazendome mais mercêsdo que outros fieis Chriftãos}porque naó íb me dais mãos, mas também; me emprcftais pés,

Bujcd'

j 2(S P I N T O

Bu[ca a vida do campo o Author reo, e defpede-fc da Corte.

R O M A N C E .

w 'X PfentranadodoMundo.U acho que he tempo, e he idade (agora que entro era juizo) que tanto de befta bade.

Do monte bufeo o re tiro, nada quero da Cidade, quiçá que do campo a vida, por mais dileta, dilate.

Na Corte morro de fome, e com aperto notávelj com que he forçofo, que o vulto do que mais o aperta aparte.

Quero por fracos ferviços à campanha defpacharme, ' - onde fem engano viva, c aonde fenj pcífa paífe.

R B N A S C I D oiEaiiimquerodefpedirme

do Mundo, digo da carne, onde o demonio femea todo o m al, que neifa nafce.

A Deos humas encobertas, que chamaò particulares, onde o mais ricoie defoe, etud ooq ue erda arde.

A Deos nobres Regimentoá, a Deos nobres militares, que nunca em vòs ha fartura, por muito que a guerra agarre.

A Deos Companhia nova de fortes Comediantes, com Damas bem comefinhas, mas nenhum queaPepapape.

A Deos grande, e forte amigo, que em toda a esfera picante, ao feroz foberbo bruto fó faz com que gema Jame.

A Deos Mordomo da feita, a donde eu íervi debalde.

qus

W8 * P I NTO 1 _quenunca falta hum demonio, que da Cruz a fefta affafte. • ■ . ('

A Deos infigne Mendonça, por quem naó dormi mil tardes; mas nada aomao pertendente o muito que véla, vale.

a n o n o o mwTr» m a i c f i n A

ladraó, que vi de vontades,U nhaò legitimamente, de quemfuy unheta, e unhate.

A Deos Senhor de huma terra mayor que Villar de Frades, pobrete, mas Alegrete, fem que alguma treta trate.

E porque naó poflb a tantos,( fim, que fao in numeráveis) a Deos efte, aquelle,e outro, cm que entra algum teta; tate.

Que naó quero, nem por toque, nem remoque, nem fotaque, meter pela teta'alguma, que ainda que naõ chega, chague.

Naó

RENASCI DO. ' 529_ N ao quero nada do M undo,

fó quero para íal varm e, b u íca rd o C eo ò caminho, que fc cite Te erra; arre.

D om ai que vivi na C orte vou ao deferto emendarme, pbdefer.com nova vida, que a alma na felva falve.

E de meus olhos os rios poderáõ form ar tacs mares, que tanta agua a tan to fogo, que o peccado apega, apague.

Pois de meu pranto a corrente, fendo de lagrimas valle, fim fará, que a minha culpa na enchente que leva, lave.

Ifto buíco, e tudo efpero, da Divina Mageftade; para o que a graça invoco daquella fem EvaA ve.

Qticrkn■>

P I NT O

Queriendo los Senores del Plofpital âefpedtr la Co- pania enfe de que venia lade Valencia de que

era Autor Graces, cempufo el amigo Tho­mas Finto la Comedia feguiente porlos

titulos de otras muchas.<-i / M g r ' r \ T t T ' a \ f / A P »«lajivieluía rniviucm,

I NT I T UL ADA LA COMEDIA DE COMEDIAS,Eicfta, que íe reprelento a fus Hoipitalcs,

cn el buen Retiro delaCompania.

Perfonas quegntan en ella.El Rico hombre de Alcala Anton io R u iz,El Pfombre pobre todo es trazia Ignacio.ElGanapan dedejdichas. Mandiola.El Cavallero de Gracia Antonio Bela, gtac. Las canas en el Papel Juan Lopes Barba.ElDiablopredicador Mexia Barba 2.T). Dieeo de noche Diego de Leoil) Vejctc. El Alaeslro de danzjar Mathias danzante.

El

53°

R E N A s C I B 0. PJIEl Licenciado Vulnera Ferreira Muiico.EI Cj bico de Granada Perro M u f l C O 2 ,Mon ter os, y Capeletes Criados,

D A M A S .La Defdicbj de Li vou la Seííora M ariana,

r n .r , queeragangoza.J.aGitJma ac Inglaterra Frandfca£/ Encanto fm encanto f uana Oroíco..La Dama Duende RitaLa Nina de Gomes Arm la hija de Mexia. Maria Hernandes la Galle^a Maria.Abrir elo,o la hija dei Barba, que lo

tiene medio cerrado.Abra un veUuarw de cortinas viejas, arri~

ba,y abaxo pintadas,

J O R N A D A I.Sale el Rico Ifombre ,y elCavallero Cjraciofo,

Ric Fuifte a la Comedia’1Grac, Fui.

Mm Rir.

<;■>i P I NT ORic. Hallafteal Autor ?Grac. Si hallè.Ric. Que te diò/*Grac. Paratifué.Ric. Algun papel?Grac. Vesloaqui.^ L J . \ T A ____ : .jtuc. \ arca íerauc v aicuua

por via del Hofpital.Grac. Vcndran a curarlc el mal

Los Medices de Florenda.Ric. Yo no íé fi daran medios

a íanar loque led uele; quefiempre el Holpital fuelc Ptligrar en los remedies,

lee. Dice afii: La Compania,Tenor mio, prompta eftá; pero fino mandan ya>Manana f erá otro dia.

repref. Brebe es el Garces por Dios!Grac. Brebe; y braba inteneion tiene;

mas diífimula, que vienc La Def iicha de la voz»

Sale

RENASCI DO. s n

Sale la Dcf licba,j el Encanto Criada.T>ef l Que es eíTo? pena cruel! ap.

que carta ocu Irais aí?Bjc. No cs ícfiora para ti

La conjufwn de un Papel.Dcfll L o í i c d c ver,v iven los Cielos.Ra-. Defdicha, enganada cftás,

los celos íon por demás.Defd. Dendeay agrai tos, no ay celos.Crtad. Conrazon quexofacftá

de vueftro engafio mi ama, porque teneisotraDatnu.

R/c. Quales?Criad. De fuera vendrd.D c f d. Senor mio, no ay que hacer

mafiana metengo deir.Ric. No ferá íinmedecir

la razon.Criad. No puedefer.Rir. R igores, q u eaq u ien os ama,

oculteis p en 4 oinguouiM m ij por-

J34 P I NT Oporque enlaadverfa fortuna.Antes que todo es mi Dama.

Criad. V am os, fenora, de aqui, no tc dexes cngafiar; que aqui no ay más que tratar Cada uno para ft.

Gr a c . C alk , no las digas nada, ap. dexalas con fus quimeras; que fon unas embu iteras La Senorat y la criada.

Defd. V amos,que es mucha traicion. vaf. Ric. Aguarda, ten te , oye, d i ,

porque te vas ? ay de mi,Lo quepuede la aprebenfionl Hora.

Sale el Hotnbre pobre todo es trazias.Pok Que es eft© que llego a ver?

y vòs R ico H om bre llorais?Ric. Que fem uda,no mirais,

Lamàs conflante muger)P obre. Depena tanim portuna

no me direis la razon ?Ru

Ric. R E N A $ e-, f D O,O id, y vereis, que Ton C“JxCuâanZjíis de la fortuna:Defpues am igo , que enBurgos por hicrza nos apartamos en una de Ias hermoíasvJfàmnnas de A b r i f y Ma^o-,íucron por mi maia eftrella, mis íuceflos ran eftranos, que rodos de amor han fido Los empenos de un acafr.Apenas llegué a Lisboa, quando tubcun fàvorazo dc una hermofa Dama, que era E l ecbizj) imaginado, profeguia en los favores, a pcfar dei embarazo, ■ que era precifo en íus deudos, Argenis , y Puliarco.H ath que una nocbe obfcura, de un fiJencio tan callado, que folamente fe oia El perra dei bogtelano,

M m iij jun-

535

p i n t o junto al umbraldefa puerta encontre a un rebozado, que intento reconoccrmeE l Valiente C am puzavoi por caftigarfu ofadia, faqué la cfpada alentado, y me hizc recofiocído?E l Partumes V iriato; fortuna fué, no lo niego, pues por iu valiente brazo, it un C id campeador no era , era un Bernardo del Carpioj fui bien fucedido en efto, y en efto tan defgraciado, que he muerto à un amigo mio, penie, que era E l Conde A l a r m , Don fulano Graces era.Ca vallero V alenciano, que a efta Corte le traiaE l pleito, que pufo a l D iab lo: en aquella cafa, ay trifle!for acaíohavia entrado.

pen

53?r e n a s c i d o . penfandoquealli viviaEl Capitan Belifario.Scnci fu muerteen extremo, fondo mis receios vanos; ' porque fueíTe aun tiempo mifmoElDichojo Dcfílichado.La Dama Jlena de ffjftos, que alii mecftaba aguardando, al vernos,quedo tan rnucrta,COlllO Dona Ignes de Cafíro.Los golpes de los aceros tanto la cafa alteraron, que acudiò luego al ruido Li Defenf)r de fu agravio.Retirarme fué forçofo, poniendo a la Dama en íalvo, que cntonces pudo valerle El (ocorro de los mantos.Con ella en efte retiro vivo, ya và por quatro atíos; pero con nombre íupuefto, êjue aqui, L o re n z j) m e l la m .

M m iiij He

$38 PI NTOHé fiado efte lecreto folo de aqucftc criado, que no le iguala en fervidoEl negro dei mejor amo, y a no íer el, no podria iibrarme de mis contrarios,----------- ,1-------L . .j ju rq u e m a t u iueuus veees hacer El Amo criado s mas.con tener tanto bueno, tiene tanto de vellaco, cjuecon el para unembufte, füe un ninO El gr an tacafio.De noche hago mis negocias, aunque nofin fobrefaltoj temiendo de la jufticia El garrote mas bien dado.Mi Dama caíarfe intenta, y yo le eftoy tan obligado, que apenas me lo proponga, La refpuejla eftà en Lt mano.De aqui fe partiò celofa, aqui la eftoy aguardando ;

y

R E N A S C I D 0.’ j j ny en fim aqui me acomodoÁ un tiempo Rey ,y vaffallo.

Efõb.p. Notable iuceflfo ha fido!y que pretendes haccr?

R/c. A qui ? v iv ir , y beberAmado, y aborrecido. vafè-

Grac. i o quiero feguirlc el norte, aunquc lo enticnda al rebes, porque alfin mi am o cs El mentir ofio en la (orte. yafe.

Vobre. Culpado efta' porla ley, aunque no paíTará m al, porque tiene en PortugalId me]or amigo elRey.Y o hablarle deíèava en Valencia de algun m odo ; pero en efto, como en todo ,Aun peor eflà, que eíiaba. noafe.

Salela Cifma deInglaterra,y Abrirelojo} criada.C ifm a . Garcés me fabrá obligat,

aunque no lopucdo ver.i / h t l

5 4 ° P I N T 0

(ria l Y en tal caio, que has de hacer?CiJm. Agradecer, y no amar.

Sale el Ganapan de defdichas.

Cj.m. Sciiora, vengo à apurar íi dcGracés la venidaC1C1 t a CS j O i l CS iiu g iC u i.

Cifm. G anapan, Bafla callar.Ganap. Pues Sciiora, hasdeiaber,

fegun lo que oygo decir, que tequierendefpedir.

Ctfnu. O Ganapan,Ver-, y creer. vaje,Ganap. Yo no fé que determina

efta canfada muger, il no es cn Lisboa hacei La fegunddCeleflina.

SaleelRey, Adontefcos, yCapeletes.

Rf)1. Que haccis aq u i, Ganapan ?Gan. Y o, gran Scfior, vine a ver

la plaza de cita muger.Jky. Quali

Gjan,r 7 .

K E N A S C I D 0. 'La Damn Capitem.-Alcanzò laCom paííia conprofiar matadorajpero veremos aoraLoque puede laprofla'.noticias del asireiToray ?Si ay, mas no feguras.Pygard fus traveffuras.‘Traveffuras fon ’valor.Ha quebrantado ia ley , y mc obliga a tal rigor.Q.uc os Hama Padre, SefiorNo ay fer Vadre, fendo JR. ey.

Sale la Defdicha, y Criada.dpailo Criad. Alii eftá.que tc acobardai' Jate D efd .A vueftros pies, la Defdicha

niiR ey ,m iSenor3 pordicha,, Vtene quando no fe apuar dalicJ Alzad Sefiora del fuclo,

quenoe ih is bien a ii , quando

S 4 i

G a n ,K e y .G a n .

% ’

G a n .

cn

54°(riad.Cijm.

. P I NT OY en tal caio, que has de hacer?Agradecer, y no amar.

Sale el Ganapan de def iichas.Cjan. Seiiora, vengo à apurar

íi dcGracés la venidar m t r t ' - ' i n o i r \ f i n c ( - t m r i d ^ wu j v n vo u u ^ i u u .

Cifm. Ganapan, Bafia callar.Gamp. Pues Seiiora, has de iaber,

fegun lo que oygo decir, que tequierendefpedir.

Cifma. O’ GanapanJ V, y creer. z’afe. Gtinap. Yo no fé que determina

cfta canfada muger, ii no es en Lisboa hacer La fegundaCeleftina.

SaleelRey, Montefcos, y Capeletes.R7. Que haceis aqui, Ganapan 5

G an. Yo, gran Sciior, vine a ver la plaza de cfta muger.

Rf)'. QualiG a n ,

R E N A s C I D a1San- La ddama Capitem.R7. Alcanzò la Compania

conprofiar matadora;pero veremos aora L 0 que puede la prof a:noticias del agreiTor ay?

(lAn' Jiay.masnoieguras.Ker- 1agará ius travefl'uras.(d‘m- Travefuras(on valor.%■ Ha quebrantado la ley,

yme obliga a tal rigorGan. Quc os llama Padre, Sefior% • Noay fer^^re,fiendoKey.

Sale la Defdicha, y Criada.alpafio Criad.AlYi eftá,que tc acobarda* Jate Defd. A vueftros pies, la Defdicha

miRey,miSenor,pordicha *Vtene quando no fe aguarda,A lz a d Seriora d e l iu c lo , q u e n o eitais bienail, quando

W

on

5 4 2 P I N T O

en vòs eftoy contemplando Lo que fonju'ciosdelQelo\

1>efl Senor, al Cielo le plugodarmeelRico hombre,yafi.

R7. Primerohade verenmi ap.£1 mas improprio verdugo.

c n . f J V~ 1 *.... _ ■ - _i: . -li. i u ic i c i i g u í u c i u i a u u u »

porque en lo galan prcfiere.P-7. Es aíli; pero no quiere

Rftfdirfe a la obligacion.T>efI. De lu condicion le infiere,

que deemmienda no es capaz; y quizà no podrà rnás.

P 7 . Quando Lope quierei quiere. vafi.Di-fd. Que dices de rigor tal,

defpues de tanto favor.'’Criad. Que puede mas, que el amor>

La fuer&a del natural.Defd. Pucs hede morir con el,

fe me lo llegan a ahorcar; y puedenme diiculpar Los amantes deLreuel. vanfe.

Sale

R e n a s c i d o .

Sale el Rico Hombre y elGraciofo.

R/f. N o féquetengo de hacer con tan eftrano rigor ?

Grac. Nada, íi anda en tu favor Amor, Ingenio. y Mmer,

R/í. S i, pero buicar remedios por defdicha, no conviene.

Grac. Antes muchas veces viene La dicha por malos medios.

Sale la Def iicha,y Criada.

Defd. M i bien,clRey importuno no os quiere perdonar.

R /o Pucs quien me hade remediariDefd. DelRey abaxo, ninguno.Rw1- Pues no pucden tus gemidos,

ni yo veneer tanto mal, vam onos de Portugal Obligados,y ofendidos, que Diòs caftigará a quien. nos expone a tal rigor.

Defd.

5"44 P I N T O :D:fd. E do es querer ? efto amor?

Fuego de Dios en el querer bten, amen.

Rir. Amen.Cjrac. Por fiempre já más amen.

J O R N A D A II.

Avrk en el vefiuario dos puertas fingidas, a mo,y otro lado; y en medio una cortina, debaxo de

la qual eilara el Apuntador.

Cant an dentro ,y u afaliendo elKey, y Ganapan,

Cantan. Por falta de la hermofura que enfermo eftá el Hofpital! com o hade fanar, fi es ella la cura, y la enfermedad?

Rqi. Bafta, no canteis,callad;queaun quando me fufpendeis, entiendo, que me quereisEnganar con la verdad.

G a n a p .Gran Sefior, no ay que temcrd e

RENASCI DO.de un acafo impertinente 5porque aquello es íblamenteFingir lo que puedefer.

R7. Con todo elío. me aíTegura ( y efto eslomás evidente) quepara atraherla gente El encanto es la htrmofura : ay partes aí í

G a n a p . Ay mil.R7. Defpachar algunas quiero.\janap. Es la que llegò primero

L a prudente Abigail.

<iAlpano la Defdicha, y la [riada.

alpano Defd. No fe que tengo de hacer í Criad. Dos lagrimitas echar.Ldefd. Y 11 no bafta el llorar?Criad. P or far hajla vencer.§alen} D efd . Yo la vida he de perder,

Scííor, en efta fatiga.Ra- Pues quien a tanto os obliga 'i ~Def d. Querer por f 'olo querer,

no

£4-6 P I NT Ono puedo com igo más, y adi hechada a vueftros pies con lagrimas delta ves.

R i } ’. Muger llora, y venceras.Df/1. Y o y con tal favor fegura

bufcar efte hombre afligido; y a decirine, que han vencidoLas Armas de la bermof ura. va fe ,

Criad. Miren aqui íi han obrado lagrimitas, que noduelen; y quantas llorando, iuelen«M entir por ra&on de eftado!

Hace quefevà , y l e f de al encuentro el Graciofo', habla elRey a parte con G anapan.Quien es?

Grac. Y o, no ay que affuftarfe, yola bulco, Reyna mia.

Criad. Ya fé lo que ufled queria.G rac. Que es?Criad. C a fa rf ? por vengarfte.G rac. Si te agtada mi perfona,

y

E E N A S' C l t O.

ytuefpofo llego a fer, en mi cafa te has de verL a m a s ilujlrefregona.

Criad. Y o íolo adm ito gracejos aquien por m arido tenga.

Grac. Pues aqui me tienes. venga E l Cura de Adadrilejos.

(riad. Quite a lia , no iea vergante, que le aborrefco, porque es.

Grac. Dilo p re ílo ) acaba pues.Criad. Es un Grac. Qae?friad. Trampa a delante. vafe.Grac. H a ingrata! vengarme efpero:

ven aqui, fi acafo yo fueraun Picaro.me quifiera,peroloy Elfavallero. vafemuigrave.

Key. Tam bien dicen que el Garcesno fe lia muerto de la herida.

Gan. Sin duda guardo fu vidaE l D iv in o Português.

Reg. P ues fi porfia en vivir,N n aunque1

54^ p i n t ®aunquem uera de o tro mal, le hande ver en PortugalReynar defpptes de morir.

G a n . S ie lv iene ,y hacenconcierto, fe quedará por A utor, aunque fea harto peor.

13 ... X7- n ..... / x............. ; .... rAvty. L \ v p c m j / r e t a j f c u r a u e n a , v a j e ,

Sale el Kico hombre, y el Hombre pobre, y Graciofo.

Pobre. Sea para bien; fi es cierto quc el Garces v ivo íe d M , porque para vos feriEl mejor amigo el mnerto.

R/r, A ntes por elTo colij o ,que ferá peor que an tes; porque entre los Com ediantes No ay amigo para amigo.

Pobre. C o m o en las tablas antiguos, no dudo que os ajufteis; y reprefcntar podreis Competidores, j amigos.

1) si-

D entro . Para "para. A S C ’ D ° ‘ « 9Que rumor es eflfe? mira quien fea,

W Quien es el que aí íe apea?Sale- £ l Diablo Predicador.Jmbos. A m igo feais him .— * **VJ-.MUU J

D / en V akn cia os ha ido>- '•*!>. O íd, y vereis, que he fido

t h , ombre mas defdtchado:al corral m eâii al inftantc,Y ^ lo que vi deGarces para todos lances es 3

E lm e jo rrep ^ fsn ta n te i S m g u in ez ,

um laG iíneros, yaveo qr*e andubo corta la fama;porque es una gmnde Daman f * '** m i «W r <Jeraf ’ü íd o tra c e s , ( ™lateiceraes buena aílaja; *pucv . o /quecon voz tan baja,que cantz Elf'creto « voetsi y 'Cilas j apenas

N m j í o j o

tjtjO P I NT Ofolo allá pueden cantar s porque acà las puede ahogarEl golfo de las Sire nas.E lG arcesno hade enojarie que lleguena conocellas, porque folo intenta, de ellas sMudarfc por mejorarfe.Los màs, acabado el ailo, fe darán a conoccr; y el H ofpital hade ver Afu tiempo el def engafio.

R i c . Y que dirá el H ofpital,quando llegue de V alenda eíía incurable dolência í

D tab. Dirala: Bienvengas mal.R i c . Y ti por mala le agrada

efía buena Com pania, com o ya fe v iò , que haria?

D tab. Dario todo, y no dar nada.Gr ac. Pues dc los màs he íabido

( perdonem e lo curiofo) el Lacayo, ò el Graciofo

5 5 [

Di ab. R/i.

urac.

Ric.

Cjrac,

Ric.

R E N A S C I D O , es como yo >hl parecido.A unque yo de iu rigor por lo que he llegado a oir, rancho pudiera dccirCalLirftcmpre es lo mejor,l o me atxebo a dar un medio, con que algunos queden bien; y con que le de tarabien A gran dario gran remedio.Pues di, que ya te efcucho atento, veamos iiesopo ituno , que aunque no iiento ninguno tal Vez Unbobo haz e ciento.Tres íe han de hallar fin fortuna, viniendoladeG arces; juntarias a todas tres;QÂcertar detres la una.

A ntes leíerá forçoío perder todas, fi a tal llega;que aíli fucede aquien dexaL o c u r to p o r lo dudo(o.

Nniij DáíA)

P I N T OY la nuefl:ra,que harábiem el papel, la eípalda dando; porque le eftá convidandoEl Defden con el Defden..

n . í J

11 ir

Defd.

R/V.Gr ac..

J k ic .

Sale la Dejdicba, y Criada.p| R nxr nc hn nnt*r1r\r» rír\ a » -«-'■'w j p v n u u u a u u )

va libre falir podreis.Y ya en mi amor vòstendreis: Elfufiimiento premiado.Mucho que refponder tengo; mas cn fin, la mano os doy de que manana me voy.Plies yo Con quien vengo vengo. Lade Valencia verán, aunque aora fe detenga , que hade venir quando venga. ElRcy D. Sebastian.La venida del Garces, no me affufia, ni hard mal; porque a cà en el Hofpital To do fuce.de.al reves..

tados.

T R E N A' S C l D 6 . VC Ítodos, Y el noble auditorio cfpere,

fi la Comedia le agrada, que a la tercera jornada5'>era lo que Dios quip ere,.

J O R N A D A III.

Ahra ma "Motion, como en defarto, cerrada la puerta,

Sale ElRey, el Rico hombre, la Defdicha, y todos /os que hay en la Compavia hafta el Autor. '

Rfy, Que decis? quedais> òno?1511 bi feipuefta hede ver dp, fi a Madrid quiere bolver.)

R /V . Senor , P rimero foyyo;

yo me tengode quedar,(por más,quea Madrid me incline) en Lisboa, a donde vineCaer para levantar.

R fj' Defdicha, que decis vòs?'De[d, Que el Rico hobre nae ha enganado,

N n iii j y

574 P I N T oy que de hirme tengo dadoEljuramento ante Dies.

R 7 . M i afèdto más dichaos labra.D efd. Gran Sefior, yo lo venero,

M as di juram ento, y quiero Cumptirle a Dios lapalahra.

T-4ni*** unh V r \ r \v m i n e m n r tvtrr/"*#* w r ç j /w * x. V / u v i t v i j ^ u \,i_ » a m j i a r j v / 1 4

tengo de hirm e, perm itid que vaya hacer en M adridLlfegundo Scipion.

R y . Es jufto, que os lo confienta, fi o tro en iegundo os preficre, que lo hará m ejo r, fi fuereEltercerodefuafrenta.

Grac. Y o n im ev o y ,n im eq u ed o , ni hago bien, ni harè mal.

R 7 . Y quien fois vòs tan neutral ?Grac. ElCavallero de Olmedo.Oroíco Pues yo neutral en mi afan Criada, hede íeguir m i marido;

porque con el fiempre he fidoL a ef c la va de[ugalan>

. ' LaCtf-

r e n a s c i d o ! . . .U Cifn. Pues yo,ano hacer defaire '

a mi buena Compania, en Lisboa quedaria.

R7. Quienfois?Cifm. La hija deiayre.Abrir elejo. Yo, con mi poca porcion

quedaré, aunque no me quadre, como fe quede mi padre.

B - f y . No ay contra m padre ra&on.Inhijade Yo tube intentonas varias.Mexia, mas Ja embidia me las quita.B-7 - Y quien íois vos, caganita?H i/a. La nina de Gomes Arias.B r y . Elias por fus pareceres ap.

fe condemn aun abifmo; yvòs, quedecis?

Otras. Lo miímo.E - f ) ’. Liabtosjon las mugeml(fan. Yo vivo en aquefta lid

hartoa pocotrabajar, y no quiero exprimentat Loquefttcede en Madrid.

Mae fret

PINTOMaefiro Y o no fé que me entretenga de danz,. más, que en una, y otra danza,

y íl efto pára en m udanza,No ay md, que por bien no ruenga,

fobrefali- Puesyoíin falta ninguna, m e padre fi mi familia fe hade hir,dfi R 1 f- st mn .'Íatrr» Carr in**-"v -•»»-*«•. v v u 1 rt/jUU vi^ v U I

Los hijosdeUfortuna,Diego. Scuor,aunque atroche, y moche

hago el vejete, tal qual, me quedaré en Portugal.

R 7 . Quien fois>Diego. D. Diego de noche.Mufico. i . Yo, aunque cantar quifiera,

el Arpa fe me ha q u eb rad o ,R q . Y quien fois vós, hombre honrado. Mufico. ElLicenciado Vtdriera.Mufico 2. Si nos tratan com oagenos,

ficndodòsque cantanm al, yom e quedo en Portugal, y fere Del m d lo menos.

Apun- Y 0 quc aqui ap u n to , y m iro tador. d c

Jf E N A S C I D- a Vfwde todos el b icn , y el m al, entiendo que cada qua!C$ El Sabio enfu re tiro,

% • Yo confer Rey, por mi vida que os tengo de acompailar; y en qualquier parte he dehallar La Corona merecida.

El Didio P. Yo de las barbas coli jo de "Barba, lo que ay; y pues llego a ver

las de mi vecino arder;Ven tura te de' Dios hi jo.

Melchor Y o, fin ver en que cfto to p a , guarda no me tengo de au ien tar; ropa. que La gala del nadar r

esf éerguardar la ropa.El Cobra- Yo con las manos abiertas dor Pm- para cobrar, me quedara, dencio. il una puerta fe cerrara;

pero es Caja con dos puertas.ElAutor. Y o, que de tales mudanzas

A utor no fui, n i iere,; para elafio tornare

Df

$ 5 8 P I N T QD i uncail\godosrvenganzias\ y pues eftan con fu pena unos, yotros porfus modos; pueden reprefentar todos.

todos. Que?Autor. Los Vandos de JLabena,

n nn^KnvI-iría n Ia mnnAiV / J-» V ». l . ' U l l U L J . b j U I V / I l i v u v / J j

hagan un bayle de ]ocos, que cntiendo que no fon pocos.

todos. Pocos bafanfi [on btsenos.

P omn[e enforma de ‘Bayle los que quifieren,

y canta la 3. D ama.3. Celeberrima, téfica tifica

tumbacatumba, cachimba ribera; todo junto dechiculis môclis (cha. derrégo, derrango, denadaaprobe-

Grac. Chinbribiti, brabáti,corchete, cochim brabati, alforri alforreca; todo junto fin pan, y fin vino (za. íin carne, y tocino, tfapaza,tropic-

3, De profúndica mágica mifticaM o -

R E N A S C I D O . 5JÇ

Módica, métrica, m úíicaldh; to d o junto, caiquillo, raícallo, triform e L isboa,M adrid, y Valen­

d o Parragal percgil pcliflorio (cia, bolar tarracu, q corriqneefcorrcgato d o junto , catrompa catrampa, l«i.'"**** . ** j á ___nuiapamiupid) y Ud 1UJ IH VJU1IJC*

todos. C eleberrim a,& c. (dia.

l i aliaraf e mia libreria de lot que dicen mal de mis papeies, d la puerta cerrada,

F I N .

AI A hunI m Í

A os a i I A burr

bcbi A’che Aocab Ao Coi

falls cbai

Ao Fu Queix;

ann< Aos qt

quec Ao Coi Ao dill

do p Ao M i Avifos A Carlo A'SeF

mtu^ Ao Cor

hum M-’mor

i n d e xDas Poejias, que fie contem tie fie livro.

S O N E T O S .A Memorial * ¥">* N. Senhora. n,w „T uT, ........-«•««..u* oua ivjagataae. 4 ° ~

Acs annos de huma Senhora, PJS ?•“ I , 11116 Par° U ^ " ^ o d e h u m L e a ó .r ju e h ia 1538 4'

A chegada do Cardeal da Cunha, PaS* 5*Ao cabe! Jo da Marquezs de Tavora. P*S* 6 *

Ao Confg0 da Patriarchal D.Francifco daCamata .eft-ndo*”8' 7' lajDndo na Portaria das Damas com fua irmaa a0 m^ ( f ?

7 ld ™ ep,J? ia fe Pe8 ara° camS Stbaftiaó.ef. P ’ 8quecena le ae Santo Anaonio,Ao Conde de Unhafi, por nao herdar a Cafa de Aveiro, ‘Ao diluvioque houve cm Lisboaem i^deNoveirbrJ ten P‘S

Jo precedido hum terremoto, “ vetrbro.ten.Ao M.ufoieodo Papa Clemente XI. na Patriarchal, E 5 ' J f Avtios para os foitetros que quizerem viver P f 4A Carlos V. afliilindo à3 fuas Exequia- ’ pdg

A » Í P iarChal’ Pe‘°6 COnioanles do W o : T .i. * " *

A l-u,nnRelda-ErÍ“ a3 danJ° ™ prenii0 de h“™ iWce™ '7*liUin Kelogio ao Author,Memorial em fcdeoffiwios. Pa8‘ *°*M»ffãõ militante, PaS-Ip*

I ag. to ,Aos

í« i I N D E X .Aos que pedem ao A.veríospor diante, e dizem maldelle

por detraz, _P3g'H.Queixafe o Author arrependido de requerimentos de lhe naÕ

darem o Habito de Chrifto, P:S-A* morte da Junta do Commercio, peg.A hunn Dam i com duas efpadas na ProcifTaõ dos Panos, pag. 24. Del pedida dos Biylss em Quarta tetra de Cinza, pag :y,A huma Dama que trazia no dedo huma memória, cu;a pe»

draer huma caveirinha, P38A‘ diviíaõ da Sè Oriental, Pn8- :7«„ ..... . i.._ T w i Tt i>íl-an,<n n r r í f i d A . n ,Jio VJ<JVCl liou L.U1& VjUIII iiu , - ........- ,Ao mtífmo Governador teimo fo em nsõ íolrar o A. P8C* *')• Queixaáíedous valentes da prohibiçaõ tias adagas cotn pe-

na de sçuutes, P1 ?0,A huma Dama com faudndes de fi, Pa8‘ 1 *•Aos annos do Conde de S. Vicente, P‘SAo Marquez de Alegrete traduzindo de Francez num Tra­

tado de Cavallaria, PaS* 31°Qu ixaóle os Cavalheiros Portuguezes de lhe prohibirem

os tribicos Cafteihanos, PaS* H«A El Key Seleuco tirando a fi hum olho, por naò tirar dous

a feu filho, Paf>* -f*A hüi Dama cortando os cabellos em Quarta feira de -ínza, pag. 36. Aos Fidalgos, que fenaõ lembraraó do A. em hüa doença, pag. 37- Ao defpenlio dc Faetonte, 1Deícrcve o A. as Quintas de Bellas, Pí8* ?9*Ao Templo da Fortuna,arruinado por hum terremoto, P"g* 40.A Zeufií, Pintor, que pintava de graça, Püg- 4 1 •A huma D mia, queeferevendo aofeu amante huma carta de

defengnnps, íc lhe queimou a penna na luz, pag. 4 a’A Alexandre aflentando junto afi hum Toldado que tremia

defiioj Pa8* 4 *A Pericles defendendo hüaDama diante de huns Miniftros,

por defeobrir o rofto, PaS- 44»A El Key de Aragaó Tarando de huma ferida envenenada por

lhe chupar 0 (angue della a Rainha fua mulher, Pa8 4 f*Defpedida das Academias, Pa8 ‘4 ■

01 rA*

I N D E X . í6 j

O I T A V A S .

AVifos do jogo da Banca, . . . . .Avifos aos Brafileiros que vem requerer à Corte, ptp tí

n numa rica Carroça do Embaixada de Roma, p fr6 i.‘

R o m a n c e s .

A OSereniflimo Principe D. Joleph fazendo tres annos, pan.«, e h “~tno ° “ eXCellendas d° "ome de Joaó,Divino, 3'

A' Entrada du Patriarcha, pag' 6!?'Ao Prefidente da Academia das Olarias, S CAo Serentflimo Principe D. jofeph tendo (ó feia annos de P&

idade, querendo ler os verfos doA.Ao mcímo Senhor, ,z<*°Ao mar tremendo na occaCaõ em que Vafco da Gama hiaPa8' ' 3

para a Índia,Defpedtdas das feftas da Cartanheir», ibid

°A-de humaptomefTa,que^ *Reporta em nome doBaraó de Artorga a dous Romances1 ' '9 ‘‘

que lhe mandou cetta Dama, ra„ IQ7A huma Dama defmayada de ouvir hum trovaõ, rsgi 106"A D. Quixote envertindo hum moinho de vento, ™X , ,A humaDamacomduaseípadasna Prcciffaó dosPafToS, p a L lô . ' A AP| « T ’efet ,Zpf 0daRaÍnha N-Senhora, pa| i t 9.’Ahumt n / a,and0 “ fa,d? de Lifim»“ c6 ofeu diadema, pag.iii.

p o r o s o ? : 6 '™ " hUm Rdogi- o m hum Cupido P 8 *

A Julio Cefar chorando àvifta da Ertaiua de Alev-md,,. íü~A«rmFt0d/}Uth0r * Y ' T de f ernafi J0,ePh da Gama, paf. 143.'A land O d 1,°’que eftando e,m huma noite de efcuro fal- P 8 **

Cm «fed e hum

Afo^feuamattteC **qUe’Savade *he na“ Prever em ver-P3S' *3°"pag. ?fgj

Rela*Oo

I N D E XRelita o Author a fua prizaô no Rio de Janeiro, pag. 164,A hum Meltre de Campo, que mandou da Bahia ao A. hum

feixodeafi’ucar, pag. »71.Alinhara Dona Anna de Lorena pedindolhe huma vara

de Alcaide, que feu pay appreienta no Porto, pag. 191,A's ' anontzaç aens de S. Luiz Gonzaga, Santo Stanislao,

Samo Toribio, e S. Peregrino, pag. 197.Ana annosda Senhora Marqueza de Marialva, em que hou­

ve Comedia, e bay les em fua cafa, Pa&A’ nao que partio defle Porto para a India, e fazendo logo

no primeiro dia da viagem agua, aberta corn elia, arribou so Algarve de donde de^is ve*'0 comboiada nela Pia- gata N . Senhora do Roiario, Pag* ? !9*

Aon dous jantares, hum farto, e outro faminto, que ao Au­thor ueu Ma Jama Mantel le, Pa§' J**»

Aos Annos delRey , no dia em que fe bautizou 0 SenhorInfante D. Alexandre, Pa£> B3- *

A’scinco palavras da Cõfagraçaõ, que íe deraó por afíump» to no Certamen Euchariltico, que fe fez na Graça, pag. $6®,

A huma Senhora que mandou a huma fua mana hum gallode prefente, PaS* ?7°*

A hum Sauguim com que brincava em certa occafiaõ a Se® nhora Infanta Dona Francifca, ___ PaS* $74*

Ao Marquez de Alegrete moço, dando ao Author hütres* lado com a condição de lho agradecer em hu Romance, pag. 376.

A hum cego,e velho, quecafoucom huma rapariga, pag.A huma Borboleta, que indo a rondar a luz, cahio em hum

valo de a®ua, e fe affogou, PaS*Aos defpoforios do Secretario de Eftado, p*g. ?9 1 •Em que difeorre fe a Efperança he mal,ou bemf pag. 397.A huma Fenixde eímeruldas, PaR* 4o 1‘Ao delpenho de Faetonte, pag. 406«Jornada do Author a fizeitaõ, pag.410.A‘ Senhora Dona Jofefa, e a feu marido, que pedirão ao A.

lhe manJaíTe a fua vida em verfo, PaS* 4 3?’A huma Senhora, que atiçou as luas criadas a picarem o Au

tor para o ouvir, Pa8- 41 ^A certo Fi ialgo que lhe deu hum veíiido, e lhe pedto fuel.

, . . I N D E X . , e.fenum retrato a humfeu mulato, „ ’, 1

Celebrando húa Dama du P,,ço com hum Roroarttf o pti. ° ' ' metro anno, que fazia o Senhor Infame D. Alexandre Ine retpondeo o A. em nome do niefmo Senhor,

Aos Annos de S«a Mageftade, vie iAhum Rouxinol, que indo beber em huma fonte, fe «ffo. *6’ ‘l" ’

gouneila,A* íKimeira Prociltó do CorFode Deos da Patriarchal, p a f i V A nu ma Dama que trazia en. hum Kelcgio húa cave,tinha, paiA hum C upido feito dceímeralda," Venu» jogando as laranjas com leu filho, pa“" 'é íA huma Senhora muy fermofa, que adoeceo de ir ao rio, paÍ , 66, A huma Lftatu» do Amor, de curo, que íe fundi» em hum ' 4

incendio,Murchandofe as (lores de hum Jardim,pur onde hia paRtm^'47''

do o corpo defunto da infanta Dona Joanna. nanavaA huma Dama desfolhando hum gyrafol, L e J n 'A Per,plea,que p o rd e fe o b tiro ro fto a huma Dama n a p re ,4 ^

íença dos Mimftros, efles lhes perdoaraó, Dac< 4g2jA LlRey Seleuco , que mandou tirar hum olho a fi, e outro

a leu hlho,A huma noiva, que nafizjuiz deitar hum veflido novo na^8' 4

occaltaó de feu recebimento,A huma Dama , que indo beber agua diante de feu amante* ®'4 4'

Inecahio o púcaro, * oA huma fonte, quefecott, lendo em cima huma Eílatua deP &49 '

VeUpidO,A huma Dama, que apageu huma luz com huma roía, pac.eoc! A huma moça que vindolhe noticias de que era morro b * *

hum feu amante fe vettio com capei lo ■ e depois chegan. aolhe outra, de que era vivo, murreo de repente, nae* < , A

Buíca o Author a vida do campo, e defpedefe da Corte, pag.yat

D E C I M A S »

QUerendo o Author deitar hú veílído no dia de annos do Senhor Infante D. Antonio, p,„

retiçaó a EIRey que lhe tardava com amerce do Habito, p g . H ,D -1! ' PetíÇâó

56? I N D E X.Petição a EIRey ,em que fe queixa de lhe naft render nada

o officio de ÉfcrivaS dos Defuntos, pag 7?,Queixafe dosSecretarios por fe ver defpaehado para a outra

v> ai pag.ibid.Mote gloíTdo; Depois que ftfalvou Dimas, &c. pag. 87.A huma Comedia domeílica, pag. 92.A huma queda da Senhora infanta Dona Francifca, pag. 95, Repoíta a huns titulos de Comedias, applicados a algumas

Senhoras de Lisboa, cuja obra fe attribuhio ao A. pag. 96, Mote gloílado: Que pertende afermofara>nâ mortw dc huma

6iha do Author. nag; m i;A1 invafaõ dos Francezesno Rio de Janeiro, pag. iqy,A EiReyna Feita de Reys, pedindolhos, pag. 152.Motesglofiadüs às fcftas da Caíteira, pag. iéó.atc pag. 178. Ao Secretario de Eítado , dandolhe conta de lhe rifcar El-

Rey huma petiçaõ em que requeria o A. huma remiffaõ comeffeáto, pag. i8y,

Ao Repolho Caftellano, que furtou vintee tantas moedas,e as eiconieo em hum enxergão, pag. 187,

A‘ morte do Conde de Monianto, pag. 190.A‘ Ballea, que deu à coita no rio Tejo, pag. aoi.A hum amigo do Author, mandandolhe hua bandeja de uvas,

e huma caneca de vinho de palias, pag. 2 qtf.Ao novo invents de andar pelos ares, pag. 237,A‘j duas nãos lnglezas, que fe deitaraó ao mar nomefmo

pag. 248.A huma Dama a quem o A. mandou hüis raizes de flores, pag. 249. Mote glofTado: Joftfa qua n d o Luúa , a duasirmãas muficas,

dos mefmos nomes do Mote, pag. 267.Ao Senadc da Camera da Bahia, que mandou prender a hum

Efcrivaó por alcunha o Pilatos, pag. ibid.Eílaneo o Auihor de caminho para Angola, gloíTou o Mote:

NaÓ ha m a is tyranno cffeito, &c. pag 26 <Memória a EIRey, pag. 27%Aos Annos de Sua M age fia de, pag. iSu.PetiçvSa EIRey,em q Ine expõem o quanto lhe cufla pedir,pag. 282, Ahum* moça que mm dou ao A. hum ceílo de maçans, pag, 285. Ao Senhor dalém do Porto, a quem fe fez huma ProdiTaõ

para

I N D E X,para quedifTi chuva, ' 7*7

Cenfurandofe ao Author o dizer pence em tum Scueto^' * ^ que fez a moite do Duque dc Cadaval, . . .

Ao affuear ja'ertuuido ao preço de Soreia per EIRey, L f ia t Pedmdo o A .a ElRey hum Ferte, que ha ea Cidade d0P & 9 ’

â huma moça a quem 0 a, mandou huma vara defita, 2 ABa^uinha decouro.emqnc navegava uoTejo certoln.P 8 ’ * '

Ao Conde de Unhaõ 3°£8__ • , * . nae los.’ V‘T * oUÍT,,,uo a Priroeira vez cantar o Author a Ma« " nanna Kubirn,

A 1 Real íabrica dos Vidros P8 ' 5° 9*

A huma Comediante por nome Rofa. [ f 8- ?*.?Que.xafeo Author a EIRey de naõ tor que lhe F8fír * * ,b' '

troe meyo por cento, l L 1A ElRey pur II,c mrndar dar vinte dobras f 8’A‘nova Fabrica daPolvora, PaS ‘bid.A o Marquez de Cafcaea, pedmdolhe continue comoMeif’8' S<*

te corn que o ioccorria, 1A‘ pendenda que tiveraõ os tres Principes negros ccm o'” 8'

criado do Secretario de Eítado. .

*'luDr X r ? > «"••*> feucunhado P r o f8 ,fc‘ curador da Cidade do Porto,A' morte do Cofmografu mórdo Reyoo, fA huma Senhora, qqe mandou dar hum bocado de cevada a ’B' ,9X’

hum burro feu,que jà eflava deitado àmsrgtm, n-»AhumaBulIatina P"? 4 ’ ?'A humas Religiof,, de Oáivelas, que manda* pedir « T * 43*

Adí.ior huns veifinhos faudolos a huma Irr agem dosPailes, que trerlaíavth de huma para t-utra parte . . .

A tlRey, em agrad.om. nto de lhe mandar dar v.nrè m o j 6 44?"

7 íufiVtó 7 . R< preíenrantefanuría, { $ ’7 1 ’A huma nmofa Cantarma, e ao celcbiauo Moei, L ,'MÜte g!o (lado.* Fofte meu hm, mai,á ag«rat ‘^

PetÇdó

£68 _ I N D E X .re u ç ió à Rainha N. Senhora para lhe m andar recolher nas

convertidas fua fogra, pa„ . .A D M aninho M aicarenhas, que prom etteo hum veftido*

ao Author por lhe g&bar hum portico novo, que k ? cmflIlCA 4 j8 .

A‘ Kítrella nova que appareceo no Ceo, indo El Rey D . A L fonfo H jnriques para a conquiita de Santarém, pag,

Au Padre d o t h -lomeu Louienço,M jce glofíj Jo: Duas noites ha que fonhoi & c. p;,7 ^A hum «Jogo, Lente na Academia, pag, n oA hu.n Fi ia lg o .q u e lhe mandnn meya duzia de meloens

letrados, pag, ys iMo: -■ glolla I Y, Dcfyraçis que me quereis, &c. p:\>, ■M m it tdo a íua t i llu huns brincos, ehum m anto, que lhe

nona fobieg ..lo a fogra do A uthor, p 3g. j 2dA h u iu am ;g u a quem pediu o A, hum abeíta empreitada, pag. y i j

S Y L V A S .

O primeiro dia ios fere de T o u ro s da Cam era, pag. 104.N o quinto dia de T ouros, pag 152,

N o fex to dia de T ouros, pag jit>M otes, que leViVJÕ debaixo das azas as pombas que fe dei-

tavaò a voar nos dias de T ou ros, pag, j jg 0A* entra da. que fizeraóSuas M ageíhdes em Santarém, fe i­

tas com õ| i Camera os recebeo, e re tiro paraSalvaterra, pag. 14a Feitas de futuro na C iítanheira, pag. ió*„N s prim eiro dia de T o u ro s, das Feitas de N . Senhora do

Cabo, _ pag. \ p tN o legundo dia de T ouros às melmas Feitas, pag. 340.N o terceiro dia de T o u ro s ,” P jg, 447,No quarro dia de T o u ro s, p 3g. ^ | .E p ig r. A hum ILelogio de area, pag.Comedia de Comedias, p2g. 5^0,

N

F i n i Sj l a u s d e o ,