E Machado de Assis virou Mangá: Reflexões sobre a releitura em quadrinhos do romance Helena

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E Machado de Assis virou Mangá: Reflexões sobre a releitura

em quadrinhos do romance Helena

Prof.ª Dr.ª Valéria Fernandes da Silva

Colégio Militar de Brasília

• Helena, de Machado de Assis, foi

publicado em 1876, retratando

acontecimentos ocorridos 25

anos antes.

• Helena, do Studio Seasons, foi

feito sob encomenda e publicado

em 2014.

• Objetivos:

1. discutir a adaptação de

clássicos para os quadrinhos;

2. A importância do PNBE para a

publicação desse material;

3. Analisar o mangá Helena a

partir dos estudos de gênero;

• Quadrinhos são arte sequencial e

utilizam-se de texto e imagem.

• Trata-se de uma mídia que foi (*e

ainda é*) discriminada e

apresentada como prejudicial

para o público infanto-juvenil.

• Adaptações de clássicos para os

quadrinhos são comuns desde a

década de 1940 no Brasil.

• A EBAL, ao publicar clássicos

adaptados tinha como um dos

objetivos atrair a simpatia de

educadores e políticos.

“Não existe uma obra ou uma tradição literária

que seja valiosa em si, a despeito do que se

tenha dito, ou se venha a dizer, sobre isso.

"Valor" é um termo transitivo: significa tudo

aquilo que é considerado como valioso por

certas pessoas em situações específicas, de

acordo com critérios específicos e à luz de

determinados objetivos.”

(Terry Eagleton, 2006, p. 17)

• Jacqueline Danziger-Russel

(2013) teoriza que a perseguição

à literatura popular, e aos

quadrinhos, vem do elitismo e do

desejo de controle sobre as

classes trabalhadoras e os jovens.

• Para Terry Eagleton, “Todas as

obras literárias, (...) são

“reescritas”, mesmo que

inconscientemente, pelas

sociedades que as lêem; na

verdade, não há releitura de uma

obra que não seja também uma

“reescritura”.

• A coleção Edição Maravilhosa da

EBAL foi publicada entre 1948 e

1962, além de republicada em

vários formatos.

• Foram ao todo 200 títulos, os 23

primeiros estrangeiros, a partir

daí, clássicos nacionais foram

acrescentados.

• Era um material simplificado,

com o uso constante do texto

original, poucas páginas e um

tipo de arte padronizada.

• Toda adaptação literária tende a

ser uma simplificação.

• A LDB (1996) fala em

“conhecimento das formas

contemporâneas de linguagem”,

abrindo caminho para os

quadrinhos.

• O PNBE (Programa Nacional

Biblioteca na Escola) incluiu HQs

pela primeira vez em 2006.

• Começou a corrida das editoras

para a produção e publicação de

quadrinhos objetivando ampliar

as vendas para o Governo

Federal.

• Em 2009, o PNBE do ensino

• “O Alienista”, de Gabriel Bá e Fábio Moon, venceu o

prêmio de melhor livro didático e paradidático de ensino

fundamental e médio (2009).

• Paulo Ramos e Waldomiro

Vergueiro identificam:

1. Ampliação das publicações por

puro interesse mercadológico.

2. Qualidade questionável.

3. Ainda uma percepção da HQ

como material infantil.

4. Quadrinhos são literatura, ou

outra coisa?

5. Publicações dependentes das

verbas estatais.

→Inadequação do material

selecionado.

• Problemas de analisar o

Machado de Assis romântico

como o autor incompleto.

• Subordinar as análises de Helena

à critérios evolucionistas. Helena

seria, então, a pré-Capitu, uma

heroína romântica em conflito.

• A adaptação não consegue trazer

para o quadrinho algumas

discussões de gênero

importantes presentes no livro

original.

• Helena domina os códigos

daquilo que Chaloub chama de

ideologia patriarcal senhorial, ou

seja, os papéis de gênero

esperados.

• O texto de Machado de Assis

reproduz uma série de

estereótipos de gênero associados

ao feminino e ao masculino.

• Estácio incorpora não as virtudes

cristãs, ao acolher Helena, mas a

precedência do senhor, seu papel

atual, em decidir o destino dos

seus.

O dispositivo amoroso debilita Helena.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

1. O mangá de Helena consegue

transpor a obra de Machado de

Assis para o quadrinho, mas

representa uma simplificação

frente o original.

2. As questões de gênero, portanto,

não estão devidamente

contempladas.

3. Quanto às políticas públicas, o

PNBE, o futuro dos quadrinhos é

incerto, afinal, há uma restrição

de verbas e as HQs continuam